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ANÁLISE DE CICLO POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS PARA INDÍGENAS : REFLEXÕES PRELIMINARES SOBRE A UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
Erika Kaneta Ferri Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS
Maria Helena Salgado Bagnato Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP
Eixo Temático: Políticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Pôster
Introdução
A UEMS e o Estado do Mato Grosso do Sul são pioneiros na oferta de cotas para negros e
índios, bem como nos cursos de licenciatura para professores indígenas. E ao mesmo
tempo no desenvolvimento de programas que promovam o acesso e permanência na
universidade., como é o caso do Projeto Rede de Saberes.
O estudo se propõe a compreensão através da análise das políticas de ações afirmativas e
no fomento das discussões em um campo ainda pouco problematizado.
Metodologia
Estado da arte, através da análise do ciclo de políticas proposto por Ball e Bow : contexto
de influência, contexto da produção de texto, contexto da prática, contexto dos resultados e
o contexto da estratégia política. (BALL e MAINARDES,2011)
Resultados
O contexto de influência, é onde, os discursos políticos são construídos.
A temática das ações afirmativas se fortalecem no Brasil na década de 90, alavancada
pelos movimentos sociais, pelos organismos internacionais em defesa ao aos Direitos
Humanos e combate a discriminação racial e social, principalmente em torno da
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comemoração do centenário da abolição (1988) e do tricentenário de Zumbi dos Palmares
(1995). O tema entra na agenda política do governo Fernando Henrique Cardoso ao
instituir, por decreto, no dia 20 de novembro de 1995, o Grupo de Trabalho Interministerial
para a Valorização da População Negra. Além do aparato legal é importante destacar, a
realização de eventos7 ligados a temática como o encontro em Durban. Essa iniciativa veio
no bojo do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), do governo federal
(TELLES, 2003 Apud MAIO & SANTOS, 200; VERISSÍMO, 2003).
No governo Lula, as ações ainda ficaram atreladas a inserção e inclusão ao ensino
superior através de do PROUNI e FIES, impulsionando a economia da IES particulares .
No Contexto da produção de texto, estes, podem ser textos legais oficiais e textos
políticos, entre outros. (MAINARDES,2006, P. 52).
A Constituição Federal de 1988 é um marco importante no reconhecimento das
diversidades culturais e étnicas, assegura aos povos indígenas o respeito as diferenças,
além da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB, de 1996. O movimento
social e político impulsiona o governo a promover mecanismos para inclusão étnica na
educação superior , entre eles : Resolução número 03 de 1999, do Conselho Nacional de
Educação e a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) em 2004. (RICHTER &
TERRA, 2007).
No ano de 2007. foi aprovada na Assembléia Geral da ONU A Declaração Universal
sobre os Direitos dos Povos Indígenas, importantes medida sobre a questão étnica e racial
no âmbito do direito internacional (ALMEIDA, 2008).
7 III conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na África do Sul, em setembro de 2001
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A Lei número 12.711 de 29 de agosto de 2012, assegura que as Instituições Federais de
Educação Superior devem reservar mínimo cinquenta por cento de suas vagas nos
vestibulares, para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas
públicas. E, determina a revisão do programa especial para o acesso de estudantes pretos,
pardos e indígenas.(BRASIL, 2012)
No que se refere ao contexto da prática, a Universidades Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) implantou em 2003 o sistema de cotas, com 10%das vagas em todos os seus
cursos por meio da Lei n° 2.589 de 26/12/2002 e Resolução COUNI/UEMS nº 241 de
7/07/2003 (CORDEIRO, 2005).
No contexto dos resultados , a UEMS inicia os cursos de graduação, formaram-se 26
indígenas Terena em dezembro de 2004, na Unidade Universitária de Aquidauana e em
2006, 27 Guaranis na Unidade Universitária de Amambai (CORDEIRO, 2005).
O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul mantém uma bolsa de permanência para
estudantes indígenas matriculados na UEMS, mas o funcionamento deste sistema ainda
apresenta algumas dificuldades. Pois a mesma não consegue suprir as necessidades básicas
de sobrevivência, pois muitas vezes, os alunos indígenas necessitam se deslocar de suas
aldeias.
Em relação a oferta de vagas, podemos observar na tabela 1, que houve um aumento
considerável na oferta de Vagas , recorte entre os anos 2005 à 2012 .
Tabela 1: Progressão na Oferta de Vagas - Processo Seletivo Vestibular UEMS relativo ao ano de ingresso - 2005 a 2012.
Fonte : UEMS ( 2012 )
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No entanto, a evasão entre alunos indígenas ainda é preocupante, no levantamento
realizado por Zarpelon e Cordeiro ( 2009) demonstrou que dos 67 que iniciaram em 2004,
foram considerados 42 como evadidos. Dos que concluíram o curso até 2007 foram 08 e 04
concluíram o curso nos anos subseqüente. Os evadidos expressam um percentual de mais
de 63% dos indígenas cotistas matriculados. Os estudos, ainda que incipientes e pontuais,
tem demonstrado as dificuldades enfrentadas pelos acadêmicos indígenas de se manterem
na universidade, além das questões econômicas, vivenciando a discriminação, preconceito
e a intolerância no campi.
Em 2005, é criado o Programa Rede de Saberes, em conjunto pelo NEPPI/UCDB /UEMS /
UFGD /UFMS As principais ações desenvolvidas: O apoio à participação dos acadêmicos
em atividades de pesquisa, capacitação de docentes, estudantes e pessoal administrativo
das IES, apoio à participação e/ou organização de eventos acadêmicos voltados para a
temática indígena. Além da criação da Comissão de acompanhamento dos alunos cotistas.
A atividades desenvolvidas pela UEMS através do Programa Rede de Saberes “tem
ajudado a articular relações interétnicas, baseadas no respeito a diversidade cultural e no
dinâmico processo de se tomar consciência sobre a necessidade de se estabelecer maior
equidade e justiça em uma sociedade multiétnica como a nossa”
Também é importante destacar que a UEMS vem desenvolvendo discussões ,seminários e
encontros para a discussão da temática, o que impulsiona novos paradigmas educativos
pautados na alteridade e na diferença.
Considerações finais
A universidade contemporânea deve ser um espaço plural e multiétnico, onde os espaços
acadêmicos são espaços de trânsito, troca e articulação de saberes e alternativas em uma
população que se confronta com inúmeros desafios novos.
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Os estudos já desenvolvidos apontam que houve um crescente aumento nas matriculas , no
entanto, os acadêmicos indígenas enfrentam diversas dificuldades , entre elas as
dificuldades financeiras, preconceito e discriminação. Conclui-se dessa forma, que são
necessários ações além de inclusão e permanência, que possam favorecer de fato um
espaço hibrido e pautado na alteridade. Novos olhares que possam contemplar os
conteúdos curriculares e pedagógicos com o foco na diversidade e na tolerância. E
reformulações na estrutura física da universidade , como por exemplo a construção de
alojamentos, refeitórios, laboratórios de informática que possam atender as necessidades
dos alunos
Sem deixar de mencionar que a luta por melhores condições de vida das populações
indígenas do estado de mato Grosso do Sul, perpassam essencialmente na questão das
demarcações de terras, travadas ao longo de anos , e ainda sem muitas respostas ainda.
Além, da postura do Estado e governo, promovendo discursos deslizantes e sem nenhuma
eficácia, com parcas políticas que sejam estruturantes e permamentes. Mantendo estes
povos numa condição ainda “tutelar” e a mercê de politicas assistencialistas.
Referências Bibliográficas
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