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    DIRETOR

    Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella

    EQUIPETCNICACoordenao Editorial

    Lavinia Hollanda

    Autores

    Lavinia Hollanda

    Mnica Varejo

    EQUIPEDE PRODUO

    Coordenao de Comunicao

    Simone C. Lecques de Magalhes

    Capa, projeto grfco e diagramao

    Maria Clara Thedim

    www.mathedim.com.br

    SCIAFUNDADORA

    Clarissa Lins

    EQUIPETCNICACoordenao Editorial

    Clarissa Lins

    Autores

    Clarissa Lins

    Felipe Vignoli

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    Lavinia Hollanda e Mnica Varejo, FGV Energia 1

    Clarissa Lins e Felipe Vignoli, Catavento2

    3

    Esse caderno fruto de uma parceria entre a FGV Energia e a Catavento, que somaram

    esforos no intuito de estimular um novo olhar sobre os dilemas enfrentados no setor de

    energia no Brasil. Alimentar o debate em torno de questes primordiais, que afetam tanto as

    possibilidades de expanso das fontes de energia, quanto o papel da demanda, em um contextode uso eficiente de recursos naturais e restries crescentes s emisses de gases de efeito

    estufa, a premissa desse trabalho.

    SOBRE A FGV ENERGIA

    A FGV Energia o centro de estudos dedicado

    rea de energia da Fundao Getlio Vargas,criado com o objetivo de posicionar a FGV como

    protagonista na pesquisa e discusso sobre

    poltica pblica em energia no pas. O centro

    busca formular estudos, polticas e diretrizes de

    energia, e estabelecer parcerias para auxiliar

    empresas e governo nas tomadas de deciso.

    SOBRE A CATAVENTO

    A Catavento uma consultoria em sustentabilidade

    corporativa que busca influenciar tomadores dedeciso. Amplia a viso estratgica da empresa

    acerca das potencias mudanas no seu contexto

    de negcios, mapeia riscos e oportunidades,

    avalia a sustentabilidade de seus modelos de

    negcios, bem como identifica o valor associado

    a prticas inovadoras.

    1.Lavinia Hollanda e Mnica Varejo so, respectivamente, Coordenadora de Pesquisa e Pesquisadora da FGV Energia.

    2. Clarissa Lins e Felipe Vignoli so, respectivamente, scia fundadora e scio da consultoria Catavento.

    Apresentao

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    PRIMEIROPRESIDENTEFUNDADORLuiz Simes Lopes

    PRESIDENTE

    Carlos Ivan Simonsen Leal

    VICE-PRESIDENTES

    Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornellese Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque

    CONSELHODIRETOR

    Presidente

    Carlos Ivan Simonsen Leal

    Vice-Presidentes

    Sergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornellese Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque

    Vogais

    Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalhoe Albuquerque, Ernane Galvas, Jos Luiz Miranda,Lindolpho de Carvalho Dias, Marclio Marques Moreirae Roberto Paulo Cezar de Andrade

    Suplentes

    Antonio Monteiro de Castro Filho, Cristiano BuarqueFranco Neto, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto DuartePrado, Jacob Palis Jnior, Jos Ermrio de Moraes Netoe Marcelo Jos Baslio de Souza Marinho.

    CONSELHOCURADOR

    Presidente

    Carlos Alberto Lenz Csar Protsio

    Vice-Presidente

    Joo Alfredo Dias Lins (Klabin Irmos e Cia)

    Vogais - Alexandre Koch Torres de Assis, Anglica Moreirada Silva (Federao Brasileira de Bancos), Ary Oswaldo MattosFilho (EDESP/FGV), Carlos Alberto Lenz Cesar Protsio,Carlos Moacyr Gomes de Almeida, Eduardo M. Krieger,Fernando Pinheiro e Fernando Bomglio (Souza Cruz S/A),Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estado da Bahia),Joo Alfredo Dias Lins (Klabin Irmos & Cia), LeonardoAndr Paixo (IRB Brasil Resseguros S.A.), Luiz Chor(Chozil Engenharia Ltda.), Marcelo Serfaty, Marcio Joo de

    DIRETOR

    Carlos Otavio de Vasconcellos Quintella

    COORDENAODE PESQUISALavinia Hollanda

    COORDENAODE RELAOINSTITUCIONALLuiz Roberto Bezerra

    COORDENAODE ENSINOEP&DFelipe Gonalves

    COORDENAODE COMUNICAOEMARKETINGSimone C. Lecques de Magalhes

    PESQUISADORES

    Bruno Moreno Rodrigo de FreitasCamilo Poppe de Figueiredo MuozFelipe Castor Cordeiro de SousaMnica Coelho VarejoRafael da Costa Nogueira

    Andrade Fortes, Orlando dos Santos Marques (Publicis BrasilComunicao Ltda.), Pedro Henrique Mariani Bittencourt(Banco BBM S.A.), Raul Calfat (Votorantim Participaes S.A.),Ronaldo Mendona Vilela (Sindicato das Empresas de SegurosPrivados, de Capitalizao e de Resseguros no Estado doRio de Janeiro e do Esprito Santo), Sandoval Carneiro Junior(DITV Depto. Instituto de Tecnologia Vale) e Tarso Genro(Estado do Rio Grande do Sul).

    Suplentes - Aldo Floris, Jos Carlos Schmidt Murta Ribeiro,Luiz Ildefonso Simes Lopes (Brookeld Brasil Ltda.), LuizRoberto Nascimento Silva, Manoel Fernando Thompson MottaFilho, Roberto Castello Branco (Vale S.A.), Nilson Teixeira(Banco de Investimentos Crdit Suisse S.A.), Olavo Monteirode Carvalho (Monteiro Aranha Participaes S.A.), Patrick deLarragoiti Lucas (Sul Amrica Companhia Nacional de Seguros),Rui Barreto (Caf Solvel Braslia S.A.), Srgio Lins Andrade(Andrade Gutierrez S.A.) e Victrio Carlos de Marchi (AMBEV).

    PRAIADEBOTAFOGO, 190, RIODEJANEIRO RJ CEP22250-900OUCAIXAPOSTAL62.591 CEP22257-970 TEL: (21) 3799-5498 WWW.FGV.BR

    Instituio de carter tcnico-cientco, educativo e lantrpico, criada em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurdica dedireito privado, tem por nalidade atuar, de forma ampla, em todas as matrias de carter cientco, com nfase no campo dascincias sociais: administrao, direito e economia, contribuindo para o desenvolvimento econmico-social do pas.

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    ndice SUMRIO EXECUTIVO

    INTRODUO

    OS DILEMAS NAEXPANSO DA OFERTA

    LISTA DE SIGLAS

    MATRIZ ENERGTICA EPRINCIPAIS USOS DA ENERGIA

    CONVERSANDO SOBRE ENERGIACOM DAVID ZYLBERSZTAJN

    O PAPEL DA DEMANDA

    POR ENERGIA

    BIBLIOGRAFIA

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    17

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    56

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    Sumrio Executivo

    Energia essencial para a sociedade viver

    de forma confortvel e prspera,sendo pre-

    missa para um pas se desenvolver. Alm dos

    aspectos econmico e tcnicos, as condies

    que determinam as possibilidades de expanso

    devem levar em conta tambm impactos

    sociais e ambientais, tornando a anlise da

    oferta e demanda de energia indissocivel deseus efeitos sobre a sociedade e o ambiente.

    A atual matriz energtica brasileirarepousa

    majoritariamente em fontes tradicionais,

    com predominncia de petrleo e derivados,

    embora as fontes renovveis tenham um

    papel relevante em funo da penetrao

    histrica da hidroeletricidade.

    A distribuio entre as diferentes fontes

    de energia determinante para o nvel de

    emisses de gases de efeito estufa, consi-

    derado hoje como um fator decisivo na con-

    figurao de crescimento econmico do pas.

    Recentemente, o pas apresentou uma matriz

    mais intensiva em carbono, como consequncia

    do acionamento regular das termoeltricas em

    funo da mudana nos ciclos hidrolgicos.

    As possibilidades de expanso da oferta de

    energia, necessria para suportar o cresci-

    mento do Brasil, evidenciam que o pas tem

    diversos dilemas a serem endereados de

    modo transparente, tais como: de que forma

    e aonde expandir a gerao hdrica; como

    impulsionar o desenvolvimento de demais

    fontes renovveis e otimizar seu carter intermi-tente; qual o papel da explorao das reservas

    do pr-sal em um contexto de presso por

    reduo de exposio a combustveis fsseis?

    Do ponto de vista do consumo de energia, a

    produo industrial e setor de transporte

    so os principais usurios de diversas fontes.

    Qualquer expanso deve privilegiar o uso

    eficiente de energia, passando por estimu-lar esforos em cogerao e repensando o

    modelo de transporte adotado at ento,

    claramente dependente do modal rodovirio,

    do automvel individual e do uso de combus-

    tveis fsseis. Modelos baseados em etanol,

    combustveis lquidos menos emissores e

    transporte coletivo em centros urbanos devem

    ser privilegiados.

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    Nesse contexto, o papel da demanda no

    pode ser minimizado. A busca por eficincia

    no consumo de energia deve ser incansvel, e

    um primeiro passo nessa direo seria a reduo

    de desperdcios e ineficincias em toda a

    cadeia de valor.

    Adicionalmente, mecanismos de gesto de

    demanda devem ser aplicados, contribuindocom o uso sustentvel dos recursos naturais e

    aliviando a presso por investimentos em ex-

    panso. Uma correta sinalizao de preos,

    refletindo adequadamente situaes de oferta

    e demanda e externalidades socioambientais,

    uma medida primordial nessa direo.

    As tecnologias existentes como a de redes

    inteligentes contribuem sobremaneira para

    otimizar a resposta da demanda, mudando

    a forma de se consumir energia e a relao

    entre o consumidor seja ele industrial ou resi-

    dencial e o provedor de solues energticas.

    O Brasil tem todas as condies de se tor-

    nar um ator relevante no cenrio energticomundialem funo da abundncia de recur-

    sos naturais, do acesso a fontes tradicionais

    e da aceitao de seu mercado consumidor

    a tecnologias mais modernas. Cabe agora ao

    governo nortear, por meio de polticas pbli-

    cas, a estratgia a ser seguida, com diretrizes,

    aes e sinalizaes econmicas claras, tendo

    por base consenso obtido a partir de mecanis-

    mos de dilogo com a sociedade.

    O Brasil tem todas as condies de se tornarum ator relevante no cenrio energtico mundial.

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    Conversando sobre Energiacom David Zylbersztajn

    A entrevista com David Zylbersztajn foi realizada em 14/11/14,

    com o intuito de captar a opinio de um especialista em ener-

    gia, com vivncia e conhecimento tanto do setor eltrico

    quando do setor de leo e gs. David Doutor em Economia

    da Energia pela Universidade de Grenoble (1987), foi Secretrio

    de Energia de SP e Diretor Geral da Agncia Nacional do Petrleo (ANP).

    Atualmente, scio da DZ Negcios com Energia e membro do

    Conselho de Administrao da Light.

    QUAL A FOTOGRAFIA ATUAL DA

    MATRIZ ENERGTICA BRASILEIRA?

    Todo mundo percebe que estamos caminhando

    para uma matriz positiva em carbono, ou seja,

    as emisses esto aumentando. O problema

    saber onde vamos parar. Quando o mundo

    era fssil, o Brasil era essencialmente renovvel.

    Quando o mundo busca incessantemente se

    tornar mais renovvel, o Brasil caminha na con-

    tramo. Na rea de energia, acredito que teremos

    uma ruptura tecnolgica, principalmente no que

    diz respeito captao da energia solar, como

    foi o shale gas nos Estados Unidos. H cinco

    anos, ningum imaginava que aconteceria esse

    desenvolvimento, mas hoje o shale gascontribui

    para um cenrio de excesso de oferta de energia,

    por exemplo. Aqui no Brasil, possvel que haja

    uma transio no caminho da captao solar e

    na rea de bioenergia.

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    AT QUE PONTO O BRASIL VAI NESSA

    DIREO INVERSA? VAMOS NOS

    ADEQUAR TRAJETRIA DA MATRIZMUNDIAL EM ALGUM MOMENTO?

    Se levarmos em considerao o baixo investi-

    mento que o Brasil faz em fontes renovveis e

    em efcincia energtica, as limitaes ambientais

    para a construo de hidreltricas e se no nos

    empenharmos em utilizar a matria prima que

    possumos via captao solar e aproveitamento

    da biomassa - veremos passar o ponto que seria

    de ajuste da matriz energtica. importante

    agir logo para inverter essa tendncia em sujar a

    matriz. A questo das mudanas climticas est

    sria e estamos em um importante momento

    para justifcar a internalizao de custos ambientais

    e rever a viabilidade de muitos projetos.

    NESSE PROCESSO DE INVERSODE TENDNCIA, QUAL A QUESTO

    MAIS RELEVANTE?

    Poltica pblica. Aprendemos no racionamento

    de 2001 que o sinal econmico decisivo. Se no

    houver mercado para a indstria, para os centros

    de pesquisa, se no houver sinal econmico

    para o consumidor, no h progresso. O papel

    do governo fundamental e os programas

    do governo poderiam ser mais bem explora-dos, de modo integrado. Por exemplo, para o

    programa do tipo Minha Casa Minha Vida,

    poderia prever-se aquecimento solar ou tu-

    bulao para aquecimento a gs, entre outrasquestes para facilitar o uso complementar de

    fontes de energia. A matriz brasileira est muito

    ao sabor das circunstncias, e no de uma

    estratgia. No temos uma viso de projeto

    energtico para o pas. importante que haja

    planejamento que traga previsibilidade para o

    mercado e direcione de modo concreto o uso

    das fontes renovveis.

    ATRIBUEM AOS AMBIENTALISTAS O

    COMBATE AOS RESERVATRIOS. POR

    SUA VEZ, OS BARRAGEIROS DIZEM QUE

    COLOCAMOS EM RISCO A SEGURANA

    ENERGTICA. ESSE O DILEMA?

    Sim, esse o dilema, mas no se tem um frum

    de discusso adequado. O papel do governoseria o de reconhecimento destes desaos e

    coloc-los em debate com a sociedade. Devemos

    assumir que vamos ter problemas. Se vamos

    utilizar outras fontes, qual o impacto delas? Eu

    tenho que escolher entre uma coisa ou outra,

    e isso s o governo pode fazer. o governo

    que licita, que d licena ambiental, concede

    nanciamento. Portanto, a mediao com a

    sociedade e o direcionamento so papis de-cisivos do governo. Muito do que se perdeu da

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    possibilidade de se fazer melhores projetos, por

    exemplo em Belo Monte, foi por falta de dilogo.

    Agora, os projetos na Amaznia que esto ai

    vo gerar energia, mas a um custo econmico e

    socioambiental muito alto. Por conta da falta de

    dilogo neste debate, h pouco espao para a

    revisitao da alocao tima econmica, o foco

    virou essencialmente ambiental.

    E, NESSE CONTEXTO, QUAL O FUTURO

    DO PR-SAL?

    Se voc considerar o crescimento anual da

    demanda mundial de petrleo, ele equivale ao

    excedente do que o Brasil vai produzir anual-

    mente com o pr-sal. Ou seja, daqui a seis anos,

    o incremento da nossa produo ser equi-valente ao crescimento da demanda mundial.

    Se partirmos do princpio que o Oriente Mdio,

    frica, Golfo do Mxico e outros pases produto-

    res tambm tero incremento em sua produo,

    surge a dvida do que vai acontecer com esse

    nosso excedente exportvel. Ele vai entrar em

    um mercado saturado. Alm disso, sua explorao

    pode se apresentar mais cara do que o esperado e

    a ojeriza mundial ao petrleo, com suas evidentes

    consequncias para a qualidade do ar e o nvel de

    emisses do pas, poder torn-lo equivalente ao

    que o cigarro hoje para a sociedade.

    A EXPLORAO E A UTILIZAO DO GS

    NATURAL PODERIAM SER UMA FONTE DE

    TRANSIO PARA UMAMATRIZ MAIS LIMPA?

    A matriz brasileira era majoritariamente baseada

    no uso de lenha at o incio dos anos 1970. Fomos

    um dos poucos pases que fez uma transio

    de madeira para o petrleo sem passar pelo

    carvo. uma coisa muito curiosa, tem pou-

    qussimos casos. Acho que, no Brasil, o espao

    para utilizar o gs natural como um elemento de

    transio para os renovveis mais estreito. No

    temos infraestrutura. Temos poucas estaes de

    gs natural para que possamos congurar um

    crescimento desta infraestrutura. Alm disso,

    para se fazer um duto que vai passar em regies

    ambientalmente mais sensveis tem-se uma

    srie de restries. Por outro lado, isso pode

    ser bom para ns. Podemos ter um ciclo do gs

    mais curto e uma antecipao do uso das fontes

    renovveis. Entretanto, um risco que poder

    tornar a transio mais lenta o baixo preo do

    petrleo. Se o mundo no conseguir internali-

    zar os custos ambientais de uma maneira muito

    explcita, o petrleo barato vai comear a frear o

    desenvolvimento das fontes renovveis.

    QUAL O PAPEL DAS TRMICAS E

    DEMAIS FONTES INTERMITENTES EM UMCONTEXTO DE REDUO DA

    CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DOS

    GRANDES RESERVATRIOS?

    No temos muita alternativa. Uma possibilidade

    seria fazer a trmica na boca do poo e transmitir

    essa energia, ou seja, trocar a molcula pelo

    eltron. Por outro lado, as fontes complemen-

    tares de energia tambm poderiam ajudar.

    Os parques elicos evoluram muito em funo

    de uma disponibilidade mundial e temos bons

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    resultados em gerao elica. No Brasil, ainda

    precisamos avanar. Ainda h muitos desaos

    para o empreendedor, que deve ser obstinado

    e quase irracional para no desistir. Tambm

    so necessrios maiores estmulos regulatrios

    e econmicos do governo para a gerao distri-buda, embora seja provvel que as diculdades

    se amenizem no futuro at mesmo por conta da

    crise do setor de energia, que poder acelerar

    esse processo.

    E QUAL PODERIA SER O PAPEL DA

    EFICINCIA ENERGTICA PARA ALIVIAR AS

    PRESSES SOBRE O SETOR DE ENERGIA?

    Na crise de 2001, a soluo veio pela gesto da

    demanda. A percepo das pessoas foi rpida,

    pois reagiram ao sinal econmico: cada unidade

    de energia (kWh) representava dinheiro. Alm

    disso, a necessidade de economia de energia cou

    internalizada. Apenas anos mais tarde a demanda

    voltou a ser igual aos patamares anteriores. Teve

    um ganho social, mas infelizmente isso se perdeu.

    No entanto, o sinal econmico se provou

    importante. Agora, depois de anos, vamos

    iniciar as bandeiras tarifrias. Quando voc

    trabalha na tarifa, deixa claro o sinal econmico

    para a populao e a percepo positiva. Os

    atuais casos da escassez de gua e da energia

    so um problema de conduo de polticas derecursos naturais. Os sinais econmicos devem

    estar claros: a energia eltrica no pode baixar

    num cenrio de escassez de recursos hdricos

    e preo do petrleo no pode se manter num

    mesmo patamar independentemente das osci-

    laes internacionais.

    QUAL O PAPEL DO COMPORTAMENTODAS PESSOAS?

    necessrio atuar na educao das pessoas

    que pagam a conta. Isso um processo de e-

    cincia econmica social que pouco utilizado.

    No posso conar toda ecincia lmpada, ao

    equipamento. O lado social do uso da energia

    muito pouco explorado e tem um impacto monu-

    mental. Essa gesto de demanda que serve para

    eletricidade serve para gua e para qualquer outro

    recurso natural que se deseje preservar.

    necessrio atuar na educao daspessoas que pagam a conta. Isso um processo de eficincia econmicasocial que pouco utilizado.

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    O nvel de desenvolvimento de um pas pode ser avaliado de acordo com a mtrica tradicional

    PIB - ou de maneira mais ampla, incorporando a disponibilidade de recursos naturais3e outros

    fatores associados ao bem estar da populao - como educao, sade e mesmo direitos

    civis4. Qualquer que seja a mtrica escolhida, no entanto, importante destacar o acesso da

    populao aos servios de infraestrutura, como saneamento bsico, eletricidade e transportes,

    bem como aos servios de educao e sade.

    Assim, o tema energia parte fundamental de

    qualquer abordagem sobre bem estar e cresci-

    mento de um pas. No h como segregar a es-

    fera econmica dos aspectos social e ambiental,

    pois eles so naturalmente interdependentes.

    Introduo

    No entanto, o alinhamento dos trs aspectos

    no uma tarefa trivial. H, em diversos pases

    e cidades ao redor do mundo, compromissos

    sendo assumidos no sentido de reduzir a inten-

    sidade de carbono das atividades econmicas,

    incluindo-se aquelas que dependem de energia5.

    3.Para uma discusso sobre as diferentes formas de aferir progresso, vide Lins (2014) / 4. SEN (1999).5. Como exemplo de tais iniciativas pode-se citar UNITED NATIONS (2014), FORESTS: New York Declarationon Forests Action Statements and Action Plans, que prev reduzir pela metade o desmatamento no planeta

    at 2020 e zer-lo at 2030. Os defensores do acordo pretendem cortar entre 4,5 e 8,8 bilhes de toneladas de

    carbono por ano at 2030. Outro exemplo o incentivo s fontes renovveis na Alemanha, com a promulgao

    em 1991 de lei para reduzir a participao dos combustveis fsseis na matriz energtica e a aprovao em 2000

    da Lei das Fontes Renovveis de Energia, que viabiliza a gerao distribuda e a comercializao da energiagerada entre produtor e operadoras (http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/1128).

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    Se o debate sobre fontes de oferta de energia

    abundante, o mesmo no se aplica demanda,

    que tem recebido menos ateno dos agentes

    envolvidos. Neste contexto, essencial evidenciar

    condies de mercado, modelos de negcios,

    tecnologias e outras questes que possam

    influenciar o comportamento do consumidor,

    para melhor entender o papel do gerenciamento

    da demanda e sua potencial contribuio para o

    uso eficiente dos recursos energticos do pas.

    Este caderno tem por objetivo abordar a tem-

    tica da energia sob a tica da sustentabilidade,destacando os dilemas brasileiros encontrados

    F IGURA 1 - INTERDEPENDNCIA ENTRE AS D IMENSES

    Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia, adaptado do Relatrio Branch Points, elaborado por Global Scenario

    Group, do Stockolm Environment Institute.

    No Brasil, os desafios na rea energtica no so

    poucos. Alm de situaes emergenciais a se-

    rem resolvidas, h questes de mais longo prazo

    que se apresentam como prioritrias, como a

    participao das fontes renovveis na gerao,

    a opo pelo desenvolvimento das reservas na

    camada do pr-sal e a influncia das mudanas

    climticas nas escolhas feitas.

    SOCIEDADE

    ECONOMIA

    Populao;Organizao Social;

    Estilo de vida;Cultura

    BenseserviosIm

    pacto

    s

    Trabalhoein

    stitu

    ies

    Servi

    osambie

    ntais

    Agricultura; Domiclios;Indstria; Transporte;

    Servios

    MEIO

    AMBIENTE

    Atmosfera;Hidrosfera; Terra;Bioma; Minerais

    Recursos naturais

    Impactos

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    na oferta de energia e evidenciando a gesto da

    demanda como um possvel ponto de alvio para

    o alinhamento de aspectos sociais, ambientais

    e econmicos. O captulo 2 ilustra a evoluo

    da nossa matriz energtica, destacando, sob a

    perspectiva passada e presente, a participao

    das fontes tradicionais e renovveis e os prin-

    cipais usos da energia, bem como os impactos

    nas emisses de gases de efeito estufa (GEE).

    No captulo 3, abordam-se as possibilidades de

    ampliao da oferta de energia no Brasil, sob a

    tica das oportunidades e desafios futuros. Por

    fim, o capitulo 4 apresenta as condies econ-

    micas, sociais e tecnolgicas que fortalecem o

    papel da sociedade na demanda de energia de

    forma mais eficiente.

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    6. Conforme denido no Grco 1.

    Em 2013, o Brasil possua a maior parte (59%) da sua oferta interna de energia vinda de fontes

    tradicionais6. No entanto, essa configurao variou historicamente de acordo com os ciclos de

    crescimento econmico.

    Matriz energtica eprincipais usos da energia

    GRFICO 1 - MATRIZ ENERGTICA EM 2013: OFERTA INTERNA

    Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.

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    LEO E GS

    A produo de petrleo teve um crescimento

    significativo desde o fim do monoplio estatal,

    institudo pela Lei n 9.478/1997. A Petrobras

    desempenhou papel preponderante nesta

    trajetria, viabilizando um crescimento de 64%

    da produo interna de petrleo, que passou

    de 1,2 milho de barris por dia para mais de

    dcada, petrleo, energia hidrulica e deriva-

    dos da cana-de-acar tm sido as principais

    fontes energticas acessadas para apoiar o

    desenvolvimento do pas, conforme atesta o

    Grfico 2.

    Perodos de intenso desenvolvimento eco-

    nmico vm acompanhados de expanso do

    consumo de energia e, como consequncia,

    faz-se necessrio ampliar a oferta energtica

    para suportar o crescimento. Assim, na ltima

    GRFICO 2 - PRODUO INTERNA PR IMR IA DE ENERGIA

    Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.

    2 milhes entre 2000 e 20137. Adicionalmente,

    a abertura do setor foi bem-sucedida em atrairo investimento estrangeiro e viabilizar a insta-

    lao de diversas empresas internacionais no

    segmento de explorao e produo.

    Com o objetivo de desenvolver a cadeia de bens

    e servios ligados ao setor de petrleo, o governo

    aumentou o requerimento de contedo local

    7.ANP. Disponvel em: http://www.anp.gov. r/?pg=64555&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=406655789973.

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    DEMAIS FONTES RENOVVEIS

    As condies climticas no Brasil favorecem

    a complementaridade da energia hidrulica

    com as demais fontes de energias renovveis,

    como a biomassa, a elica e a solar10. O Brasil

    o maior produtor mundial de etanol advindo

    da cana-de-acar, em especial devido s

    inovaes tecnolgicas, que colocam o pasem condies favorveis para competir no

    mercado internacional. Este tipo de energia

    contribuiu com 4,8% da matriz em 2013, sendo

    o consumo puxado pela popularizao dos

    carros flex11e incentivos governamentais para

    insero de biomassa no diesel12.

    Em funo de seu carter intermitente, as fontes

    elica e solar so consideradas complemen-tares s fontes de energia tradicionais e s

    hidreltricas. Apesar da evoluo recente

    das rodadas de leilo de fontes renovveis, a

    energia elica representa apenas 1,1% da oferta

    interna de energia e 3,2% do fornecimento de

    eletricidade13. Com uma participao ainda

    mais tmida, a energia solar fotovoltaica res-

    para os players do setor por meio do PROMINP

    - Programa de Mobilizao da Indstria Nacio-

    nal de Petrleo e Gs Natural, institudo pelo

    Decreto n 4.925/2003. Com isso, a participao

    deste setor no PIB nacional passou de 3% no

    ano 2000 para 13% em 20138.

    HIDRELTRICASHistoricamente, as hidreltricas tiveram uma

    contribuio expressiva na oferta interna de

    energia. Entre as dcadas de 70 e 90, esses

    empreendimentos eram, em sua maioria, cons-

    trudos em locais afastados dos grandes centros

    consumidores e baseados em grandes re-

    servatrios de gua. Contudo, as recentes

    exigncias 9 sociais e ambientais - e mesmo a

    dificuldade em encontrar novos aproveitamentos

    hdricos viveis para projetos de gerao - vm

    tornando cada vez mais difcil a expanso da

    matriz energtica do pas por meio de grandes

    hidreltricas. Desta forma, a energia hidrel-

    trica tem reduzido sua participao na matriz

    energtica, passando de 16% no ano 2000 para

    13% em 2013.

    8.Portal Brasil. Disponvel em: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/06/setor-de-petroleo-e-gas-chega-a-13-do-pib-brasileiro.

    9.Como exemplo das exigncias, pode-se destacar o adiamento do Leilo da usina hidreltrica de So Luizdo Tapajs, no Par, agendada originalmente para 15 de dezembro de 2014, em virtude da necessidade de

    adequaes aos estudos relativos ao componente indgena.

    10.Costa, Prates (2005).11.O Governo Federal estabeleceu, por meio do Decreto n 7.725/12, reduo na alquota de IPI Imposto

    Sobre Produtos Industrializados - para carros ex, em comparao com carros a gasolina. Em alguns estados,

    como no caso do Rio de Janeiro, o IPVA O Imposto Sobre a Propriedade de Veculos Automotores -,

    tambm mais baixo para carros ex do que para carros movidos exclusivamente por gasolina.12.A Lei n 13.033/2014 aumentou o percentual de adio obrigatria de biodiesel ao leo diesel comercializado

    com o consumidor nal de 5% para 7%.

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    pela maior parte (51,9%) do aumento do consumo

    de energia no pas entre 2000 e 2013.

    O crescimento do consumo de energia no

    setor industrial foi suportado pelo bagao da

    cana-de-acar, o que pode ser explicado em

    parte pelo aumento dos empreendimentos de

    cogerao17, que quase triplicaram em termos

    de potncia instalada entre 2000 e 201318. Maisrecentemente, no entanto, vale ressaltar que o

    consumo de energia eltrica do setor industrial

    tem se baseado em uma matriz mais poluente

    devido ao despacho das termoeltricas, que

    operam com base na queima de combustveis.

    Conforme evidenciado pelo relatrio do CDP

    Brasil de 201419, esse efeito j sentido pelas

    empresas. Elas relataram aumento de suas

    emisses de escopo 2 (i.e., emisses indiretas

    de GEE) entre 2012 e 2013, atribuindo a causa

    ao aumento do fator de emisso do Sistema

    Interligado Nacional (SIN), provocado pelo

    acionamento das termeltricas. Essa informao

    ilustrada no Grfico 3, onde possvel perceber

    que a quantidade de CO2 emitida por MWh

    praticamente triplicou de 2006 a 2013.

    ponde por apenas 0,01% da energia eltrica

    gerada no pas14. No entanto, os resultados

    dos leiles de energia eltrica15de 2014 repre-

    sentam sinalizao importante para o futuro

    da participao dessas fontes na matriz.

    PRINCIPAIS USOS DE ENERGIA NO BRASIL

    A forma como a atividade econmica est esta-

    belecida e se desenvolve tem relao direta com

    o tipo de fonte de energia consumida e, como

    consequncia, influencia a composio da matriz.

    No Brasil, a produo industrial, o transporte de

    cargas e a mobilidade das pessoas representam

    66% do consumo de energia. Em 2013, o setor

    industrial e o de transporte responderam, respec-

    tivamente, por 33,9% e 32,0%16do total consumido.

    O terceiro maior consumidor foram as residncias,

    com 9,1%. O consumo total de energia aumentou

    2,9% nesse ano, acompanhando a trajetria do

    PIB que cresceu 2,3% em 2013.

    Em uma perspectiva histrica, os setores indus-

    trial e de transporte tambm foram responsveis

    13.EPE (2014). BEN 2014. /14.ANEEL (2014). Capacidade de Gerao do Brasil.15.Ver, por exemplo, resultados do Leilo de Energia de Reserva realizado em 31/10/2014, disponvel em

    http://www.epe.gov.br/leiloes/Paginas/Leil%C3%A3o%20de%20Energia%20de%20Reserva%20(2014)/

    Leil%C3%A3odeEnergiadeReserva2014atraiinvestimentosdeR$7,1bi.aspx

    16.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.17.International Energy Agency IEA (2013), World Energy Outlook.18.SisCogen. At o ano 2000, havia 4.164 MW de potncia instalada devido aos empreendimentos de

    cogerao. Aps o ano 2010, esse nmero era de 12.016 MW. Disponvel em: http://www.cogen.com.br/

    ind_lista_g.asp.

    19.CDP (2014), Conexo entre mudanas climticas e modelos de negcios: Uma agenda em evoluo.Para maiores informaes, veja em http://www.catavento.biz/papers/conexao-entre-mudancas-climaticas-e-

    modelos-de-negocios-uma-agenda-em-evolucao/

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    21

    20. MCT. Disponvel em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/321144.html#ancora21.Dados de preos extrado de Ncleos de Estudos e Pesquisas do Senado: Por que o Brasil est trocando as

    hidreltricas e seus reservatrios por energia mais cara e poluente?

    GRFICO 3 - FATOR ANUAL MDIO DE EMISSO DE GEE ENTRE 2006 E 2013

    Fonte: Ministrio da Cincia e Tecnologia, arquivos de Fatores de Emisso20.

    O preo da segurana energticaAlm de provocar aumento das emisses de GEE, a necessidade do despacho das

    termeltricas para garantir a segurana energtica tambm impacta o preo da tarifa

    na gerao da energia eltrica e, como consequncia, onera o bolso do consumidor.

    O preo da energia dado pela soma dos custos fixos (determinados em leilo) e os

    custos variveis da gerao. Enquanto o preo do MWh gerado por hidroeltrica de

    grande porte de cerca de R$ 84,6/MWh, o equivalente em uma usina termoeltrica a

    biomassa de cerca de R$ 814,1/MWh. J a gerao de energia em uma usina termo-

    eltrica a leo diesel, a fonte mais predominante na gerao trmica brasileira, tem opreo de R$ 507,2/MWh21. De acordo com o Banco de Informaes de Gerao da ANEEL,

    a composio das fontes das 1.872 usinas termeltricas brasileiras em operao

    dominada pelo leo diesel (62,7%), seguida pela biomassa (25,3%), gs natural (6,5%)

    e leo combustvel (1,8%).

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    consumidor22 . O uso do leo diesel e da

    gasolina automotiva contribui ainda mais para

    o acrscimo de emisses de gases de efeito

    estufa (GEE). Neste contexto, a queima de

    combustveis, seja pelo acionamento das ter-

    moeltricas ou pelo consumo do transporte

    rodovirio, j representa a maior parte das

    emisses de GEE no Brasil23.

    Por sua vez, o transporte rodovirio, maior

    consumidor de energia dentre os modais

    de transporte, impulsionou o uso de leo

    diesel, gasolina automotiva e etanol. Parte

    deste aumento justificado pelos incentivos

    dados pelo Governo Federal ao segmento de

    automveis individuais, como a reduo de

    IPI sobre veculos e a facilitao de crdito ao

    22.A poltica de iseno do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veculos foi estabelecida a partirda Lei n 10.754/2003. Adicionalmente, para facilitar o crdito para o nanciamento de veculos, o Governo

    Federal estipulou, no segundo semestre de 2014, a adoo de medidas que combinam injeo de recursos

    no sistema bancrio e afrouxamento dos controles para a concesso de emprstimos.23.Historicamente, as maiores fontes de emisses no Brasil foram atribudas ao desmatamento. No entanto,

    como resultado das polticas de combate ao desmatamento, as emisses oriundas do uso da terra declinaram

    a partir de 2004, fazendo com que, j em 2009 fossem suplantadas pelas emisses do setor de energia

    (queima de combustveis) e da agropecuria. Todavia, a taxa de desmatamento na Amaznia Legal voltou

    a crescer recentemente, conforme resultado do mapeamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    (INPE), que mostrou aumento de 29% para o perodo agosto/2012 a julho/2013 (http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php).

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    de fontes renovveis e tradicionais. J o setor

    de transportes mais dependente de fontes

    menos limpas, utilizando apenas 17% de re-

    novveis. No sentido oposto, o consumo resi-

    dencial tem contribuio expressiva no uso de

    fontes renovveis, como pode ser verificado

    no Grfico 5. Desse modo, fica evidente que

    o direcionamento das polticas pblicas para

    um ou outro setor pode influenciar a composi-

    o de nossa matriz, ampliando ou reduzindo

    a participao da energia renovvel.

    De modo menos expressivo, o consumo resi-

    dencial de energia cresceu 14,7% entre 2000

    e 2013. Neste perodo, verificou-se uma subs-

    tituio da lenha pela eletricidade, fruto do

    programa de universalizao da energia, insti-

    tudo pela Lei n 10.762/200225.

    As principais fontes de energia consumidas

    pelos setores industrial, de transporte e resi-

    dencial no se distribuem de maneira unifor-

    me. O primeiro demonstra maior diversidade

    no uso das fontes, equilibrando o consumo

    GRFICO 4 - VENDAS DE AUTO VE CULOS NO BRAS IL DE 2000 A 2013

    Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia a partir de dados da ANFAVEA24.

    24.Disponvel em: http://www.anfavea.com.br/tabelas.html.

    25.Para maiores informaes, veja em https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=universaliza%C3%A7%C3%A3o%20do%20acesso%20%C3%A0%20

    energia%20el%C3%A9trica

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    GRFICO 5 - PERFIL DO CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL

    Fonte: Elaborao Catavento e FGV Energia. Adaptado do BEN 2014.

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    relevante estabelecer uma estratgia clara deexpanso da matriz energtica, definindo o

    papel das fontes tradicionais e renovveis e

    levando em conta os tradeoffs apresentados

    pelas diferentes opes. Da mesma forma,

    fundamental buscar iniciativas que valorizem

    o gerenciamento da demanda e a eficincia

    energtica como instrumentos inovadores

    e importantes para mitigar os impactos nas

    emisses de GEE.

    Tendo em vista o carter de longo prazo dosinvestimentos em energia, importante ter em

    mente que as escolhas atuais quanto ao perfil

    da expanso da oferta e ao uso final tero

    consequncias sobre o nvel futuro de emis-

    ses de GEE associadas ao setor. Conforme

    abordado nesse captulo, as evolues recentes

    associadas a uma matriz energtica menos

    renovvel tm sinalizado esse impacto, ilustrado

    pelo aumento das emisses. Com isso, torna-se

    fundamental buscar iniciativasque valorizem o gerenciamento dademanda e a eficincia energticacomo instrumentos inovadores eimportantes para mitigar os impactosnas emisses de GEE.

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    Entretanto, ainda h questes e impasses a se-rem endereados no setor energtico para que

    as expectativas delineadas no planejamento se

    conrmem de fato.

    De modo geral, a formao da oferta de energia

    deve considerar a diversidade e a disponibilidade

    de recursos, alm das possibilidades tecnol-

    gicas, para que se estabelea a proporo de

    participao de cada fonte e sua contribuio

    expanso da gerao ao longo das prximasdcadas. No entanto, o debate sobre a expanso

    da oferta de energia deve ser feito a partir do

    entendimento claro dos custos e dos benefcios

    envolvidos na opo por cada fonte de energia.

    Anal, o que o pas quer alcanar do ponto de

    vista da poltica energtica com a ampliao da

    oferta? Segurana energtica ou reduo nos

    nveis de emisso de GEE? Modicidade tarifria

    ou atrao de investimentos? Apenas a partir da

    O Plano Nacional de Energia (PNE) 2030 prev um incremento da oferta interna de energia no

    Brasil de 3,6%ao ano at 2020 e de 3,4%entre 2020 e 2030. Neste horizonte, o PNE sinaliza

    uma participao mais expressiva de fontes renovveis e de gs natural, considerado o mais

    limpo dentre os combustveis fosseis, conforme pode ser visto no Grfico 6.

    Os dilemas naexpanso da oferta

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    dessa premissa, esse captulo pretende destacar,

    sob a tica da oferta, os principais dilemas do

    setor energtico no Brasil.

    compreenso de tais escolhas pela sociedade

    que ser possvel traar uma estratgia adequada

    e consciente para a expanso da matriz. Partindo

    GRFICO 6 : OFERTA INTERNA DE ENERGIA PARA 2030

    Fonte: Adaptado do PNE 2030.

    O debate em torno das mudanas climticas

    torna essa discusso ainda mais relevante, uma

    vez que o aumento da demanda global afeta

    diretamente a capacidade mundial de proverenergia para 9 bilhes de pessoas em 2050. Assim,

    impe-se, em cada pas, uma reexo sobre as

    opes energticas do presente e do futuro luz

    das recomendaes cientcas do Painel Intergo-

    vernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC -

    Intergovernmental Panel on Climate Change) de

    limitar-se a emisso de GEE26.

    No Brasil, os dilemas existentes em termos de

    oferta de energia no so poucos. Dentre os

    desaos a serem debatidos pela sociedade

    brasileira, destacamos:

    26.O relatrio mais recente do IPCC, publicado em novembro de 2014, Climate Change 2014 Synthesis Report,

    recomenda o m do uso de combustveis fsseis at 2100 como uma medida crucial para conter os impactosnegativos das mudanas climticas. Disponvel em: http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/syr/SYR_

    AR5_LONGERREPORT.pdf.

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    DESAFIOS PARA A EXPANSO DA OFERTA

    Nas sees a seguir, apresentaremos cada um

    dos dilemas acima em maiores detalhes.

    COMO, E ONDE, EXPANDIR A GERAOHIDRELTRICA?

    A matriz eltrica nacional, apesar de ser con-

    siderada limpa por ser concentrada em hidro-

    eletricidade, sofre o nus de ser um sistemapouco diversicado, acentuado no contexto de

    mudanas climticas com impactos representa-

    tivos nos ciclos hidrolgicos.

    Uma das grandes questes discutidas acerca

    da hidroeletricidade na atualidade a opo

    entre usinas com grandes reservatrios e usinas

    a o dgua. As primeiras permitem o acmulo

    de gua, que funcionam como estoques de energia

    a serem utilizados em perodos de estiagem27.

    J as unidades a o dagua aproveitam o curso

    do rio para gerar energia, utilizando pouco ou

    nenhum acmulo de recurso hdrico. Em alguns

    casos, as usinas a o dgua trabalham em asso-

    ciao com uma ou mais usinas de grande reser-

    vatrio situadas a montante, de modo a garantirgerao de energia eltrica constante. Para os

    casos em que no h trabalho conjunto com usinas

    de grande reservatrio, a usina a o dgua ca

    sujeita a oscilaes na gerao de energia ao longo

    do ano, o que diminui a sua capacidade de

    armazenar energia sob a forma de gua e, assim,

    contribuir para a segurana energtica.

    27.ANEEL. Informao retirada do Captulo 3 - Energia Hidrulica - da Parte II - Energias Renovveis do Atlas deEnergia Eltrica do Brasil. Disponvel em: http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/atlas_par2_cap3.pdf.

    Como e ondeexpandir

    a geraohidreltrica?

    Comoimpulsionar

    de formamais efetivaa penetrao

    de fontesrenovveis?

    Como garantir odesenvolvimento

    seguro, doponto de vistatecnolgico e

    ambiental,das reservasdo pr-sal?

    Comoassegurar o

    desenvolvimentoda oferta degs natural

    em funo daspeculiaridades

    do mercadobrasileiro?

    De que formaimpulsionaro mercadode etanol,

    com foco natecnologia para

    a segundagerao?

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    Usinas de grande porte e pequenascentrais hidreltricas - PCHs

    A usina de Belo Monte um bom smbolo do ponto de inflexo da tendnciada construo de grandes reservatrios. Os primeiros estudos para a cons-

    truo da usina iniciaram-se em 1979 e demonstraram a viabilidade tcnica da

    construo de cinco barragens ao longo do Rio Xingu. Entretanto, aps os vis-

    veis impactos da construo de Itaipu, como o reassentamento de pessoas e

    o alagamento do Parque Nacional das Sete Quedas, houve maior presso poltica

    e social sobre empreendimentos deste porte. Com isso, o projeto arrastou-se

    at 2010, ano em que a Licena de Instalao foi liberada pelo IBAMA, admitindo

    a construo da usina, porm apenas operando a fio dgua.

    Diante disso, buscando aproveitar-se de liberao mais fcil de licenas de ins-talao, proliferaram as construes de Pequenas Centrais Hidreltricas (PCHs)

    que podem operar via pequenos reservatrios ou a fio dgua. A crena era

    que essas usinas teriam menor impacto ambiental e social. Se, por um lado, os

    impactos so menos visveis, por outro, tais centrais proporcionam uma drstica

    reduo da capacidade de armazenamento de gua para produo de energia.

    Em 2014, as PCHs representam 3,6% da gerao28de energia eltrica do pas29,

    ao passo que as grandes usinas ainda contribuem com 63,1%.

    Neste contexto, a capacidade de armazenamento de energia com os reserva-

    trios vem caindo ao longo dos anos. possvel perceber, no Grfico 7 que,

    mesmo que os reservatrios estivessem completamente abastecidos, ainda assim

    haveria uma reduo do armazenamento ao longo dos anos.

    28.A gerao mencionada referente Potncia Fiscalizada. Segundo a ANEEL, a Potncia Fiscalizadacorresponde quela considerada a partir da operao comercial realizada pela primeira unidade geradora.

    29.ANEEL (2014). Banco de Informaes de Gerao.

    C O N TI N U A

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    GRFICO 7 - CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DOS RESERVATRIOS, EM MESES

    Belo Monte, no rio Xingu, e So Luiz do Tapajs, no

    rio Tapajs, todos na regio amaznica.

    A opo por grandes reservatrios, por outro

    lado, no sem custos. H uma srie de con-sequncias de ordem ambiental e social no

    alagamento de grandes extenses de terra,

    com impacto principalmente nas populaes

    locais. Tais externalidades devem ser conside-

    radas na deciso.

    Nesse cenrio, a construo de usinas hidreltri-

    cas a fio dgua aumenta o desafio de gerenciar

    o sistema eltrico e, consequentemente, amplia

    a necessidade de expanso de trmicas como

    forma de garantir a segurana do fornecimento,ainda que comprometa os nveis de emisses

    de GEE. A importncia desse dilema tem ge-

    rado um grande debate no pas, tendo em vista

    a existncia de recentes projetos hidreltricos a fio

    dgua, como Jirau e Santo Antnio, no rio Madeira,

    Fonte: ONS

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    32

    Neste contexto, a explorao do potencial hdricoda regio amaznica suscita intenso debate emmbito nacional e internacional, inuenciandoinclusive sua capacidade de nanciamento.A International Finance Corporation (IFC), braoprivado do Banco Mundial, por exemplo, classicatais empreendimentos como de alto impacto

    socioambiental e determina avaliaes que levemem conta a capacidade de mitig-lo. Entre outrospontos, tais avaliaes englobam a habilidade

    das empresas em realizar gesto de risco socio-ambiental, as condies de trabalho nos empre-endimentos, a conservao da biodiversidade, arealocao involuntria das comunidades locaise as ameaas herana cultural. A incorporaode uma avaliao socioambiental para determinaro nvel de risco de um empreendimento hoje

    considerada uma boa prtica por parte dos prin-cipais atores do mercado nanceiro, sejam bancosnanciadores ou investidores30.

    A formao de um reservatrioafeta a fauna e flora locais, demodo que, com o alagamento,

    muitas espcies ficamsubmersas.

    A interrupo do fluxo normaldo curso dgua pode provocarmudanas na temperatura e nacomposio qumica da gua,com consequncias diretas na

    sua qualidade.

    Os reservatrios apresentam estratificao trmica, com ausncia de oxignio no fundo, o que resulta,via decomposio anaerbia de matria orgnica, em liberao de metano nesta zona. Este, por suavez, apresenta potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao gs carbnico.

    Alterao da dinmica econmicalocal, no s durante a construodas barragens, mas tambm nos

    perodos anterior e posterior a ela.

    O represamento deguas pode provocar diversas

    enfermidades endmicas,colocando em risco as

    comunidades vizinhas usina.

    Necessidade de realocaode populaes ribeirinhas,indgenas, quilombolas e

    outras comunidades locaisafetadas.

    Alteraes na morfologiados sistemas terrestres,

    atravs do aumentoda eroso e da salinidade

    dos solos.

    POTENCIA IS IMPACTOS DOS GRANDES RESERVATR IOS

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    Uso mltiplo da guaNo menos importante, o gerenciamento dos recursos hdricos de maneira ade-

    quada vem sendo objeto de grande debate, em funo da reduo dos nveis dos

    reservatrios disponveis para a gerao de energia e da escassez de gua paraoutros usos. Adicionalmente, os impactos citados acima, de carter ambiental,

    social e econmico, podem modificar a dinmica natural do ecossistema e constituem

    fatores determinantes do processo de deteriorao da qualidade e da disponibilidade

    da gua, o que vem a gerar conflitos quanto ao uso deste recurso.

    Os impactos e conflitos poderiam ser minimizados levando-se em conta o conceito

    de uso mltiplo da gua dos reservatrios. De acordo com a Lei n 9.433/97, a qual

    institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, a gesto dos recursos hdricos

    deve sempre proporcionar o uso mltiplo das guas, o que favorece igualdade de

    acesso pelos diversos setores da economia. Contudo, em situaes de escassezhdrica, os usos prioritrios so o consumo humano e a dessedentao animal.

    No caso de usinas com grandes reservatrios, o uso mltiplo da gua pode se dar, por

    exemplo, para abastecimento urbano, irrigao, navegao fluvial, recreao e regu-

    larizao de enchentes. Alguns dos benefcios socioeconmicos gerados a partir do

    uso mltiplo de reservatrios podem ser expressos quantitativamente pelas receitas

    lquidas anuais obtidas pelos usos determinados e pelos empregos, diretos e indiretos,

    criados a partir dos projetos implantados [Oliveira, Cato Curi e Fadlo Curi (1999)].

    As desvantagens do uso mltiplo e integrado dos recursos hdricos, por outro lado,so de carter gerencial, o que exige o estabelecimento de mecanismos de

    governana tcnicos e eficientes, que busquem a convergncia de interesses e

    uma melhor utilizao do recurso.

    30.Os principais bancos brasileiros so signatrios dos Princpios do Equador, comprometendo-se a adotarprticas de avaliao socioambiental na anlise de concesso de nanciamento para empreendimentos de

    grande porte. Para maiores detalhes, consulte http://www.equator-principles.com/

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    Tais questes so complexas e delicadas, pois

    h necessidade de se contemplar os aspectos

    diretamente ligados gerao de energia limpa

    sem deixar de levar em conta as externalidades

    sociais e ambientais, bem como os aspectos afetos

    ao uso mltiplo dos recursos hdricos. Neste

    contexto, a legislao brasileira dispe de um

    instrumento de participao da sociedade que

    pode ser usado a servio do consenso, ou pelo

    menos do consentimento as audincias pblicas.

    A utilizao efetiva desse mecanismo participativo

    tende a aumentar o tempo para o incio de um

    projeto, em virtude da necessidade de composio

    com diversos agentes. Estabelecido o consenso e

    o consentimento, a execuo do projeto pode

    ocorrer com menos sobressaltos, levando a

    menores atrasos nas entregas das obras.

    COMO IMPULSIONAR DE FORMA MAIS EFETIVA APENETRAO DE FONTES RENOVVEIS?

    Apesar da recente reduo na participao de

    fontes renovveis na matriz brasileira, resultanteda queda na gerao hidreltrica, o Plano Nacio-

    nal de Energia 2030 (PNE 2030) aponta reverso

    dessa tendncia a partir de 2010. Esse ainda no

    o cenrio que se instala no pas, haja vista a re-

    cente reduo na participao das renovveis em

    2013 para 41%31.

    31.EPE (2014). BEN 2014.

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    de energia elica, com 889,6 MW e 769,1 MW de

    capacidade instalada total, respectivamente.

    O acesso a nanciamento tambm representa

    importante barreira a ser superada para o de-

    senvolvimento da gerao por fontes renovveis.

    Estudo da ONG WWF34 sinaliza que recursos

    adicionais devem ser empregados na gerao,

    desenvolvimento e inovao para tecnologias aindaem estgio inicial de difuso, como o caso dessas

    fontes no Brasil. Para esse m, o Banco Nacional de

    Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) esta-

    beleceu, desde 200635, uma poltica de nanciamen-

    to para esse tipo de empreendimento de gerao.

    Em paralelo, o Governo Federal tambm tem

    tentado estimular o desenvolvimento de uma ca-

    deia local de fornecedores, por meio de polticas

    de contedo local. Isso se d pela via de concessocondicional de crdito, por parte do BNDES, para

    projetos de gerao por essas fontes, de modo

    que o crdito s concedido caso o vencedor se

    comprometa com uma contrapartida de contedo

    local na produo. Deve-se observar, contudo,

    que a poltica de contedo local pode vir a atuar

    como uma possvel barreira velocidade de

    expanso da fonte na matriz energtica.

    A discusso sobre as fontes renovveis passa,

    necessariamente, pelo debate sobre segurana

    energtica do pas, uma vez que essas so fontes

    intermitentes, em particular no caso das fontes

    elica e solar fotovoltaica. Contudo, vale destacar

    que fontes renovveis podem apresentar comple-

    mentaridade entre si, tanto ao longo do ano como

    nos perodos do dia. Tal complementaridade pode

    ser vericada, por exemplo, em parques elicoscom regime de ventos majoritariamente noturno,

    deixando a rede ociosa durante o dia, perodo em

    que h possibilidade de gerao solar32.

    O potencial tcnico de gerao das fontes reno-

    vveis expressivo no Brasil, uma vez que o pas

    privilegiado com abundncia de recursos naturais,

    como intensa radiao solar e regime de ventos

    favorvel, em especial na regio Nordeste e Sul.No entanto, a viabilizao econmica de projetos

    de gerao elica e, principalmente, fotovoltaica

    ainda tem importantes ns a serem desatados.

    Nesse sentido, o governo j vem denindo o

    preo teto nos leiles de gerao elica e solar

    em patamares mais elevados, com o objetivo de

    atrair projetos. No Leilo de Reserva de 31 de

    outubro de 2014, por exemplo33, foram contrata-

    dos 31 empreendimentos de energia solar e 31

    32.Macdo, Pinho (2002). ASES: programa para anlise de sistemas elicos e solares fotovoltaicos. Paramaiores informaes, vide http://www.cogen.com.br/workshop/2012/Abeolica_Tiago%20Ferreira_Forum_

    CanalEnergia_Cogen_12_Abril_2012.pdf

    33.Maiores informaes disponveis em http://www.epe.gov.br/leiloes/Paginas/Leilo%20de%20Energia%20de%20Reserva%20(2014)/LeilodeEnergiadeReserva2014atraiinvestimentosdeR$7,1bi.aspx

    34.WWF (2012). Alm de Grandes Hidreltricas: polticas para fontes renovveis de energia eltrica no Brasil.

    35.O BNDES em 2006 reativou o Fundo Tecnolgico (Funtec) voltado concesso de recursos noreembolsveis para o desenvolvimento de energia renovveis, assim como, semicondutores, medicamentos,

    dentre outros. Disponvel em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/capitulo10.pdf.

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    em Paris, em 2015, incluam pases como China,ndia e Brasil na lista daqueles submetidos a

    restries de emisses. Neste cenrio, o setor

    de leo e gs no Brasil pode sofrer um custo

    adicional e ter seu desenvolvimento nos moldes

    tradicionais questionado pela sociedade civil.

    Os resultados da rodada preliminar de negocia-

    es de clima, na COP20 em Lima, em dezembro

    de 201439, sero um importante sinalizador das

    polticas climticas que podero ser estabele-cidas em Paris40.

    QUAIS SO OS DESAFIOS PARA GARANTIRO DESENVOLVIMENTO SEGURO, DO PONTODE VISTA TECNOLGICO E AMBIENTAL,DAS RESERVAS DO PR-SAL?

    A possibilidade de expanso da oferta no

    setor de leo e gs encontra-se em estgio mais

    avanado, a julgar pelo nvel de investimentos

    e alocao de recursos no setor. O Brasil tem o

    potencial de expandir suas reservas em 55 bilhes

    de barris de leo equivalente36(bboe), em virtu-

    de da explorao das reservas do pr-sal37. Tal

    expanso levaria o pas, em 2020, posio de

    oitava nao no ranking de reservas mundiais

    de petrleo. De acordo com projees do PNE

    2030, a produo de petrleo dever atingir 2,96

    milhes de barris por dia em 2020, mantendo-se

    neste patamar at 2030, como reexo da poltica

    contnua de investimento em explorao e pro-

    duo. J a produo de derivados de petrleo

    dever atingir 3,66 milhes de barris por dia, em

    funo da expanso da capacidade de reno

    para atender demanda interna.

    A explorao das reservas do pr-sal est inserida

    ainda em um contexto de presso crescente

    quanto s emisses de GEE associadas ao uso

    de combustveis fsseis. H uma expectativacrescente de que as negociaes da COP2138

    36. Normalmente usado para expressar volumes de petrleo e gs natural na mesma unidade de medida (barris)pela converso do gs taxa de 1.000 m de gs para 1 m de petrleo.

    37.PwC (2013). The Brazilian Oil and Gas Industry.

    38.COP21 (21 Conferncia das Partes da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima)

    39.COP 20 (20 Conferncia das Partes da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima)

    40.As negociaes climticas entre Estados Unidos e China, anunciadas em novembro de 2014, conrmam asexpectativas de reduo de emisso de GEE por parte dos maiores emissores globais.

    O Brasil tem opotencial de expandirsuas reservas em55 bilhes de barris

    de leo equivalente(bboe), em virtudeda explorao dasreservas do pr-sal.

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    regulamentao44para taxar a emisso de di-

    xido de carbono, tornando-se o primeiro pas

    da Amrica do Sul a adotar tal medida.

    Alm dos desaos tecnolgicos peculiares

    explorao do pr-sal, que encontra-se em lmi-

    nas dgua profundas e ultra-profundas, h uma

    expectativa de uma regulao ambiental mais

    restritiva, acompanhando a tendncia mun-dial ps-Macondo45. Na prtica, isso signicar

    mais recursos e tecnologia alocados a aspec-

    tos ligados segurana operacional, melhor

    capacidade de resposta no caso de acidente e

    maior concertao entre operadores e rgos

    licenciadores. Tudo isso em um cenrio atual

    de preos de petrleo em queda.

    Adicionalmente, a eventual precicao de

    carbono pode representar um aumento de custo

    signicativo na explorao de reservas, com im-

    pacto direto no seu desenvolvimento. H hoje,

    na esfera internacional, uma presso crescente

    de investidores para a venda de ativos expostos a

    combustveis fsseis41ou, ao menos, para fazer

    com que as empresas internacionais de petrleo

    revelem o impacto de uma possvel taxao decarbono no valor de suas reservas42.

    Por outro lado, diversos pases tm adotado

    polticas favorveis a algum tipo de restrio s

    emisses de GEE, tais como mercados de cap

    and trade43 e a prpria taxao de carbono.

    Em setembro de 2014, o Chile aprovou uma

    41.Investidores como a famlia Rockefeller e o fundo da Universidade de Stanford anunciaram, recentemente,a inteno de vender ativos com alta exposio a combustveis fsseis, como um sinal de contribuioao combate ao aquecimento global. Veja em http://www.theguardian.com/environment/2014/sep/22/rockefeller-heirs-divest-fossil-fuels-climate-change e http://news.stanford.edu/news/2014/may/divest-coal-trustees-050714.html

    42.H na comunidade nanceira internacional um debate em torno do impacto de eventuais restries sobreemisses com relao ao valor de mercado de empresas com ativos ainda a serem explorados. Empresascomo a Shell e a Exxon j se posicionaram publicamente quanto a este debate. Veja em http://www.carbontracker.org/report/responding-to-shell-an-analytical-perspective/ e http://s02.static-shell.com/content/

    dam/shell-new/local/corporate/corporate/downloads/pdf/investor/presentations/2014/sri-web-response-climate-change-may14.pdf

    43.A Comisso Europeia lanou em janeiro de 2014 o Pacote Clima e Energia 2030, o qual inclui metas, como,reduo de 40% das emisses de GEE abaixo do nvel de 1990 e o mnimo de participao de fontesrenovveis na matriz energtica em 27%.

    44.Regulamentao disposta na Lei n 20.780/2014 que vem a estabelecer uma srie de pontos para a reformatributria do pas. Dentre os temas abordados, tm-se as regras para cobrana de imposto sobre a emissode CO

    2.

    45.O acidente, ocorrido em abril de 2010 no Golfo do Mxico, se deu quando a torre petrolferaDeepwaterHorizon perfurava um poo no Canion do Mississippi, bloco 252, conhecido como Macondo. Por falhastcnicas associadas cimentao do poo houve uma exploso. O consequente derramamento de petrleo

    de 4,9 milhes de barris resultou em graves impactos ora e fauna locais, alm de danos nanceiros e deimagem para a operadora do campo, a BP (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/08/100802_vazamento_bp_ac.shtml).

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    COMO ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTODA OFERTA DE GS NATURAL EMFUNO DAS PECULIARIDADES DO

    MERCADO BRASILEIRO?

    Em relao ao gs natural, o PNE sinaliza que a

    produo total deve superar 250 milhes de m

    por dia em 2030, o que resultar em um aumento

    percentual da sua participao na matriz ener-gtica brasileira, passando para 16% em 2030.

    A produo brasileira atual de gs natural de

    cerca de 80 milhes de m/dia - incluindo queima,

    reinjeo e o gs utilizado internamente pela

    Petrobras nas plataformas e refinarias (30 a

    40 milhes de m/dia). Isso signica que a pro-

    duo de gs dever mais do que triplicar at

    2030. A viabilizao desse cenrio, no entanto,

    depende de diversos obstculos a serem su-perados pelo setor de gs no Brasil.

    Um aspecto importante da produo nacional

    de gs que ela vem associada ao leo produzi-

    dooffshore, predominantemente pela Petrobras.

    Espera-se, portanto, que uma parte dessa oferta

    futura venha da produo associada de leo e

    gs na camada pr-sal46. Com isso, alm dos

    dilemas enfrentados pela viabilizao da produ-

    o no pr-sal, destacado acima, a produo degs nessas reas precisar enfrentar obstculos

    adicionais. Por um lado, ainda h muita incerteza

    com relao ao volume de gs que ser produ-

    zido no pr-sal. Por outro, parte dessa produo

    dever ser utilizada pela prpria Petrobras nas

    plataformas para viabilizar o seu funcionamento e

    a produo de leo, o que aumenta ainda mais a

    incerteza sobre qual o volume de gs estar efeti-

    vamente disponvel para o mercado nacional.

    Ainda com relao produo do pr-sal e

    produo offshorede modo geral h diculda-

    des a serem enfrentadas quanto ao escoamentodessa produo. Como os dutos so da Petrobras47

    e no h garantia de livre acesso para as demais

    produtoras, praticamente a totalidade do gs

    produzido offshoreacaba sendo escoado pela

    estatal brasileira. No caso do pr-sal, as reas de

    produo cam distantes da costa (cerca de 300

    km, no caso do campo de Libra), acentuando a

    necessidade de denio quanto ao escoamento

    do gs produzido.

    No caso da produo em terra, o volume atual

    de cerca de um quarto do total nacional.

    O desenvolvimento dessa produo esbarra,

    principalmente, na baixa penetrao da malha

    de gasodutos de transporte, concentrada na

    costa do pas e de propriedade da Petrobras48.

    As questes scais e regulatrias tambm so

    barreiras importantes e, alm disso, as empresasque atuam na produo de gs onshoresinalizam

    que h diculdades em obter nanciamento

    para suas atividades, alm de citarem a necessi-

    dade de adequao das regras regulatrias.

    46.Petrobras (2014). Plano Estratgico Petrobras 2030.

    47.Segundo o artigo 45 da Lei do Gs, n 11.909/2009, os gasodutos de escoamento da produo no estoobrigados a permitir o acesso de terceiros.

    48.A Lei do Gs, Lei n 11.909/2009, em seu artigo 32 assegura o livre acesso de terceiros aos gasodutos de transporte.

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    Finalmente, devido aos custos de investimento

    na rede de gasodutos, o desenvolvimento da

    produo de gs em geral pressupe o estabele-

    cimento de um mercado ncora. O atual mercado

    de gs no Brasil de cerca de 100 milhes de

    m/dia, considerando-se o nvel de despacho

    das termeltricas. A diferena entre a produo

    nacional suprida atravs da importao de gs

    da Bolvia ou de GNL. No entanto, em perodos

    hidrolgicos favorveis, em que as trmicas no

    so despachadas, o mercado nacional atendido

    atravs da produo local e do contrato de impor-

    tao com a Bolvia sem a necessidade de

    importao de GNL. Isso signica que boa parte

    do mercado brasileiro de gs intermitente, o

    que diculta que se garanta uma oferta capaz de

    viabilizar o investimento em transporte. Uma alter-

    nativa seria despachar as trmicas a gs na base

    e no apenas em perodos secos de modo a

    minimizar o carter intermitente do mercado.

    DE QUE FORMA IMPULSIONAR O MERCADODE ETANOL, COM FOCO NA TECNOLOGIA

    PARA A CHAMADA SEGUNDA GERAO?

    Outro destaque em termos de perspectivas futu-

    ras de participao na oferta de energia nacional

    o setor sucroenergtico. O PNE 2030 prev que

    a cana-de-acar e seus derivados passem a ser a

    segunda fonte de energia mais importante da ma-

    triz energtica brasileira, com 18% de participao,

    inferior apenas ao petrleo e seus derivados49.

    49.EPE (2008). PNE 2030.

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    lcool hidratado e ex fuel. Adicionalmente, a

    oferta de etanol tende a crescer com o desen-

    volvimento de usinas de segunda gerao, as

    quais produzem etanol celulsico50, combustvel

    considerado uma alternativa mais sustentvel e

    eciente energeticamente.

    o etanol advindo da cana-de-acar como um

    combustvel avanado51, que reduz a emisso

    de dixido de carbono em 61% comparado

    gasolina, alavancando o mercado para o etanol

    brasileiro. Assim, espera-se um aumento da pro-

    duo dos demais derivados da cana-de-acar,

    em especial da biomassa.

    Um ponto que merece ateno a projeo de

    crescimento da demanda do etanol. Atualmente,

    o etanol apresenta expressiva participao em

    virtude de aumento da demanda, resultado

    da sua insero na matriz por meio da adio

    gasolina e do consumo na frota de veculos a

    A competitividade da cana-de-acar para ns

    energticos o principal fator motivador da

    expanso expressiva da produo de etanol,

    inclusive com excedentes para exportao.

    Cabe destacar a conquista do etanol brasileiro

    em fevereiro de 2010, quando a Agncia Ame-

    ricana de Proteo Ambiental (EPA) classicou

    Etanol Celulsico: sustentvel e eficienteO etanol celulsico produzido a partir da palha e do bagao da cana-de-acar

    tem grande potencial de crescimento, uma vez que no depende da produo de

    alimentos para sua industrializao nem da expanso da rea plantada de cana-

    de-acar, mas sim do reaproveitamento dos resduos da produo de etanol e

    acar. Dessa forma, o processo de gerao expressivamente mais eficiente que

    o das usinas de primeira gerao, pois, alm de aumentar a eficincia de custos da

    cadeia, melhora a utilizao do potencial energtico da cana. Assim, almeja-se que

    as usinas de segunda gerao mudem a dinmica do mercado, representando uma

    oportunidade de diferencial competitivo.

    50.Em setembro de 2014, comeou a operar em Alagoas a primeira usina de etanol celulsico, de segundagerao do Brasil, do grupo GraalBio.

    51.O etanol produzido nos Estados Unidos da Amrica a partir do milho capaz de reduzir as emisses de CO2

    em 20% quando comparado gasolina, sendo, portanto, menos eciente que o etanol da cana-de-acar.

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    no intuito de impulsionar o etanol de segunda

    gerao. De outro lado, o papel do governo,

    com a correta precicao da gasolina peran-

    te o etanol, uma condio fundamental para

    que este combustvel seja uma escolha natural

    dos consumidores.

    Nesse contexto, o progresso deste setor pode re-

    presentar um movimento estratgico na transio

    para uma economia de baixo carbono. Faz-se ne-

    cessria a elaborao de incentivos para alocao

    de recursos em pesquisa e desenvolvimento nas

    empresas, universidades e entidades setoriais,

    O papel da poltica energticae do planejamento integrado noenfrentamento desses dilemas

    A poltica energtica deve ser capaz de traduzir as escolhas de longo prazo mais

    relevantes para o crescimento do pas quaisquer que sejam elas oferecendodiretrizes fundamentais para nortear os investimentos e a alocao de recursos

    para o desenvolvimento do setor energtico. Por seu carter de longo prazo, im-

    portante que reflita um pensamento de Estado, imune s oscilaes de governos e

    que garanta segurana aos investidores, empresrios e consumidores. As diretrizes

    devem estar alinhadas com os desejos da sociedade e contemplar questes nas

    esferas social, ambiental e econmica.

    Para evitar eventuais pontos conflitantes entre a poltica energtica e outras polti-

    cas setoriais, o debate entre os atores deve ser estimulado, de modo a evidenciar

    as externalidades de cada deciso e acordar os ganhos e perdas de cada uma de-

    las. Desse modo, questes como disponibilidade e qualidade da gua, oferta de

    alimentos, emisses de GEE, matriz de transporte, entre outras questes, podero

    integrar-se aos objetivos estratgicos do pas. Nesse sentido, o planejamento ener-

    gtico, que obedece s diretrizes de poltica, deve caminhar para uma convergn-

    cia com o planejamento de outros setores estratgicos.

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    52.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.

    O consumo nal de combustveis lquidos no

    Brasil cresceu 5,3% em 2013, com relao a

    2012, ao passo que o aumento do consumo de

    energia eltrica foi de 3,6%, comparado a um

    crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de

    2,3%. Essa relao direta entre PIB e consumo

    energtico ainda mais forte em pases em

    desenvolvimento, como o caso do Brasil.

    Segundo estimativas da EPE, a demanda total

    por energia no Brasil deve52aumentar no perodo

    de 2013 a 2050 a uma taxa mdia de 2,2% ao ano.

    Nesse cenrio de forte e prolongada expanso

    da demanda nacional de energia, a busca por

    ecincia deve ser um objetivo importante a

    ser perseguido.

    Dois fatores apresentam grande inuncia sobre

    o consumo per capita de energia ao longo do

    tempo, a saber: o nmero de consumidores e a

    variao do nvel de renda per capita da populao.

    No Brasil, em funo do acesso praticamente

    universalizado energia eltrica, o aumento do

    consumo per capita deve reetir, principalmente,

    a elevao de renda da populao.

    H uma fonte de energia fundamental que as pessoas em geral desconsideram. s vezes,

    conhecida como conservao; outras, como eficincia. Trata-se de algo difcil de conceituar e

    de mobilizar; ainda assim, pode dar a maior contribuio de todas para o equilbrio energtico

    num futuro prximo. (Daniel Yergin, A Busca, p.15 da traduo para o portugus)

    O papel da demanda

    por energia

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    GRFICO 8 - EVOLUO ESTIMADA DO CONSUMO PER CAPITA DE ENERGIA

    Fonte: Demanda de Energia 2050, EPE.

    No setor eltrico, as perdas podem ser do tipo

    tcnicas, que contemplam perdas eltricas

    decorrentes da prpria atividade de transmis-

    so ou distribuio, ou perdas no-tcnicas

    (tambm conhecidas como comerciais), cujoescopo abrange situaes como furto de energia

    e discrepncias no faturamento.

    A reduo das perdas tcnicas est ligada

    ao investimento na qualidade e manuteno

    dos equipamentos usados na transmisso e

    na distribuio, bem como na busca por novas

    tecnologias. J no caso das perdas comerciais,

    essas costumam ocorrer em reas de grande

    complexidade social, o que torna a abordagem

    Em um cenrio de aumento da demanda por

    energia, o gerenciamento da demanda de

    todo importante, no apenas para atendimento

    s necessidades de modo mais eciente, mas

    tambm para que os recursos naturais e energ-ticos sejam utilizados racionalmente.

    REDUO DOS DESPERDCIOS

    Nesse contexto, a medida mais imediata em

    busca de ecincia no uso dos recursos naturais

    e energticos o combate ao desperdcio via

    reduo de perdas - sejam estas no setor eltrico,

    no uso da gua, na matriz de transporte ou aindanos processos de leo e gs.

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    sucedidas, mas a questo ainda est longe de

    estar satisfatoriamente equacionada. O cenrio

    de evoluo das perdas53tcnicas e comerciais

    no setor eltrico ao longo do horizonte de tem-

    po 2013 a 2050 contempla uma reduo gradual

    do ndice de perdas54, passando do valor de

    17% para 13,7%.

    para a reduo de tais perdas muito especcas

    para cada rea. O alto ndice de perdas comer-

    ciais, principalmente em determinadas reas

    de concesso, tem se mostrado um desao

    para o regulador e concessionrias e requer uma

    anlise multidisciplinar para sua maior compreen-

    so. Algumas iniciativas tm se mostrado bem

    Combate s Perdas Comerciais:Programa Light LegalA Light, uma das distribuidoras de energia do estado do Rio de Janeiro, inten-

    sificou, ao longo de 2013, aes de combate s perdas comerciais de energia e,dentre essas, a de maior destaque o Programa Light Legal. Associado medio

    eletrnica e por meio de equipes de campo em reas com aproximadamente 15 mil

    clientes e altos ndices de perdas comerciais e inadimplncias, chamadas de reas de

    Perda Zero (APZs), o Programa realiza a prestao de servios de energia eltrica,

    como verificao dos medidores, dicas de consumo eficiente e segurana, dentre

    outras atividades. O objetivo reduzir os ndices de perdas, diminuir o desloca-

    mento das equipes e aproximar o cliente empresa por meio de parcerias com

    micro-empreendedores locais. Segundo o relatrio de Sustentabilidade da Light

    2013, a perda comercial nas reas selecionadas, que em janeiro de 2013 era de24,8%, chegou a 20,3% em dezembro de 2013, e a adimplncia chegou a quase

    100%. Nas reas em que o Programa est presente e que contam com Unidades

    de Polcia Pacificadora (UPPs), a adimplncia teve um aumento mdio de 9,6% para

    98,5% no perodo de 2009 a 2013.

    53.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.54.O ndice de perdas um indicador que representa as perdas como percentual da carga de energia.

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    Com relao ao uso da gua, o nvel perdas no

    Brasil tambm alarmante cerca de 38% do

    faturamento em mdia para o pas55. Esse alto

    ndice de perdas torna-se ainda mais preo-

    cupante se considerarmos a dependncia de

    nossa matriz eltrica da gua e a necessidade

    de ampliao da cobertura dos servios de

    gua potvel e esgoto para a populao em

    2010, conforme dados do Censo-IBGE, a mdia

    nacional era de 81,1% e 46,2%, respectivamente.

    Isso signica que o consumo de gua por habitante

    no pas tender a crescer medida em que mais

    domiclios tiverem acesso aos servios de sanea-

    mento. Entre 2009 e 2010, o consumo de gua porhabitante no pas cresceu 7,1%, alcanando uma

    mdia de 159 litros por habitante por dia. A baixa

    penetrao dos servios de saneamento torna

    ainda mais importante a implementao de me-

    didas que incentivem o uso racional da gua.

    O ponto a ser destacado o cenrio atual de

    grande desperdcio, seja por falta de educao de

    consumo, por inecincia operacional ou por

    inadequao na sinalizao de preos, uma vez

    que a precicao do uso da gua no traduz a

    realidade entre a oferta e a demanda pelo recurso.

    J no caso da matriz de transportes, cabe des-

    tacar que o setor viabiliza os demais, afetandodiretamente a segurana, a qualidade de vida

    e o desenvolvimento econmico nacional. O setor

    de transportes apresenta diversos focos a serem

    combatidos na tentativa de amenizar as ine-

    cincias, como a manuteno das frotas de

    transporte, a carncia de infraestrutura rodoviria

    e ferroviria adequada e a baixa utilizao de

    hidrovias para escoamento, por exemplo, de

    produtos agrcolas.

    No setor de leo e gs, o combate inecin-

    cia deve se dar, principalmente, por meio do

    controle e monitoramento da queima de gs no

    aree dos nveis de reinjeo nos reservatrios.

    A queima de gs no are, j restrita pela atual

    regulao56, representa um desperdcio de re-

    cursos e traz impactos ambientais indesejveis,

    contribuindo notadamente para a emisso deGEE. J a reinjeo do gs associado, que tem

    como objetivo aumentar a produo de petrleo,

    acaba por dicultar a maior insero do gs

    produzido nacionalmente no mercado brasileiro

    - principalmente por razes econmicas.

    55.Dados de 2010 disponveis em http://www.tratabrasil.org.br/datales/uploads/perdas-de-agua/book.pdf

    56.Portaria ANP n 249/2000.

    O combate ao

    desperdcio, no entanto,

    representa apenas um

    primeiro passo na busca

    por maior eficincia.

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    MINIMIZANDO O IMPACTO DE EMISSES O

    SETOR DE TRANSPORTES

    O combate ao desperdcio, no entanto, repre-

    senta apenas um primeiro passo na busca por

    maior ecincia. A implantao ativa de medidas

    com o objetivo de reduzir o consumo de energia

    tambm deve fazer parte de uma poltica para

    promover o uso racional de recursos e a reduode emisses. No contexto brasileiro, tais polticas

    devem ter como um de seus principais focos a

    matriz de transporte no Brasil, uma vez que este

    setor responsvel pela maior parte das emisses

    no pas, conforme apresentado no captulo 2.

    Mecanismos de incentivo ao transporte coletivo,

    notadamente em grandes centros urbanos,

    devem ser estimulados no intuito de otimizar

    os sistemas de transporte. Nesse contexto, vale

    ressaltar os esforos de diversas capitais do pas

    na implantao de sistemas BRT Transporte

    Rpido por nibus, resultando em maior mobili-

    dade urbana e menor nvel de emisses, quando

    comparados alternativa do uso de automveis

    individuais. Adicionalmente, o desenvolvimento

    de carros eltricos ou movidos a clulas com-

    bustveis de hidrognio j vem despontando

    como uma soluo de mercado mais eciente

    do ponto de vista de emisses de GEE associadas

    ao setor de transporte, algo que deve ser avalia-

    do pelo governo.

    Cabe ressaltar, ainda, esforos realizados no

    sentido de aprimorar a ecincia dos combus-

    tveis lquidos usados no transporte rodovirio,

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    avisando sobre os horrios de pico, ou mesmo

    o controle por parte da concessionria da tempe-

    ratura dos aparelhos de climatizao, resultaram

    em importantes redues no consumo noshorrios de pico59.

    No entanto, a viabilizao da introduo de

    mecanismos de gerenciamento de demanda

    depende, em parte, da adoo de novas tec-

    nologias no setor eltrico - as chamadas redes

    inteligentes (Smart Grid). Estas redes esto

    geralmente associadas introduo de medi-

    dores que possibilitam monitorar o consumoem intervalos mais frequentes. As possibilida-

    des de aplicao, todavia, vo alm, e envolvem

    a adoo de tecnologias mais modernas em

    toda a cadeia produtiva da energia eltrica -

    softwares, sistemas de controle e protocolos

    por meio do Programa Inovar-Auto do Governo

    Federal57. O objetivo de tal programa elevar

    em pelo menos 12%, at 2017, a ecincia dos

    automveis individuais leves produzidos no Brasil,

    tendo como contrapartida benefcios scais

    baseados em reduo do IPI.

    SETOR ELTRICO - EFICINCIA ENERGTICAE GERENCIAMENTO DA DEMANDA

    Uma abordagem mais completa para a busca

    por ecincia deve contemplar tambm medidas

    de gerenciamento da demanda e ecincia ener-

    gtica. Estima-se58 que a ecincia energtica

    possa contribuir, no horizonte de longo prazo, com

    aproximadamente 20% da demanda de energia

    total e 18% da demanda de eletricidade.

    J o gerenciamento da demanda contempla o

    uso de incentivos nanceiros, comportamentais

    ou de iniciativas de educao do consumidor com

    o objetivo de modicar o seu perl de consumo.

    A utilizao de precicao diferenciada por

    perodos durante o dia, no intuito de fazer com

    que o consumidor transra parte de seu consumo

    para fora do horrio de pico, por exemplo, um

    mecanismo de gerenciamento da demanda.

    A experincia internacional mostra, no entanto,

    que outros mecanismos de gerenciamento de

    demanda tambm vm se mostrando efetivos

    na racionalizao do consumo. Medidas como

    o envio de mensagens para os consumidores

    57.Programa institudo por meio do Decreto n 7.819/12.

    58.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.

    59.Faruqui et al, (2009). Piloting the Smart Grid.

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    como gerao simultnea de energia trmica e

    eltrica, a partir de uma mesma fonte primria de

    energia. Para o sistema eltrico, de fundamental

    importncia o incremento da cogerao, na

    medida em que, em se tratando de uma forma

    de gerao distribuda, localizada junto s unida-

    des de consumo, requer menores investimentos

    do sistema eltrico na ampliao das redes de

    transmisso. Alm disso, esses sistemas costu-mam apresentar uma ecincia de at 85%.

    Para o setor industrial, um exemplo de cogerao

    seria nas usinas de cana-de-acar, em que a

    fonte energtica, ao ser queimada, gera energia

    trmica em forma de vapor e energia eltrica. O

    jato de vapor movimenta uma turbina conecta-

    da a um gerador, resultando na gerao de ele-

    tricidade. Em perodos de maior acionamentode trmicas no setor eltrico, a utilizao do

    bagao da cana para o processo de cogerao

    pode se tornar ainda mais atraente, em especial

    quando associado insero da fonte em leiles

    a preo-teto interessante. Alm disso, outro

    exemplo a ser destacado a cogerao a gs

    natural, a qual pode apresentar grande utili-

    dade para o mercado industrial ou comrcio e

    servios, como, por exemplo, para um shoppingcenter, em que alm da gerao de eletricidade

    atravs do vapor, verica-se a possibilidade

    de climatizao, proporcionada por meio da

    presena simultnea de gua quente e gelada.

    de comunicao avanados, que permitem a

    comunicao bidirecional, o corte remoto de

    fornecimento e o controle da carga distncia,

    entre outras funcionalidades. A tecnologia em

    questo permite tambm detectar e solucionar

    anomalias no sistema, de modo a evitar ou miti-

    gar faltas de energia, interrupes e problemas

    na qualidade do servio, garantindo assim

    maior ecincia operacional.

    A introduo dessas tecnologias tambm viabi-

    liza o aumento da oferta da energia atravs da

    microgerao distribuda. Uma das importantes

    funcionalidades da rede inteligente a medio

    bidirecional (net metering), que permite aos

    consumidores gerar energia em suas residn-

    cias (em painis solares, por exemplo) e injetar o

    excedente na rede de distribuio. Esta energiano consumida e injetada na rede pode gerar

    crditos de eletricidade passveis de deduo das

    faturas dos consumidores. Esse mecanismo torna

    possvel60a gerao de energia eltrica em pe-

    quena escala e mais prxima ao consumo, sobre

    a qual a Aneel publicou a Resoluo n 482/2012,

    que estabelece regras para o net metering.

    Da mesma forma, a autoproduo constitui-se

    em importante elemento na anlise do atendi-

    mento demanda de eletricidade, uma vez que

    ela j representa quase 10% de toda a energia

    eltrica consumida no pas61. O caso mais co-

    mum de autoproduo a cogerao, denida

    60. Para viabilizar a ampliao da microgerao distribuida no Brasil, no entanto, h outras questes,principalmente de ordem tributria, a serem resolvidas. Para maiores detalhes, veja em https://www.

    ambienteenergia.com.br/index.php/2014/09/evolucao-conservadora-da-energia-solar-brasil/24444

    61.EPE (2014). Demanda de Energia 2050.

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    Projetos Smart Gridno Brasil

    No Brasil, existem diversos casos de projetos piloto de cidades com tecnologia

    smart grid, englobando uma srie de servios como gerao e gerenciamento

    inteligente de energia, prdios inteligentes, veculos inteligentes, sistema dearmazenamento de energia e iluminao pblica inteligente, dentre outros.

    Exemplos de cidades com essa tecnologia so:

    Bzios (RJ), com o projeto Cidade Inteligente Bzios;

    Sete Lagoas (MG), com o projeto Cidades do Futuro, escolhida em virtude de

    apresentar sistemas eltrico e de telecomunicaes favorveis aos testes, alm de

    boa amostra populacional e mercado diversificado;

    Parintins (AM), com o projeto Parintins, escolhida em funo de ter um sistema

    isolado de abastecimento;

    Aparecida (SP), com o projeto InovCity executado pelo grupo portugus EDP, e

    escolhida em razo das similaridades apresentadas para com a cidade de vora,

    cidade portuguesa e experincia bem sucedida;

    Outras localidades, como Aquiraz (CE), Curitiba (PR), Fernando de Noronha (PE)

    e Barueri (SP).

    A cidade do Rio de Janeiro tambm conta com o projeto Smart Gridda Light, cuja

    meta disponibilizar a rede inteligente para 1,6 milho de consumidores (40% dos

    clientes da distribuidor