Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.18, n.3, p.231-235, 2016 231 ISSN: 1517-8595
ELABORAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE
SORVETE DE LARANJA COM DIFERENTES FORMULAÇÕES
Alexandra Valim Dias1, Juliana Carvalho
1, Carlos Eduardo Barão
2*
RESUMO
Nos últimos tempos a fabricação de sorvetes tornou-se mais eficiente, juntamente com a
tecnologia e o baixo custo, aumentando sua qualidade. Entretanto alguns sabores, como a laranja, raramente encontram-se disponíveis no mercado, mesmo sendo uma fruta com valor
nutricional elevado. Nesse trabalho, será utilizado o suco natural de laranja, o suco concentrado
e o suco em pó, para produção de sorvete de laranja e verificar por meio do teste de análise
sensorial de aceitabilidade se há diferença significativa entre as amostras. Foram realizadas análises de teores de acidez e gordura que obtiveram resultados bem significativos nas duas
análises comparadas ao sorvete tipo massa com adição de leite e seus derivados. Em relação ao
teor de gordura o resultado apresentou abaixo do estipulado pela legislação, já a acidez é pouco mais elevada se comparado a outros sorvetes de fruta. Constatou-se um diferencial quanto ao
sorvete feito à base do pó de laranja, que demonstrou aceitabilidade superior ao suco
concentrado e in natura. Podendo-se concluir que o sorvete de laranja sem adição de lactose obteve uma boa aceitabilidade.
Palavras-chave: Suco de laranja, sorvete, aceitabilidade.
PREPARATION, PHYSICOCHEMICAL CHARACTERIZATION AND SENSORY
ANALYSIS OF ORANGE ICE CREAM WITH DIFFERENT FORMULATIONS
ABSTRACT
In recent years the production of ice cream became more efficient, with the technology and low
cost, increasing their quality. However some flavors such as orange, rarely are available in the
market, even as a fruit with high nutritional value. In this work, we will use the natural orange juice, juice concentrate and juice powder to orange ice cream production and check through the
sensory analysis of acceptability test if there is significant difference between the samples.
Analysis of acidity and fat content were performed that had very significant results in both analyzes compared to ice cream type mass with the addition of milk and dairy products.
Regarding the fat content the result was below the stipulated by the law, since the acidity is
slightly higher compared to other fruit sorbets. It was found as a difference to the ice cream
made on the basis of orange powder, which showed higher acceptability to the concentrate and fresh juice. It can be concluded that the orange cream without the addition of lactose obtained a
good acceptability.
Keywords: Orange juice, ice cream, acceptability
Protocolo 17-2015-11 de 23/03/2015 1 Discente Instituto Federal do Paraná, Campus Paranavaí, Rua José Felipe Tequinha 1400, Paranavaí, PR, Brazil 2 Docente Instituto Federal do Paraná, Campus Paranavaí, Rua José Felipe Tequinha 1400, Paranavaí, PR, Brazil *e-mail: [email protected] Phone: + 55 (44) 8406-9137
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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.18, n.3, p.231-235, 2016
INTRODUÇÃO
Muitos autores citam vários mitos sobre a
história do sorvete relacionados a bebidas congeladas e gelo, que foram bastantes
populares na Europa durante tempos medievais
(Marshall & Arbuckle, 1996; Sawyer, 1969;
Turnbow et al. 1947) .
Não existe uma descrição precisa,
exceto que neve e gelo eram usados para
resfriar e possibilitar congelamento de sobremesas. O sorvete chegou ao Brasil em
1834, quando dois comerciantes do Rio de
Janeiro compraram gelo vindo dos Estados
Unidos e fabricaram sorvetes com frutas tropicais (Silva & Bolini, 2006).
O brasileiro ainda associa o sorvete à
imagem de um item supérfluo que refresca e é justamente esse conceito de "guloseima que
refresca" que colabora para que seja associado
apenas ao consumo de verão. Um dos desafios das indústrias do segmento é conscientizar
milhões de consumidores em potencial de que o
produto é próprio para o consumo em qualquer
época do ano (Nutrinews, 2012). Nos últimos tempos, a fabricação de sorvetes tornou-se mais
eficiente, juntamente com a tecnologia e o
baixo custo, aumentando sua qualidade. Entretanto alguns sabores, como a laranja
raramente encontram-se disponíveis no
mercado. Embora seja uma fruta ácida, seu valor nutricional é elevado, contendo vitamina
C, cálcio, pectina e fibras solúveis, as quais
agregam benefícios à saúde.
A composição do sorvete é bastante variada, normalmente apresentando de 8 a 20%
de gordura, 8 a 15% de sólidos não gordurosos
do leite, 13 a 20% de açúcar e 0 a 0,7% de emulsificante-estabilizante, porém pode haver
variabilidade de acordo com a região e em
diferentes mercados (Arbuckle, 1977).
O sorvete é uma excelente fonte de energia, devido principalmente ao seu alto
conteúdo de carboidratos e gordura. As
proteínas do leite representam de 34 a 36% de seus sólidos não gordurosos, e o sorvete contém
elevada concentração de minerais e vitaminas,
cujo conteúdo dependerá primariamente da quantidade de sólidos do leite utilizados na
formulação (Berger, 1997; Marshall &
Arbuckle, 1996).
O Brasil, maior produtor e exportador de suco de laranja, detém 50% da produção
mundial, sendo que apenas 3% ficam no
mercado interno (Gil-Izquierdo et al. 2002). O suco fresco de laranja mais
familiarizado da população brasileira é aquele
suco extraído em espremedores de castanha,
muito frequentes em bares, restaurantes e
padarias. Já o suco concentrado destina-se quase que exclusivamente à exportação, em
função da disponibilidade de fruta fresca o ano
todo (Silva, et al. 2005).
Entretanto, a partir do final da década de 1990, a formulação dos preparados em pó
para refresco foi se modificando para tornar-se
mais atraente ao consumidor (Caleguer & Benassi, 2007).
O ritmo de vida acelerado da sociedade
associado à praticidade de preparo e
armazenamento tem levado ao aumento do consumo de sucos e refrescos industrializados,
porém pouco se conhece sobre sua estabilidade
(Venturini Filho, 2010). A intolerância à lactose é o conjunto de
sintomas que podem acometer indivíduos que
consomem quantidade de lactose que ultrapassa sua capacidade de hidrolisar e absorver esse
carboidrato, em função de quantidade
insuficiente de lactase (Fernandes et al., 2007).
Nesse trabalho serão utilizados suco natural de laranja, concentrado e também em
pó, para produção de sorvete de laranja e
verificar por meio do teste de análise sensorial de aceitabilidade e se há diferença significativa
entre as amostras. O diferencial desses produtos
é que não será utilizado leite, como normalmente seria usado em sorvetes tipo
massa. Assim, podendo ser destinado a pessoas
com intolerância a lactose.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para o preparo das três formulações do sorvete de laranja foram utilizados suco de
laranja nas seguintes variações: in natura,
concentrado, em pó artificial. Além disso,
utilizou-se ainda açúcar cristal, emulsificante (Emustab), estabilizante (Glintex), liga
(Composição: açúcar, amido de milho,
antiumectante e CMC), fermento (Topim), tendo a função de aumentar a viscosidade do
produto final, bem como estabilizar emulsões, e
o malte com a função de reduzir a formação de cristais de gelo.
Elaboração do sorvete
O sorvete de laranja foi elaborado a partir
do suco natural, concentrado e do suco em pó
da fruta. Foram adicionados ao batedor industrial 5 litros de suco natural de laranja e
1,4Kg de açúcar sob agitação por
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aproximadamente 3 minutos. Em seguida
adicionou-se 80g de emulsificante, 80g de
estabilizante, 20g de liga, 30g de malte e 30g de fermento seguida de agitação por mais 6
minutos. Em seguida, a mistura foi adicionada
em uma máquina produtora de massa, onde permaneceu por 5 minutos para adquirir a
consistência desejada.
Após a finalização do processo, a massa
foi colocada em embalagens de papelão próprias para sorvetes e levada ao freezer a -
24ºC para o seu congelamento. Para os demais
tratamentos foram utilizados os mesmos procedimentos, porém, foi adicionada água no
inicio do processo dos mesmos. Sendo 4.700
litros de água para o preparo do sorvete com
suco concentrado de laranja e 5 litros de água para o preparo do sorvete com suco em pó da
fruta.
Análises físico-químicas
Os sorvetes produzidos foram caracterizados pelos seus teores de acidez e
gordura de acordo com a metodologia proposta
pelo Instituto Adolfo Lutz. Após a
caracterização físico-química foi realizada a análise sensorial de aceitabilidade pelo método
de Tukey.
Análise sensorial
Para os testes de aceitação dos consumidores foram entregues as amostras do
sorvete de laranja feito com suco concentrado,
suco natural e com o suco em pó da fruta. As
avaliações sensoriais foram realizadas em salas
ventiladas e iluminadas, empregando 50 provadores não treinados, de ambos os sexos e
faixa etária diversificada. As amostras foram
codificadas com números aleatorizados de três dígitos, sendo que ordem e apresentação das
amostras também foram aleatorizadas para cada
provador. Também foram servidas bolachas
(água e sal) e água a temperatura ambiente para que os provadores pudessem efetuar a limpeza
do palato, entre uma amostra e outra. Para
execução dos testes empregou-se escala híbrida de cinco pontos ancorada, com termos verbais,
nos extremos, conforme Villanueva et al.
(2005). Os resultados foram avaliados por
análise de variância (ANOVA) de um fator, considerando-se como causa de variação o
produto e teste de médias (Tukey, ao nível de
5% de significância), utilizando-se o programa Statistica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análises físico-química do sorvete
de laranja, tendo como comparativo os sorvetes
a base de leite em sua composição, obteve-se resultados satisfatórios no que diz respeito à
saúde do consumidor. Segundo Arbuckle
(1977), o teor de gordura do sorvete deve apresentar de 8% a 20% de gordura, enquanto o
sorvete de laranja apresentou teor de gordura
mínima variando de 0,23%, 0,29% e 0,68%, como mostra a Figura 1.
Figura 1: Teor de gordura do sorvete de laranja, sendo elaborado à partir do suco natural, concentrado
e em pó.
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De acordo com o teste, o teor de acidez
do sorvete de laranja, mostrado na figura 2, é
pouco mais elevado se comparado a outros
sorvetes de fruta, embora seja um diferencial,
agregando sabor atrativo ao sorvete.
Figura 2: Teor de acidez do sorvete.
Os resultados obtidos após análise sensorial, conforme verificado na tabela 1,
mostraram aceitação favorável para todas as
amostras realizadas, com um diferencial quanto ao sorvete feito a base do pó de laranja, que
demonstrou valores de aceitabilidade superior ao suco concentrado e in natura em
praticamente todos os aspectos com exceção da
cor (mas sem diferenças significativas).
Tabela 1 – Médias dos atributos avaliados para os três tratamentos de sorvete de laranja.
Tratamento Cor Aroma Sabor Aceitação Global
Concentrado 4,06a ± 0,79 3,79
a,b ± 0,78 3,59
a ± 0,74 3,85
a ± 0,81
Pó 4,15 a
± 0,96 4,14 b
± 0,78 4,19 b
± 0,82 4,21 a
± 0,93
Natural 4,23a ± 0,76 3,68
a ± 1,04 3,83
a,b ± 1,00 4,04
a ± 0,90
NOTA: 1média ± desvio padrão; e
2letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatística de 5%.
Nos atributos de sabor e aroma verificou-
se diferença significativa entre as amostras com
uma preferencia para as amostras obtidas do sorvete em pó, nas demais análises com
destaque para aceitação global não houe
diferença significativa entre as amostras, pode o custo ser usado como critério de escolha para
produção do sorvete de laranja em massa.
CONCLUSÃO
Diante dos resultados analisados, pode-se
concluir que o sorvete de laranja tem boa aceitação entre os consumidores. Verificando as
diferentes condições da matéria-prima todos
apresentaram aceitabilidade com uma
preferência para o sorvete elaborado a partir do pó para preparação do suco. Embora não tenha
em sua composição a lactose, os aspectos
organolépticos têm boa qualidade e aceitação,
sobretudo é uma ótima opção aos intolerantes a
lactose e a todos que apreciam o sabor da
laranja pouco encontrado em sorvetes tipo massa. A utilização ainda do preparado em pó
diminui os custos do produto, tornando-o uma
alternativa viável para os fabricantes de sorvete.
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