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DIRETOR
Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella
EQUIPETCNICACoordenao Editorial
Lavinia Hollanda
Autores
Lavinia Hollanda
Mnica Varejo
EQUIPEDE PRODUO
Coordenao de Comunicao
Simone C. Lecques de Magalhes
Capa, projeto grfco e diagramao
Maria Clara Thedim
www.mathedim.com.br
SCIAFUNDADORA
Clarissa Lins
EQUIPETCNICACoordenao Editorial
Clarissa Lins
Autores
Clarissa Lins
Felipe Vignoli
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Lavinia Hollanda e Mnica Varejo, FGV Energia 1
Clarissa Lins e Felipe Vignoli, Catavento2
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Esse caderno fruto de uma parceria entre a FGV Energia e a Catavento, que somaram
esforos no intuito de estimular um novo olhar sobre os dilemas enfrentados no setor de
energia no Brasil. Alimentar o debate em torno de questes primordiais, que afetam tanto as
possibilidades de expanso das fontes de energia, quanto o papel da demanda, em um contextode uso eficiente de recursos naturais e restries crescentes s emisses de gases de efeito
estufa, a premissa desse trabalho.
SOBRE A FGV ENERGIA
A FGV Energia o centro de estudos dedicado
rea de energia da Fundao Getlio Vargas,criado com o objetivo de posicionar a FGV como
protagonista na pesquisa e discusso sobre
poltica pblica em energia no pas. O centro
busca formular estudos, polticas e diretrizes de
energia, e estabelecer parcerias para auxiliar
empresas e governo nas tomadas de deciso.
SOBRE A CATAVENTO
A Catavento uma consultoria em sustentabilidade
corporativa que busca influenciar tomadores dedeciso. Amplia a viso estratgica da empresa
acerca das potencias mudanas no seu contexto
de negcios, mapeia riscos e oportunidades,
avalia a sustentabilidade de seus modelos de
negcios, bem como identifica o valor associado
a prticas inovadoras.
1.Lavinia Hollanda e Mnica Varejo so, respectivamente, Coordenadora de Pesquisa e Pesquisadora da FGV Energia.
2. Clarissa Lins e Felipe Vignoli so, respectivamente, scia fundadora e scio da consultoria Catavento.
Apresentao
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PRIMEIROPRESIDENTEFUNDADORLuiz Simes Lopes
PRESIDENTE
Carlos Ivan Simonsen Leal
VICE-PRESIDENTES
Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornellese Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
CONSELHODIRETOR
Presidente
Carlos Ivan Simonsen Leal
Vice-Presidentes
Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornellese Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
Vogais
Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalhoe Albuquerque, Ernane Galvas, Jos Luiz Miranda,Lindolpho de Carvalho Dias, Marclio Marques Moreirae Roberto Paulo Cezar de Andrade
Suplentes
Antonio Monteiro de Castro Filho, Cristiano BuarqueFranco Neto, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto DuartePrado, Jacob Palis Jnior, Jos Ermrio de Moraes Netoe Marcelo Jos Baslio de Souza Marinho.
CONSELHOCURADOR
Presidente
Carlos Alberto Lenz Csar Protsio
Vice-Presidente
Joo Alfredo Dias Lins (Klabin Irmos e Cia)
Vogais - Alexandre Koch Torres de Assis, Anglica Moreirada Silva (Federao Brasileira de Bancos), Ary Oswaldo MattosFilho (EDESP/FGV), Carlos Alberto Lenz Cesar Protsio,Carlos Moacyr Gomes de Almeida, Eduardo M. Krieger,Fernando Pinheiro e Fernando Bomglio (Souza Cruz S/A),Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estado da Bahia),Joo Alfredo Dias Lins (Klabin Irmos & Cia), LeonardoAndr Paixo (IRB Brasil Resseguros S.A.), Luiz Chor(Chozil Engenharia Ltda.), Marcelo Serfaty, Marcio Joo de
DIRETOR
Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella
COORDENAODE PESQUISALavinia Hollanda
COORDENAODE RELAOINSTITUCIONALLuiz Roberto Bezerra
COORDENAODE ENSINOEP&DFelipe Gonalves
COORDENAODE COMUNICAOEMARKETINGSimone C. Lecques de Magalhes
PESQUISADORES
Bruno Moreno Rodrigo de FreitasCamilo Poppe de Figueiredo MuozFelipe Castor Cordeiro de SousaMnica Coelho VarejoRafael da Costa Nogueira
Andrade Fortes, Orlando dos Santos Marques (Publicis BrasilComunicao Ltda.), Pedro Henrique Mariani Bittencourt(Banco BBM S.A.), Raul Calfat (Votorantim Participaes S.A.),Ronaldo Mendona Vilela (Sindicato das Empresas de SegurosPrivados, de Capitalizao e de Resseguros no Estado doRio de Janeiro e do Esprito Santo), Sandoval Carneiro Junior(DITV Depto. Instituto de Tecnologia Vale) e Tarso Genro(Estado do Rio Grande do Sul).
Suplentes - Aldo Floris, Jos Carlos Schmidt Murta Ribeiro,Luiz Ildefonso Simes Lopes (Brookeld Brasil Ltda.), LuizRoberto Nascimento Silva, Manoel Fernando Thompson MottaFilho, Roberto Castello Branco (Vale S.A.), Nilson Teixeira(Banco de Investimentos Crdit Suisse S.A.), Olavo Monteirode Carvalho (Monteiro Aranha Participaes S.A.), Patrick deLarragoiti Lucas (Sul Amrica Companhia Nacional de Seguros),Rui Barreto (Caf Solvel Braslia S.A.), Srgio Lins Andrade(Andrade Gutierrez S.A.) e Victrio Carlos de Marchi (AMBEV).
PRAIADEBOTAFOGO, 190, RIODEJANEIRO RJ CEP22250-900OUCAIXAPOSTAL62.591 CEP22257-970 TEL: (21) 3799-5498 WWW.FGV.BR
Instituio de carter tcnico-cientco, educativo e lantrpico, criada em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurdica dedireito privado, tem por nalidade atuar, de forma ampla, em todas as matrias de carter cientco, com nfase no campo dascincias sociais: administrao, direito e economia, contribuindo para o desenvolvimento econmico-social do pas.
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ndice SUMRIO EXECUTIVO
INTRODUO
OS DILEMAS NAEXPANSO DA OFERTA
LISTA DE SIGLAS
MATRIZ ENERGTICA EPRINCIPAIS USOS DA ENERGIA
CONVERSANDO SOBRE ENERGIACOM DAVID ZYLBERSZTAJN
O PAPEL DA DEMANDA
POR ENERGIA
BIBLIOGRAFIA
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Sumrio Executivo
Energia essencial para a sociedade viver
de forma confortvel e prspera,sendo pre-
missa para um pas se desenvolver. Alm dos
aspectos econmico e tcnicos, as condies
que determinam as possibilidades de expanso
devem levar em conta tambm impactos
sociais e ambientais, tornando a anlise da
oferta e demanda de energia indissocivel deseus efeitos sobre a sociedade e o ambiente.
A atual matriz energtica brasileirarepousa
majoritariamente em fontes tradicionais,
com predominncia de petrleo e derivados,
embora as fontes renovveis tenham um
papel relevante em funo da penetrao
histrica da hidroeletricidade.
A distribuio entre as diferentes fontes
de energia determinante para o nvel de
emisses de gases de efeito estufa, consi-
derado hoje como um fator decisivo na con-
figurao de crescimento econmico do pas.
Recentemente, o pas apresentou uma matriz
mais intensiva em carbono, como consequncia
do acionamento regular das termoeltricas em
funo da mudana nos ciclos hidrolgicos.
As possibilidades de expanso da oferta de
energia, necessria para suportar o cresci-
mento do Brasil, evidenciam que o pas tem
diversos dilemas a serem endereados de
modo transparente, tais como: de que forma
e aonde expandir a gerao hdrica; como
impulsionar o desenvolvimento de demais
fontes renovveis e otimizar seu carter intermi-tente; qual o papel da explorao das reservas
do pr-sal em um contexto de presso por
reduo de exposio a combustveis fsseis?
Do ponto de vista do consumo de energia, a
produo industrial e setor de transporte
so os principais usurios de diversas fontes.
Qualquer expanso deve privilegiar o uso
eficiente de energia, passando por estimu-lar esforos em cogerao e repensando o
modelo de transporte adotado at ento,
claramente dependente do modal rodovirio,
do automvel individual e do uso de combus-
tveis fsseis. Modelos baseados em etanol,
combustveis lquidos menos emissores e
transporte coletivo em centros urbanos devem
ser privilegiados.
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Nesse contexto, o papel da demanda no
pode ser minimizado. A busca por eficincia
no consumo de energia deve ser incansvel, e
um primeiro passo nessa direo seria a reduo
de desperdcios e ineficincias em toda a
cadeia de valor.
Adicionalmente, mecanismos de gesto de
demanda devem ser aplicados, contribuindocom o uso sustentvel dos recursos naturais e
aliviando a presso por investimentos em ex-
panso. Uma correta sinalizao de preos,
refletindo adequadamente situaes de oferta
e demanda e externalidades socioambientais,
uma medida primordial nessa direo.
As tecnologias existentes como a de redes
inteligentes contribuem sobremaneira para
otimizar a resposta da demanda, mudando
a forma de se consumir energia e a relao
entre o consumidor seja ele industrial ou resi-
dencial e o provedor de solues energticas.
O Brasil tem todas as condies de se tor-
nar um ator relevante no cenrio energticomundialem funo da abundncia de recur-
sos naturais, do acesso a fontes tradicionais
e da aceitao de seu mercado consumidor
a tecnologias mais modernas. Cabe agora ao
governo nortear, por meio de polticas pbli-
cas, a estratgia a ser seguida, com diretrizes,
aes e sinalizaes econmicas claras, tendo
por base consenso obtido a partir de mecanis-
mos de dilogo com a sociedade.
O Brasil tem todas as condies de se tornarum ator relevante no cenrio energtico mundial.
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Conversando sobre Energiacom David Zylbersztajn
A entrevista com David Zylbersztajn foi realizada em 14/11/14,
com o intuito de captar a opinio de um especialista em ener-
gia, com vivncia e conhecimento tanto do setor eltrico
quando do setor de leo e gs. David Doutor em Economia
da Energia pela Universidade de Grenoble (1987), foi Secretrio
de Energia de SP e Diretor Geral da Agncia Nacional do Petrleo (ANP).
Atualmente, scio da DZ Negcios com Energia e membro do
Conselho de Administrao da Light.
QUAL A FOTOGRAFIA ATUAL DA
MATRIZ ENERGTICA BRASILEIRA?
Todo mundo percebe que estamos caminhando
para uma matriz positiva em carbono, ou seja,
as emisses esto aumentando. O problema
saber onde vamos parar. Quando o mundo
era fssil, o Brasil era essencialmente renovvel.
Quando o mundo busca incessantemente se
tornar mais renovvel, o Brasil caminha na con-
tramo. Na rea de energia, acredito que teremos
uma ruptura tecnolgica, principalmente no que
diz respeito captao da energia solar, como
foi o shale gas nos Estados Unidos. H cinco
anos, ningum imaginava que aconteceria esse
desenvolvimento, mas hoje o shale gascontribui
para um cenrio de excesso de oferta de energia,
por exemplo. Aqui no Brasil, possvel que haja
uma transio no caminho da captao solar e
na rea de bioenergia.
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AT QUE PONTO O BRASIL VAI NESSA
DIREO INVERSA? VAMOS NOS
ADEQUAR TRAJETRIA DA MATRIZMUNDIAL EM ALGUM MOMENTO?
Se levarmos em considerao o baixo investi-
mento que o Brasil faz em fontes renovveis e
em efcincia energtica, as limitaes ambientais
para a construo de hidreltricas e se no nos
empenharmos em utilizar a matria prima que
possumos via captao solar e aproveitamento
da biomassa - veremos passar o ponto que seria
de ajuste da matriz energtica. importante
agir logo para inverter essa tendncia em sujar a
matriz. A questo das mudanas climticas est
sria e estamos em um importante momento
para justifcar a internalizao de custos ambientais
e rever a viabilidade de muitos projetos.
NESSE PROCESSO DE INVERSODE TENDNCIA, QUAL A QUESTO
MAIS RELEVANTE?
Poltica pblica. Aprendemos no racionamento
de 2001 que o sinal econmico decisivo. Se no
houver mercado para a indstria, para os centros
de pesquisa, se no houver sinal econmico
para o consumidor, no h progresso. O papel
do governo fundamental e os programas
do governo poderiam ser mais bem explora-dos, de modo integrado. Por exemplo, para o
programa do tipo Minha Casa Minha Vida,
poderia prever-se aquecimento solar ou tu-
bulao para aquecimento a gs, entre outrasquestes para facilitar o uso complementar de
fontes de energia. A matriz brasileira est muito
ao sabor das circunstncias, e no de uma
estratgia. No temos uma viso de projeto
energtico para o pas. importante que haja
planejamento que traga previsibilidade para o
mercado e direcione de modo concreto o uso
das fontes renovveis.
ATRIBUEM AOS AMBIENTALISTAS O
COMBATE AOS RESERVATRIOS. POR
SUA VEZ, OS BARRAGEIROS DIZEM QUE
COLOCAMOS EM RISCO A SEGURANA
ENERGTICA. ESSE O DILEMA?
Sim, esse o dilema, mas no se tem um frum
de discusso adequado. O papel do governoseria o de reconhecimento destes desaos e
coloc-los em debate com a sociedade. Devemos
assumir que vamos ter problemas. Se vamos
utilizar outras fontes, qual o impacto delas? Eu
tenho que escolher entre uma coisa ou outra,
e isso s o governo pode fazer. o governo
que licita, que d licena ambiental, concede
nanciamento. Portanto, a mediao com a
sociedade e o direcionamento so papis de-cisivos do governo. Muito do que se perdeu da
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possibilidade de se fazer melhores projetos, por
exemplo em Belo Monte, foi por falta de dilogo.
Agora, os projetos na Amaznia que esto ai
vo gerar energia, mas a um custo econmico e
socioambiental muito alto. Por conta da falta de
dilogo neste debate, h pouco espao para a
revisitao da alocao tima econmica, o foco
virou essencialmente ambiental.
E, NESSE CONTEXTO, QUAL O FUTURO
DO PR-SAL?
Se voc considerar o crescimento anual da
demanda mundial de petrleo, ele equivale ao
excedente do que o Brasil vai produzir anual-
mente com o pr-sal. Ou seja, daqui a seis anos,
o incremento da nossa produo ser equi-valente ao crescimento da demanda mundial.
Se partirmos do princpio que o Oriente Mdio,
frica, Golfo do Mxico e outros pases produto-
res tambm tero incremento em sua produo,
surge a dvida do que vai acontecer com esse
nosso excedente exportvel. Ele vai entrar em
um mercado saturado. Alm disso, sua explorao
pode se apresentar mais cara do que o esperado e
a ojeriza mundial ao petrleo, com suas evidentes
consequncias para a qualidade do ar e o nvel de
emisses do pas, poder torn-lo equivalente ao
que o cigarro hoje para a sociedade.
A EXPLORAO E A UTILIZAO DO GS
NATURAL PODERIAM SER UMA FONTE DE
TRANSIO PARA UMAMATRIZ MAIS LIMPA?
A matriz brasileira era majoritariamente baseada
no uso de lenha at o incio dos anos 1970. Fomos
um dos poucos pases que fez uma transio
de madeira para o petrleo sem passar pelo
carvo. uma coisa muito curiosa, tem pou-
qussimos casos. Acho que, no Brasil, o espao
para utilizar o gs natural como um elemento de
transio para os renovveis mais estreito. No
temos infraestrutura. Temos poucas estaes de
gs natural para que possamos congurar um
crescimento desta infraestrutura. Alm disso,
para se fazer um duto que vai passar em regies
ambientalmente mais sensveis tem-se uma
srie de restries. Por outro lado, isso pode
ser bom para ns. Podemos ter um ciclo do gs
mais curto e uma antecipao do uso das fontes
renovveis. Entretanto, um risco que poder
tornar a transio mais lenta o baixo preo do
petrleo. Se o mundo no conseguir internali-
zar os custos ambientais de uma maneira muito
explcita, o petrleo barato vai comear a frear o
desenvolvimento das fontes renovveis.
QUAL O PAPEL DAS TRMICAS E
DEMAIS FONTES INTERMITENTES EM UMCONTEXTO DE REDUO DA
CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DOS
GRANDES RESERVATRIOS?
No temos muita alternativa. Uma possibilidade
seria fazer a trmica na boca do poo e transmitir
essa energia, ou seja, trocar a molcula pelo
eltron. Por outro lado, as fontes complemen-
tares de energia tambm poderiam ajudar.
Os parques elicos evoluram muito em funo
de uma disponibilidade mundial e temos bons
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resultados em gerao elica. No Brasil, ainda
precisamos avanar. Ainda h muitos desaos
para o empreendedor, que deve ser obstinado
e quase irracional para no desistir. Tambm
so necessrios maiores estmulos regulatrios
e econmicos do governo para a gerao distri-buda, embora seja provvel que as diculdades
se amenizem no futuro at mesmo por conta da
crise do setor de energia, que poder acelerar
esse processo.
E QUAL PODERIA SER O PAPEL DA
EFICINCIA ENERGTICA PARA ALIVIAR AS
PRESSES SOBRE O SETOR DE ENERGIA?
Na crise de 2001, a soluo veio pela gesto da
demanda. A percepo das pessoas foi rpida,
pois reagiram ao sinal econmico: cada unidade
de energia (kWh) representava dinheiro. Alm
disso, a necessidade de economia de energia cou
internalizada. Apenas anos mais tarde a demanda
voltou a ser igual aos patamares anteriores. Teve
um ganho social, mas infelizmente isso se perdeu.
No entanto, o sinal econmico se provou
importante. Agora, depois de anos, vamos
iniciar as bandeiras tarifrias. Quando voc
trabalha na tarifa, deixa claro o sinal econmico
para a populao e a percepo positiva. Os
atuais casos da escassez de gua e da energia
so um problema de conduo de polticas derecursos naturais. Os sinais econmicos devem
estar claros: a energia eltrica no pode baixar
num cenrio de escassez de recursos hdricos
e preo do petrleo no pode se manter num
mesmo patamar independentemente das osci-
laes internacionais.
QUAL O PAPEL DO COMPORTAMENTODAS PESSOAS?
necessrio atuar na educao das pessoas
que pagam a conta. Isso um processo de e-
cincia econmica social que pouco utilizado.
No posso conar toda ecincia lmpada, ao
equipamento. O lado social do uso da energia
muito pouco explorado e tem um impacto monu-
mental. Essa gesto de demanda que serve para
eletricidade serve para gua e para qualquer outro
recurso natural que se deseje preservar.
necessrio atuar na educao daspessoas que pagam a conta. Isso um processo de eficincia econmicasocial que pouco utilizado.
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O nvel de desenvolvimento de um pas pode ser avaliado de acordo com a mtrica tradicional
PIB - ou de maneira mais ampla, incorporando a disponibilidade de recursos naturais3e outros
fatores associados ao bem estar da populao - como educao, sade e mesmo direitos
civis4. Qualquer que seja a mtrica escolhida, no entanto, importante destacar o acesso da
populao aos servios de infraestrutura, como saneamento bsico, eletricidade e transportes,
bem como aos servios de educao e sade.
Assim, o tema energia parte fundamental de
qualquer abordagem sobre bem estar e cresci-
mento de um pas. No h como segregar a es-
fera econmica dos aspectos social e ambiental,
pois eles so naturalmente interdependentes.
Introduo
No entanto, o alinhamento dos trs aspectos
no uma tarefa trivial. H, em diversos pases
e cidades ao redor do mundo, compromissos
sendo assumidos no sentido de reduzir a inten-
sidade de carbono das atividades econmicas,
incluindo-se aquelas que dependem de energia5.
3.Para uma discusso sobre as diferentes formas de aferir progresso, vide Lins (2014) / 4. SEN (1999).5. Como exemplo de tais iniciativas pode-se citar UNITED NATIONS (2014), FORESTS: New York Declarationon Forests Action Statements and Action Plans, que prev reduzir pela metade o desmatamento no planeta
at 2020 e zer-lo at 2030. Os defensores do acordo pretendem cortar entre 4,5 e 8,8 bilhes de toneladas de
carbono por ano at 2030. Outro exemplo o incentivo s fontes renovveis na Alemanha, com a promulgao
em 1991 de lei para reduzir a participao dos combustveis fsseis na matriz energtica e a aprovao em 2000
da Lei das Fontes Renovveis de Energia, que viabiliza a gerao distribuda e a comercializao da energiagerada entre produtor e operadoras (http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/1128).
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Se o debate sobre fontes de oferta de energia
abundante, o mesmo no se aplica demanda,
que tem recebido menos ateno dos agentes
envolvidos. Neste contexto, essencial evidenciar
condies de mercado, modelos de negcios,
tecnologias e outras questes que possam
influenciar o comportamento do consumidor,
para melhor entender o papel do gerenciamento
da demanda e sua potencial contribuio para o
uso eficiente dos recursos energticos do pas.
Este caderno tem por objetivo abordar a tem-
tica da energia sob a tica da sustentabilidade,destacando os dilemas brasileiros encontrados
F IGURA 1 - INTERDEPENDNCIA ENTRE AS D IMENSES
Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia, adaptado do Relatrio Branch Points, elaborado por Global Scenario
Group, do Stockolm Environment Institute.
No Brasil, os desafios na rea energtica no so
poucos. Alm de situaes emergenciais a se-
rem resolvidas, h questes de mais longo prazo
que se apresentam como prioritrias, como a
participao das fontes renovveis na gerao,
a opo pelo desenvolvimento das reservas na
camada do pr-sal e a influncia das mudanas
climticas nas escolhas feitas.
SOCIEDADE
ECONOMIA
Populao;Organizao Social;
Estilo de vida;Cultura
BenseserviosIm
pacto
s
Trabalhoein
stitu
ies
Servi
osambie
ntais
Agricultura; Domiclios;Indstria; Transporte;
Servios
MEIO
AMBIENTE
Atmosfera;Hidrosfera; Terra;Bioma; Minerais
Recursos naturais
Impactos
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na oferta de energia e evidenciando a gesto da
demanda como um possvel ponto de alvio para
o alinhamento de aspectos sociais, ambientais
e econmicos. O captulo 2 ilustra a evoluo
da nossa matriz energtica, destacando, sob a
perspectiva passada e presente, a participao
das fontes tradicionais e renovveis e os prin-
cipais usos da energia, bem como os impactos
nas emisses de gases de efeito estufa (GEE).
No captulo 3, abordam-se as possibilidades de
ampliao da oferta de energia no Brasil, sob a
tica das oportunidades e desafios futuros. Por
fim, o capitulo 4 apresenta as condies econ-
micas, sociais e tecnolgicas que fortalecem o
papel da sociedade na demanda de energia de
forma mais eficiente.
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6. Conforme denido no Grco 1.
Em 2013, o Brasil possua a maior parte (59%) da sua oferta interna de energia vinda de fontes
tradicionais6. No entanto, essa configurao variou historicamente de acordo com os ciclos de
crescimento econmico.
Matriz energtica eprincipais usos da energia
GRFICO 1 - MATRIZ ENERGTICA EM 2013: OFERTA INTERNA
Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.
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LEO E GS
A produo de petrleo teve um crescimento
significativo desde o fim do monoplio estatal,
institudo pela Lei n 9.478/1997. A Petrobras
desempenhou papel preponderante nesta
trajetria, viabilizando um crescimento de 64%
da produo interna de petrleo, que passou
de 1,2 milho de barris por dia para mais de
dcada, petrleo, energia hidrulica e deriva-
dos da cana-de-acar tm sido as principais
fontes energticas acessadas para apoiar o
desenvolvimento do pas, conforme atesta o
Grfico 2.
Perodos de intenso desenvolvimento eco-
nmico vm acompanhados de expanso do
consumo de energia e, como consequncia,
faz-se necessrio ampliar a oferta energtica
para suportar o crescimento. Assim, na ltima
GRFICO 2 - PRODUO INTERNA PR IMR IA DE ENERGIA
Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.
2 milhes entre 2000 e 20137. Adicionalmente,
a abertura do setor foi bem-sucedida em atrairo investimento estrangeiro e viabilizar a insta-
lao de diversas empresas internacionais no
segmento de explorao e produo.
Com o objetivo de desenvolver a cadeia de bens
e servios ligados ao setor de petrleo, o governo
aumentou o requerimento de contedo local
7.ANP. Disponvel em: http://www.anp.gov. r/?pg=64555&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=406655789973.
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DEMAIS FONTES RENOVVEIS
As condies climticas no Brasil favorecem
a complementaridade da energia hidrulica
com as demais fontes de energias renovveis,
como a biomassa, a elica e a solar10. O Brasil
o maior produtor mundial de etanol advindo
da cana-de-acar, em especial devido s
inovaes tecnolgicas, que colocam o pasem condies favorveis para competir no
mercado internacional. Este tipo de energia
contribuiu com 4,8% da matriz em 2013, sendo
o consumo puxado pela popularizao dos
carros flex11e incentivos governamentais para
insero de biomassa no diesel12.
Em funo de seu carter intermitente, as fontes
elica e solar so consideradas complemen-tares s fontes de energia tradicionais e s
hidreltricas. Apesar da evoluo recente
das rodadas de leilo de fontes renovveis, a
energia elica representa apenas 1,1% da oferta
interna de energia e 3,2% do fornecimento de
eletricidade13. Com uma participao ainda
mais tmida, a energia solar fotovoltaica res-
para os players do setor por meio do PROMINP
- Programa de Mobilizao da Indstria Nacio-
nal de Petrleo e Gs Natural, institudo pelo
Decreto n 4.925/2003. Com isso, a participao
deste setor no PIB nacional passou de 3% no
ano 2000 para 13% em 20138.
HIDRELTRICASHistoricamente, as hidreltricas tiveram uma
contribuio expressiva na oferta interna de
energia. Entre as dcadas de 70 e 90, esses
empreendimentos eram, em sua maioria, cons-
trudos em locais afastados dos grandes centros
consumidores e baseados em grandes re-
servatrios de gua. Contudo, as recentes
exigncias 9 sociais e ambientais - e mesmo a
dificuldade em encontrar novos aproveitamentos
hdricos viveis para projetos de gerao - vm
tornando cada vez mais difcil a expanso da
matriz energtica do pas por meio de grandes
hidreltricas. Desta forma, a energia hidrel-
trica tem reduzido sua participao na matriz
energtica, passando de 16% no ano 2000 para
13% em 2013.
8.Portal Brasil. Disponvel em: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/06/setor-de-petroleo-e-gas-chega-a-13-do-pib-brasileiro.
9.Como exemplo das exigncias, pode-se destacar o adiamento do Leilo da usina hidreltrica de So Luizdo Tapajs, no Par, agendada originalmente para 15 de dezembro de 2014, em virtude da necessidade de
adequaes aos estudos relativos ao componente indgena.
10.Costa, Prates (2005).11.O Governo Federal estabeleceu, por meio do Decreto n 7.725/12, reduo na alquota de IPI Imposto
Sobre Produtos Industrializados - para carros ex, em comparao com carros a gasolina. Em alguns estados,
como no caso do Rio de Janeiro, o IPVA O Imposto Sobre a Propriedade de Veculos Automotores -,
tambm mais baixo para carros ex do que para carros movidos exclusivamente por gasolina.12.A Lei n 13.033/2014 aumentou o percentual de adio obrigatria de biodiesel ao leo diesel comercializado
com o consumidor nal de 5% para 7%.
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pela maior parte (51,9%) do aumento do consumo
de energia no pas entre 2000 e 2013.
O crescimento do consumo de energia no
setor industrial foi suportado pelo bagao da
cana-de-acar, o que pode ser explicado em
parte pelo aumento dos empreendimentos de
cogerao17, que quase triplicaram em termos
de potncia instalada entre 2000 e 201318. Maisrecentemente, no entanto, vale ressaltar que o
consumo de energia eltrica do setor industrial
tem se baseado em uma matriz mais poluente
devido ao despacho das termoeltricas, que
operam com base na queima de combustveis.
Conforme evidenciado pelo relatrio do CDP
Brasil de 201419, esse efeito j sentido pelas
empresas. Elas relataram aumento de suas
emisses de escopo 2 (i.e., emisses indiretas
de GEE) entre 2012 e 2013, atribuindo a causa
ao aumento do fator de emisso do Sistema
Interligado Nacional (SIN), provocado pelo
acionamento das termeltricas. Essa informao
ilustrada no Grfico 3, onde possvel perceber
que a quantidade de CO2 emitida por MWh
praticamente triplicou de 2006 a 2013.
ponde por apenas 0,01% da energia eltrica
gerada no pas14. No entanto, os resultados
dos leiles de energia eltrica15de 2014 repre-
sentam sinalizao importante para o futuro
da participao dessas fontes na matriz.
PRINCIPAIS USOS DE ENERGIA NO BRASIL
A forma como a atividade econmica est esta-
belecida e se desenvolve tem relao direta com
o tipo de fonte de energia consumida e, como
consequncia, influencia a composio da matriz.
No Brasil, a produo industrial, o transporte de
cargas e a mobilidade das pessoas representam
66% do consumo de energia. Em 2013, o setor
industrial e o de transporte responderam, respec-
tivamente, por 33,9% e 32,0%16do total consumido.
O terceiro maior consumidor foram as residncias,
com 9,1%. O consumo total de energia aumentou
2,9% nesse ano, acompanhando a trajetria do
PIB que cresceu 2,3% em 2013.
Em uma perspectiva histrica, os setores indus-
trial e de transporte tambm foram responsveis
13.EPE (2014). BEN 2014. /14.ANEEL (2014). Capacidade de Gerao do Brasil.15.Ver, por exemplo, resultados do Leilo de Energia de Reserva realizado em 31/10/2014, disponvel em
http://www.epe.gov.br/leiloes/Paginas/Leil%C3%A3o%20de%20Energia%20de%20Reserva%20(2014)/
Leil%C3%A3odeEnergiadeReserva2014atraiinvestimentosdeR$7,1bi.aspx
16.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.17.International Energy Agency IEA (2013), World Energy Outlook.18.SisCogen. At o ano 2000, havia 4.164 MW de potncia instalada devido aos empreendimentos de
cogerao. Aps o ano 2010, esse nmero era de 12.016 MW. Disponvel em: http://www.cogen.com.br/
ind_lista_g.asp.
19.CDP (2014), Conexo entre mudanas climticas e modelos de negcios: Uma agenda em evoluo.Para maiores informaes, veja em http://www.catavento.biz/papers/conexao-entre-mudancas-climaticas-e-
modelos-de-negocios-uma-agenda-em-evolucao/
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20. MCT. Disponvel em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/321144.html#ancora21.Dados de preos extrado de Ncleos de Estudos e Pesquisas do Senado: Por que o Brasil est trocando as
hidreltricas e seus reservatrios por energia mais cara e poluente?
GRFICO 3 - FATOR ANUAL MDIO DE EMISSO DE GEE ENTRE 2006 E 2013
Fonte: Ministrio da Cincia e Tecnologia, arquivos de Fatores de Emisso20.
O preo da segurana energticaAlm de provocar aumento das emisses de GEE, a necessidade do despacho das
termeltricas para garantir a segurana energtica tambm impacta o preo da tarifa
na gerao da energia eltrica e, como consequncia, onera o bolso do consumidor.
O preo da energia dado pela soma dos custos fixos (determinados em leilo) e os
custos variveis da gerao. Enquanto o preo do MWh gerado por hidroeltrica de
grande porte de cerca de R$ 84,6/MWh, o equivalente em uma usina termoeltrica a
biomassa de cerca de R$ 814,1/MWh. J a gerao de energia em uma usina termo-
eltrica a leo diesel, a fonte mais predominante na gerao trmica brasileira, tem opreo de R$ 507,2/MWh21. De acordo com o Banco de Informaes de Gerao da ANEEL,
a composio das fontes das 1.872 usinas termeltricas brasileiras em operao
dominada pelo leo diesel (62,7%), seguida pela biomassa (25,3%), gs natural (6,5%)
e leo combustvel (1,8%).
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consumidor22 . O uso do leo diesel e da
gasolina automotiva contribui ainda mais para
o acrscimo de emisses de gases de efeito
estufa (GEE). Neste contexto, a queima de
combustveis, seja pelo acionamento das ter-
moeltricas ou pelo consumo do transporte
rodovirio, j representa a maior parte das
emisses de GEE no Brasil23.
Por sua vez, o transporte rodovirio, maior
consumidor de energia dentre os modais
de transporte, impulsionou o uso de leo
diesel, gasolina automotiva e etanol. Parte
deste aumento justificado pelos incentivos
dados pelo Governo Federal ao segmento de
automveis individuais, como a reduo de
IPI sobre veculos e a facilitao de crdito ao
22.A poltica de iseno do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veculos foi estabelecida a partirda Lei n 10.754/2003. Adicionalmente, para facilitar o crdito para o nanciamento de veculos, o Governo
Federal estipulou, no segundo semestre de 2014, a adoo de medidas que combinam injeo de recursos
no sistema bancrio e afrouxamento dos controles para a concesso de emprstimos.23.Historicamente, as maiores fontes de emisses no Brasil foram atribudas ao desmatamento. No entanto,
como resultado das polticas de combate ao desmatamento, as emisses oriundas do uso da terra declinaram
a partir de 2004, fazendo com que, j em 2009 fossem suplantadas pelas emisses do setor de energia
(queima de combustveis) e da agropecuria. Todavia, a taxa de desmatamento na Amaznia Legal voltou
a crescer recentemente, conforme resultado do mapeamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), que mostrou aumento de 29% para o perodo agosto/2012 a julho/2013 (http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php).
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de fontes renovveis e tradicionais. J o setor
de transportes mais dependente de fontes
menos limpas, utilizando apenas 17% de re-
novveis. No sentido oposto, o consumo resi-
dencial tem contribuio expressiva no uso de
fontes renovveis, como pode ser verificado
no Grfico 5. Desse modo, fica evidente que
o direcionamento das polticas pblicas para
um ou outro setor pode influenciar a composi-
o de nossa matriz, ampliando ou reduzindo
a participao da energia renovvel.
De modo menos expressivo, o consumo resi-
dencial de energia cresceu 14,7% entre 2000
e 2013. Neste perodo, verificou-se uma subs-
tituio da lenha pela eletricidade, fruto do
programa de universalizao da energia, insti-
tudo pela Lei n 10.762/200225.
As principais fontes de energia consumidas
pelos setores industrial, de transporte e resi-
dencial no se distribuem de maneira unifor-
me. O primeiro demonstra maior diversidade
no uso das fontes, equilibrando o consumo
GRFICO 4 - VENDAS DE AUTO VE CULOS NO BRAS IL DE 2000 A 2013
Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia a partir de dados da ANFAVEA24.
24.Disponvel em: http://www.anfavea.com.br/tabelas.html.
25.Para maiores informaes, veja em https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=universaliza%C3%A7%C3%A3o%20do%20acesso%20%C3%A0%20
energia%20el%C3%A9trica
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GRFICO 5 - PERFIL DO CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL
Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.
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relevante estabelecer uma estratgia clara deexpanso da matriz energtica, definindo o
papel das fontes tradicionais e renovveis e
levando em conta os tradeoffs apresentados
pelas diferentes opes. Da mesma forma,
fundamental buscar iniciativas que valorizem
o gerenciamento da demanda e a eficincia
energtica como instrumentos inovadores
e importantes para mitigar os impactos nas
emisses de GEE.
Tendo em vista o carter de longo prazo dosinvestimentos em energia, importante ter em
mente que as escolhas atuais quanto ao perfil
da expanso da oferta e ao uso final tero
consequncias sobre o nvel futuro de emis-
ses de GEE associadas ao setor. Conforme
abordado nesse captulo, as evolues recentes
associadas a uma matriz energtica menos
renovvel tm sinalizado esse impacto, ilustrado
pelo aumento das emisses. Com isso, torna-se
fundamental buscar iniciativasque valorizem o gerenciamento dademanda e a eficincia energticacomo instrumentos inovadores eimportantes para mitigar os impactosnas emisses de GEE.
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Entretanto, ainda h questes e impasses a se-rem endereados no setor energtico para que
as expectativas delineadas no planejamento se
conrmem de fato.
De modo geral, a formao da oferta de energia
deve considerar a diversidade e a disponibilidade
de recursos, alm das possibilidades tecnol-
gicas, para que se estabelea a proporo de
participao de cada fonte e sua contribuio
expanso da gerao ao longo das prximasdcadas. No entanto, o debate sobre a expanso
da oferta de energia deve ser feito a partir do
entendimento claro dos custos e dos benefcios
envolvidos na opo por cada fonte de energia.
Anal, o que o pas quer alcanar do ponto de
vista da poltica energtica com a ampliao da
oferta? Segurana energtica ou reduo nos
nveis de emisso de GEE? Modicidade tarifria
ou atrao de investimentos? Apenas a partir da
O Plano Nacional de Energia (PNE) 2030 prev um incremento da oferta interna de energia no
Brasil de 3,6%ao ano at 2020 e de 3,4%entre 2020 e 2030. Neste horizonte, o PNE sinaliza
uma participao mais expressiva de fontes renovveis e de gs natural, considerado o mais
limpo dentre os combustveis fosseis, conforme pode ser visto no Grfico 6.
Os dilemas naexpanso da oferta
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dessa premissa, esse captulo pretende destacar,
sob a tica da oferta, os principais dilemas do
setor energtico no Brasil.
compreenso de tais escolhas pela sociedade
que ser possvel traar uma estratgia adequada
e consciente para a expanso da matriz. Partindo
GRFICO 6 : OFERTA INTERNA DE ENERGIA PARA 2030
Fonte: Adaptado do PNE 2030.
O debate em torno das mudanas climticas
torna essa discusso ainda mais relevante, uma
vez que o aumento da demanda global afeta
diretamente a capacidade mundial de proverenergia para 9 bilhes de pessoas em 2050. Assim,
impe-se, em cada pas, uma reexo sobre as
opes energticas do presente e do futuro luz
das recomendaes cientcas do Painel Intergo-
vernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC -
Intergovernmental Panel on Climate Change) de
limitar-se a emisso de GEE26.
No Brasil, os dilemas existentes em termos de
oferta de energia no so poucos. Dentre os
desaos a serem debatidos pela sociedade
brasileira, destacamos:
26.O relatrio mais recente do IPCC, publicado em novembro de 2014, Climate Change 2014 Synthesis Report,
recomenda o m do uso de combustveis fsseis at 2100 como uma medida crucial para conter os impactosnegativos das mudanas climticas. Disponvel em: http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/syr/SYR_
AR5_LONGERREPORT.pdf.
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DESAFIOS PARA A EXPANSO DA OFERTA
Nas sees a seguir, apresentaremos cada um
dos dilemas acima em maiores detalhes.
COMO, E ONDE, EXPANDIR A GERAOHIDRELTRICA?
A matriz eltrica nacional, apesar de ser con-
siderada limpa por ser concentrada em hidro-
eletricidade, sofre o nus de ser um sistemapouco diversicado, acentuado no contexto de
mudanas climticas com impactos representa-
tivos nos ciclos hidrolgicos.
Uma das grandes questes discutidas acerca
da hidroeletricidade na atualidade a opo
entre usinas com grandes reservatrios e usinas
a o dgua. As primeiras permitem o acmulo
de gua, que funcionam como estoques de energia
a serem utilizados em perodos de estiagem27.
J as unidades a o dagua aproveitam o curso
do rio para gerar energia, utilizando pouco ou
nenhum acmulo de recurso hdrico. Em alguns
casos, as usinas a o dgua trabalham em asso-
ciao com uma ou mais usinas de grande reser-
vatrio situadas a montante, de modo a garantirgerao de energia eltrica constante. Para os
casos em que no h trabalho conjunto com usinas
de grande reservatrio, a usina a o dgua ca
sujeita a oscilaes na gerao de energia ao longo
do ano, o que diminui a sua capacidade de
armazenar energia sob a forma de gua e, assim,
contribuir para a segurana energtica.
27.ANEEL. Informao retirada do Captulo 3 - Energia Hidrulica - da Parte II - Energias Renovveis do Atlas deEnergia Eltrica do Brasil. Disponvel em: http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas_par2_cap3.pdf.
Como e ondeexpandir
a geraohidreltrica?
Comoimpulsionar
de formamais efetivaa penetrao
de fontesrenovveis?
Como garantir odesenvolvimento
seguro, doponto de vistatecnolgico e
ambiental,das reservasdo pr-sal?
Comoassegurar o
desenvolvimentoda oferta degs natural
em funo daspeculiaridades
do mercadobrasileiro?
De que formaimpulsionaro mercadode etanol,
com foco natecnologia para
a segundagerao?
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Usinas de grande porte e pequenascentrais hidreltricas - PCHs
A usina de Belo Monte um bom smbolo do ponto de inflexo da tendnciada construo de grandes reservatrios. Os primeiros estudos para a cons-
truo da usina iniciaram-se em 1979 e demonstraram a viabilidade tcnica da
construo de cinco barragens ao longo do Rio Xingu. Entretanto, aps os vis-
veis impactos da construo de Itaipu, como o reassentamento de pessoas e
o alagamento do Parque Nacional das Sete Quedas, houve maior presso poltica
e social sobre empreendimentos deste porte. Com isso, o projeto arrastou-se
at 2010, ano em que a Licena de Instalao foi liberada pelo IBAMA, admitindo
a construo da usina, porm apenas operando a fio dgua.
Diante disso, buscando aproveitar-se de liberao mais fcil de licenas de ins-talao, proliferaram as construes de Pequenas Centrais Hidreltricas (PCHs)
que podem operar via pequenos reservatrios ou a fio dgua. A crena era
que essas usinas teriam menor impacto ambiental e social. Se, por um lado, os
impactos so menos visveis, por outro, tais centrais proporcionam uma drstica
reduo da capacidade de armazenamento de gua para produo de energia.
Em 2014, as PCHs representam 3,6% da gerao28de energia eltrica do pas29,
ao passo que as grandes usinas ainda contribuem com 63,1%.
Neste contexto, a capacidade de armazenamento de energia com os reserva-
trios vem caindo ao longo dos anos. possvel perceber, no Grfico 7 que,
mesmo que os reservatrios estivessem completamente abastecidos, ainda assim
haveria uma reduo do armazenamento ao longo dos anos.
28.A gerao mencionada referente Potncia Fiscalizada. Segundo a ANEEL, a Potncia Fiscalizadacorresponde quela considerada a partir da operao comercial realizada pela primeira unidade geradora.
29.ANEEL (2014). Banco de Informaes de Gerao.
C O N TI N U A
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GRFICO 7 - CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DOS RESERVATRIOS, EM MESES
Belo Monte, no rio Xingu, e So Luiz do Tapajs, no
rio Tapajs, todos na regio amaznica.
A opo por grandes reservatrios, por outro
lado, no sem custos. H uma srie de con-sequncias de ordem ambiental e social no
alagamento de grandes extenses de terra,
com impacto principalmente nas populaes
locais. Tais externalidades devem ser conside-
radas na deciso.
Nesse cenrio, a construo de usinas hidreltri-
cas a fio dgua aumenta o desafio de gerenciar
o sistema eltrico e, consequentemente, amplia
a necessidade de expanso de trmicas como
forma de garantir a segurana do fornecimento,ainda que comprometa os nveis de emisses
de GEE. A importncia desse dilema tem ge-
rado um grande debate no pas, tendo em vista
a existncia de recentes projetos hidreltricos a fio
dgua, como Jirau e Santo Antnio, no rio Madeira,
Fonte: ONS
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Neste contexto, a explorao do potencial hdricoda regio amaznica suscita intenso debate emmbito nacional e internacional, inuenciandoinclusive sua capacidade de nanciamento.A International Finance Corporation (IFC), braoprivado do Banco Mundial, por exemplo, classicatais empreendimentos como de alto impacto
socioambiental e determina avaliaes que levemem conta a capacidade de mitig-lo. Entre outrospontos, tais avaliaes englobam a habilidade
das empresas em realizar gesto de risco socio-ambiental, as condies de trabalho nos empre-endimentos, a conservao da biodiversidade, arealocao involuntria das comunidades locaise as ameaas herana cultural. A incorporaode uma avaliao socioambiental para determinaro nvel de risco de um empreendimento hoje
considerada uma boa prtica por parte dos prin-cipais atores do mercado nanceiro, sejam bancosnanciadores ou investidores30.
A formao de um reservatrioafeta a fauna e flora locais, demodo que, com o alagamento,
muitas espcies ficamsubmersas.
A interrupo do fluxo normaldo curso dgua pode provocarmudanas na temperatura e nacomposio qumica da gua,com consequncias diretas na
sua qualidade.
Os reservatrios apresentam estratificao trmica, com ausncia de oxignio no fundo, o que resulta,via decomposio anaerbia de matria orgnica, em liberao de metano nesta zona. Este, por suavez, apresenta potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao gs carbnico.
Alterao da dinmica econmicalocal, no s durante a construodas barragens, mas tambm nos
perodos anterior e posterior a ela.
O represamento deguas pode provocar diversas
enfermidades endmicas,colocando em risco as
comunidades vizinhas usina.
Necessidade de realocaode populaes ribeirinhas,indgenas, quilombolas e
outras comunidades locaisafetadas.
Alteraes na morfologiados sistemas terrestres,
atravs do aumentoda eroso e da salinidade
dos solos.
POTENCIA IS IMPACTOS DOS GRANDES RESERVATR IOS
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Uso mltiplo da guaNo menos importante, o gerenciamento dos recursos hdricos de maneira ade-
quada vem sendo objeto de grande debate, em funo da reduo dos nveis dos
reservatrios disponveis para a gerao de energia e da escassez de gua paraoutros usos. Adicionalmente, os impactos citados acima, de carter ambiental,
social e econmico, podem modificar a dinmica natural do ecossistema e constituem
fatores determinantes do processo de deteriorao da qualidade e da disponibilidade
da gua, o que vem a gerar conflitos quanto ao uso deste recurso.
Os impactos e conflitos poderiam ser minimizados levando-se em conta o conceito
de uso mltiplo da gua dos reservatrios. De acordo com a Lei n 9.433/97, a qual
institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, a gesto dos recursos hdricos
deve sempre proporcionar o uso mltiplo das guas, o que favorece igualdade de
acesso pelos diversos setores da economia. Contudo, em situaes de escassezhdrica, os usos prioritrios so o consumo humano e a dessedentao animal.
No caso de usinas com grandes reservatrios, o uso mltiplo da gua pode se dar, por
exemplo, para abastecimento urbano, irrigao, navegao fluvial, recreao e regu-
larizao de enchentes. Alguns dos benefcios socioeconmicos gerados a partir do
uso mltiplo de reservatrios podem ser expressos quantitativamente pelas receitas
lquidas anuais obtidas pelos usos determinados e pelos empregos, diretos e indiretos,
criados a partir dos projetos implantados [Oliveira, Cato Curi e Fadlo Curi (1999)].
As desvantagens do uso mltiplo e integrado dos recursos hdricos, por outro lado,so de carter gerencial, o que exige o estabelecimento de mecanismos de
governana tcnicos e eficientes, que busquem a convergncia de interesses e
uma melhor utilizao do recurso.
30.Os principais bancos brasileiros so signatrios dos Princpios do Equador, comprometendo-se a adotarprticas de avaliao socioambiental na anlise de concesso de nanciamento para empreendimentos de
grande porte. Para maiores detalhes, consulte http://www.equator-principles.com/
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Tais questes so complexas e delicadas, pois
h necessidade de se contemplar os aspectos
diretamente ligados gerao de energia limpa
sem deixar de levar em conta as externalidades
sociais e ambientais, bem como os aspectos afetos
ao uso mltiplo dos recursos hdricos. Neste
contexto, a legislao brasileira dispe de um
instrumento de participao da sociedade que
pode ser usado a servio do consenso, ou pelo
menos do consentimento as audincias pblicas.
A utilizao efetiva desse mecanismo participativo
tende a aumentar o tempo para o incio de um
projeto, em virtude da necessidade de composio
com diversos agentes. Estabelecido o consenso e
o consentimento, a execuo do projeto pode
ocorrer com menos sobressaltos, levando a
menores atrasos nas entregas das obras.
COMO IMPULSIONAR DE FORMA MAIS EFETIVA APENETRAO DE FONTES RENOVVEIS?
Apesar da recente reduo na participao de
fontes renovveis na matriz brasileira, resultanteda queda na gerao hidreltrica, o Plano Nacio-
nal de Energia 2030 (PNE 2030) aponta reverso
dessa tendncia a partir de 2010. Esse ainda no
o cenrio que se instala no pas, haja vista a re-
cente reduo na participao das renovveis em
2013 para 41%31.
31.EPE (2014). BEN 2014.
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de energia elica, com 889,6 MW e 769,1 MW de
capacidade instalada total, respectivamente.
O acesso a nanciamento tambm representa
importante barreira a ser superada para o de-
senvolvimento da gerao por fontes renovveis.
Estudo da ONG WWF34 sinaliza que recursos
adicionais devem ser empregados na gerao,
desenvolvimento e inovao para tecnologias aindaem estgio inicial de difuso, como o caso dessas
fontes no Brasil. Para esse m, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) esta-
beleceu, desde 200635, uma poltica de nanciamen-
to para esse tipo de empreendimento de gerao.
Em paralelo, o Governo Federal tambm tem
tentado estimular o desenvolvimento de uma ca-
deia local de fornecedores, por meio de polticas
de contedo local. Isso se d pela via de concessocondicional de crdito, por parte do BNDES, para
projetos de gerao por essas fontes, de modo
que o crdito s concedido caso o vencedor se
comprometa com uma contrapartida de contedo
local na produo. Deve-se observar, contudo,
que a poltica de contedo local pode vir a atuar
como uma possvel barreira velocidade de
expanso da fonte na matriz energtica.
A discusso sobre as fontes renovveis passa,
necessariamente, pelo debate sobre segurana
energtica do pas, uma vez que essas so fontes
intermitentes, em particular no caso das fontes
elica e solar fotovoltaica. Contudo, vale destacar
que fontes renovveis podem apresentar comple-
mentaridade entre si, tanto ao longo do ano como
nos perodos do dia. Tal complementaridade pode
ser vericada, por exemplo, em parques elicoscom regime de ventos majoritariamente noturno,
deixando a rede ociosa durante o dia, perodo em
que h possibilidade de gerao solar32.
O potencial tcnico de gerao das fontes reno-
vveis expressivo no Brasil, uma vez que o pas
privilegiado com abundncia de recursos naturais,
como intensa radiao solar e regime de ventos
favorvel, em especial na regio Nordeste e Sul.No entanto, a viabilizao econmica de projetos
de gerao elica e, principalmente, fotovoltaica
ainda tem importantes ns a serem desatados.
Nesse sentido, o governo j vem denindo o
preo teto nos leiles de gerao elica e solar
em patamares mais elevados, com o objetivo de
atrair projetos. No Leilo de Reserva de 31 de
outubro de 2014, por exemplo33, foram contrata-
dos 31 empreendimentos de energia solar e 31
32.Macdo, Pinho (2002). ASES: programa para anlise de sistemas elicos e solares fotovoltaicos. Paramaiores informaes, vide http://www.cogen.com.br/workshop/2012/Abeolica_Tiago%20Ferreira_Forum_
CanalEnergia_Cogen_12_Abril_2012.pdf
33.Maiores informaes disponveis em http://www.epe.gov.br/leiloes/Paginas/Leilo%20de%20Energia%20de%20Reserva%20(2014)/LeilodeEnergiadeReserva2014atraiinvestimentosdeR$7,1bi.aspx
34.WWF (2012). Alm de Grandes Hidreltricas: polticas para fontes renovveis de energia eltrica no Brasil.
35.O BNDES em 2006 reativou o Fundo Tecnolgico (Funtec) voltado concesso de recursos noreembolsveis para o desenvolvimento de energia renovveis, assim como, semicondutores, medicamentos,
dentre outros. Disponvel em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/capitulo10.pdf.
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em Paris, em 2015, incluam pases como China,ndia e Brasil na lista daqueles submetidos a
restries de emisses. Neste cenrio, o setor
de leo e gs no Brasil pode sofrer um custo
adicional e ter seu desenvolvimento nos moldes
tradicionais questionado pela sociedade civil.
Os resultados da rodada preliminar de negocia-
es de clima, na COP20 em Lima, em dezembro
de 201439, sero um importante sinalizador das
polticas climticas que podero ser estabele-cidas em Paris40.
QUAIS SO OS DESAFIOS PARA GARANTIRO DESENVOLVIMENTO SEGURO, DO PONTODE VISTA TECNOLGICO E AMBIENTAL,DAS RESERVAS DO PR-SAL?
A possibilidade de expanso da oferta no
setor de leo e gs encontra-se em estgio mais
avanado, a julgar pelo nvel de investimentos
e alocao de recursos no setor. O Brasil tem o
potencial de expandir suas reservas em 55 bilhes
de barris de leo equivalente36(bboe), em virtu-
de da explorao das reservas do pr-sal37. Tal
expanso levaria o pas, em 2020, posio de
oitava nao no ranking de reservas mundiais
de petrleo. De acordo com projees do PNE
2030, a produo de petrleo dever atingir 2,96
milhes de barris por dia em 2020, mantendo-se
neste patamar at 2030, como reexo da poltica
contnua de investimento em explorao e pro-
duo. J a produo de derivados de petrleo
dever atingir 3,66 milhes de barris por dia, em
funo da expanso da capacidade de reno
para atender demanda interna.
A explorao das reservas do pr-sal est inserida
ainda em um contexto de presso crescente
quanto s emisses de GEE associadas ao uso
de combustveis fsseis. H uma expectativacrescente de que as negociaes da COP2138
36. Normalmente usado para expressar volumes de petrleo e gs natural na mesma unidade de medida (barris)pela converso do gs taxa de 1.000 m de gs para 1 m de petrleo.
37.PwC (2013). The Brazilian Oil and Gas Industry.
38.COP21 (21 Conferncia das Partes da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima)
39.COP 20 (20 Conferncia das Partes da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima)
40.As negociaes climticas entre Estados Unidos e China, anunciadas em novembro de 2014, conrmam asexpectativas de reduo de emisso de GEE por parte dos maiores emissores globais.
O Brasil tem opotencial de expandirsuas reservas em55 bilhes de barris
de leo equivalente(bboe), em virtudeda explorao dasreservas do pr-sal.
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regulamentao44para taxar a emisso de di-
xido de carbono, tornando-se o primeiro pas
da Amrica do Sul a adotar tal medida.
Alm dos desaos tecnolgicos peculiares
explorao do pr-sal, que encontra-se em lmi-
nas dgua profundas e ultra-profundas, h uma
expectativa de uma regulao ambiental mais
restritiva, acompanhando a tendncia mun-dial ps-Macondo45. Na prtica, isso signicar
mais recursos e tecnologia alocados a aspec-
tos ligados segurana operacional, melhor
capacidade de resposta no caso de acidente e
maior concertao entre operadores e rgos
licenciadores. Tudo isso em um cenrio atual
de preos de petrleo em queda.
Adicionalmente, a eventual precicao de
carbono pode representar um aumento de custo
signicativo na explorao de reservas, com im-
pacto direto no seu desenvolvimento. H hoje,
na esfera internacional, uma presso crescente
de investidores para a venda de ativos expostos a
combustveis fsseis41ou, ao menos, para fazer
com que as empresas internacionais de petrleo
revelem o impacto de uma possvel taxao decarbono no valor de suas reservas42.
Por outro lado, diversos pases tm adotado
polticas favorveis a algum tipo de restrio s
emisses de GEE, tais como mercados de cap
and trade43 e a prpria taxao de carbono.
Em setembro de 2014, o Chile aprovou uma
41.Investidores como a famlia Rockefeller e o fundo da Universidade de Stanford anunciaram, recentemente,a inteno de vender ativos com alta exposio a combustveis fsseis, como um sinal de contribuioao combate ao aquecimento global. Veja em http://www.theguardian.com/environment/2014/sep/22/rockefeller-heirs-divest-fossil-fuels-climate-change e http://news.stanford.edu/news/2014/may/divest-coal-trustees-050714.html
42.H na comunidade nanceira internacional um debate em torno do impacto de eventuais restries sobreemisses com relao ao valor de mercado de empresas com ativos ainda a serem explorados. Empresascomo a Shell e a Exxon j se posicionaram publicamente quanto a este debate. Veja em http://www.carbontracker.org/report/responding-to-shell-an-analytical-perspective/ e http://s02.static-shell.com/content/
dam/shell-new/local/corporate/corporate/downloads/pdf/investor/presentations/2014/sri-web-response-climate-change-may14.pdf
43.A Comisso Europeia lanou em janeiro de 2014 o Pacote Clima e Energia 2030, o qual inclui metas, como,reduo de 40% das emisses de GEE abaixo do nvel de 1990 e o mnimo de participao de fontesrenovveis na matriz energtica em 27%.
44.Regulamentao disposta na Lei n 20.780/2014 que vem a estabelecer uma srie de pontos para a reformatributria do pas. Dentre os temas abordados, tm-se as regras para cobrana de imposto sobre a emissode CO
2.
45.O acidente, ocorrido em abril de 2010 no Golfo do Mxico, se deu quando a torre petrolferaDeepwaterHorizon perfurava um poo no Canion do Mississippi, bloco 252, conhecido como Macondo. Por falhastcnicas associadas cimentao do poo houve uma exploso. O consequente derramamento de petrleo
de 4,9 milhes de barris resultou em graves impactos ora e fauna locais, alm de danos nanceiros e deimagem para a operadora do campo, a BP (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/08/100802_vazamento_bp_ac.shtml).
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COMO ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTODA OFERTA DE GS NATURAL EMFUNO DAS PECULIARIDADES DO
MERCADO BRASILEIRO?
Em relao ao gs natural, o PNE sinaliza que a
produo total deve superar 250 milhes de m
por dia em 2030, o que resultar em um aumento
percentual da sua participao na matriz ener-gtica brasileira, passando para 16% em 2030.
A produo brasileira atual de gs natural de
cerca de 80 milhes de m/dia - incluindo queima,
reinjeo e o gs utilizado internamente pela
Petrobras nas plataformas e refinarias (30 a
40 milhes de m/dia). Isso signica que a pro-
duo de gs dever mais do que triplicar at
2030. A viabilizao desse cenrio, no entanto,
depende de diversos obstculos a serem su-perados pelo setor de gs no Brasil.
Um aspecto importante da produo nacional
de gs que ela vem associada ao leo produzi-
dooffshore, predominantemente pela Petrobras.
Espera-se, portanto, que uma parte dessa oferta
futura venha da produo associada de leo e
gs na camada pr-sal46. Com isso, alm dos
dilemas enfrentados pela viabilizao da produ-
o no pr-sal, destacado acima, a produo degs nessas reas precisar enfrentar obstculos
adicionais. Por um lado, ainda h muita incerteza
com relao ao volume de gs que ser produ-
zido no pr-sal. Por outro, parte dessa produo
dever ser utilizada pela prpria Petrobras nas
plataformas para viabilizar o seu funcionamento e
a produo de leo, o que aumenta ainda mais a
incerteza sobre qual o volume de gs estar efeti-
vamente disponvel para o mercado nacional.
Ainda com relao produo do pr-sal e
produo offshorede modo geral h diculda-
des a serem enfrentadas quanto ao escoamentodessa produo. Como os dutos so da Petrobras47
e no h garantia de livre acesso para as demais
produtoras, praticamente a totalidade do gs
produzido offshoreacaba sendo escoado pela
estatal brasileira. No caso do pr-sal, as reas de
produo cam distantes da costa (cerca de 300
km, no caso do campo de Libra), acentuando a
necessidade de denio quanto ao escoamento
do gs produzido.
No caso da produo em terra, o volume atual
de cerca de um quarto do total nacional.
O desenvolvimento dessa produo esbarra,
principalmente, na baixa penetrao da malha
de gasodutos de transporte, concentrada na
costa do pas e de propriedade da Petrobras48.
As questes scais e regulatrias tambm so
barreiras importantes e, alm disso, as empresasque atuam na produo de gs onshoresinalizam
que h diculdades em obter nanciamento
para suas atividades, alm de citarem a necessi-
dade de adequao das regras regulatrias.
46.Petrobras (2014). Plano Estratgico Petrobras 2030.
47.Segundo o artigo 45 da Lei do Gs, n 11.909/2009, os gasodutos de escoamento da produo no estoobrigados a permitir o acesso de terceiros.
48.A Lei do Gs, Lei n 11.909/2009, em seu artigo 32 assegura o livre acesso de terceiros aos gasodutos de transporte.
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Finalmente, devido aos custos de investimento
na rede de gasodutos, o desenvolvimento da
produo de gs em geral pressupe o estabele-
cimento de um mercado ncora. O atual mercado
de gs no Brasil de cerca de 100 milhes de
m/dia, considerando-se o nvel de despacho
das termeltricas. A diferena entre a produo
nacional suprida atravs da importao de gs
da Bolvia ou de GNL. No entanto, em perodos
hidrolgicos favorveis, em que as trmicas no
so despachadas, o mercado nacional atendido
atravs da produo local e do contrato de impor-
tao com a Bolvia sem a necessidade de
importao de GNL. Isso signica que boa parte
do mercado brasileiro de gs intermitente, o
que diculta que se garanta uma oferta capaz de
viabilizar o investimento em transporte. Uma alter-
nativa seria despachar as trmicas a gs na base
e no apenas em perodos secos de modo a
minimizar o carter intermitente do mercado.
DE QUE FORMA IMPULSIONAR O MERCADODE ETANOL, COM FOCO NA TECNOLOGIA
PARA A CHAMADA SEGUNDA GERAO?
Outro destaque em termos de perspectivas futu-
ras de participao na oferta de energia nacional
o setor sucroenergtico. O PNE 2030 prev que
a cana-de-acar e seus derivados passem a ser a
segunda fonte de energia mais importante da ma-
triz energtica brasileira, com 18% de participao,
inferior apenas ao petrleo e seus derivados49.
49.EPE (2008). PNE 2030.
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lcool hidratado e ex fuel. Adicionalmente, a
oferta de etanol tende a crescer com o desen-
volvimento de usinas de segunda gerao, as
quais produzem etanol celulsico50, combustvel
considerado uma alternativa mais sustentvel e
eciente energeticamente.
o etanol advindo da cana-de-acar como um
combustvel avanado51, que reduz a emisso
de dixido de carbono em 61% comparado
gasolina, alavancando o mercado para o etanol
brasileiro. Assim, espera-se um aumento da pro-
duo dos demais derivados da cana-de-acar,
em especial da biomassa.
Um ponto que merece ateno a projeo de
crescimento da demanda do etanol. Atualmente,
o etanol apresenta expressiva participao em
virtude de aumento da demanda, resultado
da sua insero na matriz por meio da adio
gasolina e do consumo na frota de veculos a
A competitividade da cana-de-acar para ns
energticos o principal fator motivador da
expanso expressiva da produo de etanol,
inclusive com excedentes para exportao.
Cabe destacar a conquista do etanol brasileiro
em fevereiro de 2010, quando a Agncia Ame-
ricana de Proteo Ambiental (EPA) classicou
Etanol Celulsico: sustentvel e eficienteO etanol celulsico produzido a partir da palha e do bagao da cana-de-acar
tem grande potencial de crescimento, uma vez que no depende da produo de
alimentos para sua industrializao nem da expanso da rea plantada de cana-
de-acar, mas sim do reaproveitamento dos resduos da produo de etanol e
acar. Dessa forma, o processo de gerao expressivamente mais eficiente que
o das usinas de primeira gerao, pois, alm de aumentar a eficincia de custos da
cadeia, melhora a utilizao do potencial energtico da cana. Assim, almeja-se que
as usinas de segunda gerao mudem a dinmica do mercado, representando uma
oportunidade de diferencial competitivo.
50.Em setembro de 2014, comeou a operar em Alagoas a primeira usina de etanol celulsico, de segundagerao do Brasil, do grupo GraalBio.
51.O etanol produzido nos Estados Unidos da Amrica a partir do milho capaz de reduzir as emisses de CO2
em 20% quando comparado gasolina, sendo, portanto, menos eciente que o etanol da cana-de-acar.
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no intuito de impulsionar o etanol de segunda
gerao. De outro lado, o papel do governo,
com a correta precicao da gasolina peran-
te o etanol, uma condio fundamental para
que este combustvel seja uma escolha natural
dos consumidores.
Nesse contexto, o progresso deste setor pode re-
presentar um movimento estratgico na transio
para uma economia de baixo carbono. Faz-se ne-
cessria a elaborao de incentivos para alocao
de recursos em pesquisa e desenvolvimento nas
empresas, universidades e entidades setoriais,
O papel da poltica energticae do planejamento integrado noenfrentamento desses dilemas
A poltica energtica deve ser capaz de traduzir as escolhas de longo prazo mais
relevantes para o crescimento do pas quaisquer que sejam elas oferecendodiretrizes fundamentais para nortear os investimentos e a alocao de recursos
para o desenvolvimento do setor energtico. Por seu carter de longo prazo, im-
portante que reflita um pensamento de Estado, imune s oscilaes de governos e
que garanta segurana aos investidores, empresrios e consumidores. As diretrizes
devem estar alinhadas com os desejos da sociedade e contemplar questes nas
esferas social, ambiental e econmica.
Para evitar eventuais pontos conflitantes entre a poltica energtica e outras polti-
cas setoriais, o debate entre os atores deve ser estimulado, de modo a evidenciar
as externalidades de cada deciso e acordar os ganhos e perdas de cada uma de-
las. Desse modo, questes como disponibilidade e qualidade da gua, oferta de
alimentos, emisses de GEE, matriz de transporte, entre outras questes, podero
integrar-se aos objetivos estratgicos do pas. Nesse sentido, o planejamento ener-
gtico, que obedece s diretrizes de poltica, deve caminhar para uma convergn-
cia com o planejamento de outros setores estratgicos.
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52.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.
O consumo nal de combustveis lquidos no
Brasil cresceu 5,3% em 2013, com relao a
2012, ao passo que o aumento do consumo de
energia eltrica foi de 3,6%, comparado a um
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de
2,3%. Essa relao direta entre PIB e consumo
energtico ainda mais forte em pases em
desenvolvimento, como o caso do Brasil.
Segundo estimativas da EPE, a demanda total
por energia no Brasil deve52aumentar no perodo
de 2013 a 2050 a uma taxa mdia de 2,2% ao ano.
Nesse cenrio de forte e prolongada expanso
da demanda nacional de energia, a busca por
ecincia deve ser um objetivo importante a
ser perseguido.
Dois fatores apresentam grande inuncia sobre
o consumo per capita de energia ao longo do
tempo, a saber: o nmero de consumidores e a
variao do nvel de renda per capita da populao.
No Brasil, em funo do acesso praticamente
universalizado energia eltrica, o aumento do
consumo per capita deve reetir, principalmente,
a elevao de renda da populao.
H uma fonte de energia fundamental que as pessoas em geral desconsideram. s vezes,
conhecida como conservao; outras, como eficincia. Trata-se de algo difcil de conceituar e
de mobilizar; ainda assim, pode dar a maior contribuio de todas para o equilbrio energtico
num futuro prximo. (Daniel Yergin, A Busca, p.15 da traduo para o portugus)
O papel da demanda
por energia
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GRFICO 8 - EVOLUO ESTIMADA DO CONSUMO PER CAPITA DE ENERGIA
Fonte: Demanda de Energia 2050, EPE.
No setor eltrico, as perdas podem ser do tipo
tcnicas, que contemplam perdas eltricas
decorrentes da prpria atividade de transmis-
so ou distribuio, ou perdas no-tcnicas
(tambm conhecidas como comerciais), cujoescopo abrange situaes como furto de energia
e discrepncias no faturamento.
A reduo das perdas tcnicas est ligada
ao investimento na qualidade e manuteno
dos equipamentos usados na transmisso e
na distribuio, bem como na busca por novas
tecnologias. J no caso das perdas comerciais,
essas costumam ocorrer em reas de grande
complexidade social, o que torna a abordagem
Em um cenrio de aumento da demanda por
energia, o gerenciamento da demanda de
todo importante, no apenas para atendimento
s necessidades de modo mais eciente, mas
tambm para que os recursos naturais e energ-ticos sejam utilizados racionalmente.
REDUO DOS DESPERDCIOS
Nesse contexto, a medida mais imediata em
busca de ecincia no uso dos recursos naturais
e energticos o combate ao desperdcio via
reduo de perdas - sejam estas no setor eltrico,
no uso da gua, na matriz de transporte ou aindanos processos de leo e gs.
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sucedidas, mas a questo ainda est longe de
estar satisfatoriamente equacionada. O cenrio
de evoluo das perdas53tcnicas e comerciais
no setor eltrico ao longo do horizonte de tem-
po 2013 a 2050 contempla uma reduo gradual
do ndice de perdas54, passando do valor de
17% para 13,7%.
para a reduo de tais perdas muito especcas
para cada rea. O alto ndice de perdas comer-
ciais, principalmente em determinadas reas
de concesso, tem se mostrado um desao
para o regulador e concessionrias e requer uma
anlise multidisciplinar para sua maior compreen-
so. Algumas iniciativas tm se mostrado bem
Combate s Perdas Comerciais:Programa Light LegalA Light, uma das distribuidoras de energia do estado do Rio de Janeiro, inten-
sificou, ao longo de 2013, aes de combate s perdas comerciais de energia e,dentre essas, a de maior destaque o Programa Light Legal. Associado medio
eletrnica e por meio de equipes de campo em reas com aproximadamente 15 mil
clientes e altos ndices de perdas comerciais e inadimplncias, chamadas de reas de
Perda Zero (APZs), o Programa realiza a prestao de servios de energia eltrica,
como verificao dos medidores, dicas de consumo eficiente e segurana, dentre
outras atividades. O objetivo reduzir os ndices de perdas, diminuir o desloca-
mento das equipes e aproximar o cliente empresa por meio de parcerias com
micro-empreendedores locais. Segundo o relatrio de Sustentabilidade da Light
2013, a perda comercial nas reas selecionadas, que em janeiro de 2013 era de24,8%, chegou a 20,3% em dezembro de 2013, e a adimplncia chegou a quase
100%. Nas reas em que o Programa est presente e que contam com Unidades
de Polcia Pacificadora (UPPs), a adimplncia teve um aumento mdio de 9,6% para
98,5% no perodo de 2009 a 2013.
53.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.54.O ndice de perdas um indicador que representa as perdas como percentual da carga de energia.
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Com relao ao uso da gua, o nvel perdas no
Brasil tambm alarmante cerca de 38% do
faturamento em mdia para o pas55. Esse alto
ndice de perdas torna-se ainda mais preo-
cupante se considerarmos a dependncia de
nossa matriz eltrica da gua e a necessidade
de ampliao da cobertura dos servios de
gua potvel e esgoto para a populao em
2010, conforme dados do Censo-IBGE, a mdia
nacional era de 81,1% e 46,2%, respectivamente.
Isso signica que o consumo de gua por habitante
no pas tender a crescer medida em que mais
domiclios tiverem acesso aos servios de sanea-
mento. Entre 2009 e 2010, o consumo de gua porhabitante no pas cresceu 7,1%, alcanando uma
mdia de 159 litros por habitante por dia. A baixa
penetrao dos servios de saneamento torna
ainda mais importante a implementao de me-
didas que incentivem o uso racional da gua.
O ponto a ser destacado o cenrio atual de
grande desperdcio, seja por falta de educao de
consumo, por inecincia operacional ou por
inadequao na sinalizao de preos, uma vez
que a precicao do uso da gua no traduz a
realidade entre a oferta e a demanda pelo recurso.
J no caso da matriz de transportes, cabe des-
tacar que o setor viabiliza os demais, afetandodiretamente a segurana, a qualidade de vida
e o desenvolvimento econmico nacional. O setor
de transportes apresenta diversos focos a serem
combatidos na tentativa de amenizar as ine-
cincias, como a manuteno das frotas de
transporte, a carncia de infraestrutura rodoviria
e ferroviria adequada e a baixa utilizao de
hidrovias para escoamento, por exemplo, de
produtos agrcolas.
No setor de leo e gs, o combate inecin-
cia deve se dar, principalmente, por meio do
controle e monitoramento da queima de gs no
aree dos nveis de reinjeo nos reservatrios.
A queima de gs no are, j restrita pela atual
regulao56, representa um desperdcio de re-
cursos e traz impactos ambientais indesejveis,
contribuindo notadamente para a emisso deGEE. J a reinjeo do gs associado, que tem
como objetivo aumentar a produo de petrleo,
acaba por dicultar a maior insero do gs
produzido nacionalmente no mercado brasileiro
- principalmente por razes econmicas.
55.Dados de 2010 disponveis em http://www.tratabrasil.org.br/datales/uploads/perdas-de-agua/book.pdf
56.Portaria ANP n 249/2000.
O combate ao
desperdcio, no entanto,
representa apenas um
primeiro passo na busca
por maior eficincia.
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MINIMIZANDO O IMPACTO DE EMISSES O
SETOR DE TRANSPORTES
O combate ao desperdcio, no entanto, repre-
senta apenas um primeiro passo na busca por
maior ecincia. A implantao ativa de medidas
com o objetivo de reduzir o consumo de energia
tambm deve fazer parte de uma poltica para
promover o uso racional de recursos e a reduode emisses. No contexto brasileiro, tais polticas
devem ter como um de seus principais focos a
matriz de transporte no Brasil, uma vez que este
setor responsvel pela maior parte das emisses
no pas, conforme apresentado no captulo 2.
Mecanismos de incentivo ao transporte coletivo,
notadamente em grandes centros urbanos,
devem ser estimulados no intuito de otimizar
os sistemas de transporte. Nesse contexto, vale
ressaltar os esforos de diversas capitais do pas
na implantao de sistemas BRT Transporte
Rpido por nibus, resultando em maior mobili-
dade urbana e menor nvel de emisses, quando
comparados alternativa do uso de automveis
individuais. Adicionalmente, o desenvolvimento
de carros eltricos ou movidos a clulas com-
bustveis de hidrognio j vem despontando
como uma soluo de mercado mais eciente
do ponto de vista de emisses de GEE associadas
ao setor de transporte, algo que deve ser avalia-
do pelo governo.
Cabe ressaltar, ainda, esforos realizados no
sentido de aprimorar a ecincia dos combus-
tveis lquidos usados no transporte rodovirio,
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avisando sobre os horrios de pico, ou mesmo
o controle por parte da concessionria da tempe-
ratura dos aparelhos de climatizao, resultaram
em importantes redues no consumo noshorrios de pico59.
No entanto, a viabilizao da introduo de
mecanismos de gerenciamento de demanda
depende, em parte, da adoo de novas tec-
nologias no setor eltrico - as chamadas redes
inteligentes (Smart Grid). Estas redes esto
geralmente associadas introduo de medi-
dores que possibilitam monitorar o consumoem intervalos mais frequentes. As possibilida-
des de aplicao, todavia, vo alm, e envolvem
a adoo de tecnologias mais modernas em
toda a cadeia produtiva da energia eltrica -
softwares, sistemas de controle e protocolos
por meio do Programa Inovar-Auto do Governo
Federal57. O objetivo de tal programa elevar
em pelo menos 12%, at 2017, a ecincia dos
automveis individuais leves produzidos no Brasil,
tendo como contrapartida benefcios scais
baseados em reduo do IPI.
SETOR ELTRICO - EFICINCIA ENERGTICAE GERENCIAMENTO DA DEMANDA
Uma abordagem mais completa para a busca
por ecincia deve contemplar tambm medidas
de gerenciamento da demanda e ecincia ener-
gtica. Estima-se58 que a ecincia energtica
possa contribuir, no horizonte de longo prazo, com
aproximadamente 20% da demanda de energia
total e 18% da demanda de eletricidade.
J o gerenciamento da demanda contempla o
uso de incentivos nanceiros, comportamentais
ou de iniciativas de educao do consumidor com
o objetivo de modicar o seu perl de consumo.
A utilizao de precicao diferenciada por
perodos durante o dia, no intuito de fazer com
que o consumidor transra parte de seu consumo
para fora do horrio de pico, por exemplo, um
mecanismo de gerenciamento da demanda.
A experincia internacional mostra, no entanto,
que outros mecanismos de gerenciamento de
demanda tambm vm se mostrando efetivos
na racionalizao do consumo. Medidas como
o envio de mensagens para os consumidores
57.Programa institudo por meio do Decreto n 7.819/12.
58.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.
59.Faruqui et al, (2009). Piloting the Smart Grid.
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como gerao simultnea de energia trmica e
eltrica, a partir de uma mesma fonte primria de
energia. Para o sistema eltrico, de fundamental
importncia o incremento da cogerao, na
medida em que, em se tratando de uma forma
de gerao distribuda, localizada junto s unida-
des de consumo, requer menores investimentos
do sistema eltrico na ampliao das redes de
transmisso. Alm disso, esses sistemas costu-mam apresentar uma ecincia de at 85%.
Para o setor industrial, um exemplo de cogerao
seria nas usinas de cana-de-acar, em que a
fonte energtica, ao ser queimada, gera energia
trmica em forma de vapor e energia eltrica. O
jato de vapor movimenta uma turbina conecta-
da a um gerador, resultando na gerao de ele-
tricidade. Em perodos de maior acionamentode trmicas no setor eltrico, a utilizao do
bagao da cana para o processo de cogerao
pode se tornar ainda mais atraente, em especial
quando associado insero da fonte em leiles
a preo-teto interessante. Alm disso, outro
exemplo a ser destacado a cogerao a gs
natural, a qual pode apresentar grande utili-
dade para o mercado industrial ou comrcio e
servios, como, por exemplo, para um shoppingcenter, em que alm da gerao de eletricidade
atravs do vapor, verica-se a possibilidade
de climatizao, proporcionada por meio da
presena simultnea de gua quente e gelada.
de comunicao avanados, que permitem a
comunicao bidirecional, o corte remoto de
fornecimento e o controle da carga distncia,
entre outras funcionalidades. A tecnologia em
questo permite tambm detectar e solucionar
anomalias no sistema, de modo a evitar ou miti-
gar faltas de energia, interrupes e problemas
na qualidade do servio, garantindo assim
maior ecincia operacional.
A introduo dessas tecnologias tambm viabi-
liza o aumento da oferta da energia atravs da
microgerao distribuda. Uma das importantes
funcionalidades da rede inteligente a medio
bidirecional (net metering), que permite aos
consumidores gerar energia em suas residn-
cias (em painis solares, por exemplo) e injetar o
excedente na rede de distribuio. Esta energiano consumida e injetada na rede pode gerar
crditos de eletricidade passveis de deduo das
faturas dos consumidores. Esse mecanismo torna
possvel60a gerao de energia eltrica em pe-
quena escala e mais prxima ao consumo, sobre
a qual a Aneel publicou a Resoluo n 482/2012,
que estabelece regras para o net metering.
Da mesma forma, a autoproduo constitui-se
em importante elemento na anlise do atendi-
mento demanda de eletricidade, uma vez que
ela j representa quase 10% de toda a energia
eltrica consumida no pas61. O caso mais co-
mum de autoproduo a cogerao, denida
60. Para viabilizar a ampliao da microgerao distribuida no Brasil, no entanto, h outras questes,principalmente de ordem tributria, a serem resolvidas. Para maiores detalhes, veja em https://www.
ambienteenergia.com.br/index.php/2014/09/evolucao-conservadora-da-energia-solar-brasil/24444
61.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.
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Projetos Smart Gridno Brasil
No Brasil, existem diversos casos de projetos piloto de cidades com tecnologia
smart grid, englobando uma srie de servios como gerao e gerenciamento
inteligente de energia, prdios inteligentes, veculos inteligentes, sistema dearmazenamento de energia e iluminao pblica inteligente, dentre outros.
Exemplos de cidades com essa tecnologia so:
Bzios (RJ), com o projeto Cidade Inteligente Bzios;
Sete Lagoas (MG), com o projeto Cidades do Futuro, escolhida em virtude de
apresentar sistemas eltrico e de telecomunicaes favorveis aos testes, alm de
boa amostra populacional e mercado diversificado;
Parintins (AM), com o projeto Parintins, escolhida em funo de ter um sistema
isolado de abastecimento;
Aparecida (SP), com o projeto InovCity executado pelo grupo portugus EDP, e
escolhida em razo das similaridades apresentadas para com a cidade de vora,
cidade portuguesa e experincia bem sucedida;
Outras localidades, como Aquiraz (CE), Curitiba (PR), Fernando de Noronha (PE)
e Barueri (SP).
A cidade do Rio de Janeiro tambm conta com o projeto Smart Gridda Light, cuja
meta disponibilizar a rede inteligente para 1,6 milho de consumidores (40% dos
clientes da distribuidor