eunice arruda - poesias
alguns (poemas selecionados de eunice arruda)
propósito
Viver pouco masviver muitoSer todo o pensamentoToda a esperançaToda a alegriaou angústia – mas ser Nunca morrerenquanto viver
tema para a abertura de um novo sentimento
agoraa morteda paz
aviso
Podes passar por mim: a dorcoagulou
medo
cainãoensaia
acidente
Uma mulher caiu na ruaninguém viu Pensa que não caiu
mutilação
A gente se abstém deviver Porque viver estraga
outra dúvida
Não sei se é amor ou minha vida que pede socorro
da finalidade do trabalho
Não trago mensagemna voz Quando escrevoé a vida queexercitoparaquetudo o que existaem mim fiqueescrito Por isso não tragomensagem navoz É missão dequem escreveapenas eternizar o que foi breve
hora poética
Para esquecer estador transformá-la em poesia Para eternizar estador transformá-la em poesia
predição
Fazer da busca o ideal Rasgar o ventre de todas as noitespara encontrar a aurora O que não somos hojeé o que há de nosesmagar amanhã
as coisas efêmeras
Olho a tardea tardeacaba O amor oamoracaba A vidasimé que é imensa
poema
Areias, mar, naviosMergulhojamais premeditado Agora recebo meu corpocomo um pássaroferidopesadode incompreensão Tantas coisasalheiasdesenham o caminho
ampliação
Construo o poema peda-ço porpedaço Construo umpedaço demimem cada poema
engano
Nãoisto aindanãoé apaz É o silêncio da vida
conflito
Nada me faz Deter ou avançar
a chuva e o sofrimento
Como o sofrimento a chuva cai sobre a gente E nos deixa o rosto molhado e disforme Como o sofrimento
sentença
Convém nos iniciarmos cedoAs coisas são demoradas E não é bom colher os frutos quando a boca não conseguir mais saboreá-los
mulheres
Mulheresmecanizadassimulamvozes De passos durose roupas levesalargam a tardede fumaça eobjetivos Têm pressa – nãosonhos
Mulheres mecanizadasgeram filhos ecriam oabstrato
símbolo
Esta noite sonhei com a paz Tinha o seu rosto
erro
Edifiquei minha casa sobre a areia Todo dia recomeço
palavras
buscar palavras No vermelho nosol no atalhoescondido no fio da faca buscar palavras e cristaissempre sem nenhum repouso no algodão das nuvens buscar no chãocavar as águas E na correnteza brilhao pódeste ouro as palavras
aspecto
a maturidade chega com a maturidade
observando - I
simháas horas de trégua Quando se afiam as facas
observando - II
o pior momento: o cego enxergamelhor que oguia
um dia
um dia eumorrereide sol, devida acumuladana convulsãodas ruas um dia eumorrerei enão podia: há poemasescorregando de meus dedose um vinho nãoprovado
geografia
estar emalgum lugar sempre deixar ocorpopostoem algum lugar portoonde voltar
enganos
Uma luz me aproximo é escuridão Brilha agora em ouro o que ontem foi pó e não
um visitante
Quem escreveéum visitante Chega nas horas da noitee toma o lugar dosonoChega à mesa do almoçocome a minha fome Escreveo que eu nem supunhaAssina o meu nome
notícias
As crianças morrem Em piscinaslagoasno centro da cidade O corte na testabarrigas inchadascostas afundadas As criançaselas também nos abandonam
concessão
Às vezesvolto Para ter companhia
paisagem
O sol sepõe Girassóis olham o chão
gabriel:
Cuidando da imortalidadeum poeta esquece avida Come o pão amanhã Cerzindo as roupas clarasse veste de lutopela casapobre cuidando: um poeta De sonhos é que é corrompido um dia será lido
gabriel:
Sulco fundo de aradoA terra aberta feridaNo entardecer vejo a vida
gabriel:
eu que vivi sem pátria entregueao ócio ao sol em sonho emtodos os lugareseu que vivi sem pátriaque vivi somente com o gosto do vinho e o brilhoas cores da Espanha e o luareu que vivi sem pátria morro de raiz
gabriel:
Escrevo um livroNão virarei póPalavra
gabriel:
Estreita é a portaque nos solta da vidae nos enxuga dos sonhos
entendimento
Tenho usadotanto este corpo É justo que eu o deixe que eu o deiteQue o esqueçam
engano
afinalconstruímos prédios casas jardins rosas desabrocharam trêmulas, afinal fomos submissos às ocupações do dia às estações do ano à rotação da terra Pensávamos ser esta a nossa pátria
tarefa
cabe agora morrer o corpo dia a dia ir me desacostumando do rostoque eu chamava meu
transformação
Anjo dá guarda Eu estou atravessando Também me empresta de tuas asas o vôo Que eu chegue a nenhum lugar
paisagem
Ser tão só nas ruas Sertão só nas ruas
o enforcado
Ainda assim bebo o úmido da seiva Ainda assim estômago na boca – mastigo o alimento da terra Pressentindo as raízes
lua fria
Lua fria irmãSequer me espreitas Vejo-te pálida protegida pela névoa fria lua minguada magoada irmã
pedido
Poupe-me o sonho louco: a permanência
referências
http://houdelier.com