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Milenar sabedoria para sua reflexo e estudo.
A VS, CONFIO
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A VS, CONFIO.
Milenar sabedoria para sua reflexo e estudo.
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Sumrio
A ESTRANHA HISTORIA DESTE LIVRO
INSTRUES PRELIMINARES
LIVRO I DAS OBRIGAES RELATIVAS AO HOMEM COMO INDIVDUO
CAPITULO I: Da Ponderao
CAPTULO II: Da Modstia
CAPTULO III: Da Aplicao
CAPTULO IV: Da Emulao
CAPITULO V: Da Prudncia
CAPITULO VI: Da Fortaleza
CAPITULO VII: Do Contentamento
CAPITULO VIII: Da Temperana
LIVRO II DAS PAIXES
CAPTULO I: Da Esperana e do Temor
CAPITULO II: Da Alegria e da Tristeza
CAPTULO III: Da Clera
CAPITULO IV: Da Piedade
CAPITULO V: Do Desejo e do Amor
LIVRO III DA MULHER
LIVRO IV DA CONSANGINIDADE OU DAS RELAES NATURAIS
CAPITULO I: O Esposo
CAPITULO II: O Pai
CAPITULO III: O Filho
CAPTULO IV: Os Irmos
LIVRO V DA PROVIDNCIA, OU DAS DIFERENAS ACIDENTAIS ENTRE OS HOMENS
CAPITULO I: Sbios e Ignorantes
CAPTULO II: Ricos e Pobres
CAPTULO III: Senhores e Serviais
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CAPTULO IV: Reis e Sditos
LIVRO VI DOS DEVERES SOCIAIS
CAPITULO I: Da Benevolncia
CAPITULO II: Da Justia
CAPTULO III: Da Caridade
CAPTULO IV: Da Gratido
CAPTULO V: Da Sinceridade
LIVRO VII DA RELIGIO
LIVRO VIII CONSIDERAES GERAIS SOBRE O HOMEM
CAPITULO I: Da Estrutura do Corpo Humano
CAPITULO II: Do Uso dos Sentidos
CAPITULO III: Da AIma do Homem, sua Origem e seus Afetos
CAPITULO IV: Do Perodo e Utilizao da Vida Humana
LIVRO IX DO HOMEM CONSIDERADO EM RELAO A SUAS DEBILIDADES E SEUS EFEITOS
CAPITULO I: Da Vaidade
CAPTULO II: Da Inconstncia
CAPITULO III: Da Fraqueza
CAPITULO IV: Da Insuficincia do Conhecimento
CAPTULO V: Do Infortnio
CAPITULO VI: Da Capacidade de Julgar
CAPTULO VII: Da Presuno
LIVRO X DAS AFEIES DO HOMEM, QUE SO PREJUDICIAIS PARA ELE E OS DEMAIS
CAPITULO I: Da Cobia
CAPITULO II: Da Prodigalidade
CAPTULO III: Da Vingana
CAPTULO IV: Da Crueldade, do dio e da Inveja
CAPITULO V: Da Opresso Interior
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LIVRO XI DAS VANTAGENS QUE O HOMEM PODE ADQUIRIR SOBRE O SEU SEMELHANTE
CAPITULO I: Da Nobreza e da Honra
CAPTULO II: Da Cincia e da Cultura
LIVRO XII DA SERENIDADE
CAPTULO I: Da Prosperidade e da Adversidade
CAPTULO II: Da Dor e da Enfermidade
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PREFCIO
A CURIOSA HISTORIA DESTE LIVRO
O prefcio e a introduo do texto original deste livro nos oferecem a seguinte histria sobre a origem,
descoberta e traduo desta rara obra mstica.
Um cavalheiro ingls que mantinha associao com pessoas de alto nvel visitou a China no perodo
compreendido entre 1740 e 1750. H indcios de que ele fora encarregado pelo Duque de Derby, e outros
interessados em exploraes histricas e geogrficas, de reunir dados e informaes especiais que no eram
do conhecimento geral na poca. Este senhor ingls, evidentemente um brilhante erudito, linguista e cientista,
conseguiu a amizade de vrios oficiais importantes.
Enviou cartas semanais e bastante extensas, em forma de relatrios, ao grupo de homens da Inglaterra que o
haviam encarregado da misso e, em vrias ocasies, enviou extensas cartas de carter pessoal ao Duque de
Derby. Muitos desses documentos tornaram-se marcos de interesse histrico e geogrfico; alguns deles foram
publicados em forma de livro em 1760, segundo revelam os registros de Londres.
A carta mais importante enviada ao Duque de Derby poderia servir de prefcio para a presente obra, caso o
leitor tivesse conhecimento das ocorrncias que a precederam. Esta missiva especial foi enviada ao Duque de
Derby com o seguinte cabealho: "Pequim, 12 de maio de 1749." Nessa missiva, o cavalheiro ingls diz que
havia tomado conhecimento de um incidente extremamente interessante e bem recente. Parte da carta dizia o
seguinte:
Ao Conde de...
Pequim, 12 de maio de 1749.
"Na ltima carta que tive a honra de escrever a V. Excelncia, com data de 23 de dezembro de 1748, penso
ter encerrado aquilo que tinha a dizer sobre a topografia e a histria natural deste grande imprio. Meu
propsito era de descrever, nesta carta e em outras anotaes posteriores, as observaes que tive
oportunidade de fazer sobre as leis, o tipo de governo, religio e costumes do povo. Mas houve uma
ocorrncia notvel que passou a fazer parte das conversas dos literatos daqui e que poder fornecer um tema
de especulaes para os eruditos da Europa...
"Ligando-se China no Oeste, h o grande pas do Tibete, que alguns chamam de Barantola. Numa provncia
desse pas, chamada Lassa, reside o grande Lama ou Sumo Sacerdote, que reverenciado e at adorado
como um deus pela maioria das naes vizinhas. O grande prestgio atribudo a esta sagrada personalidade
induz prodigiosos nmeros de pessoas religiosas a se deslocarem para Lassa, a fim de lhe prestarem
homenagens e lhe oferecerem presentes, com o objetivo de receberem sua bno. Sua residncia um
pagode ou templo de grande magnificncia, construdo no topo da montanha Poutala. O sop da montanha,
com todo o distrito de Lassa, habitado por um incrvel nmero de Lamas de diferentes categorias e ordens,
vrios dos quais tm grandes pagodes erigidos em sua honra. Todo o pas, como ocorre na Itlia, tem um
grande nmero de sacerdotes; eles subsistem inteiramente por fora da abundncia de ricos presentes que
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lhes so enviados das mais remotas regies da Tartria, do imprio do Gro-Mogol e de todas as partes das
ndias. Quando o Grande Lama recebe a adorao do povo, elevado num altar magnfico, no qual se
assenta com as pernas cruzadas numa almofada esplndida. Seus adoradores se prostram diante dele da
maneira mais humilde e abjeta, mas ele no retribui com o menor sinal de respeito, nem mesmo aos maiores
prncipes; apenas coloca a mo sobre suas cabeas e eles ficam inteiramente convencidos de que assim
recebem o pleno perdo por seus pecados. O povo tem tambm a extravagncia de acreditar que o Grande
Lama conhece todas as coisas, inclusive os segredos do corao; seus discpulos particulares, um nmero
selecionado de aproximadamente duzentos, fazem o povo acreditar que ele imortal; que sempre que ele
aparentemente morre, apenas muda de morada e passa a animar um novo corpo.
"Os eruditos da China h muito defendem a opinio de que, nos arquivos deste grande templo, alguns livros
muito antigos permaneceram ocultos por muitas eras; e o atual Imperador, que extremamente interessado
na busca dos escritos da antiguidade, ficou finalmente to convencido da probabilidade desta hiptese que
decidiu tentar saber se poderia ser feita alguma descoberta neste campo. Com este objetivo, seu primeiro
passo foi procurar uma pessoa eminentemente hbil em lnguas antigas. Finalmente, soube de um dos
Hanlins, ou Doutores da primeira Ordem, cujo nome era Cao-Tsou, um homem de cerca de cinquenta anos de
idade, de aspecto nobre e grave e grande eloquncia e que, devido amizade acidental com um certo Lama
muito culto que residira em Pequim por alguns anos, tinha dominado completamente a lngua usada pelos
Lamas do Tibete em suas conversas particulares.
"Com estas qualificaes, o Hanlin partiu em sua jornada e, para emprestar maior peso sua misso, o
Imperador honrou-o com o ttulo de Cosao, ou Primeiro-Ministro. A isto ele acrescentou uma magnfica
equipagem e um squito, com presentes para o Grande Lama e outros Lamas importantes, de imenso valor.
Enviou tambm uma carta escrita por suas prprias mos, com o seguinte teor:
(Segue-se aqui a carta escrita pelo Imperador da China em 1747, para o Grande Lama do Tibete, hoje
conhecido como Dalai Lama. Podemos facilmente visualizar a cena do mensageiro ou Primeiro-Ministro da
corte do Imperador chegando em Lassa. Naturalmente vem nossa mente a histria da visita da Rainha de
Sab ao Rei Salomo, com seus muitos escravos carregando centenas de preciosos presentes. difcil
concebermos que tipos de presentes o Imperador da China poderia ter mandado ao rico e poderoso Grande
Lama e que fossem capazes de interess-lo, pois o Grande Lama estava cercado de riquezas e luxos
esplndidos, vindos de todas as partes do mundo. A carta endereada ao Grande Lama, entretanto,
interessante. Seu teor, aqui publicado, provm dos registros oficiais.)
"Ao Grande Representante de Deus.
"O Grande Lama em Lassa.
"Altssimo, Santssimo e Digno de adorao!
"Ns, Imperador da China, Soberano de todos os Soberanos da terra, na pessoa de nosso mui respeitado
Primeiro-Ministro Cao-Tsou, com toda a reverncia e humildade nos prostramos aos vossos sagrados ps, e
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imploramos para ns, nossos amigos e nosso imprio, vossa mui poderosa e misericordiosa bno.
"Sentindo um forte desejo de pesquisar os registros da antiguidade para aprender e resgatar a sabedoria das
eras passadas; e tendo sido bem informados de que nos sagrados repositrios de vossa antiga e venervel
hierarquia existem alguns livros valiosos, que por sua grande antiguidade se tornaram para o povo em geral, e
at mesmo para os estudiosos, quase que totalmente ininteligveis; para impedir, tanto quanto seja possvel e
esteja em nosso poder, que eles sejam totalmente perdidos, julgamos apropriado autorizar e designar nosso
Mui Sbio e respeitado Primeiro-Ministro Cao-Tsou para que ele leve a termo essa misso junto a Vossa
Sublime Santidade. O objetivo e desejo de que lhe seja permitido ler e examinar os citados escritos;
esperamos, por sua grande e rara capacidade, que ele possa interpretar tudo aquilo que possa encontrar,
ainda que seja da mais obscura antiguidade. Ns lhe havemos ordenado que se prostre a vossos ps, e que
vos apresente os testemunhos de nosso respeito que possam conceder-lhe a recepo que desejamos."
(Assinada pelo Imperador da China.)
"No fatigarei V. Excelncia com os detalhes de sua jornada, embora ele tenha publicado uma extensa
narrativa da mesma, em que abundam os mais surpreendentes relatos... Creio ser suficiente no momento
dizer que, ao chegar naqueles sagrados territrios, a magnificncia de sua presena e a riqueza de seus
presentes no deixaram de lhe propiciar sua imediata admisso. Foram-lhe concedidos aposentos no sagrado
colgio, e ele foi assistido em suas pesquisas por um dos mais eruditos Lamas. Permaneceu ali perto de seis
meses, durante os quais teve a satisfao de encontrar muitas peas valiosas da antiguidade; de algumas
delas ele retirou excertos muito curiosos...
"Mas a pea mais valiosa que ele descobriu e que nenhum dos Lamas pudera interpretar ou compreender
desde muitas eras, um completo sistema de instruo mstica escrita na lngua e nos caracteres dos antigos
gimnosofistas ou brmanes. Ele traduziu esta pea em sua totalidade, embora, como ele mesmo confessou,
no conseguisse transpor para o idioma chins a fora e sublimidade do original. Os critrios e opinies dos
bonzos e dos sbios doutores esto muito divididos a este respeito. Aqueles que a admiram com maior
intensidade gostam de atribu-la a Confcio, seu grande filsofo... Outros a tomam como obra de Lao-Kium,
da seita Tao-ssee... H outros que, por alguns indcios e sentimentos que nela encontram, supem que tenha
sido escrita pelo brmane Dandamis, cuja famosa carta a Alexandre o Grande foi registrada pelos escritores
europeus. O prprio Cao-Tsou parece inclinado a concordar com estes, pelo menos ao ponto de pensar que
se trata, realmente, da obra de algum brmane antigo. Ele est totalmente persuadido, pelo esprito com que
a pea foi escrita, de que no se trata de uma traduo.
"Mas seja quem for o autor, o grande xito que tem a obra nesta cidade e em todo o imprio, a avidez com
que ela lida por todos os tipos de pessoas, e os altos encmios que lhe so tributados, finalmente me
levaram a tentar traduzi-la para o ingls, especialmente porque estou convencido de que seria um presente
gratificante para V. Excelncia. Mas por uma coisa, entretanto, pode ser necessrio pedir desculpas, ou ao
menos explicar; falo do estilo e forma em que fiz a traduo. Posso assegurar a V. Excia. que, quando
comecei o trabalho, no tinha a menor inteno de faz-lo na forma em que o fiz; mas o sublime modo de
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pensar que se percebe na introduo, a grande energia de expresso e a conciso das sentenas, levaram-
me naturalmente a esse tipo de estilo.
"Se assim como est, a obra vier a oferecer a V. Excia. Algum ensinamento, considerar-me-ei extremamente
feliz. Em minha prxima carta continuarei meu relato sobre este povo e seu imprio."
"Sou, etc.
(Assinado por um eminente erudito ingls.)
O privilgio de traduzir o antigo manuscrito foi concedido pelo Grande Lama ao Primeiro-Ministro, que passou
seis meses no sagrado colgio traduzindo este e outros manuscritos que provavelmente viro luz em breve.
Muitos professores e Altos Iniciados de grande sabedoria auxiliaram o Primeiro-Ministro; quando a tarefa foi
completada, o manuscrito traduzido foi levado para o Imperador da China pelo Primeiro-Ministro. Ali, o
cavalheiro ingls e seus associados de misso o examinaram e, com a permisso do Imperador da China e
dos linguistas da corte, foi feita uma outra traduo, desta vez para o ingls, com o nico propsito de
entregar a verso inglesa ao Conde de Derby, como explica a carta que apresentamos. To notvel foi essa
traduo, e to incomuns as doutrinas e os ensinamentos nela contidos, que o Conde de Derby autorizou ou
permitiu uma reproduo da traduo, em nmero limitado de exemplares.
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A VS, CONFIO.
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INSTRUES PRELIMINARES
CURVAI vossa cabea ao p, habitantes da Terra! Permanecei silentes e recebei com reverncia estas
instrues do alto. Onde quer que o Sol brilhe, onde quer que sopre o vento, onde quer que haja ouvidos para
ouvir e mente para conceber, que se d a conhecer os preceitos da vida, que as mximas da verdade sejam
honradas e obedecidas.
Todas as coisas provm de Deus. Seu poder no tem limites. Sua sabedoria para a eternidade, Sua
bondade perdura para sempre. Ele est sentado em Seu trono no centro do universo e o hausto de Sua boca
d vida ao mundo. Ele toca as estrelas com Seus dedos, e elas prosseguem jubilosamente em seu curso.
Nas asas do vento Ele caminha e cumpre Sua vontade em todas as regies do ilimitado espao. Ordem, graa
e beleza emanam de Suas mos. A voz da sabedoria fala em todas as Suas obras; mas a mente mortal no a
compreende.
A sombra do conhecimento mortal perpassa o crebro do homem como um sonho; ele v como se estivesse
nas trevas; raciocina e se engana. Mas a sabedoria de Deus como a Luz do Cu; no requer a razo; Sua
mente a fonte da verdade. Justia e misericrdia esperam diante de Seu trono; benevolncia e amor
iluminam Suas feies para sempre.
Quem se iguala a Deus em glria? Quem pode rivalizar com o Todo-Poderoso em poder? Ter Ele algum igual
em sabedoria? Poder algum ser comparado a Ele em bondade? No h nenhum outro diante Dele! Foi Ele,
homem! quem te criou; tua presente situao na Terra foi estabelecida por Suas Leis; os poderes de tua
mente so ddivas de Sua Bondade e as maravilhas de tua constituio so obra de Sua mo; tua Alma Sua
Alma; tua conscincia, Sua conscincia.
Ouve portanto Sua voz, pois cheia de graa; aquele que obedecer estabelecer em sua mente a Paz
Profunda, e levar perene crescimento Alma que em seu corpo habita, estado aps estado, nesta Terra.
Com estas instrues, portanto,
A VS CONFIO A ECONOMIA DA VIDA.
O MESTRE
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LIVRO I
DAS OBRIGAES RELATIVAS AO HOMEM COMO INDIVDUO
CAPITULO I: Da Ponderao
COMUNGA contigo mesmo, homem! e considera por que foste criado.
Contempla teus poderes, contempla tuas necessidades e tuas relaes; desta forma descobrirs os deveres
da vida e sers orientado em todos os teus caminhos
No comeces a falar ou agir antes que tenhas pesado tuas palavras e examinado a direo de cada passo
que pretendes dar; assim, a desgraa fugir de ti, e em tua casa a vergonha ser desconhecida; o
arrependimento no te visitar, nem a tristeza pousar em tua face nesta vida e em muitas outras vidas
futuras.
O homem irrefletido no refreia sua lngua; fala a esmo e se embaraa na insensatez de suas prprias
palavras.
Assim como aquele que corre apressadamente e salta por cima de uma cerca pode cair num fosso que talvez
haja do outro lado e ele no tenha visto, assim ocorre com o homem que se lana bruscamente ao sem
ter considerado suas consequncias e a compensao que a Lei exige.
Escuta, portanto, a voz da Ponderao; suas so as palavras da sabedoria, e seus caminhos te conduzem
segurana e verdade.
CAPTULO II: Da Modstia
Quem s tu, homem! que te orgulhas de tua prpria sabedoria? Por que te gabas daquilo que adquiriste?
O primeiro passo para a sabedoria saber que nasceste mortalmente ignorante; para que no sejas julgado
insensato na opinio dos demais, rejeita o desatino de te julgares sbio em tua prpria mortalidade.
Assim como um vesturio simples adorna melhor uma mulher formosa, tambm o comportamento modesto
o maior ornamento da sabedoria interior.
A fala do homem modesto d lustro verdade, a modstia de suas palavras absorve seu erro.
Ele no confia em sua mortal sabedoria; pesa bem os conselhos de um amigo e deles colhe benefcio.
Afasta seus ouvidos do louvor a si mesmo e nele no cr; o ltimo a descobrir suas prprias perfeies.
Contudo, como o vu que reala a formosura, suas virtudes so destacadas contra a sombra que sua
modstia sobre elas projeta.
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Mas contempla o homem vaidoso, observa o arrogante; ele se cobre com ricos atavios, caminha pela via
pblica, lana os olhos ao redor e corteja a observao dos demais.
Ele ergue orgulhosamente a cabea e menospreza os pobres; trata seus inferiores com insolncia e seus
superiores, por outro lado, riem de seu orgulho e sua insensatez.
Ele despreza o julgamento dos outros; confia em sua prpria opinio e se confunde.
Est cheio da vaidade de sua imaginao; seu deleite est em falar e ouvir falar de sua pessoa o dia inteiro.
Engole com avidez os louvores e o adulador por sua vez o devora.
CAPTULO III: Da Aplicao
Como os dias que passaram se foram para sempre, e os dias futuros podero no chegar a ti no estado
presente de teu ser, cabe a ti, homem! fazer uso do estado presente sem lamentar a perda do que j passou
e sem depender demais do que ainda vir; pois nada podes saber de teus futuros estados, exceto o que tuas
aes de agora disponham para eles.
Este momento teu; o momento seguinte encontra-se no ventre do futuro e no sabes o que te pode trazer; a
maturidade do que no nasceu est na observncia da Lei.
Cada estado futuro aquilo que crias no presente.
Tudo que decidires fazer, realiza-o imediatamente. No deixes para a tarde o que puderes realizar pela
manh.
A indolncia a me da carncia e da dor; mas o trabalho pelo Bem gera prazer.
A mo da diligncia derrota a necessidade; a prosperidade e o sucesso acompanham o homem industrioso.
Quem aquele que adquiriu riqueza, que elevou-se ao poder, ataviou-se com honras, de quem toda a cidade
fala com louvor e que se coloca diante do rei em seu Conselho? Somente aquele que expulsou a indolncia
de sua casa e disse: "Ociosidade, s minha inimiga."
Ele cedo deixa o leito e tarde se recolhe; exercita a mente pela contemplao, o corpo pela ao e preserva a
sade de ambos.
O homem ocioso uma carga para si prprio, as horas lhe pesam na cabea; ele perambula e no sabe o que
fazer.
Seus dias passam como a sombra de uma nuvem; ele no deixa nenhum sinal que o recorde.
Seu corpo adoece por falta de exerccio e, embora deseje agir, no tem poder para mover-se; sua mente est
obscurecida; seus pensamentos, confusos; ele aspira pelo conhecimento mas no tem diligncia.
Gostaria de comer a amndoa mas detesta o trabalho de quebrar sua casca.
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Sua casa est em desordem, seus servos desperdiam e tumultuam, e ele caminha para a runa; v tudo isto
com seus olhos, ouve com seus ouvidos, sacode a cabea e deseja, mas no tem resoluo; e assim a runa
cair sobre ele como um turbilho, e a vergonha e o arrependimento descero com ele ao tmulo.
Contudo, chegar o dia em que tua Alma retornar dos Cus, juntar o p e o animar.
CAPTULO IV: Da Emulao
Se teu corao tem sede de honrarias, se teus ouvidos sentem prazer na voz do louvor, eleva teu Eu mortal
do p de que foste feito; e eleva teu propsito a alguma coisa digna de encmios.
O carvalho que ora estende seus ramos para o cu j foi apenas uma semente nas entranhas da terra.
Esfora-te para ser o primeiro no teu ofcio, seja ele qual for; no permitas que nenhum outro te suplante no
bom procedimento; contudo, no invejes os mritos alheios e aperfeioa teus prprios talentos.
Abstm-te tambm de depreciar teu competidor por qualquer mtodo desonesto ou indigno; antes, esfora-te
para te elevares acima dele unicamente tornando a ti mesmo superior; assim, tua luta pela superioridade ser
coroada com honra, ainda que no o seja pelo triunfo.
Pela emulao virtuosa o esprito do homem exaltado; ele anseia pela fama e se rejubila como o cavalo que
se apresta para a corrida.
Ele se ergue como a palmeira, a despeito da opresso; como a guia no Armamento celeste, voa nas alturas e
fixa o olhar nas glrias do Sol.
Os exemplos de homens eminentes povoam sua viso noite; seu deleite segui-los durante todo o dia.
Ele concebe grandes projetos, rejubila-se em sua execuo, seu nome alcana os confins do mundo.
Mas o corao do homem invejoso fel e amargura; sua lngua cospe veneno; o sucesso de seu vizinho
destri seu repouso.
Ele senta-se aflito em sua alcova; o bem que a um outro ocorre para ele representa um malefcio.
O dio e a malevolncia se alimentam de seu corao e ele no tem descanso.
No sente no peito o amor pelo bem e por isto julga que seu semelhante assim tambm.
Empenha-se em rebaixar os que so melhores que ele, e a tudo que fazem empresta uma interpretao
maldosa.
Fica em viglia e medita sobre maldades; mas a repulsa dos homens o persegue e ele esmagado como a
aranha em sua prpria teia.
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CAPITULO V: Da Prudncia
Ouve as palavras da prudncia, atenta para seus conselhos e guarda-os em teu corao; suas mximas so
universais e todas as virtudes nela se apoiam; ela guia e senhora da vida humana.
Pe um freio em tua lngua; pe uma guarda diante de teus lbios, para que as palavras de tua boca no
destruam tua paz.
Que aquele que zomba do coxo no venha tambm a coxear; aquele que fale com prazer das faltas alheias
ouvir falar de suas prprias faltas com amargura no corao.
Da fala excessiva vem o arrependimento, mas no silncio existe segurana.
O homem tagarela um incmodo para a sociedade; os ouvidos esto fartos de sua loquacidade, a torrente
de suas palavras inunda a conversao.
No te gabes de ti mesmo, porque isto lanar desprezo sobre ti; nem zombes de outros, pois isto perigoso.
A pilhria mordaz o veneno da amizade, e aquele que no refrear a lngua ter dificuldades.
Encontra para ti as acomodaes adequadas tua condio; contudo, no gastes o mximo que possas; que
a previdncia de tua juventude seja um conforto em tua velhice.
Que teus prprios afazeres ocupem tua ateno; deixa os cuidados do Estado a quem o governa.
Que tuas recreaes no sejam caras, para que o esforo de adquiri-las no exceda o prazer de sua fruio.
No deixes que a prosperidade arranque os olhos da circunspeco, nem que a abundncia corte as mos da
frugalidade; aquele que se entregar por demais s superfluidades da vida viver para lamentar a falta do que
necessrio.
Da experincia dos demais adquire sabedoria e de seus sentimentos aprende a corrigir tuas prprias falhas.
No confies em homem algum antes de o teres testado; contudo, no desconfies sem razo, pois isto seria
intolerncia.
Mas quando tiveres provas de que um homem honesto, guarda-o em teu corao como um tesouro;
considera-o como uma joia de inestimvel valor.
Recusa os favores do homem mercenrio; eles sero uma armadilha para ti; jamais te verias livre de
obrigao.
No utilizes hoje o que possas necessitar amanh; nem deixes ao acaso aquilo que a previdncia possa te dar
ou que o cuidado possa evitar.
Mas no esperes nem mesmo da prudncia um triunfo infalvel; pois o homem no sabe o que a noite pode
trazer.
Nem sempre o tolo desafortunado e nem sempre o homem sbio infalvel; contudo, nunca o tolo teve o
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deleite completo, nem o sbio foi inteiramente infeliz.
CAPITULO VI: Da Fortaleza
Perigos, infortnios, necessidades, dores e padecimentos, isto o que, a mais ou a menos, aguarda com
certeza todo homem que vem ao mundo.
Cabe a ti, portanto, filho da calamidade! fortalecer desde cedo tua mente, com coragem e pacincia, para
que possas suportar com a devida resoluo a parte dos males humanos que te espera.
Assim como o camelo suporta o labor, a cancula, a fome e a sede pelos desertos de areia, e no sucumbe,
assim a fortaleza do homem o sustenta atravs de todos os perigos.
O esprito nobre desdenha as adversidades da fortuna; sua grandeza de alma est em no desfalecer.
Ele no deixa que sua felicidade dependa dos sorrisos da sorte e, por isto, no desanima quando ela lhe
franze o cenho.
Como a rocha na praia, ele se mantm firme, e a rebentao das ondas no o perturba. Ele ergue a cabea
como uma torre sobre a colina, e as flechas da fortuna caem a seus ps.
No momento do perigo, a coragem de seu corao o sustenta e a firmeza de sua mente o mantm inclume.
Ele enfrenta os males da vida como o homem que vai para uma batalha e retorna com a vitria nas mos.
Diante da presso das desgraas, sua calma alivia seu peso e sua constncia as sobrepuja.
Mas o esprito pusilnime do homem timorato o atraioa, entregando-o vergonha. Encolhendo-se diante da
pobreza, curva-se at a mesquinhez; e, ao suportar fracamente os insultos, abre caminho injria. Assim
como os juncos que so sacudidos pela brisa, a sombra do mal o faz tremer. Em horas de perigo ele fica
embaraado e confuso; em dias de infortnio cai e sua Alma arrebatada pelo desespero.
CAPITULO VII: Do Contentamento
No esqueas, homem! que tua presente estadia na Terra foi decretada pela sabedoria do Eterno que
conhece teu corao, v a futilidade de todos os teus desejos e, muitas vezes, por misericrdia nega tuas
splicas.
Contudo, para todos os desejos razoveis, para todos os esforos honestos, Sua benevolncia estabeleceu
uma probabilidade de sucesso na natureza das coisas.
Na inquietude que sentes, nos infortnios que deploras, busca a raiz de onde brotam tua prpria insensatez,
teu prprio orgulho, tua prpria fantasia desvairada.
No murmures, portanto, contra o que Deus dispe, mas corrige, isto sim, teu prprio corao; nem digas para
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ti mesmo: se eu tivesse riqueza, ou poder, ou lazer, seria feliz; porque deves saber que todas estas coisas
levam a seu possuidor suas inconvenincias peculiares.
O homem pobre no enxerga os aborrecimentos e ansiedades dos ricos, no sente as dificuldades e
perplexidades do poder, nem conhece o fastio do cio; por isto lamenta sua prpria sorte.
No invejes a aparncia de felicidade de qualquer homem, pois no conheces suas mgoas secretas.
Estar satisfeito com pouco, eis a grande sabedoria; aquele que aumenta suas riquezas aumenta seus
cuidados; mas a mente satisfeita um tesouro oculto que no atingido pelas calamidades.
No entanto, se no consentes que as sedues da fortuna te roubem a justia, a temperana, a caridade e a
modstia, nem as riquezas te faro infeliz.
Disto podes aprender que a taa da felicidade, pura e sem misturas, no de modo algum uma bebida
destinada ao homem mortal.
O Bem o caminho que Deus lhe ordenou que percorresse, com a felicidade como prmio, ao qual ningum
pode chegar antes de terminar seu percurso para receber sua coroa nas manses da eternidade.
CAPITULO VIII: Da Temperana
A aproximao maior que podes ter da felicidade gozar o dom celestial da compreenso e da sade. Se
possuis estas bnos e desejas preserv-las at a velhice, evita as sedues da Volpia e foge de suas
tentaes.
Quando a Volpia expe seus manjares sobre a mesa, quando seu vinho cintila na taa, quando ela sorri para
ti e te persuade a seres alegre e feliz, esta a hora do perigo; que tua Razo esteja firme e vigilante.
Porque se escutas as palavras da Adversria, s enganado e trado.
A alegria que ela te promete se transforma em loucura, e seus prazeres levam a enfermidades e morte.
Lana os olhos sobre sua mesa, examina seus convivas e observa os que foram seduzidos por seus sorrisos
e ouviram suas tentaes. No esto empobrecidos? No esto enfermios? No esto sem nimo?
Suas breves horas de jocosidade e excessos so seguidas de tediosos dias de dor e desencanto. A Volpia
corrompeu e estragou seus apetites e eles agora no podem gozar de seus mais encantadores atrativos; seus
partidrios converteram-se em suas vtimas; so estas as consequncias justas e naturais que Deus ordenou,
na constituio das coisas, como punio para aqueles que abusam de Seus dons.
Mas quem aquela que com graciosos passos e com atitude airosa caminha pela plancie? A rosa ps seu
rubor em sua face, a doura da manh est em seu hlito; a alegria, temperada de inocncia e modstia,
brilha em seus olhos e ela canta o jbilo de seu corao enquanto caminha.
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Seu nome Sade. Ela filha da disciplina, que a gerou na Temperana, cujos filhos habitam nas montanhas
que se estendem pelas regies setentrionais de San Ton Hoe. Eles so bravos, ativos e vivazes; compartilham
de todas as belezas e virtudes de sua irm.
O vigor circula por seus nervos, a fortaleza est em seus ossos, o trabalho o seu prazer durante todo o dia.
As atividades de seu pai excitam seus apetites, e os repastos de sua me os retemperam.
O combate s paixes seu deleite; dominar hbitos nocivos sua glria. Seus prazeres so moderados e
por isto duradouros; seu repouso breve, porm, profundo e sem perturbaes.
Seu sangue puro, sua mente serena, e o mdico no conhece o caminho de sua casa. Mas a segurana no
habita com os filhos do homem, nem se pode encontrar segurana dentro de seus portais.
Observa como eles so expostos a novos perigos do exterior, enquanto um traidor interno procura entreg-los.
Sua sade, fora, beleza e atividade despertaram o desejo no seio do Amor lascivo.
A paixo libidinosa posta-se em sua alcova, corteja os seus olhares e espalha suas tentaes.
Seus membros so macios e delicados, sua roupagem solta e convidativa, a devassido fala por seus olhos
e em seu seio aconchega-se a Tentao. Ela lhes acena com as mos, procura seduzi-los com sua aparncia
e, pela suavidade de sua lngua, empenha-se em iludi-los.
Ah! foge de suas sedues, fecha os ouvidos a suas palavras de encantamento. Se acatares a languidez de
seu olhar, se ouvires a suavidade de sua voz, se ela te enredar em seus braos, h de te prender com suas
correntes para sempre.
A ela se seguiro a vergonha, a doena, a penria, a preocupao e o arrependimento.
Debilitada pelos folguedos, mimada pela luxria, esgotada pela preguia, a fortaleza abandonar teus
membros e a sade deixar teu corpo. Teus dias sero poucos e sem glria; teus sofrimentos sero muitos e
no encontraro compaixo.
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LIVRO II
DAS PAIXES
CAPTULO I: Da Esperana e do Temor
AS promessas da Esperana so mais doces que a rosa em boto, e muito mais sedutoras em sua
expectativa, mas as ameaas do Medo so uma cruz sobre a qual sacrificada a rosa.
Entretanto, no deixes que a Esperana te enfeitice, nem o Medo te impea de fazer o que correto; assim
estars preparado para enfrentar todos os acontecimentos com a mente equilibrada.
Os terrores, inclusive da morte, no trazem proveito; aquele que no comete o mal nada tem a temer.
Em todos os teus empreendimentos, permite que uma certeza razovel anime teus esforos; se desesperares
do sucesso, no triunfars.
No aterrorizes tua Alma com vos temores, nem deixes que teu corao sucumba por causa dos fantasmas
da imaginao.
Do Medo provm a desgraa; aquele que tem esperana, ajuda a si mesmo.
Assim como o avestruz enterra a cabea quando perseguido, mas esquece o corpo, assim os temores do
covarde o expem ao perigo.
Se acreditas que uma coisa impossvel, teu desnimo assim a faz; mas aquele que persevera predomina
sobre todas as dificuldades.
A esperana v agrada ao corao do insensato; mas aquele que sbio no a persegue.
Em todos os teus desejos, permite que a razo te acompanhe, e no fixes tuas esperanas alm dos limites
da probabilidade; desta forma, o triunfo acompanhar tua empresa, teu corao no ser humilhado pelas
decepes.
CAPITULO II: Da Alegria e da Tristeza
No deixes que teu contentamento seja extravagante a ponto de embriagar tua mente, nem que tua tristeza
seja pesada a ponto de deprimir teu corao. Este mundo no comporta um bem to arrebatador, nem inflige
um mal to grave, que possa te elevar demasiado acima ou te fazer afundar demasiado abaixo do equilbrio
da moderao.
Olha! ali adiante encontra-se a Casa da Alegria. Ela est pintada por fora e parece divertida; podes perceber
isto pelo contnuo rudo de risos e exultao que dela se faz ouvir. Sua proprietria est porta e chama em
voz alta todos os transeuntes; ela canta e clama, e ri sem cessar.
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Ela os convida a entrar e provar os prazeres da vida, dizendo-lhes que em nenhum outro lugar seno ali
podem eles ser encontrados. Mas no cruzes sua porta sem cuidado; no te associes com os que frequentam
essa casa, indevida e imoralmente.
Eles chamam a si mesmos filhos da Alegria, riem e parecem cheios de prazer; mas a loucura e a insensatez
marcam todos os seus atos. Esto de mos dadas com a iniquidade e seus passos conduzem ao mal. Os
perigos os cercam e o poo da destruio se escancara sob seus ps.
Olha agora para o outro lado e contempla, naquele vale ensombrecido pelas rvores, oculta dos olhos
humanos, a Casa da Tristeza. Seu seio se agita com suspiros, sua boca est cheia de lamentaes; ela se
deleita com o tema da misria humana.
Observa os incidentes comuns da vida e chora; a fraqueza e maldade do homem o tema de sua fala. Para
ela, toda a natureza est cheia do mal, cada objeto que contempla est tingido pelo desalento de sua prpria
mente, e a voz do queixume entristece sua morada dia e noite.
No te aproximes de sua cela; seu hlito contagioso; ela destruir os frutos e far murchar as flores que
adoam e adornam o jardim da vida.
Ao evitares a casa da Alegria, no deixes que teus ps te traiam e te levem s cercanias desta outra manso
funesta; mas segue com cuidado o caminho do meio, que te levar por uma subida suave prgula da
Tranquilidade.
Com esta vive a paz, com ela habitam a segurana e o contentamento. Ela alegre mas no desregrada;
sria, porm, no sisuda; v as alegrias e tristezas da vida com olhar firme e equilibrado.
De seu lugar, como de uma elevao, vers a insensatez e o infortnio daqueles que, levados pela
devassido de seu corao, adotaram a morada dos companheiros do gozo e da licenciosa alegria; ou dos
que, contagiados pelo desnimo e pela melancolia, passam os dias lamentando as desgraas e aflies da
vida humana.
Deves olhar para eles de modo compreensivo, e o erro de sua trilha evitar que teus ps percam a direo.
CAPTULO III: Da Clera
Assim como a ventania arranca rvores em sua fria, e deforma a face da natureza; assim como o terremoto
destri cidades inteiras com suas convulses, assim a clera de um homem enfurecido causa danos ao seu
redor. O perigo e a destruio esto em suas mos.
Mas reflete, sem esqueceres tua prpria fraqueza; assim, perdoars as falhas alheias.
No te entregues paixo da Clera; isto como afiares a espada para ferir teu prprio peito ou para matar
teu amigo. Se suportares provocaes leves, isto te ser creditado como sabedoria; se as apagares de tua
mente, teu corao no te reprovar.
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No vs que o homem colrico perde a compreenso? Enquanto estiveres ainda em teu juzo, deixa que a
fria de outro te sirva de lio.
Nada faas quando estiveres exaltado. Por que te lanarias ao mar na violncia de uma tempestade? Se
difcil controlar tua ira, sbio ser evit-la; foge, portanto, de todas as ocasies de sentir clera, ou guarda-te
contra elas sempre que ocorrerem.
O tolo provocado por palavras insolentes, mas o homem sbio delas ri com desprezo. No abrigues a
vingana em teu peito; ela atormentar teu corao e desbotar tuas melhores tendncias.
Estejas sempre mais pronto a perdoar que a retribuir uma ofensa; aquele que fica espreita de uma
oportunidade de vingana, espreita a si mesmo, e atrai o mal sobre sua prpria cabea. A resposta suave para
um homem irado abate seu ardor, como a gua lanada sobre o fogo; de inimigo, ele passar a ser teu amigo.
Reflete sobre quo poucas coisas merecem tua clera e ficars assombrado de que se entregue clera
quem no seja louco. A clera comea sempre com uma insensatez ou fraqueza; mas lembra bem e guarda
esta certeza: a clera raramente acaba sem arrependimento.
A vergonha persegue os passos da insensatez; atrs da clera est sempre o remorso.
CAPITULO IV: Da Piedade
Assim como as flores so espargidas sobre a terra pela mo da primavera, assim como a generosidade do
vero produz com perfeio a abundncia das colheitas; assim tambm o sorriso da piedade derrama
bnos sobre os filhos da desgraa.
Aquele que tem compaixo do outro recomenda-se a si mesmo; aquele que destitudo de piedade no a
merece.
O carniceiro no se detm ante o balido da ovelha, nem o corao do homem cruel se comove com o
sofrimento.
Mas as lgrimas compassivas so mais doces que as gotas de orvalho que caem das rosas no seio da
primavera.
No tapes teus ouvidos contra os lamentos dos pobres, portanto; nem endureas teu corao contra os
flagelos dos inocentes.
Quando o rfo clamar por ti, quando o corao da viva estiver cheio de amargura e ela implorar teu auxlio
com lgrimas de tristeza, tem piedade de sua aflio e estende tua mo aos que no tm quem os ampare.
Quando avistares o maltrapilho que vaga pelas ruas, trmulo de frio, sem teto que o abrigue, deixa que a
generosidade abra teu corao, deixa que as asas da caridade o salvem da morte, para que tua prpria Alma
possa viver.
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Quando o pobre geme em seu leito de enfermo, quando o infeliz se lastima nos horrores do crcere, ou a
cabea encanecida do velho eleva um olhar dbil em busca de piedade; oh, como podes desfrutar de
suprfluos deleites, indiferente a seus apelos, insensvel a seus infortnios?
CAPITULO V: Do Desejo e do Amor
Cuida-te, jovem, cuida-te das sedues da lascvia, e no permitas que a meretriz te induza aos excessos
de seus prazeres.
A loucura do desejo frustrar seus prprios objetivos; da cegueira de seu mpeto sers lanado destruio.
Portanto, no entregues teu corao a suas doces instigaes; nem deixes que teu corao seja escravizado
por suas encantadoras iluses.
A fonte da sade, que de onde procede a torrente do prazer, em breve secar, e toda a fonte de alegria
ficar exaurida. No auge de tua vida, a velhice te alcanar; teu sol declinar na manh de teus dias.
Mas quando a virtude e a modstia iluminam seus encantos, o brilho de uma bela mulher mais radioso que
as estrelas do cu; intil resistir influncia de seu poder. A alvura de seu peito transcende a do lrio; seu
sorriso tem mais delcias que um jardim de rosas.
A inocncia de seu olhar como a da pombinha, a simplicidade e a verdade habitam em seu corao. Os
beijos de sua boca so mais doces que o mel; os perfumes da Arbia exalam de seus lbios.
No feches teu peito ternura do amor; a pureza de sua chama enobrecer teu corao e o suavizar para
receber as mais formosas impresses.
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LIVRO III
DA MULHER
ESCUTA, formosa filha do amor, as instrues da prudncia, e deixa que os preceitos da verdade penetrem
bem fundo em teu corao; assim, os encantos de tua mente daro mais lustro elegncia de tuas formas;
tua beleza, tal como a rosa, guardar sua doura mesmo depois de ter murchado.
Na primavera de tua juventude, na manh de teus dias, quando os homens te olham com deleite, e a natureza
murmura em teus ouvidos o significado de seus olhares, ah! ouve com cautela suas palavras sedutoras,
guarda bem teu corao e no ouve sua voz suave e persuasiva.
Lembra que s a companheira razovel do homem, no a escrava de sua paixo; a finalidade de teu ser no
de simplesmente gratificar seu licencioso desejo, e sim de ajud-lo nas lutas da vida, acalm-lo com tua
ternura e recompensar suas atenes com doce solicitude.
Quem aquela que conquista o corao do homem, que o subjuga ao amor e reina em seu peito?
Olha! Ali vai ela com virginal doura, com a inocncia em sua mente e o pudor em sua face.
Suas mos buscam ocupao, seus ps no se comprazem no perambular ocioso. Veste-se com bem
cuidada simplicidade, alimenta-se com temperana; humildade e mansido so como uma coroa de glria
cingindo sua cabea.
Sua voz msica, a doura do mel flui de seus lbios. O recato est em todas as suas palavras; em suas
respostas h brandura e verdade.
Submisso e obedincia so as lies de sua vida; paz e felicidade so sua recompensa. Adiante de seus
passos caminha a prudncia; a virtude guarda sua mo direita.
Seu olhar revela suavidade e amor; mas a discrio, com seu cetro, repousa em sua fronte. A lngua do
licencioso se cala em sua presena; o respeito sua virtude o mantm calado.
Quando grassa o escndalo e a fama de sua vizinha corre de boca em boca, se a caridade e a boa ndole no
falam por sua boca, o dedo do silncio lhe sela os lbios.
Seu peito a manso da bondade e por isto ela no suspeita de que haja maldade nos outros.
Feliz ser o homem que a tome por esposa; feliz a criana que a chamar de me.
Ela preside a casa e nela h paz; comanda com critrio e obedecida.
Levanta-se pela manh, reflete sobre seus assuntos e indica a cada um os seus deveres.
O cuidado de sua famlia todo o seu deleite e somente a isto ela aplica seu empenho; a elegncia mesclada
frugalidade est presente em sua casa. A prudncia de sua administrao uma honra para seu marido, e
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ela ouve os louvores com secreta alegria.
Ela infunde sabedoria na mente de seus filhos; molda seu comportamento pelo exemplo de sua prpria
bondade. A palavra de sua boca a lei de seus filhos, o movimento de seus olhos leva-os obedincia.
Ela fala e seus serviais voam; ela aponta e a tarefa cumprida; pois a lei do amor est em seus coraes,
sua bondade empresta asas a seus ps.
Na prosperidade no se envaidece, na adversidade cura os ferimentos do destino com pacincia. As
dificuldades de seu esposo so aliviadas por seus conselhos e suavizadas por suas carcias; ele descansa o
corao em seu regao e recebe conforto.
Feliz o homem que a tornou sua esposa; feliz a criana que a chama de me.
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LIVRO IV
DA CONSANGUINIDADE OU DAS RELAES NATURAIS
CAPITULO I: O Esposo
ACEITA para ti uma esposa e obedece os decretos de Deus; toma para ti uma esposa e torna-te um fiel membro da sociedade. Mas examina com cuidado e no te resolvas bruscamente. De tua presente escolha
depende tua felicidade futura.
Se ela perde muito tempo com trajes e adornos; se est enamorada da prpria beleza e se delicia com
louvores; se ri muito e fala alto; se seus ps no permanecem na casa de seu pai e seus olhos ousadamente
passeiam pelo rosto dos homens; ainda que sua beleza seja como o Sol no Armamento do cu, desvia os
olhos de seus encantos, desvia os ps de seu caminho e no permitas que tua mente caia na armadilha das
sedues da imaginao.
Mas quando tiveres encontrado um corao sensvel aliado suavidade de modos, uma mente educada e
uma forma agradvel ao teu gosto, leva-a para habitar em tua casa; ela digna de ser tua amiga, tua
companheira na vida, a esposa de teu corao.
Oh, d-lhe valor, considera-a uma bno que o Cu te enviou; que a bondade de tua conduta te faa querido
ao seu corao. Ela a senhora de tua casa; portanto, trata-a com respeito, para que teus servos a
obedeam.
No te oponhas a seus desejos sem motivo; ela partilha de teus cuidados, faz dela tambm a companheira de
teus prazeres.
Reprova suas faltas com brandura, no exijas sua obedincia com rigor.
Confia teus segredos a seu corao; seus conselhos so sinceros, no sers iludido.
S fiel a seu leito; pois ela a me de teus filhos.
Quando a dor e a enfermidade a assaltarem, que tua ternura suavize sua aflio; um teu olhar de compaixo e
amor aliviar seu sofrimento ou mitigar sua dor, e ser mais valioso que dez mdicos.
Considera a fragilidade de seu sexo, a delicadeza de sua constituio; no sejas severo com sua fraqueza e
lembra-te de tuas prprias imperfeies.
CAPITULO II: O Pai
Tu que s pai, reflete na importncia do que te foi confiado; tens o dever de sustentar o que produziste.
De ti tambm depende se a criana de teu peito ser uma bno ou uma maldio para ti; um membro til,
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ou sem valor algum na comunidade.
Prepara-o desde cedo com a instruo e tempera sua mente com as mximas da verdade. Observa suas
inclinaes, mostra-lhe o caminho certo desde a juventude; no permitas que hbitos maus ganhem fora com
o correr de seus anos. Assim, ele crescer como o cedro na montanha; sua cabea poder ser vista acima
das rvores da floresta.
Um mau filho uma censura a seu pai; mas aquele que age bem honra seus cabelos brancos.
O solo teu, no deixes que fique sem cultivo; a semente que plantares, esta tambm colhers.
Ensina-lhe a obedincia e ele te abenoar; ensina-lhe a modstia, e ele no se envergonhar. Ensina-lhe a
gratido e ele receber benefcios; ensina-lhe a caridade e ele ganhar amor.
Ensina-lhe a temperana e ele ter sade; ensina-lhe a prudncia, e a fortuna lhe advir. Ensina-lhe a justia
e ele ser honrado pelo mundo; ensina-lhe sinceridade e seu corao no te reprovar.
Ensina-lhe a diligncia e suas riquezas aumentaro; ensina-lhe a benevolncia e sua mente ser enaltecida.
Ensina-lhe a cincia e sua vida ser til; ensina-lhe a religio e sua morte ser feliz.
CAPITULO III: O Filho
Que o homem aprenda a sabedoria com as criaturas de Deus, e aplique a si mesmo as instrues que delas
provm.
Vai ao deserto, meu filho; observa o filhote da cegonha e deixa que fale ao teu corao; ele carrega nas asas
seu pai envelhecido, acomoda-o em lugar seguro e lhe traz alimento.
A piedade de um filho mais doce que o incenso da Prsia que se oferece ao Sol; sim, mais delicioso que os
odores que se evolam de um campo de especiarias rabes por fora do vento soprado do oeste.
S, pois, grato a teu pai, pois ele te deu a vida; e tambm a tua me, pois ela te deu sustento.
Ouve as palavras de sua boca, pois so para teu bem; d ouvidos a seus conselhos, pois eles procedem do
amor.
Ele velou pelo teu bem-estar, trabalhou para teu conforto; honra portanto seus anos, e no permitas que seus
cabelos brancos sejam tratados com irreverncia.
No esqueas de tua infncia e seu desamparo, nem da petulncia de tua juventude, e s indulgente para
com as enfermidades de teus pais envelhecidos; ajuda-os e sustenta-os no declnio da vida.
Assim, suas cabeas encanecidas iro para o tmulo em paz; e teus prprios filhos, reverenciando teu
exemplo, retribuiro tua piedade com amor filial.
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CAPTULO IV: Os Irmos
Sois filhos do mesmo pai, sustentados por seus cuidados; o peito da mesma me vos nutriu.
Permite que os laos do afeto, portanto, te unam a teus irmos, para que a paz e a felicidade habitem na casa
de teu pai.
E quando vos separardes neste mundo, lembra o elo que vos une em amor e unidade; no concedas maior
preferncia a um estranho que a teu prprio sangue. Se teu irmo est na adversidade, socorre-o; se tua irm
est em dificuldades, no a abandones.
Assim a fortuna de teu pai contribuir para sustentar toda a tua raa; e seus cuidados se perpetuaro entre
vs, em vosso mtuo amor.
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LIVRO V
DA PROVIDNCIA, OU DAS DIFERENAS ACIDENTAIS ENTRE OS HOMENS
CAPITULO I: Sbios e Ignorantes
AS alegrias da compreenso so os tesouros de Deus; Ele assinala a cada um sua parte, na medida que Lhe parea melhor.
Dotou-te Ele de sabedoria? Iluminou tua mente com o conhecimento da verdade? Transmite-a ao ignorante,
para sua instruo; comunica-a ao sbio, para teu prprio progresso.
A verdadeira sabedoria presume menos que a insensatez. O homem sbio frequentemente duvida e muda de
ideia; o tolo obstinado e no duvida; ele conhece todas as coisas menos sua prpria ignorncia.
O orgulho da mente vazia uma abominao; a tagarelice a insensatez do desatino; entretanto, uma parte
da sabedoria est em suportar com pacincia estas impertinncias e ter piedade de seus disparates.
No entanto, no fiques cheio de tua prpria vaidade, nem te vanglories de tua compreenso superior; o mais
lmpido conhecimento humano no passa de cegueira e loucura.
O homem sbio sente suas imperfeies e humilde; em vo se esfora por obter sua prpria aprovao;
mas o tolo olha o raso regato de sua prpria mente e se compraz nos seixos que v ao fundo; ele os apanha e
os exibe como se fossem prolas; deleita-se com o aplauso de seus semelhantes.
Ele se vangloria de feitos que no tm valor, mas daquilo que uma vergonha ignorar ele nada sabe. Mesmo
nas sendas da sabedoria ele persegue a insensatez; vergonha e desapontamento so a recompensa de seu
esforo.
Mas o homem sbio cultiva sua mente com os conhecimentos; seu prazer o progresso das artes, e sua
utilidade para a sociedade coroa-o de honrarias.
No obstante, alcanar a virtude o que ele considera a mais elevada sabedoria, e a cincia da felicidade o
estudo de sua prpria vida.
CAPTULO II: Ricos e Pobres
O homem a quem Deus concedeu riquezas e outorgou uma inteligncia que as empregue corretamente um
ser especialmente favorecido e de elevada distino.
Ele contempla sua riqueza com prazer, porque esta lhe oferece meios de fazer o bem. Protege os pobres
desamparados; no permite que os poderosos oprimam os fracos.
Procura quem possa merecer sua compaixo, informa-se sobre suas necessidades, e as alivia com critrio e
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sem ostentao.
Ele ajuda e recompensa o mrito; estimula o talento e liberalmente promove todo empenho til. Realiza
grandes obras, seu pas enriquece, o trabalhador encontra emprego; ele forja novos planos e as artes se
desenvolvem. Considera que o suprfluo em sua mesa pertence aos pobres da vizinhana, e no os defrauda.
A benevolncia de sua mente no encontra obstculo em sua fortuna; por isto ele se regozija com suas
riquezas e sua alegria inocente.
Mas desgraado daquele que acumula riquezas em abundncia e sozinho se rejubila por sua posse; que faz
crispar-se o rosto do pobre sem considerar o suor de seu rosto.
Ele viceja na opresso sem qualquer sentimento; a runa de seu prximo no o perturba. Ele bebe as lgrimas
do rfo como se fossem leite; os gritos lamentosos da viva so msica para seus ouvidos. Seu corao est
endurecido pelo amor da riqueza; nenhuma dor ou pena lhe causa impresso.
Mas a maldio da iniquidade o persegue; ele vive em contnuo temor; a ansiedade de sua mente, e os
desejos gananciosos de sua prpria Alma nele se vingam, pelas calamidades que levou aos demais. Ah, que
so os sofrimentos da pobreza comparados com o que ri o corao deste homem!
Que o homem pobre se conforte, sim, que se rejubile; pois tem muitos motivos. Ele senta-se para comer seu
bocado em paz, sua mesa no est apinhada de aduladores e devoradores.
No embaraado por uma multido de dependentes, nem perturbado pelos clamores das solicitaes.
Carecendo dos petiscos dos ricos, ele escapa de seus desassossegos.
No saboroso o po que ele come? No agradvel sua sede a gua que bebe? Sim, mais deliciosa
esta gua que as mais caras poes dos luxuriosos.
Seu trabalho conserva-o saudvel e lhe proporciona um repouso que no conhece o leito macio do indolente.
Ele restringe seus desejos com humildade; a calma do contentamento mais doce para sua Alma que todas
as aquisies da riqueza e da pompa.
Que o rico, portanto, no se vanglorie de suas posses, nem o pobre se entregue depresso por sua
pobreza; pois a providncia de Deus concede a ambos a felicidade.
CAPTULO III: Senhores e Serviais
No te aflijas, homem, por teu estado de servial; ele da vontade de Deus e oferece muitas vantagens;
afasta de ti os cuidados e exigncias da vida.
A honra de um servidor sua fidelidade; suas maiores virtudes so a submisso e a obedincia.
S paciente, portanto, com as queixas de teu senhor; quando te repreender, no lhe retruques; o silncio de
tua resignao no ser esquecido.
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S um estudioso dos interesses dele, diligente em seus assuntos e fiel confiana que deposita em ti. Teu
tempo e teu trabalho lhe pertencem; no o defraudes, pois ele te paga por ambos.
E tu, que s o amo, s justo com teu servidor, se dele esperas fidelidade; e s razovel em tuas ordens, se
desejas pronta obedincia. O esprito do homem est nele; a severidade e o rigor podem suscitar o medo,
mas jamais inspiraro seu amor.
Combina a bondade com a censura e argumenta com autoridade. Assim, tuas admoestaes encontraro eco
em seu corao e seu dever se tornar um prazer.
Ele te servir fielmente por causa da gratido; ele te obedecer alegremente pelo princpio do amor; e tu, em
troca, no deixes de dar diligncia e fidelidade a devida recompensa.
CAPTULO IV: Reis e Sditos
tu! favorito do Cu, a quem os filhos dos homens, teus iguais, concordaram em elevar ao poder soberano e
te colocaram acima deles como governante; considera as finalidades e a importncia do que te confiaram,
muito mais que a dignidade e a altura de tua posio.
Teus atavios so de prpura e ests sentado num trono; a coroa da majestade cinge tuas tmporas, o cetro do
poder est em tuas mos; mas estas insgnias no foram dadas para ti mesmo, e sim para o bem de teu reino.
A glria de um rei a felicidade de seu povo; seu poder e domnio repousam no corao de seus sditos.
A mente de um grande prncipe enaltecida pela grandiosidade de sua posio; ele resolve assuntos
elevados e busca o que seja digno de seu poder.
Rene os sbios de seu reino, consulta-os com liberdade e ouve a opinio de todos.
Encara seu povo com discernimento, descobre as capacidades dos homens e os emprega de acordo com
seus mritos.
Seus magistrados so justos, seus ministros sbios e o favorito de seu corao no o ilude.
Ele aprova as artes e estas florescem; as cincias progridem com o cultivo de suas mos.
Ele se deleita com os sditos cultos e os criativos; desperta em seu peito a emulao e a glria de seu reino
enaltecida por seus labores.
O esprito do mercador que amplia seu comrcio; a habilidade do fazendeiro que enriquece suas terras; a
criatividade do artista, o progresso do sbio; a todos estes ele honra com seu favor ou recompensa com sua
generosidade.
Ele implanta novas colnias, constri embarcaes slidas, abre os rios para maior convenincia, estabelece
portos para maior segurana; seu povo abunda em riquezas e a fora de seu reino aumenta.
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Ele estabelece seus estatutos com equidade e sabedoria, seus sditos usufruem dos frutos de seu trabalho,
com segurana; e sua felicidade consiste na observncia da lei.
Ele fundamenta seus julgamentos nos princpios da misericrdia; mas estrito e imparcial na punio dos
culpados. Seus ouvidos esto abertos s reclamaes de seus sditos; ele segura a mo de seus opressores
e os livra da tirania.
Seu povo, portanto, nele v um pai, com reverncia e amor; o povo o considera o guardio de tudo o que
desfruta. Sua afeio por ele gera em seu peito o amor pelo que pblico; a segurana da felicidade de todos
o objeto de seus cuidados.
Nenhum murmrio contra ele surge no corao dos sditos; as maquinaes de seus inimigos no pem o
Estado em perigo.
Seus sditos so fiis e firmes na defesa de sua causa; postam-se em atitude de defesa como um muro de
bronze; o exrcito dos tiranos foge deles como palha ao vento.
Paz e segurana pairam como uma bno sobre as casas dos cidados; glria e poder cercam seu trono
para sempre.
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LIVRO VI
DOS DEVERES SOCIAIS
CAPITULO I: Da Benevolncia
QUANDO considerares tuas necessidades, quando contemplares tuas imperfeies, reconhece a bondade de Deus, filho da humanidade! Ele te honrou com a razo, concedeu-te o dom da fala, colocou-te na sociedade
para receber e dar ajuda, mutuamente, e cumprir recprocas obrigaes.
Teu alimento, tuas roupas, a comodidade de tua moradia; a proteo contra os danos, o gozo dos confortos e
prazeres da vida; tudo isto deves ajuda de outros e no poderias usufruir disto seno nos laos da
sociedade. teu dever, portanto, ser amigo da humanidade, como de teu interesse que o homem seja teu
amigo.
Assim como a rosa exala a doura de sua prpria natureza, assim o corao do homem benevolente produz
boas obras. Ele se deleita com a paz e tranquilidade de seu prprio corao e se regozija com a felicidade e
prosperidade de seu prximo.
No d ouvidos calnia; as fraquezas e os erros dos homens provocam dor em seu corao. Seu desejo
fazer o bem, e busca as ocasies para faz-lo; ao remover a opresso de um outro, ele alivia a si mesmo.
Na amplido de sua mente ele abrange, com sua sabedoria, a felicidade de todos os homens; na
generosidade de seu corao ele se esfora em promov-la.
CAPITULO II: Da Justia
A paz social depende da justia; a felicidade do indivduo depende da certeza de gozar em paz as suas
posses. Conserva os desejos de teu corao, portanto, nos limites da moderao; deixa que a mo da justia
os mantenha na direo certa.
No lances olhos invejosos aos bens de teu vizinho; que tudo que lhe pertence seja sagrado para tua mo.
No permitas que a tentao te seduza, que qualquer provocao te incite a levantar a mo causando risco de
vida. No difames o carter do teu prximo; no levantes falso testemunho contra ele.
No corrompas seu servo para que o engane ou abandone e, quanto esposa de seu corao, no a tentes
ao pecado! Isto seria uma dor em seu corao que no poderias aliviar; um dano em sua vida que nenhuma
compensao poderia reparar.
Em teus negcios com os homens, s justo e imparcial, e age com eles como gostarias que agissem contigo.
S leal sua confiana, no enganes o homem que confiou em ti; estejas certo de que, aos olhos de Deus,
menos malfico roubar que trair.
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No oprimas os pobres, nem roubes do trabalhador o seu emprego. Quando venderes algo com a inteno de
lucro, ouve os sussurros de tua conscincia e fica satisfeito com moderao; nem tires da ignorncia do
comprador qualquer vantagem.
Paga as tuas dvidas, pois aquele que te deu crdito confiou em tua honra; tirar dele o que lhe cabe
mesquinho e injusto.
Finalmente, filho da sociedade! examina teu corao, pede o auxlio da memria; se em qualquer destas
transaes perceberes que cometeste uma transgresso, que a tristeza e a vergonha te advenham e faas a
reparao imediata, ao mximo que estiver ao teu alcance.
CAPTULO III: Da Caridade
Feliz o homem que plantou em seu peito as sementes da benevolncia; pois elas produziro caridade e amor.
Da fonte de seu corao fluiro rios de bondade, que transbordaro para o benefcio da humanidade.
Ele socorre os pobres em suas dificuldades e se regozija em incrementar a prosperidade de todos. No
censura seu vizinho, no cr em histrias de inveja e maledicncia, nem repete suas calnias.
Perdoa as injrias dos homens, as apaga de sua lembrana; vingana e malcia no encontram abrigo em seu
corao. Ele no paga o mal com o mal; no odeia sequer seus inimigos, mas perdoa sua injustia com
amistosa advertncia.
As dores e ansiedades dos homens suscitam sua compaixo; ele se esfora para aliviar o peso de suas
desgraas, e o prazer de ser bem-sucedido recompensa seu labor.
Ele acalma a fria, apazgua as querelas de homens irados, e impede os estragos da luta e da animosidade.
Promove em sua vizinhana a paz e a boa vontade; seu nome repetido com bnos e louvores.
CAPTULO IV: Da Gratido
Assim como os ramos da rvore devolvem a seiva raiz de onde ela proveio; como o rio derrama sua corrente
no mar de onde proveio sua fonte, assim o corao do homem agradecido se deleita em retribuir o benefcio
recebido.
Ele reconhece sua obrigao com alegria; olha seu benfeitor com amor e estima. Se a retribuio no est em
seu poder, ele nutre a lembrana do benefcio em seu peito, com bondade, e no o esquece por toda a sua
vida.
A mo do homem generoso como as nuvens do cu, que, regando a terra, produzem frutos, ervas e flores;
mas o corao do ingrato como o deserto cuja areia engole com avidez as flores que caem e as enterra em
seu seio sem nada produzir.
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No invejes teu benfeitor, nem te esforces por ocultar o benefcio que te prestou; pois embora seja melhor dar
que receber, embora a generosidade desperte admirao, a humildade da gratido toca o corao e
agradvel tanto aos olhos de Deus como dos homens.
Mas guarda-te de receber um favor das mos do orgulhoso; no devas coisa alguma ao egosta e ao avaro; a
vaidade do orgulho te expor vergonha, a cobia do usurrio jamais ser satisfeita.
CAPTULO V: Da Sinceridade
tu que ests enamorado das belezas da Verdade, e fixaste teu corao na simplicidade de seus encantos,
apega-te a tua fidelidade e no a abandones; a constncia de tua virtude te coroar de glria.
A lngua do homem sincero tem razes em seu corao; a hipocrisia e a falsidade no encontram lugar em
suas palavras. Ele se ruboriza ante a mentira e se confunde; mas, ao falar a verdade, seu olhar se mantm
firme.
Ele porta como homem a dignidade de seu carter e se recusa a curvar-se s artes da hipocrisia. Tem
confiana em si mesmo; nunca se embaraa; tem coragem suficiente para dizer a verdade, mas a mentira lhe
causa temor.
Coloca-se acima da mesquinha dissimulao; estuda o que correto e fala com discrio. Aconselha com
amizade; reprova com liberdade, e tudo que promete certamente ser cumprido.
Mas o corao do hipcrita fica oculto em seu peito; ele disfara suas palavras com a aparncia da verdade,
enquanto o propsito de sua vida iludir. Ele ri na dor, chora na alegria; as palavras de sua boca no tm
interpretao.
Age na escurido como a toupeira e imagina estar seguro; mas sai por engano para a luz e fica exposto, com
a lama sobre sua cabea. Ele passa os dias em perptuo tormento; sua lngua e seu corao vivem em
contradio. Procura a aparncia de homem correto e se envolve nos pensamentos de sua astcia.
insensato, insensato! Os esforos que fazes para ocultar o que s so muito mais penosos do que os
esforos que terias de fazer para seres o que desejas aparentar; os filhos da sabedoria escarnecero de tua
astcia quando, certo de estares seguro, teu disfarce for desfeito e o dedo do ridculo te apontar com
desprezo.
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LIVRO VII
DA RELIGIO
S existe um Deus, autor, criador e dirigente do mundo, todo-poderoso, eterno e incompreensvel.
O Sol no Deus, embora seja Sua imagem mais nobre; ele ilumina o mundo com sua radiosidade, seu calor
d vida aos produtos da terra; admira-o como criatura e instrumento de Deus, mas no o reverencies.
quele que supremo, infinitamente sbio e benvolo, e s a Ele, pertencem a adorao, a reverncia, a
ao de graas e os louvores.
Ele estendeu o cu com Suas mos e inscreveu com Seu dedo o curso das estrelas. Imps limites ao oceano,
que este no pode transgredir; e disse aos ventos tempestuosos: acalmai-vos.
Ele sacode a Terra e as naes tremem; lana Seus raios e os maus se apavoram. Convoca mundos com a
palavra de Sua boca.
A providncia de Deus vista em todas as Suas obras; Ele rege e dirige com infinita sabedoria. Ele instituiu
leis para governar o mundo; variou-as de maneira maravilhosa em todos os aspectos e cada uma, por sua
natureza, conforma-se Sua vontade.
Nas profundezas de Sua mente, Ele trabalha com perfeito Conhecimento; os segredos do futuro esto abertos
diante Dele. Os pensamentos de teu corao esto desnudos diante de Sua vista; Ele conhece tuas
resolues antes de serem tomadas.
Com respeito Sua prescincia, nada incerto; com respeito Sua providncia, nada acidental.
Maravilhoso Ele em todos os Seus caminhos; Seus propsitos so inescrutveis; a natureza de Seu
conhecimento transcende a tua concepo.
Presta Sua sabedoria, portanto, toda honra e venerao; curva-te em humilde e submissa obedincia Sua
suprema vontade. Deus benigno e cheio de misericrdia; Ele criou o mundo com bondade e amor. Sua
bondade se evidencia em todas as Suas obras; Ele a fonte da excelncia, o centro da perfeio.
As criaturas que Sua mo criou declaram Sua bondade, e seu regozijo canta em Seu louvor; Ele as veste de
beleza, sustenta-as com alimento, preserva-as com prazer de gerao em gerao.
Se elevamos os olhos ao cu, Sua glria brilha diante de ns; se voltamos os olhos para a terra, ela est cheia
de Sua benignidade; as colinas e os vales se rejubilam e cantam; campos, rios e florestas ressoam em louvor
a Ele.
Mas tu, homem! foste distinguido com especial favor; Ele te enalteceu acima de todas as criaturas.
Concedeu-te a razo, para manteres teu domnio; dotou-te de linguagem, para aperfeioar tua sociedade; e
elevou tua mente com os poderes da meditao, para que possas contemplar e adorar Suas inimitveis
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perfeies.
Nas leis que Ele ordenou para regular tua vida, to amorosamente combinou teu dever com tua natureza que
a obedincia a Seus preceitos tua felicidade.
Louva Sua bondade com cnticos de agradecimento e medita em silncio sobre as maravilhas de Seu amor;
que teu corao transborde de gratido e reconhecimento, que as palavras de tua boca falem de louvor e
adorao, que as aes de tua vida mostrem teu amor por Sua lei.
Deus justo e certo e julgar a Terra com equidade e verdade. Tendo estabelecido Suas leis com bondade e
misericrdia, no punir Ele seus transgressores?
No penses, homem atrevido, que por demorar-se teu castigo tenha se enfraquecido o brao de Deus; nem te
iludas com a esperana de que Ele deixar passar tuas aes. Seu olhar penetra os segredos de cada
corao e Ele os registra para sempre; a Ele no importam as pessoas ou a posio dos homens.
Os importantes e os humildes, os ricos e os pobres, os sbios e os ignorantes, quando suas Almas tiverem se
livrado dos incmodos grilhes desta vida mortal, logo recebero da Grande Lei de Deus a justa e eterna
compensao, segundo suas obras.
Ento o mau aprender e far compensao no decurso do tempo; mas o corao do justo se rejubilar em
Suas recompensas.
Em todos os dias de tua vida, portanto, respeita teu Deus, e palmilha os caminhos que Ele abriu diante de ti.
Deixa que a prudncia te aconselhe, que a temperana te refreie, que a justia guie tua mo, que a
benevolncia aquea teu corao e a gratido ao cu te inspire com devoo. Isto te dar felicidade em teu
estado presente e futuro e te conduzir s manses da eterna felicidade no paraso de Deus.
Essa a verdadeira Economia da Vida Humana.
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LIVRO VIII
CONSIDERAES GERAIS SOBRE O HOMEM
CAPITULO I: Da Estrutura do Corpo Humano
IGNORANTE e inferior que s, homem! Humilde como deverias ser, filho do p! queres elevar teus pensamentos at a infinita sabedoria? Desejas ver a onipotncia estendida tua frente? Contempla tua
prpria estrutura.
Admirvel e maravilhosamente foste feito; louva pois teu Criador com admirao e regozija-te diante Dele com
reverncia.
Por que motivo serias tu a nica criatura ereta entre as demais, seno para contemplar Suas obras! Por que
deverias contempl-las, seno para mostrar tua admirao? Por que deverias admir-las, seno para que
reverenciasses Aquele que as criou e tambm a ti?
Por que motivo em ti repousa a conscincia? E de onde vem ela a ti? No est na carne o pensar, no est
nos ossos o raciocnio. O leo ignora que os vermes o devoraro; o boi no percebe que alimentado para
ser levado ao matadouro.
Existe algo que acrescentado a ti, diferente daquilo que podes ver; algo anima o barro de teu corpo e
superior a tudo o que afeta teus sentidos. Que algo este?
Teu corpo continua a ser matria perfeita aps ter este ALGO partido; portanto, isso no faz parte do corpo;
imaterial e, logo, eterno; livre para agir e, portanto, responsvel por suas aes.
Conhece o asno a utilidade do alimento s porque seus dentes mastigam as ervas? Anda o crocodilo ereto por
ter a espinha to reta quanto a tua?
Deus te formou, assim como formou essas criaturas; Ele te formou depois delas; superioridade e domnio
sobre todas elas te foram concedidos, e com Seu prprio alento Ele te comunicou tua essncia consciente.
Conhece-te a ti mesmo; s o orgulho de Sua criao, o elo entre divindade e matria; contempla uma parte do
prprio Deus em teu interior; lembra tua prpria dignidade e no ouses descer at o mal e a baixeza.
Quem implantou o terror nos dentes da serpente? Quem concedeu ao cavalo o mpeto do trovo? Foi Ele
quem o fez e te instruiu a esmagar a serpente com os ps e domar o cavalo para teus propsitos.
CAPITULO II: Do Uso dos Sentidos
No te vanglories de teu corpo porque foi formado primeiro; nem de tua mente porque nela reside tua Alma.
No ser o dono da casa mais honorvel que suas paredes?
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O solo deve ser trabalhado antes que nele se semeie o gro; o oleiro deve construir seu forno antes que
possa fabricar sua loua.
Assim como o alento do cu diz s guas do oceano: "desta forma rolaro tuas vagas, e de nenhuma outra;
at esta altura e a nenhuma outra elevaro elas sua fria", deixa que tua Alma, homem, impulsione e dirija
tua carne; deixa, pois, que ela reprima teus mpetos. Tua Alma a rainha de teu corpo; no permitas que seus
sditos se rebelem contra ela.
Teu corpo como o orbe da terra; teus ossos, os pilares que o sustentam em sua base.
Assim como o oceano faz nascer as fontes, cujas guas de novo retornam ao seu seio atravs dos rios, assim
flui tua fora vital do corao para o exterior, e de novo retorna ao seu lugar.
No mantm ambos o seu curso eternamente? Eis que o mesmo Deus os criou e ordenou.
No constitui teu nariz um canal para os perfumes? No tua boca o caminho para as iguarias delicadas?
Aprende, entretanto, que os perfumes exalados por muito tempo se tornam ofensivos, e que os manjares
arrunam o apetite a que agradam. No so teus olhos as sentinelas avanadas que vigiam por ti? Contudo,
com que frequncia no sabem distinguir a verdade do erro?
Deixa que tua Alma predomine, ensina teu esprito a estar atento sua obra; assim, esses ministros sero
sempre transmissores de vida para ti.
No tua mo um milagre? Encontras na criao algo que lhe seja semelhante? Por que te seria concedida,
seno para que pudesses estend-la para amparar teu irmo?
Por que, entre todos os seres vivos, s o nico dotado da capacidade de ruborizar-se? O mundo poder ler
tua vergonha em tua face; portanto, nada faas que seja vergonhoso.
Temor e consternao, por que roubam de tuas feies seu rseo esplendor? Evita a culpa, e sabers que o
medo est abaixo de ti, e que a consternao indigna de um homem.
Por que somente a ti falam sombras, nas vises de tua mente? Presta-lhes reverncia; deves saber que elas
procedem do alto.
Somente tu, homem, s capaz de falar. Maravilha-te ante esta gloriosa prerrogativa; retribui a Ele que a
concedeu o louvor racional e agradvel, ensinando a teus filhos a sabedoria, instruindo na piedade o fruto de
tuas entranhas.
CAPITULO III: Da AIma do Homem, sua Origem e seus Afetos
homem! as bnos de tua parte exterior so a sade, o vigor e a proporo. A maior delas a sade. A
sade para o corpo o que a honestidade para a Alma.
O fato de que tens uma Alma, entre todos os conhecimentos o mais certo, de todas as verdades a mais
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lmpida. S humilde e agradecido por ela. No tentes senti-la perfeitamente, mas comunga com ela.
Pensamento, compreenso, raciocnio, vontade; no chames de Alma a tais coisas! Elas so aes da Alma,
mas no sua essncia. Busca a Alma atravs de suas faculdades, conhece-a por suas virtudes, pois so mais
numerosas que os cabelos em tua cabea; por elas no podem ser contadas as estrelas do cu.
Por acaso no endurece o Sol o barro e tambm amolece a cera? Assim como o mesmo Sol causa as duas
coisas, a mesma Alma pode desejar coisas contrrias. Assim como a Lua conserva sua natureza ainda que as
trevas se estendam sobre sua face como uma cortina, tambm a Alma permanece perfeita, mesmo encerrada
no peito de um insensato.
Ela imortal; imutvel; uma no todo. A sade chama-a para que mostre seus encantos, a diligncia unge-a
com o leo da sabedoria. Ela viver depois de ti; no deves pensar que nasceu contigo. Foi instituda para tua
carne e formada junto com tua mente.
A justia no permitiu que ela te fosse dada cheia de exaltadas virtudes; a misericrdia no permitiu que ela te
fosse entregue deformada pelos vcios. Isto cabe a ti e deves responder por isto com tua conscincia exterior.
No deves supor que a morte possa te salvar da compensao; no penses que a corrupo possa te
esconder de inquisies. Aquele que te formou no sabes de qu, julgas que no poder tirar-te de novo
daquilo de que nada conheces?
No percebe o galo quando chega a meia-noite? No eleva ele sua voz para te dizer que j amanhece o dia?
No conhece o co o passo de seu dono? No corre o cabrito ferido para as ervas que lhe traro a cura?
Contudo, quando morrem, sua Alma no o sabe; somente tua Alma sobreviver com mente e conscincia.
No invejes os animais por seus sentidos mais apurados que os teus; aprende que a vantagem est, no em
possuir boas coisas, mas, em saber utiliz-las. Se tivesses o ouvido do veado, se fossem teus olhos to fortes
e penetrantes como os da guia, se igualasses o perdigueiro em olfato, se pudesse o macaco emprestar-te
seu paladar, a tartaruga seu tato, de que te serviria tudo isto sem a razo? No sucumbem todos eles e seus
iguais? Possui algum deles o dom da fala? Pode um deles dizer-te por que faz o que faz?
Os lbios do sbio so como as portas de uma cmara; nem bem so abertas e seus tesouros se espalham
diante de ti. Como rvores de ouro em um campo de prata so as sbias sentenas pronunciadas no devido
tempo.
Podes pensar com suficiente grandeza em tua Alma? H louvores suficientes para ela? A Alma a essncia
Daquele que a concedeu. Guarda a lembrana de sua dignidade para sempre; nunca esqueas o grande
talento confiado tua guarda.
Tudo que possa fazer o bem tambm pode fazer o mal; cuida para que dirijas seu curso para a virtude.
No penses que podes perder a Alma na multido; no suponhas que podes ocult-la em teu armrio. A ao
seu deleite e ela no se deixar afastar da ao.
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Seu movimento perptuo; seus esforos so universais; seu potencial de ao no pode ser suprimido. Se
estiver na mais longnqua parte da Terra, ela o encontrar; se estiver alm da regio das estrelas, seu olhar o
descobrir. A busca sua delcia. Assim como o homem que caminha pelo deserto em busca de gua, assim
a Alma tem sede de conhecimento.
Tal como a espada na mo de um louco a Alma para aquele que carece de discernimento. A finalidade de
sua busca a verdade; seus meios de encontr-la so a razo e a experincia. Mas no sero estas coisas
frgeis, incertas e falaciosas? Como ento alcanar a verdade? A opinio geral no prova da verdade; pois a
maioria dos homens ignorante.
A percepo de ti mesmo, o conhecimento Daquele que te criou, o sentimento de adorao que sentes por
Ele, no est tudo isto claro a teus olhos? Responde: que mais existe que precises saber?
CAPITULO IV: Do Perodo e Utilizao da Vida Humana
A vida para o corao do homem o que o sol da manh para a cotovia, a sombra do entardecer para a
coruja, o mel para a abelha, a carcaa para o abutre.
A vida, ainda que brilhante, no ofusca; embora obscura, no desagrada; ainda que doce, no enfastia;
embora se corrompa, no provoca averso; no entanto, quem conhece seu verdadeiro valor?
Aprende a estimar a vida corretamente; ento estars prximo do pinculo da sabedoria.
No penses como os tolos, que dizem nada haver de mais valioso; nem acredites nos pretensos sbios que
afirmam que deves conden-la. O amor no existe para si mesmo, mas para o bem que possa fazer a outros.
O ouro no pode comprar a vida para ti, nem uma mina de diamantes pode trazer de volta o momento que
dela perdeste. Emprega o momento seguinte com virtude.
No deves dizer que seria melhor se no tivesses nascido; ou que, tendo nascido, teria sido melhor morrer
cedo; nem ouses perguntar ao Criador "que mal haveria se eu no existisse?" O bem est a teu alcance, e
mesmo que tua pergunta for justa, eis que te condena.
Engoliria a isca o peixe se soubesse do anzol nela escondido? Cairia o leo na emboscada se soubesse que
fora preparada para ele? Da mesma forma, fosse a Alma perecer com este barro, o homem no desejaria
viver, nem um Deus misericordioso o teria criado; reconhece, portanto, que vivers muitas e muitas vezes.
Tal como o pssaro encerrado na gaiola antes de v-la, que no lacera a carne contra suas grades, assim
tambm no deveras tentar fugir inutilmente do estado em que te encontras; aceita o que te foi atribudo e
contenta-te com isto.
Embora os caminhos da vida no sejam planos, no so totalmente penosos. Acomoda-te a tudo e onde
perceberes menos aparncias do mal, suspeita do maior perigo. Quando teu leito de palha, dormes com
segurana. Mas quando repousares sobre rosas, cuida-te dos espinhos!
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Uma morte nobre melhor que uma vida de maldades; esfora-te, portanto, para viveres tanto quanto deves e
no quanto queiras. Enquanto tua vida tiver mais valor para os outros do que tua morte, ser teu dever
preserv-la.
No lamentes como o insensato o pouco tempo que tens; lembra-te que teus cuidados diminuem medida
que diminui teu tempo de vida. Se subtrais de tua vida as partes inteis, que resta? Se subtrais teu tempo de
infncia, as horas em que dormiste, as horas vazias de pensamentos, os dias de enfermidade, mesmo na tua
plenitude v como foram poucas as estaes que enumeraste.
Aquele que te deu a bno da vida, encurtou-a para que mais valiosa fosse. De que te serviria uma vida mais
longa? Desejarias mais oportunidade para adquirires mais vcios? Quanto ao bem, no ficar Aquele que
limitou teu perodo de vida satisfeito com seus frutos?
Para que, filho da tristeza, queres viver mais? Para respirar, comer, ver o mundo? Tudo isto j fizeste. No
ser tediosa a repetio frequente? No ser suprflua? Queres aumentar tua sabedoria e virtude? Ah! que s
tu para saber? E quem te ensinar? Empregas mal o pouco que tens; no te atrevas, portanto, a lamentar
porque mais no te dado.
No te aflijas com a falta de conhecimento; a oportunidade no perece contigo na morte. S honesto aqui e
sers sbio depois.
No perguntes ao corvo: Por que contas sete vezes a idade de teu senhor? Ou para o cervo: por que teus
olhos vero minha descendncia por cem geraes? Podero estas criaturas ser comparadas a ti no abuso da
vida? So elas revoltosas? So cruis? So ingratas? Antes, aprende com elas que a inocncia da vida e a
simplicidade de modos so os caminhos que levam a uma boa velhice. Sabes como utilizar a vida melhor que
elas? Ento ela te bastar menor.
O homem que se atreve a escravizar o mundo, sabendo que no poder usufruir de sua tirania seno por um
momento, a que aspiraria se fosse imortal?
Tens vida suficiente, mas no a consideras; no ests carecendo dela, homem! Pois s prdigo,
desperdiando-a como se tivesses mais do que o suficiente! Fica sabendo que no a abundncia que cria a
riqueza; a economia.
O sbio continua a viver desde seu primeiro perodo; o tolo est sempre comeando. No labutes para obter
riquezas primeiro, pensando que depois delas gozars. Aquele que negligencia a hora presente, joga fora tudo
quanto possui.
Assim como a flecha atravessa o corao do guerreiro que nem percebe que ela vinha em seu encalo, assim
tambm a vida ser tirada do negligente antes mesmo de ele saber que a tem.
Que pois a vida, para que o homem tanto a deseje? Que o alento, para que o ambicione?
No a vida um palco de iluses, uma srie de infortnios, uma busca de males ligados entre si por todos os
lados? No incio est a ignorncia, no meio a dor e no fim a tristeza.
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Como uma onda empurra a outra at que ambas sejam envolvidas pela que vem atrs, assim tambm o mal
se sucede ao mal na vida do homem; o presente e maior engole o menor e passado. Nossos terrores so
males reais; nossas esperanas voltam-se para improbabilidades.
Os insensatos temem como mortais e desejam como se imortais fossem!
Que parte da vida gostaramos que permanecesse conosco? A juventude? Podemos amar os desmandos, a
licenciosidade e a temeridade? Ser a velhice? Ento gostamos de enfermidades?
Diz-se que os cabelos brancos so respeitados, que a velhice traz honra. Mas a virtude pode adicionar
reverncia flor da juventude e, sem ela, a idade planta mais rugas na Alma que na fronte.
Respeita-se a idade porque ela odeia a devassido? Que justia esta, em que no a idade que despreza o
prazer, mas o prazer que despreza a idade!
S virtuoso enquanto s jovem; assim tua velhice ser honrada.
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LIVRO IX
DO HOMEM CONSIDERADO EM RELAO A SUAS DEBILIDADES E SEUS EFEITOS
CAPITULO I: Da Vaidade
A vaidade tem grande poder no corao do homem; a intemperana o leva para onde quer; o desespero
domina grande parte dele, e o medo proclama: "V, no tenho rival neste corao!" Mas a vaidade vai mais
longe que todos eles.
No chores, portanto, pelas aflies do estado humano; antes, deves rir de suas loucuras. Nas mos do
homem entregue vaidade, a vida no passa da sombra de um sonho.
O heri, o mais renomado dos personagens humanos, que ele seno a borbulha dessa fraqueza? O pblico
instvel e ingrato; por que haveria o homem sbio de arriscar-se pelos tolos?
O homem que se descuida de suas presentes ocupaes para resolver como se comportar quando for
importante, alimenta-se com o vento, enquanto outro come seu po. Age conforme adequado tua condio
presente e, quando atingires condio mais elevada, no te envergonhars.
Que cega mais o olho e mais oculta o corao do homem de si mesmo do que a vaidade? Cuidado! Quando
no vs a ti mesmo, outros te descobrem com a maior clareza.
Tal como a tulipa que vistosa sem ter perfume, atraente sem ter utilidade prtica, assim o homem que se
coloca num pedestal sem ter mritos. O corao do vaidoso est perturbado mesmo quando parece contente;
seus cuidados so maiores que seus prazeres.
Suas ansiedades no descansam junto com seus ossos; o tmulo no tem profundidade que baste para
ocult-las; ele estende seus pensamentos para alm de seu ser; fala elogiosamente para que lhe retribuam
quando estiver morto; mas aqueles que lhe prometem isso, mentem.
Como o homem que obriga a esposa ao compromisso de permanecer na viuvez, para que no perturbe sua
Alma, assim aquele que espera que os louvores alcancem seus ouvidos em baixo da terra, e agradem seu
corao envolto no sudrio.
Faze o bem enquanto ests vivo e no te importes com o que se fale a este respeito. Contenta-te em merecer
louvor, e tua posteridade se regozijar em escut-lo.
Como a borboleta que no v suas prprias cores, como o jasmim que no toma tento do perfume que
esparge ao seu redor, assim o homem que aparenta alegria e convida os demais para que reparem nisto.
Para que fim uso vestimentas de ouro? Para que minha mesa est coberta de delcias, se nenhum olhar
pousa sobre elas, se o mundo as desconhece? D tuas roupas aos pobres e teu alimento aos famintos; s
assim sers louvado e sentirs que o louvor merecido.
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Por que ds aos homens a lisonja das palavras sem sentido? Sabes que, quando te retriburem, no lhes
dars valor. Eles sabem que mentem; contudo, sabem que lhes agradecers. Fala com sinceridade e ouvirs
verdades. O vaidoso se delicia em falar de si mesmo; mas no percebe que os demais no gostam de ouvi-lo.
Se ele fez algo merecedor de louvores, se possui algo digno de admirao, sua alegria proclamar tais
coisas, seu orgulho ouvir comentrios. O desejo de um homem assim frustra a si prprio. Os outros no
dizem: "Vejam o que ele fez" ou "Notem o que ele possui", e sim, "Vejam como ele se orgulha!"
O corao do homem no pode atender muitas coisas ao mesmo tempo. Aquele que fixa a Alma na
ostentao perde a realidade. Persegue bolhas que explodem no ar, enquanto ele pisa com os ps aquilo que
lh