Download - Contestacao - Felipe Brito Lira
Rua Desembargador Sinval Moreira Dias, 1.708 - Natal – RN Cep. 59.056.310 Pabx (84) 3206.3031 Fax (84) 3206.3300 E-mail: [email protected] Site: http//www.meloemartini.com.br - Natal/RN – São Paulo/SP – João Pessoa/PB – Recife/PE
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 1º JUIZADO ESPECIAL MISTO
DE SOUSA, ESTADO DA PARAÍBA
PROCESSO N. º 3000083-71.2013.815.0371
AUTOR: FELIPE BRITO LIRA
RÉU: BANCO SANTANDER BRASIL S/A
O BANCO SANTANDER BRASIL S/A atual denominação do BANCO ABN AMRO REAL S/A,
inst ituição financeira com sede na Cidade de São Paulo, na Rua Amador Bueno,
474, inscrito no CNPJ/MF sob n° 90.400.888/0001-42, por sua advogada, in fine
assinada, instrumento procuratório junto (doc. 01), com endereço profissional a Rua Des. Sinval
Moreira Dias, 1708, Lagoa Nova, Natal-RN, CEP 59.056-310, nos autos do processo em epígrafe,
onde contende com FELIPE BRITO LIRA, vem oferecer sua CONTESTAÇÃO pelas razões de fato
e de direito a seguir expostas:
PRETENSÃO INICIAL
Prefacialmente, sustenta o autor, que é cliente do Banco demandado,
possuindo cartão e talões de cheque para uso de sua conta corrente. Relata que em março de
2012, ao mudar de cidade em face de aprovação em concurso, decidiu se desfazer de seus talões
de cheques, haja vista não haver agencia do Santander em sua nova residência.
Afirma que ao retornas à cidade que anteriormente residente, após cerca
de três meses de ter “jogado fora” seus talões de cheque, buscou a instituição financeira para
regularizar possíveis débitos, ocasião em que foi informado da existência de cheques em seu
nome emitidos e que foram devolvidos por falta de provisão.
Ao buscar esclarecimentos junto ao Banco, tomou conhecimento que tais
cheques eram referentes aos talonários que o autor se desfez, que estavam sendo utilizados com
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assinaturas falsificadas. Segue pontuando que teve valores descontados de sua conta e outro
cheque devolvido por insuficiência de fundos, no valor de R$ 4.000,00 ()quatro mil reais).
Citou Ainda que teve seu nome inscrito nos cadastros de restrição de
crédito.
Pelo exposto, requer que seja concedida a tutela antecipada para que se
determine a retirada do nome do autor dos órgãos de restrição de crédito; a citação do réu para
apresentar defesa no prazo legal; a inversão do ônus da prova, uma indenização pelos danos
morais suportados; e o pagamento de custas e honorários, não cabíveis em 1º grau nos juizados
especiais cíveis.
PRELIMINAR
DA ILEGITIMIDADE PASSIVA. FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO
O demandado vem argüir a Carência da Ação por ilegitimidade passiva
do Banco, com a conseqüência extinção do processo, sem resolução do mérito, em razão dos
seguintes fatos:
A permanência do banco no pólo passivo da demanda é visivelmente
ilegítima, haja vista que a legitimidade passiva recai sobre o causador do dano, sendo esse
exclusivamente de terceiro.
Impende destacar que o postulante indaga quanto a possibilidade de
haver negativação de crédito de um débito inexistente já que afirma jamais ter emitidos os
referidos cheques.
Por esta mira, à luz do caso em exame é de fácil vislumbre que a
instituição financeira demandada é tão vítima do ato fraudulento de falsário quanto o requerente,
tendo em vista que, todos os procedimentos deste banco são regulados, gerenciados e passam
por auditorias internas periódicas, para que estejam em perfeita sintonia com a Resolução nº.
2025 do BACEN.
Frise-se que em nenhum momento a instituição financeira agiu com
imprudência, negligência ou imperícia, não podendo ser responsabilizada pela falta de guarda do
autor quanto ao seu talonário. Arq
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Desta forma, deverá a ação ser extinta sem julgamento de mérito por
carência de ação em face da ilegitimidade passiva do banco, conforme restou explicitado.
Na remota hipótese de não ser dada guarida as preliminares retro
argüidas, o que de modo algum se espera, no mérito se alega o seguinte:
DA NECESSIDADE DE EXAME GRAFOTÉCNICO E DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIAL PARA PROCESSAR E JULGAR A PRESENTE DEMANDA
Versa o presente processo sobre fatos revestidos de complexidade
técnica, onde se verifica a necessidade de realização de prova pericial, visto que o autor alega que
não emitiu os cheques.
Ocorre que, in casu, verifica-se a necessidade da realização de um
exame grafotécnico com o fim de aferir se as assinaturas dos cheques são do Autor.
Nos termos da Lei nº 9.099/95, o procedimento dos Juizados Especiais
foi criado para solucionar de maneira célere causas de pequeno valor e de baixa complexidade.
Portanto, é da natureza do procedimento dos Juizados Especiais Cíveis a
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. Tanto é que preleciona
o artigo 3º da lei 9.099 que “O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo
e julgamento das causa cíveis de menor complexidade”.
Entretanto, para se chegar a uma ilação justa na presente ação, e que
venha a respeitar os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, conforme
assegura o art. 5º da nossa carta Magna, será imprescindível, como dito anteriormente a
realização de perícia no local da obra, já que a Demandante busca discutir a legitimidade de
assinaturas apostas nas cártulas.
Como dito acima, sabe-se que a realização de qualquer tipo de perícia
não condiz com o procedimento dos Juizados Especiais Cíveis, posto que este é orientado pelo
critério da simplicidade e celeridade. E assim já se tem posicionado os Juízes dos Juizados
Especiais Cíveis em seu III Encontro, na 39ª conclusão ali discutida. Prevê o art. 51 da lei
9.099/95 que deve-se extinguir o processo, sem resolução do mérito, quando inadmissível o
procedimento instituído por esta lei. A própria finalidade dos Juizados Especiais é a aplicação de
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regras processuais simples e céleres, sem que haja a prática de atos processuais complexos tal
como a perícia, que é imprescindível no presente caso.
Havendo a necessidade de perícia o feito se torna incompatível com o
procedimento célere e informal dos Juizados Especiais. Neste sentido a jurisprudência pátria:
“PROCESSO CIVIL. CDC. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JEC.
CONSERTO DE MOTOR DE AUTOMÓVEL. TROCA DE PEÇAS DEFEITUOSAS
POR PEÇAS ORIGINAIS. VERSÃO AUTORAL CONTESTADA PELA EMPRESA
RÉ. NECESSIDADE DE PERÍCIA TÉCNICA PARA COMPROVAÇÃO DA
VERSÃO VERDADEIRA. PROVA COMPLEXA. PROCESSO EXTINTO SEM
CONHECIMENTO DO MÉRITO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Se a empresa ré
impugna a pretensão inicial alegando ter efetivamente realizado o serviço
de troca de peças no motor do veículo do Autor a contento, substituindo
as peças defeituosas por peças originais, apresentando inclusive
documentação capaz de comprovar a realização do serviço,
imprescindível se torna a realização de perícia técnica formal, para
possibilitar ao Magistrado maior grau de certeza para decidir sobre qual é
a verdadeira versão dos fatos. 1.2. Inobstante tratar-se de relação
consumerista, onde são aplicados os princípios protetivos contidos no
Código de Defesa do Consumidor, em especial o de inversão do ônus da
prova (art. 6º, inc. VIII do CDC), não têm eles o condão de gerar
presunção absoluta de veracidade e certeza das afirmações esboçadas
pelo consumidor em sua inicial, mormente quando há impugnação
veemente dos fatos alegados por parte da empresa fornecedora,
exsurgindo daí a necessidade de se realizar prova pericial para solucionar
adequadamente a lide, com a efetiva verificação sobre se as peças foram
realmente trocadas e se são ou não originais. 1.3. No procedimento
célere, simples e informal dos Juizados Especiais Cíveis (art. 2º da LJE),
não comporta a realização de regular prova pericial, cuja ritualidade,
disposta na Norma Processual Civil (arts. 420 e seguintes do CPC),
refoge ao critério de menor complexidade, que se calca na Lei de
Regência para lhe atribuir competência (art. 3º da LJE), o que faz
acarretar a extinção do processo sem conhecimento do mérito (inc. II do
art. 51 da LJE). 2. Recurso conhecido, mantendo-se íntegra a sentença.”
(TJDF, ACJ 20030410131969, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
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Cíveis e Criminais do D.F., Rel. BENITO TIEZZI, julgado em 14/04/2004,
DJU 23/04/2004 p. 150) (grifos acrescidos)
“RECURSO - INTERESSE DE AGIR - EXISTÊNCIA - PRELIMINAR
REJEITADA - INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA - CAUSA COMPLEXA -
EXISTÊNCIA - RECONHECIMENTO A TODO E QUALQUER TEMPO -
SENTENÇA MANTIDA. 1) Desejando a recorrente reformar sentença que
extinguiu o feito, sem conhecimento do mérito, para que seja ele visto e
rejeitado, o fato de ter a recorrente, depois de o interpor, recebido o bem
objeto da demanda para reparos, não torna o recurso sem interesse que
o justifique, até porque não se pode saber os motivos do novo reparo. 2)
Revelando a causa ser complexa, com necessidade de realização de
prova pericial para ser elucidada, correta a decisão que tem o Juizado
Especial como incompetente, e extingui o processo, podendo ser a
incompetência absoluta conhecida, até de ofício, a todo e qualquer
tempo, mesmo porque para o julgador não há preclusão. 3) Mantendo-se
a sentença recorrida, deve a recorrente pagar as custas processuais e
honorários advocatícios.” (TJDF, ACJ 20010110571235, 2ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., Rel. LUCIANO
VASCONCELOS, julgado em 06/11/2001, DJU 19/11/2001 p. 130) – grifo
nosso.
Diante deste quadro, em face da necessidade de perícia para realizar
exame grafotécnico das assinaturas apostas, torna-se impossível a solução da lide pela via do
procedimento dos juizados especiais cíveis, devendo ser o presente processo extinto sem
resolução do mérito.
Neste sentido, vale ainda observarmos o seguinte julgado:
“INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS - COMPLEXIDADE DA
CAUSA - PERÍCIA, IMPRESCINDIBILIDADE - EXTINÇÃO DO FEITO
ACÓRDÃO Nº 208.605. Relator: Juiz João Batista Teixeira. Apelantes:
Ildeu Alves Machado e Adinaldo Aparecido Lemos Batista. Apelados: os
mesmos.
Decisão: Recurso conhecido. Preliminar suscitada de ofício acolhida.
Sentença cassada. Feito extinto. Unânime.
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CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. MATÉRIA QUE
SE REVELA COMPLEXA. NECESSIDADE DE PERÍCIA. IMPOSSIBILIDADE
DE SER EXAMINADA PELO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. 1. Incompetente
mostra-se o Juizado Especial Cível, quando a complexidade da causa,
que nunca está ligada à qualidade do direito, mas à dificuldade de sua
demonstração, revela-se, não podendo a questão ser resolvida, sem a
realização de perícia de engenharia. 2. Recurso conhecido, preliminar de
incompetência do Juizado Especial Cível, suscitada de ofício, acolhida,
sentença cassada para declarar extinto o processo, sem julgamento do
mérito. (ACJ 2003111003713-6, 2ª TRJE, PUBL. EM 31/03/05; DJ 3, P.
105)
Assim, resta manifesto que a presente ação não pode ser julgada por
esta Justiça Especial, pela complexidade da matéria.
Isto posto, requer o Demandado que seja acolhida a preliminar de
incompetência deste Juízo, sendo, portanto, inadmissível o procedimento nos Juizados Especiais
Cíveis, extinguindo, assim, o processo, nos moldes do art. 51, da Lei 9099/95.
DOS FATOS COMO EFETIVAMENTE OCORRERAM
Infere-se das alegações da parte autora que o requerido supostamente
teria agido em desconformidade com as normas que regulam a matéria, o que ensejaria o
cancelamento dos títulos de crédito.
Cumpre-nos enfatizar que o autor recebeu em sua residência o talão de
cheque enviado pelo Banco, responsabilizando-se pela guarda destes e, somente realizou o
Boletim de Ocorrência informando o extravio dos cheques após o início do desconto deste.
Ademais, assume este na própria exordial QUE DELIBERAMENTE SE
DESFEZ dos talonários, sem previa comunicação ao Banco e sem inutiliza-los, mesmo tendo
conhecimento que importantes documentos representam ordem de pagamento à vista.
Dessa forma, constata-se claramente que o demandante agiu com
desídia em relação a aguarda de seus documentos, uma vez que os cheques utilizados por um
suposto falsário foram os originais e provavelmente encontrados NO LIXO.
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O demandado, em nenhum momento, faltou com diligência ou zelo em
sua conduta.
Da Culpa Exclusiva do Autor
Como demonstrado, para que terceiro pudesse realizar as operações
mencionadas na petição inicial, ele teria de estar de posse dos cheques de titularidade do autor.
Esse acesso pode ocorrer de duas formas: por vontade do próprio cliente,
ao entregar seus cheques – ainda que sejam parentes, funcionários ou amigos - ou por sua
desídia na guarda de seus talões.
Ambas as hipóteses configuram a excludente da responsabilidade que se
pretende impor ao Réu, na medida em que a parte Autora é obrigada a zelar pela guarda de seus
talões de cheques.
O zelo na guarda física dos títulos de crédito inclui mantê-lo sempre
consigo ou em local seguro, ou, em último caso, informar imediatamente em caso de mudança de
endereço ou solicitação de bloqueio do talonário pelo não interesse no uso.
Justifica o autor que “PRUDENTEMENTE” procurou a instituição financeira
APÓS MAIS DE TRÊS MESES para encerrar sua conta e verificar supostos débitos. Sendo que é
clara a incoerência em tal afirmação, posto que se de fato fosse prudente o autor, manteria a
guarda dos talões e os devolveria no momento da solicitação de encerramento, conforme
procedimento correto a ser feito.
Averbe-se por oportuno que o Réu e as demais instituições financeiras
promovem intensa campanha informativa acerca dos cuidados que os usuários devem tomar com
a guarda de seus talonários.
Nessas hipóteses, a culpa exclusiva da parte Autora pela desídia na
guarda dos cheques seria inegável, na medida em que teria descumprido obrigação contratual de
tomar todas as precauções necessárias para que isso não ocorresse.
Aplica-se à hipótese, portanto, o artigo 14, §3º, incisos I e II do Código
Consumerista, que afasta a responsabilização do fornecedor quando provada a ausência do
defeito e a culpa exclusiva do consumidor.
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Aliás, com relação à questão vale citar o ensinamento de Carlos
Roberto Gonçalves, em “Responsabilidade Civil”, 6ª. edição, 1995, pág. 505:
“Culpa Exclusiva da Vítima. Quando o evento danoso acontece por culpa
exclusiva da vítima, desaparece a responsabilidade do agente. Neste
caso, deixa de existir a relação de causa e efeito entre o seu ato e o
prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que no caso de
culpa exclusiva da vítima, o causador do dano, não passa de mero
instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato
e o prejuízo da vítima.” (Grifos acrescidos.)
São fatos incontroversos nos autos, contudo, que (a) o autor
efetivamente se desfez dos seus talonários e que (b) não comunicou tal fato À instituição
financeira demandada e não solicitou o bloqueio de ordem de pagamento dos talonários que não
mais desejava possuir.
Assim, não se poderia esperar que a entidade bancária que esta pudesse
ter zelo do talonários de seus clientes quando estes encontram-se em poder destes, posto que no
momento da entrada dos cheques, passa a ser do correntista o dever de guarda das cártulas de
modo seguro.
Além de sequer ter o autor intentado fazer prova de que o Banco estava
adstrito à entrega pessoal do talão solicitado (mediante apresentação de cláusula contratual que
assim o estabelecesse, por exemplo), deve-se considerar, à luz da razoabilidade, que aquele que
solicita o envio a seu endereço de documento tão importante quanto um talão de cheques jamais
descurará, ao menos, de manter o talonário em local seguro.
Ante sua incúria, assumiu o risco de experimentar o dano. Nenhum
elemento há, pois, que permita a imputação ao Banco-acionado dos detrimentos decorrentes do
apossamento do talonário por parte de terceiro "estelionatário".
Nesse sentido temos jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal:
RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZATÓRIA .Danos morais - Restrições
creditícias experimentadas pelo autor em decorrência do
apossamento de seu talonário de cheques por terceiro, que o Arq
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recebeu no antigo domicílio do correntista - Envio do talão por via
postal, a requerimento do autor Incontroverso que o autor-
apelante deixou de noticiar ao Banco-réu sua mudança de
endereço -Culpa exclusiva da vítima caracterizada Inexistência de
dano moral indenizável - Art. 945,CC, e 14, § 3", II, CDC - Recurso
improvido.945CCCDC
(991020128704 SP , Relator: Thiers Fernandes Lobo, Data de
Julgamento: 17/08/2010, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 25/08/2010)
No mais, as escusas apresentadas pelo insurgente a justificar seu "lapso"
apenas camuflam sua desídia – que consubstancia sua culpa exclusiva à ocorrência do dano. A
legislação civilista (art. 945, Lei n°10.406/02), assim como a consumerista (art. 14, §3°, II),
afastam a existência de dano moral indenizável quando exclusiva, para a ocorrência do
detrimento eventualmente ocorrido, a culpa exclusiva da vítima.
É exatamente o que se verifica na espécie: ressalte-se que não se está a
falar em culpa concorrente entre correntista e instituição financeira, ainda que em diferentes
graus; ao revés o que existe é, de um lado, verdadeira ausência de culpa por parte do Banco e,
de outro, manifesta desídia do insurgente, nos temos supra-expendidos.
DA INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO
No caso em tela, para que o BANCO seja obrigado a cancelar os cheques,
é imprescindível que tenha praticado culposamente um ato ilícito, que seja causa do prejuízo
experimentado pela vítima. Nesse sentido dispõe o artigo 186 do Código Civil.
Conforme ensina Silvio Rodrigues, “ato ilícito é aquele praticado com
infração a um dever e do qual resulta dano para outrem. Dever legal ou contratual” (in “Direito
Civil”, Parte Geral, Vol.I, 20a e, pág.324).
Na espécie, o contestante, decididamente, não praticou qualquer
irregularidade.
Agiu de conformidade com as normas pertinentes, o que enseja, dada a
boa-fé e diligência com que atuou, a descaracterização das alegações do autor de que agira
ilicitamente, ocasionando-lhe os danos alegados. Arq
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Utilizou-se do seu direito, sendo certo que sua conduta em nenhum
momento revestiu-se de caráter ilícito, uma vez que ante a ausência de qualquer reclamação
quanto aos cheques em questão o demandante jamais iria notar irregularidade que pudesse gerar
suspeita de fraude ou falsificação.
Assim, cristalina a posição do requerido, distante da negligência alegada
pelo autor, ao contrário, atuando com o maior rigor e zelo como de praxe.
Não pode o requerido, dessa forma, ser penalizado por sua conduta,
absolutamente regular, que não deu causa ao suposto resultado danoso alegado na inicial.
Decididamente, o contestante não agiu culposamente, permitindo a
fraude – não há que se falar em negligência do demandado na espécie, mas sim na sagacidade de
criminosos, que agem durante anos livremente a ponto de se aperfeiçoarem e conseguirem
ludibriar terceiros, não obstante todas as cautelas tomadas por estes.
DA RESPONSABILIDADE
Conhecidos são os requisitos para que o ato gere responsabilidade civil.
De início, a pretensão autoral pressupõe necessariamente, uma ação ou
omissão ilícita, em regra culposa.
Dispõe o artigo 188 do Código Civil:
“Não constituem atos ilícitos:
I - Os praticados em legítima defesa ou no exercício regular
de um direito reconhecido.”
Lecionando sobre a exclusão da ilicitude, escreve Washington de Barros
Monteiro (Curso, vol. I, pág. 273):
“Quem assim exerce um direito legítimo, não fica obrigado a
reparar o dano causado a outrem, sendo, pois, improcedente
qualquer pedido de indenização formulado pelo prejudicado.
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Dessa forma, não constitui ato ilícito o praticado no exercício
regular de um direito reconhecido”. (sem grifo no original).
Dito assim, depreende-se com facilidade que o requerido agiu no
exercício regular de seu direito o que exclui a ilicitude do seu ato.
Quem efetivamente deve responder pela fraude, por óbvio, é o
estelionatário, que falsificou a assinatura do autor.
A atuação do falsário é que gerou a causa direta e necessária do dano
e, portanto, a causa responsável de qualquer eventual prejuízo.
Como observa Orlando Gomes:
“Se o dano provém de outra circunstância, ainda que pela
atitude culposa do agente tivesse que ocorrer, este não se
torna responsável, uma vez que não há a relação de causa e
efeito. Não basta, com efeito, que o dano pudesse sobrevir
por efeito da conduta do agente, mas é preciso que se
produza na realidade como conseqüência desta, e não de
outro acidente." (Obrigações, pag. 333).
Complementando-se, cita-se Montenegro A. Lindberg:
“A regra é a irressarcibilidade do dano indireto.
Citam-se como exemplos de danos indiretos não ressarcíveis
os seguintes: a) a inatividade de um sócio por lesão sofrida
em uma colisão de veículo; b) o dano que podia ser evitado
pelo ofendido ou que resulte de causa superveniente e
diversa do ato ilícito
............................................................
O Código Civil brasileiro disciplinou a matéria no art. 1060,
verbis. “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor,
as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os
lucros cessantes por efeito dela direto e imediato”
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O legislador pátrio ao assentar tal enunciado parece não ter
deixado dúvidas quanto à irressarcibilidade dos danos
indireto e mediatos decorrentes das relações contratuais.
Surge então a pergunta: essa regra jurídica aplica-se
também aos danos oriundos das relações extracontratuais?
A indagação, que originou séria polêmica entre os franceses,
foi respondida afirmativamente pelos Mazeaud, ao
interpretarem o art. 1151 do Código Civil francês, que serviu
de modelo ao nosso art. 1060 acima transcrito. Ao
concluírem pela irresponsabilidade dos danos indiretos tanto
na esfera contratual quanto na aquiliana, afirmam eles que
tal postulado depara fundamento no fato de inexistir um
vínculo de causalidade suficiente entre o dano indireto e a
culpa do devedor”.
(Responsabilidade Civil - fls. 214/215).
A responsabilidade pelos “supostos” danos é única e exclusivamente do
estelionatário, não podendo se atribuir ao contestante qualquer responsabilidade pelos atos
ilícitos ventilados na exordial.
De fato, a conduta criminosa do falsário, emerge como a única causa
direta e necessária para a consumação da fraude.
DA INEXISTENCIA DO NEXO CAUSAL
Como Ensina L. Montenegro, “o nexo causal constitui dado fundamental
da obrigação de ressarcir. Na verdade, onde não exista causalidade jurídica, ou seja, a relação de
causa e efeito entre o evento (dano) e ação ou omissão que o produziu não há dever de
responder” (in “Ressarcimento de danos”, pág.47).
Na espécie, inexiste relação entre os supostos danos alegados pelo autor
e a conduta do contestante, que agiu no exercício regular de um direito.
Portanto , não estando configurado na espécie o nexo causal, não
há que se falar em cancelamento de cheques.
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DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, resta manifesto que os atos do requerido não foram
responsáveis pelos supostos danos que o autor tenha sofrido.
Diante de tais fatos, requer, inicialmente, o demandado que sejam
acolhidas as preliminares suscitadas de modo que a presente ação seja extinta sem julgamento de
mérito.
A pretensão da parte autora não tem suporte em ato ilícito do requerido,
razão pela qual se requer a improcedência de todos os pedidos formulados na exordial.
Protesta-se pela produção das provas admissíveis à espécie,
especialmente depoimento pessoal do autor, sob pena de confesso, prova testemunhal e juntada
de documentos
Nestes termos,
pede deferimento.
Natal, 5 de abril de 2013
Elísia Helena de Melo Martini Aline Nicolle Basilio Strobel
OAB/PB 1853-A OAB/RN 9165
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