ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS,
MODALIDADES, VANTAGENS,
DESVANTAGENS E VANTAGEM
COMPETITIVA DA OPERAÇÃO DE
CROSS DOCKING EM CINCO
EMPRESAS DE SÃO PAULO.
Geraldo Cardoso de Oliveira Neto (UNINOVE )
LILIAN DA CRUZ SANTOS (UNINOVE )
ALINE PEREIRA SANTOS COSTA (UNINOVE )
Marcelo Martins de Sa (UNINOVE )
A operação de cross docking consiste em estratégia logística para
gerar vantagem competitiva para a organização visando melhorar a
responsividade, redução de custos e realização de entregas em menor
tempo. O objetivo central desse estudo coonsiste em analisar as
características, modalidades, vantagens, desvantagens e vantagem
competitiva na operação de cross docking em cinco empresas da
região de São Paulo. É importante destacar a oportunidade de realizar
o teste piloto do instrumento em cinco organizações a fim de refinar o
questionário para aplicação de survey exploratório em mais de 200
empresas do Brasil. O método de pesquisa partiu da revisão da
literatura para o desenvolvimento do formulário de entrevista
semiestruturada para aplicação em observação participante para
compor a análise intracasos e intercasos dos dados. Os resultam
apontaram as características, modalidades, vantagens, desvantagens e
vantagem competitiva na operação de cross docking no cenário
brasileiro.
Palavras-chaves: Cross Docking, Vantagem competitiva, Resource
Based View, Objetivos de desempenho.
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1.1
1 Introdução
Uma das estratégias logísticas recorrentes hoje em dia refere-se ao cross docking, muito
utilizado por indústrias e empresas de distribuição. Sua ideia básica consiste em transferência
de carregamentos recebidos diretamente para veículos sem estocagem ou com estoques
mínimos por um curto prazo. Os principais objetivos para esta prática são a redução de custos,
o menor tempo de entrega, a realização de carregamentos únicos, entre outros, por isso, a
tendência nos últimos três anos aponta para um incremento em sua utilização em diversos
setores.
O objetivo central desse estudo consiste em analisar as características, modalidades,
vantagens, desvantagens e vantagem competitiva na operação de cross docking em cinco
empresas da região de São Paulo. É importante destacar a oportunidade de realizar o teste
piloto do instrumento em cinco organizações a fim de refinar o questionário para aplicação de
survey exploratório em mais de 200 empresas do Brasil.
2 Revisão da Literatura
2.1 Conceituação sobre cross docking
Para a revisão da literatura deste presente estudo e análise da consolidação dos achados
teóricos sobre o tema cross docking foram considerados os três principais artigos que buscam
classificar produção científica acerca desta temática até o momento, a saber, Boysen e
Fliedner (2009), Agustina (2010) e Van Belle et al., (2012).
Recente pesquisa realizada na indústria norte americana com 219 empresas por meio de
respondentes com conhecimentos ligados à logística e gestão da cadeia de suprimentos
(CROSS-DOCKING REPORT TRENDS, 2011), apontou que 68,5% da amostra têm
conduzido operações de cross docking correntemente e outros 15% planejam realizar,
indicando que hoje, mais do que nunca, as empresas estão examinando suas cadeias de
suprimentos em busca de formas criativas de excluir custos do sistema, gerenciar os níveis de
inventário, aumentar a eficiência e satisfazer a demanda dos consumidores. Apesar de ser
aplicado por empresas desde os anos 80, como Wal Mart, Toyota, Goodyear, etc, apenas
recentemente tem ganhado atenção da academia já que 85% dos artigos relacionados ao tema
foram publicados a partir de 2004 (VAN BELLE etal., 2012).
A definição de crossdocking ainda está sujeita a interpretações variadas. Para a indústria é um
processo de recebimento de produtos e embarque no mesmo dia ou durante a noite sem
alocação em estoque (CROSS-DOCKING REPORT TRENDS, 2011), enfocando assim o
quesito transferência de produtos. Outros autores, ao abordarem não somente a transferência,
mas também a consolidação de pedidos e a estocagem temporária,o definem como uma
estratégia logística com a qual os produtos de diferentes fornecedores podem ser consolidados
em um único carregamento, desde que os produtos recebidos sejam embarcados em 24 horas,
reduzindo assim as atividades de estocagem e ordenação dos pedidos (AGUSTINA etal.,
2010). Já Boysen e Fliedner(2009) observando também sua importância para a cadeia de
suprimentos, definem como um nó na rede de distribuição exclusivamente dedicado para a
transferência de carregamentos entre veículos, sendo que o terminal não terá ou contará com
uma redução considerável de estoque.
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Tradicionalmente, nos centros de distribuição, os produtos são recebidos e estocados
temporariamente nas prateleiras e paletes, aguardando que um cliente escolha um item, e seja
retirado por um funcionário no estoque e encaminhado para embarque e entrega ao seu
destino. Das etapas principais da gestão de estoques, como recebimento, estocagem,
ordenação da retirada dos pedidos e carregamento, as com maior custo são a estocagem e a
ordenação da retirada dos pedidos, uma pelos gastos com inventário e a outra pela intensidade
do uso da mão de obra para a operação (VAN BELLE et al., 2012). Uma das possíveis
estratégias seria investir em iniciativas para redução de custos nestas duas etapas, contudo o
cross docking elimina ou reduz radicalmente estas duas despesas operacionais.
O terminal para realização das cargas e descargas, na maioria das vezes correspondem à
grandes galpões ou armazéns retangulares, sendo que alguns podem ter sido construídos em
outros modelos como (L, T, X, etc.), conhecidos na literatura como crossdock. Na maioria das
vezes não possuem nenhuma infraestrutura para armazenamento das cargas, pois os produtos
recebidos nas portas de descargas são transferidos e posicionados apropriadamente nas portas
para o carregamento. A Figura 01 ilustra o processo de cross docking tradicional (VAN
BELLE et al., 2012).
Figura 01 – Distribuição de produtos em um terminal tradicional de cross docking
Fonte: os autores
Alguns autores utilizam modelos matemáticos para compararem quais situações favorecem
sua prática. Segundo Agustina et al., (2010) é fornecida uma síntese da revisão da literatura
específica sobre os modelos para planejamento de cross docking, classificando os em três
aspectos de acordo com os níveis de decisão operacional, tático ou estratégico. As pesquisas
realizadas em relação ao nível operacional, geralmente envolvem os fatores ligados ao
desenvolvimento de cronogramas, alinhamentos de portas para cargas e descargas, problemas
de transferência, rotas de veículos, e por último, alocação de produtos. Para os níveis táticos e
estratégicos os artigos abordaram os projetos de layout e a rede de cross docking,
respectivamente.
Além desta revisão, a literatura também aponta outras abordagens de pesquisas com modelos
matemáticos para adequação das práticas de cross docking. Galbreth et. al., (2008) realizou
comparações entre custos de transporte e manuseio quando os produtos são encaminhados
pelos fornecedores a diversos clientes diretamente ou via um terminal cross dock, com análise
Fornecedores
Clientes
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de quais produtos deveriam ir diretamente ao cliente e quais não, concluindo que o cross
docking é mais valioso quando a demanda varia menos e quando os custos unitários das
operações nas localizações dos clientes é maior.
Kreng e Chen (2008) nesta mesma linha analisaram os custos operacionais, incluindo também
os custos de preparação dos produtos, ressaltando que quando o cross docking é mais
utilizado, necessita se de mais entregas, haja vista que são entregas menores e estes custos
podem acompanhar o incremento. Reforçando a complexidade da coordenação destas
operações Schaffer (1997) elaborou modelo com seis categorias necessárias para as operações
serem bem sucedidas, acrescentando a importância da coordenação com os demais agentes da
cadeia de suprimentos para sincronização das cargas e descargas.
Witt (1998) e Yu e Egbelu (2008) analisaram a influência da tecnologia da informação
(software, hardware, EDI, codificação em barras e escaneamento de produtos) para controle
das operações, corroborando com o survey realizado com os professionais estadunidenses que
apontaram que os sistemas de tecnologia da informação (TI) são uma barreira chave para
operações bem sucedidas de cross docking (CROSS DOCKING REPORTS, 2011). Uma das
questões principais diz respeito às escolhas da tecnologia necessária, pois a partir do momento
que for decidida os demais atores da cadeia de suprimentos serão diretamente influenciados.
2.2 Características e modalidades de cross docking
Quanto as suas características o cross docking pode ser diferenciado em relação a três grupos:
características físicas, características operacionais e características sobre o fluxo de produtos.
Sobre as características físicas são consideradas a forma, o número de portas de carga e
descarga e o transporte interno. Em relação à forma costuma se observar uma variedade de
estilos descritos pela letra correspondente ao desenho (I, L, U, T, H, E, entre outros), já em
relação à quantidade de portas os autores relatam a existência de formas com mais de 500
portas, contudo em média de 06 a 08 portas. Já em relação ao transporte interno pode ocorrer
apenas por meio manual utilizando-se de mão de obra intensiva, com eventual utilização de
equipamentos, como por exemplo empilhadeiras, ou até esteiras automatizadas com leitura de
códigos de barras e escaneamento de produtos. A combinação destes dois modelos também é
uma característica possível(VAN BELLE et. al., 2012).
Passando para as características operacionais algumas decisões podem influenciar o
funcionamento do cross docking com situações em que há maior flexibilidade para o
alinhamento dos veículos nas portas de carga e descarga ou em determinadas ocasiões em que
há exclusividade para alguns veículos em determinadas portas. Outra decisão operacional
refere-se se ser utilizado um lado para carga e outro para descarga ou se as portas serão
mistas. Há possibilidades para pedidos prioritários que em determinadas situações podem
interromper o processo de carga e descarga em andamento(VAN BELLE et. al., 2012).
Por último as características sobre o fluxo de produtos, os quais podem ser diferenciados em
relação aos padrões de chegada, ao horário de saída, ao intercambiamento e aos estoques
temporários. Sobre o padrões de chegada, que são determinados pelo horário de chegada dos
veículos, podem ser concentrados em um ou mais períodos, em intervalos próximos. Outra
possibilidade seria um recebimento disperso e os veículos têm períodos diferentes para
entrega durante o dia. Esta variável é relevante para analisar a influência do congestionamento
de produtos nos terminais, nas escalas de trabalhadores e nos recursos organizacionais. Sobre
o horário de saída dos veículos podem existir restrições ou não. Na maioria dos casos não há
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restrições, entretanto pode ser que alguns veículos tenham que seguir uma prioridade. Sobre o
intercambiamento de produtos é notado apenas em poucas situações, consideradas pós-
distribuição. Sobre os estoques temporários nas operações de cross docking consideradas
puras as cargas são transferidas diretamente sem estocagem, porém na prática isto raramente
acontece, pois geralmente os produtos ficam aguardando na área destinada a porta de
carregamento. Há situações específicas em cargas refrigeradas que não há possibilidade de
permanecer em estoque e são transferidas diretamente (VAN BELLE et. al., 2012).
O sistema de cross docking tem algumas modalidades que podem ser operacionalizadas de
diferentes maneiras, alguns autores citam as diferentes modalidades existentes, gerando várias
classificações.
A classificação mais detalhada foi apresentada por John A. White III, citado por Richardson
(1999) e pelo artigo da revista Modern Materials Handling (1998). Segundo o autor, o cross
docking pode ser classificado como:
Movimento Contínuo Unitizado: considerado a forma verdadeira de cross docking, a
mercadoria segue diretamente das docas de recebimento para as docas de embarque.
Movimento Consolidado: a mercadoria recebida é quebrada e parte dela é destinada a um
cliente enquanto outra parte é destinada a outro ou então direcionada ao estoque e combinada
com outros itens do estoque tradicional, para formar um pedido completo e ser embarcada.
Este tipo de cross docking considerado híbrido, pois pode se utilizar do estoque tradicional
também.
Movimento de Distribuição: os produtos ao serem recebidos são quebrados e combinados
entre si para serem distribuídos em cargas completas para os respectivos clientes. Já Zinn
(1998) apud Oliveira e Pizzolato (2003) menciona que o cross docking é uma técnica flexível
e que pode ser implementado com diferentes níveis, tanto no aspecto de comunicação quanto
no de distribuição. Assim, o autor classifica o cross docking em quatro diferentes formas:
Direto ou Palete fechado: cada fornecedor prepara um palete por loja e durante a operação
os paletes são organizados por loja e cada uma receberá apenas um caminhão contendo o
sortimento de produtos pedido.
Reprocessamento: essa modalidade opera quando o volume destinado a cada loja é
insuficiente para um palete fechado. Nesse caso, os paletes podem ser abertos e a carga
fracionada para as diversas lojas.
Breve armazenagem: nessa modalidade, o cross docking opera com uma pequena
armazenagem, pois nesse caso o volume fornecido é insuficiente não só para formar um palete
fechado, mas também para realizar entregas com a mesma freqüência. Assim, os pedidos são
formados parte pelo que é recebido e parte pelo que é mantido em estoque.
Combinado: o cross docking opera combinando as características das opções anteriores.
As classificações mencionadas acima possuem relação e coerência entre si, na medida em que
todas elas levam em consideração fatores diferenciados. Então, a cada modificação no cenário
ou nos fatores de operação, a classificação vai se tornando mais flexível. Como existem
diversas variações de cross docking, o sucesso está em decidir qual a melhor maneira de
executá-lo, levando em consideração o tipo de negócio e a linha do produto (TERRERI,
2001). Apte e Viswanathan (2000) classificam que o sistema cross docking não é usualmente
utilizado como um sistema puro, mas sim, este é normalmente combinado com uma estratégia
tradicional de armazenagem e distribuição.
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2.3 Vantagens e desvantagens da operação cross docking
De acordo com a Boysen e Fliedner (2009) e Van Belle et al., (2012) na literatura relacionada
ao cross docking são apresentadas diversas vantagens em relação aos centros de distribuição
tradicionais: (a) redução de custos (armazenagem, inventário, mão de obra, manuseio dos
produtos); (b) menor tempo de entrega (do fornecedor para o cliente); (c) melhoria no serviço
ao cliente; (d) redução no espaço para estocagem; (e) troca mais rápida do inventário; (f)
menores estoques; e, por fim, (g) menor risco de avarias e perda da validade dos produtos. Já
em relação às entregas diretas de ponto a ponto, as vantagens são: (1) redução de custo de
transporte e mão de obra; (2) consolidação dos carregamentos; (3) melhoria na utilização de
recursos (veículos com capacidade máxima) e por último, (4) melhor definição entre as
quantidades transportadas e a demanda necessária.
Devido estas vantagens, representa uma estratégia logística interessante para proporcionar
maior competitividade para as cadeias de suprimentos, entretanto estudos mostram que nem
sempre o cross docking será a melhor estratégia. Alguns fatores podem dificultar sua
realização, como o desbalanceamento entre a quantidade de descargas em relação aos
carregamentos, devido à necessidade de sincronização para evitar estoques por longos
períodos, por isso produtos com maior demanda são mais aconselhados para estas operações,
haja vista que possuem maior estabilidade entre as quantidades solicitadas, como por
exemplo, produtos perecíveis e alimentos (VAN BELLE et al., 2012).
Outrabarreira importante para a sua implementação refere-se ao o custo unitário da falta do
produto no estoque, isto é, como o cross docking diminui a quantidade de produtos em
estoque, o risco de uma ausência momentânea é elevado, porém se o custo da falta do produto
for baixo, os benefícios podem compensar pela diminuição do custo de estocagem (VAN
BELLE et al., 2012).
Excluindo estas e outras possíveisbarreiras, há fatores que favorecem a aplicabilidade do
cross docking, como: a distância entre os fornecedores e os clientes (maiores distâncias
favorecem a consolidação de pedidos), o valor e o ciclo de vida do produto (maior redução no
inventário para produtos com maior valor e ciclo de vida mais curto), a quantidade
demandada (maior redução nos custos e espaço com inventário para produtos com grande
circulação), as oportunidades de carregamentos de diversos fornecedores (maior garantia de
sincronização entre as cargas e descargas dos veículos), etc.(APTE; VISWANATHAN,
2010).
Pode-se considerar a partir dessas variações conceituais, dos fatores ligados a quando e como
realizar o cross docking, bem como suas próprias características, que existem aspectos
relevantes, bem como lacunas a serem pesquisadas, sobre como os processos são
implementados, quais facilidades são usadas, quando os pedidos são ordenados no processo
de distribuição, o número de vezes que os produtos são “tocados”, quanto tempo permanecem
esperando nas portas do terminal ou cross dock, e quanto irão levar para chegar ao destino
após embarcados, se existe uma forma ideal para o terminal de transferência, entre outros.
2.4 Vantagem competitiva em operações
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Nessa seção será conceituado sobre a formulação da estratégia com base na Teoria da Visão
Baseada em Recursos (RBV) e os objetivos de desempenho da operação.
Segundo Barney (1991) a RBV tem o papel importante na vantagem competitiva
organizacional por estudar as condições internas para identificar quais recursos podem
melhorar o desempenho da organização no mercado. Para uma organização operar com
sucesso a logística precisa de recursos tecnológicos, recursos humanos, recursos materiais,
recursos físicos e recursos organizacionais (KARIA e WONG, 2012).
Desta forma, entende-se que o gestor de logística tem condições de melhorar o desempenho
da empresa por meio da combinação dos recursos e capacidades internas que geram sucesso
na operação (WERNERFELT, 1984), em que o recurso seja valioso, raro, de difícil imitação e
utilizadas de maneira organizada (BARNEY, 1991). A organização melhora a capacidade
quando seleciona os recursos importantes para a operação e os funcionários operam as
atividades (GRANT, 1991).
Também é preciso atender os objetivos de desempenho da operação para gerar vantagem
competitiva, que consiste no pano de fundo da estratégia operacional, que são: produzir
produtos com qualidade, velocidade e responsividade na entrega, confiabilidade para atender
os compromissos assumidos, flexibilidade operacional para atender os clientes e desenvolver
operação com menor custo possível (SLACK, 2009).
Desta forma, entende-se como hipótese que o cross docking, entendido como recurso
organizacional importante para a operação logística, implementado na cadeia de suprimentos
poderá melhorar o desempenho da firma, possibilitando atender com excelência os cinco
objetivos de desempenho da operação.
3 Metodologia da pesquisa
Este artigo partiu da revisão da literatura com o objetivo de aglutinar os conceitos importantes
para o desenvolvimento do formulário de entrevista semiestruturada. Segundo Gil (2002) a
revisão bibliográfica, a entrevista com profissionais com visão empírica e a observação em
lócus permite maior entendimento exploratório sobre o objeto estudado.
O desenvolvimento das entrevistas semiestruturadas em observação participante foi realizado
em cinco empresas, que teve como principal objetivo refinar o formulário de entrevista em
relação ao vocabulário utilizado, quantidade de perguntas, abrangência das perguntas,
entendimento sobre as perguntas, e outros. O formulário de entrevista é um instrumento de
coleta de dados constituído de perguntas abertas (LAKATOS e MARCONI, 2001). A
observação participante permite o conhecimento sobre a rotina do objeto estudado, sendo
importante para coleta de dados (BOGDAN; BIKLEN, 1992; McCRACKEN, 1991).
Segundo Forza (2002) e Cauchick et al., (2010) antes de realizar efetivamente a pesquisa na
população (survey exploratório) é importante estabelecer o teste piloto do instrumento de
pesquisa em uma amostra que possa sugerir mudanças e criticar aspectos não observados
pelos pesquisadores, principalmente porque o instrumento deve se adaptar ao vocabulário dos
entrevistados e estar coerente com a prática para evitar interpretações erradas das questões do
instrumento, gerando constatações erradas.
Com base nas entrevistas tornou-se possível realizar análise qualitativa das informações por
meio da análise intracaso e intercasos dos dados pesquisados. Segundo Miles e Huberman
(1994) que para análise intracaso dos dados coletados o uso de matriz para tabular as
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informações constatadas no processo de entrevista, permitindo explicar melhor o objeto
estudado e tornar mais compreensível os fatos. Após tabular cada entrevista, é imprescindível
estabelecer a análise intercasos, tornando a explicação mais compreensível e mais objetiva.
Segundo Yin (2010) permite a triangulação dos dados pesquisados.
3.1 Análise e discussão dos dados
Nas empresas entrevistadas identificou-se que a empresa B é a maior em estrutura, capacidade
no mercado e é a que tem o maior número de praças atendidas. A empresa C, D e E,
consideram as praças atendidas bem estruturadas e visam o crescimento da empresa e o
aumento das praças. Já a empresa A que atua com apenas 5 praças e é uma das menores, não
visa ampliação de novas praças ela pretende crescer visando a qualidade de serviço nas praças
atendidas e não tem perspectivas de ampliação, também tem receio de ariscar em novas praças
e não ter uma demanda de materiais para cobrir o investimento.
O Quadro 01 elucida o cargo, nível do cargo na organização, anos de experiência na logística
e ano de empresa.
Quadro 1 - Dados dos entrevistados
Qual o cargo o respondente
ocupa na organização?
Gerente Geral Gerente
Operacional
Supervisora
Comercial
Diretor Gerente
Operacional
Em que nível está o cargo que
ocupa na organização?
Estratégico Estratégico Operacional Estratégico Operacional
Há quantos anos atua nessa
firma?
11 anos 5 anos 02 anos 5 anos 3 anos
Há quantos anos atua nesta
função?
8 anos 8 anos 06 anos 5 anos 5 anos
Há quantos anos atua na área
de logística?
18 anos 11 anos 06 anos 17 anos 5 anos
Fonte: os autores
Nos Quadros 2 e 3 são resumidas as entrevistas com base nos ensinamentos de Miles e
Huberman (1994), que visa tabular as respostas em uma matriz dinâmica a fim de facilitar o
entendimento de cada caso estudado, permitindo tornar mais compreensível os fatos. Após
tabular cada entrevista realizou-se a análise intercasos para constatar dados generalizados
sobre a amostra estudando resultantes da triangulação entre os casos estudados.
É importe salientar que nesse estudo realizou teste piloto do instrumento para realizar survey
exploratório em mais de 200 empresas. Desta forma, ao longo das entrevistas coletou-se
informações para melhorias do instrumento de pesquisa.
Em linhas gerais os entrevistados tiveram dificuldade em responder algumas perguntas do
questionário, alegando o uso de termos muito técnico e sugeriram que nos próximos estudos
utilizar linguagem mais simples. Outro aspecto criticado foi sobre a quantidade excessiva de
questões que cansavam os respondentes. Entretanto, apesar das dúvidas que surgiram nos
entrevistados foram apenas duas empresas (B e C) que tiveram dúvidas sobre os termos
técnicos utilizados.
Quadro 2 Análise intracasos e intercasos sobre as características, modalidades, vantagens e desvantagens
da operação de cross docking.
Continuação
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Fonte: autores Quadro 3 Análise intracasos e intercasos sobre a vantagem competitiva por meio da operação de cross
docking.
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Fonte: autores
4 Conclusões
Esse estudo mostrou as características, modalidades, vantagens, desvantagens e vantagem
competitiva na operação de cross docking em cinco empresas da região de São Paulo.
Os dados mostraram que a operação mais utilizada é a que combina a unitização contínua,
consolidação, palete fechado, reprocessamento e breve armazenagem.
A modalidade de cross docking mais utilizada consiste no movimento consolidado, com
permanência de produtos no centro de distribuição de 6 a 12 horas, com estrutura tipo I,
considerada a mais fácil de ser instalada, principalmente porque faltou planejamento das
organizações.
A maior quantidade das empresas pesquisadas tem a quantidade de portas reduzidas (2 - 4),
apenas uma apresentou grande quantidade de portas (12 para embarque e uma para retira).
As características dos fluxos, conforme já menciona é o combinado, por apresentar maior
flexibilidade no atendimento de clientes.
Os principais problemas apresentados são: (i) 100% Rotas de veículos; (ii) 80% Alocação de
portas; (iii) 60% ocorrências em avarias; (iv) 20% Estoques temporários, que afetam os
custos; (v) 20% localização da estrutura; (vi) 20% falta de veículos e motoristas; (vii) 20%
agendamento dos veículos e (viii) 20% falta de treinamento do pessoal.
As principais vantagens da operação de cross docking são apresentadas: (i) 80% Redução de
custos para manter custos fixos; (ii) 40% Acessibilidade de informação sobre o produto e (iii)
20% não concorda que redução da área física para distribuição seja uma vantagem.
As desvantagens mais comuns são: (i) 40% Relações imperfeitas com fornecedores; (ii) 40%
Deficiências gerenciais; (iii) 40% Dependências inadequadas ou retornos sobre investimentos
insuficientes para justificar a compra, reforma ou construção de um CD apropriado; (iv) 20%
Sincronização entre fornecedor e demanda e (v) 20% acrescentou-se sobre concorrência
acirrada.
Outro aspecto explorado nessa pesquisa foi identificar qual o nível de adesão de objetivos de
desempenho na operação de cross docking. Todas as empresas pesquisadas consideram que os
principais objetivos de desempenho da operação visam reduzir custos, atribuir flexibilidade
no atendimento responsivo aos clientes, melhorar o prazo de entrega e incrementar o nível da
qualidade das empresas que utilizam.
Ainda sobre vantagem competitiva, 100% das organizações consideram que o cross docking
consiste em estratégia para melhorar o desempenho da firma e 80% das empresas consideram
a operação de cross docking como recurso organizacional. Somente uma empresa mencionou
que não considera a operação de cross docking como recurso.
As organizações (80%) consideram também que as operações cross docking são fáceis de
imitar. E apenas uma empresa apontou ter um diferencial de difícil imitação em relação a
atender menores praças para atender com mais qualidade.
Outro aspecto relevante, é que 100% das empresas afirmaram que o cross docking é um
recurso pouco utilizado pelas organizações, por falta de conhecimento.
E por fim, 100% das empresas afirmam que o cross docking é um recurso valioso para as
organizações.
É importante destacar que foi realizado o teste piloto do instrumento em cinco organizações a
fim de refinar o questionário para aplicação de survey exploratório em mais de 200 empresas
do Brasil.
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