BASES DA POLÍTICA
NACIONAL DE PROTEÇÃO,
DEFESA E PROMOÇÃO
DOS INTERESSES
DO CONSUMIDOR
Escola de Governo-SP14 de outubro 2013
Carlos Thadeu C. de Oliveira
Gerente técnico
BASES DA POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO,
DEFESA E PROMOÇÃO DOS INTERESSES DO
CONSUMIDOR
Contexto – Sociedade de consumo
• Desequilíbrio entre poder econômico x consumidor
• Empresas “capturam” os órgãos reguladores
• Estrutura competitiva dos mercados não é perfeita
(monopólios e oligopólios)
• Distância entre o consumidor e a direção da empresa
• Déficit de informação para o consumidor
• A crescente complexidade tecnológica amplia esse déficit,
impossibilitando a escolha informada e racional (novas
tecnologias de comunicação, informação e pagamento,
biotecnologia, nanotecnologia, etc)
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DEFESA E PROMOÇÃO DOS INTERESSES DO
CONSUMIDOR
Contexto – Estratégias de indução ao consumo• A obsolescência programada + crescente colocação, na
esfera do consumo, de novos produtos e serviços +
diferenciação artificial dos produtos
• Publicidade e o marketing agressivo, incutindo no
consumidor novas necessidades e encorajando-o a usar o
crédito (e se endividar)
Princípios gerais da defesa do consumidor• Consumidor vulnerável (hipossuficiência)
• Interesses e direitos do consumidor têm dimensão individual, mas também coletiva e difusa
• Consumidor não é só quem adquire, mas também quem usa
produtos e serviços (ou quem está sujeito à publicidade, por
exemplo)
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Princípios gerais da defesa do consumidor (cont.)
• Acordo entre as partes (contrato) às vezes é contrário à
ordem pública e interesse social. Por isso, pode ser revisto
quando houver desproporção(preponderância da lei sobre
o acordo). Não obstante, a tentativa de conciliação é o
primeiro passo nos JECs, por exemplo
• Proteção também contra o Estado: normas administrativas
(circulares, portarias, resoluções) não podem confrontar o
CDC (norma legal)
• Serviços públicos também estão sujeitos ao CDC
• Outras leis específicas (planos de saúde, mensalidade
escolar etc) também não concorrem com o CDC quando é
identificado o consumidor
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CONSUMIDOR
O que é a Política Nacional de Relações de
Consumo (CDC, art 4º)
• Conjunto de princípios envolvendo os integrantes do SNDC
(Sistema Nacional de Defesa do Consumidor)
• Programa de metas e objetivo
Principais pontos da PNRC
• Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor
• Ação governamental para proteção:- Iniciativa direta (Procons e outros órgãos administrativos)
- Incentivo à criação de associações civis
- Garantia da qualidade, segurança, durabilidade e
desempenho de produtos e serviços
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Principais pontos da PNRC
• Harmonização das relações de consumo com base na boa-
fé (não se admite prática, mesmo em contrato, que vise
enganar o consumidor. Ex: limitação de prazo de internação
em UTI)
• Educação e informação de fornecedores sobre direitos e
deveres
• Incentivos ao desenvolvimento econômico/tecnológico dos
fornecedores. Meios de controle de qualidade/segurança
de produtos e serviços e mecanismos de solução de conflitos
• Racionalização e melhoria dos serviços públicos
• Estudo das modificações do mercado de consumo
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Instrumentos da PNRC• Assistência jurídica integral e gratuita para consumidores
carentes
• Promotorias de defesa do consumidor (Ministério Público)
• Delegacias de polícia especializadas
• Juizados Especiais Cíveis
• Estímulo à criação e desenvolvimento de associações de
defesa do consumidor
Campo de abrangência• Políticas sociais (acesso a bens e serviços) e econômicas
(regulação: oferta de bens e serviços de qualidade, controle
de monopólios e trustes, controles de preços, concessão de
licença para o funcionamento, etc)
• Exercício do "poder de polícia"
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Campo de abrangência• Informação e educação para o consumo:
▫ Educação formal (tema transversal nos parâmetros
curriculares do MEC desde 1998)
▫ Educação informal
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O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
• Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon/MJ) – Órgão
coordenador - Executivo federal
• Procons – Estaduais ou municipais
• Ministérios Públicos
• Defensorias públicas
• Delegacias de defesa do consumidor (investigam crimes e
infrações penais)
• Juizados Especiais Cíveis
• Entidades civis de defesa do consumidor
• Agências reguladoras
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CONSUMIDOR
O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990) –Direitos básicos do consumidor (art. 6º)
Refletem os princípios gerais da PNRC
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e
serviços considerados perigosos ou nocivos;
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos
produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a
igualdade nas contratações;
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como
sobre os riscos que apresentem;
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O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990) –Direitos básicos do consumidor (art. 6º)
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
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O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990) –Direitos básicos do consumidor (art. 6º)
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas
à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados;
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
IX – (VETADO).
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
geral.
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O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990) –Direitos básicos do consumidor (art. 6º)Redação do inciso IX (vetado):
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
"IX - a participação e consulta na formulação das políticas que
os afetam diretamente, e a representação de seus interesses
por intermédio das entidades públicas ou privadas de defesa
do consumidor".
Justificativa do veto: O dispositivo contraria o princípio da democracia
representativa ao assegurar, de forma ampla, o direito de
participação na formulação das políticas que afetam diretamente o
consumidor. O exercício do poder pelo povo faz-se por intermédio de
representantes legitimamente eleitos, excetuadas as situações
previstas expressamente na Constituição (CF, art. 14, I). Acentue-se
que o próprio exercício da iniciativa popular no processo legislativo
está submetido a condições estritas (CF, art. 61, § 2º).
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Outros princípios e conceitos na CF e no CDC
O conceito da responsabilidade objetivaVários arts. – “Independentemente da existência de culpa”. O
fornecedor será responsabilizado mesmo que não tenha agido
com negligência, imperícia ou imprudência
O princípio da precauçãoIncorporado à CF (Cap VI, Do Meio Ambiente, art. 225)•Garantia contra riscos potenciais que, de acordo com o
estado atual do conhecimento, não podem ainda ser
totalmente identificados;
• Aplicado a situações de ameaça de danos sérios e/ou irreversíveis;
• Ausência de absoluta certeza científica não posterga
medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir o
risco
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O CDC resolve todos os problemas?Não. É importante marco legal para a prevenção dos
problemas e solução dos conflitos, mas precisa ser plenamente
implementado pelos governos, em todos os níveis. Também
precisa ser mais conhecido pelos cidadãos
O que falta?• Implementação direta (relação consumidor/empresa) ainda
é fraca e depende de atos do Poder Executivo. O CDC é
uma lei que deveria ser aplicada voluntariamente
• Pouca interação entre órgãos reguladores (sobretudo agências reguladoras – criadas principalmente para zelar
pelo equilíbrio econômico financeiro dos setores que
regulam)
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O que falta?• Fortalecer atuação da Senacon e de outros órgãos (atos
administrativos ganham poder de título judicial)
• Expandir Procons: existem 648, pouco mais de 10% dos
municípios brasileiros
• Fortalecer as associações civis
• Implantar o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor -instância para definir e acompanhar a PNRC
• Incrementar regulamentação administrativa do CDC
(SNDC+outros sistemas. Ex: setor financeiro, vigilância
sanitária, metrologia, trânsito, fiscalização agropecuária, meio ambiente)
• Implementação do Direito à Educação para o Consumo
(consumidores)
• Educação (fornecedores)
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Consequências: judicialização dos conflitos e
sobrecarga do Poder JudiciárioElevação de custos, tempo e riscos. OBS: Reclamações e
processos judiciais NÃO representam o total dos conflitos de
consumo, mas uma pequena amostra desse universo.
• De 90 milhões de ações no Judiciário, 40 milhões tem teles e
instituições financeiras como autor ou réu (O Globo, 6/10/13, p.34)
• Conflitos de consumo aparecem em 92,89% das ações nos
JECs do RJ (2 mil novos processos/mês) (O Globo)
• Recursos de ações originadas nos JECs são a terceira demanda no STF: de 1988 a jun 2013 foram 81 mil processos
de direito do consumidor, sendo 57 mil (70%) causados por
conflitos de consumo
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Consequências: sobrecarga dos ProconsCadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas 2011.
• De 1.696.833 atendimentos, 15,3% se tornaram processos
administrativos; os restantes 84,7% foram resolvidas mediante
orientações ao consumidor, telefonemas ou cartas para as
empresas. Poderiam ser resolvidos diretamente pelos
fornecedores.
• 63,1% dessas reclamações fundamentadas foram atendidas
e 36,9% não foram resolvidas
• Boletim Sindec 2012 (Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor - 24 Procons estaduais + DF + 211
municipais= 441 unidades em 292 cidades) = Em 2012 foram
2.031.289 demandas
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Consequências sistêmicas• Além dos Procons, MPs e associações de consumidores se
tornam SAC das empresas
• Desequilíbrio entre SNDC e os outros sistemas de regulação
setorial
• Pulverização da demanda, aumento do consumo e a
demora na resolução dos conflitos reduzem ainda mais a cultura associativa para a defesa de direitos
• Aumenta a fragilidade e dificuldade de sustentação das
poucas associações existentes
• Favorece-se o surgimento de associações e entidades que agem mais como empresas ou escritórios de advocacia
• Aumenta o descrédito dos órgãos de defesa do consumidor
em detrimento das redes sociais e sites de reclamação
(inclusive, alguns, inidôneos)
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DEFESA E PROMOÇÃO DOS INTERESSES DO
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Conclusões• Uma política de proteção, defesa e promoção dos interesses do
consumidor vai além das relações de consumo diretas:
• A crise financeira que assola o mundo desde 2008 seria evitada
ou minimizada se a regulação sobre o sistema financeiro e o
direito à informação dos consumidores fossem mais ousadas
• As mudanças climáticas podem ser minimizadas com a
mudança nos padrões de produção e consumo, que incluem o
aumento da responsabilidade social das empresas e práticas
mais transparentes, responsáveis e honestas de marketing e
publicidade. Isso inclui maior poder de regulação do Estado
frente a grandes corporações
• O bem-estar da população mundial e a redução das
desigualdades sociais e econômicas dependem do pleno
acesso a bens, serviços e também a aspectos imateriais, como
a cultura, o conhecimento e a educação
SOBRE O IDEC
•Organização não governamental fundada em 1987, sem fins
lucrativos.
• O Idec não aceita recursos de empresas e de partidos
políticos. Seu trabalho é mantido principalmente através da
contribuição de associados que garantem a independência da
organização e o compromisso com os interesses coletivos.
• Filiado à Consumers International, OCLAC, FNECDC, ABONG, FBOMS e diversas redes temáticas nacionais e internacionais.
• 11mil associados (apenas pessoas físicas); 72 mil assinantes do
boletim do Idec (on-line semanal gratuito).
• 40 funcionários e estagiários.
•Relatório de atividades e balanço social anuais
•Auditoria independente.
Obrigado!
Carlos Thadeu C. de Oliveira
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