Download - livro Fundamentos históricos da educaçao
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Fundamentos Histricos da educao
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editora da universidade estadual de maring
Reitor Prof. Dr. Dcio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mrio Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini
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equipe tcnica
ProjetoGrficoeDesign Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mnica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio ArtesGrficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercializao Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima
Endereo para correspondncia:
eduem - editora da universidade estadual de maring
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40Campus Universitrio87020-900Maring - Paran
Fone: (0xx44) 3261-4103Fax: (0xx44) 3261-4253
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Fundamentos Histricos da Educao
3Maring
2009
Formao dE ProFEssorEs - Ead
Ruth Izumi Setoguti(ORGANIZADORA)
2. ed. - revisada e ampliada
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coleo Formao de professores - ead
Apoio tcnico: Rosane Gomes Carpanese
Normalizao e catalogao: Ivani Baptista CRB - 9/331
Reviso Gramatical: Annie Rose dos Santos
Edio e Produo Editorial: Carlos Alexandre Venancio
Capas: Jnior Bianchi
Reviso Grfica: Eliane Arruda
Colaborao: Jean Pelloi
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Copyright 2009 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo
mecnico, eletrnico, reprogrfico etc., sem a autorizao, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edio 2009 para Eduem.
Introduo educao a distncia/ Maria Luisa Furlan Costa, organizadora. - Maring: Eduem, 2009. 132 p. ; 21 cm. (Formao de Professores - EAD; v. 36). ISBN ????????? 1. Educao Cincia e pesquisa. 2. Trabalhos acadmicos - Normalizao. 3. Pesquisa- tica. I. Silva, Ana Cristina Teodoro da. II. Bellini, Marta, orgs.
CDD 21. ed. 001.42
I56
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3Sobre os autores
Apresentao da coleo
Apresentao do livro
captulo 1
OBJETO E MTODO DA HISTRIA DA EDUCAORuth Izumi Setoguti
captulo 2
EDUCAO INFORMAL E HISTRIAJos Flvio Pereira e Ruth Izumi Setoguti
captulo 3
A EDUCAO NA ANTIGUIDADE CLSSICA: GRCIA Acio Flvio de Carvalho
captulo 4
A EDUCAO NA ANTIGUIDADE CLSSICA: ROMA Renata Lopes Biazotto Venturini
captulo 5
A EDUCAO NA MEDIEVALIDADEJos Antnio Martins
captulo 6
A EDUCAO NA MODERNIDADEIvan Aparecido Manoel
captulo 7
A ERA DA ESCOLA MODERNA E DA EDUCAO CONTEMPORNEA
Carlota Boto
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> 09
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> 33
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> 77
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> 147
umrioS
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5ACIO FLVIO DE CARVALHO
Professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de
Maring (UEM). Graduado em Letras Franco-Portuguesas (Funfafi-PR).
Doutor em Letras Clssicas (USP).
CARLOTA BOTO
Professora da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo (USP).
Graduada em Pedagogia (USP). Graduada em Histria (USP). Mestre em
Histria e Filosofia da Educao (USP). Doutora em Histria Social (USP).
IVAN APARECIDO MANOEL
Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Franca). Graduado em
Histria (Unesp/Assis). Mestre em Histria da Educao (UFSCar). Doutor
em Histria Social (USP).
JOS ANTNIO MARTINS
Professor da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduado em
Filosofia (USP). Mestre em Filosofia (USP). Doutor em Filosofia (USP).
JOS FLVIO PEREIRA
Professor da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduado em
Histria (Unesp/Assis). Mestre em Histria Econmica (Unicamp). Doutor
em Histria Social (USP).
RENATA LOPES BIAZOTTO VENTURINI
Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em
Histria (Unesp/Assis). Mestre em Histria e Sociedade (Unesp/Assis).
Doutora em Histria Social (USP).
RUTH IZUMI SETOGUTI
Professora da Universidade Estadual de Maring (UEM). Graduada em
Psicologia (Unesp/Assis). Mestre em Psicologia Educacional (Unicamp).
Doutora em Educao (Unesp/Marlia).
obre os autoresS
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7A coleo Formao de Professores - EAD teve sua primeira edio publicada em
2005,com33 ttulosfinanciadospelaSecretariadeEducaoaDistncia(SEED)do
MinistriodaEducao(MEC)paraqueoslivrospudessemserutilizadoscomomaterial
didticonoscursosdelicenciaturaofertadosnombitodoProgramadeFormaode
Professores(Pr-Licenciatura1).Atiragemdaprimeiraediofoide2500exemplares.
Apartirde2008,demosincioaoprocessodeorganizaoepublicaodasegunda
ediodacoleo,comoacrscimode12novosttulos.Aconclusodostrabalhos
deverocorrersomentenoanode2012, tendoemvistaqueofinanciamentopara
estaedioserliberadogradativamente,deacordocomocronogramaestabelecido
pelaDiretoriadeEducaoaDistncia(DED)daCoordenaodeAperfeioamentode
PessoaldoEnsinoSuperior(CAPES),queresponsvelpeloprogramadenominado
UniversidadeAbertadoBrasil(UAB).
Aprincpio,seroimpressos695exemplaresdecadattulo,umavezqueoslivros
da nova coleo sero utilizados como material didtico para os alunos matriculados
noCursodePedagogia,ModalidadedeEducaoaDistncia,ofertadopelaUniversi-
dadeEstadualdeMaring,nombitodoSistemaUAB.
Cadalivrodacoleotraz,emseubojo,umobjetodereflexoquefoipensado
paraumadisciplinaespecficadocurso,masemnenhumdeles seusorganizadores
e autores tiveramapretensodedar contada totalidadedasdiscusses tericas e
prticasconstrudashistoricamentenoquesereferemaoscontedosapresentados.O
quebuscamos,comcadaumdoslivrospublicados,abrirapossibilidadedaleitura,
dareflexoedoaprofundamentodasquestespensadascomofundamentaisparaa
formaodoPedagogonaatualidade.
Por isso mesmo, esta coleo somente poderia ser construda a partir do esforo
coletivo de professores das mais diversas reas e departamentos da Universidade Esta-
dualdeMaring(UEM)edasinstituiesquetmsecolocadocomoparceirasnesse
processo.
Nestesentido,agradecemossinceramenteaoscolegasdaUEMedasdemaisinsti-
tuiesqueorganizaramlivroseouescreveramcaptulosparaosdiversoslivrosdesta
coleo.
Agradecemos, ainda, administrao centraldaUEM,quepormeioda atuao
diretadaReitoriaedediversasPr-Reitoriasnomediuesforosparaqueostrabalhos
pudessemserdesenvolvidosdamelhormaneirapossvel.Demodobastanteespecfi-
apresentaoda coleo
presentao da ColeoA
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iniciao cincia e a pesquisa
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co,destacamosoesforodaReitoriaparaqueosrecursosparaofinanciamentodesta
coleopudessemserliberadosemconformidadecomostrmitesburocrticosecom
osprazosexguosestabelecidospeloFundoNacionaldeDesenvolvimentodaEduca-
o(FNDE).
Internamente enfatizamos, ainda, o envolvimento direto dos professores do De-
partamentode Fundamentos da Educao (DFE), vinculado aoCentrodeCincias
Humanas, Letras eArtes (CCH),quenodecorrerdosltimos anos empreenderam
esforosparaqueocursodePedagogia,namodalidadedeeducaoadistncia,pu-
dessesercriadooficialmente,oqueexigiuumrepensardotrabalhoacadmicoeuma
modificaosignificativadasistemticadasatividadesdocentes.
No tocante ao Ministrio da Educao, ressaltamos o esforo empreendido pela
Diretoria da Educao a Distncia (DED) da Coordenao de Aperfeioamento de
Pessoal do Ensino Superior (CAPES) e pela Secretaria de Educao de Educao a
Distncia(SEED/MEC),queemparceriacomasInstituiesdeEnsinoSuperior(IES)
conseguiramromperbarreirastemporaiseespaciaisparaqueosconvniosparaali-
beraodosrecursosfossemassinadoseencaminhadosaosrgoscompetentespara
aprovao,tendoemvistaaaodiretaeeficientedeumnmeromuitopequenode
pessoasqueintegramaCoordenaoGeraldeSupervisoeFomentoeaCoordenao
GeraldeArticulao.
EsperamosqueasegundaediodaColeoFormaodeProfessores-EADpossa
contribuirparaaformaodosalunosmatriculadosnocursodePedagogia,bemcomo
deoutros cursos superiores adistnciade todas as instituiespblicasde ensino
superiorqueintegrameoupossamintegraremumfuturoprximooSistemaUAB.
MariaLuisaFurlanCosta
Organizadora da Coleo
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9Estelivrofoiescritoespecialmenteparaosalunosquepretendemexercerouque
jexercemaprofissodocentenassriesiniciaisdoEnsinoFundamental.Seuobjetivo
principal propiciar um conhecimento amplo acerca da educao, objeto de todo
aquelequeensina,mostrandoasalteraesqueelasofreaolongodahistriacomo
produtoquedasrelaeshumanas.Aotraarasmudanasqueocorreramnopro-
cessoeducacionaldesdeaAntiguidadeatapocacontempornea,oobjetivolevar
oalunoarefletirsobreoscomplexoscaminhosdahistriadaeducao.
Cabemaquiduasobservaesimportantes.
Aprimeira refere-seao fatodequenopretendemosesgotar todaahistriada
educaodahumanidade, sejapelaamplitudedoespaocronolgicoegeogrfico,
sejapelavariedadedequestesqueessatarefaimplicaria.Porisso,orecortequeaqui
fazemos abrange apenas o estudoda histria da educaonoOcidente, tendo em
vistaqueneleradicanossaorigem.Portanto,talescolhanocorrespondeanenhum
preconceitocontraaricacivilizaoorientalenemignornciadolegadodaeducao
chinesa,indiana,egpcia,hebraicaetc.
Umadascrticasmaisfrequenteseimportantesdaatualidadeincidesobreessaviso
eurocntrica,justificadamenteinadequadaemnossapocaglobalizadaemulticultu-
ral.Noobstante,precisoreconhecerainflunciaquens,brasileiros,recebemos
detodoouniversoculturaleuropeu,acomearpelalngua,pelaescritaepelaforma
depensaromundo,introduzidaspormeiodoscolonizadoresportugueses.Assim,
importante compreender as nossas razes europias e o modo como a europeizao se
impsemquasetodoomundo.
Asegundaobservaodizrespeitoconcepo,interpretaoemetodologiade
cadaautorquecolaborounestelivro,bemcomoaosfatoseducacionaisqueelescon-
sideraramrelevantes.Emmeiovariedadetericaemetodolgicahojeexistentena
rea,cadaumtevealiberdadedeabordarotemasegundoseupontodevista.Longe
deserumproblema,consideramossalutarqueoalunotenhacontatocomasdiferen-
tesconcepesmetodolgicaspelasquaisofenmenoeducacionalanalisado.
Almdisso,temosaconscinciadequeoatodecontareinterpretarosfatosedu-
cacionais taiscomorealmenteaconteceram, luzdeumapretensaobjetividadee
racionalidade, em verdade um ideal inalcanvel, pois vrios fatores subjetivos, his-
presentao do livroAapresentao do livro
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tricos,sociaisinterferemnesseprocesso,comoavisodemundodopesquisador,a
escolhafilosfica,orecortetemporaletc.
Deste modo, interferem na leitura do historiador da educao outros fatores como
asquesteseosproblemasqueestelivroexpe.Emboraohistoriadordaeducao
tenha a preocupao de no cair no anacronismo, de no fazer uma anlise atemporal,
aformacomoeleinterpretaopassadoestinevitavelmenteligadasquestesdesua
pocaeformacomoeleasv.Aesserespeito,TheoKobusch(2002,p.2)assinala:
emtodainterpretaodeumapocapassadatambmhalgodensmesmos.As-
sim,acadanovofatoacomunidadecientficapodeserlevadaaumareinterpretao
dopassado.
Paramostramosqueaeducaonosedesenvolveemlinharetaenemseapresen-
tadeumanicaforma,masmultifacetadaecomplexa,estelivrofoiorganizadoda
seguintemaneira.
Oprimeirocaptulo,escritoporRuth IzumiSetoguti, refere-se,comooprprio
ttuloindica,aoObjetoemtododahistriadaeducao.Aoescrev-lo,nossain-
tenofoitrazer,paraoalunoqueestiniciandoocurso,adiscussosobreoquea
HistriadaEducaoecomoelasedesenvolveaolongodoprocessohistrico.
Osegundocaptulo,deautoriadeJosFlvioPereiraeRuthIzumiSetoguti,acres-
centadoaolivronesta2.edio,tratadaeducaoinformal.Nele,seusautorespro-
curamdistingui-ladaeducaoescolarformalemostramcomoelasedesenvolveno
bojodastransformaeshistricas.
Oterceirocaptulo,produzidoporAcioFlviodeCarvalho,apresenta-noscomo
sedeuaeducaonaGrciaantiga.Abarcandoomesmoperodohistrico,Renata
LopesBiazzotoescreveoquartocaptulo,cujotemaaeducaoemRoma.Cadaqual
procuramostrar,atravsdoscaminhostortuososdahistria,asdiversasconcepes
deeducaoqueforamformuladasnessasduassociedades.
Oquintocaptulo,deJosAntnioMartins,avanaumpoucomaisnotempo,uma
vezqueoautordiscorreacercadecomosedesenvolveuaeducaonamedievalidade
ocidental.Mantendoaunidadeentreoscaptulos, JosAntonioMartinsdemonstra
queaeducaotemummovimento,queacompanhaastransformaesqueocorrem
nasociedade.
Osextocaptulo,escritoporIvanAparecidoManoel,tratadaeducaonamoder-
nidade. Ao analisar asprincipais questes educacionais daquelemomento, o autor
mostraqueelasrefletiamoembateexistenteentreosdoismundos,omedievaleo
moderno.
Finalmente, no stimo captulo, Calota Boto aborda os problemas da educao
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contempornea,maisespecificamenteosdaescolaatual.Paraentend-los,aautora
buscanopassadoasuacompreenso.
Apesardadiversidadedeabordagenstericaspresentesnolivro,ressaltamosque
todoselesapresentamalgoemcomum:omovimentocontraditrioecomplexoda
educao.
Esta segundaedioumaboaoportunidadepara aorganizadora repararuma
falha,nointencional,daprimeiraedio,quefoiaausnciadeagradecimentoaosau-
toresquederamsuainestimvelcolaboraoparaaproduodolivro.Aorganizadora
reconhecequesemavaliosacontribuiodecadaumdosautoresestelivronoteria
sidoproduzidoenemteriatidoagrandeaceitaoqueconseguiujuntoaosacadmi-
cosdediversoscursosdegraduaodaUEM.Registramos,aqui,osnossossinceros
agradecimentosatodososautoresquecontriburamparaaproduodestelivro.
RUTHIZUMISETOGUTI
Organizadora do Livro
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oBJeto e mtodo da Histria da educao
Ruth Izumi Setoguti
introduo
Vamoscomearnossasreflexessobreaimportnciadahistriadaeducaocom
umpequenoexercciodeimaginao.Pense,imagine,sonhequevocestemuma
grandemquinadotempo...,emumaigualzinhainventadapeloprofessorPardal,
darevistaemquadrinhosDisney,quetransportaaspessoasparaopassado,presente
ou futuro,paraasmaisdiferentes regiesdoplaneta,dependendodaposiodos
botesdamquina.
Derepente,vocgiraobotoparaumlado,posicionaaalavancaparaooutroe...
pump!...estnoEgitoantigoepodevercomoerameducadososhomensnaquele
momentoenaqueleespaotodistantesdens.
Poderia ver, por exemplo, como eram educados os sacerdotes; refletir sobre as
semelhanasediferenasentreaeducaoqueelesrecebiameaqueosnossosreli-
giososrecebem.
Los sacerdotesconstituamacamada socialmaiselevada, ao ladodanobreza.
Considerandoqueasociedadeegpciaeramarcadaporumaprofundareligiosidade,
asfunessacerdotaiseramdegrandeprestgiosocial.Osegpciosacreditavamqueos
sacerdotes faziam a comunicao entre os deuses e os homens; portanto, sem eles no
haveriacomooshomenssaberemdasrespostasdosdeusesassuasperguntas(ARRU-
DA,1981).Imagineoquesignificavaparaumasociedade,emcujacrenaseatribua
aosdeusestodotipodeinterferncia,interromperacomunicaocomeles!Naviso
dosegpcios,tudonouniversopertenceaosdeuses,queosmesmossoafontede
toda aprosperidadeque conhecemosnossosdesejos,quepodema todo instante
interferirnosnegcioshumanos(GIORDANI,1983,p.106).
OBJETO E MTODO DA HISTRIA DA
EDUCAO
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Almdessafuno,ossacerdotesadministravamosbensqueosfiiseoEstadoofe-
reciamaosdeuses,purificavamtodasasmanhsostemplose,emseguida,ofereciam
diversosalimentossdivindades.SegundoArruda(1981,p.59),emalgumasocasies
os sacerdotes levavam um dos deuses a passear pelo santurio dentro de uma barca;
emoportunidadesmuitoespeciais,levavam-noavisitaroutrosdeuses,numagrande
embarcaoquepercorriaoNilo.
Tornar-se sacerdote exigiaum longoprocessode aprendizagem,oque envolvia
o conhecimentoda escrita, da gramtica edeum programade estudos religiosos
queiamdesdeasimagensenomenclaturadosdeusesaorituallitrgico(GIORDA-
NI,1983,p.1).Aofimdosestudos,oalunoerasubmetidoaumexamefinal.Aoser
aprovado:
tirava suas vestes, era lavado, barbeado, perfumado com unguentos, depois
revestido com os ornamentos sacerdotais antes de ser introduzido no horizon-
tedocu.Penetradodetemordiantedaideiadopoderdivino,podiaenfim
aproximar-sedodeusemseusanturio(GIORDANI,1983,p.81).
Namquina do tempo, voc teria a oportunidade tambmde conhecer e fazer
comparaescomaeducaodosescribas,eliteintelectualdoEgitoantigo,aolado
dossacerdotes.Oescribaegpciodesempenhoupapelindispensvelnaadministrao
doEstado.Dependendodeseugraudeaperfeioamento,ocupavaoscargosefunes
maisimportantes,comoodemagistratura,deinspetoria,defiscalizaoedecontabi-
lidadedaproduodasterrasdofara.
Porisso,noAntigoImpriosuaeducaosefaziacuidadosamentenasescolasdo
palcio,chamadasdeacasadavida.JduranteoNovoImprio,aeducaodoescri-
baficavasobaresponsabilidadedecadadepartamentodaadministrao,quepossua
suaprpriaescolaedesignavaparaprofessoresosfuncionriossuperioresmaisexpe-
rientes(GIORDANI,1983).
Ao escriba era ensinada a arte de ler, de escrever, de realizar as operaes matem-
ticas,declculobemcomoconhecimentosreferentesadministrao.Pormeioda
descobertadassepulturasdosalunosmortos,verificou-sequeoprocessopedaggi-
coincluaumagrandequantidadedeexercciosescolares.Nassepulturas,comoera
costume,colocavam-seosobjetosqueosmortosmaishouvessemutilizadoemvida
(GIORDANI,1983).
Quantoaomaterialpedaggicodestinadoaprendizagemdaescrita,nelese in-
cluamumtalovegetal,umatintanegrae indestrutvel,pedaosdeargila, lminas
depedramole,pedaosdemadeirae(paraosmaisadiantados)papiro(GIORDANI,
1983,p.82).
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Emsuaviagemfantstica,vocpoderiaficarsabendotambmquetipodeeducao
osescravosnaGrciaantigarecebiam,deacordocomasfunesquedesempenhavam.
Poderia, por exemplo, visitar a casa de um comerciante muito rico e passar pela cozi-
nha.Deparar-se-iacomummestrecozinheiro,secundadoporpadeiros,confeiteirose
ajudantesdecozinha.Muitosdeleseramescravos,obtidospormeiodeguerras,depi-
rataria,porcompra,porconquista,pornascimento,porrapto.Parasuasurpresa,veria
algunsdelesseremmandadosaescolasdeserviosdomsticoseculinriapara
umtreinamentoespecial.Ondehaviamuitosescravos,otrabalhoeraplanejado
egerenciadoporsupervisoresemordomos(elesprpriosescravos)(MELTZER,
2004p.72).
Continuandocomseupasseio,voccirculariapelagora,pelostemplos,pelogi-
nsio.Voltariaparaasuamquinadotempoeprosseguiriacomaviagem.Aportaria
emRoma,emumapocapoucoanterioraonascimentodeCristo,everiaquealios
prpriosescravoserameducadoresedesempenhavamimportantesfunesnasocie-
dade.
[...]osescravosfaziammaisdoqueastarefasdomsticasservis.Ocozinheiro
ou a cozinheira, por exemplo, outrora visto como o tipo mais inferior, foi sendo
valorizadomedidaqueavidadosromanossetornavamaisluxuosa.Aculi-
nriapassouaserconsideradaumaarterequintada.Haviaescravosmdicos,
enfermeirosecirurgiesveterinrios.AeducaoemRoma,quesedesenvol-
verasobainflunciagreganossculosIIeIIIa.C.,estavaprincipalmentenas
mosdosescravosgregosehomenslibertos.Oensinodoalfabetoedaleitura
comeavaemcasa,comumpedagogus,escravoqueserviadetutoreguardio
dacrianadeixadaaseuscuidados.Quandoacrianaaprendiaaler,iaparaa
escola(MELTZER,2004,p.113-114).
Depoisdeexploraraeducaonomundoantigo, jsaudosodeseusfamiliares,
voltaria rapidamente para o tempo atual, e poderia se inteirar, com base no romance
deDeborahEllis(2002)intituladoAoutraface,deumasociedadebemdiferenteda
brasileira:adoAfeganisto.Apesardeesselivroserumaficoe,portanto,frutoda
imaginao,paraescrev-loaautorabaseou-senashistriasverdicasqueouviunos
camposderefugiadosafegosnoPaquistoenaRssia.
1 O Talib um movimento religioso que surgiu no Afeganisto ao longo da dcada de 1980, no interior das escolas religiosas islmicas. Em 1996, a milcia talib conquista Kabul, a capital afeg, e em 1998 passa a controlar 90% do pas, instalando um regime de governo com base nas leis islmicas. As mulheres foram obrigadas a deixar o trabalho, a escola, e mandadas para a casa. Em fins de 2001, as foras militares americanas e inglesas, juntamente com algumas tropas de lideranas religiosas locais afegs, destituem os talibs do poder.
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Federal e a Petrobras, por exemplo.Oromancecontmumahistriacomoventedecoragemedeesperanaparaasgeraesmaisnovas, sobretudoparaasmulheres.Como jassinalamos,asmeninas,impedidasdefreqentaremaescola,puderamterumfiodeesperananabravuradealgumasmulheresqueorganizaramumaescolasecreta.Oriscodemortequecorriameraenormeemcasodeostalibsdescobriremaescolademulheres.NoAfeganisto,porqualquerinfrao,comopossuirumafotografia,assis-tirTV,andarcomcaladosdesaltoalto,aspessoaseramchicoteadasoupresas.
Aescolaqueaparecenoromancetinhaapenascincoalunasemseuincio,todas
elascomidadesprximas.Paraasorganizadorasdaescolaburlaremossoldadosdo
talib,asaulaseramdadasemdoisgrupos,sempreemhorrioselocaisdiferentes,
geralmentenascasasdasalunasounasdasprofessoras.Oensinoerabastantepre-
crio,poisnemlivroshavia!(ELLIS,2002).Detodomodo,apesardaprecariedadedo
ensino,issoeramelhordoquenada.
Essamquinamaravilhosapoderia lev-lomaisumavezaomundofantsticoda
literatura,noqualhistriasinventadasnosdizemtantodarealidadecomooutrosli-
vros.Vocpoderialer,porexemplo,ofamosoromancedoescritorportugusdos-
culoXIX,EadeQueiroz:OsMaias.Lvocpoderiaobservarquenoapenasem
nossapocaqueospaispodemdiscordarentresinoquedizrespeitoeducaodos
filhos.
Logonoinciodoromancevocpoderialerqueumpai,osenhorAfonsodaMaia,
ummembroda aristocraciaportuguesa, simpatizantedos revolucionrios franceses
dosculoXVIIIecomeodosculoXIX,noseconformavacomaeducaoquesua
mulher,DMariaEduarda,tambmdaaristocraciaportuguesa,masnosimpatizante
dosliberaisrevolucionrios,insistiaemdaraofilho.Mesmoqueomaridolhetivesse
provadoqueocolgioinglsondequeriaqueofilhoestudasseeracatlico,elaprefe-
riuchamarumpadreportugusparaatuarcomopreceptordofilho.
Provocava-lhecertotemoraquelecatolicismomoderno,semtradio,semroma-
rias, sem fogueiras pelo So Joo, sem imagens do Senhor dos Passos, sem frades
nasruas(QUEIROZ,1980,p.19).Decididamenteissonolhepareciareligio.Por
isso,mesmoenfrentandoairadomarido,mandoubuscaremLisboaopadreVasques,
porquetinhacertezadequeeledariaumaeducaocatlicatradicionalbaseadano
latimenacartilha.ParatristezadeD.Afonso,todasasvezesquevoltavadealguma
caadaoudasruasdeLondres,[...]ouvianoquartodosestudosavozdormentedo
reverendodoutrinadoseufilhonumarepetioincansvel:Quantossoosinimigos
daalma?(QUEIROZ,1980,p.19).
Vocveriaqueopaiaspiravaparaofilhoumaeducaoaoarlivre,umaeducao
liberal,ticaenoreligiosa,combasenoensinodascincias,umaeducaodocorpo
edoesprito.Elenoseresignavae,comoemtodafamliacujoscnjugesdiscordam
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entresi,fingiaconcordar,massempreprocuravaarrancarofilhodasmosdoprecep-
tor.Era,contudo,impotente.
Emum mpetode indignao,D. Afonso entrava subitamentenoquartodePe-
drinhoeinterrompiaaauladopadreVasques,agarravaofilhopelamo,conduzia-o
paraforadacasa.Levava-oatsmargensdofamosorioTmisa,ondeeleeofilho
poderiamcorrersobasrvores.Queria,aindaqueporumbrevetempo,queomenino
seesquecessedosensinamentosdaIgrejaCatlicatradicional:
Masamamacudiadedentro,emterror,aabaf-lonumagrandemanta:depois
l fora o menino, acostumado ao colo das criadas e aos recantos estofados,
tinha medo do vento e das rvores; e pouco a pouco, num passo desconsolado,
osdoisiampisandoemsilncioasfolhassecasofilhotodoacovardadodas
sombrasdobosquevivo,opaivergandoosombros,pensativo,tristedaquela
fraquezadofilho[...](QUEIROZ,1980,p.19).
Lendotudoisso,vocpoderiaseperguntar:essasdiferenasquantoeducao
dofilhoeramresultantesdemerasescolhasindividuais?Possivelmentearespostado
autordoromancenoseriaafirmativae,sevoccontinuassealeitura,poderiaverque
esseembatefamiliarteriaorigemnaprprialutapolticaesocialdomomentoemque
ahistriadoromancesepassa.EadeQueirozsituaessapartedoromancenastrs
primeirasdcadasdosculoXIX,quando,nasociedadeportuguesa,travava-seuma
acirrada lutaentreos setores tradicionaiseosmodernos, lutaquedesembocouna
RevoluoLiberalemPortugal.
Deum lado, estavamaquelesque, comoopaideD.Afonso,benziam-se ao
nome de Robespierre , atribuindo aos jacobinos todos os males da ptria, prin-
cipalmenteaperdadascolnias.Paraexpulsarosjacobinos,elesapoiavamo
InfanteD.Miguel,MessiasforteeRestauradorprovidencial.
Deoutrolado,estavamaquelesque,comoD.Afonso,liamGuizot,Rousseau,
Volney,HelvcioeaEnciclopdiaequeapoiavamumarevoluoliberalem
Portugalparaafastardamonarquiaportuguesaoramodaaristocraciaconserva-
dora(QUEIROZ,1980,p.15).
Assim,vocpoderiaobservarqueasdiferenasentreconcepeseducacionaisno
interior da famlia no apareciam apenas no casal, Dom Afonso e Dona Maria Eduarda,
mastambmentreopaieofilho.Maisdoqueisso,vocpoderiaobservarqueelas
ocorriamnasociedadetodaeque,naverdade,eramaexpressodeumembatemaior
entreoliberalismo,doqualosinglesesnaquelesmomentoeramosmaioresrepresen-
tantes,eamonarquiaconservadora.Esseembate,porsuavez,tinhaorigemnosacon-
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iniciao cincia e a pesquisa
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tecimentoshistrico-mundiaisdefinsdosculoXVIIIeinciodoXIX,naRevoluo
FrancesaenaRevoluoIndustrialinglesa.
D.AfonsodeMaiaerapartidriodoliberalismoedesejavaumanobrezaculta,ilus-
trada,digna,dandoemtudoadireomoral,formandooscostumeseinspirandoa
literatura,vivendocomfaustoefalandocomgosto,exemplodeideiasaltaseespelho
demaneiraspatrcias (QUEIROZ,1980,p.17).Porcausadesuas ideias liberaisem
plenapocaconservadora,monarquista,D.AfonsodeMaiaviuestarrecido,aoladoda
esposaedofilho,asuacasasendoinvadidabrutalmentepelapolciaportuguesa.Aps
esseepisdio,D.AfonsofoiexpatriadoparaaInglaterra.
Voc veria, entoque,mesmo como exlio,mesmoestandona Inglaterra, pas
de bero e tradio liberal, esse entusiasta das ideias liberais no teve respaldo para
educarseufilhodeacordocomsuasaspiraes:avencedorafoiame,apoiadana
tradicionalIgrejaportuguesa.
Continuandoaleroromance,vocencontrariaD.AfonsodaMaia, jvelho,po-
dendorealizarseussonhosdeumaeducaoliberal.Essapartedoromancejno
tratadofilho.Este,quetinhasidoeducadonasbarrasdassaiasdospadresportugue-
ses,suicida-se,deixandoumfilhinhoparaovelhopaieducar.Ento,EadeQueiroz
contariaparavocque,emPortugal,nasegundametadedosculoXIX, jexistiam
condiesparaqueD.Afonsopudessedaraonetoaeducaoliberalqueoutroraele
queriaparaofilho.
Seunetosim,comoapenascincoanosincompletosjdormianumquartos,sem
lamparina;etodasasmanhs,zs,paradentrodeumatinadeguafria,svezesa
gearlfora...Eoutrasbarbaridades.Senosesoubesseagrandepaixodoavpela
criana,haviadesedizerqueaqueriamorta...Masno,parecequeerasistemaingls!
(QUEIROZ,1980,p.52).crianaerapermitidocorrerlivremente,subirnasrvores,
molhar-se,sujar-se,talcomoumfilhodecaseiro.Todavia,nahoradecomer,querigor!
Acrianaspoderiacomeremdeterminadoshorriosedeterminadosalimentos.
Sevoccontinuassemaisumpoucoaleitura,veriaaindaqueessaorientaoedu-
cacionaldada aCarlos, oneto,noera resultantede ideiasproduzidasnaprpria
cabeadeD.AfonsodaMaia.NelareverberavamasinflunciasdeSpencer,Herbarte
outrostericosdaeducaodosculoXIX,cujasideiasdisseminavam-sequasepelo
mundo todo. Seria importante se vocpudesse terum tempinhopara se informar
sobre essas teorias e essas doutrinas educacionais, contextualizando-as no interior dos
embatessociaisdosculoXIX:oescritorlhedariaindicativosparaisso.
2 Vide as atividades aos alunos que esto ao final deste captulo. 3 Idem.
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Voltemos,portanto,aoobjetivodoexercciodeimaginaopropostonoprimeiro
pargrafodestecaptulo,queoderefletirsobreaimportnciadahistriadaeduca-
o.Utilizandodiversasfontes,inclusivealgumasliterriasouartsticas,essadisciplina
temafunodeforneceraoalunocondiestericasetemticasparaqueelecom-
preendaofenmenoeducacionalcomoumprocessocomplexo,nolinear,noqualse
manifestaojogodeforasquedsustentaosdiferentessociedadesqueohomem
construiunodecorrerdesuahistria.Essacompreensoimplicaocontatocomdife-
rentesexplicaesparaomesmofenmeno,implicareconhecerosembatesquedo
formasdiferentesperspectivaseducacionaisnotempoenoespao.Reconhec-los
umaformadeelucidarosconflitoseducacionaisexistentesnaatualidade,tantoemter-
mosindividuais,familiares,quantoemumcontextomaisamplo,emtermosdeaes
sociais e depolticaspblicas, em seusmais diferentesnveis:municipal, estadual,
federalemundial.
Passemos,portanto,aoprximoitem:objeto,mtodoefontesdahistriadaedu-
cao,pormeiodoqualvocseriniciadonosaspectoscientficosdessareadaedu-
cao.
Histria da educao: objetos, mtodos e fontes
Parteintegrantedacinciahistrica,aHistriadaEducaotemporobjetodeestudo
acompreensodaeducaoedesuastransformaesaolongodotempo.Essaconcep-
oindicaabuscadeumacompreensoglobaldodesenvolvimentodaeducaocomo
algomediadopelasociedade(SAVIANI,1998,p.14).Nopodemospensaraeducao
comoumfenmenoemsi,isoladodascircunstnciashistricasqueaengendram.
Em cada poca, em cada sociedade, desenvolvem-se formas educacionais corres-
pondentesaomodocomoelaseorganiza,sepensaouseidealiza,ouseja,correspon-
dentes as suas crenas religiosas, seus valores culturais, econmicos epolticos, as
suasregrasdeconvivncia,concepodeinfnciaquesetem,aoadultoquesequer
formar.Almdisso,asformaseducacionaisestorelacionadastambmaosproblemas
existentesemcadasociedadeemaneiracomoasociedadeospercebeetentalhes
darsoluo.Nestesentido,aeducaotemporfinalidadeconservaretransmitiras-
pectos essenciais e indispensveis para a preservao da cultura, mas tambm buscar
renov-losecorrigi-loscontinuamenteparafazerfrenteanovassituaes(ABBAGNA-
NO;VISALBERGHI,2001).Assim,quantomaiscomplexaaorganizaosocial,mais
complexaediversificadasertambmaeducao.
Oconceitodeeducaoapresentadoissentidosquesecomplementam.Nosenti-
do mais pontual, restrito, ela compreendida como o esforo ordenado, sistemtico
deuma sociedade sobrea infnciae a juventudeafimde form-laeencaminh-la
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iniciao cincia e a pesquisa
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emumadadadireo.Trata-se,portanto,daeducaoformal,realizadapormeiode
instituiesreligiosaseescolares,cujosfinsexpressamasrelaesexistentesentreos
diferentessetoresouclassesdasociedade.
NaAntiguidadeorientaleocidental,porexemplo,haviaapreocupaodepreparar
osjovensparadesempenharfunessociaisespecficasdaquelacomunidade,comoa
deguerreiro,sacerdote,escriba,cozinheiroetc.Naatualidade,paraatendersnecessi-
dadesdasociedadecontempornea,cujaexignciaumaformaoplural,aeducao
formalbastante amplae complexa. realizada concomitantementepor inmeras
instituiesoficiaiseno-oficiais,comoaescoladasredespblicaseparticulares,as
escolasdeingls,decomputao,denatao,deKumon,deredao,deculinria,
decondutores,asescolasprofissionalizantesetc.
Emoutrosentido,maisgeral,aeducaocompreendidacomoa:
aogenrica,ampla,deumasociedadesobreasgeraesjovens,comofimde
conservaretransmitiraexistnciacoletiva.Aeducao,assim,parteintegran-
te,essencial,davidadohomemedasociedade,eexistedesdequandohseres
humanossobreaterra(LUZURIAGA,1972,p.1-2).
Trata-se,aqui,deumaeducaoinformal,espontneae,muitasvezes,inconsciente.
Na sociedade ps-industrial ou sociedade do conhecimento, notamos, paralela-
menteexpansodaeducaoformal,umcrescimento,talvezaindamaior,daeduca-
oinformal.Denossopontodevista,asescolasdeixaramdeserainstituiosocial
bsicanaqualoindivduoaprendeouseeduca.Aintensificaodointercmbioentre
aspessoas,asfacilidadesdedeslocamentopropiciadasporinmerosmeiosdetrans-
portes,seubarateamento,apropagaomundialdainternet,aexpansodoscinemas,
dordio,datelevisocriamnovasformasdeaprendizagem,naqualaspessoastm,
pelomenosemtese,certaautonomiaparaaprenderoquequerem,quandoquereme
comoquerem.Atendnciadesencadeadacomessesnovosmeiosatenuarasdiferen-
asentreaeducaoformaleainformal.
Assimsendo,umadiscussosobreahistriadaeducaodeveevitaraidenti-
ficaomecnicadeescolacomeducao.Alis,nahistriadahumanidadenem
sempre existiu a instituio chamada Escola, ou seja, um local determinado para
ondeaspessoassedirigemafimdeaprendercontedosespecficos.Aindahoje,
emplenosculoXXI,conhecemosalgunspovos,algumasetniasquenopossuem
escolaenemporissodeixamdeeducar,detransmitirsgeraesmaisnovasa
suacultura,aquiloqueconsideramvitalparaaexistnciadacomunidade.Opro-
cessode aprendizagemda criana vaiocorrendono cotidiano,no contato com
os adultos.Destemodo, gradativamenteela vai assimilandoas regras sociais, o
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cdigomoral,oscomportamentosdesejados,aconcepodemundo,dehomem,
asformasdetrabalhodaquelacomunidade.Ouseja,independentementedafor-
ma,aeducaocomponentefundamentaldaculturadedeterminadasociedade.
ComopontuaLuzuriaga(1972,p.2)semaeducaonoseriapossvelaquisio
etransmissodacultura,poispelaeducaoqueaculturasobrevivenoesprito
humano.
Porconseguinte,oobjetodahistriadaeducaosoasdiferentesmodalidadesde
educaoqueahumanidadecriounodecorrerdotempo.Valelembrarqueaeducao
formal e a informal mudam historicamente, ou seja, no ocorrem sempre do mesmo
modo,variamdeacordocomapocaecomaformadeorganizaosocial,poltica,
religiosaeeconmicadecadapovo.Associedadesmudamaotransformarasrelaes
entreoshomens e, comelas, a organizao social tambm sofre alteraes.Como
umaspectodasociedade,evidentemente,eemcorrespondnciacomela,aeducao
tambmsemodificae,assim,passaaterasuahistria.
Histria da pedagogia ou Histria da educao
A nosso ver, no podemos discorrer acerca dessa disciplina universitria ou da rea
especficadoconhecimentodaHistriadaEducaosemantesmencionarmosahist-
riadapedagogia,umavezqueestaaantecedenotempo,emboraressaltandoquenem
sempreosestudiososdessasduasreasestabelecemumantidadistinoentreelas.
Ahistoriografiaquetratadahistriadapedagogiaoudahistriadaeducaomuitas
vezesempregaessestermoscomosinnimos,ignorandoasdiferenasdemtodoe
deobjetoexistentesentreessasduasformasdeconceberaeducaoequerevelam
profundastransformaeshistricas.
Asobrasproduzidasnareadacinciadaeducao,atadcadade1970,emsua
maioriatrazemcomottulohistriadapedagogiaousuasvariantes,comocincias
pedaggicas,porexemplo.Porvoltadadcadade1970,todavia,osttulospassama
serdenominadoshistriadaeducao.Essasubstituionocasualenemrepre-
sentaumasimplesopodeseusautores.Naverdade,elaocorreemummomentoem
queahistriadapedagogiasedistancia,deformaclaraeconsciente,dairmsiamesa
daeducao,afilosofia,eaomesmotempoaproxima-seexplicitamentedacinciada
histria.nessadcadaqueomtododeestudohistrico,quesempreestevepresen-
tediscretamentenahistoriografiapedaggica,passaaocuparlugardedestaquenos
estudospedaggicos.
UmaretrospectivadahistriadapedagogiamostraquedesdeosculoXVIIexis-
temtrabalhoshistricosrelativoseducao.EntreofinaldosculoXVIIIeinciodo
sculoXIX,entretanto,nobojodohistoricismo,desenvolve-seahistriadapedagogia
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iniciao cincia e a pesquisa
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naAlemanha.NocomeodosculoXIX,sobainflunciadoIdealismo,ahistriase
tornaumaferramentadeanliseparatodososaspectosdavidahumana(LUZURIAGA,
1972,p.19).Agnesedosfatoseacompreensodopresentepassamaserbuscadas
nahistria.Emumintervalodecemanos,ahistriavaiseespecializandoesurgem
aHistriadoDireito,aHistriadasCincias,aHistriadaArte,aHistriaCultural,a
HistriadaPedagogiaetc.
Inseridanesseprocesso,ahistriadapedagogiaconheceumavigorosaexpanso
emtermosdeproduohistoriogrficaepassaaserintroduzida,comodisciplina,em
diversoscursosdasuniversidadeseuropiaseamericanas.
Osprimeirostratadoshistrico-pedaggicosforamescritospelosdiscpulosdeHe-
gel (Cramer, Sapp,Thaulow).Depoisdeles, surgem inmerasoutrasobras comoa
deK.A.Schmidt,Enciclopdia da Educao e da Formao(Alemanha);adeG.
Schmidt,A Histria da Educao(1883/Alemanha);adeSnchezdelaCampa,His-
tria Filosfica da Instruo Pblica(1871/Espanha);adeLafuente,A Histria das
Universidades e demais estabelecimentos de Ensino (1883)e,ainda,ostrabalhos
clssicosdeCompayr,ParozeAntonininaFrana(LUZURIAGA,1972,p.20-21).
Ahistriadapedagogia,entrefinsdosculoXIXemeadosdosculoXX,desen-
volve-sesobainflunciadafilosofiaedahistriacultural,incluindo-senestaltimaa
sociologia.Aomesmotempoemqueofocodahistriadapedagogiacontinuaaseras
ideiasedoutrinaspedaggicas,elaampliaseulequecomanlisessobreasinstituies
educacionais.
Narealidade,oshistoriadoresdapedagogiadetectamoproblemadeseuobjeto
deestudo,limitadoquaseexclusivamenteinvestigaodasdoutrinaspedaggicas:
asprticaspedaggicas(ahistriadomaterialdidtico,ahistriadosmtodosde
ensino,ahistriadosmanuaisdeensino,ahistriadoensinodainfncia)easinsti-
tuieseducacionaisnoencontravamnelaumespao.Suagrandelacunaestavano
fatodeque,aorestringirahistriadaeducaosdoutrinasousideiaspedaggicas,
ignorava-seaprpriaprticapedaggicaquelhesdeviacorrespondernotempo.
Assim,daperspectivadesseshistoriadoresdapedagogia,haviaumhiatoentreos
ideaispedaggicos traadospelosfilsofoseoupensadoresclssicos,comoPlato,
Erasmo,Rousseaueoutros,eoqueseensinava,defato,emsuasrespectivaspocas.
Ouseja,haviadeum ladoos ideaispedaggicosedeoutrooqueseensinavanas
escolas.Fazia-se,necessrio,portanto,preencheressalacunaeresolverosproblemas
apontados.
Assim, confluempara a histria dapedagogia estudosdahistria das doutrinas
pedaggicas, dosmtodos de ensino e da histria das instituies educacionais. A
histriaculturalintroduzapreocupaocomaschamadasestruturashumanaseas
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instituieseducacionaispassamaservistascomofatoresfundamentaisquecondicio-
namaeducao.
Doravante,combasenessaperspectivacrticaerevisionistaquesoescolhidos
novosobjetosdeestudos,relacionadossociedade,famlia,religio,aoestabele-
cimentoeducacional,circunscrioadministrativa,aosprocessosecostumeseduca-
tivos.
DaAlemanha,reforandoessatendnciaquedestacaaprepondernciadasinstitui-
esnaformaodosersocial,ecoaavozdeDilthey.Estepropequeahistoriografia
pedaggicacentreosestudosnahistriadaorganizaoescolar,nahistriadoensino,
nosistemaadministrativoenahistriadocontedoemtodosdainstruo,semevi-
dentementeabandonaroestudodasinflunciasdasdoutrinaspedaggicas.
DaFrana,Durkheimnosensinaqualopesodainstituioeducacionalnaforma-
odeumacrianaeporquenecessrioestudarosseusprogramas,quematrias
devemserensinadas,almdefornecerumquadrodosmtodosdeensinodecadape-
rodohistrico.Afinal,postulaele,quandoumacrianaenviadaescolaesubmetida
disciplinadomeioescolar,eladescobreprogressivamentetodoummundosocial
externofamlia,noqualconquistarseulugarsomenteaceitando-o,incorporando-se
aele.Aprpriafamliav-segradativamentemodificada(DURKHEIM,1995,p.4).
Deacordocomessanovatendncia,asideiaspedaggicasnososimplesteo-
rias,masfatoshistricosquerevelamasdiretrizesassumidaspeloensinoepelaedu-
caoemdeterminadosmomentos.Subjacenteaessatendnciaesttambmacrtica
aumaleituradaeducaoquedestacaalivrevontadedohomemesuacapacidade
individualdeintervirnodesenvolvimentodahistria,emlugardesubordin-loauma
conjunturamaior, estrutura social e cultural.Neste sentido, asseveraDURKHEIM
(1995,p.4)[...]emcadapoca,osrgosdeensinoestoemrelaocomasdemais
instituiesdocorposocial,comoscostumesecrenas,comasgrandescorrentesde
ideias.
RenHubertmencionaopapelfundamentalqueDurkheimdesempenhounacon-
solidaodessa tendnciahistoriogrfica,segundoaqualacriaoeamanuteno
dainstituioeducacionalcorrespondemsdemaisinstituiessociaisbemcomoao
idealdehomemedementalidadeexistentenaquelasociedade:
Agrandeliodahistriadapedagogiaquecadasistemadeeducaodurou
porquenadatinhadearbitrrio,porqueera,comodizDurkheim,aresultante
deestadossociaisdeterminadoscomosquaiseraharmnico,porqueconcreti-
zavaejustificavaoidealqueasociedadenaqualseinstitua,possuadohomem,
doqueestedeveser,dotrplicepontodevistafsico,intelectualemoral.Seo
sistemamudou,porqueaprpriasociedademudou[...]Nosetrata[...]de
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pedirmodeloshistria,masdeconvencer-se,peloestudodahistria,deque
cadasociedadelevadaaconstruirosistemapedaggicoconvenienteasuas
necessidades,aseuespritoe,maisaindaqueasuasnecessidadesmateriais,a
suasconcepesdohomemevontadedepreserv-las(HUBERT,1976,p.4).
Cabelembrarqueahistriadapedagogiaexpandiu-secomascontribuiesrelevan-
tesdepessoasligadasescola,empenhadasnaorganizaodeumainstituiocada
vezmaiscentralnasociedademoderna(CAMBI,1999,p.21).Durkheim,porexemplo,
trouxeapblicosuaobraclssica,AEvoluoPedaggicanaFrana,emummomento
emqueestavasendoanunciadaumagrandereformanoensinosecundriofrancs.
Essatendnciahistoriogrficadapedagogiapermaneceataproximadamentead-
cadade1970,quandosemanifestamnovasorientaesnocampodahistria,asquais
provocam,navisodeCambi,umaverdadeirarevoluohistoriogrfica.Aconseqn-
ciadessacriseasubstituio,cadavezmaisvisvel,dotermohistriadapedagogia
pelahistriadaeducao.
Convmassinalar queomodelo tericodahistria dapedagogia, combasena
filosofiaounahistriacultural,abandonadonosanosde1970e1975,emconse-
qunciadacrisedeflagradaem1968,queatingetodoomododosaberdascincias
sociais.Noepicentrodessarevoluohumaseveracrticaespecializaodosaber,
fragmentaodosconhecimentosedelimitaorestritivadeobjetos.Naleiturade
Rojas(2000,p.317),oanode1968ummarcoapartirdoqualtodasasfronteiras
disciplinares,osmtodosespecficos,osobjetosclaramentedelimitadoseasteorias
exclusivasdecadaumadessascinciasparticularescomearamaseesvanecer[...].
Nesseredimensionamentodetodaformadepensaredefazerahistriadapedago-
giahouveumagrandeinflunciadapsicanlise,doestruturalismo,domarxismoeda
escoladeAnnales,comsuasposterioresramificaes.
Ainovaotrazidapelapsicanliseprincipalmenteaformulaotericadequeo
processohistriconocondicionadoapenasporforaseconmicas,polticasecul-
turaisouporaesconscienteseobjetivas,mastambmporaesinconscientes.Sua
contribuiofoimostrarqueexisteopassadohistricoeopsquico,cujastemporali-
dadesnotmamesmanatureza.Atemporalidadepsquicainconscienteeignora
literalmenteaduraohistrica(BURGUIRE,1993,p.629).
Quanto ao estruturalismoe spesquisas quantitativas, estas puseramo acento
sobreaquiloqueimpessoalnahistria,sobreasestruturasqueregulamoscompor-
tamentosindividuaisemprofundidade(instituiesoumentalidades)easleramcom
variveisquantitativas,sujeitasaanlisessociais,areconstruesestatsticas(CAMBI,
1999,p.26).Utilizando-sedosmtodosestatsticosedasmetodologiassociolgicase
histricas,desenvolveu-seumaanlisecientficaqueestabeleciaarelao,porexem-
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plo,entreoxitoescolareaorigemsocialdosalunos;entreodesempenhoescolar
eograudeescolaridadedospais;entreograudeescolaridadeeamobilidadesocial.
Essestrabalhosforamimportantesporquemostraramavinculaoexistenteentreo
processoescolareaestruturasocial.
Jomaterialismohistricotrouxeparaocentrododebateaimportnciaeopeso
daestruturaeconmico-socialnasmaisdiferentesinstnciasdavida.Assim,paraessa
correntehistoriogrfica,ahistriaaparececomolutadeclassesedeideologias,que
searticulamemtornodesistemasdeproduoequevisamhegemoniahistrica,in-
fluenciandocadambitodavidasocial,dafamliaaoEstadoecultura(CAMBI,1999,
p.25).Osestudosdahistriadaeducaoprocuram,destemodo,ligaraeducao
comaeconomia,apoltica,aculturaeasociedade.
ComaproeminnciadaEscoladosAnnalesesuasderivaes,ocorreumaprofun-
darenovaonapesquisahistrica,aqualtemrepercussesnointeriordahistriada
educao.Suapropostadeintegrarpesquisahistricanosoestudodeestru-
turas econmicas, mas tambm o de mentalidades, alm do pluralismo de mtodos,
objetosefontes.
Nessembito,osobjetoseostemasdahistriadaeducaoampliam-se,incorpo-
randoaeducaodosfilhos,oadestramentoprofissional,asocializao,aintroduo
vidaadulta,ahistriadainfncia,ahistriadafamlia,ahistriadatransmissode
saberesedasprofisses,ahistriadaalfabetizao,ahistriadasmentalidades,afor-
maomentalecultural,ahistriadoscostumes,ahistriadasinstituies(oexrcito,
aescola,osinstitutosassistenciais,aorganizaoesportiva)emaisdiretamentetodos
osprocessosdesocializao:formasdedevooepenitncia,oshbitoshiginicos,
oscostumessexuais,oscomportamentosdoshomensagrrioseurbanos,osritos,as
festas,enfim,avidacotidianadasmassasannimas,suavidaprodutivaesuascrenas
(RAGAZINNI,1999,p.24-25).
Ahistoriografiatradicionaltinharestringidootrabalhodohistoriadoradocumentos
oficiais,atextosnormativosouregulamentareseaeditais.Emcontrapartida,aNovaHis-
triapropeumarenovaonoconceitodocumento,oqualpassaacompreenderno-
vasfontesdepesquisa,taiscomobiografias,autobiografias,livrosdefamlia,epistolrios,
dirios,documentosparoquiais,registrodebatismo,decasamentoedebito,testamen-
tos,iconografia,literatura,materiaisdidticos,cadernosescolares,registrosdematrculas,
defrequnciaseaproveitamentoescolar,elementosfsicosesociaisdaescola,publicaes
peridicas,levantamentosquantitativos,recenseamentos,listasdepreos,contratos,in-
ventrios,legislao,monumentos,escritosreligiososepsicolgicoseoutros.Aproposta
deinclusotambmdeinformaesoraiscomomeiodeseconhecerahistriadocoti-
dianoparasevalorizarfatosantesconsideradossecundrioseinsignificantes.
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iniciao cincia e a pesquisa
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Assim,incluem-secomoobjetodeestudoahistriadosbrinquedos,dasbonecas,
damodainfantil,dasfaixasutilizadasnosrecm-nascidos,edobaybag,doproces-
so de assimilao no controle infantil do esfncter por efeito de certa educao, da
incidnciadofluxomenstrualnaaprendizagemporpartedapuberdadefeminina,da
alimentaocamponesa[...]etc.(RAGAZZINI,1999,p.39).
ParaSaviani,seporumladoanovahistriatrouxeimportantescontribuiespara
ahistriadaeducaoepossibilitouumestudomaisrico,complexoeamploacerca
doqueentendemosporeducao,poroutro,preocupanteofatodeterfavorecidoa
emergnciadeconcepesquedesintegramahistriaemmltiplashistrias,descon-
siderandoasexplicaesdeamploalcance,sobajustificativadesereminviveisesem
sentido(SAVIANI,2004,p.10).
Entretanto, nem todos os historiadores da educao veem como um problema essa
tendnciadeahistriadaeducaoseabriranovasquestes,flexibilizarosobjetos,
osconceitoseasfontesdeinformao.Rugiu(1999),porexemplo,aindaqueare-
conheacomoumparadoxo,exaltaaspossibilidadesdetrabalhoqueelaofereceaos
historiadoresdaeducao.
Aqueleoutrocolegaqueafirmaquetodaahistriasempre,nofinaldascon-
tas,histriadaeducao,afirmaumparadoxonodesprovido,porm,deuma
partedeverdade:qualquermomentodavidadoshomensedequalquersitu-
aocompreendesemprefacesdecartereducativo,estudveiscomahistria
socialoucomqualqueroutroenfoque.Seexisteumlugardepesquisaondeh
espaoparatodosetodospodemcontardemodotilasuahistoriaestaa
histriadaeducao(RUGIU,1999,p.38).
Nestesentido,importanteconsiderarquetambmahistriadaeducao,pro-
dutoquedasrelaeshumanas, temasuahistria.Aosedistanciardafilosofia
e tornar-se tendencialmentehistriadaeducao,distanciou-se tambmdospro-
cedimentosmetodolgicosqueacaracterizavam.Assimsendo,as reflexesmeto-
dolgicas sobre histria da educao acompanham as controvrsias da teoria da
histria.Independentementedascontrovrsiasedamultiplicidadedeanlisesque
permeiamocampodahistria,existealgoqueasunificanotocantehistriada
educao.Estaseapresentaaomesmotempocomoumacinciaeumadisciplina
curricular, cujoobjetode investigao a educao analisado combasenos
fatosdahistria.
Essaadesodahistriadaeducaohistriavemsendoobjetodeampladiscus-
soentreospesquisadoresdaeducao.
DarioRagazzini(1999,p.30),professordaUniversidadedeFlorena(Itlia),pre-
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coniza,porexemplo,queahistriadaeducaonoportadoradeumestatutopr-
prio, nem reclama exclusividade de mtodos e objetos e se une a outros campos de
estudohistrico,voltadosparaaeducao.
Igualmente,Magalhesdefineahistriadaeducaocomoumcampodeaoque
serealizapormeiodeumaabordagemhistoriogrficadofenmenoeducacional,utili-
zando-sedeumamultiplicidadedeconceitoseconceitualizaesadvindosdapedago-
gia,daantropologia,dafilosofia,dasociologia,dapsicologiaetc.(RUGIU,1999).
Essaaproximaodahistriadaeducaocomahistria,tantodopontodevista
do objeto, em razo da historicidade do fenmeno educativo, como do ponto de vista
daabordagem,poispesquisaremhistriadaeducaoinvestigaroobjetoeducao
sobaperspectivahistrica,tambmapontadaporSaviani(1998,p.11-12).
Nessaproximidadecomahistria,ahistriadaeducao,comonopoderiadei-
xardeser,trazparasioenriquecimentoterico-prticodaspesquisashistricas,mas
tambmsuascontrovrsiasetendnciasterico-metodolgicas,suasincongruncias
elimites.H,porexemplo,ascontrovrsiasentreosprprioshistoriadoressobreo
queahistria,qualoseupapel,quaissoseusmtodoseobjetos,oquesofontes
etc.Emsntese,observamosnahistriadivergnciasterico-metodolgicasentreos
pesquisadores,asquaisacabamrefletindotambmnahistriadaeducao.
a histria da educao remete noo de tempo
Falaremhistriadaeducaoimplicafalaremtempo,emcronologia,emsituaros
acontecimentoseducacionaisemumdeterminadotempodopassado.AndrBurgui-
repropalaqueocortarotempo,osegmentaracronologia,umaformadetornar
inteligvelopassadodassociedadeshumanas(1993,p.590).Mascomoperiodiz-la,
medirotempohistricoedividi-loempartesouperodos?
Acontagemdetempodohomemfeitadeanoaano(SAVIANI,2004).Logo,na
sociedadeocidental,apercepodequeestamosaficarmaisvelhosdadaquandofa-
zemosaniversrio.Paraoestudodahistria,contudo,essaunidadedetempomuito
pequena,insignificante.Oshistoriadores(tradicionais)preocuparam-seemdemarcar
acategoriasculoquandooperodoestudadodecemanos,emilnioquando
demilanos.Paratornaraindamaisprecisaaperiodizao,criaramaindaascategorias
Idade(IdadeMdia,IdadedoFerro,IdadedoBronzeetc.)paradefinirumperodoou
umespaodetempodahistriadahumanidadequeapresentedeterminadascaracte-
rsticas culturais, econmicas e sociais, e Perodo(perodoarcaico,perodoclssico)
quandoserefereaumintervalodetempoentredoisacontecimentosouduasdatas
marcantes.
Devemoslembrarqueoscritriosdedivisoeouperiodizaodahistriasoarti-
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iniciao cincia e a pesquisa
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ficiais,convencionais,porissoquecadapovoestabeleceumaformadedemarcao
econtagemdotempo.
Nestelivro,adotamososcritriosdahistoriografiafrancesa,tambmchamadade
historiografiatradicional.Nessadivisoadotam-secritriospolticosdeperiodizao,
ouseja,oqueseparaumperododooutrosoosgrandesacontecimentospolticos.
Evidentemente, se fossem adotados outros critrios, como, por exemplo, o econmi-
co,osocialouoreligioso,ademarcaotambmseriaoutra.
Porqueadotamosomodelodahistoriografiafrancesa?Porqueelaaindaapredo-
minantenasescolasenoslivrosdidticosbrasileiros.Nohouveaindaumaproposta
deperiodizaoquetenharecebidoaprovaoconsensualdoshistoriadoresdaeduca-
o.Ademais,dopontodevistadeGiordani(1983,p.15),[...]oshistoriadoresvm
mantendoa tradicionaldiviso,poisqueamesmanodeixade facilitarosestudos
histricosetodasasoutrasformastmtambmsualimitao.
Destemodo,nestelivroadotaremosoquadripartismo,ouseja,adivisodahistria
daeducaonosseguintesgrandesperodos:IdadeAntiga,IdadeMdia,IdadeModer-
naeIdadeContempornea.
AIdadeAntigacompreendeoanode4000a.C.(antesdeCristo),quandosurgem
os primeiros documentos escritos, e vai at o sculo V, com as invases dos povos br-
baroseofimdoImprioRomanodoOcidente.OfimdaAntiguidademarcaoincio
daIdadeMdia,queseestendeatosculoXV,maisprecisamenteoanode1453,
comatomadadeConstantinopla(atualIstambul)pelosturcoseofimdaGuerrados
CemAnos.Tem-seassimincioIdadeModerna,cujotrminodadopelaRevoluo
Francesa,em1789.ComeaentoaIdadeContempornea,queduraatosnossos
dias.Paraoshistoriadoresingleses,todavia,nohouveachamadaIdadeContempo-
rnea;ahistriateriachegadoIdadeModerna,persistindoatosnossosdias.Ja
historiografiasoviticaadotaoutrosparmetros,segundoosquaisomarcoinicialda
HistriaModernaaRevoluoIndustrial(1760-1780)eodaHistriaContempor-
neaaRevoluoRussade1917(ARRUDA,1981,p.20).
4 A periodizao acima vlida somente para a Histria do Ocidente.
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1. Expliquecomsuaspalavrasqualadiferenaentreahistriadapedagogiae
ahistriadaeducao.
2. Leiacomatenootextoabaixoerespondasseguintesquestes:
Nasociedadeps-industrialousociedadedoconhecimentonota-se,paralelamente
expansodaeducaoformal,umcrescimento,talvezaindamaior,daeducaoin-
formal.Denossopontodevista,asescolasdeixaramdeserainstituiosocialbsica
naqualoindivduoaprendeouseeduca.
Oqueasociedadeps-industrialousociedadedoconhecimento?
Senaatualidadeasescolasdeixaramdesera instituioexclusivanaqualas
pessoasaprendemouseeducam,expliqueemquaisoutroslugaresocorreaeducao.
Proposta de Atividades
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iniciao cincia e a pesquisa
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Referncias
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Anotaes
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Jos Flvio Pereira / Ruth Izumi Setoguti
EDUCAO INFORMAL E HISTRIA
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Oobjetivodestecaptulomostrarcomoaeducaodoshomens,nosentidode
aquisioeformaodenovoshbitos,novasideias,novascrenas,novosvalorese
novoscomportamentos,ocorrenosnointeriordaescola,masprincipalmentefora
dela.Aestaeducaonoescolard-seonomedeeducaoinformal,precisamente
porqueelaocorredemaneiranoformal,nosistemticae,muitasvezes,semuma
claraintencionalidadepedaggica.
(Aeducaoinformaldesencadeadaporvrias instituieseaeshuma-
nas).
Essaeducaoinformalsedesenvolvenobojodastransformaeshistricas
dasociedadehumana,comoumprocessocego,constanteequaseimperceptvelde
transformaoeeducaodoshomensaolongodotempo.precisofrisarqueno
fcil captar essa educao informal comoobjeto de estudo justamente porque
umobjetofludo,meionebulosoesomenteobservvelemumrecortemaisamplo
dotempohistrico.Almdisso,esseno,ainda,umobjetodeestudoclaramente
delimitadonocampodascinciasdasociedadeemesmonocampodacinciadaedu-
cao.Noentanto,sabemosquetalprocessoeducativoinformalexisteconcretamente
e desencadeado por vrias instituies e aes humanas, conforme j assinalaram
grandesestudiososdasociedadehumana,dasmaisvariadasorientaestericas,dos
quaiscitamosalgunsexemplos.
1. a educao informal segundo alguns pensadores clssicos.
(Opapeldafamlianaeducaoinformal)
Maquiavel(1469-1527),pensadoritalianoeprofundoobservadordasaeshuma-
nas,sustentavaqueasdiferenasnocomportamentoeramdeterminadas,entreoutras
coisas,pelasdiferentesexperinciasevivnciasfamiliaresdosindivduos:
Sodiferenasquenopodemderivarsimplesmentedosangue(quesemis-turapeloscasamentos):resultamdasdiferenasdeeducao,defamliaparafamlia.Umacrianacomeaaouvir,desdeosprimeirosanos,quecertacoisa
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boaoum,eestaopinioseimprimenoseuesprito,servindodeguiaparaorient-latodasuavida.(MAQUIAVEL,1994,p.429).
Para ele, o ambiente familiar e os exemplos dados pelos adultos eram fundamentais
paraeducaredeterminaroqueacrianaseriapelorestodesuavida.
(Opapeldasleisnaeducaoinformal)
CesareBeccaria(1738-1794),juristailuministaitaliano,defendiaatesedequeas
leispenaisdeveriamserelaboradaseaplicadasdetalmodoque,aopunir, tambm
servisseparaeducaroscidados:
Oscastigostmporfimnicoimpediroculpadodesernocivofuturamentesociedadeedesviarseusconcidadosdasendadocrime.Entreaspenasenamaneira de aplic-las proporcionalmente aos delitos, mister, pois, escolher osmeiosquedevemcausarnoespritopblicoaimpressomaiseficazemaisdurvel,e,aomesmotempo,menoscruelnocorpodoculpado(BECCARIA,[19--],p.62).
Aoseremaplicados,oscastigospenaisdeveriamatingirdoisobjetivossociais,ao
mesmotempo:1-impedirqueoculpadofosse,futuramente,nocivosociedade;e2-
desviarseusconcidadosdasendadocrime.Comojurista,Beccariavalorizavaaao
dasleispenaiscomoinstrumentoeducativodoshomensemgeral.
(Opapeldoprocessoprodutivo,datradioedocostumenaeducaoinformal)
Marx(1818-1883)tambmobservouesseprocessodeeducaoinformaldoho-
mem,desencadeado,segundoele,devriasmaneiraseporvriasinstituieseaes
humanas. Analisando o processo histrico de formao do trabalhador assalariado
livrenaInglaterraentreossculosXVIeXIX,eleafirmaqueparaseproduzirsocial-
menteessetipodetrabalhadornobastaquehaja,deumlado,ocapitalista,donodos
meiosdeproduoedesubsistncia,edeoutro,homenssemmeiosdeproduoe
desubsistncia,obrigadosavendersuaforadetrabalhoparaviver.Eleacrescenta,
tambm,quetampoucobastafor-losasevenderemlivrementecomoassalariados.
preciso,almdessesrequisitos,queaproduocapitalista,aoprogredir,desenvolva
umaclassetrabalhadoraqueporeducao, tradio e costumeaceiteasexigncias
daquelemododeproduocomoleisnaturaisevidentes.Quandoaorganizaodo
processo de produo capitalista chega ao seu pleno desenvolvimento, ela quebra
todaaresistnciadostrabalhadores,quepassamaaceitaracondiodeassalariados
comonatural(MARX,1980,p.854).
QuandoMarxpostulaquenobastaforarostrabalhadoresaaceitaremacondio
deassalariados,eleestquerendodizerqueocapitalismonopodedepender,como
dependeunossculosXVIeXVII,daforaedaviolnciadaleiparaobrigarapessoa
a se submeter aomercadode trabalho livre.Nesseperodo, como sabemos, abur-
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guesiamanufatureiratevequesevalerdaforaedaviolncialegaisdoestadoingls,
respaldadasporumalegislaocontraavadiagem,paraenquadrareeducarosantigos
artesos e camponeses independentes no novo modo de vida e na relao de trabalho
assalariada.Nessecaso,asleiscontraavadiagemdesempenharamumpapelcrucialna
educao informal do trabalhador assalariado, melhor dizendo, na transformao do
antigotrabalhadorindependentenessetrabalhadorassalariado.
Masapartirdecertomomento,aestabilidade,alegitimidadeeoregularfunciona-
mentodaproduocapitalistadependemdequeostrabalhadoresvejamarelaode
trabalho assalariada como uma instituio natural e necessria dessa produo capita-
lista.Marxpontuaqueotrabalhadorassimilaessavisodemundopelaeducao,pela
tradioepelocostume.
Entretanto, quandoMarx afirmaque a educao ajudano sentidode induzir o
trabalhador a ver a relao de trabalho assalariada como uma instituio natural e
necessria do capitalismo, ele no est, evidentemente, se referindo a uma educao
formaldestinadaformaodetrabalhadorassalariado.SubentendemosqueMarxse
refere a uma educao informal do trabalhador assalariado, educao informal esta
queaconteceaolongodotempo,devriasmaneiras,difusaeemvrioslocais.
A educao informal acontece, inclusive, na escola de primeiras letras, onde o tra-
balhadoreseusfilhosaprendem,almdematemticaegramtica,princpiosmorais
quevalorizamadisciplinanotrabalhoeorespeitopropriedadeehierarquiana
sociedade,entreoutrascoisas.Elaacontecenoscultosreligiosos,principalmentenos
puritanos,nosquaisotrabalhadortambmaprendearespeitarahierarquiasocial,a
propriedadealheiaeausarseutempodemaneiraracionaleprodutiva.Elaacontece,
ainda,naprpria famlia,comospaise irmosmaisvelhostransmitindoaostraba-
lhadores mais jovens valores e ensinamentos acerca de como se comportar bem na
sociedadeenoprocessoprodutivodafbricacapitalista.Elaacontece,finalmente,no
interiordamanufaturaedafbrica,quandootrabalhadorsubmetidoaumadiviso
dotrabalhomaisaprofundadaeaumahierarquiadecomandomaisrigorosa.
Elaacontecepelatradio,quando,aolongodasgeraes,filhosefilhasacabam
aceitando a condio de assalariados e reproduzindo a disciplina produtiva e moral
dospaiscomotrabalhadoresassalariados.Aqui,atradiofamiliaroudeclasseque
ajudanamoldagemdocomportamentodotrabalhadorassalariado.
Ela acontece ainda pelo costume, com a repetio, ao longo das geraes, dos
comportamentoseposturasdotrabalhadorassalariadodiantedavidaprofissional,fa-
miliaresocial.arepetiodosmesmoscostumes,nafamliaounaclasse,quemolda
ocomportamentodotrabalhadorassalariado.EmconformidadecomMarx,portanto,
o trabalhador assalariado europeu, tal como aparece no sculo XIX, disciplinado e
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integradonasrelaesdetrabalhoassalariadas,resultado,basicamente,deumlongo
processodetransformao/educaoinformaldohomemeuropeunahistriamoder-
naecontempornea.
(Aeducaodonobreguerreirofeudal)
Peloqueexpusemosacima,percebemosqueaquestodarelaoentreeducao
informalehistriapodeseranalisadadaperspectivadosmaisvariadosperodoshis-
tricos.Noentanto,porumaexignciadidticaeparafugiraumaexposiomuito
abstrata,genricaeatemporal,quedificultailustrarconcretamenteoqueestsendo
dito,focaremosaanliseemumperodohistricoprecisodasociedadeocidental,o
perododatransiodasociedademedievalparaasociedademoderna.Aindaporuma
exignciadidtica,aanlisefocadanonobreguerreirofeudal,queconsiderado,
aqui,nocomoumafigura social imutvelepetrificada,mas simcomoumafigura
socialquevivedeacordocomsuascondiessociaisequetransformaseumodode
sereseucomportamentoconformevoenfraquecendooudesaparecendoasformas
devidamedievais.
2. do nobre guerreiro Feudal (sc. Xi) ao nobre da corte absolutista
(Xviii).
Oqueverificamos,geralmente,nasdescriesdastransformaeshistricasnadi-
reodamodernidadeumenfoquenamudanadasinstituies,dasleisedasideias
comosetudoissofosse,emcertosentido,umprocessoautnomoqueinfluenciassee
transformasse,externamente,ocomportamentoeomododeserdohomem.Paranos-
soobjetivonestaanlisepartimosdopressupostodequetaisinstituies,leiseideias
soelasprpriasprodutosdaaohumana,expressandoeinfluenciando,concomitan-
temente,omododeserdohomememdeterminadosmomentosdahistriahumana.
(Ocomportamentorefinadodonobredacorteabsolutista)
ComparandoomododesereocomportamentodonobredaSociedadedeCorte
francesadosculoXVIIIcomomododesereocomportamentodoNobreguerreiro
feudalfrancs,constatamosgrandesdiferenas.OnobredosculoXVIII,conhecido
comonobrecortspelofatodevivernacorteabsolutistaeassumirumcomportamen-
5 Sociedade de Corte o ambiente social, poltico e cultural que se constitui nas grandes cortes abso-lutistas europias, a partir do final do sculo XV, com a afluncia da nobreza feudal empobrecida e da burguesia ascendente. Sob a liderana dos reis absolutistas, a corte absolutista moderna um grande centro formador e irradiador do comportamento, dos costumes e valores sociais, polticos e culturais considerados mais civilizados, ou seja, mais pacficos e refinados em comparao quilo que existia na pequena corte medieval. Paris, capital da Frana, o exemplo por excelncia dessa Sociedade de Corte, na qual o refina-mento e os novos valores e costumes civilizados atingem o grau mximo de desenvolvimento nos sculos XVII e XVIII. Paris , nesses dois sculos, o principal centro difusor dos valores, princpios e costumes civilizados.
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tocondizentecomesseambiente,umapessoadeboasmaneiras,polida,pacfica,
cordata,dissimuladaesubmissaaomonarcaabsoluto.Eleumapessoadeboasma-
neirasepolidaporquenocomecomasmos,noescarranocho,nolimpaaboca
eonariznatoalhadamesadejantaretc.Elepodeserconsideradopacficoporque
recalcououperdeusuaantigacaractersticaguerreira,queolevavaaresolvertodosos
conflitosetodasasdesavenascomseusinimigoseadversriospormeiodaespada
emduelose justas,semterquedarsatisfaesaningum.Eleagoraumapessoa
cordataporquesetornoumaistoleranteemrelaosposiesdiscordantes,egeral-
menteestdispostoafazeracordospacficos.Eleumapessoadissimuladaporque
noagesobosimpulsoseinstintos,eleagorasecontrolaedisfaraoquesentecomo
formadesobrevivnciasocial.Eleumapessoasubmissaporque,mesmoacontragos-
to,sempreobrigadoaselembrarqueexistealgumsuperioraele,queomonarca
absoluto,monarcaestequeatuacomoprotetor,mediadoresuperiorpolticodetodos
osmembrosdanobrezacorts.
(Ocomportamentoviolentodonobreguerreirofeudal)
Comoindicaahistria,essenobrenemsemprefoiassim,contido,educado,pacfi-
co,esubmissoaorei.Nasociedadefeudal,essenobre,acimadetudo,umguerreiro
turbulento,violentoeimpetuoso;napoltica,umlderarroganteearbitrrio;navida
privada,umapessoaviolentaearbitrria,queesmurraefazcorrersanguedonarizda
prpriaesposaapsumdesentendimentoqualquer.Navidaprivada,ainda,erarudee
grosseiro,poiscomiacomasmossujasetinha,vistosobaticadohomemdosculo
XVIII,hbitoshiginicosprimitivosegrosseiros.
(Astransformaesestruturaisdasociedadefeudaleamudanadocomportamen-
todonobreguerreiro)
Oquedeterminouessasmudanascomportamentaisenomododeserdonobre
guerreiro francs emdoismomentosdahistria?Comcerteza, no foi sentadono
6 No devemos concluir, por isso, que existe uma relao mecnica e determinista entre as estruturas sociais e os comportamentos e costumes do indivduo, impossibilitando qualquer variao em seu modo de pensar e se comportar diante da vida. Embora o indivduo tenda a se comportar de acordo com os va-lores e interesses de sua respectiva classe, a complexidade da realidade social possibilita e at estimula que o indivduo, a partir de seu livre-arbtrio e de suas sensibilidades pessoais, nem sempre reagir da mesma maneira que reagem seus pares diante do mundo que os cerca. Para ilustrar, s lembrarmos a experincia de vida do jovem So Francisco de Assis, exemplo clssico de indivduo que, diante de uma determinada realidade social, passou a se comportar, religiosa e socialmente, de uma maneira completamente distinta dos demais jovens de sua classe. 7 Eram selvagens, cruis, inclinados a exploses de violncia e, de igual modo, abandonavam-se alegria do momento. [...] Pouco havia na situao em que viviam que os compelisse a adotar moderao em seus atos. Pouco em seu condicionamento os forava a desenvolver o que poderamos chamar de um superego rigoroso e estvel, como funo da dependncia e das compulses originrias de outras pessoas e que neles se transformassem em autodisciplina (ELIAS, 1990, p. 70).
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banco escolar e assistindo aulas em uma escola formal, seja ela uma universidade,
quejexistiapoca,sejaelaummosteiro,queonobreguerreirosetransformou,
aolongodasgeraes,nonobrecortsdosculoXVIII.Ahistriaapontaque,alm
de camponeses e artesos, a maioria dos reis e nobres feudais tambm no sabia ler,
escrevereeraignoranteemrelaoaolatim,alnguacultaduranteofeudalismo.Le-
trados,nessapoca,eramsomenteosreligiosos.Nofoi,portanto,aeducaoformal
quetransformou,aolongodotempo,onobreguerreirofeudalnaquelesersocialmais
refinado,pacficoesubmissodacorteabsolutista,onobrecorts.Deacordocomo
quepretendemosmostrarnestecaptulo,foramasmudanasestruturaisdasociedade
medievalque,aoenfraqueceropodersocialdonobreguerreirofeudal,obrigou-oase
desenraizar de seu modo de vida tradicional e se adaptar ao modo de vida das cortes
absolutistaseuropiasquesurgemapartirdosculoXVI.
3. as influncias das formas de vida materiais e mentais na
constituio do ser social.
Existe uma estreita relao entre as formas de vida e as formas de comportamento,
deemoesedesentimentoseashabilidadeshumanasvigentesemumadeterminada
sociedade.Nasociedademedieval,porexemplo,desenvolveram-secertasformasde
vidasobasquaisoindivduoeraobrigadoavivercomocavaleiro,arteso,ouservoda
gleba(ELIAS,1990,p.202).
(Ashabilidadeseapersonalidadeagressivadonobrefeudal)
Viver,porexemplo,comocavaleiroounobreguerreiro feudal implicavaemum
padrosingulardecomportamento,depersonalidade,dehabilidadesesentimentos.
Nessasociedadeviolentaeinsegura,apilhagem,aguerra,acaaahomenseaanimais
eraumanecessidadede sobrevivnciaparaosnobresguerreiros,poisera somente
assimqueelesconseguiammaisterrasedependenteseevitavamseremconquistados,
8 Norbert Elias detalha as implicaes polticas desse enfeixamento de poderes e atribuies nas mos do nobre guerreiro feudal, distinguindo esta situao com a situao reinante na sociedade moderna: J salientamos, alis, que o papel social do grande senhor ou prncipe feudal, a funo de homem mais rico e detentor dos principais meios de produo, a princpio no se distinguia em absoluto do poder militar e da jurisdio. Funes hoje exercidas por diferentes pessoas e grupos ligados pela diviso do trabalho, isto , as funes de grande latifundirio e de chefe de governo, constituam, nessa poca em que estavam inseparavelmente ligadas, uma espcie de propriedade privada. A situao se explica em parte pelo fato de que nessa sociedade, que ainda possua uma economia baseada na troca, embora j em declnio, a terra constitua o mais importante meio de produo, at que em sociedades posteriores, fosse suplantada nesse papel pela moeda (ELIAS, 1990, p. 131-132).
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9 O que esta indica a economia de escambo uma maneira muito especfica pela qual pessoas se ligam e se tornam dependentes umas das outras. Aponta uma sociedade em que a transferncia de bens do homem que os tira do solo ou da natureza para o homem que os usa ocorre diretamente, isto , sem ou quase sem intermedirios, e onde ela feita na casa de um ou de outro, o que pode ser a mesma coisa (ELIAS, 1990, p. 34).10 Na relao de interdependncia pessoal, os indivduos so mutuamente dependentes entre si. Nela, mesmo o indivduo mais poderoso, como o rei, depende e tem, em certo sentido, que dar satisfao de seus atos aos ministros e aos membros da corte que o apiam. uma relao completamente diferente da relao de dependncia pessoal vigente no feudalismo, a partir da qual o nobre guerreiro feudal exerce o seu poder pessoal sobre aqueles que dependem diretamente de sua proteo e que no tm como questio-nar essa dependncia pessoal.
submetidosoudestrudospor seusprpriospares.Ahabilidademilitarera,nessas
condies,amaisimportantedonobreguerreiro.Istogerou,nasuapessoa,umser
arbitrrio,agressivo,violentoebelicoso,quepraticavalivrementeatosdeselvageria
contraseusinimigosesubordinadosecultuavaamortenocampodebatalhacomoa
maiorglriapossvelparasiprprio.ComooEstadoerafracoenoexistianenhum
outro poder ou leis para limitar e moderar o poder pessoal e a ao desses nobres
guerreiros,eleslevavamumavidadesinibidaesemnenhumcontroleexternoaoseu
podermilitarecivilsobreosqueestavamasuavolta.Onicoobstculoquepoderia
barrarumguerreirofeudalseriaoutroguerreiromaispoderoso.
(Asimplicidadedasociedadefeudaleopoderpessoaldonobreguerreiro)
Almdesseambienteconflituosoeviolento,outrosdoistraosdasociedadefeudal,
o baixo desenvolvimento da diviso de funes e a economia de troca no monetria,
foram tambm importantes para moldar o comportamento autoritrio e belicoso do
nobreguerreiro.
Obaixograudadivisodefunes,decorrentesdapoucasofisticaoedasimpli-
cidadedasociedadefeudal,possibilitavaqueonobreguerreirodesempenhasse,ao
mesmo tempo, diversas funes como a de prncipe, rendeiro, coletor de impostos,
juizelegisladordapopulaoquevivianarbitadocastelo(SMITH,1983).Essenobre
exercia todasessas funescomacooperaodepoucosauxiliares, sobreosquais
exercia um poder de mando direto, com base nas relaes de dominao jurdica e
delealdadepessoal.Ocentrodopoderedasdecisesasmaisvariadaseraonobre
guerreiro,oqueoalavaaumaposioindiscutivelmenteproeminenteemrelaoa
todososqueviviamcomeledentroouforadocastelo.
(Aeconomiadeescamboeasrelaesdedominaopessoal)
Nesseestgiodadivisodotrabalho,atrocadeservios,produtoseosrelaciona-
mentos interpessoais no eram, evidentemente, mediados pelo mercado e pelo dinhei-
ro,massimpelatrocadiretaouescambo.Istonofavoreciaosurgimentoderelaes
baseadasnainterdependnciaenamaiorliberdadedaspessoascomoacontecena
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sociedadeatual,cujosintercmbiossebaseiamemrelaesimpessoaisemonetrias,
massimnasrelaesdedependnciajurdicadapequenaemdianobrezaedosestra-
tossociaismaisbaixos,camponeseseartesos,emrelaoaonobreguerreiro.Oque
variava,norelacionamentodessesdiferentessetoressociaiscomonobreguerreiro,
eraapenasograudedependnciapessoaldosprimeirosemrelaoaoltimo.
3.1. as influncias das foras mentais na constituio do ser social.
(as foras mentais e o comportamento do nobre guerreiro e de seus
dependentes)
Alm das condies de vida materiais, visveis e mais prosaicas, no podemos des-
consideraraaodasforasinvisveisoumentaisnaeducaoenamoldagemcom-
portamentaldonobreguerreiromedievaledeseusdependentes.Desempenhapapel
fundamental,nessecontexto,avisodemundodifundidapelosreligiososcatlicos
juntostrsordensdasociedademedievalreligiosos,guerreiroseservos,legiti-
mandoopoderdemando,asatribuies,asresponsabilidadeseasprerrogativasdo
cleroedosguerreiros,porumlado,eosdeveresdaordemsituadanabasedasocie-
dade,camponeseseartesos,poroutrolado.
oquefazobispoAdalbrondeLaonquandodescreveasordenaesdasrelaes
humanasparaoreiRoberto,oPio,nosculoXI:
Asociedadedosfiisformaumscorpo,masoEstadocompreendetrs.Por-queaoutralei,aleihumana,distingueduasoutrasclasses:comefeito,nobreseservosnosoregidospelomesmoestatuto.[...]AcasadeDeus,queacreditamuma, esta, pois, divida em trs: unsoram,outros combatem,outros, enfim,trabalham.Estastrspartesquecoexistemnosuportamserseparadas;osser-vios prestados por uma so a condio das obras das outras duas; cada um por suavezencarrega-sedealiviaroconjunto.Porconseguinteestetriploconjuntonodeixadeserum;eassimquealeipdetriunfar,eomundogozardapaz(apudDUBY,1980,p.77-78).
oquefaz,tambm,oreligiosoBertholdVonRegensburgemumsermodos-
culoXIII:
Quemcultivarianossos camposparans se fsseis senhores todos vs? [...]Euvosdirei,cristos,comooDeusTodo-PoderosoorganizouaCristandade,dividindo-aemdeztiposdepessoasequetiposdeserviososmaishumildesdevemaosmaisnobres,comoseusgovernantes.Ostrsprimeirossoosmaisaltosemaisexaltados,queDeusTodo-Poderosopessoalmenteescolheueun-giu,demodoqueosoutrosseteaelesficassemsujeitoseosservissem(ApudELIAS,1990,p.205).
oquefaz,ainda,SoTomsdeAquinoaoapregoar,nosculoXIII,queadistin-
o das posses e a servido foram institudas na sociedade pela razo dos homens e
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paraautilidadedavidahumana(TOMS,1995,p.84).
Ossermeseescritosreligiososcristosdesempenhavamumpapelfundamental
naeducaodocomportamentoedaposturadetodasasordenssociaisfeudais.Era
neles e apartir deles queonobre guerreiro e seusdependentes aprendiam como
deveriamsecomportarequelugaresdeveriamocuparnadivisodefunesdasocie-
dademedieval.
(Conflitosentreonobreguerreirofeudaleorei)
A figura do nobre guerreiro ou cavaleiro feudal, com seumodo de ser e com-
portamentotpicos,continuouexistindoporsculosenquanto,evidentemente,per-
duraramastaisformasdevidamateriaisementaisdasociedademedieval.Masesse
nobreguerreiropagouumpreomuitoaltoparapreservarsuaindependnciaesua
autoridadepessoais.Issoaconteceuporqueeleteve,duranteofeudalismo,quelutar
constantementecontraoutrosguerreirosrivaisecontraoprpriorei.Ahistriada
sociedadefeudalmarcadaporesseconflitoirreconcilivelentreonobreguerreiroe
seuspareseentreonobreguerreiroeorei,conflitoquesterminavapeladerrotae
submissodeumadaspartes.
Noconflitoentreonobreguerreiroeorei,interessesdistintossecontrapunham.
Deumlado,encontrava-seonobreguerreiro,interessadonapreservaodesuaau-
tonomia,deseupoderpessoalesemprerebeldeeinsubmisso.Deoutro,estavaorei,
interessadonaampliaodasprerrogativasreaise fazendodetudoparaeliminaro
poderpessoaldonobreguerreiro,parareeduc-loesubmet-loaopodercentralizado
doestadomonrquico.
(ALeiFeudaleointeressedosreisnasubmissodosnobresguerreirosfeudais)
Pormeiodeguerras,batalhaseoutrostiposdeaes,osreismedievaistentaram,
semmuitosucesso,submeterereeducarpoliticamenteanobrezaguerreirafeudalao
longodossculos.AdamSmithrecorda-nos,porexemplo,quealgunsreiseuropeus
tentaram,emdeterminadosmomentos,submeteranobrezafeudaldecretandoaLei
Feudal,quetinhaporobjetivoredefinirahierarquiajurdica,polticaemilitardasocie-
dadefeudaldemaneiraareduziropoderpessoaldosguerreirosfeudaisefortalecero
poderdorei.Suainstituio,porm,nosurtiuoefeitodesejado,epormuitotempo
aindaaautoridadedosreispermaneceumuitofraca,enquantoadeseusvassalos,os
nobresguerreiros,continuoumuitoforte(SMITH,1983).
Noentanto,sabemosqueasformasdevidafeudaisnoerampetrificadasequeelas
setransformaramdemaneiravagarosaequase imperceptvelao longodossculos,
poisamudanaumacaractersticanormaldasociedade(ELIAS,1990,p.222).Apar-
tir do sculo XI essa transformao das formas de vida feudais se acelerou, corroendo
omododevida,ocomportamentotradicionaldonobreguerreirofeudalecriando
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iniciao cincia e a pesquisa
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condies para transform-lo, como mencionamos acima, em um ser social completa-
mentediferentedoqueera.
4. transformaes nas formas de vida medievais e formao de um
novo ser social: surge o nobre corts
(Ocomrcioeoenfraquecimentodosnobresguerreirosfeudais)
A transformao nas formas de vidamedievais que culminaramna corroso do
mododevidatradicionaldonobreguerreirofeudalenareeducaodeseucompor-
tamentorelaciona-secomaintensificaodocomrcioecomacirculaomonetria
maisintensaentreasregieseuropiaseentreaEuropaeoOriente,apartirdosculo
XI.
Essa intensificaodas atividades comerciais emonetrias contribuiu sob vrios
aspectosparaacorrosodomododevidadosnobresguerreirosebaresfeudais.
(Novoshbitosdeconsumoeoendividamentodosnobresguerreirosfeudais)
Sobumaspecto,aointroduzirvariadostiposdeprodutosrefinadosorientaisno
mercado europeu, o comrcio estimulou o apetite de consumo dos nobres feudais,
quepassaramagastarogrossodesuasriquezasnacompradescontroladadessespro-
dutosrefinados.Essehbitoconsumistadegastarquasetudocomseuluxopessoale
comoluxodesuafamliatrouxeconsequnciasdesastrosasparaaposiosocialdo
nobreguerreirofeudal.Umadelasfoioendividamento.Aoutrafoiaimpossibilidade
decontinuargastandoseusrecursoscomamanutenoeproteodeseusdependen-
tes,oquelhecustouaperdadoapoiosocial,queprovinhadessesdependentes,para
conservarseupoderpessoal.Porconseguinte,comosnovoshbitosdeconsumoe
comessanovamaneiradegastarseudinheiro,onobreguerreirofeudalseendividou
ecorroeu,semperceber,abasesocialdesustentaodeseupoderpessoal.
Soboutroaspecto,oaumentodacirculaomonetriaeadesvalorizaododi-
nheiroqueaelaseseguiuprovocaramumacorrosonopodereconmicodosnobres
feudaisquehaviamarrendadosuasterrasaprazosexcessivamentelongoseapreos
noreajustveisao longodo tempo. Impossibilitados,assim,decorrigirovalorde
seus arrendamentos, esses nobres se viram envolvidos em um crescente processo de
empobrecimentoeendividamentoemrelaoaoqualnopodiamfazermuitacoisaa
11 Sistema de governo surgido no Sculo XVI, no qual o rei administra o pas concentrando os poderes executivo, legislativo e judicirio. Henrique VIII, na Inglaterra, na primeira metade do Sculo XVI, um exemplo de monarca que reinou seguindo os princpios do absolutismo real. Na Frana do Sculo XVII temos o exemplo de Luis XIV, a quem atribuda a frase: O Estado sou eu! 12 A histria do absolutismo ocidental , em grande parte, a histria da lenta reconverso da classe do-minante fundiria forma necessria de seu prprio poder poltico, a despeito e contrariamente maior parte de sua experincia e instintos anteriores (ANDERSON, 1985, p. 47).
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noservenderpelomenospartedapropriedadeemigrarparaacorte.
Nofundo,ocomrcio,aoabalaropodereconmicodosnobresguerreirosfeudais,
abriucaminhoparaumaverdadeirarevoluocivilizatriacaracterizadapelamudana
comportamentaldonobreguerreiroepelaconstruodeumanovaordempolticae
socialnaEuropaOcidentalsobadireoeopoderdosreiseuropeus(SMITH,1983;
PIRENNE,1977).
(Processocivilizadoremudanadecomportamento)
Esse avano do processo civilizador, entendido aqui principalmente como uma
mudana no comportamento, no modo de ser, na afetividade e nas habilidades do
nobreguerreiro,setornamaiscompreensvelseanalisadonombitodoprocessode
centralizao poltica e constituio do absolutismo real na Europa ocidental e, espe-
cialmente,naFrana.Nessepas,muitocedoanobrezaguerreiradesenraizadade
suas condies de vida tradicionais em razo do avano da economia monetria e dos
progressosdacentralizaopolticaedoabsolutismoreal.ltambmqueseconsti-
tuiachamadaSociedadedeCorte,oambientesocialnoqualanobrezaguerreiratra-
dicionalenfraquecidaserreeducadanosentidodeadotar,aolongodasgeraes,um
comportamentomaisrefinado,pacfico,contido,ouseja,civilizado(ELIAS,1993).
(Nacorteabsolutistaonobreguerreiroabandonasuasantigastradies)
Enquanto estava em seu castelo no campo, o nobre guerreiro feudal tinha seu
squito pessoal, era obrigado a assumir responsabilidades com a proteo da po-
pulaoqueviviaasuavolta,tinhaseusprivilgios,mastinhatambmobrigaese
responsabilidades sociais. Seumodode sere seucomportamentoexpressavaessas
condiessociais.Comseuempobrecimento,seuenfraquecimentopolticoecomo
fortalecimentodoestadomonrquicoabsolutista,seupoderpessoaltransferidopara
osfuncionriosdoestadoabsolutista,oqueoobrigaadesenraizar-sedeseumundo
tradicionaleatransferir-separaooutromundo,odaSociedadedeCorte,emParisou
outraimportantecapitaleuropia,ondeobrigadoaabandonarantigastradiese
aadquirirmuitasaptidesnovas(ANDERSON,1985,p.47).Nessepontojsecum-
preumaetapadaqueleprocessoqueaquidenominamostransformaooueducao
informaldonobreguerreironosentidodeobrig-loaassumirgradativamenteoutra
posturaououtromododeserdiantedoshomensqueconvivemcomelenofeudoou
nacorteabsolutista.
Noobstante,esseempobrecimentoeesseenfraquecimentopolticoemilitardo
nobreguerreiro feudalnobastam,por si s,para transform-lo emumoutro ser
socialajustadosnovascondiessociais.precisoqueelesejaenvolvidooumesmo
coagidoporalgumanovaforasocialepolticaporquedocontrriopodesetransfor-
maremumdesajustadosocial,emumbandoleiroaviverdepilhagenseassaltos,oque
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iniciao cincia e a pesquisa
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aconteceucomboapartedosnobresfeudaisdecadentes.Essanovaforacoativao
estadoeacorteaabsolutista,cujafuno,entreoutras,serenquadraredisciplinar,
pormeiosviolentosoupacficos,essanobrezadecadente.
5. a corte e as novas condies para a educao do nobre feudal.
(a corte como principal instituio social da reeducao do nobre
guerreiro feudal)
Acorteabsolutista,nestesentido,olugarprivilegiadoparaobservarmosaconti-
nuidadedesseprocessodeeducaoinformaldonobreguerreirofeudalemumser
mais civilizado. Seu ambiente social, poltico, cultural e administrativo completa-
mentedistintodoambientedapequenacorteprincipescasediadanocasteloouem
qualquerpequenacidadefeudal.Geralmentelocalizadaemumagrandecidadecomo
Paris,porexemplo,elaagregagrandenmerodepessoasdanobrezafeudal,doclero
edaburguesia,quevivemsobasordenseaproteodeumreiabsoluto.Nela,muito
forte o controle social sobre as pessoas de todas as classes, inclusive sobre os nobres
feudaisempobrecidos.AlgunsaspectosdomododevidavigentenaSociedadedeCor-
te so decisivos para a formao da personalidade, do comportamento e do modo de
serdonobrefeudalemdeclnio.
(Nacorteonobreguerreirosesubmeteaoreiesetransformanumapessoapacfica
erefinada)
Emtermospolticoseadministrativos,onobrecortsnemdelongelembraoanti-
gonobreguerreirofeudal,poisnotemmaispoderpessoaljustamenteporqueesse
poderfoitransferidoparaomonarcaabsoluto,oqual,assistidoporministrosefuncio-
nriosprofissionaiseamovveis,passaamonopolizaropodertributrioeopoderda
fora.Paravivernacorteereceberproteoreal,oantigonobretemquesesubmeter
aopoderreal,submissoqueacontecemeioacontragostoenosemgrandesconflitos
existenciais.Muitasvezeselehesitaentresesubmeteraoreiegozardosbenefciosda
condiodenobrecortsoupermanecercomonobreindependente,emboraempo-
brecidoedesprestigiadoemrazodadecadnciaquetomacontadesuaclasse.Masa
maioriadelesacabasesujeitandosnovascondiesdeexistnciadacorteabsolutista
eaofaz-losetransformame