CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 20 | novembro de 2015
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DIREITO, SEGURANÇA E
DEMOCRACIA
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AS FRONTEIRAS DA UNIÃO EUROPEIA E AS POLITICAS QUANTO À IMIGRAÇÃO ILEGAL JOÃO PAULO VENTINHAS BARROSO E SILVA Mestrando em direito e Segurança RESUMO
A União Europeia vive um dilema quanto às políticas de imigração. Por um lado
necessita de mão-de-obra para se desenvolver e contribuintes para sustentar as políticas
sociais, por outro lado cria políticas restritivas à entrada de estrangeiros. As taxas de
natalidade dos diversos países que constituem a União Europeia não têm contribuído
para o aumento da população, nem mesmo com o aumento dos incentivos à natalidade.
Torna-se assim necessário o acolhimento de imigrantes para preenchimento de
postos de trabalho necessários para a competitividade do espaço da União Europeia.
Uma política sustentável quanto à imigração está a ser implementada a par do rigoroso
controlo da fronteira externa e obrigatoriamente das áreas adjacentes sob pena das
políticas de imigração não cumprirem o seu desiderato. Esse controlo deverá além de
diminuir o fluxo de imigrantes ilegais, também diminuir o flagelo das mortes no mar
mediterrâneo de inúmeros imigrantes que à procura de melhores condições de vida
colocam em riscos as suas vidas.
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PALAVRAS-CHAVE Frontex, Eurosur, fronteira, imigração ilegal, políticas de imigração, tráfico de seres
humanos.
ABSTRACT The European Union faces a dilemma as to immigration policies. On the one hand
requires workers to develop its economy and to contribute to support social policies, on the
other hand it creates difficulties in access to its territory. The actual birth rates of the
various countries do not contribute, even with the increased incentives for the birth.
It is therefore necessary to host immigrants to fill jobs needed for the
competitiveness of the European Union space. A sustainable policy regarding immigration
is being implemented along with the strict control of the external border and also the
adjacent areas, under penalty of immigration policies do not fulfill their intention. These
controls should also decrease the flow of illegal immigrants as well reduce the scourge of
deaths in the Mediterranean Sea of the countless immigrants seeking better living
conditions that put their lives in risk.
KEYWORDS Frontex, Eurosur, border, illegal Immigration, immigration policies, human trafficking
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS CPOS Curso de Promoção a Oficial Superior
GNR Guarda Nacional Republicana
ICMPD Centro internacional para as políticas de migração e
desenvolvimento
IOM Organização internacional das migrações
p. Página
pp. Páginas
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SIVE Sistema integrado de vigilância exterior
SOLAS Safety of life at sea
TFUE Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
UE União Europeia
INTRODUÇÃO O presente trabalho, no Curso de Promoção a Oficial Superior (CPOS) da Guarda
Nacional Republicana (GNR), pretende demonstrar a importância do controlo das
fronteiras externas europeias na prossecução das políticas quanto à imigração ilegal na
União Europeia em resposta aos atuais fluxos de imigração ilegal, principalmente por via
marítima.
Este objetivo visa responder à pergunta “COMO TÊM EVOLUIDO AS POLITICAS
QUANTO É IMIGRAÇÃO ILEGAL NA UNIÃO EUROPEIA?”
Na sequência do Tratado de Amesterdão de 1997 a imigração irregular tem sido
um dos focos fundamentais da formulação de políticas da União Europeia em matéria de
imigração e asilo. Definiu-se como uma preocupação dos responsáveis políticos e um
tema de debates políticos, a migração irregular tem sido um grande problema, pelo menos
desde meados da década de 1980.
A conjugação dos efeitos das modificações geopolíticas após o ruína dos regimes
comunistas na Europa Oriental, o incremento da imigração para a União Europeia no final
de 1980 e em particular, o aumento dos pedidos de asilo, relacionados com conflitos fez a
imigração irregular uma preocupação central para os decisores políticos.
Com a rápida aceleração da integração europeia em meados da década 1980 e
com o auxílio em especial, da implementação do Ato Único Europeu em 1986, bem como
do Tratado de Maastricht em 1992, o problema da imigração ilegal tornou-se uma questão
europeia e não apenas a nível dos países. A abolição das fronteiras estava intimamente
ligada à necessidade de uma política comum e cooperação quanto à imigração.
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Resultado da necessidade de cooperação a nível do controlo fronteiriço, foi firmado o
acordo de Schengen em 1985, com as medidas de combate à migração irregular sendo
um elemento primordial do acordo.
Um número crescente de projetos de investigação financiados pela União Europeia
têm abordado a migração irregular construindo as noções comuns de migração irregular.
A imigração irregular na Europa do Sul é distinta do fenómeno da situação dos
requerentes de asilo rejeitados no norte da Europa ou da situação irregular dos imigrantes
que transitam nos países da Europa Oriental que são originários dos países de leste. O
debate político motivado pelas vagas de imigrantes ilegais por via marítima e naufrágios
no mediterrâneo, bem pelas crises económicas que assolam os seus países tem
contribuído ativamente para a construção da interpretação comum de imigração ilegal e
com isso criando uma importante base que legítima as iniciativas políticas conexas, que
respondem a esse flagelo.
Durante o trabalho, vão ser utilizadas, essencialmente, fontes documentais
plasmadas em normativos legais e fontes bibliográficas, empregando-se as técnicas e
métodos associadas às ciências sociais. Para a recolha de dados, as técnicas de
pesquisa documental e bibliográfica. Para a análise de dados vão ser utilizados na
abordagem o método dedutivo e no procedimento os métodos histórico e comparativo.
E por fim, sob a designação Conclusões, irão ser plasmadas algumas
considerações finais materiais do presente trabalho.
CAPÍTULO I: A EVOLUÇAÕ DAS POLITICAS DE IMIGRAÇÃO
NA EU É com o tratado de Maastricht em novembro de 1993 que se inicia a cooperação
intergovernamental sobre as migrações e assuntos internos, o terceiro pilar. É firmado
em 1999 o tratado de Amesterdão onde é dada competência à União Europeia quanto a
políticas de asilo e assuntos de migração sendo o acordo de Schengen integrado nos
tratados.
As orientações e objetivos práticos da política de assuntos internos como as
bases das políticas comuns de asilo e migração, bem como a preparação para a
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harmonização do controlo de fronteiras surge com o programa de Tampere (1999-2004)
em outubro de 1999.
Segue-se o programa Hague (2005-2009) em março de 2005 com as orientações
das políticas e objetivos práticos das políticas de assuntos internos para a regulação dos
fluxos migratórios e o desenvolvimento de um sistema comum de asilo e controlo das
fronteiras externas.
É em novembro de 2005 que a «Abordagem Global para a Migração e a
Mobilidade», para harmonizar, as políticas relevantes para o problema das migrações. A
abordagem incluía quatro eixos principais, a imigração legal e a mobilidade; imigração
irregular e tráfico de seres humanos a proteção internacional e as políticas de asilo, bem
como a maximização do impacto da migração e da mobilidade sobre o desenvolvimento
(Comissão europeia, 2015).
Os direitos fundamentais dos imigrantes constituem uma questão fundamental
nesta perspetiva.
A Abordagem Global incide no diálogo a nível regional e bilateral entre os países
de origem, de trânsito e de destino. Um dos principais instrumentos da Abordagem
Global era a eventualidade de efetivar colaborações quanto a mobilidade com países
terceiros. Essas parcerias incluem não só os acordos de reingresso, mas também todo
um conjunto de medidas, da ajuda à evolução da concessão de vistos temporários,
passando pela migração circular e a luta contra a migração ilegal (Hibou, 2012).
Já com o tratado de Lisboa em dezembro de 2009 o procedimento legislativo
regular torna-se a norma em assuntos de migração e asilo, abolindo-se a estrutura de
pilares e aplicando-se a jurisdição total do tribunal de justiça em 01 de dezembro de
2014.
O programa de Estocolmo em maio de 2010 entre 2010 a 2014, colocou na agenda os
desafios futuros nas áreas dos assuntos internos europeus ao desenvolver uma política
comum de migrações e a manter uma política de asilo sustentável e o fortalecimento da
área Schengen (figura 1).
Já em março de 2014 tem lugar a comunicação “ Uma europa aberta e segura:
fazer acontecer” onde foram apontadas as prioridades políticas para aplicar as políticas
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de assuntos internos em prática quanto às migrações, mobilidade, Schengen, a política
de vistos comum e o sistema europeu comum de asilos.
Figura 1- Espaço Schengen (Comissão Europeia, 2015)
As substanciais mudanças populacionais na Europa trouxeram uma diversidade
crescente ao continente bem como alguns problemas. Alguns países europeus
habituados a verem a sua população emigrar, evoluíram para áreas de receção de
imigrantes desde os anos 60. Atualmente o ritmo de imigração aumentou
dramaticamente, bem como o número de imigrantes ilegais. O fluxo é maioritariamente
de pessoas fora da União Europeia, o que para isso contribuiu as alianças criadas para
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aumentar a cooperação política, económica e social, incluindo a utilização de uma
moeda única e a livre circulação de trabalhadores e turistas pelas fronteiras nacionais
(Andersson, 2012).
Muitos destes países europeus têm taxas de natalidade baixas ou mesmo
negativas, apontando as projeções da Divisão da População das Nações Unidas que em
1995 a população europeia era superior em 100 milhões à população dos Estados
Unidos mas que em 2050 seria menor em 20 milhões. Com a população a diminuir vem
também a diminuição da força de trabalho e a necessidade de trabalhadores
estrangeiros, principalmente a França, a Alemanha, a Itália e o Reino Unido. Em 1995 a
os países membros da União Europeia acolheram 18,1 milhões de imigrantes, 80 por
cento dos quais provenientes de fora da União Europeia. A Alemanha acolheu 7,2
milhões, seguida da França com 3,6 milhões e o Reino Unido com 2,2 milhões.
De acordo com os números do governo italiano existiam 1,2 milhões de
estrangeiros em Itália que tem uma população total de 60 milhões. Do número total de
imigrantes em Itália, 40 por cento são provenientes de outros países da Europa em que
dois terços desta percentagem é proveniente da Europa do leste, 30 por cento são
provenientes do norte de África, 16 por cento da Ásia e 14 por cento das Américas. A
Itália estabeleceu uma cota de 63000 imigrantes legais em 2000, numero que atingiu na
primeira metade do ano. Milhares de imigrantes ilegais chegam todos os anos à costa
Italiana especialmente no verão sendo apenas uma pequena parte detetada pelas
autoridades do país, estimando que existam um total de 600000 imigrantes ilegais em
Itália (Parrillo, 2004).
Nestes países europeus, bem como nos Estados Unidos, os imigrantes
concentram-se em bairros específicos e beneficiam de determinados apoios mas
comparados com os cidadãos nacionais, têm uma maior taxa de desemprego e os que
trabalham, recebem menos. Além de enfrentarem uma hostilidade crescente porque
existe a perceção local que a sua presença coloca um elevado encargo nos sistemas
nacionais de saúde, sistemas educativos e programas de segurança social. Também é
sentido por alguns cidadãos nacionais a perda da identidade cultural devido ao grande
fluxo de imigrantes.
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Existe ligações fortes entre a imigração, a segurança e o crime existindo grupos
de imigrantes que manifestam maior propensão para a criminalidade do que a maioria
dos grupos. Em contraste alguns grupos de imigrantes demonstram o mesmo nível de
envolvimento em crime ou um nível mais baixo ao observado na maioria dos grupos.
A primeira geração de imigrantes demonstra um envolvimento menor na criminalidade
em comparação com a segunda ou terceira geração e de imigrantes chegados a partir
das décadas de 80 e 90.
O que existe em comum na maioria dos grupos de imigrantes são as
desvantagens socioeconómicas e posições precárias que os coloca em risco de cair no
mundo da criminalidade. As diferenças culturais entre grupos com condições sociais
semelhantes levam a diferentes construções das suas comunidades e preservação da
sua identidade étnica e cultural. Essa diferença cultural é importante na explicação dos
vários graus da criação e acesso a oportunidades sociais e económicas.
Os imigrantes são um grupo suscetível a riscos e podem colocar riscos em
termos do desvio e crime, não sendo muito diferentes da maioria dos grupos nestes
termos (Albrecht, 2002).
Estas atitudes muitas vezes dão origem a atos violentos, não apenas confinado a
guerras como a guerra na Bósnia ou Kosovo em 1990 mas pelo resto da Europa.
Milhares de ataques violentos e dezenas de mortes, algumas cometidas por alas de
extrema-direita e outras cometidas por denominadas pessoas comuns, geralmente
jovens, são o rosto da violência étnica.
Os governos destes países tomaram alguns passos para reduzir a entradas ilegais
e atividades de grupos violentos e melhorar as condições de vida dos novos imigrantes
e das minorias já estabelecidas, mas os países europeus continuam a experienciar
problemas relativos à imigração e preconceito tal como existe nos Estados Unidos
(Parrillo, 2004).
a. A imigração ilegal e o tráfico de seres humanos
Importa distinguir entre a introdução de imigrantes ilegais e o tráfico de seres
humanos pois são dois problemas distintos, ainda que sejam atividades criminosas
interligadas perpetradas por redes criminosas. A diferença entre os dois é que na
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primeira, os imigrantes normalmente vão de boa vontade para se envolverem num
processo de migração irregular, pagando os serviços de um facilitador para atravessar
uma fronteira internacional, enquanto neste último eles são vítimas de uma forma
hedionda de atividade criminosa, onde eles são coagidos a um processo vicioso de
exploração grave, que pode ou não estar relacionado com a passagem de uma fronteira.
Na realidade, os dois fenómenos não são fáceis de distinguir uma vez que ao iniciar as
suas viagens de forma voluntária podem acabar em redes de exploração laboral ou
sexual ao longo do caminho.
Os imigrantes contrabandeados também são frequentemente expostos à violência,
violações de direitos humanos ou até mesmo a morte (Albrecht, 2002).
A Estratégia da UE para a erradicação do tráfico de seres humanos foi adotada
em 2012. Esta atualizou o Plano de Acão da UE sobre as melhores práticas, normas e
procedimentos para prevenir e combater o tráfico em seres humanos. A Estratégia é um
conjunto de concreto e medidas práticas a serem implementadas ao longo de cinco
anos.
Estas incluem prevenção, proteção, apoio das embarcações usadas pelos imigrantes
ilegais pois são de grande fragilidade, levando muitas vezes a naufrágios trágicos com
dezenas de mortes de cada vez. Esta situação veio criar uma causa justa que em muito
justifica a intervenção no mar das autoridades europeias e a necessidade de criar
organismos que auxiliem na prevenção e resgate cada vez mais além, com a
responsabilidade de busca e salvamento da convenção SOLAS. As frágeis embarcações
dos imigrantes ilegais são possíveis naufrágios a acontecer, levando justificar ações em
águas territoriais Africanas com a assinatura de memorando que permitem o
patrulhamento nessas zonas (Andersson, 2012).
CAPÍTULO II: SISTEMA DE VIGILANCIA DE FRANTEIRAS
EUROPEU
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a. Enquadramento
A decisão da criação de um território sem fronteiras internas tomadas pela
França, Bélgica, Alemanha, Luxemburgo e Holanda na década de 80, foi firmada na
cidade Luxemburguesa de Schengen e preconizava o livre fluxo de pessoas.
Foi em 1995 que o controlo fronteiriço interno foi retirado, ficando apenas a
fronteira externa única, harmonizando-se as regras quanto a atribuição de vistos e
direito a asilo em todos os países Schengen. Foram introduzidas medidas
compensatórias que no caso são no âmbito da coordenação e cooperação policial e
judicial, pois a criminalidade organizada não respeita as fronteiras, sendo fundamental
esta cooperação tendo em vista a salvaguarda da segurança interna, tendo sido
afirmada esta cooperação em 1999 com a assinatura do tratado de Amesterdão (frontex,
2015).
A cooperação foi intensificada e vários projetos foram desenvolvidos e operações
conjuntas em vários países e em 26 de Outubro de 2004 foi estabelecida a agência
Frontex pelo Regulamento do Conselho (EC) 2007/2004, com o objetivo de melhorar
procedimentos e métodos de trabalho.
O problema respeitante ao aumento do fluxo de imigração ilegal vinda do norte de
África já há muito foi diagnosticado e tem vindo a ser tratado no seio da União Europeia.
Para dar resposta a este problema, estão a ser desenvolvidos centros de coordenação
nacionais com o propósito da sua integração formando o designado sistema Eurosur,
proporcionando as infraestruturas e ferramentas capazes de aumentar a sua perceção
situacional.
O desenho do sistema tem como objetivo a vigilância da fronteira marítima a sul
da Europa por forma a impedir e dissuadir a imigração ilegal por via marítima.
Os acontecimentos que levaram ao desenvolvimento da presente estratégia
remonta a 2005, quando uma vaga de migrantes assola Ceuta e Melila, levando à morte
de 14 pessoas devido à reação das forças locais. Os acontecimentos seguintes à
tragédia levaram a que as rotas de introdução de imigrantes ilegais se desviasse para as
Ilhas Canárias onde durante o ano de 2006 mais de 30000 imigrantes ilegais se
introduziram por via marítima. Por serem avultados números, foi desencadeada uma
operação com a agência Europeia Frontex denominada Hera na região afetada,
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mobilizando um grande número de meio, levado a uma queda acentuada no número de
imigrantes por via marítima (Pugliese, 2013).
Contudo continua-se a verificar um grande fluxo de imigrantes ilegais na fronteira
greco-turca e em Itália, tornando-se a atividade de controlo de fonteiras cada vez mais
importante e alvo da atenção da classe política na Europa (Andersson, 2012).
As ameaças ao interior da Europa não se localizam apenas na sua fronteira, mas sim na
pré fronteira, o que obriga a um processo de vigilância e controlo extraterritorial,
necessitando de um policiamento à distância por forma a controlar as migrações
indesejadas.
A segurança das fronteiras europeias carece de uma abordagem global devido às
circunstâncias geopolíticas, devendo a esfera de vigilância e atuação focar-se no
Mediterrâneo e África.
Os países Schengen são responsáveis pelas suas fronteiras externas com países
terceiros e simultaneamente responsáveis pela fronteira externa da UE, agindo desta
forma em prol dos restantes membros.
Por este motivo os métodos e ferramentas do controlo de fronteiras têm que ser
melhorados constantemente, devendo a reação aos desafios colocados pela pressão
migratória serem respondidos de forma atempada e eficaz.
Para se desenvolver um sistema comum, deve existir uma cultura comum,
capacidades comuns e suficientes, padrões e cooperação oleada (Hibou, 2012).
b. Frontex
A Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras
Externas dos Estados-Membros da União Europeia foi criado pelo Regulamento (CE) n.º
2007/2004 (26.10.2004, JO L 349 / 25.11.2004) tendo em conta o Tratado que institui a
Comunidade Europeia.
Este regulamento foi posteriormente alterado pelo Regulamento (CE) n.º 863/2007
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007 que estabelece um
mecanismo para a criação de equipas de intervenção rápida nas fronteiras e que altera
o Regulamento (CE) n.º 2007/2004 do Conselho Relativamente a este mecanismo e que
regulamenta as competências e tarefas dos agentes convidados. Foi alterado pelo
Regulamento (UE) n.º 1168/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de
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Outubro de 2011 que altera o Regulamento (CE) n.º 2007/2004 que institui a Agência
Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-
Membros da União Europeia (Comissão Europeia, 2015).
Além disso, o Regulamento (UE) n.º 1052/2013 de 22 de Outubro de 2013, que
estabelece o Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras (Eurosur), especifica um
quadro comum para o intercâmbio de informações e para a cooperação entre Estados-
Membros e a Frontex por forma a melhorar a consciência situacional e para aumentar a
capacidade de reação das fronteiras externas dos Estados-Membros da União com o
objetivo de detetar, prevenir e combater a imigração ilegal e à criminalidade
transfronteiriça e contribuir para assegurar a proteção e salvar as vidas de migrantes.
A sede da agência é em Varsóvia, na Polónia, tal como decidido pelo 2005/358 /
CE: Decisão do Conselho de 26 de Abril 2005, que designa a sede da Agência Europeia
de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros
da UE.
A agência Frontex é o fulcro da estratégia da União Europeia e está a modificar a
forma dos países verem a fronteira através do treino de guardas de fronteira, criação de
fóruns de discussão e fornece informação e conhecimento aos estados membros e
fundamentalmente efetua a análise de risco (frontex, 2015).
A análise de risco leva a alocação de recursos onde são mais necessários. As
informações são recolhidas pelos estados membros e países de trânsito, sendo muitas
vezes detetados casos subsidiários de derrames de óleos, embarcações em perigo e
interceção de tráfico de droga que são objetivos secundários (Pugliese, 2013).
A sua aparente parecença, no papel, com uma agência regulatória responsável
pela troca de informação e cooperação entre os estados membros em assuntos
relacionados com as fronteiras, é o mais visível ator no trabalho de fronteira externa da
união europeia.
A Frontex tem sido alvo de alguns protestos de grupos ativistas, contudo a Frontex é
apenas parte de um número maior de instituições incluindo a organização internacional
das migrações (IOM), e o centro internacional para as politicas de migração e
desenvolvimento (ICMPD), que trabalham de forma mais discreta aos olhos do público,
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mas que têm um papel fundamental na moldagem do debate sobre a imigração ilegal e
da própria noção de fronteira da união europeia e sua segurança.
c. Eurosur
Em fevereiro de 2008 foi equacionada a criação do sistema de vigilância de
fronteira europeia, a Eurosur, encontrando-se em implementação até aos dias de hoje.
O sistema tem como objetivo auxiliar as autoridades que trabalham em razão da matéria
dos estados membros na obtenção da informação precisa das atividades que ocorrem
nas fronteiras externas continentais e fronteira marítima.
É o quadro de intercâmbio de informações destinadas a melhorar a gestão das
fronteiras externas da Europa. Destina-se a apoiar os Estados-Membros, aumentando a
sua consciência situacional e a capacidade de reação na luta contra a criminalidade
transfronteiriça, luta contra a imigração irregular e evitar a perda de vidas de migrantes
no mar (frontex, 2015).
O sistema está desenhado para identificar situações de transposição ilegal da
fronteira, além de melhorar a resposta às autoridades de investigação criminal na
identificação de imigrantes ilegais bem como de facilitadores.
No âmbito do Eurosur os estados membros devem cooperar com os restantes
estados membros e com o Frontex, podendo trocar informação operacional. A troca de
informação, conjugada com os meios de deteção e observação, tem salvado muitos
imigrantes ilegais nas fronteiras marítimas da UE.
A introdução do sistema foi planeada para ser em 3 fases. Primeiramente a
implementação dos centros nacionais de coordenação das fronteiras dos estados
membros do sul e este da UE e operar as ligações informáticas entre os centros e a
agência Frontex e analisar que ajudas logísticas e financeiras serão necessárias a
países terceiros no caso de necessidade de cooperação (Pugliese, 2013).
Numa segunda fase, a melhoria e implementação dos sistemas de vigilância já
implementados como satélites, camaras e sistemas aéreos não pilotados, por forma a
proporcionar cada vez mais informação credível, podendo-se observar uma imagem
mais nítida do estado atual das fronteiras (figura2).
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Na terceira fase, a integração dos sistemas de informação, reporte e vigilância
dos estados membros por forma a formar uma rede fiável onde o foco primordial será o
mediterrâneo estendendo-se até às ilhas Canárias e mar negro e mais tarde todos as
regiões marítimas europeias.
A primeira e segunda fase concentram-se na parte marítima e continental e a
terceira fase exclusivamente na vertente marítima.
Figura 2 - Desenho da infraestrutura EUROSUR (Comissão europeia, 2009)
A perceção situacional conforme o sistema se propõe, traz subjacente a
capacidade de monitorizar, detetar, seguir e perceber as atividade de transposição da
fronteira, levando a uma resposta proporcional e justificada, através da combinação da
informação atual com a informação já recolhida e tratada, indo de encontro a aspirações
dos estados de deter uma omnisciência sobre o território definido pelas fronteiras.
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As informações recebidas através dos sensores, autoridades, plataformas e
outras fontes que são partilhadas em canais comunicacionais, em tempo real ou quase
em tempo real dão uma “fotografia” crucial para definir a atuação correta. Essas
informações situacionais vão dar também suporte às capacidades de reação ao longo
da fronteira externa e à área de pré fronteira.
Projetos como o sistema integrado de vigilância exterior (SIVE) que combinam
camaras de infravermelhos, vídeo, informação satélite, radar e apoiados pela
intervenção de embarcações e helicóptero, encontra-se em desenvolvimento o projeto
CLOSEYE que utiliza radar e camaras distribuídas ao longo da costa para monitorizar as
embarcações e intercetar caso necessário para o projeto CLOSEYE são utilizado o
recurso a imagem satélite, e drones, potenciando em muito as capacidades das
autoridades que atuam no mediterrâneo.
Também as tecnologias de identificação biométrica dos indivíduos têm sido
desenvolvidas por forma a identificar e monitorizar e prevenir a entrada de imigrantes
ilegais através da implementação através do regulamento do conselho n.º 2725/2000 de
11 de Dezembro de 2000 com o sistema Euordac (Pugliese, 2013).
Foi estabelecido um sistema de identificação através de impressões digitais
ligado a uma base de dados central onde os estados membros se ligam e enviam os
dados respeitantes aos indivíduos que pedem asilo bem como todos os estrageiros
maiores de 14 anos, com ligação a imigração ilegal.
Este sistema é uma rede interoperável de monitorização e processamento dos
indivíduos ligados à imigração ilegal com o seu núcleo o sistema europeu de arquivo de
imagem (FADO) que acaba por ser o repositório vasto de informação computadorizada
dos documentos de identificação falsos e verdadeiros que complementa a
implementação de fronteiras inteligentes1 para controlo total sobre os movimentos de
1 O pacote de "fronteiras inteligentes" foi proposto pela Comissão em Fevereiro de 2013. Segue a comunicação da
Comissão de fevereiro 2008 sugerindo o estabelecimento de um Sistema de entrada e saída (EES) e um Programa de
viajantes registados (RTP). Destina-se a melhorar a gestão das fronteiras externas de Schengen dos Estados-
Membros, a luta contra a imigração irregular e fornecer informações sobre imigrante que excedem o tempo de
permanência, bem como facilitar passagens de fronteira para os viajantes frequentes previamente aprovados não
pertencentes à UE.
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pessoas nas fronteiras à semelhança do sistema norte-americano com a introdução da
base de dados que congrega impressões digitais que incluem todos os indivíduos que
não são cidadãos europeus que entram e saem da União Europeia.
O sistema terá a possibilidade de criar alertas sobre ultrapassagem de limites
temporais permitido, podendo indiciar uma situação de permanência ilegal.
O sistema de dados biométricos, em especial através das impressões digitais tem vindo
a desencadear cada vez mais casos de mutilação auto infligida das impressões digitais
por refugiados para tornarem os seus corpos ilegíveis ao sistema Eurodac (Pugliese,
2013).
CAPÍTULO III: O FENÓMENO DA IMIGRAÇÃO NA UNIÃO
EUROPEIA A migração para a Europa e no seu interior tem como regulamentos uma
conjugação do direito nacional e do direito da UE, convenção europeia dos direitos do
homem e carta social europeia, bem como diversas obrigações internacionais,
assumidas pelos próprios estados membros (European union agency for fundamental
rights, 2015).
As bases das políticas quanto à imigração na União Europeia encontram-se nos
artigos 79.º e 80.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE).
É definido que compete à UE a definição em que condições pode ser
possibilitada a entrada e de residência estrangeiros de países terceiros, na sua entrada
bem como na continuação de residência, bem como a possibilidade de emprego,
estudos ou reagrupamento familiar. Contudo é reservado aos Estados-Membros o direito
de determinar as taxas de admissão de pessoas provenientes de países terceiros à
procura de emprego (European union agency for fundamental rights, 2015).
Os incentivos proporcionados pela união europeia podem ser neste âmbito e ser
canalizados para a criação de medidas de integração de estrangeiros de países
terceiros residentes legais.
Existe uma obrigação da UE na tomada de medidas de prevenção e redução da
imigração ilegal, em especial através de uma política de regresso eficaz, respeitando
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plenamente os direitos fundamentais. Um migrante em situação irregular é uma pessoa
que entra na UE sem a autorização ou o visto adequado ou que ultrapassa o período de
permanência permitido pelo seu visto (UE, 2015).
Em matéria de combate à imigração ilegal, foram adotados duas importantes
diretivas, a Diretiva «Regresso» (2008/115/CE) que define o normativo e procedimentos
comuns a nível da UE para o regresso de nacionais de países terceiros que se
encontram em situação irregular. Os Estados-Membros foram instados a dar
cumprimento à diretiva até 24 de dezembro de 2010. O primeiro relatório sobre a sua
aplicação foi aprovado em março de 2014 e salientou progressos satisfatórios, bem
como os desafios atuais. Todos os estados membros transpuseram para a sua ordem
interna exceto o Reino Unido e Irlanda bem como os associados ao Schengen, a Suíça
a Noruega a Islândia e o Liechtenstein.
Entre os principais domínios para intervenções futuras incluem-se a garantia da
sua aplicação adequada, a promoção de práticas coerentes e compatíveis com os direitos
fundamentais, a melhoria da cooperação entre os Estados-Membros e o reforço do papel
da Frontex. De acordo com o Eurostat das 425000 pessoas com ordem de regresso
emitida em 2013, aquelas que acabaram por sair somaram 167000 (figura 3).
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Figura 3 - Comparação das ordens de regresso com os regressos efetivos relativos ao ano de 2013
A Diretiva 2009/52/CE estabelece sanções e medidas a serem aplicadas nos
EstadosMembros contra os empregadores de nacionais de países terceiros em situação
irregular. Os Estados-Membros devem aplicar a diretiva até 20 de julho de 2011 e o
primeiro relatório sobre a sua aplicação está previsto para julho de 2014 (UE, 2015).
A caracterização da ilegalidade da migração por via marítima no mediterrâneo tem
sido vista como uma contradição às políticas mais liberais, a globalização e de abolição
das fronteiras, que contrastam com o fecho e controlo das fronteiras a movimento de
pessoas.
O fecho das fronteiras a pessoas foi decidido em meados de 1970 e o fim da década
de 1980, contemporaneamente com o início das ideias da abertura das fronteiras
económicas. Muitas vezes é explicado como um sentimento de insegurança por parte da
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população que exige medidas de proteção e insegurança de entre os estados com
receio da perda de influência sobre os movimentos económicos e atividades.
Nesta perspetiva as diretivas europeias exprimem a vontade publica, podendo ser
uma explicação superficial, mas persistente e contraditória uma vez que os imigrantes
continuam a chegar e não são sistematicamente expulsos ou perseguidos. A esta
contradição junta-se a o facto que os empregadores que continuam a utilizar esta mão-
deobra não são criminalizados nem incomodados de forma dissuasora.
Nas margens do Mediterrâneo as economias informais caracterizam a região desde
há muito tempo sendo parte da explicação no aumento significativo da imigração ilegal
com a evolução da economia na Europa e a prossecução dos lucros através da
exploração de mão-de-obra cada vez mais barata. Através das contratações que
possibilitam subcontratações, forma-se uma cadeia em que vários níveis de negócios
são cobertos por subcontratantes legítimos. Agências de trabalho temporário também
contribuem para essa procura pois oferecem a flexibilidade e rapidez na disponibilização
de trabalhadores, muitas vezes usando esquemas fraudulentos quanto à contratação e
obrigações fiscais.
Quando por exemplo um contrato é deixado por assinar, a facilidade em dispensar um
trabalhador aumenta em muito e possibilita a legalização da situação do trabalhador
apenas quando necessário (Hibou, 2012).
Tanto imigrantes ilegais como legais sofrem no mercado de trabalho. Os ilegais
por deterem identificação falsa ou nenhuma identificação, ficam vulneráveis devido a
possibilidade de deportação que pode ser explorada pelo empregador. Os imigrantes
legais também são desprotegidos devido à legislação complexa.
A legislação laboral contribui para a precariedade dos imigrantes uma vez que
são permitidos contratos de trabalho de muito curto prazo que vai permitir a comutação
rápida entre trabalhadores legais e ilegais e potencia a utilização de subcontratantes
com mão-deobra temporária (Parrillo, 2004).
A permissividade dos estados quanto à utilização de mão-de-obra de
trabalhadores em situação ilegal contribui em muito para esta realidade, existindo casos
de ser possível um trabalhador em situação irregular pagar contribuições para o estado.
Contudo a situação criada ao não permitir a legalização de certos trabalhadores apesar
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de poder ser economicamente vantajosa, cria o receio nas comunidades de imigrantes
ilegais da sua eminente expulsão.
Existe a tentativa de uma abordagem equilibrada que se tenta realizar para lidar
com o problema da migração legal e o seu combate. Uma gestão adaptada dos fluxos
migratórios envolve uma política de tratamento imparcial aos nacionais de países
terceiros que residem legalmente nos Estados-Membros, aprimorar as medidas de
combate à imigração ilegal e diligenciar, em conjunto com os países terceiros uma
cooperação alargada. É um dos objetivos, desenvolver um nível semelhante de direitos
e deveres para os imigrantes legais, comparável ao dos cidadãos da UE.
As políticas quanto à imigração ilegal devem ser solidariamente tomadas por
todos os estados membros da EU, devendo as responsabilidades mesmo a nível
financeiro, ser em partilhadas de acordo com o art.º 80.º do TFUE.
As recentes intenções quanto ao envolvimento dos estados membros e
instituições, organizações internacionais, sociedade civil, autoridades locais e parceiros
fora da união europeia na prossecução de uma resposta imediata à recente crise no
mediterrâneo, foram em maio de 2015 definidas as prioridades na matéria (Comissão
europeia, 2015).
Assim será centrada a atuação na redução dos incentivos à imigração irregular,
através da investigação e desmontagem das redes de facilitadores e alinhar as políticas
de repatriamento seguidas pelos estados membros e fortalecer a atuação da agência
Frontex e firmar parceiras sólidas com países chave fora da união europeia.
É dada também importância ao salvamento das vidas e à segurança das
fronteiras externas através da melhoria das fronteiras inteligentes e financiar iniciativas
no norte de África para ajudar a região a tornar-se mais relevante em missões de busca
e salvamento e no estudo da implementação de um sistema de guarda de fronteira
europeia que possa ser implementado.
No campo das políticas de asilo, assegurar uma implementação completa e
coerente do sistema comum europeu de asilo através da utilização de sistemas de
identificação, permitindo que um pedido de asilo possa ter igual tratamento em todos os
estados membros e reavaliar o sistema de Dubin em meados de 2016.
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Já mais recentemente em 27 de Maio de 2015 a comissão europeia anunciou as
medidas concretas quanto às politicas de migração dando especial atenção aos
mecanismos de resposta para assistir à crise de imigração em Itália e na Grécia usando
o mecanismo de resposta de emergência nos termos do artigo 78 (3) do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia. Esta disposição, que está sendo ativada pela
primeira vez, será utilizadas para estabelecer um regime de deslocalização de
emergência para ajudar a Itália e a Grécia. O regime será aplicável a cidadãos sírios e
eritreus que necessitam de proteção internacional aquando da sua chegada a Itália ou
Grécia após 15 de Abril de 2015 ou que chegam após o mecanismo ser iniciado. Um
total de 40 000 pessoas devem ser realocadas da Itália e da Grécia para outros
Estados-Membros da UE com base em uma chave de distribuição ao longo dos
próximos dois anos - o que corresponde a aproximadamente 40% do número total de
requerentes de asilo com necessidade de proteção internacional que entraram nesses
dois países em 2014. Abrindo as porta a fazer o mesmo se outros Estadosmembros,
como Malta, também enfrentam um súbito afluxo de migrantes. Os EstadosMembros
receberão € 6.000 para cada pessoa realocados no seu território (Comissão europeia,
2015).
A Comissão aprovou uma recomendação pedindo aos Estados-Membros o
realojamento de 20000 pessoas de fora da UE, em clara necessidade de proteção
internacional. Os Estados-Membros que participam no regime terão direito a apoio
financeiro durante os anos de 2015 e 2016.
A criação de um plano de ação da UE contra a introdução irregular de imigrantes
para 2015-2020 estabelece medidas concretas para prevenir e combater o contrabando
de migrantes. As ações incluem a criação de uma lista de embarcações suspeitas,
plataformas dedicadas a melhorar a cooperação e troca de informações com instituições
financeiras e cooperar com prestadores de serviços de internet e órgão de comunicação
social para garantir que o conteúdo da Internet usada por contrabandistas para fazer
propaganda das suas atividades ser rapidamente detetado e removido (Comissão
Europeia, 2015).
Para o sistema comum de asilo da UE trabalhar de forma eficaz, os imigrantes
precisam de ser controlados sistematicamente através das impressões digitais no
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momento da chegada. Os serviços da Comissão publicaram diretrizes para que os
Estados-Membros estabeleçam uma melhor abordagem para a recolha das impressões
digitais aos candidatos recém-chegados necessitando de proteção internacional.
Equipas do Frontex e Europol irão trabalhar no terreno para identificar rapidamente,
registar e recolher as impressões digitais dos migrantes que entram e avaliar aqueles
que estão com necessidade de proteção.
A Comissão pretende melhorar o sistema de cartão azul UE existente, que visa
tornar mais fácil para as pessoas altamente qualificadas poderem vir e trabalhar na EU.
A consulta pública convida as partes interessadas (migrantes, empregadores,
organizações não governamentais, sindicatos, ONGs, agências de emprego, etc.) a
compartilhar suas opiniões sobre o cartão azul UE e como ela pode ser melhorada
(Comissão europeia, 2015).
O novo Plano de Atividades para o reforço da Operação Conjunta Tritão
estabelece o novo número de ativos: 10 marítimos, 33 terrestres e oito meios aéreos, 121
recursos humanos. O Plano Operacional também alarga o âmbito geográfico da operação
para sul até as fronteiras da de busca e salvamento para cobrir a área da antiga operação
italiana Mare Nostrum (Albrecht, 2002).
CONCLUSÕES Com as mudanças rápidas do mundo, as ameaças e as contingências também
mudam e cada vez surgem mais desafios que devem ser resolvidos para que prevaleça
o sentimento de segurança.
As principais ameaças à UE foram identificadas como o crime organizado, o terrorismo e
a cibercriminalidade. Para fazer face a essas ameaças as fronteiras externas europeias
devem ser reforçadas.
Os recentes acontecimentos no mediterrâneo vieram trazer para a agenda do dia
o problema dos fluxos de imigrantes para o território europeu vindo revelar os problemas
da pobreza extrema, fome, desespero e conflitos prolongados que empurram povos das
suas terras para tentar a sua sorte na Europa, onde as condições de vida são
significativamente melhores mesmo com a possibilidade do sacrifício da sua vida.
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Sistemas como o Eurosur tem como objetivo aumentar a perceção do fenómeno da
imigração ilegal e melhorar a resposta das entidades envolvidas no combate a esse
flagelo.
Para esse desiderato é fundamental a cooperação das autoridades responsáveis
em razão da matéria de todos os estados membros, principalmente os diretamente
responsáveis pela vigilância das fronteiras externas da União Europeia. Com estas
possibilidades a informação atualizada será disponibilizada aos estados membros e
Frontex que terão a possibilidade de alocar os seus recursos de forma mais racional.
Contudo o trabalho da vigilância das fronteiras deverá obrigatoriamente ser
complementado com as autoridades dos países de onde partem os imigrantes e dos
países de trânsito.
As novas tecnologias podem contribuir para a reação atempada e acertada para
fazer face nas fronteiras continentais e marítimas às mudanças geopolíticas dos países
de origem, o mais rapidamente possível.
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