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DETECÇÃO DE CASOS NOVOS DE HANSENÍASE NO CREDEN-PES-
GOVERNADOR VALADARES NOS ANOS DE 2006 A 2010 A PARTIR DO EXAME
DE CONTATOS
Cristiane Andrade Nunes1 Jovelina Borges dos Santos2
Markeline Lopes Monteiro e Silva3 Sonia Maria Barros4
Flávia Rodrigues Pereira5
RESUMO
O exame de contatos constitui em uma das estratégias de busca de novos casos de Hanseníase, que, se detectada precocemente, pode ser tratada e com isso diminuir as incapacidades e o estigma no meio familiar e social. Nesse contexto, esse estu-do, aborda uma metodologia quantitativa, de caráter descritivo e transversal sobre a detecção de casos novos de Hanseníase a partir do exame de contatos, nos perío-dos de 2006 a 2010 no Centro de Referências de Doenças Endêmicas e Programas Especiais Dr. Alexandre Castelo Branco –CREDEN PES- Governador Valadares, onde utilizou-se de seu banco de dados sobre os casos novos de Hanseníase inscri-tos, contatos e algumas variáveis como gênero, faixa etária, classificação operacio-nal e clínica, escolaridade, tipo de alta e grau de incapacidade, em conformidade com os dados da Gerência Epidemiológica/Coordenação Municipal de Hanseníase, com objetivo de conhecer sobre essa estratégia, sobre os contatos registrados e a-valiados, a sua importância e a caracterização dos casos novos diagnosticados por meio dela. Os resultados mostraram que, dentre 650 casos novos diagnosticados nesse período, 72 foram detectados a partir do exame de contatos. Algumas situa-ções importantes foram encontradas na caracterização desses 72 casos, como um predomínio entre os 15 a 19 anos (faixa etária), a forma paucibacilar predominante 77% (classificação operacional) e um grau de incapacidade zero em 85% dos casos. A partir dos resultados, constatou-se a importância da vigilância de contatos e como essa estratégia deve ser implementada pelas equipes de saúde nas unidades, prin-cipalmente pelo enfermeiro.
Palavras-chave: Hanseníase. Exame de contatos. Caracterização epidemiológica.
1 Acadêmica de Enfermagem, da Universidade Vale do Rio Doce.
E-mail: [email protected] 2 Acadêmica de Enfermagem, da Universidade Vale do Rio Doce.
E-mail: [email protected] 3 Acadêmica de Enfermagem, da Universidade Vale do Rio Doce.
E-mail: [email protected] 4 Acadêmica de Enfermagem, da Universidade Vale do Rio Doce.
E-mail: [email protected] 5 Orientadora, enfermeira e Mestranda, da Universidade Vale do Rio Doce / CREDEN-PES.
E-mail: [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
A Hanseníase é uma doença crô-
nica, causada pelo Micobacterium le-
prae (M. leprae) que tem afinidade pe-
las células cutâneas e nervos periféri-
cos, se manifestando por meio de le-
sões dermatológicas e alterações nas
funções neurais, resultando em inca-
pacidades físicas (VIEIRA et al., 2008).
O alto potencial incapacitante da
Hanseníase está diretamente relacio-
nado ao poder imunogênico do M. le-
prae (BRASIL, 2010).
O diagnóstico precoce e o trata-
mento adequado dos portadores de
Hanseníase são condições essenciais
para interromper a transmissão, pre-
venir a evolução da doença e reduzir
as consequências físicas e sociais, por
ela provocadas (BRASIL, 2002).
Para que isso aconteça, é neces-
sário que a equipe de saúde desenvol-
va algumas ações de controle, entre
elas, o monitoramento dos contatos
dos pacientes notificados.
De acordo com Brasil (2009), es-
se monitoramento deve ser feito a par-
tir do levantamento dos contatos intra-
domiciliares e da avaliação desses
indivíduos, configurando uma ação de
vigilância epidemiológica essencial ao
diagnóstico precoce e à ruptura das
cadeias de transmissão da Hansenía-
se, tornando-se estratégia central do
Programa Nacional de Controle da
Hanseníase.
Considerando essa ação de mo-
nitoramento relevante para a Saúde
Coletiva e como uma importante atri-
buição do enfermeiro, dentro da equi-
pe de saúde, buscou-se caracterizar
os casos novos de Hanseníase detec-
tados a partir do exame de contatos,
realizados no período de 2006 a 2010,
no Centro de Referência de Doenças
Endêmicas e Programas Especiais Dr.
Alexandre Castelo Branco (CREDEN-
PES) de Governador Valadares-MG.
Procurou-se conhecer o número
de contatos registrados e o número de
contatos avaliados nos anos em estu-
do; relacionar a importância entre a
avaliação de contatos e a detecção de
casos novos de Hanseníase e conhe-
cer alguns dados epidemiológicos dos
casos novos de Hanseníase detecta-
dos e diagnosticados por meio da ava-
liação de contatos no período estuda-
do, utilizando-se de metodologia quan-
titativa, descritiva e transversal.
A motivação dessa pesquisa pau-
tou-se na importância dessa doença,
tanto para seus portadores, em rela-
3
ção às suas representações, como nos
dados epidemiológicos de Governador
Valadares, evidenciados nas discipli-
nas de Epidemiologia, Saúde Coletiva,
Doenças Infecto-contagiosas e Estágio
Supervisionado em Saúde Pública do
Curso de Enfermagem da Universida-
de Vale do Rio Doce.
1.1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
DA HANSENÍASE, DO EXAME DE
CONTATOS E DO CREDEN-PES
A transmissão da Hanseníase o-
corre de maneira direta, por via respi-
ratória, a partir do contato prolongado
com pessoas doentes e sem tratamen-
to. O agente etiológico tem a capaci-
dade de infectar grande número de
indivíduos (alta infectividade), porém,
poucos adoecem (baixa patogenicida-
de); fato esse decorrente das caracte-
rísticas intrínsecas do bacilo e de sua
relação com o hospedeiro e o grau de
endemicidade do meio (BRASIL,
2010).
Em termos epidemiológicos, a do-
ença ainda é de grande importância,
uma vez que o coeficiente de detecção
geral por 100 mil habitantes no Brasil
encontrava-se em 25,44 no ano de
2000.
Em 2006, esse índice foi de 23,37
e, 17,65, em 2011. Concomitantemen-
te, o número de Unidades de Saúde
com pacientes em tratamento em todo
país, em 2000, era de 3.327, aumen-
tando o número para 6.988 em 2006, e
9.445, no ano de 2011, indicando uma
detecção precoce de tratamento e pre-
venção de incapacidades (BRASIL,
2012a; BRASIL, 2012b).
No entanto, o percentual de con-
tatos examinados (uma das estraté-
gias de vigilância da doença) teve um
declínio, sendo 60,9% dos contatos
examinados em 2000, 43,8%, em 2006
e 48,1%, em 2011. Em Minas Gerais,
no total de 4.296 contatos registrados,
2.596 foram examinados (60,4%) tam-
bém em 2011 (BRASIL, 2012a; BRA-
SIL, 2012b).
Em Governador Valadares, o es-
tudo realizado por Morais (2010) de-
monstrou que, entre os anos de 2001
a 2006, a média foi de 46% dos conta-
tos avaliados, sendo considerada uma
proporção baixa, por se tratar de uma
importante ação de vigilância, embora
tenham sido observados anos em que
esses resultados foram acima de 50%.
Segundo a autora, nesse mesmo
período, foram diagnosticados 1873
novos casos da doença, sendo que
4
456 (24,3%) foram feitos a partir do
exame de contatos, fato esse que ins-
tiga a investigação sobre tal estratégia
de monitoramento e vigilância da Han-
seníase.
Considerando que o contágio dá-
se por meio de uma pessoa doente,
portadora do bacilo de Hansen, ainda
não tratada e que o elimina para o
meio exterior, através das vias aéreas
superiores, sendo também a sua pro-
vável porta de entrada (BRASIL,
2002), fácil se torna entender que a
população com maior risco é a dos
contatos intradomiciliares, que convi-
vem com pacientes das formas multi-
bacilares e que ainda estejam sem
tratamento (BRASIL, 2007).
Considera-se que contato seja
“toda e qualquer pessoa que resida ou
tenha residido com o doente de Han-
seníase nos últimos cinco anos”.
(BRASIL, 2007, p.20). No entanto, é
importante salientar que, diante de um
doente multibacilar sem tratamento,
pode-se esperar cerca de cinco novos
doentes por ano, embora, para que o
indivíduo seja infectado, é preciso sus-
ceptibilidade ao bacilo e que se tenha
convívio direto com o doente não tra-
tado (BRASIL, 2002; VIEIRA et al.,
2008).
Em um estudo realizado por Ca-
mello (2006), no Rio Grande do Sul, foi
observada a viabilidade de exame de
contatos como uma das ações de con-
trole da doença, nesse estudo, dos
241 casos novos de Hanseníase notifi-
cados, 40 foram por meio do exame de
contatos intradomiciliares, com um
percentual de 16,7 do total das notifi-
cações do período de janeiro a de-
zembro de 2005.
Portanto, tal ação configurou na
ampliação de oportunidades de diag-
nóstico mais precocemente, evitando,
assim, que o paciente chegasse ao
diagnóstico já nas fases tardias da do-
ença e com incapacidades físicas ins-
taladas.
No entanto, muitos contatos,
quando solicitados pelos serviços de
saúde para exame dermatoneurológi-
co, não comparecem e isso pode ser
atribuído ao estigma, preconceito e
falta de informação, justificando uma
baixa percepção desses contatos in-
tradomiciliares sobre a Hanseníase se
relacionado à situação endêmica do
país, já que a maioria dos contatos
conhece a doença por intermédio de
seu familiar (PINTO NETO, 2004;
DESSUNTI et al., 2008).
5
Nessa perspectiva, os contatos
tornam-se um grupo de risco vulnerá-
vel do ponto de vista da cadeia do pro-
cesso infeccioso (VIEIRA, 2008), cor-
roborando a necessidade de ações de
monitoramento e vigilância.
Em Governador Valadares, a as-
sistência aos pacientes acontece, em
sua grande maioria, no CREDEN-PES,
que conta com uma equipe multiprofis-
sional e interdisciplinar, com laborató-
rio próprio para realização das bacilos-
copias e é referência para os municí-
pios da Gerência Regional de Saúde
de Governador Valadares6 (MONTEI-
RO, 2003).
Nessa Unidade de Saúde, são
realizadas ações que compõem as
atribuições de uma Unidade de Saúde
de Atenção Primária e Secundária,
sendo: suspeição diagnóstica, diag-
nóstico, tratamento, prevenção de in-
capacidades, vigilância de contatos,
recuperação e reabilitação, diagnóstico
diferencial e esclarecimento de diag-
nóstico e outras dúvidas no manejo do
paciente de Hanseníase (BRASIL
2002).
6 Atualmente, Superintendência Regional de Saúde.
Assim, os resultados dessa pes-
quisa indicam que o exame de conta-
tos, é utilizado como uma estratégia
para o controle da doença.
2 PERCURSO METODOLÓGICO
Tratou-se de um estudo com a-
bordagem quantitativa, de caráter des-
critivo e transversal.
Tal metodologia permitiu a ob-
servação, registro, análise e correla-
cionamento de fatos e variáveis (des-
critivo) e também conhecer incidên-
cias, prevalências e associação entre
as variáveis (transversal) (CERVO,
BERVIAN E SILVA, 2010; CRUZ,
2012.)
Para tanto, inicialmente, recor-
reu-se ao banco de dados da Gerência
de Epidemiologia de Governador Va-
ladares, a fim de investigar se houve
detecção de casos novos de Hansení-
ase nos anos de 2006 a 2010, a partir
do exame de contatos.
Confirmada a informação de
que houve a detecção de casos novos,
nessa modalidade no CREDEN-PES,
no período proposto, partiu-se para a
coleta de dados no livro de registros e
6
cópias dos SINANs7 e nos mapas de
registros de contatos.
Para a construção do banco de
dados, admitiram-se os seguintes cri-
térios de inclusão: pacientes com o
diagnóstico de Hanseníase, inscritos
nos anos de 2006 a 2010 no CRE-
DEN-PES; residentes em Governador
Valadares e registrados no SINAN no
tópico “Modo de Detecção de Caso
Novo” como número 4 “Exame de
Contato”.
Para a caracterização desses ca-
sos novos diagnosticados a partir do
exame de contatos, utilizou-se de al-
gumas variáveis como: gênero, faixa
etária, classificação operacional, clas-
sificação clínica, escolaridade, tipo de
alta e grau de incapacidade.
Em relação à cobertura de con-
tatos registrados e avaliados nesse
período, de 2006 a 2010, no CREDEN-
PES, contou-se com os resultados dos
mapas de registros de contatos infor-
mados pelo CREDEN-PES e disponibi-
lizados no banco de dados da Gerên-
cia Epidemiológica.
Ressalta-se que esse percurso
foi pautado nos princípios éticos, tendo
7 Sistema de Informação de Agravos de
Notificação
essa pesquisa sido aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da UNI-
VALE, em 04 de maio de 2012, sob o
protocolo 017/12-05.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados serão apresenta-
dos em gráficos construídos a partir do
programa Excel, com os dados levan-
tados nas fontes já informadas. Nos
anos de 2006 a 2010, foram inscritos
650 casos novos no CREDEN-PES,
considerando todos os modos de de-
tecção de casos novos nesse período.
3.1 DETECÇÃO DE CASOS NOVOS
E COBERTURA DO EXAME DE
CONTATOS
Gráfico 1: Proporção de casos novos de han-
seníase diagnosticados com modo de detec-
ção "exame de contato” nos anos de 2006 a
2010.
Fonte: CREDEN-PES, Gerência Epidemiológica GV-MG
7
Do total de 650 inscritos nos a-
nos em estudo, foram registrados 72
casos novos de Hanseníase no modo
de detecção: exame de contatos, per-
fazendo 11%, e 578 (89%) conside-
rando outros modos de detecção con-
forme mostra o gráfico 1.
Em relação ao numero de conta-
tos registrados e contatos avaliados no
período estudado, foram encontrados:
1958 contatos registrados e 1198 fo-
ram examinados, ou seja, uma cober-
tura de 61,2%. No entanto, não se po-
de afirmar, somente com esses dados,
que os novos casos detectados foram
a partir do exame de contatos de todos
os inscritos no período estudo, pois os
exames acontecem ao longo dos anos
e nem sempre é respectivo ao ano de
inscrição do caso índice.
Porém, esse resultado ainda po-
de ser melhorado, uma vez que a meta
Brasil para 2011 foi examinar 63% dos
contatos registrados dos casos novos
de Hanseníase (BRASIL, s/d) e pela
sua importância no contexto de vigi-
lância e monitoramento da Hansenía-
se.
3.2 CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIO-
LÓGICA DOS 72 CASOS NOVOS
Gráfico 2: Distribuição dos novos casos detec-tados a partir de exames dos contato nos anos
de 2001 a 2006. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV-MG
Em relação aos 72 casos novos
detectados, percebeu-se uma distri-
buição irregular nos anos estudados,
conforme o gráfico 2, concentrando-se
nos anos de 2006, 2007 e 2009 e, com
considerável queda em 2010, o que
pode apontar para uma baixa cobertu-
ra de contatos avaliados.
Gráfico 3: Distribuição por gênero dos casos a partir do “exame dos contatos” nos anos de
2006 a 2010. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV-MG
De acordo com o gênero, o gráfico
3 apresenta o sexo feminino com mai-
8
or percentual dos casos (54%). Esse
resultado está em conformidade com
os dados de Lana et al. (2004), em um
determinado estudo no município de
Governador Valadares, apresentou a
prevalência de 55,3% no sexo femini-
no. Os autores relatam que o aumento
de caso entre as mulheres pode ser
explicado, uma vez que, entre elas
pode haver uma maior preocupação
com o corpo, e o acesso
às Unidades de Saúde, em detrimento
da priorização de programas como
atenção à saúde da mulher.
Gráfico 4: Distribuição por faixa etária dos casos a partir dos exames de contato no perí-
odo de 2006 a 2010. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV
No gráfico 4, encontra-se a distri-
buição por faixa etária, havendo pre-
domínio na idade dos 15 a 19 anos,
com 13 casos, e 18 casos em menores
de 15 anos. Situação preocupante,
devido às incapacidades que a Han-
seníase provoca aos doentes em lon-
go prazo, que poderá acarretar prejuí-
zos a vida produtiva (PAES et al.
2011).
Em relação aos menores de 15
anos, Lobo et al. (2011) identificaram,
em seu período de estudo, 21 contatos
doentes, diagnosticados através de
exame de contatos no município de
Campos dos Goytacazes, Rio de Ja-
neiro. Esses valores são de grande
importância para o controle da doença,
sendo indicador de influência na pre-
valência da endemia, partindo-se do
princípio que o diagnóstico nessa fase
é indício de contato com fontes de in-
fecção da forma multibacilar, ativos,
nos primeiros anos da vida, fato co-
mum, em municípios considerados
hiperidêmicos, como Governador Va-
ladares MG (BRASIL, 2009).
Gráfico 5: Classificação operacional dos casos
a partir dos exames de contatos no período de
2006 a 2010.
Fonte: CREDEN-PES, Gerência Epidemiológica GV
9
O gráfico 5 apontou uma preva-
lência da forma paucibacilar (77%) em
relação à classificação operacional. A
prevalência entre as formas paucibaci-
lares pode apontar para a realização
do diagnóstico precoce pelo CREDEN-
PES, embora as ações de vigilância de
contatos devam ser intensificadas
(MORAIS, 2010).
Para Lana et al. (2004), o pre-
domínio das formas paucibacilares é
um sinal positivo, já que, nos diag-
nósticos precoces, há possibilidade da
prevenção das incapacidades e inter-
rupção da cadeia epidemiológica au-
menta.
Gráfico 6: Classificação clínica dos casos a partir dos exames de contatos no período de
2006 a 2010. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV
O gráfico 6, em que as formas
clínicas foram estudadas, demonstra
que as formas tuberculóides (42%) e
indeterminadas (35%) sobressaíram,
corroborando a classificação operacio-
nal encontrada no gráfico 5.
Entretanto, a forma dimorfa tota-
lizou (22%) dos casos, semelhante aos
resultados de Dessunti et al. (2008),
que foram (23%) dos casos. Já na
forma vichowiana obteve (28,6%), dife-
rente do valor identificado no gráfico 6,
(1%) dos casos inseridos nas formas
infectantes de grande relevância na
propagação do bacilo.
Gráfico 7: Nível de escolaridade dos casos a partir dos exames de contatos nos períodos de
2006 a 2010. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV
A falta de conhecimento pode
ser um fator importante na dissemina-
ção da endemia (MORAIS, 2010). Re-
forçando essa afirmativa, a maioria
dos casos apresentou como escolari-
dade o ensino fundamental incompleto
(56,9%), conforme nos mostra o gráfi-
co 7.
10
Diante dos fatos, a autora men-
ciona a necessidade da inserção de
educação em saúde em instituições
escolares do município, com o objetivo
de elucidar os sinais e sintomas da
doença, importantes na prevenção da
enfermidade e das incapacidades con-
sequentes, muitas vezes, da falta de
informação.
Gráfico 8: Grau de incapacidade dos casos a partir dos exames de contatos nos anos de
2006 a 2001. Fonte: CREDEN-PES,
Gerência Epidemiológica GV
O gráfico 8 demonstra que
(85%) dos casos novos detectados
através de exames de contatos não
apresentaram comprometimento neu-
ral. No entanto, 3% apresentaram grau
de incapacidade 2, resultado conside-
rado baixo, parâmetro definido pelo da
MS, quando total menos de 5% dos
casos com grau de incapacidade 2 , o
que pode avaliar a efetividade das a-
ções para a detecção precoce dos ca-
sos de hanseníase (BRASIL, 2002).
Gráfico 9: Tipo de alta dos casos a partir dos exames de contatos nos anos de 2006 a 2010.
Fonte: CREDEN-PES, Gerência Epidemiológica GV
A partir dos dados do gráfico 9,
88% dos casos obtiveram alta por cu-
ra, 8% abandonaram o tratamento e
4% foram transferidos.
Resultado aproximado ao de Mo-
rais (2010) que identificou mais de
90% de alta por cura e queda no nú-
mero de abandono de tratamento a
partir de 2005, demonstrando a quali-
dade do acompanhamento da unidade
por critérios estabelecidos pelo Minis-
tério da Saúde, que considera propor-
ção de alta por cura, como: bom, maior
ou igual a 90%, regular, de 75 a
89,9%, menor de 75%, precário. Para
as taxas de abandono, bom, quando
proporção menor que 10%, de 10 a
24,9%, regular, e maior ou igual a
25%, precário.
11
Em relação ao abandono, impor-
tante se faz salientar que esse aumen-
ta a possibilidade de resistência do
microorganismo à PQT, mantendo a
cadeia epidemiológica e colaborando
para disseminação da doença (PAES
et al., 2011).
4 CONCLUSÃO
A realização dessa pesquisa
demonstrou, no período estudado, que
foram inscritos, no CREDEN-PES de
Governador Valadares, 650 casos no-
vos de Hanseníase. Desse total, foram
detectados, por meio do exame de
contatos, 72 doentes, que correspon-
dem a 11% do total de inscritos, um
total considerável, mas que ainda pode
ser melhorado.
No mesmo período estudado, fo-
ram registrados 1958 contatos e exa-
minados 1198, perfazendo um percen-
tual de 61,2% de cobertura, fato tam-
bém evidenciado como baixo, diante
da relevância dessa estratégia.
Esses dados alertam sobre a
importância dos exames de contatos
na detecção de casos novos de Han-
seníase, pois se tratando de uma do-
ença endêmica, a rapidez dos diag-
nósticos é fundamental para o controle
e combate da doença, já que o tempo
entre a contaminação e o diagnóstico,
pode causar outras contaminações,
principalmente no entorno familiar.
Em relação à caracterização epi-
demiológica dos 72 casos detectados,
foi de grande importância perceber a
faixa mais acometida (menores de 15
anos e 15 e 19 anos) e uma prevalên-
cia entre doentes que possuem ensino
fundamental incompleto, indicando que
as ações junto à comunidade podem
ser intensificadas, utilizando-se de
parcerias com outras instituições.
Em contrapartida, os resultados
como a classificação operacional pau-
cibacilar (77%), grau de incapacidade
zero em 85% e a alta por cura em
88%, significa que a Unidade tem rea-
lizado ações pertinentes às metas do
Ministério da Saúde e, com isso, dimi-
nuído as chances de constrangimentos
individuais e sociais pelos portadores
da Hanseníase.
Com esses resultados, o pre-
sente estudo pretendeu contribuir para
a sensibilização dos profissionais da
saúde, inclusive o enfermeiro, quanto
à importância da detecção precoce da
Hanseníase por meio do exame de
contatos, sendo esta uma forma de
limitar e impedir a transmissão da do-
12
ença, e ainda realizar a prevenção de
incapacidades, se identificada preco-
cemente.
Assim, o Enfermeiro, enquanto
membro da equipe de saúde, deve
buscar capacitação em relação à do-
ença para implementação de ações de
vigilância e monitoramento, não só em
relação aos contatos, mas como: reali-
zar busca ativa dos casos, orientar a
família, os contatos e a comunidade
sobre a doença, prevenção e incapa-
cidades; encorajar os doentes a seguir
o tratamento e a trazer seus familiares
para o exame dermatoneurológico;
realizar visitas aos faltosos em risco de
abandono.
Também, podem ser implemen-
tadas campanhas informativas para a
população, utilizando-se de uma lin-
guagem de fácil entendimento, rela-
cionando à vida diária das pessoas à
prática da auto-observação, o que con-
tribui para o diagnóstico precoce, tra-
tamento e cura.
DETECTION OF NEW HANSENIASIS CASES ON CREDEN-PES- GOVERNADOR
VALADARES IN THE YEARS 2006 TO 2010 AS INPUT MODE:
CONTACT EXAM.
Resume
The investigation of contacts is one of the search strategies of new cases of Hanse-
niasis, which, if detected early, can be treated, thereby reducing disability and stigma
in family and social environment. In this context, that the studies, discusses a quan-
titative methodology, descriptive and cross on the detection of new cases of Hanse-
niasis from the investigation of contacts in the periods 2006 to 2010 at the Center for
Endemic Disease References and Programs Dr. Alexander White Castle special
CREDEN-PES-Governador Valadares, where it was used for your database on the
new cases of leprosy registered, contacts, and some variables such as gender, age,
operational classification and clinical, education, type of high and degree of disability,
in accordance with data from the Epidemiological Management / Municipal Coordina-
tion of Hanseniasis, aiming to know about this strategy, about the contacts recorded
and evaluated, its importance and characterization of new cases diagnosed through
it. The results showed that among 650 new cases diagnosed in this period, 72 were
detected from the investigation of contacts. Some important situations were found in
13
the characterization of these 72 cases as a prevalence between 15 and 19 years
(age group), the predominant paucibacillary 77% (clinical classification) and a zero
degree of disability in 85% of cases. From the results, we confirmed the importance
of surveillance of contacts and how this strategy should be implemented by health
staff in the units, mainly by nurses.
Key-words: Hanseniasis. Contact Exam. Epidemiological characterization.
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