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CRÉDITO TRIBUTÁRIO
Profa. Helane Cabral
1. Noções gerais
O crédito decorre da obrigação tributária e tem a mesma natureza desta.
Só com o surgimento da obrigação tributária (que se dá com a ocorrência do fato gerador) pode o Fisco exigir o pagamento do tributo?
Pode o Fisco, diante da obrigação principal, assim como do descumprimento da obrigação acessória (que se converte em principal), fazer um lançamento, constituir um crédito a seu favor e exigir o objeto da prestação obrigacional, ou seja, o pagamento.
2. CRÉDITO TRIBUTÁRIO: conceito É o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir do contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação obrigacional).
A obrigação tributária não é afetada por nenhuma circunstância capaz de modificar o crédito tributário, sua extensão, seus efeitos, ou as garantias e privilégios a ele atribuídos, ou excluir sua exigibilidade.
Ex: o lançamento pode ser nulo por falta de defesa, mas a obrigação tributária respectiva permanece intacta.
Antes do lançamento existe a obrigação. A partir do lançamento surge o crédito.
Circunstâncias que podem alterar o crédito tributário
Depois de constituído, somente por lei, o crédito tributário pode ser:a)Modificadob)Extintoc)Suspenso oud)Excluído
A autoridade administrativa não pode: dispensar o seu pagamento e nem as suas garantias, sob pena de responsabilidade funcional.
3. Lançamento: conceito e objeto
A Constituição do crédito tributário é de competência privativa da autoridade administrativa e se dá pelo LANÇAMENTO.
É o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, identificar o sujeito passivo, determinar a matéria tributável e calcular (ou por outra forma definir) o montante do crédito tributário, aplicando, se for o caso, a penalidade cabível (art. 142, CTN).
O lançamento é ato administrativo constitutivo do crédito tributário e declaratório da obrigação correspondente.
3.1. Normas aplicáveis ao lançamento
a) No que se refere a parte substancial (definição da hipótese de incidência, base de cálculo, alíquota, identificação do sujeito ativo e passivo), aplica-se a lei em vigor na data em que se consumou a ocorrência do fato gerador da obrigação;
b) Quanto a penalidades, aplica-se a lei mais favorável ao sujeito passivo;
c) Quanto aos aspectos formais (procedimento), aplica-se a lei em vigor na data do lançamento.
3.2. Fases do procedimento de lançamento
a) Oficiosa – determina-se o valor do crédito e faz-se a notificação ao sujeito passivo;
b) Contenciosa – abre-se a possibilidade de modificação do crédito, pelos seguintes motivos:
b1) impugnação do sujeito passivo;b2) recurso de ofício;b3) iniciativa da própria autoridade administrativa
3.3. Critérios jurídicos no lançamento
É possível a revisão de lançamento?
Regra: a modificação feita de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa durante o lançamento, só pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução (art. 146, CTN).
Objetivo: evitar o efeito surpresa.
3.4. Modalidades de lançamento
a) de ofício:
O lançamento é feito por iniciativa da autoridade administrativa, independentemente de qualquer colaboração do contribuinte.
Qualquer tributo pode ser lançado de ofício, desde que não tenha sido lançado regularmente em outra modalidade.
Ex: IPTU e IPVA.
Características: a) de iniciativa da autoridade tributária; b) independe de qualquer colaboração do sujeito passivo
b) Por declaração
O lançamento é feito com base na declaração fornecida pelo contribuinte ou por terceiro, quando um ou outro presta à autoridade administrativa informações quanto à matéria de fato indispensável à sua efetivação.
Ex: apuração do imposto de importação decorrente de declaração do passageiro que desembarca do exterior.
Características: a) o sujeito passivo fornece informações à autoridade tributária; b) a autoridade tributária lança após receber as informações.
c) Por homologação (autolançamento)
É o lançamento feito quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa no que concerne à sua determinação.
A autoridade administrativa toma conhecimento da determinação feita pelo contribuinte e homologa.
Ex: IR, ICMS, IPI e ISS.
Características: a) sujeito passivo antecipa o pagamento; b) não há prévio exame da autoridade tributária; c) a autoridade tributária faz a homologação posterior;
Regras importantes
1. Se o contribuinte efetuar o pagamento antecipado extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação.
2. Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de 5 anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
3. O objeto da homologação é a apuração do montante devido e não o pagamento, por isso é possível a homologação sem que tenha havido o pagamento
3.5. Revisão do lançamento
O lançamento pode ser objeto de revisão, desde que seja constatado erro em sua elaboração e não esteja extinto pela decadência do direito de lançar, que ocorre em 5 anos.
A revisão pode se dar de ofício (por iniciativa da autoridade administrativa) e a pedido do contribuinte (pode configurar denúncia espontânea e não cabe a imposição de penalidade).
4. SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
As hipóteses de suspensão do crédito tributário só alcançam a obrigação principal
A exigibilidade do crédito tributário pode ser suspensa mesmo antes de sua constituição definitiva e pode ser:
a) prévia, operando-se antes do surgimento da própria exigibilidade; e
b) posterior, operando-se depois que o crédito está constituído e por isso mesmo exigível.
4.1. MORATÓRIA
É a prorrogação do praz para pagamento do crédito tributário, com ou sem parcelamento.
A concessão depende de lei, pois situa-se no campo da reserva legal.
Afasta a cobrança de multa, juros moratórios e correção monetária (art.152 a 155, CTN).
Deve ser pago integralmente e não em parcelas.
a) Espécies de Moratória
a1) Geral: é concedida pelo ente federativo competente para instituir o tributo que deve determinar a região abrangida, indicar a classe ou categoria de pessoas físicas ou jurídicas.
Deve resultar de previsão em lei e gera direito adquirido.
a2) Individual
Deve ser requerida pelo interessado, que comprovar seu enquadramento na situação descrita na lei.
É concedida por despacho da autoridade competente para fiscalizar e arrecadar o tributo e não gera direito adquirido.
A lei que concede a moratória deve prever:
•As condições para concessão do favor;
•Os tributos a que se aplica;
•O prazo para sua duração;
•Os vencimentos;
•As garantias a serem oferecidas pelo
beneficiário para o pagamento da dívida.
O alcance da moratória
Se a lei não dispuser de outro modo, a moratória abrange somente:
-Os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder;
-Os créditos cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data e tenha sido o sujeito passivo notificado.
Excluem-se: os beneficiários que agirem com dolo, fraude ou simulação.
Regras
1. A lei concessiva da moratória pode determinar que a mesma só se aplica em determinada região do território da pessoa jurídica que a expedir ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos;
2. A moratória individual não gera direito adquirido e pode ser revogada de ofício, se o beneficiário deixa de satisfazer as condições legais.
3. Se a moratória for anulada o crédito torna-se exigível.
4. A moratória suspende a prescrição.
4.2. Depósito do montante integral do crédito
Ocorre quando o sujeito passivo deposita o montante do crédito tributário objetivando suspender a exigibilidade do crédito porque pretende discutir judicialmente a cobrança, no todo ou em parte.
Ocorre quando contribuinte entende não ser devido o tributo.
Se entender que o valor devido é menor, o correto será pagar o que considera devido e depositar apenas o que entende ser indevido.
Espécies de depósito. Pode ser:
a) prévio (anterior a constituição definitiva do crédito) e não impede o lançamento, mas impede a cobrança do crédito respectivo.
b) posterior (quando feito depois do lançamento). Neste caso suspende a exigibilidade do crédito.
Importante * Para suspender a exigibilidade do crédito, o depósito deve corresponder ao valor integral pretendido pela Fazenda Pública;
* O depósito não constitui condição para que o sujeito passivo possa impugnar a exigência;
•Se o contribuinte for vencido na esfera administrativa, constitui-se definitivamente o crédito e o depósito converte-se em renda da entidade tributante, salvo se o sujeito passivo ingressar em juízo, no prazo de 30 dias.
•Tem a finalidade de evitar a aplicação de multa moratória, os juros moratórios e a correção monetária.
•O depósito pode ser feito em ação cautelar ou em ação de consignação em pagamento.
4.3. Reclamações e recursos administrativos
São adotados pelo sujeito passivo que deseja discutir o crédito perante a autoridade competente para arrecadar e fiscalizar o tributo.
Para suspenderem a exigibilidade do crédito devem ser feitos nos termos das leis reguladoras do procedimento administrativo, respeitando-se os prazos.
São interpostos por meio de consulta ou recurso administrativo.
4.3. Reclamações e recursos administrativos
São interpostos antes da constituição do crédito, pois a exigibilidade só existe quando não mais cabe recurso ou reclamação
Impedem que o Fisco inscreva o crédito na Dívida Ativa.
A consulta só é cabível quando não há qualquer procedimento de cobrança por parte do Fisco, mas o contribuinte não tem certeza se está sujeito ou não pagamento ou tem dúvidas quanto a aplicação da lei (cálculo, por ex.).
4.4. Medida liminar em mandado de segurança
É usado quando o contribuinte entende que a cobrança é feita de forma abusiva.
Como a atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, o contribuinte não precisa esperar esperar para que se concretize o lançamento.
O justo receio, a ensejar a propositura da ação, decorre do dever legal da autoridade de fazer a cobrança. Não é razoável presumir-se que a autoridade administrativa vai descumprir o seu dever.
Importante
* Na liminar em Mandado de Segurança pede-se a suspensão do ato que deu motivo ao pedido.
* a liminar é sempre provisória e presta-se para manter a situação, afastando-se o ato impugnado até seu julgamento final, para evitar danos irreparáveis ou de difícil reparação.
* A liminar vale por 90 dias, prorrogável por mais 30 dias.
4.5. Medida liminar e antecipação de tutela
Produz os mesmos efeitos da liminar em sede de Mandado de Segurança.
4.6. Parcelamento
É uma espécie de moratória, prevista em lei, e implica em confissão da dívida que fica com a exigibilidade suspensa até o pagamento da última parcela.
O não pagamento do parcelamento implica no vencimento antecipado da dívida confessada e pode ser inscrita na dívida ativa.
Não exclui a multa e a correção monetária.
A denúncia espontânea não se aplica em caso de parcelamento.