UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DÉBORA CRISTINA ROSÁRIO DE JESUS
ORIENTADOR:
PROFº. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
Rio de Janeiro Julho/2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DÉBORA CRISTINA ROSÁRIO DE JESUS Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.
Rio de Janeiro Julho/2005
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois sem Ele nada poderia
fazer em minha vida; aos meus pais Gentil e Valdete que
sempre me apoiaram em todos os sentidos e em todos os
momentos; ao professor Vilson Sérgio de Carvalho que sem a
sua orientação não seria capaz de construir esta monografia.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa a todos aqueles que se
empenham a fim de melhorar a qualidade de vida de cada
indivíduo.
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EPÍGRAFE
“Para Wallon, movimento (ação), pensamento e linguagem são
uma unidade inseparável. O movimento é o pensamento em ato,
e o pensamento é o movimento sem ato”. FONSECA (1983)
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo uma explanação sobre a importância da Psicomotricidade para crianças da Educação Infantil, iniciando com o conceito e origem da Psicomotricidade até sua atuação dentro da Educação Infantil, conscientizando pais e professores sobre a importância da estimulação ambiental para o desenvolvimento psicomotor infantil. Baseia-se em uma pesquisa bibliográfica reunindo informações de autores como Wallon, Piaget, Costallat, Oliveira, Alves, dentre outros descritos no decorrer do trabalho. Neste contexto, podem-se verificar as abordagens descritas pela literatura sobre o presente assunto e percebe-se que a Psicomotricidade se insere na Educação Infantil agindo como um agente facilitador da aprendizagem, auxiliando no desenvolvimento social, afetivo e motor da criança, fazendo com que a criança se desenvolva de maneira adaptada em seu ambiente. Pode-se concluir que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona para a criança algumas das capacidades básicas que irão auxiliá-la em seu desempenho não só no âmbito escolar, mas ao longo de toda a sua vida.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................08
CAPÍTULO I - PSICOMOTRICIDADE: CONCEITUAÇÃO............11
1.1 – Conceito e Breve histórico dos estudos sobre a
Psicomotricidade.......................................................................................11
1.2 – O cérebro: A maturação neurológica e o ato motor.................13
1.3 – Áreas Psicomotoras...........................................................................16
CAPITULO II - CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DE PIAGET E
WALLON PARA A PSICOMOTRICIDADE........................................21
2.1 – Piaget e a construção do conhecimento: aprendizagem e
movimento..................................................................................................21
2.2 – Wallon: movimento, afetividade e inteligência..............................26
2.3 – O desenvolvimento psicomotor infantil até os seis
anos.............................................................................................................30
CAPITULO III – CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.........................................................36
3.1 – Educação psicomotora.....................................................................36
3.2 – Psicomotricidade e Educação Infantil............................................39
3.3 – Alternativas e possibilidades de trabalho com a Psicomotricidade:
Atitudes de pais e professores...................................................................42
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................45
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................47
FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................49
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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo discutir sobre a importância da Psicomotricidade
como um aspecto do processo ensino-aprendizagem. Aborda as questões psicomotoras
especificamente na Educação Infantil, posto que nesse período a criança passa por
grandes processos de aprimoramento motriz e psíquico que estão estreitamente ligados
e desenvolvendo-se gradativamente.
O trabalho psicomotor cria condições favoráveis para o desenvolvimento das
capacidades básicas da criança, aumentando o seu potencial motor, utilizando o
movimento para atingir aquisições mais elaboradas, tais como as intelectuais
(OLIVEIRA, 2003).
No período escolar, a Psicomotricidade pode ser trabalhada pelo educador
através de atividades enriquecedoras e lúdicas com o objetivo de um melhor
desenvolvimento das habilidades motoras dos alunos, com a utilização do movimento.
Conforme Alves (2003), o movimento permite à criança explorar o mundo exterior
através de experiências concretas sobre as quais são construídas as noções básicas para
o desenvolvimento intelectual.
É necessário que se crie condições de dar a chance a cada criança de poder
desenvolver da melhor forma suas próprias potencialidades e, acreditamos que um dos
ambientes propícios para este fim é a escola. A relação com as crianças da mesma
idade e com possibilidade de crescer junto a elas através de atividades motoras coletivas
e até mesmo individuais traz para a criança uma necessidade fundamental de
movimento, de investigação e de expressão corporal tão importante ao seu
desenvolvimento, cabendo, também, ao professor, a responsabilidade de realizar um
trabalho psicomotor de qualidade.
O tema escolhido tem como intenção relatar sobre o quanto a Psicomotricidade
influencia o aprendizado principalmente na Educação Infantil, pois é nesse momento
que se estabelecem a base e que irá se desenvolver nas séries posteriores. É sabido que
a criança desenvolve a motricidade desde antes do seu nascimento e, a participação da
escola como auxiliadora nesse desenvolvimento é imprescindível.
Este trabalho se destina a afirmar que a Psicomotricidade atua, de maneira
significativa como auxílio para o desenvolvimento integral da criança, auxiliando-a ao
9 longo de sua aprendizagem além de propor uma conscientização dos professores sobre
a importância do trabalho psicomotor como agente facilitador da aprendizagem dentro
do ambiente escolar, tendo como enfoque a Educação Infantil, além de promover, aos
pais e responsáveis, uma tomada de consciência da importância da influência do meio
ambiente sobre o desenvolvimento global de seus filhos.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica onde se pretendeu reunir conteúdos sobre
a importância da Psicomotricidade na Educação Infantil enfocando alguns dos
principais benefícios que o trabalho psicomotor traz à criança nesta fase de sua vida
escolar. Os principais autores abordados nesta dissertação foram Alves, Costallat,
Coste, Fonseca, Le Boulch, Oliveira, Piaget, Wallon, entre outros citados ao longo do
estudo.
Assim, a monografia apresentada foi dividida em três capítulos. No primeiro
capítulo foi abordada a origem e a definição da Psicomotricidade, discutindo as
implicações do Sistema Nervoso e a importância da maturação neurológica para o
desenvolvimento infantil e a definição das áreas psicomotoras que são fundamentais
para um bom desenvolvimento psicomotor do indivíduo.
O segundo capítulo foi explanado as teorias de Piaget, baseando-se no
desenvolvimento cognitivo dividido em etapas sucessivas com diferentes níveis de
complexidade, estando encadeadas umas às outras, e Wallon, centrando o
desenvolvimento cognitivo na psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo
integrado do desenvolvimento humano. Neste capítulo foi dissertado também sobre as
fases do desenvolvimento psicomotor infantil do nascimento até os seis anos de idade
cronológica.
No terceiro capítulo foi relatado sobre o conceito e importância da Educação
Psicomotora para a criança dentro do ambiente escolar, a relação da Psicomotricidade
juntamente com a Educação Infantil e as alternativas e possibilidades de trabalho
psicomotor para os pais, responsáveis, professores e todos aqueles que trabalham e têm
interesse pelos aspectos da Educação Infantil.
Espera-se que este trabalho possa servir de reflexão para todos aqueles da área
de Educação, em especial a área de Educação Infantil que é a base fundamental do
processo de aprendizagem escolar.
10 Entende-se que, se o professor se aprofundar nos conhecimentos concernentes a
Psicomotricidade e utilizá-los em sua prática pedagógica, muitas das dificuldades de
aprendizagem nas crianças serão sanadas, ou pelo menos, atenuadas.
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CAPÍTULO I
PSICOMOTRICIDADE: CONCEITUAÇÃO
1.1– Conceito e breve histórico dos estudos sobre Psicomotricidade
Segundo Oliveira (2003), nossa cultura ocidental sofreu influência dos
pensadores gregos. Os primeiros indícios de um pensamento psicomotor e de sua
importância para o desenvolvimento do ser humano se evidenciam através de
Aristóteles. O pensador grego, em sua análise sobre a ginástica, constatava ser esta
prática de suma importância para um melhor desenvolvimento do espírito,
concebendo que o homem era constituído de corpo e alma.
A partir dessa idéia, muitos teóricos passaram a estudar sobre o assunto,
mantendo corpo e alma unidos, e, outras vezes, como entidades distintas. Descartes,
o pai da filosofia moderna (1596-1650), apresenta um corpo separado da alma. Para
ele, corpo se constitui uma matéria irracional e fonte geradora do pecado, enquanto
que a alma que é a matriz da razão e se eterniza, com a morte, transcendendo o
corpo. Nessa visão dualista entre corpo e alma, é descartada a unidade do ser
humano (LEVIN, 1995).
No final do século XIX, iniciam-se novos estudos nas áreas de neurologia e
psiquiatria levando o termo Psicomotricidade a ser empregado pela primeira vez por
Dupré, em 1920. Esses estudos apontavam a íntima relação entre as anomalias
psicológicas e as motrizes levando, assim, a constatação sobre a inter-relação
existente entre o movimento e o pensamento (MELLO, 1989).
Para Dantas (1990), em 1925 Wallon, um dos pioneiros no estudo da
Psicomotricidade, afirma que o movimento se constitui como categoria fundamental
na construção do psiquismo e ressalta a importância do aspecto afetivo
influenciando sobre o comportamento humano. Para ele, antes de se estabelecer a
comunicação verbal, se evidencia um “diálogo corporal” que será de suma
importância na evolução psicomotora. Na visão de Wallon, a motricidade, a
afetividade e a inteligência estão diretamente ligadas ao desenvolvimento da criança.
12 Muitos foram os teóricos que contribuíram para fundamentar a
Psicomotricidade tais como Luria, Gesell, Piaget, Spitz, dentre outros que se
dedicaram aos aspectos motores, perceptivos, relacionais e cognitivos (OLIVEIRA,
2003).
Le Boulch (1982), trouxe também muitas contribuições buscando o
reconhecimento da educação psicomotora como uma educação de base dentro das
escolas primárias. Outros autores como Lapierre, Vayer, Lagrange, Costallat entre
vários, contribuíram através de seus trabalhos, para um aprofundamento teórico
tanto em nível de educação psicomotora quanto em aspectos voltados à reeducação
e/ou terapia psicomotora possibilitando assim planos de atuação de uma forma mais
segura.
De acordo com Coste (1992), a Psicomotricidade deve ser entendida com base
em três aspectos fundamentais, a saber:
• Movimento: através dos conhecimentos atuais ultrapassa o simples
ato mecânico, se constituindo a base de posturas e posicionamentos
diante da vida;
• Intelectivo: determina todas as qualidades da inteligência do
pensamento humano. É dependente do movimento para se estabelecer,
desenvolver e operar;
• Afetivo: ligada à motivação, a emoção e envolve as relações do
indivíduo com o meio, com o outro e consigo mesmo.
Esses três conhecimentos básicos (o movimento, o intelectivo e o afeto) que
fundamentam a Psicomotricidade, são imprescindíveis para quem almeja um trabalho
psicomotor de qualidade, pois propiciam ao desenvolvimento do indivíduo a promoção,
preservação e recuperação da movimentação corporal de forma equilibrada.
Diante desse aspecto pode-se definir que a Psicomotricidade, segundo a visão de
Costallat (1998), se constitui o estudo relativo às questões motoras psico-afetivas do ser
humano. A mesma seria o ponto de encontro entre a expressão motora (o que a pessoa
faz) e a característica pessoal-emocional de cada ser humano (o que a pessoa sente).
13 Dentro dessa idéia, a Psicomotricidade pode ser entendida como uma função do
ser humano que engloba o psiquismo e a motricidade numa relação encadeada, com o
objetivo de possibilitar o ajustamento do indivíduo, de maneira flexível e harmoniosa,
ao meio que o cerca. Mais que técnica que, através da organização de atividades, crie
condições favoráveis do ser humano conhecer, de uma maneira concreta, o seu ser e o
meio exterior a ele de uma maneira imediata a fim de orientá-lo a atuar de maneira
adaptada ao ambiente em que vive.
Alves (2003), atualmente considera que a Psicomotricidade abrange três campos
de atuação: a Educação Psicomotora (auxilia, preventivamente, o desenvolvimento
integral do indivíduo nas várias etapas de seu crescimento), Reeducação Psicomotora
(reabilitação de pessoas que sofreram problemas neurológicos e que conseqüentemente
apresentam distúrbios psicomotores) e Terapia Psicomotora (atua nas emoções e na
afetividade por meio de jogos corporais).
1.2- O cérebro: A maturação neurológica e o ato motor
De acordo com Oliveira (2003), a criança nasce com estruturas que ainda estão
por se desenvolver; dentre elas destaca-se o Sistema Nervoso. Seu cérebro ainda se
apresenta muito rudimentar, necessitando de condições que favoreçam seu
desenvolvimento. Os movimentos e as ações que o ser humano executa, dependem do
Sistema Nervoso.
O Sistema Nervoso funciona com a finalidade de selecionar e processar as
informações, levando-as para as regiões motoras do cérebro para que sejam executadas
de forma adequada e de acordo com as experiências peculiares de cada sujeito.
Os neurônios, que são células do sistema nervoso capazes de receber e conduzir
estímulos oriundos dos receptores exterioceptivos (pele, olfato paladar, entre outros) e
dos receptores proprioceptivos (músculos, tendões e articulações) e interoceptivos
(vísceras), necessitam de uma estrutura denominada Bainha de Mielina1 (OLIVEIRA,
2003).
Conforme esclarece a mesma autora, entre o sexto mês de gestação, até
aproximadamente os seis anos de idade, há um desenvolvimento bastante significativo
14 das células nervosas. Para que esse desenvolvimento neuronal ocorra de forma
satisfatória, é necessário que as condições nutricionais da mãe sejam adequadas no
período gestacional, pois uma desnutrição, neste momento, implicará na formação de
um número insuficiente de neurônios que não poderão ser acrescidos em uma outra fase.
A alimentação deve ser essencial também após o nascimento do bebê para que haja um
melhor desenvolvimento do Sistema Nervoso.
Outro fator que deve ser considerado é a estimulação do ambiente com a
finalidade de um melhor funcionamento do Sistema Nervoso, o que propicia para a
criança reações e respostas que se traduzem em um número maior de sinapses. De
acordo com Oliveira (2003), sinapse é a conexão entre os neurônios na qual um
neurônio estimula o outro através da liberação de substâncias químicas fazendo com que
haja a propagação do impulso nervoso, e assim, a transmissão da informação seja
realizada. O cérebro vai transmitir a informação de um ponto a outro de um modo que
se torne significativo para a mente.
Existem sinapses que, provavelmente, não trabalham em certas pessoas, mas
guardam um potencial funcional, isto é, podem começar a serem usadas dependendo do
aprendizado. Aprender, de acordo com a visão da Neurologia, significa usar sinapses
normalmente não utilizadas e, se houver um ambiente propício para isso, o Sistema
Nervoso se desenvolverá plenamente.
Diante desses aspectos se pode destacar que, atualmente, sob a visão de
Mendonça (2004), a estimulação do ambiente tão necessária ao desenvolvimento do
Sistema Nervoso não se faz de uma forma satisfatória, pois geralmente a infância
urbana se caracteriza com a criança vivendo em apartamentos ou em casas onde quintais
foram substituídos por áreas acimentadas. As crianças brincam com brinquedos
eletrônicos, com brincadeiras estáticas e assim, trabalham cada vez menos a sua
motricidade de uma maneira global.
O período da criança que vai do zero aos seis anos consiste no momento de
aquisição de toda a aprendizagem de recepção para a realização de tarefas ou soluções
de problemas e é nesse período que ela deve ser suficientemente estimulada, pois é
nesse período que o cérebro está se desenvolvendo de forma contínua. Se essa criança
1 A Bainha de Mielina é uma membrana composta por colesterol, fosfatídeos e açúcares, que reveste as fibras nervosas e é de suma importância na condução das informações, pois determina a velocidade das conexões neuronais (OLIVEIRA, 2003).
15 não foi bem estimulada no período de recepção de informações, provavelmente
ocorrerão falhas na elaboração cognitiva devido ao fato da coleta de informações ser
realizada de modo deficitário.
Nesse aspecto, Alves (2003), afirma que o meio ambiente terá que ser favorável
para que a criança tenha uma maturação adequada, fazendo com que a inteligência seja
desenvolvida. Se esse ambiente não for favorável, o desenvolvimento cognitivo estará
prejudicado proporcionando um campo mental estreito e limitado. Por exemplo,
geralmente, as crianças criadas por pessoas que, não entendendo o processo de
desenvolvimento infantil, deixam as crianças constantemente em frente à televisão ou
em “cercadinhos”, estão limitando a exercitação corporal, e, conseqüentemente negando
a essas crianças a oportunidade de se desenvolverem integralmente.
Com isso a criança, provavelmente passará por sérias dificuldades de
aprendizagem quando forem realizadas as operações concretas e, posteriormente, as
atividades envolvendo as operações formais, porque todas as funções do pensamento
têm como base o desenvolvimento perceptivo-motor e essas questões são percebidas no
momento da criança ingressar na escola, pois é nesse período que se constitui a
aprendizagem sistemática.
Alves (2003), esclarece que a criança cujo desenvolvimento psicomotor é mal
constituído poderá apresentar problemas de escrita, na leitura, na direção gráfica, na
distinção de letras (Ex: b/d), na ordenação de sílabas, na abstração (matemática), na
análise gramatical, entre outras.
Sabendo-se que o cérebro necessita de entrada e saída de informações que
funcionam de forma motora ou fazem parte do desenvolvimento psicomotor de um
indivíduo, é necessário que se trabalhe o corpo e as funções motoras para que haja um
bom desenvolvimento das funções psiconeurológicas e para que haja uma ampliação e
elasticidade do campo mental. A Psicomotricidade, através do movimento, possibilita a
ampliação das percepções, trabalhando a interiorização e favorecendo a construção de
uma inteligência qualitativa.
Alves (2003) relata que, atualmente, a Psicomotricidade dá condições de
desenvolver as capacidades básicas da criança auxiliando-a no aumento de seu potencial
motor, utilizando o movimento como recurso para atingir as aquisições intelectuais,
16 sendo assim, agindo como auxílio para prevenir ou sanar as dificuldades escolares que a
criança apresenta.
Todo o processo cerebral que faz parte do agir e funcionar está vinculado à área
emocional do poder e querer ouvir o outro, de explorar adequadamente as informações.
Sendo assim, é necessário que a impulsividade e a ansiedade não dominem o processo
de modo que se tornem um impedimento na realização da saída da informação, dando
margem para que este quadro se apresente o mais adequado possível revelando, assim,
todo o potencial do indivíduo. Nesse sentido, Alves (2003) vem contribuir quando
afirma que a criança precisa se sentir segura para que possa ter a possibilidade de se
arriscar.
O trabalho psicomotor leva o indivíduo a aprender a descobrir seu potencial, seu
próprio referencial interno, não um referencial imposto como modelo, mas sim
construído através de uma nova maneira de refletir sobre os sucessos e fracassos. Na
Psicomotricidade, o erro e o acerto têm o mesmo peso, porque através do primeiro se
aprende a reparar e o segundo, mantém a auto-estima, pois o único conhecimento
verdadeiro é aquele que o próprio indivíduo adquire em sua experiência pessoal, sendo
ele o único capaz de propiciar a mudança.
1.3– Áreas Psicomotoras
As habilidades psicomotoras são essenciais ao bom desenvolvimento no
processo de aprendizagem. As atividades psicomotoras auxiliam na aquisição de uma
boa noção de espaço, lateralidade e boa orientação com relação ao seu corpo, aos
objetos, as pessoas e aos sinais gráficos. Desse modo, a Psicomotricidade tem como
objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao
indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar
seus gestos a fim de aumentar a eficácia de seus movimentos e equilíbrio.
Oliveira (2003) descreve que, para que uma pessoa consiga manipular os
objetos provenientes de sua cultura, necessita de ter certas habilidades que são
essenciais para realizar essa ação. Essa pessoa precisa saber se movimentar no espaço
com destreza, habilidade, equilíbrio, além de ter domínio do gesto e uma boa
coordenação. Esses movimentos (do mais simples ao mais complexo) devem ser
precisos para que a ação seja executada de modo satisfatório. Diante disso, pode-se
17 perceber a importância das competências e habilidades que são fundamentais para a
criança na prevenção de dificuldades de aprendizagem (ALVES, 2003).
• Esquema Corporal
Alves (2003), define o esquema corporal como a formação do “eu”, da
personalidade da criança, isto é, pelo desenvolvimento do esquema corporal, a criança
toma consciência do seu corpo e das possibilidades de expressar-se por meio desse
corpo.
O esquema corporal é um elemento primordial para a formação da personalidade
da criança. A criança percebe seu próprio corpo por meio de todos os sentidos. Seu
corpo ocupa um espaço no ambiente em função do tempo, capta imagens, recebe sons,
sente cheiros e sabores, dor e calor, movimenta-se. O esquema corporal é inconsciente e
se modifica com o tempo; este revela-se gradativamente à criança e é de total
significação para suas relações com o mundo externo e em todo seu desenvolvimento
psicomotor.
De início, a criança não percebe a diferenciação de si mesma e dos objetos que a
rodeiam, tudo é um bloco compacto. Aos poucos, através de seus próprios movimentos,
começa a perceber as diferenças e a formar sua própria imagem corporal. Partindo de
seu próprio corpo, a criança percebe a distância entre ela e os objetos esboçando as
primeiras noções espaciais.
A partir da sua imagem corporal, a criança percebe seus dois lados do corpo
(direito e esquerdo) sentindo o domínio de um desses lados. Aos poucos, a criança toma
consciência da constância de sua orientação em relação ao seu eixo corporal: em si, nos
objetos e nos outros (ALVES, 2003). Essa tomada de consciência do próprio corpo
permite a criança não apenas a utilização para a realização do movimento, mas é
também um meio de ação.
• Lateralidade
De acordo com a definição de Oliveira (2003), a lateralidade é a propensão que o
ser humano possui de utilizar preferencialmente mais de um lado do corpo do que o
outro em três níveis: mão, olho e pé.
18 Um outro elemento a ser abordado é a lateralidade que consiste na dominância
de um lado do hemisfério cerebral em relação ao outro, em nível de força e da precisão;
ou seja, será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A lateralidade é
definida naturalmente através do crescimento maturativo da criança e permite a noção
da percepção de que o corpo possui dois lados e que um é mais utilizado do que o outro.
É o início da discriminação entre a noção de esquerda e direita.
• Estruturação: Espacial –Temporal
Le Boulch (1982), afirma que a exploração do espaço começa desde o momento
em que a criança fixa o olhar em um objeto, depois tenta agarrá-lo. A estruturação
espacial vai se tornando gradativa a medida em que o processo de maturação motora
possibilite cada vez mais a exploração do meio ambiente.
A estruturação espacial consiste na tomada de consciência do próprio corpo em
relação ao meio externo, depois a outros objetos ou pessoas de forma estática ou
dinâmica. A orientação espacial permite o domínio da capacidade de orientação dentro
de um espaço (frente/trás, alto/baixo, etc.). Não se pode conceber a idéia de espaço sem
abordar a noção do tempo.
Piaget (2003) declara:
“O tempo é a coordenação dos movimentos: quer se trate dos
deslocamentos físicos ou movimentos no espaço, quer se trate
destes movimentos internos que são as ações simplesmente
esboçadas, antecipadas ou reconstituídas pela memória, mas
cujo desfecho e objetivo final é também espacial...”. (PIAGET
apud OLIVEIRA, 2003, p.85)
A orientação temporal é um elemento muito abstrato e normalmente apresenta
maior dificuldade de aquisição por parte da criança. Se define pela capacidade de situar-
se em função da sucessão de acontecimentos; duração de intervalos; noção de tempo, de
ritmo e de cadência; renovação cíclica de certos períodos e do caráter irreversível do
tempo, ou seja, aquilo que passou não pode retornar.
19 • Discriminação
Oliveira (2003) descreve que a discriminação visual e auditiva são noções
essenciais para a aprendizagem da leitura e da escrita. A mesma autora define que a
discriminação visual é a capacidade que a criança possui de diferenciar os objetos e
pessoas de seu meio de maneira satisfatória. Necessita de um controle preciso dos
músculos extra-oculares, ou seja, a movimentação do olho em direção ao objeto e de
desenvolver a memória visual que significa a retenção dos símbolos visuais
apresentados. A discriminação visual é o que permite saber, por exemplo, o que é verde
e o que é azul e a diferença entre o numeral 1 (um) e o numeral 7 (sete).
A discriminação auditiva é definida pela autora como sendo a capacidade de
perceber e distinguir estímulos auditivos, necessitando da memória auditiva que
favorece a retenção e recordação das palavras captadas auditivamente. A discriminação
auditiva dá condições para a criança distinguir, por exemplo, os fonemas /k/ e /g/.
• Coordenação Motora
Oliveira (2003) relata que, através da movimentação e da experimentação, o
indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e buscando o equilíbrio cada vez
melhor. Conseqüentemente, vai coordenando seus movimentos, vai se conscientizando
de seu corpo e das posturas.
A coordenação motora está ligada ao desenvolvimento físico e consiste na união
de movimentos de maneira harmoniosa. A coordenação motora necessita da integridade
e maturação do sistema nervoso. A coordenação pode ser: coordenação estática ou
coordenação dinâmica.
A coordenação estática se dá em repouso através do equilíbrio da ação de grupos
musculares antagônicos, estabelecido em função do tônus e permitindo a conservação
voluntária das atitudes (ALVES, 2003).
A coordenação dinâmica é realizada em movimento necessitando da ação de
diferentes grupos musculares de acordo com a execução do movimento (id., ib.).
Alves (2003), diz que a coordenação dinâmica pode ser subdividida em
coordenação dinâmica global ou geral; viso-manual ou fina e visual.
A coordenação dinâmica global ou geral consiste em movimentos que envolvem
todo o corpo, ou seja, os movimentos amplos (cabeça, ombros, braços, pernas, pés,
tornozelos, quadris, etc.).
20 A coordenação viso-manual ou fina necessita da movimentação dos pequenos
músculos agindo de forma harmoniosa na realização de atividades envolvendo dedos,
mãos e pulsos.
A coordenação visual se mostra através de movimentos específicos com os olhos
nas mais variadas direções.
• Equilíbrio
Sua definição no dicionário Aurélio (2003) é “a manutenção dum corpo na
posição normal, sem oscilações ou desvios. Igualmente entre forças opostas.
Estabilidade mental e emocional”. O equilíbrio é a base primordial de toda a
coordenação geral, ou seja, não pode haver coordenação de movimento sem um bom
equilíbrio.
O equilíbrio pode se apresentar de dois tipos: o equilíbrio estático e o equilíbrio
dinâmico.
Em Alves (2003), o equilíbrio estático se apresenta através de movimentos não
locomotores como, por exemplo, ficar em pé, apenas com a ponta dos pés tocando o
solo, com elevação dos calcanhares e os pés unidos.
O equilíbrio dinâmico se dá através de movimentos locomotores como, por
exemplo, o andar em marcha normal sobre uma linha pré-delimitada.
21
CAPÍTULO II
CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DE PIAGET E
WALLON PARA A PSICOMOTRICIDADE
2.1 – Piaget e a construção do conhecimento: aprendizagem e
movimento
Jean Piaget nasceu em Neuchâtel (Suíça) em 1896 e morreu em Genebra em
1980. Desde os seus 16 anos, empreendeu com sucesso certo número de estudos sobre
Zoologia, mostrando assim rara precocidade científica. Aos 21 anos, obtém o título de
Licenciado em Ciências Naturais e, no ano seguinte, o de Doutor em Ciências. Mas logo
o zoologista deveria ceder seu lugar ao psicólogo e epistemologista de renome mundial.
Dedicou suas pesquisas à descoberta sistemática da evolução mental da criança, assim
como aos problemas epistemológicos. Sua numerosa obra, traduzida em várias línguas,
pode-se dizer, já é clássica na literatura psicológica. É o fundador em Genebra, do
Centro de Epistemologia Genética que reúne pesquisadores de todos os países da
Europa e do mundo (FADIMANI, 1986).
Para Fadimani (1986), o principal interesse de Piaget era analisar como tem
origem e evolui o conhecimento. Seu interesse era, portanto epistemológico, isto é,
Piaget pretendia tomar como objeto de estudo o conhecimento humano. O interesse
piagetiano pela epistemologia nasce de suas preocupações de biólogo: a evolução, a
interação com o meio, a gênese das estruturas. Em lugar de considerar a gênese
histórica, a história das ciências, como fizeram outros filósofos, voltou-se para a
natureza lógica no sujeito em sua relação com o objeto na construção do conhecimento.
Desta forma, para abordar seu objeto (conhecimento), ele acompanhou o
desenvolvimento mental infantil, desde o nascimento até a idade adulta. Analisando
durante mais de 50 anos o psiquismo infantil, Piaget (1982) concluiu que cada criança
constrói, ao longo do processo de desenvolvimento, o seu próprio modelo de mundo. As
chaves principais do desenvolvimento são, para Piaget:
• A própria ação do sujeito
22 • O modo pelo qual as atitudes do indivíduo se convertem num processo de
construção interna, isto é, de formação dentro de sua mente de uma estrutura em
contínua expansão, que corresponde ao mundo exterior.
Piaget (1982) explica a interação do homem com o ambiente valendo-se dos
conceitos de assimilação, acomodação e adaptação, termos tomados da Biologia.
A assimilação é a incorporação de um novo objeto ou idéia ao que já é
conhecido, ou seja, ao esquema que a pessoa já possui, sem modificá-lo. A
acomodação, por sua vez, implica na transformação que o organismo sofre para poder
lidar com o ambiente. Assim, diante de uma nova idéia, a pessoa modifica seus
esquemas tendendo-se a se adaptar à nova situação.
Esse processo é melhor compreendido através do exemplo: o leitor de um texto,
à medida que faz sua leitura, vai assimilando-lhe o conteúdo, isto é, vai se apropriando
dele e procurando entendê-lo de conformidade com o que conhece sobre aquele assunto
(assimilação). Ao mesmo tempo, contudo, a nova leitura vai determinando alterações na
organização do seu conhecimento sobre o assunto (acomodação). Do equilíbrio entre
esses dois processos advém uma adaptação ao mundo, cada vez mais adequada, e uma
conseqüente organização mental.
Segundo Jean Piaget (1982), a criança passa por estágios que vão se
desenvolvendo de acordo com a maturação psicobiológica e que são de suma
importância para a análise da origem e evolução de construção do conhecimento.
Em cada uma dessas etapas, a maneira de compreender os problemas e resolvê-
los é dependente da estrutura mental que a criança apresenta naquele momento.
Chamados de estágios, estes diferentes momentos do desenvolvimento mental
humano amplamente estudado por Piaget (1982), são de grande utilização no trabalho
pedagógico, norteando a escolha das atividades a serem desenvolvidas em cada faixa
etária em função das aptidões mentais já desenvolvidas naquela idade. É importante
ressaltar que esses estágios não se dão, necessariamente, nesta seqüência, mas a idade
cronológica se diferencia de pessoa para pessoa, sendo assim, faz-se necessário um
enfoque maior nos estágios não se prendendo a sua faixa etária.
23 Período das Operações Sensório-Motoras (0 a 2 anos)
A criança passa de estado de completa indiferenciação entre o eu e o mundo
(próprio do recém-nascido) e uma organização relativamente coerente das ações
sensório-motoras entre o seu ambiente imediato. Este período pode ser dividido em seis
etapas:
• 1ª etapa: 0 a 1 mês de idade: Operações Reflexas: no recém-
nascido a vida mental se reduz a exercício de aparelhos reflexos, isto é, às coordenações
sensoriais e motoras de fundo hereditário que corresponde a tendência instintiva como
nutrição, sucção, choro etc. Piaget considera este período de muita importância, pois
baseado nele é que surgirá a inteligência sensório-motora.
• 2ª etapa: 1 a 4 meses de idade: diversas atividades reflexas
começam a sofrer modificações, vinculadas com a experiência, e a coordenarem-se
umas com as outras em formas complexas (coordenação de reflexos e reações); os
movimentos das mãos passam a coordenarem-se com os movimentos dos olhos; a
criança olha para aquilo que ouve (reflexo de orientação), tenta alcançar objetos, agarra-
os e chupa-os. A criança começa a sorrir (5ª semana em diante), reconhece certas
pessoas em oposição a outras.
• 3ª etapa: 4 a 8 meses de idade: a criança começa a efetuar ações
orientadas mais definitivamente e a repetir intencionalmente as reações que produziram
resultados interessantes (aos 4 meses de idade um bebê esticará as pernas para atingir
com pontapé um boneco suspenso a fim de vê-lo balançar). Começa também a procurar
objetos que tenha perdido de vista, como por exemplo: quando a chupeta cai e procura.
Por volta dos cinco meses a criança começa a pegar o que vê.
• 4ª etapa: 8 a 12 meses de idade: a intencionalidade é clara como
demonstram as primeiras seqüências de ação. Entretanto, nesta etapa, a criança se limita
a empregar em situações novas, “modelos” de comportamentos familiares ou habituais.
Nesta fase a criança começa a distinguir os meios dos fins (se um brinquedo desejável
estiver escondido, a criança vai encontrá-lo ativamente, removendo qualquer obstáculo
até encontrá-lo).
• 5ª etapa: 12 a 18 meses de idade: caracteriza-se pela
experimentação ativa, pela exploração, variação e modificação do comportamento. A
24 criança parece estar verdadeiramente interessada em novidades e manifesta uma grande
dose de curiosidade. Deixa cair objetos para observar a queda e puxa brinquedos para
ela. A inteligência aparece antes da linguagem. É uma linguagem prática, que se refere à
manipulação de objetos e só utiliza movimentos organizados em esquemas. Cada novo
objeto é incorporado ao esquema de ação da criança, que para isto pega, agita, esfrega,
ou balança esse objeto, como se quisesse compreendê-lo através do uso.
• 6ª etapa: 18 a 25 meses de idade: este último estágio caracteriza-
se pelo aparecimento da capacidade de reagir e de pensar sobre objetos e
acontecimentos que não são imediatamente observáveis, bem como de inventar novos
meios para conseguir objetivos, isto devido a imaginações e idéias que nada mais são
que combinações mentais.
Período das operações concretas (2 a 11 anos)
Com o aparecimento da linguagem, as condutas são profundamente modificadas
no aspecto afetivo e no intelectual. Além das ações reais ou materiais que é capaz de
realizar como no período anterior, a criança torna-se, graças à linguagem, capaz de
reconstituir suas ações passadas sob a forma de narrativas e de antecipar suas ações
futuras pela representação verbal. Este período inicia-se com as primeiras simbolizações
e termina com os primeiros pensamentos formais. Podemos, nele, distinguir três etapas:
• 1ª etapa: 2 a 4 anos – Pré-Conceptual: a criação de imagens
desenvolve-se nesta fase começando a empenhar-se no jogo simbólico: o triciclo pode
ser usado como automóvel, um tronco de árvore é um castelo, etc.
• 2ª etapa: 4 a 7 anos – Intuição: a criança cria e elabora melhor os
seus conceitos e constrói pensamentos e imagens mais complexas. Além disso, torna-se
capaz de agrupar objetos em classes de acordo com suas próprias percepções de
similaridade devido aos progressos da capacidade lingüística da criança o que, como
sabemos, é de suprema importância na formação de conceitos, na abstração e resolução
de problemas.
• 3ª etapa: 7 a 11 anos – Operações Concretas: por volta dos sete
anos a criança começa a relacionar diferentes aspectos ou dimensões de uma situação, e
chega à noção de conservação. A criança nesta fase, ao ser consultada sobre a
25 quantidade de massa na bola ou na forma comprida, raciocinará que se transformarmos
a forma comprida em uma bola, nada foi acrescentado, ou seja, a quantidade de massa
permaneceu constante apesar da mudança de forma – adquire então o conceito de
reversibilidade – a idéia que a situação original pode ser restaurada. No fim do período
de operações concretas, uma criança usa a lógica e o raciocínio de um modo elementar,
mas unicamente os aplica na manipulação de objetos concretos e não em proposições
verbais. Foi observado, que, na fase de operações concretas, uma criança usa a lógica e
o raciocínio de um modo elementar.
Período das Operações Formais (11 a 15 anos)
Piaget (1982) considera que as crianças de 8 a 10 anos não experimentam
quaisquer dificuldades com problemas verbais desse tipo: Paula é mais alta que Ângela;
Paula é mais baixa do que Ana; qual é a mais alta das três? Segundo este autor, a
criança não utiliza as operações formais antes dos 11 ou 12 anos.
Um adolescente pode raciocinar formulando hipóteses sobre a solução de
problema e conservando em mente, ao mesmo tempo, inúmeras variáveis. É capaz de
raciocínio científico e da lógica formal na argumentação verbal. Além disso, avalia,
critica e reflete sobre a lógica e a qualidade do seu próprio pensamento. Ele pode
considerar hipóteses que talvez sejam ou não verdadeiras. Pode acompanhar a forma de
um argumento mesmo ignorando seu conteúdo concreto dando a característica das
operações formais.
A teoria de Piaget tem importantes implicações na prática pedagógica
propiciando uma visão diferenciada da construção do conhecimento para o educando e
afins.
A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência
reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou
estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. A
compreensão destes estágios piagetianos é fundamental para que se possa também
perceber como se processa o desenvolvimento psicomotor, visto que, os aspectos motor,
afetivo e intelectivo do indivíduo estão estreitamente ligados e se desenvolvem
concomitantemente.
26 2.2 –Wallon: movimento, afetividade e inteligência
Antes de se dissertar sobre a teoria walloniana, faz-se necessário o relato acerca
de sua vida, a fim se estabelecer uma compreensão sobre a mobilidade do pensamento
walloniano e a grandeza de sua produção. Este pequeno relato encontra-se apoiada em
GALVÃO (1995) e DANTAS (1990).
Henri Wallon nasceu na França no ano de 1879. Graduou-se em Medicina,
Psicologia e também Filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925 criou um
laboratório de Psicologia Biológica da Criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se
professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação
Nova (instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e, da qual,
foi presidente de 1946 até morrer, também na França, em 1962).
Ao longo de toda a sua vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da
inteligência nas crianças. Militante de esquerda, participou das forças de resistência
contra Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (polícia política nazista) durante a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em 1947, propôs mudanças estruturais no
sistema educacional francês e, em 1948, cria a revista “Enfance” que serviria de
plataforma de novas idéias no mundo da educação, publicações que servem de
instrumento de pesquisa na área da Psicologia e fonte de informação para os
educadores.
A obra de Wallon (1979) muito contribuiu para questões voltadas para a
motricidade ressaltando a constante reciprocidade dos aspectos cinéticos e tônicos da
motricidade. Outro fator importante de sua obra foi destacar as interações entre as
atitudes, os movimentos, a sensibilidade e a acomodação da percepção e os processos
mentais ao longo do desenvolvimento infantil.
Em seus estudos sobre a origem dos processos psíquicos, Wallon (1979)
descreve a criança como um ser incompleto quando comparada com o adulto. Este autor
realiza um estudo na criança contextualizada, situada em seu meio. O autor trabalha
com a criança real, vista em seu meio ambiente concreto e não com a criança idealizada,
desmistificando a idéia de que todas as crianças se encaixam em um modelo único.
A teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da
pessoa completa, pois admite o organismo como condição primeira do pensamento,
27 porém não suficiente, dependendo do meio social para se desenvolver. Considera que o
homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às
situações exteriores. (DANTAS, 1990).
De acordo com Wallon (1979), o processo de desenvolvimento psicológico
infantil para a construção da personalidade, apresenta o ritmo no qual sucedem etapas
do desenvolvimento que se apresentam descontínuas, marcadas por rupturas, retrocessos
e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores. Neste
sentido, a passagem de estágios do desenvolvimento não se dá de forma, rígida, por
aplicação, mas sim por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma
etapa para a outra, crises que afetam a conduta da criança.
Para Galvão (1995) esses conflitos se instalam nesse processo e são de origem
exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o meio
exterior, estruturado pelos desencontros entre adultos e pela cultura e endógenos,
quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa.
Assim, pode-se perceber dentro da concepção walloniana que, em cada uma das
etapas, a criança estabelece um tipo de relação com o meio ambiente que é ditada pelo
tipo de recurso que ela dispõe naquele período. Um outro aspecto a ser abordado é a
importância primordial da relação com o outro nesse processo. “O socius ou o outro é
um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica” (WALLON, 1979, p. 156).
A atividade infantil se distribui em campos funcionais que são a motricidade, a
cognição e a afetividade, não havendo condições de serem analisados isoladamente.
Os cinco estágios do desenvolvimento do ser humano descritos por Wallon e
apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e
cognitiva, a saber:
• Impulsivo–emocional
É o estágio que ocorre no primeiro ano de vida com predominância afetiva. É
uma etapa de construção do eu. Nessa etapa, os movimentos do bebê estão intimamente
ligados às sensações de desprazer e de prazer, ou seja, as reações do bebê irão
estabelecer uma relação com a figura materna cada vez mais específica de acordo com
as respostas do meio. Para Fonseca (1983) o caráter emotivo dessa relação descrita por
28 Wallon tem como início uma simbiose fisiológica que aos poucos se transforma em uma
simbiose afetiva.
Se no útero materno, o bebê se encontra em um estado de simbiose orgânica,
após seu nascimento essa simbiose deixa de ser orgânica e passa a ser afetiva. A partir
dessa relação estabelecida com o meio (principalmente com a figura materna), se tem
origem o diálogo tônico-emocional. Na perspectiva walloniana, o bebê é um ser social,
pois se comunica com o meio através de movimentos corporais e do choro.
• Sensório-motor e projetivo
Estágio que vai até os três anos. O vínculo emocional gerado no primeiro estágio
não se perde, porém o interesse do bebê vai estar direcionado ao mundo exterior. Com o
contínuo desenvolvimento das estruturas nervosas, a ação do bebê sobre o ambiente se
torna cada vez mais objetiva. Essa é uma etapa de construção de conhecimentos sobre o
mundo e o recurso predominante nessa nova relação que se estabelece é a cognição.
A atividade sensório-motora refere-se ao fato do descobrimento das mãos pelo
bebê. As mãos sempre estiveram presentes no campo visual do bebê, mas, inicialmente
eram seguidas pelo olhar como se não pertencessem ao corpo. Com a maturação
neurológica e a ação do meio, as mãos do bebê passam a ter significado, pois o bebê
passa a utilizá-las, se esforçando para pegar objetos localizados próximo a ele. Nessa
atividade sensório-motora podemos observar uma atividade chamada circular2.
Esse estágio também se caracteriza pela aquisição da marcha e pelo
desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo “projetivo” refere-se ao
fato da ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar, ou seja, o ato
mental “projeta-se” em atos motores. Nesse estágio, a aquisição da marcha e da
preensão, dá à criança maior autonomia na manipulação de objetivos e exploração dos
espaços.
• Personalismo
Ocorre dos três aos seis anos aproximadamente. Nesse estágio, a criança estabelece
relações bastante peculiares com o meio. A criança para afirmar sua personalidade
2 Essa atividade circular tem por objetivo ligar o ato motor ao seu efeito, sendo que este pode ser percebido e modificado pelo bebê. A atividade circular pode ser exemplificada quando o bebê deixa cair o brinquedo que tem nas mãos e uma pessoa próxima pega o brinquedo e devolve as mãos do bebê; a partir dessa resposta do meio, a criança inicia uma atividade lúdica intencional, ou seja, a criança joga várias vezes e de modo intencional o objeto no chão. Essa constante atividade faz com que a criança utilize seus movimentos para mais adiante aprimorá-los a fim de observar seus resultados (GALVÃO, 1995).
29 recém conquistada, passa a se opor a tudo, faz referência de si mesma utilizando o
pronome “eu”. A sua personalidade se confunde com o desejo de posse dos objetos. O
pronome “eu” é igual ao pronome “meu”. Essa crise de personalidade é um retorno a
uma relação mais afetiva, mas se distingue, qualitativamente, do estágio impulsivo-
emocional, pois apresenta capacidades tais como as palavras, a marcha e a imitação,
sendo este último, o prelúdio da representação psicológica.
O personalismo é um período de distinção, pois, nesse esforço da criança em se
individualizar, ela distingue-se dos outros e manifesta essa distinção através da oposição
ou da manipulação de pessoas ou ambientes.
• Categorial
Esse estágio surge aproximadamente aos seis anos onde a criança já está apta a
ingressar na escola (porém se pode perceber que atualmente as crianças ingressam cada
vez mais cedo nas escolas). A criança já é capaz de atender as exigências escolares nos
aspectos motor, cognitivo e afetivo. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da
criança para o conhecimento da realidade e conquista do mundo exterior. Nessa etapa a
criança passa a aprender o conhecimento produzido por todos e sistematizado pela
escola.
• Puberdade e Adolescência
Nesta etapa, ocorre uma nova definição dos contornos da personalidade,
desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. O
adolescente é capaz de refletir e racionalizar a respeito das suas emoções e sentimentos.
As reações também são exuberantes, porém podem ser temas para serem discutidos e
conversados. O “outro”, neste estágio, passa a ser o grupo do qual faz parte, onde o
adolescente encontra o apoio para o autoconhecimento e sua convivência dentro da
sociedade.
Pode-se observar nesses estágios um importante auxílio para uma melhor
compreensão da criança e seu desenvolvimento, detendo-se especificamente nos
períodos pelos quais a criança passa e, não pela faixa etária, atentando sempre para a
individualidade. É possível perceber que na sucessão de estágios é utilizado pela criança
um recurso funcional que predomina e possibilita sua interação com o meio. A essa
capacidade Wallon denominou de predominância funcional.
30 Há uma alternância dos recursos funcionais utilizados pela criança denominada
alternância funcional onde cada fase predominante incorpora e vão se integrando as
conquistas realizadas pela outra fase, trazendo inúmeras e novas possibilidades para as
relações da criança com o outro e com o meio. As funções adquiridas mais
recentemente têm predominância sobre as mais antigas não as fazendo desaparecer, mas
vão integrando-as. Esse processo é denominado de integração funcional.
Wallon deixou uma nova concepção da motricidade, da emotividade e da
inteligência humana, propondo um estudo integrado do desenvolvimento humano. O
método adotado por Wallon é o da observação pura; sendo assim, Wallon considera que
esta metodologia permite conhecer a criança no ambiente no qual esta inserida
(GALVÃO, 1995).
2.3 - O desenvolvimento psicomotor infantil até os seis anos
Alves (2003), define o desenvolvimento como sendo um processo contínuo
envolvendo todas as áreas do organismo e da personalidade. As fases do
desenvolvimento são comuns a todas as crianças; porém fatores como a mobilidade
física, o meio e o ambiente familiar podem levar crianças da mesma idade a possuírem
comportamentos distintos.
Segundo Costallat (1983), os primeiros anos de vida são de fundamental
importância para a criança, pois constituem um marco no ciclo infantil, já que certas
habilidades como andar, correr, falar, brincar, gesticular são, ao mesmo tempo, produto
da gradual maturação e das vivências pessoais. Assim é que, as experiências motoras
que a criança vivencia, vão proporcionar uma determinada organização mental que lhe
permite adaptar-se as situações do meio.
Alves (2003) afirma que, no período do nascimento até aos seis anos, o
desenvolvimento da criança se processa de um modo muito rápido tanto
psicologicamente como fisicamente. Constitui-se um momento significativo em que a
criança está se descobrindo e realizando relações com o meio.
Porém, há autores que nos apontam que o desenvolvimento infantil começa a se
processar antes mesmo do nascimento, em sua vida intra-uterina, onde o feto já
experiência sensações cutâneas, sonoras e proprioceptivas dentro do útero materno.
31 Le Boulch (1982) esclarece que, o desenvolvimento da criança inicia-se durante
a vida fetal onde o organismo infantil está intimamente ligado com o organismo
materno. O desenvolvimento fetal ocorre por meio de processos regulados de origem
biológica que irão se estender após o nascimento, quando cada órgão, gradativamente,
vai desempenhando sua função no organismo, embora, muitos deles ainda assumam sua
função de modo parcial.
Por exemplo, ao nascer, o ser humano ainda apresenta estruturas que estão por
desenvolver-se, como, no caso do Sistema Nervoso, que necessita de condições
favoráveis para o seu pleno funcionamento e desenvolvimento. Fonseca (1983) afirma
que a criança chega ao mundo com sua mielinização3 por fazer, isto é, com o seu
Sistema Nervoso por (e para) acabar necessitando das experiências favoráveis do meio
ambiente para que a criança possa aprender.
Após o nascimento, a motricidade prossegue em desenvolvimento contínuo e
gradual, inicialmente de forma elementar e indiferenciada, passando posteriormente
para um estágio mais organizado, com precisão do controle mental (FONSECA, 1983).
O recém-nascido ainda não apresenta um controle muscular suficiente para assegurar o
equilíbrio de seu corpo. Gradualmente, de acordo com a maturação neuromotora e um
meio ambiente favorável, seus movimentos vão se tornando cada vez mais coordenados.
Sendo assim, inicialmente, o recém-nato apresenta uma expressão motriz
diferenciada, de caráter global e reflexo não demonstrando nenhum domínio de
atividade voluntária. Suas mãos encontram-se fortemente fechadas não permitindo ainda
o ato preensor, seu olhar é vago, não apresentando controle de sustentação da cabeça
(COSTALLAT, 1983). Assim, pode-se perceber que o recém-nato se encontra
impotente em satisfazer suas necessidades vitais sendo totalmente dependente de um
ambiente humano afetivo que seja favorável ao seu desenvolvimento.
Para Le Boulch (1982), o recém-nascido oscila entre um estado de necessidade,
que se manifesta pela elevação do tono, origem das descargas musculares impulsivas, e
por gritos e um estado de prazer que é paralelo à diminuição do tono4. O equilíbrio
deste comportamento tônico-emocional (relação harmoniosa da criança com o meio)
3 Mielinização é o nome derivado da Bainha de Mielina responsável pela velocidade na condução dos impulsos nervosos (OLIVEIRA, 2003). 4 O tono muscular é um estado permanente de certo grau de tensão do músculo, é o alicerce das atividades motoras; a elevação do tono consiste na contração muscular e a diminuição do tono é o relaxamento muscular (ALVES, 2003).
32 será fundamental para o bom desenvolvimento do bebê. Os estímulos cutâneos, visuais
e auditivos ocasionados pela presença humana (figura materna) são um fator essencial
de desenvolvimento que vai propiciar à criança estabelecer um contato ativo com o
meio. Com esses estímulos, o bebê se sente seguro dando uma estabilidade que é
necessária para que a criança possa enfrentar o meio estranho que a mesma começa a
explorar.
Ao nascer, os movimentos da criança apresentam certas características que
desaparecem ou evoluem até a adolescência. Alves (2003), descreve o desenvolvimento
da criança, do seu nascimento até o sexto ano, da seguinte forma:
• Primeiro Mês
A visão é o sentido principal do bebê criando a possibilidade do mesmo
distinguir cores e formas e até mesmo a presença do outro.
• Segundo Mês
O bebê já percebe a movimentação feita pelas pessoas, surge o sorriso
intencional na presença de um rosto conhecido ou mesmo através de uma voz afetiva. O
bebê emite sons e percebe suas mãos, brincando com as mesmas. Inicia-se, então, seu
interesse por si mesmo e pelas pessoas.
• Terceiro Mês
O bebê já sustenta a cabeça sorri para o outro e os sons vocálicos emitidos se
tornam mais prolongados. Sai do estágio do reflexo, porém, ainda não realiza gestos
intencionais.
• Quarto Mês
O bebê já consegue tocar objetos, aproximando-os, ri alto, direciona a cabeça
para a origem do som, ou seja, quando alguém o chama.
• Quinto Mês
O bebê consegue manipular objetos, se senta com apoio. A exploração espacial
começa a se desenvolver e já consegue perceber o corpo do outro.
33 • Sexto Mês
A criança já consegue utilizar o próprio corpo e objetos. A maturação dos
músculos do tronco permite a posição sentada aos seis meses (Costallat, 1983).
• Oitavo Mês
A imagem da mãe é realmente identificada fazendo com que o bebê reaja
negativamente à ausência da mesma. Nesse período, o bebê consegue jogar longe o
objeto e já é capaz de passar um objeto de uma mão a outra, procura por objetos caídos
e brinca de esconder.
• Nono Mês
A criança já engatinha e pode manter-se de pé com apoio. Apresenta uma
linguagem composta de uma palavra dissílaba com a qual a criança passa a nomear
tudo.
• Décimo Mês
A criança já se mantém em pé sem apoio, sua preensão adquire características
definitivas de coordenação, como, por exemplo, beber com o copo, repete um som
escutado e já consegue parar ao ouvir uma ordem.
• Um ano
Inicialmente anda com ajuda e possui um vocabulário de três palavras. Mais
tarde, já consegue andar sozinha e passa a apresentar uma linguagem de ação contendo
nove palavras e já consegue construir frases, sua atenção se torna mais seletiva e sua
percepção visual e cinestésica vão integrando a memória motora com as inúmeras
experiências diárias.
• Dois anos
Começa a etapa do exercício diário, por meio do qual a criança obtém a fixação
e, mais tarde a mecanização dos movimentos recentemente aprendidos, como por
exemplo, o andar e a habilidade manual. Durante o transcurso desse período, é normal a
imprecisão geral dos movimentos que vai diminuindo gradativamente de acordo com a
maturação neuromuscular. Na linguagem aparecem a articulação de palavras e frases e a
criança já consegue controlar os esfíncteres. Nesse período, a criança já consegue
nomear as partes do corpo através do desenho.
34 • Três anos
Já possuindo uma coordenação óculo-motriz desenvolvida, a criança consegue
construir uma ponte com três cubos ou uma torre com mais cubos com equilíbrio. A
coordenação dinâmica manual progrediu em seu desenvolvimento permitindo a
aproximação de uma preensão correta, ou seja, a criança maneja o lápis com preensão e
é capaz de imitar um desenho sem muitos traçados tentando aperfeiçoá-lo.
• Quatro anos
Nesse período a preensão ocorre com movimentos em forma de pinça, ou seja,
os movimentos com os dedos são mais valorizados nesse momento. A criança já se
torna capaz de vestir-se e despir-se sozinha, abotoar e desabotoar, amarrar e desamarrar
laços. Já consegue manusear tesouras e lápis.
• Cinco anos
A criança com quatro a cinco anos já se encontra em um período onde se inicia a
fase pré-escolar. A precisão geral de movimentos vai, aos poucos, se aperfeiçoando,
inicialmente em um ritmo lento e depois vai se normalizando a medida em que haja o
desenvolvimento infantil. No período entre cinco a seis anos, a criança apresenta um
desenvolvimento ascendente onde já realiza algumas atividades de forma independente.
A criança já se torna capaz de realizar exercícios complexos que exigirão um maior
esforço dentro da área psicomotora, realizando dentro de um ritmo normal. Como
exemplo desse processo, a criança já apresenta a dissociação manual que lhe permite a
utilização do lápis e do caderno simultaneamente, embora, ocorram certas dificuldades,
pois, num esforço muscular durante a pressão excessiva do lápis, sua letra se torne
ilegível. Essas dificuldades são normais durante o primeiro ano de aprendizagem
escolar.
• Seis anos
Ao final dos seis anos, a criança é um pequeno ser independente que deve ir
conseguindo um rudimentar sentido de responsabilidade no novo mundo no qual se
inicia. (COSTALLAT, 1983). A escrita se aprimora diante de um exercício intenso e o
manuseio conjunto do lápis e do caderno se encontra mais preciso. A criança vai
desenvolvendo cada vez mais a coordenação visomotora e as capacidades de atenção e
35 memória. Nesse momento se percebe um ritmo normal em todos os movimentos e uma
precisão acompanhada por gestos. A criança já consegue identificar as partes do corpo
de forma isolada e os conceitos direita e esquerda.
O desenvolvimento motor, até atingir um nível de relativa estabilidade, estará
em constante evolução. E para que esse desenvolvimento se dê eficazmente, depende de
alguns fatores tais como a maturidade dos órgãos, o meio ambiente em que a criança
vive e os eventos psicológicos pelos quais passa (ALVES, 2003). Assim, é importante
que os pais e os professores da Educação Infantil conheçam essas fases para observarem
e estimularem a criança em seu processo evolutivo, pois, a criança só terá uma
maturação normal se ela pertencer a um ambiente que dará condições para o seu
desenvolvimento afetivo, motor, cognitivo e social.
O desenvolvimento psicomotor quando acontece harmoniosamente, prepara a
criança para uma vida social próspera, pois, já domina seu corpo e utiliza-o com
desenvoltura, o que torna fácil e equilibrado seu contato com o mundo.
36
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1 – Educação psicomotora
O corpo, segundo Fonseca (1983), se constitui um abrigo da história do sujeito.
Quando se fala em corpo, é necessário pensar que ele é um organismo vivo, um ser
desejante, atuante, emocional, inteligente, não podendo esconder ou renegar a história
que ele carrega. Com essa visão geral da representação do corpo, a educação
psicomotora surge no sentido de auxiliar esse corpo na adaptação com os meios internos
e externos.
Conforme visto anteriormente, o desenvolvimento motor infantil vai sendo
gradativamente construído desde o seu nascimento. A Educação Psicomotora tem papel
fundamental nesse processo, pois visa auxiliar nessa construção de modo a criar
oportunidades para que a criança não deixe de vivenciar nenhuma fase importante desse
processo, pois as capacidades futuras de uma criança serão afetadas caso alguma fase
importante não seja vivenciada, podendo originar problemas em sua aprendizagem
escolar.
Le Boulch (1982) apresenta o objetivo da Educação Psicomotora proposta pela
Comissão de Renovação Pedagógica para o 1º grau, na França, sendo este autor um dos
influenciadores da inclusão da Educação Psicomotora nos currículos primários do país:
“A Educação Psicomotora deve ser considerada como uma
educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os
aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência
de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar
seu tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos
e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada
desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite
prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já
estruturadas...”. (Le Boulch, 1982, p. 24).
37
O autor afirma que a Educação Psicomotora se torna indispensável a toda a
criança e deve ser feita o mais cedo possível, atuando como prevenção de futuras
inadaptações do indivíduo. Pode-se constatar que o movimento é um suporte que auxilia
a criança na aquisição de conhecimentos sobre o mundo que a cerca, utilizando, para tal,
seu corpo, suas sensações e percepções. Baseando-se neste aspecto, a educação
psicomotora apresenta um caráter preventivo (na medida em que une os aspectos afetivo
e funcional) e à medida que dá condições à criança de se desenvolver melhor em seu
ambiente. É um meio onde se utiliza inúmeros recursos para combater a inadaptação
escolar (FONSECA, 1983).
A Educação Psicomotora teve sua origem para atender crianças em
desenvolvimento. Seu objetivo é direcionado à maturação do sistema motor, psíquico,
afetivo do indivíduo. Dentro do universo da Psicomotricidade, a Educação Psicomotora
atua no âmbito escolar por ser um agente favorecedor do desenvolvimento psicomotor.
A Educação Psicomotora trabalha não somente na construção do domínio motor, mas
nas dimensões afetiva, relacional e histórica para levar a criança à construção da
unidade corporal e à afirmação da sua identidade.
Oliveira (2003), ainda complementa que a Educação Psicomotora na Educação
Infantil se torna bastante significativa porque tem como finalidade trabalhar crianças
que estão em início das suas descobertas corporais, espaciais, no seu intercâmbio
consigo e com o meio ambiente. A Educação Psicomotora está baseada nas atividades
espontâneas e no interesse que a criança possui que estão diretamente ligadas com o seu
mundo inconsciente – o imaginário.
Partindo do princípio que a criança brinca, experimenta, manipula objetos, a
educação psicomotora se constitui a direção para o desenvolvimento global a partir do
prazer que a criança adquire através de atividades lúdicas e corporais de uma forma
saudável. Barreto (1998) afirma isso quando diz que, a Educação Psicomotora é a
educação da criança através de seu próprio corpo e de seu movimento, levando em
consideração a idade, a cultura corporal, a maturidade e os interesses da criança.
A Educação Psicomotora tem como objetivo a criação de oportunidades para o
indivíduo onde, através do movimento, ele possa adquirir a conscientização de seu
próprio corpo, a consciência do esquema corporal, o domínio do equilíbrio, a construção
38 e o controle das coordenações global e fina, a organização das estruturas espaço-
temporais, a melhoria das possibilidades de adaptação ao mundo externo, a estruturação
das percepções.
A criança da Educação Infantil está em uma fase de sua vida dotada de uma
energia interminável, extravasada através de atividades motoras, tem necessidade de
explorar livremente os espaços e procura a segurança afetiva dos adultos mais
próximos. Sendo assim, a Educação Psicomotora vem auxiliar essa criança de Educação
Infantil criando estratégias que orientam a ação do adulto em promover e facilitar as
experiências dessa criança. Os benefícios serão notados ao longo da vida desse sujeito,
pois será um ser bem resolvido em suas questões internas, podendo se libertar para as
questões externas (MELLO, 1989).
Sob a visão de Costallat (1983), as atividades desenvolvidas na Educação
Psicomotora visam propiciar a ativação dos seguintes processos:
• Vivenciar estímulos sensoriais para discriminar partes do próprio corpo
e exercer um controle adequado sobre elas;
• Vivenciar o corpo como um todo, pois este é o referencial, primeiro, na
relação consigo mesmo, com os outros, com os objetos e o meio;
• Vivenciar através do próprio corpo e da interação com o mundo e com
os objetos, a organização espaço-temporal;
• Vivenciar situações que levem à aquisição dos pré-requisitos básicos
necessários a uma boa iniciação ao cálculo, a leitura e a escrita (noções de espaço e
tempo, boa linguagem oral, bom controle da respiração, um bom ajuste de tônus, boa
coordenação motora, etc...).
Essas vivências visam propiciar a criança maior consciência corporal. Utilizando
atividades que envolvam seu próprio corpo, a criança vai interagindo com o ambiente
que a cerca, vai aperfeiçoando suas potencialidades e assim vai desenvolvendo as
habilidades específicas (coordenação, estruturação espaço-temporal, discriminação
visual e auditiva, entre outros) de modo que tenha facilidade em sua aprendizagem.
Segundo Alves (2003), a Educação Psicomotora proporciona à criança a
possibilidade de se descobrir a si mesma e ao mundo, permitindo que elas cheguem,
através da manipulação do concreto e da vivência com seu próprio corpo e com o corpo
do outro, a atingir o pensamento abstrato. Nesse sentido, leva também em consideração
39 a idade, a cultura corporal, a maturidade e os interesses da criança. A passagem de um
nível de desenvolvimento psicomotor inferior para outro superior é feita de maneira
gradativa atendendo ao ritmo individual de cada criança (BARRETO, 1998). A
Educação Psicomotora proporciona à criança a vivenciar estas etapas auxiliando-a a
superar suas dificuldades e adaptando-a ao ambiente que a cerca.
Dessa forma, implementar a Educação Psicomotora na Educação Infantil traz
muitos benefícios à criança, favorecendo o desenvolvimento psicomotor da criança e
prevenindo possíveis dificuldades de aprendizagem. Esta é uma educação para o corpo,
pelo corpo, para o movimento e pelo movimento, que valoriza a constituição do sujeito
e a conscientização de sua existência na sociedade.
3.2 – Psicomotricidade e Educação Infantil
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que foi promulgada em dezembro de 1996,
no capítulo sobre a Educação Básica, Seção II, trata especificamente da Educação
Infantil, nos seguintes termos: Art. 29. “A educação infantil, primeira etapa da educação
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade,
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade”. Este artigo nos aponta a importância do desenvolvimento
integral da criança até os seis anos de idade, necessitando do auxílio da família e da
comunidade.
Baseada nesta lei, a Educação Infantil deve ter o objetivo de oferecer à criança
condições para o seu bem estar físico, afetivo-social e intelectual. Percebe-se que os
avanços nas teorias a partir dos trabalhos pioneiros de Dupré (1920), Wallon (1979),
Piaget (1982), Fonseca (1983), entre outros, forneceram uma nova imagem da primeira
infância e de suas necessidades, destacando os aspectos cognitivos do desenvolvimento,
criando estratégias direcionadas ao desenvolvimento de competências cognitivas e dos
aspectos relacionais e afetivos. Essa nova imagem de primeira infância propicia à
criança a socialização, a autonomia e a capacitação de construir o mundo, explorando-o.
Dessa forma, existe uma especificidade da Educação Infantil, na qual as necessidades
desta fase infantil, tais como brincar, explorar os espaços, segurança afetiva entre
outras, devem ser respeitadas e satisfeitas para que o seu desenvolvimento integral
ocorra equilibradamente.
40 Costallat (1983) relata que, a criança dita como “normal” chega a idade
aproximada de cinco anos onde já adquiriu uma básica precisão de movimentos. A
criança com três anos de idade já possui todas as coordenações neuromotoras essenciais:
andar, correr, pular, falar, se expressar, jogar, que se constituem o resultado de uma
maturação orgânica progressiva e da experiência pessoal através das experiências
vivenciadas pelo meio exterior à criança.
A criança ao ingressar na Educação Infantil está em um processo de intensa
descoberta sobre si, sobre os outros e sobre o mundo. A criança precisa estar segura
para que essa descoberta se processe de um modo satisfatório. Le Boulch (1982), afirma
que as crianças chegam na escola maternal, estando ávidas de explorar o ambiente e
inquietas de exercer sua influência no ambiente.
Segundo Alves (2003), a prioridade da Educação Infantil deve ser de auxiliar a
criança a ter uma percepção adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades
e limitações reais e, ao mesmo tempo, ajudá-la a se expressar corporalmente com maior
liberdade, conquistando e aperfeiçoando novas competências motoras. Baseado nesses
aspectos, o professor de Educação Infantil deve, de forma espontânea e lúdica, criar
atividades que envolvam a descoberta do corpo, das sensações, dos limites e
movimentos da criança.
Para Aucouturier (1986), o início da vida de uma criança se caracteriza pelo agir.
São ações que utilizam o prazer vivido, o prazer manipulado, o prazer visual, o prazer
auditivo, o prazer cinestésico. Nesse prazer, a criança se constrói enquanto ser humano,
pois vivencia experiências, trocas, relaciona-se com o mundo e com as pessoas.
Assim, a criança age brincando. Ela brinca com seu corpo – rola, brinca com os
pés, com as mãos, arrasta, atira objetos, cai, constrói, destrói, rabisca desenha, fala, lê e
muitas outras ações que são fundamentais ao seu desenvolvimento. O movimento e a
brincadeira têm um papel importante para a criança, pois propiciam condições
favoráveis para a comunicação, para as interações e para a estruturação do pensamento;
é na Educação Infantil que eles devem ser vivenciados de forma significativa, devido ao
fato da criança estar em um período de motivação no descobrimento de si mesma e do
mundo em que a cerca.
A função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo
estão intimamente ligados na criança: a Psicomotricidade quer justamente destacar a
41 relação existente entre a motricidade, a mente e a afetividade com o objetivo de facilitar,
através de exercícios envolvendo as áreas psicomotoras, o desenvolvimento desses três
aspectos na criança.
Aucouturier (1986) ilustra que o favorecimento do desenvolvimento harmonioso
da criança é, antes de tudo, dar-lhe a possibilidade de existir, de tornar-se uma pessoa
única, é oferecer-lhe, então, condições as mais favoráveis para comunicar-se, expressar-
se, criar e pensar.
A prática psicomotora tem como finalidade favorecer a comunicação, a
expressão, a criação que são aspectos fundamentais ao desenvolvimento cognitivo do
indivíduo. Esses aspectos são descritos da seguinte forma:
• Comunicação
O processo de comunicação tem seu início a partir das trocas que a criança
realiza com o mundo exterior. Trocas estas tônico-emocionais e verbais que vão se
desenvolvendo até a introjeção do objeto externo, processo imprescindível para que
aconteça a comunicação. Comunicar é a capacidade do ser em receber do mundo
informações visuais, auditivas, táteis e cinestésicas, de processá-las e emitir uma
resposta que pode ser verbal ou não-verbal.
• Expressão
A expressão é a forma de se passar para o exterior àquilo que se tem guardado
no mais íntimo do próprio ser. É mostrar-se, revelar algo que vem lá de dentro. As
formas de expressão podem ser as mais variadas possíveis tendo como ponto de partida
a expressividade motora (o corpo é a primeira forma de expressão do ser e toda a
proposta pedagógica deveria privilegiar essa instância possibilitando à criança
expressar-se e reagir emocionalmente). A motricidade é a forma da criança mostrar-se
ao mundo, de descobrir a si mesma como também realizar descobertas deste mundo no
qual está inserida e conquistá-lo.
• Criação
O ato criativo abrange a capacidade de compreender, e esta, por sua vez, a de
relacionar, ordenar, configurar, significar. A expressão criadora permite à criança estar
42 em relação com o que está no mais profundo dela mesma. O ato criativo é o significante
e o significado que está expressando algo das experiências afetivas mais íntimas do ser.
A Escola deve desenvolver uma educação de qualidade principalmente na
Educação Infantil, pois se constitui uma educação de base, conforme já descrita
anteriormente, e para isso, necessita da prática psicomotora como auxiliadora no sentido
de oferecer à criança aprendizagem e prazer, criando oportunidades a fim de abrir suas
asas para o mundo, a construir seu conteúdo psíquico, a se constituir num ser de
comunicação, num ser que sabe se expressar, num ser de criação, enfim, num ser
consciente de si, do outro e do mundo.
3.3 – Alternativas e possibilidades de trabalho com a psicomotricidade:
Atitudes de pais e professores.
Pode-se observar que as crianças passam grande parte do seu tempo brincando.
O ato de brincar tem uma enorme importância na vida da criança, pois além do prazer
proporcionado, a brincadeira auxilia em toda a sua vida emocional e intelectual,
trazendo o mundo do adulto para a realidade infantil.
Kishimoto (1993) afirma que, a participação dos pais na brincadeira da criança,
no mundo do faz-de-conta, irá enriquecer ainda mais estes momentos que são
vivenciados de uma forma marcante na infância. O toque, o sorriso, a fala, o olhar dos
pais são de vital importância para o desenvolvimento emocional e intelectual da criança.
As grandes trocas e brincadeiras da mãe com seu bebê iniciam-se logo na vida
intra-uterina onde os primeiros movimentos do bebê são sentidos pela mãe, em sua
maioria, com grande satisfação. Já quando recém-nascido, experimenta sensações e
descobertas que ficarão marcadas e registradas para o seu desenvolvimento futuro.
De acordo com a visão da mesma autora, a criança interage primeiramente com
a figura materna, com o seu próprio corpo e com os objetos, adquirindo gradativamente
precisão dos seus movimentos, e assim, explorando cada vez mais o meio ambiente em
que vive. A importância da participação dos pais, dando suporte e encorajando cada
conquista de seu filho, enfim, experimentando juntos esse mundo novo, estimula essa
criança em seu desenvolvimento.
43 A autora propõe também algumas sugestões de atividades utilizando alguns
materiais e jogos cantados a fim de auxiliar aos adultos nessa interação com a criança.
Durante as atividades propostas, é de fundamental importância chamar a criança pelo
nome e fazer sempre contato olhos nos olhos, assim sendo, a criança percebe e sente
todos os gestos e expressões dos adultos direcionados a ela trabalhando a atenção e
concentração em um clima de segurança e tranqüilidade.
Essas atividades são modalidades de jogos muito simples e, por incluir tradição,
música e movimento, constituem-se num poderoso agente socializador, principalmente
com a participação dos pais. Por exemplo, os pais e quem cuida da criança podem
cantar uma música com a criança, utilizando gestos corporais.
Essa estimulação para o desenvolvimento infantil deve se estender para o âmbito
escolar. A criança ao chegar na Educação Infantil está em um período fundamental de
seu desenvolvimento, no qual tem necessidade de agir para pensar, favorecendo sua
maturação psicológica por meio da motricidade, sua ação e seu brincar, que são a base
do desenvolvimento do pensamento.
O professor deve antes de tudo ter um bom conhecimento do desenvolvimento
da criança para a estimular de maneira que as áreas motora, cognitiva, afetiva e de
linguagem estejam interligadas. O professor deve ser um facilitador das trocas entre
crianças e adultos, sendo sensível ao acolher pedidos dos seus alunos, respeitador de
suas necessidades e preferências individuais, dotado de empatia para se relacionar e
funcionar como elemento estruturante de uma realidade que ainda se encontra
fragmentada para a criança.
Para Aucouturier (1986), o professor deve ter a atitude de promover o despertar
do interesse para a busca dos espaços e para o mundo colorido dos objetos, incentivando
a criança a tocá-los, olhá-los, manipulá-los, e principalmente, a transformá-los. Ao
estabelecer um clima de segurança, confiança, afetividade, incentivo e limites colocados
de forma sincera, clara e afetiva, a criança se encontra acompanhada e sustentada na
conquista progressiva do conhecimento da realidade.
O aspecto afetivo e relacional se encontra na relação da criança com o adulto,
com o ambiente físico e com outras crianças. A maneira como o professor penetra no
universo da criança assume aqui um aspecto primordial. É muito importante que o
44 professor demonstre carinho e aceitação integral do aluno para que este passe a confiar
mais em si mesmo e expandir-se e equilibrar-se (OLIVEIRA, 2003).
Oliveira (2003), explica que para muitos professores, principalmente os de pré-
escola, a repetição constante de exercícios é essencial para o desenvolvimento infantil.
A autora critica que os educadores, numa tentativa de desenvolver a motricidade de seus
alunos, os mandam, por exemplo, preencher inúmeras folhas mimeografadas de riscos à
direita, à esquerda, verticais, horizontais, bolinha, ondas. Esses mesmos professores
quando querem ensinar, por exemplo, conceitos dentro-fora, pedem às crianças para
colarem papéis coloridos dentro ou fora de um quadrado ou de um desenho qualquer.
Esses professores, na realidade, estão desenvolvendo gestos automáticos e
técnicas sem se preocupar com as percepções que dão o conhecimento do próprio corpo
e, através deste, o conhecimento do mundo. As atividades psicomotoras não devem ser
realizadas de forma mecânica e sim, devem ser associados com as estruturas cognitivas
e afetivas.
Alves (2003) diz que, quando o professor se conscientizar de que a educação
pelo movimento é uma peça mestra da área pedagógica, que permite à criança resolver
mais facilmente os problemas atuais de sua escolaridade e a prepara, por outro lado,
para a sua existência futura de adulto, essa atividade não ficará mais para segundo
plano, sobretudo porque o professor constatará que esse material educativo não verbal,
constituído pelo movimento é, por vezes, um meio insubstituível para afirmar certas
percepções, desenvolver formas de atenção, pondo em jogo certos aspectos da
inteligência.
45
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança da Educação Infantil passa por vários estágios e cada um deles tem
que ser trabalhado a seu tempo para que essa criança tenha o seu desenvolvimento
gradativo e de forma equilibrada. As etapas do desenvolvimento global da criança são
uma espécie de marco que fornecem aos pais e seus educadores os elementos
indispensáveis para avaliar o progresso da criança a fim de que se lhe preste cuidado e
estímulos necessários.
Os primeiros anos de vida da criança, os principais educadores são seus pais ou
aqueles que, às vezes, os substituem. Sendo assim, os pais devem estar conscientes da
influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento integral de seu filho, a fim de que
a criança, ao entrar na escola, apresente um bom desempenho psicomotor.
É importante que pais e educadores estejam conscientes dos benefícios que um
bom trabalho psicomotor traz para a criança. E, que os educadores da área de Educação
Infantil possam desenvolver um trabalho psicomotor consciente, ajudando a criança a
vivenciar o seu corpo e o mundo que a cerca e assim, ajudando na formação de um
adulto adaptado ao seu meio e feliz.
O aspecto lúdico na Psicomotricidade é importante por apresentar um caráter
espontâneo desenvolvendo a criação, a imaginação e a fantasia na criança que
fornecerão o acesso ao mundo real. A ação do brincar, por meio da motricidade, fará
com que a criança experimente situações reais no mundo do faz-de-conta que servirão
de base para o desenvolvimento do seu pensamento.
Neste aspecto, percebe-se a importância do trabalho psicomotor levando-se em
consideração que a psicomotricidade cria condições favoráveis ao desenvolvimento
psicológico, afetivo, cognitivo, motor, cultural, social, entre outros aspectos, ou seja, irá
trabalhar a criança em sua totalidade.
A atividade psicomotora na Educação Infantil poderá converter a criança em um
ser de comunicação, de expressão e de criação, oferecendo auxílio no processo de
aprendizagem e favorecendo um desenvolvimento harmônico tanto corporal como
afetivo.
O conteúdo da Psicomotricidade na Educação Infantil ajudará a criança a ter
maior consciência do seu “eu corporal” e do mundo. Com essa consciência, a criança
46 vai estar melhor adaptada em seu ambiente. A criança melhor adaptada em seu ambiente
terá muito mais possibilidade de ser bem sucedida, tanto no ponto de vista da
aprendizagem escolar, como nos aspectos afetivo e social.
47
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49
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Tema: Psicomotricidade
Título: A Importância da Psicomotricidade para Crianças na Educação Infantil
Autor: Débora Cristina Rosário de Jesus
Orientador: Profº. Vilson Sérgio de Carvalho
Data de Entrega: ______________
Avaliado por: ___________________________________________________________
Conceito: ______________
__________________. ______ de ____________ de 200___.