Letramento e Ortografia
Alessandra Mara SicchieriPedagoga e Psicopedagoga, Formada em Letras.
Tutora de Pró-Letramento-MEC.27/04/2011 e 28/04/2011
No meio do caminhoNo meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra(...) Carlos Drummond de Andrade
Águas de MarçoÉ pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinhoÉ um caco de vidro, é a vida, é o solÉ a noite, é a morte, é o laço, é o anzol (...)São as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coração.Tom Jobim
A “leitura/escrita” estabeleceu um marco histórico no processo da comunicação humana. Foi o signo impresso que permitiu o avanço para além do uso da memória como forma de conservação do conhecimento culturalmente produzido.
O professor alfabetizador precisa compreender como acontece o processo de aprendizagem da
leitura/escrita, desde os primeiros traçados até o momento em que a criança começa a se preocupar
com a ortografia.
Construção da escrita(Psicogênese da Língua Escrita)
Hipóteses de Escrita
Pré-silábicaSilábica
Silábica-AlfabéticaAlfabética
Após o sistema alfabético ser compreendido pela criança, muitos conflitos ainda ocorrem em relação aos problemas de ortografia.
Para Cagliari (1999), a escrita possui uma etapa, denominada escrita alfabético-ortográfica.
A criança precisa entender como se estabelece a relação entre a letra e o som num sistema alfabético de escrita.
A relação dos sons da fala com as letras não é simples, há casos em que as diferenças gráficas não correspondem às diferenças sonoras e, duas ou mais letras, concorrem para a representação de um mesmo som.
A ortografia surge para amenizar os problemas da “variação linguística”,
A ortografia não representa a fala de ninguém, pois tem a função de anular
a variação linguística na escrita.
A ortografia surge para permitir o entendimento do material escrito em todas as culturas da população de uma mesma língua.
CAUSO MINEIRO (Interatividade)Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomano uma pincumel e cuzinhando um kidicarne cumastumate pra fazer uma macarronada cum galinhassada. Quascai de susto quanduvi um barui vinde denduforno parecenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá. O forno isquentô, o mistorô e o fiofó da galinha ispludiu. Nossinhora! Fiquei branco quinem um lidileiti. Foi um trem doidimais. Quascaí dendapia. Fiquei sensabê doncovim, noncotô, proncovô. Opcevê qui locura! Grazadeus ninguém se maxucô!Tem gente que diz ainda que isso aqui é um causo minero. O pessoar tem que ficá informadu sobre essas coisa. Vai que aconteci com mais arguém. Tádoidu!
Uma criança é considerada alfabética quando constrói o código linguístico e consegue fazer a vinculação fonema/grafema.O estabelecimento da escrita ortográfica é um processo gradativo, que leva em conta as regras gramaticais definidas e o conhecimento social/arbitrário: consciência de como as palavras são escritas, independentemente de como são faladas.
No trabalho com ortografia, dois aspectos devem ser considerados:•um é de natureza intelectual (onde se buscam as regras, as regularidades ortográficas);•o outro é de natureza convencional (onde é necessária a memorização das convenções, ou seja, as irregularidades ortográficas).
Exemplos para refletir:
sciência ciência consciência
exepção exceção excepcional
muçarela assovio/assobio
frauta-flauta / fror -flor / nebrina-neblinaFonte Dicionário Eletrônico Houaiss Versão 1.0.7. 2004
1) ERRO DE TRANSCRIÇÃO DE FALA O aluno registra do modo como fala – costuma ser o mais
encontrado
O aluno escreve I em vez de E, porque fala (i) e não (e) arvri, tristi, dici(disse), denti
Escreve U em vez de O, porque fala(u) e não (o) tudu, dadu, mininu
Duas vogais em vez de uma: rapais(rapaz), feis(fez), arrois(arroz)
Uma vogal em vez de duas: falo(falou), pergunto(perguntou), levo(levou)
Não escreve R : mulhe(mulher), lava(lavar), traze(trazer)
2) SUPERCORREÇÃO OU HIPERCORREÇÃO Costuma ser comum quando a criança já sabe a
forma ortográfica de determinadas palavras e sabe que a pronúncia destas é diferente, então passa a generalizar determinados conhecimentos.
-panéla , éla , janéla( “Sempre que for é leva acento”, então a criança passa a acentuar o e toda vez que ele é aberto)
-Doutor, Professora, Dentista( “Nome de gente começa com letra maiúscula”)
-chapeo, sorrio,mingao (“Algumas palavras se fala com u, mas se escreve com o ex. meninu -menino”, então a criança passa a generalizar o o).
-táxe, constróe ( O mesmo processo de cima, mas com i por e)
-jogol(jogou), altomóvel(automóvel)- (Algumas palavras se fala u, mas se escreve com l)
3) DESCONSIDERAÇÃO DAS REGRAS CONTEXTUAIS
Regras que as crianças desconhecem mas vão aprendendo com o tempo, de acordo com sua maturidade.
-Não se começa palavra com Ç
-Palavras com S ou R forte entre duas vogais, precisam ser escritas com SS ou RR
-Antes de P e B não se pode colocar N, somente o M
4) AUSÊNCIA DE NASALIZAÇÃO ou TROCA de M por N OU TIL
Usa somente a vogal para indicar o som nasalizado, suprimindo a consoante M e N que não pronuncia.ode--------ondenuca------nuncamaçan ----maçã
5) ORIGEM DA PALAVRA (ETIMOLOGIA)
Palavras que apresentam sílabas com o mesmo som, porém escritas diferentes.Por quê?
-selo se escreve com S e cebola com C-gelatina com G e jejum com J-exercício com X e crucifixo também com X
Quando a criança , no caso, escreve sebola, podemos dizer que ela fez um uso indevido da letra.
6) NÃO REGISTRO DE SÍLABAS COMPLEXAS (SÍLABAS NÃO-CANÔNICAS) São as que fogem do modelo consoante e vogal(CV)-As sílabas complexas são formadas pelos grupos de CCV como nos dígrafos nh, lh, ch ou CVV que, qui, gue, gui- E também nos encontros consonantais formados por CCV como vr, br, cr, pr, fl, pl - Podemos citar também os encontros consonantais impróprios (quando são separados na divisão silábica), onde encontramos CVC como garfo, vista e VCC como escola, ignorar
7) AUSÊNCIA DE SEGMENTAÇÃO
Juntar palavras -esta juntura reflete os critérios que a criança usa para analisar a fala.
um mamão-------uma mãoblusas azuis------blusazuisuma abelha-------umabelha
8) SEGMENTAÇÃO INDEVIDA
Separar parte das palavras, quando estas guardam um sentido “em separado”.
conseguiu---------com seguiuempata-------------em pataembaixo-----------em baixo
Às vezes, devido a entonação marcada do falante, também pode ocorrer uma segmentação: a gora, a fundou
9) TROCA DOS HORMOGÂNICOS
Fonemas que utilizam os mesmos órgãos do aparelho fonador,se diferenciando apenas por serem surdos ou sonoros quanto ao papel das cordas vocais.
surdos sonorosP ------------------------------- BT --------------------------------- DK ---------------------------------- GF------------------------------------VX -----------------------------------J
Surdo: As cordas vocais permanecem abertas, sem vibraçãoSonoros: Ocorre vibrações nas cordas sonoras
10) TROCA DO ÃO PELO AM ( OU VICE-VERSA)
-casaram----------casarão-caminham--------caminhão
Engloba noção de tempo que a criança adquire ou entende bem por volta dos 9 anos ( Pensamente Lógico Concreto)Dica: Ensinar as crianças a marcarem a sílaba tônica, o ão só aparecerá quando a sílaba tônica for a última. Ex: dançam, casarão , casaram
Refletindo sobre a PráticaMaterial Didático NAME
1 º Ano
Professor(a): Utilize o exemplo da sugestão da “Caixinha” ou do “Comilão de palavras”, ou outra sugestão a seu critério, para trabalhar palavras novas e retomar aquelas já conhecidas.
PARA TREINAR
CASA CEDO CINEMA CAVALO CIDADE
CEBOLA CUECA CENOURA COROA CAMA
COCADA CAMELO CASACO COCO
Refletindo sobre a Prática
Circule de azul as sílabas das palavras que tenham NH.
sonho companhia pinheiro cozinha caminho banheiro galho bolha farinha banheiro nenhuma minhoca
2 º Ano
Refletindo sobre a Prática3 º Ano
Escreva uma palavra derivada para cada palavra destacada.pedra:livros:histórias:paisagens:figuras:garotos
Refletindo sobre a Prática4 ºAno
Meu avô pagou R$ 16,00 pelo bilhete de loteria.
Meu time ficou em 3 º lugar no campeonato.
Havia 63 pessoas na fila da casa lotérica.
Ele apostou1/4 do salário.
Referência BibliográficaPró-letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos iniciais do Ensino Fundamental - Alfabetização e Linguagem Ministério da Educação. Brasília, 2006.
CAGLIARI, Luiz Carlos: Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione,1990.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. Loyola, 1995.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2006.