Download - Arquitectura Sustentável Na Guiné-Bissau
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ARQUITECTURASUSTENTVEL
NA GUIN-BISSAU{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
ARQUITECTU
RA SUSTEN
TVEL NA GU
IN-BISSAU
{ MA
NUAL DE BOA
S PRTICA
S }
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ARQUITECTURASUSTENTVEL
NA GUIN-BISSAU{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
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EditorCPLP Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesawww.cplp.org
CoordEnaoProf. Arq. Manuel Correia Guedes [email protected]
Equipa tCniCaProf. Eng Klas Borges, Universidade de LundProf. Dr. Leo Lopes, Escola Internacional de Artes do Mindelo Prof. Arq. Gustavo Canturia, Universidade de Cambridge Prof. Arq. Manuel Correia Guedes, Instituto Superior TcnicoProf. Eng. Manuel Pinheiro, Instituto Superior TcnicoEng. Italma Simes Pereira, Instituto Superior TcnicoArq. Adolfo Ramos, Ministrio das Infra estruturas, Comunicaes e Transportes da Guin BissauEng. Gilberto Lopes, Instituto Superior TcnicoEng. Carla Gomes, Universidade de Aveiro
dEsign grfiCoJos Brando Susana BritoAlexandra Viola { Paginao }[Atelier B2]
pr imprEsso E tratamEnto dE imagEnsJoana Ramalho Gabriel Godoi[Atelier B2]
imprEssoidg Imagem Digital Grficawww.idg.pt
isbn 978-989-97178-0-0
n dE ExEmplarEs750
dEpsito lEgal323393/11
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ARQUITECTURASUSTENTVEL
NA GUIN-BISSAU{ MANUAL DE BOAS PRTICAS }
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5{ Apresentao }
O presente manual tem como principal objectivo
sugerir medidas bsicas para a prtica de uma ar-
quitectura sustentvel. Destina -se a estudantes e
profissionais de arquitectura e engenharia civil,
sendo tambm acessvel ao pblico com alguma
preparao tcnica na rea da construo. Tendo
em conta o clima, os recursos naturais e o contex-
to socioeconmico, so traadas, de forma simpli-
ficada, estratgias de boas prticas de projecto.
Foi elaborado no mbito do projecto europeu
SUREAfrica (Sustainable Urban Renewal: Energy
Efficient Buildings for Africa), implementado para
aprofundar e disseminar o conhecimento existente
em quatro pases africanos de lngua oficial portu-
guesa, na rea da arquitectura sustentvel em
particular no que se refere ao projecto bioclimti-
co e eficincia energtica em edifcios, contri-
buindo para a melhoria das condies de habitabi-
lidade do espao construdo. Participaram no
projecto trs instituies acadmicas europeias
o Instituto Superior Tcnico (coordenador do pro-
jecto), a Universidade de Cambridge (Reino Unido)
e a Universidade de Lund (Sucia) e quatro insti-
tuies africanas: o Departamento de Arquitectura
da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Escola
Internacional de Artes do Mindelo (MEIA, em
Cabo Verde), o Ministrio das Infra -estruturas e
Transportes da Repblica da Guin -Bissau, e a Fa-
culdade de Arquitectura da Universidade Eduardo
Mondlane (Moambique).
Ao longo do projecto SUREAfrica, que decor-
reu entre 2007 e 2009, foram realizados diversos
seminrios, workshops e conferncias, foi criada
uma rede de conhecimento entre as instituies
envolvidas, no domnio da arquitectura e planea-
mento urbano sustentvel, e foi produzido mate-
rial de apoio ao ensino, assim como manuais de
boas prticas. Os manuais so publicaes pionei-
ras, podendo servir de referncia no s para os
pases de lngua portuguesa, mas tambm para
outros pases africanos, e constituem um ponto de
partida para futuros trabalhos, to necessrios
nesta rea.
Deve ser salientado o contributo da Eng. Italma
Simes Pereira para a elaborao deste manual, en-
quadrado na sua investigao sobre Construo Sus-
tentvel na Guin -Bissau.
Prof. Manuel Correia Guedes
Coordenador do projecto SUREAfrica.
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7> Ao Ministrio das Infra -estruturas, Comunicaes e Transportes da Repbli-ca da Guin -Bissau, pelo apoio dado realizao deste manual e ao desenvol-
vimento das aces do projecto SURE -Africa na Guin Bissau.
> Ao Eng. Gilberto Lopes do IST, pela constante e preciosa ajuda dada ao longo de todo o projecto.
> A todas as pessoas individuais e entidades locais, pblicas ou privadas, que colaboraram na recolha de informaes para este manual, nomeadamente: Uni-
versidade Colinas de Bo, Cmara Municipal de Bissau, ONG Aco para o Desen-
volvimento (AD), ONG Tininguena, Banco de frica Ocidental (BAO), Dimenso 3,
Arquitectnica, ASCON, Arq. Domingos Fernandes da Unio dos Arquitectos Gui-
neenses, Eng. Carlos Silva, Domingos Quessange, Catarina Schwarz, Miguel de
Barros e Eng. Joo Carlos Esteves.
> Aos colegas da Universidade de Cambridge os Doutores Koen Steemers, Torwong Chenvidyakarn, Judith Britnell e, muito em particular, ao Doutor Nick
Baker, que esteve na gnese do projecto SURE -Africa, e que foi um elemento
chave para a sua realizao.
> Ao Dr. Lus Alves, aos Engenheiros Ulisses Fernandes e Anildo Costa, e Rita Maia e Maria do Cu Miranda, do IDMEC -IST.
> Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP), que apoiou e finan-ciou esta publicao.
> Fundao para a Cincia e Tecnologia, que contribuiu com financiamento para a execuo do design grfico do manual.
> Ao programa COOPENER da Unio Europeia, principal financiador do projecto SURE -Africa, e s instituies que para ele contriburam com co -financiamento:
a CPLP, a Fundao Calouste Gulbenkian, a FCT e a Direco Geral de Energia.
{ Agradecimentos }
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8A profisso de Arquitecto na Guin-Bissau , para todos os efeitos, uma
profisso nova.
Por razes que no importa aqui esmiuar, o ofcio
de arquitecto vinha sendo relegado para a penumbra
das profisses. A tendncia de absoro da forma pela
substncia ou dos meios pelos fins desvirtuou a pers-
pectiva metodolgica e artstica da obra, retardando a
autonomia do ofcio de Arquitecto e subalternizando-
a a outros ramos da engenharia, com ele conexos.
Sendo certo que, na Guin-Bissau, o ensino liceal
s surgiu no terceiro quartel do sculo passado, na-
tural ser que as profisses susceptveis de cativar a
ateno dos estudiosos e a admirao da praa sejam
as susceptveis de produzir, por si prprios, resulta-
dos concretos de indiscutvel utilidade.
Tal como se impuseram os ofcios de mdico e de
advogado, tambm o de engenheiro marcou o seu espa-
o, com a diferena de trazer em si j uma imparciali-
dade, englobando agrnomos, civis e electrotcnicos,
para s citar alguns, talvez os mais representativos.
To marcante era a tendncia que, mesmo durante o
perodo colonial, no fazia parte do quadro de mestres
o exerccio profissional especializado de Arquitecto.
{ Prefcio }
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9Havia, sim, os chamados desenhadores da C-
mara Municipal de Bissau geralmente praticados,
formados na tarimba, a quem se incumbia a elabo-
rao de projectos.
Seja como for, assistia-se ao nascimento de
uma profisso cuja projeco estava condicionada
pelas reais potencialidades do mercado, nessa al-
tura. Alias, para todos os efeitos, o Regulamento
Geral de Edificao Urbana contava com esses pr-
ticos, facto que testemunha o reconhecimento de
uma profisso indispensvel, desde logo, por uma
questo metodolgica.
Com o advento da independncia, comearam
a surgir Arquitectos de formao. A nova gerao
que na segunda metade de dcada de setenta fize-
ra as malas para as faculdades das diferentes Uni-
versidades do exterior, regressava agora com uma
nova viso e novas preocupaes profissionais.
Pouco a pouco, o Arquitecto guineense comea a
pr em causa o seu estatuto de andaime, conquis-
tando, palmo a palmo, o direito de estar presente no
momento da festa, exactamente na mesma posio
em que estaria o maestro.
Para coroar este esforo permanente de dignifi-
cao do ofcio, os profissionais desta praa insti-
turam uma associao, a Unio dos Arquitectos
da Guin-Bissau, que se afirma, cada vez mais,
como factor de aglutinao e de uniformizao da
linguagem tcnica de profissionais oriundos das
mais diferentes escolas, como interlocutora dos po-
deres pblicos e instrumento de divulgao e pro-
moo da arte arquitectnica.
Enfim, este o desafio com que o Arquitecto
guineense se v confrontado, demonstrar a impor-
tncia e os benefcios da arquitectura e do urbanis-
mo, lutar pela afirmao e consolidao da unio
cultural arquitectnica. Neste contexto, o manual
de boas prticas vem dar um contributo importante
para a arte de bem projectar e construir.
Se sonhamos, bom sonhar sonhos grandes
e sublimes para alargar a nossa alma e ench -la de
grandeza. Maria Ulrich,(1949)
Arq. Domingos Fernandes
Unio dos Arquitectos da Guin Bissau
{ Prefcio }
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NDICE
Apresentao 5
Agradecimentos 7
Prefcio 8
Introduo 14
1. Enquadramento 18
1.1 Informao geral 19
1.2 Espao construdo: situao actual 20
1.3 Medidas de interveno 26
2. Tipologias arquitectnicas 28
2.1 Arquitectura vernacular 31
2.2 Arquitectura colonial 42
2.3 Tendncias contemporneas 45
2.4 Construo para ecoturismo 48
3. Projecto bioclimtico: princpios gerais 52
3.1 Contexto climtico 55
3.2 Localizao, forma e orientao 56
3.3 Sombreamento 62
3.4 Revestimento reflexivo da envolvente 69
3.5 Isolamento 71
3.6 reas de envidraado e tipos de vidro 74
3.7 Ventilao natural 77
3.8 Inrcia trmica 87
3.9 Arrefecimento evaporativo 90
3.10 Controle de ganhos internos 91
3.11 O uso de controles ambientais 92
3.12 Estratgias passivas e critrios de conforto trmico 93
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4. Materiais de construo 98
4.1 Zinco 101
4.2 Terra crua 102
4.3 Madeira 106
4.3 Bambu 106
4.3 Pedra 107
4.4 Viabilidade econmica 108
5. Energias alternativas 110
6. gua e Saneamento 114
6.1 gua 115
6.1.1 Mtodos de captao 116
6.1.2 Mtodos de potabilizao 117
6.1.3 Abastecimento 118
6.1.4 Instalao 118
6.2 Saneamento 118
6.2.1 Latrina seca 119
6.2.2 Fossa sptica 121
7. Casos de estudo 124
7.1 Anlise de trs casos de estudo 125
7.2 Moradia proposta 139
7.3 Concluses 148
7.4 Sumrio: recomendaes gerais para a Guin Bissau 152
Bibliografia 153
Anexos
A1 Energia solar fotovoltaica 160
A2 O sistema Lder A 168
A3 Vegetao e conforto microclimtico 186
A4 A gesto urbana e o licenciamento: reviso bibliogrfica 193
A5 Desenvolvimento limpo nos PALOP 208
Autorias 212
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A questo do desenvolvimento sustentvel vem ocupando um lugar de
destaque nas sociedades, e construir de forma sustentvel tornou -se,
mais do que um slogan, numa necessidade cada vez mais pertinente e de-
terminante para a qualidade de vida.
Este estudo centra -se na anlise dos constran-
gimentos que se impem construo nos trpi-
cos, onde o clima agente determinante, condicio-
nando o desempenho dos edifcios durante o seu
tempo de vida til. desenvolvido para a Guin-
-Bissau, pas africano de clima tropical, tendo
como premissas os principais problemas que afec-
tam a construo nessa regio:
> Elevados nveis de temperatura e humidade> Dfice habitacional provocado pela falta de pla-neamento urbano, e pelo elevado xodo rural das po-
pulaes mais pobres para os centros urbanos
> Degradao do patrimnio edificado> Conflito entre o tradicional e a modernizao> Carncia energtica> Fraco poder econmico dos utentes
H muitas definies para Arquitectura Sustent-
vel, mas a essncia da sustentabilidade est intrinse-
camente ligada essncia da Arquitectura. Um bom
edifcio naturalmente sustentvel.
{ Introduo }
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Os edifcios designados para a sustentabilida
de so construdos e operados para minimizar to
dos os impactos negativos nos ocupantes (em ter
mos de sade, conforto e produtividade), e no
ambiente (uso de energia, recursos naturais e po
luio) Plainotis (2006).
Podemos afirmar que Vitrvio no sculo I a.C.
j defendia um projecto de Arquitectura Sustent
vel. O sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez,
beleza e utilidade) deveria incluir uma observao
da Natureza e um consequente aproveitamento
dos recursos naturais, com a utilizao da ilu-
minao solar e da ventilao natural. Factores
determinantes para a funcionalidade ambiental,
como a escolha do local para implantao das
cidades, a disposio das vias e a orientao
das edificaes deveriam reger o projecto desde
o seu incio.
Encontramos tambm prticas de sustentabi-
lidade na arquitectura vernacular, no erudita,
de muitas comunidades. Esta incorpora tecno-
logias construtivas que so o produto do conhe-
cimento emprico de muitas geraes, que ao
longo de sculos desenvolveram estratgias de
adaptao ao meio ambiente, utilizando recur-
sos locais.
As problemticas da sustentabilidade e das
alteraes climticas so frequentemente consi-
deradas como questes pertencentes aos pases
ricos. O continente africano, apesar de pouco
industrializado e pouco consumista, encontra -se
numa posio mais vulnervel do que os pases
desenvolvidos e fortemente industrializados.
O hiper -consumismo no deve ser um modelo a
seguir pelos pases em desenvolvimento que por
vezes erradamente prescrevem as tendncias oci-
dentais. H uma necessidade latente de no se-
guir os maus exemplos do mundo industrializado
e preservar uma qualidade, que podemos consi-
derar como intrnseca falta de riqueza financei-
ra, que a capacidade de reciclar e aproveitar os
recursos existentes.
Os pases mais ricos tm explorado os recursos na-
turais dos mais pobres, e alguns dos (poucos) ricos
dos pases mais pobres colaboram com este sistema,
permitindo a exportao de recursos naturais a custos
irrisrios. O debate contra a fome, a pobreza e as do-
enas endmicas ocupa um lugar cimeiro em frica.
{ Introduo }
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essencial pensar em estratgias de planea-
mento ecolgico e desenvolvimento sustentvel,
de forma holstica e integrada, evitando solues
de curto prazo e alcance. A sustentabilidade ener-
gtica e o uso responsvel dos recursos locais de-
vem ser partes integrantes do desenvolvimento
sustentvel do ecossistema.
Actualmente, a problemtica da construo
sustentvel, adaptada o contexto climtico, socio-
-econmico e cultural em que se insere, no se
encontra devidamente estudada ou explorada no
continente africano. Existe contudo um vasto cor-
po de conhecimentos e ferramentas de anlise que
permitem identificar as principais estratgias a
utilizar no projecto de edifcios em frica, solu-
es eficazes e econmicas para um bom desem-
penho do conforto interior de um edifcio. O pre-
sente manual pretende ser um contributo para o
conhecimento nesta rea de estudos.
Uma medida indispensvel a auto -suficincia.
Os altos custos de importao podero ser a moti-
vao para produzir e conduzir naturalmente a so-
lues mais viveis em termos ecolgicos e de res-
peito ambiental envolvendo o uso de recursos
locais. Tem de haver uma sensibilizao da popu-
lao neste sentido. O que pode e deve vir do ex-
terior so as novas tcnicas e concepes de cons-
truo, que permitem uma utilizao mais racional
da matria -prima.
Apesar de medidas pontuais do sector da cons-
truo fazerem alguma diferena, este s poder
ser verdadeiramente fomentado atravs de um
novo modelo de crescimento econmico, que te-
nha por base um desenvolvimento ecologicamen-
te sustentado. Devero ser incrementadas medi-
das para a promoo de materiais de baixo custo,
com desenvolvimento de tipologias e tecnologias
de construo locais, que se revelem determinan-
tes e eficientes.
O processo participativo e a auto -construo
devero ser integrados nesta teia sinergtica de
solidariedade e unio colectiva, com o objectivo
de superao dos problemas de escassez de recur-
sos financeiros. O arquitecto, na sua prtica pro-
fissional, para alm da utilizao de materiais lo-
cais e da introduo de sistemas de energias
renovveis, deve prever no projecto os espaos de
construo prioritria e contemplar o edifcio
como um organismo que pode crescer, num pro-
cesso espacial evolutivo que acompanha o cresci-
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15
mento das famlias. O abrigo evolutivo que com-
porta espaos com potencial de expanso, para a
famlia em crescimento, um elemento cultural
em frica. Paralelamente, a definio dos espaos
de construo prioritria fundamental para a
gesto dos recursos financeiros.
Mais de mil milhes de pessoas nos pases em
desenvolvimento no tm abrigo adequado e
calcula -se que cem milhes no tm casa. O ob-
jectivo deste Manual sugerir medidas bsicas
para a concepo de uma casa confortvel, que
respeite a natureza, e com custos reduzidos de
construo e de manuteno. Tendo em conta o
clima, os recursos naturais e o contexto socioeco-
nmico, so traadas estratgias de boas prticas
para o projecto arquitectnico na Guin -Bissau.
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{ captulo 1 }
Enquadramento
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1.1 Informao geral
Acerca do territrio
Localizao: Costa Ocidental Africana, latitude
115'N e longitude 154'E, limitada a Norte pela
Repblica do Senegal, a Este e Sul pela Repblica
da Guin Conacri e a Oeste pelo Oceano Atlntico.
Superfcie: 36.125 km2
Populao: 1.500.000 habitantes (de acordo com
os resultados provisrios do ltimo censos 2009)
Territrio: composto por continente e ilhas,
subdivide -se num sector autnomo, Bissau, e oito
regies Gab, Bafat, Oio, Cacheu, Tombali, Qu-
nara, Bolama/Bijags, e Biombo. { FIG. 1.1 } Guin -Bissau, localizao geogrfica.
{ FIG. 1.2 } Panormicas da Guin -Bissau.
Relevo: caracterizado por plancies, galerias flo-
restais, e ausncia de acidentes orogrficos, sen-
do o ponto mais alto na montanha Futa Djalon,
regio de Gab, com 300 metros de altura.
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Condies climticas
Clima: tropical quente e hmido, com duas estaes.
Estao hmida: de finais de Maio a Outubro,
com ventos de sudoeste, com chuvas fortes que
chegam a tingir 600 mm de precipitao, e nveis
de humidade elevados, acima dos 80% nos meses
de Julho a Outubro.
Estao seca: de Novembro a Abril, com ventos de nor-
deste, onde ocorrem os dias menos quentes do ano.
Temperatura: mdia oscila entre os 25 e 30C du-
rante todo o ano.
Histria, cultura e economia
Histria: Descoberta em 1446 pelo navegador
portugus Nuno Tristo, a Guin -Bissau foi col-
nia portuguesa durante 527 anos, at proclama-
o unilateral da independncia a 24 de Setembro
de 1973, reconhecida por Portugal aps o 25 de
Abril (1974).
Cultura e Sociedade: marcadas pelas caractersticas
dos principais grupos tnicos Balantas, Papis, Bija-
gs, Manjacos e Felupes, essencialmente animistas, os
Fulas e Mandingas, islmicos, e os Beafadas e Nalus.
Economia: apoia -se essencialmente na agricultura,
que representa 62% da actividade econmica do
Pas (AD, 2006). PIB: 173,32 bilhes FCFA (em va-
lor), dados do Instituto nacional de Estatstica.
Recursos naturais
Constituies rochosas: xistos argilosos, grs,
doloritos, e formaes laterticas, que se encon-
tram em quase todo o territrio (Oliveira, 1967).
Madeira: existe em abundncia, devido riqueza
local em espcies florestais.
Outros recursos: bauxite, fosfato, e potencialidade
de se explorar depsitos de petrleo.
1.2 Espao construdo: situao actual
A prtica da construo na Guin -Bissau implica
enfrentar condies climticas especficas, e pro-
blemas de habitao e urbanismo, como as carn-
cias habitacionais e infra -estruturais, degradao
acentuada de edifcios, e falta de identidade urba-
na, comuns a pases tropicais.
{ FIG. 1.3 } Paisagens da Guin -Bissau.
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Aces como a radiao solar, chuvas intensas e
humidade do ar, desafiam arquitectos, engenheiros
e urbanistas criao de solues mais sustent-
veis na procura de segurana e conforto em edif-
cios. A forte exposio radiao solar contribui
para o sobreaquecimento, factor crtico para a ob-
teno de conforto. A proteco radiao solar, e
a promoo de ventilao natural so prioridades
para o contexto Guineense.
A aco das chuvas pode ter um efeito erosivo,
contribuindo para o desgaste mais acentuado dos
materiais, principalmente nos aplicados no exterior
(coberturas, revestimentos de fachada, etc.), po-
dendo tambm ser responsvel por fissuras superfi-
ciais devido ao arrefecimento rpido das superf-
cies, e por humidades interiores devido a infiltraes.
Assim, ao fenmeno de sobreaquecimento pode ser
adicionado o da sobre -humidificao, pois a ele-
{ FIG. 1.4 } Edifcio na zona antiga da cidade de Bissau Bissau velho, agredido ao longos dos anos pelos agentes climticos, evidenciando actualmente necessidade de reabilitao profunda.
{ FIG. 1.5 } Edifcio no centro da cidade de Bissau, com todas as fachadas sombreadas pela cobertura e envolvente arborizada.
{ FIG. 1.6 } Fachada de tipologia importada, bastante desadequada para a nossa regio climtica e cultural.
vada humidade aumenta a sensao trmica de ca-
lor, contribuindo significativamente para o aumen-
to de desconforto. O elevado teor de humidade no
exterior aumenta tambm o grau de deteriorao
dos materiais (rebocos, madeiras, metais) por
aco de vegetaes parasitrias e oxidao.
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As condies climticas surgem assim como
um factor essencial a considerar no projecto de
um edifcio, seja ele moderno ou tradicional.
O urbanismo nos trpicos requer tambm con-
sideraes relativamente a tcnicas de planea-
mento e reabilitao urbanos. Nas zonas hmidas
a movimentao do ar necessria para a manu-
teno do conforto. As prprias ruas devem ser
orientadas de forma a aproveitar as brisas, e a ar-
borizao no deve impedir a circulao do ar,
sendo as rvores altaneiras como a palmeira as
mais aconselhveis.
Os edifcios, tendo alguma diferena de alturas
podem promover a ventilao, e actuar no som-
breamento adjacente uns dos outros. Ruas com
um traado regular, e espaos amplos entre os
edifcios, tambm facilitam a ventilao.
Na densificao em baixa altura devem ser consi-
derados os custos com a infra -estrutura, o consumo
{ FIG. 1.7 } Modernizao desadequada da arquitectura tradicional. { FIG. 1.8 } O arquitecto dever ter a capacidade de fazer a simbiose entre as influncias adquiridas no exterior com as tradies e vivencias locais.
energtico em combustvel, a reduo da diversidade
social, a destruio da natureza circundante, entre
outros factores da expanso humana. Investigaes
levadas a cabo por economistas latino -americanos
permitiram determinar que preparar um lote com
servios nos subrbios para a construo de uma vi-
venda e custear os servios, facilidades, transporte,
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equipamentos, custa a um pas at 16 vezes mais
que o mesmo num centro urbano consolidado.
O desenvolvimento de cidades intermdias como
estratgia para alvio das cidades grandes, criando-
-se oportunidades de progresso entre elas, deve ser
uma prtica corrente. Evitar a expanso da cidade ao
infinito e estabelecer os seus limites atravs de cor-
redores biolgicos urbanos uma ferramenta aplic-
vel nos trpicos, com muitas garantias de xito.
O urbanismo tropical depende de solues p-
blicas e privadas:
} Melhor aproveitamento do tecido urbano, dotando-
-o de infra -estruturas, e passando as actividades
pblicas para os pisos superiores dos edifcios;
} Aplicao do princpio da intensidadedensidade,
procurando -se equilibrar a populao com a ener-
gia das suas actividades urbanas. A previso de ex-
tensas reas para a intensidade de vida urbana
{ FIG. 1.9 } A integrao e valorizao de materiais locais associados a tipologias e materiais modernos reforam a identidade cultural e facilitam a integrao no meio ambiente.
{ FIG. 1.10 } Arquitectura o retrato, o resumo, da cultura e do meio em que surge, da gente que a produz...
{ FIG. 1.11 } Sombreamento de edifcios por palmeiras, com espao livre para ventilao natural.
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uma boa prtica porque torna a cidade mais homo-
gnea, e evita a segregao entre reas deprimidas
e animadas;
} Criao de instrumentos imediatos e efectivos (pa-
ralelamente aos planos directores), que permitam
atingir objectivos urbansticos mais precisos e urgen-
tes, evitando -se a utopia de ordenao e o fomentar
da negligncia oportunista. Isso implica a definio
de prioridades por parte da administrao, determi-
nando quais as cidades previstas, desenvolvendo ins-
trumentos de aco e aplicando -os a curto prazo.
} Definio de limites dentro dos limites da peri-
feria da cidade, permitindo maior controlo e reali-
zaes mais efectivas;
} Incorporao de vegetao no desenho das ruas;
previso de materiais ecolgicos e adequados ac-
o da chuva e do sol, na construo de estradas;
} Correcto dimensionamento das solues de per-
meabilizao e escoamento das guas pluviais,
evitando o seu acesso aos rios; sobre -elevao
dos edifcios do solo; previso de reas de reten-
o para controlo da gua nas grandes avenidas,
evitando -se inundaes e eroso;
} Manipulao do vento dentro das cidades, atravs
de corredores, pois permite baixar a temperatura da
ilha de calor, e quando associada ao solo, fachadas,
e coberturas jardinadas, a frescura efectiva.
Em termos de Instrumentos de gesto urbana,
ainda nos anos 90 foram aprovados o Regulamen-
to Geral da Construo e Habitao (actualmente
designado Regulamento Geral para a Construo
e Urbanismo na Guin -Bissau aps reviso em
2006), e a Lei do Ordenamento Territorial e Urba-
no, para Bissau, e elaborados Planos de Ocupa-
o do Solo, para sete cidades (Bafat, Gab,
Farim, Bissor, Canchungo, Buba, e Cati), que
servem de instrumentos de base no uso e ocupa-
o do solo (A. Ramos, 2007). O Regulamento
{ FIG. 1.12 } Incorporao de vegetao no desenho da rua, funcionando simultaneamente como corredor de manipulao do vento, e ao mesmo tempo protegendo a estrada da aco das chuvas. A inclinao das bermas propcia ao escoamento superficial da gua das chuvas, directamente para os jardins laterais.
{ FIG. 1.13 } Edifcio ecoturstico sobre -elevado do solo, protegendo -o da humidade do terreno, relevante na poca das chuvas.
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Geral para a Construo e Urbanismo na Guin-
-Bissau regulamenta a execuo de novas edifi-
caes, e de quaisquer obras de construo civil
(reconstruo, ampliao, reparao, ou demoli-
o), ou ainda trabalhos que impliquem a altera-
o da topografia local, dentro do permetro urba-
no, e das zonas rurais de proteco fixadas para as
sedes de Municpio e Sector, e para as demais lo-
calidades sujeitas por lei a planos de urbanizao
e expanso (MOPCU, 2006).
No que toca problemtica da habitao, esta en-
globa invariavelmente o alojamento, infra -estruturas
sanitrias e de saneamento, energia, educao, equi-
pamentos, e emprego, mais especificamente no res-
peitante s suas carncias. Actualmente a carncia
habitacional predomina na capital (onde se situam os
principais equipamentos colectivos) devida em parte
ao enorme xodo rural, e falta de planeamento urba-
no. A malha urbana no tem acompanhado a evoluo
da cidade, adoptando -se pelo contrrio solues de
urbanizao de mais bairros e de concesso de terre-
nos para a construo de forma liberal, sem conside-
raes no mbito do saneamento bsico, ou infra-
-estruturao de apoio (instalaes elctricas, redes
de abastecimento de gua, telefone, ou mesmo vias
de acesso). A falta de manuteno dos edifcios e
infra -estruturas antigas apenas mais um factor de-
terminante na degradao da cidade.
Assim, no panorama actual identificam -se os se-
guintes problemas:
} Falta de identidade urbana nas principais cida-
des, gerada pela construo livre e espontnea
{ FIG. 1.14 } A construo de uma cidade moderna implica: organizao e planeamento participativo; promoo da mudana de mentalidade; e investimento (rentabilizao da cidade e captao de recursos).
{ FIG. 1.15 } Perante a actual situao econmica, as relaes entre a Arquitectura/Planeamento urbano e o trpico devem ser encaradas, principalmente em termos da contribuio que possam trazer para o rendimento do nvel econmico e social das classes ainda hoje marginalizadas da evoluo e do progresso da tcnica, e que representam a imensa maioria entre os que vivem nos trpicos.
{ FIG. 1.16 } Edifcios na zona de Bissau velho evidenciando degradao dos materiais exteriores e aparecimento de vegetao indesejada.
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} Carncia em termos de infra -estruturas habita-
cionais, de transportes colectivos, energia, higie-
ne e saneamento bsico
} Degradao acentuada de edifcios coloniais e
vias de circulao
} Deficincia no fornecimento de energia elctrica
} Desconforto no interior e rpida degradao dos
edifcios em geral devido a agentes atmosfricos
} Transio das casas vernaculares tpicas no meio
rural, para moradias atpicas
1.3 Medidas de interveno
No diagnstico da construo e habitao na Guin-
-Bissau prope -se possveis solues, consideran-
do -se tambm propostas de Pereira (2001) e A. Ra-
mos (2007):
} Desenvolvimento de polticas de promoo ha-
bitao e aces de saneamento, definindo -se os
objectivos, as prioridades, e os instrumentos ne-
cessrios sua implementao
} Desenvolvimento de polticas de expanso, e de
conservao ou recuperao do patrimnio arqui-
tectnico e infra -estrutural colonial
} Investimento em tecnologias e materiais de
construo de fabrico local, mais adequados ao
clima, com vista reduo das necessidades de
importao e aumento do conforto e durabilidade
} Promoo da coordenao entre as diversas re-
as intervenientes na cidade (transportes, comr-
cio, indstria, etc.);
{ FIG. 1.17 } Edifcios contguos numa das principais avenidas da cidade de Bissau (Mercado de Bandim), evidenciando caractersticas arquitect-nicas e construtivas bastante diferentes entre si, e independentes dos edifcios tpicos do centro da cidade, na sua maioria coloniais. Por um lado um edifcio de 2 pisos com comrcio no rs -do -cho e armaduras de espera para o seu prolongamento em altura, tipificando uma construo
que tem proliferado na sub -regio ocidental africana; a cobertura plana e as fachadas a descoberto, com elementos estruturais em beto armado. Por outro lado uma habitao horizontal de baixo custo, com paredes de adobe, e cobertura de zinco de 4 guas, protegendo as 4 fachadas. Este tipo de construo tpico dos arredores da cidade e no interior, tendo vindo a substituir a tradicional palhota de colmo e taipa.
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} Criao de incentivos e mecanismos para o fo-
mento de uma participao mais activa do sector
privado, atravs de investimentos no mercado
imobilirio, construo civil e obras pblicas
} Criao de um plano estratgico de formao de
tcnicos, a diversos nveis, com competncia para
implementar e executar as polticas definidas para
os diversos sectores
} Promoo de aces e campanhas com vista
mudana de mentalidades e promoo de compor-
tamentos de cidadania adequados vida urbana
} Criao de mecanismos de controlo da qualidade e
tipo de construo, bem como instrumentos de ges-
to urbanstica, que evitem o caos urbanstico
} Valorizao das caractersticas da habitao
tradicional
} Desenvolvimento de polticas de encorajamento
das populaes rurais fixao nos seus locais
tradicionais de residncia; criao das autarquias
regionais, e desenvolvimento dos equipamentos
colectivos adequados
} Maior planificao, traduzido em planos de urbani-
zao, acompanhados de redes elctricas, e de sane-
amento bsico (gua, esgotos, recolha de lixo, etc.)
} Reabilitao ponderada dos edifcios, adequando-
-os realidade urbana actual
} Investimento em tecnologias associadas s
energias renovveis
} Melhoria dos projectos, com vista diminuio
de necessidades energticas em edifcios
} Requalificao e integrao dos edifcios exis-
tentes, para que apresentem as necessrias condi-
es de habitabilidade
} Adopo de regras construtivas que propiciem
maior conforto no interior dos edifcios
No prximo captulo so descritas as principais
tipologias arquitectnicas existentes na Guin
Bissau sendo de seguida traadas estratgias de
sustentabilidade, em termos do projecto bioclim-
tico dos edifcios, do uso de energia, da gua, e
do saneamento.
{ FIG. 1.18 } Bungalow inserido no logradouro de um conjunto habitacional tirando partido do sombreamento natural e dos materiais locais: revestimento de pedra, que resiste bem ao desgaste provocado pela aco das chuvas, cobertura em colmo, bastante mais fresco, protegendo do calor intenso, e revestimento interior em esteiras feitas com taras de cana e bambu local. No pavimento aproveitamento de pedaos irregulares de cermica partida.
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{ captulo 2 }
Tipologias arquitectnicas
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Na Guin -Bissau identificam -se, de forma geral, qua-
tro tipologias arquitectnicas: a arquitectura vernacu-
lar, a arquitectura colonial, a arquitectura contempo-
rnea corrente, e tambm as recentes edificaes para
ecoturismo. Na arquitectura tradicional, encontram -se
solues construtivas simples, inspiradas na seguran-
a, no conforto e em crenas religiosas, patrimnios
de grande valor cultural, reveladores de profundos co-
nhecimentos empiricamente adquiridos. Na arquitec-
tura tpica colonial a utilizao da rgua e do esqua-
dro mais evidente, com interveno clara de tcnicos
especializados, bem como nos edifcios com tendn-
cias contemporneas, actualmente distribudos um
pouco por todo o territrio.
{ 1 } Arquitectura vernacular casas de palha, em
zonas rurais, com paredes de taipa ou adobe e co-
bertura de colmo.
{ FIG. 2.1 } Arquitectura vernacular: Casa do Rgulo de Gab.
{ FIG. 2.2 } Edifcios da poca colonial, com varanda saliente.
{ 2 } Arquitectura colonial moradias construdas
no perodo de administrao portuguesa no centro
das principais cidades (Cacheu, Bolama, Bissau,
Gab), abarcando diferentes estilos, elementos
formais e tcnicas construtivas.
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{ 3 } Tendncias contemporneas moradias contem-
porneas com elementos estruturais de beto armado,
paredes de tijolo cermico ou blocos de beto, e co-
bertura de telha, na periferia dos centros urbanos;
{ FIG. 2.3 } Edifcio contemporneo atpico construdo no alto Bandim.
{ 4 } Construo para ecoturismo com predileco
pelo uso de materiais naturais como a terra, a madei-
ra, e o colmo.
{ FIG. 2.4 } Construo para ecoturismo.
{ QUADRO 2.1 } Classificao das tipologias arquitectnicas da Guin -Bissau. Casas a cinzento indicam ocorrncias que no correspondem situao tpica ou mais usual.
Caracterstica Descrio Tipologias Vernacular Colonial Contempornea Ecoturismo
Tipo de insero
Rural
Urbano
Periurbano
Materiais de parede
Taipa
Adobe
Adobe reforado
Blocos de beto
Tijolo
Materiais de cobertura
Colmo
Zinco
Aluzinco
Fibrocimento
Telha
Beto
Promotor
Pblico
Privado
Cooperativa
Autoconstruo
Tipo de uso
Unifamiliar
Colectiva
Administrativo
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O tipo de construo pode ainda ser distinguido
consoante os agentes, que se dirigem a estratos socio-
econmicos diferentes. Por um lado a promoo pbli-
ca destinada essencialmente a famlias com fraco po-
der econmico, por outro o sector privado que promove
habitaes para um estrato social economicamente
mais estvel (rendimentos mdios a elevados), e num
plano intermdio o sector cooperativo, que procura
responder s necessidades de uma pequena burguesia,
organizando -se normalmente nos ministrios ou insti-
tuies, destinado aos funcionrios. Existe ainda a
construo popular no consolidada em espao urba-
no, no controlada pelos mecanismos administrativos,
praticada em ambiente peri -urbano ou infiltrada em
bairros j existentes, sem qualquer plano de base.
2.1 Arquitectura vernacular
A sociedade guineense possui uma multiculturalida-
de caracterizada pelas diversas etnias, cerca de 30,
cujas particularidades se reflectem na lngua, usos e
costumes, na organizao espacial e ordenamento
{ FIG. 2.5 } Distribuio dos grupos tnicos pelas regies.
{ FIG. 2.6 } Relaes funcionais entre a casa e o meio ambiente.
Modos de vida
Actividade econmica
Meio fsico
Materiais de construo
Condies de segurana
Casa
do territrio, na construo das habitaes e mate-
riais utilizados, bem como na simbologia e crenas
religiosas. Tal diversidade poderia ainda estender -se
gastronomia, prticas rituais, manifestaes festi-
vas e actividades de natureza econmica.
A arquitectura vernacular engloba as habita-
es mais ancestrais do territrio, designadas ca-
sas de palha, cuja tcnica de construo foi sen-
do transmitida de gerao para gerao. Esta
arquitectura de autoconstruo, espontnea e sem
interveno de tcnicos especialistas, respeita no
entanto uma ordem interna com fundamentos nos
usos e costumes seculares dos diversos grupos t-
nicos, os quais conservam a sua tradio.
As casas de arquitectura vernacular encontram -se
distribudas pelo pas com caractersticas globais mui-
to prximas e detalhes nicos conforme o grupo tni-
co, estabelecendo -se entre a casa e o meio ambiente
as relaes funcionais focadas na { FIGURA 2.6 }.
Tradicionalmente a populao rural tem as suas ac-
tividades repartidas entre a agricultura, a pesca e a
pastorcia, o que influencia a organizao das habita-
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es em moranas1 dispersas ou concentradas. Por
exemplo o grupo Balanta sendo dedicado agricultura
assenta -se em moranas dispersas por bolanhas (pn-
tanos para o cultivo do arroz), enquanto os Bijag que
se dedicam mais pesca, e os Manjaco dedicados a
culturas rotativas, apresentam moranas concentradas.
O conjunto de vrias moranas forma o povoamento.
Os povoamentos com moranas dispersas vo
usufruir de melhores condies de ventilao natu-
ral, embora todos sejam inseridos em meios natural-
mente arborizados por rvores altaneiras, que no s
promovem a ventilao, como tambm conferem um
adequado sombreamento s habitaes, e proteco
contra a aco directa da gua das chuvas.
As tcnicas de construo associadas a alguns
grupos tnicos apresentam -se de seguida, de acordo
com o seu modo de vida. Foram consultadas obras de
diversos autores para a elaborao do texto seguida-
mente apresentado sobre arquitectura vernacular,
nomeadamente de J. Arajo, Franklin Sousa, Augus-
to Lima, A. Meireles, Avelino Mota, Ventim Neves, e
Fernando Quintino (em A. Mota, ed., 1948).
Balanta
As habitaes Balanta so caracterizadas por pa-
redes de barro, cobertura de paus rijos revestidos
de capim, sobre um forro (tecto).
As construes so iniciadas na poca seca, duran-
te os meses mais quentes a seguir ao perodo das chu-
vas, Maro ou Abril, e decorem em mdia 2 meses,
desde o levantamento das paredes at execuo da
cobertura. Primeiro escolhe -se o local, cumprem -se as
praxes cerimoniais religiosas, e antes de se iniciar a
construo propriamente dita, a planta da casa tra-
ada numa clareira, com todas as suas divisrias.
No h interveno de pessoal especializado,
o prprio interessado que edifica a sua casa, re-
correndo ajuda de parentes ou amigos, em troca
de qualquer tipo de remunerao, em geral, gado
abatido e comido em comunidade, acompanhado
de algumas bebidas espirituosas.
As paredes so erguidas por camadas de 1 metro,
com barro amassado com palha de arroz para aumentar-
-lhe a consistncia, e aps o endurecimento ao sol da
primeira camada, colocada a camada seguinte, at
se atingir os 3 metros de altura. Nos intervalos de es-
pera para o endurecimento das camadas, rene -se o
material necessrio para a fase seguinte: paus para o
forro, geralmente paus de mangal, por serem mais re-
sistentes e menos vulnerveis ao ataque dos bichos,
canas para o ripado do telhado, fibras para as ligaes,
extradas de pau de cibe, e colmo para a cobertura.
{ FIG. 2.7 } Casa vernacular Balanta, evidenciando -se a constituio da cobertura por colmo aplicado sobre uma trama de bambu e paus de mangal. As paredes so de adobe ou taipa, e os pilares de tronco de palmeira.
1. Agrupamentos de casas de indivduos pertencentes mesma famlia, ao mesmo grupo etrio, ou gnero.
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Ao mesmo tempo que se constroem as paredes,
fazem -se recipientes no interior, tambm em bar-
ro, para guardar o arroz, os quais no poderiam
depois entrar pelas portas. O pavimento feito de
terra batida, levando uma camada de barro mistu-
rado com palha de arroz, e em alguns casos excre-
mentos de animais. No so feitas fundaes, sen-
do essa camada de reforo que impede que a gua
das chuvas afecte a base das paredes.
O tamanho da casa funo das necessidades
do chefe de famlia: nmero de mulheres, nmero
de filhos, quantidade de arroz a armazenar, quan-
tidade de gado a recolher, etc. A preocupao
com a segurana est patente no s nos mate-
riais empregues, como na arquitectura interior
da habitao, e deve -se maioritariamente aos
costumes desta etnia, onde aos jovens permiti-
da uma vida bomia tal, que leva existncia de
roubos de natureza engenhosa e demais actos
menos lcitos. Com a actividade econmica base-
ada na cultura de arroz, so projectados nas ha-
bitaes espaos prprios para o armazenamento
deste, denotando uma preocupao bvia com a
segurana contra roubos.
{ FIG. 2.8 } Forro da cobertura, em quirintin, que no s protege o interior da habitao em caso de incndio, como tambm permite a sua ventilao adequada, sendo ainda utilizado para guardar lenha no tempo das chuvas. O quirintin um entranado de varas de bambu, muito utilizado na construo vernacular guineense.
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A ocupao profissional determina a localizao
das povoaes, nas proximidades dos pntanos
onde cultivado o arroz, de onde advm porm al-
guns inconvenientes como a proliferao dos mos-
quitos. Consequentemente, o Balanta atribui uma
disposio especial s suas casas, dotando -as em
geral de quartos sem janelas, e havendo alguma,
pequena, no quarto do dono da casa e virada para
a varanda. A ventilao feita atravs de pequenos
orifcios vedados com 10 cm de dimetro.
A cobertura de colmo seco, torna o perigo com
o fogo bastante real, logo, as casas levam um for-
ro especial, constitudo por um gradeamento de
madeira revestido de barro, sobre o qual assenta a
estrutura do telhado.
Por todos os cuidados j referidos, a habitao
caracteriza -se tambm por uma longevidade ele-
{ FIG. 2.9 } Planta de uma casa bijag.
vada, mantendo -se em bom estado de conserva-
o durante anos. Apenas o colmo tem de ser
substitudo regularmente. Este funciona como
bom isolante, e encontra -se em abundncia, sen-
do o nico inconveniente a humidade proveniente
das chuvas, e a aco de insectos.
A casa tradicional tpica de forma arredondada,
possui uma parede direita na fachada principal,
donde se alarga uma varanda em arco, que serve
no s de cozinha, como tambm de sala de visi-
tas e de refeitrio.
Bijag
Os Bijags vivem num arquiplago composto por
ilhas muito prximas umas das outras, com rvo-
res imponentes, e plantas herbceas e sub-
-arbustivas. As suas habitaes apresentam um
carcter concentrado no meio da arborizao.
Neste grupo tnico as casas so predominante-
mente circulares, construdas com recurso aos se-
guintes materiais:
} Barro: terra vermelha amassada com gua, em
propores livres (quanto baste);
} Cana: utilizada para suportar a cobertura, abun-
dante em algumas ilhas, e com uma forma mais
direita para o assentamento da palha, o que a tor-
na esteticamente mais agradvel do que as varas
de mangal; no entanto, a nica preocupao en-
contrar tamanhos razoveis de um ou de outro que
alcancem do cume ao beiral da casa;
} Corda: tiras das folhas de palmeira, previamente
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batidas e metidas em gua, de forma a perderem a
seiva, propcia aos insectos, conservando malea-
bilidade e rigidez;
} Colmo: capim entranado e tecido ao cho, para de-
pois ser colocado por cima da estrutura da cobertura.
No local onde vai ser erguida a habitao
marcado o centro da habitao com um pau crava-
do no cho. A partir deste traam -se trs circun-
ferncias concntricas, correspondendo o crculo
interior casa principal, o espao livre entre este
e a circunferncia intermdia utilizado como va-
randa interior ou corredor, e por fim a varanda ex-
terior limitada pelo crculo exterior.
O processo construtivo inclui 3 fases, elevao
das paredes, alisamento do pavimento e execuo
da cobertura. A elevao das paredes feita de dois
em dois dias, por camadas, dando um dia de inter-
valo para a secagem das camadas de barro. Nos dias
de intervalo alisa -se o cho com palmatrias de
madeira e deitando -lhe gua. A tarefa de amassar o
barro da responsabilidade das mulheres solteiras,
{ FIG. 2.10 } Instalao sanitria exterior casa Ilha de Bubaque.
enquanto as paredes so elevadas pelas mulheres
casadas, e a cobertura executada pelos homens.
A casa principal de forma cilndrica tem um raio
mdio de 2,20 m e a altura de 3,60 m. Neste espao
encontram -se as camas em terra batida destinadas
aos donos da casa, bem como a cozinha que con-
siste em 3 pedras onde assenta o caldeiro. As por-
tas desta diviso possuem 1,60 m de altura por 46
cm de largura, com 10 cm de soleira, para o interior
e para o exterior. As paredes da casa tm uma es-
pessura de 30 cm. O tecto encontra -se a 2 metros
de altura, e constitudo por 6 traves de pau de
{ FIG. 2.11 } Armao para a parede e cobertura de uma casa fula.
{ FIG. 2.12 } Pormenor de uma parede Fula, com uma base de entramado de canas rebocada com barro, lembrando a tcnica da taipa de fasquio ou tabique.
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mangal entranado, atravessados por cima por ou-
tros troncos agarrados uns aos outros, deixando um
espao lateral livre de um metro que permite subir
para a espcie de sto que se forma por cima,
e permitindo ventilar a cobertura.
O corredor ou varanda interior em geral com dois
metros da largura, limitado exteriormente por uma
parede circular intermdia de 1,80m de altura, e es-
pessura de 20cm. Este espao compreende uma sala
de visitas, um quarto, um pequeno hall, e um quarto
{ FIG. 2.13 } Remate da armao da cobertura.
{ FIG. 2.14 } Pormenor da armao de uma cobertura (regio de Tombali).
de hspedes. A varanda exterior circunda toda a
casa, numa largura de 1m, e altura de 1m.
A casa no tem janelas, e as portas so feitas
com madeira do Poilo (rvore tropical de troncos
fortes). No topo da cobertura executado um remate
de sensivelmente 40cm, composto por um pau verti-
cal amarrado ao travejamento e forrado com o colmo
da cobertura. Este elaborado remate tem o fim til
de evitar a infiltrao das guas da chuva.
Estas casas, tpicas palhotas redondas benefi-
ciam de um sombreamento eficaz, conferido pela
cobertura, prolongada quase at ao cho. Aliado ao
isolamento do forro, e do colmo, e ausncia de
janelas, a frescura interior fica garantida. A grande
inclinao da cobertura garante um bom escoamen-
to da gua das chuvas, e menor exposio solar.
Fula
O material preponderante na construo de uma casa
fula sem dvida o bambu. Com seces de 3 a 5 cm,
o bambu cortado longitudinalmente em 4 partes, e
aps retirar -se o revestimento interior, tecido em es-
teiras, formando uma estrutura mais espessa que ser
o principal constituinte das paredes (quirintin), cons-
trudas fixando este entranado de bambu a estacas
previamente espetadas no cho, posteriormente re-
vestido de lama no interior e no exterior, ou alternati-
vamente em apenas uma das faces.
A estrutura da cobertura construda em separado
tambm com canas de bambu, previamente secas, e s
depois colocado sobre as paredes da casa, com compri-
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{ FIG. 2.15 } Casa vernacular Manjaca sector de Canchungo.
mento at 2 metros. Caso as paredes sejam muito al-
tas, a cobertura constri -se directamente sobre elas. O
revestimento de colmo disposto por camadas de bai-
xo para cima, e rematado com um tufo de capim, cuja
principal funo barrar a entrada da gua das chuvas
na juno das estacas da estrutura da cobertura.
Manjaco
Os Manjacos utilizam maioritariamente a forma rec-
tangular, desde a poca colonial, com o objectivo
de reduzir o valor dos impostos, que incidia sobre o
nmero de quartos da habitao, e na casa rectan-
gular possvel aproveitar bem o espao sem efec-
tuar muitas subdivises.
Os materiais utilizados so o barro amassado
com a gua e os paus de mangal. O barro extra-
do perto do local onde se pretende erguer a habi-
tao, sendo molhado com gua e amassado for-
mando pequenas bolas.
No local escolhido, feito um alicerce com pro-
fundidade entre 10 a 50cm, no contorno das pare-
des exteriores, com a largura destas (20 a 25cm).
O alinhamento das paredes feito com cordas de
palmeira e pequenas estacas, e estas so erguidas
por camadas de entre 40 a 70cm (sendo mais co-
mum as camadas serem de 50cm), alisadas com p
de arado, que levam em mdia 5 dias a secar e ga-
nhar consistncia, perodo de espera entre a execu-
o de duas camadas sucessivas.
Aps as paredes estarem completamente ergui-
das, constri -se o forro ou tecto a 2m do cho, atra-
vs de um sistema de grades com paus de mangal a
aguentarem paus de tara unidos, atravessados por
cima. Sobre as taras so colocadas folhas de bana-
neira ou palmeira de modo a evitar que a camada de
barro que se lhe sobrepe caia para o interior.
A camada de barro evita a propagao rpida do
fogo em caso de incndio por queda directa do col-
mo da cobertura para o interior da casa. Desta forma
pode -se ganhar um tempo de resistncia ao fogo de
30 minutos, o suficiente para pr a salvo as vidas hu-
manas, os animais e o recheio da habitao.
A construo da cobertura inicia -se logo aps
a secagem da camada de barro colocada por cima
do forro do tecto. A estrutura da cobertura de duas
(ou quatro) guas sustentada por colunas de
pau de mangal ou pau carvo, que partem do forro
ou do cho e terminam em forquilha, permitindo
assentar o pau de fileira tambm do mesmo mate-
rial (cumeeira da cobertura). Deste ltimo partem
outros paus, que vo at ao beiral da cobertura,
onde so amarrados com cordas de palmeira, bem
como todos os outros paus entre si, pois no h
recurso a pregos nesta construo. De seguida
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executa -se a ripagem por cima destes, com canas
amarradas tambm com cordas de palmeira.
volta das paredes exteriores da casa ergui-
da uma varanda com uns 20cm de altura acima do
cho e com largura varivel entre 1 e 1,5m, cuja
funo principal proteger a habitao da pene-
trao da gua das chuvas. Por ltimo a casa co-
berta com palha, vinda das lalas ou do mato e en-
tranada com corda feita de tara.
Estas habitaes caracterizam -se pela inexistn-
cia quase total de janelas. Para a ventilao e clari-
dade, so abertos orifcios quadrados de 30cm de
lado, a uns 2 metros de altura, geralmente apenas no
{ FIG. 2.16 } Interior de uma cobertura Manjaca com folhas de palmeira e armao de troncos.
quarto do dono da casa. Nos restantes compartimen-
tos so abertos buracos circulares ao nvel do cho
entre 3 e 6, com 7 a 8cm de dimetro, ou quadrados
com 15cm de lado. As portas de madeira de poilo,
so colocadas a 30 ou 40cm acima do nvel do cho,
com dimenses variveis, sendo comuns alturas en-
tre 1 e 1,2m, e larguras entre 60 a 80cm.
Mancanha
A casa rural dos Mancanhas situa -se geralmente
sombra de um poilo, de mangueiros ou cajueiros
no interior de um pequeno bosque. A proximidade
das lalas evitada principalmente devido aco
dos mosquitos, mais acentuada nas zonas onde
assentam (sectores de Bula, Canchungo e Farim).
As habitaes so redondas nas moranas dos ho-
mens grandes ou rapazes que j constituram fa-
mlia (tantas quanto o nmero de mulheres que
possuem), e quadradas ou rectangulares no caso
de jovens at a idade dos 14 anos.
As palhotas redondas so constitudas por pa-
redes de taras de bambu, revestidas com lama ar-
gilosa, e cobertura de palha em formato de sino,
enquanto as casas rectangulares so de paredes
de adobe, as primeiras com maior conforto trmi-
co do que as segundas, por serem mais ligeiras,
e levarem o revestimento de barro.
O processo construtivo inicia -se com a fixa-
o das estacas de cibe ou de pau carvo no solo,
com comprimentos entre 1,5m e 2m, que servem
de suporte armao da palhota (construda
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parte, pelos homens grandes, os nicos capa-
zes de iniciar na perfeio a execuo desta ar-
mao interior). Depois de concluda, a armao
colocada por cima do conjunto de estacas, e
coberta de colmo tecido com fibras de palmeira
de modo a formar uma passadeira que desenro-
lada por cima da armao da casa. De seguida
monta -se o quirintin que serve de parede, levan-
do por cima um revestimento de lama. Por fim
monta -se o tecto, uma espcie de forro feito com
canas, e a porta de madeira.
Nas palhotas a armao da cobertura consti-
tuda por um ripado de canas cruzadas formando
uma espcie de grelhas, e nas casas rectangulares
por cibe atravessado por canas presas armao
com fibras de palmeira.
As casas de arquitectura vernacular podiam h
umas dcadas atrs ser classificadas de acordo
com a sua forma, tcnica de construo utilizada
e os materiais aplicados.
As paredes ligeiras de entranado de bambu sal-
picadas de lama beneficiam da permeabilidade do
{ FIG. 2.17 } Entrada de um povoamento Mancanha.
primeiro ventilao natural, e da inrcia trmica da
segunda, principalmente se o revestimento for pelo
exterior, originando habitaes interiormente mais
frescas. As paredes de terra macia tambm tiram
partido da inrcia trmica do material, sendo massas
trmicas eficazes no combate ao calor exterior.
A planta de forma redonda foi a tradicionalmente
mais utilizada, com telhado geralmente cnico, de
seco convexa, recta ou em forma de sino, associada
a crenas animistas de que o esprito dos antepassa-
dos permanece assim no interior da habitao.
A estrutura de sustentao do telhado consti-
tuda por canas amarradas, que podem vir directa-
mente apoiadas nas paredes exteriores, ou pelo
contrrio em estacas independentes, neste caso
com maiores vantagens para a ventilao natural,
pois assim a cobertura fica suspensa sobre a habi-
tao funcionando como uma pala, muito bem are-
jada. Por outro lado, quando a cobertura vem apoia-
da directamente sobre as paredes, tambm existe
possibilidade de ventilao pela armao desta.
Noutros grupos as estacas so ainda apoiadas
numa viga transversal de madeira, e num conjunto
de canas ou ramos (Blazejewicz,1983).
A forma rectangular surgiu durante o perodo
colonial, sendo actualmente a mais utilizada em
quase todos os grupos tnicos, com telhados de
duas ou quatro guas. Ainda na etnia Balanta
encontra -se a casa tpica de forma arredondada,
com varanda fechada ao redor.
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{ QUADRO 2.2 } Tipos de Habitao Vernacular.
Grupo 1
Casas de paredes de terra macia, com a cobertura apoiada nestas ou em prumos.
Bijag, Papel: Casas redondas de paredes espessas em terra;
Balanta: Casas arredondadas com paredes muito finas;
Manjaco: Conforme a regio, encontram-se casas de planta em coroa elptica, coroa circular, (Pecixe e Cai respectivamente); Nos da regio de costa baixo as paredes no tm funo resistente, vindo a cobertura e o forro assentes em prumos de madeira;
Felupe: Casa redonda ou rectangular de paredes espessas.
Grupo 2
Casas de paredes ligeiras feitas de entranados de bambu ou tara salpicados com lama, revestindo os prumos de suporte da cobertura, que independente das paredes.
Mancanha: Casas redondas com paredes de taras de bambu (quirintin);
Grupo 3
Casas de paredes constitudas por terra amassada com palha de esteiras de bambu, ligadas aos prumos de suporte da cobertura.
Fula, Mandinga: Casas redondas com paredes feitas com armao de esteiras de bambu (quirintin) ou palha (a mesma da cobertura) revestidas com lama;
Nalus, Beafada: Casas redondas com paredes construdas com prumos verticais e varas horizontais, preenchidas com lama.
Manjaca
Papel
Balanta
Nalu/Beafada
Mancanha
Fula
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Tendo em conta a diviso interior, as casas
apresentam uma arquitectura simples, com divi-
so interna ou sem diviso interna, neste ltimo
com varanda exterior dividida e aproveitada.
A adopo de plantas simples e varandas exterio-
res, so estratgias interessantes, no sentido em que a
primeira diminui a possibilidade de formao de ilhas
de calor, evitando a existncia de muitos obstculos, e
consequentemente de zonas activas. A segunda opo
tem a vantagem de proteger no s as paredes da ac-
o directa do sol e das chuvas, mas tambm de con-
ferir a sobre -elevao necessria para a habitao su-
portar a humidade do solo, e a corrente das chuvas.
A predileco ancestral da forma redonda sobre
a quadrada embora tenha conotaes religiosas e
de culto, pode eventualmente dever -se ao facto da
forma redonda termicamente funcionar melhor.
O modelo de casa tradicional apresenta agora
caractersticas mais uniformes por todo o territ-
rio nacional, independentemente da localizao
geogrfica, ou do grupo tnico dominante. As ca-
ractersticas individualizadas por regies vo de-
saparecendo, porque a distribuio dos grupos t-
nicos tambm tem -se tornado mais homognea,
sendo mais difcil encontrar uma regio apenas
com um nico grupo tnico.
Cnico Fula Seco recta Nalu Forma de sino Mancanha
{ FIG. 2.18 } Tipos de telhados Casa circular.
{ FIG. 2.19 } Pormenor da armao da cobertura Manjaca.
Colmo
Cana de Bambu (30 cm) amarrada com tiras de palmeira
Cibe com 40 a 50 cm
Cana de Bambu (com 40 a 50 cm)
Cibe
Fio da folha de palmeira
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Quatro guas Balanta Duas guas Manjaca
{ FIG. 2.20 } Tipos de telhados Casa rectangular.
A forma dominante a rectangular, com paredes
de blocos de adobe simples ou taipa, e cobertura de
palha ou chapa de zinco. Esta ltima embora pior em
termos de desempenho trmico, muito utilizada
pela facilidade de montagem e baixo custo da chapa,
e por no necessitar de substituies peridicas,
como acontece no caso da cobertura de colmo.
Continua a ser muito usual a existncia de varan-
da ao redor de toda a casa, num patamar sobreleva-
do do cho em cerca de 20 a 50cm, com a cobertura
apoiada em paredes, e em pilares de cibes. A varanda
sombreada protege as paredes dos raios solares, e da
gua das chuvas, e o espao entre a cobertura e as
paredes promove a ventilao natural. A existncia
de vos maiores e mais normalizados tambm ac-
tualmente uma caracterstica constante.
Um facto tambm muito comum tem sido o apare-
cimento de construes contemporneas de um ou
dois pisos em meio rural, na sua maioria de imigrantes
que querem aproveitar o terreno anteriormente rural,
para edificar uma nova habitao. O resultado a de-
sintegrao da paisagem rural, e a perda de traos tra-
dicionais e histricos da uma cultura nativa. A posio
das autoridades administrativas, bem como o fomento
ao desenvolvimento de habitaes de construo de-
finitiva, em detrimento da casa vernacular, caracteri-
zada de precria, no imparcial na promoo da ha-
bitao e urbanismo locais.
2.2 Arquitectura colonial
A arquitectura colonial surge associada s edificaes
construdas durante a poca de administrao portu-
guesa, e varia nas suas caractersticas, desde constru-
o macia setecentista, a estilos mais eclticos do
incio do sculo 20, moradias tpicas dos anos 40 a 60,
at edificaes acentuadamente modernistas.
Os edifcios so na sua maioria moradias de p-
-direito elevado, e varandas largas, isoladas com lo-
gradouro volta, ou prdios de um andar, com rs-
-do -cho reservado ao comrcio e varanda superior
saliente. A cobertura em geral de telha, usando -se
tambm o fibrocimento num perodo mais recente.
Com a independncia, a Guin herdou um con-
junto edificado de caractersticas especficas, bem
como infra -estruturas de apoio, deixadas essen-
cialmente nas cidades de Bissau, actual capital,
Cacheu, Bolama, Gab e Bafat, que foram impor-
tantes entrepostos comerciais na poca.
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A cidade de Bissau apresenta a estrutura or-
ganizacional tpica das principais cidades dos
pases que passaram pela colonizao portugue-
sa, caracterizada por uma praa central, rodeada
de edifcios administrativos, a partir da qual esta
cresce, em traado regular, at atingir a perife-
ria, onde podem ser encontrados bairros habita-
cionais para os colonos e alguns para alojamento
da populao local.
At 1914 Bissau limitava -se entre o porto e as
imediaes da fortaleza de S. Jos de Amura, par-
te da cidade at hoje designada de Bissau velho,
por ser a sua zona mais antiga.
A expanso e crescimento para alm do forte,
deu -se apenas na dcada de 20, procedendo -se
abertura de mais ruas, construo da catedral, ce-
mitrios, de entre os equipamentos colectivos.
Na cidade de Bissau, existem ainda hoje, bairros
habitacionais de casas sociais para as populaes
locais que surgiram na poca colonial, devido ao
{ FIG. 2.21 } Edifcio da poca colonial, em Bissau
acrscimo demogrfico que se deu na capital. o
caso dos bairros de Santa Luzia e Ajuda.
Nos bairros sociais, as habitaes so quase to-
das de planta rectangular, com um alpendrado na fa-
chada principal, providenciando uma boa proteco
aco directa dos raios solares. Os materiais de
construo utilizados so blocos de beto, e cober-
turas de zinco, fibrocimento, ou telha.
No bairro de Santa Luzia, a malha urbana mostra
um esquema de habitaes alinhadas ao longo das
estradas, notando -se um planeamento tipo rgua e
esquadro, com espaos livres para ventilao, bas-
tante diferente do arranjo funcional mais concen-
trado dado pela populao rural nas suas casas tra-
dicionais. A funcionalidade destas habitaes no
constituiu uma resposta eficaz s necessidades da
populao alvo na altura, mas hoje em dia, esses
bairros constituem importantes ncleos habitacio-
nais, solucionando parte da problemtica que o
pas enfrenta, no que toca habitao na capital.
{ FIG. 2.22 } Casa colonial.
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O p -direito elevado das construes coloniais,
as varandas superiores salientes, janelas grandes e
palas por cima dos vos denotam uma preocupao
adicional na proteco contra o calor, humidade do
solo e promoo da ventilao no interior.
Eram na altura delineadas algumas recomenda-
es de projecto, por exemplo prevendo uma sobre-
-elevao em altura das construes em 50cm, deno-
tando preocupaes com a humidade do solo.
Existem preocupaes adicionais com a orientao,
e a disposio das moradias, de forma a facilitar a
ventilao. As varandas so por vezes fechadas, para
a proteco contra os mosquitos, o seu pavimento
um degrau abaixo do interior da habitao, para que
a gua das chuvas no penetre. A sua cobertura re-
vestida inferiormente, para que a camada de ar que
a se forma, actue como cmara isolante.
Os blocos de cimento vazados tambm utiliza-
dos na construo colonial eram produzidos com
areia e inertes de dimenso mais reduzida, com o
cimento como ligante. O sistema tradicional de
produo permitia obt -los no prprio local da
obra, com o auxlio de formas unitrias ou mqui-
nas que moldam 4 a 5 blocos de uma vez, com di-
menses correntes de 40x20x20cm3.
Tambm os chamados blocos de terra eram
muito utilizados na poca colonial nas constru-
es de e para os locais, em adobe ou em taipa.
Denota -se a preocupao para que as cobertu-
ras fossem ventiladas, e a sua inclinao acen-
tuada, permitindo o rpido escoamento da gua
das chuvas.
{ FIG. 2.23 } Casa Nunes e Irmo, com comrcio no rs-do-cho e habitao na zona superior.
{ FIG. 2.24 } Avenida de ligao entre a praa dos heris nacionais e o Cais, onde se encontra grande parte dos edifcios administrativos herana da poca colonial.
{ FIG. 2.25 } Diocese de Bissau.
{ FIG. 2.26 } Edifcio habitacional do bairro de Santa Luzia.
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{ FIG. 2.27 } Bairro de Santa Luzia.
{ FIG. 2.28 } Bairro social construdo na poca colonial para a populao local estado actual.
{ FIG. 2.29 } Casa Adlio.
{ FIG. 2.30 } Escola de ensino bsico Jos Antnio de Almeida (ou como tradicionalmente conhecida Escola de Padre).
{ FIG. 2.31 } Estado actual do edifcio da Cmara Municipal de Bolama.
{ FIG. 2.32 } Antigo edifcio administrativo no sector de Bolama, actualmente abandonado.
{ FIG. 2.33 } Bairro de Santa Luzia.
{ FIG. 2.34 } Bissau velho.
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Grande parte dos edifcios coloniais encontra -se
actualmente em fase avanada de degradao,
justificando -se a sua reabilitao ponderada e requa-
lificao, no sentido de serem dotados de novos usos,
adequados realidade actual, e de forma a preservar
as suas funcionalidades mais bsicas, como a seguran-
a estrutural, conforto ambiental, e esttica.
Actualmente, o modelo de casa isolada, com
logradouro volta o mais utilizado em toda a ci-
dade, sendo o modelo com que grande parte da
populao na cidade se identifica, funcionando
bem na promoo da ventilao na envolvente dos
edifcios, e beneficiando de sombreamento se o
espao adjacente for arborizado.
2.3 Tendncias contemporneas
Actualmente, a periferia das principais cidades vai sen-
do dominada por moradias contemporneas, que privi-
legiam a utilizao de materiais como o beto armado
nos elementos estruturais, e tijolos cermicos ou blo-
cos de beto nas paredes, com coberturas de telha.
muito comum, essas moradias serem em du-
plex, com um primeiro andar onde normalmente se
situam as zonas de dormir, e varandas ou terraos.
Os promotores desta construo so particulares com
algum poder econmico, recorrendo a pequenas em-
presas locais de construo, ou mais comummente,
a um tcnico especializado na rea, sendo o acom-
panhamento da obra efectuado pelo prprio dono da
obra, em paralelo com o tcnico.
O sombreamento conseguido atravs da va-
randa corrida, no havendo muitas preocupaes
com a promoo da ventilao.
Denota -se muita preocupao em termos estti-
cos, com influncias de uma construo mais euro-
peizada, aparentando uma transladao quase exac-
ta de modelos vigentes no estrangeiro, com pouca
preocupao da sua adequao realidade local.
Apesar do sombreamento dos vos, grande parte dos
edifcios de dois pisos apresentam as fachadas a des-
coberto, susceptveis aco do sol e da chuva.
No caso das moradias de piso nico j se deno-
ta maiores preocupaes com a ventilao, e tam-
bm na proteco contra a chuva.
Ainda nas zonas peri -urbanas encontram -se
bairros de moradias sociais ou de cooperativa, tipi-
camente rectangulares, com paredes de adobe re-
forado, ou blocos de beto, e coberturas de zinco,
so habitaes feitas com o apoio ou comparticipa-
o do estado, o qual assume parte do seu custo,
quer seja concedendo terrenos para urbanizao,
ou atravs de fundos para o desenvolvimento. De-
notam caractersticas contemporneas, resolvendo
parte dos problemas habitacionais existentes.
Os prdios de cooperativa apresentam caractersti-
cas interessantes. No caso do edifcio dos Antigos Com-
batentes a preocupao com a ventilao clara, pela
disposio dos envidraados, e ventilao da cobertu-
ra. Os prdios de Taiwan necessitam de maior manuten-
o e conservao, principalmente na proteco contra
a aco das chuvas. O tipo de coberturas utilizado no
o ideal para o tipo de clima em questo, sendo mais
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aconselhvel o uso de coberturas inclinadas, e prolon-
gadas em beiral para alm das paredes, tanto para esse
ltimo como no caso dos prdios Pequeno Moscovo.
No centro da cidade, (zona do mercado de Ban-
dim) a avenida est preenchida de prdios (destina-
dos ao comrcio) de contexto diferente, talvez deno-
tando alguma influncia dos pases francfonos
vizinhos. Geralmente o primeiro piso destinado ao
comrcio sendo os restantes destinados habitao.
muito usual a adopo de tijoleiras nas fachadas
exteriores, para evitar a sua rpida degradao e ne-
cessidade constante de reposio da pintura.
Os edifcios para escritrios vo sendo mais co-
muns na cidade de Bissau, apresentando tambm ten-
dncias contemporneas. O Palcio do Povo e a sede
do BCEAO1, so apenas alguns dos exemplos mais in-
teressantes, este ltimo tambm com tijoleira no ex-
terior ao invs de pintura, e envidraados reflexivos.
Em zonas peri -urbanas, grande parte da popula-
o pratica ainda contudo uma construo espon-
tnea (auto construo), de carcter precrio, com
carncia de infra -estruturas e sem qualquer plano
de base. A procura de solues urbanas e arquitec-
tnicas para as zonas de construo no consolida-
da em espao urbano um desafio prioritrio.
{ FIG. 2.35 } Edifcio em construo no Alto Bandim.
{ FIG. 2.36 } Edifcios unifamiliares em duplex, no Alto Bandim, com preocupaes de sombreamento das janelas, e existncia de arborizao.
{ FIG. 2.37 } Moradia unifamiliar, zona de Antula. { FIG. 2.38 } Edifcio unifamiliar de piso nico no Alto Bandim, denotando preocupaes com ventilao, nas diversas aberturas que podem ser visualizadas.
1. Banco Central dos Estados da frica Ocidental.
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{ FIG. 2.39 } Urbanizao Pequeno Moscovo, construdo atravs de cooperao bilateral com a ex Unio Sovitica.
{ FIG. 2.40 } Edifcio do bairro construdo para os funcionrios do Ministrio do Plano.
{ FIG. 2.41 } Muro de separao entre duas moradias isoladas num bairro de cooperativa, evidenciando preocupaes na promoo da ventilao.
{ FIG. 2.42 } Prdios novos ainda no habitados, construdos ao abrigo da cooperao com China, para alojamento dos ex -combatentes.
{ FIG. 2.43 } Prdio com alguma degradao pela aco prolongada da chuva e falta de manuteno.
{ FIG. 2.44 } Prdio na Avenida principal, com comrcio no piso trreo.
{ FIG. 2.45 } Palcio Colinas de Bo (Assembleia Nacional Popular).
{ FIG. 2.46 } Sede do BCEAO.
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2.4 Construo para ecoturismo
Dentro das tendncias contemporneas destaca -se
um tipo particular de edificaes de qualidade,
que merece relevo. O ecoturismo um segmento
do turismo baseado em princpios que visam es-
sencialmente a preservao dos recursos naturais.
A sua prtica permite o intercmbio com a nature-
za, dispondo -se dela de forma ponderada.
A Guin -Bissau um pas rico em biodiversidades,
e um mercado vivel para o turismo, que merece ser
explorado de forma consciente. A maioria dos edif-
cios ecotursticos inspira -se no modelo de habita-
o vernacular. Desde a proteco dos ecossistemas
at interaco com as populaes locais, geral-
mente de elevado interesse cultural, histrico e so-
cial, o ecoturismo uma forma inovadora e promis-
sora de turismo sustentvel, onde a palavra de
ordem dispor do bem comum natural, sem com-
prometer o seu usufruto a geraes futuras.
Os princpios bsicos que se associam de um
modo geral a um turismo responsvel so: respei-
tar as culturas locais; minimizar impactos ambien-
tais; maximizar a satisfao do visitante; e maxi-
mizar os benefcios para as comunidades locais.
Um exemplo de projecto ecoturstico na Guin-
-Bissau so os trs bungalows criados em Ienberm,
no sul do pas, com caractersticas construtivas que
apresentam um enquadramento com o habitat tradi-
cional, tendo por base o modelo de construo tra-
dicional fula. Foram utilizados materiais 100% natu-
rais como o adobe e a palha, sendo a estrutura da
cobertura, metlica, por ser mais durvel.
A insero destes bungalows no meio rural, junto do
Parque Natural Floresta de Cantanhez (floresta densa,
tpica tropical, rica em fauna e floras raras, onde podem
ser encontradas espcies como elefantes, bfalos e leo-
pardos), bem como o envolvimento da populao local
na implementao do projecto, tornam -no bastante in-
teressante em termos da explorao das potencialida-
des ecotursticas nesta regio do sul, Tombali.
Foram definidas algumas regras ecotursticas,
de forma a envolver a comunidade local:
} Envolver o maior nmero possvel de aldeias, be-
neficiando das actividades promovidas;
} Envolver todos os grupos sociais e etrios, res-
pondendo ao seu interesse e prioridade;
} Os promotores do ecoturismo devem procurar
colocar -se no lugar da comunidade para cada ini-
ciativa que pretendam implementar, sem impor as
suas prioridades;
} Aliar a preservao e boa gesto dos recursos na-
turais verdadeira melhoria das condies de vida
e trabalho das comunidades.
O arquiplago dos Bijags, considerado reserva
da Biosfera pela UNESCO (Organizao das Naes
Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura), tam-
bm apresenta riquezas em fauna e flora inclusive
martimas, que incitam prtica de um turismo sus-
tentvel, sem descurar da riqueza cultural Bijag,
antiga e sob muitos aspectos preservada at hoje.
Desde ilhas virgens, a espcies raras, algumas em
vias de extino, o arquiplago dos Bijags encerra
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no seu interior o que de mais belo, natural e surpre-
endente pode ser visto na Guin-Bissau.
A riqueza dos espaos naturais realada pela
existncia de parques e/ou reservas naturais reco-
nhecidas oficialmente, e de acordo com os critrios
estabelecidos a nvel internacional como reas pro-
tegidas: Parque Natural de Mangrove do Rio Cacheu,
Parque Natural das Lagoas de Cufada, Parque Nacio-
nal de Orango, Parque Nacional Marinho de Joo
Vieira e Poilo, Reserva da Biosfera do Arquiplago
dos Bijags, e o Parque Nacional Marinho das Ilhas
Formosa. As reas naturais referidas apresentam ri-
queza tanto em fauna como flora, com uma impor-
tante biodiversidade nos diversos meios, quer flores-
tal como costeiro e marinho. Algumas das espcies
encontram -se em vias de extino: o hipoptamo, o
elefante africano, o crocodilo ou lagarto preto, a ga-
zela pintada, o leo, o chimpanz, entre outros.
Existe um aproveitamento natural das espcies ar-
breas existentes, as quais so integradas no projec-
to, explorando -se as suas vantagens sem comprome-
ter a sua sustentabilidade futura. Alguns bungalows
so desenvolvidos a partir de outros materiais natu-
rais como o barro e a palha, utilizando -se a tcnica da
taipa, conhecida pelas suas caractersticas de durabi-
lidade e eficincia trmica, promovendo o equilbrio
em termos do conforto no interior, com revestimento
de terra cozida no exterior, dispensando pintura.
Os maiores desafios que se impem ao desen-
volvimento do ecoturismo na Guin -Bissau so
primeiramente desenvolver -se uma conscincia
nos aspectos relativos ao ambiente e aos recursos
naturais disponveis; posteriormente, a definio,
valorizao e proteco (em alguns casos j feita)
de zonas de reconhecida riqueza natural.
Na integrao de qualquer rea no mbito de
um turismo sustentvel, importante a definio
de regras que garantam a utilizao ponderada do
espao, a atraco de turistas com conscincia
ambiental, e no s, que controlem ou evitem a
{ FIG. 2.47 } Bungalows ecotursticos de Ienbern Fase de construo.
{ FIG. 2.48 } Bungalows ecotursticos de Ienbern Pormenor da cobertura (AD, 2006b).
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explorao irreversvel dos recursos naturais dis-
ponveis, e evitem comportamentos indesejveis
tanto por parte do empreendedor, como do utili-
zador final, que possam entrar em conflito com a
cultura, tradies, e valores locais.
Actualmente existe uma tendncia natural nos
pases mais desenvolvidos para se fugir dos cen-
tros urbanos, elegendo -se zonas de paisagens na-
turais, para relaxar do stress dirio das grandes ci-
dades. Pases em vias de desenvolvimento, e ricos
em biodiversidades como a Guin -Bissau, podem
encontrar nesta forma de turismo, um meio equi-
librado de gerar riqueza e promover o desenvolvi-
mento econmico local, minimizando o nvel de
pobreza, e melhorando o acesso a bens de primei-
ra necessidade, por parte de populaes autcto-
nes. Assim o turismo surge como factor no s de
desenvolvimento econmico, como de promoo
de bem -estar social.
{ FIG. 2.49 } Construes para Ecoturismo no sul, Ienberm (Fonte: AD Aco para o Desenvolvimento).
{ FIG. 2.51 } Pormenor da cobertura.
{ FIG. 2.50 } Na ilha de Ruban (arquiplago dos Bijags) foram desenvolvidos projectos de estncia turstica, com algumas caractersticas que vo de encontro aos princpios do ecoturismo. So solues interessantes sob o ponto de vista de um turismo sustentvel, como as moradias rectangulares de madeira, cobertas de palha, ligeiramente destacadas do cho, e com tecto revestido de cana.
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{ captulo 3 }
Projecto Bioclimtico:Princpios Gerais
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PROJ
ECTO
BIO
CLIM
TIC
O: P
RINC
PIO
S GE
RAIS
No contexto climtico da Guin -Bissau poss-
vel atingir um equilbrio entre o edifcio e o cli-
ma atravs da aplicao de uma srie de estra-
tgias de projecto referidas como bioclimticas
ou de design passivo.
As estratgias de design passivo tm como ob-
jectivo proporcionar ambientes confortveis no
interior dos edifcios e simultaneamente reduzir o
seu consumo energtico. Estas tcnicas permitem
que os edifcios se adaptem ao meio ambiente en-
volvente, atravs do projecto de arquitectura e da
utilizao inteligente dos materiais e elementos
construtivos, evitando o recurso a sistemas mec-
nicos consumidores de energia fssil.
O uso de energia fssil, no renovvel, , como
se sabe, o principal responsvel pelo grave proble-
ma do aquecimento global, resultante da emisso
de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Nos
edifcios, o uso de electricidade proveniente de
energia fssil, contribui em larga medida para a
intensificao deste problema.
As medidas passivas so as que mais contri-
buem para reduzir os gastos energticos do edif-
cio ao longo da sua existncia. Dois exemplos de
estratgias passivas so a optimizao do uso da
iluminao natural para reduzir o recurso a siste-
mas de iluminao artificial, ou a promoo de
ventilao natural, para evitar o uso de aparelhos
de ar condicionado para arrefecimento.
Na Guin Bissau existem bons exemplos de ar-
quitectura adequada ao meio ambiente em que se
insere. Contudo, hoje em dia a prtica de uma arqui-
tectura passiva ou bioclimtica, com preocupaes
ambientais e energticas, necessita ainda de imple-
mentao. Embora as publicaes existentes refiram
extensamente os potenciais benefcios desta arqui-
tectura, o seu uso ainda muitas vezes mal compre-
endido, sendo erradamente considerado um risco,
ineficiente, demasiado complicado ou caro. Por exem-
plo, em muitas novas construes as preocupaes de
climatizao so deixadas para engenheiros, que ten-
dem a adoptar o uso seguro do ar condicionado.
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Apesar de existirem j muitos exemplos que com-
provam a eficcia, melhores nveis de conforto, e
vantagens econmicas do uso das tcnicas passivas
ainda h uma grande necessidade de difuso deste
conhecimento e do aumento do nmero de edif-
cios passivos, bioclimticos, em termos de nova
construo e reabilitao.
Sendo um clima quente, tambm dada neste
manual particular ateno questo da refrigera-
o dos edifcios, fundamental para