Download - 47734684-Processo-Executivo
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
1/39
DIREITO PROCESSUAL CIVIL III
DIREITO EXECUTIVOPROF. LUS BONIFCIO RAMOS
Faculdade de Direito de Lisboa
DISCLAIMER
Estes apontamentos no dispensam o estudo dos manuais recomendados pelo
Professor Regente e Assistente.
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
2/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
PARTE GERAL
1. INTRODUO
1: NOO
Tipos de aces:
Declarativa:
o De simples apreciao
o De condenao
o Constitutiva
Executiva: tem por finalidade a reparao efectiva de um direito violado, e
no a declarao da existncia de direitos (art. 45, n 2).o Pagamento de quantia certa:
O exequente/credor pretende obter o cumprimento de uma
obrigao pecuniria, atravs da execuo do patrimnio do
executado/devedor (art. 817 CC).
Pretende-se obter um resultado idntico ao da realizao da
prpria prestao.
PAULA COSTA E SILVA identifica trs fases na aco
executiva de pagamento de quantia certa: 1. Fase liminar
2. Fase da penhora
3. Fase de pagamento
o Entrega de coisa certa:
O exequente titular do direito prestao de uma coisa
determinada e pretende que o tribunal apreenda essa coisa
ao devedor e lha entregue de seguida (art. 827 CC).
Pretende-se obter um resultado idntico ao da realizao daprpria prestao ou, se tal no for possvel, a liquidao do
valor da coisa no encontrada e dos prejuzos resultantes da
falta da sua entrega (art. 931).
o Prestao de um facto:
Facto positivo:
Facto fungvel: o exequente pode requerer que o
facto seja prestado por outrem custa do devedor
(art. 828 CC), pelo que sero apreendidos e vendidos
2
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
3/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
os bens que forem necessrios ao pagamento do custo
da prestao.
Facto infungvel: o facto no pode ser prestado por
outrem que no o devedor, pelo que se deve proceder
apreenso e venda dos bens suficientes paraindemnizar o exequente do dano sofrido com o
incumprimento.
Facto negativo (dever de omisso) art. 941:
As prestaes de facto negativo so, por sua
natureza, infungveis.
Exemplo: caso da chamin de Colmar (acto
emulativo). O exequente pedir a demolio da obra
que tenha sido efectuada pelo devedor, custadeste, assim como a indemnizao do prejuzo sofrido
(art. 829 CC).
Em qualquer caso, pretende-se obter um resultado idntico
ao da realizao da prpria prestao ou, se tal no for
possvel, um seu equivalente.
2: FUNO
Desta primeira abordagem, conclui-se:
A aco executiva pressupe o dever de realizao de umaprestao.
A aco executiva visa reparar um direito efectivamente violado, pelo que
no pode ter lugar perante a simples previso de violao do mesmo.
A aco executiva visa a obteno de um resultado idntico ao da realizao
da prpria prestao devida (execuo especfica), por meio directo
(apreenso/entrega da coisa ou da quantia devida) ou por meio indirecto
(apreenso e venda dos bens e subsequente pagamento); se tal no for
possvel, a execuo diz-sepor equivalente.
O tipo de execuo sempre determinado em face do ttulo executivo:
o Se do ttulo executivo constar:
Obrigao pecuniria: aco de pagamento de quantia certa.
Obrigao de prestao de coisa: aco de entrega de coisa.
Obrigao de prestao de facto: a aco de prestao de
facto.
A satisfao do credor conseguida mediante a apreenso de bens pelo
tribunal para que, em substituio do devedor, possa pagar ao credor.
3
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
4/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
3: DECLARAO OU ACERTAMENTOOcorrendo num momento posterior aco declarativa, o ponto de partida da aco
executiva coincide, precisamente, com o ponto de chegada da primeira: a declarao ou
acertamento de um direito ou de uma situao jurdica.
Entre os dois processos (declarativo e executivo) assiste-se, geralmente, a uma
coordenao funcional, ainda que sejam estruturalmente autnomos. Esta coordenao
funcional cessa quando o ttulo executivo no uma sentena, em termos que veremos infra.
Ainda assim, os princpios da igualdade das partes e do contraditrio no assumem,
no processo executivo, igual dimenso do que no processo declarativo: com efeito, o
executado no goza de uma posio jurdica paritria do exequente (em termos materiais) e
o seu direito contradio fundamentalmente assegurando ex post, por via da oposio
execuo (aco declarativa autnoma relativamente ao processo executivo).
4: O JUIZ E O AGENTE DE EXECUO
Antes da reforma da aco executiva de 2003, cabia ao juiz a direco de todo o
processo executivo, sem restries (art. 265, n 1), mediante o proferimento de inmeros
despachos judiciais.
A reforma surgiu da discusso entre dois modelos alternativos ao status quo vigente: O primeiro, mais radical, defendia a retirada dos processos de execuo da
esfera dos tribunais, sem mais. A execuo ficaria entregue a entidades de
natureza administrativa (modelo sueco) desjudicializao.
O segundo, mais moderado, defendia a manuteno do processo executivo na
esfera dos tribunais (de natureza especializada) e impunha ao exequente um
maior grau de empenhamento no sucesso da aco executiva (modelo
francs: hussiers de justice) desjurisdicionalizao. Foi este modelo que foi
acolhido pelo legislador nacional.
Com a reforma, optou-se por um modelo no qual o juiz exerce funes de tutela (art.
809, n 1 b), c) e d)) e de controlo (proferindo despacho liminar em determinados casos,
arts. 809, n 1 a), 812 e 812-A). Deixou, portanto, de ter a seu cargo a promoo das
diligncias executivas: no lhe cabe, em regra, ordenar a penhora, a venda e o pagamento,
extinguir a instncia executiva ou o desempenho de actos instrumentais como a citao, as
notificaes ou as publicaes.
Quando a lei no determine diversamente, a realizao da maior parte das diligncias
do processo cabe ao agente de execuo, figura introduzida com a reforma (art. 808, n 1 e
6). O agente de execuo pode ser um solicitador de execuo (profissional liberal escolhidopelo exequente no requerimento executivo, art. 810, n 3 e)) ou, quando no haja solicitador
4
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
5/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
no crculo, um funcionrio judicial (oficial de justia que desempenha, em princpio, as
mesmas funes que o solicitador de execuo). As despesas com o agente de execuo so
imputadas s custas.
O facto de a competncia para a realizao das diligncias supra atribuda ao agente
de execuo, no prejudica o poder geral de controlo do juiz (que pode proceder avocaooficiosa de processos) nem a possibilidade de oficiosamente ordenar as actuaes que julgue
adequadas. Para mais, certos actos (vg tutela de direitos fundamentais) impem a necessria
interveno do juiz, bem como actos para os quais vigora um princpio de reserva de
jurisdio quanto a todos os incidentes de natureza declarativa (despacho liminar, oposio
execuo, oposio penhora, etc.). Por outro lado, o juiz pode destituir o agente de
execuo ao abrigo do art. 808, n 4 (com alteraes com a Reforma a vigorar em 2009).
Estas razes levam a que LEBRE DE FREITAS refute, contra TEIXEIRA DE SOUSA, a
existncia de qualquer relao de quase-mandato entre o agente de execuo e o
exequente, uma vez que o ltimo no d ordens ao primeiro.
Ainda assim, a criao desta figura implica uma larga desjurisdicializao do processo
executivo, envolvendo uma menor interveno do juiz (e da secretaria) nos actos processuais.
Por outro lado, poder-se- assistir a um recurso abusivo aco executiva em situaes em
que falte ou seja insuficiente o ttulo executivo (maxime com o alargamento dos ttulos
executivos generalidade dos documentos particulares, com a reforma de 1996), caso em
que a reduzida interveno do juiz dificultar a percepo de falhas materiais ou processuais.
Todavia, a menor interveno do juiz em actos puramente instrumentais, como
consequncia da introduo da reforma, de louvar, uma vez que promove adesburocratizao e a celeridade processuais.
2. PRESSUPOSTOS DA ACO EXECUTIVA
1: PRESSUPOSTOS ESPECFICOS
A exequibilidade do direito prestao depende de duas condies:
Ttulo executivo: o dever de prestar deve constar de ttulo executivo
pressuposto de exequibilidade extrnseca do direito prestao.
o Sob pena de: recusa do requerimento executivo pela secretaria.
Certeza, exigibilidade e liquidez: a prestao deve ser certa, exigvel e
lquida pressuposto de exequibilidade intrnseca do direito prestao.
o Sob pena de: no realizao coactiva da prestao.
So pressupostos processuais da aco executiva, sem a verificao dos quais esta no
admissvel.
2: PRESSUPOSTOS GERAIS
5
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
6/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Para alm dos pressupostos especficos da aco executiva, cabe verificao dos
pressupostos do processo civil, nos termos gerais:
Competncia
Legitimidade
Patrocnio judicirioE, eventualmente:
Litisconsrcio e coligao
Cumulao de pedidos
3. O TTULO EXECUTIVO
1: NOO
Toda a aco executiva tem por base um ttulo, atravs do qual se determinam o fime os limites da primeira (art. 45, n 1):
O tipo de aco em causa (pagamento de quantia certa, entrega de quantia
certa ou prestao de facto)
O objecto da aco
As legitimidades activa e passiva (art. 55, n 1)
Esta afirmao preliminar no prejudica que o ttulo seja complementado, maxime se
a obrigao no for certa, exigvel ou lquida (arts. 802 a 805).
A importncia do ttulo executivo resulta no patamar de segurana mnima queoferece quanto existncia do direito de crdito que se pretende ver executado.
2: TIPOS DE TTULO EXECUTIVO
O ttulo executivo pode ser: (o que equivale a dizer execuo apenas pode servir
de base, cfr. art. 46, n 1)
Sentena condenatria:
Documento exarado ou autenticado por notrio
Escrito particular assinado pelo devedor
Ttulo executivo por fora de disposio especial (residualmente)
2.1: SENTENA CONDENATRIA
A expresso sentena condenatria infeliz: a sua noo aponta para um
entendimento lato sensu, uma vez que pode ser proferida em processo civil, penal, etc.
Pretendeu-se, originariamente, delimitar a tnue fronteira com a sentena de condenao
(sentena proferida em aco declarativa de condenao, apenas no mbito do processo
civil).
6
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
7/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Precise-se: das sentenas judiciais, apenas a sentena de condenao constitui ttulo
executivo (LEBRE DE FREITAS). A sentena proferida em aco declarativa constitutiva
produz, automaticamente, efeito constitutivo, nada mais restando para executar. J quando
a aco seja declarativa de simples apreciao, a sentena apenas reconhece a existncia de
um direito, nada mais acrescentando.Para que a sentena seja exequvel, necessrio que tenha transitado em julgado
(art. 47, n 1), ie, que seja insusceptvel de recurso ordinrio ou de reclamao (art. 677).
Todavia, se o recurso interposto contra essa sentena tiver efeito meramente devolutivo (e
no suspensivo), entende-se que a sentena no constitui ttulo executivo, mesmo depois do
trnsito em julgado (art. 47, n 1, in fine). Cumpre apreciar:
Os recursos podem ter os seguintes efeitos sobre a sentena condenatria:
o Suspensivo: os efeitos da sentena da 1 instncia ficam suspensos
at apreciao do recurso, pelo tribunal superior.o Meramente devolutivo: possvel executar a deciso recorrida na
pendncia do recurso (a deciso recorrida j constitui ttulo
executivo, enfim). A sentena da primeira instncia devolvida ao
tribunal e os efeitos totais esto condicionados deciso do tribunal
superior. a regra nos recursos de apelao (para as Relaes, art.
692, n 1 com a reserva das excepes que este art. enuncia, por
vezes de verificao mais frequente do que a regra) e de revista (para
o STJ, art. 723).
Com efeito, se a aco executiva tiver sido instaurada na pendncia de recurso com
efeito meramente devolutivo, a execuo ser necessariamente provisria, uma vez que
susceptvel de sofrer alteraes em face da deciso que a causa tenha nas instncias
superiores. Quando a causa for definitivamente julgada, a deciso proferida nas instncias
superiores ter o efeito de (art. 47, n 2):
Extinguir a execuo, absolvendo o ru/executado; ou
Modificar a execuo, no seu todo ou em parte, mantendo a execuo
(parcial) do ru.
Se for proferida uma sentena de condenao genrica (sentena proferida sem quehaja elementos para fixar o objecto ou a quantidade, art. 661), e se a liquidao da
obrigao pecuniria no depender de simples clculo aritmtico, a sentena s constitui
ttulo executivo depois do incidente de liquidao (em processo declarativo - reaberta a
sentena declarativa), segundo os arts. 47, n 5 e 378, n 2. Por outras palavras, a sentena
de condenao genrica quantitativamente indeterminada e s se torna exequvel com a
sentena de liquidao. A quantia a executar diz-se ilquida quando o montante dos danos
no foi ainda apurado, vg. Compreende-se porque constitui a sentena de liquidao condio
de exequibilidade da sentena de condenao: com efeito, a primeira complementa a
segunda e, juntas, formam o necessrio ttulo executivo. Esta afirmao no prejudica a
7
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
8/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
imediata exequibilidade da parte da sentena de condenao que seja desde logo lquida
(art. 661, n 2).
A sentena proferida por tribunal estrangeiro exequvel aps reviso e confirmao
pelo tribunal da Relao competente (reviso formal + reviso de mrito, luz dos princpios
do Estado da recepo), nos termos dos arts. 49 e 1095. S assim a sentena produz efeitosem Portugal, salvo tratado, conveno, regulamento comunitrio ou lei especial em
contrrio (vg Conveno de Lugano, Conveno de NY, Regulamentos n 44/2001 (BRUX I),
1346/2000 e 805/2004 - Ttulo Executivo Europeu).
A confirmao depende da verificao dos seguintes requisitos (art. 1096):
Trnsito em julgado da sentena, segundo a lei do pas em que foi proferida.
A sentena estrangeira no pode versar sobre matria da exclusiva
competncia internacional dos tribunais portugueses, nos termos do art. 65-A
A sentena estrangeira no pode provir de tribunal estrangeiro cuja
competncia tenha sido provocada em fraude lei.
No invocao da excepo de litispendncia ou de caso julgado.
Respeito pelo direito de defesa e observncia dos princpios do contraditrio
e da igualdade das partes.
A deciso no pode contrariar a ordem pblica internacional portuguesa.
No se verificando um destes requisitos cumulativos, probe-se a concesso de
exequatur (ie, a concesso de ttulo executivo).
Como supra foi indiciado, a aplicao das regras de reviso e confirmao de
sentenas estrangeiras (arts. 1094 ss) est limitada pela vigncia do BRUX-I e da Conveno
de Lugano, nos quais encontra consagrao o princpio do reconhecimento automtico das
sentenas proferidas noutro Estado-membro/contratante, sem necessidade de exequatur
(concesso de executoriedade deciso segundo os pressupostos formais). Com efeito, as
decises proferidas num Estado-membro/contratante so reconhecidas em qualquer Estado
onde sejam invocadas, mesmo que a ttulo incidental (para resolver uma questo prvia de
que dependa a deciso ou para a deduo da excepo de caso julgado). Diferentemente, se
a deciso estrangeira for invocada a ttulo principal e houver impugnao (ie, no for aceite),
o reconhecimento pode ser pedido em aco de simples apreciao dirigida ao tribunal decomarca do domiclio da parte contra a qual a pretenda fazer valer ou ao do lugar da
execuo arts. 33 e 39 BRUX-I.
Ao credor cabe escolher qual dos regimes prefere (uma vez que o primeiro no foi
revogado pelo segundo):
Regulamento n 44/2001: BRUX-I
o A matria que regula mais ampla.
Regulamento n 805/2004: Ttulo Executivo Europeu
o Respeita apenas aos crditos no contestados.
o mais clere.
8
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
9/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
o mais oneroso.
Em qualquer dos casos o processo de reviso e de confirmao de sentenas
estrangeiras foi simplificado: ao contrrio do regime constante do Cdigo de Processo Civil,
estes Regulamentos no prevem reviso de mrito da sentena.
O termo sentena condenatria (art. 46, n 1 a)) abrange:
Acrdos (art. 156, n 3)
Sentenas estrangeiras (revistas e confirmadas)
Despachos e outras decises ou actos de autoridade judicial que condenem
no cumprimento de uma obrigao, em termos equiparveis (art. 48, n 1):
o Exemplo: despacho que impe uma multa s partes ou s
testemunhas.
Decises dos tribunais arbitrais (art. 48, n 2), inclusive as decises detribunais arbitrais proferidas no estrangeiro, depois de reviso e confirmao
nos termos gerais.
Sentenas homologatrias:
o Exemplo: sentena homologatria de transaco ou confisso do
pedido (art. 300, n 3) o juiz limita-se a verificar a sua validade
enquanto negcio jurdico.
o LEBRE DE FREITAS no concorda com a sua qualificao enquanto
ttulos executivos imprprios ou parajudiciais, uma vez queconstituem sentenas de condenao como as restantes.
2.2: DOCUMENTO EXARADO OU AUTENTICADO POR NOTRIO
Os documentos exarados ou autenticados por notrio (art. 46, n 1 b)) so ttulos
executivos extrajudiciais ou negociais, uma vez que no se produzem em juzo e emergem de
um negcio jurdico celebrado extrajudicialmente. Constituem exemplos (art. 50):
Documentos autnticos, exarados por notrio:
o Testamento pblico
o Escritura pblica
Documentos autenticados, levados ao notrio para que ateste a conformidade
da vontade dos seus autores com o respectivo contedo:
o Testamento cerrado (art. 2206, n 4 CC) escrito e assinado pelo
testador ou por pessoa a seu rogo (art. 2208 CC).
Nota: o testamento no constitui ttulo executivo quando dele apenas se transmitem
bens do testador; j o ser se o testador nele confessar uma dvida ou constituir uma dvida
que imposta ao sucessor, casos em que a herana carece de aceitao pelo sucessor. De
qualquer forma, o reconhecimento da dvida no tem, em princpio, efeitos sucessrios, mas
9
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
10/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
vlido se o testamento for invlido (a invalidade do testamento no afecta a confisso ou o
reconhecimento inerente).
Os documentos autnticos e autenticados constituem ttulo executivo quando:
Formalizam o acto de constituio de uma obrigao.
Deles consta o reconhecimento, pelo devedor, de uma obrigao preexistente(confisso do acto e reconhecimento de dvida, cfr. arts. 352, 358 n 2, 364
e 458 CC).
A prova da obrigao pode ser feita atravs do documento original ou de uma
certido ou cpia autenticada (arts. 383 ss CC).
O art. 50 oferece dvidas interpretativas que devem ser analisadas em particular:
Na sua anterior redaco, o art. 50, n 2 dispunha: as escrituras pblicas
nas quais se convencionem prestaes futuras podem servir de base
execuo [de ttulo executivo, enfim], desde que se prove, por documentopassado em conformidade com as clusulas da escritura, ou revestido de fora
executiva, que alguma prestao foi realizada em cumprimento do negcio
dir-se-ia abranger os contratos de abertura de crdito, fornecimento,
empreitada e outros contratos de execuo continuada. A entidade
financiadora (vg banco), o fornecedor, o empreiteiro ou outro credor que,
segundo o ttulo executivo, tivesse que efectuar prestaes futuras
(posteriores emisso do ttulo executivo), deveria provar t-las efectuado
por um documento complementar (uma vez que as prestaes futuras no
constavam do ttulo executivo).
Esta redaco colidia com o disposto no art. 804, n 2, o qual admitia j,
para os contratos de execuo instantnea ou continuada, meios de prova
mais alargados, no mbito da prova complementar do ttulo executivo (a
expresso de LEBRE DE FREITAS).
Contrapondo as duas normas, o regime da primeira mais apertado do que o
da segunda, pelo que a compatibilizao entre os dois preceitos passou pela
restrio da expresso prestao futura (art. 50, n 2, verso anterior),
fazendo-a coincidir com prestao constitutiva de um direito real (quoadconstitutionem). S neste caso seria exigida a prova complementar do ttulo
executivo. Feita esta interpretao, de entre o contrato de abertura de
crdito, fornecimento e empreitada, apenas o primeiro caberia seguramente
na previso da norma, exigindo-se a prova documental do emprstimo mesmo
quando esta fosse dispensada (art. 396 CCom). Para os outros contratos,
caberia aplicao do art. 804.
A nova redaco do art. 50 no clarificou esta questo na totalidade:
Os documentos exarados ou autenticados por notrio em que:
1. Se convencionem prestaes futuras; ou que
10
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
11/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
2. Se preveja a constituio de obrigaes futuras,
podem servir de base execuo [de ttulo executivo, enfim], desde que se prove, por
documento passado em conformidade com as clusulas dele constantes ou, sendo aqueles
omissos, revestido de fora executiva prpria, que:
1. Alguma prestao foi realizada para concluso do negcio; ou que
2. Alguma obrigao foi constituda na sequncia da previso das partes.
Na primeira das situaes aqui previstas (1. Prestaes futuras), substituiu-se a
expresso em cumprimento do negcio pela expresso para concluso do negcio, pelo
que aqui subjaz a ideia de exigncia de prova complementar da realizao da prestao
constitutiva de um contrato real prometido por documento autntico ou autenticado. Aqui se
abrangemos contratos de abertura de crdito, de mtuo, fornecimento, comodato, depsito
ou locao.
A segunda situao agora prevista (2. Constituio de obrigaes futuras) abrange oscasos em que as partes no se tenham vinculado celebrao de um negcio jurdico, mas
tenham previsto apenas, em documento autntico ou autenticado, a possibilidade dessa
celebrao, maxime se constituram logo garantia (vg hipoteca).
2.3: DOCUMENTO PARTICULAR ASSINADO PELO DEVEDOR
Os documentos particulares assinados pelo devedor, que importem a constituio ou o
reconhecimento de obrigaes pecunirias (art. 46, n 1 c)), so ttulos executivos
extrajudiciais ou negociais, uma vez que tambm eles no se produzem em juzo e emergem
de um negcio jurdico celebrado extrajudicialmente.
A exequibilidade dos documentos particulares foi progressivamente generalizada com
a evoluo do processo executivo: dispensou-se o reconhecimento notarial da assinatura do
devedor nas letras, cheques e livranas, de qualquer montante, e estendeu-se a
exequibilidade dos documentos dos quais conste a obrigao de entrega de coisa imvel (com
efeito, essa obrigao pode validamente constar de documento particular, maxime quando
respeite a direito pessoal de gozo).
Para que constituam ttulos executivos, impe-se:
Um requisito de fundo: deles deve constar a obrigao de pagamento de
quantia determinada ou determinvel por simples clculo aritmtico, de
entrega de coisa ou de prestao de facto (art. 46, n 1 c)).
o Uma vez mais, a formalizao da constituio da obrigao ou o
reconhecimento de dvida so provados nos termos dos arts. 386 e
387 CC.
Um requisito de forma: quando se trate de documento assinado a rogo, a
assinatura do rogado deve serpresencialmente reconhecida por notrio (art.
51). Documento assinado a rogo aquele que assinado por outrem que noo seu autor, se este no souber ou no puder assinar(art. 373, n 1 CC).
11
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
12/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
o Apesar de o reconhecimento, pelo notrio, da assinatura do devedor
no constituir hoje requisito de exequibilidade do documento
particular, este desempenha um papel fundamental quando o
documento haja sido assinado a rogo.
o Nestes termos, o termo de reconhecimento presencial da assinaturado rogado deve conter (art. 373 CC):
A meno de que o rogante declarou no saber ou no poder
assinar o documento.
A meno de que o documento lhe foi lido.
A meno de que o rogo lhe foi dado ou confirmado perante o
notrio.
Os cheques, as letras e livranas merecem apreciao individualizada:
Os cheques, as letras e as livranas constituem ttulos executivos segundo a acepo
aqui em apreo: so documentos particulares assinados pelo devedor, que importam a
constituio de uma obrigao ou o reconhecimento de uma dvida (cfr. art. 46, n 1 c)).
Estes ttulos de crdito no so, em processo executivo, substituveis por uma cpia, ainda
que dotada da fora probatria do original (arts. 383 ss CC), uma vez que neles est
incorporada a obrigao cambiria.
Diferenciaremos, pois, cada um destes ttulos de crdito:
Cheque: ordem de pagamento, dirigida a um banqueiro, em cujo
estabelecimento deve existir um fundo depositado. Caso contrrio, o cheque
diz-se sem proviso, e cabe recurso aco cambiria, nos termos dos arts.
29 e 40 LUCh.
o Sacado: quem deve pagar a instituio bancria.
o Sacador: quem passa o cheque, o qual pode ser endossado a terceiro.
o Portador: ordem de quem o cheque passado.
Letra:promessa de que o aceitante pagar a quantia subjacente.
Livrana:promessa de pagamento.
Num caso em que uma obrigao seja cumprida atravs da emisso de um cheque,
letra ou livrana, cumpre distinguir:
A obrigao subjacente (vg a conta de supermercado que foi liquidada pelo
cheque, letra ou livrana).
A obrigao cartular constante do cheque, letra ou livrana (relao
cambiria).
Neste mbito vigora o princpio da abstraco: a validade da relao cambiria nodepende da validade da relao subjacente.
12
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
13/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Questiona-se se, uma vez prescrita a obrigao cartular constante de um cheque
(prazo de prescrio: 6 meses, art. 52 LUCh), letra ou livrana (cfr. prazos de prescrio na
respectiva Lei Uniforme, depois de devidamente invocada ao abrigo do art. 303 CC, em sede
de oposio execuo - art. 814 g)), o ttulo de crdito poder continuar a valer como
ttulo executivo, desta vez enquanto escrito particular que consubstancia a obrigaosubjacente (a conta do supermercado, vg). Distinguiremos dois cenrios:
O ttulo de crdito prescrito menciona a causa da relao jurdica
subjacente:
o Neste caso, no se justifica qualquer distino entre o ttulo prescrito
e outro documento particular, uma vez que ambos consubstanciam a
obrigao subjacente.
Do ttulo de crdito prescrito no consta a causa da obrigao: pode o
cheque, a letra ou a livrana funcionar como quirgrafo (ie, documento)?o Neste caso, LEBRE DE FREITAS distingue:
Se a obrigao subjacente emerge de um negcio jurdico
formal, e uma vez que a causa do negcio jurdico um
elemento essencial deste, o documento no constitui ttulo
executivo (arts. 221, n 1 e 223, n 3 CC).
Se a obrigao subjacente no emerge de um negcio jurdico
formal (a causa da obrigao no tem que constar do
documento), e uma vez que o ttulo executivo autnomoface obrigao exequenda, o documento pode ser admitido
como ttulo executivo, maxime como reconhecimento de
dvida (art. 458, n 1 CC). Em qualquer caso, a causa da
obrigao deve ser invocada no requerimento executivo, e
pode ser impugnada pelo executado, nos termos gerais (art.
816) a converso do cheque, letra ou livrana em promessa
de cumprimento ou reconhecimento de dvida constitui uma
presuno legal que inverte o nus da prova mas no
dispensa o nus de alegao da causa da obrigao, no
requerimento executivo (arts. 344, n 1 CC e 810, n 3 b)).
A isto se ope ABRANTES GERALDES, para quem a
inverso do nus da prova (art. 458 CC) implica
necessariamente a inverso do nus de alegao.
Negando a exequibilidade do cheque, em qualquer caso, pronunciou-se certa
jurisprudncia minoritria, para tal argumentando que este, mera ordem de pagamento, no
constitui nem reconhece qualquer obrigao. Este argumento no procede: o seu
preenchimento ordem ou a entrega ao portador tem implcita a constituio ou o
13
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
14/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
reconhecimento de uma dvida, a satisfazer atravs da cobrana de um direito de crdito,
contra a instituio bancria (LEBRE DE FREITAS).
Nota: os documentos exarados em pas estrangeiro, sejam eles autnticos ou
particulares, no carecem de reviso para serem exequveis em Portugal, mas devem ser
objecto de legalizao (art. 49, n 2). A legalizao consiste no reconhecimento daassinatura do oficial pblico que os emitiu ou autenticou pelo agente diplomtico ou
consular portugus no Estado respectivo, nos termos do art. 540.
2.4: TTULO EXECUTIVO POR FORA DE DISPOSIO ESPECIAL
Os ttulos executivos por fora de disposio especial (art. 46, n 1 d)) podem ser:
Ttulos judiciais imprprios:
o As contas apresentadas pelo ru no mbito de um processo de
prestao de contas.
o O requerimento da injuno do devedor no mbito de um processo
de injuno.
Ttulos administrativos:
o Ttulos de cobrana de tributos
o Coimas
o Dvidas determinadas por acto administrativo
Ttulos particulares:o Acta de reunio da assembleia de condminos, assinada pelo
condmino devedor.
o Extracto de conta passado por uma sociedade com sede em Portugal.
3: NATUREZA E FUNO DO TTULO EXECUTIVO
O ttulo executivo , nos casos das alneas b), c) e d) do art. 46, n 1, um documento
que constitui prova legal para fins executivos.
Todavia, no caso da sentena condenatria (art. 46, n 1 a)), o aspecto dinmico da
injuno ao ru para que realize uma prestao devida sobrepe-se sentena enquanto
documento. A sentena condenatria, enquanto paradigma do ttulo executivo, constitui
mais um acto jurdico do que propriamente um documento.
Para LEBRE DE FREITAS, o ttulo executivo um documento e, no caso da sentena
condenatria, constituem ttulo executivo as prprias folhas do processo em que exarada.
Tradicionalmente concebeu-se o ttulo executivo como condio necessria e
suficiente da aco executiva: condio necessria, porque no h execuo sem ttulo, e
condio suficiente, porque se dispensa qualquer indagao prvia sobre a real existncia ou
subsistncia do direito a que se refere. LEBRE DE FREITAS defende que o carcter necessriodo ttulo executivo no oferece dvidas, embora apresente algumas reservas face sua
14
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
15/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
pretensa suficincia. Com efeito, a desconformidade manifesta entre o ttulo e o direito que
se pretende fazer valer, seja no campo da validade formal ou substancial, impede a
realizao dos actos executivos. O mesmo se diga se factos modificativos ou extintivos
posteriores constituio do ttulo impenderem sobre a obrigao exequenda.
Nestes termos, toda a desconformidade entre o ttulo e a realidade substantiva podee deve ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja de conhecimento oficioso e
resulte do prprio ttulo, do requerimento inicial, da aco de oposio execuo ou de
facto notrio ou conhecido pelo juiz. Esta indagao oficiosa pelo juiz deve ser ponderada,
uma vez que a existncia da obrigao exequenda, conforme consta do ttulo, se presume.
Por outro lado, o ttulo executivo por vezes configurado como causa de pedirna
aco executiva, e no o facto jurdico de que resulta a pretenso do exequente (art. 498, n
4). Uma vez mais, esta concepo no procede face afirmao supra (o ttulo executivo
um documento - pressuposto extrnseco da aco executiva! - e no um acto ou facto
jurdico, art. 810 n 4) e face impossibilidade de deduzir a excepo de litispendncia
(diversas causas de pedir) quando um mesmo crdito fosse representado por dois ttulos
executivos (vg escritura pblica e sentena condenatria).
4: CONSEQUNCIAS DA FALTA DE APRESENTAO DO TTULO EXECUTIVO
O ttulo executivo constitui um pressuposto formal da aco executiva, pelo que deve
acompanhar o requerimento inicial de execuo (art. 810, n 4). Dois cenrios podem ser
concebidos neste mbito:
Caso em que o requerimento executivo esteja desacompanhado do ttulo quelhe serve de base.
Caso em que o requerimento executivo esteja acompanhado de um outro
ttulo, em nada relacionado com a execuo instaurada.
Ao abrigo da anterior redaco do Cdigo, ALBERTO DOS REIS defendeu que o juiz
deveriaproferir despacho de indeferimento liminar.
Todavia, por imposio do princpio da economia processual, deve preferir-se a
soluo que sustenta o despacho de aperfeioamento, conforme proposta por CASTRO
MENDES e que hoje encontra consagrao nos arts. 812, n 4 e 812-A, n 3 b)). Cumpre
apreciar:
Falta ou insuficincia manifesta do ttulo:
o Recusa do requerimento executivo pela secretaria (art. 811, n 1
b)); ou
o Indeferimento pelo juiz (art. 812, n 2 a))
Falta ou insuficincia do ttulo, no manifesta:
o O juiz deve convidar o exequente a suprir a irregularidade (art. 812,
n 4): Seja mediante apresentao do ttulo em falta
15
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
16/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Seja mediante correco do requerimento inicial, por
meno de ttulo errado
Nos casos de dispensa do despacho liminar (arts. 812, n 7 e 812-A), cabe
ao funcionrio judicial suscitar a interveno do juiz para este efeito (art.
812-A, n 3 b)).O aperfeioamento do requerimento executivo tambm ter lugar nos casos em que,
formulando-se vrios pedidos, nem todos constarem do ttulo. Caso esse aperfeioamento no
seja feito, o juiz deve indeferir o requerimento inicial quanto aos pedidos a descoberto,
segundo CASTRO MENDES.
Diferentemente se, constando do ttulo uma obrigao de pagamento de 2.500, vg, o
exequente pedir um montante mais elevado do que esse, o requerimento executivo deve ser
parcialmente indeferido (e no totalmente indeferido, por fora do princpio da economia
processual): esta foi a soluo defendida por LEBRE DE FREITAS, j antes da actual redaco
do art. 812, n 3.
Em qualquer caso, devendo o requerimento inicial ter sido recusado, indeferido ou
mandado aperfeioar, e no o tendo sido feito, o executado pode deduzir oposio
execuo, nos termos do art. 814 a), no prazo de 20 dias (art. 813, n 1).
5: FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL
O art. 449, n 2 c) prev uma situao de falta de interesse processual, em termos
implcitos: sempre que o ttulo de que o autor disponha tenha manifesta fora executiva, sem
necessidade do processo declarativo, este pagar as respectivas custas e o ru no dar causa aco executiva. Com uma reserva: tratando-se de obrigao plural, e se o credor tiver
ttulo executivo contra um devedor, mas no contra o outro (vg dvidas dos cnjuges), h
justificao para o credor instaurar aco declarativa contra ambos, sem que, com isso,
incorra em custas.
com base nesta norma que TEIXEIRA DE SOUSA, contra CASTRO MENDES e PAULA
COSTA E SILVA, sustenta qualificao do interesse processual enquanto pressuposto
processual, uma vez que falta, ao autor do caso previsto no art. 449, n 2 c), interesse em
agir (interesse srio no recurso heterotutela dos tribunais, enfim). Esse autor seria parte
legtima ao abrigo do art. 26, n 1 (teria interesse na tutela favorvel), mas faltar-lhe-ia o
interesse consagrado no art. 26, n 2 (o interesse til em agir).
LUS BONIFCIO RAMOS discorda deste entendimento, partindo da base legal em
causa (art. 449. n 2 c)): o legislador no recusa a interposio da aco, por falta de um
pressuposto processual, mas apenas condena o autor nas custas. O interesse em agir
encontra-se, pois, na disponibilidade das partes.
4. CERTEZA, EXIGIBILIDADE E LIQUIDEZ DA OBRIGAO
1: CONCEITO
16
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
17/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
A existncia da obrigao exequenda no pressuposto da execuo, uma vez que
esta se presume pelo ttulo executivo e dela no h necessidade de fazer prova . Ainda assim,
o juiz pode, dentro dos limites supra, julgar oficiosamente da validade formal e substancial
da obrigao exequenda.
O incumprimento da obrigao exequenda pode no resultar do ttulo quando aprestao incerta, inexigvel ou ilquida. Cumpre, pois, torn-la certa, exigvel ou lquida,
sendo que s assim poder a execuo prosseguir (art. 802).
Apreciaremos cada uma das caractersticas da obrigao exequenda separadamente.
2: CERTEZA
certa a obrigao cuja prestao se encontra qualitativamente determinada, ie,
determinada mediante escolha de entre a pluralidade de prestaes a realizar(art. 400 CC).
Exemplo:
o Obrigao alternativa: o devedor obriga-se a efectuar uma de duas
ou mais prestaes, segundo escolha da prestao a efectuar (art.
543 CC). A escolha pode incumbir ao credor, ao devedor ou a
terceiro:
Escolha pelo credor: deve faz-la no requerimento inicial
(art. 810, n 3 c), in fine), tornando-se certa a obrigao.
Escolha pelo devedor: este notificado para, no prazo de 10
dias, declarar por qual das prestaes opta (art. 803, n 1 e
2). A notificao d-se j dentro da execuo, mas no
constitui uma citao, uma vez que anterior ao prprio
requerimento executivo.
Escolha por terceiro: se este no a tiver efectuado, h lugar
sua notificao, na fase liminar do processo executivo (art.
803, n 3). Em ltimo lugar, a escolha ser feita pelo tribunal
(art. 400, n 2 CC).
3: EXIGIBILIDADEA prestao exigvel quando a obrigao se encontra vencida de acordo com
estipulao expressa (obrigaes a prazo: obrigaes com prazo certo) ou com simples
interpelao ao devedor (art. 777, n 1 CC), no caso das obrigaes puras (sem prazo certo
estipulado). Por interpelao entende-se a intimao dirigida pelo credor ao devedor para
que este lhe pague (art. 805, n 1 CC).
A prestao no exigvel quando:
o Se tratar de obrigao de prazo certo e este ainda no tiver decorrido
(art. 779 CC) at ao dia do vencimento do prazo, a prestao
17
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
18/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
inexigvel. Volvido o prazo, fica o devedor imediatamente constitudo
em mora (art. 805, n 2 a) CC).
o Oprazo for incerto, a fixar pelo tribunal (art. 777, n 2 CC).
o A constituio da obrigao for sujeita a condio suspensiva, ainda
no verificada (arts. 270 CC e 804, n 1), uma vez que at verificao da condio todos os efeitos ficam suspensos.
Naturalmente, a questo no se coloca no caso de condio
resolutiva, uma vez que a obrigao produz todos os seus efeitos e ao
executado caber, em sede de oposio execuo, provar que a
condio se verificou posteriormente, com consequente extino ex
tunc da obrigao (art. 814 g)).
o Se tratar de obrigao sinalagmtica, e o credor ainda no tiver
satisfeito a contraprestao (art. 428 CC), caso em que a leiequipara essa falta de realizao da prestao s situaes de pura
inexigibilidade (art. 804, n 1). No se trata, proprio sensu, de um
caso de inexigibilidade, ainda que lhe seja dado tratamento
semelhante.
O conceito de exigibilidade no se confunde com:
Vencimento: uma obrigao pura (sem prazo) cujo devedor no tenha sido
ainda interpelado considera-se no vencida, ainda que a prestao seja j
exigvel (art. 777, n 1 CC). Neste mbito, o art. 662, n 2 b)
directamente aplicvel aos casos de obrigao pura em que no tenha havido
interpelao ou quando esta tenha tido lugar fora do local do cumprimento, e
aplicvel por analogia aos casos de obrigao a prazo em que o credor deva
proceder cobrana no domiclio do devedor. No utiliza, portanto, o termo
inexigibilidade no seu sentido tcnico, mas como sinnimo de no
vencimento.
Mora do devedor: a prestao pode ser exigvel e a obrigao vencida mas
no existir qualquer mora do devedor, como quando, por exemplo, h mora
do credor(art. 813 CC por no aceitao da prestao realizada, vg).Neste mbito releva a questo da admissibilidade do pactum de non exequendo ad
tempus, ie, o pacto pelo qual o credor e o devedor acordam em que a obrigao, j vencida,
no ser sujeita a execuo durante determinado prazo, ficando sujeita ao regime das
obrigaes a prazo. Cumpre reter os seguintes argumentos:
Contra: representa uma renncia ao direito de aco, por natureza
irrenuncivel. ilcito enquanto modalidade do pactum de non petendo
(CASTRO MENDES e LEBRE DE FREITAS).
A favor: o direito disponvel e, como tal, h espao para o credor sevincular a retardar a execuo da obrigao. Se for entendido como
18
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
19/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
estipulao de novo prazo de cumprimento da obrigao, o pactum deve ser
considerado vlido (LEBRE DE FREITAS).
A prova da exigibilidade, quando feita mediante a apresentao de documentos
(prova documental), tem que ser apresentada ao agente de execuo, nos termos dos arts.
804 n 2, 809 n 1 c) e 812-A n 2 b). Se outros meios de prova forem apresentados (vgprova testemunhal), estes tm que o ser ante o juiz de execuo (segundo TEIXEIRA DE
SOUSA e RUI PINTO).
Nota: quer a certeza, quer a exigibilidade, tm de se verificar antes de serem
ordenadas as providncias executivas. Como tal, quando no resultem do prprio ttulo nem
de diligncias anteriores propositura da aco executiva, aberta uma fase liminar do
processo executivo que visa tornar certa ou exigvel a obrigao que ainda no o seja.
Contudo, quando a certeza e a exigibilidade no resultarem do ttulo, mas sim de
diligncias anteriores propositura da aco executiva, cumpre provar, no processo
executivo, essa certeza e essa exigibilidade. Uma vez mais, aberta uma fase liminar
anterior ao incio do processo executivo, para este efeito.
Num caso ou noutro, LEBRE DE FREITAS apelida esta actividade de prova de prova
complementar do ttulo, nos termos do art. 804, n 1 e 2. Assim:
Quando no haja lugar a despacho liminar (art. 812-A, n 1), a certeza e a
exigibilidade da obrigao exequenda so verificadas pelo agente de
execuo, sem interveno do juiz.
o Quando ao agente de execuo sejam suscitadas dvidas quanto verificao destes pressupostos, cabe-lhe suscitar a interveno do
juiz, e do seu inerente poder de deciso (art. 809, n 1 d)).
Pelo contrrio, quando haja lugar a despacho liminar (art. 812, n 1), cabe
ao juiz verificar se a obrigao exequenda certa e exigvel, em face do
ttulo executivo e da prova documental complementar.
O executado pode contestar em sede de oposio execuo, mediante invocao do
fundamento de incerteza ou inexigibilidade da obrigao exequenda (art. 814 e)). No se
inverte o nus da prova dos factos: ao exequente continua a incumbir esse nus.
Faltando, em todo o caso, a certeza e a exigibilidade, cabe aperfeioamento do
requerimento executivo, nos termos gerais j enunciados (art. 812, n 4). No sendo o
requerimento aperfeioado pelo requerente, h lugar ao indeferimento do requerimento
executivo (art. 812, n 5). Quando a lei dispense o despacho liminar (arts. 812, n 7 e
812-A), cabe ao funcionrio judicial suscitar a interveno do juiz para esse efeito, nos
termos do art. 812-A, n 3 b).
4: LIQUIDEZ
A obrigao ilquida quando tem por objecto uma prestao cujo quantitativo noest ainda apurado. Exemplos: do acidente de viao resulta, para a vtima, a perda de
19
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
20/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
vencimentos durante um perodo de doena a determinar; uma sentena condena o ru a
pagar determinada quantia, acrescida de juros legais.
No se confunda com obrigao genrica (arts. 539 ss CC): esta pode ter
objecto quantitativamente determinado (vg entrega de 200 kg de mas
golden). Neste caso, a concretizao do objecto depende do acto deindividualizao das mas a colher, para perfazer os ditos 200 kg ser,
pois, uma obrigao lquida. Se a espcie de mas a colher no for
determinada, a obrigao incerta e tem aplicao o regime supra 2
(obrigaes alternativas).
No mbito de uma aco executiva pode ser feito um pedido genrico, ie, um pedido
cujo objecto consiste numa prestao indeterminada e ilquida, concretizvel em prestao
determinada mediante o incidente de liquidao (arts. 378 ss). O pedido genrico admite-se
nos seguintes casos (art. 471, n 1):
Universalidade de facto (vg biblioteca) ou de direito (vg herana indivisa).
Indeterminao das consequncias do facto ilcito (vg acidente de viao).
Fixao do quantitativo dependente de prestao de contas.
O incidente de liquidao pode ser deduzido depois de proferida sentena de
condenao genrica (ie, depois da sentena no mbito de aco declarativa), renovando-se a
instncia declarativa (art. 378, n 2) na fase liminar do processo executivo, portanto.
Sentena de condenao genrica aquela que proferida pelo tribunal quando no haja
elementos para fixar o objecto ou a quantidade: o tribunal condena a parte ilquida em
termos genricos, no que vier a ser liquidado posteriormente em incidente de liquidao ,
sem prejuzo de condenao imediata na parte que j seja lquida (art. 661, n 2).
Com efeito, a reforma da aco executiva introduziu a novidade de o incidente de
liquidao da obrigao ter hoje sempre lugar na aco declarativa, renovando-se a instncia.
Com uma ressalva: excepto nos casos em que a liquidao dependa de simples clculo
aritmtico.
Cumpre apreciar:
Liquidao dependente de simples clculo aritmtico (para TEIXEIRA DE
SOUSA, liquidao liminar):
o Obrigao pecuniria ilquida: o exequente deve especificar os
valores que considera compreendidos na prestao devida (art. 805,
n 1). Exemplos: obrigao de pagamento de um preo a determinar
de acordo com determinada cotao (vg moeda estrangeira).
Tratando-se de obrigao de pagamento de juros (cabe
aplicao do art. 559, n 1 CC, supletivamente):
Juros que se venceram at ao requerimento inicial
(juros vencidos): a liquidao feita pelo
20
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
21/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
exequente, nos termos do n 1, no requerimento
inicial.
Juros que se continuem a vencer-se na pendncia
do processo executivo (juros vincendos): a
liquidao feita pela secretaria, nos termos don 2. Deve, pois, ser deduzido um pedido ilquido.
o Obrigao de entrega de uma universalidade: a liquidao deve
ser feita mediante incidente de liquidao, na aco executiva
(art. 805, n 6).
Liquidao no dependente de simples clculo aritmtico (para TEIXEIRA
DE SOUSA, liquidao deferida):
o O exequente especificar, no prprio requerimento executivo, os
valores que considera compreendidos na prestao devida econcluir por umpedido lquido (art. 805, n 1).
o O executado logo citado para pagar ou contestar a liquidao
(com a reforma de 2003), em oposio execuo (art. 805, n 4
e 812, n 7 b)) constitui um caso em que a citao prvia tem
sempre lugar, sem dependncia de despacho liminar. Advirta-se
que, na falta de contestao, e no se verificando nenhum dos
casos previstos no art. 485 (excepes ao efeito cominatrio da
revelia), a obrigao considera-se liquidada nos termos constantes
do requerimento executivo (efeito cominatrio pleno).
o Exemplos: acidente de viao com prejuzos controvertidos; juros
moratrios convencionais.
A liquidao por rbitros (art. 805, n 5) tem lugar quando uma lei especial o
determine ou quando as partes o hajam estipulado e realiza-se nos termos do art. 380-A,
quando no dependa de simples clculo aritmtico.
Nota 1: como aferir se a liquidao depende ou no de simples clculo aritmtico?
Trs critrios orientadores devem ser considerados neste mbito: necessrio apurar factos que no constam do ttulo executivo? Esses factos
so de conhecimento notrio? - cfr. art. 514.
o Factos de conhecimento notrio: factos que no carecem de prova
nem de alegao. So factos do conhecimento geral e so de
conhecimento oficioso.
Exemplos: taxa Euribor (taxa de juros interbancria -
emprstimos entre bancos), decurso do tempo, etc.
Factos como o spread (no mbito dos emprstimos aosbancos) constam geralmente do ttulo executivo.
21
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
22/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Os valores e montantes resultam logo do prprio ttulo executivo?
O apuramento dos valores em falta indispensvel quantificao da
obrigao exequenda?
Nota 2:o incidente de liquidao culminar com a deciso de mrito favorveleventualmente proferida, deciso essa que quantifica ou especifica o objecto da obrigao e
que complementa o ttulo executivo mediante o acertamento de um aspecto do seu objecto.
Nestes termos, a sentena de liquidao da obrigao exequenda faz caso julgado e obsta a
que, em nova execuo fundada no mesmo ttulo, se volte a discutir da liquidez da mesma
obrigao.
Se no for requerida a liquidao da obrigao ilquida, deve o juiz, nos termos
supra, proferir despacho de aperfeioamento e, no caso de o requerimento executivo no vir
a ser aperfeioado, indeferi-lo. Se no o fizer, pode haver oposio execuo (art. 814
e)).
5. COMPETNCIA DO TRIBUNAL
1: COMPETNCIA INTERNACIONAL
Se a situao jurdica em apreo for plurilocalizada, ie, se incidir sobre mais do que
uma ordem jurdica, cumpre considerar as regras de competncia internacional.
Tradicionalmente sustentava-se a aplicao directa das normas do art. 65 aco
executiva. Contra, defendeu-se a inaplicabilidade dessas normas: Considerando que os tribunais portugueses apenas teriam competncia
internacional para a aco executiva quando a execuo devesse correr sobre
bens sitos em Portugal, nos termos do art. 94, n 3 (ANSELMO DE CASTRO)
se o executado no tivesse bens em Portugal, qual o objectivo de se propor
uma aco executiva nos tribunais portugueses?; ou
Considerando que os tribunais portugueses s teriam competncia para se
ocuparem das execues para as quais resultassem j competentes por
aplicao das normas de competncia territorial (TEIXEIRA DE SOUSA, naesteira de ALBERTO DOS REIS, para quem os critrios dos arts. 65 ss tambm
se aplicariam aco executiva).
LEBRE DE FREITAS refuta a primeira tese, por falta de base legal.
Influenciada pela primeira tese (ANSELMO DE CASTRO), a reforma da aco
executiva introduziu a alnea e) ao art. 65-A, nos termos da qual, sem prejuzo do que se
ache estabelecido em tratados, convenes, regulamentos comunitrios e leis especiais, os
tribunais portugueses tm competncia exclusiva para () e) as execues sobre bens
existentes em territrio portugus. LEBRE DE FREITAS entende que esta alnea no afasta,
ainda assim, as normas de competncia no exclusiva do art. 65. Assim, sempre que se
pretenda penhorar coisa (mvel ou imvel) sita em territrio portugus ( data da propositura
22
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
23/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
da execuo), a execuo deve ser proposta em tribunal nacional, sem que outro possa ser
reconhecido como competente (ver tambm, a este respeito, o disposto no art. 94, n 4).
A previso desta norma oferece, contudo, limitaes a esta competncia exclusiva, j
que o BRUX-I e LUGANO se sobrepem s normas internas sobre competncia internacional
dos tribunais portugueses. Cumpre distinguir: Execuo de deciso proferida noutro Estado-membro/contratante: so
exclusivamente competentes os tribunais do Estado do lugar da execuo (em
cujo territrio se situem os bens a apreender, enfim), qualquer que seja o
domiclio (art. 22, n 5 BRUX-I).
Execuo de um ttulo extrajudicial: aplicam-se as normas de competncia
gerais e especiais do BRUX-I e LUGANO.
2: COMPETNCIA INTERNA
Para aferir qual o tribunal internamente competente para a causa, cumpre atender s
regras de competncia em razo da matria, hierarquia, valor e territrio.
2.1: COMPETNCIA EM RAZO DA MATRIA
A competncia em razo da matria determina-se com recurso a um duplo critrio:
Critrio de atribuio positiva:
o Cabem na competncia dos tribunais todas as aces executivas
baseadas na no realizao de uma prestao segundo as normas de
direito privado.
Critrio de competncia residual:
o Os tribunais judiciais so tambm competentes para as aces
executivas que no caibam no mbito da competncia atribuda aos
tribunais de outra ordem jurisdicional (arts. 18, n 1 LOFTJ e 66).
Tribunais de competncia genrica (art. 77, n 1 a) LOFTJ).
Juzo de competncia especializada cvel (art. 94 LOFTJ).
2.2: COMPETNCIA EM RAZO DA HIERARQUIA
Apenas os tribunais da 1 instncia tm competncia executiva (art. 90). No mbito
da aco executiva, os tribunais superiores podem funcionar como 1 instncia nos casos
(especiais) de indemnizao contra magistrados ou de reviso de sentenas estrangeiras, pelo
que a execuo dessas sentenas tambm da competncia dos tribunais da 1 instncia (art.
91).
2.3: COMPETNCIA EM RAZO DO VALOR
Tm competncia especfica em razo do valor os juzos de execuo (arts. 96, n 1g) e 102-A LOFTJ). Nas comarcas em que no os haja, a execuo de deciso proferida por
23
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
24/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
um tribunal de competncia especfica tem lugar no tribunal em que tenha corrido a aco
declarativa (art. 103 LOFTJ).
2.4: COMPETNCIA EM RAZO DO TERRITRIO
A competncia para a aco executiva em razo do territrio encontra-seestabelecida nos arts. 90 a 95. No caso de cumulao de pedidos, cumpre atender ao
disposto nos arts. 53 e 58, n 3. Estabeleceremos a seguinte distino:
Execuo baseada em deciso condenatria:
o De um tribunal judicial:
Aco proposta num tribunal de 1 instncia:
competente para a execuo o tribunal do lugar
onde a causa foi julgada em 1 instncia (art. 90, n
1). Aco proposta num tribunal de 2 instncia, directamente,
funcionando como tribunal de 1 instncia (vg indemnizaes
contra magistrados ou reviso de sentenas estrangeiras)
competente para a execuo o tribunal de 1
instncia do domiclio do executado (art. 91). Se
este no tiver domiclio em Portugal mas aqui tiver
bens, competente o tribunal de 1 instncia da
situao desses bens (art. 94, n 3).
Quanto execuo de sentenas estrangeiras (art.
95), esta funda-se na sentena de confirmao e
no na sentena confirmada, pelo que competente
o tribunal da comarca do domiclio do executado (nos
termos do art. 91) e, na falta dele, o tribunal da
situao dos bens penhorveis.
o De um tribunal arbitral: competente o tribunal do lugar do
funcionamento da arbitragem (art. 90, n 2).
Execuo baseada noutro ttulo:
o Execuo para entrega de coisa certa ou por dvida com garantia
real: competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou
situe (art. 94, n 2).
o Execuo por dvida pecuniria ou de prestao de facto, sem
garantia real: competente o tribunal do lugar onde a obrigao
devia ser cumprida (art. 94, n 1).
3: CONSEQUNCIAS DA INCOMPETNCIA
Em processo declarativo, temos:
24
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
25/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Infraco das normas de competncia internacional e em razo da matria e
da hierarquia: incompetncia absoluta (art. 101).
Infraco das normas de competncia em razo do valor e do territrio:
incompetncia relativa (arts. 100, n 1 e 108).
Antes da reforma executiva, a doutrina aplicava estes artigos aco executiva.
ANSELMO DE CASTRO sustentou, neste mbito, a imperatividade das normas de
competncia em razo do territrio na aco executiva (que no poderiam ser afastadas por
um pacto de competncia), pelo que seriam susceptveis de gerar incompetncia absoluta do
tribunal. Subjacente est o entendimento que, na aco executiva, no est em causa o
interesse particular das partes, mas sim o interesse pblico.
Com a reviso do Cdigo, acentuou-se a subordinao do regime da incompetncia na
aco executiva ao regime geral da incompetncia na aco declarativa, maxime atravs do
enquadramento dessas disposies na parte geral do Cdigo. Nestes termos, as disposiesrelativas competncia dos tribunais aplicam-se directamente aco executiva.
Assim, as partes podem celebrar, nos termos gerais do art. 99, pactos de jurisdio,
bem como pactos de competncia dentro do mbito prescrito no art. 110, n 1 a) (ex vi art.
100, n 1, in fine).
Nota: o critrio de atribuio da competncia, constante do art. 102-A LOFTJ, em
razo da matria, e no do valor ou da forma. Por isso, a incompetncia daqui resultante
absoluta, e no relativa, com consequente absolvio do ru da instncia.
6. LEGITIMIDADE DAS PARTES
1: REGIME-REGRA
Na aco executiva, no h que averiguar a titularidade real da situao jurdica
material invocada pelo autor: tm legitimidade como exequente e executado,
respectivamente, quem, no ttulo executivo, figura como credor e como devedor (art. 55, n
1).
2: ADAPTAES AO REGIME-REGRA
Este regime-regra carece, contudo, de adaptaes:
Sucesso mortis causa e inter vivos (vg cesso de crditos, sub-rogao,
etc):
o A execuo deve ser promovida por ou contra os sucessores da pessoa
que, como credor ou devedor, figura no ttulo executivo. O exequente
25
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
26/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
dever, para tal, alegar os factos constitutivos da sucesso no prprio
requerimento executivo (art. 56, n 1).
o Cumpre distinguir:
Se o ttulo executivo for extrajudicial: a sucesso ocorre
entre o momento da sua formao e o da propositura daaco executiva.
Se o ttulo executivo for judicial (sentena): a sucesso pode
ter ocorrido na pendncia da aco declarativa (ie, antes da
interposio da aco executiva), caso em que a sentena
produz efeito de caso julgado perante o adquirente (ou o
autor teria que propor nova aco contra o adquirente) art.
57 e 271, n 3. Est em causa o princpio da economia
processual: no h necessidade de previamente propor novaaco declarativa, que estaria, ademais, sujeita invocao
da excepo de caso julgado. Diferentemente, se a sucesso
tiver ocorrido na pendncia do processo executivo, o
incidente de habilitao o meio processual adequado (arts.
371 ss).
Ttulo ao portador (vg cheques):
o Se o nome do credor no constar do ttulo executivo, a execuo
promovida pelo portador (art. 55, n2). O exequente o portador.
3: DESVIOS E EXCEPES AO REGIME-REGRA
A regra geral supra enunciada admite desvios e excepes:
Desvio quanto legitimidade passiva:
o Execuo por dvida provida de garantia real que incida sobre bens
que sejam dapropriedade de terceiro (art. 56, n 2 e 3):
Caso: a garantia real de um crdito incide sobre bens de
terceiro, seja porque j assim tenha sido constituda, ou
porque o devedor, cujo bem foi onerado, o tenha alienado
depois da propositura da aco executiva.
Problema: no possvel a penhora de bens pertencentes a
pessoa que no tenha a posio de executado. Logo, a aco
executiva tem que ser proposta contra o proprietrio do bem.
Fora dos casos previstos na lei, o exequente no pode, sob
pena de ilegitimidade, deixar de propor a aco executiva
contra o proprietrio dos bens, quando pretenda fazer valer o
26
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
27/39
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
28/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
REMDIO MARQUES). No abrange, por isso, o caso de
transmisso da situao jurdica do ru por acto entre vivos
(caso em que se aplica o art. 56, n 1).
Neste sentido dispe o art. 57: norma excepcional, no
aplicvel analogicamente ao terceiro credor que beneficie docaso julgado, vg. Aplicar-se-, sim, aos casos de chamamento
interveno principal de terceiro titular de situao
susceptvel de gerar litisconsrcio voluntrio passivo (art. 27,
n 2 e 325, n 1). A sentena que vier a ser proferida
constituir caso julgado perante o chamado no interveniente
(art. 328, n 2). No caso de litisconsrcio voluntrio passivo,
embora o chamado no figure no ttulo executivo, a aco
executiva pode ser movida contra ele ao abrigo do art. 57.
Cfr. tambm arts. 271, n 3, 1 parte e 55, n 2. Segundo
LOPES CARDOSO, este artigo aplica-se somente aco para
entrega de coisa certa.
J na interveno acessria, ao interveniente, provocado ou
espontneo, no lhe conferida legitimidade para a aco
executiva, ainda que seja abrangido pelo caso julgado (arts.
330 e 335) razo: um mero auxiliar da parte principal,
para LEBRE DE FREITAS. Contra, LUS BONIFCIO RAMOS
considera que a interveno acessria tambm podeconfigurar um desvio regra da legitimidade na aco
executiva.
4: CONSEQUNCIAS DA ILEGITIMIDADE DAS PARTES
A ilegitimidade constitui uma excepo dilatria de conhecimento oficioso (arts. 494
e) e 495). Quando insanvel, e se houver lugar a despacho liminar, cabe ao juiz indeferir
liminarmente a petio inicial (o requerimento executivo, aqui), ao abrigo do art. 812, n 2
b) e 5. Se for sanvel, cabe ao juiz proferir despacho de aperfeioamento (arts. 265, n 2 e
812, n 4). Se no for sanada, o juiz deve indeferir o requerimento executivo (art. 812, n
5).
Se no houver despacho liminar, cabe aplicar o disposto nos arts. 812-A, n 3 b) e
820.
Se o executado for citado, no obstante uma ilegitimidade insanvel, pode opor-se
execuo por embargos, nos termos do art. 814.
7. PLURALIDADE DE SUJEITOS E PLURALIDADE DE PEDIDOS
1: LITISCONSRCIO
28
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
29/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
O litisconsrcio pode ser:
Voluntrio (art. 27): o pedido pode ser formulado apenas por um autor ou
apenas contra um ru, mas foi deduzido por vrios autores ou contra vrios
rus.
o Obrigao conjuntao Garantia por bens de terceiro
o Pluralidade de credores
o Cfr. arts. 56 n 2, 825 n 2 e 3 e 828 n 5.
Necessrio (art. 28): a lei, o negcio jurdico ou a prpria natureza da
prestao a efectuar impem a interveno de todos os interessados na
relao controvertida.
o Entrega de coisa certa que pertena a mais do que uma pessoa
o Na falta de litisconsrcio, quando necessrio, a parte considera-se
ilegtima. Havendo despacho liminar, o juiz deve convidar o
exequente a requerer a interveno principal do terceiro (art. 265,
n 2 e 812, n 4). Dever indeferir liminarmente o requerimento
executivo no caso de o exequente no suprir a ilegitimidade (art.
812, n 5). No havendo despacho liminar, cabe aplicao dos arts.
812-A, n 3 b) e 820. Veja-se tambm o regime do chamamento da
pessoa em falta, art. 269 (litisconsrcio necessrio sucessivo). O
executado pode opor-se execuo, nos termos do art. 814 c).o Cfr. arts. 28-A e 825.
2: COLIGAO (E CUMULAO SIMPLES DE PEDIDOS)
A coligao admitida, em processo executivo, quando se verifiquem os seguintes
pressupostos cumulativamente (art. 58) cfr. tambm as circunstncias impeditivas da
cumulao inicial (art. 53):
A espcie de aco executiva decorrente de cada um dos pedidos deve ser a
mesma (art. 53, n 1 b)).
Se a execuo tiver por fim o pagamento de quantia certa, as vrias
obrigaes devem ser lquidas ou liquidveis por simples clculo aritmtico
(art. 58, n 2).
O tribunal deve ser competente internacionalmente e em razo da matria e
da hierarquia (art. 53, n 2 a)).
Cada um dos pedidos deve ter sido apreciado em processo executivo comum
(art. 53, n 2 c)).
No caso da coligao passiva, a execuo tem que ter por base, quanto a
todos os pedidos, um mesmo ttulo (art. 58, n 1 b)).
29
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
30/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
No caso de coligao ilegal, por no verificao de um destes pressupostos, o juiz
profere despacho de aperfeioamento, convidando o exequente a que escolha o pedido
relativamente ao qual pretende que o processo prossiga. No caso deste no o fazer, o
executado absolvido da instncia (arts. 31-A e 812, n 4 e 5). O indeferimento pode ser
parcial, nos termos do art. 812, n 3. O executado pode opor-se execuo, nos termos doart. 814 c).
30
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
31/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
PARTE II
O PROCESSO DE EXECUO COMUM
PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA
1. FASE INICIAL
1: INTRODUO
Cumpre tecer algumas consideraes preliminares, neste mbito:
S os ttulos dos quais conste uma obrigao pecuniria podem dar lugar a
processo executivo para pagamento de quantia certa.
o Obrigao pecuniria: obrigao de quantidade cujo objecto um
certo valor expresso em moeda que tenha curso legal em Portugal
(art. 550 CC).
o A obrigao de moeda especfica d sempre lugar execuo para
pagamento de quantia certa, enquanto que a obrigao em moeda
com curso legal apenas no estrangeiro se executa atravs do processo
para entrega de coisa certa.
PAULA COSTA E SILVA identifica trs fases na aco executiva de pagamento
de quantia certa:o 1. Fase liminar
o 2. Fase da penhora
o 3. Fase de pagamento
2: REQUERIMENTO EXECUTIVO
O requerimento executivo deve designar o tribunal em que a aco proposta,
identificar as partes, indicar o domiclio profissional do mandatrio judicial, espcie de
execuo, forma do processo, formular o pedido e declarar o valor da causa (art. 810).
Uma vez que a execuo tem sempre por base um ttulo executivo (art. 45, n 1), s
h que indicar a causa de pedir quando esta no conste do ttulo (art. 810, n 3 b)).
O requerimento executivo deve ainda indicar os seguintes factos, quando seja esse o
caso:
A obrigao precisa de ser liquidada, uma vez que no depende de simples
clculo aritmtico (art. 805, n 4).
O ttulo carece de prova complementar, seja porque (art. 804):
o A certeza e a exigibilidade dele no resultam
o Houve sucesso no crdito ou no dbito
31
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
32/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
O no pagamento das custas deixou de constituir impedimento propositura da aco
executiva. A taxa de justia inicial, por seu lado, tem que ser previamente paga, nos termos
gerais.
O requerimento executivo pode ser recusado pela secretaria, cabendo reclamao
para o juiz, nos seguintes casos (art. 811): Omisso de um requisito do requerimento executivo
No apresentao de ttulo executivo ou manifesta insuficincia do ttulo
apresentado
A remisso para o art. 810, n 3, operada pelo art. 811, n 1 a) , para RUI PINTO e
PAULA COSTA E SILVA, de constitucionalidade duvidosa, uma vez que implica o exerccio do
poder jurisdicional em termos desconformes ao disposto no art. 202 CRP.
RUI PINTO designa trs nveis de controlo pela secretaria:
Requisitos externos da pretenso executiva:
o Tribunal
o Partes
Pressupostos processuais: art. 812-A, n 3 b)
Condies da pretenso executiva:
o Pedido
o Causa de pedir
3: DESPACHO LIMINARO despacho liminar estatisticamente uma excepo, na aco executiva. Neste
mbito vigora o princpio da coincidncia entre despacho liminar e citao prvia, princpio
esse que admite excepes (art. 812-B). Por regra, havendo lugar a despacho liminar, cabe
citao prvia do executado.
H dispensa de despacho liminar quando:
A execuo se funda em deciso judicial ou arbitral (art. 812-A, n 1 a)) ou
em requerimento de injuno.
A execuo se baseia em documento exarado ou autenticado por notrio, ou
em documento particular com reconhecimento presencial da assinatura do
devedor, desde que (art. 812-A, n 1 c)):
o O montante da dvida no exceda a alada da Relao (< 30.000)
Excedendo o montante da dvida esse valor, h ainda dispensa
de despacho liminar se o exequente mostrar ter exigido o
cumprimento por notificao judicial avulsa.
o Seja apresentado documento comprovativo da interpelao do
devedor, antes de instaurada a aco executiva.
32
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
33/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Mesmo que a interpelao do devedor seja frustrada por actos
do prprio devedor (negando-se a receb-la, vg), embora a
obrigao se considere vencida (art. 805, n 2 c) CC), a falta
de escrito que prove estes factos no permite, ainda assim,
dispensar o despacho liminar. Se o credor mover logo a execuo, sem interpelao, s a
citao valer como interpelao e deve ser precedida de
despacho liminar.
Independentemente da espcie de ttulo executivo, se execute uma obrigao
pecuniria vencida (com interpelao do devedor) de valor que no exceda a
alada da Relao (< 30.000) s se a penhora no incidir sobre bem imvel,
estabelecimento comercial ou direito real menor ou quinho (art. 812-A, n 1
d)).Note-se, porm, que a dispensa legal de despacho liminar no afasta inteiramente a
possibilidade de ele vir a ser proferido, nos termos do art. 812-A, n 3:
Suspeita da ocorrncia de um fundamento de indeferimento liminar:
o Insuficincia do ttulo executivo
o Necessidade de interpelao do devedor
o Insuficincia ou invalidada da interpelao ou da notificao judicial
avulsa
o Excepo dilatria de conhecimento oficioso
o Irregularidade do requerimento executivo
o Manifesta inviabilidade da execuo
o Insusceptibilidade de sujeio do litgio a deciso arbitral
H ainda casos em que o despacho liminar , em geral, dispensado, mas ainda assim
tem lugar (garantia de despacho liminar) art. 812-A, n 2 (sem citao prvia - excepo
ao princpio da coincidncia, art. 812-B):
Execuo movida apenas contra devedor subsidirio (normalmente com
citao prvia deste), em que tenha sido requerida dispensa da sua citao
prvia (art. 812, n 7 a)).
Prova complementar do ttulo a produzir perante o juiz, nos termos do art.
804, n 2.
Havendo despacho liminar, este pode ser:
Despacho de aperfeioamento:
o Quando haja despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a
suprir a falta de pressupostos processuais e outras irregularidades,
desde que sanveis (art. 812, n 4).
Despacho de indeferimento:
33
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
34/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
o H lugar a despacho de indeferimento quando o exequente, tendo
sido convidado nos termos supra para suprir a falta de pressupostos e
irregularidades sanveis, no o fizer (art. 812, n 5).
o H, porm, lugar a indeferimento liminar imediato quando seja
manifesta a falta insuprvel de pressuposto processual deconhecimento oficioso, e no tendo a secretaria recusado o
requerimento executivo (art. 812, n 2).
o Com a reviso passou a admitir-se o indeferimento liminar parcial
(art. 812, n 3).
Despacho de citao:
o O executado citado para, no prazo de 20 dias (art. 812, n 6):
Pagar; ou
Opor-se execuo
4: CITAO DO EXECUTADO
Proferido o despacho de citao, o executado citado para, no prazo de 20 dias, para
ou opor-se execuo (art. 812, n 6).
Fora dos casos infra, a penhora efectuada sem citao prvia do executado quando
no h lugar a despacho liminar (art. 812-B, n 1 - a dispensa ocorre ope legis, vs n 2
mesmo art.). O princpio que aqui subjaz o princpio da coincidncia (se h despacho
liminar, h citao prvia).
H lugar citao do executado antes da fase da penhora (citao prvia
penhora), sem necessidade de despacho liminar (art. 812, n 7 - excepo ao princpio da
coincidncia, art. 812-B), nos seguintes casos:
Execuo movida apenas contra o devedor subsidirio, na qual no tenha sido
pedida a dispensa da citao prvia
Execuo de obrigao ilquida cuja liquidao no dependa de simples
clculo aritmtico
Execuo fundada em ttulo extrajudicial de emprstimo para habitao
prpria, quando o prdio por ele adquirido objecto de hipoteca
A citao prvia penhora uma salvaguarda do executado: nas alneas a) e b) do
art. 812, n 7 o ttulo executivo extrajudicial, pelo que o executado encontra-se em
desvantagem por nunca ter sido ouvido pelo tribunal.
A dispensa da citao prvia do executado pode ser requerida pelo exequente
quando, justificadamente, receie perder a garantia patrimonial do crdito (art. 812-B, n 2 -
vs n 1 mesmo art.). Trata-se como que do enxerto de uma providncia cautelar na fase
liminar da aco executiva: o credor serve-se da prpria execuo para conseguir o efeito de
acautelamento do seu direito (obstando dissipao do patrimnio com a citao dodevedor). H periculum in mora, ainda que a prova do fumus boni juris seja dispensada.
34
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
35/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
No havendo lugar citao prvia do executado, entra-se imediatamente na fase da
penhora (art. 812-B, n 1) e s no prprio acto da penhora que o executado citado (art.
864, n 2). O executado citado para pagar, indicar os bens penhora ou opor-se
execuo, nos termos do art. 833, n 5.
Ocorrendo cumulao sucessiva, o executado no de novo citado, mas apenasnotificado para pagar ou opor-se execuo do segundo ttulo (art. 864, n 7).
2. OPOSIO EXECUO
1: MEIO DE OPOSIO EXECUO
O exequente pode opor-se execuo, nos termos do art. 813, uma vez citado ou
notificado conforme exposto supra. A oposio execuo (tradicionalmente, embargos de
executado) consiste no corolrio do princpio do contraditrio na aco executiva.
A oposio do executado visa a extino da execuo, mediante o reconhecimento da
actual inexistncia do direito exequendo ou da falta de um pressuposto, especfico ou geral,
da aco executiva.
A oposio execuo constitui uma verdadeira aco declarativa, que corre por
apenso ao processo de execuo: inicia-se com a petio inicial, que dever ser articulada, o
juiz profere despacho liminar e, no contestando o exequente, consideram-se admitidos os
factos, nos termos gerais. A aco declarativa em causa de simples apreciao, segundo a
qual se pretende concluir pela existncia ou no do direito.
2: FUNDAMENTOS EXECUO
Os fundamentos de oposio execuo baseada em sentena so (art. 814):
Inexistncia ou inexequibilidade do ttulo
Falsidade (falsidade do processo declarativo, translado, cpia/certido e
sentena) art. 372, n 2 CC.
Infidelidade (s para situaes na aco declarativa)
Falta de pressuposto processual geral
Falta ou nulidade da citao (preterio de formalidade exigida por lei, art.198 - na aco declarativa, uma vez que na aco executiva se aplica o
disposto no art. 921)
Incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigao exequenda (pressupostos
especficos)
Caso julgado
Facto extintivo ou modificativo da obrigao (vg prescrio ou compensao,
arts. 837 ss CC - s quando verificado posteriormente ao encerramento da
discusso na aco declarativa; LEBRE DE FREITAS inclui a usucapio nestembito.
35
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
36/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Os fundamentos execuo baseada sentena so mais restritos do que os
fundamentos execuo baseada em ttulo extrajudicial.
3: PROCEDIMENTO
A oposio execuo deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar dacitao/notificao do executado (art. 813, n 1).
H a possibilidade de embargos supervenientes quando o facto que os fundamenta
ocorrer depois da citao do executado ou quando este s tiver conhecimento do facto depois
da citao (art. 813, n 3).
No tem aplicao o art. 486, n 2, a respeito do aproveitamento, pelos restantes
rus, do prazo para contestar daquele que foi citado em ltimo lugar (cfr. art. 813, n 4).
A omisso de oposio execuo no conduz revelia (no tem o efeito do art.
484, n 1).
Deduzida a oposio:
E havendo lugar a citao prvia:
o A execuo suspensa: atravs da prestao de cauo (arts. 988 e
990) pelo opoente ou da alegao de que a assinatura no genuna,
no caso de aco fundada em ttulo particular sem a assinatura
reconhecida (art. 818, n 1).
o A execuo no suspensa: a regra geral (art. 818, n 1).
E no havendo lugar a citao prvia:
o A execuo suspensa com a deduo da oposio, posterior
penhora (art. 818, n 2).
o Se a execuo for julgada procedente, o exequente responde pelos
danos decorrentes, nos termos gerais da responsabilidade civil.
Com a deciso definitiva sobre a oposio, a execuo extingue-se, quando a
oposio proceda (art. 817, n 4).
Quanto ao efeito de caso julgado da oposio execuo:
A favor: CASTRO MENDES
Contra: LEBRE DE FREITAS e LUS BONIFCIO RAMOS (art. 817, n 2)
3. A FASE DA PENHORA
1: OBJECTO DA PENHORA
A apreenso dos bens do executado permite que lhe seja paralisada ou suspensa a
possibilidade de dissipao do seu patrimnio. O executado fica, consequentemente,
impedido de exercer plenamente os poderes que integram os direitos de que sobre eles
titular, e os seus bens ficam especificamente afectados realizao dos fins da execuo: a
satisfao do direito do exequente atravs da transmisso de direitos do executado.
36
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
37/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Neste mbito, a penhora traduz-se na apreenso judicial de bens do executado, e
consiste na manifestao do poder coercivo do tribunal (vs penhor: garantia do patrimnio
que depende da vontade das partes). , pois, o acto executivo por excelncia, visando
acautelar a viabilidade da venda executiva.
A penhora deve respeitar os princpios de celeridade, adequao e proporcionalidade(art. 821, n 3), princpios esses que, segundo RUI PINTO, limitam a actuao do agente de
execuo. Note-se a excepo constante do art. 834, n 2, com consequente favorecimento
do credor.
A garantia das obrigaes , com efeito, constituda por todos os bens que integram
o patrimnio do devedor, nos termos gerais. A sua responsabilidade , pois, patrimonial. Esta
regra no comporta excepes, embora se possam observar desvios quanto penhorabilidade
subsidiria.
Os bens de terceiro que no o devedor s podem ser objecto de execuo nos
seguintes casos:
Quando sobre eles incida direito real constitudo para garantia do crdito do
exequendo.
Quando tenha sido julgada procedente impugnao pauliana de que resulte
para o terceiro a obrigao de restituio dos bens ao credor (arts. 610 ss
CC).
2: BENS IMPENHORVEIS
So bens impenhorveis, entre outros (art. 822): Bens do domnio pblico
o LUS BONIFCIO RAMOS questiona a impenhorabilidade destes bens,
uma vez que pode ser posta em causa atravs da usucapio ou por
mero acto administrativo.
Bens inalienveis do domnio privado (vg direito a alimentos)
Bens cuja impenhorabilidade tenha sido convencionada pelas partes (arts.
602 e 833 CC) impenhorabilidade convencional.
3: PENHORABILIDADE SUBSIDIRIA
Determinados bens, ou todo um patrimnio, s podem ser penhorados depois de
outros bens, ou todo um outro patrimnio, se terem revelado insuficientes para a realizao
do fim da execuo. Eis alguns exemplos:
Responsabilidade dos cnjuges (art. 825)
Benefcio da excusso prvia
Garantia real (arts. 828, n 7 e 835)
Bens que respondem em ltimo lugar
37
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
38/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
4: ACTOS PREPARATRIOS PENHORA
No requerimento executivo dada indicao dos bens do executado que o exequente
conhea (art. 810, n 3 d)), na medida do possvel, e sem vincular o agente de execuo a
penhorar os bens indicados. Todavia, o agente de execuo no deve proceder penhora se o
exequente expressamente se opuser a isso (art. 812-A, n 1 d)).Eis os actos preparatrios penhora:
Descoberta dos bens (consulta do registo informtico de execues, art. 832)
Autorizao da penhora de certos bens, precedida de despacho judicial:
o Penhora de depsito bancrio (sigilo bancrio, art. 861-A)
Penhora de outros bens, em substituio dos inicialmente penhorados (art.
834, n 3):
o Por requerimento do executado
o
Manifesta insuficinciao Situao de onerao dos bens penhorados
o Embargos de terceiro contra a penhora
o Oposio penhora com prestao de cauo
o Desistncia da penhora
o Invocao do benefcio da excusso prvia, pelo devedor subsidirio
no previamente citado
5: ACTO DA PENHORA
A penhora de direitos tem lugar quando no est em causa o direito de propriedade
plena e exclusiva do executado sobre coisa corprea nem um direito real menor que possa
acarretar a posse efectiva e exclusiva de coisa corprea mvel ou imvel.
A lei distingue entre:
Penhora de bens imveis (arts. 838 ss):
o Por comunicao conservatria do registo predial competente
o Transferncia de posse meramente jurdica
o Feitura do auto da penhora
o Afixao de um edital na porta do imvel
o O depositrio o solicitador de execuo (art. 839: direito pessoal
de gozo)
o Inscrio da penhora no registo
Penhora de bens mveis (arts. 848 ss)
o Sujeitos a registo (art. 851):
Por comunicao conservatria do registo automvel
competente
Imobilizao do automvel
38
-
7/29/2019 47734684-Processo-Executivo
39/39
Direito Processual Civil III: Direito Executivo Lara Geraldes @ FDL
Notificao s autoridades do controlo do navio ou aeronave
O depositrio o solicitador de execuo
o No sujeitos a registo (art. 849):
Tradio material da coisa (apreenso efectiva)
A coisa removida para um depsito pblico ou no
Lavrar-se- auto da diligncia
O depositrio o agente de execuo que efectue a diligncia
Os depositrios tm o dever de guarda da coisa, respondendo pelo seu perecimento
nos termos gerais do contrato de depsito civil.
A penhora do direito de crdito merece referncia autnoma (arts. 856 ss):
O devedor notificado para que, no prazo de 10 dias:
o Impugne a existncia do crdito
o Invoque excepo de no cumprimento de obrigao recproca
o Reconhea a existncia do crdito
o Faa qualquer outra declarao com interesse
o Se nada fizer: a inrcia tem efeito cominatrio que equivale ao
reconhecimento do crdito (art. 856, n 3)
A penhora de direitos pode respeitar a:
Ttulos de crdito (art. 857)
Frutos civis (art. 861)
6: EFEITOS DA PENHORA
A penhora tem como efeitos:
A transferncia, para o tribunal, dos poderes de gozo que integram o direito
do executado
A ineficcia relativa dos actos dispositivos do direito subsequentes (a eficcia
no pode ser oposta execuo)
A constituio de preferncia a favor do exequente (direito real de garantia)
cfr. privilgios creditrios (gerais/especiais e mobilirios/imobilirios).