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Page 1: Identificao de Armas Modulo2

Módulo 2 – Armas de porte

Apresentação do Módulo

Como você estudou no módulo 1, “as armas de porte são armas de fogo de dimensões e peso

reduzidos, que podem ser portadas por um indivíduo em um coldre e disparadas,

comodamente, com somente uma das mãos pelo atirador; enquadram-se, nesta definição,

pistolas, revólveres e garruchas”. (Decreto nº 3.665, art. 3º, inciso XIV, anexo)

As armas de porte, pelas características de peso e dimensões reduzidas e pela facilidade de

manejo e porte, são as armas comumente utilizadas na prática de crimes, e, por conseguinte,

de maior interesse para a polícia, especificamente para a criminalística e para a balística

forense.

A análise preliminar das armas envolvidas em crimes ocorridos no DF e na grande maioria

dos estados brasileiros mostra que elas apresentam, em sua grande maioria, algumas

características comuns, ou seja:

Trata-se de armas de porte, de origem nacional; são usualmente pistolas e

revólveres produzidos, na sua grande maioria, pelos produtores de armas de nosso

país;

Em relação aos calibres nominais dessas armas, a maior incidência verifica-se

entre os pertencentes à família .38, com especial destaque ao .38 Special e ao .380

Auto ou .380 ACP (9mm Browning), que, dentro daquelas armas consideradas de

uso permitido, são as que apresentam maior potencial energético e maior alcance

máximo e útil. Logo, são os de maior potencial lesivo;

Usualmente são armas seminovas (menos de dez anos de uso) que apresentam seus

mecanismos operando de forma satisfatória.

Diante disso, entre as armas de porte, o maior interesse reside no estudo dos revólveres e

pistolas, os quais serão objeto de estudo neste módulo.

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Objetivo do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

Classificar armas de porte;

Identificar a origem, o histórico, os principais componentes, mecanismos e sistemas de

operação dos revólveres e pistolas;

Identificar os aspectos legais contidos no Decreto nº 3.665, de 20 de novembro de

2000, relacionados ao conteúdo do módulo.

Nota

Mesmo sendo consideradas armas de porte, não serão estudadas neste curso as garruchas e

derringers, dando prioridade ao revólver e à pistola.

Estrutura do Módulo

Aula 1 – Revólveres

Aula 2 – Pistolas

Aula 1 – Revólveres

1.1. O que é um revólver

O nome revólver origina-se da palavra da língua inglesa revolve, que significa girar, dar

voltas.

O revólver, pela definição encontrada no Decreto nº 3.665, de 20/11/20001, é uma “arma de

fogo de porte, de repetição, dotada de um cilindro giratório posicionado atrás do cano, que

serve de carregador, o qual contém perfurações paralelas e equidistantes do seu eixo e que

recebem a munição, servindo de câmara.” (art. 3º, inciso LXXIV, anexo)

A principal característica de um revólver é a presença de um tambor ou cilindro giratório

com várias câmaras (perfurações paralelas e equidistantes do seu eixo destinadas a receber a

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm

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munição), o qual executa um arco de revolução, alinhando câmara, percussor e cano em

consequência da ação mecânica de armar o cão, ou de acionar o gatilho.

Outra característica do revólver é possuir um só cano com calibres variados. Embora

houvesse experimentos anteriores, a invenção do revólver é atribuida a Samuel Colt, que em

1835/36 patenteou uma arma com sistema de tambor com várias câmaras que, ao serem

giradas, alinhavam-se com um único cano.

1.2. Principais partes de um revólver

São quatro as partes essencias de um revólver: armação, tambor, cano e mecanismos.

Estude, a seguir, cada uma delas.

1.2.1. Armação

A armação de um revólver apresenta três funções principais. A primeira delas é a de permitir

a empunhadura, fazendo com que o revólver seja comodamente sustentado e com fácil

visada. Em segundo lugar, a armação tem a função de alojar todos os mecanismos de disparo

e segurança e, ainda, de sustentação do tambor e do cano. E, por último, a de possibilitar a

identificação da arma, pois geralmente é nessa peça que são gravados os números de série,

logomarca dos fabricantes, entre outros dados.

As primeiras armações dos revólveres de

retrocarga eram rígidas, ou seja, o acesso ao

tambor era feito por meio de uma janela de

obturação lateral (corte na culatra), por onde

eram introduzidos os cartuchos, câmara a

câmara – com o giro do tambor – e, da mesma

forma, extraíam-se os estojos deflagrados, com

o auxílio de uma vareta de extração situada abaixo e próxima ao cano (a posição exata da

vareta de extração variava conforme o fabricante e modelo do revólver).

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Ainda hoje são produzidos revólveres de armação rígida, como alguns modelos dos

revólveres da indústria Ruger.

Em 1870, a indústria Smith & Wesson – fundada por Horacio Smith e Daniel B. Wesson –

criou o revólver basculante, que se caracteriza por possuir um sistema de fechamento e

abertura na parte alta da armação e um eixo no

ponto médio inferior da arma. Uma vez que o

sistema de fechamento estivesse liberado, o cano

e o tambor giravam em torno desse eixo, e uma

peça, em formato semelhante ao de uma estrela

(extrator), era impulsionada pela ação de uma

mola e extraía todos os cartuchos ou estojos

deflagrados de uma única vez. Essa foi a

primeira arma de armação articulada (basculante), e diversas indústrias no mundo passaram a

produzir revólveres com esse tipo de armação.

O outro tipo de armação articulada é a de tambor reversível. Nesse tipo de armação, o

tambor é sustentado por um suporte, peça que

permite o deslocamento dele de sua posição

normal (do espaço retangular onde é encaixado

na armação) para as operações de carregar,

descarregar e retirar estojos deflagrados. De

modo diverso dos revólveres de armação

articulada, para descarregar os cartuchos ou

para retirar os estojos deflagrados, é necessário

apertar a vareta do extrator obtendo-se a

retirada de todos os cartuchos ou estojos das câmaras de uma única vez. Para abrir o tambor,

basta pressionar o dedal serrilhado (chaveta de abertura do tambor), que deslocará o ferrolho,

liberando a haste central do seu encaixe (eixo que fixa o tambor à armação, em torno do qual

o tambor gira.).

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1.2.2 Tambor

O tambor é a peça mais característica de um revólver, pois remete ao próprio conceito de

revolver, de girar. Em um revólver, o tambor é a peça dimensionada para resistir às elevadas

pressões geradas pela deflagração do cartucho, e foi desenhada para acondicionar a munição

em câmaras com dimensões compatíveis aos cartuchos de calibre correspondente.

A câmara é uma perfuração que apresenta diâmetros diferentes ao longo do eixo longitudinal

e varia em quantidade conforme o modelo do

revólver, sendo dispostas paralelas ao eixo da arma

e equidistantes do centro do tambor. Essa variação

também pode ser verificada quanto ao sentido de

giro do tambor (como nos revólveres Colt, que

apresentam o giro no sentido horário enquanto a

maioria das marcas, entre elas a Taurus, Rossi e

Smith & Wesson, no sentido anti-horário). Essa

informação muitas vezes é de extrema importância na elucidação da dinâmica dos fatos. As

câmaras apresentam um pequeno estrangulamento em sua parte anterior (headspace) que

trava o estojo, permitindo apenas a passagem do projétil. As câmaras, na sua parte posterior,

são recortadas de modo a permitir o encaixe da orla do estojo e da coroa do extrator.

Nos revólveres de armação articulada – quer basculante, quer de tambor reversível –, no

centro do tambor trabalha o sistema de extração, composto de diversas peças, principalmente

do extrator. A coroa do extrator é uma parte denteada (cremalheira) do extrator, na qual age

o impulsor do tambor fazendo-a girar e permitir o perfeito alinhamento entre cano, câmara e

percussor.

Os tambores apresentam em sua parte posterior externa recortes que permitirão o encaixe do

retém do tambor, peça que tem por função travá-lo, impedindo o giro, de forma a garantir o

alinhamento já mencionado. Os tambores de revólveres podem apresentar em sua parte

anterior recortes chamados de caneluras, que têm por função facilitar a pega e o giro manual

do tambor durante o processo de carregamento. Como essa função não é essencial, existem

também tambores de revólveres sem caneluras – são denominados de tambores lisos.

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1.2.3. Cano

Da mesma forma que o tambor, o cano é uma peça sujeita a elevadas pressões e, por isso, foi

dimensionado para resistir a elas. Durante toda a sua extensão, o projétil é acelerado pela

força expansiva dos gases oriundos da queima do propelente e adquire velocidade2. A ação

dos gases sobre a parede do cano é o que acarreta a pressão elevada.

O cano não só é responsável pela energia cinética e velocidade do projétil, mas também – e

principalmente – pela direção que imprime a ele. A ação dos gases sobre o projétil faz com

que ele adquira velocidade e energia cinética; entretanto, a direção e o sentido que o projétil

apresenta é a mesma do local para onde o cano está voltado, tanto que parte do sistema de

pontaria (massa de mira) está montada sobre ele. Os canos geralmente apresentam uma

pequena inclinação para diminuir o efeito da gravidade sobre o projétil nas distâncias para as

quais o sistema de pontaria está aferido.

Eles são responsáveis ainda pela velocidade angular

que o projétil adquire em consequência de sua

passagem forçada através do raiamento do cano.

Esse movimento rotacional do projétil em relação

ao seu eixo longitudinal é extremamente importante

para sua estabilidade e alcance. O número de raias,

a inclinação e sentido de giro delas, profundidade e

outros valores variam conforme o fabricante e até o modelo do revólver.

O cano é ligado à armação geralmente por rosca, podendo apresentar um pino de segurança

que garante o seu travamento.

No processo de produção dos canos dos revólveres, as duas etapas mais conhecidas são a

perfuração e a confecção do raiamento; entretanto, os canos apresentam na sua extremidade

posterior o cone de forçamento ou cone de pressão. Esse cone tem a função de facilitar a

entrada do projétil no cano, uma vez que o diâmetro do cano é menor que o diâmetro do

projétil e, sem ele, as deformações por fricção e impactos que o projétil sofreria seriam

grandes.

2 Para um mesmo cartucho, guardadas as devidas proporções, quanto maior for o comprimento do cano, maior

será a velocidade com que o projétil o abandona, porque permitirá a queima total do propelente.

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No pequeno espaço entre o final do tambor e o início do cone de pressão (gap), o projétil

descreve um voo livre. Quanto menor for esse espaço, maiores serão os valores de precisão e

estabilidade do projétil. Na extremidade anterior, verifica-se a coroa ou crista, que tem por

função permitir uma saída uniforme dos gases pelo cano. Sem a uniformização realizada pela

crista, esse escape diferenciado dos gases, que aconteceria em decorrência do raiamento,

poderia gerar um desvio na trajetória do projétil.

Na região externa dos canos dos revólveres é comum encontrar gravações que identificam o

calibre nominal da arma, o fabricante, o país de produção, entre outros dados. O cano pode

apresentar reforços, que geralmente caracterizam o modelo da arma. Em sua parte inferior,

pode haver uma presilha de fixação da vareta do extrator e indiretamente da haste central

(aferrolhamento duplo).

1.2.4. Mecanismos

Os mecanismos dos revólveres são compostos de três sistemas básicos, que funcionam de

forma interligada:

­ Sistema de disparo e percussão;

­ Sistema de repetição;

­ Sistema de segurança.

Sistema de disparo e percussão

Embora funcionando de forma integrada, o sistema de percussão é composto principalmente

pelo gatilho e impulsor do gatilho, cão, percussor, alavanca de armar e mola real, todas essas

peças com as suas respectivas molas e pinos.

Considerando o tambor do revólver carregado, pode-se ter o disparo a partir de duas ações,

que acabam por classificar os mecanismos de disparo em:

­ Ação simples – Caracteriza-se por requerer o engatilhamento manual da arma

por meio do recuo do cão até a posição de armado (travado à retaguarda),

momento em que o tambor gira, promovendo o alinhamento da câmara com o

cano para posterior acionamento da tecla do gatilho. Acionando o gatilho,

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obtém-se, com o impacto do percussor sobre a espoleta, a detonação desta e a

deflagração do cartucho.

As armas que só funcionam em ação simples, sem o engatilhamento prévio do

cão, não disparam.

Nota

Como curiosidade, vale lembrar que essas armas caracterizaram os filmes sobre a conquista

do oeste americano, onde o cão apresentava um prolongamento bem mais acentuado

(“orelha” do cão maior) com a finalidade de facilitar o engatilhamento. Nesses filmes, o

atirador usa a palma de uma das mãos para chocar-se com o prolongamento do cão,

aumentando a velocidade da sequência de disparos.

­ Ação dupla – Caracteriza-se por promover automaticamente o recuo do cão e o

giro do tambor à medida que se pressiona a tecla do gatilho, até a posição em que

o cão é liberado e, ao avançar pela pressão da mola real, gera o impacto do

percussor sobre a espoleta, a detonação desta e a deflagração do cartucho.

Nota

Diversos modelos de revólveres apresentam-se com o cão oculto ou embutido – a exemplo

do revólver Taurus, modelo 85H – ou sem o cão (hammerless).

A maioria dos revólveres atuais pode operar tanto em ação simples quanto em ação dupla,

conforme as definições acima. Dessa forma, para alguns autores essas armas são de ação

dupla, enquanto para outros essas armas são de movimento duplo.

Os revólveres atuais apresentam dois sistemas diferentes de percussão, que consideram,

basicamente, a montagem do percussor: percussão direta e percussão indireta.

­ Percussão direta – O percussor é parte integrante do cão, podendo ser um

prolongamento do cão (fixo), ou estar afixado por um pino (oscilante);

­ Percussão indireta – O percussor se encontra em espaço próprio, na armação, e

recebe o impacto do cão de forma indireta. Com o desenvolvimento de sistemas

de segurança, como o sistema Irwing Jonhson (em que o cão irá impactar-se

contra a sua alavanca e ela, por sua vez, contra ele), e por causa dessa segurança,

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esse tipo de percussão passou a ser adotado por inúmeros fabricantes com as

respectivas modificações.

Nota

Nos modernos revólveres Taurus, o sistema de segurança é semelhante ao mencionado: o

cão irá colidir com a barra de transferência e ela, por sua vez, contra o percussor.

Os primeiros revólveres eram de

percussão extrínseca, uma vez que ainda

não existia a figura do cartucho, como

pode ser observado no tambor do

revólver Remington New Army, na foto

ao lado.

Sistema de repetição

O sistema de repetição é composto principalmente pelo conjunto do extrator (cuja função

principal é a extração dos estojos deflagrados) do impulsor do tambor (que juntamente com a

coroa ou cremalheira do extrator fazem o tambor girar e permitem o alinhamento do cano,

câmara e percussor) e do retém do tambor (peça que encaixa nos recortes próprios do tambor

de forma a garantir o alinhamento supramencionado).

Nota

O sistema de segurança será discutido em item próprio.

1.3. Classificação dos revólveres

Nos Estados Unidos, Espanha, Argentina e outros países, a principal classificação dos

revólveres refere-se ao sistema de municiamento, classificando-os, pelo processo de acesso

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ao tambor, em: obturador lateral (armação rígida) e basculantes ou oscilantes (armação

articulada).

No Brasil, classificamos os revólveres quanto à(ao):

­ Armação;

­ Movimento simples;

­ Percussão;

­ Extração;

­ Funcionamento.

Estude sobre cada um deles!

1.3.1 Quanto à armação

Quanto à armação, os revólveres dividem-se em:

­ De armação rígida – Pode ser inteiriça (Ruger Single Six) ou desmontável (caso do

obsoleto revólver Remington New Army).

­ De armação articulada – Subdividida em revólveres basculantes ou de tambor

reversível.

1.3.2. Movimento simples

Quanto ao sistema de disparo, os revólveres são de movimento simples quando o revólver

opera somente em ação simples ou somente em ação dupla. Quando opera nos dois sistemas,

são classificados como de movimento duplo.

1.3.3. Percussão

Quanto à percussão, são classificados como:

­ Percussão extrínseca (obsoleta);

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­ Percussão intrínseca – Subclassificada em percussão direta e indireta3.

Nota

Existe ainda o sistema obsoleto de

percussão perpendicular do sistema

Lefaucheux, como o revólver que

pertenceu ao Duque de Caxias (foto

acima).

1.3.4. Extração

Quanto à extração, os revólveres são classificados em:

­ De extração simples (armação rígida) e simultânea ou automática (no caso dos

revólveres de tambor basculante);

­ Manual (no caso dos revólveres de tambor reversível).

1.3.5. Sistema de funcionamento

Quanto ao sistema de funcionamento,

classificam-se os revólveres em:

­ Revólveres de repetição (caso

geral);

­ Revólveres semiautomáticos –

raros casos de revólveres (foto

ao lado).

3 As classificações em fogo central ou fogo radial são próprias para os cartuchos utilizados nessas armas.

Embora indiquem a posição de incidência do percussor no cartucho, e por isso sejam também empregadas nas

armas de fogo, são próprias para as munições.

Page 12: Identificao de Armas Modulo2

Aula 2 – Pistolas

2.1. O que é pistola

O termo pistola é um termo genérico que já

designou diversos tipos de armas, desde pequenos

punhais ou adagas no século XV – que eram

escondidos entre a roupa –, passando por armas

auxiliares da cavalaria, no século seguinte, até

todas as armas de fogo curtas, que poderiam ser

empunhadas com uma mão no século XVIII.

Normalmente, quando nos referimos a pistolas nos dias de hoje, geralmente estamos nos

referindo a pistolas semiautomáticas, ou seja, a armas de porte, que aproveitam a força

expansiva dos gases para operar o mecanismo que irá extrair da câmara o estojo deflagrado,

ejetá-lo, e, com o retorno do mecanismo à posição de disparo, introduzir um novo cartucho

na câmara, deixando-a em condições de efetuar um novo disparo.

Pistolas são armas em que, enquanto existir munição no carregador, a introdução de um novo

cartucho na câmara é realizada de forma automática após o disparo ter sido efetuado, sendo

necessário acionar a tecla do gatilho para todo o disparo que se deseje fazer – embora

existam pistolas automáticas, como a pistola Glock, modelo G18 C, que realiza rajadas de

três tiros, ou outras capazes de efetuar disparos automáticos.

2.2. Breve histórico

As pistolas semiautomáticas desenvolveram-se a partir da metralhadora criada por Hiram

Maxim em 1883, que usava a ação dos gases no

momento do disparo para retirar o estojo deflagrado

e colocar outro cartucho na câmara. As experiências

de Maxim desenvolveram-se a partir de carabinas

Winchester 1866, calibre .44-40. O primeiro

modelo de pistola semiautomática foi criada pelo

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armeiro alemão Hugo Bochardt em 1894. Segundo diversos autores, era uma arma

volumosa, frágil, incômoda, tendo sido produzidos poucos modelos dela. Em 1896 surgiu o

modelo C-96, criada por Paul Mauser, que foi utilizada em diversas revoluções e guerras, a

exemplo da guerra dos bôeres na África do Sul. No mesmo ano, surgiu a pistola Luger,

criada por George Luger e adotada pelo exército alemão em 1908, no calibre 9mm Luger.

O cantor e compositor Lenine, em uma das estrofes da música Candeeiro encantado cita:

“(...) Já foi-se o tempo do fuzil papo amarelo pra se

bater com poder lá do sertão, mas Lampião disse

que contra o flagelo tem que lutar com parabelo na

mão (...)”

Lenine cita duas armas que foram muito populares

no Brasil e muito utilizadas, quer no cangaço, como

relata a música, quer em quase todos os estados.

Sobre o fuzil papo amarelo, que foi uma das armas presentes na história do nosso país, você

estudará mais tarde, mas o termo “parabelo” era a designação da pistola de George Luger,

adotada pelo exército alemão em 1908 com o nome de P08 ParaBellum-Pistole, que vem da

expressão latina “Si vis pacem para bellum” que quer dizer: “Se queres a paz, prepara-te

para a guerra”, para dar a ideia que era uma arma de guerra.

Um dos principais armeiros que trabalharam com pistolas foi John Browning, que, a partir de

1900, desenvolveu pistolas para a Colt e FN – desde a clássica Colt, modelo 1911, até a

Browning High Power, comercializada em 1935, que foi a primeira pistola com carregador

bifilar. Browning foi o responsável pelos cartuchos mais conhecidos de pistola, como o 25

ACP (Automatic Colt Pistol) (6,35 x 16mm), o .32 ACP (7,65 x 17mm) e o .380 ACP (9 x

17mm). A primeira pistola de ação dupla foi a Walter PP, desenhada em 1929 para uso

policial. Assim, como diversas outras melhorias, que vêm aperfeiçoando as pistolas até os

dias de hoje.

Page 14: Identificao de Armas Modulo2

2.3. Partes principais de uma pistola

As principais peças de uma pistola são: cano, ferrolho, armação e carregador.

Estude, a seguir, cada uma delas.

2.3.1. Cano

O cano das pistolas tem as mesmas funções e apresenta as mesmas características já

estudadas por você em revólver. Como na maioria das armas, nas pistolas semiautomáticas o

cano e a câmara são uma mesma peça, e a câmara localiza-se na parte posterior do cano.

Como ela destina-se a receber a munição, geralmente apresenta em sua porção inferior uma

rampa que facilita a introdução do cartucho, e, nas pistolas dotadas de extrator, apresenta um

recorte para o encaixe dessa peça, tanto na câmara quanto no aro do estojo. A quantidade e

orientação das raias do cano irão variar conforme o fabricante e o modelo da arma.

Os canos podem ser fixos (presos à armação) ou móveis, dependendo do sistema de

funcionamento da arma. As pistolas com cano fixo normalmente operam pelo sistema de

recuo direto (Blowback simples), em que o recuo do ferrolho é controlado pelo peso, inércia

do ferrolho e resistência da mola recuperadora. É muito usado para os calibres menores,

como o 7,65mm e o .380 ACP.

O termo “Blowback” vem do inglês e significa “sopro à retaguarda” ou “sopro para trás”.

Quando se dispara uma pistola, os gases gerados pela queima da pólvora não só impulsionam

o projétil; impulsionam também o conjunto do ferrolho à retaguarda, permitindo a extração

do estojo percutido e, em consequência do retorno do ferrolho, a introdução de um novo

cartucho na câmara. Como dito, o recuo do ferrolho e a pressão dentro da câmara são

controlados pela massa deste – que é muito maior do que a do projétil – , pela inércia de

movimento do ferrolho – que também é muito maior do que a do projétil – e, ainda, pela

resistência da mola recuperadora, não permitindo que o conjunto do cano/ferrolho se separe

enquanto a pressão é alta, o que poderia causar danos à arma e lesões no atirador. Esse

sistema é chamado de Blowback simples, recuo direto ou massa inercial e é empregado em

armas de calibres menos potentes.

Page 15: Identificao de Armas Modulo2

No sistema de operação por recuo curto (Blowback com trancamento), o cano e o ferrolho

são móveis, ficando interligados no momento inicial do disparo e depois recuam juntos por

uma curta distância até que o cano é detido e o ferrolho é liberado, continuando seu

movimento à retaguarda até a expulsão do estojo deflagrado e a introdução de um novo

cartucho na câmara. É o sistema usado para armas de calibre 9mm Luger, .40 S&W e .45

ACP, entre outros, pois, devido à maior potência desses calibres, faz-se necessário esse

trancamento inicial, no qual o cano e o ferrolho recuam juntos até que haja a diminuição da

pressão dos gases no interior da câmara.

Para que você entenda melhor o sistema de operação por recuo curto, veja o exemplo das

pistolas da marca Colt, modelo 1911. A ilustração abaixo foi extraída do livro Herida por

arma de fuego, de Vincent J. M. Di Maio

(ediciones La Rocca, Buenos Aires, 1999).

No momento do disparo, o cano e o ferrolho

estão unidos formando uma única peça, por

meio de saliências e ressaltos que formam

um sistema de engate (culatra aferrolhada).

Após o disparo, no momento em que a

pressão diminui e o projétil praticamente

abandona o cano, o conjunto do ferrolho e

cano começa a se deslocar à retaguarda, em consequência da ação dos gases. Após um

pequeno deslocamento, a parte posterior do cano sofre um pequeno deslocamento vertical

(queda), soltando-se do sistema de engate e sendo detido por uma peça específica. O ferrolho

continua seu deslocamento à retaguarda, extraindo o estojo da câmara, que, ao impactar-se

contra o ejetor, é expelido pela janela de ejeção. O ferrolho, ao regressar pela ação da mola

recuperadora, coleta um novo cartucho no carregador, introduz esse cartucho na câmara,

facilitado pela inclinação da parte posterior do cano e da rampa da câmara, e empurra o cano

até o conjunto ferrolho e cano travarem-se novamente nos engates, o que deixa a arma pronta

para um novo disparo.

Page 16: Identificao de Armas Modulo2

Outras formas de operação surgiram, como o sistema a gás das pistolas HK P-7 e da Desert

Eagle. Nesse sistema, parte dos gases oriundos da queima do propelente são conduzidos por

um pequeno orifício situado no cano e trabalham com um êmbolo, de forma a exercer pressão

para que o ferrolho seja

movimentado, de maneira

semelhante aos modernos fuzis.

2.3.2. Ferrolho

O ferrolho é uma peça móvel que

realiza deslocamentos no sentido do

eixo longitudinal da arma, em canaletas ou guias próprias para isso, promovendo a ação de

retirar o estojo deflagrado e carregar um novo cartucho. A placa obturadora, parte do

ferrolho que fica em contato com a base do cartucho, é rebaixada para garantir um melhor

encaixe do cartucho, câmara e ferrolho e a estanqueidade do conjunto. No ferrolho

encontram-se o percussor e o extrator (para os modelos que utilizam essa peça), as

respectivas molas e pinos de fixação, bem como uma série de outras peças que irão variar

conforme o sistema de percussão e o projeto da arma.

2.3.3. Carregador

O carregador tem por função acondicionar a munição. Normalmente, os carregadores são

produzidos em chapas de aço e apresentam o formato de caixa, apresentando a munição

disposta em uma fila (unifilar) ou em duas filas (bifilar). O carregador geralmente é

composto pelo corpo, mesa transportadora, mola e base. Algumas pistolas apresentam

carregadores do tipo caracol, que apresentam maior capacidade, e outras pistolas (a exemplo

da pistola Mauser, modelo C 96, calibre 7,63mm) têm o carregador como parte integrante da

arma.

Page 17: Identificao de Armas Modulo2

2.3.4. Armação

A armação, da mesma forma que o revólver, apresenta as funções de:

­ Empunhadura;

­ Acondicionar o ferrolho (geralmente o cano, quando for uma peça independente) e a

mola recuperadora com a sua guia;

­ Conter os mecanismos de disparo;

­ Compor o mecanismo de segurança (dependendo do modelo);

­ Portar os dados de identificação da arma.

Na armação, verifica-se ainda o ejetor, sendo que na maioria das pistolas é em sua

empunhadura que está alojado o carregador.

As armações são confeccionadas em diversos materiais, como aço, alumínio e suas ligas, e em

polímeros, como a pistola H.K., modelo VP70Z (Heckler & Koch), uma das precursoras em

armação de polímeros.

2.3.5. Mecanismos

Assim como você estudou sobre os revólveres, as pistolas também possuem de três sistemas

básicos de mecanismos:

­ Sistema de disparo e percussão;

­ Sistema de repetição;

­ Sistema de segurança.

Sistema de disparo e percussão

Os mecanismos de disparo são compostos pelo gatilho, tirante do gatilho ou peça semelhante

– responsável por levar os movimentos do gatilho ao cão (percussão indireta) ou ao próprio

percussor (percussão direta) –, armadilha ou peça semelhante que trava e libera o cão da

posição de armado.

Page 18: Identificao de Armas Modulo2

Nota

O cão e o próprio percussor, bem como as molas e respectivos pinos, constituem-se nas

principais peças que trabalham de forma interligada.

Sistema de repetição

Da mesma forma que os revólveres, as pistolas podem funcionar em ação simples, o que

requer que o atirador, para efetuar o primeiro disparo, engatilhe manualmente o cão, puxando-

o para trás. Após o primeiro disparo, pela ação do ferrolho (no seu ciclo de extrair o estojo e

alimentar a arma), o cão é armado sem a necessidade de qualquer outra operação manual.

Nas pistolas de ação dupla, como a pistola Taurus 24/7, o tirante do gatilho atua diretamente

sobre o percussor, comprimindo a sua mola. Após pequeno percurso, o percussor é liberado,

incidindo contra a espoleta; obtém-se, então, a consequente deflagração do cartucho.

Nota

Sistemas de funcionamento parecidos são os que operam nas pistolas Glock, HK P7-M8 e

M13, que requerem que o gatilho seja armado previamente pela ação do ferrolho e não podem

ser classificadas como de ação dupla simples.

Nas pistolas de dupla ação (movimento duplo), desde que carregadas, o primeiro disparo pode

ser efetuado apertando o gatilho, não sendo necessário o engatilhamento manual do cão. Os

disparos seguintes são efetuados como nas pistolas de ação simples, com o cão sendo

naturalmente armado pelo movimento do ferrolho após o disparo.

As pistolas de dupla ação modernas, como algumas pistolas Beretta e Taurus, possuem ainda

uma tecla (alavanca), localizada em seu ferrolho ou armação, que, ao ser acionada, permite

que o cão seja desarmado, abaixando-se para sua posição habitual (desarmador do cão). A

grande vantagem desse tipo de trava é a possibilidade de se desarmar o cão após ser colocado

um cartucho na câmara, ou após terem sido efetuados alguns disparos com maior segurança.

Nota

O sistema de segurança será discutido em item próprio.

Page 19: Identificao de Armas Modulo2

2.4. Classificação das pistolas semiautomáticas

As pistolas semiautomáticas são classificadas principalmente quanto à (ao):

­ Cano;

­ Percussão;

­ Sistema de disparo;

­ Funcionamento.

Estude sobre cada um deles!

2.4.1. Cano

Quanto ao cano, as pistolas são subdivididas em:

­ Fixas – (à armação ou ao suporte do ferrolho);

­ Móveis – (canos flutuantes).

Nota

Algumas pistolas, como as pistolas Taurus PT 51 e PT 53, apresentam o cano basculante, o

que consiste apenas na variação do sistema de cano fixo.

2.4.2. Percussão

Quanto à percussão, são classificadas em pistolas de percussão direta e de percussão indireta.

2.4.3. Sistema de disparo

Quanto ao sistema de disparo, as pistolas subdividem-se em:

­ Movimento simples – Quando opera somente em ação simples;

­ Ação dupla.

Quando opera nos dois sistemas, são classificadas como de movimento duplo.

Page 20: Identificao de Armas Modulo2

2.4.4. Funcionamento

Quanto ao sistema de funcionamento, as pistolas são classificadas em:

­ Recuo direto (Blowback simples);

­ Recuo curto ou longo (Blowback com trancamento);

­ Sistema a gás.

Nota

Outros sistemas, como o sistema Blow up (sopro para cima), utilizado na pistola Luger, estão

totalmente em desuso.

Finalizando...

O revólver, pela definição encontrada no Decreto nº 3.665, de 20/11/2000, é uma

“arma de fogo de porte, de repetição, dotada de um cilindro giratório posicionado

atrás do cano, que serve de carregador, o qual contém perfurações paralelas e

equidistantes do seu eixo e que recebem a munição, servindo de câmara.” (art. 3º,

inciso LXXIV, anexo);

São quatro as partes essencias de um revólver: armação, tambor, cano e mecanismos;

Pistolas são armas em que, enquanto existir munição no carregador, a introdução de

um novo cartucho na câmara é realizada de forma automática após o disparo ter sido

efetuado, sendo necessário acionar a tecla do gatilho para todo o disparo que se

deseje fazer;

As principais peças de uma pistola são: cano, ferrolho, armação e carregador.


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