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Page 1: Aulas de Direito das Obrigações

1

DIR

EIT

O D

AS

OB

RIG

ÕE

S N

A S

AL

A D

E A

UL

A

C

AP

ÍTU

LO

I

1.

1 D

o si

stem

a fe

chad

o ao

sem

iabe

rto.

1.

2 C

láus

ulas

ge

rais

. 1.

3 C

once

itos

lega

is i

ndet

erm

inad

os.

1.4

Prin

cípi

o da

so

cial

idad

e. 1

.5 P

rinc

ípio

da

etic

idad

e.

1.6

Prin

cípi

o da

op

erab

ilid

ade

1.7

Con

clus

ão.

1.

1 DO

SIS

TE

MA

FE

CH

AD

O A

O S

EM

IAB

ER

TO

A

té p

ouco

ant

es d

e al

vore

cer

a m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

a f

órm

ula

casu

ístic

a de

leg

isla

r, d

enom

inad

a de

reg

ulaç

ão p

or f

atis

péci

e, f

oi f

arta

men

te

utili

zada

no

s te

xtos

no

rmat

ivos

. E

ssa

fase

, co

nhec

ida

com

o a

Era

da

Cod

ific

ação

, pr

opic

iou

na F

ranç

a, e

m 1

804,

o s

urgi

men

to d

o C

óde

Nap

oléo

n,

sist

ema

fech

ado

em q

ue a

ati

vida

de d

o in

terp

rete

res

umia

-se

a is

olar

o f

ato

e

iden

tifi

cá-l

o à

norm

a ap

licá

vel.

Tud

o se

res

olvi

a pe

la c

asuí

stic

a: a

sub

sunç

ão d

o

fato

à le

i.

E

m t

orno

dos

cód

igos

ina

ugur

ou-s

e a

Esc

ola

da E

xege

se1 ,

que

deba

tia a

resp

eito

da

liter

alid

ade

dos

text

os l

egai

s, p

auta

ndo

a id

eia

de q

ue n

os c

ódig

os

esta

riam

as

solu

ções

par

a to

dos

os f

atos

que

o D

irei

to p

ropu

nha-

se a

reg

ular

. Ao

juiz

o c

ódig

o. E

ser

vind

o-se

do

códi

go o

jui

z in

faliv

elm

ente

res

olve

ria

o ca

so

conc

reto

. Do

códi

go o

juiz

não

pod

ia a

fast

ar-s

e, p

ois

ele

era

la b

ouch

e de

la lo

i.

1 A

Esc

ola

da E

xege

se r

evel

ou s

igni

fica

tivo

s es

tudi

osos

do

Dir

eito

, co

mo

Dem

olom

be,

Tro

plon

g, L

aure

nt e

M

arca

dé.

O p

osic

iona

men

to f

unda

men

tal

da E

scol

a é

o de

que

o D

irei

to r

evel

a-se

pel

as l

eis.

Por

tant

o, p

ara

os

seus

pen

sado

res

a in

terp

reta

ção

part

e un

icam

ente

do

dire

ito

posi

tivo

, des

nece

ssár

ia a

uti

liza

ção

de e

lem

ento

s qu

e lh

e sã

o ex

trín

seco

s, c

omo

expo

sto

no t

exto

aci

ma.

Foi

um

a fa

se d

e in

ovaç

ões

na c

iênc

ia j

uríd

ica,

com

o em

m

atér

ia d

e su

cess

ão a

sup

ress

ão d

o di

reit

o de

pri

mog

enit

ura,

no

dire

ito

de f

amíl

ia a

adm

issã

o do

div

órci

o em

ca

so d

e ad

ulté

rio,

no

dire

ito

das

cois

as a

abo

liçã

o do

s di

reit

os f

euda

is a

inda

rem

anes

cent

es.

Por

iss

o, s

ervi

u de

m

odel

o pa

ra a

s le

gisl

açõe

s de

div

erso

s pa

íses

, a c

omeç

ar p

ela

Eur

opa,

dep

ois

Am

éric

a L

atin

a e

em s

egui

da Á

sia

e Á

fric

a. V

er H

enri

que

Gar

belli

ni C

arni

o et

alt

., C

urso

de

soci

olog

ia ju

rídi

ca, S

ão P

aulo

: RT

, 201

1, p

. 89

a 91

.

2

Fo

i no

cur

so d

e ta

l pa

nora

ma

jurí

dico

que

for

am c

once

bido

s o

prim

eiro

Cód

igo

Civ

il d

e Po

rtug

al d

e 18

67,

o pr

imei

ro C

ódig

o C

ivil

da

Itál

ia d

e 18

95,

o

Cód

igo

Civ

il d

a A

lem

anha

, de

190

0, o

Cód

igo

Civ

il e

das

Obr

igaç

ões

da S

uíça

de 1

904,

o p

rim

eiro

Cód

igo

Civ

il b

rasi

leir

o de

191

6, e

tan

tos

outr

os,

pois

o

Cód

igo

Civ

il fr

ancê

s er

a m

odel

o a

insp

irá-

los.

C

om o

fim

da

últim

a G

uerr

a M

undi

al, o

mun

do e

xper

imen

tou

expr

essi

vo

proc

esso

de

tran

sfor

maç

ões

e in

cert

ezas

, qua

ndo

os j

uris

tas

pass

aram

a c

once

ber

a id

eia

de q

ue a

téc

nica

da

perf

eiçã

o da

lei

esta

va u

ltrap

assa

da.

A s

ocie

dade

deix

ou d

e te

r um

a es

trut

ura

sim

ples

em

que

pod

ia le

r em

tábu

as o

que

pod

e e

não

pode

, o q

ue é

just

o e

inju

sto,

o q

ue é

líci

to e

ilíc

ito.

A

atua

l so

cied

ade

é

alta

men

te c

ompl

exa,

abe

rta

e de

cél

ere

tran

sfor

maç

ão,

de m

odo

que

a pr

évia

prev

isão

dos

fat

os c

rian

do l

eis

que

os r

egul

amen

tam

, to

rna-

se t

aref

a le

gisl

ativ

a

impo

ssív

el. É

o o

port

uno

ensi

nam

ento

do

lusi

tano

Pau

lo O

tero

:

A a

ltern

ativ

a su

bjac

ente

a u

m c

enár

io c

ontr

ário

, pr

ocur

ando

en

cont

rar

na

lei

a re

spos

ta

exac

ta

para

ca

da

prob

lem

a co

ncre

to,

isto

nu

m

quad

ro

idíli

co

da

mai

s co

mpl

eta

vinc

ulaç

ão d

ecor

rent

e de

um

mod

elo

silo

gíst

ico-

subs

untiv

o da

apl

icaç

ão d

a le

i pe

la a

dmin

istr

ação

e p

elos

tri

buna

is,

reve

lari

a ai

nda

uma

mui

to

mai

or

impe

rfei

ção

da

lei,

obse

rvan

do-s

e qu

e o

cris

taliz

ador

das

pre

visõ

es n

orm

ativ

as

cond

uzir

ia à

sua

ráp

ida

desa

ctua

lizaç

ão e

a u

ma

visí

vel

form

ulaç

ão l

acun

ar d

a no

rma

lega

l, ta

l co

mo

uma

esta

tuiç

ão

fech

ada

não

resp

onde

ria

à m

ultip

lici

dade

de

si

tuaç

ões

dife

rent

es e

mos

trar

ia a

inc

apac

idad

e de

ada

ptaç

ão d

a le

i ao

im

prev

isto

. E

m

vez

de

um

Dir

eito

su

jeito

a

um

rápi

do

proc

esso

de

en

velh

ecim

ento

, a

exis

tênc

ia

de

norm

as

elás

ticas

, pe

rmit

e qu

e a

lei

resp

ire

a at

mos

fera

soc

ial

que

a en

volv

e, a

dapt

ando

-se

mel

hor

à vi

da a

trav

és d

a im

perf

eiçã

o re

sulta

nte

da m

obili

dade

do

seu

cont

eúdo

.2

2 A

pud

MA

IA, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

. Nov

os p

arad

igm

as d

o di

reit

o ci

vil.

Cur

itib

a: J

uruá

Edi

tora

, 200

7, p

. 63

e 64

.

Page 2: Aulas de Direito das Obrigações

3

D

entr

o de

ssa

pers

pect

iva

pós-

mod

erna

é q

ue f

oi c

once

bido

o s

egun

do

Cód

igo

Civ

il b

rasi

leir

o, L

ei n

º 10

.406

, de

10

de j

anei

ro d

e 20

02.

O s

iste

ma

pass

ou d

e fe

chad

o pa

ra s

emi-

aber

to.

Ao

lado

das

nor

mas

cas

uíst

icas

out

ras

fora

m i

ntro

duzi

das,

per

mit

indo

mai

or l

iber

dade

ao

julg

ador

na

busc

a da

jus

tiça

acor

dada

na

real

idad

e so

cial

. Sã

o as

clá

usul

as g

erai

s e

os c

once

itos

lega

is

inde

term

inad

os.

1.2

USU

LA

S G

ER

AIS

A

s cl

áusu

las

gera

is,

são

norm

as e

lást

icas

, ap

rese

ntam

con

ceit

os c

ujos

vocá

bulo

s em

preg

ados

pe

lo

legi

slad

or

têm

de

nsid

ade

sem

ântic

a

inte

ncio

nalm

ente

vag

a e

aber

ta,

perm

itin

do a

o ju

iz p

reen

chê-

las

com

val

ores

a

sere

m e

mpr

egad

os n

o ju

lgam

ento

de

cada

cas

o si

ngul

ar. N

ão o

fere

ce a

sol

ução

a

ser

dada

, is

to é

, nã

o pr

evê

a co

nseq

uênc

ia j

uríd

ica,

con

sent

indo

ao

juiz

cri

ar

solu

ções

, val

e di

zer,

abr

e-lh

e à

funç

ão c

riad

ora.

o ex

empl

os d

e m

aior

int

eres

se a

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s, o

art

. 42

1

que

disp

õe s

obre

a f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

, se

m e

xpli

cita

r o

que

é fu

nção

soci

al; a

ssim

o a

rt. 4

22 a

o re

feri

r-se

a b

oa-f

é ob

jeti

va e

a p

robi

dade

; o a

rt. 1

.228

,

§ 1º

, qu

e ad

ere

ao d

irei

to d

e pr

opri

edad

e o

exer

cíci

o em

con

sonâ

ncia

com

as

fina

lida

des

econ

ômic

as e

soc

iais

etc

.

1.3

CO

NC

EIT

OS

LE

GA

IS I

ND

ET

ER

MIN

AD

OS

O

s co

ncei

tos

lega

is in

dete

rmin

ados

, com

sig

nifi

cado

par

alel

o às

clá

usul

as

gera

is,

são

tam

bém

no

rmas

el

ásti

cas,

na

s qu

ais

são

intr

oduz

idos

co

ncei

tos

prop

osita

dam

ente

vag

os e

abe

rtos

, pr

opor

cion

ando

ao

juiz

pre

ench

ê-lo

s co

m

valo

res

a se

rem

em

preg

ados

no

ju

lgam

ento

de

ca

da

caso

si

ngul

ar,

com

a

dife

renç

a de

pre

vere

m a

con

sequ

ênci

a ju

rídi

ca,

isto

é,

com

o qu

e aq

uele

cas

o

deva

ser

sol

ucio

nado

. A

tiça

a fu

nção

cri

ador

a do

jui

z, c

onqu

anto

com

men

or

4

ênfa

se,

pois

cab

e a

ele

a es

colh

a de

val

ores

soc

iais

que

irã

o pr

esid

ir o

cas

o em

julg

amen

to.

A

ssim

, o

art.

122

ao d

ispo

r so

bre

a li

ceid

ade

das

cond

içõe

s qu

e nã

o

cont

rari

am a

ord

em p

úbli

ca e

os

bons

cos

tum

es;

o ar

t. 18

8, I

I, a

o di

spor

que

não

cons

titu

em a

tos

ilíci

tos

os p

ratic

ados

par

a re

mov

er p

erig

o im

inen

te;

art.

927,

pará

graf

o ún

ico,

qu

e pr

evej

a as

at

ivid

ades

de

ri

sco

que

cond

uzem

à

resp

onsa

bilid

ade

civi

l obj

etiv

a, d

entr

e ou

tros

.

E

mbo

ra n

em t

odos

civ

ilist

as f

açam

a d

istin

ção

entr

e es

sas

duas

fig

uras

,

pref

erin

do a

den

omin

ação

gen

éric

a de

clá

usul

as g

erai

s, c

umpr

e a

aten

ta l

ição

do

casa

l Nel

son

e R

osa

Ner

y:

[...]

à

prim

eira

vi

sta

pode

ria

have

r co

nfus

ão

entr

e as

cl

áusu

las

gera

is

e os

co

ncei

tos

lega

is

inde

term

inad

os.

Oco

rre

que

em a

mbo

s há

a e

xtre

ma

vagu

eza

e ge

nera

lidad

e,

que

tem

de

ser

pree

nchi

da c

om v

alor

es p

elo

juiz

. Q

uand

o a

norm

a já

pr

evê

a co

nseq

uênc

ia,

houv

e de

term

inaç

ão

de

conc

eito

leg

al i

ndet

erm

inad

o: a

sol

ução

a s

er d

ada

pelo

jui

z é

aque

la

prev

ista

pr

evia

men

te

na

norm

a.

Ao

cont

rári

o,

quan

do a

nor

ma

não

prev

ê a

cons

equê

ncia

, da

ndo

ao j

uiz

a op

ortu

nida

de d

e cr

iar

a so

luçã

o, d

á-se

oca

sião

de

apli

caçã

o da

clá

usul

a ge

ral:

a co

nseq

uênc

ia n

ão e

stav

a pr

evis

ta n

a no

rma

e fo

i cr

iada

pel

o ju

iz p

ara

o ca

so c

oncr

eto.

O j

uiz

pode

dar

um

a so

luçã

o em

um

det

erm

inad

o ca

so,

e ou

tra

solu

ção

dife

rent

e em

out

ro c

aso,

apl

ican

do a

mes

ma

cláu

sula

ge

ral.3

No

enta

nto,

de s

e no

tar

que

toda

s es

tas

expr

essõ

es (

stan

dard

s do

Dir

eito

ing

lês)

, qu

e co

mpõ

em a

nor

ma,

têm

com

o pr

inci

pal

cara

cter

ístic

a a

impo

ssib

ilida

de d

e el

ucid

ação

de

seus

con

ceit

os s

em o

rec

urso

aos

mai

s va

riad

os

parâ

met

ros

de v

alor

ação

étic

o-so

cial

ou

do c

ostu

me.

3 N

ER

Y J

UN

IOR

, N

elso

n et

al.

Cód

igo

civi

l an

otad

o e

legi

slaç

ão e

xtra

vaga

nte,

2 e

d. S

ão P

aulo

: R

T,

2003

, p.

14

1.

Page 3: Aulas de Direito das Obrigações

5

D

e fa

to é

ass

im, p

ois

esta

s du

as f

igur

as m

itig

am a

s re

gras

mai

s rí

gida

s ao

dar

mai

or m

obili

dade

ao

Cód

igo

Civ

il, im

pedi

ndo

o se

u en

velh

ecim

ento

pre

coce

em u

ma

soci

edad

e tã

o di

nâm

ica

com

o a

atua

l. N

em p

or i

sso

evita

m a

s cr

ítica

s,

pois

tra

zem

cer

to g

rau

de i

ncer

teza

ant

e a

cara

cter

ístic

a de

sua

fle

xibi

lidad

e, d

e

sort

e ou

torg

am

ao

juiz

gr

ande

m

arge

m

disc

rici

onár

ia

ao

pree

nche

r o

seu

cont

eúdo

com

val

ores

.4 Há

de c

onvi

r, t

odav

ia,

que

a lib

erda

de j

udic

ial

não

é

plen

a,

pois

os

va

lore

s nã

o sã

o aq

uele

s pr

ópri

os

da

conv

icçã

o pe

ssoa

l do

mag

istr

ado,

mas

sim

os

prev

alen

tes

na c

onsc

iênc

ia s

ocia

l, qu

e im

plic

am n

o de

ver

étic

o de

leal

dade

e c

oope

raçã

o na

s re

laçõ

es i

nter

subj

etiv

as. O

u co

nfor

me

pref

ere

Cla

udio

Luz

zati,

a a

plic

ação

de

tais

con

ceito

s ex

ige

a co

ncre

ção

da r

egra

éti

ca e

de c

ostu

me

pree

xist

ente

, nã

o si

gnif

ican

do u

m a

rbítr

io à

s op

iniõ

es p

esso

ais

do

julg

ador

.5 Tai

s va

lore

s, p

orta

nto,

dev

em s

er e

xtra

ídos

dia

nte

do c

aso

conc

reto

na

crite

rios

a an

ális

e de

sua

s ci

rcun

stân

cias

fát

icas

e ju

rídi

cas,

par

a qu

e se

enc

ontr

e a

solu

ção

mai

s co

nven

ient

e so

b a

ótic

a da

just

iça

soci

al.6

E

que

não

se

olvi

de,

o D

irei

to P

riva

do e

o D

irei

to P

úblic

o es

tão

sem

pre

subm

etid

os a

os v

alor

es e

pri

ncíp

ios

cons

titu

cion

ais.

É a

Con

stitu

ição

Fed

eral

que

ofer

ta a

vis

ão u

nitá

ria

e co

eren

te d

o D

irei

to, e

que

ele

va e

ssa

visã

o do

int

erpr

ete

para

o t

elos

do

conj

unto

sis

tem

átic

o de

nor

mas

. É

diz

er,

a lu

z qu

e ilu

min

a a

4 N

ER

Y J

UN

IOR

, N

elso

n et

al.

Cód

igo

civi

l an

otad

o e

legi

slaç

ão e

xtra

vaga

nte,

2 e

d. S

ão P

aulo

: R

T,

2003

, p.

14

3.

5 LU

ZZ

AT

I, C

laud

io.

La v

aghe

zza

dell

e no

rme,

un’

anal

isi

del

ling

uagg

io g

iuri

dico

. M

ilano

: G

iuff

rè,

1990

, p

. 32

1.

6 Jor

ge T

osta

, ar

riba

do e

m H

umbe

rto

The

odor

o Jú

nior

e T

eres

a A

rrud

a A

lvim

Wam

ber,

ass

inal

a: “

Ass

im,

a at

ivid

ade

do ju

iz n

ão p

ode

se c

entr

ar n

a su

a pr

ópri

a id

eolo

gia,

na

sua

próp

ria

conc

epçã

o de

vid

a, n

as s

uas

cren

ças

pess

oais

. Seu

dev

er é

, seg

undo

Ben

jam

in C

ardo

so, ‘

conf

orm

ar a

os s

tand

ards

ace

itos

da c

omun

idad

e os

mor

es d

a ép

oca.

’ E

ess

es p

arâm

etro

s se

rvem

, nã

o pa

ra c

riar

, pa

ra o

cas

o co

ncre

to,

norm

as d

ifer

ente

s da

que

se

enco

ntra

ab

stra

tam

ente

con

tida

na

lei,

mas

par

a bu

scar

, den

tro

do o

rden

amen

to ju

rídi

co, e

gra

ças

à té

cnic

a in

terp

reta

tiva

, a

regr

a ap

licá

vel

a um

a si

tuaç

ão c

oncr

eta.

” P

ara

em s

egui

da c

ompl

etar

: “n

a co

ncre

ção

judi

cial

[en

tend

a-se

: na

in

terp

reta

ção-

inte

grat

iva

e na

apl

icaç

ão]

de n

orm

a ab

erta

s, c

arac

teri

zada

s po

r te

rmos

vag

os o

u in

dete

rmin

ados

e

na a

plic

ação

de

norm

as d

e ti

po a

bert

o em

sen

tido

lat

o, c

arac

teri

zada

s po

r ju

ízos

de

opor

tuni

dade

, ine

xist

e pl

ena

libe

rdad

e ju

dici

al.

O s

iste

ma

jurí

dico

com

o um

tod

o co

ntém

sta

ndar

ds e

P

rinc

ípio

s ge

rais

de

Dir

eito

que

or

ient

am e

sse

pode

r-de

ver

exer

cido

pel

o ju

iz,

a fi

m d

e en

cont

rar-

se o

res

ulta

do q

ue m

elho

r re

solv

a o

conf

lito

subm

etid

o à

apre

ciaç

ão j

udic

ial.”

(M

anua

l de

int

erpr

etaç

ão d

o có

digo

civ

il:

as n

orm

as d

o ti

po a

bert

o e

os

pode

res

do ju

iz. R

io d

e Ja

neir

o: E

lsev

ier,

200

8, p

. 92

e 93

).

6

inte

rpre

taçã

o da

s no

rmas

ab

erta

s de

ve

ser

sem

pre

a co

nstit

ucio

nal,

valo

res

outo

rgad

os e

não

esc

olhi

dos

pelo

apl

icad

or d

a le

i.

Se

ndo

assi

m,

na i

nter

pret

ação

des

sas

norm

as a

bert

as a

jur

ispr

udên

cia

é

de g

rand

e va

lia n

a fu

nção

de

esta

bele

cer

o se

u al

canc

e e

cont

eúdo

, al

ém d

e

ofer

ecer

no

corr

er d

o te

mpo

cer

ta s

egur

ança

jur

ídic

a. É

o q

ue a

sseg

ura

Judi

th

Mar

tins-

Cos

ta:

“não

pre

tend

em a

s cl

áusu

las

gera

is d

ar r

espo

sta,

pre

viam

ente

, a

todo

s os

pr

oble

mas

da

re

alid

ade,

um

a ve

z qu

e es

tas

resp

osta

s sã

o

prog

ress

ivam

ente

con

stru

ídas

pel

a ju

risp

rudê

ncia

.”7

V

alen

do-s

e,

pois

, da

s cl

áusu

las

gera

is

e do

s co

ncei

tos

lega

is

inde

term

inad

os f

oram

int

rodu

zido

s tr

ês p

rinc

ípio

s qu

e M

igue

l R

eale

cha

ma-

os

de f

unda

ntes

, e

em p

rofi

ssão

de

fé a

dver

te “

não

por

um v

ício

de

amar

o t

rino

”,

que

são:

o d

a so

cial

idad

e, o

da

etic

idad

e e

o da

ope

rabi

lidad

e.

O

s pr

incí

pios

são

dir

etri

zes

mai

ores

do

orde

nam

ento

jurí

dico

, ofe

rece

ndo

às n

orm

as s

eu r

eal

sent

ido

e al

canc

e. I

mpõ

em a

rea

liza

ção

de v

alor

es e

sua

cara

cter

ístic

a es

senc

ial

é a

inde

fini

ção

em r

elaç

ão à

situ

ação

fát

ica,

pod

endo

aplic

ar-s

e a

um n

úmer

o in

dete

rmin

ado

de c

asos

con

cret

os.

Atu

am c

omo

elos

de

ligaç

ão e

ntre

as

norm

as c

om o

que

gar

ante

m o

ord

enam

ento

jur

ídic

o co

mo

um

bloc

o si

stem

átic

o ha

rmon

ioso

, co

nsen

tindo

a

sua

reno

vaçã

o di

ante

da

s

tran

sfor

maç

ões

soci

ais.

1.4

PR

INC

ÍPIO

DA

SO

CIA

LID

AD

E

O

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e le

va a

o en

tend

imen

to d

e qu

e os

int

eres

ses

indi

vidu

ais,

em

bora

si

gnif

icat

ivos

pa

ra

o or

dena

men

to

jurí

dico

, nã

o po

dem

sobr

elev

ar o

s in

tere

sses

soc

iais

, po

r se

rem

est

es i

nfor

mat

ivos

da

cons

ciên

cia

cole

tiva.

É a

liçã

o de

Cri

stia

no C

have

s Fa

rias

e N

elso

n R

osen

vald

:

7 M

AR

TIN

S-C

OS

TA

, Jud

ith.

A b

oa-f

é no

dir

eito

pri

vado

. São

Pau

lo: R

T, 1

999,

p. 2

99.

Page 4: Aulas de Direito das Obrigações

7

O

orde

nam

ento

ju

rídi

co

conc

ede

a al

guém

um

di

reito

su

bjet

ivo

para

que

sat

isfa

ça u

m in

tere

sse

próp

rio,

mas

com

a

cond

ição

de

qu

e a

sati

sfaç

ão

indi

vidu

al

não

lese

as

ex

pect

ativ

as c

olet

ivas

que

lhe

rod

eiam

. T

odo

dire

ito d

e ag

ir

é co

nced

ido

à pe

ssoa

, par

a qu

e se

ja r

ealiz

ada

uma

fina

lida

de

soci

al;

caso

co

ntrá

rio,

a

ativ

idad

e in

divi

dual

fal

ecer

á de

le

giti

mid

ade

e o

intu

ito d

o tit

ular

do

dire

ito s

erá

recu

sado

pe

lo o

rden

amen

to.8

B

usca

sup

lant

ar,

dess

a fo

rma,

o i

ndiv

idua

lism

o co

nden

ável

sem

cai

r no

cole

tivis

mo,

cuj

o en

gano

é d

espe

rson

aliz

ar u

m e

m f

avor

do

todo

.

Po

nder

a N

orbe

rto

Bob

bio:

indi

vidu

alis

mo

e in

divi

dual

ism

o. H

á in

divi

dual

ism

o de

tr

adiç

ão

liber

al-l

iber

tari

a e

o in

divi

dual

ism

o de

tr

adiç

ão

dem

ocrá

tica.

O

pr

imei

ro

arra

nca

o in

diví

duo

do

corp

o or

gâni

co d

a so

cied

ade

e o

faz

vive

r fo

ra d

o re

gaço

mat

erno

, la

nçan

do-o

ao

mun

do d

esco

nhec

ido

e ch

eio

de p

erig

os d

a lu

ta p

ela

sobr

eviv

ênci

a, o

nde

cada

um

dev

e se

cui

dar

de s

i m

esm

o, e

m l

uta

perp

étua

, ex

empl

ific

ada

pelo

hob

besi

ano

bellu

m o

min

ium

con

tra

omne

s. O

seg

undo

agr

upa-

o a

outr

os

indi

vídu

os

sem

elha

ntes

a

ele,

qu

e co

nsid

era

seus

se

mel

hant

es,

para

que

da

sua

uniã

o a

soci

edad

e ve

nha

a se

co

mpo

r nã

o m

ais

com

o um

tod

o or

gâni

co d

o qu

al s

aiu,

mas

co

mo

uma

asso

ciaç

ão

de

indi

vídu

os

livre

s.

O

prim

eiro

re

ivin

dica

a l

iber

dade

do

indi

vídu

o em

rel

ação

à s

ocie

dade

. O

se

gund

o re

conc

ilia-

o co

m

a so

cied

ade

faze

ndo

da

soci

edad

e o

resu

ltado

de

um

ac

ordo

en

tre

indi

vídu

os

inte

ligen

tes.

O p

rim

eiro

faz

do

indi

vídu

o um

pro

tago

nist

a ab

solu

to,

fora

de

qual

quer

vín

culo

soc

ial.

O s

egun

do f

az

dele

pro

tago

nist

a de

um

a no

va s

ocie

dade

que

sur

ge d

as

cinz

as d

a so

cied

ade

antig

a, n

a qu

al a

s de

cisõ

es c

olet

ivas

são

to

mad

as

pelo

s pr

ópri

os

indi

vídu

os

ou

por

seus

re

pres

enta

ntes

.9

8 F

AR

IAS

, Cri

stia

no C

have

s et

al.

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

4 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: L

umen

Jur

is, 2

009,

p. 1

03.

9 B

OB

BIO

, N

orbe

rto.

T

eori

a ge

ral

da

polí

tica

, tr

aduç

ão

de

Dan

iela

B

ecca

ccia

V

ersi

ani,

orga

niza

dor

Mic

hela

ngel

o B

over

o. R

io d

e Ja

neir

o: C

ampo

s, 2

000,

p.

381.

Est

e te

xto

dist

ingu

e co

m c

lare

za a

que

stão

do

indi

vidu

alis

mo,

em

bora

sof

ra a

crí

tica

de

que

a so

cied

ade

é m

ais

do q

ue a

som

a do

liv

re a

cord

o de

ind

ivíd

uos

inte

lige

ntes

.

8

D

aí a

ass

ertiv

a de

Mig

uel

Rea

le:

“Se

não

houv

e a

vitó

ria

do s

ocia

lism

o,

houv

e o

triu

nfo

da s

ocia

lidad

e.”

E p

ross

egue

com

um

a ad

vert

ênci

a, o

atu

al

Cód

igo

Civ

il di

stin

gue-

se p

or m

aior

ade

rênc

ia à

rea

lidad

e co

ntem

porâ

nea,

o q

ue

leva

a r

epen

sar,

den

tro

dest

a ót

ica,

os

dire

itos

e de

vere

s do

s ci

nco

prin

cipa

is

pers

onag

ens

do D

irei

to P

riva

do: o

pro

prie

tári

o, o

con

trat

ante

, o e

mpr

esár

io, o

pai

de f

amíl

ia e

o te

stad

or.10

O

Cód

igo

Civ

il re

fere

-se

ao s

ocia

l ex

plic

itam

ente

em

vár

ios

disp

osit

ivos

.

Pinç

am-s

e al

guns

del

es a

feto

s à

área

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

a)

ao c

onsi

dera

r

abus

ivo

o ex

ercí

cio

de u

m d

irei

to (

art.

187)

b)

ao f

alar

dir

etam

ente

na

funç

ão

soci

al d

o co

ntra

to (

art.

421)

; c)

ao p

reve

r a

prob

idad

e e

a bo

a-fé

(ar

t. 42

2); d

) ao

esta

bele

cer

a fi

xaçã

o de

ind

eniz

ação

raz

oáve

l pe

la i

nter

rupç

ão d

a em

prei

tada

(art

. 62

3);

e) a

o di

spor

que

o g

esto

r de

neg

ócio

res

pond

e pe

los

dano

s ca

usad

os

por

caso

for

tuito

, qu

ando

rea

lizar

ope

raçõ

es a

rris

cada

s (a

rt.

868)

; f)

ao

inov

ar

com

a r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

obje

tiva

deco

rren

te d

a at

ivid

ade

de r

isco

(ar

t. 92

6,

pará

graf

o ún

ico)

, g)

ao

exig

ir q

ue a

pro

prie

dade

dev

a se

r ex

erci

da c

onfo

rme

as

fina

lida

des

econ

ômic

as e

soc

iais

(ar

t. 1.

228,

§ 1

º) e

tc.

Na

verd

ade,

a f

inal

idad

e so

cial

int

egra

a p

rópr

ia n

atur

eza

do D

irei

to.

Fora

da

soci

edad

e nã

o há

Dir

eito

. V

em d

esde

os

rom

anos

o a

pote

gma:

ubi

soci

etas

, ib

i iu

s: o

nde

está

a s

ocie

dade

, aí

est

á o

Dir

eito

. Q

ualq

uer

hom

em

isol

ado,

o a

scet

a e

o er

mit

ão p

odem

ter

pro

blem

a m

oral

na

rela

ção

cons

igo

mes

mo,

ou

prob

lem

a re

ligi

oso

na r

elaç

ão c

om D

eus,

mas

não

pro

blem

a ju

rídi

co.

Da

obra

de

Dan

iel

Def

oe s

ai o

exe

mpl

o de

Rob

ison

Cru

soé,

que

viv

eu i

sola

do

em u

ma

ilha

do

Car

ibe,

não

tin

ha p

robl

ema

jurí

dico

, en

quan

to n

ão e

ncon

trou

o

10

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ões

apro

vaçã

o pe

lo S

enad

o F

eder

al,

2ª e

d. S

ão

Pau

lo:

Sar

aiva

, 199

9, p

. 7. E

ain

da a

dver

te M

igue

l R

eale

: “Q

uand

o en

trar

em

vig

or o

nov

o C

ódig

o C

ivil

, a 1

0 de

ja

neir

o de

200

3, p

erce

ber-

se-á

log

o a

dife

renç

a en

tre

o có

digo

atu

al, e

labo

rado

par

a um

Paí

s pr

edom

inan

tem

ente

ru

ral,

e o

que

foi

proj

etad

o pa

ra u

ma

soci

edad

e, n

a qu

al p

reva

lece

o s

enti

do d

a vi

da u

rban

a. H

aver

á um

a pa

ssag

em d

o in

divi

dual

ism

o e

do f

orm

alis

mo

do p

rim

eiro

par

a o

sent

ido

soci

aliz

ante

do

segu

ndo,

mai

s at

ento

às

mud

ança

s so

ciai

s, n

uma

com

posi

ção

equi

tati

va d

e li

berd

ade

e ig

uald

ade.

” (S

enti

do d

o no

vo C

ódig

o C

ivil

, di

spon

ível

em

HT

TP

://w

ww

.mig

uel-

real

e.co

m.b

r/.

Page 5: Aulas de Direito das Obrigações

9

nativ

o S

exta

Fei

ra, a

o re

laci

onar

-se

com

ele

pas

sou

a te

r. É

nes

te c

onte

xto

que

o

prin

cípi

o da

soc

ialid

ade,

com

o va

lor,

cen

tra

as s

uas

aten

ções

no

inte

ress

e do

soci

al, e

nten

dend

o o

inte

ress

e in

divi

dual

com

o re

ferê

ncia

rel

ativ

a, m

as, r

epit

a-se

,

não

sem

lhe

dar

reco

nhec

ida

impo

rtân

cia.

A

brol

ha a

que

stão

: o

prin

cípi

o da

soc

ieda

de p

ode

colid

ir c

om o

s di

reit

os

fund

amen

tais

(C

F ar

t. 5º

) e

os d

irei

tos

da p

erso

nalid

ade

(CC

art

. 11

a 21

)?

A

pr

incí

pio

a re

spos

ta

é ne

gativ

a.

O

prin

cípi

o da

so

cial

idad

e

com

prom

ete-

se c

om a

ina

diáv

el b

usca

de

se c

onst

ruir

um

a so

cied

ade

livre

, ju

sta

e so

lidár

ia,

pela

err

adic

ação

da

pobr

eza

e da

mar

gina

liza

ção,

red

uzin

do a

s

desi

gual

dade

s so

ciai

s e

regi

onai

s (C

F, a

rt.

3º,

III)

, pl

asm

adas

na

dign

idad

e da

pess

oa h

uman

a (C

F a

rt.1

º, II

I),

impo

ndo

rigo

roso

rec

onhe

cim

ento

dos

dir

eito

s

fund

amen

tais

e

dos

dire

itos

da

pers

onal

idad

e,

o qu

e se

co

nstit

ui

polít

ica

hum

anis

ta e

hum

aniz

ador

a. M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orae

s as

segu

ra q

ue a

soli

dari

edad

e “é

a e

xpre

ssão

mai

s pr

ofun

da d

e so

ciab

ilid

ade

que

cara

cter

iza

a

pess

oa h

uman

a.”

E p

ross

egue

que

na

atua

lida

de a

Car

ta M

agna

exi

ge “

que

nos

ajud

emos

, m

utua

men

te,

a co

nser

var

noss

a hu

man

idad

e, p

orqu

e a

cons

truç

ão d

e

uma

soci

edad

e liv

re, j

usta

e s

olid

ária

cab

e a

todo

s e

a ca

da u

m d

e nó

s”.11

D

o ex

post

o su

rge

uma

conc

lusã

o ló

gica

, o

prin

cípi

o da

sol

idar

ieda

de

com

põe

uma

orde

m d

e co

mpl

emen

tari

dade

com

o i

ndiv

idua

lism

o de

moc

rátic

o,

enco

ntra

ndo

vast

o es

tuár

io n

os d

irei

tos

fund

amen

tais

e n

os d

a pe

rson

alid

ade,

porq

uant

o o

que

ele

pret

ende

é e

xpur

gar

o in

divi

dual

ism

o pe

rver

so,

jam

ais

desp

erso

nali

zar

o in

diví

duo

em f

avor

do

todo

.

E

m

um

prim

eiro

en

foqu

e é

lídim

o as

segu

rar,

se

no

ca

so

conc

reto

esta

bele

cer-

se a

col

isão

pro

post

a, p

reva

lece

m o

s pr

incí

pios

im

anen

tes

do s

iste

ma

e do

blo

co d

e co

nstit

ucio

nalid

ade,

até

por

que

o ce

ntro

do

Dir

eito

é a

dig

nida

de

da p

esso

a hu

man

a e

os v

alor

es q

ue l

he s

ão i

ntrí

nsec

os. N

ão h

á co

mo

arre

dá-l

os.

11

MO

RA

ES

, Mar

ia C

elin

a B

odin

. O p

rinc

ípio

da

soli

dari

edad

e p.

178

10

É a

“pr

eval

ênci

a do

s di

reit

os h

uman

os”

impo

siçã

o ex

pres

sa d

a C

arta

Mag

na (

art.

4º, I

I).

T

odav

ia,

nada

no

dire

ito é

abs

olut

o, c

umpr

e, a

ssim

, ou

tra

orde

m d

e

cons

ider

ação

, qu

e é

o de

ver

de p

rote

ção

em f

ace

da c

olet

ivid

ade.

No

Est

ado

Dem

ocrá

tico

de D

irei

to,

os d

irei

tos

fund

amen

tais

e o

s di

reito

s da

per

sona

lidad

e

não

pode

m s

er v

isto

s pe

lo e

stre

ito e

nfoq

ue i

ndiv

idua

l, se

m a

ind

ispe

nsáv

el

prot

eção

dos

dir

eito

s in

tegr

ante

s da

soc

ieda

de. S

e el

es p

reva

lece

rem

, em

toda

s as

circ

unst

ânci

as,

será

dan

oso

à or

dem

púb

lica

e à

s lib

erda

des

alhe

ias.

Afi

rma

com

luci

dez

Ern

ani

Men

ezes

Vilh

ena

Júni

or:

“Pri

vile

giar

o d

irei

to f

unda

men

tal

do

indi

vídu

o co

m g

rave

pre

juíz

o ao

s di

reito

s fu

ndam

enta

is d

a so

cied

ade

impl

ica

inex

oráv

el o

fens

a a

valo

res

asse

gura

dos

a to

dos.

E

scor

ado

no c

omen

to d

e D

ayse

de

Vas

conc

elos

May

er,

o ci

tado

aut

or

pros

segu

e en

umer

ando

as

segu

inte

s e

aper

tada

s ci

rcun

stân

cias

:

a) q

uand

o ne

cess

ário

ass

egur

ar a

pró

pria

con

tinu

idad

e e

sobr

eviv

ênci

a da

orde

m ju

rídi

ca;

b) s

e es

tive

r em

gra

ve r

isco

um

bem

jur

ídic

o qu

e so

men

te p

ode

ser

pres

erva

do p

ela

res

triç

ão d

a lib

erda

de;

c)

quan

do

todo

s e

não

algu

ns

seja

m

abra

ngid

os

por

med

idas

de

exce

pcio

nalid

ade

adot

adas

pel

o E

stad

o;

d) n

as s

itua

ções

exc

epci

onai

s e

tran

sitó

rias

, is

to é

, qu

ando

dur

e ap

enas

enqu

anto

per

man

ecer

a s

ituaç

ão d

e pe

rigo

imin

ente

.12

Pa

ra

tant

o do

is

prin

cípi

os

são

indi

cado

s os

da

ra

zoab

ilida

de

e da

prop

orci

onal

idad

e. S

em d

úvid

a, s

eus

conc

eito

s sã

o re

lativ

os p

or e

xcel

ênci

a,

deve

ndo

ser

infe

rido

s a

part

ir d

o se

nso

com

um o

u pa

drão

méd

io d

os i

ndiv

íduo

s.

É r

azoá

vel

e pr

opor

cion

al t

udo

o qu

e o

corp

o so

cial

adm

ite c

omo

solu

ção

12

VIL

HE

NA

NIO

R,

Ern

ani

de M

enez

es.

Dir

eito

s fu

ndam

enta

is d

a so

cied

ade.

Rev

ista

Jur

ídic

a da

Esc

ola

Sup

erio

r do

Min

isté

rio

Púb

lico

, vol

ume

1. S

ão P

aulo

: ES

MP

, 201

2, p

. 93

e 88

res

pect

ivam

ente

.

Page 6: Aulas de Direito das Obrigações

11

equâ

nim

e pa

ra d

eter

min

ada

situ

ação

con

cret

a, p

or e

star

de

conf

orm

idad

e co

m o

inte

ress

e pú

blic

o.13

1.5

PR

INC

ÍPIO

DA

ET

ICID

AD

E

A

gir

com

eti

cida

de s

igni

fica

ele

var-

se c

omo

pess

oa h

uman

a, p

roce

dend

o

de m

anei

ra p

roba

e l

eal

na c

onsi

dera

ção

de v

alor

es q

ue e

xige

m o

res

peit

o e

o

apre

ço a

os in

tere

sses

e d

irei

tos

alhe

ios.

E

vide

nte

que

a et

icid

ade

evoc

a a

étic

a, e

est

a si

gnif

ica

o “e

u” r

econ

hece

r,

resp

eita

r e

reve

renc

iar

o “o

utro

”, a

ssim

ent

ende

ndo:

“o

outr

o so

u eu

mes

mo”

,

são

pala

vras

do

Apó

stol

o P

aulo

: “[

...]

cada

um

de

nós

som

os m

embr

os u

m d

o

outr

o” (

Rom

anos

12,

5).

Mac

hado

de

Ass

is,

no c

onto

“O

Esp

elho

”, u

m e

sboç

o

de u

ma

nova

teor

ia d

a al

ma

hum

ana,

col

oca

na b

oca

do ta

citu

rno

Jaco

bina

, que

o

hom

em,

met

afis

icam

ente

fal

ando

, é

uma

lara

nja,

que

m p

erde

um

a da

s m

etad

es,

perd

e m

etad

e da

sua

exi

stên

cia,

ou

seja

, um

a m

etad

e é

o “e

u” e

a o

utra

met

ade

é

o “o

utro

”.

A

eti

cida

de, c

ontu

do, n

ão s

e al

arga

ao

pont

o de

o D

irei

to c

onsa

grar

tud

o

que

é m

oral

, por

com

port

ar n

orm

as a

mor

ais,

ass

im a

s qu

e se

ref

erem

ao

trân

sito

com

o, p

or e

xem

plo,

ao

esta

bele

cer

uma

rua

de m

ão ú

nica

ou

dire

cion

á-la

do

cent

ro p

ara

o ba

irro

. Mas

o D

irei

to n

ega

e re

jeita

a im

oral

idad

e.

Po

de-s

e af

irm

ar,

poré

m,

que

os f

unda

men

tos

da e

tici

dade

per

mei

am o

orde

nam

ento

ju

rídi

co,

incu

tindo

-lhe

os

va

lore

s de

ju

stiç

a,

solid

arie

dade

e

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana.

De

efei

to,

a et

icid

ade

é va

lor

que

abro

lha

do

prin

cípi

o da

dig

nida

de h

uman

a. P

rinc

ípio

abr

igad

o pr

atic

amen

te e

m t

odas

as

legi

slaç

ões

dos

país

es

ocid

enta

is,

com

o na

s C

onst

ituiç

ões

de

Port

ugal

e

Ale

man

ha.14

13

PA

ZZ

AG

LIN

I F

ILH

O, M

arin

o. P

rinc

ípio

s co

nsti

tuci

onai

s re

gula

dore

s da

adm

inis

traç

ão p

úbli

ca. S

ão P

aulo

: A

tlas

, 200

0, p

. 5.

12

o ex

empl

os q

ue t

ocam

os

dire

itos

obri

gaci

onai

s: a

) ar

t. 50

: em

cas

o de

abus

o da

per

sona

lida

de j

uríd

ica,

o ju

iz p

oder

á de

spre

zá-l

a e

sanc

iona

r os

sóc

ios

abus

ivos

(fa

lta

de e

tici

dade

); b

) ar

t. 11

0: p

une-

se a

res

erva

leg

al (

falt

a de

etic

idad

e) n

a m

anif

esta

ção

da v

onta

de q

uand

o da

rea

lizaç

ão d

o ne

góci

o ju

rídi

co;

c) a

rt.

113:

os

negó

cios

jur

ídic

os d

evem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

a bo

a-fé

(etic

idad

e);

d) a

rt.

167

capu

t: é

nul

o o

negó

cio

jurí

dico

sim

ulad

o (f

alta

de

etic

idad

e),

mas

são

res

salv

ados

os

dire

itos

de t

erce

iro

de b

oa-f

é (e

ticid

ade)

, ar

t.

167,

§ 2

º; e

) ar

t. 18

7: c

onsi

dera

-se

ato

ilíci

to o

exe

rcíc

io a

busi

vo d

e um

dir

eito

(fal

ta d

e et

icid

ade)

; f)

art

. 421

: a

liber

dade

de

cont

rata

r se

rá e

xerc

ida

em r

azão

e

nos

limit

es d

a fu

nção

soc

ial

do c

ontr

ato

(eti

cida

de);

g)

art.

422:

os

cont

rata

ntes

são

obri

gado

s a

guar

dar

os p

rinc

ípio

s da

pro

bida

de e

da

boa-

fé (

etic

idad

e);

h)

art.

589,

V:

é in

efic

az o

mút

uo f

eito

a m

enor

, sa

lvo

se e

le o

btev

e o

empr

ésti

mo

mal

icio

sam

ente

(fa

lta d

e et

icid

ade)

; i)

art

. 89

6: p

rote

ge o

por

tado

r de

boa

-fé

(etic

idad

e) c

ontr

a a

reiv

indi

caçã

o de

títu

lo d

e cr

édito

; j)

art

. 1.

258

e pa

rágr

afo

únic

o: a

quel

e qu

e co

nstr

ói e

m s

eu s

olo

e in

vade

par

cial

men

te s

olo

alhe

io, s

e ag

iu

de b

oa-f

é (e

tici

dade

) ad

quir

e a

part

e do

sol

o in

vadi

do,

inde

niza

ndo

o va

lor

da

14 M

AIA

, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

. N

ovos

par

adig

mas

do

dire

ito

civi

l. C

urit

iba:

Jur

uá,

2007

, p.

34

e 35

. A

inda

ne

sta

obra

o a

utor

ofe

rece

o c

once

ito

de d

igni

dade

hum

ana:

“P

ico

Del

la M

iran

dola

tev

e o

mér

ito

de,

aind

a no

culo

XV

, co

nstr

uir

uma

noçã

o de

dig

nida

de h

uman

a qu

e nã

o es

tava

cen

trad

a em

sua

for

tuna

, su

a po

siçã

o so

cial

, su

a es

tatu

ra f

unci

onal

. A

dig

nida

de,

o H

omem

a t

inha

por

ser

dot

ado

de r

azão

, co

nstr

utor

do

seu

futu

ro,

com

o se

r qu

e, c

om l

iber

dade

, po

de o

ptar

ent

re d

ecis

ões

poss

ívei

s e

cons

titu

ir-s

e nu

m p

rópr

io s

er d

ivin

o.”

Ing

o S

arle

t, na

sua

obr

a D

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a e

dire

itos

fun

dam

enta

is n

a C

onst

itui

ção

Fed

eral

, Por

to A

legr

e:

Liv

rari

a do

Adv

ogad

o, 2

001,

def

ine

dign

idad

e hu

man

a: “

tem

os p

or d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a a

qual

idad

e in

trín

seca

e d

isti

ntiv

a de

cad

a se

r hu

man

o qu

e o

faz

mer

eced

or d

o m

esm

o re

spei

to e

con

side

raçã

o po

r pa

rte

do

Est

ado

e da

com

unid

ade,

im

plic

ando

, ne

sse

sent

ido,

um

com

plex

o de

dir

eito

s e

deve

res

fund

amen

tais

que

as

segu

rem

a p

esso

a ta

nto

cont

ra t

odo

e qu

alqu

er a

to d

e cu

nho

degr

adan

te o

u de

sum

ano,

com

o ve

nham

a l

he

gara

ntir

as

co

ndiç

ões

exis

tenc

iais

m

ínim

as

para

um

a vi

da

saud

ável

, al

ém

de

prop

icia

r e

prom

over

su

a pa

rtic

ipaç

ão a

tiva

e c

ores

pons

ável

nos

des

tino

s da

pró

pria

exi

stên

cia

e da

vid

a em

com

unhã

o co

m o

s de

mai

s se

res

hum

anos

.” D

isse

rtan

do s

obre

a d

igni

dade

hum

ana

na o

brig

ação

, C

rist

iano

Cha

ves

de F

aria

e N

elso

n R

osen

vald

afi

rmam

: “O

brig

ação

e r

elaç

ão o

brig

acio

nal.

Est

rutu

ra e

fun

ção.

Aut

onom

ia p

riva

da,

boa-

fé e

fun

ção

soci

al.

Indi

vídu

o e

pess

oa.

Pat

rim

ônio

e e

xist

ênci

a. S

olid

ão e

sol

idar

ieda

de.

A d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a se

co

loca

em

tod

os e

sses

mom

ento

s. E

m s

eu p

erfi

l at

ivo,

con

vida

os

indi

vídu

os i

sola

dos

ao c

ontr

ato

soci

al e

ao

enta

bula

men

to d

a ob

riga

ção,

gar

anti

ndo

cond

içõe

s pa

ra o

ple

no d

esen

volv

imen

to d

a li

berd

ade

hum

ana.

A

dig

nida

de,

poré

m,

age

em o

utra

ver

tent

e. O

hom

em s

e co

nver

te e

m p

esso

a no

mun

do s

olid

ário

das

rel

açõe

s ob

riga

cion

ais.

Qua

lque

r so

cied

ade

só s

e af

irm

a em

coo

pera

ção,

tra

duzi

da e

sta

pela

boa

-fé

e fu

nção

soc

ial

no

rein

o do

s ne

góci

os ju

rídi

cos”

(D

irei

tos

das

obri

gaçõ

es, 4

ed.

Rio

de

Jane

iro:

Lum

en J

uris

, 200

9, p

. 8).

Page 7: Aulas de Direito das Obrigações

13

área

per

dida

e a

des

valo

riza

ção

da á

rea

rem

anes

cent

e, m

as s

e ag

iu d

e m

á-fé

(fal

ta d

e et

icid

ade)

a in

deni

zaçã

o se

rá e

m d

écup

lo e

tc.

D

os

exem

plos

co

laci

onad

os

mui

tos

são

com

uns

aos

prin

cípi

os

da

soci

alid

ade

e da

etic

idad

e qu

e se

ent

rela

çam

, um

com

plet

ando

o o

utro

, de

mod

o

são

duas

ver

edas

apl

aina

das

por

valo

res

sim

ilar

es.

Tan

to a

ssim

, qu

e o

prin

cípi

o

da s

ocia

lidad

e na

sce

de u

m d

ever

étic

o, q

ue o

brig

a o

titul

ar d

e um

dir

eito

subj

etiv

o ha

rmon

izar

o

seu

inte

ress

e ao

in

tere

sse

soci

al.

De

outr

a fa

ce,

a

etic

idad

e, t

endo

por

pro

post

a o

com

prom

etim

ento

do

Dir

eito

com

ide

ais

de a

lta

esti

ma

de u

ma

com

unid

ade,

est

á in

tim

amen

te l

igad

a ao

par

adig

ma

soci

alid

ade,

pois

som

ente

ass

im p

oder

á te

r um

sig

nifi

cado

rea

lmen

te e

difi

cant

e.15

O

cer

to é

que

ess

es d

ois

prin

cípi

os t

roux

eram

ao

Cód

igo

Civ

il u

ma

nova

dinâ

mic

a, o

u se

con

stitu

em e

m p

arad

igm

as q

ue r

ompe

m c

om o

for

mal

ism

o

técn

ico-

jurí

dico

pró

prio

do

indi

vidu

alis

mo

que

ante

cede

a m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

am

plia

ndo

as n

orm

as i

nscr

itas

na L

ei d

e In

trod

ução

às

Nor

mas

do

Dir

eito

Bra

sile

iro

(até

201

0 ch

amad

a L

ei d

e In

trod

ução

do

Cód

igo

Civ

il).

O a

rt.

4º a

o at

ribu

ir m

aior

val

oraç

ão à

ana

logi

a, a

os c

ostu

mes

e a

os p

rinc

ípio

s ge

rais

do

Dir

eito

. E

o a

rt. 5

º em

que

o j

uiz

deve

rá a

tend

er a

os f

ins

soci

ais

e às

exi

gênc

ias

do b

em c

omum

. D

e ef

eito

, ao

jui

z é

asse

gura

da a

nec

essá

ria

liber

dade

de

dist

ribu

ir, e

m c

ada

caso

sin

gula

r, o

jul

gam

ento

mai

s eq

uâni

me,

o q

ue c

ondu

z ao

just

o an

seio

dos

juri

sdic

iona

dos.

C

abe

uma

ress

alva

, o

Cód

igo

Civ

il d

e

Rea

le a

cres

cent

ou,

ao C

ódig

o C

ivil

de B

evila

qua,

nov

os a

rtig

os,

nos

quai

s da

boa-

fé o

u da

má-

fé d

ecor

rem

con

sequ

ênci

as ju

rídi

cas,

am

plia

ndo

e m

elho

rand

o o

prin

cípi

o da

eti

cida

de,

logo

não

lhe

é e

xclu

sivo

. D

e ef

eito

, sã

o ex

empl

os d

e

etic

idad

e no

Cód

igo

Civ

il r

evog

ado,

den

tre

outr

os,

os a

rtig

os 5

10,

513

a 51

5,

15

MA

IA, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

;Nov

os p

arad

igm

as d

o di

reito

civ

il. C

urit

iba:

Jur

uá, 2

007,

p. 3

0

14

550,

551

, 612

, 613

, 616

, 933

, par

ágra

fo ú

nico

, 968

, 1.0

02, 1

.072

, 1.0

73, 1

.318

e

1;32

1, 1

.443

.16

1.6

PR

INC

ÍPIO

DA

OP

ER

AB

ILID

AD

E

O

pri

ncíp

io d

a op

erab

ilida

de f

oi i

nspi

rado

no

Dir

eito

ale

mão

, e

segu

ndo

Mig

uel R

eale

: “o

Dir

eito

é f

eito

par

a se

r ex

ecut

ado;

Dir

eito

que

não

se

exec

uta

já d

izia

Jhe

ring

na

sua

imag

inaç

ão c

riad

ora

– é

cham

a qu

e nã

o aq

uece

, lu

z qu

e

não

ilum

ina.

”17 L

embr

a a

pará

bola

da

lâm

pada

: “Po

r ac

aso

tom

a-se

um

a la

nter

na

para

col

ocar

deb

aixo

do

alqu

eire

ou

do l

eito

? P

or a

caso

não

é p

ara

colo

car

sobr

e

o ca

ndel

abro

” (M

c. 8

, 21

). E

xpli

ca N

orbe

rto

Bob

bio:

“Fi

nalm

ente

, de

scen

do d

o

plan

o id

eal

ao p

lano

rea

l, um

a co

isa

é fa

lar

dos

dire

itos

do h

omem

, di

reito

s

sem

pre

novo

s e

cada

ve

z m

ais

exte

nsos

, e

just

ific

á-lo

s co

m

argu

men

tos

conv

ince

ntes

; ou

tra

cois

a é

gara

ntir

-lhe

s um

a pr

oteç

ão

efet

iva.

”18

Pr

oteç

ão

efet

iva

sign

ific

a qu

e as

no

vas

norm

as

têm

m

ais

clar

eza

reda

cion

al, t

orna

ndo-

as d

e m

ais

fáci

l op

erab

ilida

de n

o ca

so c

oncr

eto,

de

mod

o a

esta

bele

cer

solu

ções

nor

mat

ivas

que

fac

ilite

m s

ua in

terp

reta

ção

pelo

ope

rado

r do

Dir

eito

, is

to é

, o

aces

so d

a vi

da d

os t

exto

s pa

ra a

vid

a pr

átic

a. P

ara

tant

o, o

Cód

igo

vige

nte

aban

dono

u a

reda

ção

esm

erad

a, a

té c

láss

ica

do C

ódig

o re

voga

do,

mor

men

te d

epoi

s da

rev

isão

de

Rui

Bar

bosa

. Sua

ling

uage

m é

men

os r

ebus

cada

,

mai

s in

telig

ível

, ao

alc

ance

do

juri

sdic

iona

do e

de

tal

mod

o de

vem

ser

dir

igid

as

as

deci

sões

ju

dici

ais.

.

Su

pera

tam

bém

as

dúvi

das

rem

anes

cent

es d

o si

stem

a pa

ssad

o, p

or m

eio

de m

etód

ica

anál

ise

da ju

risp

rudê

ncia

. Exe

mpl

o m

arca

nte

é o

art.

330

do C

ódig

o

Civ

il, q

ue a

braç

ou a

jur

ispr

udên

cia

(R

T 6

47/1

46)

ao i

ntro

duzi

-la

em p

rece

ito

16

ME

ND

ON

ÇA

, Jac

y de

Sou

za e

t al.

Inov

açõe

s ao

nov

o có

digo

civ

il. S

ão P

aulo

: Qua

rtie

r L

atin

, 200

4, p

. 25.

17

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ós a

apr

ovaç

ão p

elo

Sena

do F

eder

al,

2 ed

. Sã

o P

aulo

: Sar

aiva

, 199

9, p

. 10.

18

BO

BB

IO, N

orbe

rto.

A e

ra d

os d

irei

tos,

trad

ução

de

Nel

son

Cou

tinh

o. R

io d

e Ja

neir

o: C

ampu

s, 1

992,

p. 6

3.

Page 8: Aulas de Direito das Obrigações

15

escr

ito.19

O

mes

mo

se d

eu c

om a

pre

scri

ção

e a

deca

dênc

ia.

Afa

star

am a

s dú

vida

s

susc

itad

as p

elas

teo

rias

est

érei

s qu

e at

é en

tão

prol

ifer

aram

, po

uco

escl

arec

endo

.

Fico

u ní

tida

a di

fere

nça

entr

e am

bas.

A o

rien

taçã

o ge

ral é

a s

egui

nte:

os

caso

s de

pres

criç

ão e

stão

con

tido

s no

s ar

ts.

205

e 20

6, d

a Pa

rte

Ger

al.

Em

tod

os o

s

dem

ais

caso

s, e

m r

egra

, o p

razo

ext

inti

vo é

dec

aden

cial

.

A

dem

ais,

cab

e um

a no

va l

eitu

ra d

o di

reito

pro

cess

ual.

de c

onvi

r, o

dire

ito

mat

eria

l so

brel

eva

o in

stru

men

tal.

Que

m

ingr

essa

em

ju

ízo

visa

à

efet

ivaç

ão,

por

mei

o do

dir

eito

sub

jeti

vo,

o qu

e lh

e co

nfer

e o

dire

ito o

bjet

ivo,

não

para

dis

cuti

r no

rmas

pur

amen

te p

roce

ssua

is.

São

cad

a ve

z m

ais

arca

icas

e

odio

sas

as d

ecis

ões

priv

ileg

iada

men

te p

roce

ssua

is,

quan

do a

for

ma

supe

ra o

cont

eúdo

. D

irei

to M

ater

ial

e D

irei

to I

nstr

umen

tal

deve

m m

ante

r um

diá

logo

perm

anen

te d

e m

anei

ra q

ue o

seg

undo

fac

ilite

, co

m n

orm

as c

lara

s e

de f

ácil

oper

abili

dade

, o

segu

ndo,

inc

lusi

ve p

reoc

upan

do-s

e co

m a

s de

cisõ

es e

m t

empo

útil,

des

buro

crat

izan

do o

pro

cess

o qu

e de

ve c

onte

mpl

ar a

ver

dade

mat

eria

l.

1.7

CO

NC

LU

SÃO

De

todo

o e

xpen

dido

qua

nto

aos

três

pri

ncíp

ios

a co

nclu

são

é du

al.

A

uma,

indi

ca q

ue o

Liv

ro d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

os d

emai

s L

ivro

s do

Cód

igo

Civ

il de

vem

ser

lid

os n

a co

nsid

eraç

ão d

os t

rês

prin

cípi

os e

xpos

tos,

par

a a

boa

e

caba

l in

terp

reta

ção

de s

uas

norm

as d

entr

o de

nov

os p

arad

igm

as q

ue o

s af

etam

dire

tam

ente

, to

rnan

do-o

s at

uais

e e

fetiv

os,

em u

ma

soci

edad

e qu

e ex

peri

men

ta

mud

ança

s co

nsta

ntes

ant

e o

dina

mis

mo

que

cara

cter

iza

a vi

da c

onte

mpo

râne

a. A

19 É

a s

egui

nte

juri

spru

dênc

ia r

efer

ida:

“A

pesa

r de

ter

em a

s pa

rtes

pac

tuad

o se

r a

dívi

da p

ortá

vel,

se o

sen

hori

o te

m o

cos

tum

e de

pro

cura

r o

inqu

ilin

o pa

ra r

eceb

er a

s pr

esta

ções

, a

dívi

da e

m q

uesí

vel,

exig

indo

-se

ao d

eved

or

apen

as a

pro

ntid

ão p

ara

paga

r, s

em q

ue t

enha

a o

brig

ação

de

ofer

ecer

. Fi

ca a

ssim

ple

nam

ente

jus

tifi

cáve

l a

cons

igna

tóri

a po

r in

aniç

ão d

o cr

edor

, o q

ue c

onfi

gura

a im

poss

ibil

itaç

ão d

o pa

gam

ento

.” (

RT

647

/146

). C

onfi

ra o

“A

rt.

330

: O

pag

amen

to r

eite

rada

men

te f

eito

em

out

ro l

ocal

faz

pre

sum

ir r

enún

cia

do c

redo

r re

lati

vam

ente

ao

prev

isto

no

cont

rato

”.

16

duas

, as

dec

isõe

s ju

dici

ais

não

pode

m m

ais

se c

onte

ntar

com

a v

erda

de f

orm

al,

cham

ada

por

algu

ns d

e se

gura

nça

jurí

dica

, a n

ova

leit

ura

está

a e

xigi

r a

busc

a da

verd

ade

mat

eria

l, po

is s

ó as

sim

se

rest

abel

ece

a pa

z so

cial

que

brad

a pe

lo c

onfl

ito

de i

nter

esse

s. É

um

bas

ta à

per

fídi

a “d

o fa

z de

con

ta”

de q

ue a

jus

tiça

foi

dist

ribu

ída,

faz

endo

cre

r qu

e o

Pode

r Ju

dici

ário

ape

nas

diri

me

conf

litos

de

inte

ress

es.

.

Po

is b

em,

assi

m e

nten

dend

o há

de

se a

dmit

ir, o

Cód

igo

Civ

il de

Rea

le é

prin

cipi

ológ

ico,

um

sis

tem

a se

mia

bert

o, p

ois

ao l

ado

das

norm

as c

asuí

stic

as

perf

ilam

as

cl

áusu

las

gera

is

e os

co

ncei

tos

lega

is

inde

term

inad

os,

dano

flex

ibili

dade

ao

sist

ema.

RE

SUM

O

Sist

emas

de

codi

fica

ção:

1) S

iste

ma

fech

ado:

é a

cas

uíst

ica,

res

olve

-se

pela

fat

ispé

cie:

a s

ubsu

nção

do

fato

à

lei.

O ju

iz n

ão p

ode

afas

tar-

se d

o te

xto

lega

l. S

iste

ma

pugn

ado

pela

s E

scol

as d

a E

xege

se e

dos

Pan

dect

as. P

erde

u im

port

ânci

a, e

spec

ialm

ente

a p

arti

r da

s dé

cada

s in

icia

is o

séc

ulo

XX

.

2)

Sist

ema

sem

iabe

rto:

al

ém

da

casu

ísti

ca,

figu

ram

as

cl

áusu

las

gera

is

e co

ncei

tos

lega

is in

dete

rmin

ados

.

As

cláu

sula

s ge

rais

e

os

conc

eito

s le

gais

in

dete

rmin

ados

o no

rmas

pr

opos

itada

men

te v

agas

e a

bert

as,

que

se a

just

am a

o ca

so c

oncr

eto

med

iant

e va

lora

ção,

pe

rmit

indo

m

obili

dade

ao

si

stem

a,

evita

ndo

o se

u pr

ecoc

e en

velh

ecim

ento

dia

nte

de u

ma

soci

edad

e di

nâm

ica,

em

con

stan

te m

udan

ça.

As

prim

eira

s nã

o pr

evee

m a

con

sequ

ênci

a ju

rídi

ca; a

s se

gund

as, s

im. O

fert

am m

aior

el

asti

cida

des

às d

ecis

ões

judi

ciai

s, s

empr

e na

bus

ca d

e se

faz

er j

ustiç

a no

cas

o co

ncre

to.

3) P

rinc

ípio

s: s

ão d

iret

rize

s m

aior

es d

o or

dena

men

to j

uríd

ico

e of

erec

em à

s no

rmas

se

u re

al

sent

ido

e al

canc

e.

Pode

m

ser

aplic

ados

a

um

núm

ero

inde

term

inad

o de

cas

os.

Dão

uni

dade

ao

orde

nam

ento

jur

ídic

o e

tam

bém

lhe

pe

rmit

em c

onst

ante

ren

ovaç

ão d

iant

e da

s tr

ansf

orm

açõe

s so

ciai

s.

Page 9: Aulas de Direito das Obrigações

17

a) P

rinc

ípio

da

soci

alid

ade:

ênfa

se a

o in

tere

sse

soci

al,

pois

o D

irei

to,

send

o um

a fo

rma

real

ista

, nã

o po

de s

er c

once

bido

sem

que

se

cons

ider

e a

soci

edad

e qu

e el

e de

ve r

egul

ar,

cont

udo

dand

o a

reco

nhec

ida

impo

rtân

cia

aos

dire

itos

in

divi

duai

s. N

ão d

eve

nem

pod

e co

lidir

com

os

dire

itos

fun

dam

enta

is p

revi

stos

na

Con

stitu

ição

Fed

eral

, ou

com

os

dire

itos

da p

erso

nalid

ade

prev

isto

s no

C

ódig

o C

ivil.

b) P

rinc

ípio

da

etic

idad

e: a

éti

ca d

eve

info

rmar

o D

irei

to,

isto

é,

o D

irei

to é

, so

bret

udo,

étic

o. E

Étic

a é

ente

nder

o o

utro

com

o se

fos

se o

pró

prio

eu.

O

Dir

eito

não

con

sagr

a tu

do q

ue é

mor

al,

mas

o D

irei

to n

ão s

e co

mpa

dece

com

a

imor

alid

ade.

Est

á em

con

stan

te d

iálo

go c

om o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e.

c) P

rinc

ípio

da

oper

abil

idad

e: a

lei

dev

e se

r cl

ara,

par

a qu

e to

dos

poss

am

ente

ndê-

la e

par

a qu

e op

ere

a su

a tr

ansf

erên

cia

da v

ida

do t

exto

par

a a

vida

pr

átic

a, a

fast

adas

inte

rpre

taçõ

es m

eram

ente

pro

tela

tóri

as, q

ue tr

azem

mor

osid

ade

à di

stri

buiç

ão d

a ju

stiç

a. D

irei

to C

ivil

e D

irei

to P

roce

ssua

l C

ivil

deve

m m

ante

r um

diá

logo

pro

fícu

o, s

endo

que

o s

egun

do é

ins

trum

ento

do

prim

eiro

, de

vend

o fa

cili

tar

o re

conh

ecim

ento

dos

dir

eito

s de

que

m p

rocu

ra a

jus

tiça,

esp

ecia

lmen

te

edita

ndo

norm

as q

ue p

ossi

bilit

em d

ecis

ões

em te

mpo

háb

il.

C

AP

ÍTU

LO

II

2.1

Top

ogra

fia

no C

ódig

o C

ivil:

Liv

ro I

da

P

arte

E

spec

ial.

2.2

Con

ceito

de

D

irei

to d

as O

brig

açõe

s. 2

.3 A

cepç

ão d

a pa

lavr

a ob

riga

ção.

2.

4 A

cepç

ões

de

deve

r ju

rídi

co, ô

nus

e su

jeiç

ão.

2.

1 T

OP

OG

RA

FIA

D

A

TE

OR

IA

GE

RA

L

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

NO

CO

DIG

O C

IVIL

O C

ódig

o C

ivil

de B

evil

aqua

é u

m m

onum

ento

do

Dir

eito

,

nega

r se

us

extr

aord

inár

ios

mér

itos

é in

conc

ebív

el,

porq

uant

o o

seu

text

o

repr

esen

ta u

m p

atri

môn

io j

uríd

ico

de v

alor

ine

stim

ável

. So

b a

sua

vigê

ncia

fora

m

escu

lpid

as

dout

rina

e

juri

spru

dênc

ia

hoje

m

uito

ap

rove

itáve

is,

cons

titu

indo

um

ace

rvo

obri

gató

rio

de c

onsu

lta

e pe

squi

sa.

Con

tudo

, é

frut

o de

18

sua

époc

a o

Est

ado

Lib

eral

e d

e um

a so

cied

ade

pred

omin

ante

men

te a

grár

ia.20

Era

, po

is,

uma

soci

edad

e es

táve

l e

cons

erva

dora

, re

cém

lib

erta

da

mác

ula

da

escr

avid

ão.

Nel

e o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

está

ins

erid

o no

Liv

ro I

II d

a Pa

rte

Esp

ecia

l, a

inov

ação

do

Cód

igo

Civ

il de

Rea

le f

oi d

eslo

cá-l

o pa

ra o

Liv

ro I

,

imed

iata

men

te d

epoi

s da

Par

te G

eral

, an

tece

dend

o o

Dir

eito

de

Em

pres

a (L

ivro

II),

o D

irei

to d

as C

oisa

s (L

ivro

III

), o

Dir

eito

de

Fam

ília

(L

ivro

IV

) e

o D

irei

to

das

Suce

ssõe

s (L

ivro

V).

É

a s

equê

ncia

do

Cód

igo

Civ

il da

Ale

man

ha d

e 19

00, s

egui

da p

elo

Cód

igo

Civ

il de

Por

tuga

l de

1966

. Dis

posi

ção

mai

s di

dátic

a, p

orqu

anto

os

dem

ais

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l co

ntêm

mat

éria

rel

acio

nada

às

obri

gaçõ

es o

que

, po

r ló

gico

raci

ocín

io,

torn

a-se

mai

s fá

cil

ente

ndê-

los

depo

is d

e co

nhec

er o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Con

side

ra-s

e ai

nda

que

a so

cied

ade

atua

l é m

arca

dam

ente

urb

ana,

alé

m d

e

cont

amin

ada

pelo

pro

blem

a ec

onôm

ico

em q

ue, d

e m

odo

gera

l, a

pess

oa c

ontr

ata

ante

s de

torn

ar-s

e tit

ular

de

algu

m d

irei

to r

eal,

isto

é, a

ntes

de

ser

prop

riet

ário

de

algu

ma

cois

a, t

ambé

m s

e ob

riga

ant

es d

e co

nsti

tuir

fam

ília

pel

o ca

sam

ento

, ou

mes

mo

de

adqu

irir

pa

trim

ônio

po

r su

cess

ão.21

P

or s

ua v

ez,

a Pa

rte

Ger

al d

o C

ódig

o C

ivil

dis

põe

mat

éria

s qu

e se

rão

impr

esci

ndív

eis

ao e

stud

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

des

taca

ndo

entr

e ou

tras

no

Liv

ro I

a p

esso

a na

tura

l e a

jurí

dica

que

pro

tago

niza

m o

Dir

eito

, poi

s sã

o ca

paze

s

de d

irei

tos

e de

vere

s na

órb

ita c

ivil

(CC

art

. 1º)

. Com

ênf

ase

espe

cial

aos

dir

eito

s

da p

erso

nalid

ade

(CC

art

s. 1

1 a

21),

mat

éria

de

há m

uito

con

tem

plad

a pe

la

Con

stitu

ição

Fed

eral

, sis

tem

atiz

ada

pela

pri

mei

ra v

ez n

o D

irei

to P

riva

do p

assa

a

20

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ós a

apr

ovaç

ão p

elo

Sen

ado

Fed

eral

, 2ª

ed.

São

P

aulo

: Sar

aiva

, 199

9, p

. 4.

21 F

IÚZ

A, R

icar

do. N

ovo

Cód

igo

Civ

il: e

stru

tura

do

proj

eto

e et

apas

de

elab

oraç

ão, i

n R

evis

ta J

uríd

ica,

vol

. 292

, fe

vere

iro

de 2

002

– D

outr

ina

Civ

il, p

. 28

a 31

.

Page 10: Aulas de Direito das Obrigações

19

ser

de e

spec

ial

cons

ider

ação

na

inte

rpre

taçã

o e

na a

plic

ação

prá

tica

das

norm

as

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s.

O

Liv

ro I

I da

Par

te G

eral

abo

rda

os b

ens

móv

eis

e im

óvei

s, f

ungí

veis

e

cons

umív

eis,

div

isív

eis

e in

divi

síve

is, s

ingu

lare

s e

cole

tivos

(C

C a

rts.

79

a 10

3),

os q

uais

são

de

sign

ific

ativ

a im

port

ânci

a pa

ra a

Teo

ria

Ger

al d

as O

brig

açõe

s ao

estu

dar

mor

men

te a

s ob

riga

ções

de

dar.

Q

uant

o ao

Liv

ro I

II, o

mai

s ex

tens

o do

s tr

ês q

ue c

ompõ

em a

Par

te G

eral

,

prep

onde

ra a

nec

essi

dade

de

se r

emem

orar

o n

egóc

io j

uríd

ico

(CC

art

s. 1

04 a

114)

, po

is a

obr

igaç

ão é

um

neg

ócio

jur

ídic

o, é

um

a re

laçã

o en

tre

pess

oas,

som

ente

a p

esso

a na

tura

l e

a ju

rídi

ca t

êm p

erso

nalid

ade,

ape

nas

elas

são

cap

azes

de e

xerc

er d

irei

tos

e de

ass

umir

obr

igaç

ões,

com

o re

gra

gera

l, o

que

não

excl

ui

uma

ou o

utra

exc

eção

ao

trat

ar d

os e

ntes

des

pers

onal

izad

os.

A

lém

do

mai

s, o

s ef

eito

s do

neg

ócio

jur

ídic

o, e

xist

ênci

a, v

alid

ade

e

efic

ácia

, bem

ain

da o

s ví

cios

de

cons

entim

ento

: err

o ou

igno

rânc

ia, d

olo,

coa

ção,

esta

do

de

peri

go,

lesã

o e

frau

de

cont

ra

cred

ores

o ap

lica

dos

ao

dire

ito

obri

gaci

onal

(C

C a

rts.

138

a 1

65).

Ent

ram

nes

se c

onte

xto

as a

nula

bilid

ades

e a

s

nulid

ades

(C

C a

rts.

166

a 1

84).

Ver

-se-

á ta

mbé

m q

ue a

con

diçã

o, o

ter

mo

e o

enca

rgo

corr

espo

ndem

mod

alid

ades

de

obri

gaçã

o (C

C a

rts.

121

a 1

37).

E

m

segu

ida

outr

a m

atér

ia

de

vita

l co

nsid

eraç

ão

para

o

estu

do

das

obri

gaçõ

es é

ato

ilíc

ito,

o ab

solu

to p

revi

sto

no a

rt.

186

e o

do a

rt.

187

ao

conc

eitu

ar o

abu

so d

e di

reit

o.

A

Par

te G

eral

est

uda

aind

a a

pres

criç

ão e

a d

ecad

ênci

a, q

ue é

a e

xtin

ção

da

pret

ensã

o do

dir

eito

de

ação

ou

a pe

rda

do p

rópr

io d

irei

to p

elo

decu

rso

de te

mpo

,

o qu

e se

apl

ica

ao n

egóc

io ju

rídi

co o

brig

acio

nal (

CC

art

s. 1

89 a

211

).

B

em p

or i

sso,

a P

arte

Ger

al,

que

inco

rpor

ou n

o se

u te

xto

prin

cípi

os

cons

titu

cion

ais,

co

nsti

tui

o pó

rtic

o de

en

trad

a do

C

ódig

o C

ivil,

se

ndo

20

indi

spen

sáve

l o s

eu c

onhe

cim

ento

par

a qu

e se

ent

enda

os

dem

ais

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l.

Eis

o L

ivro

I d

a Pa

rte

Esp

ecia

l do

Cód

igo

Civ

il:

PA

RT

E E

SPE

CIA

L

Liv

ro I

Do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

Bif

urca

-se

na T

eori

a G

eral

das

Obr

igaç

ões

e no

s co

ntra

tos

em e

spéc

ies.

Tít

ulo

I

Das

Mod

alid

ades

das

Obr

igaç

ões

(art

s. 2

33 a

285

)

Abo

rda

as m

odal

idad

es d

e ob

riga

ções

, co

m d

esta

que

para

as

três

bás

icas

:

as o

brig

açõe

s de

dar

, faz

er e

não

faz

er.

Tít

ulo

II

Da

Tra

nsm

issã

o da

s O

brig

açõe

s (a

rts.

286

a 3

03)

As

obri

gaçõ

es p

odem

ser

tran

smit

idas

de

um d

eved

or p

ara

outr

o, o

u de

um

cred

or p

ara

outr

o.

Tít

ulo

III

Do

Adi

mpl

emen

to e

Ext

inçã

o da

s O

brig

açõe

s (a

rts.

304

a

388)

Dem

onst

ra q

ue o

pag

amen

to d

iret

o ou

ind

iret

o ex

ting

ue a

obr

igaç

ão,

alfo

rria

ndo

o de

vedo

r de

sua

pre

staç

ão p

or s

atis

faze

r o

dire

ito d

o cr

edor

.

Tít

ulo

IV

Do

Inad

impl

emen

to d

as O

brig

açõe

s (a

rts.

389

a 4

20)

Tra

ta d

a ob

riga

ção

não

cum

prid

a pe

lo d

eved

or e

as

suas

con

sequ

ênci

as,

espe

cial

men

te o

dir

eito

do

cred

or d

e in

vest

ir c

ontr

a o

patr

imôn

io d

o de

vedo

r at

é

que

se v

eja

pago

e s

atis

feit

o.

Page 11: Aulas de Direito das Obrigações

21

Os

Tít

ulos

V a

XII

I (a

rts.

421

926

)

Dis

cipl

ina

os c

ontr

atos

em

ger

al e

sua

s vá

rias

esp

écie

s, o

s de

nom

inad

os

típic

os o

u no

min

ados

, os

atos

uni

late

rais

e o

s tít

ulos

de

créd

ito.

Tít

ulo

IX

Da

Res

pons

abili

dade

Civ

il (a

rts.

927

a 9

54)

Par

a se

exi

gir

o cu

mpr

imen

to d

a ob

riga

ção,

em

erge

m d

uas

espé

cies

de

tute

la a

esp

ecíf

ica

em q

ue o

adi

mpl

emen

to é

per

segu

ido

conf

orm

e a

obri

gaçã

o

foi

cont

rata

da, e

a g

enér

ica

pela

s pe

rdas

e d

anos

, nes

ta ú

ltim

a en

tra

no c

enár

io a

resp

onsa

bilid

ade

civi

l.

Tít

ulo

X

Das

Pre

ferê

ncia

s e

Pri

vilé

gios

Cre

dití

cios

Pre

veja

a

inso

lvên

cia

civi

l e

dist

ingu

e os

cr

édito

s en

tre

os

de

igua

l

pref

erên

cia

e os

que

goz

am d

e pr

ivilé

gio

em g

eral

sob

re o

s be

ns d

o de

vedo

r.

2.2

CO

NC

EIT

O D

E D

IRE

ITO

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

Des

de a

s m

ais

vetu

stas

era

s a

pess

oa h

uman

a vi

ve e

m c

omum

uni

ão

(com

unhã

o),

por

impe

rati

vo

de

sua

próp

ria

natu

reza

. D

o cl

ã pr

imit

ivo

à

cibe

rnét

ica,

a h

uman

idad

e es

crev

e a

sua

hist

ória

tim

brad

a pe

la s

ocia

bilid

ade.

Nes

se a

mbi

ente

com

part

ilhad

o, c

rian

do c

om s

ua c

apac

idad

e in

vent

iva

mei

os

hábe

is

e id

ôneo

s,

a pe

ssoa

hu

man

a co

nseg

ue

satis

faze

r su

as

nece

ssid

ades

mat

eria

is e

imat

eria

is, t

anto

as

essê

ncia

s co

mo

as s

upér

flua

s. E

a s

ocie

dade

exi

ge

orde

nam

ento

, cab

endo

ao

Dir

eito

, com

sua

s re

gras

, dis

cipl

inar

as

rela

ções

soc

iais

que

se e

stab

elec

em c

ada

vez

mai

s in

trig

ante

s e

com

plex

as.

A

vida

hu

man

a tr

ata-

se,

por

cons

egui

nte,

de

in

cess

ante

in

tera

ção

inte

rsub

jetiv

a es

tabe

lece

ndo

rela

ções

ju

rídi

cas,

al

gum

as

dela

s de

ca

ráte

r

patr

imon

ial,

porq

uant

o cr

ia u

m v

íncu

lo e

ntre

pes

soas

, lim

itan

do s

ua li

berd

ade,

de

22

sort

e ob

riga

um

a pe

ssoa

, ch

amad

a de

vedo

r, a

for

nece

r de

term

inad

a pr

esta

ção

à

outr

a pe

ssoa

, cha

mad

a cr

edor

.

P

ode-

se, a

ssim

, con

ceitu

ar o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

é o

ram

o do

D

irei

to

Civ

il qu

e co

njug

a as

no

rmas

qu

e di

scip

lina

m

as

rela

ções

ju

rídi

cas

patr

imon

iais

, te

ndo

por

obje

to a

pre

staç

ão d

e um

suj

eito

em

pro

veit

o de

out

ro.

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

ge,

dess

a fo

rma,

as

rela

ções

jur

ídic

as e

ntre

o

débi

to e

o c

rédi

to, r

egul

amen

tand

o as

rel

açõe

s in

terp

esso

ais

em q

ue u

ma

pess

oa,

ou m

ais,

enc

ontr

a-se

na

situ

ação

de

débi

to, e

out

ra p

esso

a, o

u m

ais,

com

o d

irei

to

de r

eceb

er u

m c

rédi

to.

É o

ram

o do

Dir

eito

Civ

il q

ue d

isci

plin

a as

rel

açõe

s

jurí

dica

s de

car

áter

eco

nôm

ico.

Des

sa

inte

raçã

o en

tre

deve

dor

(deb

itor)

e

cred

or

(cre

dito

r)

surg

e a

obri

gaçã

o (o

brig

atio

), o

u re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal,

que

obri

ga o

dev

edor

a

cum

prir

a p

rest

ação

deb

itóri

a, e

arm

a o

cred

or c

om o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

essa

mes

ma

pres

taçã

o, p

ara

ele

cred

itóri

a. L

ogo,

a f

inal

idad

e da

rel

ação

jur

ídic

a

obri

gaci

onal

é a

sat

isfa

ção

de u

m i

nter

esse

legí

tim

o do

cre

dor.

Int

eres

se le

gíti

mo

é to

do in

tere

sse

útil

e sé

rio

sob

o po

nto

de v

ista

do

orde

nam

ento

jurí

dico

.

Dem

ais

diss

o, é

o r

amo

do D

irei

to e

m q

ue o

her

men

euta

, di

z C

aio

Már

io

da S

ilva

Pere

ira,

dev

e re

port

ar-s

e m

ais

do q

ue e

m o

utro

s se

tore

s ao

Dir

eito

Rom

ano.

E c

ompl

eta:

É c

erto

que

fat

ores

dif

eren

tes

têm

atu

ado

na s

ua e

tiolo

gia,

se

m

cont

udo

alte

rar-

lhe

a es

sênc

ia.

Se

foca

lizar

mos

o

exce

ssiv

o ri

gor

indi

vidu

alis

ta d

o D

irei

to R

oman

o, o

not

ório

pe

ndor

es

piri

tual

ista

m

edie

val,

ou

a in

fluê

ncia

so

cial

ista

m

arca

nte

do d

irei

to m

oder

no,

e an

alis

arm

os,

às r

espe

ctiv

as

Page 12: Aulas de Direito das Obrigações

23

luze

s,

a es

trut

uraç

ão

dogm

átic

a da

ob

riga

ção,

o en

cont

ram

os d

iver

sida

de e

ssen

cial

.22

Em

ou

tras

pa

lavr

as,

o D

irei

to

das

Obr

igaç

ões

tem

in

ício

no

D

irei

to

Rom

ano

e gu

arda

as

suas

raí

zes

hist

óric

as,

assi

m p

orqu

e, m

esm

o ap

egad

os a

o

exag

erad

o fo

rmal

ism

o at

é re

lega

ndo

o co

nteú

do,

os j

uris

cons

ulto

s ro

man

os

dese

nvol

vera

m,

luci

dam

ente

, os

fun

dam

ento

s es

senc

iais

das

rel

açõe

s ju

rídi

cas

obri

gaci

onai

s, d

essa

for

ma

as d

iver

sas

alte

raçõ

es s

ofri

das

tiver

am p

or o

bjet

ivo

a

adap

taçã

o às

rea

lidad

es s

ocia

is q

ue s

e su

cede

ram

. O

Dir

eito

não

é e

stát

ico,

é

dinâ

mic

o, s

empr

e ex

peri

men

ta m

udan

ça,

acom

panh

ando

as

mud

ança

s do

mei

o

soci

al q

ue e

le s

e di

spõe

reg

ulam

enta

r.

E

na

pós-

mod

erni

dade

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s ca

min

ha n

a di

reçã

o de

mel

hor

real

izar

o

equi

líbri

o so

cial

, se

ndo

que

não

se

dire

cion

a ap

enas

na

preo

cupa

ção

mor

al d

e im

pedi

r a

expl

oraç

ão d

o fr

aco

pelo

for

te,

com

o ai

nda

de

sobr

elev

ar o

int

eres

se c

olet

ivo,

arr

edan

do o

s in

tere

sses

ind

ivid

uais

de

cunh

o

depl

orav

elm

ente

ego

ísti

co.

C

orri

ge a

s in

just

iças

a q

ue f

oi c

ondu

zido

qua

ndo

vigi

a, n

a ór

bita

pol

ític

a e

econ

ômic

a, o

lib

eral

ism

o. S

eu c

onte

údo

é m

ais

hum

ano,

soc

ial

e ét

ico.

Enf

im,

tend

e pa

ra a

eti

cida

de e

a s

ocia

lidad

e na

con

form

idad

e da

s co

nvic

ções

a e

sse

resp

eito

dom

inan

tes.

23

2.3

AC

EP

ÇÕ

ES

DA

PA

LA

VR

A O

BR

IGA

ÇÃ

O

N

a li

ngua

gem

com

um, a

pal

avra

obr

igaç

ão é

em

pres

tada

par

a de

sign

ar, d

e

mod

o in

disc

rim

inad

o,

todo

s os

de

vere

s e

ônus

de

na

ture

za

jurí

dica

ou

extr

ajur

ídic

a. N

a pr

imei

ra a

cepç

ão, a

jurí

dica

, se

diz

que

o ve

nded

or é

obr

igad

o a

entr

egar

a c

oisa

ven

dida

, e

o co

mpr

ador

a p

agar

o p

reço

cor

resp

onde

nte.

Na

22

PE

RE

IRA

, C

aio

Már

io d

a S

ilva

. In

stit

uiçõ

es d

e di

reit

o ci

vil,

v. 2

: T

eori

a ge

ral

das

obri

gaçõ

es,

22 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

009,

p. 3

e 4

, 23

GO

ME

S, O

rlan

do. T

rans

form

açõe

s ge

rais

do

dire

ito

das

obri

gaçõ

es. S

ão P

aulo

: RT

, 196

7, p

. 1 e

2.

24

segu

nda,

a e

xtra

jurí

dica

, po

de r

efer

ir-s

e a

deve

r re

ligio

so:

todo

cre

nte

tem

a

obri

gaçã

o de

am

ar a

Deu

s; o

u a

deve

r m

oral

: to

dos

têm

a o

brig

ação

de

resp

eito

para

com

o o

utro

; ou

a de

ver

de c

orte

sia:

o m

ais

jove

m te

m a

obr

igaç

ão d

e ce

der

o se

u lu

gar

ao m

ais

idos

o, o

u o

hom

em à

mul

her

etc.

N

esse

sen

tido

ampl

o, o

voc

ábul

o ob

riga

ção

é si

nôni

mo

de d

ever

. Dev

eres

jurí

dico

s e

não

jurí

dico

s sã

o de

sign

ados

or

dina

riam

ente

de

ob

riga

ção.

S

ão

com

uns

expr

essõ

es c

omo:

tod

os s

ão o

brig

ados

a r

espe

itar

a vi

da,

a in

tegr

idad

e

físi

ca e

mor

al d

as d

emai

s pe

ssoa

s; t

odos

são

obr

igad

os a

res

peita

r a

prop

ried

ade

alhe

ia.

Tam

bém

gua

rda

sino

ním

ia c

om ô

nus.

Da

mes

ma

form

a ou

ve-s

e: q

uem

aleg

a é

obri

gado

a p

rova

r; q

uem

tem

esc

ritu

ra p

úblic

a é

obri

gado

a r

egis

trá-

la

para

se

torn

ar p

ropr

ietá

rio

de u

m b

em im

óvel

. E p

or v

ezes

, a p

alav

ra o

brig

ação

é

empr

egad

a no

sen

tido

de s

ujei

ção.

São

sen

tidos

ou

sign

ific

ados

im

próp

rios

pel

a

falt

a de

pre

cisã

o té

cnic

o-ju

rídi

ca.

O

sen

tido

ou

sign

ific

ado

técn

ico-

jurí

dico

, qu

e in

tere

ssa,

é m

uito

mai

s

estr

eito

. O

brig

ação

se

pr

esta

pa

ra

sign

ific

ar

a re

gula

men

taçã

o do

ncul

o

jurí

dico

est

abel

ecid

o en

tre

deve

dor

e cr

edor

, se

ja e

m v

irtu

de d

a le

i (e

x le

gis)

ou

do c

ontr

ato

(ex

cont

ract

us),

tend

o po

r ob

jeto

det

erm

inad

a pr

esta

ção.

2.4

AC

EP

ÇÕ

ES

DE

DE

VE

R J

UR

ÍDIC

O, Ô

NU

S E

SU

JEIÇ

ÃO

Cab

e re

cord

ar o

que

são

dir

eito

s ob

jetiv

o e

subj

etiv

o. D

irei

to o

bjet

ivo

é o

conj

unto

de

norm

as j

uríd

icas

que

reg

e a

cond

uta

hum

ana

na v

ida

em s

ocie

dade

,

pres

crev

endo

um

a sa

nção

dir

eta

ou in

dire

ta n

o ca

so d

e su

a tr

ansg

ress

ão. É

nor

ma

de a

gir

dota

da d

e sa

nção

. Est

á no

s có

digo

s, n

os m

icro

ssis

tem

as, n

as l

eis.

Val

e a

clás

sica

máx

ima

rom

ana:

jus

est

nor

ma

agen

di.

Daí

, o

deve

r ju

rídi

co t

rata

de

uma

impo

siçã

o do

dir

eito

obj

etiv

o di

rigi

da a

tod

os i

ndis

tint

amen

te, a

fim

de

que

Page 13: Aulas de Direito das Obrigações

25

seja

ado

tado

det

erm

inad

o co

mpo

rtam

ento

coe

rent

e co

m a

vid

a em

soc

ieda

de, s

ob

pena

de,

vio

land

o-o,

sub

met

er-s

e à

sanç

ão p

resc

rita

.

Tom

a-se

o

dire

ito

de

prop

ried

ade

que

outo

rga

ao

prop

riet

ário

as

prer

roga

tivas

de

usar

, goz

ar, d

ispo

r e

reiv

indi

car

os s

eus

bens

. Se

algu

ém a

tent

ar

cont

ra

essa

s pr

erro

gativ

as,

a le

i im

põe

ao

tran

sgre

ssor

um

a sa

nção

. O

utro

exem

plo,

o d

ever

jur

ídic

o de

res

peita

r a

vida

e a

int

egri

dade

fís

ica

e m

oral

das

pess

oas,

se

algu

ém m

atar

a l

ei i

mpõ

e um

a sa

nção

, nã

o ap

enas

pen

al (

CP

art.

121)

, m

as t

ambé

m c

ível

, po

is o

art

. 94

8 do

Cód

igo

Civ

il d

ispõ

e qu

e no

cas

o de

hom

icíd

io a

ind

eniz

ação

con

sist

e no

pag

amen

to d

e al

imen

tos

às p

esso

as a

que

m

o m

orto

os

devi

a, a

lém

de

outr

as v

erba

s. N

o ca

so d

e le

são

corp

oral

(C

P ar

t. 12

9)

o ar

t. 94

9 do

Cód

igo

Civ

il i

mpõ

e ao

ofe

nsor

ind

eniz

ar o

ofe

ndid

o da

s de

spes

as

de t

rata

men

to e

dos

luc

ros

cess

ante

s at

é fi

nal

conv

ales

cênc

ia.

São

impo

siçõ

es

coge

ntes

qu

e a

todo

s ca

bem

cu

mpr

i-la

s.

O

desr

espe

ito

ao

deve

r ju

rídi

co

corr

espo

nde

a su

bmet

er à

san

ção

pres

crita

. N

ota-

se,

pois

, o

cum

prim

ento

do

deve

r ju

rídi

co s

atis

faz

um d

irei

to s

ubje

tivo

alhe

io.

P

or s

ua v

ez,

o di

reito

sub

jetiv

o é

o po

der

de a

ção

cont

ido

na n

orm

a, a

facu

ldad

e de

exe

rcer

o d

irei

to o

bjet

ivo.

Ou

o po

der

atri

buíd

o à

vont

ade

da p

esso

a

de e

xigi

r o

que

lhe

é de

feri

do p

elo

dire

ito o

bjet

ivo,

res

peit

ados

os

seus

lim

ites

. É

o af

oris

mo

repe

tido

secu

larm

ente

: jus

est

facu

ltas

age

ndi.

No

exem

plo

das

lesõ

es

corp

orai

s, p

ode

o of

endi

do r

esig

nar-

se, c

omo

pode

insu

rgir

-se

cont

ra o

ofe

nsor

; é

uma

facu

ldad

e qu

e lh

e é

dada

e n

essa

fac

ulda

de e

ncon

tra-

se o

dir

eito

sub

jetiv

o.

O ô

nus

tam

bém

im

plic

a na

nec

essi

dade

de

se c

ondu

zir

de c

erta

for

ma

no

exer

cíci

o do

dir

eito

sub

jetiv

o, n

ão p

or i

mpo

siçã

o di

reta

do

dire

ito

obje

tivo,

nem

para

sat

isfa

zer

dire

ito

de o

utre

m, p

elo

cont

rári

o, v

olta

-se

no r

esgu

ardo

ou

defe

sa

de u

m d

irei

to p

rópr

io.

Por

não

ser

impo

siçã

o do

dir

eito

obj

etiv

o, n

ão g

era

sanç

ão.

Supo

nha-

se q

ue u

ma

pess

oa i

nven

te d

eter

min

ada

cois

a, e

la s

ó te

rá a

titul

arid

ade

de s

eu in

vent

o se

tira

r pa

tent

e. O

dir

eito

obj

etiv

o of

erec

e a

facu

ldad

e

26

ao d

esco

brid

or p

ara

que

se p

aten

teie

, não

o o

brig

a. P

or c

onse

guin

te, o

ônu

s é

um

mei

o de

se

ob

ter

uma

vant

agem

ou

, pe

lo

men

os,

de

se

impe

dir

uma

desv

anta

gem

, po

r is

so t

rata

-se

de u

m d

ever

liv

re,

na e

xpre

ssão

de

Ant

unes

Var

ela.

24 O

utra

s ve

zes,

o ô

nus

pode

rec

air

sobr

e um

bem

, é

o ôn

us r

eal

com

o a

cláu

sula

de

inal

iena

bilid

ade,

que

não

per

mit

e, c

omo

se d

eduz

, a

alie

naçã

o do

bem

cla

usul

ado,

o q

ue s

erá

obje

to d

e es

tudo

do

Dir

eito

das

Coi

sas.

Su

jeiç

ão é

o c

ontr

apól

o do

dir

eito

pot

esta

tivo,

aqu

ele

que

depe

nde

de u

ma

vont

ade.

25

Na

suje

ição

a

rela

ção

jurí

dica

se

ca

ract

eriz

a po

r um

a pa

rte

enco

ntra

r-se

em

pos

ição

de

pote

stad

e, e

m s

itua

ção

de p

oder

em

rel

ação

à o

utra

,

que

assi

m e

stá

em s

itua

ção

de s

ubm

issã

o ou

suj

eiçã

o. O

con

trat

o de

seg

uro

de

pess

oa,

que

já f

oi d

enom

inad

o de

con

trat

o de

seg

uro

de v

ida,

con

juga

trê

s

pers

onag

ens:

o s

egur

ado,

a s

egur

ador

a e

o be

nefi

ciár

io.

O s

egur

ado

nom

eia,

na

apól

ice

de

segu

ro,

por

exem

plo,

co

mo

bene

fici

ária

a

sua

espo

sa.

Dep

ois,

entr

etan

to,

pref

ere

que

os

bene

fici

ário

s se

jam

os

fi

lhos

. C

onsi

dera

ndo

sim

ples

men

te a

sua

úni

ca v

onta

de,

o se

gura

do s

ubst

itui

a es

posa

pel

os f

ilho

s.

Dep

ende

som

ente

de

sua

vont

ade,

é u

m d

irei

to p

otes

tativ

o. A

esp

osa

por

esta

r

em s

itua

ção

de s

ujei

ção

não

pode

opo

r-se

. O

utra

pas

sage

m t

ambé

m s

e pr

esta

:

quem

out

orga

um

a pr

ocur

ação

pod

e a

qual

quer

mom

ento

rev

ogá-

la,

depe

nde

de

uma

únic

a vo

ntad

e, a

do

outo

rgan

te, d

ispe

nsan

do o

con

sent

imen

to d

a ou

tra

part

e,

a do

out

orga

do.

Dev

er j

uríd

ico,

ônu

s e

suje

ição

, ex

pres

sões

com

sig

nifi

cado

s di

fere

ntes

,

tam

bém

não

gua

rdam

sin

oním

ia c

om o

brig

ação

.

24

VA

RE

LA

, Ant

unes

. Das

obr

igaç

ões

em g

eral

, vol

. I, 1

0 ed

. Coi

mbr

a: A

lmed

ina,

p. 5

8.

25 V

AR

EL

A,

Ant

unes

. D

as o

brig

açõe

s em

ger

al,

vol.

I, 1

0 ed

. C

oim

bra:

Alm

edin

a, p

. 55

, no

ta 1

de

roda

pé:

“Cha

ma-

se d

irei

to p

otes

tati

vo (

gest

altu

ngsr

echt

ou

Kan

nret

cht,

na te

rmin

olog

ia d

os a

utor

es a

lem

ães

– Z

itel

man

n,

Enn

ecer

us,

Hel

lwig

e S

ecke

l –

que

fora

m o

s cr

iado

res

e pr

imei

ros

defe

nsor

es d

o co

ncei

to)

o po

der

conf

erid

o a

dete

rmin

adas

pe

ssoa

s de

in

trod

uzir

em

uma

mod

ific

ação

na

es

fera

ju

rídi

ca

de

outr

as

pess

oas

(cri

ando

, m

odif

ican

do o

u ex

ting

uind

o di

reit

os),

sem

a c

oope

raçã

o de

stas

.”

Page 14: Aulas de Direito das Obrigações

27

Com

o já

di

to

e va

le

refo

rçar

, a

obri

gaçã

o é

uma

rela

ção

jurí

dica

esta

bele

cida

ent

re d

ois

polo

s co

ntra

post

os, d

e um

lad

o o

deve

dor

(pol

o pa

ssiv

o),

aque

le a

que

m c

abe

adim

plir

a p

rest

ação

, e

de o

utro

lad

o o

cred

or (

polo

ati

vo),

aque

le q

ue t

em o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

ess

a pr

esta

ção.

Sem

pre

pres

supõ

e

esse

bin

ômio

: de

vedo

r e

cred

or.

Cum

prid

a a

pres

taçã

o ex

aure

-se

a ob

riga

ção.

O

alun

o qu

e cu

rsa

uma

esco

la t

em a

obr

igaç

ão d

e pa

gar

a m

ensa

lidad

e, p

or s

eu

turn

o, a

esc

ola

tem

a o

brig

ação

de

min

istr

ar a

ulas

e d

emai

s at

ivid

ades

did

átic

o-

peda

gógi

cas

iner

ente

s ao

cur

so;

o lo

cado

r te

m a

obr

igaç

ão d

e en

treg

ar a

coi

sa

loca

da a

o lo

catá

rio,

e e

ste

a ob

riga

ção

de p

agar

o a

lugu

el à

quel

e.

A o

brig

ação

sem

pre

conj

uga

três

ele

men

tos:

o e

lem

ento

sub

jeti

vo: d

eved

or

e cr

edor

; o

elem

ento

obj

etiv

o: a

pre

staç

ão p

ropr

iam

ente

dita

; e

o el

emen

to

espi

ritu

al,

tam

bém

cha

mad

o de

vín

culo

jur

ídic

o qu

e é

a di

scip

lina

que

une

o

deve

dor

ao c

redo

r e

obri

ga a

o cu

mpr

imen

to d

a pr

esta

ção

aven

çada

, co

mo

será

abor

dado

log

o ad

iant

e. P

ara

Orl

ando

Gom

es,

com

mui

to a

cert

o, a

obr

igaç

ão é

uma

espé

cie

do g

êner

o de

ver

jurí

dico

,26 d

e so

rte

o de

ver

jurí

dico

é m

uito

mai

s

ampl

o po

rque

tam

bém

se

refe

re a

rel

ação

jurí

dica

não

pat

rim

onia

l, co

mo

o de

ver

dos

cônj

uges

de

mút

ua a

ssis

tênc

ia,

enqu

anto

que

a o

brig

ação

é s

empr

e um

a

rela

ção

jurí

dica

pat

rim

onia

l.

RE

SUM

O

1)

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s es

tá i

nser

ido

no L

ivro

I,

da P

arte

Esp

ecia

l, do

C

ódig

o C

ivil,

art

s. 2

33 a

965

. C

onta

min

a os

div

erso

s liv

ros

do C

ódig

o C

ivil,

que

lhe

são

pos

teri

ores

, e

é ba

feja

do p

or in

úmer

os in

stitu

tos

da P

arte

Ger

al, o

s qu

ais

mer

ecem

rev

isão

. 2)

Con

ceit

o de

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

é o

ram

o do

Dir

eito

Civ

il qu

e co

njug

a as

no

rmas

que

dis

cipl

inam

as

rela

ções

jur

ídic

as p

atri

mon

iais

, te

ndo

por

obje

to a

pr

esta

ção

de u

m s

ujei

to e

m p

rove

ito d

e ou

tro.

26

GO

ME

S, O

rlan

do. O

brig

açõe

s, 1

7 ed

., at

ual.

por

Edv

aldo

Bri

to. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

008,

p. 1

7 e

18.

28

3) A

cepç

ões

de o

brig

ação

, dev

er ju

rídi

co, ô

nus

e su

jeiç

ão

a)

Obr

igaç

ão,

no

sent

ido

técn

ico-

jurí

dico

, pr

esta

-se

para

si

gnif

icar

a

regu

lam

enta

ção

do v

íncu

lo e

stab

elec

ido

entr

e de

vedo

r e

cred

or,

seja

em

vir

tude

da

lei o

u do

con

trat

o, te

ndo

por

obje

to d

eter

min

ada

pres

taçã

o.

b)

Dev

er

jurí

dico

é

uma

impo

siçã

o do

di

reit

o ob

jetiv

o di

rigi

da

a to

dos

indi

stin

tam

ente

, a f

im d

e qu

e se

ja a

dota

do d

eter

min

ado

com

port

amen

to c

oere

nte

com

a

vida

em

so

cied

ade,

so

b pe

na

de,

viol

ando

-o,

subm

eter

-se

à sa

nção

pr

escr

ita.

O c

umpr

imen

to d

o de

ver

jurí

dico

sat

isfa

z um

dir

eito

sub

jetiv

o de

ou

trem

. c)

Ônu

s é

um m

eio

de s

e ob

ter

uma

vant

agem

ou,

pel

o m

enos

, ev

itar

um

a de

svan

tage

m, t

rata

ndo-

se d

e um

dev

er l

ivre

. Vol

ta-s

e no

res

guar

do o

u de

fesa

de

um d

irei

to p

rópr

io. N

ão g

era

sanç

ão.

d) S

ujei

ção

é a

rela

ção

jurí

dica

que

se

cara

cter

iza

por

uma

part

e en

cont

rar-

se e

m

posi

ção

de p

oder

em

rel

ação

à o

utra

, que

ass

im e

stá

em s

itua

ção

de s

ubm

issã

o ou

su

jeiç

ão.

C

AP

ÍTU

LO

III

3.1

Con

ceito

de

obri

gaçã

o. 3

.2 E

lem

ento

s es

trut

urai

s da

s ob

riga

ções

: su

bjet

ivo,

ob

jetiv

o e

vínc

ulo

jurí

dico

. 3.3

Fon

tes

das

obri

gaçõ

es: i

med

iata

e m

edia

tas.

3.1

CO

NC

EIT

O D

E O

BR

IGA

ÇÃ

O

C

once

itua

r é

tare

fa d

a do

utri

na, n

ão d

a le

i. E

m r

egra

, o le

gisl

ador

som

ente

conc

eitu

a qu

ando

a

enun

ciaç

ão d

o co

ncei

to

abst

rato

tor

na-s

e ne

cess

ária

ou

conv

enie

nte

ao c

onhe

cim

ento

e a

plic

ação

fie

l da

s no

rmas

prá

ticas

.27 O

con

ceito

de o

brig

ação

não

fog

e à

regr

a, é

dad

o pe

la d

outr

ina.

27

NO

NA

TO

, O

rosi

mbo

. C

urso

de

obri

gaçõ

es:

gene

rali

dade

s –

espé

cies

, vo

l. I,

1 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se,

1959

, p.6

3.

Page 15: Aulas de Direito das Obrigações

29

O

con

ceito

mod

erno

, ain

da q

ue m

ais

deta

lhad

o, te

m o

seu

pon

to d

e pa

rtid

a

nas

Inst

itut

as, q

ue é

a c

onso

lidaç

ão d

as l

eis

de J

ustin

iano

, a d

enom

inad

a C

orpu

s

Juri

s C

ivili

s do

Dir

eito

Rom

ano,

dat

ada

de 5

29 d

. C.,28

que

dis

põe:

obl

igat

io e

st

juri

s vi

ncul

um q

uo n

eces

sita

te a

dstr

ingi

mur

, al

icui

us s

olve

ndae

rei

, se

cund

um

nost

rae

civi

tatis

ju

ra

(obr

igaç

ão

é um

ncul

o ju

rídi

co,

pelo

qu

al

som

os

cons

tran

gido

s a

paga

r a

algu

ém q

ualq

uer

cois

a, s

egun

do a

s le

is d

a ci

dade

). E

sta

últi

ma

fras

e se

gund

o as

lei

s da

cid

ade

está

rel

acio

nada

à s

ituaç

ão p

artic

ular

dos

rom

anos

, dev

endo

ser

arr

edad

a do

con

ceito

atu

aliz

ado,

que

fic

a as

sim

res

umid

o:

obri

gaçã

o é

um v

íncu

lo j

uríd

ico,

pel

o qu

al s

omos

con

stra

ngid

os a

pag

ar a

algu

ém q

ualq

uer

cois

a.

W

ashi

ngto

n de

Bar

ros

Mon

teir

o, c

om a

luci

dez

que

lhe

é pe

culia

r, f

orm

ula

conc

eito

mai

s ex

plic

ativ

o, n

o en

tant

o nã

o di

fere

nte

na e

ssên

cia,

sen

ão a

o qu

e se

refe

re a

gar

antia

ofe

rtad

a pe

lo p

atri

môn

io d

o de

vedo

r:

é a

rela

ção

jurí

dica

, de

ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o,

esta

bele

cida

en

tre

deve

dor

e cr

edor

e c

ujo

obje

to c

onsi

ste

num

a pr

esta

ção

pess

oal

econ

ômic

a,

posi

tiva

ou

nega

tiva,

de

vida

pe

lo

prim

eiro

ao

se

gund

o,

gara

ntin

do-l

he

o ad

impl

emen

to

atra

vés

de

seu

patr

imôn

io.29

D

etal

hand

o o

conc

eito

.

a) A

obr

igaç

ão é

um

a re

laçã

o ju

rídi

ca.

Rel

ação

jur

ídic

a é

o ví

ncul

o ex

iste

nte

entr

e pe

ssoa

s, e

m v

irtu

de d

a le

i ou

do c

ontr

ato,

que

cri

a di

reito

s e

deve

res.

Pre

ssup

õe a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

livre

de

quai

sque

r ví

cios

, pa

ra q

ue o

pere

sua

val

idad

e e

efic

ácia

. L

ogo,

é t

oda

rela

ção

prev

ista

e r

egul

ada

pelo

dir

eito

que

as

pess

oas

esta

bele

cem

na

vida

em

28

Sub

indo

ao

tron

o de

Rom

a, J

usti

nian

o no

meo

u, e

m 5

28 d

.C.,

uma

com

issã

o de

dez

not

ávei

s ju

risc

onsu

ltos

, sob

a

pres

idên

cia

de T

ribo

nian

o, p

ara

com

pila

r as

con

stit

uiçõ

es im

peri

ais

vige

ntes

, daí

sur

gira

m a

s In

stitu

tas,

logo

no

ano

segu

inte

(ve

r Jo

sé C

arlo

s M

orei

ra A

lves

, Dir

eito

Rom

ano,

vol

. I, 1

3 ed

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

3, p

. 46)

. 29

MO

NT

EIR

O, W

ashi

ngto

n de

Bar

ros.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil,

v. 4

, 32

ed. a

tual

. por

Car

los

Alb

erto

Dab

us M

aluf

. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

3, p

. 8.

30

soci

edad

e. E

m r

egra

, é i

nstr

umen

to d

a au

tono

mia

pri

vada

, ist

o é,

da

vont

ade

das

part

es q

ue s

e ob

riga

m,

disc

ipli

nand

o os

seu

s in

tere

sses

e c

rian

do c

ondi

ções

de

real

izá-

los.

E

xclu

em-s

e da

rel

ação

jur

ídic

a os

dev

eres

alh

eios

ao

Dir

eito

, co

mo

os

relig

ioso

s, m

orai

s, f

ilan

tróp

icos

, soc

iais

, den

tre

outr

os.

b) A

obr

igaç

ão é

de

cará

ter

tran

sitó

rio.

E

xtra

em-s

e do

ca

ncio

neir

o po

pula

r ve

rsos

qu

e be

m

se

empr

egam

à

obri

gaçã

o: “

é nu

vem

pas

sage

ira

que

com

o v

ento

se

vai,

é co

mo

cris

tal

boni

to

que

se q

uebr

a qu

ando

cai

”; d

e fa

to, a

obr

igaç

ão é

pas

sage

ira,

efê

mer

a, v

inga

por

cert

o ar

co d

e te

mpo

.

À

obr

igaç

ão s

e co

ntra

põe

o pa

gam

ento

. C

eleb

rada

a o

brig

ação

ent

re

deve

dor

e cr

edor

, co

m o

pag

amen

to e

la s

e ex

ting

ue,

alfo

rria

ndo

o de

vedo

r e

exau

rind

o o

dire

ito d

o cr

edor

. Se

a ob

riga

ção

liga,

ata

, une

; o p

agam

ento

des

liga,

desa

ta, d

esun

e.

N

o m

omen

to d

a co

ntra

taçã

o, a

obr

igaç

ão a

brol

ha p

ara

o m

undo

jur

ídic

o

por

dete

rmin

ado

praz

o, é

o t

rans

curs

o de

sua

exi

stên

cia

jurí

dica

par

a, p

or f

im,

extin

guir

-se

norm

alm

ente

pel

o pa

gam

ento

: um

dar

, faz

er o

u nã

o fa

zer.

S

egun

do F

lávi

o A

ugus

to M

onte

iro

de B

arro

s o

elem

ento

tra

nsit

orie

dade

ocor

re c

omum

ente

, mas

não

de

man

eira

obr

igat

ória

, por

iss

o nã

o de

ve c

ompo

r o

conc

eito

de

obri

gaçã

o, e

xem

plif

ica

com

a o

brig

ação

de

não

faze

r, a

ssim

gua

rdar

um s

egre

do.30

A

mai

oria

dos

civ

ilist

as d

isco

rda.

Was

hing

ton

de B

arro

s M

onte

iro

eluc

ida

que

mes

mo

quan

do a

obr

igaç

ão i

ncid

a em

ato

s co

ntín

uos,

out

ros

prol

onga

dos,

cuja

per

sist

ênci

a fo

sse

inde

term

inad

a, c

omo

na l

ocaç

ão d

e se

rviç

os,

sem

pre

30

BA

RR

OS

, Flá

vio

Aug

usto

Mon

teir

o. M

anua

l de

dire

ito

civi

l, v.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

cont

rato

s. S

ão

Pau

lo: M

étod

o, 2

005,

p. 2

9.

Page 16: Aulas de Direito das Obrigações

31

have

rá u

m l

imit

e de

dur

ação

.31 C

once

bida

com

o um

pro

cess

o, n

a li

ção

de C

outo

e Si

lva,

32 n

ão h

á co

mo

nega

r a

sua

tran

sito

ried

ade,

poi

s o

proc

esso

não

é e

stát

ico,

mas

impl

ica

em m

ovim

ento

na

busc

a do

fim

col

imad

o, q

ue a

ting

ido

exau

re-s

e.

c) A

obr

igaç

ão é

um

a re

laçã

o es

tabe

leci

da e

ntre

dev

edor

e c

redo

r.

D

eved

or e

cre

dor

serã

o se

mpr

e pe

ssoa

nat

ural

ou

jurí

dica

. So

men

te a

s

pess

oas

têm

pe

rson

alid

ade,

so

men

te

elas

po

dem

ex

erce

r di

reito

s e

cont

rair

obri

gaçõ

es.

Exc

epci

onal

men

te,

adm

item

-se

ente

s de

sper

sona

lizad

os

com

o o

espó

lio,

a m

assa

fal

ida,

o c

ondo

mín

io.

Tod

a re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

é

com

post

a po

r es

se

inev

itáv

el

binô

mio

: de

vedo

r e

cred

or.

Sem

um

ou

outr

o nã

o há

obr

igaç

ão.

São

polo

s

cont

rapo

stos

, m

as n

ão a

ntag

ônic

os:

o de

vedo

r no

pol

o pa

ssiv

o, o

cre

dor

no p

olo

ativ

o. D

aí a

afi

rmaç

ão d

e di

reito

rel

ativ

o, s

urte

efe

itos

apen

as e

ntre

pes

soas

dete

rmin

adas

, dad

o a

sua

efic

ácia

ent

re a

s pa

rtes

(in

ter

part

es).

O c

redo

r te

m d

e

busc

ar o

seu

dir

eito

em

fac

e do

dev

edor

.

Ess

a re

lativ

idad

e, n

o en

tant

o, n

ão i

mpe

de q

ue a

obr

igaç

ão p

ossa

sur

tir

efei

tos

jurí

dico

s em

rel

ação

a t

erce

iro.

Ter

ceir

o, a

qui,

é to

da p

esso

a es

tran

ha à

obri

gaçã

o, e

quid

ista

nte

do d

eved

or e

do

cred

or. E

xem

plo

típic

o é

mai

s um

a ve

z o

cont

rato

de

segu

ro d

e pe

ssoa

(C

C a

rt.

789)

, no

qua

l se

vis

lum

bram

os

três

pers

onag

ens

já r

efer

idos

. O

s do

is p

rim

eiro

s sã

o os

con

trat

ante

s, a

quel

es q

ue s

e

obri

gam

: se

gura

do e

seg

urad

ora;

ter

ceir

o é

o be

nefi

ciár

io,

quem

rec

eber

á a

alea

tóri

a in

deni

zaçã

o em

bora

não

tenh

a co

ntra

tado

. Ain

da d

essa

for

ma

no s

egur

o

de r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

(C

C a

rt. 7

87)

em q

ue a

seg

urad

ora

gara

nte

o pa

gam

ento

das

perd

as e

dan

os d

evid

os p

elo

segu

rado

a te

rcei

ro, v

ítim

a do

pre

juíz

o, q

ue n

ada

cont

rato

u.

31

MO

NT

EIR

O, W

ashi

ngto

n de

Bar

ros.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil,

v. 4

, 32

ed. a

tual

. por

Car

los

Alb

erto

Dab

us M

aluf

. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

3, p

. 9.

32 S

ILV

A, C

lovi

s V

erís

sim

o do

Cou

to e

. A o

brig

ação

com

o pr

oces

so. S

ão P

aulo

: Bus

hats

ky, 1

976,

p. 7

1 e

sgte

s.

32

P

ossí

vel

aind

a su

rtir

con

sequ

ênci

as j

uríd

icas

com

rel

ação

a t

erce

iro

pela

suce

ssão

her

edit

ária

. Se

mor

to o

cre

dor,

seu

s he

rdei

ros

suce

dem

-no

nos

créd

itos

exis

tent

es. S

e m

orto

o d

eved

or, o

s he

rdei

ros

resp

onde

m p

elas

dív

idas

, mas

com

a

cláu

sula

do

bene

fíci

o do

inv

entá

rio,

poi

s nã

o m

ais

do q

ue a

quo

ta r

eceb

ida

na

hera

nça,

é a

rez

a do

art

. 1.7

92: “

O h

erde

iro

não

resp

onde

por

enc

argo

s su

peri

ores

às f

orça

s da

her

ança

...”.

d) O

obj

eto

da o

brig

ação

con

sist

e nu

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l ec

onôm

ica,

pos

itiv

a

ou n

egat

iva.

O

obj

eto

da p

rest

ação

é d

e na

ture

za p

esso

al;

só o

brig

a a

pess

oa v

incu

lada

na r

elaç

ão o

brig

acio

nal,

impo

ndo-

lhe

adim

plir

o p

rom

etid

o, r

esga

tar

a pa

lavr

a

empe

nhad

a, q

ue é

, ad

emai

s, d

e ca

ráte

r ec

onôm

ico,

por

ser

nec

essá

rio

que

a

pres

taçã

o po

sitiv

a (d

ar

ou

faze

r)

ou

nega

tiva

(n

ão

faze

r)

seja

po

ssív

el

de

valo

raçã

o m

onet

ária

.

C

onvé

m m

edit

ar a

res

peito

de

que

o ob

jeto

da

pres

taçã

o te

nha

sem

pre

cará

ter

econ

ômic

o, a

nte

a di

verg

ênci

a es

tabe

leci

da p

or c

erto

s ci

vili

stas

, não

sem

razã

o. H

á ca

sos

em q

ue o

inte

ress

e da

pre

staç

ão é

mer

amen

te m

oral

, mas

mes

mo

assi

m d

eve

ser

susc

etív

el d

e af

eriç

ão m

onet

ária

.

A

pa

trim

onia

lidad

e do

ob

jeto

da

pr

esta

ção

assi

m

ente

ndid

a co

nstit

ui

cará

ter

espe

cífi

co d

a ob

riga

ção,

dis

tingu

e-se

de

outr

os d

ever

es j

uríd

icos

de

natu

reza

div

ersa

, a

exem

plo

do d

ever

de

fide

lidad

e en

tre

os c

ônju

ges;

dos

pai

s

zela

rem

pel

a gu

arda

e e

duca

ção

dos

filh

os; d

e as

par

tes

agir

em c

om le

alda

de n

as

rela

ções

pro

cess

uais

.

N

o co

ntra

to d

e co

mpr

a e

vend

a, o

ven

dedo

r de

um

bem

est

á in

tere

ssad

o na

cont

rapr

esta

ção

em d

inhe

iro,

o c

ompr

ador

mat

uta

no v

alor

eco

nôm

ico

do b

em

que

está

adq

uiri

ndo.

No

cont

rato

de

trab

alho

, out

ro e

xem

plo,

o e

mpr

egad

or v

isa

o be

nefí

cio

econ

ômic

o do

tra

balh

o pa

ra s

ua e

mpr

esa

e o

empr

egad

o, o

sal

ário

Page 17: Aulas de Direito das Obrigações

33

retr

ibui

ção.

Que

m p

ropõ

e aç

ão d

e re

para

ção

de d

ano

mat

eria

l, po

r te

r so

frid

o a

perd

a ou

det

erio

raçã

o de

um

bem

móv

el o

u im

óvel

, pre

tend

e a

reco

mpo

siçã

o de

seu

patr

imôn

io n

o es

tado

ant

erio

r ao

dan

o.

N

ão h

á ne

gar,

con

tudo

, qu

e de

term

inad

os i

nter

esse

s nã

o se

rev

este

m,

prim

ordi

alm

ente

, de

car

áter

eco

nôm

ico.

No

dom

ínio

das

obr

igaç

ões

nego

ciai

s é

o ca

so d

e qu

em a

dere

com

o só

cio

de u

m c

lube

rec

reat

ivo;

ou

adqu

ire

um b

ilhe

te

para

ass

isti

r um

eve

nto

cultu

ral;

ass

im a

inda

o d

oent

e qu

e pr

ocur

a as

sist

ênci

a

méd

ica;

tam

bém

o d

oado

r de

um

bem

à p

esso

a qu

erid

a; o

u qu

em c

ontr

ata

a

conf

ecçã

o de

um

bu

sto

para

en

alte

cer

a m

emór

ia

de

ante

pass

ado.

Est

es

exem

plos

mos

tram

-se

isen

tos

de p

reoc

upaç

ão e

conô

mic

a.

No

dom

ínio

da

resp

onsa

bili

dade

civ

il t

ambé

m s

ão e

ncon

trad

as d

ifer

ente

s

pres

taçõ

es s

em v

alor

eco

nôm

ico,

com

o no

cas

o da

obr

igaç

ão d

e re

trat

ação

públ

ica

pela

vei

cula

ção

de n

otíc

ia d

esac

erta

da c

om a

rea

lidad

e, q

uand

o nã

o a

com

pens

ação

de

um d

ano

pura

men

te m

oral

.

A

cont

ece

o m

esm

o na

aná

lise

de

cert

as o

brig

açõe

s le

gais

, co

mo

nos

dire

itos

de

vizi

nhan

ça.

A o

brig

ação

de

não

imit

ir i

nter

ferê

ncia

s pr

ejud

icia

is à

segu

ranç

a, a

o so

sseg

o e

à sa

úde

de p

ropr

ieda

de

vici

nal

tem

a

anim

á-la

a

nece

ssid

ade

de c

onvi

vênc

ia,

do r

espe

ito a

o di

reito

de

outr

em d

e nã

o pr

oduz

ir

incô

mod

os e

vitá

veis

. E

vide

nte,

poi

s, q

ue o

cre

dor

não

tem

int

eres

se e

conô

mic

o

(CC

art

. 1.2

77).

Em

to

das

esta

s re

laçõ

es

jurí

dica

s en

cont

ram

-se

obri

gaçõ

es,

cuja

s

pres

taçõ

es n

ão s

e re

vest

em d

e in

tere

sse

econ

ômic

o. H

á, s

im, i

nter

esse

s de

laz

er,

soci

al,

inte

lect

ual,

cívi

co o

u de

res

guar

do d

os d

irei

tos

da p

erso

nali

dade

. N

o

enta

nto,

cas

o ha

ja in

adim

plem

ento

da

pres

taçã

o ob

riga

cion

al, p

oder

á o

obje

to d

a

pres

taçã

o, m

esm

o qu

e de

spro

vido

de

valo

r ec

onôm

ico

prop

riam

ente

dito

, se

r

repr

esen

tado

por

inde

niza

ção

pecu

niár

ia. É

o q

ue im

port

a.

34

Cai

a f

ivel

eta

a li

ção

do d

irei

to c

ompa

rado

. O

Cód

igo

Civ

il po

rtug

uês

prev

eja

regr

a m

odel

ar n

o ar

t. 39

8º,

2: “

A p

rest

ação

não

nec

essi

ta t

er v

alor

pecu

niár

io,

mas

dev

e co

rres

pond

er a

um

int

eres

se d

o cr

edor

, di

gno

de p

rote

ção

lega

l”. M

ais

espe

cífi

co é

o a

rt. 1

.174

, do

Cód

igo

Civ

il it

alia

no: “

A p

rest

ação

que

cons

titu

i ob

jeto

da

pres

taçã

o de

ve s

er s

usce

tível

de

valo

raçã

o ec

onôm

ica

e de

ve

corr

espo

nder

a u

m in

tere

sse,

ain

da q

ue n

ão s

eja

patr

imon

ial d

o cr

edor

”.

Aco

ntec

e o

mes

mo

no D

irei

to d

as C

oisa

s. N

ada

impe

de q

ue o

dir

eito

de

prop

ried

ade

reca

ia s

obre

ben

s ou

coi

sas

de g

enuí

no v

alor

afe

tivo.

O f

ilho

que

guar

da o

cha

péu

usad

o pe

lo s

eu p

ai,

os ó

culo

s qu

e fo

ram

de

sua

mãe

. N

ingu

ém

cont

esta

o s

eu d

irei

to d

e pr

opri

etár

io s

obre

ess

as c

oisa

s. O

utro

s ex

empl

os p

odem

ser

cola

cion

ados

: as

foto

graf

ias

de f

amíl

ia, c

arta

s e

outr

os d

ocum

ento

s. L

eona

rdo

Bof

f em

um

a de

sua

s ob

ras

cont

a, c

om a

dent

rada

sen

sibi

lidad

e, o

fat

o de

a

cane

ca d

e al

umín

io q

ue f

icav

a ex

post

a so

bre

o po

te d

e ág

ua,

dela

se

serv

indo

toda

fam

ília

. O

ra,

perd

ida

ou d

eter

iora

da q

ualq

uer

uma

dest

as c

oisa

s no

mea

das,

pode

rá l

he s

er a

trib

uída

cer

ta i

mpo

rtân

cia

mon

etár

ia a

tít

ulo

de s

atis

façã

o, d

e

ress

arci

men

to p

or d

ano

mor

al.

Por

tant

o, a

o af

irm

ar q

ue a

pat

rim

onia

lidad

e é

uma

cara

cter

ístic

a in

eren

te

às o

brig

açõe

s, e

stá

se r

efer

indo

que

a s

oluç

ão o

brig

acio

nal

pode

rá s

er r

esol

vida

em p

erda

s e

dano

s, q

ue é

um

a in

deni

zaçã

o em

din

heir

o.33

e) O

adi

mpl

emen

to d

a pr

esta

ção

é ga

rant

ido

pelo

pat

rim

ônio

do

deve

dor.

Não

adi

mpl

ida

a ob

riga

ção,

sus

cita

a r

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial

do

deve

dor

conf

orm

e pr

ovid

enci

a o

art.

391:

“P

elo

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s

33

Ess

a co

nclu

são

é en

cont

rada

na

liçã

o de

Már

io J

úlio

de

Alm

eida

Cos

ta n

o co

men

to d

o ar

t. 39

8º,

2, e

m

conf

ront

o co

m o

art

. 49

6º,

1: “

[...]

em

qua

lque

r do

s ca

sos,

o c

redo

r po

deri

a ob

ter

a re

para

ção

pecu

niár

ia d

os

dano

s nã

o pa

trim

onia

is c

ausa

dos

pela

ine

xecu

ção

do c

ontr

ato,

con

tant

o qu

e el

es,

pela

sua

gra

vida

de,

mer

eçam

a

tute

la d

o di

reit

o.”

(in

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

7 e

d. C

oim

bra:

Alm

edin

a, 1

998,

p. 6

26).

CC

por

tugu

ês, a

rt. 4

96º,

1:

“Na

fixa

ção

da i

ndem

niza

ção

deve

ate

nder

-se

aos

dano

s nã

o pa

trim

onia

is q

ue,

pela

sua

gra

vida

de,

mer

eçam

a

tute

la d

o di

reit

o.”

Page 18: Aulas de Direito das Obrigações

35

resp

onde

m t

odos

os

bens

do

deve

dor”

. R

egra

que

adm

ite

rest

riçõ

es d

isse

rtad

as

no c

apítu

lo s

egui

nte.

R

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial

que

atua

em

dua

s fr

ente

s e

com

fun

ções

dive

rsas

. A u

ma,

é a

pró

pria

gar

antia

con

tra

even

tual

des

cum

prim

ento

da

rela

ção

jurí

dica

obr

igac

iona

l. A

dua

s, é

o c

arát

er p

sico

lógi

co-c

oerc

itivo

, poi

s co

nstr

ange

o de

vedo

r a

satis

faze

r vo

lunt

aria

men

te a

pre

staç

ão.

H

á de

se

adve

rtir

, po

r fi

m,

que

a ne

utra

lidad

e e

a as

seps

ia d

os c

once

itos,

de u

m m

odo

gera

l, ne

m s

empr

e ap

rese

ntam

a d

imen

são

valo

rativ

a do

s in

stitu

tos

jurí

dico

s, u

ma

vez

que

eles

dev

em s

er i

nter

pret

ados

na

cons

ider

ação

dos

val

ores

a qu

e se

ref

erem

.

3.2

EL

EM

EN

TO

S D

A E

STR

UT

UR

A D

AS

OB

RIG

ÕE

S

D

o co

ncei

to d

e ob

riga

ções

são

ret

irad

os o

s el

emen

tos

de s

ua e

stru

tura

.

a)

Ele

men

to s

ubje

tivo

ou

pess

oal:

dupl

o su

jeito

dev

edor

e c

redo

r.

b) E

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l: bi

part

e-se

em

obj

etiv

o im

edia

to o

u

pres

taçã

o

d

ebitó

ria

e ob

jeto

med

iato

ou

obje

to d

a pr

esta

ção.

c)

Ele

men

to

espi

ritu

al

ou

vínc

ulo

jurí

dico

: bi

furc

a-se

em

bito

e

resp

onsa

bilid

ade.

3.2.

1 E

lem

ento

sub

jeti

vo o

u pe

ssoa

l

O

elem

ento

su

bjet

ivo,

tam

bém

de

nom

inad

o de

pe

ssoa

l, co

ncer

ne

aos

suje

itos.

Tra

ta-s

e do

suj

eito

pas

sivo

, o

deve

dor,

e d

o su

jeito

ati

vo,

o cr

edor

.

Rea

firm

a-se

, pod

e se

r pe

ssoa

nat

ural

ou

pess

oa ju

rídi

ca, p

ois

som

ente

as

pess

oas

são

capa

zes

de d

irei

tos

e de

vere

s na

ord

em c

ivil

(CC

art

. 1º)

.

O

abs

olut

amen

te in

capa

z ob

riga

-se

por

mei

o de

rep

rese

ntaç

ão (

CC

art

. 3º)

,

se n

ão r

epre

sent

ado

por

seu

resp

onsá

vel

torn

a a

obri

gaçã

o nu

la (

CC

art

. 166

, I)

;

36

o re

lativ

amen

te in

capa

z po

r m

eio

de a

ssis

tênc

ia (

CC

art

. 4º)

, se

não

assi

stid

o po

r

seu

resp

onsá

vel t

orna

a o

brig

ação

anu

láve

l (C

C a

rt. 1

71, I

).

A

pes

soa

jurí

dic

a p

od

e se

r re

gu

lar,

irr

egu

lar

e d

e fa

to.

Reg

ula

r

é a

qu

e te

m o

seu

ato

de

con

stit

uiç

ão i

nsc

rito

no

Reg

istr

o P

úb

lico

.

Se

soci

edad

e o

seu

co

ntr

ato

so

cial

na

Jun

ta C

om

erci

al,

se a

sso

ciaç

ão

o

seu

es

tatu

o

no

C

artó

rio

d

e R

egis

tro

d

e Im

óv

eis

(CC

ar

t.

98

5).

Irre

gu

lar

é aq

uel

a cu

jo a

to c

on

stit

uti

vo

não

est

á in

scri

to n

o R

egis

tro

bli

co,

ou

est

á d

e fo

rma

inad

equ

ada.

Po

de

ser

ain

da

um

a so

cied

ade

de

fato

a q

ue

não

po

ssu

i n

em m

esm

o c

on

trat

o s

oci

al o

u e

stat

uto

. A

irre

gu

lar

e a

de

fato

co

mp

õem

a c

ateg

ori

a d

e so

cied

ade

em c

om

um

(CC

art

. 9

86

). A

ssim

en

ten

de

o E

nu

nci

ado

20

9,

do

Cen

tro

de

Est

ud

os

Jud

iciá

rio

s d

o

Co

nse

lho

d

e Ju

stiç

a F

eder

al:

“o

art

. 9

86

d

eve

ser

inte

rpre

tad

o e

m s

into

nia

co

m o

s a

rts.

98

5 e

1.1

50

, d

e m

od

o a

ser

con

sid

era

da

em

co

mu

m

a

soci

eda

de

qu

e n

ão

te

nh

a

seu

a

to

con

stit

uti

vo i

nsc

rito

no

reg

istr

o p

róp

rio

ou

em

des

aco

rdo

co

m a

s

no

rma

s le

ga

is

pre

vist

as

pa

ra

esse

re

gis

tro

(C

C

art

. 1

.15

0),

ress

alv

ad

as

as

hip

óte

ses

de

reg

istr

os

efet

ua

do

s d

e b

oa

-fé.

” E

xem

plo

da

de

fato

é a

co

mis

são

de

form

atu

ra,

qu

e co

ntr

ata

com

ter

ceir

os

os

even

tos

rela

cio

nad

os

à co

laçã

o d

e g

rau

.

O

dig

o d

e P

roce

sso

Civ

il n

o a

rt.1

2,

§ 2

º, é

cat

egó

rico

ao

dis

po

r q

ue

a so

cied

ade

sem

per

son

alid

ade

jurí

dic

a n

ão p

od

e ar

ticu

lar

em s

ua

def

esa

irre

gu

lari

dad

e n

a su

a co

nst

itu

ição

.

T

amb

ém,

rep

ita-

se,

os

ente

s p

rop

riam

ente

d

esp

erso

nal

izad

os

po

dem

fig

ura

r em

um

do

s p

olo

s d

a o

bri

gaç

ão.

Page 19: Aulas de Direito das Obrigações

37

P

ara

algu

ns

civi

list

as,

com

o Sc

avon

e Jú

nior

, o

deve

dor

é se

mpr

e

dete

rmin

ado,

par

a M

aria

Hel

ena

Din

iz, p

ode

ser

dete

rmin

ado

ou d

eter

min

ável

.34

Põe

o ex

empl

o do

art

. 1.3

27 d

o C

ódig

o C

ivil,

que

é o

con

dom

ínio

por

mea

ção

de

mur

o ou

par

ede

divi

sóri

a, o

qua

l r

espo

nde

prop

orci

onal

men

te p

elas

des

pesa

s de

cons

erva

ção,

m

as

essa

re

spon

sabi

lidad

e su

bsis

te

apen

as

enqu

anto

el

e fo

r

prop

riet

ário

. Se

vend

er o

im

óvel

em

que

se

enco

ntra

o m

uro

ou p

ared

e di

visó

ria,

a ob

riga

ção

tran

sfer

irá

ao a

dqui

rent

e qu

e, e

ntão

, pa

ssar

á a

ter

a ob

riga

ção

de

aten

der

a de

spes

a pa

ra a

sua

man

uten

ção.

Par

a a

prof

esso

ra d

a P

UC

/SP,

nes

te

caso

, o

suje

ito

pass

ivo

não

é de

term

inad

o,

mas

de

term

ináv

el,

porq

uant

o

tran

seun

te, v

ariá

vel,

poré

m, e

m d

ado

mom

ento

, ind

ivid

ualiz

a-se

, det

erm

ina-

se.

O

suj

eito

ativ

o da

obr

igaç

ão é

det

erm

inad

o ou

det

erm

ináv

el e

aqu

i nã

o

cabe

dis

sens

ão. N

a co

mpr

a e

vend

a de

term

ina-

se, d

e pr

onto

, que

m é

o d

eved

or e

quem

é

o cr

edor

. M

as

na

prom

essa

de

re

com

pens

a, n

ão.

Val

e a

segu

inte

pass

agem

: um

a ca

sa c

omer

cial

ofe

rece

prê

mio

par

a o

freg

uês

sort

eado

. Enq

uant

o

não

acon

tece

r o

sort

eio,

o c

redo

r do

prê

mio

é d

eter

min

ável

, nã

o de

term

inad

o.

Out

ro e

xem

plo

é o

cheq

ue a

o po

rtad

or,

o cr

edor

é q

ualq

uer

pess

oa q

ue o

apre

sent

a na

boc

a do

cai

xa p

ara

resg

ate.

A i

ndet

erm

inaç

ão p

erse

vera

até

o

mom

ento

do

paga

men

to; o

pag

amen

to s

ó é

poss

ível

a p

esso

a de

term

inad

a.

N

ota-

se,

dete

rmin

ável

não

se

conf

unde

com

ind

eter

min

ado.

Se

de u

m d

os

suje

itos

da o

brig

ação

for

ind

eter

min

ado,

por

for

ça d

o ar

t. 16

6, i

nc.

II,

terc

eira

figu

ra, o

neg

ócio

jur

ídic

o é

nulo

de

plen

o di

reito

, um

a ve

z qu

e im

poss

ível

a s

ua

dete

rmin

ação

.

N

o es

tági

o at

ual

do D

irei

to,

deve

m s

er l

embr

adas

as

obri

gaçõ

es e

m q

ue

surg

em d

a vi

olaç

ão d

os d

irei

tos

difu

sos,

o q

ue l

eva

a fa

lar

de t

itula

rida

de

múl

tipl

a di

fusa

do

créd

ito. C

redo

ra é

toda

a c

olet

ivid

ade,

por

exe

mpl

o, n

os c

asos

34

SC

AV

ON

E J

UN

IOR

, Lui

z A

nton

io. O

brig

açõe

s: a

bord

agem

did

átic

a, 4

ed.

São

Pau

lo:

Ed.

Jua

rez

de O

live

ira,

20

06, p

. 10.

DIN

IZ, M

aria

Hel

ena.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil

bras

ilei

ro, v

olum

e 2:

teor

ia g

eral

das

obr

igaç

ões,

24

ed.

São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 3

2.

38

em q

ue i

mpl

ica

a pr

eser

vaçã

o do

mei

o am

bien

te,

com

o ai

nda

os v

azam

ento

s de

subs

tânc

ias

alta

men

te r

adio

ativ

as e

m a

cide

ntes

nas

usi

nas

nucl

eare

s.

E

m q

ualq

uer

um d

os p

olos

o s

ujei

to p

ode

ser

únic

o: u

m ú

nico

cre

dor

e um

únic

o de

vedo

r, o

u po

de s

er p

lura

l: d

ois

ou m

ais

deve

dore

s ou

doi

s ou

mai

s

cred

ores

e a

té u

ma

cole

tivid

ade.

Em

cas

o de

plu

ralid

ade

os c

odev

edor

es o

u

cocr

edor

es p

odem

ser

sim

ples

ou

solid

ário

s. S

impl

es c

ada

um d

eles

res

pond

e

pela

sua

quo

ta-p

arte

; so

lidár

ios

cada

qua

l re

spon

de p

elo

paga

men

to i

nteg

ral,

ou

cada

um

tem

o d

irei

to d

e re

cebe

r o

paga

men

to i

nteg

ral.

Paga

ndo

ou r

eceb

endo

inte

gral

men

te,

depo

is r

eceb

e ou

pag

a ao

out

ro a

sua

quo

ta-p

arte

. E

sta

mat

éria

será

dis

sert

ada

em p

orm

enor

es n

a cl

assi

fica

ção

das

obri

gaçõ

es.

3.2.

2 E

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l

O e

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l é

a pr

esta

ção

prop

riam

ente

dita

, pod

e se

r

um

dar,

fa

zer,

ou

não

fa

zer.

R

epit

a-se

, as

du

as p

rim

eira

s da

r e

faze

r sã

o

posi

tivas

; a ú

ltim

a ne

gativ

a, n

ão f

azer

.

D

istin

gue-

se o

bjet

o im

edia

to,

tam

bém

cha

mad

o de

pre

staç

ão d

ebitó

ria,

e

obje

to m

edia

to, t

ambé

m c

ham

ado

de o

bjet

o da

pre

staç

ão.

O

obj

eto

imed

iato

é a

con

duta

hum

ana,

sem

pre.

Na

obri

gaçã

o de

dar

a

entr

ega

da c

oisa

. N

a ob

riga

ção

de f

azer

a r

ealiz

ação

de

um a

to o

u se

rviç

o. N

a

obri

gaçã

o de

não

faz

er a

abs

tenç

ão o

u to

lerâ

ncia

de

cert

a co

ndut

a qu

e o

deve

dor

pode

ria

real

izá-

la s

enão

tiv

esse

se

obri

gado

. O

obj

eto

med

iato

é d

esve

ndad

o na

resp

osta

à s

egui

nte

perg

unta

: da

r, f

azer

ou

não

faze

r o

que?

Um

exe

mpl

o pa

ra

clar

ific

ar:

na v

enda

de

um l

ivro

o o

bjet

o im

edia

to é

a c

ondu

ta d

o de

vedo

r de

entr

egar

o l

ivro

ao

cred

or,

e o

obje

to m

edia

to é

o p

rópr

io l

ivro

, o

bem

da

vida

.

Dar

o q

ue?

O li

vro.

A

dis

tinçã

o nã

o é

tão

nítid

a na

s ob

riga

ções

de

faze

r e

não

faze

r, e

m q

ue a

ativ

idad

e do

dev

edor

e o

res

ulta

do p

odem

ser

con

fund

idos

. M

as m

esm

o as

sim

Page 20: Aulas de Direito das Obrigações

39

poss

ível

dis

ting

ui-l

os. N

a ca

rpa

de u

m q

uint

al, o

obj

eto

imed

iato

é o

ser

viço

de

o

deve

dor

no c

arpi

r; o

med

iato

é o

res

ulta

do p

rátic

o: o

qui

ntal

car

pido

. No

caso

de

não

abri

r ja

nela

a m

enos

de

um m

etro

e m

eio

do t

erre

no v

icin

al (

CC

art

. 1.3

01),

o ob

jeto

im

edia

to é

a a

bste

nção

e o

obj

eto

med

iato

é o

res

ulta

do p

ráti

co:

pres

erva

r a

priv

acid

ade

do v

izin

ho (

CF

art.

5º, X

; CC

art

. 21)

.

O

obj

eto

da p

rest

ação

seg

ue a

reg

ra d

o ar

t. 10

4 do

Cód

igo

Civ

il, d

eve

ser

líci

to, p

ossí

vel,

dete

rmin

ado

ou d

eter

min

ável

.

P

rest

ação

líc

ita

é es

tar

conf

orm

e à

lei,

à or

dem

púb

lica

, à

mor

al e

aos

bons

cos

tum

es. O

u se

ja, t

oda

cond

uta

rece

pcio

nada

pel

o or

dena

men

to ju

rídi

co. É

ilíci

ta a

ven

da d

e be

ns c

ontr

aban

dead

os, o

u a

vend

a de

rem

édio

s nã

o au

tori

zado

s

pela

AN

VIS

A,

ou a

exp

lora

ção

de j

ogos

de

azar

, po

rque

pro

ibid

os.

Bas

ta

veri

fica

r, a

ven

da d

e ta

baco

é l

ícit

a, m

as d

e m

acon

ha n

ão o

é;

é lic

ita a

expl

oraç

ão d

e um

mot

el, m

as d

e um

alc

oice

não

o é

. Con

clui

-se,

qua

ndo

o ob

jeto

é ilí

cito

torn

a a

obri

gaçã

o ju

ridi

cam

ente

impo

ssív

el.

A

pre

staç

ão d

eve

ser

poss

ível

. D

istin

guem

-se

a po

ssib

ilida

de f

ísic

a e

a

jurí

dica

. Pos

sibi

lida

de f

ísic

a é

o qu

e es

tá d

entr

o da

s fo

rças

hum

anas

e d

as f

orça

s

da n

atur

eza.

Ser

á se

mpr

e im

poss

ível

qua

lque

r pr

esta

ção

que

extr

apol

e es

sas

forç

as.

Os

exem

plos

são

inu

mer

ávei

s: u

ma

pres

taçã

o qu

e im

põe

ao d

eved

or

prev

enir

e e

vita

r a

inci

dênc

ia d

e ra

ios

ou a

for

maç

ão d

e fu

racõ

es. S

ão e

feito

s da

natu

reza

ain

da n

ão d

omin

ados

pel

o es

tági

o at

ual

da c

iênc

ia h

uman

a, p

or i

sso

inev

itáve

is e

irr

esis

tívei

s. U

m t

erre

no n

esta

cid

ade

é ob

jeto

pos

síve

l, um

ter

reno

na lu

a nã

o o

é.

P

ossi

bili

dade

jur

ídic

a é

esta

r de

aco

rdo

com

o o

rden

amen

to j

uríd

ico,

assi

m n

ão p

ode

ser

obje

to d

a ob

riga

ção

a he

ranç

a de

pes

soa

viva

(C

C a

rt. 4

26),

a

vend

a de

be

ns

de

asce

nden

te

a de

scen

dent

e,

sem

a

anuê

ncia

do

s de

mai

s

desc

ende

ntes

e d

o cô

njug

e do

ali

enan

te (

CC

art

. 496

). S

ão p

ossí

veis

, de

tal

arte

,

as

cois

as

que

estiv

erem

no

co

mér

cio,

ou

se

ja,

aque

les

susc

eptív

eis

de

ser

40

nego

ciad

as.

Log

o,

se

o ob

jeto

da

pr

esta

ção

for

impo

ssív

el

físi

ca

ou

juri

dica

men

te, a

obr

igaç

ão é

nul

a, m

as s

e pa

rcia

lmen

te im

poss

ível

não

a n

ulif

ica,

de s

orte

a p

arte

pos

síve

l po

de s

er ú

til

ao c

redo

r, n

ada

impe

dind

o a

form

ação

do

vínc

ulo

obri

gaci

onal

. É

bom

esc

lare

cer

que

a im

poss

ibili

dade

fís

ica

ou j

uríd

ica

jam

ais

se id

enti

fica

com

a m

era

difi

culd

ade.

Por

out

ro t

urno

, a

pres

taçã

o de

ve s

er d

eter

min

ada

ou d

eter

min

ável

. A

com

pra

e ve

nda

de u

ma

casa

de

mor

ada

situ

ada

na R

ua d

os I

ncon

fide

ntes

,

núm

ero

21, n

esta

cid

ade,

det

erm

ina

o ob

jeto

da

pres

taçã

o, d

esde

a c

eleb

raçã

o da

obri

gaçã

o.

A

coi

sa d

eter

min

ável

ser

á in

dica

da a

o m

enos

pel

o gê

nero

e q

uant

idad

e,

conf

orm

e a

reda

ção

do a

rt. 2

43 d

o C

ódig

o C

ivil

.

Á

lvar

o V

illaç

a A

zeve

do p

onde

ra q

ue m

elho

r tiv

esse

dito

o l

egis

lado

r

espé

cie

e qu

anti

dade

, co

nsid

eran

do q

ue a

pal

avra

gên

ero

tem

sen

tido

mui

to

ampl

o. C

hego

u a

suge

rir

mud

ança

de

reda

ção

ness

e se

ntid

o. S

e al

guém

se

obri

gass

e a

entr

egar

um

a sa

ca d

e ce

real

, po

r nã

o sa

ber

qual

a s

ua e

spéc

ie,

a

obri

gaçã

o se

ria

nula

pel

a im

poss

ibili

dade

de

cum

prim

ento

.

W

ashi

ngto

n de

Bar

ros

Mon

teir

o, R

enan

Lot

ufo,

Arn

aldo

Riz

zard

o op

õem

-

se à

alt

eraç

ão,

lem

bran

do q

ue o

ter

mo

gêne

ro é

da

trad

ição

, as

sim

con

sagr

ado

desd

e o

Dir

eito

Rom

ano,

est

á na

s O

rden

açõe

s do

Rei

no e

no

Proj

eto

de A

ugus

to

Tei

xeir

a de

Fr

eita

s.35

A

liás

, es

ses

reno

mad

os

civi

list

as

repe

tem

O

rosi

mbo

Non

ato,

par

a qu

em a

lin

guag

em j

uríd

ica

nem

sem

pre

é pa

relh

a co

m a

téc

nica

, o

gêne

ro

refe

rido

no

art

igo

em

ques

tão

é o

próx

imo

não

o re

mot

o,

que

na

lingu

agem

técn

ica

sign

ific

a es

péci

e.

O g

êner

o a

que

alud

e a

lei

[...]

é a

esp

écie

da

lingu

agem

ci

entíf

ica

e a

inde

term

inaç

ão r

elat

iva

perm

itid

a em

dir

eito

no

toc

ante

ao

obje

to d

a ob

riga

ção

excl

ui o

“gê

nero

rem

oto”

35

Apu

d F

IUZ

A, R

icar

do. O

nov

o C

ódig

o C

ivil

e a

s pr

opos

tas

de a

perf

eiço

amen

to. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

4, p

. 65

.

Page 21: Aulas de Direito das Obrigações

41

para

in

clui

r ap

enas

o

“gên

ero

próx

imo.

E

ste,

o

gêne

ro

próx

imo

(esp

écie

) co

nsis

te e

m u

ma

clas

se d

e ob

jeto

s qu

e of

erec

e ca

ract

eres

di

fere

ncia

is

– ca

valo

, tr

igo,

úcar

. V

aled

ia n

ão f

ora

– po

r in

tole

ráve

l fa

lta

de d

eter

min

ação

no

obje

to

– a

estip

ulaç

ão

de

entr

egar

an

imai

s,

gêne

ros

alim

entí

cios

, etc

(gê

nero

rem

oto)

.36

O

port

uno

exem

plif

icar

: gê

nero

rem

oto:

fru

to;

gêne

ro p

róxi

mo

ou e

spéc

ie:

lara

nja;

qua

lida

de:

lima,

bai

ana,

pêr

a et

c.,

fina

lmen

te q

uant

idad

e. N

os c

ontr

atos

norm

alm

ente

são

esp

ecif

icad

os o

gên

ero

próx

imo

ou a

esp

écie

, a

qual

idad

e e

a

quan

tidad

e.

D

o qu

e fo

i di

to,

se

o ob

jeto

da

pr

esta

ção

for

ilíci

to,

impo

ssív

el

ou

inde

term

inad

o o

negó

cio

jurí

dico

é n

ulo,

por

dis

posi

ção

do a

rt.

166,

inc

. II

, do

Cód

igo

Civ

il.

3.2.

3 E

lem

ento

esp

irit

ual o

u ví

ncul

o ju

rídi

co

Fin

alm

ente

, a e

stru

tura

da

obri

gaçã

o co

mpl

eta-

se p

elo

terc

eiro

ele

men

to, o

espi

ritu

al,

send

o m

ais

empr

egad

a a

expr

essã

o ví

ncul

o ju

rídi

co.

Para

Álv

aro

Vil

laça

Aze

vedo

é e

lo q

ue u

ne,

ata,

lig

a o

suje

ito a

tivo

ao s

ujei

to p

assi

vo,

poss

ibili

tand

o qu

e o

cred

or p

ossa

exi

gir

do d

eved

or o

cum

prim

ento

da

pres

taçã

o.

É o

ele

men

to i

mat

eria

l, qu

e re

trat

a a

coer

cibi

lida

de,

a ju

risd

icid

ade

da r

elaç

ão

obri

gaci

onal

.37 É

, ass

im, “

a re

laçã

o ju

rídi

ca e

xist

ente

ent

re c

redo

r e

deve

dor”

.38

No

mai

s da

s ve

zes,

a o

brig

ação

é c

umpr

ida

espo

ntan

eam

ente

, tod

avia

se

o

deve

dor

não

adim

plir

a p

rest

ação

, o v

íncu

lo j

uríd

ico

arm

a o

cred

or d

o di

reito

de

exig

i-la

, in

vest

indo

sob

re o

pat

rim

ônio

daq

uele

, po

r m

eio

de a

ção

próp

ria

junt

o

ao P

oder

Jud

iciá

rio.

36

NO

NA

TO

, Oro

sim

bo. C

urso

de

obri

gaçõ

es: g

ener

alid

ades

– e

spéc

ies,

1 e

d.,

vol.

I, R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se,

1959

, p. 2

71.

37 A

ZE

VE

DO

, Á

lvar

o V

illa

ça.

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

e r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l, 11

ed.

São

Pau

lo:

Atl

as,

2008

, p. 1

6.

38 S

EN

ISE

LIS

BO

A, R

ober

to. M

anua

l de

dire

ito

civi

l, v.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il. 4

ed.

S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

9, p

. 41.

42

O

cre

dor

pode

exi

gir

a pr

esta

ção

tal

qual

con

trat

ada,

é a

tut

ela

espe

cífi

ca;

mas

tam

bém

pod

e va

ler-

se d

a tu

tela

gen

éric

a re

pres

enta

da p

elas

per

das

e da

nos.

Supo

nha-

se q

ue a

lgué

m a

dqui

ra u

m c

ompu

tado

r em

um

a ca

sa c

omer

cial

que

,

depo

is, n

ega-

se a

cum

prir

o c

ontr

atad

o en

treg

ando

o b

em. O

cre

dor

pode

rec

orre

r

ao E

stad

o-ju

iz,

exig

indo

que

o b

em l

he s

eja

entr

egue

tal

qua

l co

ntra

tado

. É

a

deno

min

ada

tute

la e

spec

ífic

a. S

upon

ha-s

e, d

outr

a fe

ita,

que

a no

iva

proc

ure

a

cost

urei

ra p

ara

a co

nfec

ção

de s

eu v

estid

o de

cas

amen

to.

E o

ves

tido

não

é

conf

ecci

onad

o. D

epoi

s do

cas

amen

to e

le p

erde

a u

tilid

ade,

a c

redo

ra n

ão t

em

mai

s in

tere

sse

no v

esti

do. P

ode,

ent

ão, r

esol

ver

pela

tut

ela

gené

rica

das

per

das

e

dano

s, i

sto

é, c

erta

qua

ntia

em

din

heir

o pa

ra c

ompe

nsar

o d

ano

mor

al p

or e

la

sofr

ido.

O o

bjet

o m

edia

to d

a ob

riga

ção

conv

ola-

se e

m d

inhe

iro.

O

vín

culo

jur

ídic

o é,

poi

s, q

ue g

aran

te, e

m q

ualq

uer

espé

cie

de o

brig

ação

,

o se

u cu

mpr

imen

to.

P

orém

, se

o d

eved

or n

ão a

dim

plir

a p

rest

ação

e n

ão t

iver

pat

rim

ônio

par

a

resp

onde

r pe

la in

deni

zaçã

o, o

cré

dito

per

man

ece

ínte

gro

até

a pr

escr

ição

, qua

ndo

entã

o po

r fa

lta

de g

aran

tia

real

o c

redo

r ab

sorv

e o

prej

uízo

. É

o p

atri

môn

io d

o

deve

dor

que

gara

nte

o di

reit

o do

cre

dor,

se

o de

vedo

r fo

r de

spid

o de

pat

rim

ônio

não

há c

omo

exig

ir. O

cre

dor

tem

de

se r

esig

nar

no p

reju

ízo.

Bem

por

isso

, com

o

será

vis

to, e

xist

em o

brig

açõe

s de

gar

anti

a, p

ara

o ef

etiv

o re

sgua

rdo

do c

rédi

to.

O

vín

culo

jurí

dico

, res

ta d

izer

, des

dobr

a-se

em

doi

s m

omen

tos

o dé

bito

e a

resp

onsa

bilid

ade.

O

bito

é

o de

ver

jurí

dico

or

igin

ário

ou

pr

imár

io

e a

resp

onsa

bili

dade

é o

dev

er ju

rídi

co s

uces

sivo

ou

secu

ndár

io.

O

Cód

igo

Civ

il n

o ar

t. 38

9 fa

z es

sa d

istin

ção:

não

cum

prid

a a

obri

gaçã

o,

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o, r

espo

nde

o de

vedo

r po

r pe

rdas

e d

anos

, de

ver

jurí

dico

suce

ssiv

o. A

d ex

empl

um:

dete

rmin

ado

bufê

foi

con

trat

ado

para

um

a fe

sta

de

aniv

ersá

rio,

aqu

i o

débi

to,

terá

de

ofer

ecer

a r

efei

ção

no d

ia a

praz

ado.

Tra

ta-s

e

de p

rest

ação

de

serv

iços

pro

fiss

iona

is,

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o, e

m f

avor

do

Page 22: Aulas de Direito das Obrigações

43

aniv

ersa

rian

te q

ue i

rá r

eceb

er o

s se

us f

amil

iare

s e

amig

os.

No

enta

nto,

o b

ufê

não

cum

pre

a su

a ob

riga

ção,

tra

nsgr

ide

o de

ver

jurí

dico

que

vol

unta

riam

ente

assu

miu

. Su

rge,

en

tão,

po

r di

spos

ição

le

gal

outr

o de

ver

jurí

dico

, po

rtan

to

suce

ssiv

o,

com

por

o pr

ejuí

zo

expe

rim

enta

do

pelo

an

iver

sari

ante

. A

qui

a

resp

onsa

bilid

ade.

O d

ever

jur

ídic

o su

cess

ivo

(res

pons

abil

idad

e) t

oma

o lu

gar

do

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o (d

ébito

não

adi

mpl

ido)

. Se

rve

tam

bém

de

exem

plo

o

caso

do

vest

ido

de n

oiva

sus

cita

do lo

go a

cim

a.

N

ota-

se,

o de

ver

jurí

dico

or

igin

ário

na

sce

pela

vo

ntad

e da

s pa

rtes

,

enqu

anto

o d

ever

jur

ídic

o su

cess

ivo

é a

resp

osta

do

orde

nam

ento

jur

ídic

o an

te o

inad

impl

emen

to d

a re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal.

E

ssa

teor

ia d

uali

sta

surg

e na

Ale

man

ha,

com

a E

scol

a do

s Pa

ndec

tas,

39

send

o da

aut

oria

de

Alo

is B

rinz

.40 P

ara

ele

o dé

bito

, qu

e o

cham

a de

shu

ld,

é o

paga

men

to e

spon

tâne

o pe

la r

eali

zaçã

o da

pre

staç

ão. C

ompr

eend

e o

dia

em q

ue a

obri

gaçã

o fo

i co

nclu

ída

até

o di

a do

ven

cim

ento

, qu

ando

o c

redo

r te

m m

era

expe

ctat

iva

de e

xigi

r o

seu

créd

ito,

pode

ndo

adot

ar a

pena

s m

edid

as p

reve

ntiv

as

para

pre

serv

á-lo

. Na

obri

gaçã

o de

dar

é a

ent

rega

da

cois

a, n

a ob

riga

ção

de f

azer

é a

pres

taçã

o do

ato

ou

serv

iço,

na

obri

gaçã

o de

não

faz

er é

a a

bste

nção

ou

tole

rânc

ia d

e de

term

inad

o at

o ou

fat

o. J

á a

resp

onsa

bilid

ade,

que

ele

a c

ham

a de

haft

ung,

ini

cia-

se n

o di

a se

guin

te a

o do

ven

cim

ento

, é

o di

reito

do

cred

or d

e

exig

ir a

pre

staç

ão p

ela

tute

la e

spec

ífic

a ou

gen

éric

a, o

u se

ja,

o pa

gam

ento

forç

ado

com

o s

ocor

ro d

o Po

der

Judi

ciár

io.

De

volta

às

raíz

es n

o D

irei

to

Rom

ano

são

tam

bém

usa

das

as e

xpre

ssõe

s de

bitu

m e

obl

igat

io,

corr

espo

nden

do

débi

to e

res

pons

abili

dade

.

39

Esc

ola

dos

Pan

dect

as

40 W

AL

D, A

rnol

do. O

brig

açõe

s e

cont

rato

s, 1

6 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

004,

p. 8

.

44

Em

re

sum

o,

a re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

, co

nsid

eran

do

o ví

ncul

o

jurí

dico

, ap

rese

nta

dois

mom

ento

s be

m d

istin

tos:

se

o de

vedo

r nã

o pa

gar

a

pres

taçã

o es

pont

anea

men

te

tal

qual

co

ntra

tado

(d

ever

ju

rídi

co

orig

inár

io

=

débi

to),

sur

ge, e

m r

azão

des

se i

nadi

mpl

emen

to e

com

o re

spos

ta d

o or

dena

men

to

jurí

dico

, o

dire

ito

de o

cre

dor

de p

rom

over

açã

o co

ntra

os

bens

do

deve

dor

(dev

er ju

rídi

co s

uces

sivo

= r

espo

nsab

ilid

ade)

.

Pos

teri

orm

ente

, os

aut

ores

ale

mãe

s K

arl

Von

Am

ira

e O

tto

Von

Gie

rke

dem

onst

rara

m

tam

bém

a

exis

tênc

ia

de

débi

to

sem

re

spon

sabi

lidad

e e

de

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

A

ntes

o

débi

to

sem

re

spon

sabi

lidad

e.

Na

dívi

da

de

jogo

pr

oibi

do

a

obri

gaçã

o é

impe

rfei

ta,

tam

bém

de

nom

inad

a na

tura

l, po

is

desp

rovi

da

do

mom

ento

suc

essi

vo d

a re

spon

sabi

lida

de. É

um

a ob

riga

ção

inex

igív

el.

Ao

cred

or

não

pago

não

é d

efer

ido

o di

reit

o de

inv

estir

con

tra

o pa

trim

ônio

do

cred

or

(con

dict

io

inde

biti

).

Res

igna

r-se

dian

te

do

inad

impl

emen

to.

Poré

m,

se

o

deve

dor

paga

r es

pont

anea

men

te é

pag

amen

to,

com

dir

eito

de

rete

nção

(so

luti

rete

ntio

), i

sto

é, o

dev

edor

não

pod

erá

pedi

r a

devo

luçã

o, c

ham

ada

tecn

icam

ente

de r

epet

ição

do

indé

bito

(re

peti

tio

inde

biti

). O

utro

exe

mpl

o sã

o as

obr

igaç

ões

pres

crit

as, t

ambé

m d

espr

ovid

as d

e re

spon

sabi

lidad

e, p

or is

so in

exig

ívei

s.

P

ode

acon

tece

r a

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

Alg

uém

ser

res

pons

ável

a

paga

r o

cred

or e

mbo

ra n

ão s

eja

deve

dor.

A f

ianç

a pr

esta

-se

com

o ex

empl

o. O

fiad

or n

ão é

dev

edor

, é

o ga

rant

e do

dev

edor

. Se

est

e nã

o pa

ga a

quel

e te

rá d

e

fazê

-lo.

Po

rtan

to,

fiad

or

tem

re

spon

sabi

lidad

e m

esm

o nã

o se

ndo

deve

dor:

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

Page 23: Aulas de Direito das Obrigações

45

3.3

FO

NT

ES

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

E

tim

olog

icam

ente

, fo

nte

sign

ific

a o

loca

l on

de n

asce

a á

gua.

São

os

fato

s

que

faze

m n

asce

r a

obri

gaçã

o, o

u co

mo

diz

com

ele

gânc

ia S

ílvi

o R

odri

gues

são

os a

tos

ou f

atos

por

mei

o do

s qu

ais

as o

brig

açõe

s en

cont

ram

nas

cedo

uro.

41

No

Dir

eito

Rom

ano

clás

sico

, as

Inst

ituta

s de

Gai

o bi

part

iram

as

font

es d

as

obri

gaçõ

es e

m c

ontr

actu

s e

deli

cto.

No

Dir

eito

Rom

ano

pós-

clas

sico

com

Jus

tini

ano,

o C

orpu

s Ju

ris

Civ

ilis

as

quad

ripl

icou

: em

con

trac

tus,

qua

si c

ontr

actu

s, d

elic

to e

qua

si d

elic

to.

Lei

a-se

:

cont

rato

: ne

góci

o ju

rídi

co b

ilat

eral

; qu

ase

cont

rato

: ne

góci

o ju

rídi

co u

nila

tera

l;

delit

o: a

to il

ícito

dol

oso;

qua

se d

elito

: ato

ilíc

ito c

ulpo

so.

Pot

hier

acr

esce

ntou

a le

i com

o qu

inta

fon

te. E

just

ific

a:

A

lei

nat

ural

é c

ausa

, pe

lo m

enos

med

iata

, de

tod

as a

s ob

riga

ções

: po

is,

se o

s co

ntra

tos,

del

itos

e qu

ase

delit

os

prod

uzem

obr

igaç

ões,

é p

orqu

e a

prio

ri a

lei

nat

ural

ord

ena

que

cada

um

cum

pra

o qu

e pr

omet

e e

repa

re o

dan

o ca

usad

o po

r su

a fa

lta.

.. É

ta

mbé

m

essa

m

esm

a le

i qu

e to

rna

obri

gató

rios

os

atos

dos

qua

is r

esul

ta a

lgum

a ob

riga

ção,

e

que,

com

o já

not

amos

, po

r es

se e

feit

o sã

o ch

amad

os d

e qu

ase-

cont

rato

s. H

á ob

riga

ções

que

pos

suem

com

o ca

usa,

ún

ica

e im

edia

ta,

a le

i. Po

r ex

empl

o, n

ão é

em

vir

tude

de

algu

m

cont

rato

ou

quas

e-co

ntra

to q

ue o

s fi

lhos

, qu

ando

te

nham

con

diçõ

es, e

stej

am o

brig

ados

a f

orne

cer

alim

ento

s a

seus

pa

is

quan

do

este

s es

tiver

em

na

indi

gênc

ia;

esta

ob

riga

ção,

a pr

oduz

a le

i nat

ural

.42

O

Cód

igo

Civ

il al

emão

823

e se

guin

tes)

ass

inal

a o

negó

cio

jurí

dico

e a

lei.

O it

alia

no (

art.

1.17

3) d

efin

e ex

plic

itam

ente

as

font

es e

m c

ontr

ato,

fat

o ilí

cito

e ou

tros

eve

ntos

ind

icad

os p

elo

orde

nam

ento

. Já

o p

ortu

guês

(ar

t. 47

3º)

em

cont

rato

s, n

egóc

ios

unila

tera

is,

gest

ão d

e ne

góci

os,

enri

quec

imen

to s

em c

ausa

e

41

RO

DR

IGU

ES,

Síl

vio.

Dir

eito

civ

il, v

. 2, P

arte

ger

al d

as o

brig

açõe

s, 3

0 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

002,

p. 8

. 42

PO

TH

IER

, Rob

ert J

osep

h. T

rata

do d

as o

brig

açõe

s, tr

aduç

ão d

e A

dria

n S

oter

o D

e W

itt B

atis

ta e

Dou

glas

Dia

s F

erre

ira.

Cam

pina

s: S

evan

da, 2

001,

p. 1

16.

46

resp

onsa

bilid

ade

civi

l. N

o D

irei

to p

átri

o, o

s C

ódig

os C

ivis

rev

ogad

o e

o at

ual

não

indi

cam

qua

is s

eria

m a

s fo

ntes

das

obr

igaç

ões.

Na

verd

ade,

o e

stud

o da

s fo

ntes

das

obr

igaç

ões

perd

eu i

mpo

rtân

cia

na

atua

lidad

e, n

a m

edid

a em

que

a t

endê

ncia

mod

erna

pri

vile

gia

o es

tudo

das

obri

gaçõ

es c

onsi

dera

ndo

a pr

ópri

a na

ture

za q

ue a

s en

volv

e e

não

mai

s as

sua

s

orig

ens.

43

Ade

mai

s,

o es

tudo

da

s fo

ntes

da

s ob

riga

ções

tr

az

sens

ívei

s

disc

ordâ

ncia

s en

tre

os c

ivili

stas

e a

pres

enta

pou

ca r

elev

ânci

a pr

átic

a.

Álv

aro

Vill

aça

Aze

vedo

, M

aria

Hel

ena

Din

iz,

Silv

io d

e S

alvo

Ven

osa,

dent

re

outr

os,

acol

hem

P

othi

er,

ao

ente

nder

em

que

a fo

nte

imed

iata

da

s

obri

gaçõ

es é

a v

onta

de d

o E

stad

o, t

radu

zida

na

lei.44

São

aqu

elas

obr

igaç

ões

que

surg

em d

iret

amen

te d

o or

dena

men

to ju

rídi

co p

ositi

vo. S

egue

o C

ódig

o C

ivil

fran

cês

no s

eu a

rt.

1.37

0, a

o di

spor

que

“ce

rtos

com

prom

isso

s [.

..] r

esul

tam

[...

]

excl

usiv

amen

te

da

auto

rida

de

da

lei.”

D

ecor

rem

da

le

i a

obri

gaçã

o de

o

prop

riet

ário

ou

poss

uido

r de

um

pré

dio

não

emit

ir i

nter

ferê

ncia

s pr

ejud

icia

is à

segu

ranç

a, a

o so

sseg

o e

à sa

úde

dos

que

habi

tam

a p

ropr

ieda

de v

izin

ha (

CC

art

.

1.27

7);

a ob

riga

ção

aos

alim

ento

s (C

C a

rt.

1.69

6);

a cr

iaçã

o de

um

tri

buto

mun

icip

al, e

stad

ual o

u fe

dera

l. Ju

stif

ica

Álv

aro

Vill

aça

Aze

vedo

que

a le

i é f

onte

prim

eira

das

obr

igaç

ões,

poi

s el

a é

font

e im

edia

ta d

a pr

ópri

a C

iênc

ia d

o D

irei

to.

Esc

utad

os n

a liç

ão d

e O

rlan

do G

omes

, Pau

lo L

uiz

Net

to L

ôbo

e Fe

rnan

do

Nor

onha

ent

ende

m q

ue a

lei

não

pode

ser

tida

com

o fo

nte

da o

brig

ação

, de

sort

e

som

ente

cri

aria

um

a ob

riga

ção

se a

com

panh

ada

de u

m f

ato

jurí

dico

.45 N

ão

43

AZ

EV

ED

O, Á

lvar

o V

illa

ça. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 1

1 ed

. São

Pau

lo: A

tlas

, 20

08, p

. 22.

44

AZ

EV

ED

O, Á

lvar

o V

illa

ça. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 1

1 ed

. São

Pau

lo: A

tlas

, 20

08, p

. 24.

DIN

IZ, M

aria

Hel

elen

a. C

urso

de

dire

ito

civi

l bra

sile

iro,

vol

ume

2: te

oria

ger

al d

as o

brig

açõe

s, 2

4 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 4

1. V

EN

OS

A, S

ílvi

o de

Sal

vo. D

irei

to c

ivil:

teor

ia g

eral

das

obr

igaç

ões

e te

oria

ge

ral d

os c

ontr

atos

, 11

ed. S

ão P

aulo

: Atl

as, 2

001,

p. 5

0.

45 G

OM

ES,

Orl

ando

. Obr

igaç

ões,

17

ed.,

atua

liza

da p

or E

dval

do B

rito

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

8, p

. 33

e 34

. P

aulo

Lui

z N

etto

Lôb

o. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

5, p

. 46.

Fer

nand

o N

oron

ha. D

irei

to

das

obri

gaçõ

es: f

unda

men

tos

ao d

irei

to d

as o

brig

açõe

s: in

trod

ução

à r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

. São

Pau

lo: S

arai

va,

2003

, p. 3

43 e

344

.

Page 24: Aulas de Direito das Obrigações

47

care

cem

arg

umen

tos

para

as

duas

int

erpr

etaç

ões,

con

tudo

não

cab

e ap

rofu

ndar

em a

ssun

to c

ompl

exo

e de

qua

se n

enhu

m e

feit

o pr

átic

o.

Impe

ra u

nani

mid

ade,

o c

ontr

ato

é a

prin

cipa

l fo

nte

das

obri

gaçõ

es.

É a

vont

ade

das

part

es q

ue c

ria

obri

gaçõ

es.

Que

m c

ontr

ata

a pr

esta

ção

de u

m

serv

iço,

tem

a a

nim

ar e

sse

cont

rato

um

a ob

riga

ção

de f

azer

. Se

o c

ontr

ato

é

guar

dar

segr

edo,

a o

brig

ação

é d

e nã

o fa

zer,

con

sist

e em

um

a ab

sten

ção.

Se

for

de p

erm

uta,

a o

brig

ação

é d

e da

r, im

plic

a na

ent

rega

de

uma

cois

a po

r ou

tra.

Nos

con

trat

os a

s ob

riga

ções

são

qua

se s

empr

e si

nala

gmát

icas

, as

qua

is s

e

cara

cter

izam

pel

as p

arte

s se

rem

, na

mes

ma

obri

gaçã

o, c

redo

ra e

dev

edor

a en

tre

si.

Na

com

pra

e ve

nda,

o c

ompr

ador

é c

redo

r da

coi

sa e

dev

edor

do

preç

o, o

vend

edor

é c

redo

r do

pre

ço e

dev

edor

da

cois

a. N

a pr

esta

ção

de s

ervi

ço,

o

serv

içal

é d

eved

or d

o se

rviç

o e

cred

or d

o sa

lári

o, e

a q

uem

o s

ervi

ço é

pre

stad

o

cred

or d

o se

rviç

o e

deve

dor

do s

alár

io.

pres

taçã

o e

cont

rapr

esta

ção

ou

pres

taçõ

es b

ilate

rais

, aqu

i res

ide

a si

nalá

gma.

Exi

stem

con

trat

os c

om o

brig

açõe

s un

ilate

rais

, qu

ando

a p

rest

ação

cab

e

apen

as a

um

dos

pol

os d

a ob

riga

ção,

é o

cas

o do

com

odat

o, q

ue é

o e

mpr

ésti

mo

grat

uito

de

cois

a in

fung

ível

. Tam

bém

ass

im n

a do

ação

pur

a e

sim

ples

, em

que

o

doad

or e

ntre

ga g

ratu

itam

ente

um

a co

isa

ao d

onat

ário

.

Tam

bém

é f

onte

de

obri

gaçã

o a

decl

araç

ão u

nila

tera

l da

von

tade

na

med

ida

em q

ue v

incu

la o

com

port

amen

to d

e um

a pe

ssoa

à s

ua p

alav

ra.

Pel

o

Cód

igo

Civ

il r

evog

ado

esta

vam

ins

erid

os n

esta

fig

ura

os t

ítulo

s ao

por

tado

r e

a

prom

essa

de

re

com

pens

a.

Rel

embr

ando

, o

atua

l pr

evej

a a

prom

essa

de

reco

mpe

nsa,

a g

estã

o de

neg

ócio

s, o

pag

amen

to i

ndev

ido

e o

enri

quec

imen

to

sem

ca

usa

(Títu

lo

VII

, ar

ts.

854

a 88

6,

sob

a de

nom

inaç

ão

“Dos

at

os

unila

tera

is”)

.

Com

o ex

empl

o ba

sta

se la

nce

rápi

do o

lhar

par

a as

pub

lici

dade

s. É

com

um,

mor

men

te o

s gr

ande

s m

agaz

ines

ofe

rece

rem

rec

ompe

nsa

para

os

seus

fre

gues

es,

48

med

iant

e so

rtei

o. A

ent

rega

da

reco

mpe

nsa

prom

etid

a é

uma

obri

gaçã

o co

m to

da

forç

a qu

e a

lei

lhe

empr

esta

. D

ecid

iu o

Tri

buna

l de

Jus

tiça

do

Est

ado

de S

ão

Paul

o:

A o

fert

a de

prê

mio

s m

edia

nte

sort

eio

conf

igur

a pr

omes

sa d

e re

com

pens

a,

a qu

al,

efet

uada

pu

blic

amen

te,

vinc

ula

o pr

omit

ente

(2ª

Câm

. de

Fér

ias,

rel

. D

es.

Wal

ter

Mor

aes,

j.

20.8

.93,

JT

J L

ex 1

50/8

3).

C

om o

adv

ento

do

atua

l C

ódig

o C

ivil,

o a

to i

lícito

dev

e se

r su

bstit

uído

pela

res

pons

abili

dade

civ

il, p

ois

nasc

e ob

riga

ção

de i

nden

izar

tan

to p

elo

dano

caus

ado

pelo

ato

ilíc

ito q

ue d

epen

de d

e cu

lpa

(res

pons

abil

idad

e ci

vil s

ubje

tiva

ou

com

cul

pa,

arts

. 18

6 e

926

capu

t),

com

o pe

lo a

buso

de

dire

ito,

ato

ilíci

to q

ue

inde

pend

e de

cul

pa (

resp

onsa

bili

dade

civ

il o

bjet

iva

ou s

em c

ulpa

, ar

t. 92

6,

pará

graf

o ún

ico)

.

.

Para

ser

mai

s ex

plic

ativ

o, d

esta

cam

-se

no a

to i

líci

to d

uas

figu

ras:

o a

to

ilíc

ito

abso

luto

e o

abu

so d

e di

reito

. O

ato

ilí

cito

abs

olut

o do

art

. 18

6 tr

az a

obri

gaçã

o de

ind

eniz

ar o

dan

o ca

usad

o a

outr

em,

tend

o po

r su

bstr

ato

a co

ndut

a

culp

osa.

Ass

im, o

mot

oris

ta n

eglig

ente

ou

impr

uden

te q

ue e

mba

te s

eu v

eícu

lo n

a

tras

eira

do

auto

móv

el q

ue p

erco

rre

o m

esm

o tr

ajet

o lo

go n

a su

a fr

ente

. A

cond

uta

já n

asce

cul

posa

. Q

uant

o ao

abu

so d

e di

reito

o a

rt.

187

disp

õe q

ue

tam

bém

co

met

e at

o il

ícit

o o

titul

ar

do

dire

ito

que,

ao

ex

ercê

-lo,

ex

cede

man

ifes

tam

ente

os

limit

es i

mpo

stos

pel

o se

u fi

m e

conô

mic

o ou

soc

ial,

pela

boa

-

fé o

u pe

los

bons

cos

tum

es.

A c

ondu

ta n

asce

líc

ita e

pel

o ab

uso

torn

a-se

ilíc

ita.

Con

jetu

rar-

se o

dir

eito

de

grev

e qu

e so

men

te p

ode

ser

exer

cido

com

o p

ropó

sito

de b

enef

icia

r os

trab

alha

dore

s, s

e o

seu

intu

ito d

esvi

rtua

r e

caus

ar d

ano

deco

rre

o

deve

r de

ind

eniz

ar,

pois

se

a gr

eve

é um

exe

rcíc

io r

egul

ar d

e di

reit

o, o

seu

desv

irtu

amen

to é

abu

so.

É a

let

ra d

o E

nunc

iado

37

do C

entr

o de

Est

udos

Judi

ciár

ios

do C

onse

lho

da J

usti

ça F

eder

al:

“A r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l de

corr

ente

Page 25: Aulas de Direito das Obrigações

49

do a

buso

de

dire

ito

inde

pend

e de

cul

pa,

e fu

ndam

enta

-se

som

ente

no

crit

ério

obje

tivo

-fin

alís

tico

.”

A

dem

ais,

que

m e

xerc

e at

ivid

ade

lícit

a, m

as q

ue i

mpl

ica

em r

isco

, se

prod

uzir

dan

o a

outr

em,

é ob

riga

do a

ind

eniz

ar,

é di

zer,

nas

ce o

brig

ação

do

ato

líci

to l

esiv

o (C

C a

rt.

927,

par

ágra

fo ú

nico

). U

m e

xem

plo

escl

arec

e a

ques

tão.

Supo

nha-

se a

pro

spec

ção

de p

etró

leo

em a

lto m

ar p

ela

Petr

obrá

s, a

to l

ícito

,

incl

usiv

e a

empr

esa

é de

vida

men

te a

utor

izad

a pa

ra t

anto

. Po

r um

fat

o es

tran

ho,

inde

term

inad

o, o

u m

esm

o um

fat

o in

evit

ável

da

natu

reza

, pro

pici

e o

rom

pim

ento

do

oleo

duto

po

luin

do

as

água

s,

com

da

nos

ecol

ógic

os

e ao

s pe

scad

ores

prof

issi

onai

s.

A

Pet

robr

ás

terá

qu

e co

mpo

r o

prej

uízo

, m

esm

o nã

o te

ndo

prat

icad

o at

o ilí

cito

.

Do

expe

ndid

o, s

urge

cer

teir

a se

nten

ça r

oman

ista

: “o

mni

s ob

liga

tio

vel

ex

deli

cto

vel

ex

cont

ratu

s”:

as o

brig

açõe

s or

a na

scem

por

im

posi

ção

da l

ei,

ora

pela

von

tade

das

par

tes.

R

ESU

MO

1 C

once

ito

de o

brig

ação

: é

a re

laçã

o ju

rídi

ca, d

e ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o, e

stab

elec

ida

entr

e de

vedo

r e

cred

or e

cuj

o ob

jeto

con

sist

e nu

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l eco

nôm

ica,

po

sitiv

a ou

ne

gativ

a,

devi

da

pelo

pr

imei

ro

ao

segu

ndo,

ga

rant

indo

-lhe

o

adim

plem

ento

atr

avés

de

seu

patr

imôn

io.

2 E

lem

ento

s da

es

trut

ura

das

obri

gaçõ

es:

são

retir

ados

da

pr

ópri

a co

ncei

tuaç

ão. S

ão c

onsi

dera

dos

esse

ncia

is.

a)

Ele

men

to s

ubje

tiva

, ta

mbé

m c

ham

ado

de p

esso

al,

são

os p

erso

nage

ns q

ue

ence

nam

a o

brig

ação

. De

um l

ado,

o d

eved

or q

uem

tem

de

cum

prir

a p

rest

ação

; do

out

ro l

ado,

o c

redo

r aq

uele

que

tem

o d

irei

to d

e ex

igir

e r

eceb

er e

ssa

mes

ma

pres

taçã

o.

Pode

m

ser

a pe

ssoa

na

tura

l, a

pess

oa

jurí

dica

e

até

ente

s de

sper

sona

liza

dos.

Ain

da,

pode

se

r de

term

inad

o ou

de

term

ináv

el,

únic

o ou

pl

ural

, sim

ples

ou

soli

dári

o.

50

b)

Ele

men

to

obje

tivo,

ta

mbé

m

deno

min

ado

de

mat

eria

l, é

a pr

esta

ção

prop

riam

ente

dita

, po

de s

er u

m d

ar,

faze

r ou

não

faz

er.

A p

rest

ação

dev

e se

r lí

cita

, po

ssív

el,

dete

rmin

ada

ou d

eter

min

ável

. D

isti

ngue

m-s

e o

obje

to i

med

iato

ou

pre

staç

ão d

ebitó

ria,

do

obje

to m

edia

to o

u ob

jeto

da

pres

taçã

o. O

obj

eto

imed

iato

é a

con

duta

do

deve

dor,

e o

obj

eto

med

iato

é o

bem

da

vida

, é

desv

enda

do p

ela

resp

osta

a s

egui

nte

perg

unta

: dar

, faz

er o

u nã

o fa

zer

o qu

e?

c)

Ele

men

to

espi

ritu

al,

mai

s co

nhec

ido

por

vínc

ulo

jurí

dico

, re

trat

a a

coer

cibi

lidad

e da

rel

ação

jur

ídic

a ob

riga

cion

al.

Poss

ibili

ta a

o cr

edor

exi

gir

o cu

mpr

imen

to

da

pres

taçã

o ob

riga

cion

al.

à ob

riga

ção

a ju

risd

icid

ade.

D

ecom

põe-

se e

m d

ébito

, qu

e é

paga

men

to v

olun

tári

o ta

l qu

al c

ontr

atad

o, e

a

resp

onsa

bilid

ade:

que

é o

pag

amen

to f

orça

do p

or m

eio

do P

oder

Jud

iciá

rio;

é

uma

inde

niza

ção

em d

inhe

iro.

3)

Fon

tes

das

obri

gaçõ

es: s

ão o

s fa

tos

que

faze

m n

asce

r a

obri

gaçã

o.

a) F

onte

imed

iato

: a le

i im

post

a pe

la v

onta

de d

o E

stad

o.

b) F

onte

s m

edia

tas:

o c

ontr

ato

e a

decl

araç

ão u

nila

tera

l da

von

tade

cri

am

obri

gaçõ

es p

ela

vont

ade

das

part

es; e

a r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

de

sort

e ta

nto

o at

o ilí

cito

com

o o

ato

líci

to p

odem

ger

ar o

brig

açõe

s.

C

AP

ÍTU

LO

IV

4.

1 Im

port

ânci

a da

m

atér

ia;

4.2

Dis

tinç

ão e

ntre

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

e D

irei

tos

da P

erso

nalid

ade

e o

Dir

eito

da

s C

oisa

s; 4

.3 O

brig

ação

pro

per

rem

.

4.1

IMP

OR

NC

IA D

A M

AT

ÉR

IA

A

o di

scip

linar

o d

irei

to p

atri

mon

ial

em d

ébit

o e

créd

ito,

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões

se f

az p

rese

nte

nas

rela

ções

cor

riqu

eira

s do

cot

idia

no,

a pa

rtir

de

quan

do a

pes

soa

exer

ce t

aref

as d

as m

ais

triv

iais

com

o a

com

pra

pela

man

hã d

o

pão

e do

leit

e; to

mar

o ô

nibu

s pa

ra s

e lo

com

over

até

ao

trab

alho

; ir

ao c

inem

a, a

o

teat

ro, a

o ca

mpo

de

fute

bol n

o go

zo d

e la

zer.

T

ambé

m s

e fa

z pr

esen

te n

as

rela

ções

mai

s on

eros

as,

com

o a

aqui

siçã

o de

ben

s im

óvei

s ou

móv

eis

de a

lto

Page 26: Aulas de Direito das Obrigações

51

valo

r. O

u na

con

trat

ação

de

serv

iços

dis

pend

ioso

s co

mo

a ce

lebr

ação

de

cont

rato

de e

mpr

eita

da p

ara

a co

nstr

ução

de

um g

rand

e ed

ifíc

io,

ou n

a co

ntra

taçã

o de

mão

de

obra

alt

amen

te e

spec

ializ

ada,

e d

emai

s co

ntra

tos

em g

eral

nom

inad

os o

u

típic

os a

quel

es p

revi

stos

em

lei

(C

C a

rts.

481

a 8

53),

bem

ass

im n

os c

ontr

atos

regu

lado

s po

r le

is e

spec

iais

ou

em m

icro

ssis

tem

as,

pode

ndo

dest

acar

den

tre

outr

os a

Lei

das

Soc

ieda

des

Anô

nim

as,

o C

ódig

o de

Def

esa

do C

onsu

mid

or e

o

Est

atut

o do

Ido

so.

Ain

da n

asce

m o

brig

açõe

s po

r m

eio

dos

cont

rato

s in

omin

ados

ou

atíp

icos

,

aque

les

não

prev

isto

s em

le

i po

rqua

nto,

co

mo

será

ex

post

o,

o di

reito

obri

gaci

onal

é

num

eros

ap

erto

s, a

s pa

rtes

pod

em

cria

r no

vos

cont

rato

s no

exer

cíci

o da

libe

rdad

e co

ntra

tual

.

Em

tod

o es

se v

asto

cam

po d

e op

ortu

nida

des

bast

a qu

e a

pres

taçã

o se

ja

pess

oal

econ

ômic

a. E

ntão

se

pode

afi

rmar

, o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

cont

amin

a

todo

s os

liv

ros

do C

ódig

o C

ivil,

mic

ross

iste

mas

e u

m u

nive

rso

de l

eis

espe

ciai

s,

forn

ecen

do a

bund

ante

s co

ncei

tos

e in

form

açõe

s, o

que

lev

a a

cons

ider

ar a

reg

ra

segu

nda

a qu

al a

s no

rmas

de

alca

nce

mai

s am

plo

deve

m p

rece

der

as d

emai

s. I

sto

sign

ific

a qu

e, n

a pr

átic

a, a

o se

dep

arar

com

um

cas

o co

ncre

to,

por

exem

plo,

o

inad

impl

emen

to d

e um

con

trat

o de

tra

nspo

rte

de p

esso

as o

u co

isas

não

se

deve

inve

stig

ar a

sol

ução

ape

nas

nas

norm

as r

elat

ivas

a s

ua d

isci

plin

a es

pecí

fica

(C

C

arts

. 74

3 e

segt

es).

A s

oluç

ão p

oder

á es

tar

prov

avel

men

te n

as n

orm

as r

elat

ivas

ao

adim

plem

ento

e

extin

ção

das

obri

gaçõ

es

(CC

ar

ts.

304

e ss

.),

ou

no

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s (C

C a

rts.

386

e s

s.),

qua

ndo

não

nos

prec

eito

s

lega

is

rela

cion

ados

ao

ne

góci

o ju

rídi

co

onde

se

lo

caliz

am,

entr

e ou

tras

, a

cond

ição

, te

rmo

ou e

ncar

go (

CC

art

s. 1

21 e

ss.

), e

mat

éria

s da

im

port

ânci

a da

s

nulid

ades

e a

nula

bilid

ades

(C

C a

rts.

166

e 1

71),

da

pres

criç

ão e

da

deca

dênc

ia

(CC

art

s. 1

89 e

207

).

52

D

emai

s di

sso,

a p

artir

do

mom

ento

em

que

se

dom

ina

a T

eori

a G

eral

das

Obr

igaç

ões

é po

ssív

el m

elho

r en

tend

er o

s de

mai

s se

tore

s es

peci

aliz

ados

do

Dir

eito

Civ

il, o

s liv

ros

que

lhe

são

post

erio

res

dent

ro d

a Pa

rte

Esp

ecia

l.

D

e ef

eito

, no

Dir

eito

das

Coi

sas

há u

ma

rela

ção

obri

gaci

onal

cau

sal,

ante

s

do r

egis

tro

de b

ens

imóv

eis

(CC

art

.1.2

45)

e an

tes

da t

radi

ção

de b

ens

móv

eis

(CC

art

. 1.2

67);

som

ente

dep

ois

se t

ipif

icam

as

hipó

tese

s pr

evis

tas

no a

rt. 1

.225

,

com

a o

utor

ga d

o di

reito

de

prop

ried

ade.

Não

bas

tass

e, o

s ar

ts. 1

.419

e 1

.510

que

prev

ejam

o p

enho

r, a

hip

otec

a e

a an

ticr

ese

são

dire

itos

reai

s qu

e ga

rant

em o

adim

plem

ento

de

obri

gaçõ

es;

cabe

diz

er,

esta

s tr

ês f

igur

as,

inse

rida

s no

Dir

eito

das

Coi

sas,

são

tam

bém

mod

alid

ades

de

obri

gaçõ

es.

O

Dir

eito

de

fam

ília

pat

rim

onia

l, ar

ts.

1.63

9 e

1.69

4 a

1.71

0, r

egul

a o

regi

me

de b

ens

e os

ali

men

tos

entr

e cô

njug

es, p

aren

tes

e so

brev

iven

tes,

impo

ndo

verd

adei

ras

rela

ções

obr

igac

iona

is e

x le

gis.

O

D

irei

to

das

Suce

ssõe

s,

ao

disc

iplin

ar

o te

stam

ento

co

mo

negó

cio

jurí

dico

uni

late

ral

e gr

atui

to,

é fo

nte

de o

brig

açõe

s co

m e

ficá

cia

post

mor

tem

;

assi

m o

s ar

ts.

1.92

3 e

segu

inte

s re

port

am-s

e à

obri

gaçã

o de

cum

prir

leg

ados

inst

ituíd

os e

m t

esta

men

to.

Ain

da s

ão c

onst

ituíd

as o

brig

açõe

s no

s ar

ts.

1.99

7 e

segu

inte

s qu

e re

gula

men

tam

o a

dim

plem

ento

de

dívi

das

da h

eran

ça,

que

são

as

deix

adas

pel

o fa

leci

do.

O

Cód

igo

Civ

il em

vig

or a

cres

cent

ou m

aior

im

port

ânci

a ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

ao u

nifi

car

as o

brig

açõe

s ci

vis

e co

mer

ciai

s, t

al q

ual

o C

ódig

o C

ivil

ital

iano

, em

194

2. C

oloc

ou t

erm

o à

dupl

icid

ade

de c

ódig

os c

om s

iste

mas

de

norm

as c

onco

rren

tes

entr

e si

, po

r co

nseg

uint

e, o

s co

ntra

tos

civi

s e

com

erci

ais

pass

aram

a s

egui

r a

mes

ma

disc

iplin

a ju

rídi

ca.

Na

verd

ade,

o D

irei

to E

mpr

esar

ial

nasc

eu p

ara

tute

lar

dire

itos

que

não

eram

dev

idam

ente

con

side

rado

s pe

lo d

irei

to o

brig

acio

nal.

Esp

ecia

lmen

te a

par

tir

do

fina

l do

culo

X

VII

, co

m

a as

cens

ão

de

nova

cl

asse

so

cial

, a

dos

Page 27: Aulas de Direito das Obrigações

53

com

erci

ante

s,

que

exig

ia

a no

rmat

izaç

ão

de

tran

saçõ

es

com

erci

ais

que

faci

lita

ssem

os

negó

cios

e a

rea

liza

ção

de l

ucro

s pr

opor

cion

ados

por

ele

s, o

que

,

por

si s

ó, j

ustif

ica

o at

ual

Cód

igo

Civ

il di

scip

liná-

lo n

o L

ivro

II,

da

Part

e

Esp

ecia

l. P

erse

vera

, co

ntud

o,

a su

a au

tono

mia

po

r ex

pres

sa

disp

osiç

ão

cons

titu

cion

al (

art.

22,

I).

Adv

erte

Mig

uel

Rea

le q

ue o

nov

o C

ódig

o C

ivil

não

tent

ou u

nifi

car

o D

irei

to P

riva

do,

mas

con

solid

ou e

ape

rfei

çoou

o q

ue e

stav

a

send

o se

guid

o pe

la d

outr

ina

e pe

la j

uris

prud

ênci

a, a

uni

dade

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

(CC

art

. 2.0

45).

46

A

ide

olog

ia l

iber

al,

eleg

endo

a m

áxim

a: “

o co

ntra

tado

é j

usto

”, c

om a

conc

epçã

o fo

rmal

ista

de

ig

uald

ade,

su

bmet

ia

os

hipo

ssuf

icie

ntes

a

acei

tar

cont

rato

s de

sequ

ilibr

ados

, co

m

mai

ores

va

ntag

ens

a um

a da

s pa

rtes

em

detr

imen

to d

a ou

tra.

Sur

giu,

ent

ão,

em f

ins

do s

écul

o X

IX,

na A

lem

anha

, o

delin

eam

ento

do

Dir

eito

do

Tra

balh

o, q

ue s

e co

nsol

idou

a p

artir

da

Pri

mei

ra

Gue

rra

Mun

dial

, ob

jetiv

ando

da

r pr

oteç

ão

jurí

dica

à

clas

se

soci

al

dos

trab

alha

dore

s as

sala

riad

os.

No

Bra

sil,

em 1

943,

vei

o a

lum

e o

Dec

reto

-lei

5.45

2, q

ue a

prov

ou a

Con

solid

ação

das

Lei

s do

Tra

balh

o, d

essa

for

ma,

as

rela

ções

do

trab

alho

for

am d

esta

cada

s do

con

trat

o de

loc

ação

de

serv

iços

, ist

o é,

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s.

D

epoi

s da

pri

mei

ra m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

o D

irei

to d

o C

onsu

mid

or

pass

ou a

gan

har

auto

nom

ia, t

ambé

m n

a de

fesa

de

outr

a cl

asse

soc

ial c

onsi

dera

da

mai

s fr

aca,

cuj

o nú

cleo

ess

enci

al é

o c

ontr

ato

cele

brad

o en

tre

forn

eced

or e

cons

umid

or.

Port

anto

as

rela

ções

obr

igac

iona

is,

que

visa

m o

fert

as d

e se

rviç

os e

prod

utos

, não

pas

sam

de

obri

gaçõ

es d

e fa

zer

(no

caso

dos

ser

viço

s) e

de

dar

(no

caso

dos

pro

duto

s),

com

dis

cipl

ina

espe

cífi

ca e

m r

elaç

ão à

res

pons

abili

dade

pelo

s ví

cios

de

serv

iços

e p

rodu

tos,

pen

aliz

ando

as

cláu

sula

s ab

usiv

as. É

, ass

im,

46

RE

AL

E, M

igue

l. O

pro

jeto

do

novo

cód

igo

civi

l: s

itua

ção

após

a a

prov

ação

pel

o S

enad

o Fe

dera

l, 2

ed. S

ão

Pau

lo: S

arai

va, 1

999,

p. 5

.

54

um m

icro

ssis

tem

a qu

e ta

mbé

m s

e de

sdob

rou

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

ao

mes

mo

tem

po d

o D

irei

to d

e E

mpr

esa.

C

onsi

dera

-se

assi

m,

que

o D

irei

to

das

Obr

igaç

ões

está

em

di

álog

o

perm

anen

te c

om o

s D

irei

tos

de E

mpr

esa,

do

Tra

balh

o e

do C

onsu

mid

or,

pois

estã

o em

um

a re

laçã

o de

dir

eito

com

um p

ara

dire

itos

espe

ciai

s, e

são

apl

icáv

eis

aos

dire

itos

espe

ciai

s os

pri

ncíp

ios

gera

is e

as

norm

as r

egul

ador

as d

o di

reito

com

um. N

a re

flex

ão d

o pr

incí

pio

de q

ue a

reg

ra e

spec

ial

derr

oga

a ge

ral,

tem

-se

que

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s é

subs

idia

riam

ente

apl

icáv

el a

ess

es r

amos

do

Dir

eito

(E

mpr

esar

ial,

Tra

balh

ista

e C

onsu

mer

ista

), p

ois

sem

pre

em q

ue n

eles

exis

tire

m l

acun

as q

ue n

ão p

ossa

m s

er c

olm

atad

as c

om a

apl

icaç

ão a

naló

gica

,

aplic

am-s

e os

pri

ncíp

ios

e as

nor

mas

reg

ulad

oras

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

É o

que

se c

ham

a de

diá

logo

das

fon

tes

pelo

s ju

rist

as ou

int

erco

mpl

emen

tari

dade

pelo

s pe

dago

gos.

Nes

se s

enti

do p

rovi

denc

ia o

art

. 7º

do

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

, bas

ta c

onfe

rir.

M

ais

aind

a. O

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

exer

ce p

onde

ráve

l in

fluê

ncia

em

dois

ram

os d

o D

irei

to P

úbli

co: o

Dir

eito

Adm

inis

trat

ivo

e o

Dir

eito

Tri

butá

rio.

A

pesa

r de

sua

s pe

culi

arid

ades

, o

cont

rato

adm

inis

trat

ivo

é re

grad

o pe

la

Teo

ria

Ger

al d

as O

brig

açõe

s. A

Adm

inis

traç

ão c

ontr

atan

te é

um

a pa

rte

ordi

nári

a,

desp

ida

do

fait

du

pr

ince

, da

su

a so

bera

nia,

de

so

rte

ligad

a co

m

o se

u

coco

ntra

tant

e pr

ivad

o pe

la c

onve

nção

res

ulta

nte

do a

cord

o de

von

tade

s. O

dir

eito

aplic

ável

na

cele

braç

ão e

exe

cuçã

o do

con

trat

o ad

min

istr

ativ

o nã

o di

fere

qua

nto

ao f

undo

daq

uele

apl

icad

o no

con

trat

o ci

vil.

É a

liç

ão d

e O

swal

do A

ranh

a

Ban

deir

a de

Mel

lo a

o as

segu

rar

que

os c

ontr

atos

ent

re a

Adm

inis

traç

ão P

úbli

ca e

os p

arti

cula

res

são

equi

pará

veis

aos

con

trat

os d

o D

irei

to P

riva

do, r

essa

lvad

as a

s

suas

pec

ulia

rida

des.

47

47

ME

LL

O, O

swal

do A

ranh

a B

ande

ira

de. P

rinc

ípio

s ge

rais

de

dire

ito

adm

inis

trat

ivo,

vol

ume

1. R

io d

e Ja

neir

o:

For

ense

, 196

9, p

. 605

.

Page 28: Aulas de Direito das Obrigações

55

O

la

nçam

ento

de

um

tr

ibut

o,

por

sua

vez,

co

rres

pond

e à

verd

adei

ra

obri

gaçã

o pr

evis

ta

dire

tam

ente

em

le

i, qu

e te

m

por

obje

to

uma

pres

taçã

o

pecu

niár

ia e

xigí

vel

pela

Faz

enda

Pub

lica

com

o cr

edor

a e

o co

ntri

buin

te c

omo

deve

dor,

res

peita

da a

sua

cap

acid

ade

cont

ribu

tiva.

D

emai

s di

sso,

lei

s es

peci

ais

cont

êm m

atér

ia r

espe

itant

e ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Res

salt

a-se

a L

ei n

º 9.

610,

de

19 d

e fe

vere

iro

de 1

998,

que

trat

a do

s

dire

itos

aut

orai

s, e

spec

ialm

ente

na

part

e do

s di

reito

s pa

trim

onia

is d

o au

tor,

asse

gura

ndo-

lhe

utili

zar,

fru

ir e

dis

por

de o

bra

lite

rári

a, a

rtís

tica

ou c

ient

ífic

a.

Out

ra q

ue p

ode

ser

cita

da é

a L

ei d

o In

quili

nato

(L

ei n

º 8.

245/

91).

E t

ambé

m a

Lei

das

Soc

ieda

des

Anô

nim

as (

Lei

6.40

4/76

). O

Est

atut

o do

Ido

so,

Lei

10.7

41/2

003,

que

deu

rou

page

m n

ova

ao c

ontr

ato.

O

C

ódig

o de

P

roce

sso

Civ

il

cont

ém

inúm

eras

di

spos

içõe

s so

bre

obri

gaçõ

es,

de m

anei

ra p

arti

cula

r ao

dis

cipl

inar

as

exec

uçõe

s da

s ob

riga

ções

de

dar,

faz

er e

não

faz

er, a

rts.

461

, 461

-A, 6

21 a

645

.

Enf

im, p

ode-

se i

mag

inar

um

a pe

ssoa

que

não

nec

essi

te c

onhe

cer

o D

irei

to

das

Suce

ssõe

s, b

asta

que

não

rec

eba

hera

nça

ou l

egad

o. P

ode-

se i

mag

inar

um

a

pess

oa q

ue d

esco

nheç

a gr

ande

par

te d

o D

irei

to d

e Fa

míl

ia, p

or e

xem

plo,

aqu

ele

que

não

se c

asa

com

rel

ação

aos

reg

imes

de

bens

, ain

da a

quel

e qu

e nã

o se

obr

iga

a pr

esta

r al

imen

tos.

Ou

mes

mo

imag

inar

um

a pe

ssoa

que

nun

ca t

erá

alca

nce

do

Dir

eito

das

Coi

sas,

cas

o nã

o se

ja p

ropr

ietá

rio

ou p

ossu

idor

. Con

tudo

, im

poss

ível

imag

inar

al

guém

qu

e du

rant

e su

a vi

da

não

cele

bre

rela

ções

ju

rídi

cas

obri

gaci

onai

s, t

ão v

asto

o s

eu â

mbi

to d

e ap

licaç

ão s

e a

sing

ela

com

pra

de

pequ

eno

bem

é u

ma

obri

gaçã

o.

Daí

em

Fra

nça,

Jac

ques

Flo

ur e

Jea

n-L

uc A

uber

t ass

egur

arem

que

se

pode

ser

com

erci

alis

ta o

u ad

min

istr

ativ

ista

sem

con

hece

r to

do D

irei

to C

ivil,

mas

nenh

um ju

rist

a, q

ualq

uer

que

seja

a s

ua e

spec

ialid

ade,

pod

e ig

nora

r o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Na

Itál

ia,

Pola

co a

dver

te q

ue o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

é “q

ual

56

plan

ta v

iços

a qu

e es

tend

e as

sua

s ra

ízes

a t

odas

as

outr

as z

onas

do

Dir

eito

Civ

il.”48

Mar

ia H

elen

a D

iniz

, ci

tand

o Jo

sser

and,

obs

erva

que

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões

cons

titu

i a b

ase

não

só d

o D

irei

to C

ivil,

mas

de

todo

Dir

eito

, por

ser

seu

arca

bouç

o e

subs

trat

o, v

isto

que

tod

os o

s ra

mos

jur

ídic

os f

unci

onam

à b

ase

de r

elaç

ões

obri

gaci

onai

s.49

S

ão p

alav

ras

de e

stim

ulo

ao e

stud

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

4.2

DIS

TIN

ÇÃ

O E

NT

RE

O D

IRE

ITO

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES,

DIR

EIT

OS

DA

PE

RSO

NA

LID

AD

E E

DIR

EIT

O D

AS

CO

ISA

S

Opo

rtun

o, n

esse

ent

reta

nto,

rel

atar

as

prin

cipa

is d

isti

nçõe

s en

tre

os d

irei

tos

obri

gaci

onai

s, o

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

e os

dir

eito

s re

ais.

O

Dir

eito

mod

erno

ela

boro

u o

conc

eito

de

obri

gaçã

o at

ende

ndo

à na

ture

za

jurí

dica

do

di

reit

o e

ao

cont

eúdo

da

pr

esta

ção.

D

esse

m

odo

a se

guin

te

clas

sifi

caçã

o:

1 D

irei

tos

pess

oais

: 1.

1 di

reito

s da

per

sona

lidad

e;

1.2

dire

itos

obri

gaci

onai

s.

2 D

irei

tos

patr

imon

iais

: 2.

1 di

reito

s re

ais;

2.

2 di

reito

obr

igac

iona

is.

3 D

irei

tos

abso

luto

s:

3.1

dire

itos

da p

erso

nalid

ade;

3.

2 di

reito

s re

ais.

4

Dir

eito

s re

lati

vos:

4.

1 di

reito

s ob

riga

cion

ais.

48

PO

LA

CO

, V. L

e ob

blii

gazi

one

nel d

irit

to c

ivil

e it

alia

no. R

oman

a, 1

915,

p. 1

9: “

qual

e pi

anta

rig

ogli

osa

che

este

nde

le s

ue r

adic

e in

ogn

i alt

ra z

ona

del d

irit

to c

ivil

e”.

49 D

INIZ

, M

aria

Hel

ena.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil

bras

ilei

ro,

volu

me

2: t

eori

a ge

ral

das

obri

gaçõ

es,

24 e

d. S

ão

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 5

.

Page 29: Aulas de Direito das Obrigações

57

4.2.

1 D

irei

tos

das

Obr

igaç

ões

e di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

A

exp

ress

ão d

irei

tos

pess

oais

des

igna

tan

to o

s di

reito

s da

per

sona

lida

de

com

o o

dire

itos

obri

gaci

onai

s. C

ontu

do,

os d

irei

tos

da p

erso

nalid

ade

se i

nser

em

no g

rupo

dos

dir

eito

s su

bjet

ivos

rel

acio

nado

s à

tute

la d

os a

trib

utos

fun

dam

enta

is

do s

er h

uman

o, e

nqua

nto

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s di

spõe

sob

re a

s re

laçõ

es

jurí

dica

s pa

trim

onia

is e

ntre

doi

s po

los

cont

rapo

stos

, dev

edor

e c

redo

r, t

endo

por

fim

um

a pr

esta

ção

que

o pr

imei

ro d

eve

cum

prir

em

pro

veito

do

segu

ndo,

ten

do

este

o d

irei

to d

e ex

igi-

la.

O

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

visa

m r

esgu

arda

r a

pess

oa d

e le

sões

que

poss

am

mac

ular

os

se

us

elem

ento

s in

tern

os

e es

senc

iais

po

r co

nstit

uíre

m

cate

gori

a pr

ópri

a de

dir

eito

s se

gund

o a

qual

a p

esso

a é

cons

ider

a em

si

mes

ma

(iur

a in

re

ipsa

). A

pes

soa

não

é co

nsid

erad

a em

mei

o às

rel

açõe

s co

m a

fam

ília

(est

ado

fam

ilia

r),

ou c

om a

soc

ieda

de (

esta

do c

ivil)

, ou

com

a p

rofi

ssão

(es

tado

prof

issi

onal

), o

u co

m o

Est

ado

(est

ado

polít

ico)

, m

as p

elo

fato

de

ser

pess

oa

hum

ana.

Q

ualq

uer

pess

oa

mer

ece

o m

esm

o re

spei

to,

desd

e a

pess

oa

mai

s

virt

uosa

até

a m

ais

vena

l, po

is in

depe

nde

do e

stad

o; b

asta

ser

pes

soa

para

tê-l

os e

mer

ecer

pro

teçã

o.

C

omo

Lim

ongi

Fra

nça,

fil

iand

o-se

ent

re o

s na

tura

list

as,

Car

los

Alb

erto

Bitt

ar e

nten

de q

ue s

ão d

irei

tos

com

uns

da e

xist

ênci

a, c

aben

do a

o E

stad

o ap

enas

reco

nhec

ê-lo

s e

sanc

ioná

-los

, or

a na

ór

bita

co

nstit

ucio

nal

ora

na

orbi

ta

da

legi

slaç

ão o

rdin

ária

, ex

istin

do a

ntes

e i

ndep

ende

ntem

ente

do

dire

ito

posi

tivo,

com

o in

eren

tes

à pr

ópri

a pe

ssoa

hu

man

a,

cons

ider

ada

em

si

e na

s su

as

man

ifes

taçõ

es;50

par

a qu

e po

ssa

defe

ndê-

los:

50

BIT

TA

R,

Car

los

Alb

erto

. O

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade,

6 e

d.,

atua

liza

da p

or E

duar

do C

arlo

s B

ianc

a B

itta

r.

Rio

de

Jane

iro:

For

ense

Uni

vers

itár

ia, 2

003,

p. 7

a 1

0.

58

a)

na s

ua i

nteg

rida

de f

ísic

a: a

vid

a, o

pró

prio

cor

po v

ivo

ou m

orto

, ou

part

e de

le, o

cor

po a

lhei

o vi

vo o

u m

orto

, os

alim

ento

s ne

cess

ário

s a

sua

subs

istê

ncia

.

b) n

a su

a in

tegr

idad

e in

tele

ctua

l: a

lib

erda

de d

e pe

nsam

ento

, a

auto

ria

cien

tífic

a, a

rtís

tica

e lit

erár

ia;

c)

na s

ua i

nteg

rida

de m

oral

: a

honr

a, a

boa

fam

a, a

im

agem

, o

nom

e, a

vida

pri

vada

, a in

tim

idad

e.

Em

sín

tese

, re

pres

enta

m a

con

cret

izaç

ão d

o pr

incí

pio

cons

tituc

iona

l da

dign

idad

e hu

man

a no

Dir

eito

Pri

vado

, m

as a

o m

esm

o te

mpo

pre

cede

m a

o

próp

rio

Dir

eito

. M

esm

o se

a l

ei n

ão o

s ou

torg

asse

, el

es e

xist

iria

m p

or s

i só

, de

sort

e pe

rten

cem

ao

hom

em p

elo

sim

ples

fat

o de

ser

pes

soa

hum

ana.

E

stes

dir

eito

s tê

m a

s se

guin

tes

cara

cter

ístic

as:

a)

São

inat

os,

pois

não

dep

ende

m d

a le

i pa

ra o

utor

gá-l

os,

o qu

e pe

rmit

e

iden

tifi

cá-l

os

com

o pr

eced

ente

s at

é ao

Est

ado,

aca

utel

ando

o s

er h

uman

o

desd

e a

sua

conc

epçã

o.

b) s

ão o

poní

veis

con

tra

todo

s, u

ma

vez

que

à pe

ssoa

é p

erm

itid

o de

fend

er

os s

eus

atri

buto

s es

senc

iais

per

ante

toda

com

unid

ade;

c)

são

vita

líci

os,

daí

a su

a im

pres

crit

ibil

idad

e; a

com

panh

am a

pes

soa

em

toda

a s

ua t

raje

tóri

a e

não

se t

rans

mit

em p

or s

uces

são,

sal

vo r

aras

exce

ções

;

d) s

ão d

e re

lativ

a di

spon

ibili

dade

, de

sort

e so

men

te e

m c

asos

exc

epci

onai

s

a le

i fa

culta

a s

ua c

essã

o, c

omo

no c

aso

de t

rans

plan

te t

erap

êuti

co d

e

órgã

os o

u a

lice

nça

para

o u

so d

a im

agem

e d

o no

me.

P

or s

eu t

urno

os

dire

itos

obri

gaci

onai

s po

dem

ser

ent

endi

dos

com

o se

segu

e: a)

o re

lativ

os,

opon

ívei

s àq

uele

que

fig

ura

no p

olo

cont

rapo

sto

da

rela

ção

jurí

dica

;

Page 30: Aulas de Direito das Obrigações

59

b) s

ão t

rans

mis

síve

is,

porq

ue p

assí

veis

de

aqui

siçã

o in

ter

vivo

s e

mor

tis

caus

a;

c)

são

patr

imon

ializ

ados

, pos

to q

ue s

ujei

tos

à ex

ecuç

ão s

e in

adim

plid

os;

d) s

ão t

rans

itóri

os o

u te

mpo

rári

os,

reso

lvem

pel

o ad

impl

emen

to,

ou p

ela

próp

ria

pres

criç

ão;

e)

São

ilim

itad

os,

perm

itin

do

a cr

iaçã

o de

no

vas

figu

ras

pela

li

vre

conv

ençã

o da

s pa

rtes

.

Nad

a im

pede

, no

ent

anto

, qu

e a

expr

essã

o pa

trim

onia

l de

um

dir

eito

da

pers

onal

idad

e se

ja o

bjet

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

ass

im s

e um

a at

riz

cede

o

seu

dire

ito d

e im

agem

à p

ublic

idad

e de

det

erm

inad

o pr

odut

o, o

u m

esm

o o

seu

nom

e pa

ra d

esig

nar

um e

mpr

eend

imen

to.

4.

2.2

Dir

eito

s da

s O

brig

açõe

s e

Dir

eito

s da

s C

oisa

s

O

s di

reit

os p

atri

mon

iais

div

idem

-se

em D

irei

tos

das

Obr

igaç

ões

e D

irei

to

das

Coi

sas,

tam

bém

den

omin

ados

Dir

eito

s R

eais

. E

stas

cat

egor

ias

rem

onta

m a

antig

a or

igem

, po

is

Gai

o,

sécu

lo

II

d.C

., cl

assi

fico

u as

ões

em

reai

s e

obri

gaci

onai

s, d

isti

nção

de

que,

mui

to t

empo

dep

ois,

se

serv

iu S

avig

ny p

ara

subs

titui

r a

pala

vra

açõe

s po

r di

reit

os.

Est

a cl

assi

fica

ção

estr

utur

al é

a b

ase

da

arqu

itetu

ra d

o C

ódig

o C

ivil,

dad

o qu

e de

dica

o L

ivro

I d

a P

arte

Esp

ecia

l ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

O L

ivro

II

ao D

irei

to E

mpr

esar

ial

e o

Liv

ro I

II,

ao

Dir

eito

das

Coi

sas.

Tod

avia

, vi

slum

bra-

se a

cor

rent

e do

s ne

gativ

ista

s, a

quel

es

que

nega

m u

ma

dife

renç

a fu

ndam

enta

l ent

re e

sses

doi

s ra

mos

.

O

pri

ncip

al e

lem

ento

dif

eren

cial

est

á na

car

acte

riza

ção

do s

ujei

to p

assi

vo:

o di

reito

obr

igac

iona

l im

plic

a na

rel

ação

ent

re o

suj

eito

ati

vo e

o s

ujei

to p

assi

vo,

cria

ndo

a fa

culd

ade

de o

pri

mei

ro e

xigi

r do

seg

undo

um

a pr

esta

ção

posi

tiva

ou

nega

tiva,

por

tant

o o

cred

or s

ó po

de e

xigi

r a

pres

taçã

o do

dev

edor

. A

o re

vés,

os

Dir

eito

s R

eais

, co

m u

m s

ujei

to a

tivo

dete

rmin

ado

(pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or),

60

têm

po

r su

jeito

pa

ssiv

o a

gene

ralid

ade

anôn

ima

dos

indi

vídu

os,

toda

cole

tivid

ade.

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

aliz

a-se

na

exig

ibili

dade

de

um f

ato,

a

que

o de

vedo

r é

obri

gado

; o

Dir

eito

das

Coi

sas

efet

iva-

se m

edia

nte

a im

posi

ção

de u

ma

abst

ençã

o di

rigi

da a

tod

os q

ue a

ela

dev

em s

e su

bord

inar

. O

obj

eto

da

rela

ção

obri

gaci

onal

é, p

ois,

um

fat

o; o

da

rela

ção

real

um

a co

isa.

A

ssim

se

dedu

z a

dess

emel

hanç

a, o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

é re

lativ

o, o

cred

or s

ó po

de b

usca

r su

a pr

esta

ção

em f

ace

do d

eved

or. J

á o

Dir

eito

das

Coi

sas

é ab

solu

to,

por

opon

ível

con

tra

todo

s, p

ois

há n

ele

sem

pre

uma

obri

gaçã

o

nega

tiva

de n

ão o

fend

er o

dir

eito

de

um s

ujei

to s

obre

um

bem

. Daí

a a

sser

tiva

: o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

tem

por

obj

eto

uma

pres

taçã

o re

aliz

ada

pelo

dev

edor

em

favo

r do

cre

dor;

o D

irei

to d

as C

oisa

s at

inge

o b

em d

a vi

da d

iret

amen

te.

P

or c

onse

guin

te a

rel

ação

jurí

dica

é u

m v

íncu

lo e

ntre

pes

soas

, enq

uant

o no

Dir

eito

das

Coi

sas

subs

iste

um

vín

culo

jur

ídic

o so

cial

, de

natu

reza

dif

usa,

com

o

luci

dam

ente

adv

erte

Rob

erto

Sen

ise

Lis

boa.

51 O

bser

va-s

e qu

e o

cred

or d

e um

a

obri

gaçã

o so

men

te g

oza

de s

eu d

irei

to c

om a

int

erve

nção

do

deve

dor,

é d

izer

,

não

usuf

rui

dire

tam

ente

de

seu

dire

ito;

ao c

ontr

ário

nos

dir

eito

s re

ais,

em

que

se

dá o

exe

rcíc

io d

iret

o pe

lo t

itula

r do

dir

eito

sob

re o

bem

da

vida

, de

le p

oden

do

usar

e g

ozar

, dis

por

e re

ivin

dica

r, s

em i

nter

med

iári

o, d

iret

amen

te, o

bser

vado

s os

parâ

met

ros

esta

bele

cido

s pe

lo o

rden

amen

to ju

rídi

co.

O

utra

dis

tinçã

o é

que

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s é

ilim

itad

o, p

orqu

anto

ving

a a

auto

nom

ia p

riva

da,

perm

itin

do a

cri

ação

de

nova

s fi

gura

s de

leg

e

fere

nda,

que

são

os

deno

min

ados

con

trat

os i

nom

inad

os o

u at

ípic

os,

aque

les

não

prev

isto

s em

lei

. É, p

ois,

num

erus

ape

rtus

. Ao

cont

rári

o dá

-se

com

o D

irei

to d

as

Coi

sas

que,

não

pod

endo

ser

obj

eto

de l

ivre

con

venç

ão,

está

lim

itad

o no

s ca

sos

de l

ege

lata

, da

do q

ue s

ão t

ipos

, ex

aust

ivam

ente

, pr

evis

tos

em l

ei.

É,

dess

a

51

SE

NIS

E L

ISB

OA

, Rob

erto

. Man

ual d

e di

reit

o ci

vil,

vol.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 4

ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 2

5.

Page 31: Aulas de Direito das Obrigações

61

form

a, n

umer

us c

laus

us.

Est

ão p

revi

a e

exau

stiv

amen

te e

stab

elec

idos

no

art.

1.22

5 do

Cód

igo

Civ

il.

P

ossí

vel

aind

a di

stin

gui-

los

quan

to à

dur

ação

, os

dir

eito

s ob

riga

cion

ais

têm

ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o,

pois

te

ndem

a

desa

pare

cer

com

o

cum

prim

ento

da

obri

gaçã

o,

ao

pass

o qu

e os

di

reito

s re

ais

são

perp

étuo

s,

perm

anen

tes,

su

a

tend

ênci

a é

dura

r in

defi

nida

men

te.

D

eduz

, poi

s, q

ue o

Dir

eito

das

Coi

sas

tem

as

segu

inte

s ca

ract

erís

tica

s:

a) s

ão d

irei

tos

abso

luto

s, o

poní

veis

erg

a on

mis

;

b) s

ão t

rans

mis

síve

is,

porq

ue p

assí

veis

de

tran

smis

são

inte

r vi

vos

e

mor

tis

caus

a;

c)

são

patr

imon

iali

zado

s,

post

o qu

e su

jeito

s à

exec

ução

se

inad

impl

idos

;

d) s

ão v

italíc

ios,

aco

mpa

nham

o s

eu p

ropr

ietá

rio

enqu

anto

del

es n

ão

disp

or;

e)

são

lim

itad

os, p

revi

amen

te p

revi

stos

em

lei.

Pod

e, c

omo

no c

aso

dos

dire

itos

da p

erso

nalid

ade,

um

dir

eito

rea

l ge

rar

outr

o ob

riga

cion

al, c

omo

por

exem

plo,

no

cond

omín

io e

m q

ue c

ada

cond

ômin

o é

obri

gado

a u

ma

pres

taçã

o pa

ra c

onse

rvaç

ão d

as á

reas

de

uso

com

um,

ou o

prop

riet

ário

de

imóv

el o

brig

ado

ao p

agam

ento

do

impo

sto

corr

espo

nden

te, o

que

corr

espo

nde

a um

a es

péci

e de

obr

igaç

ão h

ibri

da, q

ue p

assa

a s

er c

onsi

dera

da.

4.3

OB

RIG

ÃO

PR

OP

TE

R R

EM

Ape

sar

das

dess

emel

hanç

as p

ersi

ste

uma

zona

de

cris

e ou

fro

ntei

riça

ent

re

esse

s do

is r

amos

do

dire

ito p

atri

mon

ial,

é o

que

se d

enom

ina

de o

brig

ação

prop

ter

rem

, um

a ca

tego

ria

inte

rmed

iári

a en

tre

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

dos

Dir

eito

s da

s C

oisa

s,

por

cons

egui

nte,

um

a fi

gura

brid

a,

cons

titu

indo

na

apar

ênci

a um

mis

to d

e ob

riga

ção

e di

reito

s re

ais.

62

A e

xpre

ssão

lat

ina

prop

ter

rem

sig

nifi

ca e

m r

azão

da

cois

a, s

endo

ass

im a

obri

gaçã

o pr

opte

r re

m m

anif

esta

-se

quan

do a

lgué

m é

pos

suid

or o

u pr

opri

etár

io

de u

m b

em,

cons

tran

gend

o o

seu

titu

lar

a at

ende

r ce

rta

pres

taçã

o ob

riga

cion

al.

Em

out

ras

pala

vras

, o d

eved

or p

or e

star

inve

stid

o de

um

dir

eito

rea

l (pr

opri

etár

io

ou p

ossu

idor

) é

cons

tran

gido

a a

tend

er u

ma

pres

taçã

o de

dir

eito

obr

igac

iona

l

(eco

nôm

ica

pess

oal)

.

São

inú

mer

os o

s ex

empl

os,

a co

meç

ar p

ela

Súm

ula

326,

do

Supr

emo

Tri

buna

l F

eder

al:

“é l

egíti

ma

a in

cidê

ncia

do

impo

sto

de t

rans

mis

são

inte

r vi

vos

sobr

e a

tran

sfer

ênci

a do

dom

ínio

útil

.” O

utro

exe

mpl

o, o

art

. 17

, do

Dec

reto

-lei

núm

ero

25/1

937,

que

im

põe

ao p

ropr

ietá

rio

de b

ens

inco

rpor

ados

ao

patr

imôn

io

hist

óric

o e

artís

tico

naci

onal

de

não

dest

ruí-

los

ou d

e nã

o re

aliz

ar o

bras

que

lhe

s

mod

ifiq

uem

a a

parê

ncia

. O

s ar

ts.

1.27

7 a

1.31

3 do

Cód

igo

Civ

il qu

e di

spõe

m

sobr

e os

dir

eito

s de

viz

inha

nça,

com

o po

r ex

empl

o, o

pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or

de u

m p

rédi

o a

não

usá-

lo d

e m

odo

anor

mal

ou

peri

goso

à s

egur

ança

, ao

soss

ego

e à

saúd

e do

s vi

zinh

os.

Um

exe

mpl

o em

blem

átic

o é

a pr

eser

vaçã

o do

mei

o am

bien

te. O

art

. 1.2

28

capu

t do

Cód

igo

Civ

il o

utor

ga a

o pr

opri

etár

io d

e te

rren

o ur

bano

ou

rura

l am

pla

facu

ldad

e de

usa

r, g

ozar

e d

ispo

r da

coi

sa e

o d

irei

to d

e re

avê-

la d

e qu

em

inju

stam

ente

a p

ossu

a ou

det

enha

. Por

sua

vez

, o

§ 1º

im

põe

limit

es a

o ap

ront

ar

que

a pr

opri

edad

e de

ve s

er e

xerc

ida

em c

onso

nânc

ia c

om a

s su

as a

tivid

ades

econ

ômic

as

e so

ciai

s,

pres

erva

ndo

a fl

ora

e a

faun

a,

de

acor

do

com

o

esta

bele

cido

em

lei

esp

ecia

l. O

ra,

a pr

eser

vaçã

o da

flo

ra e

da

faun

a é

obri

gaçã

o

prop

ter

rem

im

post

a em

raz

ão d

a pr

opri

edad

e. A

liás,

est

e pr

ecei

to d

o C

ódig

o

Civ

il é

cons

ectá

rio

lógi

co

das

disp

osiç

ões

cons

tituc

iona

is

acer

ca

do

mei

o

ambi

ente

, esp

ecia

lmen

te o

inc.

VII

, do

§ 1º

, do

art.

225.

Page 32: Aulas de Direito das Obrigações

63

Em

tod

os e

stes

exe

mpl

os,

apar

ece

a ob

riga

ção

prop

ter

rem

. E

qua

ndo

algu

ém d

eixa

de

ser

prop

riet

ário

da

cois

a (d

irei

to r

eal)

não

tem

mai

s a

obri

gaçã

o

de a

dim

plir

a p

rest

ação

(di

reito

obr

igac

iona

l).

Ess

a m

odal

idad

e de

obr

igaç

ão é

assi

m tr

anse

unte

, pas

sa p

ara

o no

vo p

ropr

ietá

rio.

4.4

OB

RIG

ÃO

CO

M E

FIC

ÁC

IA R

EA

L

A

obr

igaç

ão c

om e

ficá

cia

real

tam

bém

se

situ

a no

ter

reno

fro

ntei

riço

dos

dire

itos

obr

igac

iona

is e

rea

is e

não

se

conf

unde

com

a o

brig

ação

pro

pter

rem

. É

quan

do t

erce

iro

a ad

quir

e em

raz

ão d

o re

gist

ro p

úbli

co,

gera

ndo

efic

ácia

erg

a

omin

es, c

ontr

a to

dos.

N

a L

ei n

º 8.

245,

de

18 d

e ou

tubr

o de

199

1 (L

ei d

o In

quili

nato

) no

s se

us

artig

os 2

7 a

34 o

utor

ga o

dir

eito

de

pref

erên

cia

ao l

ocat

ário

na

aqui

siçã

o do

imóv

el l

ocad

o, n

o ca

so e

m q

ue o

loc

ador

pre

tend

a al

iena

r no

cur

so d

o co

ntra

to

de l

ocaç

ão.

Se o

loc

ador

ali

ená-

lo a

ter

ceir

o, s

em a

ntes

not

ific

ar o

loc

ador

par

a

exer

cer

sua

pref

erên

cia,

pod

erá

este

, dep

osit

ando

judi

cial

men

te o

pre

ço ta

nto

por

tant

o, d

entr

o do

pra

zo d

ecad

enci

al d

e no

vent

a di

as,

adqu

irir

o b

em,

nos

term

os

expr

esso

s do

art

. 33

da l

ei c

itad

a. D

ispo

siçã

o a

resp

eito

tam

bém

est

á no

art

. 576

do C

ódig

o C

ivil,

sen

do r

equi

sito

a a

verb

ação

do

cont

rato

de

loca

ção,

em

Títu

los

de D

ocum

ento

s do

dom

icíl

io d

o lo

cado

r.

D

a m

esm

a fo

rma

os a

rts.

1.4

17 e

141

8 do

Cód

igo

Civ

il d

ão p

refe

rênc

ia a

o

prom

iten

te c

ompr

ador

, m

edia

nte

prom

essa

de

com

pra

e ve

nda

em q

ue n

ão s

e

pact

uou

arre

pend

imen

to.

Se o

bem

for

alie

nado

a

terc

eiro

, de

sres

peita

da a

pref

erên

cia

do p

rom

iten

te c

ompr

ador

, es

tá e

ste

arm

ado

do d

irei

to d

e ex

igir

a

escr

itura

de

fini

tiva

de

com

pra

e ve

nda,

co

nfor

me

os

term

os

disp

osto

s no

inst

rum

ento

pre

lim

inar

, e

have

ndo

recu

sa,

requ

erer

ao

juiz

a a

djud

icaç

ão d

o

imóv

el.

64

RE

SUM

O

1

Impo

rtân

cia

da m

atér

ia:

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

perc

ute

em t

odos

os

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l do

Cód

igo

Civ

il, a

ssim

no

Dir

eito

de

Em

pres

a, D

irei

to

das

Coi

sas,

Dir

eito

de

Fam

ília

e D

irei

to d

as S

uces

sões

. T

ambé

m r

eper

cute

em

ou

tros

ram

os d

o D

irei

to,

de m

anei

ra e

spec

ial

no D

irei

to d

o C

onsu

mid

or.

O s

eu

estu

do é

ess

enci

al p

ara

o bo

m e

nten

dim

ento

des

sas

mat

éria

s. E

tal

inf

luên

cia

fico

u m

ais

acen

tuad

a co

m a

uni

fica

ção

parc

ial d

o D

irei

to P

riva

do.

2 D

isti

nçõe

s en

tre

os

dire

itos

obr

igac

iona

is,

dir

eito

s da

per

sona

lida

de e

rea

is

(VID

E E

SQU

EM

A P

ÁG

INA

SE

GU

INT

E):

D

irei

tos

da p

erso

nalid

ade:

a)

são

inat

os;

b) o

poní

veis

con

tra

todo

s; c

) vi

talí

cios

; d)

em

reg

ra in

disp

onív

eis.

D

irei

tos

das

Coi

sas:

a)

são

abso

luto

s, o

poní

veis

con

tra

gene

rali

dade

anô

nim

a do

s in

diví

duos

; b)

obj

eto

inci

de s

obre

um

a co

isa;

c)

são

tran

smis

síve

is d

) sã

o pa

trim

onia

lizad

os e

) vi

talí

cios

; f)

são

lim

itad

os (

num

eros

cla

usus

), s

omen

te

aque

les

prev

isto

s em

lei.

Dir

eito

s da

s O

brig

açõe

s: a

) sã

o re

lati

vos

opon

ívei

s ap

enas

con

tra

àque

le q

ue

figu

ra n

o co

ntra

post

o da

rel

ação

jur

ídic

a; b

) ob

jeto

é u

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l ec

onôm

ica;

c)

são

tran

smis

síve

is; d

) sã

o pa

trim

onia

liza

dos;

e)

são

tran

sitó

rios

; f)

são

ilim

itad

os (

num

erus

ape

rtus

) pe

la e

xist

ênci

a de

con

trat

os i

nom

inad

os o

u at

ípic

os.

3) O

brig

açõe

s pr

opte

r re

m:

figu

ra h

ibri

da, m

isto

de

Dir

eito

das

Coi

sas

e D

irei

to

das

Obr

igaç

ões.

Man

ifes

tam

-se

quan

do a

lgué

m é

pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or d

e um

bem

e, p

or is

so, c

onst

rang

ido

a at

ende

r um

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

. 4)

Obr

igaç

ões

com

efi

cáci

a re

al: t

ambé

m f

igur

a hi

brid

a, q

ue o

utor

ga p

refe

rênc

ia

a de

term

inad

a pe

ssoa

, so

bre

um b

em,

em r

azão

do

regi

stro

púb

lico

, o

que

as

dist

ingu

em d

as o

brig

açõe

s pr

opte

r re

m.

Page 33: Aulas de Direito das Obrigações

65

66

CA

PÍT

UL

O V

O

s P

rinc

ípio

s G

erai

s do

D

irei

to

das

Obr

igaç

ões:

5.

1 E

xato

ad

impl

emen

to;

5.2

Aut

onom

ia

priv

ada.

5.

3 Fu

nção

so

cial

; 5.

4 B

oa-f

é ob

jetiv

a.

5.

5 R

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial.

o pr

incí

pios

ger

ais

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s: o

exa

to a

dim

plem

ento

, a

auto

nom

ia p

riva

da,

a fu

nção

soc

ial,

a bo

a-fé

obj

etiv

a e

a re

spon

sabi

lida

de

patr

imon

ial.

5.1

PR

INC

ÍPIO

DO

EX

AT

O A

DIM

PL

EM

EN

TO

A

obr

igaç

ão d

eve

ser

cum

prid

a no

tem

po,

luga

r e

mod

o pr

evia

men

te

acor

dado

s (C

C a

rt. 3

94, ú

ltim

a pa

rte)

, ist

o é,

o d

eved

or d

eve

ofer

ecer

ao

cred

or a

pres

taçã

o ob

riga

cion

al t

al q

ual

conv

enci

onad

a; é

a m

ilen

ar p

arêm

ia p

acta

sun

t

serv

anda

(o

cont

rato

dev

e se

r cu

mpr

ido)

.

D

ispõ

e o

art.

313

do C

ódig

o C

ivil:

“O

cre

dor

não

é ob

riga

do a

rec

eber

pres

taçã

o di

vers

a da

que

lhe

é d

evid

a, a

inda

que

mai

s va

lios

a.”

De

sua

leit

ura

ison

ômic

a se

gue

que

a re

gra

tem

con

sequ

ênci

a bi

part

ida.

A u

ma,

con

sist

e na

gara

ntia

de

se a

tend

er a

jus

ta e

xpec

tativ

a do

cre

dor

em r

eceb

er o

seu

cré

dito

. A

duas

, é u

ma

cond

uta

de m

oder

ação

do

próp

rio

cred

or, q

ue n

ão p

oder

á ex

igir

alg

o

dife

rent

e do

con

trat

ado,

tam

pouc

o ex

acer

bar

o dé

bito

.

D

e ou

tro

lado

, o

deve

dor

com

prom

ete

part

e de

sua

lib

erda

de,

uma

vez

que

pass

a a

ter

o de

ver

jurí

dico

de

com

patib

iliza

r a

sua

cond

uta

ao a

dim

plem

ento

da p

rest

ação

a q

ue s

e ob

rigo

u. N

ão p

ode

ter

o m

esm

o co

mpo

rtam

ento

de

ante

s,

deve

pau

tar

dora

vant

e os

par

âmet

ros

exig

idos

à o

bten

ção

do a

dim

plem

ento

. Se

a

dívi

da é

em

din

heir

o e

o re

ndim

ento

do

deve

dor

perm

anec

e o

mes

mo,

dev

erá

abdi

car-

se d

e de

spes

as. É

o q

ue s

e ag

uard

a po

r pa

rte

de q

uem

pre

tend

e re

sgat

ar a

Page 34: Aulas de Direito das Obrigações

67

pala

vra

empe

nhad

a, o

hom

em h

ones

to.

Con

jetu

ra a

boa

-fé

obje

tiva,

a c

ondu

ta

acer

tada

com

o f

ato.

Po

r su

a ve

z, o

art

. 31

4 do

Cód

igo

Civ

il e

stab

elec

e, c

omo

regr

a ge

ral,

o

impe

dim

ento

de

o de

vedo

r ef

etua

r o

paga

men

to p

arce

lado

se

assi

m n

ão s

e

ajus

tou,

ist

o é,

se

o co

nven

cion

ado

foi

o pa

gam

ento

de

uma

só v

ez, d

essa

for

ma

deve

rá s

er f

eito

, não

cab

e a

pret

ensã

o de

pag

ar p

or p

arte

s, o

que

ser

á tr

atad

o m

ais

min

ucio

sam

ente

qua

ndo

da f

orm

a de

pag

amen

to,

pois

exi

ste

nuan

ças

prev

ista

s

na l

ei m

ater

ial

e pr

oces

sual

, ta

l qu

al o

art

. 74

5-A

do

Cód

igo

de P

roce

sso

Civ

il,

quan

do já

afo

rada

a e

xecu

ção.

A

tent

a-se

tam

bém

que

dev

edor

e c

redo

r po

dem

aco

rdar

em

pag

ar e

rece

ber

pres

taçã

o di

vers

a do

pac

tuad

o, s

e as

sim

for

de

conv

eniê

ncia

rec

ípro

ca, é

a ch

amad

a fi

gura

da

daçã

o em

pag

amen

to (

CC

art

. 35

6),

que

tam

bém

ser

á

abor

dada

opo

rtun

amen

te.

O q

ue a

lei

não

rec

epci

ona

é a

pret

ensã

o un

ilat

eral

de

mud

ança

da

form

a de

pag

amen

to,

pois

as

part

es s

ão t

rata

das

pari

tari

amen

te.

de te

r o

cons

enso

das

par

tes.

O

exa

to a

dim

plem

ento

con

duz

aind

a a

outr

a co

nclu

são:

o d

irei

to d

e o

deve

dor

se a

lfor

riar

da

obri

gaçã

o pe

lo p

agam

ento

. O

cre

dor

não

pode

dif

icul

tar

esse

di

reit

o do

dev

edor

. T

anto

que

o

art.

334

do

Cód

igo

Civ

il pr

evej

a o

paga

men

to e

m c

onsi

gnaç

ão. O

ext

into

Tri

buna

l de

Alç

ada

Civ

il do

Est

ado

de

São

Paul

o de

cidi

u:

Tra

nspa

rece

ndo,

pel

o co

mpo

rtam

ento

do

cred

or,

sua

inju

sta

recu

sa e

m r

eceb

er s

eu c

rédi

to, l

egiti

mad

o es

tá o

dev

edor

em

pr

omov

er a

sua

con

sign

ação

jud

icia

l, no

s te

rmos

do

art.

890

do C

ódig

o de

Pro

cess

o C

ivil

(ap.

746

.668

-00/

4, j.

3.0

9.20

02,

rel.

Juiz

Pa

ulo

Ayr

osa)

.

.

A

con

sign

ação

é o

dep

ósito

jud

icia

l ou

ban

cári

o da

pre

staç

ão,

ante

a

recu

sa in

just

a do

cre

dor

em r

eceb

ê-la

.

68

A

ssim

con

side

rand

o, o

pag

amen

to é

dir

eito

do

cred

or e

m r

eceb

er o

que

lhe

é de

vido

, o

seu

créd

ito.

A r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

com

o pr

oces

so

cam

inha

par

a es

te d

esat

e, s

ua f

inal

idad

e pr

imár

ia:

o cu

mpr

imen

to d

o dé

bito

com

o re

spec

tivo

rece

bim

ento

do

créd

ito c

onfo

rme

o ex

ato

mod

o co

nven

cion

ado

pela

s pa

rtes

. E

, ao

mes

mo

tem

po,

é di

reito

do

deve

dor,

par

a qu

e po

ssa

honr

ar o

com

prom

isso

ass

umid

o e

recu

pera

r pa

rte

da li

berd

ade

com

prom

etid

a.

5.2

PR

INC

ÍPIO

DA

AU

TO

NO

MIA

PR

IVA

DA

O

voc

ábul

o au

tono

mia

der

iva

do g

rego

, au

to s

igni

fica

pró

prio

, em

si

mes

mo,

en

quan

to

nom

os

desi

gna

regr

a;

auto

nom

ia

é,

assi

m,

o po

der

de

esta

bele

cer

norm

as p

rópr

ias.

É o

esc

ólio

de

Ros

a M

aria

de

And

rade

Ner

y ao

afir

mar

que

a a

uton

omia

pri

vada

é p

rinc

ípio

esp

ecíf

ico

de D

irei

to P

riva

do e

est

á

ligad

o “à

ide

ia d

e po

der

o su

jeito

de

Dir

eito

cri

ar n

orm

as j

uríd

icas

par

ticu

lare

s

que

rege

rão

seus

ato

s.”52

D

e ef

eito

, o

dire

ito

obje

tivo

, co

m s

uas

regr

as g

erai

s ab

stra

tas

que

se

aplic

am in

dist

inta

men

te a

toda

s as

pes

soas

, per

mit

e qu

e el

as e

stab

eleç

am e

ntre

si

a fo

rma

que

deve

m

agir

, em

pres

tand

o fo

rça

espe

cial

a

esse

ac

ordo

. Po

r

cons

egui

nte,

a

auto

nom

ia

priv

ada

reve

la

o va

lor

da

liber

dade

in

divi

dual

,

poss

ibili

tand

o qu

e os

coo

brig

ados

ext

erio

rize

m c

onfo

rme

a su

a vo

ntad

e o

teor

do

cont

rato

e c

omo

viab

iliza

r a

sua

exec

ução

. É u

m p

ostu

lado

dem

ocrá

tico,

por

isso

mes

mo

inar

redá

vel d

o ne

góci

o ju

rídi

co.

E

sse

prin

cípi

o, t

odav

ia,

foi

ener

gica

men

te m

odif

icad

o no

tre

pida

r do

tem

po, m

erec

endo

aju

ste

na s

ua c

once

pção

.

N

o E

stad

o L

iber

al e

ra v

edad

o ao

Pod

er P

úbli

co i

nter

feri

r na

s at

ivid

ades

jurí

dica

s do

s pa

rtic

ular

es.

A l

ivre

exp

ress

ão d

a vo

ntad

e hu

man

a, c

omo

cria

dora

52

NE

RY

, Ros

a M

aria

de

And

rade

. Noç

ões

prel

imin

ares

de

dire

ito

civi

l. Sã

o P

aulo

: RT

, 200

2, p

. 116

.

Page 35: Aulas de Direito das Obrigações

69

excl

usiv

a de

dir

eito

, nã

o po

dia

sofr

er i

nter

venç

ão a

utor

itári

a de

stin

ada

a li

mit

á-

la, a

sser

tiva

já e

xpen

dida

ao

diss

erta

r so

bre

o si

stem

a se

mia

bert

o.

A

o D

irei

to n

ão c

abia

com

peli

r ou

im

pedi

r al

guém

de

cont

rata

r, n

em c

om

quem

con

trat

ar,

nem

o q

ue c

ontr

atar

. Pr

edom

inav

a a

dout

rina

do

lais

sez

fair

e

lais

sez

pass

er,

a ló

gica

do

m

erca

do

regu

lava

as

re

laçõ

es

inte

rsub

jetiv

as.

Acr

edit

ava-

se q

ue a

mão

inv

isív

el d

o m

erca

do,

no c

ontr

ole

do p

reço

e d

a li

vre

conc

orrê

ncia

, er

a fo

nte

harm

onio

sa n

atur

al e

tod

a in

terv

ençã

o es

tata

l po

deri

a

redu

ndar

em

fal

seam

ento

do

cont

rato

, le

i en

tre

as p

arte

s.53

Era

o t

empo

do

indi

vidu

alis

mo

cate

góri

co:

o co

ntra

to é

jus

to,

tão

apre

goad

o pe

la E

scol

a do

s

Pand

ecta

s,54

na

Ale

man

ha d

o sé

culo

XIX

, pug

nand

o pe

la o

nipo

tênc

ia d

a vo

ntad

e

indi

vidu

al, p

or e

nten

dê-l

a co

mo

inex

pugn

ável

dog

ma.

K

ant

cheg

ou a

afi

rmar

que

se

algu

ém d

ecid

e de

alg

uma

cois

a a

resp

eito

de o

utro

, é

sem

pre

poss

ível

que

se

faça

alg

uma

inju

stiç

a, m

as t

oda

inju

stiç

a é

impo

ssív

el

quan

do

ele

deci

de

por

si

próp

rio.

55

Vig

orav

a a

plen

itude

da

inci

dênc

ia d

o br

ocar

do p

acta

sun

t se

rvan

da (

os c

ontr

atos

dev

em s

er c

umpr

idos

),

nada

jus

tifi

cand

o a

inci

dênc

ia d

e ou

tro

broc

ardo

reb

us s

ic s

tant

ibus

(de

sde

que

as c

oisa

s pe

rman

eçam

com

o es

tão)

.

O a

dven

to d

a re

volu

ção

indu

stri

al d

emon

stro

u qu

e es

se v

olun

tari

smo,

impo

sto

pelo

ind

ivid

ualis

mo

burg

uês,

que

Nor

bert

o B

obbi

o ch

ama-

o de

lib

eral

liber

tári

o, e

ra f

orm

a de

exp

lora

ção

do m

ais

fort

e em

det

rim

ento

do

mai

s fr

aco,

esva

zian

do a

igu

alda

de d

e to

dos

que

era

apen

as f

orm

al,

o qu

e re

dund

ava

na

conc

entr

ação

da

riqu

eza

em m

ãos

cada

vez

mai

s re

stri

tas.

53

LO

UR

EIR

O, L

uiz

Gui

lher

me.

Teo

ria

gera

l dos

con

trat

os n

o no

vo c

ódig

o ci

vil.

São

Pau

lo: M

étod

o, 2

002,

p. 2

. 54

A E

scol

a P

ande

ctis

ta é

a v

ersã

o al

emã

da E

scol

a da

Exe

gese

, que

ena

ltec

ia a

lei

e o

s có

digo

s. T

eve

à fr

ente

os

pand

ecti

stas

do

sécu

lo X

IX,

a ex

empl

o de

Win

disc

heid

, B

rinz

e G

lück

, pa

rtin

do d

as f

onte

s ro

man

as,

cult

ivou

a

hist

ória

do

Dir

eito

Rom

ano

e a

inte

rpre

taçã

o do

s te

xtos

da

com

pila

ção

just

inia

na,

com

o f

im d

e ap

licá

-los

com

o fo

nte

dire

ta d

o D

irei

to a

lem

ão. O

s pa

ndec

tista

s de

sem

boca

ram

em

um

sis

tem

a rí

gido

de

feti

chis

mo

pelo

s te

xtos

e

cons

truç

ão s

iste

mát

ica,

apr

egoa

ndo

o us

o do

mét

odo

dedu

tivo

, ex

igin

do a

apl

icaç

ão d

as l

eis

de a

cord

o co

m u

m

proc

esso

sil

ogís

tico

, cuj

o ar

gum

ento

con

sist

e em

três

pro

posi

ções

: pre

mis

sa m

aior

, pre

mis

sa m

enor

e c

oncl

usão

. 55

Apu

d R

IPE

RT

, Geo

rges

. A r

egra

mor

al n

as o

brig

açõe

s ci

vis.

Cam

pina

s: B

rook

sell

er, 2

000,

p. 5

4.

70

G

eorg

es R

iper

t co

ntri

buiu

sob

rem

anei

ra a

o ac

usar

que

a d

outr

ina

da

auto

nom

ia d

a vo

ntad

e er

a co

ncom

itan

tem

ente

o r

econ

heci

men

to e

o e

xage

ro d

o

pode

r ab

solu

to d

o co

ntra

to. E

ntre

out

ras

ques

tões

leva

ntou

as

segu

inte

s:

A v

onta

de s

ober

ana

faze

ndo

leis

! M

as q

uem

con

fere

ao

hom

em

esta

aut

orid

ade

que

é o

apan

ágio

da

sobe

rani

a?

Perm

ite-

lhe

a lib

erda

de li

gar-

se s

obre

um

obj

eto

ou p

ara

fim

im

oral

, e

o co

nsen

timen

to d

um c

úmpl

ice

ou d

uma

víti

ma

torn

a, p

orve

ntur

a, a

imor

alid

ade

mai

s pe

rdoá

vel?

Sup

ondo

a

conv

ençã

o ir

repr

eens

ível

pel

o se

u ob

jeto

e p

elo

seu

fim

, es

tão

as d

uas

part

es e

m p

é de

igu

alda

de e

não

ser

á a

sua

desi

gual

dade

jus

tam

ente

daq

uela

s qu

e a

lei

se d

eve

esfo

rçar

po

r co

rrig

ir,

send

o co

mo

é a

mãe

da

in

just

iça?

S

erá

perm

itid

o ex

plor

ar a

fra

quez

a fí

sica

e m

oral

do

próx

imo,

a

nece

ssid

ade

em

que

ele

está

de

co

nclu

ir,

a pe

rver

são

tem

porá

ria

da s

ua i

ntel

igên

cia

e da

sua

von

tade

? Po

de o

co

ntra

to,

inst

rum

ento

da

troc

a de

riq

ueza

s e

dos

serv

iços

, se

rvir

par

a a

expl

oraç

ão d

o ho

mem

pel

o ho

mem

, co

nsag

rar

o en

riqu

ecim

ento

inju

sto

dum

dos

con

trat

ante

s co

m p

reju

ízo

do

outr

o?

Não

é

nece

ssár

io,

pelo

co

ntrá

rio,

m

ante

r ao

m

esm

o te

mpo

a i

gual

dade

das

par

tes

cont

rata

ntes

e a

das

pr

esta

ções

pa

ra

satis

faze

r um

id

eal

de

just

iça

que

nós

ence

rram

os q

uase

sem

pre

num

a co

ncep

ção

de ig

uald

ade?

56

C

omba

tida

de t

odos

os

lado

s, a

aut

onom

ia d

a vo

ntad

e en

colh

eu-s

e pa

ra

que

nova

s id

eias

inc

orpo

rass

em o

seu

con

ceito

, po

is a

His

tóri

a do

Dir

eito

denu

ncio

u qu

e ne

m s

empr

e a

libe

rdad

e e

a ig

uald

ade

form

ais

gara

ntem

o

cont

rato

just

o ne

m a

liv

re e

con

scie

nte

man

ifes

taçã

o da

von

tade

das

par

tes

ou d

e

uma

das

part

es.

Ultr

apas

sado

tal

mit

o lib

eral

, no

atu

al c

onte

xto

de s

ocia

lidad

e e

etic

idad

e ju

rídi

ca m

ais

que

prot

eger

a v

onta

de o

u co

nsen

so d

as p

arte

s, v

olta

-se

a

aten

ção

para

o

mom

ento

da

ex

ecuç

ão

do

cont

rato

.

56

RIP

ER

T, G

eorg

es. A

reg

ra m

oral

nas

obr

igaç

ões

civi

s. C

ampi

nas:

Bro

okse

ller

, 200

0, p

. 54

e 55

.

Page 36: Aulas de Direito das Obrigações

71

C

onsi

dera

m-s

e, h

oje,

a p

rim

azia

do

soci

al s

obre

o i

ndiv

idua

l (s

ocia

lidad

e),

a co

nden

ação

do

ac

úmul

o de

ri

quez

as

priv

ilegi

ando

a

men

or

parc

ela

da

popu

laçã

o qu

e, m

uita

s ve

zes,

val

e-se

do

cont

rato

des

equi

libr

ado

(eti

cida

de).

Enf

im,

rest

ou c

laro

que

a i

gual

dade

for

mal

con

duz

a co

ntra

taçõ

es i

njus

tas,

poi

s

os n

egóc

ios

jurí

dico

s de

ixar

am d

e se

r de

pes

soa

a pe

ssoa

e p

assa

ram

a s

er d

e

pess

oas

a gr

ande

s co

rpor

açõe

s, c

resc

ente

men

te p

oder

osas

com

mai

or p

oder

de

impo

r a

sua

vont

ade,

de

smis

tifi

cand

o o

abso

lutis

mo

da

cons

ensu

alid

ade.

E

xem

plo

mar

cant

e é

o co

ntra

to d

e ad

esão

, em

que

a li

berd

ade

de c

ontr

atar

do a

dere

nte

está

ads

trita

no

rece

pcio

nar

as c

láus

ulas

pre

viam

ente

est

abel

ecid

as

pela

out

ra p

arte

. E

sta

espé

cie

de c

ontr

ato,

ass

egur

a Jo

sser

and,

é p

reva

lent

e no

s

cont

rato

s de

tran

spor

te, d

e se

guro

s, d

os g

rand

es m

agaz

ines

etc

., pa

ra c

oncl

uir:

“a

técn

ica

da

form

ação

do

co

ntra

to

se

enco

ntra

de

sse

mod

o gr

avem

ente

mod

ific

ada”

,57 a

o fa

zer

a co

mpa

raçã

o co

m o

con

trat

o pa

ritá

rio,

no

qual

as

part

es

disc

utem

as

cláu

sula

s e

cond

içõe

s em

de ig

uald

ade.

Con

trat

o de

ade

são.

Con

vêni

o m

édic

o-ho

spita

lar.

Lib

erda

de

ampl

a de

con

trat

ar.

Igua

ldad

e en

tre

as p

arte

s. I

noco

rrên

cia,

Se

rviç

o ne

cess

ário

à s

aúde

. R

elat

iva

liber

dade

. R

ecur

so n

ão

prov

ido.

O

pr

incí

pio

da a

uton

omia

da

vont

ade

part

e do

pr

essu

post

o de

que

os

cont

rata

ntes

se

enco

ntra

m e

m p

é de

ig

uald

ade,

e q

ue, p

orta

nto,

são

livr

es d

e ac

eita

r ou

rej

eita

r os

te

rmos

do

cont

rato

. Mas

iss

o ne

m s

empr

e é

verd

adei

ro, p

ois

a ig

uald

ade

que

rein

a no

con

trat

o é

pura

men

te t

eóri

ca,

e vi

a de

reg

ra,

enqu

anto

o c

ontr

atan

te m

ais

frac

o no

s m

ais

das

veze

s nã

o po

de

fugi

r à

nece

ssid

ade

de

cont

rata

r,

o co

ntra

tant

e m

ais

fort

e le

va

uma

sens

ível

va

ntag

em

no

negó

cio,

poi

s é

ele

que

dita

as

cond

içõe

s do

aju

ste

(TJS

P,

57

JO

SS

ER

AN

D,

Lou

is.

Der

echo

Civ

il,

tom

o II

do

vol.

I, r

ev.

e at

ual.

por

And

ré B

run,

tra

duçã

o de

San

tiag

o C

unch

illo

s y

Man

tero

la.

Bue

nos

Air

es:

Bos

ch y

Cia

. E

dito

res,

195

0, p

. 31

: “P

erte

nece

n a

esta

cat

egor

ía l

a in

men

sa m

ayor

ía d

e lo

s co

ntra

tos

de t

rans

port

e: n

o se

dis

cute

el

prec

io d

e un

a ex

pedi

ción

de

mer

canc

ías

o de

un

bill

ete

de f

erro

carr

il;

los

cont

rato

s de

seg

uro,

las

com

pras

efe

ctua

das

en g

rand

es a

lmac

enes

que

tie

nen

prec

ios

fijo

s, e

stab

leci

dos

ne v

arie

tur;

las

dif

eren

tes

empr

esas

, ad

min

istr

acio

nes

de f

erro

carr

iles

, co

mpa

ñías

de

segu

ros,

gr

ande

s al

mac

enes

est

án e

n co

ndic

ione

s de

ofe

rtas

per

man

ente

s e

irre

duct

ible

s al

púb

lico

, al

que

pres

enta

n cl

isés

de

fini

tivo

s: l

a té

cnic

a de

la f

orm

ació

n de

l con

trat

o se

enc

uent

ra d

e es

e m

odo

grav

emen

te m

odif

icad

a.”

72

Ac.

232

.777

-2-S

ão P

aulo

, re

l. D

es.

Gild

o do

s Sa

ntos

, j.

19.5

.199

4).

B

em p

or is

so, a

aut

onom

ia d

a vo

ntad

e co

nvol

a-se

em

aut

onom

ia p

riva

da.

A a

uton

omia

da

vont

ade

é en

tend

ida

por

part

icul

ariz

ar a

am

pla

liber

dade

de

cont

rata

r, o

utor

gand

o às

par

tes

o di

reito

de

regu

lar,

ela

s pr

ópri

as,

toda

s as

cond

içõe

s e

ajus

tes,

ex

tens

ão

e co

nteú

do

de

suas

co

nven

ções

, af

asta

da

a

inte

rven

ção

esta

tal.

a au

tono

mia

pr

ivad

a é

ente

ndid

a co

mo

aque

la

que

pres

erva

a l

iber

dade

de

cont

rata

r, e

ntre

tant

o es

sa l

iber

dade

é b

aliz

ada

pelo

s

lim

ites

est

abel

ecid

os p

revi

amen

te e

m l

ei,

visa

ndo

resg

uard

ar v

alor

es i

mpo

stos

pelo

s fi

ns e

conô

mic

os e

soc

iais

, pel

a bo

a-fé

e p

elos

bon

s co

stum

es (

CC

art

. 187

).

Pi

etro

Per

lingi

eri

sint

etiz

a a

ques

tão:

“O

ato

de

auto

nom

ia p

riva

da n

ão é

um v

alor

em

si;

pod

e sê

-lo,

e e

m c

erto

s lim

ites

, se

e e

nqua

nto

resp

onde

r a

um

inte

ress

e di

gno

de p

rote

ção

por

part

e do

ord

enam

ento

.”58

.

D

aí q

ue,

send

o um

pos

tula

do d

o di

reito

de

natu

reza

dem

ocrá

tica,

a

auto

nom

ia p

riva

da p

erse

vera

com

o um

dos

pri

ncíp

ios

espe

cífi

co d

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões,

mas

sof

re q

uatr

o te

mpe

ram

ento

s em

dif

eren

tes

disp

ositi

vos,

com

o

fito

de

não

inte

rfer

ir a

pon

to d

e de

sequ

ilib

rar

as p

rest

açõe

s re

cípr

ocas

em

um

a

mes

ma

obri

gaçã

o.

a) E

stad

o de

per

igo

O

pri

mei

ro t

empe

ram

ento

é o

est

ado

de p

erig

o (C

C a

rt.

156)

. A

par

te

obri

ga-s

e de

man

eira

exc

essi

vam

ente

one

rosa

med

iant

e ur

gent

e ne

cess

idad

e de

salv

ar-s

e ou

sal

var

algu

ém d

e su

a fa

míl

ia d

e im

inen

te d

ano.

Pas

sage

m d

a ob

ra

shak

espe

aria

na p

rest

a-se

no

exem

plif

icar

com

a e

xpre

ssão

“m

eu r

eino

por

um

cava

lo”,

bra

dada

pel

o re

i E

duar

do I

II,

quan

do d

erro

tado

em

bat

alha

se

viu

desm

onta

do, s

em c

ondi

ção

de f

uga

das

mão

s in

imig

as.

Rec

orre

nte

é o

exem

plo

58

PE

RL

IGIE

RI,

Pie

tro.

Per

fis

de D

irei

to C

ivil

, 2 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: R

enov

ar, 2

002,

p. 2

79.

Page 37: Aulas de Direito das Obrigações

73

de a

lgué

m q

ue p

rete

nda

inte

rnar

-se

ou p

esso

a de

sua

fam

ília

, em

gra

ve e

stad

o de

saúd

e, e

o h

ospi

tal

exig

e pa

ra o

ate

ndim

ento

em

erge

ncia

l ga

rant

ia f

idej

ussó

ria,

com

a e

mis

são

de c

hequ

e co

ntem

plan

do c

erta

qua

ntia

.

Não

pr

oced

e a

cobr

ança

de

de

spes

as

hosp

itala

res

e de

in

tern

ação

em

uni

dade

de

tera

pia

inte

nsiv

a se

o c

ontr

ato

de

pres

taçã

o de

se

rviç

os

foi

firm

ado

por

pess

oa

abal

ada

emoc

iona

lmen

te,

uma

vez

que

a m

anif

esta

ção

de v

onta

de

ofer

tada

por

que

m s

e en

cont

ra e

m e

stad

o de

per

igo

não

pode

se

r vi

ncul

ada

ao n

egóc

io j

uríd

ico

(Rev

ista

Jur

ispr

udên

cia

Min

eira

181

/189

, mai

oria

).

E

stão

pr

esen

tes

dois

el

emen

tos,

um

de

or

dem

su

bjet

iva:

a

suje

ição

caus

ada

pela

urg

ente

nec

essi

dade

(a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

não

é l

ivre

) e

o

conh

ecim

ento

del

a pe

la o

utra

par

te,

que

opor

tuni

za o

dol

o de

apr

ovei

tam

ento

,

cabe

diz

er, o

apr

ovei

tam

ento

de

um p

elo

outr

o de

nota

ndo

a fa

lta d

e ét

ica

que

não

pode

ser

aco

lhid

a pe

lo D

irei

to. E

out

ro d

e or

dem

obj

etiv

a: p

elo

víci

o de

von

tade

dá-s

e a

assu

nção

de

obri

gaçã

o ex

cess

ivam

ente

one

rosa

. Po

rtan

to,

desd

e a

fase

da f

orm

ação

do

negó

cio

jurí

dico

a ch

ocan

te d

espr

opor

ção

(exp

ress

ão r

etir

ada

do §

138

do

Cód

igo

Civ

il al

emão

) en

tre

as p

rest

açõe

s. P

or a

carr

etar

a r

uptu

ra d

o

equi

líbri

o da

s pr

esta

ções

, tr

ansg

ride

o c

ontr

ato

com

utat

ivo,

que

é a

quel

e de

pres

taçõ

es c

erta

s e

dete

rmin

adas

, qu

e se

equ

ival

em,

pres

taçõ

es,

pois

, m

ais

ou

men

os d

o m

esm

o va

lor,

não

em

um

cál

culo

nec

essa

riam

ente

ari

tmét

ico,

mas

que

não

seja

m t

ão d

íspa

res,

de

desp

ropo

rção

man

ifes

ta,

indu

vido

sa e

exa

gera

da.

N

ão s

e co

nsid

era

o fa

to s

uper

veni

ente

, que

ens

eja

a te

oria

da

impr

evis

ão

ou a

res

oluç

ão p

or o

nero

sida

de e

xces

siva

com

o pr

ovid

enci

am o

s ar

ts. 3

17 e

478

do C

ódig

o C

ivil,

mat

éria

s ab

orda

das

logo

aba

ixo.

.

A

con

sequ

ênci

a é

a an

ulaç

ão d

a ob

riga

ção.

Pod

er-s

e-ia

sup

or q

ue a

lei

pret

ende

u im

por

uma

sanç

ão p

elo

abus

o de

dir

eito

, poi

s se

o s

ervi

ço ti

vess

e si

do

74

pres

tado

fic

aria

sem

rem

uner

ação

. Ou

que

o pr

esta

dor

do s

ervi

ço, n

ão s

e tr

atan

do

de s

ançã

o, d

eves

se i

ngre

ssar

com

açã

o de

enr

ique

cim

ento

sem

cau

sa p

ara

have

r

o pa

gam

ento

. N

o en

tant

o, é

mai

s se

nsat

o en

tend

er q

ue o

ser

viço

, se

pre

stad

o,

deve

sse

ser

pago

pel

o pr

eço

prat

icad

o no

mer

cado

. B

em p

or i

sso

o E

nunc

iado

148

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rios

do

Con

selh

o da

Jus

tiça

Fed

eral

: “A

o es

tado

de p

erig

o (a

rt.

156)

apl

ica-

se,

por

anal

ogia

o d

ispo

sto

no §

do a

rt.

157”

,

port

anto

se

a pa

rte

favo

reci

da c

onco

rdar

com

a r

eduç

ão d

o pr

ovei

to,

não

se

decr

etar

á a

anul

ação

. O

enu

ncia

do é

ple

nam

ente

raz

oáve

l, co

mpa

tibili

za-s

e co

m

o es

píri

to d

o C

ódig

o C

ivil

de

cons

erva

r o

negó

cio

jurí

dico

em

cas

o de

rev

isão

cont

ratu

al, e

ele

ge o

pri

ncíp

io d

a op

erab

ilida

de.

b) L

esão

O

seg

undo

tem

pera

men

to é

o d

a le

são

(CC

art

. 157

) qu

e, c

omo

no e

stad

o

de p

erig

o, a

carr

eta

rupt

ura

do e

quilí

brio

das

pre

staç

ões

desd

e a

fase

de

form

ação

do n

egóc

io j

uríd

ico,

e d

a m

esm

a fo

rma

aten

ta c

ontr

a o

cont

rato

com

utat

ivo.

A

lesã

o ta

mbé

m

conj

uga

dois

el

emen

tos,

o

elem

ento

su

bjet

ivo

intu

i ví

cio

de

cons

enti

men

to “

quan

do u

ma

pess

oa o

brig

a-se

, so

b pr

emen

te n

eces

sida

de (

a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

não

é l

ivre

), o

u po

r in

expe

riên

cia

(a m

anif

esta

ção

da

vont

ade

não

é co

nsci

ente

). P

rem

ente

nec

essi

dade

e i

nexp

eriê

ncia

que

não

se

pres

umem

, de

vem

ser

dev

idam

ente

pro

vada

s.59

O e

lem

ento

obj

etiv

o di

z re

spei

to

ao

obje

to

do

negó

cio

jurí

dico

, é

exat

amen

te

o re

sult

ado

cond

uzid

o pe

lo

cons

tran

gim

ento

da

vont

ade,

com

o na

hip

ótes

e de

alg

uém

que

se

obri

ga “

a

pres

taçã

o m

anif

esta

men

te d

espr

opor

cion

al a

o va

lor

da p

rest

ação

opo

sta”

. A s

ua

men

sura

ção

deve

se

r “s

egun

do

os

valo

res

vige

ntes

ao

te

mpo

em

qu

e fo

i

59

Enu

ncia

do 2

90 d

o C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rio

do C

onse

lho

da J

usti

ça F

eder

al:

“A le

são

acar

reta

rá a

anu

laçã

o do

ne

góci

o ju

rídi

co

quan

do

veri

fica

da,

na

form

ação

de

ste,

a

desp

ropo

rção

m

anif

esta

en

tre

as

pres

taçõ

es

assu

mid

as p

elas

par

tes,

não

se

pres

umin

do a

pre

men

te n

eces

sida

de o

u a

inex

peri

ênci

a do

lesa

do.”

Page 38: Aulas de Direito das Obrigações

75

cele

brad

o o

negó

cio

jurí

dico

” (C

C a

rt. 1

57,

§ 1º

). A

rred

a-se

, por

con

segu

inte

, a

poss

ibili

dade

de

invo

car

qual

quer

fat

o su

perv

enie

nte.

Les

ão.

Ces

são

de d

irei

tos

here

ditá

rios

. E

ngan

o. D

olo

do

cess

ioná

rio.

Víc

io d

e co

nsen

tim

ento

. Dis

tinçã

o en

tre

lesã

o e

víci

o da

man

ifes

taçã

o da

von

tade

. P

resc

riçã

o qu

adri

enal

. C

aso

em

que

os

irm

ãos

anal

fabe

tos

fora

m

indu

zido

s à

cele

braç

ão

de

negó

cio

jurí

dico

at

ravé

s de

m

aqui

naçõ

es,

expe

dien

tes

astu

cios

os,

enge

ndra

dos

pelo

in

vent

aria

nte-

cess

ioná

rio.

M

anob

ras

insi

dios

as

leva

ram

a

enga

no

os

irm

ãos

cede

ntes

qu

e nã

o ti

nham

, de

qu

alqu

er

form

a,

com

pree

nsão

do

valo

r da

coi

sa. O

corr

ênci

a de

dol

o, v

ício

de

cons

enti

men

to.

Tra

ta-s

e de

ne

góci

o ju

rídi

co

anul

ável

, o

laps

o da

pre

scri

ção

é qu

adri

enal

(ar

t. 17

8, §

9º,

inc.

V, b

, do

Cód

igo

Civ

il).

Rec

urso

Esp

ecia

l nã

o co

nhec

ido

(ST

J, +

+ T

urm

a, r

el. M

in. B

arro

s M

onte

iro,

DJ

04.0

2.20

02, p

. 364

).

T

anto

no

esta

do d

e pe

rigo

com

o na

les

ão a

víti

ma

age

em e

stad

o de

nece

ssid

ade.

A d

istin

ção

entr

e am

bas

está

que

no

prim

eiro

é i

mpr

esci

ndív

el o

conh

ecim

ento

de

que

a co

ntra

part

e se

obr

iga

em s

itua

ção

de g

rave

per

igo,

tra

ta-

se d

e um

abu

so d

a si

tuaç

ão, p

rese

nte

o do

lo d

o ap

rove

itam

ento

, e p

ode

ocas

iona

r

dano

fís

ico

ou p

esso

al.

E n

o se

gund

o, o

est

ado

de p

rem

ente

nec

essi

dade

ou

de

inex

peri

ênci

a nã

o é

de

nece

ssár

io

conh

ecim

ento

da

co

ntra

part

e,

disp

ensa

,

embo

ra p

ossa

hav

er, o

dol

o de

apr

ovei

tam

ento

; o d

ano

é so

men

te p

atri

mon

ial.

c) T

eori

a da

impr

evis

ão.

O

ter

ceir

o te

mpe

ram

ento

rel

acio

na-s

e à

teor

ia d

a im

prev

isão

pre

vist

a no

art.

317

do

Cód

igo

Civ

il

que

disp

õe:

“qua

ndo,

po

r m

otiv

os

impr

evis

ívei

s,

sobr

evie

r de

spro

porç

ão m

anif

esta

ent

re o

val

or d

a pr

esta

ção

devi

da e

o d

o

mom

ento

de

sua

exec

ução

”, a

seu

tur

no,

“pod

erá

o ju

iz c

orri

gi-l

o, a

ped

ido

da

part

e”.

Ao

mag

istr

ado

não

é da

do a

gir

de o

fíci

o, e

sim

pro

voca

do p

ela

part

e, e

76

conc

lui:

“de

mod

o qu

e as

segu

re,

quan

to p

ossí

vel,

o re

al v

alor

da

pres

taçã

o”,

aqui

res

ide

a ra

zão

onto

lógi

ca,

a m

ens

legi

s. C

onte

mpl

a a

cláu

sula

reb

us s

ic

stan

tibu

s, p

ela

qual

, na

s ob

riga

ções

de

trat

o su

cess

ivo

ou d

ifer

ido

(qua

ndo

as

part

es r

ealiz

am u

m n

egóc

io m

edia

nte

paga

men

to f

utur

o), o

vín

culo

obr

igac

iona

l

ente

nde-

se s

ubor

dina

do à

con

tinua

ção

do e

stad

o de

fat

o vi

gent

e ao

tem

po d

a su

a

estip

ulaç

ão (

rebu

s si

c st

anti

bus)

, pe

rmit

indo

a s

ua r

evis

ão e

m c

aso

de h

aver

desi

gual

dade

su

perv

enie

nte

por

mot

ivos

im

prev

isív

eis.

O

s m

otiv

os i

mpr

evis

ívei

s de

vem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

acon

selh

a o

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

os d

o C

onse

lho

de J

usti

ça F

eder

al n

o E

nunc

iado

17:

“A i

nter

pret

ação

da

expr

essã

o ‘m

otiv

os i

mpr

evis

ívei

s’,

cons

oant

e o

art.

317

do

novo

Cód

igo

Civ

il, d

eve

abar

car

tant

o ca

usas

de

desp

ropo

rção

não

pre

visí

veis

,

com

o ta

mbé

m c

ausa

s pr

evis

ívei

s m

as d

e re

sulta

dos

impr

evis

ívei

s.”

E n

ão p

ode

ser

atri

buíd

o à

part

e pr

ejud

icad

a.

E

m r

esum

o, s

e um

fat

o po

ster

ior

à ce

lebr

ação

da

obri

gaçã

o to

rna

a

pres

taçã

o de

tal f

orm

a de

spro

porc

iona

l, qu

e um

a da

s pa

rtes

é c

oloc

ada

em e

stad

o

de

iniq

üida

de,

é po

ssív

el

a su

a re

visã

o pa

ra

rest

abel

ecer

o

equi

líbr

io.

Po

r co

nseg

uint

e, n

a te

oria

da

impr

evis

ão i

ncid

e, i

nvar

iave

lmen

te,

um

acon

teci

men

to s

uper

veni

ente

e i

mpr

evis

ível

, di

fere

nte

do e

stad

o de

per

igo

e da

lesã

o qu

e nã

o ad

mit

em e

sse

pres

supo

sto,

poi

s ne

stas

, re

pita

-se,

a d

espr

opor

ção

entr

e as

pr

esta

ções

é

veri

fica

da

na

form

ação

do

co

ntra

to,

ou

seja

,

conc

omit

ante

men

te

à ce

lebr

ação

da

ob

riga

ção.

A

mat

éria

ser

á re

tom

ada,

com

mai

s de

talh

es,

no e

stud

o do

obj

eto

do

paga

men

to e

sua

pro

va.

Page 39: Aulas de Direito das Obrigações

77

d) O

nero

sida

de e

xces

siva

O

qu

arto

te

mpe

ram

ento

é

a re

solu

ção

do

cont

rato

po

r on

eros

idad

e

exce

ssiv

a (C

C a

rts.

478

a 4

80),

que

se

apli

ca t

ambé

m n

os c

ontr

atos

de

trat

o

suce

ssiv

o ou

di

feri

do,

e da

m

esm

a fo

rma

repo

rta-

se

à cl

áusu

la

rebu

s si

c

stan

tibu

s. “

se a

pre

staç

ão d

e um

a da

s pa

rtes

se

torn

ar e

xces

siva

men

te o

nero

sa,

com

ex

trem

a va

ntag

em

para

a

outr

a,

em

virt

ude

de

acon

teci

men

tos

extr

aord

inár

ios

e im

prev

isív

eis”

(C

C a

rt.

478)

. É

diz

er,

em s

e tr

atan

do d

e

cont

rato

s co

mut

ativ

os,

se h

ouve

r su

bsta

ncia

l m

odif

icaç

ão d

a co

njun

tura

, em

funç

ão d

e fa

tore

s ex

tern

os e

inco

ntro

láve

is p

elas

par

tes,

que

pro

voca

m b

enef

ício

desm

edid

o e

imot

ivad

o pa

ra u

ma

dela

s e

oner

osid

ade

desc

abid

a pa

ra a

out

ra,

adm

ite-

se a

res

oluç

ão d

o co

ntra

to.

E a

ssim

é p

orqu

e se

a p

arte

sou

bess

e qu

e a

obri

gaçã

o as

sum

ida

se t

orna

ria

exce

ssiv

a qu

ando

do

cum

prim

ento

, nã

o a

teri

a

cont

rata

do.

D

ecid

iu o

Sup

erio

r T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a:

Os

requ

isito

s pa

ra c

arac

teri

zaçã

o da

one

rosi

dade

exc

essi

va

são:

o

cont

rato

de

ex

ecuç

ão

cont

inua

da

ou

dife

rida

, va

ntag

em

extr

ema

de

outr

a pa

rte

e ac

onte

cim

ento

ex

trao

rdin

ário

e im

prev

isív

el, c

aben

do a

o ju

iz, n

as in

stân

cias

or

diná

rias

, e

dian

te

do

caso

co

ncre

to,

a av

erig

uaçã

o da

ex

istê

ncia

de

prej

uízo

que

exc

eda

a ál

ea n

orm

al d

o co

ntra

to,

com

co

nseq

uent

e re

solu

ção

do

cont

rato

di

ante

do

re

conh

ecim

ento

de

cl

áusu

las

abus

ivas

e

exce

ssiv

amen

te

oner

osas

par

a a

pres

taçã

o do

dev

edor

(ST

J, 4

ª T

., R

Esp

. 1.

034.

702-

ES,

re

l. M

in.

João

O

távi

o de

N

oron

ha,

j. 15

.4.2

008,

DJ

5.5.

2008

).

78

O

ac

onte

cim

ento

ex

trao

rdin

ário

e

impr

evis

ível

, co

mo

na

teor

ia

da

impr

evis

ão,

não

pode

ser

im

puta

do à

par

te p

reju

dica

da,

por

mot

ivo

óbvi

o. P

ois

se f

oi e

la a

cau

sado

ra d

o de

sequ

ilíbr

io n

ão é

equ

ânim

e qu

e se

apr

ovei

te d

a

próp

ria

desí

dia.

.

À

s pa

rtes

é

poss

ibili

tada

a

com

posi

ção

cons

ensu

al,

desd

e qu

e a

favo

reci

da m

odif

ique

equ

itativ

amen

te a

s co

ndiç

ões

do c

ontr

ato

(CC

art

. 47

9).

Alé

m d

o qu

e, e

m c

aso

de a

ção

judi

cial

, ca

be a

o ju

iz c

ondu

zir,

sem

pre

que

poss

ível

, à r

evis

ão j

udic

ial

do c

ontr

ato

e nã

o a

sua

reso

luçã

o, e

m o

bser

vânc

ia a

o

prin

cípi

o da

con

serv

ação

dos

neg

ócio

s ju

rídi

cos,

ass

im d

ispo

ndo

os E

nunc

iado

s

176

e 36

7 do

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

os d

o C

onse

lho

de J

ustiç

a Fe

dera

l.60

A

ndou

bem

o le

gisl

ador

no

esta

bele

cim

ento

des

tes

dois

últi

mos

inst

ituto

s

(teo

ria

da im

prev

isão

e o

nero

sida

de e

xces

siva

), c

onje

ctur

ando

um

e o

utro

, poi

s a

teor

ia

da

impr

evis

ão

prev

eja

a re

visã

o do

co

ntra

to,

corr

igin

do

uma

das

pres

taçõ

es p

ara

guar

dar

equi

polê

ncia

par

a co

m a

out

ra, n

ão a

res

oluç

ão, p

ois

esta

é pr

ópri

a ap

enas

da

oner

osid

ade

exce

ssiv

a. O

utra

dis

tinç

ão e

stá

na o

port

una

lição

de Á

lvar

o V

illaç

a A

zeve

do a

o af

irm

ar q

ue a

teor

ia d

a im

prev

isão

não

se

aplic

a à

infl

ação

, co

nfor

me

já d

ecid

ira

o Su

prem

o T

ribu

nal

Fed

eral

,61 m

as p

ode

ser

aplic

ada

na o

nero

sida

de e

xces

siva

, qu

ando

a i

nfla

ção

dim

ana,

por

exe

mpl

o, d

a

desv

alor

izaç

ão d

a m

oeda

nac

iona

l, co

mo

ente

ndeu

o T

ribu

nal

de J

usti

ça d

o

Est

ado

do R

io d

e Ja

neir

o:

60

Enu

ncia

do 1

76: “

Em

ate

nção

ao

prin

cípi

o da

con

serv

ação

dos

neg

ócio

s ju

rídi

cos,

o a

rt. 4

78 d

o C

ódig

o C

ivil

de

2002

dev

erá

cond

uzir

, se

mpr

e qu

e po

ssív

el,

à re

visã

o ju

dici

al d

os c

ontr

atos

e n

ão à

res

oluç

ão c

ontr

atua

l.”

Enu

ncia

do 3

67:

“Em

obs

ervâ

ncia

ao

prin

cípi

o da

con

serv

ação

do

cont

rato

, na

s aç

ões

que

tenh

am p

or o

bjet

o a

reso

luçã

o do

pac

to p

or e

xces

siva

one

rosi

dade

, pod

e o

juiz

mod

ific

á-lo

equ

itat

ivam

ente

, des

de q

ue o

uvid

a a

part

e au

tora

, res

peit

ada

a su

a vo

ntad

e e

obse

rvad

o o

cont

radi

tóri

o.”

61 A

ZE

VE

DO

, Á

lvar

o V

illa

ça.

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

e r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l, 11

ed.

São

Pau

lo:

Atl

as,

2008

, p 1

28 e

129

: jur

ispr

udên

cia

refe

rida

: JST

F-L

ex 6

1/13

2. N

o m

esm

o se

ntid

o: R

T 6

69/1

75; 6

64/1

27; 6

59/1

41;

655/

151;

654

/157

; 63

5/22

6; 6

19/8

7. M

ais

rece

ntem

ente

: S

TJ,

T.,

RE

sp. 7

44.4

46, r

el. M

in. H

umbe

rto

Mar

tins

, j.

17.4

.08,

in T

heot

onio

Neg

rão:

CC

e le

gisl

ação

em

vig

or, 3

0 ed

. p. 2

04.

Page 40: Aulas de Direito das Obrigações

79

[...]

É

di

reito

do

co

nsum

idor

a

revi

são

das

cláu

sula

s co

ntra

tuai

s to

rnad

as

exce

ssiv

amen

te

oner

osas

po

r fa

to

supe

rven

ient

e,

assi

m

pode

ndo

com

pree

nder

a

súbi

ta

e in

espe

rada

alt

eraç

ão d

a po

lític

a m

onet

ária

e c

ambi

al,

com

el

evaç

ão d

o dó

lar

nort

e-am

eric

ano,

e o

s re

flex

os c

ausa

dos

no c

ontr

ato

de l

easi

ng a

just

ados

com

clá

usul

a de

var

iaçã

o ca

mbi

al.

Rec

urso

pr

ovid

o.

(CPA

) V

enci

do

o D

es.

Nas

cim

ento

Pov

oas

Vaz

. (T

JRJ,

18ª

Câm

., re

l. D

es.

Jorg

e L

uiz

Hab

ib, j

. 29.

2.20

00).

N

o m

esm

o se

ntid

o o

Sup

erio

r T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a:

[...]

O d

eved

or,

inad

impl

ente

em

vir

tude

de

oner

osid

ade

exce

ssiv

a,

seja

po

r de

sequ

ilíbr

io

resu

ltant

e da

de

sval

oriz

ação

da

moe

da o

u de

cri

téri

os p

ara

atua

lizaç

ão d

as

pres

taçõ

es,

pode

ple

itear

a r

esci

são

do c

ontr

ato.

Maj

oraç

ão

da

rete

nção

, te

ndo

em

vist

a pe

culia

rida

des

da

espé

cie.

R

ecur

so p

arci

alm

ente

con

heci

do e

, ne

ssa

exte

nsão

, pr

ovid

o (S

TJ,

T

, R

Esp

. 50

8.83

1-M

G,

rel.

Min

. C

ésar

A

sfor

R

ocha

, j. 4

.11.

2003

, DJU

20.

3.20

06).

O

art

. 6º

do

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

, qu

e re

ge a

s ob

riga

ções

cons

umer

ista

s, n

o in

c. V

, pr

ovid

ênci

a na

pri

mei

ra p

arte

: “a

mod

ific

ação

das

cláu

sula

s co

ntra

tuai

s qu

e es

tabe

lece

m p

rest

açõe

s de

spro

porc

iona

is”,

sug

erin

do

desd

e o

mom

ento

em

que

se

conc

lui

a ob

riga

ção,

ref

ere-

se,

assi

m,

à le

são.

E n

a

segu

nda

part

e: “

ou s

ua r

evis

ão e

m r

azão

de

fato

s su

perv

enie

ntes

que

as

torn

em

oner

osas

”, c

omo

os f

atos

são

pos

teri

ores

a s

ua c

eleb

raçã

o, s

uger

e a

teor

ia d

a

impr

evis

ão. D

uas

dife

renç

as c

om r

elaç

ão a

o C

ódig

o C

ivil.

Pri

mei

ra, n

ão f

ala

em

reso

luçã

o, m

as e

m m

odif

icaç

ão d

e cl

áusu

las;

seg

unda

, nã

o ex

ige

que

os f

atos

supe

rven

ient

es

seja

m

impr

evis

ívei

s.

.

E

nfim

, em

se

trat

ando

de

auto

nom

ia p

riva

da, v

ale

as p

alav

ras

de G

iorg

io

Del

Vec

chio

, ao

enfo

car

a lib

erda

de d

e co

ntra

tar,

con

sign

ando

que

ess

a li

berd

ade

deri

va,

logi

cam

ente

, do

pod

er q

ue t

odo

indi

vídu

o te

m s

obre

si

e é

até

uma

das

supr

emas

exp

ress

ões

dess

e po

der;

mas

é c

laro

, qu

e o

seu

exer

cíci

o pa

ra s

er

80

válid

o e

efic

az,

tem

com

o co

nseq

uênc

ia u

ma

rest

riçã

o do

arb

ítri

o in

divi

dual

.62

A

mai

s im

port

ante

res

triç

ão à

aut

onom

ia p

riva

da é

col

ocar

as

part

es e

m

pata

mar

es d

ifer

ente

s co

m n

ítid

a de

spro

porç

ão e

ntre

as

pres

taçõ

es,

de m

odo

que

uma

part

e pr

eval

eça

sobr

e a

outr

a. H

á se

mpr

e de

se

exig

ir a

equ

ipol

ênci

a en

tre

as

pres

taçõ

es,

o qu

e já

era

car

o ao

Dir

eito

Rom

ano

desd

e a

Man

cipa

tio,

cita

da n

a

Lei

das

XII

Táb

uas

(450

a.C

.), q

uand

o as

obr

igaç

ões

assu

mid

as e

ram

pes

adas

em

praç

a pú

blic

a, a

test

ando

a e

quiv

alên

cia

das

pres

taçõ

es a

ssum

idas

pel

as p

arte

s

cont

rata

ntes

. T

anto

que

Cel

so c

once

ituou

o D

irei

to c

omo

ius

est

ars

boni

et

aequ

i (a

art

e do

bem

e d

a eq

uida

de).

A q

uebr

a de

ssa

equi

dade

não

pod

e

prev

alec

er

em

nom

e da

C

iênc

ia

Mor

al,

que

bafe

ja

dire

tam

ente

o

Dir

eito

.

A

lém

das

pre

visõ

es d

a on

eros

idad

e ex

cess

iva

e da

teo

ria

da i

mpr

evis

ão,

exem

plo

escl

arec

edor

no

atua

l C

ódig

o C

ivil

é o

par

ágra

fo ú

nico

do

art.

944:

“Se

houv

er e

xces

siva

des

prop

orçã

o en

tre

a gr

avid

ade

da c

ulpa

e o

dan

o, p

oder

á o

juiz

re

duzi

r,

equi

tati

vam

ente

, a

inde

niza

ção.

” Su

ponh

a-se

um

ac

iden

te

de

trân

sito

por

cul

pa le

víss

ima

de u

m d

os c

ondu

tore

s, p

ai d

e fa

míl

ia d

e cl

asse

méd

ia

baix

a,

que

abal

roa

outr

o ve

ícul

o de

al

tíssi

mo

preç

o,

prod

uzin

do

dano

s

cons

ider

ávei

s. A

tend

er a

ind

eniz

ação

pel

a ex

tens

ão d

o da

no,

com

o pr

opõe

a

cabe

ça d

este

art

igo,

ser

ia d

e gr

aves

con

sequ

ênci

as e

conô

mic

as p

ara

toda

fam

ília

,

leva

ndo-

a a

difi

culd

ades

par

a su

prir

até

mes

mo

as n

eces

sida

des

bási

cas

de v

ida

dign

a.

62

DE

L V

EC

CH

IO, G

iorg

io. P

rinc

ípio

s ge

rais

do

dire

ito,

trad

ução

de

Fern

ando

de

Bra

ganç

a. B

elo

Hor

izon

te:

Líd

er, 2

003,

p. 5

1;

Page 41: Aulas de Direito das Obrigações

81

5.3

PR

INC

ÍPIO

DA

FU

ÃO

SO

CIA

L

Pa

ra F

ábio

Kon

der

Com

para

to a

noç

ão d

e fu

nção

rep

rese

nta

o po

der

de

dar

ao o

bjet

o da

pro

prie

dade

det

erm

inad

o de

stin

o, d

e vi

ncul

á-lo

a c

erto

obj

etiv

o,

e o

adje

tivo

soc

ial c

ondu

z a

ente

nder

que

ess

e ob

jetiv

o de

ve a

tend

er a

o in

tere

sse

cole

tivo

no s

enti

do d

e su

a ha

rmon

izaç

ão c

om o

inte

ress

e in

divi

dual

.63

Mai

s um

a ve

z vo

lta-

se a

o di

álog

o do

Cód

igo

Civ

il c

om a

Con

stit

uiçã

o

Fede

ral,

de s

orte

a f

unçã

o so

cial

, ta

l qu

al o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e, p

lasm

a-se

na L

ei M

aior

, co

mo

já a

firm

ado,

ao

esta

bele

cer

no s

eu p

rólo

go q

ue a

Rep

úbli

ca

Fede

rativ

a do

Bra

sil,

cons

titu

ída

em E

stad

o D

emoc

ráti

co d

e D

irei

to,

coli

ma

real

izar

os

valo

res

fund

amen

tais

da

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana,

do

trab

alho

, da

livre

ini

ciat

iva,

da

solid

arie

dade

e d

a fu

nção

soc

ial

da p

ropr

ieda

de,

a fi

m d

e

cons

trui

r um

a so

cied

ade

livre

, ju

sta

e so

lidá

ria,

gar

anti

ndo

o de

senv

olvi

men

to

soci

al e

, pa

ra t

anto

, er

radi

cand

o a

pobr

eza

e a

mar

gina

lidad

e pe

la r

eduç

ão d

as

desi

gual

dade

s so

ciai

s e

regi

onai

s (a

rts.

e 3º

). V

alor

es r

eafi

rmad

os n

o ar

t. 17

0,

ao t

rata

r da

ord

em e

conô

mic

a. D

e ef

eito

, há

na

dout

rina

um

con

sens

o em

tor

no

da c

onex

ão e

ntre

o p

rinc

ípio

con

stitu

cion

al d

a so

lidar

ieda

de e

a f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

.64

C

uida

-se

ente

nder

, qu

e im

preg

na a

o D

irei

to a

fun

ção

soci

al,

sem

a q

ual

os v

alor

es e

nunc

iado

s nã

o se

efe

tiva

m.

Pro

pici

ou a

rup

tura

do

Est

ado

até

entã

o

mer

o ob

serv

ador

das

re

laçõ

es

inte

rpes

soai

s (E

stad

o L

iber

al)

para

o

Est

ado

inte

rven

cion

ista

(E

stad

o do

Bem

-Est

ar S

ocia

l),

tend

o po

r ob

jetiv

o a

real

izaç

ão

da ju

stiç

a so

cial

gar

antid

a pe

la o

rdem

púb

lica.

63

CO

MP

AR

AT

O, F

ábio

Kon

der.

Dir

eito

em

pres

aria

l: e

stud

os e

par

ecer

es. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 199

0, p

. 32.

64

RE

NT

ER

ÍA,

Pab

lo.

Con

side

raçõ

es a

cerc

a do

atu

al d

ebat

e so

bre

o pr

incí

pio

da f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

, in

P

rinc

ípio

s do

dir

eito

civ

il c

onte

mpo

râne

o, M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orai

s, c

oord

enad

ora.

Rio

de

Jane

iro:

R

enov

ar, 2

006,

p. 2

84.

82

C

omo

toda

rup

tura

exi

ge r

econ

stru

ção,

con

trib

ui o

Cód

igo

Civ

il n

o ar

t.

421,

ao

dest

acar

exp

ress

amen

te a

fun

ção

soci

al c

omo

mot

ivo

e li

mit

e pa

ra o

exer

cíci

o da

lib

erda

de

de

cont

rata

r.

Por

esse

di

spos

itivo

, al

ém

da

funç

ão

indi

vidu

al c

láss

ica

do c

ontr

ato,

int

eres

sa a

o D

irei

to t

ambé

m a

s in

terf

erên

cias

prov

ocad

as n

o am

bien

te s

ocia

l, m

orm

ente

ao

se tr

atar

de

cont

rato

s m

assi

fica

dos,

com

o os

de

cons

umo

e de

ade

são.

“O

con

trat

o nã

o de

ve s

er m

eio

para

alc

ança

r o

inte

ress

e da

s pa

rtes

ap

enas

, m

as

deve

se

r vi

sto,

pr

inci

palm

ente

, co

mo

um

inst

rum

ento

de

co

nvív

io

soci

al

e de

pr

eser

vaçã

o do

s in

tere

sses

da

cole

tivid

ade”

.65 N

ota-

se a

iden

tifi

caçã

o co

m o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e.

O

con

trat

o pa

ritá

rio,

é b

om r

epet

ir,

deix

ou d

e se

r a

regr

a no

âm

bito

nego

cial

, é

o co

ntra

to d

e qu

em a

dqui

re u

m a

utom

óvel

usa

do o

u lo

ca u

m i

móv

el

dire

tam

ente

com

o p

ropr

ietá

rio,

tam

bém

que

m a

dqui

re m

erca

dori

as n

o pe

quen

o

com

érci

o va

reji

sta.

Hoj

e pr

eval

ece

os c

ontr

atos

de

cons

umo

e de

ade

são,

até

mes

mo

quan

do s

e aj

usta

um

a fe

sta

de a

nive

rsár

io, d

ado

que

o pe

quen

o pr

esta

dor

de s

ervi

ço in

sere

-se

no r

amo

empr

esar

ial,

aind

a qu

e se

ja c

omo

mic

roem

pres

a.

Se

não

se

prot

ege

o co

nsum

idor

e o

ade

rent

e, s

e nã

o se

ele

ge a

fun

ção

soci

al d

o co

ntra

to,

as c

onse

quên

cias

ser

ão d

elet

éria

s pa

ra a

eco

nom

ia n

acio

nal,

com

uns

pre

vale

cend

o co

ntra

os

outr

os, e

est

es c

omo

mai

oria

abs

olut

a.

Po

ntif

ica

Fern

ando

Nor

onha

:

O

inte

ress

e ge

ral,

o be

m

com

um,

cons

titu

i lim

ite

à re

aliz

ação

dos

int

eres

ses

indi

vidu

ais

e su

bjet

ivos

, do

cred

or.

Que

m s

e ar

roga

a c

ondi

ção

de c

redo

r te

m n

eces

sari

amen

te

um q

ualq

uer

inte

ress

e em

que

o d

eved

or r

ealiz

e a

pres

taçã

o,

mas

, ev

iden

tem

ente

, o

dire

ito n

ão p

oder

á tu

tela

r in

tere

sses

qu

e po

rven

tura

sej

am f

útei

s, o

u po

r ou

tra

form

a es

tran

ho a

o

65

BO

. Pau

lo L

uiz

Net

to, C

ódig

o C

ivil

ano

tado

, coo

rden

ador

Rod

rigo

da

Cun

ha P

erei

ra. P

orto

Ale

gre:

Sín

tese

, 20

04, p

. 197

.

Page 42: Aulas de Direito das Obrigações

83

bem

co

mum

. Pa

ra

além

do

s in

tere

sses

do

cr

edor

e

do

deve

dor,

est

ão v

alor

es m

aior

es d

a so

cied

ade,

que

não

pod

em

ser

afet

ados

.66

Po

r co

nseg

uint

e, o

int

eres

se q

ue e

nvol

ve a

obr

igaç

ão d

eve

ser

volta

do

para

a ó

tica

soci

al c

omo

dign

o de

pro

teçã

o, p

ara

dess

a fo

rma

abri

gar

a re

laçã

o

jurí

dica

daí

dec

orre

nte

com

o vá

lida

e ef

icaz

.

E

m s

ínte

se,

funç

ão é

uso

, ut

ilida

de;

soci

al é

o q

ue i

nter

essa

à s

ocie

dade

.

A f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

det

erm

ina,

poi

s, q

ue o

s in

tere

sses

ind

ivid

uais

dos

cont

rata

ntes

dev

am s

er u

sado

s em

con

sonâ

ncia

com

os

inte

ress

es d

a so

cied

ade

à

man

eira

que

est

es s

e fa

çam

pre

sent

es.

Port

anto

, el

a de

ve s

er e

nten

dida

com

o

razã

o e

limit

e pa

ra o

exe

rcíc

io d

a lib

erda

de d

e co

ntra

tar,

no

enta

nto

razã

o e

lim

ite

que

não

elim

ina

a au

tono

mia

pri

vada

. Seg

ue n

este

sen

tido

o E

nunc

iado

23

do

Cen

tro

de E

stud

os

Judi

ciár

ios

da

Just

iça

Fed

eral

: “A

fu

nção

so

cial

do

cont

rato

pre

vist

a no

art

. 42

1 do

nov

o C

ódig

o C

ivil

não

elim

ina

o pr

incí

pio

da

auto

nom

ia c

ontr

atua

l, m

as a

tenu

a ou

red

uz o

alc

ance

des

se p

rinc

ípio

, qu

ando

pres

ente

s in

tere

sses

met

aind

ivid

uais

ou

inte

ress

e re

lativ

o à

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana.

5.4

PR

INC

ÍPIO

DA

BO

A-F

É O

BJE

TIV

A

Com

o já

con

sign

ado,

a r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

é u

m p

roce

sso,

não

é um

esq

uem

a es

tátic

o. E

pro

cess

o su

gere

mov

imen

to,

fase

s um

a ap

ós o

utra

,

conc

aten

adas

, di

rigi

das

para

um

fim

col

imad

o: s

empr

e um

a pr

esta

ção

de d

ar,

faze

r ou

não

faz

er c

omo

form

a de

atin

gir

a su

a fi

nalid

ade

prim

ária

, qu

e é

a

sati

sfaç

ão d

o in

tere

sse

do c

redo

r. C

lóvi

s do

Cou

to e

Silv

a le

cion

a:

66

NO

RO

NH

A, F

eran

do. D

irei

to d

as o

brig

açõe

s: f

unda

men

tos

do d

irei

to d

as o

brig

açõe

s: in

trod

ução

à

resp

onsa

bilid

ade

civi

l, vo

lum

e 1.

São

Pau

lo: S

arai

va, 2

003,

p. 2

7.

84

Os

atos

re

aliz

ados

pe

lo

deve

dor,

be

m

assi

m

com

o os

re

aliz

ados

pel

o cr

edor

, re

perc

utem

no

mun

do j

uríd

ico,

nel

e in

gres

sam

e

são

disp

osto

s e

clas

sifi

cado

s se

gund

o um

a or

dem

, ate

nden

do-s

e ao

s co

ncei

tos

elab

orad

os p

ela

teor

ia d

o di

reito

. E

sses

ato

s, e

vide

ntem

ente

, te

ndem

a u

m f

im.

E é

pr

ecis

amen

te a

fin

alid

ade

que

dete

rmin

a a

conc

epçã

o da

ob

riga

ção

com

o pr

oces

so.67

A

ntes

de

se o

brig

ar a

s pa

rtes

ent

ram

em

um

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l, sã

o

enta

bula

das

trat

ativ

as p

ara

que

cheg

uem

a u

m a

cord

o. A

cord

adas

as

part

es,

a

obri

gaçã

o é

cont

rata

da,

é a

fase

da

conc

lusã

o ou

con

stitu

ição

do

cont

rato

,

mom

ento

em

que

ela

nas

ce p

ara

o m

undo

jur

ídic

o. N

o m

ais

das

veze

s a

obri

gaçã

o te

m u

ma

vida

jur

ídic

a, d

esen

volv

e-se

por

det

erm

inad

o ar

co d

e te

mpo

,

é a

fase

da

exec

ução

do

cont

rato

. Por

fim

, ext

ingu

e-se

com

o a

dim

plem

ento

, é a

fase

da

exti

nção

do

cont

rato

, e

aind

a po

dem

per

seve

rar

deve

res

aces

sóri

os p

ós-

cont

ratu

al.

A

cont

ece,

des

sa f

orm

a, c

om o

con

trat

o de

loc

ação

, de

com

pra

e ve

nda

a

praz

o, d

e em

prés

tim

o, d

e pr

esta

ção

de s

ervi

ços

etc.

Não

se

loca

um

bem

ant

es d

e

visi

tá-l

o se

im

óvel

, de

exam

iná-

lo s

e m

óvel

, ant

es d

e ac

orda

r o

alug

uel,

a fo

rma

de p

agam

ento

, o

praz

o de

vig

ênci

a. L

ocad

o o

bem

pag

a-se

o a

lugu

el,

até

que

a

loca

ção

cheg

a ao

seu

ter

mo

fina

l co

m a

res

titu

ição

do

bem

ao

prop

riet

ário

. S

ão

as

vári

as

fase

s de

um

m

esm

o co

ntra

to.

E

m t

odas

as

fase

s in

cide

a r

egra

no

art.

422

do C

ódig

o C

ivil,

em

bora

disp

onha

que

os

cont

rata

ntes

são

obr

igad

os a

gua

rdar

, “a

ssim

na

conc

lusã

o do

cont

rato

, com

o em

sua

exe

cuçã

o” o

s pr

incí

pios

da

prob

idad

e e

da b

oa-f

é. N

o qu

e

67

SIL

VA

, C

lóvi

s V

erís

sim

o do

Cou

to e

Sil

va.

A o

brig

ação

com

o pr

oces

so.

São

Pau

lo:

Bus

hats

ky,

1976

, p.

10.

P

roce

ssus

, de

proc

eder

e, te

m o

rige

m c

anôn

ica

e in

dica

um

a sé

rie

de a

tos

rela

cion

ados

ent

re s

i, co

ndic

iona

dos

um

ao o

utro

e in

terd

epen

dent

es.

Page 43: Aulas de Direito das Obrigações

85

é cr

itic

ado

pela

est

reite

za r

edac

iona

l, da

do q

ue n

ão c

onsi

gna

as f

ases

pré

e p

ós-

cont

ratu

al.68

É

exe

mpl

o di

dáti

co d

e qu

ando

o l

egis

lado

r fa

la m

enos

do

que

pret

endi

a,

mas

lem

bran

do M

igue

l R

eale

a l

ei n

ão é

a s

ua l

etra

, m

as o

seu

esp

írito

. N

este

sent

ido

o E

nunc

iado

25

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rios

do

Con

selh

o da

Jus

tiça

Fede

ral:

“O a

rt. 4

22 d

o C

ódig

o C

ivil

não

inv

iabi

liza

a a

plic

ação

, pel

o ju

lgad

or,

do

prin

cípi

o da

bo

a-fé

na

s fa

ses

pré

e pó

s-co

ntra

tual

”.

E

sse

artig

o, u

ma

cláu

sula

ger

al,

trat

a da

boa

-fé

obje

tiva

, qu

e nã

o se

conf

unde

co

m

a bo

a-fé

su

bjet

iva.

E

sta,

ta

mbé

m

cham

ada

de

conc

epçã

o

psic

ológ

ica

da b

oa-f

é, é

est

ado

de e

spír

ito,

a p

esso

a pr

atic

a um

ato

com

issi

vo o

u

omis

sivo

con

vict

o de

que

age

con

form

e a

lei.

É a

cre

nça

errô

nea

da e

xist

ênci

a de

um d

irei

to o

u da

val

idad

e de

um

neg

ócio

jur

ídic

o; u

ma

igno

rânc

ia d

escu

lpáv

el,

porq

uant

o au

sent

e o

prop

ósit

o de

pre

judi

car

dire

itos

alhe

ios.

É a

boa

-fé

pres

ente

no C

ódig

o C

ivil

revo

gado

e a

inda

no

atua

l qu

ando

, po

r ex

empl

o, r

efer

e-se

aos

efei

tos

da p

osse

qua

nto

à pe

rcep

ção

de f

ruto

s (C

C a

rt. 1

.214

), o

u na

aqu

isiç

ão d

a

prop

ried

ade

pela

usu

capi

ão o

rdin

ária

(C

C a

rt.

1.24

2).

.

A

boa

-fé

obje

tiva

, tam

bém

cha

mad

a de

con

cepç

ão é

tica

da

boa-

fé, é

um

padr

ão d

e co

ndut

a so

cial

, ve

rdad

eiro

arq

uétip

o ju

rídi

co o

u re

gra

de c

ondu

ta,

cara

cter

izad

o po

r um

a at

uaçã

o de

con

form

idad

e co

m a

hon

estid

ade,

a l

eald

ade

e

a co

rreç

ão,

de t

al s

orte

a n

ão b

alda

r a

conf

ianç

a da

out

ra p

arte

con

subs

tanc

iada

nas

suas

mai

s le

gítim

as e

xpec

tati

vas.

É e

xam

inad

a ex

tern

amen

te,

uma

vez

que

não

se d

eve

anal

isar

a c

onvi

cção

de

quem

atu

a, o

sen

tim

ento

que

o a

nim

a (b

oa-f

é

subj

etiv

a),

mas

a

conf

orm

idad

e de

su

a co

ndut

a co

m

o ca

so

conc

reto

,

harm

oniz

ando

-se

com

o

que

se

espe

ra

do

hom

em

prob

o na

co

nviv

ênci

a

com

unitá

ria,

sen

do,

pois

, pr

incí

pio

de o

rdem

púb

lica.

É a

esp

écie

de

boa-

fé q

ue

68

O C

ódig

o C

ivil

ital

iano

de

1942

tem

dis

posi

tivo

sim

ilar

: “A

rt. 1

.337

: le

par

ti, n

ello

svo

lgim

ento

del

le t

ratt

ativ

e e

nell

a fo

rmaz

ione

del

con

trat

o, d

evon

o co

mpo

rtar

si s

ecun

do b

uona

fed

e.”

86

inte

ress

a ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Con

juga

-se

com

o p

rinc

ípio

da

etic

idad

e,

entr

e el

es h

á ín

tim

a ite

raçã

o.

Epi

sódi

o re

itera

dam

ente

ci

tado

es

clar

ece

a

ques

tão

que

dife

renc

ia a

s du

as e

spéc

ies

de b

oa-f

é. O

pop

ular

sam

bist

a Z

eca

Pago

dinh

o ro

mpe

u co

ntra

to c

om c

onhe

cida

mar

ca d

e be

bida

e s

e vi

ncul

ou a

outr

a em

pres

a co

ncor

rent

e. E

m s

ua d

efes

a o

mús

ico

aleg

ou d

esco

nhec

imen

to d

o

seu

com

prom

isso

de

exc

lusi

vida

de.

Ape

sar

da e

vent

ual

pres

ença

da

boa-

subj

etiv

a (e

stad

o de

esp

írit

o ou

cre

nça)

, po

r ob

vio,

hou

ve f

lagr

ante

afr

onta

ao

prin

cípi

o da

boa

-fé

obje

tiva

(con

duta

des

ajus

tada

com

o c

aso

sing

ular

, co

m a

real

idad

e ne

goci

al).

.

Po

is b

em,

dist

inta

a b

oa-f

é ob

jetiv

a da

sub

jetiv

a, c

umpr

e di

zer

que

o

legi

slad

or p

átri

o in

spir

ou-s

e no

§ 2

42 C

ódig

o C

ivil

ale

mão

, art

. 1.3

75 d

o C

ódig

o

Civ

il it

alia

no.

A s

ua i

ntro

duçã

o no

Dir

eito

bra

sile

iro

é m

érit

o do

Cód

igo

de

Def

esa

do C

onsu

mid

or p

ara

torn

ar e

fetiv

o o

seu

art.

4º:

“A P

olít

ica

Nac

iona

l de

Rel

açõe

s de

Con

sum

o te

m p

or o

bjet

ivo

o at

endi

men

to d

as n

eces

sida

des

dos

cons

umid

ores

, o

resp

eito

a s

ua d

igni

dade

, sa

úde

e se

gura

nça,

a p

rote

ção

dos

inte

ress

es e

conô

mic

os,

a m

elho

ria

da s

ua q

uali

dade

de

vida

, be

m c

omo

a

tran

spar

ênci

a e

harm

onia

das

rel

açõe

s de

con

sum

o, a

tend

idos

os

segu

inte

s

prin

cípi

os:

... I

II –

har

mon

izaç

ão d

os i

nter

esse

s do

s pa

rtic

ipan

tes

das

rela

ções

de c

onsu

mo

e co

mpa

tibi

liza

ção

da p

rote

ção

do c

onsu

mid

or c

om a

nec

essi

dade

de d

esen

volv

imen

to e

conô

mic

o e

tecn

ológ

ico,

de

mod

o a

viab

iliz

ar o

s pr

incí

pios

nos

quai

s se

fun

da a

ord

em e

conô

mic

a (a

rt.

170,

da

Con

stit

uiçã

o F

eder

al),

sem

pre

com

bas

e na

boa

-fé

e eq

uilí

brio

nas

rel

açõe

s en

tre

cons

umid

ores

e

forn

eced

ores

.

R

essa

lte-

se, q

ue C

lovi

s do

Cou

to e

Sil

va já

pro

pugn

ava

a ad

oção

da

boa-

fé o

bjet

iva

com

a s

egui

nte

ensi

nanç

a:

Page 44: Aulas de Direito das Obrigações

87

Con

tudo

, a

inex

istê

ncia

, no

C

ódig

o C

ivil,

de

ar

tigo

sem

elha

nte

ao §

242

do

BG

B n

ão i

mpe

de q

ue o

pri

ncíp

io

tenh

a vi

gênc

ia e

m n

osso

dir

eito

das

obr

igaç

ões,

poi

s se

tra

ta

de p

ropo

siçã

o ju

rídi

ca, c

om s

igni

fica

do d

e re

gra

de c

ondu

ta.

O m

anda

men

to d

e co

ndut

a en

glob

a to

dos

os q

ue p

artic

ipam

do

vín

culo

obr

igac

iona

l e

esta

bele

ce,

entr

e el

es,

um e

lo d

e co

oper

ação

, em

fac

e do

fim

obj

etiv

o a

que

visa

m.

E

lo

go

em

segu

ida

com

plet

a:

“ O

pr

incí

pio

da

boa-

oper

a,

aqui

,

sign

ific

ativ

amen

te,

com

o m

anda

men

to

de

cons

ider

ação

.”69

E

vide

nte,

de

cons

ider

ação

de

um c

ontr

atan

te p

ara

com

o o

utro

.

D

e in

ício

, a

boa-

obje

tiva

tem

a

funç

ão

inte

rpre

tati

va,

é re

gra

de

inte

rpre

taçã

o do

s ne

góci

os j

uríd

icos

, as

sim

dis

pond

o o

art.

113:

“O

s ne

góci

os

jurí

dico

s de

vem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

a bo

a-fé

e o

s us

os d

o lu

gar

da

cele

braç

ão.”

Tem

ain

da a

fun

ção

inte

grat

iva

com

o fo

nte

de d

ever

es a

nexo

s, o

u se

ja,

deve

dor

e cr

edor

dev

em p

ratic

ar a

boa

-fé

obje

tiva

não

apen

as n

os d

ever

es

prin

cipa

is:

o de

vedo

r pa

gar

e o

cred

or t

er o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

a

pres

taçã

o. A

bran

ge ta

mbé

m o

s de

vere

s co

late

rais

, ou

com

o de

nom

ina

com

mui

ta

prop

ried

ade

a do

utri

na p

ortu

gues

a de

vere

s an

exos

de

cond

uta,

um

a ve

z qu

e es

sa

mod

alid

ade

de b

oa-f

é há

de

ser

ente

ndid

a co

mo

regr

a de

vid

a, a

ssim

os

deve

res

de a

s pa

rtes

atu

arem

no

sent

ido

da t

rans

parê

ncia

que

im

plic

a na

boa

inf

orm

ação

ou a

cons

elha

men

to,

na c

oope

raçã

o m

útua

, no

cui

dado

obj

etiv

o em

abs

ter-

se d

e

expe

dien

tes

desn

eces

sári

os o

u m

eram

ente

pro

tela

tóri

os e

tc.

69

SIL

VA

, Clo

vis

Ver

íssi

mo

do C

outo

e. A

obr

igaç

ão c

omo

proc

esso

. São

Pau

lo: B

usha

tsky

, 197

6, p

. 30.

88

a) N

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l

N

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l, ta

mbé

m c

ham

ada

de p

ré-n

egoc

ial,

sobr

elev

a o

deve

r de

tr

ansp

arên

cia,

co

nsub

stan

ciad

o na

bo

a in

form

ação

e

no

corr

eto

acon

selh

amen

to.

A i

nfor

maç

ão é

a a

pres

enta

ção

dos

fato

s co

mo

são

de m

odo

a

eluc

idar

a c

ontr

apar

te, p

ara

que

man

ifes

te o

seu

con

sent

imen

to l

ivre

de

qual

quer

emba

raço

. A s

ituaç

ão, a

lém

de

acar

reta

r a

lesã

o, r

emet

e ao

víc

io r

edib

itóri

o. S

e o

alie

nant

e co

nhec

ia o

víc

io o

culto

e d

e m

á-fé

não

o i

nfor

mou

ao

adqu

iren

te,

rest

ituir

á o

que

rece

beu

com

per

das

e da

nos.

Se

não

o co

nhec

ia,

tão

som

ente

rest

ituir

á o

valo

r re

cebi

do m

ais

as d

espe

sas

do c

ontr

ato,

con

form

e o

text

o do

art

.

443

do C

ódig

o C

ivil.

A

córd

ão d

o T

ribu

nal

de J

ustiç

a do

Est

ado

do R

io d

e Ja

neir

o co

ntem

pla

a

prim

eira

hi

póte

se,

no

caso

em

qu

e o

vend

edor

oc

ulto

u,

mal

icio

sam

ente

,

vaza

men

to d

e ág

ua n

o im

óvel

que

ven

dia.

De

cert

o qu

e o

inad

impl

emen

to c

ontr

atua

l, po

r si

só,

não

co

ntém

pot

enci

al o

fens

ivo

à pe

rson

alid

ade

do c

ontr

atan

te,

mui

to m

enos

o v

ício

red

ibitó

rio,

qua

ndo

desc

onhe

cido

por

am

bas

as p

arte

s. N

ão o

bsta

nte,

se

a in

adim

plên

cia

ou o

víc

io

ocor

rem

der

ivad

os d

a m

á-fé

, em

que

se

tem

pra

ticad

o pe

lo

réu

ato

cons

cien

te t

ende

nte

a ca

muf

lar

situ

ação

ou

cond

ição

do

im

óvel

que

se

conh

ecid

a pe

lo a

utor

o n

egóc

io n

ão s

eria

ce

lebr

ado,

o d

ano

gera

do,

além

dos

mat

eria

is e

vide

ncia

dos,

te

m r

efle

xo n

a pe

rson

alid

ade

do a

utor

, po

sto

que

traí

do n

a su

a co

nfia

nça

[dan

o m

oral

] (T

JRJ,

Câm

. C

ível

, re

l. D

es.

Ron

aldo

Roc

ha P

asso

s, j.

18.

4.20

03, R

J 31

0/10

4)

A

teo

ria

do v

ício

red

ibitó

rio

cond

uz i

gual

men

te à

cau

tela

que

as

part

es

deve

m g

uard

ar,

proc

uran

do c

ada

cont

rata

nte,

de

si m

esm

o, a

s in

form

açõe

s

notó

rias

, o

cham

ado

cuid

ado

obje

tivo

, di

ligên

cia

indi

spen

sáve

l de

mod

o qu

e

Page 45: Aulas de Direito das Obrigações

89

send

o o

víci

o de

fác

il co

nsta

taçã

o pr

esum

e-se

que

hou

ve d

esíd

ia d

o ad

quir

ente

quan

do d

a co

nstit

uiçã

o do

con

trat

o.

Res

pons

abili

dade

ci

vil

– C

ompr

a e

vend

a –

Açã

o in

deni

zató

ria

– R

epar

ação

de

dano

s –

Aqu

isiç

ão d

e im

óvei

s qu

e, a

pós

um a

no d

a ce

lebr

ação

do

negó

cio,

foi

inv

adid

o po

r en

chen

te –

Com

prad

or q

ue a

lega

aus

ênci

a de

boa

-fé

obje

tiva

do v

ende

dor,

ao

ocul

tar

o fa

to d

e a

área

em

que

lo

cali

zado

o

bem

es

tar

suje

ita

a in

unda

ção

– In

adm

issi

bilid

ade

– C

asa

adqu

irid

a qu

e os

tent

ava

obra

s de

stin

adas

à c

onte

nção

de

água

de

chuv

a –

Fato

que

dev

eria

te

r de

sper

tado

a a

tenç

ão d

o ad

quir

ente

– V

erba

ind

evid

a.

Em

enta

Ofi

cial

: [.

..] C

asa

cerc

ada

por

sole

iras

de

conc

reto

, qu

e de

veri

am t

er d

espe

rtad

o a

aten

ção

do a

dqui

rent

e. F

ato

com

um

nas

resi

dênc

ias

situ

adas

ne

sta

rua,

qu

ando

as

ch

uvas

são

mui

to f

orte

s (T

JRJ,

Câm

. C

ív.,

j. 21

.5.2

008,

re

l. D

es. C

arlo

s C

. Lav

igne

de

Lem

os, R

T 8

76/3

45).

O

ra, o

adq

uire

nte

negl

igen

te q

ue p

oste

rior

men

te in

voca

o v

ício

, inc

ide

no

abus

o de

dir

eito

, pa

uta

o ve

nire

con

tra

fact

um p

ropr

ium

na

med

ida

em q

ue o

exer

cíci

o de

sse

dire

ito r

ecla

mad

o é

inco

mpa

tível

com

a s

ua c

ondu

ta o

rigi

nári

a.70

O

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

foi

o q

ue m

ais

evol

uiu

nest

e te

ma.

Tan

to q

ue n

o ar

t. 31

ass

egur

a ao

con

sum

idor

inf

orm

açõe

s co

rret

as,

clar

as e

prec

isas

, os

tens

ivas

e e

m l

íngu

a po

rtug

uesa

, al

ém d

o pr

eço,

gar

antia

, pr

azo

de

valid

ade

e a

orig

em,

de m

odo

incl

usiv

o es

clar

ecim

ento

s so

bre

o ri

sco

que

o

prod

uto

apre

sent

a à

saúd

e e

à se

gura

nça.

A

at

uali

dade

ca

ract

eriz

a-se

pe

la

ofer

ta

de

uma

gam

a in

find

ável

de

prod

utos

e s

ervi

ços.

Alg

uns

sim

ples

, co

mo

a co

mpr

a e

vend

a de

um

a pe

ça d

e

roup

a, o

utro

s de

req

uint

ado

conh

ecim

ento

téc

nico

, as

sim

a

aqui

siçã

o ou

o

70

RO

SE

NV

AL

D, N

elso

n. C

ódig

o C

ivil

com

enta

do, c

oord

enaç

ão d

e C

ezar

Pel

uzo.

Bar

ueri

, SP

: Man

ole,

200

7, p

. 33

5.

90

cons

erto

de

um c

ompu

tado

r ou

mes

mo

de u

m a

utom

óvel

. Aqu

i o

adqu

iren

te, e

m

regr

a, n

ão p

ossu

i co

nhec

imen

to e

spec

ífic

o do

pro

duto

ou

do s

ervi

ço.

Surg

e a

info

rmaç

ão c

om to

da a

for

ça q

ue lh

e em

pres

ta a

teor

ia d

os d

ever

es a

cess

ório

s de

cond

uta.

O

utro

asp

ecto

da

info

rmaç

ão m

erec

e m

edita

ção.

Vár

ias

empr

esas

de

prod

utos

alim

entí

cios

aum

enta

ram

dis

sim

ulad

amen

te o

pre

ço d

e se

us p

rodu

tos,

utili

zand

o ex

pedi

ente

que

fru

stra

va o

dev

er d

e in

form

ar.

Ess

es p

rodu

tos

ante

s

cont

inha

m

cert

a qu

antid

ade,

po

r ex

empl

o,

trez

ento

s gr

amas

e

pass

aram

a

duze

ntos

e c

inqu

enta

gra

mas

com

ide

ntif

icaç

ão e

m l

etra

s m

iúda

s, d

e m

odo

que

os c

onsu

mid

ores

pou

co d

istin

guia

m,

pois

man

tida

a m

esm

a em

bala

gem

com

a

mes

ma

apre

sent

ação

.

Tod

a m

udan

ça q

ue a

carr

eta

aum

ento

de

preç

o, o

u qu

e se

rel

acio

na à

qual

idad

e e

quan

tidad

e, c

ompo

siçã

o do

pro

duto

e a

fins

, de

ve s

er d

esta

cada

par

a

que

poss

a se

r pe

rceb

ida

clar

amen

te.

Ass

im d

eter

min

a a

info

rmaç

ão s

ufic

ient

e,

aque

la q

ue p

ode

ser

cons

tata

da à

pri

mei

ra v

ista

. Já

ultr

apas

sada

a f

ase

em q

ue e

ra

com

um a

om

issã

o, a

pre

cari

edad

e ou

a a

usên

cia

de i

nfor

maç

ões

rela

tivam

ente

a

dado

s qu

e el

ucid

asse

m o

con

heci

men

to d

o pr

odut

o ou

do

serv

iço

ofer

tado

s.

Ali

ás, a

aus

ênci

a de

info

rmaç

ão s

ufic

ient

e er

a, n

o m

ais

das

veze

s, p

ropo

sita

da.

Fo

i o

acon

teci

do

com

a

indú

stri

a ta

bagi

sta,

des

taca

ndo

adve

rtên

cias

acer

ca d

os d

anos

à s

aúde

, be

m a

inda

edi

tand

o le

is q

ue p

roíb

em o

fum

o em

luga

res

fech

ados

. É o

que

não

aco

ntec

e co

m a

indú

stri

a de

beb

idas

alc

oólic

as, e

m

que

sobr

elev

a o

pode

r ec

onôm

ico

em d

etri

men

to d

o in

tere

sse

soci

al, p

ois

a le

ve

adve

rtên

cia

na s

ua p

ublic

idad

e nã

o co

ndiz

com

as

cons

equê

ncia

s de

sagr

adáv

eis

de s

eu u

so f

requ

ente

. M

orm

ente

as

cons

equê

ncia

s ne

fast

as q

uand

o es

sa e

spéc

ie

de b

ebid

a é

asso

ciad

a à

dire

ção

de v

eícu

los,

con

form

e de

mon

stra

m d

e m

anei

ra

irre

frag

ável

as

esta

tíst

icas

. T

anto

ass

im,

as e

diçõ

es d

a L

ei n

º 11

.705

e D

ecre

tos

nºs

6.48

8 e

6.48

9, t

odos

de

19 d

e ju

lho

de 2

008,

e r

ecen

tem

ente

a L

ei n

°

Page 46: Aulas de Direito das Obrigações

91

12.7

60/1

2,

disp

ondo

sob

re r

estr

içõe

s à

com

erci

aliz

ação

de

bebi

das

alco

ólic

as.

Tod

avia

, se

per

mit

e a

publ

icid

ade

exag

erad

a de

cer

veja

com

men

sage

ns s

ub-

rept

ícia

s de

alt

o te

or p

sico

lógi

co,

colo

cand

o-a

com

o in

gred

ient

e co

stum

eiro

que

traz

sat

isfa

ção

na c

onve

rsa

desp

reoc

upad

a, n

a al

egri

a em

enc

ontr

os d

a ju

vent

ude,

onde

jov

ens

saud

ávei

s de

cor

po a

tlét

ico

apar

ecem

com

um

fra

sco

nas

mão

s,

faze

ndo

esqu

ecer

a b

arri

ga p

roem

inen

te q

ue a

dvém

ao

cons

umid

or c

ontu

maz

.

Com

a p

alav

ra o

legi

slad

or q

ue te

m s

e m

ostr

ado

omis

so.

O

aco

nsel

ham

ento

é a

lgo

mai

s. P

rópr

io d

o té

cnic

o, d

o es

peci

alis

ta.

O

advo

gado

con

sult

ado

pelo

clie

nte

acon

selh

a-o,

poi

s se

ndo

espe

cial

ista

sob

re a

mat

éria

em

apr

eço

deve

tec

er o

s ar

gum

ento

s fa

vorá

veis

e c

ontr

ário

s, a

lert

ando

o

clie

nte

dos

perc

alço

s qu

e po

derá

enf

rent

ar n

o cu

rso

da d

eman

da.

É m

ais

que

info

rmaç

ão.

E

m s

uma,

a o

mis

são

de i

nfor

maç

ão o

u de

aco

nsel

ham

ento

con

stitu

i o

dolo

por

om

issã

o co

mo

prov

iden

cia

o ar

t. 14

7 do

Cód

igo

Civ

il: “

Nos

neg

ócio

s

jurí

dico

s bi

late

rais

, o

silê

ncio

int

enci

onal

de

uma

das

part

es a

res

peit

o de

fat

o

ou

qual

idad

e qu

e a

outr

a pa

rte

haja

ig

nora

do,

cons

titu

i om

issã

o do

losa

,

prov

ando

-se

que

sem

ela

o n

egóc

io n

ão s

e te

ria

cele

brad

o.”

b) F

ase

de c

oncl

usão

do

cont

rato

N

a fa

se d

a co

nclu

são

ou c

onst

itui

ção

do c

ontr

ato

a bo

a-fé

obj

etiv

a

sign

ific

a o

deve

r de

neg

ocia

r qu

e lim

ita

a lib

erda

de d

e nã

o co

ntra

tar,

ou

seja

, a

recu

sa d

e m

á-fé

de

honr

ar a

ofe

rta

esta

mpa

da n

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l.

A

em

pres

a C

ica,

pr

odut

ora

de

mas

sa

de

tom

ates

, co

mo

nos

anos

ante

rior

es,

dist

ribu

iu g

ratu

itam

ente

aos

peq

ueno

s ag

ricu

ltor

es d

o R

io G

rand

e do

Sul

sem

ente

s de

tom

ates

. F

eita

a c

olhe

ita n

egou

-se

a co

mpr

ar a

pro

duçã

o,

aleg

ando

já p

ossu

ir o

fru

to e

m q

uant

idad

e su

fici

ente

par

a a

sua

dem

anda

. Ant

e o

prej

uízo

so

frid

o po

r nã

o co

nseg

uir

mer

cado

co

nsum

idor

, os

ag

ricu

ltore

s

92

ingr

essa

ram

co

m

açõe

s de

pe

rdas

e

dano

s,

quan

do

aleg

aram

ru

ptur

a da

s

nego

ciaç

ões

e a

cons

eque

nte

frus

traç

ão d

e su

as l

egíti

mas

exp

ecta

tivas

bas

eada

s

na c

onfi

ança

da

real

izaç

ão d

o ne

góci

o co

mo

acon

teci

do n

os a

nos

prec

eden

tes.

As

açõe

s fo

ram

jul

gada

s pr

oced

ente

s, t

endo

por

fun

dam

ento

o p

rinc

ípio

da

boa-

obje

tiva

(TJR

S,

apel

açõe

s 59

1.02

7.81

8;

591.

028.

725;

59

1.02

8.74

1;

591.

028.

790)

.

O

C

ódig

o C

ivil

port

uguê

s te

m

mod

elar

di

spos

itivo

. N

o ar

t. 22

prov

iden

cia:

“Q

uem

neg

ocia

com

out

rem

par

a co

nclu

são

de u

m c

ontr

ato

deve

,

tant

o no

s pr

elim

inar

es c

omo

na f

orm

ação

del

e, p

roce

der

segu

ndo

as r

egra

s da

boa-

fé,

sob

pena

de

resp

onde

r pe

los

dano

s qu

e cu

lpos

amen

te c

ausa

r à

outr

a

part

e.”

A

firm

a-se

com

Ant

unes

Var

ela,

o s

impl

es i

níci

o de

neg

ocia

is c

ria

entr

e

as p

arte

s os

dev

eres

ace

ssór

ios

de p

robi

dade

e d

e le

alda

de,

dign

os d

e tu

tela

jurí

dica

. Con

tudo

, por

mai

s ce

nsur

ável

que

sej

a a

rupt

ura

das

nego

ciaç

ões

ness

a

fase

pré

-con

trat

ual,

não

se c

hega

ao

extr

emo

de o

brig

ar a

cel

ebra

ção

do c

ontr

ato,

mas

im

põe

a in

deni

zaçã

o pa

ra c

obri

r as

des

pesa

s fe

itas

pela

par

te p

reju

dica

da

ante

a f

rust

raçã

o in

just

ific

ada

do n

egóc

io.71

Sol

ução

abr

açad

a pe

lo o

rden

amen

to

jurí

dico

pát

rio,

em

bora

não

ost

ente

de

form

a di

reta

um

art

igo

de le

i nes

se te

or.

c) F

ase

de e

xecu

ção

do c

ontr

ato

N

a fa

se

de

exec

ução

do

co

ntra

to

enfa

tiza

-se

o de

ver

aces

sóri

o de

coop

eraç

ão e

ntre

as

part

es.

O d

eved

or c

oope

ra c

om o

cre

dor

ao p

roce

der

de

form

a co

eren

te p

ara

o ad

impl

emen

to d

e su

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

, pa

utan

do a

prob

idad

e ex

igid

a em

ca

da

caso

co

ncre

to.

Pre

vale

ce

a m

áxim

a pa

cta

sunt

serv

anda

; ca

be a

o de

vedo

r en

vida

r es

forç

os a

fim

de

sati

sfaz

er o

dir

eito

do

cred

or n

o lu

gar,

no

tem

po e

no

mod

o av

ença

dos.

71

VA

RE

LA

, Ant

unes

. Das

obr

igaç

ões

em g

eral

, vol

. I, 1

0 ed

. Coi

mbr

a: A

lmed

ina,

200

0, p

. 270

e 2

71.

Page 47: Aulas de Direito das Obrigações

93

O

cre

dor,

por

sua

vez

, ta

mbé

m d

eve

paut

ar a

pro

bida

de,

cola

bora

ndo

de

man

eira

esp

ecia

l em

não

dif

icul

tar

a ex

ecuç

ão d

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

e n

ão

agra

var

a ob

riga

ção

do

deve

dor,

ex

igin

do

mai

s do

qu

e o

cons

entid

o pe

la

equi

dade

ou

pelo

sen

so d

e ju

stiç

a. E

nsin

a a

resp

eito

Pie

tro

Perl

ingi

eri:

A o

brig

ação

não

se

iden

tific

a no

dir

eito

ou

nos

dire

itos

do

cred

or;

ela

conf

igur

a-se

cad

a ve

z m

ais

com

o um

a re

laçã

o de

co

oper

ação

. Is

so

impl

ica

uma

mud

ança

ra

dica

l de

pe

rspe

ctiv

a de

le

itura

da

di

scip

lina

das

obri

gaçõ

es:

esta

úl

tim

a nã

o de

ve

ser

cons

ider

ada

o es

tatu

to

cred

or;

a co

oper

ação

, e

um d

eter

min

ado

mod

o de

se

r, s

ubst

itui

a su

bord

inaç

ão

e o

cred

or

se

torn

a tit

ular

de

ob

riga

ções

ge

néri

cas

ou e

spec

ífic

as d

e co

oper

ação

ao

adim

plem

ento

do

deve

dor.

72

É c

omo

disp

õe a

liçã

o do

s tr

ibun

ais:

O

dev

er d

e as

sist

ênci

a, d

e co

oper

ação

ent

re o

s co

ntra

tant

es

deco

rre

do p

rinc

ípio

da

boa-

fé e

vis

a à

gara

ntia

da

étic

a à

rela

ção

obri

gaci

onal

, be

m c

omo

o co

rret

o ad

impl

emen

to d

a ob

riga

ção

(TR

F –

4ª R

egiã

o, 4

ª T

., j.

20.8

.200

3, r

el.

Des

. Fe

dera

l Val

dem

ar C

apel

etti,

RT

819

/379

).

Dia

nte

dess

e en

tend

imen

to a

obr

igaç

ão n

ão p

ode

ser

redu

zida

ape

nas

sob

o po

nto

de v

ista

neg

ativ

o, a

quel

e qu

e ex

ige

de a

s pa

rtes

abs

tere

m-s

e de

qua

lque

r

cond

uta

que

colo

que

em r

isco

ou

difi

culte

o c

umpr

imen

to d

o co

ntra

to. S

eria

um

a

redu

ção

inco

mpa

tível

co

m

o se

u su

peri

or

sign

ific

ado.

E

la

está

co

met

ida,

tam

bém

, de

um

a co

nota

ção

subs

tant

iva,

um

a pa

rte

deve

ag

ir

de

form

a a

cont

ribu

ir

para

co

m

a ou

tra

na

exec

ução

da

ob

riga

ção.

A

porq

ue o

se

u

fund

amen

to m

aior

é o

pri

ncíp

io c

onst

ituci

onal

da

soli

dari

edad

e (C

F a

rt.

3º,

inc.

I).

“Tal

o e

nten

dim

ento

que

dev

e no

rtea

r o

estu

do d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s,

72

PE

RL

ING

IER

I, P

ietr

o. P

erfis

de

dire

ito

civi

l. T

radu

ção

de M

aria

Cri

stin

a D

e C

icco

. Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 20

02, p

. 212

.

94

anal

isan

do

em

uma

pers

pect

iva

dinâ

mic

a e

func

iona

l, em

qu

e av

ulta

a

nece

ssid

ade

de c

oope

raçã

o pe

rman

ente

ent

re o

s ce

ntro

s de

int

eres

se d

a re

laçã

o

obri

gaci

onal

, à lu

z da

sol

idar

ieda

de c

onst

ituci

onal

.”73

V

on T

uhr

põe

a liç

ão: “

O c

redo

r se

con

stitu

i tam

bém

em

mor

a qu

ando

se

nega

a r

eali

zar

os a

tos

prep

arat

ório

s qu

e co

ncor

ram

a s

eu c

argo

, e s

em o

s qu

ais

o

deve

dor

não

pode

cum

prir

a p

rest

ação

obr

igac

iona

l qu

e lh

e in

cum

be”.

74 S

ão

exem

plos

as

obri

gaçõ

es d

e da

r co

isa

ince

rta

e as

alt

erna

tiva

s no

cas

o em

que

a

esco

lha

coub

er a

o cr

edor

; se

ele

não

a f

izer

o d

eved

or n

ão t

em c

omo

adim

plir

a

pres

taçã

o. I

gual

men

te, n

as o

brig

açõe

s em

que

o p

agam

ento

dev

e se

r re

aliz

ado

no

dom

icíl

io d

o de

vedo

r, c

umpr

indo

ao

cred

or i

r bu

scá-

lo.

É o

teo

r do

Enu

ncia

do

168

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rio

da J

usti

ça F

eder

al:

“O p

rinc

ípio

da

boa-

obje

tiva

im

port

a o

reco

nhec

imen

to d

e um

dir

eito

a c

umpr

ir a

fav

or d

o ti

tula

r

pass

ivo

da o

brig

ação

.”

Po

rtan

to,

no d

ever

ace

ssór

io d

e co

ndut

a de

nom

inad

o de

coo

pera

ção

deve

dor

e cr

edor

as

soci

am-s

e,

um

com

o

outr

o,

para

al

canç

ar

bene

fíci

os

recí

proc

os n

a re

part

ição

de

deve

res

recí

proc

os.

É a

pon

dera

ção

de L

uiz

Otá

vio

de O

livei

ra A

mar

al: “

na c

oope

raçã

o, o

vet

or é

o s

entim

ento

de

solid

arie

dade

dos

hom

ens.

”75

d) F

ase

pós-

cont

ratu

al

N

a fa

se p

ós-c

ontr

atua

l, se

gund

o a

regr

a ge

ral,

a ex

ecuç

ão d

o co

ntra

to

alfo

rria

as

part

es;

find

o o

negó

cio

jurí

dico

as

rela

ções

del

e or

iund

as e

xtin

guem

-

se. T

odav

ia, e

m d

eter

min

adas

sit

uaçõ

es p

erse

vera

m c

erto

s de

vere

s ac

essó

rios

de

73

TE

PE

DIN

O e

t alt

. Cód

igo

Civ

il in

terp

reta

do c

onfo

rme

a C

onst

itui

ção

Fed

eral

. Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 200

4,

p. 4

94.

74 T

UH

R,

Von

. Tr

atad

o de

las

obl

igac

ione

s, p

rim

eira

edi

cion

, tr

aduz

ido

do a

lem

ão p

or W

. R

oces

. M

adri

d:

Edi

tori

al R

éus,

tom

o II

, p. 6

3, tr

aduç

ão li

vre

do s

egui

nte

text

o: “

El a

cree

dor

se c

onti

tuye

tam

bien

en

mor

a cu

ando

se

nie

gue

a re

aliz

ar l

os a

tos

prep

arat

orio

s qu

e co

rran

a c

argo

suy

o y

sin

los

cual

es e

l de

udor

no

pued

e cu

mpl

ir l

a pr

esta

ción

que

le in

cum

be.”

75

AM

AR

AL

, Lui

z O

távi

o de

Oli

veir

a. T

eori

a G

eral

do

Dir

eito

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

6, p

. 18.

Page 48: Aulas de Direito das Obrigações

95

cond

uta

entr

e as

par

tes.

É a

des

igna

da r

espo

nsab

ilid

ade

post

fac

tum

fin

itum

ou

sim

ples

men

te p

ós-c

ontr

atua

l.

O

s m

agaz

ines

mai

s so

fist

icad

os o

fere

cem

pro

duto

s da

mod

a fe

min

ina,

por

exem

plo,

rou

pas

de g

rife

com

o ex

clus

ivas

. Div

ulga

m q

ue c

ada

vest

ido,

blu

sa

ou o

utra

peç

a da

ves

tim

enta

, é

prod

uzid

a em

ape

nas

uma

unid

ade

por

mod

elo.

Não

pod

e de

pois

ofe

rece

r a

mes

ma

peça

a o

utro

s cl

ient

es.

A l

iter

atur

a ju

rídi

ca

põe

o ex

empl

o: a

can

tora

e a

triz

Mad

ona

adqu

iriu

com

o ún

ica

a jó

ia q

ue u

sou

na

fest

a de

seu

cas

amen

to.

Apó

s, a

rel

ojoa

ria

prod

uziu

jói

as i

dênt

icas

e a

s co

loco

u

no m

erca

do. P

aten

te a

fal

ta d

e bo

a-fé

obj

etiv

a po

st fa

ctum

fini

tum

.

A

ntôn

io J

unqu

eira

de

Aze

vedo

ret

ira

do l

usit

ano

Men

ezes

Jun

quei

ra t

rês

situ

açõe

s, u

ma

dela

s é

a se

guin

te:

o pr

opri

etár

io d

e um

pré

dio

de h

otel

pro

curo

u

o m

elho

r e

mai

s ba

rato

tip

o de

car

pete

. E

scol

heu

a fo

rnec

edor

a qu

e of

erec

eu o

men

or p

reço

, m

as c

omo

a em

pres

a nã

o fa

zia

a co

loca

ção,

ind

icou

um

a pe

ssoa

com

prá

tica

para

tan

to.

Dei

xou,

con

tudo

, de

inf

orm

ar q

ue o

car

pete

era

de

um

tipo

novo

, di

fere

nte.

O c

oloc

ador

de

carp

ete

usou

col

a in

adeq

uada

e,

sem

anas

depo

is,

todo

car

pete

est

ava

estr

agad

o. A

for

nece

dora

arg

uiu

que

cum

priu

o

cont

rato

, en

treg

ando

o c

arpe

te a

dqui

rido

e a

inda

fez

o f

avor

de

reco

men

dar

o

colo

cado

r.76

N

o en

tant

o, p

ela

regr

a da

boa

-fé

obje

tiva

a fo

rnec

edor

a ne

glig

enci

ou,

deve

ria

ao m

enos

ter

adv

erti

do a

pro

pósi

to d

o no

vo t

ipo

de c

arpe

te,

espé

cie

do

deve

r de

info

rmar

. O e

pisó

dio

dem

onst

ra q

ue a

des

ídia

, na

fase

pré

-con

trat

ual

de

info

rmar

, con

duz

a re

spon

sabi

lida

de p

ós-c

ontr

atua

l.

O

utro

dev

er a

cess

ório

de

cond

uta,

com

um n

o po

st f

actu

m f

init

um, é

o d

e

man

ter

sigi

lo s

obre

alg

uma

cois

a ou

alg

um f

ato

que

um d

os c

ontr

atan

tes

tom

a

76

AZ

EV

ED

O, A

ntôn

io J

unqu

eira

. Est

udos

e p

arec

eres

de

dire

itos

pri

vado

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

004,

p.1

51 e

15

2.

96

conh

ecim

ento

da

outr

a pa

rte,

co

nstit

uind

o-se

em

mai

s um

exe

mpl

o do

dev

er

nega

tivo:

obr

igaç

ão d

e nã

o fa

zer.

A

ter

ceir

a fu

nção

da

boa-

fé o

bjet

iva

é a

de c

ontr

ole

com

o li

mit

e ao

exer

cíci

o do

s di

reit

os s

ubje

tivos

, co

mo

prov

iden

cia

o ar

t. 18

7 do

Cód

igo

Civ

il.

Tra

ta-s

e do

abu

so d

e di

reito

, qua

ndo

se e

xtra

pola

m o

s li

mit

es i

mpo

stos

pel

o fi

m

econ

ômic

o e

soci

al,

pela

boa

-fé

e pe

los

bons

cos

tum

es.

Avu

ltam

as

figu

ras

do

veni

re c

ontr

a fa

ctum

pro

priu

m e

do

tu q

uoqu

e, p

oden

do a

cres

cent

ar a

aem

ulat

io.

e) V

enir

e co

ntra

fact

um p

ropr

ium

E

mbo

ra j

á re

feri

do v

ale

deta

lhar

. O

ven

ire

cont

ra f

actu

m p

ropr

ium

dei

ta

orig

em n

o D

irei

to C

anôn

ico,

que

ina

dmit

e a

adoç

ão d

e co

ndut

as c

ontr

aditó

rias

.

É r

egra

de

coer

ênci

a. V

eda

que

algu

ém a

ja e

m d

eter

min

ado

mom

ento

de

cert

a

man

eira

par

a, e

m m

omen

to p

oste

rior

, ag

ir d

e fo

rma

cont

rári

a in

do c

ontr

a o

com

port

amen

to t

omad

o em

pri

mei

ro l

ugar

. Im

agin

a-se

um

con

trat

o de

loc

ação

em q

ue é

pro

ibid

a a

subl

ocaç

ão c

om a

qua

l, no

ent

anto

, o

loca

dor

cons

inta

taci

tam

ente

. Em

mom

ento

pos

teri

or, e

le n

ão p

oder

á re

quer

des

pejo

pel

a vi

olaç

ão

dess

a cl

áusu

la. S

eria

vir

con

tra

os s

eus

próp

rios

pas

sos.

Segu

ro S

aúde

. Clá

usul

a de

lim

itaç

ão d

e re

embo

lso.

Neg

ativ

a de

ree

mbo

lso

inte

gral

de

desp

esas

com

hon

orár

ios

méd

icos

ba

sead

a em

eq

uaçã

o de

su

post

a di

fíci

l co

mpr

eens

ão.

Con

trat

o co

mpl

emen

tado

po

r m

anua

l do

us

uári

o e

por

com

port

amen

to

conc

lude

nte

das

part

es,

que

por

ano

util

izar

am

do

reem

bols

o pa

rcia

l. B

oa-f

é ob

jeti

va.

Ven

ire

cont

ra

fact

um

prop

rium

. Im

poss

ibili

dade

de

co

ndut

a co

ntra

ditó

ria,

par

a fi

ns d

e qu

estio

nar

supo

sta

com

plex

idad

e da

clá

usul

a so

men

te q

uand

o ac

omet

ida

de g

rave

doe

nça,

co

m

reem

bols

o qu

e ob

edec

eu

os

mes

mos

pa

râm

etro

s an

teri

orm

ente

ace

itos

pala

s pa

rtes

. R

efor

ma

da s

ente

nça,

le

vand

o em

con

ta a

s ci

rcun

stân

cias

do

caso

con

cret

o (T

JSP,

C

âm.

de

Dir

. Pr

ivad

o,

Ape

laçã

o nº

02

2069

2-

Page 49: Aulas de Direito das Obrigações

97

86.2

007.

8.26

.010

0,

rel.

Des

. Fr

anci

sco

Lou

reir

o,

j. 24

.2.2

011)

.

N

este

sen

tido

o E

nunc

iado

362

do

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

o da

Just

iça

Fede

ral:

“A v

edaç

ão d

o co

mpo

rtam

ento

con

trad

itór

io (

veni

re c

ontr

a

fact

um p

ropr

im)

fund

a-se

na

prot

eção

da

conf

ianç

a, t

al c

omo

se e

xtra

i do

s ar

ts.

187

e 42

2 do

Cód

igo

Civ

il.”

Por

con

segu

inte

, a c

onfi

ança

pod

e se

r fr

ustr

ada

por

ato

com

issi

vo,

no c

aso

de s

e ag

uard

ar q

ue d

eter

min

ada

cond

uta

será

ado

tada

,

com

o po

r at

o om

issi

vo n

o ca

so d

e qu

e na

da s

erá

feit

o co

mo

no e

xem

plo

acim

a

da lo

caçã

o.77

f) T

u qu

oque

O

tu

quoq

ue g

uard

a al

usão

a c

eleb

re f

rase

do

impe

rado

r ro

man

o Jú

lio

Ces

ar q

uand

o di

stin

gue

seu

filh

o ad

otiv

o M

arco

Bru

to,

entr

e os

seu

s al

goze

s, a

sign

ific

ar “

até

você

”? S

e na

exe

cuçã

o de

um

con

trat

o al

guém

vio

la u

ma

norm

a

jurí

dica

, nã

o po

de

post

erio

rmen

te

tent

ar

tira

r pr

ovei

to

da

situ

ação

em

se

u

bene

fíci

o. É

a a

lega

ção

da p

rópr

ia t

orpe

za,

veda

da p

elo

dire

ito:

nem

o au

ditu

r

prop

rium

tu

rpit

udin

em.

O

art.

1.81

4,

inc.

II

I,

do

Cód

igo

Civ

il é

hipó

tese

mar

cant

e: s

e o

herd

eiro

ou

lega

tári

o, p

or v

iolê

ncia

ou

mei

os f

raud

ulen

tos,

ini

be

ou o

bsta

o a

utor

da

hera

nça

a di

spor

liv

rem

ente

de

seus

ben

s po

r at

o de

últi

ma

vont

ade,

não

pod

erá,

dep

ois,

par

ticip

ar d

a he

ranç

a. T

ambé

m q

uem

pos

sui

um

bem

de

má-

fé (

sabe

que

sua

pos

se é

vio

lent

a, c

land

estin

a ou

pre

cári

a),

não

tem

dire

ito

de r

eten

ção

da i

mpo

rtân

cia

das

benf

eito

rias

nec

essá

rias

, ne

m p

oder

á

leva

ntar

as

volu

ptuá

rias

(C

C a

rt.

1.22

0).

Nos

doi

s ex

empl

os a

con

duta

ini

cial

é

ilíci

ta, e

del

a nã

o po

de ti

rar

prov

eito

pró

prio

em

mom

ento

pos

teri

or.78

77

DU

AR

TE

, R

onni

e P

reus

s. B

oa-f

é, a

buso

de

dire

ito

e o

novo

cód

igo

civi

l br

asil

eiro

. R

T 8

17,

nove

mbr

o de

20

03, p

. 72.

78

Par

a A

ntôn

io J

unqu

eira

de

Aze

vedo

apl

ica-

se o

tu

quoq

ue n

a ex

ceçã

o do

con

trat

o nã

o cu

mpr

ido

(Est

udos

e

pare

cere

s de

dir

eito

pri

vado

. Sã

o P

aulo

: S

arai

va,

2004

, p.

169

). É

est

e en

tend

imen

to d

e T

eres

a N

egre

iros

(P

rinc

ípio

s do

dir

eito

civ

il c

onte

mpo

râne

o, c

oord

enaç

ão d

e M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orae

s. R

io d

e Ja

neir

o:

Ren

ovar

, 200

6, p

. 236

). P

ara

Ron

nie

Pre

uss

Dua

rte

esta

s du

as f

igur

as n

ão s

e co

nfun

dem

, poi

s en

quan

to a

exc

eção

98

Em

con

trat

o de

em

prés

tim

o ba

ncár

io,

que

por

ato

atri

buíd

o à

próp

ria

inst

ituiç

ão n

ão f

oi i

nfor

mad

a a

cond

ição

de

func

ioná

rio

públ

ico

efet

ivo,

o b

anco

pret

ende

u m

odif

icar

a p

rátic

a de

cob

ranç

a de

jur

os a

nter

iorm

ente

con

trat

ada,

deci

diu

o T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a do

Est

ado

de M

inas

Ger

ais:

Se a

con

diçã

o de

ser

fun

cion

ário

púb

lico

efe

tivo

não

esta

ex

pres

sa n

o co

nvên

io e

não

é i

nfor

mad

a pr

evia

men

te p

elo

banc

o ao

con

trat

ante

, nã

o po

de a

ins

titui

ção

fina

ncei

ra s

e be

nefi

ciar

de

sta

sua

omis

são

para

, ap

ós

forn

ecer

o

empr

ésti

mo,

pra

tica

r ta

xas

mai

ores

em

vir

tude

da

dist

inçã

o en

tre

efet

ivos

e

cont

rata

dos.

V

edaç

ão

ao

tu

quoq

ue.

A

rest

riçã

o de

cr

édito

do

de

vedo

r,

deco

rren

te

do

desc

onhe

cim

ento

con

trat

ual

pelo

pró

prio

cre

dor,

que

apl

ica

taxa

s su

peri

ores

àqu

elas

ant

erio

rmen

te o

fere

cida

s, a

busa

de

dire

ito e

não

enc

ontr

a ar

rim

o na

esc

usa

do e

xerc

ício

reg

ular

de

um

dir

eito

. D

ano

mor

al e

xist

ente

(T

JMG

, 11

ª C

âm.,

Ape

laçã

o C

ível

1.06

1.07

.050

484-

8/00

1, r

el. D

es. M

arce

lo

Rod

rigu

es, j

. 21.

5.20

08).

H

ouve

, no

caso

, a v

iola

ção

do d

ever

ane

xo d

e in

form

ação

suf

icie

nte,

que

cabi

a ao

ban

co,

não

pode

ria,

poi

s, e

m m

omen

to p

oste

rior

val

er-s

e da

pró

pria

omis

são,

tira

ndo

prov

eito

em

seu

ben

efíc

io.

g)

Aem

ulat

io

A

ae

mul

atio

, no

ve

rnác

ulo

emul

ação

, es

tabe

leci

da

desd

e o

Dir

eito

Rom

ano,

sur

ge s

empr

e qu

e o

exer

cíci

o re

gula

r de

um

dir

eito

tem

por

esc

opo

não

a sa

tisf

ação

de

uma

nece

ssid

ade

de

seu

titul

ar,

com

o fo

rma

de l

he

traz

er

dete

rmin

ada

vant

agem

, m

as o

fir

me

prop

ósito

de

caus

ar d

ano

a ou

trem

. É

a

riva

lida

de m

aldo

sa, a

von

tade

dol

osa

de p

reju

dica

r. O

dir

eito

pro

cess

ual

civi

l dá

o ex

empl

o na

litig

ânci

a de

má-

fé, c

onsi

sten

te d

o in

gres

so e

m j

uízo

sem

que

haj

a

qual

quer

fun

dam

ento

jur

ídic

o,

apen

as

com

a i

nten

ção

delib

erad

a de

cau

sar

do c

ontr

ato

não

cum

prid

o ex

ige

a si

nalá

gma,

o t

u qu

oque

ind

epen

de d

e pr

esta

ções

cor

resp

ecti

vas

(Boa

-fé,

abu

so

de d

irei

to e

o n

ovo

CC

bra

sile

iro,

in R

T 8

17/7

3 e

74).

Page 50: Aulas de Direito das Obrigações

99

prej

uízo

alh

eio.

No

Dir

eito

Em

pres

aria

l a

conc

orrê

ncia

des

leal

. No

Dir

eito

Pen

al

a de

nunc

iaçã

o ca

luni

osa,

que

no

Dir

eito

Civ

il d

á en

sanc

has

à re

para

ção

por

dano

mor

al.

Res

pons

abil

idad

e ci

vil

– A

ção

de r

epar

ação

de

dano

mor

al.

1 –

A r

epre

sent

ação

cri

min

al f

unda

da n

a al

egaç

ão d

e “c

rim

e de

am

eaça

”, q

uand

o in

tent

a co

m t

emer

idad

e, d

olo

ou m

á-fé

, as

sim

com

o de

spro

vida

de

pres

supo

stos

leg

ais

e fá

tico

s, a

o co

nstr

ange

r o

repr

esen

tado

a

resp

onde

r po

r in

quér

ito

polic

ial,

post

erio

rmen

te a

rqui

vado

por

sen

tenç

a, a

figu

ra-s

e co

mo

lesi

va a

o pa

trim

ônio

mor

al e

jurí

dico

do

repr

esen

tado

. II

– O

corr

ênci

a, n

a hi

póte

se, d

e ev

ento

dan

oso,

cul

pa e

nex

o de

cau

salid

ade

entr

e a

cond

uta

do a

gent

e e

a of

ensa

à e

sfer

a ju

rídi

ca e

mor

al d

a pe

ssoa

do

repr

esen

tado

, a

ense

jar,

por

co

nseg

uint

e, o

dev

er d

e in

deni

zar

[...]

(T

JCE

, 2ª C

âm. C

ível

, re

l. D

es.

José

M

auri

M

oura

R

ocha

, j.

10.1

1.19

99,

RJ

268/

116)

.

A

em

ulaç

ão r

esid

e ex

atam

ente

na

vont

ade

delib

erad

a de

pre

judi

car

o

repr

esen

tado

por

um

cri

me

sabi

dam

ente

que

ele

não

o c

omet

eu, t

endo

por

esc

opo

apen

as

prej

udic

á-lo

. T

anto

qu

e é

dire

ito

de

qual

quer

ci

dadã

o le

var

ao

conh

ecim

ento

da

auto

rida

de p

olic

ial

a oc

orrê

ncia

de

um f

ato

tipif

icad

o co

mo

crim

e. A

not

itia

cri

min

is,

se d

esti

tuíd

a de

má-

fé,

não

gera

les

ão n

a pe

ssoa

indi

cada

(R

T 8

18/2

73).

5.5

PR

INC

ÍPIO

DA

RE

SPO

NSA

BIL

IDA

DE

PA

TR

IMO

NIA

L

N

o D

irei

to

Rom

ano,

am

estr

a Jo

Car

los

Mor

eira

A

lves

, o

vínc

ulo

exis

tent

e en

tre

o su

jeito

pas

sivo

e o

suj

eito

ativ

o er

a pu

ram

ente

pes

soal

, que

ele

o

cham

a de

mat

eria

l, po

is a

pes

soa

do d

eved

or e

ra s

ubm

etid

a à

vont

ade

do c

redo

r,

send

o qu

e pe

la m

anus

inj

ecti

o pe

rdia

o s

tatu

s li

bert

atis

, ch

egan

do à

cap

itis

dem

inut

io m

axim

a, o

dev

edor

dei

xava

de

ser

cons

ider

ado

pess

oa (

pers

onae

),

torn

ava-

se j

urid

icam

ente

coi

sa (

res)

. É

que

o c

redo

r tin

ha a

act

io i

n pe

rson

am

10

0

cont

ra o

dev

edor

, co

nfor

me

disp

osto

na

Lei

das

XII

Táb

uas.

Mai

s ta

rde,

com

a

ediç

ão d

a L

ex P

oete

lia

Pap

iria

, 32

6 a.

C.,

pass

ou a

ser

um

vín

culo

jur

ídic

o, o

u

um v

íncu

lo r

eal,

que

Mor

eira

Alv

es o

cha

ma

de i

mat

eria

l, re

spon

dend

o pe

lo

débi

to n

ão m

ais

o co

rpo

do d

eved

or,

mas

o s

eu p

atri

môn

io.79

É a

tra

nsiç

ão d

a

pess

oalid

ade

para

a p

atri

mon

ialid

ade

da o

brig

ação

.

O

D

irei

to

med

ieva

l, co

nser

vand

o a

conc

epçã

o ob

riga

cion

al

da

époc

a

clás

sica

, in

trod

uziu

no

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

mai

or t

eor

de e

spir

itual

idad

e,

conf

undi

ndo

mes

mo

com

a id

eia

de p

ecad

o a

falt

a de

exe

cuçã

o da

obr

igaç

ão, q

ue

era

equi

para

da à

men

tira

, co

nden

ada

toda

que

bra

de f

é ju

rada

. Pe

lo a

mor

a

pala

vra

empe

nhad

a,

os

teól

ogos

e

os

cano

nist

as

inst

ituír

am

o re

spei

to

aos

com

prom

isso

s,

a ch

amad

a pa

cta

sunt

se

rvan

da,

que

lhe

inst

ilara

m

mai

or

cont

eúdo

de

m

oral

idad

e co

m

a in

vest

igaç

ão

da

caus

a,

refo

rçan

do

a

patr

imon

ialid

ade.

80

O D

irei

to m

oder

no n

ão a

band

onou

a n

oção

rom

anis

ta.

O C

ódig

o de

Nap

oleã

o (C

ódig

o C

ivil

fran

cês

de

1804

ai

nda

em

vigo

r),

insp

irad

or

das

codi

fica

ções

do

culo

X

IX

e in

ício

do

culo

X

X,

firm

ou

a po

siçã

o de

patr

imon

ialid

ade

das

obri

gaçõ

es a

o es

tabe

lece

r no

art

. 2.

093

que

os b

ens

do

deve

dor

são

a ga

rant

ia d

e se

us c

redo

res.

H

odie

rnam

ente

per

seve

ra a

exe

cuçã

o re

al p

or r

ecai

r so

bre

o pa

trim

ônio

do

deve

dor.

Con

tudo

rem

anes

ce r

esqu

ício

sob

re a

exe

cuçã

o pe

ssoa

l ap

enas

em

um

caso

no

art.

5º,

inc.

LX

VII

, da

Con

stitu

ição

Fed

eral

, qu

ando

da

recu

sa d

e

alim

ento

s,81

de

sort

e a

alus

ão a

o de

posi

tári

o in

fiel

, po

r nã

o co

nsta

r do

Pac

to d

e

São

José

da

Cos

ta R

ica,

não

mai

s su

bsis

te d

epoi

s da

Em

enda

Con

stitu

cion

al 4

5.

79

AL

VE

S, J

osé

Car

los

Mor

eira

. Dir

eito

rom

ano,

vol

ume

1, 6

ed.

Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

3, p

. 121

e v

olum

e 2,

p. 1

0.

80 P

ER

EIR

A,

Cai

o M

ário

da

Silv

a. I

nsti

tuiç

ão d

e di

reit

o ci

vil:

vol

ume

II:

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

, 22

ed.

, at

ual.

por

Gui

lher

me

Cal

mon

Nog

ueir

a da

Gam

a. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

009,

p. 1

1.

81 S

úmul

a 30

9 do

ST

J: “

O d

ébito

ali

men

tar

que

auto

riza

a p

risã

o ci

vil

do a

lim

enta

nte

é o

que

com

pree

nde

as tr

ês

pres

taçõ

es a

nter

iore

s à

cita

ção

e as

que

ven

cere

m n

o cu

rso

do p

roce

sso”

.

Page 51: Aulas de Direito das Obrigações

10

1

C

omo

cons

igna

do,

prev

eja

o ar

t. 39

1 do

C

ódig

o C

ivil:

“P

elo

adim

plem

ento

da

s ob

riga

ções

re

spon

dem

to

dos

os

bens

do

de

vedo

r.”

A

inte

rpre

taçã

o de

ste

disp

ositi

vo

não

deve

se

r le

vada

no

se

ntid

o dr

acon

iano

.

Em

bora

a

men

ção

de

que

todo

s os

be

ns

do

deve

dor

resp

onde

m

pelo

inad

impl

emen

to, n

a ve

rdad

e, a

lei

est

abel

ece

lim

ites

. A r

igor

, nem

tod

os o

s be

ns

são

alca

nçad

os. A

qui s

e ve

rifi

ca o

diá

logo

das

fon

tes

(int

ecom

plem

enta

rida

de):

o

Dir

eito

Civ

il de

ve s

er in

terp

reta

do e

m c

onju

nto

com

o D

irei

to P

roce

ssua

l C

ivil

e

com

a le

i esp

ecia

l.

N

ão s

ão a

lcan

çado

s os

ben

s de

scri

tos

no a

rt.

649

do C

ódig

o de

Pro

cess

o

Civ

il, a

inda

os

bens

de

fam

ília

ass

im c

onsi

dera

dos

pela

Lei

n.

8.00

9, d

e 29

de

mar

ço d

e 19

90,

bem

com

o aq

uele

s pr

evis

tos

a pa

rtir

do

art.

1.71

1 do

Cód

igo

Civ

il, p

ois

um te

rço

do p

atri

môn

io lí

quid

o po

de s

er r

eser

vado

, med

iant

e es

critu

ra

públ

ica

ou t

esta

men

to,

com

o be

m d

e fa

míli

a, m

antid

a a

impe

nhor

abili

dade

do

imóv

el q

ue s

e pr

esta

com

o do

mic

ílio

fam

ilia

r.

R

ecen

tem

ente

, o

Supe

rior

Tri

buna

l de

Jus

tiça

ente

ndeu

que

em

cas

o de

inad

impl

emen

to d

e dí

vida

ali

men

tar

não

prev

alec

e a

rese

rva

de b

em d

e fa

míl

ia.

N

ão h

á de

sur

pree

nder

, é ju

sta

e eq

uâni

me,

de

mod

o qu

e en

tre

dire

itos

em

colis

ão,

pref

eriu

o E

grég

io C

oleg

iado

op

tar

por

aque

le q

ue

mai

s at

ende

a

dign

idad

e hu

man

a,

não

deix

ar q

uem

ne

cess

ita

de

alim

ento

s ao

de

sam

paro

,

mor

men

te c

onsi

dera

ndo

que

alim

ento

s sã

o es

sênc

ias

à pr

ópri

a su

bsis

tênc

ia d

o

alim

enta

ndo.

N

esse

ent

reta

nto

cum

pre

tran

scre

ver

lúci

da l

ição

de

Cri

stia

no C

have

s de

Fari

as e

Nel

son

Ros

enva

ld:

A

hum

aniz

ação

da

exec

ução

se

apli

ca e

m p

rol

de a

mbo

s os

pa

rcei

ros

obri

gaci

onai

s e

o or

dena

men

to j

uríd

ico

não

pode

, so

b o

pali

o da

tut

ela

à di

gnid

ade

do d

eved

or,

exag

erar

na

tute

la d

o ex

ecut

ado

a po

nto

de f

rust

rar

a le

gíti

ma

expe

ctat

iva

10

2

de c

onfi

ança

do

titu

lar

do c

rédi

to a

cerc

a do

adi

mpl

emen

to.

O m

ínim

o ex

iste

ncia

l rem

ete

à pr

oteç

ão d

o ne

cess

ário

à v

ida

dign

a,

jam

ais

à m

anut

ençã

o de

um

pa

drão

de

vi

da

do

deve

dor

às e

xpen

sas

do s

acri

fíci

o da

pos

ição

jur

ídic

a do

cr

edor

e d

e su

as n

eces

sida

des

econ

ômic

as.82

B

em

por

isso

, es

tes

dois

ci

vili

stas

, lo

go

acim

a da

li

ção

tran

scri

ta,

asse

gura

m q

ue u

ma

inte

rpre

taçã

o do

art

. 391

do

Cód

igo

de P

roce

sso

Civ

il, à

luz

da

herm

enêu

tica

cons

tituc

iona

l, de

man

da

uma

rele

itura

ne

stes

te

rmos

: pe

lo

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s re

spon

dem

tod

os o

s be

ns d

o de

vedo

r qu

e nã

o

alca

ncem

o s

eu p

atri

môn

io m

ínim

o.

5.6

CO

NC

EIT

OS

DE

P

AT

RIM

ON

IAL

IDA

DE

DE

SPA

TR

IMO

NIA

LID

AD

E E

RE

PE

RSO

NA

LID

AD

E

Por

tod

o o

expo

sto,

esp

ecia

lmen

te n

o ap

reço

dos

pri

ncíp

ios

diss

erta

dos,

o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

pós-

mod

erno

tra

z co

nsub

stan

cial

mud

ança

. Pe

rsis

te n

a

idei

a de

pat

rim

onia

lida

de é

o p

atri

môn

io d

o de

vedo

r qu

e ga

rant

e o

cred

or,

e

inov

a co

m a

des

patr

imon

iali

zaçã

o es

tabe

lece

ndo

a su

a re

pers

onal

izaç

ão.

A

des

patr

imon

iali

zaçã

o de

ve s

er e

nten

dida

no

sent

ido

de q

ue o

pat

rim

ônio

não

é o

mot

ivo

da r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

. O

vín

culo

de

dire

ito e

xist

e po

r

caus

a da

s pe

ssoa

s e

dos

seus

int

eres

ses

em c

onst

ituir

, m

odif

icar

ou

extin

guir

dire

itos

, é

o qu

e se

de

nom

ina

de

repe

rson

aliz

ação

da

re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

, qu

e el

ege

a pe

ssoa

com

o m

otiv

o pr

imei

ro d

a tu

tela

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Na

lição

de

Fran

cisc

o A

mar

al,

não

o su

jeito

abs

trat

o do

lib

eral

ism

o

econ

ômic

o, “

mas

o h

omem

con

cret

o da

soc

ieda

de c

onte

mpo

râne

a, n

a bu

sca

de

um h

uman

ism

o so

cial

men

te c

ompr

omet

ido”

, par

a co

mpl

etar

sec

unda

ndo

Lar

enz:

82

FA

RIA

S, C

rist

iano

Cha

ves

e R

OS

EN

VA

LD

, Nel

son.

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

4 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: L

umen

Ju

ris,

200

9, p

. 7.

Page 52: Aulas de Direito das Obrigações

10

3

“res

taur

ar o

pri

mad

o do

hom

em é

o p

rim

eiro

dev

er d

e um

a te

oria

ger

al d

o

dire

ito”

.83

É

a a

firm

ação

de

Mar

ia C

elin

a B

odin

de

Mor

aes

ao d

isse

rtar

sob

re o

impe

rati

vo c

ateg

óric

o de

Kan

t:

Com

põe

o im

pera

tivo

cat

egór

ico

a ex

igên

cia

de q

ue o

ser

hu

man

o ja

mai

s se

ja v

isto

, ou

usa

do,

com

o um

mei

o pa

ra

atin

gir

outr

as

fina

lidad

es,

mas

se

mpr

e se

ja

cons

ider

ado

com

o um

fim

em

si

mes

mo.

Iss

o si

gnif

ica

que

toda

s as

no

rmas

de

corr

ente

s da

vo

ntad

e le

gisl

ador

a do

s ho

men

s pr

ecis

am t

er c

omo

fina

lidad

e o

hom

em,

a es

péci

e hu

man

a co

mo

tal.84

A

des

patr

imon

iali

zaçã

o e

a re

pers

onal

izaç

ão r

epre

sent

am,

de t

al a

rte,

mud

ança

de

eixo

do

patr

imôn

io p

ara

a pe

ssoa

, poi

s a

pess

oa é

val

oriz

ada

com

o o

cent

ro d

o D

irei

to, c

omo

sua

prin

cipa

l des

tinat

ária

e n

ão q

ualq

uer

outr

o va

lor

que

poss

a su

bstit

uí-l

a e

supe

rá-l

a, o

u se

ja, a

pes

soa

é se

mpr

e o

fim

últ

imo

do D

irei

to.

Con

side

rand

o es

sa p

rovi

denc

ial

mud

ança

de

para

digm

a im

puls

iona

da p

or

prin

cípi

os t

ão n

obre

s, a

pre

staç

ão n

ão p

ode

ser

exig

ida

a qu

alqu

er c

usto

, de

ssa

man

eira

o c

redo

r de

ve s

er s

atis

feito

sem

pre

juíz

o do

s di

reito

s da

per

sona

lida

de

do d

eved

or,

mor

men

te a

quel

es d

e na

ture

za c

onst

ituci

onal

. O

cre

dor

cont

inua

,

sim

, as

segu

rado

no

seu

legí

tim

o di

reito

de

a pr

esta

ção

ser

adim

plid

a co

mo

cont

rata

da, t

odav

ia c

aso

exis

ta u

m c

onfr

onto

ent

re o

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

e

os d

irei

tos

mer

amen

te e

conô

mic

os, p

reva

lece

m o

s pr

imei

ros.

Aca

utel

a-se

o d

eved

or c

om a

nec

essi

dade

de

lhe

rese

rvar

um

pat

rim

ônio

mín

imo,

não

lhe

reti

rand

o os

ben

s in

disp

ensá

veis

à m

anut

ençã

o da

s ne

cess

idad

es

prim

ária

s do

ser

hum

ano.

Ess

e ju

ízo

de r

azoa

bilid

ade

não

deix

a de

des

falc

ar

dent

ro d

e ce

rta

med

ida

o pa

trim

ônio

do

deve

dor,

dad

o qu

e a

dim

inui

ção

da

83

AM

AR

AL

, Fra

ncis

co. D

irei

to c

ivil

: int

rodu

ção,

5 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: R

enov

ar, 2

003,

p. 1

69.

84 M

OR

AE

S,

Mar

ia C

elin

a B

odin

de.

Pri

ncíp

ios

de d

irei

to c

ivil

con

tem

porâ

neo.

Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 20

06,

p. 1

2.

10

4

cond

ição

eco

nôm

ica

é na

tura

l pa

ra q

uem

se

prop

õe p

agar

os

seus

déb

itos,

até

porq

ue

ente

ndim

ento

co

ntrá

rio

ince

ntiv

aria

o

mau

pa

gado

r e

frag

iliza

ria

a

conf

ianç

a na

s re

laçõ

es j

uríd

icas

. Fi

ca a

ssim

pre

stig

iado

o d

irei

to p

rim

ordi

al d

a

obri

gaçã

o qu

e é

o se

u cu

mpr

imen

to t

al q

ual

conv

enci

onad

o, p

ara

aten

der

o

dire

ito

do c

redo

r, s

em b

ulir

com

o p

rinc

ípio

con

stit

ucio

nal

da d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a, p

ois

com

o le

cion

a L

uiz

Eds

on F

achi

n “n

ão h

á pe

cúni

a ne

m

patr

imôn

io q

ue m

ensu

rem

a d

igni

dade

, est

a se

mpr

e é

imen

surá

vel”

.85

Ess

e fe

liz

ente

ndim

ento

de

Fach

in f

unda

men

ta-s

e na

Dec

lara

ção

Uni

vers

al

dos

Dir

eito

s do

Hom

em,

apro

vada

pel

a A

ssem

blei

a G

eral

da

Org

aniz

ação

das

Naç

ões

Uni

das

(ON

U),

em

194

8, q

ue a

sseg

ura

um m

ínim

o ex

iste

ncia

l pa

ra a

pess

oa h

uman

a, d

e co

nfor

mid

ade

com

a d

ispo

siçã

o no

rmat

iva

do s

eu a

rt.

25:

“Tod

a pe

ssoa

tem

dir

eito

a u

m n

ível

de

vida

suf

icie

nte

para

ass

egur

ar a

sua

saúd

e, o

seu

bem

est

ar e

o d

e su

a fa

míl

ia,

espe

cial

men

te p

ara

a al

imen

taçã

o, o

vest

uári

o, a

mor

adia

, a a

ssis

tênc

ia m

édic

a e

para

os

serv

iços

soc

iais

nec

essá

rios

.”

Evi

dent

e qu

e en

tre

os

serv

iços

so

ciai

s ne

cess

ário

s es

incl

uída

a

educ

ação

, po

is a

Con

stitu

ição

Fed

eral

, no

art

. 20

8 di

spõe

: “O

dev

er d

o E

stad

o

com

a e

duca

ção

será

efe

tiva

do m

edia

nte

a ga

rant

ia d

e: I

– e

nsin

o fu

ndam

enta

l,

obri

gató

rio

e gr

atui

to,

asse

gura

da,

incl

usiv

e, s

ua o

fert

a gr

atui

ta a

tod

os o

s qu

e

a el

e nã

o ti

vera

m a

cess

o na

idad

e pr

ópri

a.”

No

dire

ito c

ompa

rado

a t

utel

a de

um

mín

imo

exis

tenc

ial

está

pre

vist

a na

Lei

Fun

dam

enta

l da

Ale

man

ha,

§ 1.

1, q

ue e

stab

elec

e um

a pr

oteç

ão e

feti

va e

m

rela

ção

à so

brev

ivên

cia

de p

esso

a hu

man

a, t

anto

que

naq

uele

paí

s pa

ssou

-se

a

não

adm

itir

que

o i

ndiv

íduo

ven

ha a

ser

des

poja

do d

e se

us b

ens

ou d

os r

ecur

sos

nece

ssár

ios

a su

a ex

istê

ncia

dig

na.

No

exam

e de

ale

gaçã

o de

inc

onst

ituci

onal

idad

e da

pen

hora

sob

re p

ensã

o

em a

ção

de e

xecu

ção,

o T

ribu

nal

Con

stitu

cion

al d

e P

ortu

gal

deci

diu:

“pe

rant

e

85

FA

CH

IN, L

uiz

Eds

on. E

stat

uto

do p

atri

môn

io m

ínim

o, p

. 311

.

Page 53: Aulas de Direito das Obrigações

10

5

conf

lito

ent

re o

dir

eito

do

pens

ioni

sta

a re

cebe

r pe

nsão

con

dign

a e

o di

reito

do

cred

or,

deve

o l

egis

lado

r, p

ara

tute

la d

o va

lor

supr

emo

da d

igni

dade

da

pess

oa

hum

ana,

sac

rifi

car

o di

reito

do

cred

or n

a m

edid

a do

nec

essá

rio

e, s

e ta

nto

for

prec

iso,

tota

lmen

te”

(Acó

rdão

349

/91)

.

RE

SUM

O

1)

Pri

ncíp

ios

gera

is d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s: e

xato

adi

mpl

emen

to, a

uton

omia

pr

ivad

a, f

unçã

o so

cial

, boa

-fé

obje

tiva

e re

spon

sabi

lidad

e pa

trim

onia

l. a)

Pri

ncíp

io d

o ex

ato

adim

plem

ento

: a

obri

gaçã

o de

ve s

er c

umpr

ida

no t

empo

, no

luga

r e

mod

o co

ntra

tado

s, é

a r

egra

: pac

ta s

unt s

erva

nda.

Ass

im, o

cre

dor

não

é ob

riga

do a

rec

eber

pre

staç

ão d

iver

sa d

a co

ntra

tada

, ai

nda

que

mai

s va

liosa

, ne

m p

ode

exig

ir o

utra

, ai

nda

que

men

os v

alio

sa.

Tam

bém

é i

nter

dita

do a

o de

vedo

r pa

gar

em p

rest

açõe

s o

que

foi

conv

enci

onad

o pa

gar

de u

ma

só v

ez.

O

exat

o ad

impl

emen

to é

a f

inal

idad

e pr

imár

ia d

a ob

riga

ção.

É,

de o

utro

lad

o,

dire

ito

do d

eved

or p

ara

read

quir

ir s

ua p

lena

libe

rdad

e ec

onôm

ica.

b)

Pri

ncíp

io d

a au

tono

mia

pri

vada

: é

prim

ado

do E

stad

o D

emoc

rátic

o, p

or

reve

lar

o va

lor

da

liber

dade

in

divi

dual

, po

ssib

ilita

ndo

que

os

obri

gado

s ex

teri

oriz

em, c

onfo

rme

a su

a vo

ntad

e, o

teor

do

cont

rato

e c

omo

viab

iliza

r a

sua

exec

ução

. Pr

incí

pio,

no

enta

nto,

bal

izad

o pe

lo i

nter

esse

soc

ial,

que

não

perm

ite

ao m

ais

fort

e su

bjug

ar o

mai

s fr

aco.

Dev

em p

reva

lece

r os

lim

ites

leg

ais

que

resg

uard

em o

s va

lore

s im

post

os p

elos

fin

s ec

onôm

icos

e s

ocia

is,

pela

boa

-fé

e bo

ns c

ostu

mes

. Po

r is

so,

sofr

e os

tem

pera

men

tos

da e

stad

o de

per

igo,

da

lesã

o,

da te

oria

da

impr

evis

ão e

da

oner

osid

ade

exce

ssiv

a.

c) P

rinc

ípio

da

funç

ão s

ocia

l: p

lasm

ado

na C

onst

ituiç

ão F

eder

al q

ue c

onst

itui

o E

stad

o D

emoc

ráti

co d

e D

irei

to, o

qua

l ob

jetiv

a re

aliz

ar o

s va

lore

s fu

ndam

enta

is

da

dign

idad

e da

pe

ssoa

hu

man

a,

do

trab

alho

, da

liv

re

inic

iativ

a,

e da

so

lida

ried

ade,

gar

antin

do o

des

envo

lvim

ento

soc

ial

na e

rrad

icaç

ão d

a po

brez

a e

da m

argi

nalid

ade

pela

red

ução

das

des

igua

ldad

es s

ocia

is e

reg

iona

is. A

fun

ção

é us

o, u

tilid

ade;

soc

ial

é o

que

inte

ress

a à

soci

edad

e. L

ogo,

a f

unçã

o so

cial

é

ente

ndid

a co

mo

razã

o e

lim

ite

para

o e

xerc

ício

da

libe

rdad

e de

con

trat

ar,

sem

, co

ntud

o, e

limin

ar a

aut

onom

ia p

riva

da. C

omba

te, e

fetiv

amen

te, o

indi

vidu

alis

mo

10

6

egoí

stic

o. O

int

eres

se g

eral

, o

bem

com

um,

cons

titui

o l

imit

e à

real

izaç

ão d

os

inte

ress

es in

divi

duai

s e

subj

etiv

os.

d) B

oa-f

é ob

jeti

va,

tam

bém

den

omin

ada

de c

once

pção

éti

ca d

a bo

a-fé

, é

padr

ão

de c

ondu

ta s

ocia

l, ca

ract

eriz

ada

por

uma

atua

ção

conf

orm

e a

hone

stid

ade,

a

leal

dade

e

a co

rreç

ão,

de

mod

o a

não

bald

ar

a co

nfia

nça

da

outr

a pa

rte

cons

ubst

anci

ada

nas

mai

s le

gíti

mas

ex

pect

ativ

as.

Baf

eja

toda

s as

fa

ses

da

obri

gaçã

o, d

esde

a f

ase

pré-

cont

ratu

al a

té a

fas

e pó

s-co

ntra

tual

. Nel

a es

tá ín

sito

o

prin

cípi

o da

eti

cida

de.

Na

fase

pré

-con

trat

ual

man

ifes

ta-s

e na

inf

orm

ação

e n

o ac

onse

lham

ento

. Na

fase

de

conc

lusã

o do

con

trat

o si

gnif

ica

o de

ver

de n

egoc

iar

que

lim

ita

a lib

erda

de d

e nã

o co

ntra

tar,

a r

ecus

a de

má-

fé d

e ho

nrar

a o

fert

a es

tam

pada

na

fase

pré

-con

trat

ual.

Na

fase

da

exec

ução

do

cont

rato

enf

atiz

a o

deve

r ac

essó

rio

de c

ondu

ta d

e co

oper

ação

ent

re a

s pa

rtes

, qu

e se

obr

igam

. N

a fa

se

pós-

cont

ratu

al

diz

resp

eito

, ta

mbé

m,

aos

deve

res

aces

sóri

os,

são

dete

rmin

adas

situ

açõe

s qu

e pe

rdur

am m

esm

o de

pois

de

adim

plid

a a

obri

gaçã

o,

pode

ndo

ser

uma

cond

uta

posi

tiva

ou n

egat

iva,

exi

gida

tan

to d

o de

vedo

r co

mo

do c

redo

r. N

ota-

se, q

ue a

boa

-fé

obje

tiva

tem

trê

s fu

nçõe

s: f

unçã

o in

terp

reta

tiva

é

regr

a de

inte

rpre

taçã

o do

s ne

góci

os ju

rídi

cos;

funç

ão in

tegr

ativ

a co

mo

font

e de

de

vere

s ac

essó

rios

de

cond

uta;

e fu

nção

de

cont

role

com

o li

mit

e de

exe

rcíc

io d

os

dire

itos

sub

jetiv

os,

avul

tand

o tr

ês f

igur

as:

o ve

nire

con

tra

fact

um p

ropr

ium

a

inad

mis

são

de c

ondu

tas

cont

radi

tóri

as;

o tu

quo

que

que

é o

vale

r-se

da

próp

ria

torp

eza;

e a

aem

ulat

io q

uand

o do

exe

rcíc

io r

egul

ar d

e um

dir

eito

a i

nten

ção

não

é de

sat

isfa

zer

uma

nece

ssid

ade,

mas

o p

ropó

sito

de

caus

ar d

ano

a ou

trem

. e)

Pri

ncíp

io d

a re

spon

sabi

lida

de p

atri

mon

ial.

No

Dir

eito

Rom

ano

prim

itiv

o pe

la

man

us i

njec

tio e

ra a

pes

soa

do d

eved

or,

com

seu

pró

prio

cor

po,

que

resp

ondi

a pe

lo

inad

impl

emen

to

da

obri

gaçã

o,

pode

ndo

ser

cond

uzid

o a

cond

ição

de

es

crav

o do

cre

dor.

Pel

a L

ex P

oete

lia

Pap

ira

pass

ou a

ser

o p

atri

môn

io d

o de

vedo

r qu

e re

spon

de p

elo

não

cum

prim

ento

da

obri

gaçã

o, o

que

per

seve

ra a

hoje

. É

a r

egra

do

art.

391

do C

ódig

o C

ivil,

ao

prec

eitu

ar q

ue t

odos

os

bens

do

deve

dor

resp

onde

m

pelo

ad

impl

emen

to

da

obri

gaçã

o,

exce

tuan

do

aque

les

disp

osto

s no

art

. 1.

711

do m

esm

o co

dex,

no

art.

649

do C

ódig

o de

Pro

cess

o C

ivil,

e n

a L

ei 8

009,

de

29 d

e m

arço

de

1990

. No

Dir

eito

pós

-mod

erno

deu

-se

a de

spat

rim

onia

liza

ção,

que

dev

e se

r en

tend

ida

no s

entid

o de

que

o p

atri

môn

io n

ão

é o

mot

ivo

da r

elaç

ão p

atri

mon

ial.

O v

íncu

lo d

e di

reito

exi

ste

por

caus

a da

s pe

ssoa

s e

dos

seus

int

eres

ses

em c

onst

ituir

, m

odif

icar

ou

exti

ngui

r di

reito

s, é

o

que

se d

enom

ina

de r

eper

sona

lizaç

ão d

a re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal,

que

eleg

e a

pess

oa c

omo

mot

ivo

prim

ordi

al d

a tu

tela

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.


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