Rio de Janeiro, ano XX, setembro de 2015, nº 196
Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – Estadual Rio de Janeiro (SOBED-RJ)Rua da Lapa, n° 120, salas 309 a 311, Lapa, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20021-180
Telefones: (21) 2507-1243 | Fax: (21) 3852-7711 | www.sobedrj.com.br | [email protected]ÓRGÃO INFORMATIVO SOBED-RJ Edição mensal
BO LET IMinformativo
A diretoria da SOBED-RJ convida seus associados para a
reunião científica de outubro da entidade a ser realizada no dia
5, segunda-feira, a partir das 19h, no auditório da Casa de Saúde
São José, no Humaitá.
O evento contará com apresentação de caso clínico do
Universidade Federal Fluminense (UFF) e terá como palestra
principal Rastreamento do câncer colorretal na doença
inflamatória intestinal, a ser ministrada pela Dra. Ana Tereza
Pugas Carvalho, Professora Associada da Disciplina de
Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do HUPE/ UERJ e
Reunião científica de outubro ocorre no dia 5 no Humaitá
Chefe do ambulatório de DII da UERJ. A moderação ficará a cargo da Dra. Márcia Henriques de Magalhães Costa, Professora
Assistente de Gastroenterologia da UFF.
A Casa de Saúde São José fica na Rua Macedo Sobrinho, 21
NOTÍCIAS
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ÍNDICE
2
BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, setembro de 2015, nº 196
GESTÃO 2014 - 2016
presidente RONALDO TAAM
vice-presidente LUIZ ARMANDO RODRIGUES VELLOSO
1ª secretária LILIAN MACHADO SILVA
2ª secretária PAULA PERUZZI ELIA
1º tesoureiro FLAVIO ABBY
2º tesoureiro JOÃO CARLOS DE ALMEIDA SOARES
PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA Dr. Ronaldo Taam
Em conjunto com a Sociedade Brasileira de Colo-proctologia, a SOBED RJ em apoio à Nacional, participou da
exposição do “cólon gigante”, que ocorreu no Barrashopping, no período de 3 a 7 de setembro. A maquete recebeu a
visita de um número significativo de pessoas e foram realizadas orientações sobre as doenças do cólon, em especial o
câncer de cólon e reto. O objetivo principal era divulgar a importância de programas de prevenção para o câncer
colorretal.
Em sequência à exposição e orientações sobre este tipo de câncer, realizou-se um mutirão de colonoscopia no
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ, nos dias 8 e 9 de setembro. Gostaria de agradecer também o modo
como a SOBED RJ foi recebida no hospital desde os contatos iniciais, quando foi exposto o objetivo do mutirão. O objetivo
da atividade era divulgar a importância do câncer de cólon e reto para a população em geral e alertar as autoridades da
área de saúde sobre a importância da implantação de um programa de prevenção. Como poderia sugerir inicialmente, o
mutirão não era para atender uma demanda reprimida no sistema púbico de saúde. O chefe do serviço de
Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do HUCFF, Prof.Homero Fogaça, abraçou o projeto e, com o aval da direção do
hospital, apoiou a SOBED na iniciativa e no planejamento dessa atividade. Agradecimento a todos do serviço, médicos,
enfermeiros, administrativos, pessoal de apoio, pelo modo como os procedimentos ocorreram de forma tão organizada e
sem intercorrências. Houve uma identificação de 45% de pólipos em torno de 70 colonoscopias realizadas nesses dois
dias e 1 caso de câncer de cólon avançado (prontamente absorvido pelo hospital para tratamento), além de outras
doenças não relacionadas à neoplasia. Merece menção também a participação de dois dos mais tradicionais parceiros, a
Labormed fornecendo os aparelhos endoscópicos (processadoras e tubos) e a Boston Scientific através dos acessórios
endoscópicos. Em função dos resultados e pela ação tão gratificante, firmou-se um pacto de realização de um novo
mutirão no próximo ano.
A colaboração de cada um dentro de suas possibilidades pode transformar as dificuldades, especialmente em
momentos de crise, em desafios a serem ultrapassados.
página 1 REUNIÃO CIENTÍFICA DE OUTUBRO página 2 PALAVRAS DA PRESIDÊNCIA
página 3 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TRATAMENTO PARA ÚLCERAS PÉPTICAS REFRATÁRIAS
página 9 RESIDÊNCIA MÉDICA EM ENDOSCOPIA
O IX Congresso Estadual de Endoscopia Digestiva do Rio de Janeiro ocorreu nos dias 4 e 5 de
setembro sob um formato baseado em grande interatividade e se mostrou uma atividade bastante
proveitosa nesses dois dias. Privilegiou-se a ampla discussão através da apresentação de sessões
de vídeos e módulos interativos de perguntas e casos clínicos com participação da plateia. Gostaria
de agradecer aos colegas convidados que vieram de outros estados, aos representantes da SOBED
RJ que elaboraram os temas e os módulos, à equipe de apoio administrativo (secretárias e
assessoria de imprensa), aos patrocinadores, à Casa de Saúde São José e, em especial, a você que
participou do evento.
página 8 CASO CLÍNICO DO MÊSpágina 7 PRÓXIMOS EVENTOS
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INTRODUÇÃO
A doença ulcerosa péptica era considerada
uma doença crônica recorrente. Entretanto, um
grande avanço ocorreu com a descoberta do papel do
Helicobacter pylori na etiologia da úlcera péptica,
bem como com a introdução dos inibidores de bomba
de prótons (IBPs).
Por outro lado, como o avanço médico
permit iu que pac ientes com doenças graves
v i ve s s e m p o r m a i s te m p o, a l i a d o a o u s o d e
anti inf lamatórios não-esteroidais (AINEs) por
idosos, nossa experiência hospitalar tem detectado
um aumento do número de doença ulcerosa péptica
por várias etiologias.
Ú lceras refratár ias são def in idas como
aquelas que não cicatrizam completamente mesmo
após 8-12 semanas de tratamento. Pacientes com
úlceras refratárias estão geralmente associadas à
infecção pers istente pe lo H. py lor i ou cepas
re s i ste nte s , u s o d e A I N E s , g ra n d e ta m a n h o,
malignidade ou estado de hipersecreção ácida.)
DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM
Guideline coreano
Um guideline coreano para o tratamento de
úlcera péptica não-sangrante recomenda que sejam
seguidos alguns passos no tratamento de doença
refratária. O primeiro seria aderência ao tratamento
farmacológico. Se uma úlcera não cicatriza com a
dose padrão, a mesma deverá ser dobrada e o
tratamento continuado por 6 a 8 semanas. O
segundo, avaliação da infecção pelo H. pylori.
Resultados falsos negativos devem ser suspeitados
quando na presença de doença refratária com teste
negativo. Terceiro, clínicos devem confirmar com os
pacientes se eles interromperam o uso de AINEs.
Muitos pacientes não percebem que remédios para
resfriado comum e dor de cabeça contém AINEs,
então, é importante confirmar se eles não estão
u s a n d o a nt i in f la m ató r io s in a d ver t id a m ente .
Quarto, conferir se o paciente parou de fumar.
Quinto, determinar se há uma história familiar de
gastrinoma, síndrome de Zollinger-Ellison (ZES) ou
neoplasia endócrina múltipla t ipo I . Sintomas
secundários como diarréia crônica, hipercalemia,
hiperparatireoidismo, devem ser investigados para
avaliar possível hipersecreção ácida associada.
Sexto, considerar a possibilidade de malignidade
p r i m á r i a o u m e ta stát i ca , d o e n ça i n fe c c i o s a
(citomegalovírus), uso de cocaína ou de crack, e
e n v o l v i m e n t o g a s t r o d u o d e n a l p e l a d o e n ç a
inflamatória intestinal.
CONDIÇÕES CLÍNICAS
Infecção persistente pelo H. pylori
A doença ulcerosa péptica era considerada
uma doença crônica intratável pois mais de 60%
recorriam se sua causa não tivesse sido corrigida. Há
vários métodos utilizados para detectar o H. pylori
no estômago, incluindo a cultura, teste rápido da
u r e a s e , t e s t e r e s p i ra t ó r i o d a u r é i a , e xa m e
histológico e antígeno fecal. Entretanto, esses testes
têm algumas armadilhas, que podem levar a erros
diagnósticos. Uso de antimicrobianos, preparações
com bismuto e IBPs reduzem a população de H.
pylori, podendo levar a resultado falso negativo em
diversas modalidades diagnósticas, como o teste da
urease, ureia respiratória, teste para antígenos
fecal, bem como cultura e exame histológico. Como
os IBPs reduzem a população de H. pylori e melhoram
a histologia antral, uma biópsia adicional do corpo é
recomendada após a do antro. Em alguns casos,
poderá haver combinação de métodos. Não é difícil
determinar se há ou não infecção pelo H. pylori na
primeira endoscopia. Entretanto, isso poderá ser
difícil após tratamento com IBPs. Testes sorológicos
podem ser utilizados já que não são afetados pelo
uso de IBPs.
Infecção por Helicobacter não-pylori pode
ocorrer também. Helicobater heilmannii possui
características biológicas semelhantes. Os sintomas
apresentados pelo H. heilmannii são similares ao do
H. pylori. Além disso, assim como o H. pilory, o H.
heilmannii causa muitas doenças, incluindo doença
ulcerosa pépt ica, adenocarc inoma gástr ico e
linfoma MALT. Em virtude de sua colonização de
b a i x a d e n s i d a d e n o e s t ô m a g o e d a b a i x a
sensibilidade para o teste da urease em detectá-lo, é
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TRATAMENTO PARA ÚLCERAS PÉPTICAS REFRATÁRIASKIM, Heung Up. Diagnostic and Treatment Approaches for Refractory Peptic Ulcers.
Clin Endosc., v.48, p.285-290, 2015
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geralmente diagnosticada por biópsia. Uma vez
estabelecido o diagnóstico, o tratamento é o mesmo.
AINEs e drogas ulcerogênicas
Os AINEs retardam a cicatrização da úlcera ao
d e p l e t a r p r o s t a g l a n d i n a , q u e t e m p a p e l
fundamental na manutenção e proteção de mucosa.
Os AINEs estão mais associados à úlcera gástrica,
mas também podem causar úlceras duodenais.
Atualmente, constituem a principal etiologia da
doença ulcerosa péptica, em virtude do aumento de
seu uso em população idosa, bem como pela redução
d a p r e v a l ê n c i a d o H . p y l o r i , c o n s i d e r a d o
anteriormente como a principal causa de úlcera
péptica. O tratamento de escolha seria a interrupção
do uso. Entretanto, quadros álgicos tornam difícil
sua cessação plena. Além disso, muitos pacientes
frequentemente desconhecem que estão utilizando
AINEs de livre venda. Há alguns relatos de que o teste
da atividade da cicloxigenase (COX) possa confirmar
a suspeita do uso de AINEs ou de aspirina. O teste da
atividade da COX revelou 21,5% a mais de usuários de
aspirinas quando comparamos apenas com o relato
c l ín ico . In ib idores se let ivos da COX-2 foram
desenvolvidos para reduzir os efeitos adversos dos
AINES no estômago e duodeno. Entretanto, retardo
na cicatrização de úlceras gástricas é comparável
com os AINEs tradicionais. Seu uso também é
limitado pelo risco cardiovascular, bem como pela
redução ou eliminação de sua seletividade quanto
co-administrado com AAS.
Além dos AINEs, outras drogas como cloreto
de potássio, bifosfonatos, clopidogrel, agentes
quimioterápicos e micofenolato mofetil podem
causar doença ulcerosa péptica.
Fumo
O fumo é uma das causas mais importantes de
úlceras refratár ias , reduzindo a produção de
prostaglandinas e a barreira mucosa gástrica. O
fumo também reduz o fluxo sanguíneo na mucosa
gástrica. Úlceras pépticas são mais comuns em
f u m a ntes q u e n ã o -f u m a ntes , em v i r t u d e d o
aumento da produção de gastrina e ácido gástrico,
bem como redução da secreção de bicarbonato.
Existe uma associação positiva entre o tabagismo e a
patogênese da úlcera péptica e retardo na sua
cicatrização. Diversos estudos demonstraram que o
fumo e seus componentes levam à morte de células
4
da mucosa, inibem a renovação celular, reduzem o
fluxo sanguíneo gastrointestinal e interferem no
sistema imune. Portanto, pacientes fumantes devem
ser encorajados a parar de fumar.
Crack e cocaína
A porção inalatória do cocaína é um processo
manufaturado envolvendo amônia e bicarbonato de
sódio para remover o hidroclorido. A cocaína
bloqueia a recaptação de norepinefrna e dopamina
nos receptores pré-sinápticos, sendo um importante
agente simpaticomimético. Além disso, também
aumenta a produção de endotelina e reduz a de óxido
nítrico. Fumando crack, induz-se a contração de
arteríolas, levando a isquemia. Esse processo ocorre
a cada vez que se fuma, levando à formação de
úlceras gástricas e intestinais.
Síndrome de Zollinger-Ellison (SZE)
SZE é definida pela presença de tumores
neuroendócrinos secretores de gastrina, resultando
na hipersecreção ácida. Normalmente se manifesta
como doença ulcerosa péptica, doença do refluxo
gastro-esofágico, dor abdominal e diarreia. Sua
característica principal é a hipergastrinemia na
presença de pH gástrico < 2.
S Z E é u m a d o e n ç a ra ra , m a s u m a d a s
principais causa de úlcera gástrica refratária. As
úlceras não cicatrizam completamente com a dose
co nve n c i o n a l d e a ge nte s a nt i - s e c reto re s o u
r a p i d a m e n t e r e c o r r e m a p ó s o t é r m i n o d o
t rata m e nto . D i a r re i a p o d e s e r s e c u n d á r i a à
hipersecreção ácida e pode melhorar com o uso de
agentes anti-secretores. Enquanto a mucosa é
relativamente normal, as pregas gástricas são
hipertróficas. A síndrome é caracterizada por
múltiplas úlceras. Em virtude do tumor secretor de
gastrina, a concentração de gastrina sérica de jejum
é superior a 1.000pg/ml ou o fluxo basal de ácido
superior a 15mEq/h sugerem SZE. Como os agente
anti-secretores aumentam a gastrina sérica, seu uso
deve ser interrompido antes da aferição. As causas
mais comuns de hipergastrinemia são SZE e gastrite
atrófica com hipocloridria. Níveis moderadamente
elevados de gastrina acima de 400pg/ml tornam o
diagnóstico de SZE difícil, pois esses níveis também
são vistos na gastrite atrófica com hipocloridria,
situação na qual os níveis de gastrina aumentam por
feedback negativo. Se houver níveis moderados de
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gastrina, o teste da secretina poderá ser útil. Alguns
achados clínicos também podem ser úteis para
diferenciar essas condições: hipersecreção ácida,
hipertrofia das pregas gástrica, múltiplas úlceras
duodenais e aumento do número de células parietais
s ã o a c h a d o s t í p i co s d a S Z E ; p o r o u t ro l a d o,
hipocloridria, atrofia de mucosa gástrica e redução
do número de células parietais ao exame histológico
caracterizam atrofia gástrica.
O teste da estimulação da secretina é o melhor
método para diagnosticar gastrinoma. Amostras
séricas devem ser medidas imediatamente após a
administração de secretina e então, 1,2,5,10,15 e 30
minutos após. Aumentos maiores que 1200pg/ml
são diagnósticos. O teste do fluxo de ácido gástrico
(gastric acid output) é muito complexo, entretanto,
um pH > 2 é inconsistente com SZE.
Pacientes diagnosticados com SZE devem ser
aval iados para determinar se o tumor é uma
neoplasia endócrina múltipla tipo I. A cintilografia
com somatostatina consegue localizar o tumor em
8 0 % d o s c a s o s ; a e c o e n d o s c o p i a t e m a l t a
sensibilidade e especificidade em identificar o sítio
tumoral.
O gastrinoma deve ser tratado com supressão
da hipersecreção ácida e do crescimento tumoral. A
ressecção do gastrinoma é o tratamento de escolha.
Os IBPs são o melhor tratamento para supressão
ácida e devem ser utilizados para suprimir o fluxo de
ácido gástrico para abaixo de 10mEq/h.
Outros estados de hipersecreção ácida
Após descartar infecção por H. pylori e SZE,
hipersecreção ácida gástrica idiopática deve ser
considerada. Os critérios diagnósticos são esses:
fluxo ácido basal superior a 10 mEq/h com gastrina
sérica de jejum inferior a 100 pg/ml ou teste da
secretina negativo, no caso de gastrina superior a 100
pg/ml. O tratamento é com drogas anti-secretoras.
Algumas cirurgias também podem levar a
hipersecreção ácida induzida pela gastrina. Após
gastrectomia parcial com reconstrução a Billroth II,
uma pequena porção de mucosa antral contendo
células G pode ser identificada na poção proximal do
duodeno. A mucosa gástrica antral localizada ao final
da alça duodenal é constantemente estimulada pelo
meio alcalino a secretar gastrina, uma condição
conhecida como síndrome do antro retido ( retained
gastric antrum syndrome).
Úlceras gigantes
Úlceras gigantes são definidas como aquelas
maiores que 3,0cm no antro e 2,0cm no duodeno.
C o m o d em o ra m m a is tem p o p a ra c i cat r i za r,
frequentemente fecham os critérios de úlcera
refratár ia . No gera l , levam mais tempo para
cicatrizar que úlceras menores.
Doenças s istêmicas como Doença de Crohn e
vasculites
A incidência de doença de Crohn aumentou
muito na Coréia, e deve ser considerado no
diagnóstico diferencial de úlceras refratárias. Cerca
de 0,5 a 3% das doenças de Crohn acometem o trato
ga st ro n i te st i n a l a l to . A s p e c to d e “ p e d ra d e
calçamento”, hiperemia ou enantema, friabilidade
mucosa e hipertrofia podem ser vistos durante o
exame endoscópico, juntamente com úlceras de
d i v e r s o s t a m a n h o s . A p e s a r d o f a t o d e
a n o r m a l i d a d e s h i sto l ó g i ca s s e re m v i sta s n o
d u o d e n o e n o a n t r o gá s t r i c o , o g ra n u l o m a
diagnóstico de Crohn só está presente em 7% dos
casos. Em 16% dos casos de Crohn, é possível ver
anormalidades endoscópicas, todavia, somente 7%
apresentam sintomas gastronintestinais.
Úlceras refratárias também são vistas em diversas
vasculites, tais como poliarterite nodosa, púrpura
de Henoch-Schölein e gastroenterite eosinofílica.
Isquemia mesentérica
O aporte sanguíneo para o estômago e
duodeno é importante para manter a integridade
mucosa e para promover a cicatrização das úlceras.
Todavia, é comum a isquemia passar despercebida
n o d i a g n ó st i co d e ú l c e ra p é p t i ca . I s q u e m i a
mesentérica crônica é uma causa incomum de úlcera
péptica, pois a mucosa gastrointestinal é ricamente
vascular izada. Como a doença é t ip icamente
assintomática até que, pelo menos, dois grandes
va s o s s e j a m a c o m e t i d o s , e l a s e m a n i fe s t a ,
g e r a l m e n t e , e m p a c i e n t e s c o m d o e n ç a
ateroesclerótica grave. Os sintomas típicos são
intensa dor abdominal pós prandial – em uma hora
após ingestão alimentar, que diminui uma a duas
horas depois. Os pacientes geralmente limitam a
ingestão alimentar, por conta da dor, o que leva à
p e rd a d e p e s o . O o b j et i vo d o t rata m e nto é
reestabelecer o fluxo sanguíneo para a mucosa
gastroduodenal, o que é alcançado com um stent
vascular ou com revascularização cirúrgica.
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Doença infecciosa
Doenças infecciosas gastroduodenais como
t u b e r c u l o s e , s í f i l i s , e s t r o n g i l o i d í a s e ,
citomegalovirose, herpes ou mucormicose podem se
apresentar como úlceras refratárias. Elas devem ser
d i a g n o s t i c a d a s e t r a t a d a s c o m a g e n t e s
antimicrobianos específicos, ao invés de inibidores
de bomba de prótons.
Doenças crônicas
Úlceras pépticas são mais comuns entre pacientes
com doenças crônicas, como diabetes mellitus,
doença renal crônica e c irrose hepát ica. Tais
pacientes têm menor sucesso na erradicação do H.
pylori e menor eficácia no uso de IBP’s do que os sem
doença crônica. Devido a isto, faz-se necessário
identificar a presença de doenças crônicas nos casos
de úlcera refratária.
Radioterapia
O estômago e o duodeno estão, algumas
vezes, envolvidos no campo de radiação durante o
t r a t a m e n t o d e h e p a t o c a r c i n o m a , c â n c e r
bi l iopancreát ico e l infoma. Úlceras radiação-
i n d u z i d a s ã o d i f í c e i s d e s e r e m t r a t a d a s e ,
geralmente, não cicatrizam com anti-secretores de
ác ido, podendo, então, requerer t ratamento
cirúrgico. Tanto a radiação extracorpórea quanto a
quimioembolização transarterial com radioisótopos
podem causar úlceras refratárias.
Malignidade
E n d o s co p i a s p a ra s c re e n i n g d e câ n c e r
gástrico são comuns na Coréia. O objetivo deste
procedimento é identificar câncer precoce que,
tipicamente, se apresentam como úlceras. Se o
exame histológico inicial não diagnosticar um câncer,
os médicos focam no tratamento da úlcera. Todavia,
nos casos de úlcera refratária ao tratamento, novas
biópsias devem ser feitas. Úlceras malignas podem
apresentar uma melhora transitória com a terapia
anti-secretora, mas se agravam conforme o tumor
progride. Uma endoscopia de seguimento e novas
biópsias são recomendados para úlceras mesmo com
aparência benigna.
TRATAMENTO DE ÚLCERAS REFRATÁRIAS
Tratamento da causa
Antes da identificação de sua causa, úlceras
pépticas eram consideradas uma doença crônica
recorrente. Dois ou mais métodos diagnósticos de
i n f e c ç ã o p o r H . p y l o r i p o d e m a u m e n t a r a
sensibilidade. Achados falso negativos devem ser
suspeitados em casos de úlcera H.pylori-negativa. O
uso de AINE’s deve ser descontinuado ou substituído
por inibidores seletivos da COX-2 e os médicos
devem pesquisar o uso de AINE em forma de adesivo.
Os pacientes devem, ainda, parar de fumar e os
médicos devem considerar a possibi l idade de
hipersecreção ácida e SZE. Se a causa da úlcera ainda
s e m a n t i v e r i n d e te r m i n a d a , o m é d i c o d e v e
investigar doenças raras.
Drogas anti-secretórias
Drogas anti-secretórias são usadas para
ajudar na cicatrização da úlcera, independente da
sua causa. Diversos medicamentos podem ser
usados para cicatrizar as úlceras, mas os IBP’s são os
mais potentes. Se uma úlcera é refratária mesmo
após um curso completo de IBP, a dose deve ser
dobrada e deve-se considerar a troca do IBP.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico para úlcera refratária
diminuiu muito na era dos IBP’s, todavia, em casos
selecionados, a cirurgia ainda tem o seu lugar. Se não
for uma emergência, a cirurgia deve ser escolhida
com cuidado baseado na aceitação do paciente e no
desejo de mudar de comportamento.
CONCLUSÕES
As causas mais comuns de úlcera refratária
são as infecções pelo H. pylori e o uso crônico de
AINE, todavia, estas também são as causas mais
comuns de ú lcera pépt ica. Faz-se necessár io
encontrar causas escondidas. Análise histológica é
fundamental para o diagnóstico de malignidade e
para a ident i f icação de doenças raras , como
v a s c u l i t e s e i n f e c ç õ e s . P o r i s t o , o e x a m e
h istopato lóg ico das b ióps ias endoscópicas é
recomendado. Finalmente, pacientes devem ser
acompanhados com um pouco de cet ic i smo,
objetivando encontrar uma causa para a úlcera
refratária.
Traduzido por Yolanda Faia Manhães
Tolentino, Rodrigo S Dias, Priscila
Pollo Flores e Viviane Fittipaldi
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CASO CLÍNICO DO MÊS
Paciente M.D.O, de sexo feminino, de 72 anos, com queixa de dor epigástrica, inapetência, plenitude e
emagrecimento de 10 kg em 6 meses. Submetida a Endoscopia Digestiva Alta que evidenciou ao exame de
retrovisão do estômago, lesão subepitelial ulcerada, medindo cerca de 5 cm, recoberta por mucosa de aspecto
irregular, friável, localizada em parede posterior de corpo, sendo realizadas biópsias. ( fotos 1 e 2)
Solicitado Ultrassom endoscópico onde foi observado na parede posterior do corpo gástrico lesão subepitelial
heterogênea e de contornos irregulares. A lesão mede aproximadamente 5,10 x 3,22 cm e têm origem na camada
muscular. Observa-se grande ulceração na região central da lesão. Não foram observadas adenopatias peri-
gástricas, peri- aórticas e peri-pancreáticas.
Conclusão: GIST gástrico. ( fotos 3 e 4)
Histopatológico: área focal representada por neoplasia mesenquimal fusocelular. Não identificadas
mitoses ou necrose. Solicitado estudo imunohistoquímico para definição da histogênese. O restante da amostra
exibe gastrite crônica, com ulceração.
Imunohistoquímica:
Ÿ Tumor estromal gastro-intestinal (GIST);
Ÿ Positivo para CD117, CD34, DOG-1. KI67 cerca de 5%;
Ÿ Negativo para AE1/3, S100, Cromogranina, Sinaptofisina, Desmina.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GAFFRÉE E GUINLE (HUGG/UNIRIO)Dra. Claudia Martinez, Dr. Luis Gustavo Perissé
Foto 1 Foto 2
Foto 3 Foto 4
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PATROCINADORES RIO
RESIDÊNCIA MÉDICA EM ENDOSCOPIACREDENCIAMENTO PELO MEC NO RIO DE JANEIRO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIOGAFFRÉE E GUINLE
INSTITUTO NACIONALDO CÂNCER (INCA)
ENDEREÇORua Mariz e Barros, 775, Tijuca, Rio de
Janeiro, RJ. CEP - 20270-004.
CONTATOS(21) [email protected]
RESPONSÁVEISLuis Gustavo PérisséRonaldo Taam
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Janeiro, RJ. CEP: 20230-130
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RESPONSÁVEISGustavo Francisco de Souza e MelloAlexandre Dias Pelosi
Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – Estadual Rio de Janeiro (SOBED-RJ)Rua da Lapa, n° 120, salas 309 a 311, Lapa, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20021-180
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BOLETIM SOBED-RJ, ano XX, setembro de 2015, nº 196