Projetos Educacionais: reconstruindo a aprendizagem
sob a perspectiva da Pedagogia de Projetos
Prof. Alairton SoaresEspecialista em Psicopedagogia e Filosofia e História das Ciências.
Segundo Aranha (1989), nos últimos anos, os avanços das ciências, das mudanças sociais causadas pela industrialização, urbanização acelerada e pelas grandes guerras, a organização do ensino passou por um movimento educacional renovador conhecido como Escola Nova.
Quem abriu caminhos?
Pestalozzi e Fröebel – século XVIII – apontam a necessidade de uma educação voltada para os interesses e necessidades infantis.
Montessori e Decrolly – a partir de 1907 – defendem os temas lúdicos e o ensino ativo.
Maria Montessori aponta a necessidade da atividade livre e da estimulação sensório-motora
Ovide Decrolly sugere a aprendizagem globalizadora em torno de centros de interesses.
Dewey e Kilpatrik – década de 20 – acentuam a preocupação de tornar o espaço escolar um espaço vivo e aberto ao real. John Dewey valoriza a experiência e considera que a educação tem função social e deve promover o sujeito de forma integrada, principalmente valendo-se da arte.
Freinet – década de 30 – propôs a valorização do trabalho e da atividade em grupo para estimular a cooperação, a iniciativa e a participação.
Paulo Freire – década de 60 – introduz do debate político e da realidade sociocultural no processo escolar com a educação libertadora e os chamados temas geradores.
Jurjo Santomé e Fernando Hernández – década de 90 em diante – propõe o currículo integrado e os projetos de trabalho;
Antoni Zabala – década de 90 (Espanha) entende que a complexidade do projeto educativo deve se abordado por um enfoque globalizador no qual a interdisciplinaridade está presente.
Jolibert na França, Adelia Lener e Ana Maria Kaufman, ambas na Argentina, também divulgam estudos sobre propostas educativas globalizadoras.
Pedagogia de Projetos apresenta diversas propostas de ruptura:
Romper com a desarticulação entre os conhecimentos escolares e a vida real;
Romper com a fragmentação dos conteúdos em disciplinas, em séries e em períodos letivos predeterminados;
Romper como horários fixos e bimestres;
Romper com o protagonismo do professor nas atividades educativas;
Romper com o ensino individualizado e com a avaliação exclusivamente final, centrada nos conteúdos assimilados e voltada exclusivamente para selecionar os dignos de certificação.
Propõe que o docente abandone o papel de “transmissor de conteúdos” para se transformar num pesquisador. O aluno, por sua vez, passa de receptor passivo a sujeito do processo.
A prática pedagógica por meio do desenvolvimento de projetos é uma forma de conceber a educação que envolve o aluno, o professor, os recursos disponíveis, inclusive as novas tecnologias, e todas as interações que ocorrem no ambiente de aprendizagem.
A pedagogia de Projetos traduz uma determinada concepção de conhecimento escolar, trazendo a tona uma reflexão sobre a aprendizagem dos alunos e os conteúdos das diferentes disciplinas. Esta discussão nos leva a identificar três tipos de posturas com relação ao conhecimento:
Fundamentos:
a) Concepção científica conservadora – professores que enxergam o conhecimento escolar como a transmissão de um conhecimento já pronto e acabado a alunos que não o detêm.
b) Concepção espontaneísta - negam e desvalorizam os conteúdos disciplinares, entendendo a escola apenas como espaço de conhecimento da realidade dos alunos e de seus interesses imediatos.
c) Concepção integradora – professores que observam o processo de elaboração do conhecimento constitui um único processo, global e complexo, com varias dimensões que se inter-relacionam.
Níveis de interação entre as disciplinas
Interdisciplinaridade refere-se a uma espécie de interação entre as disciplinas ou áreas do saber. Todavia, essa interação pode acontecer em níveis de complexidade diferentes:
Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade,
Interdisciplinaridade, e Transdisciplinaridade.
A Interdisciplinaridade
Multidisciplinaridade: caracteriza-se por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum. Essa atuação, no entanto, ainda é muito fragmentada, na medida em que não se explora a relação entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de cooperação entre as disciplinas.
Pluridisciplinaridade: observa-se a presença de algum tipo de interação entre os conhecimentos interdisciplinares. há uma espécie de ligação entre os domínios disciplinares indicando a existência de alguma cooperação, diálogo e ênfase à relação entre tais conhecimentos.
Interdisciplinaridade: há cooperação e diálogo entre as disciplinas do conhecimento, mas nesse caso se trata de uma ação coordenada, que pode assumir as mais variadas formas. É preciso um elemento (ou eixo) de integração das disciplinas, que norteia e orienta as ações interdisciplinares.
Transdisciplinaridade: representa um nível de integração disciplinar além da interdisciplinaridade. Há uma espécie de coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino. É um tipo de interação onde ocorre uma espécie de integração de vários sistemas interdisciplinares num contexto mais amplo e geral, gerando uma interpretação mais holística dos fatos e fenômenos.