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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO DISTRITO FEDERAL
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ____ VARA FEDERAL DA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL
Ref.: Inquérito Civil Público n.º 1.16.000.000642/2011-54
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República
signatário, no exercício de suas funções constitucionais e legais, com com espeque nos artigos
37, § 4º; 127, “caput”, e 129, incisos II e III, da Constituição Federal; nas disposições da Lei
Complementar n.º 75/1993, da Lei n.º 7.347/1985 e, finalmente, com base nas razões adiante
delineadas e nos documentos em anexo, vem à honrosa presença de Vossa Excelência ajuizar a
presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
CUMULADA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
em desfavor da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada
pelo Procurador Regional da União, Dr. Manuel de Medeiros Dantas, com endereço funcional
no Edifício da Procuradoria Regional da União, localizada no Setor de Autarquias Sul (SAS),
Quadra 2, Bloco "E", Edifício PRU, CEP 70.070-906, Brasília-DF, telefones (61) 3226-1962; 3226-
2153 e 3224-8193.
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DO OBJETO
Reza o Decreto n.º 4.552, de 27 de dezembro de 2002, em seu artigo
1º, que "o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, a cargo do Ministério do Trabalho e
Emprego, tem por finalidade assegurar, em todo o território nacional, a aplicação das
disposições legais, incluindo as convenções internacionais ratificadas, os atos e decisões das
autoridades competentes e as convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho, no que
concerne à proteção dos trabalhadores no exercício da atividade laboral".
A organização do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho decorre dodisposto no art. 21, inciso XXIV, da Constituição da República, que impõe à União a
competência para organizar, manter e executar a inspeção do trabalho1.
O Sistema Federal de Inspeção do Trabalho2, com exceção da execução
judicial de multas, contribuições etc., está a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
órgão da União. Dentro da estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego, por sua vez, a
inspeção do trabalho é coordenada, precipuamente, pela Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), sendo certo que a designação dada aos inspetores do trabalho, no País, é a de Auditores
Fiscais do Trabalho.
Entrementes, o fato é que o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho
tem apresentado sérios problemas de desestruturação, carências e deficiências. A
desestruturação, as carências e as deficiências observadas no Sistema Federal de Inspeção do
Trabalho conduz à conclusão de que a União não está a organizar de forma eficiente o sistema,
1 Art. 21. Compete à União: (...)XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
2
Um quadro geral da inspeção do trabalho no Brasil pode ser encontrado no estudo "A inspeção do trabalho no Brasil", dospesquisadores Adalberto Cardosos e Telma Lage, fls. 371/410, e também disponível em http://www.srido.br/pdf/dados/v48n3/a0Iv48n3.pdf.
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meio legítimo de proteção da dignidade de milhões de trabalhadores brasileiros.
Destarte, pela presente ação civil pública pretende o Ministério Público
Federal obter tutela jurisdicional que imponha à União o dever de observância dos princípios
norteadores da Administração Pública Federal – dentre os quais, principalmente, os princípios
da legalidade e da eficiência – na atual caótica situação em que está sendo mantido, em todo o
País, o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, incluído aí o processo de apuração, imposição
e execução de multas administrativas por infrações à legislação trabalhista, que tem
apresentado sérios problemas de organização.
Para tanto, com a presente ação civil pública, pretende o Ministério
Público Federal obter tutela jurisdicional condenatória da União em obrigação de fazer
consistente em: (i) realizar concurso público para suprimento de todas as vagas existentes para
o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, sempre que o número de vagas exceder a 10% (dez por
cento) do quadro respectivo, nomeando e dando posse, em até 3 (três) meses da publicação do
resultado final do concurso, a todos os candidatos aprovados, até o número de vagas
existentes; (ii) garantir a manutenção, no Setor de Multas de todas as Superintendências
Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências Regionais, de número de Auditores Fiscais do
Trabalho adequado às necessidades de serviço, de modo a impedir o sobrestamento de
atividades por carência de Auditores; (iii) garantir, no Setor de Multas de todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências Regionais, a manutenção de
número de servidores administrativos de apoio adequado às necessidades de serviço, de modoa impedir o sobrestamento de atividades por carência de servidores; (iv) garantir, ao Setor de
Multas de todas as Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências Regionais,
a disponibilização de equipamentos de informática (integrados em rede) e mobiliário em
quantidade e qualidade adequadas às necessidades de serviço, substituindo os equipamentos
sempre que necessário; (v) garantir, ao Setor de Multas de todas as Superintendências
Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências Regionais, a disponibilização de material de
escritório, incluindo cartuchos para impressoras, em quantidade e qualidade adequadas às
necessidades de serviço, e de forma permanente, mantendo estoques de tais produtos; (vi)
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implantar no prazo de 1 (um) ano e seis (6) meses, após prévia consulta quanto às necessidades
e carências enfrentadas por todas as Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e
Gerências Regionais, novo e único sistema informatizado de acompanhamento de processos
para o Setor de Multas, interligado aos demais sistemas do Ministério do Trabalho e Emprego,
e adequado às necessidades de serviço, devendo ser livre dos defeitos que hoje comprometem
a eficiência dos sistemas existentes; (vii) disponibilizar, no prazo de 1 (um) ano e seis (6) meses,
e, a partir de então, manter em funcionamento acesso na página da “internet” do Ministério do
Trabalho e Emprego, serviço de consulta “online” acerca da tramitação de processos
administrativos relacionados ao Setor de Multas e Recursos, para acesso a todos os
interessados; (viii) implantar, no prazo de 1 (um) ano e 6 (seis) meses, após prévia consulta às
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências Regionais, um programa
permanente de levantamento e gerenciamento nacional de informações estatísticas sobre as
atividades da inspeção do trabalho, que permita a produção de relatórios e dados consolidadoscompletos e confiáveis, incluindo informações sobre ações fiscais, processos administrativos,
multas e resultados obtidos; (ix) implantar, no prazo de 3 (três) meses, procedimentos para
assegurar a permanente e célere troca de informações entre a Advocacia-Geral da União e o
Ministério do Trabalho e Emprego, de modo que o Setor de Multas seja mantido sempre
informado sobre ações e decisões judiciais relativas a multas administrativas, inclusive para fins
de eficaz e imediato cumprimento das decisões; (x) proporcionar, de forma permanente,
treinamento e capacitação de todos os servidores do Setor de Multas das Superintendências e
Gerências Regionais, em todas as atividades e funções que sejam de atribuição desse Setor; (xi)
promover a inscrição em Dívida Ativa de multas administrativas previstas na legislação
trabalhista, sempre que houver diversas multas ainda não prescritas relativamente a um
mesmo empregador, e o valor somado das mesmas ultrapasse a quantia de R$ 1.000,00 (mil
reais) e, finalmente, (xii) promover a execução judicial de multas administrativas previstas na
legislação trabalhista, não pagas na esfera extrajudicial, sempre que o valor somado das multas,
relativamente ao mesmo empregador, ou o valor individual delas, ultrapassar a quantia de R$
1.000,00 (mil reais).
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Conforme demonstrado, e muito embora a desestruturação da
inspeção do trabalho atinja praticamente todos os seus setores, por meio da presente ação civil
pública tratar-se-á apenas do segmento mais crítico, que é aquele voltado à apuração e
imposição de penalidades administrativas a empregadores. Trata-se exatamente do segmento
do qual depende a preservação da eficácia e credibilidade de todo o sistema, eis que, não
tendo se mostrando suficiente a emissão de orientações aos empregadores, apenas pela
imposição da multa se assegurará, minimamente, o respeito à lei. É a tal segmento do sistema
de inspeção que se dirigem os pedidos desta ação civil pública.3
DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
O conjunto de problemas adiante apresentados conduz à conclusão,
conforme já sinalizado, de que a União não está a organizar, de modo minimamente aceitável,
o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho. A desestruturação, as carências e as deficiências
observadas autorizam a conclusão de que o objetivo maior da inspeção do trabalho, que é a
proteção dos trabalhadores, não é atingida.
Diante desse quadro, é inegável a ofensa ao disposto no art. 21, inciso
XXIV, da Lei Maior, que impõe à União a competência para organizar, manter e executar a
inspeção do trabalho.
Atualmente a obrigação de "organizar" a inspeção não é respeitada.
Hoje o sistema se caracteriza pela sua desorganização, em todos os níveis e setores. A
obrigação de "manter" tampouco é observada: nem mesmo o número de Auditores Fiscais do
3 A definição de Sistema Federal de Inspeção do Trabalho utilizada é aquela da Convenção n.º 81 da OrganizaçãoInternacional do Trabalho – OIT, ratificada pelo Brasil, que alcança desde a apuração administrativa de ilícitos até aexecução da multa. No Brasil, tais tarefas não são todas realizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, eis que aexecução judicial das multas é atribuição da Procuradoria da Fazenda Nacional.
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passado é mantido, as vagas abertas por aposentadorias ou falecimentos não são preenchidas,
não há equipamentos de informática e, por vezes, sequer material de escritório para a
realização dos serviços, entre tantos outros problemas.
Mais correto será dizer que a inspeção do trabalho está sendo
gradualmente desmantelada, desmontada. E a obrigação de "executar", que não é atingida,
torna a atividade dos Auditores Fiscais do Trabalho irrelevante, desprovida da capacidade de
efetivamente interferir nas relações de trabalho e assegurar o cumprimento da lei.
Veja-se que as competências elencadas (ou poderes-deveres
conferidos) no art. 21 da CF, de natureza material, não são enunciados programáticos, ou
recomendações de atuação à União. Consistem em atividades essenciais ao próprio
funcionamento do Estado (e o seriam mesmo em um modelo de Estado "mínimo", diverso do
brasileiro), típicas de Estado, de cumprimento permanente e obrigatório.
Não está a União mais autorizada a deixar de garantir a execução da
inspeção do trabalho do que deixar de organizar a defesa nacional (inciso III) ou de manter o
serviço postal (inciso X), competências colocadas no mesmo plano de importância.
Diante disso, certo é que a legitimidade da União, por ser evidente,
fundamenta a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do presente
processo, com espeque no disposto no artigo 109, inciso I, da Constituição da República.
DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
A Constituição Federal de 1988, ao definir o Ministério Público como
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbiu-lhe da defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis
(artigo 127 da CF), e estabeleceu, em seu artigo 129, suas funções institucionais, destacando-
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se:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;”
(...)
O Ministério Público Federal é instituição legitimada à salvaguarda do
zelo pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
da sociedade assegurados pela Constituição da República.
O Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, a cargo do Ministério doTrabalho e Emprego (MTE), por estar a apresentar uma série de problemas estruturais e de
organização, conduz à conclusão de que a União não está organizando de forma minimamente
aceitável o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho o que, por via de consequência lógica,
sugere grave atentado ao interesse público, por clara desestabilização de um serviço de
relevância pública.
Além disso, a higidez do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho
consiste em interesse de âmbito difuso, interesse este cuja proteção conferida pela
Constituição Federal no artigo 129, inciso III, cabe ao Ministério Público Federal.
Destarte, apresentada a breve análise acerca da competência da Justiça
Federal para o processamento e julgamento da presente lide, bem como dos fundamentos que
legitimam ativamente o Ministério Público Federal, passemos à análise dos fatos e dos
fundamentos jurídicos.
SITUAÇÃO ATUAL DO SISTEMA FEDERAL DE INSPEÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL
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Pede-se vênia a Vossa Excelência para uma exposição inicial dos
problemas que atingem o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho como um todo, eis que é a
partir desse contexto que será melhor compreendida a situação específica do Setor de Multas.
O Sistema Federal de Inspeção do Trabalho4, com exceção da execução
judicial de multas, contribuições etc., está a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
órgão da União. Dentro da estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego, a inspeção do
trabalho é coordenada, precipuamente, pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), sendo
certo que a designação dada aos inspetores do trabalho, no País, é a de Auditores Fiscais do
Trabalho.
O Ministério do Trabalho e Emprego tem sede em Brasília. As
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego5, com sede nas capitais dos estados,
compõem as unidades descentralizadas do Ministério.
As Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, por sua vez,
possuem unidades administrativas a elas subordinadas: (i) as Gerências Regionais – estas
localizadas no interior dos estados, normalmente em municípios de maior porte – e (ii) as
Agências – localizadas em outros municípios.
O primeiro, e um dos maiores problemas que colocam em risco o
funcionamento da inspeção, no Brasil, é a crônica carência de inspetores e de recursos
materiais. Corroborando esse entendimento, os relatórios anuais de avaliação do Plano
Plurianual elaborados pelo Ministério do Trabalho e Emprego têm há muito informado acerca
da carência de inspetores e de demais deficiências existentes (insuficiência de recursos
materiais, aparelhos de informática, veículos, etc)6.
4 Um quadro geral da inspeção do trabalho no Brasil pode ser encontrado no estudo "A inspeção do trabalho no Brasil", dospesquisadores Adalberto Cardosos e Telma Lage, fls. 371/410, e também disponível em http://www.srido.br/pdf/dados/v48n3/a0Iv48n3.pdf.5
As Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego eram antes denominadas Delegacias Regionais do Trabalho – DRTs.
6 Tanto os Relatórios Anuais de Avaliação quanto os Relatórios de Gestão do MTE, a seguir mencionados, não se encontram, naspeças que instruem esta ação, completos em todas as suas folhas, pois a maior parte de tais documentos, bastante volumosos,
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Os Relatórios de Gestão7 das Superintendências Regionais do Trabalho
(até recentemente chamadas Delegacias) de várias regiões do País confirmam os mesmos
problemas, apresentando um quadro de visível desestruturação do serviço de inspeção.
De acordo com o "quadro comparativo da fiscalização do trabalho -
1990 a 2007"8, havia em 1990, no Brasil, 3.285 (três mil, duzentos e oitenta e cinco) inspetores
do trabalho. A quantidade de inspetores nunca mais foi atingida9, apesar de todas as
transformações econômicas e sociais pelas quais passou o País deste então. Quase duas
décadas depois, em 2007, o número de Auditores Fiscais do Trabalho era de 3.174 (três mil
cento e setenta e quatro).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE 10,
a população economicamente ativa (PEA) brasileira aumentou de 69,70 milhões, em 1992, para
87,78 milhões, em 2003.
A população brasileira como um todo continua a crescer, ainda que não
no mesmo ritmo de décadas passadas. Em 1990, a população total era de 146,59 milhões de
brasileiros, e, em 2008, atingiu a marca de 189,61 milhões, estimando-se que em 2011 será de
194,93 milhões11.
Entrementes, o número de inspetores no Brasil não tem acompanhado
minimamente tal crescimento populacional, muito embora os próprios relatórios do Ministério
do Trabalho e Emprego reconheçam que a quantidade de Auditores Fiscais do Trabalho não
atende aos parâmetros da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Como resultado, a
cada ano o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho está a se tornar mais ineficiente para lidar
com as ameaças que afligem os trabalhadores brasileiros.
tratam de muitos outros assuntos, não relacionados à lide. Assim, foram juntadas apenas as partes dos relatórios pertinentes asmatérias ora tratadas. A íntegra dos documentos encontra-se disponível da página do MTE na internet (www.mte.gov.br).7 Relatórios remetidos pelas unidades descentralizadas à autoridade central, que subsidiam a elaboração do relatório anual dopróprio Ministério do Trabalho e Emprego.8 Fls. 62 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54 (numeração original do Ministério Público doTrabalho.9 Em 1995 atingiu-se o recorde negativo de 1960 inspetores.10
Mapa do Mercado de Trabalho no Brasil - 1992-1997, publicação do IBGE disponível em:http://wvvw.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/mapa_mcrcado_trabalho.pdf.11 Fonte: IBGE, Projeção da população do Brasil por sexo e idade - 1980-2050.
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Como exemplo, cite-se o fato de que, segundo estudo da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (fls. 161), o Brasil possui 51,1% de sua
força de trabalho no âmbito da informalidade12. O estudo recomenda, além de programas de
geração de empregos mais produtivos, a criação de mecanismos de controle de fraudes, o que
implica no aperfeiçoamento da inspeção. Com a quantidade atual de inspetores, entretanto, o
Brasil não possui condições de enfrentar de forma efetiva tal problema, o que implica na
manutenção de milhões de brasileiros em condições precárias de trabalho.
Embora tenham ocorrido nomeações de novos inspetores nos últimos
anos, elas se mostraram insuficientes, e não deram efetiva resposta às duas pressões imediatas
que incidem sobre o contingente atual de inspetores: 1) número de aposentadorias anuais, que
representam perdas em definitivo de Auditores; 2) ampliação da população economicamente
ativa, e portanto do número de trabalhadores que necessitam ser atendidos pelo serviço de
inspeção.
O problema já foi publicamente reconhecido pelo Sr. Ministro do
Trabalho e Emprego, que defendeu a ampliação do número de nomeações em matéria
publicada no sítio eletrônico do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho – SINAIT13.
Veja-se que, de fato, foi encaminhado em 2007 pelo Ministério do
Trabalho e Emprego ao Ministério do Planejamento pedido (aviso Ministerial) para autorização
da realização de concurso público para o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho. Inicialmente
foram solicitadas 600 (seiscentas) vagas, depois diminuídas para 520 (quinhentas e vinte) vagas.
O procedimento administrativo14 relativo a tal pedido, no entanto, permaneceu parado no
12 Da mesma forma, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego: "Cerca de 40% da PEA brasileira está inserida no mercado detrabalho sem ter seus direitos respeitados, ama vez que trabalham sem a Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPSdevidamente assinada. Ademais, em virtude das diversas alterações que a legislação trabalhista sofreu nos últimos anos, os níveisde precarização se agravaram, afetando negativamente as condições de trabalho, inclusive no meio rural. Por estes fatos, torna-senecessária a intervenção do Estado, principalmente por meio de seu corpo fiscal, de forma a combater a precarização e verificar ocumprimento eficaz das normas legais e convencionadas". (Relatório Anual de Avaliação do Plano Plurianual, ano base 2005 -avaliação dos programas a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego).13 Disponível em http://www.sinait.org.br/Site/index.php?id=3429&act=vernoticias (fls. 142 do anexo I dos autos do inquérito civilpúblico n.º 1.16.000.000642/2011-54.14 Informação colhida no site do Ministério do Planejamento em maio de 2009: N. 03000.002732/2007-15: SUBMETE À
APRECIAÇÃO PROPOSTA DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE 600 CARGOS EFETIVOS DE AUDITORFISCAL DO TRABALHO, DA CARREIRA DA AUDITORIA-FISCAI. DO TRABALHO. Última movimentação: Data: 04/09/2007 Situação: EMTRÂMITE.
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Ministério do Planejamento desde a data de seu protocolo.
Em 2008, novo pedido para autorização de realização de concurso foi
apresentado pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, mas acabou sendo indeferido. No
início deste ano de 2009, o MTE reiterou a solicitação, mormente pelo fato de que muitos
Auditores se afastaram por aposentadoria.
Diante disso, é grande o risco de que, em breve, o Sistema Federal de
Inspeção do Trabalho entre em colapso, pois até a data prevista para um novo concurso
público, muitos outros Auditores irão se aposentar, e a maior parte deles não serão
substituídos. O “déficit” de inspetores, que já crônico, em outras palavras, tende a se ampliar.
Com efeito, as associações de Auditores Fiscais do Trabalho estimam
que até 2015, 60% (sessenta por cento) do quadro atual de inspetores (em torno de 1.800 – mil
e oitocentos – servidores) atingirá os requisitos legais (tempo de serviço) para se aposentar.
Apenas no estado de Minas Gerais, como indica o documento de fls.
654/66115, mais de 227 (duzentos e vinte e sete) Auditores estarão aptos para se aposentar até
2010. Se todos optarem por efetivamente requerer a aposentadoria (por exemplo, por estarem
frustrados com as dificuldades decorrentes da precarização das condições de trabalho e
carência de pessoal), simplesmente não haverá mais, na prática, inspeção do trabalho naquele
estado.
Da mesma forma, na abertura de reunião da Coordenadoria Nacional
de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho, realizada em Brasília no
dia 30 de junho de 2009, com a presença de aproximadamente 100 (cem) Procuradores do
Trabalho, incluindo o Sr. Procurador Geral do Trabalho, a chefe da Secretaria de Inspeção do
Trabalho do MTE, Sra. Ruth Vilela, declarou que, até o final de 2010, em torno de 600
(seiscentos) Auditores Fiscais do Trabalho deverão se aposentar.
O quadro ideal de servidores deveria ser, segundo afirmou a Secretária
de Inspeção na mesma ocasião, de 4500 (quatro mil e quinhentos) Auditores, número muito
15 Vide fls. 654/661 do anexo III dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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distante do atual cenário de pouco mais de 3000 (três mil) Auditores Fiscais do Trabalho.
Por isso a preocupação do Ministério Público Federal em monitorar as
ações da União para elevar o quadro dos pouco mais de 3000 (três mil) Auditores atuais para
4500 (quatro mil e quinhentos) Auditores Fiscais. Apenas com a elevação do número de
Auditores Fiscais a carência de recursos humanos será verdadeiramente afastada
A prevalecer a situação atual, não apenas o quadro de inspetores
diminuirá, como o fosso já existente entre a capacidade de atuação da inspeção do trabalho e a
quantidade de problemas trabalhistas na sociedade será drasticamente ampliado.
O último concurso público realizado pelo Ministério do Trabalho e
Emprego para o cargo de Auditor se deu em 2006, e ocorreu já depois de um hiato de vários
anos com relação ao concurso anterior (de 2003), sinalizando a ausência da disposição de ao
menos garantir o preenchimento periódico das vagas que abrem em razão de aposentadorias e
falecimentos.
DO COLAPSO DO SETOR DE MULTAS E RECURSOS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
Feita a contextualização no tópico anterior, importa agora destacar quea desestruturação atinge patamares ainda mais alarmantes no Setor de Multas e Recursos do
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (e na fase de cobrança judicial, sobre a qual se falará
posteriormente). Na prática, quase tudo aquilo que, a duras penas, os Auditores Fiscais
conseguem realizar – no sentido de buscar o cumprimento da legislação trabalhista e de
garantir dignidade a milhões de trabalhadores – é perdido na fase de imposição da sanção
pecuniária. Multas devidas, pela prática de graves ilícitos, deixam de ser exigidas, acarretando
o descrédito de todo o sistema, bem como o favorecimento de uma cultura de generalizado
descumprimento da lei trabalhista.
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No Brasil, a constatação, pelos inspetores do trabalho, de uma situação
de violação da lei, que não venha a ser resolvida mediante advertências, recomendações ou
orientações, dá ensejo à instauração de um processo administrativo, no âmbito do próprio
Ministério do Trabalho e Emprego, no qual é oportunizado ao empregador amplo direito de
defesa.
O processo pode ter, formalmente, início com a lavratura de um auto
de infração, uma notificação de débito de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
um auto de interdição ou embargo, entre outras hipóteses. Após a apresentação da defesa e o
julgamento administrativo, o processo é arquivado, por ter sido acolhida a defesa ou
constatado um vício insanável, ou então é encaminhado à Procuradoria da Fazenda Nacional,
para inscrição da multa em dívida ativa da União e execução judicial, caso esta não seja
espontaneamente paga.
Na prática, tal trâmite não tem sido observado, em enorme parte dos
casos. Isso se dá, entre outros motivos, por aguda carência de recursos humanos e de
materiais, deficiência dos sistemas de informática usados, ausência de treinamento, acúmulo
de funções e imposição de obstáculos à execução.
O fato é que não há Auditores em quantidade suficiente; não há
pessoal de apoio administrativo; não há recursos de informática; não há sistema informatizado
adequado para acompanhamento da tramitação; não há material de escritório; não há
treinamento aos servidores.
O que há é o nítido caos na execução de uma atividade típica de
Estado (polícia administrativa na fiscalização de relações de trabalho) e fundamental à
preservação dos direitos fundamentais dos trabalhadores, sem a qual, no entender da OIT, é
impossível a promoção do trabalho decente em qualquer País .
Uma das consequências de tão graves problemas é a paralisação de
processos administrativos, por ausência da movimentação devida, até que se atinja a
prescrição da sanção (multa), que ocorre em 5 (cinco) anos, na forma do art. 1º da Lei n.º
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9.873/99. De fato, milhares de processos são arquivados, todos os anos, exatamente por esse
motivo.
Nesse sentido, conforme certidão expedida peio Ministério do Trabalho
e Emprego no Rio Grande do Sul16, apenas naquele estado foram atingidos pela prescrição
34.829 (trinta e quatro mil oitocentos e vinte e nove) processos de multas, e isso em apenas 2
(dois) anos e meio (de 2006 a julho de 2008). A mesma certidão informa, aliás, a existência de
outros 14.000 (quatorze mil) processos aguardando para serem arquivados, também por
prescrição.
Em 2006, por exemplo, foram arquivados por prescrição, apenas no Rio
Grande do Sul, quase o dobro do número de autos de infração lavrados no mesmo ano naquele
estado! Em 2007 e 2008, da mesma forma, foram mais arquivados processos do que lavrados
autos de infração!
Posteriormente, em 2009, em atendimento a requisição do Ministério
Público (que exigia que lhe fosse informado o número total de processos arquivados por
prescrição em todo o País17), informou a Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do MTE18:
"Quanto aos dados solicitados em âmbito nacional, foi realizado levantamento
e serão apresentados dados parciais, extraídos de sistema informatizado onde
esta Secretaria pode acessar dados inseridos pelas Superintendências. Eles são
parciais por três motivos: a) há apenas informações relativas a autos de
infração (...); b) sua implantação nas Unidades Descentralizadas está sendo
feita de forma gradativa. Dessa maneira, a Superintendência do PR e asGerências do interior de SP ainda não foram contempladas; c) a implantação
nas diversas Unidades da Federação não se deu em uma data única. Como
exemplo, cito as unidades de RS e SC, que iniciaram o uso do sistema
respectivamente em dezembro de 2005 e abril de 2007. (...) [grifamos]
Estabelecidas essas premissas, seguem os dados parciais: (...) 3) número de
processos arquivados por prescrição:
Ano Prescrição
2005 2958
16 Vide fls. 35/37 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.17 Vide fls. 21 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.18 Vide fls. 28/31 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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2006 11427
2007 13147
2008 16416
Total 43948
Sobre a incapacidade do Ministério do Trabalho e Emprego de fornecer
- o que é por ele expressamente reconhecido - dados confiáveis acerca da atuação da inspeção
do trabalho, discutir-se-á em seguida. O que há de se destacar, aqui, é que a informação
prestada pela SIT é CERTAMENTE INCORRETA, vale dizer, FALSA.
De fato, segundo a SIT, os dados apresentados seriam parciais porque
não incluem todas as unidades da federação. Entretanto, como referido na resposta, os dados
do Rio Grande do Sul já deveriam estar incluídos, pois a unidade do Rio Grande do Sul iniciou o
uso do sistema em dezembro de 2005. Desde janeiro de 2006, os dados nacionais já incluem os
do Rio Grande do Sul.
Além disso, a própria SIT deveria possuir, em razão de sua competência
recursal, os dados totais sobre arquivamentos por prescrição, na medida em que informou que:
"todos os tipos de arquivamento determinados pelo Superintendente em que a autuação não
prospera estão sujeitos a controle de legalidade pela instância superior mediante reexame
necessário, cuja competência decisória encontra-se no âmbito desta Secretaria"19. Portanto, os
dados da SIT quanto a tal matéria deveriam ser, obrigatoriamente, completos.
Ainda assim, o que se observa é que a totalização NACIONAL (incluindo
Rio Grande do Sul e demais unidades que já fazem uso do sistema) fornecida pela SIT atinge
valores INFERIORES AOS INFORMADOS PELO MTE APENAS NO RIO GRANDE DO SUL. Vejamos:
Ano Rio Grande do Sul – autosprescritos
Brasil (segundo informaçãoda SIT) – autos prescritos
2006 15116 11427
19 Vide fls. 29/30 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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2007 12050 13147
Com base nas informações da SIT, portanto, em 2006, em todo o País,
prescreveram menos autos de infração do que no Rio Grande do Sul. E em 2007, mais de 90%
(noventa por cento) de todas as prescrições ocorridas no País teriam ocorrido no Rio Grande do
Sul.
A informação, obviamente, é incoerente. Resta saber se tal incorreção
decorre de graves falhas no gerenciamento da informação, ou de uma disposição de ocultar os
números reais dos processos atingidos, por omissão administrativa (que gera, inclusive, perda
de arrecadação ao Estado, além de danos os trabalhadores), pela prescrição.
De qualquer modo, os elevados índices de multas atingidas pela
prescrição significam que a atuação da inspeção do trabalho de anos inteiros está sendo
completamente perdida, eis que não está produzindo qualquer efeito repressivo. É como se
tudo o que os inspetores de trabalho fizeram não importasse, já que não produz resultado.
Outra consequência dos problemas mencionados é a de que os
inspetores brasileiros vêm enfrentando, diariamente, o constrangimento de, ao retornarem a
uma empresa autuada em anos anteriores por descumprimento à lei, constatarem que o
empregador sequer foi notificado pelo Setor de Multas da primeira multa para apresentação
de defesa, e, assim, continua a descumprir a legislação.
Ora, que sentido haverá em se lavrar novo Auto de Infração, se os
primeiros Autos não geraram qualquer consequência? Como há de se posicionar o Auditor
diante de tal empregador reincidente, quando ambos sabem que um novo Auto de Infração
terá o mesmo destino, e não será imposta sanção alguma?
Trata-se, enfim, de situação humilhante aos Auditores, que são
confrontados com a absoluta ineficácia e inutilidade do serviço que realizam20, e trágica aos
20 Tanto mais humilhante quanto mais competente e pessoalmente comprometido for o Auditor em seu papel de buscar que osdireitos dos trabalhadores sejam respeitados.
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trabalhadores brasileiros, que está a exigir imediata solução.
Cabe referir, também, que em abril de 2009 o Ministério do Trabalho e
Emprego expediu a Portaria nº 809, criando um mutirão, em todas as unidades do País, visando
"dar celeridade à tramitação dos processos de autos de infração e notificações de débito nas
Unidades de Multas e Recursos para concluir mensalmente a tramitação de pelo menos o
número de processos constantes do anexo da Portaria" 21. O que efetivamente se conclui a
partir da Portaria é que:
1) o Setor de Multa em todo o País possui significativo número de
processos sobrestados, com multas possivelmente já prescritas ou em
iminência de prescreverem.
2) o Setor de Multa não conta, em praticamente todas as unidades da
federação, com número suficiente de Auditores para fazer frente à demanda
de serviço. Veja-se que, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, a portariadetermina o deslocamento temporário de 15 (quinze) Auditores para o Setor,
na tentativa de regularizar ao menos parte dos processos atrasados. Em Minas
Gerais a portaria prevê a regularização urgente de 5500 (cinco mil e
quinhentos) processos, e no Rio de Janeiro, 9000 (nove mil) processos.
3) o Setor de Multas não conta com equipamentos de informática em
quantidade suficiente e serviços administrativos, que também estarão sendo
cedidos temporariamente ao Setor por força do mutirão.
Tal iniciativa, embora contribua para o enfrentamento pontual e
emergencial da crise, claramente não constitui uma solução, sequer a curto prazo, pois a
ampliação dos recursos humanos e materiais já possui prazo certo para acabar: dezembro de
2009. Trata-se, claramente, de uma resposta paliativa, destinada a salvar as aparências diante
da notícia de uma investigação pelo Ministério Público do Trabalho, e que inevitavelmente
acabará por manter, na prática, o estado caótico do Setor praticamente inalterado, eis que não
são enfrentadas em definitivo nenhuma das causas dos muitos e graves problemas.21 Vide fls. 19/20 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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Diante desse quadro, sombrio, mas realista, é certo que nenhum
empregador que esteja descumprindo a lei se sentirá inclinado a corrigir sua conduta, pois
sabe que, mesmo que seja flagrando pela inspeção do trabalho, não precisará pagar qualquer
multa, já que o processo provavelmente acabará sendo arquivado. Apenas os desavisados,
então, pagarão de forma espontânea, e de imediato, a multa devida.
DA PRECARIEDADE DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS SOBRE A ATUAÇÃO DA
INSPEÇÃO DO TRABALHO
O Ministério do Trabalho e Emprego publica anualmente - por exigêncialegal, como será visto - e disponibiliza em sua página na “internet” informações estatísticas
sobre a atuação da inspeção do trabalho. Tais dados são mencionados em um sem número de
manifestações oficiais do Ministério, perante órgãos nacionais e internacionais, e servem de
norte para o planejamento anual e plurianual de ações, programas e políticas públicas. A
informação constitui, também, uma forma de ser exercido o controle público sobre a atuação
do Ministério, o que constitui, igualmente, exigência legal. Por óbvio, todas essas funções
apenas podem ser atingidas se os dados forem confiáveis, e reproduzam a realidade.
Por todos esses motivos, surpreendeu-se o Ministério Público Federal
ao descobrir, a partir do reconhecimento expresso do Ministério do Trabalho, que o sistema de
informações estatísticas da atuação fiscalizatória do Estado é, para os fins aos quais se
destina, praticamente imprestável, eis que incompleta e defeituosa em múltiplos níveis.
De fato, não possui o Ministério do Trabalho e Emprego condições, a se
crer nas respostas carreadas aos autos do inquérito civil originador da presente demanda
judicial, de apresentar dados confiáveis acerca dos mais elementares aspectos de sua atuação,
em âmbito nacional.
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Em resposta à intimação ministerial de fl. 09, na qual se requisitavam
dados básicos, rotineiros e de fácil obtenção (ou assim se supunha), o MTE, através de sua
Superintendência em Minas Gerais, encaminhou o expediente Memo/SEMUR/SRTE/MG/n.º
262/2009, de 24 de junho de 200922.
Antes disso, a propósito, a mesma Superintendência havia remetido ao
Ministério Público ofício no qual, em resposta aos questionamentos ministeriais, limitava-se a
dizer "sugerimos remessa à CGR/SIT para informação"23.
Trata-se, a toda evidência, de situação nada menos que escandalosa,
chamando particularmente a atenção, entre outros pontos, os seguintes: dados de anos
inteiros de Gerências Regionais foram simplesmente perdidos; o Ministério do Trabalho em
Minas Gerais não tem condições de informar quantos processos existem no estado ou quantos
processos em Minas Gerais aguardam notificação da empresa; a duplicidade de dados ou a não
inclusão de dados no sistema são problemas rotineiros, generalizados, nunca solucionados.
Requisitou o Ministério Público24, então, dados com totalização
nacional à Secretaria da Inspeção do Trabalho, em Brasília, gestora de todo o sistema, a qual,
surpreendentemente, isentou-se da responsabilidade em mantê-los, nos termos da
INFORMAÇÃO/CGR/N.º 024/2009/SIT/MTE, de 24 de junho de 200925.
Inegável o "jogo de empurra" mantido entre Superintendência (unidade
descentralizada) e Secretaria de Inspeção do Trabalho (gestora nacional): segundo a
Superintendência, certos dados teriam que ser solicitados a Brasília, ao passo que Brasília
sugere ao Ministério Público que eles sejam buscado na Superintendência. A verdade
transparece de forma óbvia: na realidade, ninguém, em todo o Ministério do Trabalho, dispõe
dos dados completos e confiáveis, pois não há um sistema de gerenciamento de informação
minimamente adequado. Toda informação é parcial ou não passível de obtenção, e ninguém
deseja ser a autoridade a ser apontada como responsável por tal estado de coisas.
22 Vide fls. 23/25 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.23 Vide fls. 11/12 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.24 Vide fls. 21 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.25 Vide fls. 29/31 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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DA OMISSÃO DA UNIÃO NA INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA E EXECUÇÃO DE MULTAS
TRABALHISTAS
Em manifestação carreada aos autos do inquérito civil público
originador da presente ação civil26, informou a Secretaria de Inspeção do Trabalho que,
“verbis”:
"(...) nem todos os processos de autos de infração com decisão irrecorrível
(débito vencido) podem ser encaminhados à Procuradoria da Fazenda
Nacional. Historicamente o Ministério da Fazenda vem se utilizando da
prerrogativa contida no art. 5o do Decreto-Lei n° 1.569 de 8 de agosto de 1977
e estabelecendo, mediante portaria, limites para inscrição e execução dedébitos para com a Fazenda Nacional. Atualmente está em vigor a Portaria/MF
n.º 49, de 1o de abril de 2004, que estabelece que apenas processos com
débitos iguais ou superiores a R$ 1.000,00 podem ser enviados pelo MTE à PFN
para inscrição em dívida e para execução, é necessário que o débito atinja o
valor de R$ 10.000,00. Por isso parte dos processos de autos de infração com
débito vencido deve permanecer nas Superintendências, pois há impedimento
legal para que sejam enviados àquele órgão".
Já a Superintendência Regional do MTE em Minas Gerais apontou o
seguinte27, “verbis” (fls. 673/674) que:
"Grande número de processos sobrestados por terem as multas valor inferior a
hum mil reais. Nesse ponto, é importante registrar que a PFN não está
aceitando processos nessa situação mesmo quando eles são enviados
apensados a outros cujo valor, somado ou individualmente, ultrapassa aquele
limite. Ressalte-se ainda que o limite mínimo para inscrição em dívida ativa
vem gerando, como dito, um grande número de processos sobrestados o que,
de certa forma, torna a fiscalização menos eficaz no que tange ao efeito moral,
26 Vide fls. 29/31 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.27 Vide fls. 673/674 do anexo III dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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pois grande número de multas impostas não atinge o limite, e muitas das
empresas ao tomarem conhecimento deste limite preferem manterem-se
inadimplentes".
Conforme a referida Portaria n.º 49/2004 do Ministério da Fazenda 28,
“verbis”:
O Ministro de Estado da Fazendo, (...) tendo em vista o disposto no art. 5o do
Decreto-Lei n° 1.559, de 8 de agosto de 1977, e no parágrafo único do art. 65
da Lei n" 7.799, de 10 de julho de 1989, resolve:
1º Autorizar:
I - a não inscrição, como Dívida Ativa da União, de débitos com a Fazenda
Nacional de valor consolidado igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais); e
II - o não ajuizamento das execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional
de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).
(...)
§ 1º Não se aplicam os limites de valor para inscrição e ajuizamento quando se
tratar de débitos decorrentes de aplicação de multa criminal.
§ 2º Entende-se por valor consolidado o resultante da utilização do respectivo
débito originário mais os encargos e acréscimos legais ou contratuais vencidos,
até a data da apuração.
§ 3º No caso de reunião de inscrições de um mesmo devedor, para os fins do
limite indicado no inciso II, será considerada a soma dos débitos consolidados
relativos às inscrições reunidas.
(...)
Os órgãos ou unidades responsáveis pela administração, apuração e cobrançade créditos da Fazenda Nacional não remeterão às Procuradorias da Fazenda
Nacional processos relativos aos débitos de que trata o inciso I do art. 1º desta
Portaria.
Veja-se que a fundamentação invocada para a legalidade da referida
Portaria seria o Decreto-Lei n.º 1.559/77 e o art. 65 da Lei n.º 7.799/89.
O art. 65 da referida Lei n.º 7.799/89 diz respeito a impostos,
contribuições e acréscimos legais, não a multas (créditos não tributários) decorrentes da
28 Vide fls. 32/33 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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atividade estatal de polícia administrativa, logo não alcança a hipótese de multas previstas na
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e outros diplomas trabalhistas.
Já o art. 5º do Decreto-Lei n.º 1.569/77 encontra-se assim redigido,
“verbis”:
"Art. 5º Sem prejuízo da incidência da atualização monetária e dos juros de
mora, bem como da exigência da prova de quitação para com a Fazenda
Nacional, o Ministro da Fazenda poderá determinar a não inscrição como
Dívida Ativa da União ou a sustação da cobrança judicial dos débitos de
comprovada inexequibilidade e de reduzido valor.
Parágrafo único - A aplicação do disposto neste artigo suspende a prescrição
dos créditos a que se refere".
Observe-se que, ao mencionar "sustação" e suspensão da prescrição,
tal Decreto-Lei deixava claro que a situação autorizada haveria de ser temporária, transitória:
eventualmente os créditos - incluindo, portanto, multas -precisariam ser cobrados, inclusive
mediante execução, se necessário.
Na prática, entretanto, como referido pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, o obstáculo tornou-se permanente, perpétuo: jamais são inscritas em Dívida Ativa
multas inferiores a R$ 1.000,00 (mil reais), e jamais são executadas multas inferiores a R$
10.000,00 (dez mil reais). Os processos de multa trabalhista sequer são mandados à
Procuradoria da Fazenda Nacional, e permanecem represados no Setor de Multas.
Em 2008 tal dispositivo do Decreto-Lei n.º 1.569/77 foi atingido em
cheio pela edição da Súmula Vinculante do STF n.º 8, segundo a qual "são inconstitucionais o
parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei n.º 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei n.º
8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário".
Em um dos precedentes que conduziram a tal Súmula (RE n.º
560.626/RS), decidiu o STF que "se não é oportuna nem conveniente a busca do crédito peta
Fazenda Pública em juízo, pela sua mínima significância frente ao custo da cobrança, daí não
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decorre a suspensão da fluência do prazo prescricional, o que criaria regra absolutamente
contraditória frente aos créditos de maior valor".
Desde a edição da Súmula, portanto, não há mais interrupção da
prescrição nos casos referidos pela Portaria 49/2004. A conclusão inevitável a que se chega é a
seguinte: se antes os processos de multas trabalhistas permaneciam parados, sem que o
empregador flagrado na prática de ilícito recebesse qualquer sanção, agora os processos
permanecerão parados apenas até o estabelecido da prescrição, em cinco anos29, quando então
serão arquivados em definitivo, não recebendo o ofensor da lei trabalhista, da mesma forma,
qualquer reprimenda.
Para fins de efetivação dos direitos dos trabalhadores no Brasil, tal
situação é RIGOROSAMENTE ILEGAL E IRRESPONSÁVEL, e contribui para instalar em definitivo,
no País, uma cultura de descumprimento sem limites da Constituição e das Leis da República.
Em suma, diante disso e de tudo o que antes se narrou, chega-se à
conclusão que, como regra, TORNOU-SE UM EXCELENTE NEGÓCIO, NO BRASIL, DESCUMPRIR AS
LEIS, haja vista que:
1. Pelo reduzido número de Auditores Fiscais no País, há poucas
chances de o empregador ser submetido a uma ação civil. Apenas empresas de maior porte
podem, de fato, esperar serem fiscalizadas a qualquer momento 30. Mesmo que seja submetido
29 Da data da prática do ilícito ou da notificação do empregador, eis que esta interrompe a prescrição, na forma da Lei 9.873.
30 Pelo seguinte motivo: "O segundo limite do sistema é a falta de recursos materiais, falta que os números portentosos dainspeção de fato escondem. Os pouco mais de 2 mil fiscais têm à sua disposição um universo anual de 2 a 3 milhões de empresasformalmente estabelecidas com pelo menos um empregado (uma vez mais segundo dados da RAIS), o que configura uma média demil a 1.500 empresas potencialmente visitáveis por fiscal por ano, que resulta em uma média de cinco a sete empresas por dia útil.O número de fiscais é, evidentemente, pequeno, principalmente porque aqui não estão computadas as empresas informalmenteestabelecidas. Com isso, as DRTs estão condenadas a atender a denúncias que, ainda assim, não podem ser todas cobertas com opessoal disponível. O sistema não está aparelhado para realizar uma de suas prerrogativas mais importantes, que é a visita desurpresa em empresas de qualquer tipo ou tamanho, estando na dependência da vontade ou interesse dos trabalhadoresindividuais ou seus representantes denunciar condições ilegais de trabalho. (...)
Depoimento de auditor: "A empresa pequena representa, em termos de produtividade, muito pouco para o fiscal. Ou seja,quanto menor é o número de empregados de uma empresa, menor a 'pontuação' atribuída pelo nosso sistema de avaliação (aoqual está condicionada a recepção de nosso salário integral). Assim, se fiscalizamos empresas pequenas, temos que trabalhar maise mais rapidamente. Como isso é muito difícil, fica mais simples lavrar um auto de infração e ir embora sem alterar a situação daempresa (ou até piorando-a). É bom lembrar que as metas a que somos submetidos também apontam nessa direção, lemos quefiscalizar muito e rápido. Se os problemas detectados são resolvidos ou não parece, não interessar muito " (entrevista realizada em
agosto de 2004).Com isso o sistema oferece incentivos para que o foco da fiscalização se dirija às grandes empresas ". Em "A inspeção do trabalho
no Brasil", Adalberto Cardosos e Telma Lage, fls. 371/410.
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à fiscalização, são ainda mais reduzidas as chances do mesmo empregador ser submetido a
duas ações em poucos anos. E se o empregador for rural, as chances de ser fiscalizado são
verdadeiramente ínfimas, se levarmos em conta o número de propriedades rurais existentes.
2. Mesmo que o empregador seja submetido a uma primeira ação
fiscal, por exigência legal ele provavelmente apenas será notificado para regularizar os ilícitos
constatados, ante o princípio da dupla visita, sendo certo que, por insuficiência de Auditores, a
inspeção de retorno, em todas as regiões do País, raramente ocorre na prática;
3. Ainda que a inspeção retorne ao estabelecimento, e sejam
enfim lavrados autos de infração, o processo para apuração da multa muito provavelmente
ficará sobrestado no Setor de Multas e Recursos do MTE. São grandes as chances de o
empregador sequer vir a ser notificado. O processo iniciado com o auto de infração
permanecerá parado ou com lenta movimentação até que a multa prescreva.
4. Mesmo que o processo tenha andamento, é provável que, por
força das insuperáveis dificuldades operacionais, o Setor de Multas acabe cometendo erros,
conduzindo a um vício, graças ao qual poderá o empregador obter, judicialmente (via mandado
de segurança, ação anulatória, etc), a invalidação de atos administrativos, inclusive a imposição
da multa.
5. Se o processo administrativo alcançar seu término em menos
de cinco anos, confirmando a imposição da multa, esta não será inscrita em dívida ativa se o
valor for menor de R$ 1.000,00 (mil reais). Poderá o empregador, que foi submetido a mais de
uma ação fiscal em um período de poucos anos, contar com o fato de que os valores das multas
não sejam somados para fins de inscrição da dívida. Desde que, a cada ação, não sejam
apuradas multas superiores a R$ 1.000,00 (mil reais), não importa que ele seja flagrado cinco
vezes cometendo o mesmo ilícito, e que o valor total das multas corresponda a R$ 5.000,00
(cinco mil reais) ou mais, pois ainda assim não haverá inscrição em dívida ativa.
6. E ainda que o valor da multa decorrente da ação fiscal
ultrapasse R$ 1.000,00, o empregador infringente não sofrerá “penalizado” desde que o valor
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não ultrapasse R$ 10.000,00 (dez mil reais) - o que dificilmente ocorre na prática, salvo nos
casos extremos em que praticamente tudo é descumprido -, certo que não responderá a uma
ação de execução.
7. Seguro de que da inspeção do trabalho nada tem a temer, esse
empregador31 deslocará sua atenção para o risco de ser responsabilizado perante o Poder
Judiciário. Perceberá ele, então, que mesmo que descumpra a lei, apenas um número reduzido
de empregados acabará efetivamente dar-se ao trabalho de propor uma ação judicial, e mesmo
no caso dessa minoria, apenas após o término do contrato de trabalho.
Conclui-se, então, que, graças à ineficiência do Serviço Federal de
Inspeção do Trabalho e à não imposição de sanções pelos descumprimentos da lei
efetivamente flagrados, a melhor opção para o empregador brasileiro, do ponto de vista da
estrita racionalidade econômica (mera ponderação de custos, lucros e riscos, sem
considerações de ordem moral), é descumprir, como regra, como procedimento normal, a
legislação trabalhista.
Sobre tal efeito de estimulo ao descumprimento da lei, discorrem os
pesquisadores Adalberto Cardoso e Telma Lage32:
Da combinação dessas possibilidades temos quatro resultados típicos: 1) o
empregador cumpre a lei, porque a sanção é considerada alta o suficiente para
tornar racional evitá-la, e o risco de ser pego e punido é também alto o
suficiente para ser crível (digamos, significativamente superior a 50%); 2) o
empregador não cumpre a lei porque, embora a sanção por não cumprir seja
alta, a probabilidade de ser apanhado é muito baixa, por exemplo,
significativamente inferior a 50%; 3) se o risco de ser pego é alto, mas a sanção
é considerada pequena o bastante para tomar racional sofrê-la em lugar de
incorrer nos custos trabalhistas, a lei não será cumprida; 4) finalmente, se a
sanção for baixa e o risco de ser pego também, a lei tampouco será cumprida.
Note-se que, nesse quadro, os custos trabalhistas estão pressupostos no
montante relativo da sanção. Ainda do ponto de vista da gestão do negócio, a
sanção é alta ou baixa por comparação com os custos monetários de se
cumprir a lei. A estrutura de oportunidades descrita acima só faz sentido, pois,
31
Não deseja o MPF fazer generalizações indevidas: fala-se aqui do empregador que insiste em descumprir a lei, e não daquele,que igualmente existe, consciente de seus deveres e da responsabilidade social que possui a empresa.32 Em A Inspeção do Trabalho no Brasil, lis. 374/375.
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em uma situação em que os custos trabalhistas são considerados
suficientemente altos tendo em vista a planilha de custos e lucros projetados
da empresa, em uma situação de competição de mercado em que as outras
empresas encaram a mesma estrutura de oportunidades.
Esse quadro esquemático é útil sobretudo por mostrar que a estratégia
dominante é o não cumprimento da legislação. Empresários racionais
defrontados com custos do trabalho considerados suficientemente altos
tenderão a não assumi-los a menos que as sanções sejam maiores do que esse
custo e que a probabilidade de ser pego e sancionado seja suficientemente
crível. Qualquer outra combinação de fatores será um incentivo ao não
cumprimento da lei. Logo, a variável decisiva aqui é o efeito de interação entre
o custo de não cumprir e a probabilidade de ser apanhado e punido. A
literatura que trata da relação entre custos trabalhistas e dinâmica dos
mercados de trabalho negligencia esse aspecto central para as estratégias
empresariais que é a efetividade da lei, resultante de uma estrutura de
oportunidades onde a probabilidade de ser pego por não cumpri-la é decisiva.
Insista-se que a Portaria n.º 49/2004 do Ministério da Fazenda33 é, ao
menos no que diz respeito às multas trabalhistas, rigorosamente ilegal, por ofensa ao art. 18 da
Convenção n.º 81, que exige da União, como já referido, que as sanções sejam "efetivamente
aplicadas nos casos de violação das disposições legais".
A Portaria representa, portanto: uma ofensa à lei (Convenção 81); uma
ofensa aos direitos dos trabalhadores (privados de efetiva prevenção de riscos 34 pela supressão
dos instrumentos disponíveis à Administração para atingir tal fim); uma ofensa às obrigações
assumidas internacionalmente pelo Estado Brasileiro (novamente por força da Convenção 81);
e uma ofensa aos poderes-deveres reconhecidos pela legislação aos Auditores Fiscais, cujaatuação se tornou inútil, sem sentido.
Na verdade, em nome do INTERESSE PÚBLICO SECUNDÁRIO, peculiar à
Administração, e representado pelo desejo de economizar despesas com a movimentação da
máquina pública (Procuradoria da Fazenda) para a cobrança de multas, sacrificou a União o
INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO, que é o interesse de toda a sociedade, e dos trabalhadores
coletivamente considerados em particular, de serem reprimidos e prevenidos os ilícitos
33 Vide fls. 32/33 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.34 Direito constitucional dos trabalhadores, na forma do art. 7º, XXII, da CF.
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trabalhistas, particularmente aqueles que representam ofensa à vida, à saúde, à segurança e à
dignidade do trabalhador.
Não há aqui qualquer equilíbrio entre meios e fins, evidência de não
observância dos princípios administrativos da razoabilidade e da proporcionalidade: para a
geração de modesta economia com a movimentação burocrática, o interesse público na
regulação das relações de trabalho em todo o País foi abatido. Colocou-se no mesmo plano os
impostos, as contribuições e as multas administrativas, sem atenção às peculiaridades destas
últimas, cuja razão de ser principal, no caso das trabalhistas, não é a geração de receita.
Trata-se de prática insensata, pois a suposta "economia" obtida com a
inatividade da Procuradoria da Fazenda Nacional acaba se traduzindo, na prática, em PESADO
ÔNUS FINANCEIRO PARA O ESTADO, através do aumento dos gastos públicos com o Sistema
Único de Saúde - SUS (atendimento de trabalhadores doentes e acidentados), Previdência
Social (auxílios-doença, aposentadorias, pensões), perda de arrecadação do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS e de contribuições sociais que incidem sobre a folha de salários,
etc. A "economia" de alguns milhões de reais traduz-se em PERDA DE DEZENAS DE BILHÕES DE
REAIS POR ANO.
Busca o Ministério Público Federal, portanto, a pronta correção para tal
incoerência, restabelecendo-se a eficácia mínima do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho
com a possibilidade de cobrança das multas apuradas, assim como o respeito à prioridade que
o interesse público primário há de gozar relativamente ao secundário.
DOS PREJUÍZOS À ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO PODER JUDICIÁRIO
Além de comprometer a atuação dos Auditores Fiscais, a
desestruturação do serviço de inspeção gera reflexos negativos, também, ao funcionamento
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das duas outras instituições que, ao lado do Ministério do Trabalho e Emprego, constituem a
base do sistema público brasileiro de proteção dos trabalhadores, que são o Ministério Público
e Poder Judiciário.
A inspeção do trabalho e o Ministério Público da União (único no
mundo a possuir ramo do Ministério Público especializado em questões laborais) atuam, em
grande medida, de forma complementar, unindo-se por um mesmo propósito, que é a proteção
dos trabalhadores. O que extravasa o campo de atuação de um é executado pelo outro,
tratando-se de modelo bastante avançado de efetivação dos direitos dos trabalhadores, único
no mundo.
Em razão de tal complementaridade, a desestruturação da inspeção do
trabalho no País conduz, inevitavelmente, ao comprometimento também da atuação do
Ministério Público.
É evidente que a não realização da ação fiscal, na esmagadora maioria
dos casos, não se dá por capricho ou resistência dos inspetores, mas sim porque não possuem
eles condições para agir, pelas deficiências que marcam a inspeção brasileira.
O caos na inspeção do trabalho brasileira, e particularmente no Setor
de Multas, atinge, também, o Poder Judiciário brasileiro, em especial a Justiça do Trabalho, que
se vê sobrecarregada com a propositura, todos os anos, de enorme quantidade de ações. De
fato, o Brasil é o País onde mais são ajuizadas ações trabalhistas no mundo, embora a
proporção entre o número de juizes e o de trabalhadores esteja aquém dos parâmetros
internacionais.
Apenas em 2008, as Varas do Trabalho brasileiras receberam cerca de
1,9 milhões de novas ações trabalhistas e julgaram cerca de 1,85 milhões de processos,
permanecendo um resíduo de mais de um milhão de ações para serem instruídas e julgadas 35.
Nos Tribunais Regionais do Trabalho a situação não é diversa, tendo sido recebidos, apenas em
2008, mais de meio milhão de recursos.
35 Vide fls. 70/72 do anexo I dos autos do inquérito civil público n.º 1.16.000.000642/2011-54.
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Desse modo, do ponto de vista estritamente econômico, e dada a
ineficácia dos mecanismos de dissuasão estatal, resta quase sempre vantajoso, no Brasil,
descumprir a legislação. Isso contribui para a explosão do número de ações judiciais, as quais,
por sua vez, sinalizam a ocorrência de violações em número ainda maior, já que grande parte
dos trabalhadores não recorre ao Judiciário.
DA NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO PARA O CARGO DE AUDITOR FISCAL
DO TRABALHO
Como referido, a carência de recursos humanos, inclusive de AuditoresFiscais do Trabalho, é um dos maiores problemas que hoje atinge o Sistema Federal de
Inspeção do Trabalho.
Simplesmente não há servidores suficientes para enfrentar toda a
demanda de serviço. Centenas de Auditores afastam-se por aposentadoria e não são
substituídos. Tal situação é ofensiva à lei, e precisa ser corrigida para que o Estado continue a
garantir a proteção aos milhões de trabalhadores brasileiros.
Reitere-se que, com relação à carência de Auditores, não bastará a
determinação de que a União mantenha inspetores em número suficiente no Setor de Multas e
Recursos. Muito embora a presente ação diga respeito, especificamente, aos problemas
relacionados à imposição das multas, não será uma verdadeira solução a simples retirada de
Auditores de outros setores, também extremamente carentes, para colocá-los no Setor de
Multas. Nesse caso, a crise que já atinge os demais setores seria enormemente agravada, e a
paralisação dos serviços (como, por exemplo, da atuação de campo, que implica na visita do
Auditor aos locais de trabalho) nesses setores acabaria inevitavelmente, refletindo-se no Setor
de Multas.
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Portanto, a solução, aqui, passa obrigatoriamente para ampliação do
quadro de Auditores o que conduz à necessidade de realização de concursos públicos.
Em tutela antecipada, pleiteia-se a realização de concurso para
provimento de vagas que já existem, e que estejam desocupadas pela aposentadoria ou
falecimento de Auditores. Tais vagas não vêm sendo preenchidas a contento, pela política da
União de não autorizar os concursos, muito embora trate-se, aqui, de mera manutenção do
quadro de pessoal. Obviamente, trata-se de estratégia que visa o enxugamento de gastos
mediante redução, na prática, do quadro de servidores, sem que sejam levadas em
consideração as catastróficas consequências desse ato.
Utilizou-se, como parâmetro para o pedido, regra contida na Lei
Complementar n.º 75, de 20 de maio de 1993 – a Lei Orgânica do Ministério Público da União –,
que se mostra razoável e absolutamente factível:
Art. 186 da LC 75/93(...)
Parágrafo único. O concurso será realizado, obrigatoriamente, quando o
número de vagas exceder a dez por cento do quadro respectivo e,
facultativamente, a juízo do Conselho Superior competente.
Obviamente, nesse caso, pleiteia-se a utilização dessa regra por
analogia, eis que se faz necessária a observação de algum critério para efetivação do comando
contido no art. 10 da Convenção n.º 81 (garantia de manutenção de número suficiente de
Auditores).
Com o deferimento em definitivo de tal pedido, quando do julgamento
do mérito, tal regra - repita-se, absolutamente razoável e factível - tornar-se-á permanente, o
que evitará que o mesmo problema volte a se repetir, por novos avanços da "política" de
enxugamento de gastos a qualquer preço.
Entretanto, tal imposição - abertura de concurso para suprimento das
vagas já existentes - é, por si só, insuficiente, e responde apenas à necessidade mais
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emergencial, eis que, conforme reconhece o próprio Ministério do Trabalho e Emprego, o
quadro atual de Auditores está acentuadamente subdimensionado. em contrariedade aos
parâmetros da OIT. A população economicamente ativa, destinatária da atuação dos
inspetores, cresceu nas últimas décadas em dezenas de milhões de trabalhadores, não tendo o
quadro de Auditores acompanhado tal crescimento.
Por esse motivo, e para a efetivação completa da determinação do art.
10 da Convenção, acrescenta o Ministério Público Federal o pedido - não objeto de antecipação
de tutela - de que seja determinado à União a elevação do quadro dos pouco mais de 3.000
(três mil) Auditores atuais para 4.500 (quatro mil e quinhentos) Auditores Fiscais. Apenas com
isso a carência de recursos humanos será verdadeiramente afastada.
RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS AO SETOR DE MULTAS
Como visto, o Setor de Multas recebeu (ou deveria ter recebido)
temporariamente, em razão de mutirão implantado no MTE através de portaria, adicionais
recursos humanos e materiais. Trata-se de uma resposta paliativa, provavelmente lançada por
receio de uma investigação do Parquet , existindo já data fixada para seu término, quando então
os adicionais Auditores, servidores e recursos materiais serão retirados. Além disso, não foram
contempladas as Gerências Regionais, que também possuem atribuições na imposição de
multas.
A solução passa pela garantia de disponibilização permanente ao Setor
de Multas dos recursos mínimos que necessita para funcionar, também objeto dos pedidos de
antecipação.
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SISTEMA INFORMATIZADO DE ACOMPANHAMENTO DE PROCESSOS
Viu-se que muitas das dificuldades enfrentadas diariamente no Setor de
Multas decorrem dos numerosos defeitos apresentados pelos sistemas de acompanhamento
utilizados, que não estão ajustados às rotinas do Setor, e na prática, ao invés de facilitar,
constituem um obstáculo à realização do serviço. Logo, a criação de um novo sistema, ajustado
às necessidades do Setor, faz-se premente.
Além disso, merece ser enfatizado que um dos principais fatores que
permitiram a consolidação do caos no Sistema Federal de Inspeção do Trabalho é a falta de
controle público. O MTE não disponibiliza, de forma ampla, informação sobre sua atuação aos
interessados -empregadores e trabalhadores, em especial - evitando, assim, que a gravidade da
situação seja amplamente conhecida, e que haja cobrança social por soluções.
Como forma de assegurar que a regularização dos muitos problemas
seja devidamente acompanhada e fiscalizada, pleiteia o Ministério Público Federal que seja a
União compelida a disponibilizar, na página do Ministério do Trabalho e Emprego na internet,
um acesso para consulta da movimentação de procedimentos de multa, tal como os Tribunais
Regionais do Trabalho, o Ministério do Planejamento e a Receita Federal já fazem, entre tantos
outros órgãos da União, relativamente aos seus processos. Isso permitirá que empregadores e
trabalhadores possam acompanhar a tramitação, inclusive identificando casos de paralisação
do andamento do processo administrativo, para cobrar explicações e soluções.
Trata-se de providência que está em consonância, aliás, com o princípio
da publicidade, que há de guiar as ações da Administração Pública (art. 37, “caput”, da
Constituição Federal).
GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃO
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Como também revelado, o MTE não dispõe de dados confiáveis sobre
os aspectos mais elementares da atuação da inspeção do trabalho. Nem mesmo em
atendimento a requisições do Ministério Público conseguiu o MTE fornecer informações
completas, desnudando-se a omissão da União em implementar a exigência contida na
Convenção n.º 81. Tal omissão é extremamente significativa, pois repercute no planejamento
de ações e políticas públicas, e no controle da Administração Pública, devendo ser corrigida
pela criação de um programa permanente de gerenciamento da informação, visando sua
obtenção, compilação e preservação.
COBRANÇA DE MULTAS PELA PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL
Foi demonstrado que, por determinação do Ministério da Fazenda, hoje
grande parte dos autos de infração lavrados pelos Auditores não gera qualquer efeito, para
descrédito de todo o sistema, e fomento à prática de novos ilícitos, pois as multas apuradas não
são exigidas. Não se pode menosprezar a gravidade desse problema: na prática, a atuação dos
Auditores está simplesmente sendo lançada ao lixo, com consequências nefastas à saúde, à
vida e à segurança dos trabalhadores, e gigantescos prejuízos aos cofres públicos. A
preservação da eficiência mínima da inspeção depende da remoção de tais obstáculos
ilegalmente criados à inscrição em Dívida Ativa e execução judicial.
Veja-se que a possibilidade de execução judicial, nestes casos, não
conduzirá ao sobrecarregamento do Judiciário com um número muito elevado de ações de
execução, pois, a partir do momento em que ficar claro aos empregadores faltosos que o risco
de ser executado é expressivo (ou seja, se a expectativa de punição for alta), previsivelmente
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optará a maioria pelo pagamento extrajudicial, que permite o desconto de até 50% do valor da
multa.
DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
O artigo 461 do Código Processo Civil dispõe que, “verbis”:
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se
procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio
de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar
poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão
fundamentada.
Tratando da matéria em foco, Humberto Theodoro Júnior assim
comenta36:
Há no caput do novo art. 461 e em seus cinco parágrafos regras importantes
em defesa da efetividade do processo, a saber:
(...)
e) admite-se, in casu, a antecipação de tutela, sob a forma de liminar, desde
que ocorram os seguintes pressupostos: 1) seja relevante o fundamento da
demanda (fumus boni iuris); 2) haja justificado receio de ineficácia do
provimento final (periculum in mora); 3) exista prova documental suficiente
acompanhando a inicial; ou 4) promova o autor justificação prévia, citado o
réu (§ 3º).
36 Em Reforma do Código de Processo Civil - Coord.: Sálvio de Figueiredo Teixeira, Saraiva, Ia ed., I996, pág. 93.
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E adverte o mesmo autor, em comentário adicional, que (ob. Citada,
pág. 294):
"Os novos poderes conferidos ao juiz pelo art. 461 deverão manifestar-se em
face de qualquer obrigação de fazer ou não fazer (…)".
No caso em tela, o “ fumus boni iuris” encontra-se fartamente
demonstrado pela prova documental, que está constituída, em sua maior parte, por
documentos elaborados pelo próprio Ministério do Trabalho e Emprego (os quais, portanto,
gozam inclusive de fé pública), os quais registram, por vezes de forma dramática, o caótico
estado em que se encontra o Setor de Multas e Recursos do MTE. Todos os problemas - graves,
urgentes, preocupantes - encontram-se não só comprovados, mas reconhecidos pelo próprio
Ministério, muito embora tal reconhecimento amplo não tenha conduzido, até hoje, a ações
concretas.
A perpetuação de tais problemas representa, como também revelado,
descumprimento injustificável da Constituição Federal e da Convenção n° 81 da OIT, que possui
o status de lei federal.
O “ periculum in mora” também se encontra supinamente
demonstrado. De fato, como já referido e repetido insistentemente ao longo desta inicial, o
Sistema Federal de Inspeção do Trabalho "funciona", há anos, mergulhado no caos, ou melhor
dizendo, na realidade não funciona.
Mais do que isso: caminha-se para o aprofundamento da crise, e à
falência completa do sistema, quando, enfim, cairão todas as aparências, e será a sociedade
brasileira confrontada com uma realidade até agora mantida sob segredo: que o não mais
possui uma inspeção do trabalho capaz de cumprir, adequadamente, suas relevantes funções, e
que o Estado Brasileiro não tem condições de, na prática, garantir o respeito à legislação
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trabalhista e aos direitos fundamentais dos trabalhadores, exceto pela via Judicial, através da
qual, entretanto, jamais todos os problemas poderão ser solucionados, ou a maior parte dos
ilícitos prevenidos.
Insista-se, por fim, que a pior de todas as consequências da
perpetuação de tal situação é a CERTEZA DE QUE, ANUALMENTE, CENTENAS DE MILHARES,
SENÃO MILHÕES DE TRABALHADORES SERÃO ATINGIDOS EM SUA SAÚDE, SEGURANÇA E
DIGNIDADE, perderão suas vidas em acidentes, tornar-se-ão incapazes para o trabalho em
razão de doenças laborais, dependerão da assistência social para sobreviver, ou não
sobreviverão, senão na mais abjeta miséria, e tudo porque o Estado, através da União, não lhes
proporcionou a cobertura protetiva que a Constituição Federal e a Convenção n.º 81 exigem.
QUANTA DOR E SOFRIMENTO NÃO SERÃO CAUSADOS, TODOS OS ANOS, AOS TRABALHADORES
BRASILEIROS, PELA OMISSÃO DA UNIÃO EM EFETIVAMENTE MANTER E EXECUTAR A INSPEÇÃO
DO TRABALHO?
ISSO NÃO PODE CONTINUAR! Tais danos precisam ser evitados! OS
TRABALHADORES BRASILEIROS MERECEM CONTAR, DESDE JÁ, IMEDIATAMENTE, COM A
PROTEÇÃO PROPORCIONADA POR UMA INSPEÇÃO DO TRABALHO EFICAZ, ATUANTE.
Diante do exposto, requer o Ministério Público Federal que seja
concedida, após o prazo para defesa da ré37, antecipação de tutela, a fim de que o Poder
Judiciário determina à União que:
a) realize concurso público para suprimento de todas as vagas
existentes para o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, sempre que o
número de vagas exceder a dez por cento do quadro respectivo,
nomeando e dando posse, em até 3 (três) meses da publicação do
resultado final do concurso, a todos os candidatos aprovados, até o
número de vagas existentes;
37 O que permitirá a V. Exa. cotejar os fatos e provas aqui apresentados - que apontam para a necessidade imperiosa
do deferimento da tutela antecipada - com os argumentos de defesa.
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b) garanta a manutenção, no Setor de Multas de todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências
Regionais, de número de Auditores Fiscais do Trabalho adequado às
necessidades de serviço, de modo a impedir o sobrestamento de
atividades por carência de Auditores;
c) garanta a manutenção, no Setor de Multas de todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências
Regionais, de número de servidores administrativos de apoio adequado
às necessidades de serviço, de modo a impedir o sobrestamento de
atividades por carência de servidores;
d) garanta a disponibilização ao Setor de Multas de todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências
Regionais, de equipamentos de informática (integrados em rede) e
mobiliário em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de
serviço, substituindo os equipamentos sempre que necessário;
e) garanta a disponibilização ao Setor de Multas de todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências
Regionais de material de escritório, incluindo cartuchos para
impressoras, em quantidade e qualidade adequadas às necessidades de
serviço, e de forma permanente, mantendo estoques de tais produtos;
f) implante no prazo de 1 (um) ano e seis (6) meses, após prévia
consulta quanto às necessidades e carências enfrentadas por todas as
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e Gerências
Regionais, novo e único sistema informatizado de acompanhamento de
processos para o Setor de Multas, interligado aos demais sistemas do
MTE, e adequado às necessidades de serviço, devendo ser livre dos
defeitos que hoje comprometem a eficiência dos sistemas existentes;
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g) disponibilize, no prazo de 1 (um) ano e seis (6) meses, e manter em
funcionamento acesso na página do Ministério do Trabalho e Emprego
na internet para consulta online, pelos interessados, da tramitação de
processos administrativos relacionados ao Setor de Multas e Recursos;
h) implante, no prazo de 1 (um) ano e 6 (seis) meses, após prévia
consulta às Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego e
Gerências Regionais, um programa permanente de levantamento e
gerenciamento nacional de informações estatísticas sobre as atividades
da inspeção do trabalho, que permita a produção de relatórios e dados
consolidados completos e confiáveis, incluindo informações sobre
ações fiscais, processos administrativos, multas e resultados obtidos;
i) implante, no prazo de 3 (três) meses, procedimentos para assegurar a
permanente e célere troca de informações entre a Advocacia-Geral da
União e o Ministério do Trabalho e Emprego, de modo que o Setor de
Multas do MTE seja mantido sempre informado sobre ações e decisões
judiciais relativas a multas administrativas, inclusive para fins de eficaz
e imediato cumprimento da decisão;
j) proporcione, de forma permanente, treinamento e capacitação de
todos os servidores do Setor de Multas das Superintendências e
Gerências Regionais, em todas as atividades e funções que sejam de
atribuição desse Setor;
k) promova a inscrição em Dívida Ativa de multas administrativas
previstas na legislação trabalhista, sempre que houver diversas multas
ainda não prescritas relativamente a um mesmo empregador, e o valor
somado das mesmas ultrapasse a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais);
I) promova a execução judicial de multas administrativas previstas na
legislação trabalhista, não pagas na esfera extrajudicial, sempre que o
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valor somado das multas, relativamente ao mesmo empregador, ou o
valor individual delas, ultrapassar a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais).
Requer ainda o Ministério Público Federtal que, pelo eventual
descumprimento das obrigações listadas nos itens de "a" a "I" supra, seja imposta à União
multa diária de R$ 2.000.00 (dois mil reais), por obrigação descumprida (ou seja, por item), sem
prejuízo da caracterização do crime de desobediência.
Requer-se, também, que o valor das multas seja revertido em favor do
Fundo Garantidor da Habitação Popular, de que trata a Lei n.º 11.977/2009 e o Decreto n.º
6.820/2009.
Justifica-se, aqui, que a destinação das multas não seja ao Fundo de
Amparo do Trabalhador (FAT), habitualmente indicado como beneficiado em ações civis
públicas propostas pelo Ministério Público do Trabalho 38. Afinal, o FAT encontra-se vinculado ao
Ministério do Trabalho e Emprego, órgão da União destinatário da maior parte das obrigações a
serem cumpridas. Nesse caso, as astreintes não atingiriam seu objetivo (compelir o devedor ao
cumprimento da obrigação) se o descumprimento e a subsequente execução da multa
significarem, para o próprio MTE, uma fonte adicional de recursos.
Por outro lado, a destinação ao Fundo Garantidor da Habitação Popular
mostra-se compatível com a reconstituição de interesses trabalhistas lesados, pois ele tem por
finalidade, conforme prevê o art. 20, inciso I, da Lei n.º 11.977: "garantir o pagamento aos
agentes financeiros de prestação mensal de financiamento habitacional, no âmbito do Sistema
Financeiro da Habitação, devida por mutuário final, em caso de desemprego e redução
temporária da capacidade de pagamento, para famílias com renda mensal de até 10 (dez)
salários mínimos".
38 Indicação que o MPF realiza ante a inexistência, até hoje, de um fundo específico de reconstituição de bens coletivos de naturezatrabalhista lesados.
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DOS PEDIDOS PRINCIPAIS
Requer o Ministério Público Federal a procedência da presente açãocivil pública, para que o Poder Judiciário condene a União em obrigação de fazer consistente
em:
m) dar cumprimento, em definitivo, por meio de sentença final
condenatória, às obrigações relacionadas no Título "DO PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA", itens "a" a “l", supra, com as cominações
mencionadas no mesmo Título;
n) ampliar, no prazo de 2 (dois) anos, o quadro da inspeção do trabalhopara o patamar de 4.500 (quatro mil e quinhentos) Auditores Fiscais do
Trabalho, sob pena de multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil reais);
Para tanto, requer este Órgão Ministerial:
o) a citação da União, pessoa jurídica de direito público interno,
representada pelo Procurador Regional da União, Dr. Manuel deMedeiros Dantas, com endereço funcional no Edifício da Procuradoria
Regional da União, localizada no Setor de Autarquias Sul (SAS), Quadra
2, Bloco "E", Edifício PRU, CEP 70.070-906, Brasília-DF, telefones (61)
3226-1962; 3226-2153 e 3224-8193, para, querendo, apresentar
manifestação acerca do pedido de antecipação de tutela e, após,
contestação;
p) a intimação pessoal dos atos processuais proferidos no presentefeito, na pessoa de um dos membros do Ministério Público Federal, no
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endereço da Procuradoria da República no Distrito Federal – Av. L2 Sul,
Quadra 604, Brasília-DF –, e na forma do art. 84, inciso IV, da Lei
Complementar n.º 75/93 de 20/05/93 (Lei Orgânica do Ministério
Público da União), bem como do art. 236, parágrafo 2º, do Código de
Processo Civil;
q) a produção de provas por todos os meios em direito admitidos.
Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Nestes termos, pede deferimento.
Brasília-DF, 31 de maio de 2011
Peterson de Paula Pereira
Procurador da República no Distrito Federal
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