Compilação de Paulo Victorino Traduzido da Wikipedia em francês, inglês, espanhol e italiano, com apoio de outras fontes
“Mindinho, seu vizinho, pai de todos”
Paul Cézanne (pronúncia: “poul-cezãne”), nascido em Aix-en-Provence
(pronúncia: “aicsan-provance), no extremo sul da França no dia 19 de janeiro
de 1839 e falecido na mesma cidade em 22 de outubro de 1906, foi um pintor
impressionista francês, cujo trabalho é considerado a ponte entre o
Impressionismo do final do século XIX e o Cubismo do início do século XX.
Por esta razão, a frase atribuída a Picasso, de que “Cézanne é o pai de
todos nós" ganha um significado especial, pela influência que sua obra teve nos
movimentos que se sucederam ao impressionismo, especialmente sobre o
cubismo de Georges Braque (1882-1963) e Pablo Picasso ((1881-1973).
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À medida que ganhava maturidade profissional, Paul Cézanne criava
também um estilo próprio, influenciado que foi pelo pintor Eugène Delacroix
(1798-1863), introduzindo nas suas obras distorções formais e alterações de
perspectiva em benefício da composição, ou para ressaltar o volume e peso dos
objetos. Concebeu a cor de um modo sem precedentes, definindo diferentes
volumes que foram essenciais para suas composições únicas.
Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva, mas, ao contrário, as
modificava. A sua concepção da composição era arquitetônica; segundo as suas
próprias palavras; o seu próprio estilo consistia em ver a natureza segundo as
suas formas fundamentais: a esfera, o cilindro e o cone. Cézanne preocupava-
se mais com a captação destas formas do que com a representação do ambiente
propriamente dito.
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Mais do que buscar a impressão e a luminosidade, como faziam seus
contemporâneos, sua pintura era essencialmente técnica, estudando e
analisando os valores plásticos dos objetos, conformando-os aos planos
geométricos mais comuns e dando às árvores, casas e demais elementos da
paisagem, assim como às naturezas mortas e às figuras, uma unidade de
precisão matemática.
Cézanne teve uma vida de contradições. Ao contrário da média dos artistas,
ele nunca sofreu problemas financeiros, herdeiro que era de grande fortuna
deixada pelo pai, um próspero banqueiro. Foi reconhecido em vida, pela crítica
e pelos colegas de profissão, mas, ainda assim, manteve-se afastado do
convívio, permanecendo solitário, não frequentando os cafés que se tornaram
pontos de encontro da classe artística, e cuidando apenas de seu trabalho.
Desconfiava dos críticos, ainda que estes, de certo modo, o privilegiassem, ao
contrário de outros pintores, que sofriam a pressão da mídia em ácidos artigos
publicados na imprensa.
Numa coisa, os pintores de seu tempo e os das gerações futuras sempre
concordaram: Cézanne era o “pintor dos pintores”, referência para os
movimentos modernistas que sucederam ao impressionismo em que ele se
achava imerso, e sua pintura balizou o trabalho dos jovens vanguardistas que,
com olhos no futuro, tiraram a pintura do marasmo em que se encontrava, em
séculos de obediência cega aos cânones do classicismo.
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Ao menos, um amigo certo ele teve desde a infância e guardou por muitos
anos, e este amigo foi o escritor Emile Zola (pronúncia: “emílzolá”). Foram
colegas do ensino básico, reencontraram-se em Paris e, mais tarde, viriam a
reencontrar-se na cidade natal dos dois, Aix-en-Provence, no extremo sul da
França.
E foi em Aux-en-Provence que Cézanne manteve seu último atelier, cuja
casa é até hoje conservada e admirada pelos turistas que passam por aquela
região balneária.
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A luminosidade da cidade é tão forte que faz
uma fotografia parecer pintura de verdade
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Em Aux-em-Provence, há cor em toda parte
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De dia ou de noite, sempre
há o que fazer
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Suíça e limonada
Pode-se dizer que a infância de Paul Cézanne foi um tanto quanto tortuosa.
Nasceu de uma relação fora do casamento entre Louis Auguste Cézane, (1839-
1906), que tinha, então, 40 anos, e a modista Anne Elisabeth Honorine Aubert
(1814–1897), com apenas 24 anos, vinda de uma família extremamente pobre,
pois seu pai era um humilde chapeleiro e a família dela, geração após geração,
colecionara apenas uma vida de miséria e de aflições.
Ainda assim, não ficaram desamparados pois o pai, que era banqueiro,
reconheceu o menino como filho e contribuiu para que ele tivesse uma razoável
educação desde o ensino elementar. A criança nasceu em 19 de janeiro de
1839 e, logo em seguida, foi batizado na Église de Sainte-Madeleine, tendo
como padrinhos sua avó e um dos tios. Dois anos depois, em 4 de julho de 1841,
nasceu sua irmã Marie, depois sua irmã Rose e, em 1844, Louis-Auguste
resolveu efetivar a relação, casando-se com Anne Aubert.
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Não se pode atribuir aos pais a falta de senso, pelo contrário, um e outro
assumiram com zelo suas responsabilidades. De tradição católica e fervorosos
em sua fé, Paul Cézanne, após um tempo na escola de ensino fundamental da
comunidade, foi matriculado na escola católica de Saint Joseph para prosseguir
seus estudos. E como seu pai era um dos fundadores do Banque Cézanne et
Cabassol, isso trouxe-lhe uma segurança financeira, pouco comum aos artistas
de sua época, permitindo o prosseguimento de estudos e a realização de seus
sonhos.
Em 1852, com 13 anos, ele entra para o Collège Bourbon (depois
nomeado como Collège Mignet), ainda em Aix-en-Provence, onde conhece
Émile Zola (1840-1902), da mesma idade, o qual se tornaria mais tarde um
proeminente jornalista e escritor, um amigo fiel por quase toda a vida. Conhece
também o futuro professor de óptica e acústica Jean-Baptiste Baille (1841-
1918). Os três, além de colegas de escola, ainda que em classes separadas, se
uniram por uma longa amizade. A eles se junta, mais tarde, outro nativo da
cidade, Paul Alexis (1847-1901) que se tornaria um famoso novelista, jornalista,
dramaturgo e, por fim, biógrafo de Zola.
Paul Cézanne fez uma tela retratando Paul Alex
lendo um manuscrito para seu amigo Émile Zola
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Como todo pai, naquela época, também Louis-Auguste temia que a
dedicação à pintura como profissão traria a Paul uma vida de intranquilidade,
pelas incertezas do mercado de arte e, embora consentindo que o filho
estudasse desenho na escola municipal (e o fez por 6 anos seguidos sob a
orientação do monge espanhol Joseph Gilbert), também deveria fazer o curso
de direito na Universidade de sua cidade natal, Aix-en-Provence.
Contudo, essa harmonia não iria durar eternamente pois, entre escolher a
profissão de advogado e a de pintor, Paul optou pelo segundo caminho e,
contrariando, pela primeira vez, os desejos de seu pai, aos 22 anos, mudou-se
para Paris, seguindo os “maus conselhos” de Zola que, a esta altura, já se
achava instalado na capital francesa. O amor de pai era maior e, em breve, os
dois se reconciliaram e Louis-Auguste não só reatou relações com o filho como
lhe deu suporte financeiro permitindo o prosseguimento de suas pesquisas na
arte e seu estabelecimento com um ateliê adequado.
Logo que instalado em Paris, Cezanne conheceu o pintor Camille Pissarro
(Jacob Abraham Camille Pissarro, 1830-1903) impressionista, mais velho e
experiente, que o orientou no desenvolvimento da arte e, quando os dois
estavam equiparados como artistas, saíram juntos em busca de temas para
pintar, influindo um ao outro, indistintamente, num trabalho colaborativo.
Cézanne e Pissarro, em uma foto de aparência meio desleixada
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O que diferenciou Cézane de Pissarro e dos demais artistas
contemporâneos é que ele não se fixou apenas na emoção mas buscou montar
uma base sólida e bem estruturada em conceitos técnicos e sua pintura, cada
vez mais, se distanciava do impressionismo, ganhando contornos geométricos
definidos e cuidadosamente estudados, trabalhando diretamente a partir da
observação, não só da luminosidade, como da forma regular dos espaços,
naquilo que ele viria chamar de estilo arquitetônico de pintura.
Ele mesmo declarou: “Eu quero fazer do impressionismo algo sólido e
duradouro como a arte dos museus”, e manifestou o desejo de recriar
Poussin (Nicolas Poussin, 1594-1665), com a observação criteriosa da natureza
para produzir uma composição moderna, mas próxima da visão clássica da arte.
E, entre as referências de Poussin se coloca sua obra Os Pastores de
Arcádia (Et in Arcadia ego), pintado por volta de 1630 e reproduzido abaixo.
Não havia, pois, o objetivo de renegar o passado, mas trazê-lo de volta,
revigorando-o com os conceitos mais modernos da arte pictórica.
Nicolas Poussin, “Os Pastores de Arcádia”, 1630(circa)
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Cézanne sempre procurou se balizar na experiência de seus colegas
parisienses, reconhecendo-lhes a experiência, mas, longe de se tornar um
autodidata, cuidou de se respaldar nas melhores escolas de arte de Paris.
Nesse propósito, logo em sua chegada, inscreveu-se na Academie Suisse,
onde teve oportunidade de trabalhar com modelos ao natural, com a vantagem
de que não havia lições exaustivas nem exames, mas apenas o exercício prático
da pintura e, com essa prática, esperava estar na altura de ingressar na cobiçada
Escola de Belas Artes de Paris. Como a maioria de seus colegas, começou a
frequentar também o Museu do Louvre, tomando contato com a obra de
Caravaggio e de Velazquez, que marcaram profundamente sua evolução
artística.
Mas nem tudo eram rosas e os espinhos o atingiram quando foi
peremptoriamente recusado na Escola de Belas Artes. Desgostoso, retornou à
sua cidade natal, desanimado da vida, e aceitou um emprego no Banco de seu
pai. Porém, não era sua sina passar os dias em uma mesa de escritório e, meses
depois, estava de volta a Paris, a fim de consagrar-se exclusivamente à pintura,
para o que seu pai lhe reservou uma pensão mensal de 125 francos.
Foi por esta época que, ao matricular-se, outra vez, na Academia Suíça,
estabeleceu amizade com Guilhaumin (Jean-Baptiste Armand Guillaumin,
1841-1927) e com Pissaro, a quem já nos referimos atrás.
Pintura de Arrmand Guillaumin, um novo amigo de Cezanne
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Pode-se dizer que este foi o período de ressureição de Cézanne, abrindo-
se para um mundo novo e romântico. Voltou sua atenção para o trabalho de
Eugène Delacroix e, entre os artistas mais jovens, manifestou sua admiração
por Gustave Courbet e Édouard Manet, vanguardistas de primeira linha, que
expunham obras capazes de escandalizar seus contemporâneos.
Foi por essa época que se estabeleceu uma guerra entre o Salão de Paris,
mais conservador, e os artistas de Vanguarda, cujas obras eram
sistematicamente recusadas para exposição. Isso levou o imperador Napoleão
III a criar o Salão dos Recusados que, a partir de então, passou a exibir as
obras dessa nova geração, as quais tinham seu valor específico, mas não se
enquadravam nos padrões rígidos do Salon.
Foi também por esta época que conheceu a modelo Marie-Hortense Fiquet
(1850-1922), onze anos mais nova, com a qual se casaria em 28 de abril de
1886, com a concordância materna, mas sem que o pai fosse comunicado do
acontecimento.
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E havia razões para manter reservas quanto ao enlace. Embora o
casamento jamais tenha sido desfeito, Marie-Hortense tinha uma vida
independente da qual não desejava se despregar e, durante toda vida de
casados, os dois viveram meio que separados e independentes. Como disse
Paul: “Minha esposa só quer saber de Suiça e de limonada...” Essa
separação física e emocional entre os dois se reflete nos retratos dela, pintados
pelo marido, onde se percebe um ar de distanciamento.
Se é verdade que ela continuou posando para o pintor ainda durante a
década de 1890, também é fato que o casamento não passou de uma
conveniência formal e Hortense foi por ele deserdada. Seu único filho, também
chamado de Paul 1872-1947) herdou a propriedade inteira do pai. Por outro lado,
o filho não desamparou a mãe, mas o dinheiro que dava a ela era desperdiçado
em jogos de azar. Como bem o disse Cezanne, ela era só “Suíça e limonada...”
Madame. Cezanne retratada pelo marido
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Por este mundo de Deus
Se seu atribulado casamento não deu certo, também não foi por culpa de
Cézanne que sempre se esforçou para estabelecer uma vida conjugal
harmoniosa e, mesmo não contando com a cooperação da esposa, fez tudo o
que pode para manter uma aproximação possível entre os dois.
Quando eclodiu a guerra franco-prussiana, em 1870, Cézanne e Hortense
deixaram Paris para ir a L’Estaque, no extremo sul da França, evitando o
alistamento militar, e ele foi considerado um desertor. A guerra acabou em
fevereiro de 1971, houve uma anistia aos desertores, E o casal voltou a Paris.
Em janeiro do ano seguinte, nasceu o único filho, Paul, concebido no
período de exílio em L’Estaque. Mudaram-se então para Auvers-sur-Oise,
próxima de Paris, o que permitiu o restabelecimento da parceria com Pissarro,
que morava em Pontoise, a 10 quilômetro dali. Cézanne tinha admiração pelo
amigo, a quem chamava de “Mon Dieu Père” (Deus Pai), e cunhou a frase
“todos nós proviemos de Pissarro”.
Se há exagero, não sabemos, mas certo é que, a partir daí, Cézanne
abandonou os tons escuros que usava, em troca de cores brilhantes,
características do impressionismo e passou a concentrar-se em cenas da vida
rural.
Estabeleceu-se entre os dois uma valiosa parceria e ambos realizavam
excursões juntos, numa profícua relação de trabalho e mútua admiração. Vem
dessa época a releitura de “Olympia”, que Edouard Manet pintara em 1863,
bem como a obra “A casa do enforcado”, feita em Auvers-sur-Oise. Ambas as
obras figuraram na primeira exposição impressionista realizada na casa do
fotógrafo, caricaturista e jornalista Felix Nadar, o primeiro a acolher aquele grupo
de impressionistas que batalhava por um espaço para viver a arte.
Nadar, sempre próximo dos impressionistas, era também amigo de Júlio
Verne e juntos pesquisavam os princípios de aerodinâmica. Aliás, Nadar foi a
inspiração para o livro “Cinco Semanas em um Balão”, em que Verne colocou
em romance o resultado desses estudos.
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Edouard Manet, “Olympia”, 1863
Paul Cezanne, “Olympia”, 1873
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Deixando Hortense em Marselha, na região mediterrânea, o pintor passou
a oscilar entre Paris e Provença, conhecendo, nessa época o “Pai Tanguy”,
marchand já nosso conhecido, que se dedicava a promover as pinturas dos
impressionistas, fornecendo material de pintura em troca de telas já prontas para
exposição e venda. Cézanne participou, assim, da primeira mostra
impressionista em 1874 e da terceira, em 1877. Da segunda, passou ao largo.
Nessas andanças, fez novas e importantes amizades. Frequentou a casa
de seu amigo Zola, às margens do Sena, onde conheceu o escritor e crítico de
arte Joris-Karl Huysmans (1848-1907). Em L’Estaque, recebeu a visita de
Renoir, no ano de 1882, que ficou maravilhado com a paisagem da região. E,
numa onda favorável, conseguiu pela primeira e única vez, expor no refratário
Salon de Paris, por interferência de seu amigo e artista Antoine Guillemet.
Também reencontrou o pintor Monticelli (Adolphe Joseph Thomas
Monticelli, 1824-1886), que conheceu anos 1860, e os dois pintaram juntos entre
1878 e 1884. Em 1883, morre o Édouard Manet e o grupo impressionista se
desfaz. Em dezembro do mesmo ano, Monet e Renoir se reúnem com Cézanne
em L’Estaque para uma temporada de pintura.
Em certo sentido, todo pintor tem um instinto gregário. Se, de um lado,
precisa da solidão criativa para produzir suas obras, por outro, sente a
necessidade de trocar ideias com companheiros, compartilhando inovações e
trocando informações que são importantes para todo o grupo.
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O futuro, a Deus pertence
Se é certo que Cézanne sempre foi contemplado com uma vida sem
preocupações financeiras, rodeado de amigos e com sucesso profissional,
também é certo que, a partir de um determinado momento, nuvens ameaçadoras
começaram a se formar, marcando a última fase de sua vida com atribulações
sem fim.
Em abril de 1886, casa-se ele com Hortense, ele pintor, ela modelo,
resultando em uma união por conveniência que teve de ser administrada pelo
resto da vida, para salvar as aparências junto à sociedade. Em outubro, morre
seu pai, deixando-lhe como herança uma propriedade que havia adquirido anos
atrás, e mais uma pequena fortuna, que, se lhe trouxe a independência
econômica, levou-o a um isolamento cada vez maior do ambiente social.
Nesse mesmo ano, tem fim sua amizade com o escritor Émile Zola e o
motivo foi aparentemente trivial. Zola acabara de publicar seu novo romance,
L’Œuvre (A Obra), o quarto volume da série “Les Rougon-Macquart” usando
como personagem central um artista fracassado, de nome Claude Lantier.
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Até aí, nada a ver com Cézanne, a não ser pelo fato de que a obra
encaminha o leitor justamente para o mundo da arte e dos artistas, com base em
um retrato de Lantier, evocando, no texto, nomes de proa e, entre eles o nome
de Cezanne. Este considerou o texto indecoroso e, a menção ao seu nome seria,
em seu entender, uma traição por parte do amigo da infância. Rompeu-se a
amizade e os dois não voltaram a se comunicar.
Deste 1890, até sua morte, em 1906, sucederam-se acontecimentos
perturbadores que transformaram Cezanne numa personalidade amarga,
distanciado de todos e refugiando-se apenas na pintura. Com muito custo,
alguns entre os mais íntimos, conseguiam chegar até ele e, entre estes, os
marchands “Pai Tanguy” e Ambroise Vollard (1866-1939), ainda assim, só
para tratar de negócios, sem se permitir uma conversa mais ampla ou qualquer
tipo de aconselhamento.
Já em 1890, começaram a surgir problemas com a saúde, especialmente
com o diabetes, para os quais a medicina ainda não tinha uma farmacopeia
eficiente. A doença afetou mais a personalidade, afastando-o dos amigos.
Sem descuidar-se da vida familiar e honrando o sacramento do matrimônio,
Cézanne permanecia administrando o fracassado casamento, mantendo a
companhia da esposa e do filho Paul, a esta altura um jovem de 18 anos. Não
conseguiu, porém, seguir com esse relacionamento e os dois passaram a viver
em casas independentes, ele garantindo o sustento de Hortense, mas, agora,
vivendo apenas em companhia da mãe viúva e da irmã solteira.
Extravasando seu estado de espírito, o quadro “Jarra com cortina, 1895”
(abaixo), ilustra a tendência de Cézanne pela compressão suave de formas,
acompanhada de uma tensão dinâmica entre as figuras geométricas.
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Isolado e sem rumo, em 1891, retornou ao catolicismo, como tábua de
salvação, ainda que não tenha usado as figuras religiosas como tema de sua
pintura. Conquanto profana, sua arte mantinha uma conotação religiosa, como
ele explica: “Quando julgo a arte, faço meu quadro colocando nele um
objeto que seja obra de Deus, como uma árvore, uma flor, uma fruta. Se
não houver harmonia entre a obra de Deus e o restante, então não é arte.”
Ou para conservar a amizade, a despeito da “retranca”, ou por seu interesse
como marchant, ou, mais provavelmente pelas duas razões, Vollard cuidou até
o fim em promover os trabalhos de Cézanne. Em 1895, organizou uma exposição
individual reunindo 100 telas, a qual teve grande êxito. Após essa mostra, os
quadros de revenda no mercado passaram a alcançar cotações mais altas.
Em 1897, morre seu último ponto de apoio, a própria mãe, e isso o levou a
reconciliar-se com sua mulher Hortense. Vendeu a propriedade onde estava e
alugou outra, em Aix-en-Provence, que passou a servir de abrigo para a família
e estúdio para seguir pintando. Em 1900, três de suas telas são incluídas na
Exposição Universal organizada pelo marchand Paul Cassirer em Berlim. Em
1901, expõe, outra vez, no Salão dos Independentes. Nesse mesmo ano (1901),
Maurice Denis pinta um quadro retratando vários artistas (Redon, Vuillard,
Bonnard e Denis) segurando uma obra de Cézanne, numa significativa
homenagem ao pintor.
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Se sua relação com Hortense não conseguiu seguir adiante, também não
foi por falta de esforço. Para ter um pouco de tranquilidade, em 1901, comprou
uma propriedade no alto de uma vistosa colina em Chemin des Lauves
(Caminho de Lauves) e mandou construir um ateliê, que hoje está aberto aos
turistas, com todos os móveis e apetrechos usados por Cezanne, na mesma
posição em que ele os deixou. Pressentindo a morte próxima, fez um rascunho
de testamento, deserdando a esposa Hortense e deixando todos seus bens
ao filho Paul. A gota final se deu porque ela, por raiva ou por desprezo, queimou
todas as recordações deixadas pela mãe de Cezanne.
Em 1903, sela-se o reconhecimento do artista, em diversas exposições e só
o Salão de Outono exibiu 33 obras suas, com homenagem idêntica nas
exposições de Veneza e de Berlim.
As exposições se sucediam e várias retrospectivas foram montadas,
atraindo muitos pintores emergentes de outras partes da França, que viajavam
até Aix-em-Provence só para vê-lo pintar.e pedir seus ajuizados conselhos.
Não obstante o inequívoco sucesso, suas teorias continuavam sendo para
os críticos um mistério criptografado. Uns o classificavam com um pintor ingênuo
(naïf), outros o entendiam como um complicado mestre com procedimentos
técnicos intangíveis. Qualquer que seja a classificação, ninguém consegue
ignorar a atração exercida por seu trabalho, através das gerações de artistas.
Representações do crânio humano são temas de várias obras de
Cézanne. Para ele, o crânio representava os conflitos existenciais que
culminavam em uma angústia sentida pelo artista.
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Um dia, em 1906, o pintor foi colhido por uma tormenta enquanto trabalhava
ao ar livre e, ainda assim, debaixo da chuva, prosseguiu até o término do quadro.
Só depois de horas debaixo do aguaceiro é que decidiu regressar à casa, mas,
no caminho de volta, desmaiou e foi levado para casa por um transeunte que o
encontrou no chão. Sua governanta tentou reanima-lo e conseguiu que ele
recuperasse a consciência e, no dia seguinte, Cézanne decidiu voltar ao
trabalho, mas desmaiou outra vez.
Desta feita, foi levado à cama e de lá não mais saiu. Morreu poucos dias
depois, em 22 de outubro de 1906, em consequência de uma pneumonia, sendo
sepultado no cemitério de sua cidade natal, em Aix-en-Provence.
Seu último estúdio se transformou em monumento, aberto à visitação
pública e, qualquer um que visite Aix-en-Provence hoje, vai encontrar, a cada
passo, vestígios da passagem de Paul Cézanne, cuja figura conseguiu suplantar
em fama até seu colega de infância, o escritor Emile Zola. A memória é
preservada por todos os cantos da cidade e o turismo, por sua vez, agradece.
Nunca o lugar foi tão frequentado por ávidos visitantes que buscam encontrar lá
vestígios da passagem de seu ilustre cidadão.
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Bom hoje, melhor amanhã
Se é verdade que, desde o primeiro momento, Cézanne demonstrou seu
talento para a arte, foi a forja do tempo que se encarregou de moldá-lo, trazendo-
lhe a experiência, num longo caminho em que, passo a passo, ele foi ajustando
sua paleta até se transformar no mestre reconhecido por seus contemporâneos
e pela posteridade. Costuma-se dividir sua obra em quatro períodos distintos:
1861 – 1870 –
Período escuro, em que a paleta é mais carregada.
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1870 – 1878 –
Impressionismo, quando o artista, na companhia dos jovens
vanguardistas, faz experiências com a luminosidade das cores.
1878 – 1890 –
Maturidade, em que Cézanne revela sua própria personalidade, não
dependendo de fatores externos para balizar sua arte.
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1890 – 1906 –
Ocaso, sob a pressão de uma série de reveses que põe o artista em
confronto consigo mesmo, em tensões ambientais que o fazem
questionar o mundo em redor. Não se trata de uma queda na qualidade
técnica da pintura, mas, ao contrário, o reflexo de suas atribulações no
trabalho realizado neste período.
- 028 -
- 1904 – 1906 -
“Le jardinier Vallier” é um dos
últimos trabalhos de Cezanne
- 029 –
CRONOLOGIA
ILUSTRADA
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-1862 - 1864 -
“O julgamento de Páris”
15 x 21 cm
Pela mitologia grega, “O julgamento de Páris”, também conhecido como
“O julgamento do Monte Ida”, é um episódio importante que coloca em
confronto Héra, Athéna e Aphrodite, prefigurando outro acontecimento de
destaque, que foi a Guerra de Tróia. Foi do julgamento de Páris que surgiu a
conhecida expressão “Pomo da discórdia” (a maçã da discórdia). Durante o
casamento de Peleu e Tétis, no Olimpo, Éris, a deusa da discórdia, que não tinha
sido convidada, resolveu acabar com a alegria reinante e entregou
anonimamente aos olímpicos uma linda maçã, toda de ouro, com a inscrição:
"Para a mais bela". O tema do julgamento de Páris é recorrente e foi objeto de
vários pintores, através dos tempos.
- 031 –
- 1865 -
“O negro Scipião” - 107 x 103 cm
Museu de Arte de São Paulo
Cipião, o Africano, foi um político da República Romana eleito cônsul por
duas vezes, em 205 e 194 a.C.. Um dos maiores generais romanos de toda a
história, derrotou Aníbal na Batalha de Zama, encerrando a Segunda Guerra
Púnica. O quadro pertenceu ao acervo de Claude Monet, que possuía outras 13
pinturas de Cézanne. Esta, ele a conservava em seus próprios aposentos,
considerando-a como uma obra de força extraordinária (“Um morceau de
première force”)
- 032 –
- 1866 –
“Meu tio Dominique como monge”
64,8 x 54 cm – Metropolitan – NY
O jovem e incipiente pintor, ainda em sua fase romântica, mais conhecida
como “Período Escuro”, era um católico fervoroso e, ao colocar seu tio em um
manto de monge dominicano, reflete o desejo de solidão que o perseguiu por
toda a vida.
A juventude romântica, como um todo, se espelhava, na época, em Jean-
Baptiste-Henri Dominique Lacordaire (1802-1861), misto de profeta e político,
precursor do catolicismo moderno e restaurador da Ordem dos Pregadores, que,
anos antes, agitaria a juventude da França em sua tentativa de ganhar a Igreja
Católica pelos ideais republicanos. Cézanne seguiu a onda.
- 033 –
- 1866 -
“Pai Rouvel em Bennecourt”
(Cabeça de um velho)
51 x 48 cm – Museu d’Orsay – Paris
- 034 –
-1867 -
“Cristo no limbo” – 170 x 97 cm
Museu d’Orsay, Paris
“Jas de Bouftan” era o nome da mansão da família Cézanne em Aix-em-
Provence, no extremo sul da França, onde o pintor montou seu primeiro estúdio
e, ato contínuo, começou a decorar o interior da casa com uma série de murais.
Mais tarde, passou essas figuras para as telas e tentou vende-las, em bloco, ao
Museu de Luxemburgo, sem que a negociação chegasse a bom termo, pelo que,
os quadros tornaram-se posse de vários colecionadores, fragmentando o
conjunto. Conforme documentação do período, “Cristo no Limbo” é um desses
fragmentos e, portanto, uma parte de uma obra maior e mais complexa.
- 035 –
- 1867-1869 -
“A tentação de Santo Antônio”
Cézanne pintou, em sequência, três telas sob o mesmo tema, duas das quais
vão aqui reproduzidas e todas elas parecem caracterizar uma representação do
domínio dos conflitos sexuais que afligem o pintor neste momento.
- 036 –
- 1868 –
Abertura da ópera “Tannhauser”
(Mulher ao piano) – 57 x 92 cm
Hermitage Museum, São Petersburgo
A mulher sentada na poltrona é Anne Elizabeth Cezanne, a mãe do artista,
enquanto que a moça ao piano é a sua irmã Marie. Óbvio que não se sabe qual
música a jovem estava tocando no momento. Assim, o título “Abertura da ópera
Tannhauser” foi apenas uma homenagem ao compositor Richard Wagner
(1813-1883). Abaixo, uma cena da ópera.
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- 1869 -
“Madeleine” (La douleur))
165 x 124 cm - < Museu d’Orsay, Paris
Faz parte dos afrescos que o pintor realizou na casa da família em Aix-em-
Provence, mais tarde transpostos separadamente para as telas, em óleo.
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- 1869 – 1871 -
“O relógio preto, de mármore”
54 x 73 cm – Coleção particular
Nesta primeira fase de sua carreira, conhecida como “Período Escuro”, o
pai de Cézanne lhe permitia pintar, e até montou um estúdio na casa da família,
propriedade conhecida como Jas de Bouffan, mas sempre com a condição de
que a pintura seria um hobby e, assim, em troca do consentimento, o jovem
artista tinha que, paralelamente, seguir o curso de direito.
Sem liberdade artística, não havia ânimo para buscar temas na bela cidade
onde moravam e, assim, nas poucas horas em que se dedicava à pintura,
Cézanne pintava as pessoas e objetos da própria casa, ou fazia a releitura de
estampas, o que era um entrave para seu desenvolvimento artístico. A sequência
de pinturas do “Periodo Escuro” reflete esse marasmo.
- 039 –
- 1866-1870 -
“Retrato de Antony Valabrègue”
60,4 x 50,2 cm – J. Paul Guetty Museum, L.A.
Antony Valabrègue (1844-1900) também nasceu em Aix-em-Provence e
era colega tanto de Cézanne quanto de Émile Zola, fazendo parte do restrito
grupo de amigos dos dois. Tornou-se um conhecido poeta e fez sucesso como
crítico de arte para várias publicações.
- 040 –
- 1870 -
“The Railway Cutting”
(A Estrada de Ferro)
80 x 129 cm – Neue Pinakothek, Munique
Afinal, o pai do artista, convencido de que ele não se interessava pelo direito,
desistiu de fazê-lo advogado e Cézanne partiu para Paris, onde tomou contato
com a nova safra de pintores, experimentando pela primeira vez o estilo
impressionista em voga na capital, em especial na comuna de Montmartre e na
região de Pontoise e Ouvers-sur Oise, onde o dr. Gachet mantinha seu hospital.
Surge, então, este primeiro estudo, com uma guinada de 180 graus nos
conceitos admitidos até então e inaugura-se a segunda fase do artista,
conhecida como Período Impressionista.
- 041 –
- 1872 – 1873 -
“La Maison du Pendu”
(A casa do enforcado)
55 x 66 cm –
Museu d’Orsay, Paris
Esta é uma das três telas que Cézanne inscreveu na primeira exposição
impressionista, em 1874, tornando-se evidente a influência de seu amigo
Camille Pissarro, de quem ele assimilou o novo estilo de pintura, trabalhando
juntos em Pontoise e em Auvers-sur-Oise, nas proximidades de Paris. Cézanne
adota não só as cores brilhantes, como também o toque fragmentado usado
pelos impressionistas, que mais tarde seria caricaturado pelos Pontilhistas.
Há também mudança na conceituação da arte, já que ele abandona os
temas dramáticos ou literários, buscando tão somente a emoção, sem qualquer
preocupação didática. Mas se é uma obra de arte impressionista, também não
alcança, ainda, o estilo adotado por seus demais colegas e revela um
impressionismo muito pessoal, revisado por ele próprio e ninguém mais.
- 042 -
- 1873 (circa) -
Paysage d’Auvers-sur-Oise
Ashmolean Museum, Oxford, Inglaterra
Este quadro foi pintado quando Cézanne, conheceu o dr. Paul Gachet,
médico dos artistas e diretor do hospital de Auvers-sur-Oise, onde Van Gogh
esteve internado nos últimos meses de vida. Nesta época, Cezanne já estava
vivendo com sua amante e futura esposa Hortense e os dois tinham seu primeiro
e único filho, Paul.
Gachet que, além de médico, era pintor nas horas vagas e também um
colecionador, admirava as obras de Cézanne, reconhecendo seu potencial. Foi
do médico que partiu o convite para que Cézanne se hospedasse em sua própria
residência e, nesse meio tempo, o artista aproveitou para pintar os arredores,
surgindo, entre outros, o quadro acima.
- 043 –
- 1873 -
La Maison du Docteur Gachet
41 x 27 cm – Museu d’Orsay, Paris
- 044 –
- 1873 -
“Ramalhete em um vaso”
74 x 93 cm – Museu d’Orsay, Paris
- 045 –
- 1873 -
“Vista de Auvers-sur-Oise”
65 x 80 cm – Art Institute of Chicago
- 046 –
- 1873 -
“Le Buffet” - 65 x 81 cm
Museu de Belas Artes de Budapest
- 047 –
- 1874 – 1875 -
“Avenida em Jas de Bouffan”
38 x 46 cm – Tate Gallery - Inglaterra
Jas de Bouffan, recordemos, era a propriedade da família Cezanne nos
arredores de Aix-em-Provence, cidade natal do pintor, no sul da França e bem
distante de Paris, com um bosque cercando a mansão, que fora construída no
Século XVII. A avenida, cercada de castanheiras, era a entrada para a
residência.
Não se sabe exatamente quando o quadro foi pintado, mas ele faz parte de
uma série de obras sobre o mesmo tema, provavelmente executadas de
memória, a partir de ligeiros esboços feitos quando de sua visita à família.
- 048 -
- 1874 – 1875 -
“Banhistas” – (Les Baigneurs)
38,1 x 46 cm – Metropolitan Museum (N.Y.)
“Vivre la France”! Influenciado pelos jovens impressionistas, o artista deixa
de lado os temas religiosos e mitológicos e adere aos nus sem qualquer
restrição. A pintura é leve e o tema é tratado com suavidade, bom gosto e beleza.
- 049 –
- 1875 -
“Après-midi à Naples”
(Uma tarde em Nápoles)
37 x 45 – National Gallery of Austrália
- 050 –
- 1875 – 1877 -
“Auto-Retrato com turbante”
55 x 47 cm - Neue Pinakothek, Munich
- 051 –
- 1877 -
“Retrato de Victor Chocquet, sentado”
46 x 38 cm – Columbus Museum, Ohio (USA)
Victor Chocquet (1821-1891) era um colecionador e entusiasta do
impressionismo. Tinha uma imensa coleção de arte que foi dispersa após sua
morte, achando-se, a maioria dos quadros, em museus americanos.
- 052 –
Além do quadro da página anterior, pintado por Cézanne, o
colecionador e amigo e defensor dos impressionistas Victor
Chocquet, foi alvo de seguidas pinturas também de Pierre-Auguste
Renoir, conforme exemplos abaixo.
- 053 –
- 1877 -
“Natureza-Morta, com terrina de sopa”
65 x 83 – Museu d’Orsay, Paris
- 054 –
- 1877 – 1879 -
“Natureza-Morta, com gaveta aberta”
22 x 41 cm – Coleção Particular
- 055 –
- 1879 -
“A ponte de Maincy”
60 x 73 – Museu d’Orsay, Paris
Maincy é uma comuna francesa a 60 quilômetros de Paris, mais
precisamente na Íle de France, às margens do Rio Sena. É um local bastante
visitado por turistas, principalmente por causa de seus castelos. Entre eles, o
mais famoso é o Palácio de Fontainebleau (Fonte Azul) com magníficos
jardins, declarado Património Mundial da humanidade pela UNESCO em 1981.
Usado desde o século XII pelos reis da França, Fontainebleau era o lugar onde
reis e nobres se reuniam para caçar, uma vez que fica no meio da grande
floresta. A região, no século XIX, era muito frequentada por pintores, conhecidos
como os “artistas de Fontainebleau”. Parte deles foi contratada para ornamentar
o castelo, mas a maioria fazia parte de um grupo de “ar-livristas”.
- 056 –
- 1879 – 1880 -
Les Peupliers (Os choupos)
Desconhecidos no Brasil e em países tropicais, os choupos são árvores
típicas de florestas nórdicas e se encontram em regiões mais temperadas.
Cezzane, em suas pinturas, usava quase que exclusivamente o óleo sobre tela
mas neste caso, excepcionalmente, realizou um trabalho aquarelado.
- 057 –
- 1879 – 1882 -
“Floresta no interior de Fontainebleau”
64 x 80 cm – Coleção Particular
- 058 -
- 1880 -
“Retrato de Paul - 15,2 x 17,1 cm”
Princeton Universit Art Museum
Paul é o único filho do artista, resultado de seu relacionamento com a
modelo Marie-Hortense Fiquet, em 1872. Mais tarde, os dois se casariam,
regularizando a união. Cézanne realizou uma série de retratos do filho e esta
pintura se deu quando o menino tinha já 8 anos. Embora o garoto não se mostre
muito animado em posar como modelo, ainda assim, o pai procurou capturar um
pouco de sua aparência e personalidade, fazendo-o parecer espontâneo.
- 059 –
- 1880 -1882 -
“Madame Cézanne no jardim”
63 x 80 cm – Musée de l’Orangerie, Paris
Católico fervoroso que era, Cezanne sempre lutou para preservar o sacramento
do matrimônio e salvar as aparências, ainda que Hortense não colaborasse em
nada para essa harmonia.
- 060 –
- 1882 -
“Gehöft in der Normandie”
(Fazenda na Normandia)
47 x 65,7 cm – Galeria Albertina, Viena
A Normandia é uma região histórica ao noroeste da França, na divisa com
a Alemanha, colonizada pelos normandos, e onde, em 1945 ocorreria uma
batalha decisiva que selaria os destinos da Segunda Guerra Mundial. Em suas
férias de Verão, Cezane aproveitou para pintar vários quadros.
- 061 –
- 1882 – 1883 -
“L'Estaque, Blick durch die Kiefern”
(L’Estaque vista através dos pinheiros)
72,5 x 90 cm – Reader’s Digest Collection, N.Y.
L’Estaque é uma vila de Pescadores em Marselha, 780 quilômetros ao sul
de Paris, local bastante procurado por impressionistas. Entre 1870 e 1914, as
suas paisagens foram uma fonte de inspiração, por exemplo, para Paul Cézanne,
Georges Braque, ou Auguste Renoir.
- 062 –
- 1882 – 1885 -
“Rochedos em l’Estaque”
72 x 91 cm – Museu de Arte de São Paulo
- 063 –
- 1883 – 1885 -
Baía de Marselha, vista de l’Estaque”
64 x 81 cm – Coleção Particular
Será difícil encontrar uma outra pintura tão simples como esta, o máximo de
economia nos traços, nos planos e nas cores, assemelhando-se à arte
minimalista, em que se procura dizer o máximo, usando o mínimo de recursos.
A linha do oceano é completamente horizontal, as casas são apenas insinuadas,
assim como as árvores ao redor.
- 064 –
- 1883 – 1885 -
“A Baía de Marselha vista de l’Estaque”
65 x 54 cm – Musée d’Orsay, Paris
As cores fortes usadas nesta tela contrariam a paleta usual de Cezane e
nos encaminham para a pintura pós-impressionista, de que seriam mestres
Van Gogh e Gauguin, entre outros, e que abriria as portas, no Século 20, para
o surgimento do fauvismo. O Museu d’Orsay, onde este quadro se encontra,
é, por conveniência, um tributário do grande Museu do Louvre, abrigando as
obras impressionistas pertencentes ao Louvre.
- 065 -
- 1883 – 1885 -
“O mar em “l’Estaque” - 71 x 57 cm -
Fitzwilliam Museum, Cambridge (Inglaterra)
- 066 –
- 1885 -
“A baía de Marselha, vista de l’Estaque”
80 x 99,6 cm – Art Institute of Chicago
Tema recorrente de Cézanne em Marselha, este quadro é uma variação de
outro, feito dois anos antes, que se acha reproduzido na página 064, só que aqui
a pintura volta a ser clara e brilhante, própria do estilo de Cézanne.
- 067 –
- 1883 – 1885 -
“Banhistas fora da tenda”
63,5 x 81 cm -
Staatsgalerie Stuttgart, Alemanha
Cézanne retorna às experiências nos anos de 1874 e 1875, sob o
tema “banhistas”. Não será por muito tempo.
- 068 -
- 1883 – 1887 -
“Retrato de Madame Cézanne” (Hortense)
62 x 51 cm – Coleção particular
- 069 –
- 1884 -
“Der Teich des Jas de Bouffan im Winter”
(A lagoa de Jas de Bouffan no inverno)
92 x 73,5 – Norton Simon Museun
Pasadena, Califórnia (USA)
- 070 –
- 1885 – 1887 -
“A mansão da família Cézanne em
Jas de Boufan” (Aix-em-Provence)
60 x 71 cm, National Gallery, Praga
“Jas de Boufan”, sempre é bom relembrar, é a propriedade familiar onde
Paul Cézanne passou a infância e a adolescência e onde teve seu primeiro
estúdio, no chamado “Período Escuro” . O bom filho, à casa torna e, vez por
outra, lá estava ele para relembrar o passado, reencontrar velhos amigos e, é
claro, pintar. Mas a pintura de agora, quanta diferença!
- 071 –
- 1885 -
“Kastanienbäume im Jas de Bouffan”
(Castanheiras em Jas de Boufan)
65 x 81 cm - Kunstmuseum Winterthur (Suiça)
- 072 –
- 1885 -
“Bastide Provençal” 48,3 × 33 cm
Princeton University Art Museum
Técnica: “wet-on-wet” (alla prima)
Este trabalho foge completamente aos padrões de Cézanne, a começar da
técnica utilizada de “wet-on-wet” (literalmente, “molhado sobre molhado”,
nomeado pelos italianos como “alla prima” (à primeira), que consiste em aplicar
uma camada de tinta a óleo bem diluída e sobrepor a ela outra camada, antes
que a primeira tenha secado. O resultado final pode confundir-se com um afresco
ou, mais precisamente, como uma pintura aquarelada. Exige-se muita atenção
e grande habilidade por parte do pintor, pois se ele perder o “timing” na aplicação
da segunda camada, todo trabalho se ficará prejudicado.
- 073 –
- 1885 – 1887 -
“Castanheiras em Jas de Buffon”
73 x 92 cm – Mineapolis Institute of Arts
(Minnesota – USA)
- 074 –
- 1885 – 1887 -
“Castanheiras em Jas de Buffon”
65 x 81cm – Coleção Particular
Cézanne repete aqui o tema da página anterior, só que muda a paleta,
voltando a admitir cores fortes e agressivas, estilo que começara a ser
experimentado por alguns artistas a partir de 1885. Nada a ver com a rotina do
artista, que não aderiu ao Pós-Impressionismo.
- 075 –
- 1885 – 1887 -
“A vizinhança de Jas de Bouffan”
Solomon R. Guggenheim Museum,
New York - 61 x 81 cm
Repete-se aqui a paleta carregada que, nem de longe, é o estilo de
Cézanne. Em breve, ele abandonaria essas experiências, voltando à
luminosidade dos tempos anteriores.
- 076 –
- 1885 – 1887 -
“Madame Cézanne” (Hortense)
Solomon R. Guggenheim Museum,
New York – 55,6 x 45,7 cm
Enquanto Cézanne e Hortense apenas viviam juntos, ela era mais sua
companheira do que sua modelo e até tiveram um filho juntos. Após celebrado o
casamento, a situação se inverteu, apagou-se a vida conjugal, mas ela seguiu
posando como modelo do pintor. Coisas da vida...
- 077 –
- 1885 – 1887 -
“Große Bäume im Jas de Bouffan”
(Grandes árvores no Jas de Bouffan”
65 x 81 cm – Courtlant Institute
of Art (Londres, Inglaterra)
- 078 –
- 1885 -
“O aqueduto” – 72 x 91 cm
Pushkin Museum, Moscou (Rússia)
- 079 –
- 1890 -
“O aqueduto” (Segunda versão)
Na primeira versão, pintada cinco anos atrás, o aqueduto fica quase que
perdido entre as árvores, mas nesta nova pintura, ele ganha o primeiro plano.
Este quadro é um dos últimos em sua fase classificada como “Maturidade”.
- 080 –
- 1882 – 1885 -
“Mont Sainte-Victoire and the
Viaduct of the Arc River Valley”
65,4 x 81,6 cm
Metropolitam Museum – Nova York
- 081 –
- 1885 -
“Ebene mit dem Mont Sainte Victoire”
(Planície junto ao Monte Santa Vitória)
58 x 72 cm - Pushkin Museum, Moscou
- 082 –
- 1885 -
“Montagne Sainte-Victoire vue de Bellevue”
73 × 92 cm Barnes Foundation, Merion,
Pennsylvania
O Monte de Santa Victória, juntamente com o Monte Ventoux e o Maciço
de Saint-Baume, é um dos símbolos de Aix-em-Provence, um dos marcos da
cidade. Atinge até 1.100 metros de altitude e foi alvo de várias pinturas de
Cézanne.
- 083 –
- 1885 – 1887 -
“Mont Sainte-Victoire” - 67 × 92 cm
Courtauld Institute of Art, London
- 084 –
- 1885 – 1887 -
“Mont Sainte-Victoire” - 55 × 65 cm
National Gallery of Scotland, Edinburgh
- 085 –
- 1886 – 1887 -
Mont Sainte-Victoire
The Phillips Collection,
Washington, D.C.
- 086 –
- 1885 – 1886 -
“Retrato de Madame Cézanne” (Hortense)
47 x 39 cm - Musée d'Orsay, Paris
- 087 –
- 1886 -
“Madame Cézanne” (Hortense)
100.6 x 81.3 cm - Detroit Institute of Arts
- 088 –
- 1885 -
Retrato de Madame Cézanne (Hortense)
46 x 38 cm – Coleção particular
- 089 –
- 1886 -
“Gardanne” – 65 x 100
Barnes Foundation, Merion, Pennsylvania
Gardane é uma pequena vila, bastante visitada por turistas, por estar
próxima a Aix-en-Provence. Acima, a pintura; abaixo, uma foto atual da vila.
- 090 –
- 1887 -
“Sich ausruhender Jüngling”
(Menino em repouso)
Hammer Museum, Los Angeles
- 091 –
- 1888 – 1890 -
“Garoto com colete vermelho”
79,5 × 64 cm
Foundation E.G. Bührle, Zurich
- 092 –
- 1888 – 1890 -
“Garoto com colete vermelho”
81 x 85 cm - Museum of Modern Art, N.Y.
- 093 –
- 1888 – 1890 -
“Garoto com colete vermelho”
92 x 73 cm National Gallery, Washington
- 094 –
- 1888 – 1890 -
“Garoto com colete vermelho”
65,7 x 54,7 cm
Barnes Foundation, Marion, Pennsylvania
- 095 –
- 1890 -
“L'Enfant dans une veste rouge”
(Aquarela) - 46 x 30 cm
Coleção particular
- 096 –
- 1888 – 1890 -
“Retrato de Paul” (filho do artista)
64,5 × 54 cm National Gallery - Washington
- 097 -
- 1888 – 1890 -
Paisagens de Marne (Nordeste da França)
(A paleta volta a escurecer)
- 098 –
- 1888 – 1890 -
“Mount Sainte-Victoire”
65 × 81 cm - Coleção Particular
- 099 –
- 1888 – 1890 -
“O lago em Jas de Bouffan”
64.8 x 81 cm - Metropolitan Museum (N.Y.)
- 100 –
- 1888 -
“Ufer der Oise”
Bancos (de areia) em Oise
49 × 60 cm – Coleção Particular
Auvers-sur-Oise, 45 quilômetros ao norte de Paris é a cidade onde o dr.
Gachet mantinha seu hospital e onde Van Gogh passou os últimos meses de
vida. Fica bem próximo de Pontoise, e ambos locais eram pitorescos e
bastante procurados pelos jovens impressionistas
- 101 –
- 1888 – 1890 -
“Stilleben mit Früchtekorb”
(Natureza morta, com cesta de frutas)
64 × 80 cm Musée d’Orsay, Paris
A partir deste momento, começam a aparecer, com mais frequência. as telas
com frutas, que, em português, são nomeadas equivocadamente como
“Naturezas Mortas”. Em inglês, usa-se, mas apropriadamente, o termo “Still
Life” (ainda viva) e, em alemão. Stilleben, com o mesmo significado. É o
absolutamente certo, já que frutas e flores, depois de colhidas, ainda conservam
suas propriedades: um botão de flor, depois de apanhado, pode desabrochar e
uma fruta tirada da árvore ainda verde, tem condições de amadurecer. Nem um
nem outro estão literalmente mortos. Natureza morta só se encontra no açougue.
- 102 –
- 1889 – 1890 -
“Stilleben mit blauer Vase”
(Natureza-morta, com vaso azul)
61 × 51 cm Musée d’Orsay, París
- 103 –
- 1888 – 1890 -
“Stilleben mit Zuckerdose”
(Natureza morta, com pote de açúcar)
61 x 90 cm - Pushkin Museum, Moscow
- 104 –
- 1888 -
“Pierrô e Arlequim”
102 x 81 cm - Pushkin Museum, Moscow
Pierrô, Arlequim e Colombina são personagens de um estilo teatral
conhecido como Commedia dell Arte, nascido na Itália do século XVI,
integrando uma trama cheia de sátira social, pois os três personagens
representam serviçais envolvidos em um triângulo amoroso: Pierrô ama
Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina.
Nós os conhecemos, todos eles, de outros carnavais...
- 105 –
- 1888 – 1890 -
“Arlequim”
91 x 65 cm – Coleção particular
- 106 –
- 1890 – 1892 -
“Les joueurs de cartes”
(Os jogadores de cartas)
134 x 181 cm –
Barnes Fondation, Merion, Pennsylvania
Começa aqui a quarta e última fase da carreira de Cezanne, conhecida
como “Ocaso”, ou “Decadência”. Os problemas começaram com a crise de
diabetes em 1890, desestabilizando sua personalidade. Ele viajou para a Suíça,
com Hortense e seu filho Paul, talvez na esperança de restaurar as suas relações
com a esposa. Cézanne, porém, retornou à Provença para continuar a vida,
enquanto que Hortense e Paul seguiram a Paris. As necessidades financeiras
fizeram com que Hortense retornasse a Provença, mas vivendo em quartos
separados. Cézanne, então, foi morar com sua mãe e com sua irmã. O mundo,
para ele, nunca mais seria o mesmo e os últimos seis anos de vida foram
tormentosos. As pinturas de frutas e flores permaneceram belas, mas a natureza
humana passou a ser expressa com um amargor que jamais desapareceria. E o
ser humano é retratado agora segundo esse estado de espírito. Desapareceu,
para sempre, o artista que amava a vida e os seres humanos.
- 107 –
- 1892 – 1893 -
“Les joueurs de cartes”
(Os jogadores de cartas)
65 x 61 cm – Metropolitan Museum, N. Y.
- 108 –
- 1892 – 1893 -
“Les joueurs de cartes”
(Os jogadores de cartas)
97 x 130 cm – Royal Family of Qatar
Deste tema, incluindo apenas dois jogadores, Cezanne fez vários quadros,
com variações quase imperceptíveis. Esta é apenas uma delas.
- 109 –
- 1890 -
“Mann mit der Pfeife”
(Homem com cachimbo) - 91 x 72 cm –
Hermitage Museum, Saint Petersburg
- 110 –
- 1890 – 1892 -
Pfeife rauchender Mann
(Homem fumador de cachimbo)
72 x 91 cm - Pushkin Museum, Moscow
- 111 –
- 1892 -
“Mann mit Pfeife”
(Homem com cachimbo)
73 x 60 cm - Courtauld Institute of Art, London
- 112 –
- 1890 – 1894 -
“Badende” ((Les Baigneurs)
Os banhistas (The bathers)
60 × 81 cm Musée d’Orsay, París
- 113 –
- 1890 – 1894 -
“Badende” ((Les Baigneurs)
Os banhistas (The bathers)
26 × 40 cm
Hermitage Museum, Saint Petersburg
- 114 –
- 1890 -
“Natureza-morta, com maçãs e um
vaso de prímulas (primaveras)”
58 x 91 cm - Metropolitan Museum (N. Y.)
- 115 –
- 1890 – 1894 -
“Le Panier de pommes”
(A cesta de maçãs)
65 x 80 cm - Art Institute of Chicago
- 116 –
- 1890 – 1894 -
“Stilleben, Tulpen und Äpfel”
(Natureza-morta, com tulipas e maçãs)
58,5 × 42 cm - Art Institute of Chicago
- 117 –
- 1890 -
“Selbstporträt mit Palette”
(Auto-retrato com paleta)
92 × 73 cm - Foundation E.G. Bührle, Zürich
- 118 –
- 1890 – 1895 -
“Self-portrait in a Felt Hat”
(Auto-retrato com chapéu de feltro)
61,2 × 50,1 cm
Bridgestone Museum of Art, Tokyo
- 119 –
- 1890 -
“Portrait de Madame Cézanne”
Retrato de Madame Cézanne (Hortense)
81 x 65 cm - Musée de l’Orangerie, Paris
Se Hortense não cumpria seus deveres conjugais, ela continuava a ser, mas
do que nunca, uma excelente modelo e jamais se recusou a posar para os
retratos de Cézanne, permitindo a produção de uma série deles.
- 120 –
- 1890 – 1894 -
“Madame Cézanne im Rot”
(Madame Cézanne em vermelho)
89 x 70 cm - Museu de Arte de São Paulo
- 121 –
- 1890 – 1895 -
“Frau mit Kaffeekanne”
(La femme à la cafetière)
Mulher na cafeteria
130 × 97 cm - Musée d’Orsay, Paris
- 122 –
- 1891 -
Madame Cézanne no Conservatório
92 × 73 cm Metropolitan Museum of Art – N.Y.
- 123 –
- 1892 – 1894 -
“The house with cracked walls”
(Casa em ruínas) - 80 x 64,1 cm
Metropolitan Museum of Art, New York
- 124 –
- 1892 – 1896 -
“Sitzender Bauer” (Seated Peasant)
(Camponês sentado) 54,6 x 45,1 cm
Metropolitan Museum of Art, N. Y.
- 125 –
- 1893 – 1894 -
“Stilleben, Draperie, Krug und Obstschale”
(Natureza-morta, cortina, jarra
e bacia com frutas) - 59 × 72.4 cm
Whitney Museum of American Art, N. Y.
- 126 –
- 1893 – 1895 -
“Rideau, Cruchon et Compotier”
(Cortina, jarro e fruteira)
59.7 x 73 cm – Coleção particular
- 127 –
- 1895 -
“Natureza-morta, com cortina”
55 × 74.5 cm - Hermitage Museum,
São Petersburgo – Rússia
- 128 –
- 1895 -
Casa no caminho para o “Château-Noir”
65 x 81 cm - Kimbell Art Museum, Texas
Em 1889, voltando a morar em Aix-en-Provence, Cézanne saiu a busca de
temas para pintura e ficou fascinado ao descobrir, a alguns quilômetros, o
Château-Noir, recentemente construído, mas em estilo medieval e inacabado,
dando a aparência de ruínas seculares, o qual deu origem a vários quadros seus.
O caminho era de formado por estrada rústica, com uma floresta intermitente,
pontuada de casas perdidas. Esta é uma delas.
- 129 –
- 1895 – 1898 -
“Stilleben mit Zwiebeln”
“Natureza-Morta, com cebolas”
66 x 81 cm - Musée d’Orsay, París
- 130 –
- 1895 -
“Auto-retrato em aquarela”
26 × 22 cm – Coleção particular
A aquarela é leve e graciosa, mas a fisionomia é sombria, revelando
os males físicos e psicológicos do artista. No mesmo ano, ele faria outro
retrato, mas em óleo sobre tela, usando uma paleta escura, o que nos remete à
lembrança da primeira fase, o “Período Escuro”.
- 131 -
- 1895 – 1896 -
“Greisin mit Rosenkranz”
(Senhora idosa com rosário)
80 × 64 cm - National Gallery, Londres
A paleta escura, como uma mensagem, volta a predominar. Cézanne retornara
ao catolicismo mas sua abordagem da morte continuava indecisa.
- 132 -
- 1896 – 1897 -
“Homem com roupão azul”
81.5 x 64.8 cm Kimbell Art Museum, Texas
- 133 –
- 1896 -
“Annecy Lake” - 64 × 79 cm
Courtauld Institute of Art, London
Situado ao leste da França, na divisa com a Suíça, o
Annecy Lake é o terceiro maior lago do país.
- 134 –
- 1898 -
“Straßenkurve in Montgeroult”
(Curva da estrada em Montgeroult)
81.2 × 66 cm - Museum of Modern Art, N. Y.
- 135 –
- 1898 – 1899 -
“Im Wald” (Na floresta)
61 x 81,3 cm - Fine Arts Museums
(Museu de Belas Artes de São Francisco)
- 136 –
- 1898 – 1900 -
“Selbstporträt mit Barett”
(Auto-retrato com boina)
63,5 × 50,8 cm - Museum of Fine Arts, Boston
- 137 –
- 1900 – 1904 -
“Ruínas do Castelo de Château-Noir”
74 × 96,5 cm -
National Gallery of Art,Washington, DC
Bibémus é um subúrbio de Aix-em-Provence e, ao tempo de Cezanne, era
ligado à cidade por uma estrada estreita e sinuosa. Ele pintou as ruínas da
mansão usando paleta escura e contrastante, utilizando diversos tons de azul e
roxo para formar o céu. O tom taciturno, os galhos das árvores e o isolamento
da casa transmitem um ar de melancolia para a obra, feita no período em que
Cézanne vivia atormentado pela doença e por problemas familiares,
relembrando o seu “Período Escuro”.
- 138 –
- 1900 – 1904 -
“Wald bei den Felsenhöhlen
oberhalb des Château Noir”
Floresta e cavernas de Château Noir
90,7 × 71,4 cm National Gallery, London
- 139 –
- 1900 -
“Citerne au Parc du Château Noir”
(Cisterna no parque de Château Noir)
61 × 74,3 cm - Princeton University Art Museum
Entre 1899 e 1902, Cézanne se deslocou com frequência até a vila vizinha a
Aix-en-Provence para pintar o “Château Noir” e circunvizinhanças. O castelo
inacabado, apesar de sua aparência medieval, era de poucos anos atrás, mas
seu abandono lhe dava a aparência de ruínas de uma velha mansão, o que atraiu
a atenção do pintor.
- 140 –
Nas páginas 140 e 141, 4 cenas com banhistas, esboçadas em
1900 e completadas nos anos seguintes. Cezanne mantinha em
execução vários quadros ao mesmo tempo, o que explica a razão
de, alguns deles, levarem anos a terminar
- 141 –
Aparentemente, trata-se dos mesmos modelos, o que leva a crer
que todos os esboços foram realizados na mesma ocasião.
- 142 –
O que, até então, era taciturno, agora virou macabro, e surge a
série de pinturas de Cézane com variações estranhas usando como
tema as caveiras humanas.
Picasso experimentaria o mesmo tema, muitos anos depois, mas
sem a fixação, quase doentia, de Cezanne
- 143 –
- 1902 – 1904 -
“Mädchen mit Puppe”
(Menina com boneca)
73 × 60 cm – Coleção particular
- 144 –
- 1904 -
“Porträt einer Dame in Blau”
(Retrato de uma dama em azul)
88,5 x 72 cm -
Hermitage Museum, Saint Petersburg
- 145 –
Nos dois últimos anos de vida, Cézanne voltou a focalizar o Monte
Vitória e as ruínas do “Château Noir”
- 146 –
Fazendo uma releitura dos esboços realizados anos atrás, Cézane
volta ao tema “Banhistas” (Die großen Badenden), com novos
quadros pintados entre 1904 e 1906, ano de sua morte. A nudez,
agora, deixa de representar “la joie de vivre”, para se tornar
“Miserere”, a miséria da condição humana
- 147 –
- 1904 – 1906 -
“Porträt des Vallier” (Retrato de Vallier)
107,4 × 74,5 cm - National Gallery-Washington
- 148 -
Fluß bei der Brücke der drei Quellen
Pont des Trois Sautets (watercolour)
(A ponte das três fontes)
Esta é uma das últimas pinturas de Cézanne, feita excepcionalmente em
aquarela, e foge completamente ao seu estilo pictórico.
Em outubro de 1906, Cézanne trabalhava em campo aberto quando foi
surpreendido por uma tempestade. Só foi para casa após trabalhar duas horas
na chuva. No caminho caiu, foi socorrido por um motorista que passava, o qual
o ajudou a ir para casa. Cézanne recuperou a consciência após ser tratado.
No dia seguinte, pretendia continuar o seu trabalho, mas estava muito fraco
e acabou por desfalecer outra vez. Foi colocado numa cama, de onde nunca
mais se levantou. Morreu alguns dias após o incidente, em 22 de outubro de
1906, de pneumonia. Foi enterrado num antigo cemitério de sua amada cidade
natal, Aix-en-Provence.
- 149 –
Alguns de seus auto-retratos
- 150 –