A CULTURA NEGRA EM GUAÍRA
Maria José de Rezende – Professora PDE 2008,
Colégio Estadual Mendes Gonçalves Ensino Fundamental, Médio e
Profissional
Marcos Aurelio Saquet – Orientador PDE, Unioeste
Resumo: A cultura apresenta os aspectos materiais e imateriais que envolvem um
grupo social. Que perpassa pelas ideias, hábitos, crenças e praticas sociais de
acordo com o ambiente que vive e trabalha. Assim sendo produz paisagem e espaço
geográfico. Este artigo é resultado do estudo da cultura negra na cidade de Guaíra
no Paraná, realizado, através de pesquisas de campo e bibliográficas. Apresenta as
contribuições socioculturais e as condições socioeconômicas dos negros e a
espacialização deste grupo no município. Caracteriza os remanescentes da
comunidade quilombola “Manoel Ciríaco dos Santos”, localizada na comunidade do
Maracaju dos Gaúchos. O texto produzido contribui para o estudo e debate em sala
de aula e com a comunidade escolar a respeito da cultura e identidade dos
afrodescendentes. Relata o trabalho realizado com os alunos do segundo ano do
ensino médio do Colégio Estadual Mendes Gonçalves. O trabalho do negro ainda
não é reconhecido na organização do espaço territorial guairense.
Palavras-chave: Cultura. Identidade. Negro.
Summary: The culture has the material and immaterial aspects that involve a social
group. Running through the ideas, habits, beliefs and social practices according to
the environment that lives and works. So take landscape and geography. This article
is the result of the study of black culture in the city of Guaíra Paraná, conducted
through field research and literature. Presents the contributions cultural and
socioeconomic conditions of blacks and spatialization of this group in the city. It
features the remnants of the black community "Ciriaco Manoel dos Santos”, located
in the community “Maracaju dos Gauchos”. The text produced contributes to the
study and discussion in the classroom and the school community about the culture
and identity of African descent. Reports the work with the students of second year of
high school in State College “Mendes Gonçalves”. The work of the Negro is still not
recognized in the organization of territorial space guairense.
Keywords: Culture. Identity. Black.
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Introdução
Este artigo tem por finalidade a conclusão da formação continuada para
professores da rede pública estadual do Paraná – PDE, com objetivo de incentivar o
professor a ser um pesquisador e também servirá para mudança de nível na carreira
profissional. O programa se desenvolveu ao longo do ano de 2008 com aulas
presenciais, leituras de aprofundamento teórico, orientações pedagógicas, didáticas,
conteúdos específicos e aulas não presenciais seguindo as normas das DCEs do
Paraná.
O tema cultura negra em GUAÍRA-PR prendeu minha atenção porque
participei no ano de 2007, de um estudo sobre cultura afro-brasileira e um simpósio
em Faxinal do Céu com o título: Educadores negros e negras do Paraná. Vi no PDE
uma forma de aprofundar-me nesse tema, com a finalidade de aprimorar os
conhecimentos teóricos para desconstruir a idéia de que o negro é inferior, mostrar
que as manifestações culturais negras estão no nosso cotidiano, mas não é
visualizada pela sociedade e explicar que o preconceito contra o negro foi gerado
por uma elite dominante e que se manteve por falta de conhecimento.
Ao desenvolver este tema na escola busco inserir os alunos, colegas
professores, equipe pedagógica e direção nas discussões sobre a contribuição do
negro na formação política, histórica, social, econômica e cultural da população
guairense. E hoje, no município de Guaíra-Pr, encontram-se muitos traços dessa
etnia: nos sobrenomes, na cor da pele, olhos, cabelo, na gastronomia, hábitos e
costumes, jeito de falar, se comunicar, etc. É através do estudo sobre o povo negro
que se pode chegar ao respeito à diversidade cultural deste e de outros povos.
Brum Neto e Bezzi (2008), em seu artigo sobre a materialização da cultura
no espaço, ressaltam que a “temática cultural da atualidade apresenta complexidade
e exige intensos debates para se chegar a conceitualização e reconhecimento de
identidades culturais”. Ainda em Brum Neto e Bezzi (2008), elas explicam que os
estudos culturais seguem duas vertentes: a primeira que se refere à “cultura-
globalização” e a segunda a “diversidade cultural existente no globo”. Aqui, em
Guaíra, essa diversidade se materializa nos indígenas e nos quilombolas
principalmente.
Moreira (1997), fala de “enraizamento cultural”, para ele o enraizamento
cultural se dá a partir da territorialização e desse modo acontece a identidade que só
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é possível com homens e mulheres culturalmente territorializados. Segundo Moreira
(1997), a identidade cultural está implícita nos conceitos de lugar porque este é o
local de afetividade, sociedade, paisagem e território. Esses conceitos podem ser
visualizados no território guairense em vários momentos históricos, mas o grupo
negro que é o objeto de estudo neste artigo, tem maior participação a partir do ano
de 1960, com a modernização da agricultura e industrialização das regiões Sudeste
e Nordeste e a expansão da fronteira agrícola para as regiões Cento-Oeste e Norte
que provocou o processo de desterritorialização em escala regional. Guaíra, como
parte do território nacional, incorporou-se às exigências dessas novas formas de
reorganização do espaço, recebeu um número expressivo de baianos,
pernambucanos, capixabas e mineiros (estes podem ser identificados como
afrodescendentes) que incentivados pelo governo na busca de efetivar a ocupação
da fronteira, estes chegam a Guaíra e vão ocupar a área de segurança nacional,
denominada de faixinha, essa área margeia o rio Paraná a esquerda de Guaíra a
Foz do Iguaçu. No processo de (re) territorialização estes grupos étnicos
contribuíram com seus conhecimentos, usos e costumes para o desenvolvimento
econômico e cultural de Guaíra.
Neste sentido, esse estudo no âmbito cultural tem como foco a cultura
negra em Guaíra-PR, com seus aspectos representativos e a comunidade
quilombola Manoel Ciríaco dos Santos. E sob o “olhar geográfico” busco elementos
que possam materializar e identificar a cultura negra no espaço guairense. Então
cabe aqui citar um conceito de cultura.
Segundo as DCEs do Paraná (2006, p.39), cultura é um conjunto de
idéias, hábitos, crenças e práticas sociais que organizam as relações sociais,
políticas e econômicas de um povo assim sendo produzem paisagem e espaço
geográfico que com o tempo se diferencia, pois cada geração desenvolve sua
própria cultura de acordo com o ambiente em que vive e trabalha.
Devido a essa complexidade na concepção e conceituação da cultura, a
geografia humanista fundamentou-se na fenomenologia e no existencialismo das
filosofias do significado, tendo por base a subjetividade, a intuição, os sentimentos, a
experiência, o simbolismo. O lugar passa a ser o conceito mais relevante, a
paisagem é revalorizada, o território é a matriz e o espaço passa a ser o espaço
vivido, então o espaço passa a ser analisado a partir da experiência pessoal ou
grupal.
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O estudo está pautado em leituras bibliográficas referenciais, na produção
didático pedagógica, em revistas e jornais que falam sobre a cultura negra; nas
entrevistas realizadas na comunidade quilombola Manoel Círiaco dos Santos, na
prefeitura Municipal de Guaíra, na EMATER de Guaíra, no IBGE, no comércio de
Guaíra e em relatos de famílias negras.
O município de Guaíra no contexto histórico
O município de Guaíra está localizado no extremo oeste paranaense, a
24°05' de latitude sul e 54°05' de longitude oeste, na margem esquerda do rio
Paraná que serve de limite entre o estado do Mato Grosso Sul e com a cidade de
Salto Del Guairá na República do Paraguai. Sua extensão geográfica é de 572 Km².
Sua história remonta ao século XVI e está ligada aos indígenas, seus primeiros
habitantes.
No mapa abaixo observa-se o município de Guaíra, seu limite com as
cidades vizinhas, as principais comunidades e em destaque a comunidade
quilombola.
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A delimitação do espaço territorial do Município de Guaíra-PR é marcada
pela história de sua ocupação econômica, política e cultural, inserida na dinâmica de
produção e de reprodução do modo capitalista. A ocupação da fronteira do Brasil
com a Argentina e Paraguai ocorre, historicamente, em virtude de fatores
econômicos e geopolíticos.
No processo de expansão e colonização empreendido pelos portugueses
e espanhóis no século XVI, conforme o Tratado de Tordesilhas, essa região
localizada à margem esquerda do rio Paraná foi colonizada pelos espanhóis.
Sedentos por lucros, eles procuravam, sem cessar, por riquezas ocultas nessa
região. O ideal de conquista levou-os a fundar o Pueblo de Ontiveros na margem
direita do rio Paraná, a uma légua do Salto de Sete Quedas. A três léguas de
Ontiveros, fundou-se outro “pueblo”, a Ciudad Real Del Guairá, na confluência do rio
Piquiri.
Para Tomazinho (1981), baseado em Kurtter, em 1575 foi fundado à
margem esquerda do rio Paraná novo estabelecimento espanhol, denominado Vila
Rica Del Espiritu Santu. Depois Vila Rica foi transferida para a confluência do rio
Corumbataí com o Ivaí. E Vila Rica tornou-se a sentinela castelhana mais avançada
do sertão de Guaíra.
Vila Rica cresceu, prosperou e dominou por mais de meio século, a
região. Entre 1628 e 1632, Vila Rica foi destruída pelos bandeirantes paulistas. Os
objetivos com a destruição foram vários, mas vale destacar o de impedir a expansão
espanhola para leste e aprisionar os indígenas aldeados, que naquele momento
eram a principal mão-de-obra disponível que existia. Segundo Tomazinho (1981),
nas reduções espanholas organizadas pelos padres jesuítas os indígenas
conheciam e desenvolviam alguma forma de produção agrícola e pecuária para
subsistência e exploravam a erva-mate para fins comerciais.
O ataque dos bandeirantes paulistas desarticulou a intenção dos jesuítas
de organizar a “Província Indo - Cristiana Del Guairá”, uma república teocrática, sob
a tutela da Cia. de Jesus. O Paraguai aproveitou-se dessa desarticulação e
proclamou sua independência do antigo Vice-Reinado do Prata, sob a chefia de D.
Gaspar Garcia de Francia que adotou uma política de isolamento, o que levou o
Estado a assumir todas as atividades econômicas em especial a produção e
comercialização da erva-mate. Essa política adotada pelo Paraguai estimulou o
florescimento da economia ervateira paranaense. O mate foi de extrema importância
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para a ocupação e o desenvolvimento de Guaíra.
No século XIX, com a produção da erva-mate em grande escala no
Paraná e o interesse da Argentina na erva-mate paranaense, o governo brasileiro,
conforme decreto imperial nº. 8.799, de 09 de dezembro de 1882 cede a Cia. Mate
Laranjeira o direito de explorar a erva-mate na zona fronteiriça com o Paraguai,
entre os limites do Rincão de Júlio e da cabeceira do Iguatemi (MS). Assim, a Cia.
Mate Laranjeira teve a seu cargo a exploração dos ervais situados no estado de
Mato Grosso (TOMAZINHO, 1981).
O sistema de escoamento da erva-mate tornou-se inviável, pois eram
feitos por carretas puxadas a bois. Então para viabilizar economicamente a
operação de transporte valeram-se dos canais navegáveis dos rios Amambaí,
Iguatemi, Dourados, Brilhante e Ivinhema que deságuam no rio Paraná e desviou
por terra no trecho entre Guaíra e Porto Mendes. Na época, o rio Paraná não
oferecia condições de navegação devido ao Salto das Sete Quedas. Para
concretizar seu plano de escoamento da erva-mate a Cia. Mate Laranjeira adquiriu
em 1902, os direitos sobre o “Porto Monjoli”, hoje Porto Sete Quedas e liga Guaíra
(PR) a Salto Del Guairá (Paraguai) por balsa e o Porto “Britania” em Porto Mendes.
Com base em Tomazinho (1981), a empresa Cia. Mate Laranjeira equipou
o porto Monjoli com todas as instalações necessárias para o setor de transporte,
estação ferroviária, depósitos para a erva-mate dependências para a administração,
oficina, estaleiros, armazém, almoxarifado, serraria, marcenaria, farmácia, hospital,
escola, clube de lazer, habitações, etc. A área territorial da Cia. Mate Laranjeira
perfazia um total de 270.399.914 m². No ano de 1951, a Cia. Mate Laranjeira em
ruína entregou suas terras ao governo Estado do Paraná e este conforme a Lei nº.
790, de 14 de novembro de 1951 emancipam o município de Guaíra (PR).
A população negra em Guaíra
Guaíra pode ser considerado um município multicultural, pois em sua
composição populacional, diferentes grupos étnicos destacam-se: os indígenas,
paraguaios, argentinos, japoneses, alemães, italianos, portugueses, espanhóis,
russos, lituanos, estonianos e negros que contribuíram para o desenvolvimento do
comércio, das indústrias, da agricultura, da educação, turismo, artesanato, etc.
Segundo as DCEs (2006,p.39-41) “as relações políticas e de resistência
devem permear as abordagens da dinâmica cultural e demográfica na geografia
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como forma de contestar a hegemonia daqueles que detêm o poder.” Assim sendo,
os remanescentes de quilombolas que formam a Comunidade Manoel Círiaco, no
município de Guaíra PR, pode ser compreendida como exemplo de resistência. Ao
utilizar das manifestações culturais desse grupo, dá-se visibilidade aos estudos
demográficos de diferentes sociedades ao longo da história. Ex: a sociedade
indígena, japonesa, chinesa, etc., e como estas imprimem suas marcas na
organização do espaço geográfico, através, dos costumes, religião, etc. Localizar e
analisar os vestígios deixados pelas diferentes sociedades permite-nos
compreender e entender os territórios e as novas territorialidades advindas desse
processo de relações com o meio. Ex: no espaço guairense encontram-se vestígios
da cultura inglesa na construção das casas e no traçado das ruas no bairro
denominado Guaíra Velha; no comércio; a cultura libanesa, portuguesa, paraguaia e
árabe; no espaço agrícola; a cultura japonesa, alemã e italiana. É no lugar que o
particular, o histórico, o cultural e a identidade estão presentes, portanto as
manifestações culturais que acontecem permitem manter ou alterar a identidade do
grupo.
Saquet (2007), analisa a identidade através da territorialidade e esta pode
ser construída de diferentes formas: individual e coletivamente (em grupo),
envolvendo edificações, um caráter político, línguas, mitos, ritos, religião e memória.
É importante a identidade na construção do território. Quando esta tem caráter
político traz consigo uma possibilidade de transformação social. Neste contexto
histórico pode ser citado o Movimento Negro que se oficializou no Brasil em 07 de
julho de 1978, em um ato público em frente ao Teatro Municipal de São Paulo.
Nascia aí o projeto político do povo negro para o Brasil.
O termo negro começou a ser usado pelos senhores para designar
pejorativamente os escravizados é este o sentido negativo da palavra e se estende
até hoje. Mas o Movimento Negro ressignificou o termo negro dando-lhe um sentido
político e positivo. Para isso no final dos anos de 1970, e no decorrer dos anos de
1980, utilizou de expressões como: Negro é lindo! Negra, cor da raça brasileira!
Negro que te quero negro!. Para atingir um maior percentual de pessoas se
identificando como negra no censo de 1990 foi usada as seguintes frases: 100%
Negro! Não deixe sua cor passar em branco! Foi veiculado através dos meios de
comunicação falada e escrita. Essa negação da identidade negra pede ser
percebida nas entrevistas realizadas com pessoas negras no município de Guaíra –
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PR.
O Movimento Negro destaca: a lei do sexagenário, a lei do ventre livre de
1871 e a abolição de 13 de maio de 1888, como excludente onde o castigo físico
violento foi substituído por instrumento ideológico o racismo, que por meios de
mecanismos econômicos, culturais, institucionais e legais, segregou os espaços de
moradia, de educação, de consumo e monopolizou os melhores postos de trabalho
e salários para o euro- descendentes. Aqui em Guaíra, pode se confirmar a ação
deste instrumento nos quadros (tabelas) utilizados para mostrar as condições
socioeconômicas da população negra guairense. O racismo no Brasil impede os
negros de ascenderem socialmente.
No Brasil, as políticas de reparação ganham força por pressão do
Movimento Negro, que colocou na Constituição Federal de 1988 o Art. 5º, I, Art. 210,
Art. 206, I, § 1° do Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26ª e 79 B, a
Lei 9.394/96 é regulamentada pela Lei 10.639/2003. Por séculos, diferentes espaços
reproduziram a discriminação racial: a escola, os meios de comunicações escritos e
falados, a sociedade, a política social, a igreja, etc., por isso a lei 10639/2003 veio
legitimar o conhecimento da cultura do povo negro ao estabelecer que o ensino da
história e cultura afro-brasileira seja obrigatório nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficial e particular, mas ressaltando as contribuições positivas
do povo negro para o desenvolvimento histórico, político, econômico, social e
cultural nos espaços onde estão inseridos. Mas, segundo os relatores da
deliberação do conselho estadual de educação do Paraná, o resgate da identidade
dos afro-brasileiros e negros descendentes exige uma organização e mobilização da
sociedade brasileira num todo para que a lei seja aplicada.
Dia Nacional da Consciência Negra, teve seu primeiro ato em 20 de
novembro de 1971, em Porto Alegre. Este é um dia de atos públicos para apresentar
ações positivas do povo negro no Brasil e conclamar os negros a lutar por seus
direitos. “Tudo que o negro deseja é ser tratado como um cidadão comum” (Milton
Santos, segundo Vanda Machado em 04/09/2007).
Os dados e estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) mostram que no ano de 2000, no total da população brasileira de
183.987.291 habitantes, 10.554.336 declarou ser negra e 65.318.092 declarou ser
parda. Segundo os estudos realizados pelo Grupo de Trabalho Clóvis Moura, no
estado do Paraná no ano de 1853, 40% da população paranaense era composta por
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negros. A presença dos negros no território paranaense dá-se por exigência do
desenvolvimento econômico que impõem formas e uso do território e do trabalho
escravo. No início, a procura e extração de ouro no litoral e posteriormente nas
atividades pastoris. Conforme este mesmo estudo só 24% da população
paranaense é negra.
Em Guaíra (PR), num total de 28.638 habitantes, apenas 876 pessoas
identificaram-se como da cor pretas e 8.374 como sendo pardas. Ainda segundo o
IBGE no ano de 2007, houve um acréscimo de 0,5 no percentual chegando a 6,3%
os que se reconhecem como negros e os pardos 43,2% da população brasileira.
Com base nesses dados, pode-se afirmar que muitas pessoas ainda negam sua
identidade, ou seja, não se reconhecem como negras ou afrodescendentes, pois ao
declarar-se parda esconde sua verdadeira identidade, os dados também confirmam
que as condições sociais da maioria dos negros e pardos são inferiores a dos
brancos.
Para conhecer as condições sociais dos negros que residem em Guaíra,
elaborei um questionário com questões fechadas e questões abertas. Para esta
coleta de dados o enfoque foi: os setores da economia, a profissão, a renda, o grau
de escolaridade, a situação habitacional, o consumo de energia os utensílios
utilizados, o local de origem e os costumes. 55 famílias negras responderam o
questionário. Os resultados obtidos são os seguintes:
Quadro 1 - Setores da economia
Formal Informal Não quiseram informar
29 22 03
Fonte: Maria Rezende, 2009.
Trabalho formal é aquele que segue a forma da lei. Nas sociedades
organizadas, as relações de trabalho devem seguir determinadas regras, e tais
regras estão estipuladas na lei. O setor privado é regido pela CLT, o trabalho é
registrado em carteira, o empregado e o empregador contribuem com a previdência
e têm direitos garantidos como: auxílio doença, direito a férias, aposentadoria,
licença maternidade. No caso dos servidores públicos, é o estatuto é que rege, e
existe uma lei específica para cada esfera de governo federal, estadual e municipal.
E as profissões são reconhecidas, ex: advogado, professor, médico, dentista, etc. O
trabalho informal é sem contrato de trabalho, expropriado de todos os direitos
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básicos de garantia de que vai continuar a receber salários nos meses seguintes,
sem direito a férias, à licença maternidade, à seguridade social, a renda não é fixa,
não tem horário de trabalho pré- estabelecido. Ex: prestadores de serviços por
conta, profissões não regulamentadas como: faxineiro, encanador, pintor, pedreiro, e
outros. Obedecem a um acordo verbal, não tem como recorrer à justiça quando são
lezados em seus “direitos”, por isso são impossibilitados de ter uma identidade
social. Ou seja, não é sujeito de direito. Homens e mulheres que exercem esse tipo
de trabalho por necessidades econômicas perdem a noção de cidadania e vivem à
margem de tudo.
Quadro 2 - Grau de escolaridade
Séries iniciais
EF
EF Completo Ensino Médio Curso superior Não
informaram
21 17 18 02 09
Fonte: Maria Rezende, 2009.
Quadro 3 - Renda em salários mínimos
01 à 03 03 à 05 Acima de 06 Não informaram
37 05 03 09
Fonte: Maria Rezende, 2009.
Quadro 4 - Habitação/moradia
Casa própria Pagam aluguel Moram em casa
emprestada
37 10 07
Fonte: Maria Rezende, 2009.
Quadro 5 – Utensílios domésticos
Geladeira Máquina
de lavar
roupa
TV Rádio Computado
r
Freezer Microondas
51 47 46 42 17 02 02
Fonte: Maria Rezende, 2009.
Quadro 6 - Consumo de energia
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R$ 10,00 à R$
50,00
R$ 51,00 à R$
100,00
R$ 101,00 à R$
200,00
Acima de R$
200,00
13 12 10 02
Fonte: Maria Rezende, 2009.
A análise dos quadros acima confirma os dados do IBGE sobre a
população negra em Guaíra – PR e revela os baixos índices sócio-econômicos
desse grupo. Baixo nível de escolaridade, a explicação é o trabalho intenso e
pesado que cerceia a vontade de estudar, salários inferiores as suas necessidades,
a maioria tem residência própria, mas, sem infra-estrutura adequada, os utensílios
são só os de extrema necessidade, o consumo de energia é mínimo, pois estão
inseridos no programa governamentais luz baixa renda.
A profissão é variada para os homens: pedreiro, motorista, funcionário
público, soldador, pescador, bóia-fria, agente de saúde, comerciante, encarregado,
agricultor, tratorista, vendedor de picolé, engenheiro civil, chapeador, marceneiro,
autônomo, loneiro, construtor, serviços gerais, militar, chacareiro, mecânico,
cabeleireiro, e outras. Para as mulheres: só fazem o serviço de casa 16, cozinheira
04, e uma minoria apresentam-se como: diarista, micro empresária, funcionária
pública, comerciante, pescadora, agricultora, empregada doméstica, serviços gerais,
secretária e higienização.
Os pesquisados são oriundos dos estados brasileiros, dos mais variados
municípios destaque para os estados do (e): Paraná, Sergipe, Santa Catarina, Rio
de Janeiro, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rondônia,
Rio Grande do Sul. Todos vieram em busca de melhores condições de vida, e têm
mais de 30 anos que residem em Guaíra.
A migração interregional e intrarregional do povo negro dos estados
brasileiros para Guaíra – PR, foi motivada por fatores geopolíticos e econômicos.
Geopolíticos a ocupação efetiva por meio de povoamento para garantir o limite
fronteiriço com a República do Paraguai. O espaço territorial guairense nas décadas
de 1950, 1960, era coberta por floresta densa, a área urbana tinha uma rua de terra
batida. O exército foi o órgão governamental responsável pela ordem e distribuição
das terras na área de segurança nacional, a faixinha já citada neste estudo. A área
fora da faixa de segurança foi loteada por companhias colonizadoras, os preços
eram acessíveis. O fator econômico era a possibilidade de ter acesso à terra que
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nesse período e para esse grupo “terra” ainda era sinônimo de poder e ascensão
social
Os costumes ainda preservados entre o grupo pesquisado: respeito aos
mais velhos, pedir bênção ao pai e a mãe, dividir as tarefas e afazeres domésticos,
reunir a família, as comidas bem apimentadas, feijoada, frango caipira com quiabo,
doce de abóbora, angu de fubá, bolo de fubá, gostam de dançar, de contar estórias
de assombração e praticar rituais religiosos, benzimentos contra quebranto, olho
gordo, mal olhado.
Comunidade quilombola Manoel Ciríaco dos Santos – Guaíra (PR)
De acordo com o grupo de trabalho Clóvis Moura, as comunidades
quilombolas são grupos étnicos, predominantemente constituídos pela população
negra rural ou urbana, que se auto-define a partir das relações com a terra, o
parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias.
Este grupo tem por objetivo fazer a ponte entre o governo do Estado e as
comunidades quilombolas.
Através dos seus distintos órgãos, o governo Estadual e Federal promove
o etno-desenvolvimento das comunidades quilombolas. Esta iniciativa visa melhorar
as condições de vida e fortalecer a organização dessas comunidades por meio de
acesso a terra, promover cidadania, valorizar experiências históricas e culturais,
recursos ambientais desses grupos para potencializar sua capacidade de
autonomia.
No estado do Paraná, já foram identificadas 86 comunidades e destas 36
já foram reconhecidas. Uma dessas é a comunidade quilombola Manoel Ciriaco dos
Santos, localizada no Município de Guaíra – PR na localidade de Maracaju dos
Gaúchos. Foi reconhecida em 2007 pela Fundação Zumbi dos Palmares.
Nessa comunidade, hoje, vivem 07 famílias, perfazendo o total de 42
pessoas. Tem 03 jovens entre 15 e 20 anos e 13 jovens de 0 a 15 anos. Ocupam
uma área de 06 alqueires, mas o espaço de exploração é menor devido a área de
reserva às margens do córrego Birigui, ao fundo (sul) da propriedade.
De acordo com o relato do senhor José Maria dos Santos, filho do
patriarca Manoel Ciriaco dos Santos chegaram à localidade de Maracaju dos
Gaúchos no ano de 1964, vindo do estado de Minas Gerais, da localidade de Santo
Antonio do Itambé do Cerro, hoje Itambé do Cerro (norte de MG).
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Seus antepassados trabalharam na mineração, nos engenhos de açúcar.
O senhor Manoel Ciriaco dos Santos trabalhou nas lavouras cafeeira, deste trabalho
é que ajuntou o dinheiro para comprar a propriedade. Ele veio com a família que era
composta por 08 filhos. Ao chegar aqui, comprou 15 alqueires de terras férteis e
planas, ótimas para o desenvolvimento da agricultura.
A comunidade de Maracaju dos Gaúchos é formada por descendentes de
italianos, por isso a convivência não foi fácil, eles eram impedidos de comprar os
alimentos básicos nas vendas (nome dado aos pontos de comércio da época),
freqüentar a igreja e as festas da comunidade. Devido a estes constantes
constrangimentos (discriminação/racismo) isolou-se, assim permaneceu
desconhecida para os moradores da cidade e pelo município por um longo período
de 1964 a 2003.
As mudanças nas formas de manejo do solo, ou seja, o processo de
mecanização e a entrada do biênio soja – trigo contribuiu para que 40 pessoas
deixassem a propriedade em busca de novas oportunidades de trabalho. Com
problemas financeiros e falta de mão-de-obra, o senhor Manoel vendeu parte da
propriedade, ou seja, 09 alqueires e sobraram 06 alqueires nos quais passou a
cultivar produtos de subsistência. Com a morte do senhor Manoel pensou-se em
vender a propriedade e fazer a partilha, mas ficam sabendo da Lei 10.639/03,
procuram então ajuda da administração pública.
Em 2007, o grupo foi reconhecido como remanescente de quilombo.
Passou a denominar comunidade quilombola Manoel Ciriaco dos Santos em
homenagem ao senhor Manoel, “o patriarca do grupo”. A comunidade luta para
resgatar e preservar suas tradições, com algumas dificuldades, o que muitas vezes
os distanciam dos costumes passados de gerações a gerações. A comunidade
mantém viva as crenças e hábitos como: o candomblé, as festas juninas, as rodas
de ladainha e capoeira, as danças, os remédios caseiros e a produção artesanal da
farinha de mandioca.
Após o reconhecimento, a comunidade organizou-se num modelo
cooperativista, onde tudo passou a ser coletivo. A produção é diversificada (feijão,
mandioca e hortifrutigranjeiros) usam para a subsistência do grupo e os excedentes
vendem nos supermercados da cidade de Guaíra.
No dia 11/05/2007, a comunidade quilombola recebeu 230 livros do
programa Arca das Letras para montar a biblioteca, os livros são de literatura e
didáticos. Em abril de 2008, foi montado o Telecentro Rural que significa portas de
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acesso gratuito à internet. São 06 computadores interligados em rede através do
programa Gesac (Governo eletrônico – Serviço de atendimento ao cidadão), do
ministério das comunicações (unidade de inclusão digital ou telecentro). “O
programa é avaliado em 70 mil reais, em parceria: ministério das telecomunicações,
Banco do Brasil, Eletrosul, Eletrobrás, governo do estado e prefeitura municipal.”
(relato oral, do senhor José Maria dos Santos, o mais velho da comunidade em
07/07/2008) .
A prática pedagógica
João Rua (2005) diz: todo trabalho deve ter por base o “conhecimento
empírico da realidade do aluno”, saindo de experiências vividas para a
fundamentação teórica. A experiência permite fazer reflexões da realidade,
criticando-a e analisando a luz da teoria. Então para conhecer a realidade dos
negros em Guaíra – PR, apresentei à proposta de trabalho a direção e equipe
pedagógica da escola e aos alunos do 2° ano do ensino médio.
Foto 01 – Alunos do 2º ano do E.M., professores e a diretora em
atividade prática na comunidade quilombola.
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Fonte: Profa. Vilma Fiorotti,2009.
Organizamos a visita à comunidade de remanescentes de quilombos
existente em nosso município, realizamos entrevistas com questionário organizado
(a comunidade quilombola localiza-se na zona rural). Em coleta de dados indireta,
55 alunos negros do colégio Estadual Mendes Gonçalves levaram o questionário
para os pais responderem. Para coletar os dados do IBGE, da Prefeitura Municipal e
da EMATER a turma foi dividida em grupo fez o estudo teórico.
A visita com entrevista à comunidade quilombola trouxe o resultado
esperado, o conhecimento a partir da experiência do aluno, cada grupo trouxe com
detalhes o seu trabalho. Observei que cada grupo ao terminar a atividade a que
tinha sido incumbido corria em busca de outras informações para satisfazer sua
curiosidade a respeito daquele povo.
Foto 02 – Alunos entrevistando o líder da comunidade quilombola.
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Fonte: Profa. Diretora Fernanda Rossato,2009.
De posse do resultado da entrevista, a comunidade quilombola versou
sobre a história, o espaço ocupado, o uso do solo, os costumes (cultura) e as
condições socioeconômicas da comunidade. Percebe-se que ao longo da conversa
o processo de discriminação, exclusão do convívio social com a comunidade vizinha,
e com o município foram acometidos através de frases como: “preto é burro só serve
para trabalhar” “Olha que nuvem preta, vai chover hoje!” “ Vai tomar banho seus
sujos!” e outras. As condições em que se encontram é fruto de um longo processo
de organização e reorganização do espaço territorial brasileiro no qual Guaíra
também está inserida.
“Eles disseram: hoje somos felizes, porque os outros nos respeitam,
recebemos visitas de alunos de diferentes lugares, podemos contar nossa história
aos outros, a gente agora é gente, podemos andar de cabeça erguida”.
(Entrevistado A, 2009)
A prefeitura atende-os agora com mais atenção, freqüentam a unidade de
saúde que atende a todos os munícipes, e estudam nas escolas municipais e
estaduais. A EMATER fornece ajuda técnica. Segundo os dados do IBGE, no último
senso, ano 2000, 876 pessoas declararam-se da cor preta e 8.374 declararam-se da
cor parda. Com base nesses dados pode-se afirmar que muitas pessoas ainda
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negam sua identidade, ou seja, não se reconhecem como negras ou
afrodescendentes.
O estudo teórico trouxe o debate acalorado a respeito da cultura e da
identidade de diferentes grupos sociais em diferentes épocas. Em especial dos
grupos negros. Na medida em que a leitura dos textos acontecia e ia mostrando que
os negros tinham diferentes ofícios no continente africano, forma (jeito) de viver e se
organizar. “Eles, os alunos se indignavam: não tinha como respeitar essas pessoas?
Como pode ser tão cruéis?” (Entrevistado B, 2009). O sistema econômico, político,
social embasado no acúmulo de capital a qualquer custo fez as idéias européias
usar de todos os subterfúgios para garantir ocupação dos espaços, riqueza e poder.
“Ah, agora entendo porque os negros fugiam” (Entrevistado C, 2009) “Somos iguais
como seres humanos, temos direitos e deveres como cidadãos, mas diferentes na
cor dos olhos, na cor da pele, na religião, na forma de pensar, agir, nos usos e
costumes”. (Entrevistado D, 2009) É importante conhecer para respeitar as
diferenças culturais entre os povos.
Em entrevista a 10 pessoas negras, faziam os seguintes
questionamentos: Você se identifica como sendo: branca, preta ou parda? Você
acha que é possível uma pessoa negar sua cor e por quê?
O resultado, três pessoas disseram “sou preta” e sete “sou pardas”. Em
relação ao segundo questionamento leia a resposta da Dona Elvira e da Dona Maria.
Dona Elvira disse: “Eu sou nega, mas não gosto da minha cor porque
sempre serviu de chacota para os outros. Oiá só aquela nega está parecendo
gente! De noite só dá pra vê os dentes e o zoio. Negra só é boa no fogão, bão se
for de lenha que ai a nega sofre. E completa , minha bisavó por parte de minha mãe
era italiana, tinha uns cabelão, mais a minha mãe amasiou com um negão e eu sai
igualzinha, tenho uma raiva!” ( agosto, 2009).
Dona Maria disse: “Eu acho que sou parda, porque preto para mim é
aquele que brilha, parece que lustrou. Meu pai era branco, teve um caso com uma
nega e eu saí assim fula” “Na verdade não sei o que sou, pois meus avôs do lado da
mãe vieram da Bahia e diziam ser descendentes de escravos, meus avós do lado do
pai diziam ser descendentes de português com índio, sou uma mistura danada”
(agosto, 2009).
Considerações finais
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Cultura negra em Guaíra - PR, tema que propiciou pesquisas empíricas e
bibliográficas, discussões a respeito dessa cultura e sua espacialização no território
guairense que datam a partir de 1960, quando o governo federal por meio do
exército brasileiro cedeu a título de posse uma faixa de terra margeando o rio
Paraná de Guaíra a Foz do Iguaçu para os imigrantes vindos de diferentes estados
brasileiros, mas em especial dos estados de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo.
Diferentes etnias vieram, mas o enfoque aqui é para o grupo negro. Todos vieram
em busca de um pedaço de terra para morar, plantar, colher e viver dignamente.
Esse processo migratório foi motivado por fatores geopolíticos e econômicos, uma
estratégia governamental política, mas para os imigrantes uma esperança de vida
melhor.
Sabe-se que a maioria dos negros foi forçada a deixar seu território, sua
pátria com seus usos e costumes, organizações, etc. Dessa forma, aqui no Brasil,
tiveram que reinventar sua sobrevivência. A luta pela sobrevivência vem sendo
travada desde sua chegada ao território brasileiro através de vários movimentos.
Então a lei 10.639/2003, veio contribuir ao exigir dos estabelecimentos de ensino um
novo enfoque a cultura negra. Assim, o negro passa a ser sujeito de sua própria
história. Aqui em Guaíra, os traços dessa cultura estão em todos os setores, mas
passa despercebida por todos, até dos próprios negros. Na escola, no comércio, na
rua ou em qualquer outro lugar perguntar sobre os negros, a resposta imediata é os
quilombolas, há! Aqueles “lutam” capoeira!
No grupo pesquisado, percebe-se que o reconhecimento da identidade
negra ainda está distante, eles têm medo de sofrer retaliação, preconceito ou
discriminação. O negro de Guaíra-Pr ainda não tem conhecimento a respeito desta
busca de identidade e nem dos seus direitos básicos de cidadão. No tocante a
cultura, falam timidamente da culinária. Até porque a identidade é um processo
coletivo, aproxima o grupo e exige conhecimento e todo um modo de vida, ou seja,
os elementos que compõem sua identidade. Identidade negra também é falar de sua
origem com respeito, lembrar dos antepassados com dignidade, pois estes deram
sua contribuição para que o Brasil configure no cenário econômico mundial de
desenvolvimento.
A analise dos dados obtidos mostra que os negros, que residem na zona
urbana, apresentam péssimas condições de vida, salários inferiores às suas
necessidades, residências sem infra - estrutura, baixo nível de escolaridade. Os
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negros da zona rural são pequenos agricultores e apresentam melhores condições
socioeconômicas.
O grupo negro que vem sendo destacando no município de Guaíra são os
remanescentes de quilombolas. A comunidade Quilombola Manoel Círiaco dos
Santos. Eles vivem incrustados uma área de seis alqueires, comprada com capital
próprio, localizada na comunidade de Maracaju dos Gaúchos se identificam como
quilombolas desde 2003. O processo de identificação foi realizado através da
memória coletiva do grupo, pelo grupo de estudos Clóvis Moura. Mas suas
condições socioeconômicas ainda estão abaixo do nível desejado.
O trabalho realizado foi de extrema importância, pois o público alvo, os
alunos do segundo ano do ensino médio, teve a oportunidade de comprovar em loco
a situação socioeconômica dos negros que vivem em Guaíra e conhecer a
comunidade quilombola em todos os seus aspectos históricos, políticos,
econômicos, sociais e culturais. O trabalho de campo despertou-os para os estudos
bibliográficos, pois a leitura torna-se familiar a partir da experiência. A
implementação trouxe o resultado esperado, ou seja, facilitou o ensino
aprendizagem, e despertou nos alunos o gosto pelas pesquisas, conhecer o local
para compreender o global. Proporcionou ao aluno autonomia para produzir
conhecimento, tornando-o sujeito de sua aprendizagem
A produção do folhas e do artigo exigiu uma consulta aos referenciais
teóricos da geografia e a partir da análise evolutiva desse conhecimento específico,
compreender as tendências teóricas e filosóficas atuais para situar no tempo e no
espaço o ensino demográfico cultural. A busca do conhecimento exige disciplina e
disponibilidade de tempo para as pesquisas de campo, mas, o resultado das
atividades executadas, traz satisfação profissional e pessoal. E contribuiu para a
melhoria da prática didático-pedagógica.
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