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Instituto Superior de Lnguas e Administrao
A PHDA como Fator Condicionante do Sucesso Escolar
Estudo Exploratrio acerca das Percees dos Professores
Mnica Alexandra da Silva Brites Couto
Tese submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de Mestre em Psicologia daEducao sob a orientao da Professora Doutora Paula Campos e coorientao da Mestre
Carla Santos.
Vila Nova de Gaia
julho de 2012
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Tese de Mestrado realizada sob a
orientao da Professora Doutora PaulaCampos e coorientao da Mestre CarlaSantos, apresentada ao Instituto Superior deLnguas e Administrao de Vila Nova deGaia para obteno do grau de Mestre emPsicologia da Educao, conforme o Avison 21412/2009, da DGES, publicado no n229, na 2 Srie do Dirio da Repblica,em 25 de Novembro de 2009.
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Instituto Superior de Lnguas e Administrao
A PHDA como Fator Condicionante do Sucesso Escolar
Estudo Exploratrio acerca das Percees dos Professores
Mnica Alexandra da Silva Brites Couto
Aprovada em______
Composio do Jri
_________________________________________________Presidente
_________________________________________________Arguente
_________________________________________________Orientadora
Profa. Dra. Paula Campos
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Dedico esta dissertao minha me.
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Agradecimentos
Concluda a ltima etapa na minha vida acadmica, no poderia deixar de expressar omais profundo agradecimento a todos aqueles que me apoiaram nesta longa caminhada e
contriburam para a realizao deste sonho.
Quero agradecer Dra. Carla Santos pela motivao e partilha de conhecimentos
proporcionados durante os nossos encontros.
Dra. Paula Campos pela orientao ao longo de todo o percurso acadmico e pela
maneira positiva como transmite os conhecimentos.
s escolas que fizeram parte deste projeto e particularmente aos professores e
restantes tcnicos pela disponibilidade e tempo que dispensaram a colaborar neste estudo.
A todos de uma maneira em geral que me deram incentivo.
E em especial minha me, por toda a dedicao, amor e coragem que a todo o
momento demonstra ter por mim. Uma verdadeira inspirao! Por todos os sorrisos e
ensinamentos, pelo apoio nos momentos mais difceis, a ti me, eu agradeo tudo o que sou
hoje.
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Resumo:
A Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA) uma das principais demandas dasade mental, sendo um dos problemas mais estudados do desenvolvimento da infncia e
adolescncia.Neste estudo, pretende-se refletir acerca da perceo que os professores tm sobre diferentes aspetosrelacionados com esta problemtica, desde logo, o seu nvel de conhecimentos, a sua perceo acercado condicionamento da PHDA na aprendizagem e as formas de interveno que consideram maisapropriadas.Para tal, aplicou-se um questionrio devidamente elaborado, tendo em conta os objetivos propostos.Participaram neste estudo 124 professores do 1, 2 e 3 ciclos do ensino bsico e ensino secundrio.Os resultados mostram que os participantes tm conhecimento limitado, independentemente dashabilitaes acadmicas, do ciclo que lecionam e do tempo de servio; conclui-se tambm que aPHDA condiciona a aprendizagem e considerada grave. Demonstra-se, ainda, que os professoresvalorizam a interveno familiar e individual.Devido aos avanos da PHDA no mundo cientfico, recomenda-se que se continuem estudos
especialmente no que diz respeito perceo dos professores.
Palavras-chave:Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA); professor; perceo;intervenes.
Abstract:
The Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is the main quest in mental health, also it is themost studied problematic about childhood and adolescence development.This project, intends to reflect the perception that teachers have on different aspects of ADHD,therefore their level of knowledge, their perception about the conditioning of ADHD in learning andtypes of intervention that might be consider appropriate.For this purpose, it was applied a questionnaire elaborated targeting the main goals. There were 124teachers from all levels of teaching.The results show the participants have limited knowledge independent, of their academic qualification,the level of teaching, the number of years at service; and the disabilities in learning are consideredserious for ADHD. It is also shown that teachers value the individual and family intervention.The advances of ADHD in the scientific world are frequent, and it is recommended more studies aboutthe perception of teachers in this subject.
Key-words:Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD); teacher; perception; interventions.
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ndice
I. Introduo ............................................................................................................................ 1
II. Enquadramento Terico ................................................................................................... 5
1. Natureza da PHDA: Evoluo Histrica e Definies .................................................... 5
2. Definio da PHDA ........................................................................................................ 9
3. Dimenses Essenciais ................................................................................................... 13
3.1. Dfice de Ateno .................................................................................................. 13
3.2. Hiperatividade ........................................................................................................ 14
3.3. Impulsividade ........................................................................................................ 15
4. Percurso Evolutivo ........................................................................................................ 16
4.1. PHDA na Infncia .................................................................................................. 17
4.2. PHDA na Adolescncia ......................................................................................... 18
4.3. Incapacidades Provocadas pela PHDA na Infncia e Adolescncia ..................... 18
5. Diagnstico e Avaliao da PHDA ............................................................................... 21
6. Etiologia ........................................................................................................................ 24
6.1. Fatores Pr-natais e Perinatais ............................................................................... 25
6.2. Fatores Genticos ................................................................................................... 25
6.3. Fatores Neurolgicos e Neuropsicolgicos ........................................................... 26
6.4. Fatores Familiares .................................................................................................. 28
6.5. Fatores Ambientais e Outros Fatores ..................................................................... 29
7. Prevalncia .................................................................................................................... 30
8. Problemas Associados e Comorbilidade ....................................................................... 32
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9. Consequncias da PHDA no Sucesso Escolar .............................................................. 35
10. Percees e Atitudes dos Professores ........................................................................ 38
10.1. Estudos sobre a Perceo dos Professores face PHDA ...................................... 40
11. Interveno na PHDA ............................................................................................... 44
11.1. Interveno Escolar ............................................................................................... 45
11.2. Interveno Comportamental ................................................................................. 46
11.3. Interveno Cognitivo-comportamental ................................................................ 47
11.4. Interveno Familiar .............................................................................................. 47
11.5. Interveno Farmacolgica .................................................................................... 48
11.6. Consideraes acerca da Interveno na PHDA ................................................... 50
III. Metodologia ..................................................................................................................... 51
1. Problemtica.................................................................................................................. 51
2. Objetivo Geral ............................................................................................................... 53
3. Hipteses ....................................................................................................................... 54
4. Tipologia do Estudo ...................................................................................................... 54
5. Variveis ....................................................................................................................... 55
6. Mtodo e Procedimentos ............................................................................................... 55
6.1. Seleo da Amostra ............................................................................................... 55
6.2. Caracterizao da Amostra .................................................................................... 56
7. Instrumento ................................................................................................................... 59
7.1. Composio e Elaborao ...................................................................................... 59
7.2. Validao do Questionrio .................................................................................... 607.2.1. Procedimentos do Estudo Piloto..................................................................... 60
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7.3. Aplicao ............................................................................................................... 61
IV. Resultados........................................................................................................................ 63
1. Anlise Descritiva do Questionrio .............................................................................. 63
2. Anlise Correlacional .................................................................................................... 69
V. Anlise e Discusso de Resultados .................................................................................. 77
1. Anlise Descritiva do Questionrio .............................................................................. 77
2. Anlise Correlacional .................................................................................................... 83
VI. Concluso ........................................................................................................................ 87
VII. Referncias Bibliogrficas ............................................................................................ 89
1. Bibliografia ................................................................................................................... 89
2. Netgrafia........................................................................................................................ 90
VIII. Anexos ........................................................................................................................... 93
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ndice de Anexos
Anexo ISubtipos da PHDA (DSM-IV-TR, 2011)
Anexo IICritrios de Diagnstico para a PHDA(DSM-IV-TR, 2011)
Anexo IIIQuestionrio sobre a PHDA
Anexo IVPedido de Autorizao para a aplicao do questionrio
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Lista de Ilustraes
Tabela 1Incapacidades adaptada e traduzida de Barkley & Benton, 2010, pp. 11/12..... 19
Figura 1- Ciclo vicioso dos problemas escolares de crianas hiperativas (adaptado de Weiss
e Hechtman, 1993, cit. inLopes, 2004, p. 112). ...................................................................... 37
Tabela 2Anlise Descritiva da Varivel Sexo ..................................................................... 56
Tabela 3Anlise Descritiva da Varivel Idade .................................................................... 57
Tabela 4Anlise Descritiva das Habilitaes Acadmicas ................................................. 57
Tabela 5Anlise Descritiva do Tipo de Formao sobre a PHDA...................................... 57
Tabela 6Anlise Descritiva da Distribuio dos Professores por Tempo de Servio e pelo
Ciclo que Lecionam ................................................................................................................. 58
Tabela 7Anlise Descritiva do Nmero de Professores com Alunos Diagnosticados com
PHDA e Alunos com Sinais de PHDA .................................................................................... 64
Tabela 8Anlise Descritiva do Nvel de Conhecimento dos Professores ........................... 65
Tabela 9Anlise Descritiva do Grau de Gravidade ............................................................. 65
Tabela 10Anlise Descritiva das Caractersticas da PHDA ................................................ 67
Tabela 11Anlise Descritiva dos Tipos de Interveno em PHDA .................................... 67
Tabela 12 Anlise Descritiva Relativa ao Tipo de Especialistas Recomendados pelos
Professores ............................................................................................................................... 68
Tabela 13Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 69
Tabela 14Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 70
Tabela 15Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 71
Tabela 16Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 72
http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371 -
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Tabela 17Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 73
Tabela 18Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 74
Tabela 19Frequncia do Grau de Gravidade ....................................................................... 75
Tabela 20 - Frequncia das Formas de Interveno ................................................................ 76
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Lista de Siglas
APCH - Associao Portuguesa da Criana HiperativaDA - Dificuldades de Aprendizagem
DSM-IV-TRManual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais Texto Revisto
e.g.exempli gratia por exemplo
NNmero de sujeitos da amostra
PHDA- Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno
SPSSStatistical Package for the Social Sciences
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I. Introduo
Os problemas de comportamento e os problemas de aprendizagem em contexto
escolar constituem uma das principais fontes de preocupao para professores, pais,
psiclogos e, de uma forma geral, para todos aqueles que se interessam pelos fenmenos
educativos (Lopes, 1996, p. 3).
A Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA) integra um
problema clnico frequente, sendo um dos distrbios mais vezes diagnosticado na infncia e
na adolescncia. Contudo, a ausncia de trabalhos rigorosos que validem empiricamente a
PHDA, a causa da grande confuso conceptual existente, o abuso no diagnstico e as
dificuldades em encontrar tratamento adequado(Farr & Narbona, 2003, cit. inLopes, 2009,
p. 1).
Atravs do presente estudo pretende-se fazer um resumo de algumas teorias existentes
acerca da PHDA e determinar qual o estado atual de conhecimento dos professores acerca
desta mesma temtica, para assim facilitar uma permuta de conhecimentos cientficos que
permita a elaborao futura de novas estratgias e/ou metodologias mais adequadas e que
contribuam para a soluo do problema.
Este trabalho est dividido em cinco captulos principais, sendo o primeiro o
enquadramento terico que, por sua vez, constitui-se de diferentes partes.
Na primeira parte apresenta-se a definio do conceito, situando-o historicamente com
base em diferentes autores. Posteriormente caracteriza-se e conceitua-se a PHDA atravs de
uma breve reviso da literatura cientfica sobre a temtica, destacando-se os trabalhos de
Barkley (1990, cit. in Lopes, 1998) que considera esta perturbao uma deficincia no
desenvolvimento da regulao e manuteno do comportamento por regras e consequncias.
Num terceiro ponto, faz-se referncia s dimenses essenciais da perturbao, levando
em conta os critrios atualmente apresentados no Manual de Diagnstico e Estatstica dasPerturbaes Mentais (DSM-IV-TR, 2011). Seguindo as referncias bibliogrficas, como
caractersticas primrias, apresentam-se o dfice de ateno, a hiperatividade e a
impulsividade, descrevendo-se separadamente as particularidades associadas a cada uma.
Achou-se, tambm, pertinente destacar o percurso evolutivo com pormenor para as
duas fases que se consideram relevantes no desenvolvimento do estudo, ou seja, a infncia e a
adolescncia, uma vez que este teve como populao alvo professores que lecionam entre o 1
ciclo e o ensino secundrio.
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De seguida, explana-se sobre as caractersticas de diagnstico, destacando a
importncia de uma avaliao individual do comportamento da criana em casa e na escola.
Caracteriza-se quais as causas associadas a esta perturbao (etiologia), fazendo
referncia aos diversos fatores enunciados na bibliografia e destaca-se, no ponto seguinte,
qual a prevalncia desta perturbao, quer na populao portuguesa, quer na populao
mundial.
Posteriormente, no deixa de ser importante, no que se refere aos aspetos tericos,
apresentar os problemas associados e a comorbilidade caracterstica da PHDA. Esta
perturbao est associada a insucesso escolar, acidentes, depresso, uso de substncias
ilegais e muito sofrimento (Antunes, 2009, p. 162). So, de facto, muitos os problemas
associados a esta perturbao e as suas consequncias so preocupantes, ao longo do percursode vida destes indivduos.
Por este motivo, apresentam-se depois as consequncias da PHDA na aprendizagem,
salientando-se a inevitvel associao entre a PHDA e as dificuldades em atingir o sucesso
escolar. Tal como afirma Schachar et al. (1991, cit. inLopes, 1996), no contexto escolar
uma evidncia a estreita ligao entre esta perturbao e problemas de aprendizagem,
constituindo a PHDA um fator de risco para a emergncia de problemas de leitura e fracasso
escolar generalizado.Lecionar em turmas com alunos que apresentam PHDA requer um cuidado especial,
os comportamentos imprprios e as dificuldades de aprendizagem conduzem ao
desenvolvimento de sentimentos de averso, quer por parte do aluno, quer por parte do
professor.
Por isso, considerar a perceo dos professores, significa atender representao
mental de uma realidade - a realidade educativa que se encontra imbuda por todo um
conjunto de concees, crenas e preconceitos, que fazem parte das ideias do prprioprofessor e por consequncia condicionam a sua ao e resposta no cenrio da sua atuao
(Baptista, 2010, p. 65).
Assim, e tendo em conta o objetivo central deste estudo, considera-se importante
perceber qual a perceo e quais as atitudes dos professores face PHDA.
Por ltimo, referem-se os tipos de interveno, tendo em conta uma viso holstica que
permita a combinao de diferentes estratgias, no sentido de ajudar o desenvolvimento destes
indivduos.
Depois de compreender a PHDA, quais as causas, consequncias e problemas
associados, o trabalho compe-se de um outro captulo, dedicado Metodologia. Mencionam-
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se aqui os objetivos do estudo, a seleo da amostra e a caracterizao dos participantes. No
seguimento, faz-se referncia ao instrumento de pesquisa utilizado bem como os respetivos
procedimentos de composio, validao e aplicao do mesmo.
No quarto captulo, sero apresentados os resultados obtidos atravs da aplicao do
mtodo proposto; seguindo-se a anlise e discusso de resultados de acordo com dois
organizadores principais: anlise descritiva do questionrio e hipteses.
No quinto e ltimo captulo, sero apresentadas as principais concluses, e propostas
algumas sugestes para estudos futuros, no mbito da PHDA.
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II.Enquadramento Terico
1. Natureza da PHDA: Evoluo Histrica e DefiniesA abordagem da evoluo histrica do conceito da PHDA torna-se fundamental para a
compreenso, que se afigura complexa, da definio, conceptualizao, avaliao e
interveno da PHDA.
Weiner (1982, cit. in Lopes, 1998) refere a probabilidade de se encontrarem as
primeiras referncias bibliogrficas ao que denominado vulgarmente por hiperatividade, na
segunda metade do sc. XIX. Tambm Thorley (1984, cit. in Barbosa, 2005) afirma que no
final do sculo XIX esta perturbao tinha sido descrita na literatura mdica por termos, taiscomo idiotas loucos, insanidade impulsiva e inibio defetiva.
Ainda que as primeiras referncias PHDA (ou pelo que, na poca, lhe correspondia)
paream ter surgido neste sculo, o percursor do estudo foi Heinrich Hoffman, um psiquiatra
alemo que, no ano de 1845, atravs de desenhos, ilustrou uma breve conduta de uma criana
com hiperatividade no seu livro de contos Zappel-Philip(e.g., Gaio e Barbosa, 2001, cit. in
Barbosa, 2005; Barkley, 2006).
Porm, as primeiras descries cientficas so atribudas a George Frederic Still queem 1902 descreve, na revista mdica The Lancet, o comportamento de crianas
excessivamente ativas e agitadas, com falta de ateno, dificuldades na aprendizagem e
problemas de comportamento, caracterizando-as como tendo Defeitos Mrbidos de Controle
Moral (e.g., Lopes, 1996; Barkley, 2006; Fernandes, 2007; Benczik, 2008; Lopes, 2009).
Nos finais da primeira Guerra Mundial (1917-1918), a PHDA foi associada a leses
cerebrais, devido ao eclodir do surto de encefalite na Europa e Estados Unidos. Considera-se
que foi a partir dessa altura que os americanos comearam a demonstrar o seu interesse pelaperturbao (e.g., Lopes, 2004; Benczik, 2008; Baptista, 2010). Nessa altura, muitos clnicos
depararam-se com um grande nmero de crianas que, apesar de terem sobrevivido a esta
infeo cerebral, apresentavam significativas sequelas a nvel cognitivo e comportamental.
Hohman (1992, cit. inFernandes, 2007) observou um comportamento similar ao da PHDA
nas crianas que sobreviveram epidemia de encefalite, descrevendo-as como limitadas na
sua ateno, na regulao da atividade e na impulsividade. De facto, sintomas essenciais ao
que hoje denominado de PHDA. Estas crianas apresentavam tambm alteraes cognitivas
na memria e eram socialmente disruptivas. Este quadro sintomatolgico era resultado de
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um dano cerebral e foi apelidado de Distrbio Ps-encefaltico do Comportamento
(Barkley, 2006, p. 5, cit. inBaptista, 2010, p. 17).
Em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen, sugerem que a PHDA provm de origem
orgnica e desenvolve-se devido a uma disfuno troncoenceflica. Surge, desta forma, o
conceito de Sndrome de Impulsividade Orgnica(Fernandes, 2007).
De acordo com a perspetiva de Lopes (2004), os diversos trabalhos publicados entre
1936 e 1941 por Bradley, Bowen, Goldstein, Molitch e Ecles, contriburam significativamente
para a evoluo do conceito de PHDA.
Assim, nos anos 50, a noo de leso cerebral, referida at ento para descrever a
PHDA, deu lugar noo de Perturbao Comportamental Hipercintica, que seria
causada por uma leso ou disfuno do diencfalo. Denhoff (1959, cit. inLoureno, 2009, p.22) referiu que a perturbao seria uma espcie de disfuno cerebral, uma vez que no era
comprovada evidncia de leso cerebral na maioria das crianas. Descrevia-a como uma
perturbao hipercintica do impulso, caracterizada pela agitao, hiperatividade,
diminuio progressiva da ateno, concentrao escassa, distrao e irritabilidade. Esta
ideia faz antever a noo de Disfuno Cerebral Mnima elaborada por Clements e Peters,
em 1962.
precisamente por volta dos anos 60 que os estudos comeam a ter maior rigorcientfico (Fonseca, 1998, cit. inJlio, 2009, p. 2) passando a ser colocado nfase na atividade
motora como a componente essencial da perturbao (Werry, 1968; Werry e Sprague, 1968;
Wender, 1971, cit. inLopes, 1998), o que leva a que esta passe a ser designada de Reao
Hipercintica da Infncia, no DSM-II (1968).No entanto, continuam a prevalecer diferentes
conceitos para designar uma mesma perturbao.
Surgem, nesta altura, divergncias entre a posio americana e a posio dos europeus
relativamente caracterizao deste distrbio. Nos Estados Unidos, a hiperatividade tendia aser vista como um sndrome comportamental relativamente frequente, fundamentalmente
caracterizada por nveis de atividade superiores ao normal, no necessariamente associada a
uma patologia cerebral e constituindo um grau extremo na variao normal do temperamento
infantil (Barkley, 1990, cit. inLopes, 1996). Na Europa, houve alguma diviso de opinies.
Enquanto na Holanda (um dos mais importantes centros europeus de investigao nesta rea)
se evidenciou a tendncia para seguir a posio americana, na Inglaterra a hiperatividade era
encarada como um estado extremo de excesso de atividade, muito pouco comum e
frequentemente associada a outros sinais de leso cerebral (como epilepsia ou atraso mental).
Como resultado desta divergncia de posies, os critrios diagnsticos, as estimativas de
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prevalncia e as prescries de tratamento apresentavam diferenas considerveis (Lopes,
1996).
Mais tarde, no decorrer da dcada de 70, elaborado um trabalho de investigao
conducente elaborao de critrios de diagnstico e de pesquisa mais precisos. Tal como
afirma Lopes (2004), surgem nesta altura inmeros estudos sobre a PHDA e, no final da
dcada,estimavam-se j milhares de artigos, livros e textos cientficos publicados. tambm
nos anos 70 que a hiperatividade deixa de ser o fator essencial da perturbao, dando-se agora
maior nfase ao dfice de ateno e impulsividade. Douglas (1972, cit. inLopes, 1998) aponta
precisamente para a necessidade de se considerar a desateno e a impulsividade como
problemas persistentes da perturbao e Douglas e Peters (1979) reafirmam a importncia dos
problemas de ateno. Como resultado destas investigaes, o DSM-III (1980)reconceptualiza a Reao Hipercintica da Infncia que d lugar ao Distrbio de Dfice
de Ateno, designao que adota os problemas de ateno como sintoma fulcral e no os da
atividade motora como havia sido proposto anteriormente (e.g., Vsquez, 1993; Benczik,
2008).
Se, tal como referido, na dcada de 70 haviam surgido uma imensido de trabalhos
sobre a PHDA, a dcada de 80 acentuou visivelmente essa tendncia, tornando-se esta
perturbao a mais estuda da infncia e adolescncia. Os modelos de pesquisa tornam-setecnicamente mais complexos e assim alguns autores afirmam que nem sempre se encontram
problemas de ateno em crianas com esta perturbao (Douglas, 1983, 1988; Draeger et al.,
1986; Sergeant, 1988, cit. in Lopes, 1998) e verifica-se que os fatores instrutivos e
motivacionais tm extrema importncia na determinao, presena e grau dos sintomas desta
perturbao, o que leva alguns investigadores a colocarem em hiptese um modelo
motivacional explicativo dos dfices verificados nas crianas com esta perturbao (Sroufe,
1975, cit. inLopes, 1998).Ainda nos anos 80, outras investigaes apontam para o impacto scioecolgico dos
sintomas da PHDA nas crianas, pais, professores, familiares e pares (Barkley et al., 1985;
Whalen et al., 1980, 1981; Mash e Johnston, 1983, cit. inLopes, 1998). Estes investigadores
estudam, ainda, os efeitos de medicamentos estimulantes nestes contextos. Os resultados
destes estudos corroboram a ideia que os comportamentos adversos e de rejeio podiam ser
bastante reduzidos com a administrao de estimulantes. Destas descobertas cientficas
emergiu a opinio que a PHDA como condio incapacitante no residia apenas na criana,
mas tambm na relao entre as capacidades da criana e as exigncias ambientais do
contexto scioecolgico em que a criana atua. No DSM-III-R (1987) so revistos os critrios
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que definiam o Distrbio de Dfice de Ateno e esta perturbao passa a ser designada de
Distrbio Hiperativo de Dfice de Ateno e includo na categoria dos distrbios do
comportamento.
Os primeiros anos da dcada de 90 constituram-se no s como uma poca de
reflexo sobre todas as investigaes realizadas nas dcadas anteriores, tambm como uma
poca de ativa investigao, sobretudo no sentido de validar os modelos e hipteses
anteriormente desenvolvidos.
Esta tendncia mantem-se com a chegada do ano dois mil, contudo, destacam-se os
trabalhos de investigao sobre hereditariedade, gentica molecular e neuroimagem.
Confirma-se a base hereditria da PHDA e calcula-se ter-se descoberto genes candidatos,
relacionados com a perturbao. Foram tambm reconhecidas novas regies cromossmicas,que podem estar relacionadas com a PHDA, embora esta rea precise ainda de maior
investigao para a devida confirmao. No surgiram, novas teorias sobre a PHDA, no
entanto as teorias existentes, a par dos avanos, impulsionaram ainda mais a investigao
sobre a perturbao com base na neuropsicologia.(Barkley, 2006, p. 36/37).
O conceito de PHDA constitui-se de diversas perspetivas, sendo o objetivo principal
de todas elas, encontrar uma definio livre de controvrsias e o mais consensual possvel. As
primeiras teorias restringiam a definio s suas causas e sintomas, associando estaperturbao a leses cerebrais. Com o evoluir da investigao, novas teorias surgem e
comeou-se a perceber que a PHDA no se resumia apenas aos seus sintomas e causas e que
tinha consequncias em vrios domnios. As investigaes apontam para o impacto
scioecolgico dos sintomas da PHDA, com especial destaque para o familiar e escolar. Mais
tarde, verificou-se a persistncia destes comportamentos durante a vida adulta e determinou-
se a importncia do seu tratamento.
Em sntese e considerando uma perspetiva atual, segundo o DSM-IV-TR (2011), adesignao utilizada por toda a comunidade cientfica, a de Perturbao de Hiperatividade
com Dfice da Ateno (PHDA) e so considerados trs subtipos consoante o padro
sintomtico predominante nos ltimos seis meses: Perturbao de Hiperatividade com Dfice
da Ateno, tipo Misto [F90.0]; Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno, Tipo
Predominantemente Desatento [F98.8] e Perturbao de Hiperatividade com Dfice da
Ateno, Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo [F90.0] (ver anexo I).
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2. Definio da PHDA
Como ficou demonstrado no ponto anterior, a PHDA uma das perturbaes mais
estudadas e tambm uma das mais controversas. Partindo agora para a sua definio,
considera-se vantajoso abordar diferentes perspetivas, uma vez que se pressupe que cada
nova informao contribui para uma melhor clarificao das perspetivas que envolvem esta
questo.
Surgem, duas definies de PHDA: (1) uma que Barkley (1990) denomina "definio
de consenso" e que traduz as tendncias essenciais da literatura at aos anos 90 e uma outra
(2) que inclui novos dados de investigao e integra uma importante reconceptualizao do
problema.
(1) DEFINIO DE "CONSENSO"
"Attention-Deficit Hyperactivity Disorder is a developmental disorder characterized by
developentally inappropriatedegrees of attention, overactivity, and impulsivity.These often
arise in early childwood; are relativelychronice in nature; and are not readily accounted for
on the basis of gross neurological, sensory, language, or motor impairment, mental
retardation, or severe emotionaldisturbance. These difficulties are typically associatedwith
deficits in rule-governed behavior and in maintaining a consistent pattern of work
performance over time"(Barkley, 1990, p. 47, cit. inLopes, 1996, p. 65).
A dcada de 90, tal como referido anteriormente, constituiu-se como uma poca de
ativa investigao, sobretudo no sentido de validar os modelos e hipteses anteriormente
desenvolvidos. Uma das hipteses mais consistentes considera como fundamental para a
caracterizao da PHDA as dificuldades de adeso a regras e instrues, refletindo aquilo que
se denomina dfices no comportamento autorregulado (Barkley, 1981, 1982, 1985, 1990,1994; Douglas, 1988; Grodzinsky, 1990; Kendall & Braswell, 1984; Whalen, Henker &
Dolemoto, 1981, cit. in Lopes, 1996, p. 92), ou seja, a PHDA no se constitui
fundamentalmente como um distrbio ao nvel da ateno mas sim um problema
desenvolvimental de inibio de respostas. Partindo dos pressupostos mencionados, Barkley
(1990) avana com uma redefinio do conceito de PHDA.
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(2) REDEFINIO DA PHDA
"ADHD consist of developmental deficiencies in the regulation and maintenance of behavior
by rules and consequences. These deficiences give rise to problems with inhibiting, initiating,
or sustaining responses to tasks or stimuli, and adhering to rules or instructions, particularly
in situations where consequences for such behavior are delayed, weak, or nonexistent. The
deficiences are evident in early childwood and are probably chronic in nature. Although they
may improve with neurological maturation, the deficits persist in comparison to same-age
normal children, whose performance in these areas also improves with development"
(Barkley, 1990, p. 71, cit. inLopes, 1996, pp. 93/94).
Mais tarde, surge o estudo realizado por Goodman e Poillon (1992). Estesinvestigadores fizeram a reviso de vrios artigos e livros dedicados ao tema (48), com o
objetivo de operacionalizarem as diferentes perspetivas acerca da PHDA. Identificaram
sessenta e nove caractersticas diferentes e trinta e oito possveis causas para a perturbao.
As mais referidas foram: baixa capacidade de ateno (32), hiperatividade (29), impulsividade
(28), distrao (20), dificuldade em acompanhar os contedos (15), fraca coordenao motora
(10), problemas de conduta (9), problemas de concentrao (9), o facto de ser um conjunto
precoce de sintomas (9), maior necessidade de superviso (8) e dificuldade em esperar pelasua vez (7) (Baptista, 2010, p. 23).
O conjunto de caractersticas encontradas nesta investigao elucidativo da
controvrsia que sempre envolveu esta perturbao. Pode verificar-se que, para alm da falta
de consenso entre os investigadores sobre as caractersticas referidas, muitas delas tm
natureza subjetiva e contraditria. Perante toda esta controvrsia instituda volta da PHDA,
Barkley e um conjunto de mais 80 investigadores, assinaram uma declarao - International
Statement on ADHD (Barkley, 2002, cit. in Baptista, 2010), com a finalidade de criaruniformidade, em relao aos critrios utilizados na definio da perturbao, caractersticas
de diagnstico e outros aspetos considerados fundamentais nesta rea.
Corroborando a ideia anteriormente apresentada, diferentes autores, consideram que
esta uma das perturbaes da infncia mais frequentemente diagnosticada e representa na
atualidade um tema de grande importncia para a Sade Pblica (Costa et al., 2010, p. 16).
A PHDA caracterizada, pela generalidade de autores,por dificuldades em manter a ateno
(e.g., distrao, dificuldades em completar tarefas), atividade excessiva (e.g., agitao
motora) e impulsividade (e.g., interromper os outros) em nveis que so inconsistentes com a
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fase de desenvolvimento da criana (Anastopulos, 1996; Barkley, 2004; DuPaul, Junod &
Flammer, 2004, cit. inMalaca, 2008, p. 8).
As crianas em idade escolar tm dificuldade em estar sentadas, levantam-se
constantemente, mexem-se nas cadeiras, ficam sentadas na borda das cadeiras, transportam
objetos de um lado para o outro, batem palmas e mexem os ps e as pernas excessivamente
(DSM-IV-TR, 2011).
Tipicamente, esta considerada uma perturbao crnica, cujos sintomas se
comeam a notar na infncia e se estendem at idade adulta (Barkley, 2004; Barkley,
Fisher, Smallish & Fletcher, 2002, cit. por DuPaul et. al., 2004, cit. inMalaca, 2008, p. 8),
influenciando a relao entre pais e filhos, bem como o desempenho escolar e as relaes
com os pares (Barkley, 1990, cit. por Anastopoulos, 1996, cit. in Malaca, 2008, p. 8).Raramente ocorre de forma isolada, estando associada a perturbaes comportamentais,
como a perturbao de oposio e comportamentos de agressividade, perturbaes
emocionais e desmotivao escolar(Anstopoulos, 1996; Barkley, 2004, cit. inMalaca, 2008,
p. 9).
Segundo o Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais (DSM-IV-
TR, 2011, p. 85) a principal caracterstica da PHDA um padro persistente de falta de
ateno e/ou impulsividade-hiperatividade, com uma intensidade que mais frequente egrave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nvel semelhante de
desenvolvimento.
Este padro ,tal como referem outros autores,caracterizado por nveis desajustados
de focalizao e manuteno da ateno, modulao da atividade motora e de controlo dos
impulsos(Poeta & Neto, 2004; Fabiano et al., 2010, cit. inSantos, 2011, p. 4).
Porm, a conceptualizao cognitiva da PHDA, como um problema de ateno ou
hiperatividade/impulsividade, tem vindo a ser substituda por teorias que tm por base osdfices motivacionais, particularmente, os que se ligam com perturbao de base biolgica da
regulao do comportamento por regras e consequncias.
Desta forma, a PHDA hoje considerada uma perturbao com base neurobiolgica,
caracterizada pelo inadequado desenvolvimento das capacidades de ateno e, em alguns
casos, por impulsividade e/ou hiperatividade (Parker, 2003, p. 8). A Investigao
Neuropsicolgica conceptualiza a PHDA, como um distrbio neurocognitivo, em que a auto-
regulao, a inibio do controlo, bem como, a auto-conscincia dos resultados explcitos e
implcitos do comportamento so caractersticas fundamentais a avaliar (Zimmerman &
Martinez-Pons, 1990; cit. por Lopes, 2004; Sonunga-Barke, 2002; Anderson et al., 2001;
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Tirapu-Ustrroz et al.,2005, cit. inCosta et al., 2010, p. 17). A PHDA envolve, portanto,
segundo Barkley (2012) dfices de autocontrolo, autoconhecimento, automotivao e
autodireo para a resoluo de problemas.
Conclui-se que a investigao tende a prosseguir no sentido de melhor clarificar a
definio desta perturbao, surgindo, a cada nova investigao, diferentes teorias, cada vez
mais complexas, fruto dos avanos significativos das cincias que procuram incessantemente
uma definio para esta perturbao.
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3. Dimenses Essenciais
Diferentes autores distinguem entre dimenses essenciais ou caractersticas primrias
e caractersticas secundrias (e.g., Lopes, 2004; Barkley, 2006; Lopes, 2009). Como
caractersticas primrias, apresentam o dfice de ateno, a hiperatividade e a impulsividade;
no que se refere s caractersticas secundrias, estas so vistas como consequncia das
caractersticas primrias. Barkley (1998a, cit. in Lopes, 2009, p. 14) fala-nos destas
caractersticas englobando-as da seguinte forma: problemas cognitivos, atraso da
linguagem, menor capacidade de adaptao, problemas ao nvel do desenvolvimento motor,
dfice da autorregulao das emoes, dificuldades na realizao acadmica e realizao de
tarefas e ocorrncia de alguns riscos de sade (maior probabilidade de terem acidentes,
dificuldades em adormecer e agitao durante o sono).
Isto quer dizer que todos ns exibimos sintomas desta perturbao pontualmente,
sendo que o que destaca as crianas com o diagnstico dos seus pares sem o diagnstico a
sua predisposio gentica para apresentarem esses sintomas num grau significativamente
superior ao considerado normal para a idade e gnero em questo(Levy et al.,1997; cit. in
DuPaul & Stoner, 2007, cit. inBaptista, 2010, p. 36).
Contudo, e de acordo com os critrios levados em conta atualmente, para que um
indivduo se qualifique para o diagnstico de PHDA, basta apenas apresentar os sintomas de
desateno, de hiperatividade ou de impulsividade descritos no DSM-IV-TR (e.g., Parker,
2003; Daz, et al., 2009) (ver anexo II), e que se apresentam a seguir.
3.1.Dfice de Ateno
De acordo com a perspetiva da neuropsicologia a capacidade de ateno,
considerada um conceito multidimensional, que pode englobar problemas de alerta, de
ativao, de seletividade, de manuteno da ateno, de distractibilidade, de nvel de
apreenso, entre outros(Barkley, 2006, cit. inBaptista, 2010, p. 40)
O mbito da ateno , habitualmente, o sintoma da PHDA que causa maiores
problemas na escola, embora no seja to visvel quanto a hiperatividade ou a impulsividade.
Os mecanismos de ateno destas crianas so ineficazes. Isto significa quetm uma
grande dificuldade em concentrarem-se em tarefas entediantes como, por exemplo, trabalhos
escolares, que pem sistematicamente prova estes mecanismos (Selikowitz, 2010, p. 20).
Por outro lado apresentam mais dificuldades de memorizao e de seguir instrues
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(Loureno, 2009, p. 32). inevitvel que estas crianas apresentem grandes dificuldades em
estar com ateno num contexto de sala de aula, no qual existem inmeros distratores, que
desfocalizam a sua ateno.
Arajo e Silva (2003, cit. in Lopes, 2009, p. 15) referem que as crianas com PHDA
so frequentemente acusadas devido sua falta de ateno, mas, o que acontece na verdade
que elas mostram ateno a tudo ao mesmo tempo. As suas dificuldades relacionam-se com
o facto de no conseguirem focalizar a ateno de forma seletiva.Esta a razo pela qual
muitas vezes no terminam os trabalhos em que esto envolvidas e procuram algo que seja
mais interessante, mais divertido e estimulante.
As crianas com PHDA, em vez de continuarem com a tarefa que estavam a realizar,
apresentam uma elevada probabilidade de saltar de um estmulo distrator para outro estmulodistrator, e assim sucessivamente, acabando por se descurar o que estavam inicialmente a
fazer.
3.2.Hiperatividade
A hiperatividade outra caracterstica comum s crianas com PHDA,
correspondendo desadequada e excessiva atividade motora ou oral da criana e aos seus
comportamentos grosseiros e desnecessrios.
A nvel motor, frequente estas crianas mexerem permanentemente as mos e as
pernas, demostram tambm grandes dificuldades em estar quietas ou paradas e,
particularmente, exibem agitao constante. Ao nvel da atividade oral, so caracterizadas por
falarem excessivamente, mesmo em situaes em que no aconselhvel o fazer.
Por norma, as crianas que so hiperativas mostram-se bastante mais irrequietas e
do mostras de um excesso de atividade bastante mais marcante, fazendo-o em muitas maissituaes do que o fazem os seus pares no hiperativos (Parker, 2003, p.10).
Os pais costumam descrev-las como sendo irrequietas, falam de mais e no
conseguem ficar quietas, os professores, mencionam as suas ausncias do lugar sem
permisso, dizem que estes alunos respondem fora de vez e referem ainda a sua necessidade
de mexer em coisas de que no necessitam no momento (e.g., Lopes, 1996; Baptista, 2010).
De acordo com Barkley (2002, cit. in Baptista, 2010, p. 44), a hiperatividade faz parte
do mesmo problema que a impulsividade, pois ambos os sintomas esto associados a uma
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dificuldade na inibio do comportamento. Por seu lado, a desateno pode, segundo o
mesmo autor, estar relacionada com esta falta de inibio.
3.3.Impulsividade
A impulsividade tambm um conceito de natureza multidimensional, que abrange
vrios constructos. Para uns autores ela est relacionada com o controle executivo, com o
adiamento da gratificao, com o esforo e mesmo com a condescendncia(Olson, Shilling
& Bat, 1999 inBarkley, 2006; p. 81, cit. inBaptista, 2010, p. 42).Para outros trata-se de um
processo executivo, motivacional e automtico da inibio da ateno (Nigg, 2000; in
Barkley, 2006; p. 81, cit. inBaptista, 2010, p. 42).
A impulsividade exterioriza-se por impacincia, fraca manuteno da inibio
resposta (Gordon, 1979, cit. in Lopes, 1998), dificuldade em esperar pela gratificao
(Barkley, 1990; Rapport, Tucker, DuPaul, Merlo & Stoner, 1986, cit. in Jorge, 2007),
dificuldade em parar para pensar antes de agir(Selikowitz, 2010) ou ainda fraca aderncia a
ordens para regular ou inibir o comportamento, muitas vezes ao ponto de estas crianas,
provocarem problemas em situaes sociais e escolares.
Contudo, as crianas com PHDA no se comportam com impulsividade por
ignorncia. Normalmente sabem to bem como as outras da mesma idade o que devem e no
devem fazer. No entanto, reagem de uma forma reflexa (impulsiva) ao que acontece sua
volta(Selikowitz, 2010, p. 46).
Assim, as crianas com PHDA, embora tenham conscincia das consequncias dos
seus comportamentos, no conseguem agir de acordo com esse conhecimento sobre o futuro,
sendo as suas aes orientadas por o impulso do momento.A sua resposta obedece a um
esquema de reforo imediato, uma vez que no conseguem manter a ateno nas suas
representaes internas e guiar as suas aes por uma perspetiva futura(Jorge, 2007, p. 41).
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4. Percurso Evolutivo
Nos primeiros anos de vida, na fase pr-escolar, existem no comportamento infantil
certos indicadores que apontam para a possibilidade de problemas posteriores. Para alm de
serem irrequietas, estas crianas oferecem maior resistncia aos cuidados habituais e tm
normalmente problemas durante o sono e alimentao.
Porm, com a entrada no ensino bsico que se tornam evidentes as dificuldades das
crianas com PHDA menos acentuada. A necessidade de organizarem cadernos e trabalhos e
permanecerem sentadas e focadas durante um perodo de tempo relativamente prolongado,
no uma tarefa fcil para estas crianas. o lpis que cai com frequncia inusitada, a
necessidade de ir casa de banho a cada meia hora, o interesse pelo mais pequeno rudo que
faz descolar os olhos do professor, o cochichar constante e a resposta intempestiva(Antunes,
2009, p. 155).
Com o aproximar da adolescncia, o excesso de atividade motora diminui e os jovens
com PHDA caracterizam-se nesta fase, por serem impacientes e por se sentirem incomodados
nas situaes em que se lhes exige o alcance de resultados acadmicos satisfatrios. ,
tambm, na adolescncia que, em geral, se anunciam as consequncias de uma PHDA no
diagnosticada: baixa autoestima, fraca imagem de si prprio, desmotivao para o trabalho
escolar, depresso, o que associado impulsividade leva com frequncia a comportamentos
de risco.
Conclui-se, dos trabalhos realizados sobre a evoluo das crianas alguns anos depois
de terem sido diagnosticadas, que algumas melhoraram em mbitos problemticos como a
inquietude, a falta de ateno e a concentrao. Muito poucas desenvolvem perturbaes
psicolgicas graves, embora muitas permaneam com problemas de adaptao s normas
sociais, problemas emocionais e, inclusivamente, dificuldades de aprendizagem.
O ideal seria que a deteo precoce do problema pudesse levar a uma intervenoque tornasse a adaptao escolar mais fcil (Antunes, 2009, p. 156). Descrevem-se, com
mais pormenor, de seguida as duas fases que se consideram pertinentes para o
desenvolvimento do estudo, uma vez que este tomou como populao alvo professores que
lecionam no 1, 2 e 3 ciclos do ensino bsico e no ensino secundrio.
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4.1.PHDA na Infncia
Com a entrada para o 1 ciclo do ensino bsico os comportamentos que estas crianas
apresentam como caractersticos da perturbao, vo certamente agravar-se ainda mais dada a
imaturidade que as caracteriza a todos os nveis.
Durante esta idade a criana hiperativa ocupa o primeiro plano da sua turma. Por um
lado, no capaz de respeitar a disciplina imposta na escola; por outro tem mais
dificuldades na aprendizagem do que os seus colegas(Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 44).
Estas crianas no conseguem estar sentadas durante perodos muito longos, a sua ateno
deficitria, no conseguindo seguir instrues muito longas, tm tambm dificuldades em
organizar o material e no cumprem as tarefas at ao fim. A sua relao com os pares pode ser
comprometida. As crianas com PHDA tornam-se aos poucos, solitrias, no por opo mas
por rejeio dos amigos de escola. Estes afastam-se por diversas razes, como, conduta
agressiva; desrespeito por todas as regras dos jogos e pela frequente atitude dominadora. O
que reafirma o condicionamento da PHDA no sucesso escolar.
Barkley (1998, cit. in Loureno, 2009) menciona que as dificuldades apresentadas
pelas crianas ao nvel da capacidade para ficar sentada, ouvir, obedecer, inibir o
comportamento impulsivo, cooperar, organizar aes, seguir instrues, partilhar, brincar de
modo adequado e interagir de forma simptica com os outros, vo certamente interferir com o
sucesso acadmico destas crianas.
Todas estas caractersticas, como a imaturidade, o pouco tempo que capaz de estar
atenta, a incapacidade de se concentrar durante longos perodos de tempo, as atitudes
impulsivas, no se solucionam simplesmente deixando passar o tempo, pelo contrrio, tudo
isto pode agravar-se.
Como consequncia do fracasso escolar, pessoal e social que a criana com PHDA
vivncia diariamente, comeam a manifestar-se sentimentos de insatisfao e mal-estar(Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 46). Manifestaes muito frustrantes que podem levar a
sentimentos de averso ou mesmo de hostilidade.
A partir dos sete anos, se a criana no for ajudada, possvel que comece a revelar
sintomas de depresso como consequncia da sua incapacidade para se adaptar s exigncias
paternas, escolares e dos seus companheiros. A PHDA uma perturbao do comportamento
que deve ser adequadamente tratada (Polaino-Lorente & vila, 2004).
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4.2.PHDA na Adolescncia
A adolescncia, para os indivduos com PHDA, constitui tambm um perodo muito
difcil da sua vida, tal como j referido anteriormente.
A situao escolar o maior problema do adolescente que tem no seu percurso
inmeros falhanos e insucessos a esse nvel. A criana instvel torna-se um adolescente com
pouca capacidade de concentrao, um estilo cognitivo impulsivo, distrbios do
comportamento e ocasionalmente dificuldades especficas de aprendizagem (Melo, A. R.,
2003, cit. inLoureno, 2009, p. 59).
Com o aumento da exigncia ao nvel da responsabilidade, identidade, mudana de
aparncia fsica, aceitao por parte do grupo, relaes amorosas, etc., que se esperam que
aconteam nesta fase desenvolvimental, a adolescncia para um indivduo com PHDA torna-
se ainda mais um perodo especialmente complexo, levando muitas vezes a comportamentos
de risco. O primeiro problema o abuso de lcool ou adio a qualquer outra droga. O
adolescente com PHDA mais propenso do que outros jovens da sua idade a abusar deste
tipo de substncias, j que algumas delas tm para ele um efeito sedativo. O segundo
problema o abuso de experincia sexuais (Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 47). O
adolescente com PHDA (tal como qualquer outro adolescente) no tem a maturidade
suficiente para compreender e integrar na sua vida o desenvolvimento sexual e o papel que a
sexualidade desempenha na vida humana, este facto, ligado impulsividade que o caracteriza,
leva-o frequentemente a realizar atos sexuais desajustados.
De facto, e de acordo com as referncias bibliogrficas, o nmero de adolescentes com
PHDA grvidas superior ao de adolescentes sem a perturbao.
Por todos estes motivos, no se deve descuidar a interveno junto dos jovens
adolescentes pois as consequncias para as suas vidas podem ser nefastas.
4.3.Incapacidades Provocadas pela PHDA na Infncia e Adolescncia
Como foi possvel verificar, a PHDA no um problema unicamente especfico da
infncia, e exige um cuidado especial e uma interveno adequada para que os fatores de risco
diminuam.
Apresenta-se de seguida uma tabela que integra de forma resumida as incapacidades
caractersticas das fases desenvolvimentais anteriormente apresentadas.
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Incapacidades caractersticas
da infncia
Incapacidades caractersticas
da adolescncia
Conflitos e stresse familiar Mau funcionamento no trabalho
Relacionamento pobre entre pares Frequentes mudanas de emprego
Poucas ou nenhumas amizades
Comportamento sexual de risco / aumento da
gravidez na adolescncia e doenas
sexualmente transmissveis
Comportamentos disruptivosConduo insegura (excesso de velocidade,
acidentes frequentes)
Poucos cuidados com a segurana pessoal/
aumento das leses acidentais
Dificuldades de gesto financeira (gastos
impulsivos, uso excessivo de cartes de
crdito, pouca ou nenhuma poupana, etc.)
Desenvolvimento tardio do autocuidadoProblemas no namoro ou relacionamento
conjugal
Desenvolvimento tardio da responsabilidade
pessoalMenos comum, mas de salientar:
Desempenho escolar inferior mdia
Comportamentos antissociais (mentir, roubar,
lutar), que levam ao contato frequente com a
polcia e at mesmo priso, muitas vezes
tambm associado a um maior risco de uso de
drogas ilegais
Menos anos de escolaridade
Estilo de vida em geral, menos saudvel
(menos exerccio, mais sedentarismo,
compulso alimentar ou bulimia, nutrio
deficitria, maior uso de nicotina e lcool) e,
consequentemente, um aumento significativo
do risco de doena cardaca
Tabela 1Incapacidades adaptada e traduzida de Barkley & Benton, 2010, pp. 11/12
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Pela anlise da tabela, pode-se afirmar que a PHDA est na origem de muitas das
incapacidades presentes durante as fases de desenvolvimento anteriormente descritas, sendo
que a maioria dos sintomas de instabilidade tm incio na infncia ou na adolescncia.
Uma grande percentagem de indivduos com PHDA demonstra de facto ter problemas
durante esta etapa de desenvolvimento.
Na infncia, surgem problemas ao nvel familiar e de relacionamento entre pares.
Estas crianas tm normalmente um temperamento explosivo, colrico quando contrariadas,
agressivas e com pouco sentido de responsabilidade (Loureno, 2009). Para alm disso, e tal
como referido anteriormente, estas crianas tm um desempenho escolar inferior mdia.
Na adolescncia, um perodo por si s de grandes mudanas, quando associada
PHDA, pode levar a comportamentos de risco. Encontram-se mais relaes entre as baixasexpectativas futuras e a falta de confiana. Outros comportamentos, como roubos e incidentes
pblicos, comportamentos sexuais de risco e aumento da gravidez, tornam-se tambm mais
frequentes. O mercado de trabalho pode constituir-se tambm como outro problema para os
adolescentes com PHDA.
Por isso, mais uma vez se salienta a importncia de uma interveno adequada na
PHDA, pois pode-se afirmar que a qualidade de vida nestas fases desenvolvimentais est
intimamente relacionada com a sade mental e bem-estar psicolgico dos indivduos.
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5. Diagnstico e Avaliao da PHDA
O primeiro passo para a elaborao de uma interveno adequada da PHDA a
realizao de uma avaliao e diagnstico corretos.
A avaliao da PHDA desenvolve-se dentro de uma perspetiva multidisciplinar, pois
tem em conta os dados proporcionados por provas de natureza distinta e por especialistas de
diferentes reas.
Os membros desta equipa de avaliao so, normalmente, mdicos, psiclogos e
elementos da escola, como professores, conselheiros ou especialistas em aprendizagem
(Parker, 2003, p. 15).
Boavida, Porfrio e Borges (1998, cit. inLopes, 2009), consideram que a avaliao de
crianas ou adolescentes com PHDA dever incluir uma avaliao cognitiva e acadmica,
tendo como objetivo estabelecer um perfil psicomtrico e de desempenho acadmico. Os
autores evidenciam que particularmente til na determinao das reas fracas e na recolha
de informaes sobre aspetos especficos da capacidade de ateno, de aprendizagem e de
inteligncia. Os autores referenciam, tambm, a necessidade de incluir na avaliao mdica, o
maior nmero de informaes possveis: histria pessoal e familiar, fatores de risco (pr, peri
e ps-natais), exame fsico, avaliao do neurodesenvolvimento, da viso e da audio.
Embora no exista um nico teste que, por si s, seja capaz de diagnosticar a PHDA
de forma vlida e fivel, existe um nmero de procedimentos de avaliao que, em conjunto,
podem proporcionar informao til na formulao de um diagnstico(Parker, 2003).
O diagnstico necessita da avaliao individual do comportamento da criana em casa
e na escola, no devendo esta ser realizada em contexto clnico.
No mbito psicolgico, os especialistas prestam ateno a trs aspetos do problema: os
dfices de ateno, o nvel de atividade motora e o comportamento geral da criana no seu
meio natural. Portanto, a avaliao da perturbao baseia-se nos testes que o psiclogo aplica criana e nos que administra aos pais e aos professores, com o objetivo de obter informao
sobre a sua conduta em casa e na escola (Garca, 2001).
Os meios utilizados para a recolha de informao relevante atravs da prpria criana,
incluem testes para detetar deficincias percetivas e cognitivas; observaes do
comportamento e mtodos mecnicos que registam o nvel de atividade em situaes
especficas.
Por sua vez, quando a fonte de informao so os adultos, utilizam-se entrevistas eescalas de avaliao. As entrevistas devem ser sobretudo estruturadas e semiestruturadas, e
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fornecem, para alm dos valores objetivos, a dimenso fenomenolgica que as escalas e
questionrios no conseguem (Loureno, 2009). A entrevista constitui geralmente uma
primeira aproximao ao indivduo identificado ou a pessoas significativas da sua vida.
Trata-se assim de um primeiro passo no processo de avaliao (Melo, A. R., 2003, cit. in
Loureno, 2009, p. 43). No entanto, este mtodo por si s no chega para a avaliao desta
perturbao, pelo que deve ser complementada com outros instrumentos.
Farr e Narbona (2003, cit. in Lopes, 2009) fazem especial referncia a dois
instrumentos que consideram de maior difuso para a avaliao da PHDA, o Questionrio de
Gillberg(1982) e asEscalas para Pais e Professores de Conners (1969, 1978, 1980).
Tambm Parker (2003) menciona algumas das escalas mais utilizadas na avaliao da
PHDA: Escala de Avaliao de Conners para Professores Revista; Escala de Avaliao deConners para PaisRevista e DDAHEscala de Avaliao Compreensiva (Fichas para Pais
e para Professores).
Por sua vez, Lopes (2004) faz referncia ao que considera ser um dos questionrios
mais teis na avaliao da PHDA, elaborado pela Associao Americana de Psiquiatria
(APA) em 1994. Menciona tambm o Rating Scale-IV (ADHD) de DuPaul, Power,
Anastopoulos e Reid, de 1998, para pais e professores.
As escalas de avaliao comportamental, tal como os questionrios e os inventriostm-se tornado progressivamente elementos-chave no processo de avaliao da PHDA. A
disponibilizao de diferentes escalas com boas propriedades psicomtricas e
estandardizadas para amostras de grande abrangncia (em termos de idades, cultura e
etnia), conduz sua utilizao segura na determinao do grau de desvio do problema da
criana em relao a uma norma(Barkley, 1998, cit. inLoureno, 2009, p. 45).
Estes instrumentos so, de facto, amplamente utilizados, pois permitem avaliar as
crianas, mediante a informao proporcionada por pais, professores e adultos em geral, quepermanecem em contacto com a criana no seu meio natural. Para alm disso, so provas de
fcil e rpida aplicao e as suas posteriores correo e interpretao no exigem muito
tempo, nem muito esforo.
Deste modo, o estudo psicolgico da criana comea por norma com a avaliao
individual feita prpria criana e s depois de feita esta avaliao, se aplicam as entrevistas
e escalas aos adultos, habitualmente os pais e professores da criana.
Por sua vez, tambm importante referir que para o diagnstico correto da PHDA,
deve ser tida em conta a avaliao mdica, que de acordo com Barbosa et al. (2005, p. 20)
deve incluir uma cuidadosa recolha de dados da histria pessoal e familiar, fatores de risco
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(pr, peri e ps natais), exame fsico e avaliao do neuro-desenvolvimento, da viso e da
audio.
Porm, e apesar de existirem hoje diversos mtodos para a avaliao desta
perturbao, coloca-se um problema em relao padronizao dos resultados, isto , no
estabelecimento de valores estatsticos que permitam com alguma segurana diferenciar a
populao com PHDA da que no sofre do problema(Antunes, 2009, p.149).
Segundo o DSM-IV-TR para ser diagnosticada, exige-se que estejam presentes pelo
menos seis sintomas de falta de ateno, seis ou mais de hiperatividade ou impulsividade,
durante pelo menos seis meses e com efeitos negativos no funcionamento da criana em pelo
menos dois contextos distintos, como a casa e a escola (ver anexo II). No entanto, o DSM-IV-
TR apresenta algumas limitaes no plano da avaliao (Loureno, 2009):
Os estudos para o desenvolvimento e testagem dos critrios de diagnstico foram
realizados com indivduos institucionalizados;
O nmero de critrios para estabelecer o diagnstico baseia-se em dados empricos;
Os atuais critrios de diagnstico no tm em conta as diferenas de gnero nem a
influncia da idade;
As caractersticas comportamentais referidas no DSM-IV-TR so subjetivas e sujeitas
a interpretaes pessoais dos observadores.
Considera-se, porm, que os instrumentos referidos so, sem dvida, teis para a
avaliao e diagnstico da PHDA. E salienta-se que, independentemente da ferramenta que se
utilize, deve ser tido em ateno que quanto mais informaes se conseguir reunir, mais
credvel ser o diagnstico.
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6. Etiologia
Desde a segunda metade da dcada de 80 que a investigao sobre a compreenso da
etiologia da PHDA se tem desenvolvido acentuadamente. Neste percurso, tm sido
demonstradas vrias explicaes e anuladas tantas outras (Barkley, 2006). Atualmente, as
investigaes parecem comprovar o contributo de explicaes biolgicas, evidenciando-se
uma forte componente gentica e hereditria, sobretudo em formas de hiperatividade mais
graves(Willcutt et al., 2000, cit. inJlio, 2009, p. 8).
Segundo Garca (2001), apesar de se tratar de uma perturbao frequente na infncia e
adolescncia e que h bastante tempo objeto de interesse por parte de mdicos e psiclogos,
os fatores que a originam no esto ainda identificados de forma precisa, sendo que a causa
especfica da PHDA em qualquer indivduo frequentemente indetetvel e permanece
inexplicada (Parker, 2003, p. 14).
Porm, a investigao nesta rea aponta para mltiplas etiologias, entre as quais as
mais provveis referem-se a fatores biolgicos, atraso na maturao, fatores pr e perinatais,
influncias genticas e outras variveis prprias do ambiente da criana. Neste sentido, e com
o objetivo de clarificar a origem da PHDA, optou-se por citar, nos pontos que a seguir se
apresentam, os diferentes fatores que contribuem para o aparecimento desta perturbao,
atravs de uma diviso proposta pela autora, com base em diferentes referncias
bibliogrficas.
Esta necessidade de simplificar a perturbao revela a importncia de redefinir os
subtipos da PHDA tal como estipulados pelo DSM-IV-TR e, possivelmente incluir novas
categorias de subtipos aos critrios de diagnstico, de modo a permitir que este se faa de
modo mais claro, preciso e idiossincrtico possvel. Isto porque, o esquema de categorizao
do DSM-IV-TR parece ser insuficiente para enquadrar a estrutura etiolgica e fenotpica da
PHDA, uma vez que, pequenas variaes nos nveis sintomticos levam a grandes alteraesna classificao do subtipo(Lahey et al, 2005, cit. inSantos, 2011, p. 17).
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6.1.Fatores Pr-natais e Perinatais
A ao exercida pelo meio ambiente pr-natal e as dificuldades surgidas durante a
gravidez tm sido referidas como causas relacionadas com as perturbaes da conduta
infantil.
Alguns autores afirmam que as crianas prematuras, com baixo peso nascena, que
sofreram anoxemia durante o parto ou infees neonatais, tm maior probabilidade de
desenvolver problemas comportamentais e PHDA.
De acordo com Jlio (2009, p. 12), outros estudos evidenciam tambm relaes entre
a PHDA e a idade da me(Chandola et al., 1992), o ms de nascimento(Mick et al., 1996), a
durao do trabalho de parto (Chandola et al., 1992), bem como a prematuridade do
nascimento (Cherkes-Julkoskwi, 1998; Mick et al., 2002).
O consumo de tabaco, o abuso de lcool e o stresse psicolgico da me no perodo
pr-natal so igualmente variveis que se relacionam diretamente com os problemas de
conduta observados na infncia.
Gold e Sherry (1984, cit. inGarca, 2001) corroboram esta ideia, referindo que o abuso
de lcool durante a gravidez responsvel por dfice de ateno, problemas de aprendizagem,
perturbaes do comportamento e atraso psicomotor, contudo, a sua influncia no universal
nem determinante. Com menos evidncia surgem tambm estudos que evidenciam o carcter
preditor do consumo de tabaco(Barkley, 2002; Button et al., 2005; Milberger et al., 1996, cit.
inJlio, 2009, p. 12), no surgimento da perturbao.
6.2.Fatores Genticos
Existem inmeras evidncias de que os fatores genticos so causas importantes em
PHDA (Selikowitz, 2010, p. 132).
Lahey et al. (1988, cit. in Lopes, 1998) verificam a presena de uma elevada
prevalncia de PHDA entre os familiares de crianas com esta perturbao. Tambm os
estudos de Barkley e Edelbrock (1987, cit. inLopes, 1998) indicam que entre 20% a 30% dos
pais e irmos de crianas com PHDA apresentam o distrbio.
Ainda no que se refere influncia gentica, surgem referncias a estudos com
gmeos, que corroboram um certo papel dos genes na transmisso da desateno e
hiperatividade. Goodman e Stevenson (1989, cit. in Lopes, 1998, p.26), no maior estudo
realizado com gmeos, encontraram uma concordncia para a hiperatividade de 51% entre
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gmeos monozigticos e de 33% entre os gmeos dizigticos.Outros estudos situam esta taxa
na faixa de 70% a 80% (Faraone et al., 2005; Burt, 2009, cit. inMerwood & Asherson, 2011).
No entanto, as mais recentes investigaes sugerem a PHDA como um distrbio
neurolgico determinado por fatores genticos e avanam com a identificao de genes
candidatos envolvidos na regulao do sistema dopaminrgico que por sua vez enerva os
circuitos frontoestriados, aumentando a suscetibilidade para uma PHDA(Melo, A. R., 2003,
cit. inLoureno, 2009, p. 29).Foram j reconhecidos dois genes, envolvidos na receo e no
transporte da dopamina. O primeiro (D4RD) parece estar relacionado com uma dimenso da
personalidade relacionada com a procura de novidades. O segundo gene (DAT1) est
implicado no mecanismo da dopamina no crebro, ao nvel das regies de comunicao entre
os neurnios (sinapses), que neste caso parece ter a ver com a velocidade com que adopamina removida da sinapse. Esta alterao resulta num processo defeituoso da
dopamina(Baptista, 2010, p. 35).
Contudo, a investigao nesta rea recente, pelo que se supe que tenha ainda um
percurso desenvolvimental a percorrer.
6.3.Fatores Neurolgicos e Neuropsicolgicos
Vrios estudos evidenciam uma associao entre leso cerebral e dfices de ateno e
hiperactividade (ODougherty et al., 1984, cit. inLopes, 1998, p.24).
Contudo, muitos dos especialistas nesta rea, afirmam no existirem efeitos
especficos da leso sobre o comportamento da criana, dependendo do local onde o dano
cerebral est localizado. Assim, embora se admita que as alteraes na estrutura do crebro
originam efeitos psicolgicos, estes no so especficos (Garca, 2001), no havendo ainda um
consenso generalizado a este respeito.Atualmente, afirma-se que as leses do crebro exercem a sua influncia mediante
uma maior vulnerabilidade da criana aos problemas psicolgicos, isto significa pois, que as
leses fsicas do crebro no so necessariamente causas de comportamentos hiperativos e,
pelo contrrio, a manifestao de condutas tais como a atividade motora excessiva, a
impulsividade e a falta de ateno, no so condies determinantes que a criana tenha
sofrido alguma alterao cerebral.
No entanto, noutros estudos da rea, foram detetadas alteraes em determinadasregies do crebro de crianas com PHDA. Essas regies (corpo caloso, vrias estruturas nos
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gnglios da base e cerebelo) tendiam a ser significativamente menores, quando comparadas
com crianas sem a perturbao (Barkley, 2002). Ainda, outros estudos realizados ao nvel da
neuroimagem, revelam que as regies frontais do crebro de indivduos com PHDA tendiam a
apresentar-se como subdesenvolvidas ou sub-activadas, isto , apresentavam um menor fluxo
sanguneo e metabolismo nestas zonas, que se traduzia num comprometimento do
funcionamento cognitivo normal (e.g., Sowell et al., 2003, cit. por Arnsten, 2007; Yeo et al.,
2000, cit. por Arnsten, 2007, Vera et al., 2007, cit. inJlio, 2009; Sowell, et al., 2003, cit. por
Brown & Perrin, 2007, cit. inSantos, 2011).
De acordo com Lopes (2009, p. 16), diferentes estudos realizados tendo por base
tcnicas de imagiologia funcional, tm demonstrado objetivamente algumas diferenas na
estrutura cerebral de indivduos diagnosticados com PHDA. As diferenas envolvemgeralmente o lobo frontal (Fernandes, 2001; Bar-Jimnez, Vicua & Pineda, 2003), os
gnglios basais e o corpo caloso (Boavida, 2006; Boavida, Porfrio, Nogueira & Borges,
1998; Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos & Acosta, 2004; Pinho, Mendes
& Pereira, 2007) e ainda a diminuio do volume cerebral global (Barkley, 2002; Bugalho,
Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos e Acosta, 2004). Tambm so referidas alteraes
nas regies pr-frontais, nocingulum (Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006) e no cerebelo
(e.g., Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos e Acosta, 2004; Mulas, 2004).Ainda outros estudos, demonstram que observvel, tambm, uma diminuio do
tamanho de certas estruturas e regies cerebrais, e a diminuio global de,
aproximadamente, 5% do volume cerebral(Barkley, 1998, cit. inFernandes, 2007, p. 26).
Por sua vez, outra linha de estudos incide sobre a medio da atividade cerebral em
crianas com PHDA, comparativamente a crianas sem PHDA. Estes estudos revelam, a
existncia de atividade cerebral mais baixa na rea frontal do crebro, visvel ao nvel da
atividade eltrica e do fluxo sanguneo(Baptista, 2010, p. 33).Existe, tambm, outra direo da investigao sobre a etiologia desta perturbao que
se dedica a identificar a possvel influncia de alteraes bioqumicas no surgimento destes
problemas. Sergeant et al. (1999, cit. por Nigg et al., 2005, cit. in Santos, 2011, p. 11)
mencionam a importncia de se ter em conta os nveis de estimulao cortical do sistema
neuronal noradrengico localizado no hemisfrio direito e os nveis de esforo coordenados
pelo sistema dopaminrgico do hemisfrio esquerdo.
A dopamina e a norepinefrina so as duas monoaminas mais claramente relacionadas
com a PHDA (e.g., Ramos, 1991, cit. inGarca, 2001; Benczik, 2008).A Dopamina, controla
os nossos impulsos, antecipa as consequncias dos nossos atos, determina o que mais
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importante e porque ordem devemos realizar as nossas tarefas(Antunes, 2009, p. 150). Os
sujeitos com esta perturbao tm nveis, normalmente, baixos de Dopamina, nos circuitos
responsveis pelas funes executivas, da que apresentem dificuldades em focalizar por
tempo prolongado uma tarefa, em organizar o tempo e atividades e em controlar os impulsos.
De uma forma geral, cada vez mais aceite entre a comunidade cientfica que a
PHDA determinada sobretudo por fatores relacionados com o prprio indivduo mais do
que com o meio em que ele est inserido(Lopes, 2004, cit. inJlio, 2009, p. 13).
Porm, esta tambm, uma rea em desenvolvimento, que constitui na atualidade um
desafio para a investigao, no sentido de perceber quais as diferenas efetivamente existentes
nas reas do crebro destes indivduos.
6.4.Fatores Familiares
Segundo os dados de diferentes trabalhos, o nvel socioeconmico, a situao da
famlia e as caractersticas do trabalho ou da ocupao profissional dos pais relacionam-se
com os problemas de conduta observados nas crianas e nos adolescentes(Garca, 2001, p.
35), porm mais do que serem responsveis pela etiologia da PHDA, as caractersticas
associadas ao contexto familiar parecem ser uma varivel preditiva da mesma. No entanto,
continua a ser comum referir o estilo educativo e aspetos relacionados com a interao
familiar como estando na origem desta perturbao(Jlio, 2009, p. 16).
Por outro lado, tambm defendida a tese de uma predisposio familiar para este
problema, j que 20 a 35% das crianas com PHDA costumam apresentar um historial
familiar de dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento(Vsquez, 1993, p.
165).
Estudos sobre as interaes familiares de crianas com PHDA, revelam que os paisso mais autoritrios e negativos do que os pais de crianas normais (Barkley et al., 1985, cit.
in Lopes, 1998) e por sua vez, que as crianas hiperativas so menos obedientes e mais
negativas do que as crianas sem a perturbao.
Deste modo, ao procurar explicar o sentido desta influncia, os especialistas
concordam em assinalar que os fatores determinantes no so, provavelmente, as condies
sociais em si mesmas, mas, sim, os seus efeitos psicolgicos sobre a famlia, as atitudes e os
modelos educativos que os pais adotam. Assim, torna-se difcil concluir se so os pais que
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causam os problemas da criana ou se so as crianas que originam as reaes negativas dos
pais.
6.5.Fatores Ambientais e Outros Fatores
Tm, tambm, sido indicados como causa da PHDA, certos aditivos alimentares
(salicilatos, corantes e conservantes), o acar refinado e o chumbo.
Barkley (2002, p. 87) refere-se a um estudo de 1976 em que cerca de 36% de crianas
com elevados nveis de chumbo no organismo foram classificadas pelos seus professores
como desatentas, distradas, impulsivas e hiperativas,porm, nunca foi evidente que esta
substncia origine a PHDA ou mesmo que agrave os seus sintomas.
A ideia de que a ingesto de determinados produtos e aditivos alimentares provocam
PHDA foi construda sobretudo nos anos 70 e 80. No entanto, estudos realizados por Kavale e
Forness (1983, cit. in Jlio, 2009, p. 17) conseguiram contrariar a ideia de que a privao de
determinados alimentos tivesse algum tipo de eficcia no tratamento desta perturbao.
Outra causa que se pode tambm considerar como fator determinante da PHDA, a
privao de sono, dado que a capacidade de ateno e concentrao variam com o cansao e
fatores de ordem emocional. Neves e Reimo (2007, cit. inLopes, 2009, p. 30) realizaram um
estudo com 50 crianas e adolescentes, com idades entre os 4 e os 17 anos, diagnosticados
com PHDA, tendo encontrado ligaes significativas entre as duas variveis. Os autores
concluram que as alteraes do sono so relevantes em sujeitos com PHDA e podem estar
associadas ao aumento de sintomas.
Tambm, o excesso de televiso tem sido outras das causas que aparece,
frequentemente, associada a esta perturbao desenvolvimental. Desses estudos, evidencia-se
o estudo levado a cabo por Christakis et al., em 2004, que avaliou 1278 crianas de 1 ano deidade e 1345 crianas de 3 anos de idade. Os resultados apurados indicam um risco
agravado de virem a apresentar problemas de ateno aos 7 anos, na ordem dos 10%, para
as crianas que veem pelo menos uma hora de televiso por dia. Contudo, o mesmo estudo
no encontrou associao entre o visionamento de televiso e um potencial diagnstico de
PHDA(Christakis, Zimmerman, DiGiuseppe, & McCarty, 2004, cit. inBaptista, 2010, p. 38).
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7. Prevalncia
Considera-se que aproximadamente entre 3% a 5% (e.g., Barkley, 1982; Gutirrez-
Moyano e Becoa, 1989; Serrano, 1990, cit. inGarca, 2001; Parker, 2003; Benczik, 2008;
Daz et al., 2009; Costa et al.,2010; Selikowitz, 2010) das crianas em idade escolar sejam
afetadas pela PHDA. Whalen e Henker (1991, cit. in Garca, 2001) situam a taxa de
prevalncia em populaes normais at aos 15% e em amostras clnicas, em cerca de 50%. De
salientar que descobertas recentes sugerem que at 36% da PHDA na infncia persiste na
idade adulta (Kessler et al., 2006, cit. inMerwood & Asherson, 2011, p. 33).
Porm, as taxas de prevalncia variam de um mnimo de 2% no Japo (Kanbayashi, et
al., 1994, cit. inFernandes, 2007, p. 30), 6% em Espanha (Daz et al.,2009), 3 a 7% nos EUA
(Barkley, 2002), 17,1% no Brasil (Vasconcelos, et al., 2003, cit. inFernandes, 2007, p. 30),
20% na Itlia (O' Leary, et al., 1985,cit. inFernandes, 2007, p. 30) e atingem um mximo de
29% na ndia (Bhata e Malik, 1991, cit. in Fernandes, 2007, p. 30). Esta disparidade de
valores (2% a 29%) pode dever-se a diferenas nos critrios de diagnstico usados e/ou
variao nos critrios de seleo da amostra.
Em relao s taxas de prevalncia da PHDA em Portugal, salienta-se o estudo
realizado em 1996 por Fonseca et al., no qual os dados foram recolhidos atravs da Escala
Revista de Conners para Professores. Nesse estudo verificou-se que as mdias obtidas
utilizando esta escala so geralmente mais elevadas em Portugal do que em estudos
semelhantes com amostras americanas(Jlio, 2009, p. 41). Pelo que se estima que existam
cerca de 35 a 50 mil crianas com esta perturbao (Associao Portuguesa da Criana
Hiperactiva, 2009).
Alguns autores (Fonseca, 1998; Sharkey & Fitzgerald, 2007, cit. inJlio, 2009, p.19)
afirmam que, esta disparidade assenta sobretudo em dificuldades ao nvel metodolgico, ao
nvel da definio dos critrios de diagnstico e das caractersticas dos instrumentos e fontesde informao utilizados, bem como em funo da idade e sexo dos constituintes da amostra .
Weisz e Eastman (1995) sugerem no seu artigo que a prevalncia de uma determinada
psicopatologia na infncia depende sobretudo de dois fatores: do comportamento da criana,
e das lentes atravs das quais os diferentes observadores filtram esse mesmo
comportamento (Jlio, 2009, p. 19).
Por tudo isto, a incidncia real da perturbao difcil de determinar, pois na sua
estimativa influem vrios fatores, como o conceito e definio da PHDA admitido pelosespecialistas