Vanessa Aparecida Ricardo AnastacioLetras Licenciatura em Língua Portuguesa.Dissertação apresentada ao Curso de Formação de Professores do Estado de São Paulo.
Novembo/2012.
Uma constatação é a de que as crianças têm um grande interesse pela
leitura de literatura. Adoram ouvir e ler histórias. Com o tempo, parece que
vão se afastando da literatura e quando chegam ao Ensino Médio estão, na
sua maioria, bastante afastados do hábito de ler literatura. De acordo com o
currículo, há algumas estratégias de que podemos nos utilizar para reverter
esse quadro, motivando os jovens para a leitura e desenvolvendo-lhes o
gosto pela Literatura. Descreva quais são os pressupostos que o professor
deve ter ao planejar sua aula com literatura a fim de fazer com que o aluno
do Fundamental II não perca o gosto pela Literatura.
Em meu primeiro contato com a Literatura na graduação, lembro-me que a
professora nos fez a seguinte pergunta: “Respondam, pra que serve a Literatura?!
Sejam objetivos pra que ela serve?” Havia na sala um número expressivo de
grandes amantes da literatura, inclusive eu, mas nenhum de nós soubemos
responder efetivamente da maneira como nos foi questionado pra que de fato
servia a literatura, considerado o silêncio, os murmúrios na sala, a professora
respondeu, algo como essas palavras: “Objetivamente pra nada, um indivíduo é
tranquilamente capaz de viver com saúde e em paz sem ter lido efetivamente
qualquer literatura, inclusive sem conhecer os clássicos. A literatura vocês sabem
o que ela é? Sabem o que ela significa?! Ela assemelha-se a 'flor de tomate sobre
a maionese' Você não vai sentir falta se ela não estiver ali, mas com certeza o fará
muito bem vê-la. Essas palavras eu nunca mais esqueci! Questionei-me por um
bom tempo a respeito delas, realmente, a literatura não é como a matemática
prática e objetiva, como a história real, registrada, a química a biologia a genética
enfim, ela é como toda a Arte uma espécie de libertação do indivíduo, dessa
forma, ao trabalharmo-la não devemos considerá-la apenas como um recurso para
que repassemos aos alunos as escolas literárias os movimentos, a semana de 22,
enfim, ela não pode ser reduzida apenas a um mero veículo ou recurso de
informação, ela é muito mais que isso, ela vem para integrar e, assim como toda a
arte ela é a manifestação de vida do indivíduo, logo é preciso que haja prazer, que
haja voluntariedade, vontade em querer aprender.
Para haver prazer é preciso que haja envolvimento, cumplicidade, é preciso
que o indivíduo se encontre naquilo que está sendo dito, que a palavra o toque de
alguma maneira no sentido de atenção, de acolhida, ou mesmo, de adverti-lo,
corrigindo-o, ou dando a esse indivíduo nova visão a alguma coisa, situação ou
ponto de vista. Deve haver o contato, essa coisa bem humana, bem viva e única,
que nos permite sentir de verdade as coisas! E, esse contato se dará justamente
por intermédio do professor, numa relação professor – livro – e aluno, assim como
fazer AMIZADES, como conquistar um amigo! Uma relação que se constrói
através da troca de cumplicidades, de identificar no outro alguma coisa sua, ou
alguma coisa da qual você ainda não tem, mas que te faz querer se aproximar,
trazer pra perto de si as coisas 'boas' a experiência do outro! É uma troca, um
envolvimento. O professor irá promover o contato do aluno com o livro e do livro
com o aluno até que essa relação de amizade se torne algo confiável a ponto que
haja uma entrega, uma cumplicidade.
O que proponho não é nada utópico embora pareça. No mundo atualmente,
a concorrência com os livros é de fato desleal, temos jogos das mais avançadas
tecnologias, computadores que nos permitem conversar em tempo real, inclusive
visualizando pessoas que podem estar até mesmo do outro lado do mundo, redes
sociais com todo o tipo de abordagens; culturais, educacionais, econômicas,
políticas, ou seja, hoje em dia é possível ter o mundo na palma das mãos (com um
ipod, ipad, tablet, enfim) e, saber do mundo com apenas um clique! É
evidentemente desleal para os livros, mas porquê?! Porque não é ou não foi uma
relação intrinsecamente construída, ora considerando ainda a relação ‘aluno-livro’
como a da amizade: nós quando conhecemos novos amigos, só por isso não
deixamos de lado os velhos, não é mesmo?! Eles continuam sendo parte de nós,
continuamos nos relacionando com eles. Dessa forma, acredito que o professor
deve estimular esses alunos através do contexto, que essa também pode ser uma
relação prazerosa, de cumplicidade, de descobertas e, principalmente de
conhecimento, de desenvolvimento.
Para que essa relação seja construída o professor deve compreender a
literatura, para que não cometa o equívoco de apresentá-la apenas por sua
classificação dentro das escolas literárias, ou pela sua abordagem nos grandes
vestibulares do país ou ainda, para análise sintática do texto, a literatura não pode
ser circunscrita à base apenas, ela é um edifício inteiro e é independente!
Enquanto as pessoas e, principalmente, os professores ensinarem literatura
através de uma perspectiva prática e útil ela continuará sendo dispersa, deixada
de lado, considerada enfática! Trabalhar análise sintática dos “Lusíadas”, ou
entender a respeito da sintonia dos poemas de Vinícius, decorar as passagens de
“Os Maias”, saber de cor os poemas de Quintana não garantem emprego, vagas
nas universidades, cargo em concursos, efetivamente, para o sentido prático da
Vida ela não garante nada! Mas alivia a alma e quando muito, quando lida é um
encontro e quando escrita um desabafo! O ensino em sentido literal, digo, não só
da literatura não pode focar apenas nas conquistas materiais, na elevação
econômica ou na posição social, é preciso que o indivíduo tenha um recurso,
tenha um meio de refletir e/ou questionar sobre si, sobre sua cultura e a sociedade
em que vive, sem esperar alguma coisa materialmente, concreta como troca! Para
que se ensine literatura é preciso que a compreenda o seu sentido de inclusive
transcender ao próprio sentido.