Download - Fernão Lopes
FernãoLopesPequenabiografia
v NãosesabemuitosobreavidadeFernãoLopes.
v O cronista terá nascido no seio de uma família humilde, em Lisboa, entre 1380 e1390,eterárecebidoeducaçãodenívelsuperior(aspetovisívelnasuaobra).
v Fernão Lopesocupouvários cargosoficiais: foi guarda-mordaTorredoCastelodeLisboa, cronista dos grandes reis de Portugal D. João I e D. Duarte, secretárioparPculardoinfanteD.Fernandoetabelião-geraldoreino.
v CrónicadeEl-ReiD.Pedrov CrónicadeEl-ReiD.Fernandov CrónicadeEl-ReiD.João,1.ªparte(quetratadointerregnoentreamortedeD.
FernandoeaeleiçãodeD.João)v CrónicadeEl-ReiD.João,2.ªparte(queabrangeoreinadodeD.JoãoIatéàpaz
comCastelaem1411)v Provavelmentedasuaautoria,inacabadas,ascrónicasdosreisdePortugaldesde
ogovernodocondeD.HenriqueatéD.AfonsoIV,inclusive.
ComoresultadodalongaaPvidadedeFernãoLopes,chegaramaténósasseguintesobras:
ContextohistóricodaCrónicadeD.JoãoI
1383 1384 1385
EsquemafeitocombaseemJoelSerrão(dir.),DicionáriodeHistóriadePortugal,Porto,Figueirinhas,1990[p.674]
•ObispodaGuardafacilitaaentradanaquelacidadedomonarcacastelhano
•JoãoIdeCastelachegaaSantarém,ondeseencontracomD.LeonorTeles•JoãoIdeCastelacercaLisboa•Epidemiadepeste
•MorreD.Fernando,nonoreidePortugal
•RegênciadeD.LeonorTeles
•RevoluçãodeLisboa•OCondeAndeiroéassassinado
•OMestredeAvispedeauxílioaRicardoIIdeInglaterra
•OMestredeAviséelevadoaregedoredefensordoreino
•IníciodoreinadodeD.JoãoI
v ComamortedeD.Fernando,em1383,ficoucomoregenteasua
viúva,D.LeonorTeles,atéqueasuaúnicafilhalegíPma,aInfanta
D.Beatriz,assumisseotrono.
v Porém,estaeracasadacomD. João I, reideCastela,eassim
sendo, na hipótese de D. Beatriz ser aclamada, estaria em
causaaindependênciadePortugal.
v Peranteestacrise,apopulaçãodeLisboainsurgiu-secontraD.LeonorTeles.
v A revolta foi liderada por D. João, Mestre de Avis, filho
bastardodeD.Pedro.
v O Conde Andeiro, fidalgo galego e amante da rainha, é
assassinadopeloMestredeAvis.
v D.LeonorTelespediuauxílioaoreideCastela.
D.Fernando
D.LeonorTeles
MortedoCondeAndeiro
v O reideCastela, apesardeo contratode casamento terprevistoo
reinodePortugaleodeCastelaficariamsempreseparados,acabou
por invadir Portugal, originando vários confrontos em que os
Portuguesessaíramsemprevencedores:
v CercodeLisboa(1384);v BatalhadeAtoleiros(1384);v BatalhadeAljubarrota(1385);v BatalhadeValverde(1385).
v OMestre de Avis foi aclamado rei de Portugal nas Cortes deCoimbra em 1385 e a paz com Castela veio a ser assinada em1411.
D.JoãoIdeCastela
D.João–MestredeAvis
v Iníciodaeracristã:v ovocábulo“crónica”designavaanarraçãohistóricapela
ordemdotempoemqueosfactosiamacontecendo;
v a crónica limitava-se a registar os eventos, de forma
objeOva e sem lhes aprofundar as causas ou lhes dar
qualquerinterpretação.
v ApósoséculoXII:v as crónicas passaram a narrar os acontecimentos com
abundância de pormenores e a apresentar alguns
comentários pessoais dos autores sobre o que se
passou, isto é, marcas de subjeOvidade. É o que
acontecenasobrasdeFernãoLopes.
Crónica
OesOlo
Factosreais:FernãoLopesenquantohistoriador.
Ficção:FernãoLopesenquantoprodutordetextosliterários
FernãoLopes:repórterdaprosaliterária
CrónicadeD.JoãoI
Apresenta caracterísPcas comuns
com outras crónicas medievais,
pois regista acontecimentos
h i s t ó r i c o s p o r o r d e m
cronológica.
ApresentacaracterísPcasinovadoraspróprias
deFernãoLopes:
• Narraosacontecimentoscombastante
detalhe,conferindo-lhemaiorvisualismoe
veracidade.
• IncluiváriasperspeOvas,nomeadamentea
doPovo.
• TemumadimensãointerpretaOvaeestéOca.
• Apresentacomentáriospessoaisdoautor.
• Duaspartesdivididasemcapítulos.
• 1.ªParte-NarraçãodosacontecimentosdesdeamortedoreiD.FernandoatéàsubidaaotronodeD.JoãoI.
• 2.ªParte-NarraçãodosacontecimentosocorridosduranteoreinadodeD.JoãoI.
• Individuais-MestredeAvis.-ÁlvaroPais.-Personagens
históricas(Ex.:D.LeonorTeles,D.JoãoIdeCastela,...).
• ColeOvo-Povo(afirmação
daconsciênciacolePva).
• Crisede1383-1385(épocaemqueopaísestavasemrei).
• Consciencializaçãode
responsabilidadeseliberdade,porpartedoPovo.
• Opovoassumeumpapel
decisivonanomeaçãodoMestredeAvis,comofuturorei.
• Momentos-chavedarevolução:- PreparaçãodocercodeLisboa.- Misériaprovocadapelafaltade
manPmentosduranteocerco.
CaracterísOcasdaCrónicadeD.JoãoI
O próprio autor chama ao seu discurso “falamento”. Nesse falamento se revela a presença do autor. Ele fala com uma convicção de raiz, como se se explicasse, e não como se lesse um texto alheio ou tratasse por obrigação de ofício de uma matéria exterior a ele. Esta presença do autor no âmago da sua obra, como uma semente a partir da qual se desenvolve uma ramaria frondosa, cria no leitor um estado de simpatia, como perante uma personalidade que é particularmente cativante. […]
Se quisermos analisar a qualidade do estilo de Fernão Lopes, deveremos começar pelo que nos é imediatamente sensível: a sua extraordinária oralidade. Estamos perante um homem que fala a uma assembleia.
SARAIVA, António José, 1998. O Crepúsculo da Idade Média em Portugal. Lisboa: Gradiva (5.ª ed.)
Coloquialismo
v Fernão Lopes procura evitar deixar-se influenciar pelo afeto à pátria e pelo
senPmentodedívidaparacomapessoaqueoencarregadeescreverascrónicas,afim
detecerrelatosfiéisàrealidade.
v Nemsempreoconsegue:
v É evidente a sua parcialidade relaPvamente à dinasPa de Avis. Ainda
assim,ocronistanãopoupaafiguradoreiD.JoãoI,seusenhor,fazendodele
umretratoquenãoofavorece,vistoqueodescrevecomoumhomemfracoe
hesitante(nomomentodoassassíniodoCondeAndeiro,porexemplo).
v Poroutrolado,oMestredeAvisédescritocomoalguémquerevela,por
vezes,aPtudesdegrandehumanidadeoriginadasememoções.
v ÉavisãodeconjuntodeFernãoLopes,aliandoopontodevistaobjePvo(osfactos)ao ponto de vista subjePvo (os senPmentos) que lhe permite relaPvizar os atoresindividuaisdassuascrónicas.
Atoresindividuais
v OpovoassumegrandeprotagonismonascrónicasdeFernãoLopes.
v O cronista dá vida às mulPdões, transformando-as numa força unificada,
principalmente através do movimento que lhes imprime e que elas
cumpremcomosefossemumserúnico,umatorcolePvo.
v Exemplodisso,naCrónicadeD.JoãoI,éotumultoqueocorrequandoopovode
LisboapensaqueoMestredeAvisvaiserassassinado.
v OgrandeatordascrónicasdeFernãoLopesé,naverdade,opovo.
v PapeldecisivonafasedenomeaçãodoMestre;
v Vivênciaheroicadosgrandesmomentosdarevolução:
v preparaçãodocerco,deformaempenhadaevalorosa;
v vivênciadamisériaassociadaàfaltademanPmentosduranteocerco.
AtorescoleOvos:afirmaçãodaconsciênciacoleOva
A existência do povo como sujeito da História,
do povo que se sente senhor da terra onde
nasce, vive, trabalha e morre e que ganha
consciência colePva contra os que querem
senhoreá-lo, do povo que é a fonte úlPma do
direito, é a grande realidade que ressalta das
crónicasdeFernãoLopes.[…][O] povoéoque
ganha a sua vida quer com o trabalho manual
(mesteirais e lavradores), quer com a
«indústria», isto é, a aPvidade, habilidade e
iniciaPva em qualquer ramo produPvo e
pacífico.AntónioJoséSaraiva,«FernãoLopes»,inIsabelAllegrodeMagalhães(coord.),História
eantologiadaliteraturaportuguesa–séculoXV,Lisboa,FundaçãoCalousteGulbenkian,1998,pp.43-61(textoadaptado