CARACTERIZACAO GEOQUIMICA DOS GRANITICOS DE S. OVIDIO, NORA
(PROVINCIA DO MINHO)
COMPLEXOS E ARGA
par
GRACIETTE T. DIAS *
RESUMO
Na regiao de Ponte de Lima afioram granitos hercinicos peralurninosos, de duas micas, tendencia porfir6ide, grao grosseiro ou medio-fino e granit6ide biotitico mesomelanocrata de grao fino.
A caracteriza9ao geoquimica dos maci90s gramticos de S. Ovidio, Nora e Arga evidencia diferen9as significativas entre os tres maci90s qcler a myel composicional, quer a mvel das tendencias evolutivas primarias e secundarias (tardi a posmagmaticas). Tendo em conta estes factos e a cronologia relativa de coloca9ao das tres unidades graniticas conclui-se, finalmente, da incompatibilidade de uma evolu9ao magmatica continua.
Os granitos estudados caracterizam-se por altos teores em Rb e baixos valores em Ba e Sr; de salientar ainda raz5es K/Rb e Ba/Rb baixas.
Verifica-se uma descontinuidade composicional not6ria entre os granitos estudados e 0 granit6ide biotitico de Bertiandos. Este e caracterizado por uma certa singularidade composicional e geoquimica, pelo que nao e de excluir a hipotese de equilibrio progressivo entre uma «forma9ao» mais basica e 0 granito de S. Ovidio.
MSUME
Le secteur etudie se situe dans la zone Centro-Iberique de la chaine hercynienne, dans la region de Ponte de Lima. II renferme des granites peralumineux, a deux micas, a tendance porphyroide, a grain grossier ou grain moyen a fin et un granitoide biotitique sombre a grain nn.
La caracterisation geochimique des massifs granitiques de S. Ovidio, Nora et Arga met en evidence des differences significatives entre les trois massifs, soit au niveau de Ia composition, soit au niveau des tendances evolutives primaires et second aires (tardi a postmagmatiques). Ces differences, associees aux donnees sur Ia chronologie relative de mise en place des trois unites granitiques, sont incompatibles avec une evolution magmatique continue.
Les granites etudies se caracterisent par des teneurs tres elevees en Rb, basses en Ba et Sr; les rapports K/Rb et Ba/Rb sont bas.
II exisLe une forte discontinuite de composition entre les granites et Ie granitoide biotitique de Bertiandos, qui presente une certaine singularite geochimique. L'hypothese d'un equilibrage progressif entre une «formation» plus basique et Ie granite de S. Ovidio n'est pas a exc1l.lre.
1. INTRODUCA.O
o sector em estudo situa-se na regtao de Ponte de Lima (Provincia do Minho, Norte de Portugal). Pertence a zona Centro-Iberica da cadeia hercinica da Peninsula Iberica (JULIVERT & al., 1974), localizando-se a oeste da estrutura axial que prolonga a «Fossa Blastomilonitica» da Galiza Ocidental (RIBEIRO & al., 1979).
Nesta area desenvolve-se um estudo estrutural, petro-mineral6gico e geoquimico dos diferentes maci-90S de granit6ides, e suas relacoes com 0 encaixante. Apresentam-se, neste trabalho, alguns aspectos petrograficos e geoquimicos dos maci<;(os de S. Ovidio, Nora e Arga.
Estes maci<;(os graniticos tem sido considerados p6s-estefanianos (NEIVA, 1954; TEIXEIRA, 1972). S. BARR & L. AREIAS (1980) referem uma idade de 316 + 4 MA para os granitos de Padela, S. Vertssimo, ~ Ovidio e Refoios do Lima. Segundo estes autores as intrusoes granfticas da regiao de Viana do Castelo, (entre as quais se incluem os 3 maci~os em estudo) exibem uma tendencia de diferencia<;(ao calcoalcalina tlpica, e parecem pertencer a uma serie comagmatica.
* Universidade do Minho, Largo do Pa90, 4700 Braga. Bolseira do Instituto Nacional de Investiga9ao Cientifica.
37
2. GEOLOGIA REGIONAL
Na regiao afioram formacoes metassedimentares deformadas, de idade siluric a, essencialmente constituidas por micaxistos, sendo tambem de assinalar a ocorrencia de metagrauvaques, quartzitos, xistos grafitosos, quartzitos grafitosos, metavulcanitos acidos e niveis de rochas calcossilicatadas.
As forma90es siluricas da area em estudo sao atravessadas por intrusoes de rochas granitoides hercinicas, nomeadamente as facies granitic as de S. Ovidio, Nora e Arga, facies «granodioritica» de Bertiandos, filoes aplito-pegmatiticos e filoes de quartzo, mineralizados ou nao (fig. 1).
Os granitos de S. Ovidio e Nora sao caracterizados pela presen9a de duas micas, grao medio ou medio a fino e tendencia porfiroide, bern marcada nas facies de bordadura. De referir a forte moscovitiza9aO que afecta 0 maci90 de S. Ovidio, evidenciand o-se quer em «band as», por vezes planares (paralelamente a fracturas), quer envolvendo «bolsadas» pegmatiticas ou no encosto com filoes aplito-pegmatiticos.
x x x x x.". " I ,"
x xl x J,. .. ,·:'x I __ J __ _
X x I • , : x. x
lEGENDA
Immmmmmmmi PLiSTOc:ENICO E IIODERNO
~ f"'X""+"X+l ~
--------
ROCHAS METASSEDIMENTARES SILURICO
MICAXISTO E METAGRAUVAOUE:
XISTO GAAFITOSO: OUAR'rZITO QRAFfTOSO
• ZONA DE ASSOCl~
G.ANITO + """'"STO ("ETAG.AU~E)
ROCHAS GRANITOIOES
GR~NITO DE DUAS MlC.AS, TENDENcIA PQRFtAOIDr, GRAO GftOSSEIRO A MEDtO (ARGA)
GRANITO DE DUAS MICAS. PORFIROID£ OU TENDENCLI PORFIROtDE, IlATRIZ DE GRAD MEDID A FINO (s!- oviDIo)
GRANITO DE DUAS MICAS, PORFIAOtoE OU TENDENCIA PORFIFIOIDE. IlATIU2. DE GHio MEDIO A FINO (flORA)
-GRANODIORITO- 81OTiTICO (BERTJANDOS)
-.-
No interior dos maci90s de S. Ovidio e Nora aflora associa9aO de granito e de xistos metamorficos deformados, sendo os contactos normalmente concordantes. Sera designada por «zona de associa9aO» (fig. 1).
A facies de Arga e granito de duas micas, grao medio a grosseiro e fraca tendencia porfiroide, sendo esta mais marcada na bordadura do macic;o.
No maci90 de S. Ovidio, em Bertiandos, aflora rocha mesomelanocrata, equigranular de grao fino, biotitica, com concentra90es ( «moscas») de biotite e plagioclase. No interior da mancha a rocha torna-se por vezes mais mesocrata, de grao medio a fino, nao se desenvolvendo as concentra90es de biotite e plagioclase. E denominada de granodiorito por C. TEIXEIRA & al. (1972) e S. BARR & L. AREIAS (1980).
Referenciando-nos a ultima fase de deforma9ao hercinica (dobras de plano axial subvertical, xistosidade: de plano axial aproximadamente N 40 0 W), e tendo em considera9aO as rela90es granitos-deforma9aO consideramos que a coloCa9ao do granito de Arga e contemporanea desta rase. Os granitos de S. Ovidio e Nora sao mais precoces e postecto-
1
\ /
Fig. 1- Mapa geologico simplificado da regiao de Ponte de Lima (elaborado com base na Carta Geologica de Portugal, na escala 1:50000 - folhas Ie e SA, e modificado com base nos trabalhos em curso).
38
nicos relativamente a fase anterior de dobramento hercinico (dobras deitadas, xistosidade sub-horizonal) (DIAS & 130ULLIER, 1985).
3. CARACTERIZA~AO PETROGRAFICA
Os parametros macroscopic os permitem uma primeira classificac;ao dos diferentes granitoides. No entanto, no campo, e diffcil diferenciar as facies de S. Ovidio e Nora.
o estudo microscopico forneceu uma mais correcta caracterizac;ao de cada uma das facies, 0 que permitiu a comparac;ao entre os diferentes tipos de granitos. A associac;ao mineralogica encontrada e muito semelhante, independentemente da facies granitica a que diz respeito, e 0 reconhecimento das principais diferenc;as apenas e possivel em exame de pormenor. No entanto torna-se diffcil estabelecer uma cronologia de individualizac;ao das fases mineralogicas (sobretudo no caso das fases feldspaticas), pois as relac;oes primarias entre elas encontram-se mascaradas ou mesmo obliteradas por fenom·enos deutericos ou de recristalizac;ao posmagmatica.
Resumiremos alguns dados (seleccionados func;ao dos objectivos desta publicac;ao) sobre a mineralogia, relac;oes texturais e cronologia relativa das fases mineralogic as presentes nas quatro facies de granitoides em estudo.
3.1. Facies paniticas
As principais fases minerais presentes sao: quartzo, feldspato potassico, plagioclase (albite-oligoclase acida), biotite, moscovite, apatite, zircao, ilmenite, clorite, rutilo, turmalina, silimanite.
A ilmenite, 0 zircao e a apatite foram os primeiros minerais a individualizarem-se, seguidos da biotite e da plagioclase I. Segue-se, de perto, 0 inicio da cristalizac;ao do feldspato potassico e, por fim, a moscovite leo quartzo que, conjuntamente com os minerais anteriores, constituem a associac;ao base da fase que consideramos magmatica.
Fenomenos tardi a posmagmaticos promoveram modificac;oes em algumas fases primarias presentes e a formac;ao de novas fases, nomeadamente albite, moscotive II + quartzo, clorite.
No granito de Arga 0 feldspato potassico ocorre em megacristais (com tendencia euedrica a subeuedrica, contendo inclusoes de plagioclase, quartzo e biotite) ou na matriz em secc;oes anedricas. Trata-se de fase feldspatica caracterizada pela coexistencia de dominios monoclinic os (ortoclase) e dominios triclinicos, Com maclamento difuso, associados a micropertitizac;ao fraca.
o granito de Nora e caracterizado por urn conteudo em feldspato potassico superior ao observado na facies de Arga, sendo comparativamente empobrecido em quartzo. Os megacristais sao de feldspato potassico, ortoclase a ortoclase-«microclina» (com maclamento em xadres difuso) e fracamente micropertiticos. Ofeldspato potassico anedrico evidencia maclamento melhor definido.
o granito de S. Ovidio possui urn conteudo em feldspato potassico superior ao observado para o granito de Arga. Os megacristais sao de feldspato potassico, ocorrendo esta fase mineral igualmente na matriz. Trata-se de microclina pertitizada, «microclina» com dominios monoclinicos, evidenciando neste ultimo caso micropertitizac;ao fraca.
As tres facies graniticas caracterizam-se por urn forte conteudo albitico da plagioclase primaria (albite a oligoclase acida).
No granito de Arga a plagioclase I ocorre em megacristais e macrocristais euedricos a subeuedricos, inclusa no feldspato potassico (em secc;oes corroidas, de tendencia euedrica a subeuedrica, por vezes ligeiramente zonadas) e em plagas anedricas matriciais em associa9ao com 0 quartzo. A sua composic;ao varia entre An3 e An15, sendo de referir que os conteudos anortiticos mais elevados dizem respeito a secc;oes de plagioclase inclusa nos megacristais de feldspato potassico.
No granito de Nora a plagioclase I (An3-AnI6) ocorre em macrocristais euedricos a subeuedricos, em inclusoes nos megacristais de feldspato potassico (por vezes com ligeiro zonamento) e na matriz com formas anedricas.
No granito de S. Ovidio a plagioclase I, subeuedrica a anedrica, e matricial, ocorrendo igualmente inclusa nos megacristais, oude se apresenta por vezes fracamente zonada. Trata-se de albite a oligoclase acida (An2-AnI6).
o granito de S. Ovidio e mais biotitico do que as outras duas facies graniticas. A biotite, subeuedrica, contem inclusoes de zircao, ilmenite e apatite. Ocorrem associac;oes paralelas de biotite e moscovite I, mas esta e essencialmente anedrica e matricial.
A formac;ao de moscovite II + quartzo, em associac;oes simplectiticas, afecta preferencialmente as plagioclases e de uma forma incipiente os feldspatos potassic os. Observam-se igualmente franjas de moscovite II nos bordos das plagas de moscovite I e de biotite. De referir que 0 grau de moscovitizac;ao e variavel dentro de cada macic;o.
A albitizac;ao afecta os tres macic;os graniticos, dando origem a orIas quartzo-albiticas e a pertites de substituic;ao no feldspato potassico. A albite II envolve por vezes a plagioclase primaria.
A eloritizac;ao da biotite, acompanhada do desenvolvimento de rutilo (por vezes em estruturas sageniticas), da-se preferencialmente ao longo das elivagens da biotite. Esta fracamente desenvolvida nas tres facies graniticas em estudo.
3.2. Facies «granodioritica» de Bertiandos
Esta facies e caracterizada pela seguinte associac;ao mineralogica: plagioclase, biotite, quartzo, feldspato potassico, apatite, zircao, ilmenite.
Dispersos na matriz fina ocorrem pequenos megacristais de plagioclase e concentrac;oes de biotite euedrica a subeuedrica e de plagioclase. Esta e euedrica, forte mente zonada, com inclusoes de quartzo e de biotite em epitaxia, apresentando uma composic;ao An30-An55. Na matriz ocorre plagioclase (An21-An32) subeuedrica a anedrica zonada, biotite subeuedrica a anedrica, quartzo e feldspato potassico anedricos.
A facies de grao medio a fino torna-se menos biotitica, mais rica em quartzo e as plagioclases apresentam zonamento menos acentuado. Verifica-se igualmente tendencia para 0 desaparecimento das concentrac;oes plagio-biotiticas.
Os feldspatos do «granodiorito» de Bertiandos exibem curiosos aspectos de substituigao, com a formac;ao de quartzo, preferencialmente ao longo de clivagens e fracturas: gotas e vermiculos «em escada» e em continuidade optica; «franjas de gotas» nos bordos dos pequenos megacristais de plagioclase.
39
Desenvolve-se intensa moscovitiza9ao das pIagioc1ases.
4. GEOQU1MJCA DOS ELEMENTOS MAJORES
Efectuou-se uma amostrage:m cobrindo as areas afiorantes dos tres maci90s em estudo. As amostras foram analisadas, por quantometria, no Centre de
6.0
5 •. 5
5.0
4.5
4.0
3.5
10
2.5
3.0
2.5
2;'0
1.'.5
1.0
0.5
16.0
15.0
14.0
•
•
•
• • •
, · •
•
. -
.-.-
64.0
• •
• •
--
•
-
65.0 66;0 67.0 68.0
Recherches Petrographiques et Geochimiques do CNRS (Nancy).
o presente estudo geoquimico seguini duas vias de abordagem: estabelecimento das composi90es medias por facies petrografica; estudo dos dominios e tendencias nos diagramas quimico-mineralogicos propostos por H. DE LA ROCHE (1964).
69.0
o c
cPo o
o
00 00 0
o
0 0 000
0 0
0 o 0
00 c
0
70.0
o 0
c~ c~ttE 0
fPo C f Qo 0
• A IJ~ C At:. A o
o •
A
o o
(aO
t c~A 0 A 0
CD of8 C &h'ti c. t9 0'
0 0 0
Al203
t:.
e~ :lAO A C B CD 0 0 C C 0 °A 0
0
°
71.0 '72.0 73.0
SiOz
Fig. 2 - Diagramas de varia~o dos elementos maiores fun~ao de Si02 dos granit6ides da regiao de Ponte de Lima.
40
4.1. Composi~Oes medias das facies petrograficas
No quadro I figuram as composi~oes medias, em elementos maiores e vestigiais significativos, das quatro facies definidas petrograficamente. Os diagramas de variacao dos teores em 6xidos fun~ao de Si02 estao representados na figura 2.
6.0 .-.
5.5 .
5.0 • •
4.5
4.0
3.5
3.0
2.5
2.0
1.5
2.0 • . I. • 1.5
• 1.0
0.5
• 1.5 -•• 1.0 • •
0.5
64.0 65.0 66.0 67.0 68.0
E de referir, em primeiro lugar, a existencia de uma descontinuidade composicional entre 0 granit6ide de Bertiandos e 0 conjunto de granitos de duas micas. Nao se verificam, no entanto, diferen~as notaveis entre as divers as unidades graniticas.
Fe20i
00 0
0° ° 0
0
00 0 ~o~o~ a, A 0
co" 0 °A
0
·MgO
0° ~ C (lJ
0 00 CCb 0 tdi A A <[fb OA 0 0 0 00 COD 00 oA <ti 0 00 lJ
Ti O2
(!) 0 0d 0 o 0°0 tPo B~ A~o 8
0 lJ 9 ~ OA
69.0 70.0 71.0' 72.0 73.0
Si02
LEGENDA
GRANltOIDE BIOTITICO Bertiondos • {S!OOVidiO 0
GRANITOS Nora 0
Argo A
Fig. 2 - (Continua~ao).
41
I ° I N I A I B
n(*) (24) (16) (6) (7) Si02 70.80 70.83 71.64 64.55 Al20 s 14.96 15.11 15.18 15.51 FelPst 2.15 1.78 1.94 5.48 MnO 0.03 0.03 0.04 0.09 MgO 0.49 0.36 0.44 1.67 CaO 0.38 0.33 0.33 2.18 Na20 2.86 2.87 3.02 2.72 K20 5.49 5.50 5.02 4.42 Ti02 0.49 0.36 0.27 1.29 P20 0 0.48 0.41 0.39 0.41 P.F. 1.29 1.58 1.54 1.14 TOTAL 99.42 99.16 99.81 99.46
Ba 305 237 226 713 Sr 66 68 69 176 Rb 436 4R9 398 246
Quadro I - Teores medios em elementos maiores (%) e vestigiais (ppm) significativos dos granit6ides da regHio de Ponte de Lima.
0: S. Ovidio; N: Nora; A: Arga; B: Bertiandos. (*): Numero de amostras analisadas. Fe20st: Ferro total sob a forma de Fe20 s'
Comparando os teores em elementos maiores das tres unidades graniticas e sua varia9ao fun9ao do teor em Si02 (quadro I e fig. 2) conclui-se:
1. ° granito de Arga e ligeiramente mais silicioso, menos rico em K20e Ti02 que os restantes granitos. Com 0 aumento do teor em Si02 observam-se as seguintes tendencias: diminui9ao de K20, Fe203t e MgO, aumento de Na20, ligeira diminui9ao de A120 3, permanecendo constantes os teores em CaO, Ti02 e P205'
2. ° granito de Nora e ligeiramente menos sili. cioso e mais rico em K20 do que a facies de ArgaCom 0 aumento do teor em Si02 observam-se as seguintes tendencias: diminui9ao de K20 e· Fe203t, aumento de Na20, ligeira diminui9ao de A120 3, permanecendo constantes os teores em CaO, Ti02 e P20 5.
3. ° teor em Si02 do granito de S. Ovidio varia entre 69.30 e 72.79, cobrindo os intervalos de varia9ao que caracterizam os maci90s de Nora e Arga. Esta enriquecido em K20 em rela9ao ao granito de Arga, mas apresenta teores neste oxido semelhantes aos determinados para 0 granito de Nora. Exibe valores de Fe203t e MgO suneriores aos que caracterizam 0 granito de Nora e teores em Ti02 superiores aos de Arga. Com 0 aumento do teor em Si02 verificam-se as seguintes tendencias: ligeira diminui9ao de Al20 3 e Ti02; Fe203t e MgO permanecem constantes nas amostras menos siliciosas e nas restantes observa-se ligeiro decrescimo dos teores analiticos.
C. TEIXEIRA & al. (1972) classificam a facies de Bertiandos como granodiorito biotitico de grao fino. Segundo S. BARR & L. AREIAS (1980) trata-se de granodiorito biotitico-moscovitico, de grao fino hipidiomorfico granular. Pela analise do quadro i e da figura 2 e comparando os valores apresentado's com as composi90es quimicas medias de rochas granodioriticas referidas na literatura (NOCKOLDS 1954' DEBON & LE FORT, 1982) verifica-se que 0 gra~itoid~ de Bertiandos apresenta:
42
1. Teores em Si02, Al20 3 e MgO identicos aos val ores medios determinados'
2. Baixos teores em CaO e Na20; 3. Valores de K20, Fe203t e Ti02 acima das
medias.
4.2. Diagramas qUimioo-milneraI6giQOS
J a referimos que as varia90es composicionais de cada unidade granitica e das diferentes unidades entre si sao pequenas. No entanto, urn estudo petrografico fino e uma analise de pormenor dos diagra~as ~e var~a9ao de Harker permitiram desde logo vlsuahzar dlferen9as, nao so ao nivel composicional m~s .tambem ~o ~ivel das diferencia90es geoquimicas eXlbldas. Asslm l~punha-se a escolha de diagramas com forte caracter dispersivo, possibilitando 0 estudo comparativo dos tres conjuntos. Utilizaremos como representa9ao graiica 0 diagrama quimico-mineralog.ico proposto por H. DE LA ROCHE (1964), estabelecldo em fU~9ao dum motivo mineralogico especifico dos gramtos, 0 que per mite correlacionar directamente as evolu90es qui micas e mineralogicas (fig. 3).
4.2.1. Tendencias evolutivas primarias das facies graniticas
Na figura 3 cada um dos maci90s esta representado por uma «composi9ao media», por uma «area de dispersao» e por eixos materializando as tendencias evolutivas. Interessa, neste estudo, distinguir as tendencias evolutivas primarias das tendencias secundarias (tardi a posmagmaticas). Assim denominamos aqui de «composi9ao media» a media composicional das amostras menos moscovitizadas para cada maci90. De igual modo excluiremos da «area de dispersao» as amostras mais moscovitizadas. cujo posicionamento no diagrama define tendencias secundarias que referiremos mais adiante.
Verifica-se que 0 qiagrama separa nitidamente as tres facies petrograficas em estudo. Observa-se interferencia entre os dominios composicionais de Nora e S.Ovidio no diagrama Q - [K-(Na+Ca)], sendo no entanto restritas as interferencias entre dominios na parte superior do diagrama. ° granito de S. Ovidio e mais biotitico (media ponderal aproximada do conteudo em biotite: 8.7 %) do que os granitos de Nora e Arga. As facies mais evoluidas destes dois maci90s representam verdadeiros leucogranitos (biotite < 7 %, B < 38.8 atomos grama x 103). 0 maci90 de Arga possui um conteudo em quartzo (media ponderal aproximada 34%) superior ao dos maci90s de S. Ovidio e Nora, estando comparativamente empobrecido em feldspato potassico. Estas caracteristicas especificas estao de acordo com as observa90es petrograficas efectuadas, 0 que nos per mite pressupor a existencia de descontinuidades composicionais no conjunto dos granitos de duas micas da area em estudo. ° diagrama da figura 3 apresenta um interesse especial no que diz respeito a ana'ise das tendencias evolutivas primarias. Distinguem-se dois grupos de tendencias:
1. 0 maci90 de S. Ovidio apresenta uma tendencia silico-potassica: aumento do quartzo e da rela9ao (feldspato potassico + moscovite) / plagioclase, enquanto que os minerais ferromagnesianos decrescem (correla9ao positiva entre Q e [K-(Na+ +Ca)], negativa entre B e [K-(Na+Ca)]).
20
.. 0\ :I: 40 +
J!
60
200 -C"') ...... 0
U N + ~ 180 + 0 Z -I C"')
::::: (/) 160
-20
III
K - (No+Co) o 20
I ...• .. ~ ;
I I
,0 , / ,
'" ...... ----'
III~I ... I ,.
,-
- 20 o 20
K-CNo+Co)
40
40
2. Tendencia silico-s6dica, evidenciada pela evoIU9ao geoquimica dos maci90s de Nora e Arga: aumento de quartzo e decrescimo da rela9ao (feldspato potassico + moscovite) / plagioclase, enquanto que os minerais ferromagnesianos decrescem (correla9ao negativa entre Q e [K-(Na+Ca)], positiva entre B e [K-{Na+Ca)]).
o controlo petrografico confirma as tendencias geoqufmicas referidas. No decurso da evolu9ao ligada a tendencia silico-potassica (So Ovfdio) observa-se, paralelamente a uma diminui9ao do conteudo em biotite, urn acrescimo da imporHlncia dos minerais potassicos, feldspato potassico e moscovite. A evolu9ao ligada a tendencia silico-s6dica e sensivelmente distinta da precedente. Verifica-se a individualiza\ao e concentra9ao do feldspato potassico numa fase evolutiva precoce e posterior aumento sensivel do conteudo em plagioclase que ocorre em macrocristais e na matriz. Estas varia~oes nas fases feldspaticas sao acompanhadas de acrescimo de quartzo e decrescimo do conteudo em biotite.
Nao nos parece que a albitiza9ao (alias, fen6-meno que afecta igualmente 0 maci90 de S. Ovidio) interfira grandemente na evolu9ao silico-s6dica
K- (Na+ Cal ---+ PI Q Mo Or
-l'" iT ---r- -:-,---,--: i i= m -+ .~
en u ~ N + + QI d
Ll- z:
! +
!lc:
I m -Vl
PI Or
K-(Na+ Cal ---+
Fig. 3 - Esquema geral da evolucao quimica e minera-16gica dos granitos de duas micas da regiao de Ponte de Lima, nos diagram as de H. DB LA ROCHB (1964).
1. Dominios e composi~oes medias por facies. - Granito de S. Ovidio : 0 - Granito de Nora : N - Granito de Arga : A
2. Tendencias evolutivas. - Tendencia silico-potassica (I): macico
de S. Ovidio. - Tendencias silico-s6dicas (II) e (III):
macicos de Nora e Arga.
definida. A albitiza9ao seria caracterizada por urn vector subhorizontal na parte superior do diagrama de H. DE LA ROCHE (1964), alem de que as observa90es petrograficas nao confirmam a existencia de uma albitiza9ao progressiva nos maci90s de Nora e Arga, segundo as tendencias atras definidas.
A analise do diagrama da figura 3 perrhite ainda fazer a distin9ao entre as duas facies apresentando tendencia silico-s6dica. Com efeito, e confirmando dados petrograficos, 0 granito de Nora esta enri. quecido em feldspato potassico e empo brecido em quartzo, quando comparado com 0 maci90 de Arga, 0 que the confere urn conteudo feldspatico total nitidamente superior.
4.2.2. Tendencias evolutivas secundarias das facies graniticas
o estudo petrografico revelou a existencia de fen6menos tardi a posmagmaticos que afectaram os maci90s granfticos em estudo, nomeadamente moscovitiza9ao, albitiza9ao e cloritiza9ao. A cloritiza9ao da biotite e incipiente, enquanto que dados de campo e dados petrograficos evidenciam moscovitiza9ao acentuada dos tres maci90s, sendo not6ria no maci90 de S. Ovidio.
43
Atribui-se frequentemente a esta moscovitiza-93.0 deuterica uma grande parte das caracteristicas especificas dos granitos de duas micas (LAMEYRE 1966, 1973; LA ROCHE, 1978, 1979; LA ROCHE & al., 1980). As varia90es geoquimicas envolvidas neste fen6meno tern uma correpondencias mineral6gica que pode ser precisada utilizando a representa93.0 quimico-mineral6gica de LA ROCHE (1964).
Neste diagrama (fig. 4) G representa a associa93.0 (1 moscovite + 6 quartzo) resultante da moscoviti-
K- (No +Co)
- 20 o 20 40
20
0
I--0
+ 0 01 0
~ 40 0 /···· .. · .. ·····~···· .. o +
0 (1J 0/ .., '/ .
l.L.. / P I I
I If) I , / \ ,/
60 ..... .,. ,_ .... "",
0 0° 200 0
('t')
'" 0 u 0 0 N +
,,. .... ':-" .................... ; :x:180 + 0 0 0 , . z ,. P
I \ }J' ('t') ..... ....
'" ...... _-;"
Vi 160
- 20 0 20 40 K'" (Na+Ca)
PI _I-
100 t= + Ol
L + QJ 300
L!..
! PI
Za93.0 deuterica da albite (vector 1), segundo a reac-93.0:
(1) 3NaAISisOs+K + +2H+ _KAI2A1SisOl0(OH)2+6Si02+3Na+
albite moscovite quartzo
o vector 2 represent a 0 fen6meno de albitiza93.o segundo a reaC93,O:
(2) KAlSisOs+Na+ _ NaAISis0 8+K + feldspato k albite
K-(No+Ca)
20 o 20 40
20 0
... , 0
... ~ 0 0
40 0
0 0
69
200 0 0
a 0 0
0
180
""N0 D 0
160
- 20 0 20 40 K - (No+Ca)
Q Mo Or t:$.- --.-:-c:v:; _I-
I \ 2 \ \ \ \ ('f"l
\ -n:J \ LJ \ \ 300 N
)~G + n:J ....••. \ :z +
\ ~ \ \ 100 I \ ('f"l
10QI_\ 2 :::: V)
eo Or BiMo
K-(Na+Ca) -;>
Fig. 4 - Distribuicao das facies primarias e tendencias evolutivas tardi a posmagmaticas dos macicos de S. Ovidio e Nora nos diagramas de H. DE LA ROCHE (1964). Simbologia como na figura 3. Explicacao no texto.
44
, , , ,
Q=Sil3-(K+Na+2Ca/3) , , , I , ,
I I ,
I I I
!
Fig. 5 - Composi~o quimico-minera16gica do granit6ide biotitieo de Bertiandos no diagrama Q - [K-(Na+Ca)] de H. DE LA ROCHE (1964), modificado por F. DEBON & P. LE FORT (1982). 1 (gr) granito, 2 (ad) adamelito, 3 (gd) granodiorito, 4 (to) tonalito, 5 (sq) quartzo-sienito, 6 I mzq) quart:zo monzonito, 7 (mzdq) quartzo mon.wdiorito, 8 (dq) quartzo diorito (quartzo gabro), 9 (s) sienito, 10 (mz) monzonito, 11 (mzgo) monzogabro (monzodiorito), 12 (go) gabro (diorito).
.-----~6~O~~~----~~--~----~~----~1~O----~F
{Feldspatos Moscovite B= Maficos
Fig. 6 - Composi9ao quimico-minera16gica do granit6ide biotitico de Bertiandos no diagrama Q - B - F (LA ROCHE, 1964; MOINE, 1974), modificado por F. DEBON & P. LE FORT (1982). Simbologia como na figura 5.
Na mesma figura estao representadas as tendencias evolutivas tardi a posmagmaticas dos maci~os de S. Ovidio e Nora.
Nestes granitos verifica-se 0 desenvolvimento progressivo de moscovite e quartzo em detrimento da plagioclase. Efectivamente 0 estudo petrografico confirma a transforma~ao preferencial da 'Plagioclase, enquanto que 0 feldspato potassico se apresenta «inalterado» ou fracamente substituido.
No maci~o de S. Ovidio algumas amostras exibern moscovitiza~ao da plagioclase e albitiza~ao do feldspato potassico, desenvolvendo tendencias paralelas a uma resultante dos vectores 1 e 2.
4.2.3. Caracteristicas geoquimicas do granit6ide biotitico de Bertiandos
Como vimos nao se trata de rocha banal, afastando-se composicionalmente e geoquimicamente dos granodioritos, grupo petrografico em que tern sido incluida. Com 0 objectiv~ de visualizar diagramaticamente este facto utilizam-se os diagramas Q -- [K-(Na+Ca)] (LA ROCHE, 1964) e Q-B-F (LA ROCHE, 1964; MOINE, 1974). F. DEBON & P. LE FORT (1982)
~ + C'I :l: + QJ
40
60
80
u.. 100
120
(Y'l 180 -ttl W N + ~ + ttl
:z I
~
160
in 140
-40
-40
-20
-20
\ \ \
K- (Na+Ca) o 20
\ \ \ \
GRANITOS
\ GRANITOS \
'\ '\ '\
\ , " ;,,.; ... .. ..... __ ...
o
K-(Na+Ca).
20 40'
Fig. 7 - Varia90es quimicas e minera16gicas do granit6ide biotitico de Bertiandos (regiao de Ponte de Lima). Explica-9ao no texto.
introduziram nestes diagramas uma grelha classificativa em que cada divisao corresponde a urn grupo petrografico cuja composi~ao media esta representada por urn ponto (fig. 5 e fig. 6). Nestas figuras representa-se tambem 0 dominic composicional da facies de Bertiandos.
Pela analise do diagrama da figura 5 verifica-se que 0 granitoide de Bertiandos possui urn conteudo em quartzo superior a 20 % (percentagem em peso) e cai «anomalamente» no dominio composicional dos granitos com transi~ao para os adamelitos, 0
que demonstra 0 sen caracter forte mente potassico, solicit ado pelo polo feldspato potassico mas sobretudo pelo polo biotite.
o diagrama da figura 6 mostra, no entanto, urn balan~o Q-B-F comparavel it media observada para as rochas tonaliticas. A amostra menos moscovitizada da facies de Bertiandos apresenta aproximadamente 25 % de quartzo, 24 % de biotite e 51 % de feldspato (percentagens em peso).
Assim, conclui-se que a especificidade deste granitoide reside em 3 factos fundamentais:
45
ppm Sa
400
300
200
6.0
5.5
5.0
4.5
4.0
1' ....... "
( " \ ' 9 "
\ ' \ ' \ \ \ 0 , \ \
\ \ \ \ \ \
%\.. \
\ I ... -
All
400 500
400 500
400
300
200
ppm Rb
600
6.0
5.5
5.0
~/ /~
4.5
4.0
ppm Rb
400
ppm Sa
~..,.------,
I \ I I
I I
~ I I I I I I I , 0 I , I I I I / , I , I \. "--~
ppm Sr
o 100 200
,---I' -_
(2/ ...................... 9 ... .... , 0 "
N ~...... t ...... I
'Z? .................. ,/'1'
.... _---a
A ppm Sa
200 300 400 Fig. 8 - Diagramas de Ba-Rb, Ba-Sr, K-Rb e K-Ba dos granitos da regiao de Ponte de Lima. Simbologia como na figura 3.
1. Elevada percentagem em maficos, comparavel ao teor medio para as rochas tonaliticas;
2. 0 unico mafico presente e a biotite, 0 que confere a rocha um elevado teor em K20;
3. Embora a percentagem em peso de feldspatos seja comparavel a media observada para as rochas tonaliticas, a razao feldspato potassico / plagioclase e nitidamente superior.
De referir tambem os baixos teores em Na20 e CaO desta facies, assim como a presen<;a de plagioclase relativamente calcica (andesina-Iabradorite) nas concentra<;oes plagio-biotiticas.
Existe uma notoria descontinuidade de composi<;ao entre 0 granitoide biotitico e os granitos da regiao, exibindo aquele uma evolu<;ao geoquimica marcada por dois vectores (fig. 7):
46
1. Diminui<;ao do conteudo em ferromagnesianos, acompanhada de forte acrescimo do quartzo e ligeiro acrescimo da rela<;ao feldspato potassico/plagioclase; trata-se de evolu<;ao silico-potassica de componente siliciosa dominante (vector 1 subvertical). Esta
evolu<;ao encontra expressao petrografica num forte acrescimo do conteudo em quartzo, diminui<;ao do conteudo em biotite e ligeiro decrescimo do conteudo em plagioclase acompanhado de diminui<;ao do seu conteudo anortitico.
2. Moscovitiza<;ao da plagioclase, com 0 desenvolvimento de moscovite e quartzo, segundo a reac<;ao referida no item 4.2.2 ..
Pensamos que nao e de excluir a hipotese de reequilibrio progressivo entre uma «forma<;ao}) mais basica e 0 granito de S. Ovidio, 0 que explicaria a singularidade composicional da facies de Bertiandos.
S. GEOQU1MICA DE ELEMENTOS VESTIGIAIS NAS FACIES GRAN:lTICAS
Consideramos neste estudo os elementos vestigiais Ba, Sr e Rb, cujos teores medios para cada uma das facies graniticas estao indicados no quadro I.
N a generalidade apresentam teores em Ba e Sr inferiores as medias referidas na literatura para os granitos em geral, enquanto que os valores de Rb sao bastante superiores (VINOGRADOV, 1962; TAYLOR, 1965; DEBON & LE FORT, 1982). No entanto, sao teores perfeitamente companiveis aos referidos por diversos autores para granitos a1calinos hercinicos, precoces e sintectonicos, em Portugal (OLIVEIRA, 1970; NEIVA, 1973; OLIVEIRA & PEREIRA 1980; NORONHA, 1982; OLIVEIRA & al., 1982; DERRE & al., 1982).
Em media 0 granito de S. Ovidio e mais rico em Ba que os maci~os de Nora e Arga, apresentando este um teor medio em Rb inferior aos determinados para as outras duas unidades graniticas. Os tres maci~os apresentam valores de Sr companiveis. Os teores em Sr sao baixos 0 que se justifica pelo baixo conteudo anortitico da plagioclase (albite a oligoclase acida) e pela evidencia petrografica e geoquimica da existencia de moscovitiza~ao acentuada e preferencial da plagioclase.
BailRb Kl/Rb Rb/Sr
S. Ovidio 0.73 104 6.3 Nora 0.46 92 7.0 Arga 0.56 106 5.7
Quadro II - Rela90es medias Ba/Rb, K/Rb e Rb/Sr dos granitos da regiao de Ponte de Lima.
A fracciona~ao do K, Rb, Ba e Sr e analisada a partir das varia~oes relativas destes elementos, tomados dois a dois (elemento maior - elemento vestigial ou elemento vestigial - elemento vestigial), num diagrama rectangular (fig. 8). Nesta figura estao representados os dominios composicionais das tres facies graniticas e respectivas composi~oes medias. Verifica-se, para os tres maci90s, uma correla9ao negativa entre 0 Ba e 0 Rb. 0 Sr apresenta uma ligeira diminui~ao, paralelamente a um forte decrescimo do Ba, no sentido da tendencia evolutiva dos tres maci~os. A correla~ao K-Rb e negativa nos granitos de Nora e Arga e positiva em S. Ovidio, verificando-se logicamente correla~oes inversas para K-Ba.
Estes factos confirmam 0 estudo petrograiico e geoquimico (elementos maiores) efectuado e estao de acordo com as tendencias evolutivas primarias comentadas. Assim, nos diagramas K-Rb e K-Ba, verifica-se igualmente discordancia entre a tend encia geoquimica do granito de S. Ovidio e a evolu~ao apresentada pelos maci~os de Nora e Arga.
De referir a grande dispersao composicional nos diagramas da figura 8, notoria para 0 maci~o de S. Ovidio, e que atribuimos aos fenomenos de altera~ao tardi a posmagmatica.
No maci~o de S. Ovidio a fracciona~ao entre 0 Rb e 0 K (seu isomorfo preferenciaI) e fraca mas efectiva (ligeira diminui~ao da rela9ao K/Rb a medida que Rb aumenta). Os maci~os de Arga e Nora mostram uma certa originalidade geoquimica na correla~ao negativa K-Rb. Os granitos do sector em estudo possuem baixos valores K/Rb (fig. 8) e mostram tendencias K-Rb correspondentes ao «pegmatitic-hydrothermal trend (PH)>> de D. SHAW (1968). Segundo este autor a razao K/Rb decresce durante
. a diferencia~ao magmatica, sendo a tendencia PH caracterizada por urn aumento de Rb, permanecendo K mais ou menos constante ou mesmo decrescendo no intervalo 2 a 7 %, e mostrando geralmente baixos valores de K/Rb « 150).
De notar 0 alto grau de fracciona~ao dos tres maci~os graniticos, indicado pelos teores em Rb (elevados), Ba e Sr (baixos), rela~oes K/Rb e Ba/Rb (baixas), 0 que lhes confere interesse metalogenico (quadros I e II).
Existem, na area em estudo, numerosas antigas explora~oes sobretudo de Sn, W, Ta e Nb, localizando-se preferencialmente em torno da Serra de Arga, pelo que a caracteriza~ao petrografica e geoquimica do granito de Arga of ere cia, a partida, urn interesse especial. No entanto, nao possui indices de especializa~ao distintos, relativamente aos outros dois maci~os, sendo 0 granito de Nora ligeiramente mais fraccionado que os granitos de Arga e S. Ovidio.
6. CONCLUSOES
Na regiao de Ponte de Lima afioram granitos peraluminosos, de duas micas, tendencia porfiroide e de grao grosseiro a medio-fino.
A caracteriza~ao geoquimica dos maci~os de S. Ovidio, Nora e Arga baseou-se em 46 anaIises (elementos maiores e alguns elementos vestigiais: Rb, Ba e Sr). Verificou-se que a composi~ao quimica dos granitos e modificada por fenomenos tardi a posmagmaticos que mascaram as caracteristicas primarias, dificultando a visualiza9ao das evolu~oes geoquimicas primarias. Somente um estudo pormenorizado (petrografia, geoquimica de elementos maiores e geoquimica de elementos vestigiais) per mite discernir as varias etapas da evolu9ao e estabelecer um esquema de conjunto coerente.
Utilizando diagramas apropriados (que poem em evidencia fracas varia~oes quimico-mineralogicas), conclui-se da existencia de diferen~as significativas entre os tres maci~os e a varios niveis:
1. A nivel composicional 0 maci~o de S. Ovidio possui maior conteudo em biotite do que os granitos de Nora e Arga, estando este enriquecido em quartzo em rela~ao aos outros dois e empobrecido em feldspato potassico relativamente ao maci~o de Nora.
2. A analise das tendencias primarias de varia~ao interna de cada maci~o leva a distribui-Ios em dois grupos, 0 primeiro de «tendencia silico-potassica» (maci90 de S. Ovidio), 0 segundo de «tendencia silico-sodica» (maci90s de Nora e Arga).
o estudo geoquimico dos elementos vestigiais confirma a individualidade quimica dos dois grupos. A tendencia silico-potassica (S. Ovidio) estao associados: teor mais elevado em Ba, correla~ao positiva K-Rb e correla~ao negativa K-Ba. A tendencia silico-sodica (Nora e Arga) estao associados: teor mais baixo em Ba, correla~ao negativa K-Rb e correla~ao positiva K-Ba.
De referir que, embora os maci90s de Nora e Arga possuam tendencias evolutivas paralelas, elas se distinguem pelo maior conteudo em feldspato potassico e menor conteudo em quartzo de Nora, alem do que este granito se caracteriza por urn ele-
47
vado teor medio em Rb, superior ao determinado para 0 granito de Arga.
A cada uma das tendencias atnis definidas esHio ligadas evolu90es petrognificas distintas. Na tendencia sHico-potassica nota-se sobretudo fracciona9ao precoce da plagioclase e da biotite e aumento do quartzo e dos minerais potassicos (feldspato potassico e moscovite). No segundo grupo, de tendencia sHico-s6dica, verifica-se individualiza9ao e concentra9ao de feldspato potassico e biotite na fase evolutiva precoce com 0 sequente desenvolvimento de plagioclase.
3. A nivel das tendencias secundarias conclui-se que a moscovitiza9ao preferencial da plagioclase e comum aos tres maci90s. No entanto, no maci90 de s. Ovidio ocorre igualmente acentuada albitiza9ao do feldspato potassico.
Tendo em conta as diferen9as composlclonais e evolutivas primarias entre os maci90s e a sua cronologia relativa de coloca9ao pode concluir-se da incompatibilidade de uma evolu9ao magmatic a continua.
o granit6ide biotitico de Bertiandos individualiza-se dos granitos da regiao, existindo uma descontinuidade composicional e geoquimica not6ria entre e1es. Nao se trata de rocha banal e a sua singularidade e-Ihe conferida pela elevada percentagem em biotite, unico ferromagnesiano presente, aMm de altos teores em K20 e baixos teores em Na20 e CaO, sendo de referir a presen9a de plagioclase calcica (andesina-Iabradorite) nas concentra90es plagio-biotiticas. Apresenta uma evolu9ao geoquimica sHico-p otassica de componente siliciosa dominante.
As particularidades petro graficas, geoquimicas e evolutivas desta rocha nao podem explicar-se pela aC9ao de um processo de simples diferencia9ao magmatica. E, no entanto, mais verosimil admitir, como no caso das rochas basicas a intermedias dos maci90s graniticos dos Pirineus (LETERRIER & DEBON, 1978). que estas particularidades (caracter silicioso e potassico) estejam ligadas a existencia de trocas metassomaticas entre um magma basico a intermedio e um magma acido (granito de S. Ovidio), de coloca9ao sincrona.
AGRADECIMENTOS
Palavras de agradecimento ao Prof. J. E. Lopes Nunes, Doutor J. Leterrier, Doutora A. M. Boullier e Prof. G. Soares de Carvalho pelo apoio, estimulo e sugestoes.
Ao Doutor J. Leterrier 0 nosso muito obrigado pela oportunidade que nos deu de estagiar no Centre de Recherches Petrographiques et Geochimiques (Nancy) e pelas facilidades analiticas obtidas nesse Centro. 0 nosso reconhecimento ainda pelas discussoes proveitosas e sugestoes oportunas.
Os nossos agradecimentos vao tambem para todos os que, na Universidade do Minho, contribuiram para a elabora<;ao deste trabalho.
BIBLIOGRAFIA
BARR, S. M. & AREIAs, L. (1980) - Petrology and geochemistry of granitic intrusions in the Viana do Castelo area, northern Portugal. Oeol. Mijnbouw, Delft, vol. 59 (3), pp. 273-281.
DEBON, F. & LE FORT, P. (1982) - A chemical-mineralogical classification of common plutonic rocks and associations. Trans. R. Soc. Edinburgh, Earth Sciences, vol. 73, pp. 135-149.
DEW, C, LECOLLE, M., NORONHA, F. & ROGER, G. (1982) - Minei alisations a Sn-W liees aux granitoides dans Ie Nord du Portugal; importance des processus magmatiques et metasomatiques hydrotbermaux. Com. Servo Oeol. Port., Lisboa, t. 68 (2), pp. 191-211.
DIAS, G. & BOULLlER, A. M. (1985) - Evolution tectonique. me-
48
tamorphique et plutonique d'un secteur de la chaine hercynienne iberique (Ponte de Lima, Nord du Portugal). Bull. Soc. Oeol. France, Paris, 8e ser., t. I, n.O 3, pp. 423-434.
JULIVERT, M., FONTBOTE, J., RIBEIRO, A. & CONDE, L. (1974) - Memoria explicativa del Mapa Tect6nico da la Peninsula Iberica y Baleares. Inst. Oeol. Min. Espana, Madrid.
LAMEYRE, J. (1966) - Leucogranites et mustovitisation dans Ie Massif central fran<;ais. Ann. Fac. Sc. Clermont-Ferrand, vol. 29, 264 pp.
- (1973) - Les marques de I'eau dans les leucogranites du Massif central fran~ais. Bull. Soc. Oeol. Fr., Paris, sere 7, t. 15, n.os 3-4, pp. 288-295.
LA ROCHE, H. DE (1964) - Sur l'expression grapbique des relations entre la composition chimique et Ia composition mineralogique quantitative des roches cristallines. Presentation d'un diagramme destine a l'etude chimico-mineralogique des massifs granitiques ou grano-dioritiques. Application aux Vosges cristallines. Sci. Terre., Nancy, t. 9, n.O 3, pp. 293-337.
- (1978) - Signature de la muscovitisation de l'orthose ou de l'albite dans la composition chimique d'un granite a deux micas. Sci. Terre, Sere inform. geol., Nancy, n.O 11, pp. 87-94.
- (1979) - Muscovitisation deuterique, caractere aiumineux des leuco6l'anites et classification des granites subsolvus. Bull. Soc. Oeol. Fr., Paris, sere 7, t. 21, n.O 1, pp. 87-93.
LA ROCHE, H. DE, STUSSI, J. M. & CHAURIS, L. (1980) - Les granites a deux micas hercyniens fran<;ais. Essai de cartographie et de correlations geochimiques appuyes sur une banque de donnees. Implications p~trologiques et metallogeniques. Sci. Terre, Nancy, t. 24, n.O 1, pp. 5-121.
LETERRIER, J. & DEBON, F. (1978) - Caracteres chimiques compares des roches granitoides et de leurs enclaves microgrenues. Implications genetiques. Bull. Soc. Oeol. Fr., Paris, 7.e ser., t. 20, n.O 1, pp. 3-10.
MOINE, B. (1974) - Caractere de sedimentation et de metamorphisme des series precambriennes epizonales a catazonales du centre de Madagascar (region d' Ambatofinandrahana). Approche structurale, petrographique et specialement geochimique. Sci. Terre, Nancy, n.O 31.
NEIVA, J. M. C. (1954) - Pegmatitos com cassiterite e tantalite columbite da Cabra<;ao (Ponte de Lima - Serra de Arga). Mem. Not., Coimbra, n.O 36, pp. 1-81.
NEIVA, A. M. R. (1973) - Geochemistry of the granites and their minerals from the central area of northern Portugal. Mem. Not., Coimbra, n.O 76, pp. 1-43.
NOCKOLDS, S. R. (1954) - Average chemical composition of some igneous rochs. Oeol. Soc. Amer. Bull., Boulder, vol. 65, n.O 10, pp. 1007-1032.
NORONHA, F. (1982) - Rochas graniticas do triangulo Geres - Barroso - Cabreira. Suas rela<;oes com mineraliza<;5es em Sn e W-Mo. Publ. Mus. Lab. Min. Oeol. Fac. C. Porto, 4.a Ser., n.O 93, pp. 5-39.
OLIVEIRA, J. M. S. (1970) - Geoquimica de alguns granitos do Norte de Portugal e suas rela<;oes com mineraliza<;oes estaniferas. Est. Not. Trab. S.F.M., Porto, v. 19, fasc.s 3-4, pp. 227-275.
OLIVEIRA, J. M. S. & PEREIRA, E. (1980) - Geoquimica dos granitoides da regiao de Penafiel- Oliveira de Azemeis. I - Elementos alcalinos e alcalino-terrosos. Com. Servo Oeol. Port., Lisboa, t. 66, pp. 11-31.
OLIVEIRA, J. M. S., RAMOS, J. M. F. & SIMOES, M. C. (1982) - A litogeoquimica na defini<;ao das rela<;oes entre granitoides e mineraliza<;oes de Sn-W. Com. Servo Oeol.Port., Lisboa, t. 68, pp. 55-65.
RmEIRO, A., ANTUNES, M. T., FERREIRA, M. P., ROCHA, R. B., SOARES, A. F., ZBYSZEWSKI, G., ALMEIDA, F. M., CARVALHO, D. & MONTEIRO, J. H. (1979) - Introduction a la geologie generale du Portugal. Servo Oeo!. de Portugal, Lisboa, 114 pp.
SHAW, D. M. (1968) - A review of K-Rb fractionation trends by covariance analysis. Oeochim. Cosmochim. Acta, Oxford, v. 32, pp. 573-601.
TAYLOR, S. R. (1965) - The application of trace elements data to problems in petrology. Phys. Chern. Earth, Oxford, v. 6, pp. 133-213.
TEIXEIRA, C. (1972) - Carta geologica de Portugal, escala 1/500 000. Servo Oeol. Port., Lisboa.
TEIXEIRA, C. & ASSUNyAO, C. T. (1961) - Carta geologica de Portugal na escala 1/50000. Noticia explicativa da folha l-C, Caminha. Servo Oeol. Port., Lisboa, 41 pp.
TEIXEIRA, C., MEDEIROS, A. C. & COELHO, A. P. (1972) - Carta geologica de Portugal na escala 1/50 000. Noticia explicativa da foma 5-A, Viana do Castelo. Servo Geol. Port., Lisboa, 43 pp.
VINOGRADOV, A. P. (1962) - Average contents of the chemical elements in the principal type of igneous rocks of the earth crust. Oeoch. Int., Washington, n.O 7, pp. 555-571.