DIREITO PENALPARTE GERAL
Marcelo Uzeda
• PUNIBILIDADE
• É a consequência natural da prática do crime,
ou seja, é a possibilidade de punir que
pertence ao Estado, decorrente da prática de
um crime.
• Há entendimento minoritário de que a
punibilidade seria elemento do crime –
concepção quadripartida do delito.
• Pretensão punitiva - obter um provimento
jurisdicional reconhecendo a procedência da
pretensão e condenando o réu ao
cumprimento de uma sanção penal.
• Pretensão executória - executar o título
judicial obtido, transitado em julgado,
impondo a sanção penal.
• CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
•Após a prática do delito podem surgir situações
que impedem a aplicação ou a execução da
sanção respectiva.
•A punibilidade do fato cessa em razão de certas
contingências ou por motivos de conveniência e
oportunidade política.
•Em hipóteses expressamente previstas na lei,
o Estado abre mão o direito de punir ou até
mesmo perde tal pretensão.
•Não devem ser confundidas as causas de
extinção da punibilidade com as escusas
absolutórias, nem com as condições objetivas
de punibilidade.
• Art. 108, CP – Nota explicativa:
• A extinção da punibilidade de crime que é
pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se
estende a este.
• Nos crimes conexos, a extinção da
punibilidade de um deles não impede, quanto
aos outros, a agravação da pena resultante da
conexão.
•PRESCRIÇÃO
•É a perda de uma pretensão pelo decurso do
prazo estabelecido para seu exercício.
•A prescrição é a perda do direito de punir do
Estado, pelo decurso de tempo, em razão do
seu não exercício, dentro do prazo
previamente fixado pela lei.
•O próprio Estado estabelece critérios
limitadores para o exercício do direito de punir
e, levando em conta a gravidade da conduta
delituosa e da sanção correspondente, fixa
lapso temporal dentro do qual estará
legitimado a aplicar a sanção adequada.
• A Constituição prevê a imprescritibilidade de
crimes de racismo e ação de grupos
armados contra a ordem constitucional e o
Estado de Direito (art. 5º, XLII e XLIV, CR/88).
•Por ser matéria de ordem pública, deve ser
declarada de ofício pelo Juiz ou sob
provocação das partes.
•É questão preliminar ao mérito
•Súmula 241, do TFR:
•"A extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva prejudica o exame do
mérito da apelação criminal."
•STF 4. Ocorrência da prescrição intercorrente
da pretensão punitiva antes da redistribuição
do processo a esta relatoria. Superação da
prescrição para exame da recepção do tipo
contravencional pela Constituição Federal
antes do reconhecimento da extinção da
punibilidade, por ser mais benéfico ao
recorrente.
•5. Possibilidade do exercício de fiscalização daconstitucionalidade das leis em matéria penal.Infração penal de perigo abstrato à luz doprincípio da proporcionalidade. 6.Reconhecimento de violação aos princípios dadignidade da pessoa humana e da isonomia,previstos nos artigos 1º, inciso III; e 5º, caput einciso I, da Constituição Federal. Não recepçãodo artigo 25 do Decreto-Lei 3.688/41 pelaConstituição Federal de 1988.
•7. Recurso extraordinário conhecido e provido
para absolver o recorrente nos termos do
artigo 386, inciso III, do Código de Processo
Penal.
•(RE 583523, Relator(a): Min. GILMAR
MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
03/10/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-208
DIVULG 21-10-2014 PUBLIC 22-10-2014)
•Fundamentos Políticos da Prescrição
•A prescrição resolve os anseios individuais e
coletivos de repressão, sob os aspectos
preventivo e retributivo:
•1. Decurso do prazo (Teoria do Esquecimento
do Fato) – o decurso do tempo leva ao
esquecimento do fato.
• “Cessa a exigência de uma reação contra o
delito, presumindo a lei que, se o tempo não
cancela a memória dos acontecimentos, pelo
menos a atenua ou enfraquece” (Battaglini).
• O alarme social desaparece pouco a pouco
e acaba apagando-se, de modo que provoca
desinteresse de fazer valer a pretensão
punitiva.
•2. Autocorreção do condenado
•O decurso do prazo leva à recuperação do
criminoso. A pena perde seu fundamento,
esgotando-se os motivos do Estado para
desencadear a punição. Havendo condenação, o
fato de o agente não voltar a delinquir após
longo lapso temporal leva a concluir que, por si
mesmo, ele foi capaz de alcançar o que a pena
se dispõe a fazer: seu reajustamento social.
•3. Negligência da autoridade
•O Estado deve arcar com sua inércia, pois não
se admite que alguém que tenha cometido um
delito tenha que submeter-se, ad infinitum, ao
império da vontade estatal.
•Não há interesse social, nem legitimidade
política em deixar o criminoso indefinidamente
sujeito a um processo ou a uma pena.
•4. Fundamento Processual
•O decurso do prazo enfraquece o suporte
probatório. O longo lapso temporal dificulta a
colheita de provas para permitir uma justa
apreciação do delito. A apuração torna-se mais
incerta e a defesa mais difícil.
•Espécies de Prescrição:
•Prescrição antes do trânsito em julgado:
•É a prescrição da pretensão punitiva (ius
puniendi) - possibilidade de formar o título
executivo.
•Impropriamente chamada de prescrição “da
ação penal”.
•Prescrição após o trânsito em julgado:
•É a prescrição da pretensão executória (ius
punitionis) - possibilidade de executar sua
decisão.
•A prescrição é “da pena”.
•PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PELA
PENA EM ABSTRATO (art. 109, CP).
•Ainda não existe pena concretizada na
sentença para ser adotada como parâmetro
aferidor do prazo prescricional.
•Regula-se pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada em abstrato ao delito,
segundo a tabela do artigo 109, CP.
• Art. 109. A prescrição, antes de transitar em
julgado a sentença final, salvo o disposto no
§ 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se:
QUANTIDADE DE PENA MÁXIMA PRAZO PRESCRICIONAL
SUPERIOR A 12 ANOS 20 ANOS
SUPERIOR A 8 ANOS E ATÉ 12 ANOS 16 ANOS
SUPERIOR A 4 ANOS E ATÉ 8 ANOS 12 ANOS
SUPERIOR A 2 ANOS E ATÉ 4 ANOS 8 ANOS
DE 1 A 2 ANOS 4 ANOS
INFERIOR A 1 ANO 3 ANOS (*)
•Termo Inicial (art. 111, CP):
• No crime consumado - o dia da consumação
do crime.
• Na tentativa – o dia em que cessou a atividade
criminosa (teoria da atividade).
• No crime permanente – o dia em que cessou a
permanência (teoria da atividade).
• No crime de bigamia e nos de falsificação deassentamento de registro civil – a data em que o fatose tornou conhecido pela autoridade pública.
• Nos crimes contra a dignidade sexual de criançase adolescentes, previstos neste Código ou emlegislação especial, da data em que a vítimacompletar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempojá houver sido proposta a ação penal.
–(Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012)
•Atenção! Nesse caso, a ação penal é públicaincondicionada, conforme artigo 225, CP.
•Causas interruptivas da prescrição da pretensão
punitiva (Art. 117, CP)
• recebimento da denúncia ou da queixa;
• pronúncia;
• decisão confirmatória da pronúncia;
• publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis;
•Causas impeditivas da prescrição
•Art. 116 - Antes de passar em julgado a
sentença final, a prescrição não corre:
•I - enquanto não resolvida, em outro
processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime;
•II - enquanto o agente cumpre pena no
estrangeiro
•PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
•PUNITIVA PELA PENA EM CONCRETO
1. PRESCRIÇÃO RETROATIVA
•ART. 110,§ 1o A prescrição, depois da sentença
condenatória com trânsito em julgado para a
acusação ou depois de improvido seu recurso,
regula-se pela pena aplicada, não podendo, em
nenhuma hipótese, ter por termo inicial data
anterior à da denúncia ou queixa.
– Com fundamento na pena aplicada na
sentença penal condenatória com trânsito
em julgado para a acusação, o cálculo
prescricional é feito retroagindo-se, até
chegar ao primeiro momento para sua
contagem.
–O Termo inicial NÃO PODE MAIS ser fato
anterior ao recebimento da denúncia ou queixa,
pois o art. 110, CP foi alterado pela Lei 12.234, de
05/05/2010:
–Art. 110. § 1o (...), não podendo, em nenhuma
hipótese, ter por termo inicial data anterior à da
denúncia ou queixa.
•O acórdão confirmatório da sentença, ainda
que alterada a pena anteriormente fixada, não
interrompe a prescrição; contudo, tratando-se
de julgado que modifica a tipificação do delito,
alterando substancialmente a condenação,
mesmo anteriormente à alteração introduzida
pela Lei n. 11.596/2007.
•(AgRg nos EREsp 1043207/SP, TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 20/08/2014)
•Em sentido contrário:
•Se, em razão do provimento da apelação
acusatória modificou-se a pena, de forma que
houve aumento do prazo prescricional, há
interrupção da prescrição, mesmo que a
reprimenda final tenha ficado menor do que a
que fora estabelecida na sentença, por também
ter sido provida a apelação defensiva,
•a fim de diminuir a fração de aumento
decorrente da continuidade delitiva. Ressalva
do entendimento do Relator que, no ponto,
ficou vencido.
•(REsp 1127211/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
12/08/2014, DJe 25/11/2014)
•(VOTO VENCIDO NA PRELIMINAR) (MIN.SEBASTIÃO REIS JÚNIOR)Não há interrupção do prazo prescricional dapretensão punitiva quando, após o julgamentodos recursos de apelação da acusação e dadefesa, apesar de alterada a tipificação paracrime mais grave com pena mais severa e quemajora o prazo prescricional, a reprimendaimposta é menor do que aquela atribuída nasentença.
•Isso porque, se após a apreciação dos recursosacusatório e defensivo a pena finalacabou por diminuir, o julgado, em suatotalidade, foi benéfico para o réu, não podendo,assim, ser considerado como marco interruptivoda prescrição. Nessa situação, no cálculoda prescrição deve ser observado o lapsoreferente à pena imposta no acórdão, mas semconsiderá-lo como marco interruptivoda prescrição.
•Polêmica
•PRESCRIÇÃO PELA PENA IDEAL
•(OU EM PERSPECTIVA OU HIPOTÉTICA OU
VIRTUAL)
•Consiste no Reconhecimento antecipado da
prescrição retroativa em razão da pena em
perspectiva, a ser virtualmente aplicada ao réu
na hipótese de futura condenação.
•SÚMULA 438/STJ (DJe 13/05/2010)
•É inadmissível a extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética,
independentemente da existência ou sorte do
processo penal.
•2. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE OU
SUBSEQUENTE
•Leva em conta a pena aplicada in concreto na
sentença condenatória, mas dirige-se ao futuro
(período posterior à sentença condenatória
recorrível).
•Começa a correr da sentença condenatória até o
trânsito em julgado do acórdão para a acusação
e defesa.
• ART. 110,§ 1o A prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em
julgado para a acusação ou depois de
improvido seu recurso, regula-se pela pena
aplicada, não podendo, em nenhuma
hipótese, ter por termo inicial data anterior à
da denúncia ou queixa.
• Pressupostos:
• Inocorrência de Prescrição abstrata ou
retroativa.
• Sentença penal condenatória.
• Trânsito em julgado para a acusação ou não
provimento de seu recurso.
•PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA -
DEPOIS DE TRANSITAR EM JULGADO A
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
•Art. 110 - A prescrição depois de transitar em
julgado a sentença condenatória regula-se pela
pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados
no artigo anterior, os quais se aumentam de um
terço, se o condenado é reincidente.
•Leva em conta a pena aplicada in concreto na
sentença condenatória, mas somente após o
trânsito em julgado para a acusação e para a
defesa (art. 110, caput, do CP).
•Aplicam-se os prazos do artigo 109, CP, que se
aumentam de 1/3, se o condenado é reincidente
•Súmula 220/STJ: A reincidência não influi no
prazo da prescrição da pretensão punitiva.
•Termo Inicial (art. 112, CP):
• Data do trânsito em julgado para a acusação
(e para a defesa também, pois sem este último
caberia prescrição intercorrente).
• Do dia em que transita em julgado a decisão
que revoga o sursis ou o livramento
condicional.
• Do dia em que se interrompe a execução da
pena.
•Ex.: fuga – data da evasão – Art. 113 - No caso
de evadir-se o condenado ou de revogar-se o
livramento condicional, a prescrição é
regulada pelo tempo que resta da pena.
•* Ressalva-se a hipótese de internação por
doença mental superveniente.
•Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
•V - pelo início ou continuação do cumprimento
da pena;
•VI - pela reincidência.
•§ 1º - Excetuados os casos dos incisos
V e VI deste artigo, a interrupção da
prescrição produz efeitos relativamente a
todos os autores do crime. Nos crimes
conexos, que sejam objeto do mesmo
processo, estende-se aos demais a
interrupção relativa a qualquer deles.
•§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a
hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo
começa a correr, novamente, do dia da
interrupção.
•Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado
ou de revogar-se o livramento condicional, a
prescrição é regulada pelo tempo que resta da
pena.
• CAUSAS SUSPENSIVAS OU IMPEDITIVAS DA
PRESCRIÇÃO (ART. 116, CP):
•Art. 116. Parágrafo único - Depois de passada
em julgado a sentença condenatória (pretensão
executória), a prescrição não corre durante o
tempo em que o condenado está preso por
outro motivo.
•Outras causas de suspensão do prazo
prescricional:
•Art. 368, CPP – carta rogatória citatória.
•Art. 53, §5º, CR/88 - imunidade parlamentar
(sustação do processo durante o mandato).
•Art. 89, §6º, da Lei 9099/95 – suspensão
condicional do processo.
•Art. 83, LEI 9430/96 – Parcelamento do débito.
•Art. 366, do CPP – réu citado por edital que não
comparece nem constitui advogado.
•Súmula 415/STJ.
•O período de suspensão do prazo prescricional é
regulado pelo máximo da pena cominada.
•Prescrição da multa:
•Art. 114 - A prescrição da pena de multaocorrerá:
•I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a únicacominada ou aplicada;
•II - no mesmo prazo estabelecido paraprescrição da pena privativa de liberdade,quando a multa for alternativa oucumulativamente cominada ou cumulativamenteaplicada.
•Art. 118 - As penas mais leves prescrevem com
as mais graves.
•As penas restritivas de direitos observam os
mesmos prazos prescricionais das penas
privativas de liberdade (art. 109, parágrafo único,
CP).
•porte para consumo pessoal de drogas (art. 28,
da lei 11343/2006): o art. 30 da mesma lei dispõe
que aquelas penas prescrevem em 2 anos.
•De acordo com o STJ: "A prescrição penal é
aplicável nas medidas socioeducativas" (Súmula
n. 338 do STJ) e a jurisprudência desta Corte
Superior firmou orientação de que, via de regra,
tratando-se medida socioeducativa sem termo
final, deve ser considerado, para o cálculo do
prazo prescricional da pretensão socioeducativa,
o limite máximo de 3 anos previsto para a
duração da medida de internação (art. 121, § 3°,
ECA).
•Reconhecida a prática de ato infracional
análogo ao delito do art. 33, da Lei n.
11343/2006 - cuja pena máxima excede o limite
de 3 anos estabelecido para a medida de
internação -, a paciente foi submetida à medida
de liberdade assistida pelo prazo mínimo de 6
meses. Ao aplicar, por analogia, o prazo do art.
109, IV, do CP, reduzido pela metade, a teor do
art. 115, do mesmo diploma legal,
•verifica-se que não transcorreu o lapso de 4
anos entre o recebimento da representação
(31/8/2012) e a publicação da sentença que a
acolheu (5/3/2014).
•3. Habeas corpus não conhecido.
•(HC 305.616/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
16/04/2015, DJe 27/04/2015)
•MEDIDA DE SEGURANÇA
•O Supremo Tribunal Federal já se manifestou
no sentido de que o instituto da prescrição é
aplicável na medida de segurança, estipulando
que esta "é espécie do gênero sanção penal e
se sujeita, por isso mesmo, à regra contida no
artigo 109 do Código Penal" (RHC n. 86.888/SP,
Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, DJ de
2/12/2005).
•STJ - Sedimentou-se nesta Corte Superior de
Justiça o entendimento no sentido de que a
prescrição nos casos de sentença absolutória
imprópria é regulada pela pena máxima
abstratamente prevista para o delito.
Precedentes.
•(RHC 39.920/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 06/02/2014, DJe
12/02/2014)
•FALTA DISCIPLINAR GRAVE
•A jurisprudência do STJ sedimentou-se nosentido de que, à míngua de previsão específicana Lei n. 7210/1984, o prazo de prescrição paraapuração de falta disciplinar grave praticada nocurso da execução penal é o regulado no art. 109,inciso VI, do Código Penal, qual seja, 3 anos, severificada após a edição da Lei n. 12.234/2010.(AgRg no REsp 1496703/MG, 5ª TURMA, DJe11/03/2015)