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ão gravações e composições para artistas como
Cassiane e quatro discos solo, incluindo gravações de
violão clássico. O guitarrista e violonista Mindinho é
bem rápido para criar um tema e em meia hora faz uma mú-
sica. A sua única ferramenta de composição é o instrumento,
já que, segundo ele, dá mais liberdade para o músico fazer
uma melodia, principalmente quando esta melodia é traba-
lhada para a voz e depende da afinação. “Normalmente eu
faço minhas composições baseadas na harmonia modal, pois
é a que me dá mais recursos”. Por outro lado, os softwares
também abrem um leque muito grande com relação ao trei-
namento auditivo. O usuário começa a perceber detalhes
que quando compondo ao instrumento não perceberia, sur-
gindo até novas idéias. Aprende a ouvir os temas de uma for-
ma mais crítica e fica mais exigente principalmente com rela-
ção à afinação.
Vamos então entender como os músicos se relacionam com
essas ferramentas.
S
Karyne Lins
INSTRUMENTOSeja no piano, no violão, direto na pauta, de ouvido ou na tela do micro,um bom compositor não terá dificuldades em compor no computador,assim que se adaptar à máquina. E para ser um compositor é, comosempre foi, imprescindível uma sólida formação musical que abranjadomínio instrumental, teórico, auditivo e técnico
qual recurso utilizar na hora de comporou softwareou software
Erasmo Carlos ao lado do convidado Chico Buarque para o CD Convida 2
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Instrumento ou software?
O guitarrista Alex Martinho sempre
começa com o instrumento, a guitarra
(99% dos casos) ou violão. Assim que a
idéia de melodia surge no instrumento,
ele procura abrir algum software como o
Sound Forge e já registra, normalmente
salvando no formato mp3 numa pasta es-
pecífica de seu HD.
“Meu trabalho é primordialmente ins-
trumental e a ajuda do computador no
meu caso se limita à função de ‘gravador
digital das idéias’, nunca como o mentor
das idéias em si”, explicou o guitarrista.
João Alexandre é músico, produtor mu-
sical e cria arranjos para cantores e bandas
do segmento evangélico sendo uma refe-
rência há 20 anos. Ele diz que raramente
um músico usa um software para isso. “To-
dos compõem direto no instrumento. A
única coisa que eu faço no software é
quando tenho que criar um arranjo porque
é muito mais fácil colocar a melodia da mú-
sica num software e a partir dali trabalhar
com outros instrumentos”.
O cantor, baixista e compositor da ban-
da gospel Rota 33, Lenilton, comentou
que compor no computador simplesmen-
te não existe. “O que existe é o play e o rec
que as pessoas usam para organizar suas
idéias musicais digitalmente, alguns com
um pouco mais de conhecimento musi-
cal, outros com menos. Lidar bem com um
programa de música não faz de ninguém
um músico profissional”, opinou Lenilton.
O cantor e compositor Erasmo Carlos
foi bem objetivo. “Meu processo é o mais
simples possível: caneta, caderno, óculos,
dicionário de rima e sinônimos, bateria
eletrônica Alesis, meu violão de nylon,
cigarro e minhas intuições. Acho que o
excesso de recursos na hora da criação
na maior parte das vezes atrapalha. Até
hoje só componho com três acordes que
aprendi a tocar com o Tim Maia”, fala.
Quando o compositor está começan-
do a trabalhar com orquestra, ou até ar-
ranjos para grupos menores, o maestro
Rafael Teixeira, também compositor,
arranjador, pianista, tecladista e profes-
sor, acredita que os softwares atuais são
uma ‘mão na roda’, pois permitem expe-
rimentar livremente novas distribuições
de acordes e idéias de texturas instru-
O processo de composição de AlexMartinho é bem intuitivo
João Alexandre trabalha como arranjadore compositor há 20 anos
“Quando o compositor está começando a trabalharcom orquestra, ou até arranjos para grupos menores, o
maestro Rafael Teixeira, também compositor,arranjador, pianista, tecladista e professor, acredita que
os softwares atuais são uma mão na roda”
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mentais. “Os softwares realmente me
ajudaram muito nesse sentido. Como
desde cedo já trabalhava com gravações
e produções em estúdios que usam tec-
nologia digital, aprendi a dominar os
softwares com certa facilidade”.
No processo de composição do guitarris-
ta Roger Franco, que hoje pertence à ban-
da do cantor evangélico David Quilan, são
utilizadas as duas formas, porém em fases
diferenciadas. Primeiro ele coloca as idéias
principais no instrumento quando está
pensando nas melodias, em seguida utiliza
o computador para testá-las e assim pode
ouvir tendo uma visão mais crítica e ampla
antes de finalizar o trabalho.
“Na minha visão, os softwares são in-
dispensáveis, pois a infinidade de recur-
sos e a forma fácil de utilizar tornam o
processo bem rápido e prático”. O músico
Lô Borges continua fiel ao instrumento.
“Eu até que tentei usar na época em que
música no computador passou a ser uma
novidade, mas percebi que a minha
composição vem de uma coisa muito ín-
tima, uma pulsação, um ‘loop humano’
que me leva direto ao instrumento”.
Até onde o software se torna a fer-
ramenta mais importante que o ins-
trumento?
Alex Martinho acredita que o proces-
so de composição é uma coisa intuitiva,
pessoal, que vem da alma e é impossível
qualquer máquina ser mais musical que
uma pessoa minimamente experiente
com seu instrumento em mãos. Enfim, o
software pode dar o acabamento, mas a
raiz deve vir antes.
Lenilton coleciona várias experiênci-
as em termos de composição. Ele diz que
para compor para uma Big Band, uma
Orquestra Sinfônica ou Filarmônica,
Bandas Militares, Quintetos de metais
ou madeiras, é preciso ter muito conheci-
mento de música, porque só assim será
Maestro Rafael Teixeira
Um jeito diferente de compor
“Eu utilizo para compor basicamenteo instrumento”. Para o maestro RafaelTeixeira, o computador entra apenascomo um auxiliar na hora da gravação,seja para fazer uma versão demo, pilotoou guia, seja para editar uma partitura.“O computador também pode ser usadopara fazer simulações de arranjos com-plexos para ouvirmos uma aproximaçãodo resultado real que teremos quando osverdadeiros músicos tocarem o que estána pauta. Se o programador tiver bas-tante paciência e muito conhecimento, oresultado da simulação pode inclusiveaproximar-se mais de uma boa execu-ção”, exemplifica o maestro, acrescen-tando que, dessa forma, com as novastecnologias de instrumentos, sinteti-zadores e samplers virtuais, algumasproduções são feitas inteiramente nocomputador e o resultado final é bom.Segundo Rafael, ele ainda não ouviu umaúnica produção virtual que desbancassebons músicos, bons instrumentos musi-cais e uma sala com uma boa acústica.
“Na verdade, a principal ferramentapara a composição ainda é, como diziao meu professor Dawid Korenchendler,a borracha. Sim, o bom compositor nãodeve economizar na borracha. As idéiastêm de ser pensadas, repensadas, ela-boradas, estruturadas e, claro, escritase apagadas da pauta. Óbvio que um
bom domínio do instrumento tambémajuda, mas o mais importante é o ouvidointerno, a percepção musical. Eu com-ponho de muitas formas diferentes. Àsvezes, não preciso do instrumento. Apeça já nasce bem estruturada na cabe-ça, com melodia, harmonia, e todos oscontracantos, e posso escrever direta-mente na pauta com facilidade. Outrasvezes a composição pode partir de umimproviso no piano, e aí geralmente eudesenvolvo tudo ali mesmo”, fala. Aindasegundo Rafael, a tendência é semprerecorrer a instrumentos reais para a se-ção de cordas, pois para ele esta aindaé a maior falha dos instrumentos esamplers virtuais, quando estamos ten-tando imitar o efeito de instrumentos re-ais. “Se você gravar, por exemplo, umduo de violinos em uníssono com o naipede violinos virtuais, e mesclar apenas osuficiente para trazer mais realismo àsarticulações, em especial os legatos, oresultado surpreende. Nos naipes demetais, madeiras e percussão já se con-segue um resultado um pouco melhorapenas utilizando os instrumentos virtu-ais”, ensina. “Os softwares também aju-dam compositores eruditos que escre-vem para grandes formações a mostra-rem sua música, já que é difícil para ocompositor no início de sua carreira terpeças tocadas por grandes orques-tras”, finaliza.
Lenilton chegou a primeiro-sargento daAeronáutica especializado em música
Rafael Teixeira dedica-se à criação deuma obra autoral de música erudita
Na época da fita eramais artesanal.
A gente batalhavamais para conseguir um
som, os técnicoseram maisinventivos,
tinha o corte na lâmina
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feito um bom uso de alguns programas demúsica como Encore e Sibelius.
“O software é fundamental nessecaso porque o fato de usar o computadorme poupa um bom tempo e ainda possoouvir como os naipes estão soando. Ao ter-minar de compor de forma tradicional umagrade de música (partitura com todos osinstrumentos que normalmente fica com omaestro), ainda tinha que se extrair partepor parte manualmente e isso com o soft-ware se resolve num click”, disse.
O veterano
É normal ouvir que muitos músicosmais experientes, com alguns anos decarreira no currículo, têm uma certa re-sistência às novidades tecnológicas. Masserá que essa resistência existe mesmo outrata-se de opção? “No meu caso especí-fico, não tenho resistência a nada quevenha a somar, mas não acredito em algoque pudesse substituir a intuição no pro-cesso de composição”, disse Alex.
Lenilton compõe à moda antiga e disseter sido sempre bem sucedido dessa for-ma. Raramente usa o software. “Não vejorazão para adotá-lo totalmente, afinal omaior software, que é a sua criatividade,está instalado no maior e melhor compu-tador do mundo, que é a sua cabeça”.
Rafael Teixeira deixou claro que osveteranos também gostam da tecnologia.“Lembro-me de Paulo Moura, um vete-rano e tanto, comentando num progra-ma de televisão que o computador aju-
dara-o muito a compor para formaçõesmaiores como grandes orquestras, e quedepois que começou a usar a máquina,sentiu também um ‘aguçamento’ em suapercepção musical”.
O maestro ainda deu como exemplo otecladista, arranjador e compositor Lu-ciano Alves, um veterano que sempreusou o computador. “Desde os primórdiosdo computador pessoal souberam discer-nir a utilidade e a vocação não só doscomputadores, mas também de outrasmáquinas modernas que estavam na florda idade, como sintetizadores analógicose digitais, samplers e sequencers, comosomadores das possibilidades musicais”.
Vantagens e desvantagens
A principal vantagem em registrartudo no computador é a facilidade emmanter as idéias organizadas. Roger en-dossa que as vantagens são inúmeras,porém, os músicos devem se atentar paraas desvantagens. “Alguns recursos dosoftware, se mal utilizados, deixam o somda composição digital. (Som digital: éum som que não parece natural do ins-trumento e que fica mecânico)”.
“O software ajuda a desenvolver umpouco o conhecimento para essa questãoda matemática da música, por outro ladoacho ainda que o software torna o sujeitopreguiçoso porque como é mais fácil paramontar uma grade, por exemplo, ele nãopensa muito no que está escrevendo.Nada substitui o ouvido musical”, disseJoão Alexandre.
Erasmo Carlos diz que as vantagens ób-vias são aquelas de edição e da quantidadeilimitada de tracks na gravação com o ProTools que utilizou na gravação de seus tra-balhos mais recentes. “Na época da fita eramais artesanal. A gente batalhava maispara conseguir um som, os técnicos erammais inventivos, tinha o corte na lâmina,etc. É maravilhoso ver o que o computadortornou possível hoje”, completa.
Luciano Alves dirige e leciona no Centro
de Tecnologia Musical Luciano Alves
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Momento certoRafael Teixeira diz que não. “O estu-
dante hoje já deve começar desde cedo autilizar a máquina para aprender e experi-mentar. Existem programas chamadosjammeres que também são ótimos para oestudo da improvisação e execução emgrupo. Não deve, porém, substituir o ins-trumento tradicional pelo virtual”.
Já Lenilton acredita que sim. “Quandovocê está ao piano ou violão compondoestá trazendo à existência algo que até en-tão só existia dentro de você e quando issovai para o computador ou estúdio de grava-ção, colocamos uma roupa no recém nasci-do e é o que chamamos de arranjo”.
InteratividadeCada um tem seu próprio estilo e como
os músicos precisam interagir com profissi-onais com gostos e experiências diferen-tes, é necessário se adaptar ao formato detrabalho de outros músicos. “O instru-mento sempre me dá liberdade até quan-do trabalho junto a produtores. Seja parameus trabalhos de música clássica ou ostrabalhos determinados pelos produtores,como uma música mais comercial, nãodispenso o instrumento”, disse Mindinho.
“A vantagem é se o outro tiver o mes-mo software que você usa, pois fica fácilenviar o seu arranjo, no caso de mostrarseu trabalho para um produtor, um maes-tro, a interatividade é de 100 por cento,principalmente entre técnico de som earranjador. Num trabalho de produção
recente gravei os arranjos de cordas aquiem São Paulo e mandei as grades viasoftware para Curitiba. A tecnologia éfeita para somar e não para substituir”,conta João Alexandre.
Temos como outro exemplo a formaadotada por Roger. Na maioria dos casosquando está compondo, ele pensa comopoderiam ser os arranjos já que também tra-balha como arranjador. Quanto à intera-
tividade depende muito se o estilo da com-posição tem a ver com aquele músico ouarranjador (se está na praia dele), sendoassim a composição flui naturalmente.
O guitarrista trabalha muito tambémcom temas instrumentais e prefere com-por sozinho. Depois pede opiniões paraamigos músicos, produtores e até para al-gum que simplesmente goste de música.“Isso é muito bom para você ter umaidéia mais geral de como outras pessoasestão vendo seu trabalho. Creio que o
resultado seja o mesmo. A diferença estána praticidade de cada um. Claro quepara mim é indispensável pela tamanhafacilidade que o computador nos dá. Te-mos muitas opções como, armazenar, ar-ranjar, alterar tom, programações de ba-terias, baixos, etc para ter noção de comoa composição ficaria com todos os instru-mentos e uma infinidade de recursos”,explica Roger.
Costume ou resistência?Rafael Teixeira acredita que exista
mais costume do que resistência. Ele co-mentou que se o compositor começou atrabalhar antes do advento do software,e nunca precisou do computador, porque precisaria agora? Ele vai continuartrabalhando da forma com que estáacostumado a obter resultado, e não vaiver utilidade na máquina nem quererdispender o tempo necessário para do-miná-la. Geralmente, nesses casos, ocomputador é utilizado apenas na ediçãodas partituras.
Já Roger acha que os veteranos têmuma certa resistência sim. “Acho quemuitos têm essa resistência e não a utili-zam mais pela falta de conhecimento doque por uma opção de não usá-la. Co-nheço compositores que não têm nemque seja um MIDI ou WAVE e mesmoassim mandam muito bem. Aquele lan-ce de violão e papel na mão com certezaé muito usado, eu mesmo quando estouviajando e pinta uma idéia essa é a formamais fácil, por isso é sempre bom umnotebook na mão”, completou.
“Há na minha cabeça o sentimentoacústico como um item principal para mi-nhas composições. Não desprezo de formaalguma a tecnologia. Ela é uma opção. Tra-balho com pessoas que aderiram à idéia docomputador só que o meu caso é absoluta-mente acústico. O importante é usar bem osoftware de forma que o trabalho não percaa essência”, finaliza Lô Borges.
Lô Borges só usa instrumento acústicopara compor
Mindinho durante gravação de base doCD Cassiane & Jairinho II
A vantagem é se ooutro tiver o mesmo
software que você usa,pois fica fácil enviar oseu arranjo, no caso demostrar seu trabalho a
interatividadeé de 100%
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uciano Alves é pianista, tecladista,compositor, arranjador, professor eespecialista em tecnologia da infor-
mação na área musical. A partir de 1970passou a atuar profissionalmente comopianista e diretor musical em diversas pe-ças teatrais. Já fez trabalhos com Os
Mutantes, Pepeu Gomes e gravou comMoraes Moreira, Caetano Veloso e Eras-mo Carlos. Autor do livro Fazendo Música
no Computador (Editora Campus), hoje éuma autoridade no assunto.
O seu processo de composição vai
depender da finalidade?
Sim. Música para um CD de carreirafaço no piano ou no teclado, escrevendoa partitura a lápis ou no computador como Finale através do Speed Entry. Nessecaso, a composição é no instrumentoapesar da partitura poder ser escrita dire-tamente no computador. Já uma trilhasonora com efeitos para filme ou CD-ROM faço no teclado ligado ao compu-tador via MIDI. Para preparar arranjospara terceiros, uso o piano, os teclados e ocomputador ao mesmo tempo.
Na sua opinião, até onde o software setorna a ferramenta mais importante nacomposição do que a forma mais tradici-onal, com o violão ou o piano (teclado)?
O software não é uma ferramenta nacomposição propriamente dita. Isto sóocorre no caso do autor que usa softwaresde composição randômica ou plug-ins deMIDI que alteram a ordem das informa-ções dos eventos inseridos. Alguns che-gam a usar o Piano Roll de um softwareseqüenciador para entrar cada nota dasua composição, o que é um grande mar-tírio. Outros montam músicas usandoapenas loops prontos de bateria, baixo eguitarra, mas o resultado não pode ser
considerado uma composição. Essas nãosão minhas estratégias para compor.Para mim, o ato de compor é mental oumesmo espiritual. As notas vão saindoda mente e o sistema nervoso centralenvia impulsos elétricos aos nervosconectados à musculatura que cuida demovimentar os dedos. Portanto, compo-sição para mim é sempre em algum ins-trumento, nunca automatizada.
Você aborda no livro Fazendo Mú-
sica no Computador todas as formas
de composição, inclusive com o uso
do software.
Claro! É muito prazeroso e produtivoutilizar o software para ajudar na composi-ção, mas de qualquer forma, a criati-vidade, as frases musicais, as melodias,etc., nascem na mente humana. Onde ocomputador dá show é no processo de ar-ranjar a música, ou seja, ordenar as partese combinar os instrumentos da orques-tração. É possível seqüenciar ou gravarum tema improvisando e, em 30 minutossurge uma música espetacular. Quandonasce a idéia de uma parte da música,seqüencio ou gravo no computador paranão perdê-la. Em seguida, busco na men-te uma segunda parte. Quando tenho al-gumas partes esboçadas, passo a utilizar osoftware para combiná-las. Aí sim, ele éde extrema importância, pois agilizaimensamente a organização e a fina-lização da obra. Depois que a música estátoda “deitada” costumo regravar cadapista do zero e descarto as colagens departes que produzi.
Mas no seu caso, o que é mais im-
portante?
O instrumento ainda é muito mais im-portante do que o computador. Uma
idéia pode ser experimentada direta-mente no instrumento. Em algumas ho-ras a composição pode estar pronta utili-zando apenas ferramentas analógicas:piano, lápis, papel pautado. O computa-dor não compõe por mim. Nunca fuiadepto da composição randômica, daentrada de notas no Piano Roll ou da uti-lização de loops prontos.
Falando de teoria musical, ela não
é imprescindível, mas ajuda.
Claro. É muito bom saber por ondevocê está caminhando. Quando vocêconhece a teoria, as soluções são maisrápidas. Mas tudo depende do gêneromusical e das metas do compositor.Jimi Hendrix não sabia teoria. Her-meto Pascoal só veio a estudar teoria enotação musical muitos anos após terproduzido inúmeras músicas espeta-culares. O talento produz milagres, ateoria não.
Muitos acabam fazendo curso de
percepção musical, teoria e harmo-
nia por que sentem que precisam ex-
pandir seus horizontes?
É. Posso até citar como exemplo al-guns de meus alunos de tecnologia mu-sical do CTMLA. Compor ou ter bomouvido não é tão importante quantoexercitar a improvisação e a criati-vidade. Conheço compositores que nãopossuem ouvido absoluto, mas produ-zem ótimos trabalhos. O ouvido absolu-to é algo difícil de conquistar. Tive sortede freqüentar o Curso Preparatório daOrquestra Sinfônica Brasileira por trêsanos, na adolescência, onde o treino doouvido musical era extremamente sério.A partir daí passei a compor e a arranjaraté sem instrumento.
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Entrevista: Luciano Alves