a phda como fator condicionante do sucesso escolar estudo exploratório acerca das perceções dos...

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  • 7/24/2019 A PHDA como Fator Condicionante do Sucesso Escolar Estudo Exploratrio acerca das Percees dos Professores

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    Instituto Superior de Lnguas e Administrao

    A PHDA como Fator Condicionante do Sucesso Escolar

    Estudo Exploratrio acerca das Percees dos Professores

    Mnica Alexandra da Silva Brites Couto

    Tese submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de Mestre em Psicologia daEducao sob a orientao da Professora Doutora Paula Campos e coorientao da Mestre

    Carla Santos.

    Vila Nova de Gaia

    julho de 2012

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    Tese de Mestrado realizada sob a

    orientao da Professora Doutora PaulaCampos e coorientao da Mestre CarlaSantos, apresentada ao Instituto Superior deLnguas e Administrao de Vila Nova deGaia para obteno do grau de Mestre emPsicologia da Educao, conforme o Avison 21412/2009, da DGES, publicado no n229, na 2 Srie do Dirio da Repblica,em 25 de Novembro de 2009.

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    Instituto Superior de Lnguas e Administrao

    A PHDA como Fator Condicionante do Sucesso Escolar

    Estudo Exploratrio acerca das Percees dos Professores

    Mnica Alexandra da Silva Brites Couto

    Aprovada em______

    Composio do Jri

    _________________________________________________Presidente

    _________________________________________________Arguente

    _________________________________________________Orientadora

    Profa. Dra. Paula Campos

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    Dedico esta dissertao minha me.

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    Agradecimentos

    Concluda a ltima etapa na minha vida acadmica, no poderia deixar de expressar omais profundo agradecimento a todos aqueles que me apoiaram nesta longa caminhada e

    contriburam para a realizao deste sonho.

    Quero agradecer Dra. Carla Santos pela motivao e partilha de conhecimentos

    proporcionados durante os nossos encontros.

    Dra. Paula Campos pela orientao ao longo de todo o percurso acadmico e pela

    maneira positiva como transmite os conhecimentos.

    s escolas que fizeram parte deste projeto e particularmente aos professores e

    restantes tcnicos pela disponibilidade e tempo que dispensaram a colaborar neste estudo.

    A todos de uma maneira em geral que me deram incentivo.

    E em especial minha me, por toda a dedicao, amor e coragem que a todo o

    momento demonstra ter por mim. Uma verdadeira inspirao! Por todos os sorrisos e

    ensinamentos, pelo apoio nos momentos mais difceis, a ti me, eu agradeo tudo o que sou

    hoje.

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    Resumo:

    A Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA) uma das principais demandas dasade mental, sendo um dos problemas mais estudados do desenvolvimento da infncia e

    adolescncia.Neste estudo, pretende-se refletir acerca da perceo que os professores tm sobre diferentes aspetosrelacionados com esta problemtica, desde logo, o seu nvel de conhecimentos, a sua perceo acercado condicionamento da PHDA na aprendizagem e as formas de interveno que consideram maisapropriadas.Para tal, aplicou-se um questionrio devidamente elaborado, tendo em conta os objetivos propostos.Participaram neste estudo 124 professores do 1, 2 e 3 ciclos do ensino bsico e ensino secundrio.Os resultados mostram que os participantes tm conhecimento limitado, independentemente dashabilitaes acadmicas, do ciclo que lecionam e do tempo de servio; conclui-se tambm que aPHDA condiciona a aprendizagem e considerada grave. Demonstra-se, ainda, que os professoresvalorizam a interveno familiar e individual.Devido aos avanos da PHDA no mundo cientfico, recomenda-se que se continuem estudos

    especialmente no que diz respeito perceo dos professores.

    Palavras-chave:Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA); professor; perceo;intervenes.

    Abstract:

    The Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is the main quest in mental health, also it is themost studied problematic about childhood and adolescence development.This project, intends to reflect the perception that teachers have on different aspects of ADHD,therefore their level of knowledge, their perception about the conditioning of ADHD in learning andtypes of intervention that might be consider appropriate.For this purpose, it was applied a questionnaire elaborated targeting the main goals. There were 124teachers from all levels of teaching.The results show the participants have limited knowledge independent, of their academic qualification,the level of teaching, the number of years at service; and the disabilities in learning are consideredserious for ADHD. It is also shown that teachers value the individual and family intervention.The advances of ADHD in the scientific world are frequent, and it is recommended more studies aboutthe perception of teachers in this subject.

    Key-words:Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD); teacher; perception; interventions.

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    ndice

    I. Introduo ............................................................................................................................ 1

    II. Enquadramento Terico ................................................................................................... 5

    1. Natureza da PHDA: Evoluo Histrica e Definies .................................................... 5

    2. Definio da PHDA ........................................................................................................ 9

    3. Dimenses Essenciais ................................................................................................... 13

    3.1. Dfice de Ateno .................................................................................................. 13

    3.2. Hiperatividade ........................................................................................................ 14

    3.3. Impulsividade ........................................................................................................ 15

    4. Percurso Evolutivo ........................................................................................................ 16

    4.1. PHDA na Infncia .................................................................................................. 17

    4.2. PHDA na Adolescncia ......................................................................................... 18

    4.3. Incapacidades Provocadas pela PHDA na Infncia e Adolescncia ..................... 18

    5. Diagnstico e Avaliao da PHDA ............................................................................... 21

    6. Etiologia ........................................................................................................................ 24

    6.1. Fatores Pr-natais e Perinatais ............................................................................... 25

    6.2. Fatores Genticos ................................................................................................... 25

    6.3. Fatores Neurolgicos e Neuropsicolgicos ........................................................... 26

    6.4. Fatores Familiares .................................................................................................. 28

    6.5. Fatores Ambientais e Outros Fatores ..................................................................... 29

    7. Prevalncia .................................................................................................................... 30

    8. Problemas Associados e Comorbilidade ....................................................................... 32

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    9. Consequncias da PHDA no Sucesso Escolar .............................................................. 35

    10. Percees e Atitudes dos Professores ........................................................................ 38

    10.1. Estudos sobre a Perceo dos Professores face PHDA ...................................... 40

    11. Interveno na PHDA ............................................................................................... 44

    11.1. Interveno Escolar ............................................................................................... 45

    11.2. Interveno Comportamental ................................................................................. 46

    11.3. Interveno Cognitivo-comportamental ................................................................ 47

    11.4. Interveno Familiar .............................................................................................. 47

    11.5. Interveno Farmacolgica .................................................................................... 48

    11.6. Consideraes acerca da Interveno na PHDA ................................................... 50

    III. Metodologia ..................................................................................................................... 51

    1. Problemtica.................................................................................................................. 51

    2. Objetivo Geral ............................................................................................................... 53

    3. Hipteses ....................................................................................................................... 54

    4. Tipologia do Estudo ...................................................................................................... 54

    5. Variveis ....................................................................................................................... 55

    6. Mtodo e Procedimentos ............................................................................................... 55

    6.1. Seleo da Amostra ............................................................................................... 55

    6.2. Caracterizao da Amostra .................................................................................... 56

    7. Instrumento ................................................................................................................... 59

    7.1. Composio e Elaborao ...................................................................................... 59

    7.2. Validao do Questionrio .................................................................................... 607.2.1. Procedimentos do Estudo Piloto..................................................................... 60

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    7.3. Aplicao ............................................................................................................... 61

    IV. Resultados........................................................................................................................ 63

    1. Anlise Descritiva do Questionrio .............................................................................. 63

    2. Anlise Correlacional .................................................................................................... 69

    V. Anlise e Discusso de Resultados .................................................................................. 77

    1. Anlise Descritiva do Questionrio .............................................................................. 77

    2. Anlise Correlacional .................................................................................................... 83

    VI. Concluso ........................................................................................................................ 87

    VII. Referncias Bibliogrficas ............................................................................................ 89

    1. Bibliografia ................................................................................................................... 89

    2. Netgrafia........................................................................................................................ 90

    VIII. Anexos ........................................................................................................................... 93

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    ndice de Anexos

    Anexo ISubtipos da PHDA (DSM-IV-TR, 2011)

    Anexo IICritrios de Diagnstico para a PHDA(DSM-IV-TR, 2011)

    Anexo IIIQuestionrio sobre a PHDA

    Anexo IVPedido de Autorizao para a aplicao do questionrio

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    Lista de Ilustraes

    Tabela 1Incapacidades adaptada e traduzida de Barkley & Benton, 2010, pp. 11/12..... 19

    Figura 1- Ciclo vicioso dos problemas escolares de crianas hiperativas (adaptado de Weiss

    e Hechtman, 1993, cit. inLopes, 2004, p. 112). ...................................................................... 37

    Tabela 2Anlise Descritiva da Varivel Sexo ..................................................................... 56

    Tabela 3Anlise Descritiva da Varivel Idade .................................................................... 57

    Tabela 4Anlise Descritiva das Habilitaes Acadmicas ................................................. 57

    Tabela 5Anlise Descritiva do Tipo de Formao sobre a PHDA...................................... 57

    Tabela 6Anlise Descritiva da Distribuio dos Professores por Tempo de Servio e pelo

    Ciclo que Lecionam ................................................................................................................. 58

    Tabela 7Anlise Descritiva do Nmero de Professores com Alunos Diagnosticados com

    PHDA e Alunos com Sinais de PHDA .................................................................................... 64

    Tabela 8Anlise Descritiva do Nvel de Conhecimento dos Professores ........................... 65

    Tabela 9Anlise Descritiva do Grau de Gravidade ............................................................. 65

    Tabela 10Anlise Descritiva das Caractersticas da PHDA ................................................ 67

    Tabela 11Anlise Descritiva dos Tipos de Interveno em PHDA .................................... 67

    Tabela 12 Anlise Descritiva Relativa ao Tipo de Especialistas Recomendados pelos

    Professores ............................................................................................................................... 68

    Tabela 13Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 69

    Tabela 14Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 70

    Tabela 15Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 71

    Tabela 16Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 72

    http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371http://c/Users/M%C3%B3nica/Desktop/M/TESE/Tese%20de%20Mestrado.docx%23_Toc330124371
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    Tabela 17Teste de Normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk ........................... 73

    Tabela 18Teste Kruskal-Wallis ........................................................................................... 74

    Tabela 19Frequncia do Grau de Gravidade ....................................................................... 75

    Tabela 20 - Frequncia das Formas de Interveno ................................................................ 76

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    Lista de Siglas

    APCH - Associao Portuguesa da Criana HiperativaDA - Dificuldades de Aprendizagem

    DSM-IV-TRManual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais Texto Revisto

    e.g.exempli gratia por exemplo

    NNmero de sujeitos da amostra

    PHDA- Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno

    SPSSStatistical Package for the Social Sciences

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    I. Introduo

    Os problemas de comportamento e os problemas de aprendizagem em contexto

    escolar constituem uma das principais fontes de preocupao para professores, pais,

    psiclogos e, de uma forma geral, para todos aqueles que se interessam pelos fenmenos

    educativos (Lopes, 1996, p. 3).

    A Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno (PHDA) integra um

    problema clnico frequente, sendo um dos distrbios mais vezes diagnosticado na infncia e

    na adolescncia. Contudo, a ausncia de trabalhos rigorosos que validem empiricamente a

    PHDA, a causa da grande confuso conceptual existente, o abuso no diagnstico e as

    dificuldades em encontrar tratamento adequado(Farr & Narbona, 2003, cit. inLopes, 2009,

    p. 1).

    Atravs do presente estudo pretende-se fazer um resumo de algumas teorias existentes

    acerca da PHDA e determinar qual o estado atual de conhecimento dos professores acerca

    desta mesma temtica, para assim facilitar uma permuta de conhecimentos cientficos que

    permita a elaborao futura de novas estratgias e/ou metodologias mais adequadas e que

    contribuam para a soluo do problema.

    Este trabalho est dividido em cinco captulos principais, sendo o primeiro o

    enquadramento terico que, por sua vez, constitui-se de diferentes partes.

    Na primeira parte apresenta-se a definio do conceito, situando-o historicamente com

    base em diferentes autores. Posteriormente caracteriza-se e conceitua-se a PHDA atravs de

    uma breve reviso da literatura cientfica sobre a temtica, destacando-se os trabalhos de

    Barkley (1990, cit. in Lopes, 1998) que considera esta perturbao uma deficincia no

    desenvolvimento da regulao e manuteno do comportamento por regras e consequncias.

    Num terceiro ponto, faz-se referncia s dimenses essenciais da perturbao, levando

    em conta os critrios atualmente apresentados no Manual de Diagnstico e Estatstica dasPerturbaes Mentais (DSM-IV-TR, 2011). Seguindo as referncias bibliogrficas, como

    caractersticas primrias, apresentam-se o dfice de ateno, a hiperatividade e a

    impulsividade, descrevendo-se separadamente as particularidades associadas a cada uma.

    Achou-se, tambm, pertinente destacar o percurso evolutivo com pormenor para as

    duas fases que se consideram relevantes no desenvolvimento do estudo, ou seja, a infncia e a

    adolescncia, uma vez que este teve como populao alvo professores que lecionam entre o 1

    ciclo e o ensino secundrio.

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    De seguida, explana-se sobre as caractersticas de diagnstico, destacando a

    importncia de uma avaliao individual do comportamento da criana em casa e na escola.

    Caracteriza-se quais as causas associadas a esta perturbao (etiologia), fazendo

    referncia aos diversos fatores enunciados na bibliografia e destaca-se, no ponto seguinte,

    qual a prevalncia desta perturbao, quer na populao portuguesa, quer na populao

    mundial.

    Posteriormente, no deixa de ser importante, no que se refere aos aspetos tericos,

    apresentar os problemas associados e a comorbilidade caracterstica da PHDA. Esta

    perturbao est associada a insucesso escolar, acidentes, depresso, uso de substncias

    ilegais e muito sofrimento (Antunes, 2009, p. 162). So, de facto, muitos os problemas

    associados a esta perturbao e as suas consequncias so preocupantes, ao longo do percursode vida destes indivduos.

    Por este motivo, apresentam-se depois as consequncias da PHDA na aprendizagem,

    salientando-se a inevitvel associao entre a PHDA e as dificuldades em atingir o sucesso

    escolar. Tal como afirma Schachar et al. (1991, cit. inLopes, 1996), no contexto escolar

    uma evidncia a estreita ligao entre esta perturbao e problemas de aprendizagem,

    constituindo a PHDA um fator de risco para a emergncia de problemas de leitura e fracasso

    escolar generalizado.Lecionar em turmas com alunos que apresentam PHDA requer um cuidado especial,

    os comportamentos imprprios e as dificuldades de aprendizagem conduzem ao

    desenvolvimento de sentimentos de averso, quer por parte do aluno, quer por parte do

    professor.

    Por isso, considerar a perceo dos professores, significa atender representao

    mental de uma realidade - a realidade educativa que se encontra imbuda por todo um

    conjunto de concees, crenas e preconceitos, que fazem parte das ideias do prprioprofessor e por consequncia condicionam a sua ao e resposta no cenrio da sua atuao

    (Baptista, 2010, p. 65).

    Assim, e tendo em conta o objetivo central deste estudo, considera-se importante

    perceber qual a perceo e quais as atitudes dos professores face PHDA.

    Por ltimo, referem-se os tipos de interveno, tendo em conta uma viso holstica que

    permita a combinao de diferentes estratgias, no sentido de ajudar o desenvolvimento destes

    indivduos.

    Depois de compreender a PHDA, quais as causas, consequncias e problemas

    associados, o trabalho compe-se de um outro captulo, dedicado Metodologia. Mencionam-

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    se aqui os objetivos do estudo, a seleo da amostra e a caracterizao dos participantes. No

    seguimento, faz-se referncia ao instrumento de pesquisa utilizado bem como os respetivos

    procedimentos de composio, validao e aplicao do mesmo.

    No quarto captulo, sero apresentados os resultados obtidos atravs da aplicao do

    mtodo proposto; seguindo-se a anlise e discusso de resultados de acordo com dois

    organizadores principais: anlise descritiva do questionrio e hipteses.

    No quinto e ltimo captulo, sero apresentadas as principais concluses, e propostas

    algumas sugestes para estudos futuros, no mbito da PHDA.

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    II.Enquadramento Terico

    1. Natureza da PHDA: Evoluo Histrica e DefiniesA abordagem da evoluo histrica do conceito da PHDA torna-se fundamental para a

    compreenso, que se afigura complexa, da definio, conceptualizao, avaliao e

    interveno da PHDA.

    Weiner (1982, cit. in Lopes, 1998) refere a probabilidade de se encontrarem as

    primeiras referncias bibliogrficas ao que denominado vulgarmente por hiperatividade, na

    segunda metade do sc. XIX. Tambm Thorley (1984, cit. in Barbosa, 2005) afirma que no

    final do sculo XIX esta perturbao tinha sido descrita na literatura mdica por termos, taiscomo idiotas loucos, insanidade impulsiva e inibio defetiva.

    Ainda que as primeiras referncias PHDA (ou pelo que, na poca, lhe correspondia)

    paream ter surgido neste sculo, o percursor do estudo foi Heinrich Hoffman, um psiquiatra

    alemo que, no ano de 1845, atravs de desenhos, ilustrou uma breve conduta de uma criana

    com hiperatividade no seu livro de contos Zappel-Philip(e.g., Gaio e Barbosa, 2001, cit. in

    Barbosa, 2005; Barkley, 2006).

    Porm, as primeiras descries cientficas so atribudas a George Frederic Still queem 1902 descreve, na revista mdica The Lancet, o comportamento de crianas

    excessivamente ativas e agitadas, com falta de ateno, dificuldades na aprendizagem e

    problemas de comportamento, caracterizando-as como tendo Defeitos Mrbidos de Controle

    Moral (e.g., Lopes, 1996; Barkley, 2006; Fernandes, 2007; Benczik, 2008; Lopes, 2009).

    Nos finais da primeira Guerra Mundial (1917-1918), a PHDA foi associada a leses

    cerebrais, devido ao eclodir do surto de encefalite na Europa e Estados Unidos. Considera-se

    que foi a partir dessa altura que os americanos comearam a demonstrar o seu interesse pelaperturbao (e.g., Lopes, 2004; Benczik, 2008; Baptista, 2010). Nessa altura, muitos clnicos

    depararam-se com um grande nmero de crianas que, apesar de terem sobrevivido a esta

    infeo cerebral, apresentavam significativas sequelas a nvel cognitivo e comportamental.

    Hohman (1992, cit. inFernandes, 2007) observou um comportamento similar ao da PHDA

    nas crianas que sobreviveram epidemia de encefalite, descrevendo-as como limitadas na

    sua ateno, na regulao da atividade e na impulsividade. De facto, sintomas essenciais ao

    que hoje denominado de PHDA. Estas crianas apresentavam tambm alteraes cognitivas

    na memria e eram socialmente disruptivas. Este quadro sintomatolgico era resultado de

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    um dano cerebral e foi apelidado de Distrbio Ps-encefaltico do Comportamento

    (Barkley, 2006, p. 5, cit. inBaptista, 2010, p. 17).

    Em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen, sugerem que a PHDA provm de origem

    orgnica e desenvolve-se devido a uma disfuno troncoenceflica. Surge, desta forma, o

    conceito de Sndrome de Impulsividade Orgnica(Fernandes, 2007).

    De acordo com a perspetiva de Lopes (2004), os diversos trabalhos publicados entre

    1936 e 1941 por Bradley, Bowen, Goldstein, Molitch e Ecles, contriburam significativamente

    para a evoluo do conceito de PHDA.

    Assim, nos anos 50, a noo de leso cerebral, referida at ento para descrever a

    PHDA, deu lugar noo de Perturbao Comportamental Hipercintica, que seria

    causada por uma leso ou disfuno do diencfalo. Denhoff (1959, cit. inLoureno, 2009, p.22) referiu que a perturbao seria uma espcie de disfuno cerebral, uma vez que no era

    comprovada evidncia de leso cerebral na maioria das crianas. Descrevia-a como uma

    perturbao hipercintica do impulso, caracterizada pela agitao, hiperatividade,

    diminuio progressiva da ateno, concentrao escassa, distrao e irritabilidade. Esta

    ideia faz antever a noo de Disfuno Cerebral Mnima elaborada por Clements e Peters,

    em 1962.

    precisamente por volta dos anos 60 que os estudos comeam a ter maior rigorcientfico (Fonseca, 1998, cit. inJlio, 2009, p. 2) passando a ser colocado nfase na atividade

    motora como a componente essencial da perturbao (Werry, 1968; Werry e Sprague, 1968;

    Wender, 1971, cit. inLopes, 1998), o que leva a que esta passe a ser designada de Reao

    Hipercintica da Infncia, no DSM-II (1968).No entanto, continuam a prevalecer diferentes

    conceitos para designar uma mesma perturbao.

    Surgem, nesta altura, divergncias entre a posio americana e a posio dos europeus

    relativamente caracterizao deste distrbio. Nos Estados Unidos, a hiperatividade tendia aser vista como um sndrome comportamental relativamente frequente, fundamentalmente

    caracterizada por nveis de atividade superiores ao normal, no necessariamente associada a

    uma patologia cerebral e constituindo um grau extremo na variao normal do temperamento

    infantil (Barkley, 1990, cit. inLopes, 1996). Na Europa, houve alguma diviso de opinies.

    Enquanto na Holanda (um dos mais importantes centros europeus de investigao nesta rea)

    se evidenciou a tendncia para seguir a posio americana, na Inglaterra a hiperatividade era

    encarada como um estado extremo de excesso de atividade, muito pouco comum e

    frequentemente associada a outros sinais de leso cerebral (como epilepsia ou atraso mental).

    Como resultado desta divergncia de posies, os critrios diagnsticos, as estimativas de

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    prevalncia e as prescries de tratamento apresentavam diferenas considerveis (Lopes,

    1996).

    Mais tarde, no decorrer da dcada de 70, elaborado um trabalho de investigao

    conducente elaborao de critrios de diagnstico e de pesquisa mais precisos. Tal como

    afirma Lopes (2004), surgem nesta altura inmeros estudos sobre a PHDA e, no final da

    dcada,estimavam-se j milhares de artigos, livros e textos cientficos publicados. tambm

    nos anos 70 que a hiperatividade deixa de ser o fator essencial da perturbao, dando-se agora

    maior nfase ao dfice de ateno e impulsividade. Douglas (1972, cit. inLopes, 1998) aponta

    precisamente para a necessidade de se considerar a desateno e a impulsividade como

    problemas persistentes da perturbao e Douglas e Peters (1979) reafirmam a importncia dos

    problemas de ateno. Como resultado destas investigaes, o DSM-III (1980)reconceptualiza a Reao Hipercintica da Infncia que d lugar ao Distrbio de Dfice

    de Ateno, designao que adota os problemas de ateno como sintoma fulcral e no os da

    atividade motora como havia sido proposto anteriormente (e.g., Vsquez, 1993; Benczik,

    2008).

    Se, tal como referido, na dcada de 70 haviam surgido uma imensido de trabalhos

    sobre a PHDA, a dcada de 80 acentuou visivelmente essa tendncia, tornando-se esta

    perturbao a mais estuda da infncia e adolescncia. Os modelos de pesquisa tornam-setecnicamente mais complexos e assim alguns autores afirmam que nem sempre se encontram

    problemas de ateno em crianas com esta perturbao (Douglas, 1983, 1988; Draeger et al.,

    1986; Sergeant, 1988, cit. in Lopes, 1998) e verifica-se que os fatores instrutivos e

    motivacionais tm extrema importncia na determinao, presena e grau dos sintomas desta

    perturbao, o que leva alguns investigadores a colocarem em hiptese um modelo

    motivacional explicativo dos dfices verificados nas crianas com esta perturbao (Sroufe,

    1975, cit. inLopes, 1998).Ainda nos anos 80, outras investigaes apontam para o impacto scioecolgico dos

    sintomas da PHDA nas crianas, pais, professores, familiares e pares (Barkley et al., 1985;

    Whalen et al., 1980, 1981; Mash e Johnston, 1983, cit. inLopes, 1998). Estes investigadores

    estudam, ainda, os efeitos de medicamentos estimulantes nestes contextos. Os resultados

    destes estudos corroboram a ideia que os comportamentos adversos e de rejeio podiam ser

    bastante reduzidos com a administrao de estimulantes. Destas descobertas cientficas

    emergiu a opinio que a PHDA como condio incapacitante no residia apenas na criana,

    mas tambm na relao entre as capacidades da criana e as exigncias ambientais do

    contexto scioecolgico em que a criana atua. No DSM-III-R (1987) so revistos os critrios

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    que definiam o Distrbio de Dfice de Ateno e esta perturbao passa a ser designada de

    Distrbio Hiperativo de Dfice de Ateno e includo na categoria dos distrbios do

    comportamento.

    Os primeiros anos da dcada de 90 constituram-se no s como uma poca de

    reflexo sobre todas as investigaes realizadas nas dcadas anteriores, tambm como uma

    poca de ativa investigao, sobretudo no sentido de validar os modelos e hipteses

    anteriormente desenvolvidos.

    Esta tendncia mantem-se com a chegada do ano dois mil, contudo, destacam-se os

    trabalhos de investigao sobre hereditariedade, gentica molecular e neuroimagem.

    Confirma-se a base hereditria da PHDA e calcula-se ter-se descoberto genes candidatos,

    relacionados com a perturbao. Foram tambm reconhecidas novas regies cromossmicas,que podem estar relacionadas com a PHDA, embora esta rea precise ainda de maior

    investigao para a devida confirmao. No surgiram, novas teorias sobre a PHDA, no

    entanto as teorias existentes, a par dos avanos, impulsionaram ainda mais a investigao

    sobre a perturbao com base na neuropsicologia.(Barkley, 2006, p. 36/37).

    O conceito de PHDA constitui-se de diversas perspetivas, sendo o objetivo principal

    de todas elas, encontrar uma definio livre de controvrsias e o mais consensual possvel. As

    primeiras teorias restringiam a definio s suas causas e sintomas, associando estaperturbao a leses cerebrais. Com o evoluir da investigao, novas teorias surgem e

    comeou-se a perceber que a PHDA no se resumia apenas aos seus sintomas e causas e que

    tinha consequncias em vrios domnios. As investigaes apontam para o impacto

    scioecolgico dos sintomas da PHDA, com especial destaque para o familiar e escolar. Mais

    tarde, verificou-se a persistncia destes comportamentos durante a vida adulta e determinou-

    se a importncia do seu tratamento.

    Em sntese e considerando uma perspetiva atual, segundo o DSM-IV-TR (2011), adesignao utilizada por toda a comunidade cientfica, a de Perturbao de Hiperatividade

    com Dfice da Ateno (PHDA) e so considerados trs subtipos consoante o padro

    sintomtico predominante nos ltimos seis meses: Perturbao de Hiperatividade com Dfice

    da Ateno, tipo Misto [F90.0]; Perturbao de Hiperatividade com Dfice da Ateno, Tipo

    Predominantemente Desatento [F98.8] e Perturbao de Hiperatividade com Dfice da

    Ateno, Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo [F90.0] (ver anexo I).

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    2. Definio da PHDA

    Como ficou demonstrado no ponto anterior, a PHDA uma das perturbaes mais

    estudadas e tambm uma das mais controversas. Partindo agora para a sua definio,

    considera-se vantajoso abordar diferentes perspetivas, uma vez que se pressupe que cada

    nova informao contribui para uma melhor clarificao das perspetivas que envolvem esta

    questo.

    Surgem, duas definies de PHDA: (1) uma que Barkley (1990) denomina "definio

    de consenso" e que traduz as tendncias essenciais da literatura at aos anos 90 e uma outra

    (2) que inclui novos dados de investigao e integra uma importante reconceptualizao do

    problema.

    (1) DEFINIO DE "CONSENSO"

    "Attention-Deficit Hyperactivity Disorder is a developmental disorder characterized by

    developentally inappropriatedegrees of attention, overactivity, and impulsivity.These often

    arise in early childwood; are relativelychronice in nature; and are not readily accounted for

    on the basis of gross neurological, sensory, language, or motor impairment, mental

    retardation, or severe emotionaldisturbance. These difficulties are typically associatedwith

    deficits in rule-governed behavior and in maintaining a consistent pattern of work

    performance over time"(Barkley, 1990, p. 47, cit. inLopes, 1996, p. 65).

    A dcada de 90, tal como referido anteriormente, constituiu-se como uma poca de

    ativa investigao, sobretudo no sentido de validar os modelos e hipteses anteriormente

    desenvolvidos. Uma das hipteses mais consistentes considera como fundamental para a

    caracterizao da PHDA as dificuldades de adeso a regras e instrues, refletindo aquilo que

    se denomina dfices no comportamento autorregulado (Barkley, 1981, 1982, 1985, 1990,1994; Douglas, 1988; Grodzinsky, 1990; Kendall & Braswell, 1984; Whalen, Henker &

    Dolemoto, 1981, cit. in Lopes, 1996, p. 92), ou seja, a PHDA no se constitui

    fundamentalmente como um distrbio ao nvel da ateno mas sim um problema

    desenvolvimental de inibio de respostas. Partindo dos pressupostos mencionados, Barkley

    (1990) avana com uma redefinio do conceito de PHDA.

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    (2) REDEFINIO DA PHDA

    "ADHD consist of developmental deficiencies in the regulation and maintenance of behavior

    by rules and consequences. These deficiences give rise to problems with inhibiting, initiating,

    or sustaining responses to tasks or stimuli, and adhering to rules or instructions, particularly

    in situations where consequences for such behavior are delayed, weak, or nonexistent. The

    deficiences are evident in early childwood and are probably chronic in nature. Although they

    may improve with neurological maturation, the deficits persist in comparison to same-age

    normal children, whose performance in these areas also improves with development"

    (Barkley, 1990, p. 71, cit. inLopes, 1996, pp. 93/94).

    Mais tarde, surge o estudo realizado por Goodman e Poillon (1992). Estesinvestigadores fizeram a reviso de vrios artigos e livros dedicados ao tema (48), com o

    objetivo de operacionalizarem as diferentes perspetivas acerca da PHDA. Identificaram

    sessenta e nove caractersticas diferentes e trinta e oito possveis causas para a perturbao.

    As mais referidas foram: baixa capacidade de ateno (32), hiperatividade (29), impulsividade

    (28), distrao (20), dificuldade em acompanhar os contedos (15), fraca coordenao motora

    (10), problemas de conduta (9), problemas de concentrao (9), o facto de ser um conjunto

    precoce de sintomas (9), maior necessidade de superviso (8) e dificuldade em esperar pelasua vez (7) (Baptista, 2010, p. 23).

    O conjunto de caractersticas encontradas nesta investigao elucidativo da

    controvrsia que sempre envolveu esta perturbao. Pode verificar-se que, para alm da falta

    de consenso entre os investigadores sobre as caractersticas referidas, muitas delas tm

    natureza subjetiva e contraditria. Perante toda esta controvrsia instituda volta da PHDA,

    Barkley e um conjunto de mais 80 investigadores, assinaram uma declarao - International

    Statement on ADHD (Barkley, 2002, cit. in Baptista, 2010), com a finalidade de criaruniformidade, em relao aos critrios utilizados na definio da perturbao, caractersticas

    de diagnstico e outros aspetos considerados fundamentais nesta rea.

    Corroborando a ideia anteriormente apresentada, diferentes autores, consideram que

    esta uma das perturbaes da infncia mais frequentemente diagnosticada e representa na

    atualidade um tema de grande importncia para a Sade Pblica (Costa et al., 2010, p. 16).

    A PHDA caracterizada, pela generalidade de autores,por dificuldades em manter a ateno

    (e.g., distrao, dificuldades em completar tarefas), atividade excessiva (e.g., agitao

    motora) e impulsividade (e.g., interromper os outros) em nveis que so inconsistentes com a

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    fase de desenvolvimento da criana (Anastopulos, 1996; Barkley, 2004; DuPaul, Junod &

    Flammer, 2004, cit. inMalaca, 2008, p. 8).

    As crianas em idade escolar tm dificuldade em estar sentadas, levantam-se

    constantemente, mexem-se nas cadeiras, ficam sentadas na borda das cadeiras, transportam

    objetos de um lado para o outro, batem palmas e mexem os ps e as pernas excessivamente

    (DSM-IV-TR, 2011).

    Tipicamente, esta considerada uma perturbao crnica, cujos sintomas se

    comeam a notar na infncia e se estendem at idade adulta (Barkley, 2004; Barkley,

    Fisher, Smallish & Fletcher, 2002, cit. por DuPaul et. al., 2004, cit. inMalaca, 2008, p. 8),

    influenciando a relao entre pais e filhos, bem como o desempenho escolar e as relaes

    com os pares (Barkley, 1990, cit. por Anastopoulos, 1996, cit. in Malaca, 2008, p. 8).Raramente ocorre de forma isolada, estando associada a perturbaes comportamentais,

    como a perturbao de oposio e comportamentos de agressividade, perturbaes

    emocionais e desmotivao escolar(Anstopoulos, 1996; Barkley, 2004, cit. inMalaca, 2008,

    p. 9).

    Segundo o Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais (DSM-IV-

    TR, 2011, p. 85) a principal caracterstica da PHDA um padro persistente de falta de

    ateno e/ou impulsividade-hiperatividade, com uma intensidade que mais frequente egrave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nvel semelhante de

    desenvolvimento.

    Este padro ,tal como referem outros autores,caracterizado por nveis desajustados

    de focalizao e manuteno da ateno, modulao da atividade motora e de controlo dos

    impulsos(Poeta & Neto, 2004; Fabiano et al., 2010, cit. inSantos, 2011, p. 4).

    Porm, a conceptualizao cognitiva da PHDA, como um problema de ateno ou

    hiperatividade/impulsividade, tem vindo a ser substituda por teorias que tm por base osdfices motivacionais, particularmente, os que se ligam com perturbao de base biolgica da

    regulao do comportamento por regras e consequncias.

    Desta forma, a PHDA hoje considerada uma perturbao com base neurobiolgica,

    caracterizada pelo inadequado desenvolvimento das capacidades de ateno e, em alguns

    casos, por impulsividade e/ou hiperatividade (Parker, 2003, p. 8). A Investigao

    Neuropsicolgica conceptualiza a PHDA, como um distrbio neurocognitivo, em que a auto-

    regulao, a inibio do controlo, bem como, a auto-conscincia dos resultados explcitos e

    implcitos do comportamento so caractersticas fundamentais a avaliar (Zimmerman &

    Martinez-Pons, 1990; cit. por Lopes, 2004; Sonunga-Barke, 2002; Anderson et al., 2001;

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    Tirapu-Ustrroz et al.,2005, cit. inCosta et al., 2010, p. 17). A PHDA envolve, portanto,

    segundo Barkley (2012) dfices de autocontrolo, autoconhecimento, automotivao e

    autodireo para a resoluo de problemas.

    Conclui-se que a investigao tende a prosseguir no sentido de melhor clarificar a

    definio desta perturbao, surgindo, a cada nova investigao, diferentes teorias, cada vez

    mais complexas, fruto dos avanos significativos das cincias que procuram incessantemente

    uma definio para esta perturbao.

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    3. Dimenses Essenciais

    Diferentes autores distinguem entre dimenses essenciais ou caractersticas primrias

    e caractersticas secundrias (e.g., Lopes, 2004; Barkley, 2006; Lopes, 2009). Como

    caractersticas primrias, apresentam o dfice de ateno, a hiperatividade e a impulsividade;

    no que se refere s caractersticas secundrias, estas so vistas como consequncia das

    caractersticas primrias. Barkley (1998a, cit. in Lopes, 2009, p. 14) fala-nos destas

    caractersticas englobando-as da seguinte forma: problemas cognitivos, atraso da

    linguagem, menor capacidade de adaptao, problemas ao nvel do desenvolvimento motor,

    dfice da autorregulao das emoes, dificuldades na realizao acadmica e realizao de

    tarefas e ocorrncia de alguns riscos de sade (maior probabilidade de terem acidentes,

    dificuldades em adormecer e agitao durante o sono).

    Isto quer dizer que todos ns exibimos sintomas desta perturbao pontualmente,

    sendo que o que destaca as crianas com o diagnstico dos seus pares sem o diagnstico a

    sua predisposio gentica para apresentarem esses sintomas num grau significativamente

    superior ao considerado normal para a idade e gnero em questo(Levy et al.,1997; cit. in

    DuPaul & Stoner, 2007, cit. inBaptista, 2010, p. 36).

    Contudo, e de acordo com os critrios levados em conta atualmente, para que um

    indivduo se qualifique para o diagnstico de PHDA, basta apenas apresentar os sintomas de

    desateno, de hiperatividade ou de impulsividade descritos no DSM-IV-TR (e.g., Parker,

    2003; Daz, et al., 2009) (ver anexo II), e que se apresentam a seguir.

    3.1.Dfice de Ateno

    De acordo com a perspetiva da neuropsicologia a capacidade de ateno,

    considerada um conceito multidimensional, que pode englobar problemas de alerta, de

    ativao, de seletividade, de manuteno da ateno, de distractibilidade, de nvel de

    apreenso, entre outros(Barkley, 2006, cit. inBaptista, 2010, p. 40)

    O mbito da ateno , habitualmente, o sintoma da PHDA que causa maiores

    problemas na escola, embora no seja to visvel quanto a hiperatividade ou a impulsividade.

    Os mecanismos de ateno destas crianas so ineficazes. Isto significa quetm uma

    grande dificuldade em concentrarem-se em tarefas entediantes como, por exemplo, trabalhos

    escolares, que pem sistematicamente prova estes mecanismos (Selikowitz, 2010, p. 20).

    Por outro lado apresentam mais dificuldades de memorizao e de seguir instrues

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    (Loureno, 2009, p. 32). inevitvel que estas crianas apresentem grandes dificuldades em

    estar com ateno num contexto de sala de aula, no qual existem inmeros distratores, que

    desfocalizam a sua ateno.

    Arajo e Silva (2003, cit. in Lopes, 2009, p. 15) referem que as crianas com PHDA

    so frequentemente acusadas devido sua falta de ateno, mas, o que acontece na verdade

    que elas mostram ateno a tudo ao mesmo tempo. As suas dificuldades relacionam-se com

    o facto de no conseguirem focalizar a ateno de forma seletiva.Esta a razo pela qual

    muitas vezes no terminam os trabalhos em que esto envolvidas e procuram algo que seja

    mais interessante, mais divertido e estimulante.

    As crianas com PHDA, em vez de continuarem com a tarefa que estavam a realizar,

    apresentam uma elevada probabilidade de saltar de um estmulo distrator para outro estmulodistrator, e assim sucessivamente, acabando por se descurar o que estavam inicialmente a

    fazer.

    3.2.Hiperatividade

    A hiperatividade outra caracterstica comum s crianas com PHDA,

    correspondendo desadequada e excessiva atividade motora ou oral da criana e aos seus

    comportamentos grosseiros e desnecessrios.

    A nvel motor, frequente estas crianas mexerem permanentemente as mos e as

    pernas, demostram tambm grandes dificuldades em estar quietas ou paradas e,

    particularmente, exibem agitao constante. Ao nvel da atividade oral, so caracterizadas por

    falarem excessivamente, mesmo em situaes em que no aconselhvel o fazer.

    Por norma, as crianas que so hiperativas mostram-se bastante mais irrequietas e

    do mostras de um excesso de atividade bastante mais marcante, fazendo-o em muitas maissituaes do que o fazem os seus pares no hiperativos (Parker, 2003, p.10).

    Os pais costumam descrev-las como sendo irrequietas, falam de mais e no

    conseguem ficar quietas, os professores, mencionam as suas ausncias do lugar sem

    permisso, dizem que estes alunos respondem fora de vez e referem ainda a sua necessidade

    de mexer em coisas de que no necessitam no momento (e.g., Lopes, 1996; Baptista, 2010).

    De acordo com Barkley (2002, cit. in Baptista, 2010, p. 44), a hiperatividade faz parte

    do mesmo problema que a impulsividade, pois ambos os sintomas esto associados a uma

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    dificuldade na inibio do comportamento. Por seu lado, a desateno pode, segundo o

    mesmo autor, estar relacionada com esta falta de inibio.

    3.3.Impulsividade

    A impulsividade tambm um conceito de natureza multidimensional, que abrange

    vrios constructos. Para uns autores ela est relacionada com o controle executivo, com o

    adiamento da gratificao, com o esforo e mesmo com a condescendncia(Olson, Shilling

    & Bat, 1999 inBarkley, 2006; p. 81, cit. inBaptista, 2010, p. 42).Para outros trata-se de um

    processo executivo, motivacional e automtico da inibio da ateno (Nigg, 2000; in

    Barkley, 2006; p. 81, cit. inBaptista, 2010, p. 42).

    A impulsividade exterioriza-se por impacincia, fraca manuteno da inibio

    resposta (Gordon, 1979, cit. in Lopes, 1998), dificuldade em esperar pela gratificao

    (Barkley, 1990; Rapport, Tucker, DuPaul, Merlo & Stoner, 1986, cit. in Jorge, 2007),

    dificuldade em parar para pensar antes de agir(Selikowitz, 2010) ou ainda fraca aderncia a

    ordens para regular ou inibir o comportamento, muitas vezes ao ponto de estas crianas,

    provocarem problemas em situaes sociais e escolares.

    Contudo, as crianas com PHDA no se comportam com impulsividade por

    ignorncia. Normalmente sabem to bem como as outras da mesma idade o que devem e no

    devem fazer. No entanto, reagem de uma forma reflexa (impulsiva) ao que acontece sua

    volta(Selikowitz, 2010, p. 46).

    Assim, as crianas com PHDA, embora tenham conscincia das consequncias dos

    seus comportamentos, no conseguem agir de acordo com esse conhecimento sobre o futuro,

    sendo as suas aes orientadas por o impulso do momento.A sua resposta obedece a um

    esquema de reforo imediato, uma vez que no conseguem manter a ateno nas suas

    representaes internas e guiar as suas aes por uma perspetiva futura(Jorge, 2007, p. 41).

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    4. Percurso Evolutivo

    Nos primeiros anos de vida, na fase pr-escolar, existem no comportamento infantil

    certos indicadores que apontam para a possibilidade de problemas posteriores. Para alm de

    serem irrequietas, estas crianas oferecem maior resistncia aos cuidados habituais e tm

    normalmente problemas durante o sono e alimentao.

    Porm, com a entrada no ensino bsico que se tornam evidentes as dificuldades das

    crianas com PHDA menos acentuada. A necessidade de organizarem cadernos e trabalhos e

    permanecerem sentadas e focadas durante um perodo de tempo relativamente prolongado,

    no uma tarefa fcil para estas crianas. o lpis que cai com frequncia inusitada, a

    necessidade de ir casa de banho a cada meia hora, o interesse pelo mais pequeno rudo que

    faz descolar os olhos do professor, o cochichar constante e a resposta intempestiva(Antunes,

    2009, p. 155).

    Com o aproximar da adolescncia, o excesso de atividade motora diminui e os jovens

    com PHDA caracterizam-se nesta fase, por serem impacientes e por se sentirem incomodados

    nas situaes em que se lhes exige o alcance de resultados acadmicos satisfatrios. ,

    tambm, na adolescncia que, em geral, se anunciam as consequncias de uma PHDA no

    diagnosticada: baixa autoestima, fraca imagem de si prprio, desmotivao para o trabalho

    escolar, depresso, o que associado impulsividade leva com frequncia a comportamentos

    de risco.

    Conclui-se, dos trabalhos realizados sobre a evoluo das crianas alguns anos depois

    de terem sido diagnosticadas, que algumas melhoraram em mbitos problemticos como a

    inquietude, a falta de ateno e a concentrao. Muito poucas desenvolvem perturbaes

    psicolgicas graves, embora muitas permaneam com problemas de adaptao s normas

    sociais, problemas emocionais e, inclusivamente, dificuldades de aprendizagem.

    O ideal seria que a deteo precoce do problema pudesse levar a uma intervenoque tornasse a adaptao escolar mais fcil (Antunes, 2009, p. 156). Descrevem-se, com

    mais pormenor, de seguida as duas fases que se consideram pertinentes para o

    desenvolvimento do estudo, uma vez que este tomou como populao alvo professores que

    lecionam no 1, 2 e 3 ciclos do ensino bsico e no ensino secundrio.

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    4.1.PHDA na Infncia

    Com a entrada para o 1 ciclo do ensino bsico os comportamentos que estas crianas

    apresentam como caractersticos da perturbao, vo certamente agravar-se ainda mais dada a

    imaturidade que as caracteriza a todos os nveis.

    Durante esta idade a criana hiperativa ocupa o primeiro plano da sua turma. Por um

    lado, no capaz de respeitar a disciplina imposta na escola; por outro tem mais

    dificuldades na aprendizagem do que os seus colegas(Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 44).

    Estas crianas no conseguem estar sentadas durante perodos muito longos, a sua ateno

    deficitria, no conseguindo seguir instrues muito longas, tm tambm dificuldades em

    organizar o material e no cumprem as tarefas at ao fim. A sua relao com os pares pode ser

    comprometida. As crianas com PHDA tornam-se aos poucos, solitrias, no por opo mas

    por rejeio dos amigos de escola. Estes afastam-se por diversas razes, como, conduta

    agressiva; desrespeito por todas as regras dos jogos e pela frequente atitude dominadora. O

    que reafirma o condicionamento da PHDA no sucesso escolar.

    Barkley (1998, cit. in Loureno, 2009) menciona que as dificuldades apresentadas

    pelas crianas ao nvel da capacidade para ficar sentada, ouvir, obedecer, inibir o

    comportamento impulsivo, cooperar, organizar aes, seguir instrues, partilhar, brincar de

    modo adequado e interagir de forma simptica com os outros, vo certamente interferir com o

    sucesso acadmico destas crianas.

    Todas estas caractersticas, como a imaturidade, o pouco tempo que capaz de estar

    atenta, a incapacidade de se concentrar durante longos perodos de tempo, as atitudes

    impulsivas, no se solucionam simplesmente deixando passar o tempo, pelo contrrio, tudo

    isto pode agravar-se.

    Como consequncia do fracasso escolar, pessoal e social que a criana com PHDA

    vivncia diariamente, comeam a manifestar-se sentimentos de insatisfao e mal-estar(Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 46). Manifestaes muito frustrantes que podem levar a

    sentimentos de averso ou mesmo de hostilidade.

    A partir dos sete anos, se a criana no for ajudada, possvel que comece a revelar

    sintomas de depresso como consequncia da sua incapacidade para se adaptar s exigncias

    paternas, escolares e dos seus companheiros. A PHDA uma perturbao do comportamento

    que deve ser adequadamente tratada (Polaino-Lorente & vila, 2004).

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    4.2.PHDA na Adolescncia

    A adolescncia, para os indivduos com PHDA, constitui tambm um perodo muito

    difcil da sua vida, tal como j referido anteriormente.

    A situao escolar o maior problema do adolescente que tem no seu percurso

    inmeros falhanos e insucessos a esse nvel. A criana instvel torna-se um adolescente com

    pouca capacidade de concentrao, um estilo cognitivo impulsivo, distrbios do

    comportamento e ocasionalmente dificuldades especficas de aprendizagem (Melo, A. R.,

    2003, cit. inLoureno, 2009, p. 59).

    Com o aumento da exigncia ao nvel da responsabilidade, identidade, mudana de

    aparncia fsica, aceitao por parte do grupo, relaes amorosas, etc., que se esperam que

    aconteam nesta fase desenvolvimental, a adolescncia para um indivduo com PHDA torna-

    se ainda mais um perodo especialmente complexo, levando muitas vezes a comportamentos

    de risco. O primeiro problema o abuso de lcool ou adio a qualquer outra droga. O

    adolescente com PHDA mais propenso do que outros jovens da sua idade a abusar deste

    tipo de substncias, j que algumas delas tm para ele um efeito sedativo. O segundo

    problema o abuso de experincia sexuais (Polaino-Lorente & vila, 2004, p. 47). O

    adolescente com PHDA (tal como qualquer outro adolescente) no tem a maturidade

    suficiente para compreender e integrar na sua vida o desenvolvimento sexual e o papel que a

    sexualidade desempenha na vida humana, este facto, ligado impulsividade que o caracteriza,

    leva-o frequentemente a realizar atos sexuais desajustados.

    De facto, e de acordo com as referncias bibliogrficas, o nmero de adolescentes com

    PHDA grvidas superior ao de adolescentes sem a perturbao.

    Por todos estes motivos, no se deve descuidar a interveno junto dos jovens

    adolescentes pois as consequncias para as suas vidas podem ser nefastas.

    4.3.Incapacidades Provocadas pela PHDA na Infncia e Adolescncia

    Como foi possvel verificar, a PHDA no um problema unicamente especfico da

    infncia, e exige um cuidado especial e uma interveno adequada para que os fatores de risco

    diminuam.

    Apresenta-se de seguida uma tabela que integra de forma resumida as incapacidades

    caractersticas das fases desenvolvimentais anteriormente apresentadas.

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    Incapacidades caractersticas

    da infncia

    Incapacidades caractersticas

    da adolescncia

    Conflitos e stresse familiar Mau funcionamento no trabalho

    Relacionamento pobre entre pares Frequentes mudanas de emprego

    Poucas ou nenhumas amizades

    Comportamento sexual de risco / aumento da

    gravidez na adolescncia e doenas

    sexualmente transmissveis

    Comportamentos disruptivosConduo insegura (excesso de velocidade,

    acidentes frequentes)

    Poucos cuidados com a segurana pessoal/

    aumento das leses acidentais

    Dificuldades de gesto financeira (gastos

    impulsivos, uso excessivo de cartes de

    crdito, pouca ou nenhuma poupana, etc.)

    Desenvolvimento tardio do autocuidadoProblemas no namoro ou relacionamento

    conjugal

    Desenvolvimento tardio da responsabilidade

    pessoalMenos comum, mas de salientar:

    Desempenho escolar inferior mdia

    Comportamentos antissociais (mentir, roubar,

    lutar), que levam ao contato frequente com a

    polcia e at mesmo priso, muitas vezes

    tambm associado a um maior risco de uso de

    drogas ilegais

    Menos anos de escolaridade

    Estilo de vida em geral, menos saudvel

    (menos exerccio, mais sedentarismo,

    compulso alimentar ou bulimia, nutrio

    deficitria, maior uso de nicotina e lcool) e,

    consequentemente, um aumento significativo

    do risco de doena cardaca

    Tabela 1Incapacidades adaptada e traduzida de Barkley & Benton, 2010, pp. 11/12

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    Pela anlise da tabela, pode-se afirmar que a PHDA est na origem de muitas das

    incapacidades presentes durante as fases de desenvolvimento anteriormente descritas, sendo

    que a maioria dos sintomas de instabilidade tm incio na infncia ou na adolescncia.

    Uma grande percentagem de indivduos com PHDA demonstra de facto ter problemas

    durante esta etapa de desenvolvimento.

    Na infncia, surgem problemas ao nvel familiar e de relacionamento entre pares.

    Estas crianas tm normalmente um temperamento explosivo, colrico quando contrariadas,

    agressivas e com pouco sentido de responsabilidade (Loureno, 2009). Para alm disso, e tal

    como referido anteriormente, estas crianas tm um desempenho escolar inferior mdia.

    Na adolescncia, um perodo por si s de grandes mudanas, quando associada

    PHDA, pode levar a comportamentos de risco. Encontram-se mais relaes entre as baixasexpectativas futuras e a falta de confiana. Outros comportamentos, como roubos e incidentes

    pblicos, comportamentos sexuais de risco e aumento da gravidez, tornam-se tambm mais

    frequentes. O mercado de trabalho pode constituir-se tambm como outro problema para os

    adolescentes com PHDA.

    Por isso, mais uma vez se salienta a importncia de uma interveno adequada na

    PHDA, pois pode-se afirmar que a qualidade de vida nestas fases desenvolvimentais est

    intimamente relacionada com a sade mental e bem-estar psicolgico dos indivduos.

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    5. Diagnstico e Avaliao da PHDA

    O primeiro passo para a elaborao de uma interveno adequada da PHDA a

    realizao de uma avaliao e diagnstico corretos.

    A avaliao da PHDA desenvolve-se dentro de uma perspetiva multidisciplinar, pois

    tem em conta os dados proporcionados por provas de natureza distinta e por especialistas de

    diferentes reas.

    Os membros desta equipa de avaliao so, normalmente, mdicos, psiclogos e

    elementos da escola, como professores, conselheiros ou especialistas em aprendizagem

    (Parker, 2003, p. 15).

    Boavida, Porfrio e Borges (1998, cit. inLopes, 2009), consideram que a avaliao de

    crianas ou adolescentes com PHDA dever incluir uma avaliao cognitiva e acadmica,

    tendo como objetivo estabelecer um perfil psicomtrico e de desempenho acadmico. Os

    autores evidenciam que particularmente til na determinao das reas fracas e na recolha

    de informaes sobre aspetos especficos da capacidade de ateno, de aprendizagem e de

    inteligncia. Os autores referenciam, tambm, a necessidade de incluir na avaliao mdica, o

    maior nmero de informaes possveis: histria pessoal e familiar, fatores de risco (pr, peri

    e ps-natais), exame fsico, avaliao do neurodesenvolvimento, da viso e da audio.

    Embora no exista um nico teste que, por si s, seja capaz de diagnosticar a PHDA

    de forma vlida e fivel, existe um nmero de procedimentos de avaliao que, em conjunto,

    podem proporcionar informao til na formulao de um diagnstico(Parker, 2003).

    O diagnstico necessita da avaliao individual do comportamento da criana em casa

    e na escola, no devendo esta ser realizada em contexto clnico.

    No mbito psicolgico, os especialistas prestam ateno a trs aspetos do problema: os

    dfices de ateno, o nvel de atividade motora e o comportamento geral da criana no seu

    meio natural. Portanto, a avaliao da perturbao baseia-se nos testes que o psiclogo aplica criana e nos que administra aos pais e aos professores, com o objetivo de obter informao

    sobre a sua conduta em casa e na escola (Garca, 2001).

    Os meios utilizados para a recolha de informao relevante atravs da prpria criana,

    incluem testes para detetar deficincias percetivas e cognitivas; observaes do

    comportamento e mtodos mecnicos que registam o nvel de atividade em situaes

    especficas.

    Por sua vez, quando a fonte de informao so os adultos, utilizam-se entrevistas eescalas de avaliao. As entrevistas devem ser sobretudo estruturadas e semiestruturadas, e

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    fornecem, para alm dos valores objetivos, a dimenso fenomenolgica que as escalas e

    questionrios no conseguem (Loureno, 2009). A entrevista constitui geralmente uma

    primeira aproximao ao indivduo identificado ou a pessoas significativas da sua vida.

    Trata-se assim de um primeiro passo no processo de avaliao (Melo, A. R., 2003, cit. in

    Loureno, 2009, p. 43). No entanto, este mtodo por si s no chega para a avaliao desta

    perturbao, pelo que deve ser complementada com outros instrumentos.

    Farr e Narbona (2003, cit. in Lopes, 2009) fazem especial referncia a dois

    instrumentos que consideram de maior difuso para a avaliao da PHDA, o Questionrio de

    Gillberg(1982) e asEscalas para Pais e Professores de Conners (1969, 1978, 1980).

    Tambm Parker (2003) menciona algumas das escalas mais utilizadas na avaliao da

    PHDA: Escala de Avaliao de Conners para Professores Revista; Escala de Avaliao deConners para PaisRevista e DDAHEscala de Avaliao Compreensiva (Fichas para Pais

    e para Professores).

    Por sua vez, Lopes (2004) faz referncia ao que considera ser um dos questionrios

    mais teis na avaliao da PHDA, elaborado pela Associao Americana de Psiquiatria

    (APA) em 1994. Menciona tambm o Rating Scale-IV (ADHD) de DuPaul, Power,

    Anastopoulos e Reid, de 1998, para pais e professores.

    As escalas de avaliao comportamental, tal como os questionrios e os inventriostm-se tornado progressivamente elementos-chave no processo de avaliao da PHDA. A

    disponibilizao de diferentes escalas com boas propriedades psicomtricas e

    estandardizadas para amostras de grande abrangncia (em termos de idades, cultura e

    etnia), conduz sua utilizao segura na determinao do grau de desvio do problema da

    criana em relao a uma norma(Barkley, 1998, cit. inLoureno, 2009, p. 45).

    Estes instrumentos so, de facto, amplamente utilizados, pois permitem avaliar as

    crianas, mediante a informao proporcionada por pais, professores e adultos em geral, quepermanecem em contacto com a criana no seu meio natural. Para alm disso, so provas de

    fcil e rpida aplicao e as suas posteriores correo e interpretao no exigem muito

    tempo, nem muito esforo.

    Deste modo, o estudo psicolgico da criana comea por norma com a avaliao

    individual feita prpria criana e s depois de feita esta avaliao, se aplicam as entrevistas

    e escalas aos adultos, habitualmente os pais e professores da criana.

    Por sua vez, tambm importante referir que para o diagnstico correto da PHDA,

    deve ser tida em conta a avaliao mdica, que de acordo com Barbosa et al. (2005, p. 20)

    deve incluir uma cuidadosa recolha de dados da histria pessoal e familiar, fatores de risco

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    (pr, peri e ps natais), exame fsico e avaliao do neuro-desenvolvimento, da viso e da

    audio.

    Porm, e apesar de existirem hoje diversos mtodos para a avaliao desta

    perturbao, coloca-se um problema em relao padronizao dos resultados, isto , no

    estabelecimento de valores estatsticos que permitam com alguma segurana diferenciar a

    populao com PHDA da que no sofre do problema(Antunes, 2009, p.149).

    Segundo o DSM-IV-TR para ser diagnosticada, exige-se que estejam presentes pelo

    menos seis sintomas de falta de ateno, seis ou mais de hiperatividade ou impulsividade,

    durante pelo menos seis meses e com efeitos negativos no funcionamento da criana em pelo

    menos dois contextos distintos, como a casa e a escola (ver anexo II). No entanto, o DSM-IV-

    TR apresenta algumas limitaes no plano da avaliao (Loureno, 2009):

    Os estudos para o desenvolvimento e testagem dos critrios de diagnstico foram

    realizados com indivduos institucionalizados;

    O nmero de critrios para estabelecer o diagnstico baseia-se em dados empricos;

    Os atuais critrios de diagnstico no tm em conta as diferenas de gnero nem a

    influncia da idade;

    As caractersticas comportamentais referidas no DSM-IV-TR so subjetivas e sujeitas

    a interpretaes pessoais dos observadores.

    Considera-se, porm, que os instrumentos referidos so, sem dvida, teis para a

    avaliao e diagnstico da PHDA. E salienta-se que, independentemente da ferramenta que se

    utilize, deve ser tido em ateno que quanto mais informaes se conseguir reunir, mais

    credvel ser o diagnstico.

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    6. Etiologia

    Desde a segunda metade da dcada de 80 que a investigao sobre a compreenso da

    etiologia da PHDA se tem desenvolvido acentuadamente. Neste percurso, tm sido

    demonstradas vrias explicaes e anuladas tantas outras (Barkley, 2006). Atualmente, as

    investigaes parecem comprovar o contributo de explicaes biolgicas, evidenciando-se

    uma forte componente gentica e hereditria, sobretudo em formas de hiperatividade mais

    graves(Willcutt et al., 2000, cit. inJlio, 2009, p. 8).

    Segundo Garca (2001), apesar de se tratar de uma perturbao frequente na infncia e

    adolescncia e que h bastante tempo objeto de interesse por parte de mdicos e psiclogos,

    os fatores que a originam no esto ainda identificados de forma precisa, sendo que a causa

    especfica da PHDA em qualquer indivduo frequentemente indetetvel e permanece

    inexplicada (Parker, 2003, p. 14).

    Porm, a investigao nesta rea aponta para mltiplas etiologias, entre as quais as

    mais provveis referem-se a fatores biolgicos, atraso na maturao, fatores pr e perinatais,

    influncias genticas e outras variveis prprias do ambiente da criana. Neste sentido, e com

    o objetivo de clarificar a origem da PHDA, optou-se por citar, nos pontos que a seguir se

    apresentam, os diferentes fatores que contribuem para o aparecimento desta perturbao,

    atravs de uma diviso proposta pela autora, com base em diferentes referncias

    bibliogrficas.

    Esta necessidade de simplificar a perturbao revela a importncia de redefinir os

    subtipos da PHDA tal como estipulados pelo DSM-IV-TR e, possivelmente incluir novas

    categorias de subtipos aos critrios de diagnstico, de modo a permitir que este se faa de

    modo mais claro, preciso e idiossincrtico possvel. Isto porque, o esquema de categorizao

    do DSM-IV-TR parece ser insuficiente para enquadrar a estrutura etiolgica e fenotpica da

    PHDA, uma vez que, pequenas variaes nos nveis sintomticos levam a grandes alteraesna classificao do subtipo(Lahey et al, 2005, cit. inSantos, 2011, p. 17).

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    6.1.Fatores Pr-natais e Perinatais

    A ao exercida pelo meio ambiente pr-natal e as dificuldades surgidas durante a

    gravidez tm sido referidas como causas relacionadas com as perturbaes da conduta

    infantil.

    Alguns autores afirmam que as crianas prematuras, com baixo peso nascena, que

    sofreram anoxemia durante o parto ou infees neonatais, tm maior probabilidade de

    desenvolver problemas comportamentais e PHDA.

    De acordo com Jlio (2009, p. 12), outros estudos evidenciam tambm relaes entre

    a PHDA e a idade da me(Chandola et al., 1992), o ms de nascimento(Mick et al., 1996), a

    durao do trabalho de parto (Chandola et al., 1992), bem como a prematuridade do

    nascimento (Cherkes-Julkoskwi, 1998; Mick et al., 2002).

    O consumo de tabaco, o abuso de lcool e o stresse psicolgico da me no perodo

    pr-natal so igualmente variveis que se relacionam diretamente com os problemas de

    conduta observados na infncia.

    Gold e Sherry (1984, cit. inGarca, 2001) corroboram esta ideia, referindo que o abuso

    de lcool durante a gravidez responsvel por dfice de ateno, problemas de aprendizagem,

    perturbaes do comportamento e atraso psicomotor, contudo, a sua influncia no universal

    nem determinante. Com menos evidncia surgem tambm estudos que evidenciam o carcter

    preditor do consumo de tabaco(Barkley, 2002; Button et al., 2005; Milberger et al., 1996, cit.

    inJlio, 2009, p. 12), no surgimento da perturbao.

    6.2.Fatores Genticos

    Existem inmeras evidncias de que os fatores genticos so causas importantes em

    PHDA (Selikowitz, 2010, p. 132).

    Lahey et al. (1988, cit. in Lopes, 1998) verificam a presena de uma elevada

    prevalncia de PHDA entre os familiares de crianas com esta perturbao. Tambm os

    estudos de Barkley e Edelbrock (1987, cit. inLopes, 1998) indicam que entre 20% a 30% dos

    pais e irmos de crianas com PHDA apresentam o distrbio.

    Ainda no que se refere influncia gentica, surgem referncias a estudos com

    gmeos, que corroboram um certo papel dos genes na transmisso da desateno e

    hiperatividade. Goodman e Stevenson (1989, cit. in Lopes, 1998, p.26), no maior estudo

    realizado com gmeos, encontraram uma concordncia para a hiperatividade de 51% entre

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    gmeos monozigticos e de 33% entre os gmeos dizigticos.Outros estudos situam esta taxa

    na faixa de 70% a 80% (Faraone et al., 2005; Burt, 2009, cit. inMerwood & Asherson, 2011).

    No entanto, as mais recentes investigaes sugerem a PHDA como um distrbio

    neurolgico determinado por fatores genticos e avanam com a identificao de genes

    candidatos envolvidos na regulao do sistema dopaminrgico que por sua vez enerva os

    circuitos frontoestriados, aumentando a suscetibilidade para uma PHDA(Melo, A. R., 2003,

    cit. inLoureno, 2009, p. 29).Foram j reconhecidos dois genes, envolvidos na receo e no

    transporte da dopamina. O primeiro (D4RD) parece estar relacionado com uma dimenso da

    personalidade relacionada com a procura de novidades. O segundo gene (DAT1) est

    implicado no mecanismo da dopamina no crebro, ao nvel das regies de comunicao entre

    os neurnios (sinapses), que neste caso parece ter a ver com a velocidade com que adopamina removida da sinapse. Esta alterao resulta num processo defeituoso da

    dopamina(Baptista, 2010, p. 35).

    Contudo, a investigao nesta rea recente, pelo que se supe que tenha ainda um

    percurso desenvolvimental a percorrer.

    6.3.Fatores Neurolgicos e Neuropsicolgicos

    Vrios estudos evidenciam uma associao entre leso cerebral e dfices de ateno e

    hiperactividade (ODougherty et al., 1984, cit. inLopes, 1998, p.24).

    Contudo, muitos dos especialistas nesta rea, afirmam no existirem efeitos

    especficos da leso sobre o comportamento da criana, dependendo do local onde o dano

    cerebral est localizado. Assim, embora se admita que as alteraes na estrutura do crebro

    originam efeitos psicolgicos, estes no so especficos (Garca, 2001), no havendo ainda um

    consenso generalizado a este respeito.Atualmente, afirma-se que as leses do crebro exercem a sua influncia mediante

    uma maior vulnerabilidade da criana aos problemas psicolgicos, isto significa pois, que as

    leses fsicas do crebro no so necessariamente causas de comportamentos hiperativos e,

    pelo contrrio, a manifestao de condutas tais como a atividade motora excessiva, a

    impulsividade e a falta de ateno, no so condies determinantes que a criana tenha

    sofrido alguma alterao cerebral.

    No entanto, noutros estudos da rea, foram detetadas alteraes em determinadasregies do crebro de crianas com PHDA. Essas regies (corpo caloso, vrias estruturas nos

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    gnglios da base e cerebelo) tendiam a ser significativamente menores, quando comparadas

    com crianas sem a perturbao (Barkley, 2002). Ainda, outros estudos realizados ao nvel da

    neuroimagem, revelam que as regies frontais do crebro de indivduos com PHDA tendiam a

    apresentar-se como subdesenvolvidas ou sub-activadas, isto , apresentavam um menor fluxo

    sanguneo e metabolismo nestas zonas, que se traduzia num comprometimento do

    funcionamento cognitivo normal (e.g., Sowell et al., 2003, cit. por Arnsten, 2007; Yeo et al.,

    2000, cit. por Arnsten, 2007, Vera et al., 2007, cit. inJlio, 2009; Sowell, et al., 2003, cit. por

    Brown & Perrin, 2007, cit. inSantos, 2011).

    De acordo com Lopes (2009, p. 16), diferentes estudos realizados tendo por base

    tcnicas de imagiologia funcional, tm demonstrado objetivamente algumas diferenas na

    estrutura cerebral de indivduos diagnosticados com PHDA. As diferenas envolvemgeralmente o lobo frontal (Fernandes, 2001; Bar-Jimnez, Vicua & Pineda, 2003), os

    gnglios basais e o corpo caloso (Boavida, 2006; Boavida, Porfrio, Nogueira & Borges,

    1998; Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos & Acosta, 2004; Pinho, Mendes

    & Pereira, 2007) e ainda a diminuio do volume cerebral global (Barkley, 2002; Bugalho,

    Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos e Acosta, 2004). Tambm so referidas alteraes

    nas regies pr-frontais, nocingulum (Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006) e no cerebelo

    (e.g., Bugalho, Correa e Viana-Baptista, 2006; Castellanos e Acosta, 2004; Mulas, 2004).Ainda outros estudos, demonstram que observvel, tambm, uma diminuio do

    tamanho de certas estruturas e regies cerebrais, e a diminuio global de,

    aproximadamente, 5% do volume cerebral(Barkley, 1998, cit. inFernandes, 2007, p. 26).

    Por sua vez, outra linha de estudos incide sobre a medio da atividade cerebral em

    crianas com PHDA, comparativamente a crianas sem PHDA. Estes estudos revelam, a

    existncia de atividade cerebral mais baixa na rea frontal do crebro, visvel ao nvel da

    atividade eltrica e do fluxo sanguneo(Baptista, 2010, p. 33).Existe, tambm, outra direo da investigao sobre a etiologia desta perturbao que

    se dedica a identificar a possvel influncia de alteraes bioqumicas no surgimento destes

    problemas. Sergeant et al. (1999, cit. por Nigg et al., 2005, cit. in Santos, 2011, p. 11)

    mencionam a importncia de se ter em conta os nveis de estimulao cortical do sistema

    neuronal noradrengico localizado no hemisfrio direito e os nveis de esforo coordenados

    pelo sistema dopaminrgico do hemisfrio esquerdo.

    A dopamina e a norepinefrina so as duas monoaminas mais claramente relacionadas

    com a PHDA (e.g., Ramos, 1991, cit. inGarca, 2001; Benczik, 2008).A Dopamina, controla

    os nossos impulsos, antecipa as consequncias dos nossos atos, determina o que mais

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    importante e porque ordem devemos realizar as nossas tarefas(Antunes, 2009, p. 150). Os

    sujeitos com esta perturbao tm nveis, normalmente, baixos de Dopamina, nos circuitos

    responsveis pelas funes executivas, da que apresentem dificuldades em focalizar por

    tempo prolongado uma tarefa, em organizar o tempo e atividades e em controlar os impulsos.

    De uma forma geral, cada vez mais aceite entre a comunidade cientfica que a

    PHDA determinada sobretudo por fatores relacionados com o prprio indivduo mais do

    que com o meio em que ele est inserido(Lopes, 2004, cit. inJlio, 2009, p. 13).

    Porm, esta tambm, uma rea em desenvolvimento, que constitui na atualidade um

    desafio para a investigao, no sentido de perceber quais as diferenas efetivamente existentes

    nas reas do crebro destes indivduos.

    6.4.Fatores Familiares

    Segundo os dados de diferentes trabalhos, o nvel socioeconmico, a situao da

    famlia e as caractersticas do trabalho ou da ocupao profissional dos pais relacionam-se

    com os problemas de conduta observados nas crianas e nos adolescentes(Garca, 2001, p.

    35), porm mais do que serem responsveis pela etiologia da PHDA, as caractersticas

    associadas ao contexto familiar parecem ser uma varivel preditiva da mesma. No entanto,

    continua a ser comum referir o estilo educativo e aspetos relacionados com a interao

    familiar como estando na origem desta perturbao(Jlio, 2009, p. 16).

    Por outro lado, tambm defendida a tese de uma predisposio familiar para este

    problema, j que 20 a 35% das crianas com PHDA costumam apresentar um historial

    familiar de dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento(Vsquez, 1993, p.

    165).

    Estudos sobre as interaes familiares de crianas com PHDA, revelam que os paisso mais autoritrios e negativos do que os pais de crianas normais (Barkley et al., 1985, cit.

    in Lopes, 1998) e por sua vez, que as crianas hiperativas so menos obedientes e mais

    negativas do que as crianas sem a perturbao.

    Deste modo, ao procurar explicar o sentido desta influncia, os especialistas

    concordam em assinalar que os fatores determinantes no so, provavelmente, as condies

    sociais em si mesmas, mas, sim, os seus efeitos psicolgicos sobre a famlia, as atitudes e os

    modelos educativos que os pais adotam. Assim, torna-se difcil concluir se so os pais que

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    causam os problemas da criana ou se so as crianas que originam as reaes negativas dos

    pais.

    6.5.Fatores Ambientais e Outros Fatores

    Tm, tambm, sido indicados como causa da PHDA, certos aditivos alimentares

    (salicilatos, corantes e conservantes), o acar refinado e o chumbo.

    Barkley (2002, p. 87) refere-se a um estudo de 1976 em que cerca de 36% de crianas

    com elevados nveis de chumbo no organismo foram classificadas pelos seus professores

    como desatentas, distradas, impulsivas e hiperativas,porm, nunca foi evidente que esta

    substncia origine a PHDA ou mesmo que agrave os seus sintomas.

    A ideia de que a ingesto de determinados produtos e aditivos alimentares provocam

    PHDA foi construda sobretudo nos anos 70 e 80. No entanto, estudos realizados por Kavale e

    Forness (1983, cit. in Jlio, 2009, p. 17) conseguiram contrariar a ideia de que a privao de

    determinados alimentos tivesse algum tipo de eficcia no tratamento desta perturbao.

    Outra causa que se pode tambm considerar como fator determinante da PHDA, a

    privao de sono, dado que a capacidade de ateno e concentrao variam com o cansao e

    fatores de ordem emocional. Neves e Reimo (2007, cit. inLopes, 2009, p. 30) realizaram um

    estudo com 50 crianas e adolescentes, com idades entre os 4 e os 17 anos, diagnosticados

    com PHDA, tendo encontrado ligaes significativas entre as duas variveis. Os autores

    concluram que as alteraes do sono so relevantes em sujeitos com PHDA e podem estar

    associadas ao aumento de sintomas.

    Tambm, o excesso de televiso tem sido outras das causas que aparece,

    frequentemente, associada a esta perturbao desenvolvimental. Desses estudos, evidencia-se

    o estudo levado a cabo por Christakis et al., em 2004, que avaliou 1278 crianas de 1 ano deidade e 1345 crianas de 3 anos de idade. Os resultados apurados indicam um risco

    agravado de virem a apresentar problemas de ateno aos 7 anos, na ordem dos 10%, para

    as crianas que veem pelo menos uma hora de televiso por dia. Contudo, o mesmo estudo

    no encontrou associao entre o visionamento de televiso e um potencial diagnstico de

    PHDA(Christakis, Zimmerman, DiGiuseppe, & McCarty, 2004, cit. inBaptista, 2010, p. 38).

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    7. Prevalncia

    Considera-se que aproximadamente entre 3% a 5% (e.g., Barkley, 1982; Gutirrez-

    Moyano e Becoa, 1989; Serrano, 1990, cit. inGarca, 2001; Parker, 2003; Benczik, 2008;

    Daz et al., 2009; Costa et al.,2010; Selikowitz, 2010) das crianas em idade escolar sejam

    afetadas pela PHDA. Whalen e Henker (1991, cit. in Garca, 2001) situam a taxa de

    prevalncia em populaes normais at aos 15% e em amostras clnicas, em cerca de 50%. De

    salientar que descobertas recentes sugerem que at 36% da PHDA na infncia persiste na

    idade adulta (Kessler et al., 2006, cit. inMerwood & Asherson, 2011, p. 33).

    Porm, as taxas de prevalncia variam de um mnimo de 2% no Japo (Kanbayashi, et

    al., 1994, cit. inFernandes, 2007, p. 30), 6% em Espanha (Daz et al.,2009), 3 a 7% nos EUA

    (Barkley, 2002), 17,1% no Brasil (Vasconcelos, et al., 2003, cit. inFernandes, 2007, p. 30),

    20% na Itlia (O' Leary, et al., 1985,cit. inFernandes, 2007, p. 30) e atingem um mximo de

    29% na ndia (Bhata e Malik, 1991, cit. in Fernandes, 2007, p. 30). Esta disparidade de

    valores (2% a 29%) pode dever-se a diferenas nos critrios de diagnstico usados e/ou

    variao nos critrios de seleo da amostra.

    Em relao s taxas de prevalncia da PHDA em Portugal, salienta-se o estudo

    realizado em 1996 por Fonseca et al., no qual os dados foram recolhidos atravs da Escala

    Revista de Conners para Professores. Nesse estudo verificou-se que as mdias obtidas

    utilizando esta escala so geralmente mais elevadas em Portugal do que em estudos

    semelhantes com amostras americanas(Jlio, 2009, p. 41). Pelo que se estima que existam

    cerca de 35 a 50 mil crianas com esta perturbao (Associao Portuguesa da Criana

    Hiperactiva, 2009).

    Alguns autores (Fonseca, 1998; Sharkey & Fitzgerald, 2007, cit. inJlio, 2009, p.19)

    afirmam que, esta disparidade assenta sobretudo em dificuldades ao nvel metodolgico, ao

    nvel da definio dos critrios de diagnstico e das caractersticas dos instrumentos e fontesde informao utilizados, bem como em funo da idade e sexo dos constituintes da amostra .

    Weisz e Eastman (1995) sugerem no seu artigo que a prevalncia de uma determinada

    psicopatologia na infncia depende sobretudo de dois fatores: do comportamento da criana,

    e das lentes atravs das quais os diferentes observadores filtram esse mesmo

    comportamento (Jlio, 2009, p. 19).

    Por tudo isto, a incidncia real da perturbao difcil de determinar, pois na sua

    estimativa influem vrios fatores, como o conceito e definio da PHDA admitido pelosespecialistas