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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIR.P/ACÓRDÃO : MINISTRO SIDNEI BENETIRECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGA ADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
EMENTA
DIREITO AUTORAL. FOTÓGRAFO CONTRATADO. RELAÇÃO DE TRABALHO. PROPRIEDADE IMATERIAL INALIENÁVEL DAS FOTOGRAFIAS. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO DO AUTOR DA OBRA PARA A PUBLICAÇÃO POR TERCEIROS. DESNECESSÁRIA A CESSÃO, CONTUDO, PARA A PUBLICAÇÃO PELO PRÓPRIO EMPREGADOR.
I - A fotografia é obra protegida por direito do autor, e, ainda que produzida na constância de relação de trabalho, integra a propriedade imaterial do fotógrafo, não importando se valorada como obra de especial caráter artístico ou não.
II - O empregador cessionário do direito patrimonial sobre a obra não pode transferí-lo a terceiro, mormente se o faz onerosamente, sem anuência do autor.
III - Pode, no entanto, utilizar a obra que integrou determinada matéria jornalística, para cuja ilustração incumbido o profissional fotógrafo, em outros produtos congêneres da mesma empresa.
IV - Recurso Especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vasco Della
Giustina, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por maioria, dar provimento ao recurso especial.
Vencida a Sra. Ministra Relatora. Votaram com o Sr. Ministro Sidnei
Beneti, os Srs. Ministros Massami Uyeda, Vasco Della Giustina e Paulo Furtado. Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 1 de 30
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Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Sidnei Beneti.Brasília, 22 de junho de 2010(Data do Julgamento)
Ministro SIDNEI BENETI Relator
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9)
RECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGA ADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):
Cuida-se de recurso especial interposto pela EDITORA O DIA S.A., com
fundamento no art. 105, III, “a”, da CF, contra acórdão proferido pelo TJ/RJ.
Ação: de indenização por danos materiais e morais, ajuizada por CARLOS
FREDERICO DA SILVA FRAGA em desfavor da recorrente, alegando violação de
direito autoral, decorrente da publicação em jornal, sem a autorização do autor, de
fotografias por ele tiradas.
Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na
inicial, para condenar a recorrente “ao pagamento de indenização pelos danos
patrimoniais sofridos, no valor de R$100,00 (cem reais) por fotografia cedida”, e
“indenização, a título de danos morais, no valor equivalente a 40 (quarenta) salários
mínimos que, atualmente, perfaz o total de R$14.000,00 (quatorze mil reais)” (fls. 84/91).
Acórdão: o TJ/RJ deu parcial provimento ao apelo do recorrido, majorando
a indenização por danos materiais para o valor de venda de 2000 exemplares do jornal,
bem como ao apelo da recorrente, fixando a indenização por danos morais em
R$6.000,00, nos termos do acórdão (fls. 132/136) assim ementado:
AÇÃO INDENIZATÓRIA.Autor que teve fotos de sua autoria publicadas em jornal de grande
circulação, pleiteando indenização por danos morais e materiais decorrentes da violação de seus direitos autorais.
Não obstante haja contrato de trabalho firmado entre as partes, a publicação das fotos produzidas pelo autor depende de sua autorização expressa, que não foi dada no caso em comento. Aplicação dos artigos 22, 28 e 37 da Lei 9.610/98. Precedente do egrégio STJ.
Indenização pelos danos materiais decorrentes da violação de direitos
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autorais que deve ser arbitrada na quantia equivalente ao valor de venda de 2.000 exemplares do jornal, conforme orientação jurisprudencial do egrégio STJ.
Danos morais fixados em R$6.000,00, em face da totalidade das fotos nesta causa apreciadas, considerando não só a capacidade econômica do autor o dano, o caráter punitivo da condenação e a extensão da lesão imposta à vítima, bem como o nível sócio-econômico desta última e a vedação ao enriquecimento sem causa, mas também o fato de que a publicação das fotos não acarretou profundo abalo psicológico ao autor e tampouco o expôs a vexame ou humilhação.
Sentença que se reforma.
Embargos de declaração: interpostos pela recorrente, foram rejeitados
pelo TJ/RJ (fls. 144/147).
Recurso especial: alega violação dos arts. 460 e 535, I e II, do CPC; 22, 28
e 37 da Lei nº 9.610/98; 4º e 5º da LICC; e 186, 927 e 944 do CC/02 (fls. 148/163).
Prévio juízo de admissibilidade: o TJ/RJ negou seguimento ao recurso
especial (fls. 168/169), dando azo à interposição de agravo de instrumento, ao qual dei
provimento para determinar a remessa dos autos a este STJ (fls. 217).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
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VOTO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):
Cinge-se a lide a determinar a existência de violação de direitos autorais na
publicação de fotografias em jornal – sem autorização expressa – presente a
peculiaridade de o fotógrafo ser empregado contratado da empresa jornalística.
I. Do prequestionamento
Constata-se a falta de prequestionamento do art. 927 do CC/02, a despeito
da interposição de embargos de declaração, o que inviabiliza a apreciação do recurso
especial à luz desse dispositivo legal, por força do óbice da Súmula 211/STJ.
II. Da negativa de prestação jurisdicional. Violação do art. 535, I e II,
do CPC.
A prestação jurisdicional dada corresponde àquela efetivamente objetivada
pelas partes, sem vícios a serem sanados. O TJ/RJ se pronunciou de maneira a abordar a
discussão de todos os aspectos fundamentais do julgado, dentro dos limites que lhe são
impostos por lei, tanto que integram o objeto do próprio recurso especial e serão
enfrentados logo adiante.
O não acolhimento das teses contidas no recurso não implica obscuridade,
contradição ou omissão, pois ao julgador cabe apreciar a questão conforme o que ele
entender relevante à lide. O Tribunal não está obrigado a julgar a questão posta a seu Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 5 de 30
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exame nos termos pleiteados pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento,
consoante dispõe o art. 131 do CPC.
Constata-se, na realidade, o inconformismo da recorrente e a tentativa de
emprestar aos embargos de declaração efeitos infringentes, o que não se mostra viável no
contexto do art. 535 do CPC.
Dessa forma, é correta a rejeição dos embargos de declaração, posto
inexistir omissão ou contradição a ser sanada e, por conseguinte, ausência de ofensa ao
art. 535 do CPC.
III. Da inexistência de obra intelectual passível de proteção. Violação
dos arts. 22, 28 e 37 da Lei nº 9.610/98.
Alega a recorrente que “as fotografias objeto da presente demanda foram
feitas em virtude do contrato de trabalho havido entre a ora recorrente e o autor”,
concluindo que “como houve uma 'encomenda' prévia das fotos a serem tiradas pelo
autor – que recebia salário mensal pela realização das mesmas – não houve uma 'criação',
ou seja, a captação de um momento ou de um fato que ensejasse a partir dele a realização
de uma matéria. Não. No caso em tela, o texto, a matéria escrita, é que ensejou a
realização da foto” (fl. 155).
a. Da inclusão da fotografia no conceito de obra intelectual.
Salienta-se, inicialmente, que, ao contrário do sustentado pela recorrente, as
fotografias em questão, enquanto resultado do espírito criador humano, devem ser
consideradas obras intelectuais sujeitas à proteção conferida pela Lei nº 9.610/98.
Como bem observa João Henrique da Rocha Fragoso, “a fotografia é o déjà
vu por excelência e a essência de sua arte, mais do que captar uma imagem, é sublimar
um momento, projetando-o para o futuro” (Direito autoral. Da antiguidade à internet .
São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 147).
Esta Corte já se manifestou mais de uma vez sobre o tema, tendo decidido Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 6 de 30
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que “a fotografia, na qual presentes técnica e inspiração, e por vezes oportunidade, tem
natureza jurídica de obra intelectual, por demandar atividade típica de criação, uma vez
que ao autor cumpre escolher o ângulo correto, o melhor filme, a lente apropriada, a
posição da luz, a melhor localização, a composição da imagem etc.” (REsp 121.757/RJ,
4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 08.03.2000. No mesmo
sentido: REsp 617.130/DF, 3ª Turma, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de
02.05.2005).
Acrescente-se, por oportuno, que o fato de a fotografia ter sido tirada por
encomenda ou ordem de um superior hierárquico, estando vinculada a um tema ou
reportagem específicos, não descaracteriza sua natureza de obra intelectual. Mesmo nessa
situação, haverá influência direta da habilidade e dos traços criativos agregados pelo
autor, de modo a conferir originalidade e intenção estética ao trabalho executado.
Superada a questão atinente à natureza jurídica das fotografias objeto da
presente ação e tendo elas sido enquadradas na definição de obra intelectual, resta definir
até que ponto a relação de trabalho existente entre as partes interfere nos direitos autorais
respectivos.
b. Da jurisprudência do STJ.
Antes de enfrentar o mérito propriamente dito, é imperioso salientar que
quase a totalidade dos precedentes do STJ não possui similitude fática com a hipótese
dos autos. Vejam-se: REsps 750.822/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
de 01.03.2010; 132.896/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 04.12.2006; e
69.134/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 30.10.2000; e 236.020/ES, 4ª
Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 08.05.2000. Isso se refere
inclusive àquele mencionado no acórdão recorrido (REsp 617.130/DF, 3ª Turma, Rel.
Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 02.05.2005). Esses julgados tratam da situação em
que a fotografia é publicada sem a indicação do nome do autor, circunstância de que não
se cogita neste processo.
Na realidade, mediante busca na jurisprudência da Corte, identifiquei Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 7 de 30
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apenas um precedente que se amolda à hipótese retratada nestes autos. Trata-se do já
citado REsp 121.757, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de
08.03.2000, em que se decidiu pela impossibilidade de “cessão não-expressa dos direitos
do autor advinda pela simples existência do contrato de trabalho, havendo necessidade,
assim, de autorização explícita por parte do criador da obra”. Nesse caso, porém, a 4ª
Turma não analisou a questão à luz da Lei nº 9.610/98, tendo se pautado pela aplicação
do art. 649 do CC/16, por ser a “norma vigente ao tempo da celebração desse ajuste, sob
pena de violação do ato jurídico perfeito”.
Sendo assim, a questão merece ser reapreciada, agora sob o enfoque da
legislação em vigor.
c. Da obra intelectual resultante de vínculo empregatício. Análise à luz
da legislação em vigor.
No atual estágio de desenvolvimento da sociedade, torna-se cada vez mais
comum que o produto do trabalho humano seja uma obra intelectual, muitas vezes
passível de proteção autoral. Cite-se, como exemplo, além da hipótese dos autos, os
roteiristas que criam histórias para exibição em redes de televisão.
Se, por um lado, é certo que se deve reconhecer aos empregados a autoria
dessas obras, não é menos certo, por outro, que para tanto são contratados e remunerados
pelos seus empregadores.
Dessa forma, o cerne da controvérsia está em definir em que medida o
salário recebido pelo empregado transfere ao empregador os direitos de autor relativos às
obras criadas como consequência exclusiva da atividade laboral.
Apesar de a Lei nº 9.610/98 não possuir regra expressa acerca dos direitos
autorais relativos a obras produzidas sob regime de trabalho, é possível identificar
dispositivos com aplicabilidade à espécie, tendo em vista o caráter contratual da relação
de emprego.
De acordo com os arts. 28 e 29, “cabe ao autor o direito exclusivo de
utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica”, dependendo de sua prévia Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 8 de 30
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e expressa autorização “a utilização da obra, por quaisquer modalidades”. O art. 49, por
sua vez, estabelece que “os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente
transferidos a terceiros”. Finalmente, merece atenção o art. 27, segundo o qual “os
direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis”.
A interpretação sistemática dessas normas, aliada à regra geral contida no
art. 884 e seguintes do CC/02, que coíbe o enriquecimento sem causa, permite inferir
que, havendo vínculo empregatício, o salário pago ao empregado representa a
remuneração pelo uso patrimonial da obra resultante do regular exercício do seu trabalho.
Em outras palavras, como contrapartida pelo salário recebido mensalmente, o empregado
autoriza seu empregador a explorar economicamente as obras provenientes do trabalho
para o qual foi contratado.
Na lição de Antônio Chaves, estando criador e encomendante unidos por
relação de emprego, apartam-se nitidamente
dois campos: aquele de quem encomendou e custeou a obra, que obtém a cessão da parte patrimonial do direito para a finalidade especificamente convencionada, dispensada a autorização, que é implícita, para o aproveitamento normal e imediato, sem cogitar de outra retribuição, a não ser a combinada; e o do criador material da obra, seu 'pai' intelectual, que conserva todos os direitos morais decorrentes da paternidade (Direito do autor . Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 146).
Carlos Alberto Bittar complementa esse raciocínio, anotando que “isso se
deve ao fato de o criador ser remunerado exatamente para o objetivo final visado pelo
encomendante (nos casos, as empresas), a que se relaciona por vínculo de subordinação”
(Direito de autor, 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 42).
Com efeito, a transferência ao empregador dos direitos patrimoniais sobre
essas obras – oriundas exclusivamente da relação de emprego – exsurge como
consequência lógica da remuneração recebida pelo empregado, sendo razoável supor a
existência de acordo tácito nesse sentido, como forma de justificar o pagamento do
salário. Por outro lado, esse mesmo salário não tem o condão de desfazer o liame
subjetivo do autor com sua obra, persistindo o vínculo de caráter moral, que pertence à
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própria essência do direito de autor.
Outrossim, tendo em vista que, havendo vínculo laboral entre autor e
encomendante, a transmissão dos direitos autorais de natureza patrimonial ocorre de
maneira tácita, torna-se imperioso determinar os limites dessa transferência.
d. Dos limites da transferência dos direitos patrimoniais sobre a obra
intelectual resultante de vínculo empregatício.
O art. 31 da Lei nº 9.610/98 consagra o princípio da divisibilidade dos
direitos de autor, dispondo que as diversas maneiras de utilização da obra intelectual são
independentes entre si, de sorte a maximizar o aproveitamento da criação pelo autor.
Portanto, o autor da obra pode explorar sua criação da forma que melhor lhe aprouver,
inclusive mediante transferências a pessoas distintas, em caráter parcial.
Ademais, há de se considerar que, nos termos do art. 49, VI, da Lei nº
9.610/98, “não havendo especificações quanto à modalidade de utilização, o contrato será
interpretado restritivamente, entendendo-se como limitada apenas a uma que seja aquela
indispensável ao cumprimento da finalidade do contrato”.
Dessa forma, como na relação de emprego, a transferência em questão está
implícita, deve-se presumir ter havido tão somente a transmissão dos direitos
patrimoniais indispensáveis e consentâneos com a finalidade da atividade exercida pelo
empregado (autor da criação) na empresa.
Vale, nesse ponto, nova referência aos ensinamentos de Carlos Alberto
Bittar, em comentário específico sobre essa questão. Ele anota que “remanescem na
esfera do autor os direitos morais e todos os demais direitos patrimoniais não alcançados
por sua atuação específica (...), a menos que os transfira por meio de contratos
adequados”, trazendo exemplo emblemático para a situação dos autos, de que “não pode
a empresa jornalística publicar depois, em outros veículos, os trabalhos feitos para jornal”
(ob. cit., p. 42).
A despeito dessa valiosa orientação, saliento que a demarcação exata dos
limites em que se dá a transmissão constitui tarefa árdua e complexa, que exige, salvo Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 1 0 de 30
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melhor juízo, soluções distintas conforme as peculiaridades de cada caso. Qualquer
tentativa de estabelecimento de uma regra geral quanto à extensão dessa transferência
patrimonial se mostraria temerária, pois não há como generalizar as particularidades
inerentes a cada relação de trabalho.
Assim, admitida a premissa de que essa transmissão ocorre nos limites do
trabalho para o qual foi contratado o autor, qualquer delimitação para além daí – como,
por exemplo, o prazo de duração dessa transferência – deve levar em consideração as
singularidades de cada caso.
e. Das fotografias enquanto obra intelectual resultante de vínculo
empregatício. Os limites da transferência dos direitos patrimoniais respectivos.
Na hipótese específica do fotógrafo contratado por empresa jornalística,
salvo estipulação contratual expressa em contrário, penso que a transferência do direito
patrimonial sobre as obras intelectuais se opera de forma definitiva, mas se vincula às
reportagens para as quais foi produzida e exclusivamente para utilização direta pela
empregadora. Vale dizer que as fotos tiradas por empregado podem ser usadas, pela
própria empresa, quantas vezes esta quiser, desde que como parte integrante da
reportagem que deu origem a esse trabalho.
Esse raciocínio, mutatis mutandis , guarda consonância com o art. 49, V, da
Lei nº 9.610/98, o qual dispõe que “a cessão só se operará para modalidades de utilização
já existentes à data do contrato”. No contexto da relação de emprego entre fotógrafo e
empresa jornalística, pode-se entender por modalidade de utilização existente à data do
contrato, o fim a que se destinam as fotografias ao serem tiradas, ou seja, para integrar
uma determinada reportagem a ser incluída em periódico elaborado pela própria
empregadora.
Viabiliza-se, com isso, a republicação de reportagens, mas não sua
comercialização com terceiros, tampouco o aproveitamento das fotos em outras matérias,
para as quais não fora originalmente idealizada, situações que certamente representam
ofensa ao direito autoral do fotógrafo, já que extrapolam a finalidade presumida do Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 1 1 de 30
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trabalho para o qual foi contratado.
f. Da hipótese dos autos.
No particular, o recorrido, conforme ele mesmo admite, manteve relação de
emprego com a recorrente “de novembro de 1994 e fevereiro de 2005” (fl. 02), sendo
que, ainda segundo suas próprias alegações, as fotografias que teriam sido publicadas
sem sua autorização foram veiculadas nas edições de jornais que circularam nos meses de
março, abril e dezembro de 2002 (fl. 03).
Diante disso, com base no entendimento desenvolvido nos parágrafos
anteriores, a recorrente teria agido nos termos do contrato de trabalho celebrado com o
recorrido, limitando-se a explorar economicamente as fotografias consoante sua
destinação inicial, isto é, como ilustração das reportagens para as quais foram
originalmente tiradas.
Entretanto, deve-se atentar para o fato de que, conforme relatado na petição
inicial, o recorrido trabalhou “exercendo as funções de repórter e fotógrafo desde aquela
data [novembro de 1994], e recebendo apenas pela primeira função, tendo continuado a
exercer a segunda função, sem vencimento desde novembro de 1994, com medo de
perder o emprego” (fl. 02). Essa assertiva deve ser tomada como verdadeira, pois não foi
contestada pela recorrente, o que lhe incumbia fazer com base no princípio da
impugnação específica, previsto no art. 302 do CPC.
Dessarte, como não era remunerado pelo trabalho de fotógrafo, não há de se
cogitar a transmissão, à recorrente, dos direitos patrimoniais inerentes às fotos por ele
tiradas no exercício de seu mister.
No particular, pois, não se verifica qualquer violação dos arts. 22, 28 e 37
da Lei nº 9.610/98.
IV. Da existência de decisão ultra petita. Violação do art. 460 do CPC.
Afirma a recorrente que o TJ/RJ teria proferido decisão ultra petita , na Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 1 2 de 30
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medida em que “o autor requereu em seu recurso, fls. 91, que a Editora fosse condenada
a pagar R$2.600,00 (dois mil e seiscentos reais), por cada foto publicada, como
indenização patrimonial por violação ao direito autoral”, tendo o acórdão fixado a
indenização em “quantia equivalente a 2.000 (dois mil) exemplares do jornal ora
recorrente, por cada foto” (fl. 158).
Consoante decisões reiteradas desta Corte, “fere o princípio da adstrição o
julgado que aprecia a apelação fora do pedido formulado nas razões recursais” (REsp
254.174/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 19.03.2001. No mesmo
sentido: EDcl no REsp 536.611/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de
14.06.2004; EDcl no REsp 674.470/SE, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ
de 05.09.2005; EDcl no REsp 756.885/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, DJe de 03.03.2008).
Na hipótese dos autos, constata-se que, de fato, o recorrido requereu a
reforma parcial da sentença, para que a recorrente fosse condenada a pagar indenização
no valor de “R$2.600,00 (dois mil e seiscentos reais) por fotografia indevidamente
publicada” (fl. 95).
Houve, portanto, a delimitação da extensão desse ponto da apelação, de
modo que não era dado ao Tribunal ultrapassar o limite estabelecido pelo pedido recursal.
Assim, o acórdão recorrido deve ser parcialmente reformado, tão-somente
para consignar que o quantum apurado em liquidação, a título de danos materiais, não
deve ultrapassar o valor do pedido recursal (a ser atualizado monetariamente a partir
22.05.2006, data do protocolo da apelação).
V. Do valor fixado a título de danos morais. Violação dos arts. 4º e 5º
da LICC; e 186 e 944 do CC/02.
Sustenta a recorrente que a indenização por danos morais, arbitrada pelo
TJ/RJ em R$6.000,00, “não é compatível com a realidade dos autos, já que o autor
recebia mensalmente o seu salário, justamente para prestar esse serviço” (fl. 162).
Inicialmente, impende frisar que as indenizações por danos materiais e Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 1 3 de 30
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morais não se confundem. Assim, ainda que, ad argumentandum , o salário pago ao
recorrido incluísse seu trabalho de fotógrafo, essa remuneração, como visto, abrangeria
unicamente os direitos patrimoniais sobre suas obras.
Não bastasse isso, verifica-se que o montante fixado a título de danos
morais pelo TJ/RJ encontra-se em patamares absolutamente razoáveis, inexistindo
exorbitância, circunstância necessária para justificar sua revisão nesta sede, conforme
entendimento pacífico desta Corte. Confira-se, à guisa de exemplo, o seguinte
precedente: EREsp 435.157/MG, 2ª Seção, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de
28.06.2004.
Inexiste, pois, qualquer ofensa dos arts. 4º e 5º da LICC; e 186 e 944 do
CC/02.
Forte nessas razões, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial,
unicamente para determinar que, na liquidação do valor fixado a título de danos
materiais, se atente para o limite determinado pelo pedido recursal, nos termos acima
delineados.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2008/0040376-9 REsp 1034103 / RJ
Números Origem: 20050630102222 200600146373 2006221535 200701012675 200713500024 200713703970 242007 463732006
PAUTA: 18/05/2010 JULGADO: 20/05/2010
RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EDITORA O DIA S/AADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGAADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, dando parcial provimento ao recurso especial, pediu vista, antecipadamente, o Sr. Ministro Sidnei Beneti. Aguardam os Srs. Ministros Massami Uyeda, Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA).
Brasília, 20 de maio de 2010
MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHASecretária
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGA ADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
VOTO-VOGAL
EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA:
Srs. Ministros, tenho condições de proferir o meu voto, porque eu já
havia recebido, antecipadamente, na ocasião da sessão anterior, o voto da Sra.
Ministra Nancy Andrighi, e estava aguardando o posicionamento do Sr. Ministro
Sidnei Beneti, que também me encaminhou.
Sopesei todos os argumentos, são ambos respeitáveis. Aqui está
em jogo uma questão que não diz só respeito ao contrato de trabalho, mas também
à produção intelectual, mas, com a máxima vênia, vou divergir da Sra. Ministra
Nancy Andrighi e acompanhar o voto do Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Para tanto, o que me impressionou muito foi que, no voto do Sr.
Ministro Beneti, S. Exa. dá uma síntese do que o autor pleiteou em sua inicial:
"Dado a gravidade do fato, o autor requer
........................................................................
.... agências de distribuição de fotografia".
Parece-me que um pedido formulado com essa extensão tem que
ser realmente analisado com muita parcimônia, com muito cuidado, mormente
porque, como também assinala o Sr. Ministro Sidnei Beneti no seu voto-vista, que
não teve a oportunidade de lê-lo, mas estava apenas fazendo um resumo – e a
Sra. Ministra Nancy Andrighi leu, percucientemente, aqui, o seu voto –, S. Exa. diz:
"A questão nesses autos, contudo, é outra
.........................................................................
.. suplementar ou do contrato de trabalho".
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De fato, aqui no processo, pelo voto da Sra. Ministra Nancy
Andrighi, diz-se que ele foi contratado como repórter e que, no desempenho,
também tirava fotografias, mas que nunca denunciou isso porque tinha medo de
perder o emprego.
Ministro MASSAMI UYEDA
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2008/0040376-9 [PROCESSO_ELETRONICO] REsp 1034103 / RJ
Números Origem: 20050630102222 200600146373 2006221535 200701012675 200713500024 200713703970 242007 463732006
PAUTA: 18/05/2010 JULGADO: 25/05/2010
RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EDITORA O DIA S/AADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGAADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Sidnei Beneti, dando provimento ao recurso especial, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Massami Uyeda, pediu vista o Sr. Ministro Vasco Della Giustina. Aguarda o Sr. Ministro Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA).
Brasília, 25 de maio de 2010
MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHASecretária
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGA ADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
VOTO-VISTA
O EXMO. SR. MINISTRO VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS): Consoante o bem exposto pela
eminente Ministra-Relatora, noticiam os autos que CARLOS FREDERICO DA
SILVA FRAGA ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais, em face da
EDITORA O DIA S/A, por violação de direito autoral, decorrente da publicação em
jornal, de fotografias pelo mesmo produzidas durante a vigência de seu contrato de
trabalho com o referido veículo de comunicação.
O juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na exordial, condenando a ora recorrente (EDITORA O DIA S/A) "ao
pagamento de indenização pelos danos patrimoniais sofridos, no valor de R$ 100,00
(cem reais) por fotografia cedida" , e "indenização, a título de danos morais, no valor
equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos que, atualmente, perfaz o total de R$
14.000,00 (quatorze mil reais)" (fls. 84/91).
Irresignadas, ambas as partes manejaram recursos de apelação.
A Primeira Câmara Cível do Eg. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos dos seus integrantes, proveu parcialmente tanto o
apelo do ora recorrido, majorando a indenização por danos materiais para o valor de
venda de 2.000 (dois mil) exemplares do jornal por foto indevidamente publicada,
quanto o apelo da ora recorrente, fixando a indenização por danos morais em R$
6.000,00 (seis mil reais). O aresto na ocasião exarado restou assim ementado:
"AÇÃO INDENIZATÓRIA.Autor que teve fotos de sua autoria publicadas em jornal de grande circulação, pleiteando indenização por danos morais e materiais decorrentes
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da violação de seus direitos autorais.Não obstante haja contrato de trabalho firmado entre as partes, a publicação das fotos produzidas pelo autor depende de sua autorização expressa, que não foi dada no caso em comento. Aplicação dos artigos 22, 28 e 37 da Lei n.º 9.610/98. Precedente do egrégio STJ.Indenização pelos danos materiais decorrentes da violação dos direitos autorais que deve ser arbitrada na quantia equivalente ao valor de venda de 2.000 exemplares do jornal, conforme orientação jurisprudencial do egrégio STJ.Danos morais fixados em R$ 6.000,00, em face da totalidade das fotos nesta causa apreciadas, considerando não só a capacidade econômica do autor do dano, o caráter primitivo da condenação e a extensão da lesão imposta à vítima, bem como o nível sócio econômico desta última e a vedação ao enriquecimento sem causa, mas também o fato de que a publicação das fotos não acarretou profundo abalo psicológico ao autor e tampouco o expôs a vexame ou humilhação.Sentença que se reforma." (fl. 132)
Após terem sido opostos e rejeitados os embargos de declaração da demandada,
ainda irresignada, interpôs a mesma o recurso especial que ora se apresenta, sob o
fundamento de que malferidos os arts. 460 e 535, I e II, do CPC; 22, 28 e 37, da Lei .º
9.610/98; 4.º e 5.º, da Lei de Introdução ao Código Civil; e 186, 927 e 944, do Código
Civil vigente.
Na origem, em exame de prelibação, o recurso recebeu crivo negativo de
admissibilidade, ascendendo a esta Corte Superior por força do decidido nos autos do
Agravo de Instrumento n.º 909.001/RJ.
Levado o feito a julgamento pela egrégia Terceira Turma, após a prolação do
voto da ilustre relatora, conferindo parcial provimento ao recurso especial, para
tão-somente determinar que, na liquidação do valor fixado a título de danos materiais,
se atente para o limite determinado pelo pedido formulado pelo autor em sede de
apelação, e do voto-vista do e. Ministro Sidnei Beneti, que dá integral provimento ao
especial, no que acompanhado pelo e. Min. Massami Uyeda, pedi vista dos autos para
melhor exame da controvérsia.
É o breve relatório.
No que se refere ao cerne do especial, com as devidas vênias, perfilho-me ao
entendimento externado pelo e. Min. Sidnei Beneti, que inaugurou a divergência.
Deveras, como preliminarmente ressalvado no voto do e. Min. Sidnei Beneti, a Documento: 975006 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/09/2010 Página 2 0 de 30
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fotografia é obra protegida por direito do autor e, ainda que produzida na constância
de relação de trabalho, integra a propriedade imaterial do mesmo, pouco importando se
valorada como obra de especial caráter artístico ou não, pois, nas palavras do e.
Ministro, "sempre produto do engenho humano concretizada através das lentes da
máquina fotográfica e outros elementos da técnica".
A questão que se põe, todavia, consiste em saber se o profissional sujeito a
relação de trabalho continuada e que tem, como mister de seu ofício, a produção de
fotografias a serem utilizadas pelo jornal publicado por seu empregador, recebendo,
como contraprestação por seu esforço laboral, salário, faz ou não jus a nova
retribuição financeira pela utilização ou reutilização de suas fotos pelo mesmo veículo
jornalístico, sob o fundamento de que inexistente contrato de cessão de direitos
autorais firmado com sua empregador.
Dúvida não há, como bem posto no voto inaugurador da divergência, que se
houver cessão da obra pelo empregador a terceiro ou utilização em atividade estranha
àquela por ele desenvolvida e para a qual contratado o autor da obra, teria este direito
à indenização. Na hipótese, dos autos, porém, com as vênias de estilo ao bem lançado
voto da e. Min. Relatora, não vislumbro direito do autor da demanda à indenização,
seja ela de ordem material ou moral.
Neste particular, tenho como precisos e suficientes os fundamentos já
externados no voto exarado pelo e. Min. Sidnei Beneti, que tomo a liberdade de
reproduzir, adotando, também, como razões de decidir, litteris:
"(...) Não há, no caso, como dar ao profissional fotógrafo, submetido a relação consumativa de trabalho, tratamento privilegiado diante de outros profissionais submetidos à mesma forma contratual, pela qual cedem ao empregador a força física e intelectual do trabalho, desde as mais simples às mais complexas. A função do profissional fotógrafo na constância do contrato de trabalho é produzir a fotografia, para cuja produção recebe o salário. É da essência do contrato individual de trabalho que o empregador remunere toda a atividade do trabalhador com o salário e com o trabalhador ofereça a contra-prestação reiterada de atividade em prol do empregador - no caso, a fotografia, que passa à fruição do empregador em sua atividade, para a qual contratado o fotógrafo. O profissional fotógrafo não é contratado como tarefeiro, para cada
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foto que venha a produzir, mas sim, e ao contrário, para a prestação continuada de trabalho fotográfico, de modo que não se pode amparar a pretensão a recebimento de pagamento suplementar ao do contrato de trabalho, a cada foto que venha a produzir, porque a produção continuada delas é da essência de seu trabalho remunerado e, porque, uma vez produzida a foto, pode o empregador, que já remunerou toda a atividade do fotógrafo, utilizar do produto na empresa para a qual trabalha o profissional fotógrafo. O empregador tem obrigação de preservar o direito autoral moral do fotógrafo. Tem, igualmente, a obrigação de não ultrapassar os limites dentro dos quais produzida a obra - ou seja, para uso em sua atividade - de modo que não pode cedê-la a terceiro. Mas não há como exigir ao empregador a exaustão do direito ao uso da obra do profissional empregado a cada uso, de modo a ter de com ele negociar, mediante cessão, uso futuro, em outros produtos da empresa. Pelo exposto, dá-se provimento ao Recurso Especial, por violação dos arts. 22,28 e 37 da Lei 9610/98 (...)."
Ante o exposto, pedindo vênia a e. Min. Relatora, DOU PROVIMENTO ao
presente recurso especial, acompanhando a divergência inaugurada pelo e. Min.
Sidinei Beneti, nos termos da fundamentação supra.
É como voto.
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA) (Relator):
Sr. Presidente, com todo o respeito ao voto da eminente Ministra Nancy Andrighi, faço minhas as palavras do eminente Ministro Vasco Della Giustina, dando provimento ao recurso especial para julgar improcedente a ação.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2008/0040376-9 REsp 1.034.103 / RJ
Números Origem: 20050630102222 200600146373 2006221535 200701012675 200713500024 200713703970 242007 463732006
PAUTA: 18/05/2010 JULGADO: 22/06/2010
RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Relator para AcórdãoExmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EDITORA O DIA S/AADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGAADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Vasco Della Giustina, dando provimento ao recurso , a Turma, por maioria, deu provimento ao recurso especial. Vencida a Sra. Ministra Relatora. Votaram com o Sr. Ministro Sidnei Beneti, os Srs. Ministros Massami Uyeda, Vasco Della Giustina e Paulo Furtado. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Brasília, 22 de junho de 2010
MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHASecretária
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.034.103 - RJ (2008/0040376-9)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : EDITORA O DIA S/A ADVOGADOS : JOSEVAL SIRQUEIRA
EDUARDO SÉRGIO E OUTRO(S)RECORRIDO : CARLOS FREDERICO DA SILVA FRAGA ADVOGADO : JORGE LUIZ CORRÊA SANT'ANA
VOTO-VISTA (VENCEDOR)
O EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI:
1.- O autor moveu ação de indenização por dano moral contra o
Recorrente, visando ao recebimento de indenização por publicação pelo Recorrido de
fotos por ele, Autor, tiradas, (número de 13 ou outros, p. ex, fl. 7) quando fotógrafo da
Recorrente sob contrato individual de trabalho no período de novembro de 1994 a
fevereiro de 2005, “apesar de não ter havido a cessão expressa dos direitos, conforme
determina o artigo 28 da Lei 9.610/98, ainda que havendo uma relação de trabalho,
mas sem a autorização explícita do autor quanto a sua obra”, sustentando que a
publicação das fotos tinha de restringir-se às matérias para as quais destinadas e não a
outras publicadas pela mesma Recorrente empregadora ou cedidas a terceiros,
relacionadas na inicial (fls. 7).
Pleiteou a inicial: “Dado à gravidade do fato, o Autor requer seja o
Réu condenado ao pagamento da indenização equivalente a R$ 650.000,00 (...), sendo
R$ 338.000,00 (...) pela publicação das 13 fotografias sem a autorização explícita do
Autor e R$ 312.000,00 (...) de indenização por danos morais ao Autor” (fls. 7), com a
condenação do Editor do jornal “à pena de reclusão de 4 (...) anos, por violação do art.
184 do CP”, a “fixação da multa de R$ 50.000,00 (...) pela reprodução de cada uma
das 11 fotografias supracitadas do Autor, sem sua autorização expressa” (fls. 7),
fixação de “multa diária de R$ 10.000,00 (...) por foto publicada de autoria do Autor
no jornal editado pelo Réu, ou cedida indevidamente a outros jornais, revistas e
agências de distribuição de fotografia” (fls. 7).
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2.- A sentença (fls. 84/91) condenou o ora Recorrente ao pagamento
da importância de “indenização por danos patrimoniais sofridos, no valor de R$
100,00 (...) por fotografia cedida” (fls. 91), anotando, na motivação, que se tratava de
cada “fotografia cedida à SEAAPI” (fls. 88/89).
O Acórdão (Rel. Desª MARIA AUGUSTA VAZ M. DE
FIGUEIREDO, fls. 132/136) deu provimento parcial à apelação do Autor e à do Réu,
sendo o “parcial provimento da primeira apelação para majorar o dano material e à
segunda para reduzir o dano moral” (fls. 132), fazendo-o sob a Ementa e a
fundamentação que, no essencial, seguem (fls. 132 e 133/136):
“AÇÃO INDENIZATÓRIA.
“Autor que teve fotos de sua autoria publicadas em jornal de grande circulação, pleiteando indenização por danos morais e materiais decorrentes da violação de seus direitos autorais.
“Não obstante haja contrato de trabalho firmado entre as partes, a publicação das fotos produzidas pelo autor depende de sua autorização expressa, que não foi dada no caso em comento. Aplicação dos artigos 22, 28 e 37 da Lei 9610. Precedente do egrégio STJ.
“Indenização pelos danos materiais decorrentes da violação de direitos autorais que deve ser arbitrada na quantia equivalente ao valor de venda de 2.000 exemplares do jornal, conforme orientação jurisprudencial do egrégio STJ.
“Danos morais fixados em R$ 6.000,00, em face da totalidade das fotos nesta causa apreciadas, considerando não só a capacidade econômica do autor do dano, o caráter punitivo da condenação e a extensão da lesão imposta à vítima, bem como o nível sócio-econômico desta última e a vedação ao enriquecimento sem causa, mas também o fato de que a publicação das fotos não acarretou profundo abalo psicológico ao autor e tampouco o expôs a vexame ou humilhação.
“Sentença que se reforma”.
3.- A fotografia sem dúvida que é obra protegida por direito do autor,
e, ainda que produzida na constância de relação de trabalho, integra a propriedade
imaterial do fotógrafo autor, não importando se valorada como obra de especial caráter
artístico ou não, pois sempre produto do engenho humano concretizado através da arte
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do uso das lentes da máquina fotográfica e outros elementos da técnica.
Seria acaciano divagar para demonstrar esse direito mais que assente e
incontroverso, como tranquilamente reconhecido por esta Corte, destacando-se
julgado, lembrado pela sentença, de que Relator o E. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, assim ementado: “DIREITO AUTORAL – Fotografia –
Publicação sem autorização – Impossibilidade – Obra criada na constância do contrato
de trabalho – Direito de cessão exclusivo do autor – Aplicação do hoje revogado art.
649 do CC – Dano moral – Violação do direito – Parcela devida – Dano material –
Prejuízo caracterizado – Apuração – Liquidação por arbitramento – Recurso acolhido”
(STJ – REsp nº 121757-RJ-4ª T., DJU 8.3.2000).
4.- No tocante à propriedade imaterial de direito de autor é preciso
sempre distinguir os direitos morais dos direitos patrimoniais decorrentes da obra de
autor – no caso, a fotografia.
5.- A Lei dos Direitos Autorais, expressamente invocada pelo Autor
(Lei Lei 9.610/98) dispõe, no art. 22, que “pertencem ao autor os direitos morais e
patrimoniais sobre a obra que criou”.
Os direitos morais são especificados na longa enumeração do art. 24,
em itens destinados a garantir o que o saudoso CARLOS ALBERTO BITTAR
caracterizou como “os vínculos perenes que unem o criador à sua obra, para a
realização da defesa de sua personalidade” (“Direito de autor”, p. 44).
São direitos de paternidade. Devido a esses direitos morais é que ao
autor é garantido, por exemplo, que qualquer utilização da obra se realize com a
divulgação do próprio nome, assegurando-lhe o direito de permanecer inédito e de
realizar alterações na obra. São direitos imprescritíveis, sobrevivem ao autor e “não
podem ser objeto de contrato”, de forma que “qualquer estipulação contratual tendo
em vista os direitos morais é nula de pleno direito” (PLÍNIO CABRAL, “A Nova Lei
de direitos Autorais”, S. Paulo, ed. Harbra, 4ª ed., 2003, p. 45).
No caso presente, os direitos morais do Autor foram absolutamente
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respeitados, pois sempre se deram os “créditos” de autor às suas fotografias
publicadas.
6.- A mesma Lei dos Direitos Autorais (Lei 9610/98) estabelece quais
são os direitos patrimoniais do autor, dispondo, no art. 28, que “cabe ao autor o direito
exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica”,
seguindo-se, no art. 29, a regra geral, seguida de longa enumeração explificativa, de
que “depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por
quaisquer modalidades, tais como... (...).
“O direito patrimonial do autor liga-se ao conceito de propriedade” (PLÍNIO CABRAL, ob. cit., p. 48). Pode haver transferência dos direitos patrimoniais de autor (Lei 9610/98, art. 49). Podem ser objeto de contrato. No âmbito contratual, os direitos patrimoniais inserem-se em meio à própria situação contratual patrimonial em que gerados.
7.- No âmbito da transferibilidade dos direitos autorais patrimoniais é
que se coloca o debate dos autos. A questão é a seguinte: o profissional sujeito a
relação de trabalho continuada, cuja finalidade é a realização de tarefas específicas de
seu mister, tem direito patrimonial de autor a cada contra-prestação laborativa em que
produz a sua obra? Ou, realizada a contra-prestação na continuidade do contrato de
trabalho, a obra pode ser utilizada pelo próprio contratante no futuro?
Não há dúvida de que, se houver cessão da obra pelo empregador a
terceiro, o autor terá direito a indenização, porque inadmissível que o empregador dela
disponha fora dos limites decorrentes do trabalho contratado para sua atividade de
fotógrafo.
Se o empregador transfere a obra a terceiro, mormente se o faz por
cessão onerosa, o autor tem direito de receber o equivalente ao produto de sua
atividade intelectual.
Nesse sentido os julgados lembrados nestes autos, a partir do já acima
transcrito, de que Relator o E. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (REsp nº
121757-RJ-4ª T., DJU 8.3.2000).
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8.- A questão nestes autos, contudo, é outra, ou seja, consiste em saber
se o empregador pode ele mesmo utilizar a obra, que integrou determinada matéria
jornalística, para cuja ilustração incumbido o profissional fotógrafo, em matéria
diversa.
Nesses precisos termos, como anotado pelo voto da E. Min. Relatora,
a questão nunca foi decidida por este Tribunal – donde a importância do presente
julgado, a definir tese que se antevê repetitiva (tanto que a ora Recorrente já informa
que o próprio Autor lhe moveu nada menos que 16 ações indenizatórias, até o dia da
contestação, 12.1.2006 – cf. fls. 40 e 47).
9.- Não há, no caso, como dar ao profissional fotógrafo, submetido a
relação continuativa de trabalho em atuação específica, tratamento privilegiado diante
de outros profissionais submetidos à mesma forma contratual, pela qual cedem ao
empregador a força física e intelectual do trabalho, de captação de imagens ilustrativas
fotográficas.
A função do profissional fotógrafo na constância do contrato de
trabalho é produzir fotografias, em atuação específica para cuja produção recebe
remuneração.
É da essência do contrato individual de trabalho que o empregador
remunere toda a atividade do trabalhador com o salário e que o trabalhador ofereça a
contra-prestação reiterada de atividade em prol do empregador – no caso, a fotografia,
que passa à fruição do empregador em sua atividade, para a qual contratado o
fotógrafo.
O profissional fotógrafo empregado não é contratado como tarefeiro,
para cada foto que venha a produzir, mas, sim, e ao contrário, para a prestação
continuada de trabalho fotográfico, de modo que não se pode amparar a pretensão a
recebimento de pagamento suplementar ao do contrato de trabalho, a cada foto que
venha a produzir, porque a produção continuada delas é da essência de seu trabalho
remunerado e de modo que, uma vez produzida a foto, pode o empregador, que já
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remunerou toda a atividade do fotógrafo, utilizar do produto na empresa para a qual
trabalha o profissional fotógrafo.
O empregador tem obrigação de preservar o direito autoral moral do
fotógrafo. Tem, igualmente, a obrigação de não ultrapassar os limites dentro dos quais
produzida a obra – ou seja, para uso em sua atividade – de forma que não a pode ceder
a terceiro sem autorização do fotógrafo.
Mas não há como exigir ao empregador a exaustão do direito ao uso
da obra do profissional empregado a cada uso, de modo a ter de com ele negociar,
mediante cessão, uso futuro, em outros produtos da empresa jornalística.
10.- Não foi discutido, nem decidido, no caso, se o autor havia sido
contratado apenas como fotógrafo, ou se como jornalista que também produzia fotos,
de maneira que essa matéria não pode ser aqui julgada, por absolutamente posta, desde
o início do processo, fora da controvérsia.
O que importa é que a inicial expôs a atividade do autor como
fotógrafo contratado como empregado da empresa e que assim se desenvolveu toda a
controvérsia. Não há como, a esta altura, alterar toda a discussão posta nos autos. Em
outro processo, se o assunto se apresentar, é que a matéria poderá ser enfrentada, para
o julgamento que se adequar ao caso.
11.- Pelo exposto pelo meu voto, dá-se provimento ao Recurso
Especial, por violação dos arts. 22, 28 e 37 da Lei 9610/98, julgando-se improcedente
a ação, condenado o autor-sucumbente ao pagamento de custas, despesas processuais e
honorários advocatícios, fixados, por equidade (CPC, art. 20, § 4º), em R$ 5.000,00
(cinco mil reais).
Ministro SIDNEI BENETI
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