Download - Introdução a Carta aos Hebreus
ROBERTO ROHREGGER
BREVE INTRODUÇÃO À CARTA AOS HEBREUS
ÍNDICE REMISSIVO
1. INTRODUÇÃO. 3
2. AUTORIA. 3
3. OS DESTINATÁRIOS. 6
4. DATA E LOCAL DA REDAÇÃO. 8
5. CANONICIDADE 10
6. MOTIVO E PROPÓSITO 11
7. TEOLOGIA 13
8. CONCLUSÃO15
9. BIBLIOGRAFIA 16
10. NOTAS 17
2
1. Introdução.
Da mesma forma com que Donald Guthrie iniciou a sua introdução e comentário à
Carta aos Hebreus[1], começaremos o nosso estudo, constatando que há uma
série de perguntas que não são totalmente respondidas, havendo uma variação de
respostas muito grande e não raras vezes conflitantes sobre está carta. A sua
canocidade hoje é algo inquestionável, salta-nos aos olhos o Espírito Santo nos
ensinando e exortando, quanto a isto nada há de se duvidar. Nosso objetivo neste
trabalho de introdução á Carta aos Hebreus é exatamente examinarmos mais
detalhadamente as questões inerentes ao redor da carta, sua autoria, local onde
foi escrita, motivo pelo qual o autor despendeu-se a escreve-la, seus destinatários,
etc... , para tanto efetuei uma pesquisa entre vários autores visando apresentar
uma síntese analítica do que se tem pesquisado e concluído sobre essa
maravilhosa epístola, isto posto iniciemos o trabalho.
2. Autoria.
Contrariando o que seria o usual de qualquer escritor, o autor de hebreus não se
identifica, em nenhum momento do decorrer da carta. A saudação inicial que se
fazia normalmente nas cartas da época onde ficava claro quem era o autor não se
faz presente nesta.
Fritz Laubach salienta ainda que, “Em Hebreus faltam todas as indicações mais
diretas sobre o autor e os destinatários....” [2]
Devemos salientar que até a igreja primitiva tinha dificuldades com ela, Conforme
Guthrie afirma, porém não deixando de notar os paralelos entre o escrito de 1
Clemente, com Hebreus[3], o que no mínimo pode atestar o conteúdo da carta,
3
mas não o autor.Dattler, em sua obra “A Carta aos Hebreus”[4] faz algumas
considerações com relação ao autor:
Apesar de se manter estritamente anônimo, o autor está presente em
cada página de sua missiva. Logo no primeiro versículo ele se revela
como judeu ao se identificar como descendente dos “ nossos pais”. A
maneira de falar é tipicamente judaica e semítica. Igualmente a
menção respeitosa dos profetas faz sentido somente para um judeu.
Mas isso não é tudo que sabemos o escritor da carta.
A partir de 2.1 ele emprega constantemente a primeira pessoa do plural
como alguém que participa intimamente da situação comum de todos
os cristãos, mormente dos seus leitores com os quais ele forma uma
comunidade de interesses e de sofrimentos. (...)
O autor revela-se ainda como teólogo exímio, conhecedor abalizado da
Bíblia e mestre no manejo do idioma grego, possuindo um estilo e um
vocabulário pessoais ; não imita a ninguém, contrariamente àqueles
hagiógrafos do NT que se ocultam atrás de nomes famosos (...).
Contanto, no decorrer do comentário deverão ser assinaladas as suas
analogias e talvez até dependências das teologias de Paulo e de João.
(...) O que ele nos diz sobre a vida terrestre de Jesus de Nazaré é muito
vago e tão voluntarioso que somos obrigados a concluir que ele, ou
não tomava conhecimento dos Evangelhos, ou então que ele escreveu
antes da redação final dos mesmos.
Culto, pensador profundo, familiarizado com o AT, hebreu, conhecedor de
elementos da teologia paulina, porém não um dos que estavam com Cristo, e
também não Paulo. Parece ser este o perfil do autor que surge da análise de
Dattler.
4
Já Laubach o coloca próximo aos apóstolos, concorda em dizer que o autor não
reclama a posição de apóstolo, mas, afirma : “... temos de localiza-lo, não obstante,
na proximidade imediata dos apóstolos...”[5] , o que conflita com a afirmação de
Dattler de que o autor não tomava conhecimento dos Evangelhos, porém Laubach
afirma inicialmente que o autor não faz parte dos primeiros apóstolos, mas alinha-
se na segunda ou terceira geração.
Champlin faz uma análise do estilo e característica do texto de hebreus
comparando-o com os textos universalmente aceitos como de autoria paulina, e
desta análise salienta-se o que segue:
(...)O estilo de Paulo é caracterizado por freqüente irregularidades,
anacolutos, parênteses extensos, alguns dos quais nunca retornam ao
tema original, metáforas misturadas, explosões súbitas de eloqüência,
com base em sentenças que expressam algo de maneira bastante
prosaica. A epístola de Hebreus, em contraste com isso, foi escrita em
estilo fluente e simétrico, e até mesmo artístico, evidenciando
considerável habilidade literária e bom senso estético.
O grego usado é melhor e mais clássico que o bom grego de Paulo
mas que geralmente é o comum grego “Koiné”.(...) [6]
Fecharemos nossas considerações com relação a autoria da carta aos hebreus
com a opinião de Guthrie , que também afirma que a carta não foi escrita por
Paulo, concluindo que o apóstolo jamais admitiria que recebeu o núcleo do seu
evangelho em segunda mão, como o autor parece fazer.[7]
5
Afirma ainda que restam poucas outras possibilidades, Lucas, Clemente e
Barnabé. Porém nenhuma destas alternativas tem indícios suficientes para se
sustentarem.
Um outro nome surge nas conjecturas mais modernas : Apolo, baseado na
suposição de que, como alexandrino teria familiaridade com os modos de pensar
do seu concidadão alexandrino Filo, que supostamente estão refletidos na
Epístolas.
Por todos os motivos expostos acima, apoiado nas considerações dos escritores
citados, em que fica constatado tanto a diferença de estilo literário, a ausência de
temas caros e comuns nas epístolas paulinas, e na falta de uma indicação de
autoria no corpo da carta, podemos afirmar com uma margem muito grande de
segurança de que o autor da carta aos hebreus não foi Paulo. Isso de maneira
alguma a desautoriza como documento inspirado e de canocidade comprovada.
Porém o nome verdadeiro do autor continua um mistério, e como disse Orígenes :
“Mas só Deus sabe quem realmente escreveu a epístola.”[8], e tudo leva a crer
que é assim que ficará.
3. Os Destinatários.
Aparentemente este é mais um mistério da carta, pois tudo o que sabemos para
identificar os destinatários é o título que possivelmente deu-se pelo teor da carta.
O título ligado a está carta no manuscrito mais antigo que existente é “ Aos
Hebreus”, e pelo que nos relata Guthrie, não há manuscrito da carta que não
tenha esse título. O próprio Guthrie afirma na sua introdução que nos tempos de
Clemente de Alexandria e de Tertuliano a epístola era conhecida por esse nome.
6
Algumas hipóteses interessantes com relação aos destinatários originais da carta
foram levantadas, baseados no teor da carta, Guthrie[9] por exemplo expõe
alguns indícios para a identificação dos mesmos :
(...)Certamente o autor sabe algo a cerca da historia e situação.(dos
destinatários específicos.). Sabe que foram abusados pela sua fé e que
reagiram bem ao despojamento das suas propriedades (10.33, 34).
Tem consciência da generosidade dos seus leitores (6.10) e conhece o
estado de mente atual deles (5.11ss.; 6.9ss). Certos problemas práticos
tais como sua atitude para com seus líderes (13.17) e questões de
dinheiro e de casamento(13.4,5) são mencionados. Se este for a
verdade o título é claramente enganoso. (O título como endereçado a
toda a comunidade hebraica, mas deporia a favor de um grupo mais
específico, de conhecimento intimo do autor.) (...) Outra indicação da
natureza do grupo pode ser deduzida de referencias tais como 5.12 e
10.25. A primeira é dirigida àqueles que nesta altura já deviam ser
mestres, e isto deu origem à sugestão de que os leitores eram uma
parte pequena de um grupo maior de cristãos. A sugestão mais
favorável pe que formavam um grupo numa casa que se separara da
igreja principal. A exortação em 10.25 apoiaria esta opinião. Ali, o
escritor conclama os leitores a não deixarem de congregar-se juntos.
Parece razoavelmente conclusivo que a totalidade de um igreja não
teria sido considerada mestres em potencial, e é altamente provável
que um grupo separatista pudesse ter se considerado superior aos
demais, especialmente se foram dotados com dons maiores. O tema
que nesta Epístola é argumentado de modo compacto está de acordo
com a sugestão de que um grupo de pessoas com um maior calibre
intelectual está em mente. (...)
7
Laubach, também afirma que a exortação constante em Hb 5.11 – 14 sugira a
suposição de que a carta talvez seja dirigida apenas a um determinado grupo de
fiéis específicos de uma comunidade, do qual estariam excluídos os irmãos
dirigentes, os líderes da comunidade[10].
Porém a opinião mais comum, principalmente entre os comentaristas mais
antigos é de que a localização dos destinatários estaria entre os judaico-cristãos
da Palestina ou de Roma, ou outras cidades em que houvesse judeus-cristãos de
formação helenista, p. ex. , em Éfeso, Tessalônica, Alexandria. Também é
levantada a hipótese de que os receptores da carta seriam judeus – cristãos de
origem sacerdotal.
Por ultimo podemos citar a hipótese de que os destinatários seriam membros
antigos da comunidade dos essênios em Cunrã que se converteram ao
cristianismo, este ponto é citado tanto por Guthrie[11] como de passagem por
Dattler[12] , mas como esta hipótese não é melhor desenvolvida por nenhum dos
autores concluímos que é pouco sustentável.
Constatamos então que assim como a autoria é desconhecida, o destinatário
também não é por completo de identificação clara. Apesar das conjecturas não
terminarem aqui, Guthrie mesmo levanta a questão da possibilidade dos leitores
originais serem gentios[13], cremos que há uma sustentação um pouco maior por
serem judeus-cristãos de uma comunidade específica, porém de localização vaga.
4. Data e Local da Redação.
Se não conseguimos identificar o autor, verificar com clareza os destinatários,
seria uma surpresa se conseguíssemos a data em que foi escrita com uma certa
exatidão.
8
O que tentaremos será identificar o período em que ela pode ter sido
escrita.Guthrie[14] afirma que podemos pelo menos concluir que foi escrita antes
da carta de Clemente de Roma ( 95 d. C.), a não ser, naturalmente que
aleguemos que Hebreus usou Clemente. No nosso entender isso é pouco
provável, o que mais parece é o contrario, conforme podemos ver no item Autoria,
na citação de rodapé 3.
A Bíblia de Jerusalém afirma que baseado no Cap. 13, 24, pode-se supor que foi
enviada da Itália, e que tenha sido escrita antes da queda de Jerusalém.
Fato este também mencionado por Guthrie, pois o autor não cita o templo
destruído por Tito em 70 d. C., porém levanta-se a hipótese do autor não fazer
referências mais ao tabernáculo que ao Templo justamente porque este não mais
existia. Contudo o próprio Guthrie argumente que os tempos usados no presente,
como por exemplo em 9.6-9 indicam que o ritual do Templo ainda estivesse sendo
observado, pelo menos evidenciam isso.
O Novo Comentário da Bíblia (NCB)[15] afirma que é não é possível fixar uma
data para Hebreus :
(..) impossível fixar a data da epístola com certeza absoluta, ainda
que se possa dizer com considerável confiança que, muito
provavelmente, ela foi escrita entre 60 e 70 D. C. Seus leitores já eram
crentes há muitos anos (Hb 5.12; Hb 10.32). Alguns de seus líderes
originais já haviam falecido (Hb 13.7). Por outro lado, Timóteo ainda
estava vivo (Hb 13.23). Parece possível argumentar que, se a
destruição de Jerusalém tivesse tido lugar, o escritor não deixaria de
referir-se ao fato, particularmente em vista de que isso foi um
significativo julgamento de Deus contra a antiga ordem de adoração
judaica.(...)
Somos obrigados a concordar com os autores de que, se a destruição do
templo houvesse ocorrido ou estivesse na eminência de ocorrer, este fato de
9
uma forma ou outra ( como um evento escatológico, p. ex.) apareceria na
carta.
A maioria dos escritores coloca a data em que a epistola foi escrita em torno do
ano 70 d. C.
5. Canonicidade
Pelo que vimos até agora não é de se estranhar que está carta estivesse entre
os que alguns pais da igreja questionavam, e por isso ainda no séc. IV ainda
não haviam obtido o reconhecimento universal.
Foi basicamente a anonimidade do autor que suscitou dúvidas sobre
Hebreus.Face o autor não se identificar e não afirmar ter sido um dos
apóstolos ( Hb 2.3), o livro permaneceu sob suspeita entre os cristão do
Oriente, que não tinham ciência que os crentes do Ocidente o haviam aceito
como autorizado e dotado de inspiração. O fato do montanistas heréticos terem
recorrido a Hebreus para apoiar alguma de suas concepções errôneas fez
demorar ainda mais sua aceitação nos círculos ortodoxos. Apenas ao redor do
séc. IV, sob influência de Jerônimo e de Agostinho, a carta aos Hebreus
encontrou seu lugar permanente no cânon.
Com o passar do tempo , a igreja evidentemente resolveu a questão do
anonimato da carta atribuindo a autoria a Paulo, o que resolveria a questão.
Uma vez que o Ocidente estava convencido do cunho apostólico desse livro,
nenhum, obstáculo permaneceu no caminho de sua aceitação plena e
irrevogável no cânon. O teor do livro é claramente confiável, tanto quanto sua
reivindicação de deter autoridade divina ( cf. 1.1; 2.3,4; 13.22).[16]
10
6. Motivo e Propósito
A condição espiritual se reveste dos receptores da epistola tem muito maior
significação que sua localização geográfica. O escritor claramente contrasta o
estado em que seus leitores se encontram com o estado em que estavam
anteriormente, com o em que deveriam estar, e com o estado em que pareciam
estar no perigo de cair. Ainda que crentes eram indolentes (Hb 5.11-6.12) e
desanimados (Hb 12.3-12). Haviam perdido seu entusiasmo inicial pela fé (Hb
3.6,14; Hb 4.14; Hb 10.23,35). Haviam deixado de crescer, ou melhor, de
progredir, e sofriam de séria deficiência no que tange à compreensão e ao
discernimento espirituais (Hb 5.12-14). Estavam deixando de freqüentar as
reuniões cristãs (Hb 10.25) e de ser ativamente leais a seus líderes cristãos (Hb
13.17). Necessitavam ser novamente exortados a imitar a fé daqueles que os
tinham precedido na viagem para a glória (Hb 13.7). Tendiam para ser facilmente
levados ao redor por ensinos novos e estranhos (Hb 13.9). Corriam o perigo de
não estarem à altura das promessas de Deus (Hb 4.1), desviando-se daquilo que
tinham ouvido (Hb 2.1). Estavam mesmo no perigo de abandonar completamente
a fé, numa deliberada e persistente apostasia (Hb 3.12; Hb 10.26); e esse perigo
tornar-se-ia mais grave se deixassem de freiar qualquer dentre seu número que
estivesse se movendo nessa direção (Hb 3.13; Hb 12.15). Caso cederem a tal
tentação e vierem a rejeitar realmente o Evangelho de Cristo, não poderão esperar
senão o julgamento (Hb 10.26-31).
Particularmente na qualidade de quem anteriormente haviam sido zelosos
aderentes do judaísmo, parece muito provável que os leitores originais da epístola
tinham ficado pessoalmente desapontados com o Cristianismo porque, por um
lado, ele não lhes tinha proporcionado qualquer reino visível terreno e, por outro
lado, o Cristianismo havia sido decisivamente rejeitado pela grande maioria dos
seus irmãos de raça, os judeus. Além disso o continuo apego ao Evangelho
parecia apenas envolvê-los na participação das repreensões injuriosas de um
Messias sofredor e crucificado, e no ter de enfrentar a possibilidade de violenta
11
perseguição anti-cristã. É bem possível, portanto que se sentissem seriamente
tentados a renegar a Jesus como o Messias e tornar a abraçar os bens visíveis e
preferíveis, que o judaísmo parecia continuar a oferecer-lhes.
Guthrie[17] acrescenta que o cristianismo não poderia oferecer paralelo com
relação à pompa ritual que eles haviam conhecido como costume.Ao contrário do
Templo, que todos os judeus respeitavam como o centro do culto, os cristão
reuniam-se em lares diferentes sem sequer terem um lugar central para suas
reuniões. Não tinham nem altar, nem sacerdotes, nem sacrifícios. O judaísmo
dispunha de um reconhecimento não só das autoridades como do povo em geral.
Todas estas questões poderiam levar o convertido a querer rever suas posições.
Que era o judaísmo que assim os atraía, em detrimento do Cristianismo, parece
confirmado pelo modo óbvio com que o escritor resolve, desde o início da epístola,
demonstrar a superioridade do novo pacto sobre o antigo, exibindo
particularmente a proeminente excelência de Jesus, o Filho de Deus, em
comparação com os profetas e os anjos, os líderes e os sumos sacerdotes que
operavam na antiga dispensação. Portanto, o escritor mostra que se a antiga
ordem era imperfeita e provisória, o Cristianismo trouxe perfeição (Hb 7.19), e
perfeição que é eterna (Hb 5.9; Hb 9.12,15; Hb 13.20). Tanto o autor como seus
leitores originais aparentemente eram judeus helenistas que tinham alguma
familiaridade com o pensamento filosófico dos gregos, e parece que o autor lança
mão de idéias baseadas em tais origens ao declarar que a antiga ordem continha
meramente "figura do verdadeiro" (Hb 9.24) ou então apenas a "sombra dos bens
vindouros, não a imagem real das cousas" (Hb 10.1). Por outro lado, o
Cristianismo é a própria verdade, a celestial e ideal realidade, que possui real e
absolutamente todos aqueles valores inerentes que naquela ordem antiga, quando
muito, podem apenas ser refletidos ou prefigurados. Não obstante, visto que seus
leitores reconheciam a autoridade divina das Escrituras do Antigo Testamento, seu
argumento final em favor do reconhecimento da superioridade de Cristo sobre os
anjos e sobre o sacerdócio levítico, e a favor da superioridade de Seu sacrifício de
12
Si mesmo-sobre os sacrifícios de touros e bodes, é o testemunho profético do
próprio Antigo Testamento. Ver Hb 1.5-13; Hb 7.15-22; Hb 10.5-10.
O propósito do escritor, por conseguinte, era tornar seus leitores plenamente
cônscios, primeiramente, da admirável revelação e salvação dada por Deus aos
homens, na pessoa de Cristo; em segundo lugar, deixá-los plenamente cônscios
do verdadeiro caráter celestial e eterno das bênçãos assim livremente oferecidas e
apropriadas pela fé; e em terceiro lugar, para dar-lhes plena consciência do lugar
de sofrimento e paciente persistência (mediante a fé) no presente caminho terreno
até o alvo do propósito de Deus, conforme demonstrado na experiência e na obra
do Capitão de nossa salvação e na disciplina de Deus aplicada a todos os Seus
filhos. Em quarto lugar, ainda, para proporcionar-lhes consciência do terrível
julgamento que certamente sobrevirá a qualquer que, conhecendo tudo isso,
rejeitar tal revelação em Cristo. Tendo-se esforçado para torná-los cônscios de
tudo isso, o propósito complementar do escritor é impeli-los a agir de
conformidade com esse conhecimento. Tais propósitos são apresentados através
da epístola inteira mediante o emprego de exposição racional, exortação
desafiadora e solene advertência. [18]
O texto da carta conforme vimos anteriormente tinha a clara intenção de
demonstrar que apesar de tudo que o culto judaico poderia oferecer, o cristianismo
era de sobremaneira melhor, e caberia aos irmãos caminharem na fé.
7. Teologia
Notamos no decorrer da carta um encadeamento de idéias e uma crescente
revelação dos objetivos do autor, a forma como o autor inicia a carta apresentando
a singularidade de Cristo, parece deixar claro que a mesma versará sobre esse
tópico.
Guthrie divide o texto de Hebreus em alguns tópicos teológicos, quais sejam:
13
O caráter do Filho, onde a apresentação de Cristo é indubitavelmente exaltada,
onde fica claro a divisão da cristologia em três aspectos: a pré-existencia, a
humanidade, e a exaltação do Filho.
Outro ponto de vital importância é a afirmação da superioridade do Filho sobre
outros, sejam homens, sejam anjos. Acrescenta ainda o autor afirmando a
superioridade de Cristo a Moisés (3.1-6), está é uma afirmação
importantíssima se considerarmos o que foi descrito com relação aos
receptores da carta.
A apresentação de Cristo como sumo sacerdote comparativamente com
Melquisedeque é um dos pontos focais da epístola, uma vez que o sacerdócio
de Melquisedeque é real e para sempre, assim é com Cristo e ainda mais,
uma vez que é infinitamente superior. O autor desenvolve ainda a questão da
obra do Filho como Sumo Sacerdote, diz Guthrie:
O fato de que o escritor entre em pormenores ao descrever o Santo dos
Santos ( 9.1ss) demonstra que para ele, havia uma estreita conexão entre o
ritual arônico e o sacrifício que Cristo fez de Si mesmo. O ritual levitico era
considerado uma “figura e sombra” (8.5) do santuário celestial. O
pensamento passa do tabernáculo terrestre para o celestial.
Na continuação o autor desenvolve o tema da Nova Aliança feita pelo Filho,
onde fica claro a substituição da antiga pela nova aliança, porem tem o cuidado
de deixar claro que apesar da antiga aliança estar obsoleta, há alguma
continuidade da antiga para a nova, tanto uma como a outra foram ordenadas
por Deus e foram provisão para seu povo.
14
8. Conclusão
Como afirmamos na apresentação, apesar de todos os mistérios que rodeiam
a carta aos Hebreus, podemos constatar que o autor independente de quem
seja foi inspirado, todo o texto de Hebreus nos mostra e afirma a superioridade
de Cristo a qualquer outra forma de buscarmos a Deus. O texto flui e somos
arrastados pela coerência do autor aos pés de Jesus, onde pela perspectiva da
carta podemos vislumbrar a grandiosidade de Cristo e de seu sacrifício na
cruz.
Indubitavelmente a falta de certezas com relação ao autor, destinatários,
locais, caem por terra após uma análise mais detalhada, pois fica claro que o
autor é o Espírito Santo, os destinatários são todos os cristãos que possam
estar abatidos ou desanimados, a época em que foi escrita é todo o momento
em que é lida e inflama nosso coração coma a alegria da promessa de
estarmos nos braços do Pai.
15
9. Bibliografia
GUTHRIE, Donald – A Carta aos Hebreus Introdução e Comentário; São
Paulo; 1999; Ed. Vida Nova
DATTLER, Frederic - A Carta aos Hebreus – São Paulo; SP; 1980, 1ª Edição;
Editora Paulina
LAUBACH, Fritz – Carta Aos Hebreus - Curitiba; Pr; 1ª Edição; Editora
Evangélica Esperança
GEISLER, Norman ; NIX, William – Introdução Bíblica – São Paulo SP; 1997, 1
ª Edição; Editora Vida.
DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),
SHEDD, Russell P. (ed. em português). - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed.
São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995
CHAMPLIN, Russel Norman Ph.D. – Enciclopédia de Bíblia Teologia e
Filosofia; São Paulo; 2001, 5 ed.; vl. 3; Ed. Hagnos
EUSÉBIO DE CESÁREA - História Eclesiástica – Editora CPAD – São Paulo;
SP -1999
---------- - Bíblia de Jerusalém – São Paulo; SP; 2002 – Editora Paulus
16
10. Notas
[1] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª
edição 1984- pg 13
[2] Cartas aos Hebreus – Comentários Esperança – Fritz Laubach – Editora
Evangélica Esperança – 1ª edição
[3] Gunthrie cita a seleção de 1 Clemente 36,: acerca de Cristo : “Ele que é o
resplendor da sua majestade, é tão superior aos anjos, quanto herdou mais
excelente nome[ conf. Hb. 1.3-4]. Porque está escrito assim; “Aquele que a seus
anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo”[ conf. Hb 1.7].Mas acerca
do Filho o Senhor disse assim: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”[conf. Hb
1.5] ...” (Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida
Nova –1ª edição 1984- pg 14)
[4] A Carta aos Hebreus – Frederico Dattler – 1ª Edição – Editora Paulina – São
Paulo. SP.
[5] Carta aos Hebreus – Comentário Esperança – Fritz Laubach – Editora
Evangélica Esperança – 1ª Ed.
[6] Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia – R. N. Champlin – Editora Hagnos
– 5ª Edição – Volume 3 – pg. 45
[7] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª
edição 1984- pg 18
[8] História Eclesiástica - Eusébio de Cesárea – Editora CPAD – 1999. pg 227.
[9] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª
edição 1984- pg 18
17
[10] Carta aos Hebreus – Comentário Esperança – Fritz Laubach – Editora
Evangélica Esperança – 1ª Ed.
[11] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –
1ª edição 1984- pg 21
[12] A Carta aos Hebreus – Frederico Dattler – 1ª Edição – Editora Paulina - pg
61
[13] ver Hebreus pg 22
[14] Hebreus – introdução e comentários, pg 25
[15] DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),
SHEDD, Russell P. (ed. em português). - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed. São
Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995.
[16] Introdução Bíblica – Norman Geisler, William Nix – pg 115.
[17] Hebreus – introdução e comentários, pg 29
[18] DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),
SHEDD, Russell P. (ed. em português). - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed. São
Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995
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