Prefeita Municipal de Contagem Marília Aparecida Campos
Vice-Prefeito Agostinho da Silveira
Secretário Municipal de Lindomar Diamantino Segundo Educação, Esportes e Cultura
Secretário Adjunto de Educação Dimas Monteiro da Rocha Esportes e Cultura
Coordenadoria das Políticas Maria Elisa de Assis Campos de Educação Básica
Coordenadoria de Projetos Especiais Adalete Alves Paxeco
Diretoria de Ensino Fundamental Renato Silva
Prefeitura Municipal de Contagem
Secretaria de Educação, Esportes e Cultura
Coordenadoria de Políticas da Educação Básica
Diretoria de Ensino Fundamental
Núcleo de Alfabetização e Letramento
Educadores Educadores na-Rede
Contagem: Leitura e a Escrita no 2º Ciclo
Catalogação da Fonte: Biblioteca da FaE/UFMG
F
Gerência do Núcleo de Alfabetização Maria Risolina de Fátima Ribeiro Correia e Letramento da Secretaria Municipal de Educação de Contagem
Autores(as) do documento Adriana Guimarães de Melo Oliveira Alair de Oliveira Magalhães Ana Mariana Santana Marias Ângela Maria Silva de Rezende Dalila Caram Diniz Edineia Cristina da Cruz Santos Gertrudes Moreira Salum Irani Eunice Torquato Leni de Oliveira Loester Carlos Costa Margaret Gomes da Costa Maria Efi gênia de Souza e Lima Maria Elisa de Assis Campos Maria Risolina de Fátima Ribeiro Correia Marislaine Paz de Oliveira Micheli Virginia de Andrade Feital Nádia Gomes Guimarães Rosinele da Cruz Sandro Coelho Costa Sumaia de Jesus Valério Rocha Silva Co-autores Educadores(as) do 2º Ciclo da Rede Municipal de Contagem 2007
Consultoria pedagógica Maria das Graças de Castro Bregunci (Ceale/FaE-UFMG)
Revisão Maria de Lourdes Costa (Tucha)
Capa e diagramação Alice Barreto e Cristiano Magalhães
Copyright © 2006-2007 by Direitos reservados ao Ministério da Educação (MEC), ao Centro de Alfabetização, Leitura e
Escrita (Ceale - FaE / UFMG) e a Secretaria Municipal de Educação de Contagem – MG (SEDUC)
U58c Contagem (MG). Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura.
Educadores na Rede – Contagem : proposta de alfabetização e letramento / Prefeitura Municipal de Contagem, Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura. - Belo Horizonte: CEALE/FaE/UFMG, 2007. 112 p.
ISBN: 85-99372-50-0
1. Alfabetização. 2. Letramento. 3. Língua portuguesa – Estudo e ensino. 4. Professores – Formação. I. Título.
CDD – 372.4
A equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura,
por meio da Coordenadoria de Políticas de Educação Básica, agradece a todos que, de
alguma forma, contribuíram para a construção do segundo Caderno: Educadores na Rede
– Contagem: a leitura e a escrita no 2º Ciclo.
Agradecemos, também, a parceria do CEALE/UFMG, integrado à Rede
Nacional de Centros de Formação Continuada do Ministério de Educação (MEC),
que, mais uma vez, contribuiu para a realização deste trabalho, ofertando a edição desta
proposta, que nos coloca novamente no cenário nacional da Rede de Formação.
Agradecimentos
Princípios e concepções que norteiam a proposta pedagógica do 2º Ciclo na Rede Municipal de Contagem pág. 17
Concepções de ensino e aprendizagem adotados nesta proposta pág. 20
Pressupostos do ensino-aprendizagem subjacentes à construção desta proposta pedagógica pág. 21
Concepções sobre a pré-adolescência pág. 24
O(A) educando(a) do 2º Ciclo: possibilidades, rupturas e demandas pág. 26
A formação do(a) educador(a) no contexto da Rede Municipal de Contagem pág. 31
A organização do coletivo de educadores(as): a necessária continuidade no 2º Ciclo pág. 33
SUMÁRIO
1
23
Os ciclos de formação humana na Rede Municipal de
Contagempág. 15
O sujeito do 2º Ciclo (I): O(A) educando(a)
pág.23
O sujeito do 2º Ciclo (II): O(A) educador(a)
pág.29
Apresentação pág. 12
Educadores na Rede - Contagem: A leitura e a escrita
no 2º Ciclopág. 10
A avaliação diagnóstica dos(as) estudantes do 1º Ciclo como ponto de partida para o trabalho no 2º Ciclo: a Avaliação Censitária (2006) pág. 38
Aprova Contagem – A avaliação diagnóstica e seus impactos em novas propostas pedagógicas pág. 39
O planejamento do 2º Ciclo com base no Aprova Contagem pág. 41
Eixos de habilidades abrangentes a serem desenvolvidas no 2º Ciclo em todas as áreas de conhecimento pág. 45
Capacidades lingüísticas esperadas no 2º Ciclo: eixos e metas principais pág. 47
Possíveis difi culdades dos(as) estudantes do 2º Ciclo no processo de alfabetização e demandas de reorganização do ensinopág. 54
Gêneros textuais: ampliando as funções da leitura no 2º Ciclo pág. 60
Aspectos relativos ao eixo da leitura, na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclopág. 64
Pressupostos e proposições para o 2º Ciclo pág. 68
Aspectos relacionados ao trabalho com a literatura e a leitura literária na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclopág. 70
O ensino da ortografi a no 2º Ciclo pág. 75
Aspectos relacionados ao eixo dos conhecimentos lingüísticos na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo pág. 77
4Avaliação da aprendizagem e
planejamento do ensino pág. 37
Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: Aspectos
a considerar, capacidades linguísticas a desenvolver
pág. 43 56
Leitura e gêneros textuais no 2º ciclo
pág. 57
Literatura e leitura Literária no 2º Ciclo
pág. 67 7Conhecimentos lingüísticos
no 2º Ciclo pág. 738
Escrever e reescrever textos: ampliando as funções da escrita no 2º Ciclo pág. 81
Aspectos relacionados ao eixo da escrita e da reescrita na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo pág. 84
Projetos implementados pela Secretaria de Educação de Contagem pág. 90
I – ALÉM DAS LETRAS pág. 91II – LETRAMENTO DIGITAL pág. 93
Projetos desenvolvidos pelas escolas municipais pág. 96
I – CARTAS ALÉM-MAR pág. 97Escola Municipal Paulo Cézar Cunha
II – CONSCIÊNCIA NEGRA E IGUALDADE RACIAL pág. 100Escola Municipal Vereador Benedito Batista
III – EDUCAÇÃO AMBIENTAL pág. 102Escola Municipal Vereador José Ferreira de Aguiar
IV – LETRAMENTO DIGITAL pág. 105Escola Municipal Virgílio de Melo Franco
V – O CASO DA PATA: LER É 10! pág. 107Escola Municipal Sônia Braga da Cruz e Ribeiro Silva
VI – LITERATURA INFANTO-JUVENIL pág. 111Escola Municipal Profª Ana Guedes Vieira
9Produção escrita e
reescrita no 2º ciclo pág. 79
10Projetos inovadores
desenvolvidos na rede de Contagem em torno dos eixos do 2º ciclo
pág. 89
Considerações fi nais pág. 115
Referências pág. 116
10 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Educadores na Rede Contagem: A leitura e a escrita no 2º Ciclo
A atual administração municipal de Contagem tem organizado as políticas públicas
no sentido de garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos(as). Uma educação
inclusiva implica pautar-se no respeito à diversidade e no valor desta, numa perspectiva de
efetivar o reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e da universalidade dos direitos.
A política educacional implementada evidencia a opção pela democratização das Escolas
Municipais, pela valorização das diversidades, pelo reconhecimento dos segmentos que não
tiveram acesso à escolaridade e pelo fortalecimento da escola enquanto um dos espaços públi-
cos mais importantes para a sociedade, que deve ser gerido na perspectiva da inclusão.
Assim, a escola é entendida como espaço sócio-cultural e aparece como uma
grande possibilidade da construção do novo, exigindo novas pautas, agendas, estraté-
gias, enfi m, políticas públicas que possibilitem um projeto de sociedade que valorize
as culturas locais e promova a participação popular, a cooperação e a solidariedade.
Portanto, tornam-se necessárias interlocuções, intervenções e articulações de políticas
que enfrentem as vulnerabilidades sociais, a desigualdade, o preconceito, a discriminação
pela origem étnico-racial e orientação sexual, favorecendo atitudes solidárias através das
quais a dignidade do ser humano prevaleça sobre qualquer outro interesse.
Nesse sentido, são necessárias diferentes ações que viabilizem a realização de objetivos
planejados e propostos por uma gestão democrática e participativa. Para isso, são priorizados e
direcionados investimentos na ampliação da oferta de vagas na Educação Infantil; em programas
como Educação Integral, Escola Acessível, Além das Letras e Linkletr@s; na contratação de
estagiários para atuar com estudantes com defi ciências; no atendimento educacional especia-
11Contagem na rede: proposta de alfabetização e letramento
lizado por meio das salas de recursos multifuncionais e da Escola Municipal Antônio Carlos
Lemos; na ampliação do coletivo de professores; na oferta da formação continuada para os
profi ssionais que atuam nas escolas municipais de Contagem; e outros.
Para viabilizar a realização das ações mencionadas, a administração pública
implementou o programa de formação continuada em serviço para os profi ssionais da
rede municipal, com cursos relacionados à aquisição e apropriação da leitura e da escri-
ta, bem como os direcionados ao atendimento a pessoas com defi ciência e a temáticas
relacionadas ao gênero, às questões étnico-raciais e à sexualidade.
Além de propiciar aprofundamento teórico, o curso referente à leitura e à escrita
norteou a construção do presente Caderno, que tem a fi nalidade de provocar refl exões e
subsidiar os educadores na elaboração das propostas pedagógicas das escolas municipais.
Esse trabalho foi, então, construído em parceria com os professores que participaram
da formação por meio dos relatórios elaborados pelos representantes de turmas e pelos
assessores pedagógicos, retratando experiências signifi cativas que fazem parte do fazer
educativo dos profi ssionais da rede municipal.
Portanto, o Caderno ora publicado, “Educadores na Rede – Contagem: a leitura
e a escrita no 2º. Ciclo”, é mais um resultado positivo dessa estratégia de investimento
permanente na formação dos profi ssionais de educação no município. Isso faz com que
Contagem continue pioneira no País como cidade que adota um programa de forma-
ção continuada em serviço para todos os educadores. Esse é o segundo documento
conjunto entre a Secretaria Municipal de Educação e a Rede de Formação Continuada
de Professores de Educação Básica, núcleo coordenado pelo Ministério da Educação,
que engloba 19 instituições de ensino espalhadas pelo País, dentre eles a Universidade
Federal de Minas Gerais, parceira por intermédio do seu Centro de Alfabetização,
Leitura e Escrita (CEALE), na construção deste trabalho.
O Caderno Educadores na Rede – Contagem:Proposta de alfabetização e
letramento, publicado em março de 2007, apontou a elaboração do documento que agora
fi nalizamos e é com muito orgulho que entregamos aos(às) educadores(as) das escolas muni-
cipais o Caderno Educadores na Rede – Contagem: a leitura e a escrita no 2º ciclo.
Marília Aparecida Campos
Prefeita Municipal de Contagem
12 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Apresentação
O objetivo com a publicação do Caderno Educadores na Rede – Contagem: a leitura e a escrita no 2º Ciclo é oferecer mais um suporte aos(às) educadores(as) da Rede Municipal de Contagem no sentido de subsidiar as discussões e refl exões a respeito das práticas pedagógicas em direção à garantia da sistematização das capacidades de leitura e escrita inerentes ao 2º Ciclo para todos(as) os(as) estudantes. Espera-se que esse documento seja sustentáculo para a construção das propostas pedagógicas que norteiam as práticas educativas dos profi ssionais envolvidos no processo educativo.
Este documento é resultado de uma construção coletiva, envolvendo os(as) educadores(as) do 2º Ciclo que participaram da formação em 2007, a equipe pedagó-gica da Secretaria de Educação e a consultoria técnico-pedagógica do CEALE. Todos esses profi ssionais tornaram-se produtores de registros e depoimentos importantes e signifi cativos, retratados mediante relatórios que divulgaram as experiências e as práti-cas que fazem parte do dia-a-dia dos(as) educadores(as) das escolas municipais.
É importante ressaltar que essa produção fortalece a parceria desta Secretaria Municipal de Educação com o CEALE/UFMG, que vem propiciando uma articulação que nos projeta no cenário de uma rede muito mais ampla. Referimo-nos, mais uma vez, ao programa do Ministério da Educação (MEC), que congrega 19 centros de formação em uma Rede Nacional de Formação Continuada de Professores. O CEALE constitui um dos cinco centros de excelência instituídos por esse programa, com atribuições de formação e pesquisa em alfabetização. Nesse sentido, ao contribuir com ações desenvolvidas no município de Contagem, esse centro viabiliza a articu-lação dessas ações com as propostas e produções socializadas em Rede Nacional.
13Contagem na rede: proposta de alfabetização e letramento
O lançamento do Caderno Educadores na Rede – Contagem: a leitura e a escrita no 2º Ciclo é o cumprimento da meta apontada ao fi nal do caderno Educadores na Rede – Contagem: proposta de alfabetização e letramento, em 2007, em que sinalizamos a elaboração de um segundo documento como resultado da formação continuada dos(as) educadores(as).
Este caderno está organizado em temáticas referentes à leitura e à escrita no 2º Ciclo, distribuídas da seguinte forma: primeiramente, uma abordagem a respei-to da organização do ensino em Contagem, bem como a proposição de princípios que os profi ssionais devem levar em conta ao elaborar a proposta pedagógica; logo após, são discutidos os perfi s dos sujeitos que integram o 2º Ciclo: o(a) educando(a) e o(a) educador(a); em seguida, são apresentadas a retrospectiva e a retomada de resultados de avaliações diagnósticas externas e a municipal – o Aprova Contagem (2007); é feita uma exposição de temáticas pertinentes à organização curricular; e, como culminância, o relato de projetos inovadores na área de leitura e escrita desenvolvidos pelas escolas, com o intuito de socializar as práticas pedagógicas e de valorizar o trabalho realizado pelos(as) educadores(as).
Todas essas dimensões foram debatidas e respaldadas pelos(as) educadores(as) do 2º Ciclo, traduzindo um investimento de compromisso e engajamento nas ações que necessitam ser realizadas para garantir que as capacidades de leitura e escrita inerentes a esse Ciclo sejam, de fato, consolidadas.
Lindomar Diamantino Segundo Secretário Municipal de Educação, Esportes e Cultura
16 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
A organização da escola em Ciclos, respaldada pela Lei n° 9 394/96 (Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional), é uma proposta de reformulação da estrutura escolar, a fi m
de torná-la maleável, com o tempo escolar mais fl exível, mais longo e atento à diversidade e às
especifi cidades dos (as)educandos(as); incorpora a concepção de formação integral, buscando
o atendimento às múltiplas dimensões da formação dos sujeitos. Essa organização coloca a
instituição escolar a serviço do(a) estudante e deve conceber o ser humano em desenvolvimento
constante e pleno, capaz de ser provocado e modifi cado pelas mediações adequadas, indepen-
dentemente da idade em que este se encontre. Implica, também, a garantia de um currículo
que atenda às necessidades concretas de todos(as) envolvidos(as) no processo educativo.
Essa acepção é retomada, neste documento, com a mesma ênfase atribuída por
Arroyo (1999, p.158):
[...] A concepção de Ciclo é inseparável do avanço do direito à educação básica ou do direito
ao pleno desenvolvimento de todos nós como seres humanos. Essa é a visão dominante na
nova LBD (art. 2º e 22º) e essa é a visão que nos orienta a buscar um novo ordenamento,
uma lógica estruturante do sistema escolar e da escola que dê conta dessa concepção de
educação básica universal. Nesse quadro de preocupações, Ciclo não é um amontoado ou
conglomerado de séries, nem uma simples receita para facilitar o fl uxo escolar, acabar com
a reprovação e a retenção, não é uma seqüência de ritmos de aprendizagem. É mais do que
isso. É uma procura, nada fácil, de organizar o trabalho, os tempos e espaços, os saberes,
as experiências de socialização da maneira mais respeitosa para com as temporalidades do
desenvolvimento humano. Desenvolver os educandos na especifi cidade de seus tempos-
Ciclos, da infância, da adolescência, da juventude ou da vida adulta.
Ressalta-se, ainda, que a organização do cotidiano escolar em Ciclos de Formação
Humana busca a sintonia com as demandas dos(as) estudantes, já que, nessa organização,
os(as) professores(as) têm a oportunidade de ampliar os tempos de estudo, pesquisa, plane-
jamento e coordenação das atividades pedagógicas. Para isso, a organização dos tempos e
17Os ciclos de formação humana na rede municipal de Contagem
espaços escolares e a defi nição dos projetos, a seleção de conteúdos e das atividades precisam
ser sempre discutidas, avaliadas, planejadas e replanejadas pelo coletivo de educadores(as).
É nesse patamar que propomos este Caderno, objetivando ainda mais refl exão
dos profi ssionais que atuam na etapa correspondente ao 2º Ciclo, na rede municipal.
Princípios e concepções que norteiam a proposta pedagógica do 2º Ciclo na Rede Municipal de Contagem
Eleger princípios e concepções que norteiam uma proposta político-pedagógica
em uma instituição escolar implica priorizar e sintetizar um conjunto de elementos que
assegurem uma aprendizagem signifi cativa. Vale ressaltar que o objetivo primeiro das
políticas educacionais deste município está pautado em uma escola inclusiva e em uma
educação de qualidade para todos os(as) estudantes que integram essa rede de ensino..
Nesse sentido, princípios e concepções devem ser o suporte para elaboração,
refl exão e implementação de uma proposta político-pedagógica, inclusive a que se projetar
como base de organização do 2º Ciclo na rede municipal. Em se tratando da instituição
escolar, os princípios e as concepções refl etem “os traços mais fortes da cultura, de crenças
e valores de determinada comunidade, sua forma de conceber os atores, sua função social
e suas formas de atuação” (CONTAGEM:..., 2007, p. 26). Essas orientações fazem com
que a instituição escolar se diferencie das demais que existem na sociedade.
Com a intenção de orientar e subsidiar os(as) educadores(as) na elaboração de
propostas pedagógicas referentes à sistematização da leitura e da escrita das escolas muni-
cipais de Contagem, elencamos princípios que serão apresentados nesta seção, mas que
serão progressivamente retomados ao longo dos próximos capítulos deste Caderno.
Superação da fragmentação entre os cinco primeiros e os quatro últimos
anos do Ensino Fundamental
Ao optar pela organização em Ciclos de Formação Humana, a rede municipal
tem como uma das características a presença de estudantes de 9 a 11 anos no 2º Ciclo.
Assim, tem-se a possibilidade de manter juntos o 4º e o 5º ano, considerados anos iniciais,
e o 6º ano, que já faz parte dos anos fi nais do Ensino Fundamental. Nossa proposta
está alicerçada nas concepções de pré-adolescência, que aproximam os(as) estudantes
•
18 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
dessa faixa etária.
Essa organização viabiliza, de forma mais consistente, o encontro de professores
com formações distintas (Pedagogia, Normal Superior, Geografi a, História, Artes, etc.).
Tal fato proporciona oportunidades de ações diversifi cadas e ricas e que muito podem
contribuir para a aprendizagem e a formação plena dos(as) estudantes. Educadores(as)
de diferentes processos formativos desenvolvendo ações conjuntas possibilitam, sobre-
maneira, a implementação da proposta pedagógica da escola. Essa organização garante a
continuidade do trabalho pedagógico, bem como o rompimento da fragmentação entre
os anos iniciais e fi nais do Ensino Fundamental.
Sistematização das capacidades inerentes à leitura e à escrita
Dentre os diversos campos ou eixos de conhecimentos escolares, citamos dois de
grande relevância: a leitura e a escrita. Esses conhecimentos integram as prerrogativas de plena
cidadania e constituem direito inalienável de todo ser humano. A leitura é uma atividade
complexa e requer do leitor operações mentais – tanto lógicas quanto subjetivas – buscando a
articulação entre as partes que compõem um texto, a fi m de produzir sentido. Já a escrita, que
também é um sistema complexo, exige um conhecimento organizado, pautado por convenções
culturalmente defi nidas, com regras, padrões e estruturas defi nidas. Nesse sentido, os(as)
estudantes do 2º Ciclo têm como meta a ampliação e a sistematização desses processos, com
crescente autonomia, ao longo dos três anos que compõem essa etapa escolar.
Garantia da fl exibilidade lingüística
A proposta pedagógica da escola deve assegurar ao (à)estudante do 2º Ciclo a
utilização do dialeto-padrão prestigiado, sem desconsiderar a diversidade ou as variações
lingüísticas como forma de expressão em sua vida cotidiana.
Construção progressiva do letramento
Além da aquisição da tecnologia do sistema de escrita e das habilidades leitoras, a
proposta pedagógica deve garantir a construção crescente do letramento do(a) estudante,
ou seja, do uso social da leitura e da escrita em suas práticas sociais.
Efetivação da inclusão social
A educação, direito de todos, deverá atender às especifi cidades dos sujeitos,
garantindo a eqüidade de acesso e de permanência na escola. As propostas e práticas
pedagógicas do 2º Ciclo precisam ser estruturadas para que cada estudante tenha as
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•
•
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19Os ciclos de formação humana na rede municipal de Contagem
mesmas e plenas condições para aprender, respeitadas as dimensões constitutivas de sua
natureza humana: físicas, sociais, étnicas, cognitivas, afetivas, estéticas e éticas.
Construção coletiva da proposta pedagógica
A Rede Municipal de Contagem optou por organizar o Ensino Fundamental
em Ciclos de Formação Humana. Essa organização exige que os(as) educadores(as) asse-
gurem momentos coletivos para garantia de sucesso da proposta pedagógica planejada e
elaborada por eles, considerando as especifi cidades dos(as) educandos(as), a consolidação
da alfabetização e do letramento e a articulação entre áreas de conhecimento.
Garantia de um currículo que dialogue com os sujeitos sócio-culturais
A organização escolar em Ciclos de Formação Humana abre novas possibilidades
para o trabalho de educadores(as) e estudantes na busca de uma educação que esteja
em constante refl exão sobre as diversidades presentes em nossa sociedade. O Ciclo de
Formação Humana tem como princípio norteador dos processos educativos as fases do
desenvolvimento humano: a infância, a pré-adolescência, a adolescência e a vida adulta.
Assim, a concepção de currículo para o 2º Ciclo presente na lógica proposta pela rede
municipal deve considerar as especifi cidades dos(as) estudantes cuja faixa etária está entre
9 e 11 anos. O foco do trabalho pedagógico nessa organização curricular desloca-se do
conteúdo para os sujeitos socioculturais, respeitadas todas as suas diversidades.
Garantia da avaliação continua e processual
O processo avaliativo em uma escola estruturada em Ciclos de Formação Humana
deve pautar-se por uma concepção de avaliação contínua e processual, de modo que
seja possível identifi car avanços, difi culdades e possibilidades dos(as) estudantes, sem
interrupções, ao longo de seu processo de formação.
Concepções de ensino e aprendizagem adotados nesta proposta
Os princípios apresentados na seção anterior exigem a explicitação de algu-
mas concepções que perpassam os Ciclos de Formação Humana, sobretudo os que se
destinam à consolidação dos processos de alfabetização e letramento. Por essa razão,
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20 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
retomaremos, nesta seção, concepções já amplamente discutidas na proposta para o 1º
Ciclo (CONTAGEM: 2007, p. 28-31).
A construção de todas as propostas pedagógicas para esta rede pressupõe a meta
de consolidação da alfabetização e do letramento, entendidos como processos distintos
e, ao mesmo tempo, indissociáveis. A alfabetização refere-se à apropriação do sistema de
escrita ou ao domínio dos princípios alfabéticos que regulam a aquisição desse sistema,
a fi m de que o sujeito possa ler e escrever com autonomia. Já o processo de letramento
refere-se à inserção dele nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, ou seja, aos
usos sociais desses saberes nas práticas cotidianas. (CEALE/UFMG, 2005)
Ao se preconizar o caráter indissociável desses dois processos, estamos reafi rmando
que o ideal é “alfabetizar letrando”. Em outros termos, não se trata de escolher entre esses
dois processos ou de apresentá-los em uma seqüência linear. Não basta ensinar a ler e a
escrever, não basta desenvolver habilidades de codifi car e decodifi car o sistema de escrita,
“mas também, e, sobretudo, levar os indivíduos – crianças e adultos – a fazer uso da leitura
e da escrita, envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita”. (SOARES, 2003)
O 2º Ciclo de Formação Humana não se restringe, evidentemente, ao desenvol-
vimento desses dois processos, pois outras áreas de conhecimento exigirão o investimento
dos(as) educadores(as) que atuam nesse Ciclo. Entretanto, os processos enfatizados devem
permanecer centrais na atual proposta, pois neles se situam os problemas mais signifi ca-
tivos da escolarização inicial de nossos(as) estudantes, com implicações extensivas a todo
o Ensino Fundamental. Essas são evidências já acumuladas em importantes indicadores
de nossas avaliações diagnósticas – que serão enfatizados nos próximos capítulos. Tendo
em vista essa importância, retomamos alguns pressupostos psicológicos e metodológicos
que podem nos ajudar na construção de princípios pedagógicos mais consistentes.
Pressupostos do ensino-aprendizagem subjacentes à construção desta proposta pedagógica
Atualmente, são várias as concepções e abordagens teóricas que, de forma explí-
cita ou implícita, manifestam-se no desenvolvimento das práticas educativas. Perceber e
conhecer tais concepções torna mais claro o que se pensa a respeito dos sujeitos envolvi-
dos [educador(a) e educando(a)], do conhecimento a ser produzido e das relações entre
ensino e aprendizagem (BECKER, 2001).
21Os ciclos de formação humana na rede municipal de Contagem
O modelo empirista ou tradicional é o que mais infl uencia historicamente nossa
compreensão sobre o que é ensinar, quem é o(a) estudante, como ele(a) aprende; da mesma
forma, tal modelo infl uencia nossas decisões sobre o que e como ensinar. Acredita-se
que o(a) estudante seja capaz de aprender tudo o que lhe é ensinado, por transmissão
e acumulação. Os(as) professores(as) detêm o conhecimento e este se transpõe, para o
plano da aprendizagem, graças à memorização.
Nessa concepção, o ato de aprender qualquer conteúdo ou conhecimento ocorre, de
forma predominante ou exclusiva, mediante a exposição de professores ou do contato dos(as)
estudantes com textos, livros didáticos e exercícios previamente estruturados e, muitas vezes,
marcados pelo artifi cialismo; pela descontextualização e pela ausência de sentido, que nada
mais exigem do que aprendizagem superfi cial e mecânica, treinamento em respostas esperadas
e memorização curta – quando muito ativada até a avaliação mais próxima.
Outra concepção se identifi ca com um modelo apriorista, que valoriza a pré-
formação das estruturas e do conhecimento dos(as) educandos(as). Quase sempre,
nos contextos de fracasso escolar, adotamos justifi cativas – conscientes ou não – que
se apóiam neste modelo: os(as) estudantes não aprendem porque não têm maturação, ou
porque não desenvolveram a necessária prontidão para determinado nível de aprendizagem.
Em conseqüência, criamos expectativas estáticas e deterministas sobre o desempenho
dos(as) estudantes, com base em seus conhecimentos atuais ou de suas defasagens,
desconsiderando o dinamismo de seus processos de aprendizagem e a necessidade de
intervenções para que avancem.
Uma terceira concepção vem buscando superar essas concepções, com forte
impacto no contexto brasileiro, há cerca de três décadas: o Construtivismo. Esse ideário
pedagógico entende a aprendizagem como uma construção pessoal realizada na intera-
ção do sujeito com o objeto de conhecimento. Suas formulações principais se apoiaram
nos pressupostos da epistemologia genética piagetiana (PIAGET, 1964) que foram
apropriadas, posteriormente, por pesquisadores de várias áreas de conhecimento, como
a psicogênese da aquisição da escrita (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985).
Nessa concepção de aprendizagem, é decisiva a contribuição da pessoa que aprende,
uma vez que envolve o interesse ou a motivação, os conhecimentos prévios ou experiências
que ela possui. Já o(a) educador(a) tem como função principal ajudar a detectar o confl ito
existente entre o que já se conhece e o que se deve saber, e, mais do que isso, despertar sentidos
onde esses não existem, criar novas áreas de interesse e articular aprendizagens atuais com
as anteriores. Nesse sentido, a abordagem dos erros ganha uma dimensão mais observável,
pois tais erros são focalizados como hipóteses construtivas que evidenciam os níveis de
aprendizagem dos(as) estudantes e suas difi culdades nesse processo de construção.
22 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Uma apropriação ampliada do processo de construção do conhecimento surge,
no âmbito educacional, com contribuição de Vygotsky, na perspectiva interacionista
sócio-histórica. Tal concepção parte do pressuposto de que o desenvolvimento e a
aprendizagem, como processos interdependentes, se apóiam em interações constantes e
ininterruptas do sujeito com o objeto de conhecimento, com o ambiente e com os demais
em seu entorno. O(A) educador(a) é considerado(a) como “mediador” entre o(a) estudante
e o objeto sociocultural de aprendizagem – por exemplo, a leitura, a escrita, os conceitos
matemáticos, espaciais, temporais. Torna-se mais explícita a ênfase em práticas sociais e
contextualizadas por aprendizagens signifi cativas. Além disso, essa abordagem amplia
a valorização dos conceitos espontâneos ou cotidianos dos(as) estudantes, evidenciando
a necessária convergência entre estes e os conceitos científi cos ou sistematizados pela
cultura escolar (VYGOTSKY et al., 1991).
Essas concepções sócio-históricas apresentam relevância signifi cativa, à medida que
avançamos nos Ciclos de Formação Humana, pois a ampliação sociocultural dos conhecimen-
tos das várias áreas demanda dos(as) educadores(as) uma visão de plasticidade, dinamismo e
contínuo movimento. Exige uma postura positiva, de convicção na capacidade de aprendi-
zagem dos(as) educandos(as) e investimento em suas zonas proximais de desenvolvimento
– defi nidas por Vygotsky (1991) como a “distância entre o que os (as)s já sabem e realizam de
forma independente e o que poderão desenvolver, com ajuda ou intervenção de mediadores”
– sejam estes os professores, sejam colegas que já consolidaram aprendizagens em foco.
Tal postura se reveste da maior importância no 2º Ciclo, tendo em vista a
consolidação de capacidades, habilidades e atitudes desenvolvidas preliminarmente no 1º
Ciclo e, ao mesmo tempo, o estímulo à continuidade e ao avanço para novos patamares,
nos momentos posteriores de formação de nossos(as) estudantes.
24 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
O 2º Ciclo de Formação destina-se ao período da pré-adolescência, confi gurada na
faixa de 9 a 11 anos. Contudo, essa prescrição etária tem sido alterada, conforme evidenciam
dados mais recentes da Rede Municipal de Contagem. Com efeito, a última avaliação diag-
nóstica dessa rede – o Aprova Contagem” de 2007 1 – revelou, partindo de um universo de
cerca de 6.700 estudantes do 2º Ciclo, que o 3º ano desse Ciclo tem 720 estudantes (11,37%)
com idade acima do esperado para cursar esse nível, ou seja, 13 anos ou mais.
Diante desse alargamento da faixa etária de nosso(a) estudante do 2º Ciclo, este
capítulo se destina à caracterização desse sujeito e busca refl etir sobre algumas de suas prer-
rogativas de desenvolvimento, possibilidades de aprendizagem e demandas relacionais.
Concepções sobre a pré-adolescênciaA pré-adolescência se caracteriza pela mudança, pela transitoriedade e pela
ambigüidade. Constitui um período de grandes modifi cações biológicas, psicossociais
e afetivas e, ao mesmo tempo, confi gura-se como transição confl ituosa entre a infância
e a adolescência, bem como, muitas vezes, entre a infância e a fase adulta.
Na perspectiva biológica, as mudanças hormonais e corporais anunciam a
puberdade, processo cada vez mais precoce, seja por infl uências ambientais, seja pelas
expectativas culturais que antecipam vivências e condutas adultocêntricas.
Por outro lado, o paradoxo da pressão econômica se exerce de forma contundente,
em razão das condições de classe social. Se os pré-adolescentes de classes privilegiadas
são estimulados a prolongar sua dependência familiar e a postergar sua inserção no
mercado de trabalho, os sujeitos oriundos de camadas populares são induzidos a uma
precoce autonomia familiar e à inserção igualmente prematura na força de trabalho,
geralmente em condições de subemprego.
Em nossa realidade mais próxima, essa situação se evidencia com nitidez.
Segundo dados do relatório citado (HERKENHOFF; PRATES, 2007), 1.310 estudan-
1 Cf. HERKENHOFF;
PRATES, 2007, p. 22.
25O sujeito do 2º ciclo (I): o(a) educando(a)
tes do 2º Ciclo (19%) já trabalham em atividades remuneradas e 72% assumem tarefas
domésticas, como cuidar da casa, dos irmãos, de jardins ou animais domésticos .
Deve-se reconhecer que tais situações podem ser determinantes de distorções
idade-ciclo escolar, em razão de afastamentos da escola, por evasão ou retenção. A esse
fator alia-se a pressão cultural pelo status de adulto, na perspectiva de uma vida sexual
prematura e da hegemonia do trabalho sobre a trajetória escolar.
Além desse quadro preocupante, é preciso considerar possibilidades e contradi-
ções dos(as) estudantes do 2º Ciclo, seja na perspectiva cognitiva, seja na psicossocial.
Em termos evolutivos, as abordagens psicológicas contemporâneas descrevem
ou idealizam um sujeito, nessa faixa, capaz de evidenciar novas estruturas mentais,
caracterizadas por raciocínio mais abstrato ou conceitual, maior senso crítico, maior
descentração e autonomia moral. Tais características predisporiam o pré-adolescente
a estabelecer relações e articulação de diversos pontos de vista, maior capacidade de
cooperação e construção coletiva de regras, projetos de vida ou de sociedade (PIAGET,
1964; GALLATIN, 1978; LIMA, 1997).
Entretanto, as condições concretas de existência e as práticas sociais diferen-
ciadas produzem contradições e alteram os rumos de tais prescrições ou idealizações.
As expectativas dos(as) educadores(as) no sentido de encontrarem em salas de aula de
2º Ciclo estudantes em pleno raciocínio abstrato, cooperativos e autônomos, não se
efetivam na maior parte de suas experiências pedagógicas. Em vez disso, estabelecem-
se confrontos e confl itos, em perfi s que oscilam da infância prolongada à maturidade
antecipada ou que insistem em manter padrões de rebeldia e transgressão distantes da
desejável autonomia ou cooperação.
Além disso, enquanto os(as) educadores(as) anseiam por estudantes comprometidos
com a aprendizagem, rumo aos conteúdos curriculares mais formais e sistematizados, os(as)
educandos(as) pré-adolescentes do 2º Ciclo demonstram interesses diversos. Dentre eles, citamos
as organizações grupais espontâneas em torno de atividades esportivas ou musicais, que não
estão inseridas na proposta pedagógica das escolas, até as possibilidades eletrônicas e virtuais
– ampliadas pela crescente inclusão digital, quase sempre à margem do universo escolar.
É nesse contexto que se estabelecem interlocuções e rupturas pedagógicas e que
se situam desafi os recíprocos: de um lado, os desafi os de um(a) estudante que precisa
se adequar a uma instituição escolar que não acompanha seu ritmo mutante; de outro,
os desafi os do(a) educador(a) que, embora perplexo, precisa compreender e se preparar
para esse novo perfi l de estudante, pautando seus projetos pedagógicos por acordos e
negociações recíprocas e abrangentes. Diante disso, torna-se necessário rever algumas
outras dimensões que possam ajudar a compreender esse(a) educando(a) do 2º Ciclo.
26 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
O(A) educando(a) do 2º Ciclo: possibilidades, rupturas e demandas
Os dados divulgados no relatório Aprova Contagem (2007) apontam elementos
de grande peso na perspectiva de possibilidades e demandas de aprendizagem dos(as)
estudantes do 2º Ciclo.
Em primeiro lugar, destaca-se o impacto dos fatores já citados no plano da
distorção idade-Ciclo escolar, em termos de fracasso escolar e de depreciação da auto-
estima desses(as) estudantes. Em termos de trajetória escolar, a descontinuidade ainda
se revela preocupante: 22,46% dos(as) estudantes de 2º Ciclo sofreram pelo menos uma
reprovação em anos anteriores; 8% contabilizam duas reprovações e 5,17% mais de duas
reprovações. Em termos globais, esses dados indicam experiências de fracasso escolar
vivenciadas por 35% de estudantes, aspecto que demanda refl exões coletivas de toda
a comunidade escolar – gestores, educadores e pais – a partir do perfi l anteriormente
descrito e das novas relações por ele demandadas.
Algumas dessas demandas foram expressas pelos(as) estudantes do 2º Ciclo em
suas respostas a questionários aplicados juntamente com os testes do Aprova Contagem.
Destacamos, a seguir, as mais relevantes (por ordem de importância atribuída às
respostas):
atividades mais apreciadas pelos(as) estudantes entre as realizadas nos horários
de aulas: exercícios em grupos, práticas esportivas, fi lmes e documentários,
exposições dos professores, projetos;
ações pedagógicas consideradas propícias à sua aprendizagem: exercícios e tare-
fas prescritas pelos professores; participação em aulas expositivas; exposição a
materiais variados em aulas;
estratégias mais valorizadas para a superação de difi culdades: revisão individual
de matérias e exercícios; explicações dos professores;
fatores valorizados no clima institucional escolar: competência dos professores,
relação com estudantes, disciplina, gestão, motivação e participação do corpo
discente;
1.
2.
3.
4.
27O sujeito do 2º ciclo (I): o(a) educando(a)
atividades desenvolvidas em contextos extra-escolares: atividades esportivas;
aulas de reforço; aulas de música, dança, teatro, artesanato; cursos de informática
e língua estrangeira;
participação em projetos específi cos no contexto escolar: atividades esportivas;
Escola Aberta e outros;
modalidades ou gêneros preferenciais de leitura: revistas em quadrinho,
jornais; poesia.
À luz desses indicadores, torna-se essencial indagar sobre a função da escola
na vida desses pré-adolescentes, em consonância com suas expectativas e seus valores.
Esses aspectos apontam para a ampliação das funções exercidas pela instituição escolar
de não apenas possibilitar o acesso à informação e a construção do conhecimento, mas,
também, constituir-se como espaço de socialização além dos demais vividos pelo pré-
adolescente, de forma articulada e não antagônica.
De acordo com os Referenciais para Construção da Proposta Curricular do 2º Ciclo
de Formação Humana (CONTAGEM, 2004, p. 7-8), esse novo papel se redefi ne com
base no perfi l do(a) estudante desse segmento:
Pensar a pré-adolescência requer da escola a realização de atividades diversifi cadas,
dialogando com a diversidade de grupos, tanto no âmbito das relações sociais, quanto
na construção de conceitos, signifi cados e procedimentos. Requer, também, do profi s-
sional posturas e olhares acolhedores, abertura às diferentes formas de expressão dessa
fase[...], trabalho a a partir do interesse e das pautas que têm signifi cado para os(as)
estudantes, articuladas ao desenvolvimento global.).
Nessa perspectiva, a Secretaria Municipal de Educação tem implementado
uma política educacional cada vez mais aberta às diversidades, contemplando práticas
educativas que dialogam com as especifi cidades dos(as) estudantes. A seguir, algumas
ações já desenvolvidas:
Programa de Educação Integral: proporciona o acesso dos(as) estudantes a ativi-
dades de lazer, esportes, cultura, letramento, música, meio ambiente, inclusão
digital, artes plásticas, por meio da ampliação da jornada educacional;
5.
6.
7.
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28 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Programa “Escola Acessível": tem o objetivo de criar condições de acesso universal
para todos de que dela necessitarem;
Ampliação do coletivo de professores: possibilita o atendimento sistematizado aos(às)
estudantes com os diversos ritmos de aprendizagem;
Programa de Leitura "Além das Letras”: é um programa que se propõe a contribuir
com a política de leitura da cidade, especialmente no que se refere à promoção
de atividades de formação de leitores nas escolas e demais espaços públicos;
Linkletr@s: é um programa que visa criar e/ou ampliar ambiências que favore-
çam o letramento digital e as práticas de leitura e escrita aos(às) estudantes do
2º Ciclo.
Contratação de estagiários: visa criar condições de apoio pedagógico às turmas
onde existem estudantes com defi ciência;
Sala de Recursos Multifuncionais: garante Atendimento Educacional Especializado
a estudantes com baixa visão, cegos, com defi ciência auditiva e surdos. Nela
são desenvolvidas estratégias de aprendizagens centradas em um novo fazer
pedagógico que favorecem a construção do conhecimento pelos(as) estudantes,
subsidiando-os para que participem da vida escolar;
Atendimento Educacional Especializado: espaço destinado ao atendimento a estu-
dantes com defi ciência mental e condutas típicas.
Essas ações contribuem para o desenvolvimento das potencialidades dos(as) estu-
dantes do 2º Ciclo. Portanto, as refl exões e ações implementadas na Rede Municipal
de Contagem, presentes nesta seção, necessitam ser permanentemente mobilizadas na
construção da proposta curricular do 2º Ciclo. Alguns de seus eixos serão discutidos em
outro capítulo deste Caderno, mas as premissas aqui delineadas devem levar em conta os
sujeitos que atuam e interagem nesse Ciclo. Como nos dedicamos, até aqui, ao perfi l do(a)
educando(a), resta analisar o sujeito complementar dessa relação: o(a) educador(a).
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30 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Quando se analisa qualquer proposta destinada ao Ensino Fundamental, consta-
ta-se a pouca atenção dedicada à pré-adolescência, tanto na perspectiva curricular quanto
na descrição do perfi l de seus atores – educando(a) e educador(a). No capítulo anterior
refl etimos sobre possibilidades e contradições pertinentes ao(à) educando(a). A tentativa
de compreender o outro pólo dessa relação – o sujeito que educa – também evidencia
um conhecimento bastante restrito de seu perfi l. Temos acumulado produções teóricas e
empíricas sobre o perfi l do alfabetizador que atua nos primeiros anos da escolarização, mas
ainda temos muito a refl etir e a avançar sobre os segmentos intermediários, que representam
elos decisivos no fl uxo contínuo estabelecido pela proposta de Ciclos.
Sabe-se que o(a) educando(a) do 2º Ciclo carrega as marcas da transição e da
ambigüidade. O mesmo poderá ser dito em relação ao(à) educador(a) desse Ciclo. Ele
ocupa um lugar intermediário entre dois processos: o período que introduziu o processo de
alfabetização e o que se confi gura como momento de consolidação ou expressão de sucesso
escolar, rumo à conclusão do Ensino Fundamental. Por essa razão, torna-se imprescindível
que as escolas se constituam como espaços organizacionais capazes de possibilitar a cons-
trução de uma identidade sólida desse educador, assegurando respaldo às ações dele.
Essa dimensão integra dois fatores diferenciais de qualidade e sucesso: proje-
tos pedagógicos consistentes e uma gestão democrática com envolvimento efetivo da
comunidade escolar. Dessa forma, em continuidade aos projetos desenvolvidos no 1º
Ciclo, torna-se cada vez mais importante o envolvimento do(a) educador(a) do 2º Ciclo
em um projeto pedagógico coletivo, centrado na troca de experiências, no estudo e na
resolução de problemas com seus colegas, sentindo-se parte de uma equipe e de uma
comunidade com as quais deve articular seu fazer pedagógico. Somente assim poderá
construir, progressivamente, seu novo perfi l profi ssional, mais ativo, responsável e
compartilhado, de forma a não se sentir pressionado entre Ciclos ou isolado em relação
às demais áreas curriculares.
31O sujeito do 2º ciclo (II): o(a) educador(a)
A formação do(a) educador(a) no contexto da Rede Municipal de Contagem
Focalizar a formação do(a) educador(a) implica, inicialmente, defi nir o que se
entende por formação. Demos preferência à expressão “estar se formando” –, o que
signifi ca que esse processo nunca estará totalmente fechado ou concluído. Nesses termos,
a formação inicial constitui apenas uma primeira etapa a ser obtida, um patamar ou
alicerce de muitas outras etapas que serão agregadas na trajetória profi ssional.
Constatamos, no atual quadro de educadores(as) da Rede Municipal de Ensino
de Contagem, que a maioria (88%) possui formação em nível superior já consolidada;
desses, 65% já efetivaram cursos de pós-graduação lato sensu (Especialização) com ênfase
em áreas pertinentes à educação. Há, também, um movimento incipiente de qualifi cação
em programas de Mestrado (cerca de 50 educadores) e de Doutorado (um já titulado e
três em formação).1
Nesse cenário, tem-se procurado conhecer como os(as) educadores(as) são forma-
dos nas e pelas instituições escolares, seja na sua formação inicial – ou, antes mesmo
dela, por sua vida e sua trajetória profi ssional. Segundo Santos (2002), busca-se também
compreender como essa história de vida e essa trajetória profi ssional se cruzam, mode-
lando seus comportamentos, suas perspectivas profi ssionais, sua visão e suas concepções
sobre a educação, o processo de ensino, a organização do trabalho escolar, as políticas
que orientam direta e indiretamente sua prática pedagógica.
Desse modo, a formação desses profi ssionais não pode se restringir à formação
pedagógica inicial; deve se estender continuamente, valorizando a experiência profi ssional
e considerando o sujeito-educador nas suas dimensões pessoal, profi ssional e de produtor
de conhecimento, entendidas num processo permanente de aprender a aprender.
Tal processo de formação continuada deve ser parte integrante do exercício
profi ssional e pode acontecer tanto no trabalho sistemático dentro da escola quanto fora
dela, mas sempre com repercussão em suas atividades de sala de aula.
De acordo com o GESTAR II (2006, p. 16), elaborado pelo Ministério da
Educação, a formação continuada deve ser defi nida com base no contexto escolar:
A formação continuada deve ser compreendida como uma ferramenta de profi ssionalização
capaz de proporcionar aos professores espaços sistemáticos de refl exão conjunta e investi-
gação no contexto da escola, acerca das questões enfrentadas pelo coletivo da instituição.
1 Dados aproximados da
SEDUC/ Gestão dos
Trabalhadores, registra-
dos em março de 2006,
considerando um total
de 2.956 educadores do
Ensino Fundamental.
32 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Espera-se, também, que proporcione espaços de compartilhamento de experiências, reso-
lução de problemas, como forma de construção de conhecimentos, saberes e competências
dos professores. Deve também propiciar a discussão e refl exão sobre os problemas d ensino,
a articulação com a proposta pedagógica e curricular e o plano de ensino, bem como as
formas de mobilização da comunidade em torno de um projeto social e educativo.
O desafi o nessa vertente vem mobilizando a Secretaria de Educação com o
objetivo de buscar alternativas que propiciem a formação continuada dos profi ssionais da
Rede Municipal de Contagem, repassando para as escolas recursos fi nanceiros destinados
a esse fi m, bem como oportunizar a participação de educadores em vários cursos com
temas e focos considerados relevantes para o campo de atuação deles.
Dentre os cursos ofertados ou em andamento para os(as) educadores(as),
destacam-se:
A Leitura, a Escrita e Seus Usos nas Práticas Sociais no 2º Ciclo – curso em
parceria com o CEALE/FAE-UFMG;
Aspectos Conceituais e Metodológicos da Língua Portuguesa e da Matemática;
Ensino Especial na Escola Inclusiva – curso de pós-graduação oferecido pela
Fundação Helena Antipoff ;
Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – CEFOR/PUC Minas,
curso a distância, que contou com a participação de 1.000 educadores;
História da África e Culturas Afro-Brasileira – ofertado pelo programa
de Ações Afi rmativas da UGMG, com a participação signifi cativa dos(as)
educadores(as)(as);
Braille e Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) – propicia aos(as) educadores(as)
o acesso ao universo da cultura e da identidade da pessoa surda, bem como a
vivência dos sujeitos cegos e com baixa visão;
Práticas Educativas em Inclusão – com ênfase em pessoa com defi ciência e em
gênero e sexualidade, em parceria com a UEMG;
Educação sem Homofobia – em parceria com a UFMG.
1.
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33O sujeito do 2º ciclo (II): o(a) educador(a)
A organização do coletivo de educadores(as): a necessária continuidade no 2º Ciclo
Temos enfatizado, ao longo desta proposta, a relevância da organização do coletivo
de educadores(as), que poderá propiciar modifi cações nas práticas educativas existentes em
nossas escolas e maior impacto no desenvolvimento e na aprendizagem dos(as) estudantes.
É importante ressaltar que o clima relacional de uma escola provém, basicamente,
da organização dos(as) educadores(as) que nela atuam. São eles que determinam as relações
internas e externas, mediante o acolhimento, da aceitação, da empatia, da real comunicação,
do diálogo, da escuta sensível, do compartilhar de interesses, preocupações e esperanças.
A organização atual de muitos sistemas escolares, com suas estruturas rígidas e
fragmentadas não permite levar em conta as necessidades cada vez mais diversifi cadas e
complexas dos(as) estudantes, o modo de organização do trabalho, o grau de cooperação
profi ssional e a diversidade cultural dos sujeitos engajados na educação.
Embora os desafi os existam, é importante reconhecer que estamos vivendo um
momento ímpar na educação do município de Contagem, quando estão sendo imple-
mentadas propostas inovadoras, sintonizadas com a lógica temporal do desenvolvimento
humano, dentre as quais a consolidação dos Ciclos de Formação Humana e a proposta
de ampliação do coletivo de professores – uma ação que expande o contingente docente
disponibilizado (em 50% a mais, com referência ao número de turmas) e, conseqüen-
temente, permite organizar os tempos e espaços do trabalho coletivo de forma criativa,
fl exível e autônoma. Para isso, do total da jornada de trabalho de 22 horas e 30 minutos,
um percentual de 25% destina-se à organização do trabalho e aos processos de formação
continuada. À medida que essas e outras ações forem apropriadas e consolidadas, os(as)
educadores(as) do Ciclo estarão mais instrumentalizados(as) para questionar e replanejar
suas práticas pedagógicas, levando em conta a pluralidade de vivências acolhidas pelas
escolas. Assim, as novas formas de organização propiciam coletivos de profi ssionais para
atuação em cada Ciclo de formação.
34 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Levando em conta as experiências já acumuladas, diversas metas são propostas
para esses coletivos:
conhecer as especifi cidades educativas, cognitivas, sociais e culturais dos(as)
estudantes do 2º Ciclo;
articular os saberes escolares com os saberes sociais, levando em consideração
a diversidade de contextos culturais dos(as) educandos(as);
coordenar a avaliação diagnóstica ao longo do Ciclo e ao fi nal deste, mantendo
registros sistemáticos dos desempenhos discentes e comunicando seus resultados
aos(às) estudantes e seus familiares;
planejar e replanejar atividades escolares de acordo com as avaliações diagnós-
ticas realizadas;
defi nir critérios para participação em cursos de formação continuada;
defi nir critérios para escolha de estratégias metodológicas, atividades, livros e
outros materiais didáticos pertinentes aos eixos curriculares do 2º Ciclo;
defi nir critérios e estratégias para enturmações e reagrupamentos de estudantes,
de acordo com seus pares de idade, com o gênero, com suas habilidades e/ou
necessidades de aprendizagem;
socializar experiências, projetos individuais e coletivos, criando projetos inter-
disciplinares, redes de trocas internas ou articuladas a outras escolas;
estabelecer e desenvolver formas de articulação com famílias dos(as) estudantes
e com a comunidade em geral, abrindo os canais de interlocução com a escola e
propiciando parcerias que ampliem o alcance das ações formativas do Ciclo;
consolidar o projeto político-pedagógico da escola, nele incorporando as metas
e atribuições anteriores.2
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2 Metas elaboradas
com base no documen-
to Referenciais para a
construção da proposta
curricular do 2º Ciclo
de formação Humana
(CONTAGEM, 2004)
35O sujeito do 2º ciclo (II): o(a) educador(a)
O trabalho coletivo fortalece e harmoniza o conjunto de profi ssionais de cada
escola política, pedagógica e emocionalmente. Constata-se que a carga de trabalho
dos(as) educadores(as) é fator de desgaste, pois cerca de 70% dos docentes trabalham
em duas escolas.3 As formas de organização mais solidárias e compartilhadas, embora
não solucionem o desgaste advindo dessa situação, torna o trabalho mais cooperativo,
articulado e produtivo.
O trabalho coletivo pode, enfi m, assegurar uma visão mais ampla de cada estu-
dante, identifi cando as conquistas e difi culdades durante o seu desenvolvimento. Os(as)
educadores(as) que constituem esse coletivo irão acompanhar a turma, ao longo do Ciclo,
num processo contínuo e sem interrupções, de um ano para o outro, desenhando uma
linha de evolução dos processos de aprendizagem, em sentido crescente e sem rupturas,
favorecendo o planejamento de ações e as intervenções apropriadas. Esse coletivo – bem
integrado, organizado e participativo – refl etirá na qualidade docente na sala de aula e
possibilitará maior articulação entre os Ciclos do Ensino Fundamental.
3 Dados de questio-
nários respondidos
pelos(as) educadores(as),
divulgados no rela-
tório preliminar
Aprova Contagem (cf.
HERKENHOFF;
PRATES, 2007)
38 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
A Avaliação diagnóstica dos(as) estudantes do 1º Ciclo como ponto de partida para o trabalho no 2º Ciclo: a Avaliação Censitária (2006)
Na proposta de Alfabetização e Letramento para o 1º Ciclo da Rede Municipal
de Contagem,1 consolidada e divulgada em março de 2007, foram apresentados resultados
do desempenho dos(as) estudantes desta rede na Avaliação Censitária, divulgados, em
novembro de 2006, pela Secretaria de Estado da Educação (CEALE, 2006).
Constatou-se, nessa primeira avaliação diagnóstica de caráter mais abrangente,
que 18% dos(as) estudantes do 1º Ciclo apresentaram desempenho baixo, 63,4% fi caram
no nível intermediário e 19,8% tiveram desempenho recomendável.
No nível ou estágio de baixo desempenho, reúnem-se os(as) estudantes que “ainda
se encontravam na fase inicial do processo de alfabetização”. (CEALE, 2006, p.15)
Os(As) estudantes caracterizados no estágio de desempenho intermediá-
rio conseguem ler e escrever frases e evidenciam algumas capacidades de letramento
(CEALE, 2006, p. 15).
No estágio recomendável, os(as) estudantes revelam que “estão alfabetizados,
conseguem resolver problemas difíceis na leitura, identifi cam o assunto de textos de
determinados gêneros textuais, estabelecem relações de continuidade temática, lêem,
compreendem e produzem pequenos textos”. (CEALE, 2006, p. 16)
A proposta de formação de educadores(as) do 2º Ciclo dessa rede, desenvolvida
ao longo de 2007, não poderia deixar de considerar, como ponto de partida, os resultados
dessa avaliação do 1º Ciclo. Eles constituem o referencial para um planejamento inte-
grado e contínuo dos processos e atividades pedagógicas pertinentes aos Ciclos iniciais
de formação. Como o próprio relatório da Avaliação Censitária enfatiza,
1 Cf. CONTAGEM
(MG), 2007.
39Avaliação da Aprendizagem e Planejamento do Ensino
uma avaliação como essa permite à escola e aos gestores identifi car os(as) estudantes que
já sabem o esperado em nível recomendável e aqueles que ainda precisam de intervenções
urgentes [...] Um dos grandes objetivos de uma avaliação desta natureza é fornecer subsí-
dios para que cada uma das instituições de ensino possa olhar para seu próprio processo e
tornar suas ações de alfabetização mais específi cas [...] Um outro objetivo é traçar planos
de atendimento a estudantes e escolas com difi culdades, uma vez que é preciso desenvolver
capacidades de escrita e leitura até o fi nal do 1º Ciclo (CEALE, 2006, p. 6)
Aprova Contagem – A avaliação diagnóstica e seus impactos em novas propostas pedagógicas
O município de Contagem implementou, em 2007, uma avaliação diagnóstica em
sua rede de ensino destinada a todos os(as) estudantes do fi nal de cada Ciclo, no Ensino
Fundamental – o Aprova Contagem. Essa avaliação confi gurou-se como uma medida
de desempenho escolar dos(as) estudantes em Língua Portuguesa e Matemática, além
de agregar um levantamento de dados do contexto em que se inserem os referidos(as)
estudantes e seus pais, os(as) educadores(as) e gestores da rede.
Os conceitos fundamentais que devem ser construídos no Ensino Fundamental,
pelos(as) educandos(as) foram medidos por intermédio dos descritores expressos em uma
Matriz de Referência Curricular. Os resultados dos(as) estudantes foram evidenciados
em cada descritor, por disciplina e escola, por percentual de acerto e profi ciência.2
É importante apresentar, nesse documento, os dados referentes ao 1º Ciclo, já
que os (as)estudantes que participaram desse diagnóstico fazem parte, atualmente, do
coletivo discente do 2º Ciclo.
O desempenho do primeiro Ciclo concentrou-se nos níveis 1 e 2 da escala de
profi ciência proposta, com ocorrências menos expressivas nos níveis 3 e 4. Os níveis 1
e 2 revelam conhecimentos ainda bastante incipientes em relação ao esperado para o
1º Ciclo, se forem consideradas as metas de apropriação de habilidades de leitura, com
recuperação do signifi cado do(s) texto(s) lido(s). Pode-se, desse modo, delimitar os níveis
1 e 2 como de Baixo Desempenho.
2 Cf. HERKENHOFF;
PRATES, 2007, p. 34.
40 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Diferentemente, no nível 3 começam a se consolidar habilidades relativas à
compreensão leitora, o que permite indicar esse nível como Intermediário. O nível 4
indica um conjunto de habilidades que demandam estudantes capazes de ler e compre-
ender textos curtos e com baixo nível de complexidade. Esse desempenho, tratando-se
do 1º. Ciclo, pode ser classifi cado como Recomendável.
Quais seriam os impactos desses resultados para a construção de novas propostas
pedagógicas?
Para os(as) estudantes que apresentaram Baixo Desempenho (níveis 1 e 2), sugere-
se a intensifi cação do trabalho em torno das habilidades de leitura e de escrita. Esses(as)
estudantes precisam de especial atenção para que possam ler de modo autônomo. Para
isso, é fundamental que haja uma consistente mediação docente nas interações dos(as)
estudantes com a palavra escrita e com diferentes gêneros textuais, que os desafi em, de
forma positiva, a ler textos e a compreender enunciados de forma cada vez mais autô-
noma, além de produzir e rever suas produções escritas.
O que se deseja valorizar, na presente análise, é a sensibilidade do(a) educador(a)
diante do desempenho de seus(suas) estudantes nas avaliações diagnósticas, com uma
visão dinâmica de seus avanços e suas difi culdades. Assim, apesar de os(as) estudantes
dos níveis 3 e 4 revelarem progressos, tendo em vista seus percursos individuais, é possível
avançar nos processos de ensino e de aprendizagem. Considerando esses percursos, pode
ser necessário contemplar e retomar algumas das habilidades ou capacidades evidenciadas
nos níveis 1 e 2 e, além disso, intensifi car:
a leitura autônoma por parte dos(as) estudantes;
as atividades de compreensão (oral e escrita) de textos de diferentes gêneros
textuais;
a diversifi cação dos níveis de complexidade dos gêneros textuais trabalhados
em sala;
o trabalho com habilidades de leitura – tanto as descritas na matriz de referência
do teste proposto como outras não mensuráveis numa avaliação sistêmica, tais
como: relação entre conhecimentos prévios e informações contidas num texto;
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41Avaliação da Aprendizagem e Planejamento do Ensino
ampliação de conhecimento de mundo, relações com outros textos, leitura em
voz alta - entre outras;
a produção de textos pelos(as) estudantes, com defi nição clara dos objetivos da
atividade de escrita, do interlocutor e da situação de interação;
a revisão de textos pelos(as) próprios(as) estudantes, mediada pelas intervenções
docentes.
O planejamento do 2º Ciclo com base no Aprova Contagem
Os resultados apresentados pela avaliação Aprova Contagem levam a desafi os
signifi cativos e podem ser tomados como ponto de partida para a reconstrução ou o
(re)planejamento de propostas para o 2º Ciclo, nas seguintes direções:
cada escola poderá encontrar nesse diagnóstico elementos de apoio para rever
seu projeto de ensino, agrupando os(as) estudantes do 2º Ciclo de acordo com
suas necessidades, orientando-se pelos descritores medidos e pelo desempenho
por disciplina;
as intervenções podem ser otimizadas mediante a articulação de esforços de
gestores, educadores e pais, com ampliação de espaços e tempos escolares;
investimentos cuidadosos necessitam ser direcionados à correção da distorção
idade-ciclo escolar, tendo em vista a persistência de fracasso em anos anteriores
ao 2º Ciclo e o signifi cativo índice de estudantes (11,37%) com idade acima do
esperado para integralizar o 2º Ciclo (conforme relatório preliminar, p. 22)
À luz desse referencial, na proposta de formação do 2º Ciclo, desenvolvida
ao longo de 2007, procurou-se pautar pelo fortalecimento de uma cultura escolar que
valorize a avaliação diagnóstica, observando difi culdades evidenciadas pelos(as) estu-
•
•
•
•
•
42 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
dantes ao fi nal do 1º Ciclo, bem como retomando capacidades ainda não dominadas e
replanejando atividades que propiciem a consolidação de tais capacidades.
Essa articulação entre Ciclos oferece contribuições valiosas ao trabalho peda-
gógico, pois propicia o mapeamento dos níveis de desempenho dos(as) estudantes em
uma avaliação diagnóstica contínua. Assim, o(a) professor(a) do 2º Ciclo poderá ter
uma visão dinâmica e atualizada das capacidades dominadas por sua turma e pelos(as)
estudantes individualmente, com base no desempenho deles no 1º Ciclo. Poderá, ainda,
localizar difi culdades e necessidades, para que as intervenções ocorram ao longo do Ciclo,
assegurando a consolidação das capacidades esperadas. Em síntese: estará avaliando
e monitorando processos de aprendizagem, para realimentar o ensino de conteúdos
curriculares e as estratégias metodológicas mais ajustadas às demandas identifi cadas3.
Tendo em vista esses pressupostos, analisados no primeiro encontro de formação
dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo, os seguintes focos foram destacados pelas turmas como
mais relevantes para a refl exão sobre a avaliação diagnóstica na rede de Contagem4.
importância da continuidade da avaliação de capacidades lingüísticas já consolidadas
pelos(as) estudantes em cada Ciclo, bem como de suas difi culdades e defasagens;
análise dos índices municipais dos desempenhos dos(as) estudantes à luz de
outros índices nacionais, estaduais e municipais ( SAEB, PISA; SIMAVE/MG;
APROVA CONTAGEM);
constatação de grandes difi culdades dos(as) estudantes do 2º Ciclo em escrita,
leitura e fatos fundamentais (“o aluno do segundo Ciclo ainda é idealizado e a
culpa pelo seu fracasso é atribuída ao Ciclo anterior”);
responsabilidade de todos(as) os(as) professores(as), de todas as áreas curriculares,
no replanejamento das ações e intervenções – e não apenas daqueles estritamente
ligados ao processo de alfabetização.
Essa proposta para o 2º Ciclo ratifi ca e valoriza esses focos, considerados como
ponto de partida para que o coletivo de cada escola da rede municipal os realimente em
suas discussões e propostas de ações. Assim, as articulações entre os Ciclos poderão ser
cada vez mais consistentes e o planejamento do ensino poderá se sustentar em demandas
objetivas e ajustáveis ao perfi l real dos(as) estudantes desse Ciclo.
1.
2.
3.
4.
3 Cf. a esse respei-
to, o Caderno 5 da
Coleção “Instrumentos
da Alfabetização” –
CEALE-FAE/UFMG,
que focaliza a avaliação
e o monitoramento do
processo de alfabetização.
(CEALE/ MEC, 2005)
4 Síntese de aspec-
tos registrados em
relatórios elaborados
por assessores da
Rede Municipal de
Contagem que acompa-
nharam a formação de
educadores do 2º Ciclo
em 2007, com a colabo-
ração de representantes
das turmas.
5
Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
44 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
A Rede Municipal de Contagem vem consolidando, nos últimos anos, diversas
propostas para os Ciclos de Formação Humana, tendo como ponto de partida as múlti-
plas instâncias de construção compartilhada. Entretanto, essa construção exige contínua
revisão e reorientação, em razão de novas confi gurações dos projetos pedagógicos e dos
indicadores expressos em avaliações diagnósticas atualizadas.
Em relação ao 2º Ciclo, algumas dimensões já se encontravam delineadas no
documento Referenciais para a construção da proposta curricular do 2º Ciclo (CONTAGEM,
2004).
A retomada dessa refl exão para o atual alargamento da proposta deve tomar como
ponto de partida alguns eixos mais amplos que, de acordo com o referido documento,
deveriam perpassar todas as áreas de conhecimento pertinentes a esse Ciclo.
Este Caderno tem como foco os eixos de capacidades lingüísticas, objeto da
formação proposta pelo CEALE. Contudo, não se pode perder de vista que essas
capacidades instrumentalizam todas as áreas e são as grandes articuladoras de conhe-
cimentos e habilidades trabalhados não apenas nos conteúdos de Língua Portuguesa,
como também nas outras áreas do conhecimento.
Assim, permanecem os grandes eixos propostos nos Referenciais para o 2º
Ciclo, que serão retomados, a seguir, na perspectiva das habilidades gerais esperadas
para esse Ciclo.
45Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
Eixos de habilidades abrangentes a serem desenvolvidas no 2º Ciclo em todas as áreas de conhecimento 1
I - Participação na vida social e em processos inclusivos2
– reconhecer e respeitar as diferentes formas de expressão de idéias e valores
– desenvolver atitudes de respeito mútuo, inserção comunitária e solidariedade em diferentes situa-ções
– reconhecer-se como sujeito participativo no processo de construção de identidade pessoal, social e cultural
– reconhecer e respeitar as diferenças de gênero, idade, religião, etnia e outras;
– participar de atividades que possibilitem a cooperação e a construção coletiva de regras
– perceber e respeitar a diversidade cultural, histó-rica e lingüística existente nos diferentes grupos sociais
– reconhecer e valorizar os espaços coletivos e o patrimônio histórico-cultural, desenvolvendo posturas de preservação e manutenção
– compreender e reconhecer as relações entre os indivíduos e destes com o meio ambiente
– perceber a importância das ações de cada um para a transformação social, a preservação da natu-reza e a melhoria da qualidade de vida
– discutir situações de ordem ética, desenvolven-do atitudes de cidadania e de abertura à inclusão social.
Exemplos de habilidades nos diversos conteúdos curriculares
Objetivos
II - Organização do trabalho e construção da autonomia
Exemplos de habilidades nos diversos conteúdos curriculares
Objetivos
– aprender a trabalhar em grupos, participando da tomada de decisões coletivas
– lidar com tempos e espaços escolares
– registrar e apresentar propostas de trabalho com clareza e organização
– participar coletivamente de projetos, posicio-nando-se diante do grupo com responsabilidade e compromisso.
– desenvolver atitudes de escuta e cooperação nas atividades grupais
– desenvolver relações temporais e espaciais neces-sárias à sistematização do trabalho escolar
– projetar e realizar propostas de trabalho com envolvimento e autonomia
1 Síntese elaborada,
com adaptações, com
base no documento
Referenciais para a
construção da proposta
curricular do 2º Ciclo
de formação Humana
(CONTAGEM, 2004,
p. 8-11)
2 Exemplos de proje-
tos curriculares desta
Rede que favoreçam
processos inclusivos são
apresentados no capítu-
lo 10 deste Caderno.
46 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
III – Tratamento da informação e uso de diversas formas de expressão
Exemplos de habilidades nos diversos conteúdos curriculares
Objetivos
– identifi car, selecionar e utilizar diversas fontes de informação
– saber expressar idéias, valores, sentimentos
– formular questões pertinentes aos temas focalizados
– analisar informações com base na observação, da pesquisa e da construção de hipóteses e opiniões
– organizar informações utilizando diferentes formas de registro
– inferir sentidos e signifi cados considerando expe-riências e informações adquiridas.
– experimentar e vivenciar sua consciência corpo-ral desenvolvendo múltiplas possibilidades de expressão corporal
– utilizar linguagens alternativas para representar idéias, sentimentos e opiniões: verbal, plástica, corporal, musical e outras
– selecionar linguagens diferenciadas adequadas a diferentes contextos
– ler, interpretar e fazer uso de diferentes gêneros e tipos textuais, por meio de várias estratégias de compreensão e análise
– reconhecer e apreciar produções artísticas em suas diversas manifestações
– conhecer, por meio de línguas estrangeiras, outras formas de expressão e manifestação cultural
– utilizar e interpretar diferentes formas de regis-tro (mapas, desenhos, esquemas, tabelas, gráfi cos) e outras de representação numérica e icônica presentes no cotidiano
– compreender e utilizar o sistema de numeração em diferentes situações
– utilizar cálculos numéricos para resolver questões apresentadas pela realidade
– reconhecer diferentes tipos de fonte histórica, percebendo seu contexto e sua produção
– conhecer as tecnologias, percebendo seu papel na vida cotidiana e utilizando-as de forma crítica.
Constata-se que as habilidades e atitudes valorizadas nesses grandes eixos
visam oferecer suporte sólido para o desenvolvimento de habilidades ou capacidades
em quaisquer áreas de conhecimento trabalhadas no 2º Ciclo, podendo assumir uma
dimensão curricular transversal – ou seja, que perpassa todos os conteúdos curriculares,
sem demarcação rígida de campos disciplinares.
Contudo, em consonância com o foco deste Caderno, torna-se necessário verti-
47Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
calizar essa refl exão e estabelecer uma proposta mais específi ca para o conjunto de
capacidades lingüísticas confi guradas como metas para o 2º Ciclo.
Capacidades lingüísticas esperadas no 2º Ciclo: eixos e metas principais
Buscando estabelecer articulação com a proposta apresentada para o 1º Ciclo da
Rede de Contagem (CONTAGEM, 2007, p. 86-88), relacionamos, a seguir, capacidades
pertinentes aos eixos essenciais à aquisição da língua escrita para o 2º Ciclo. Em cada
eixo serão destacadas as grandes metas e as capacidades a elas associadas, que deverão
guiar o planejamento do ensino nesse nível.
A síntese apresentada se baseia em propostas elaboradas pelo CEALE
(2005-2008), assumidas como referenciais básicos em cursos e ofi cinas de formação
continuada realizados pelos(as) educadores(as) desta rede.
Alguns esclarecimentos devem preceder a leitura das capacidades abaixo
relacionadas:
O termo “capacidade” está sendo utilizado no mesmo sentido de "habilidades"
ou "competências" e pode ser associado, dependendo do contexto, a conheci-
mentos e atitudes.
As capacidades listadas enfatizam a dimensão lingüística, emrazão do foco do
trabalho com a alfabetização e o letramento. Entretanto, essa ênfase não pode
restringir a importância de outras dimensões de aprendizagem e áreas curricu-
lares, como se ressaltou nas seções anteriores desta proposta.
As capacidades apontadas na proposta para o 1º Ciclo (CONTAGEM, 2007)
referiam-se a expectativas iniciais para o processo de alfabetização. Elas não
esgotam as capacidades lingüísticas, pois estas se desenvolverão em todo o
processo de escolarização. Sua aquisição dependerá sempre de vários fatores,
tais como idade da criança, experiências escolares e extra-escolares, condições
oferecidas pela escola e intervenções docentes;
•
•
•
48 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Pelas razões anteriores, não pretendemos reforçar uma seqüência rígida ou linear
de capacidades, pois a maioria delas supõe aquisição simultânea. Além disso,
embora tenhamos como meta que o domínio do princípio alfabético e das princi-
pais convenções gráfi cas esteja assegurado ao fi nal do 1º Ciclo, sabe-se que muitas
dessas capacidades não estão presentes em estudantes que iniciam o 2º Ciclo, como
atestam sucessivas e recentes avaliações diagnósticas. Assim, esses aspectos exigirão
ensino sistemático ao longo do 2º Ciclo, ampliados pelo crescente domínio de várias
outras capacidades essenciais à consolidação dos processos de escrita e de leitura.
Tendo em vista tais esclarecimentos, relacionamose, a seguir, as metas e as
capacidades pertinentes aos eixos essenciais à aquisição da língua escrita, para o 2º Ciclo
(detalhadas em propostas do CEALE, 2005-2008):
I – COMPREENSÃO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA ESCRITA
Metas: ampliação do letramento ou dos usos sociais da língua escrita
conhecer e valorizar a escrita em diferentes modos de produção e circulação e
em diferentes usos e funções;
desenvolver capacidades necessárias para o uso da escrita no contexto escolar;
desenvolver capacidades necessárias para o uso da escrita em diferentes contextos
sociais;
selecionar e utilizar fontes escritas diversas para localização de informações
desejadas;
identifi car diferentes portadores e gêneros de texto, suas características e funções;
desenvolver interesse por utilização de espaços de circulação de material escrito,
na sala de aula, na escola e em outros ambientes extra-escolares.
II – APROPRIAÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA
Metas: consolidação da consciência fonológica, da conceitualização da escrita
alfabética e expansão de conhecimentos ortográfi cos
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49Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
identifi car e empregar diversos tipos de letras, discriminando visualmente e
grafi camente as de traçado semelhante;
escrever alfabeticamente com redução gradual dos erros ortográfi cos;
ordenar palavras em ordem alfabética e utilizar essa capacidade em situações
de uso social da escrita;
dominar convenções da escrita: orientação, alinhamento, segmentação dos
espaços em branco, paragrafação e pontuação;
grafar palavras com sílabas canônicas (consoante/vogal) e não canônicas (vogal/
vogal; consoante/ consoante/vogal; consoante/vogal/vogal);
comparar a forma oral e escrita de palavras em que um mesmo grafema (letra)
representa diferentes fonemas (sons);
comparar a forma oral e escrita de palavras em que um mesmo fonema é repre-
sentado por diferentes grafemas;
reconhecer regularidades e irregularidades ortográfi cas, observando correspon-
dências invariáveis e correspondências que dependem do contexto;
comparar a forma oral e escrita de palavras de uso freqüente grafadas de forma
arbitrária.
III – LEITURA
Metas: ampliação da fl uência, da compreensão de gêneros textuais diversos
e da utilização de estratégias favoráveis à produção de sentidos
ler e interpretar diferentes gêneros e tipos textuais;
interagir com o texto, identifi car os recursos utilizados pelo autor e seus objetivos,
utilizando-os como estratégias de compreensão e análise;
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50 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
identifi car usos, funções, estruturas e características dos diversos tipos e gêneros
textuais como estratégia para compreensão deles;
ler textos silenciosamente;
ler em voz alta com fl uência e expressividade ;
antecipar conteúdos de textos a serem lidos a partir do suporte, do gênero, da
contextualização, da confi guração gráfi ca e de conhecimentos prévios sobre o
tema;
selecionar procedimentos de leitura adequados a diferentes objetivos e
interesses;
relacionar o texto que está sendo lido a outros textos, orais ou escritos;
compreender globalmente os textos lidos, identifi cando o tema central, locali-
zando informações explícitas ou implícitas e fazendo inferências;
distinguir fato de opinião;
identifi car efeitos de ironia ou humor em textos variados;
reconhecer elementos e relações que organizam o conteúdo dos textos: tempo,
espaço, causa, fi nalidade, oposição, conclusão, comparação, entre outras;
perceber a pontuação como um dos elementos orientadores na produção de
sentidos;
inferir o sentido de uma palavra ou expressão;
identifi car a fi nalidade de textos de diferentes gêneros.
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51Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
IV – ESCRITA
Metas: ampliação da produção de textos de gêneros diversos, com padrões
adequados de composição e com níveis crescentes de autonomia na elaboração e revisão
da própria escrita
utilizar a escrita em situações do cotidiano escolar que demandem interação
(bilhetes, registros, relatórios, convites, etc.);
planejar e elaborar a escrita de textos de acordo com convenções gráfi cas e orto-
gráfi cas, com domínio do uso da letra cursiva e do papel pautado;
utilizar a variedade lingüística própria à cada situação de produção e de circu-
lação, com escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática;
grafar corretamente palavras de uso freqüente, incluindo as que apresentam
correspondências arbitrárias entre fonema (som) e grafema (letra);
recontar, por escrito, textos lidos por professores(as), mantendo estruturas e
convenções da língua escrita e as características do gênero;
produzir textos em gêneros diversos adequados aos objetivos, ao destinatário e
ao contexto de circulação;
revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos,
ao destinatário e ao contexto de circulação previstos.
V – ORALIDADE
Metas: ampliação das habilidades de interação, escuta e expressão oral, com
discernimento de usos adequados dos gêneros orais, em contextos informais e formais
participar de interações cotidianas no contexto escolar, adequando-se aos níveis
de formalidade;
planejar a utilização de posturas públicas com padrões adequados e recursos
lingüísticos pertinentes;
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52 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
respeitar a diversidade das formas de expressão oral em contextos escolares e extra-
escolares, desenvolvendo estratégias de polidez nas interações vivenciadas;
reconhecer semelhanças e diferenças entre as modalidades orais e escritas da
língua;
expandir capacidades pertinentes ao reconhecimento e ao uso de gêneros orais
diversos: leitura em voz alta, dramatizações, debates, palestras, entrevistas, júris
simulados, cerimônias, entre outros;
valorizar sua própria linguagem e a de seu grupo social como forma de interagir
com o outro;
utilizar diferentes linguagens, adequando-as a diversos contextos.
Esses são, portanto, os grandes eixos, as metas básicas e as capacidades indis-
pensáveis a uma proposta curricular para o 2º Ciclo, na perspectiva da aprendizagem
da língua escrita. Entretanto, um dilema persiste entre os(as) educadores(as) que atuam
nesse Ciclo: o que fazer diante das difi culdades dos(as) estudantes, que iniciam o 2º Ciclo
sem o domínio de parte das capacidades delineadas como recomendáveis ou desejáveis
para o Ciclo anterior?
No mesmo sentido enfatizado na proposta para o 1º Ciclo, a direção necessária
é a do replanejamento do trabalho e da organização curricular, de modo a enfatizar: a)
o lugar central a ser ocupado pelo sujeito que aprende, como foco do trabalho docente;
b) o redimensionamento dos tempos e dos espaços escolares; c) o trabalho coletivo como
modalidade principal de organização do projeto pedagógico; d) o processo de avaliação
contínua e formativa.
Essas orientações expressam a necessidade de retomar processos não consoli-
dados, introduzir capacidades que não foram desenvolvidas, trabalhar e sistematizar as
que se encontram em desenvolvimento, ampliar as já dominadas, em patamares mais
avançados de autonomia.
Signifi cam, ainda, respeitar os ritmos diferenciados de aprendizagem dos(as)
estudantes, organizando-os de acordo com suas habilidades e necessidades, em agru-
pamentos menores e fl exíveis – processos esses amplamente valorizados em nossas
propostas curriculares.
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53Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
Caso seja necessário, o(a) educador(a) poderá buscar orientações no Caderno:
Educadores na Rede – Contagem: proposta de alfabetização e letramento, 2007.
Para as tomadas de decisão, é oportuno relembrar algumas lacunas e difi cul-
dades em capacidades básicas evidenciadas no Aprova Contagem (2007) e em outras
avaliações diagnósticas realizadas por esse município para que os(as) educadores(as) desse
Ciclo percebam a necessidade da reorganização de seu trabalho, bem como garantam
a aprendizagem de todos(as) os(as) estudantes do 2º Ciclo.
Por essa razão, é importante retomar algumas dessas direções, sintetizadas no
quadro a seguir.
54 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
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55Proposta curricular para o 2º ciclo de formação: aspectos a considerar, capacidades lingüísticas a desenvolver
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56 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Uma observação fi nal deve ser registrada. Para que o replanejamento do trabalho
tenha consistência, torna-se imprescindível avaliar sistematicamente as capacidades já
desenvolvidas pelos(as) estudantes. Para isso, contribuem tanto os processos de avaliação
em larga escala quanto os propostos pela própria escola. Tais instrumentos permitem
monitorar o processo de aprendizagem dos(as) estudantes, no conjunto da instituição,
de cada turma e individualmente. As estratégias de acompanhamento dos descompas-
sos tornam-se, assim, mais efetivas, podem reorientar a proposta curricular e ajustar
atividades aos níveis realmente evidenciados.
Deve-se acrescentar que as experiências de nossos(as) educadores(as) são deci-
sivas nesse replanejamento, sobretudo quando advindas de seu processo de formação
continuada e da consolidação de seus saberes construídos no cotidiano da escola. Por essa
razão, nos próximos capítulos apresentamos a sistematização de alguns focos trabalhados
pelos(as) educadores(as) em seus atuais processos de formação e em suas refl exões sobre
projetos em desenvolvimento no 2º Ciclo da Rede Municipal de Contagem referentes
a alguns dos eixos enfatizados.
58 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
No capítulo destinado à discussão da proposta curricular para o 2º Ciclo, o eixo
da Leitura foi apresentado em termos das metas e das capacidades que necessitam ser
desenvolvidas nesse Ciclo. Retomemos a síntese já apresentada, como ponto de partida
para a abordagem do presente capítulo.
Metas para o 2º Ciclo no eixo da leitura
Ampliação da fl uência, da compreensão de gêneros textuais diversos e da utili-
zação de estratégias ou procedimentos favoráveis à produção de sentidos, tais como:
ler silenciosamente textos narrativos e informativos;
ler em voz alta com fl uência e expressividade;
antecipar conteúdos de textos a serem lidos a partir do suporte, do gênero, da contex-
tualização, da confi guração gráfi ca e de conhecimentos prévios sobre o tema;
selecionar procedimentos de leitura adequados a diferentes objetivos e
interesses;
relacionar o texto que está sendo lido a outros textos, orais ou escritos;
compreender globalmente os textos lidos, identifi cando o tema central, locali-
zando informações explícitas ou implícitas e fazendo inferências;
•
•
•
•
•
•
59Leitura e Gêneros Textuais No 2º Ciclo
distinguir fato de opinião;
identifi car efeitos de ironia ou humor em textos variados;
reconhecer elementos e relações que organizam o conteúdo dos textos: tempo,
espaço, causa, fi nalidade, oposição, conclusão, comparação, entre outras;
perceber a pontuação como um dos elementos orientadores na produção de
sentidos.
Essas metas e esses procedimentos estão fundamentados na concepção de que
ler é uma atividade interativa de produção de sentidos que envolve ações do produtor do
texto e do leitor. No processamento de textos, o leitor mobiliza um conjunto de saberes
(sobre a língua, o gênero textual, o autor do texto, outros textos, o assunto, o meio de
veiculação do texto, os modos de leitura) e constrói sentidos com base nos elementos
lingüísticos que compõem a materialidade do texto e na sua forma de organização.
Por um lado, o processo de construção de sentidos abrange múltiplas possibilidades,
relacionadas com a capacidade interpretativa do leitor, seus conhecimentos prévios, seus
interesses e objetivos específi cos em determinado ato de leitura. Por outro lado, não é
possível construir um sentido qualquer para os textos, pois eles oferecem orientações para
a produção de sentidos, ao mesmo tempo em que impõem limites para essa produção.
É importante destacar que referidos procedimentos ou estratégias têm fundamenta-
do, nos últimos anos, a elaboração de inúmeras matrizes de avaliação diagnóstica centradas
no eixo da leitura, sendo algumas delas já familiares aos(as) educadores(as) desta rede (por
exemplo, SAEB, Avaliação Censitária, Aprova Contagem, Prova Brasil, Provinha Brasil).
Além disso, nas últimas duas décadas, a discussão sobre gêneros textuais vem
merecendo lugar de destaque, inserindo-se defi nitivamente na refl exão sobre a apren-
dizagem e o ensino da leitura. Seria oportuno, portanto, rever esse campo de discussão,
tendo em vista a ampliação das funções da leitura no 2º Ciclo.
•
•
•
•
60 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Gêneros textuais: ampliando as funções da leitura no 2º Ciclo
A refl exão sobre o eixo da leitura constituiu um dos grandes temas do processo
de formação dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo da rede de Contagem, implementado
em 2007, em parceria com o CEALE.
Guiaram essa refl exão as análises de alguns textos-referência produzidos pelo
CEALE (2005-2008).¹
Nesta seção, será enfatizada a concepção de gênero que fundamentou esse processo
de formação, com a intenção de reforçar a importância dessa discussão no 2º Ciclo.
Dentre várias possíveis defi nições de “gêneros” abordadas nos textos-referência
já citados, relembramos a de Marcuschi (2002, p. 20):
Os gêneros textuais são textos materializados que encontramos em nossa vida diária e
que apresentam características sociocomunicativas defi nidas por conteúdos, proprie-
dades funcionais, estilo e composição característica.
Essa mesma ênfase é focalizada no volume da coleção CEALE (2007, p. 18),
dedicado a esse tema:
os gêneros são categorias, padrões, modelos de texto que ‘têm vida própria’, isto é, circulam
de fato na vida social. São muito numerosos, porque atendem a necessidades comunicativas
e organizacionais de muitas áreas da atividade humana, e porque se renovam, ao longo do
tempo, em razão de novas necessidades, novas tecnologias, novos suportes [...]
A partir dessa concepção, qual seria a diferença entre “gêneros” e “tipos” textuais?
Conforme se destaca no Caderno CEALE, 2007, p. 18),
os tipos não são textos concretos, não ‘têm vida própria’, são atitudes enunciativas que
acarretam modos característicos de emprego dos recursos lingüísticos presentes em
um texto ou em seqüências de texto. São componentes dos textos e podem aparecer
em diferentes gêneros, com exclusividade ou articulados entre si. São poucos e são
mais estáveis que os gêneros. Como enumeramos anteriormente, os mais conhecidos
são: narrativo, expositivo, argumentativo, descritivo, instrucional, dialogal.
1 Dois Cadernos da
Coleção Alfabetização
e Letramento foram
norteadores dos encon-
tros sobre tais questões
temáticas: CAFIERO,
Delaine. Leitura como
processo e COSTA
VAL et al. Produção
escrita: trabalhando
com gêneros textu-
ais Belo Horizonte:
CEALE/FAE/UFMG
(2005-2008).
61Leitura e Gêneros Textuais No 2º Ciclo
Os gêneros textuais apresentam, portanto, as seguintes características básicas:
São realizações lingüísticas concretas def inidas por propriedades
sociocomunicativas.
Constituem textos empiricamente (concretamente) realizados, cumprindo
funções em situações comunicativas.
A nomeação deles abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de
designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição
e função.
Exemplos de gêneros: telefonema, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhe-
te, aula expositiva, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio,
instruções de uso, outdoor, resenha, carta eletrônica (e-mail), dentre outros.
Os tipos textuais, por outro lado, se caracterizam pelas seguintes dimensões:
São construtos teóricos defi nidos por propriedades lingüísticas intrínsecas
(aspectos lexicais e sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados e não são textos
empíricos (ou seja, concretos, materializados).
A nomeação deles abrange um conjunto limitado de categorias teóricas deter-
minadas por aspectos lexicais, relações lógicas, tempo verbal.
Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção,
exposição (dialogal).
Outro campo importante nessa refl exão refere-se ao domínio discursivo. Essa
expressão é utilizada para designar uma esfera ou instância de produção discursiva, ou
seja, de atividade humana que possibilita a interação social. Esses domínios não são
textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específi cos.
Do ponto de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico,
1.
2.
3.
4.
1.
2.
3.
4.
62 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
discurso religioso e outros – já que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não
abrangem um gênero em particular, mas dão origem a vários deles.
Um quadro apresentado no texto-referência já citado (CEALE, 2007) pode
ajudar a sintetizar essas concepções e distinções, fi cando como registro dos aspectos que
mais foram trabalhados ao longo da formação dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo. Nesse
quadro, conjugam-se aspectos relacionados aos domínios ou esferas de comunicação e
aos tipos e gêneros que categorizam os textos orais ou escritos.
Domínios sociais de comunicaçãoAspectos tipológicos Exemplos de gêneros orais e escritos
Cultura literária fi ccional
Narrar
Conto maravilhoso
Conto de fadas
Fábula
Lenda
Narrativa de aventura
Narrativa de fi cção científi ca
História engraçada
Romance
Conto
Crônica literária
Adivinha
Piada
Documentação e memorização das ações humanas
Relatar
Relato de experiência
Relato de viagem
Diário íntimo
Anedota ou caso
Notícia
Reportagem
Crônica social
Crônica esportiva
Histórico
Relato histórico
Discussão de problemas sociais controversos
Argumentar
Textos de opinião
Diálogo argumentativo
Carta de leitor
Carta de reclamação
Carta de solicitação
Debate regrado
Assembléia
Transmissão e construção de saberes
Expor
Texto expositivo (em livro didático)
Exposição oral
Comunicação oral
Palestra
Entrevista de especialista
Verbete
Artigo enciclopédico
Texto explicativo
Tomada de notas
Resumo de textos expositivos
e explicativos
Relatório oral de experiência
Instruções e prescrições
Descrever Ações
Instruções de montagem
Receita
Regulamento
Regras de jogo
Instruções de uso
Bulas
Comandos diversos
63Leitura e Gêneros Textuais No 2º Ciclo
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GÊNEROS
64 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Outra forma de confi gurar didaticamente os domínios e gêneros textuais pode
ser visualizada no quadro anterior, também explorado na formação do 2º Ciclo – orga-
nizado com base em Cafi eiro (2005) e Marcuschi (in: DIONÍSIO, 2002).
Nele são exemplifi cados os principais domínios ou esferas de comunicação e
alguns gêneros textuais pertinentes a cada um desses campos.
Pelas sínteses apresentadas, pode-se verifi car que são inúmeras as possibilidades
de ampliação de usos textuais no 2º Ciclo, quanto aos domínios, tipos e gêneros, sempre
com ênfase na função e no contexto de circulação dos textos. Portanto, é necessário que
esse sentido esteja presente no trabalho desenvolvido no eixo da leitura, tendo em vista
a interação dos(as) estudantes com textos variados e signifi cativos.
Os(as) professores(as) que atuam nesse Ciclo podem selecionar gêneros mais perti-
nentes a cada área de conteúdo curricular e, também, desenvolver projetos que articulem
várias áreas em torno de determinado gênero – por exemplo, um relatório de pesquisa ou
excursão; uma entrevista ou um artigo para o jornalzinho da escola ou do bairro.
Como os gêneros se caracterizam por sua função, pela ação de linguagem que
concretizam nos diferentes contextos sociais, uma conclusão importante é que eles
devem ser abordados na sala de aula de maneira funcional. Isso signifi ca trabalhar com
o objetivo de que os(as) estudantes aprendam a usá-los, isto é, que aprendam a:
ler os gêneros presentes na vida social, compreendendo sua função (sua utilidade,
seus objetivos) e seu alcance (o contexto social em que circulam, que implicações
podem ter na vida dos usuários, a que estrutura de poder se vinculam).
escrever textos em gêneros diversos, o que envolve escolher o gênero adequado
à situação social e à ação de linguagem e produzir um texto pertinente a esse
gênero – quanto ao conteúdo, à forma e ao estilo de linguagem.
Aspectos relacionados ao eixo da leitura na perspectiva dos educadores do 2º Ciclo
Na análise do tema deste capítulo não poderíamos deixar de considerar as
práticas e os projetos de leitura desenvolvidos por educadores(as) do 2º Ciclo da rede
1.
2.
65Leitura e Gêneros Textuais No 2º Ciclo
de Contagem. Por essa razão, destacamos, a seguir, algumas percepções e demandas
registradas ao longo dos encontros de formação destinados a este eixo.2
Uma primeira percepção signifi cativa desses(as) educadores(as) do 2º Ciclo refere-
se à ampliação das concepções sobre leitura, propiciada pela análise das referências
teóricas na área. Como síntese dessa ampliação, propiciada por textos-referência
e refl exões sobre as práticas, a leitura passou a ser compreendida como processo
histórico-cultural, cognitivo e interativo, que não se confunde com atos mecânicos de
decodifi cação e decifração, cuja ênfase é dirigida para a produção de sentidos pelo leitor,
na relação com o texto e pela mediação do(a) educador(a).
Uma segunda percepção diz respeito à compreensão abrangente das estratégias
envolvidas no processo de leitura, na perspectiva das capacidades que devem ser
consolidadas pelos(as) estudantes do 2º Ciclo: retomada de conhecimentos prévios,
elaboração e verifi cação de hipóteses, localização de informações, levantamento de
inferências, estabelecimento de relações, generalizações, apropriação de elementos
lingüísticos e não-lingüísticos, desenvolvimento de fl uência e ritmo, dentre outras, já
detalhadas no quadro-síntese de descritores relacionados no início deste capítulo.
Uma terceira percepção relaciona-se à importância da utilização, no 2º Ciclo, de
diversos tipos, gêneros e portadores ou suportes textuais. Os(As) professores(as)
deste Ciclo constataram que as práticas escolares têm valorizado mais os tipos
textuais do que os gêneros (conforme distinção anteriormente apresentada),
desconsiderando a função primordial do texto, as situações de uso social efetivo,
as condições de produção do texto e de sua compreensão na leitura.
Uma quarta percepção se traduz na consciência da necessidade de ampliar os
procedimentos de ensino da leitura no 2º Ciclo, algumas já praticadas pelos(as)
educadores(as) da rede, tais como:
pausas protocoladas: leitura interativa que propicia antecipação de idéias, levan-
tamento de conhecimentos prévios e hipóteses do leitor;
1.
2.
3.
4.
•
2 Os referidos registros
foram produzidos com a
colaboração de assesso-
res/acompanhantes que
representaram o Núcleo
de Alfabetização e
Letramento da SEDUC
e de professores-repre-
sentantes das turmas
em formação.
66 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
3 Cf. capítulo sobre
Letramento digital.
saliências textuais: informações referentes a elementos centrais e periféricos do
texto, textuais e não textuais (títulos, legendas, imagens, dentre outros);
textos desordenados: organização e reordenação baseadas informações, conhe-
cimentos prévios e pistas lingüísticas.
Uma quinta percepção centra-se na constatação da importância do perfi l do(a)
professor(a) como leitor(a), para que se apresente efetivamente como formador(a)
de leitores(as) e mediador(a) de leituras com signifi cado e motivação (“o letra-
mento do(a) estudante é proporcional ao letramento do(a) professor(a)”).
Finalmente, uma percepção inquietante dos(as) educadores(as) aponta a exclusão
social dos(as) estudantes do Ciclo dos processos de letramento digital3 – na plena
acepção do acesso a recursos eletrônicos, a novas tecnologias e a ferramentas
virtuais que propiciem novas formas de interação pela escrita e pela leitura.
Os registros dessas percepções sinalizam o que já se encontra consolidado e o
que ainda está por ser construído. Contudo, as aprendizagens mais promissoras podem
advir das experiências bem-sucedidas e dos projetos inovadores já desenvolvidos pelos(as)
educadores(as) – alguns deles apresentados ao fi nal desse caderno.
•
•
5.
6.
68 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Pressupostos e proposições para o 2º Ciclo
A refl exão sobre o ensino da literatura e da leitura literária constituiu outro
foco do processo de formação dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo da rede de Contagem,
implementado em 2007, em parceria com o CEALE/UFMG. O texto-referência utili-
zado nos encontros temáticos1 apresentou alguns pressupostos que serão brevemente
retomados.
Há elementos que devem ser observados na leitura e interpretação de um texto
literário:
pluralidade de vozes: autor, narrador, personagem;
pacto de leitura (ou pacto fi ccional): aceitação, pelo leitor, de que a proposta
do texto deve ser lida como uma história imaginária, que admite abertura para
diferentes inferências;
tempo da narrativa: cronológico, memorialista ou simbólico;
espaços da literatura: geográfi co, cultural, social, psíquico.
Os textos de narrativas oferecem múltiplas possibilidades para a leitura literária,
destacando-se: contos, novelas, fábulas, mitos, lendas, apólogos (história de
objetos personifi cados). Esse campo abrange, portanto, inúmeros tipos e gêneros
textuais que devem ser amplamente explorados no 2º Ciclo.
1.
•
•
•
•
2.
1 Este tema foi explo-
rado com base em
PAIVA; PAULINO;
PASSOS, 2005-2008.
69Literatura e Leitura Literária no 2º Ciclo
Além das narrativas, os poemas constituem outra rica possibilidade literária a
ser trabalhada no 2º Ciclo. Possibilitando exploração oral ou escrita, a leitura
deles requer atenção à sonoridade, ao ritmo e aos efeitos expressivos, essenciais
ao desenvolvimento de capacidades mais elaboradas no eixo da leitura e da
interpretação de gêneros textuais diversos.
São inúmeras as estratégias de trabalho que podem ser realizadas no 2º Ciclo, em
torno da leitura literária. As mais relevantes são: a contextualização da obra, a
análise baseada nos elementos acima identifi cados, o diálogo com outros textos ou
obras (intertextualidade), a contação de histórias, o reconto, a dramatização.
A avaliação da leitura literária deve evitar a imposição de um protocolo de leitura
que se restrinja à técnica de pergunta-resposta. É importante contemplar, simul-
taneamente, questões objetivas (sobre conteúdos objetivamente inscritos no
texto), questões inferenciais (que exigem análise crítica baseadas em informações
prévias, textuais ou não) e ainda questões subjetivas (que solicitam opiniões e
avaliação do leitor).
Ainda na perspectiva de criar ou ampliar ao hábito da leitura de possibilitar
práticas pedagógicas diferenciadas, mais uma ação referente às políticas de leitura
implementadas por essa Secretaria de Educação, ressaltamos o Kit Afro, encaminhado
às escolas como uma contribuição com o ensino de História da África e o conhecimen-
to da cultura afro-brasileira para os(as) estudantes do Ensino Fundamental. Esse kit
procura, também, assegurar o resgate cultural fundamental para o reconhecimento da
importância das lutas e ações da população afro-brasileira e do movimento negro no
Brasil, na busca de uma educação contra a discriminação racial.
Além de obras literárias de diversos autores, O Kit Afro é composto de CDs e
vídeo VHS.
Esse material tem proporcionado aos(às) educadores(as) alternativas diversifi cadas
de atividades pedagógicas, bem como a realização de projetos inovadores de leitura nas
escolas municipais.
3.
4.
5.
70 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Aspectos relacionados ao trabalho com a literatura e a leitura literária na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo
A análise do tema desta seção pode ser enriquecida pelo conhecimento consoli-
dado por educadores(as) do 2º Ciclo da Rede de Contagem, no trabalho com literatura
e leitura literária. Destacamos, a seguir, algumas percepções e proposições registradas
ao longo dos encontros de formação destinados a este tema.2
Os (as) educadores (as) do 2º Ciclo citaram várias possibilidades de trabalho com o texto
literário, que se articularam à discussão teórica desenvolvida ao longo da formação.
Dentre as mais utilizadas, apontam: trabalho diversifi cado na biblioteca (com orientação
docente ou com autonomia do(a) estudante), reconto, dramatização, produção coletiva
de coletânea, “livrão” ou caderno de poemas, correspondência sobre os livros entre
escolas, mudança de gênero, trabalho com ilustrações, memórias, sinopse, resenhas
críticas, com indicação de leitura para colegas, contação de história.
Salientou-se a importância do trabalho com a fi cha catalográfi ca do livro e da análise de
inúmeros elementos: tema, capa, outras informações contidas no livro em contracapas
e quarta capa, folha de rosto, orelhas, encartes, projeto editorial, qualidade gráfi ca. As
ilustrações mereceram ênfase, pois a análise da relação texto-imagem constitui uma
das importantes capacidades no eixo da leitura. Além disso, constatou-se consenso
sobre a importância de se apresentar, no 2º Ciclo, textos mais longos, estimulando a
fruição, o prazer pela leitura e pela apreciação estética, evitando reduzir o texto literário
a um pretexto para o trabalho didatizante em torno da gramática.
Diversas propostas de atividades interessantes foram relatadas pelos(as)
educadores(as) desse Ciclo e compartilhadas durante encontros de formação.
Algumas estão sintetizadas a seguir:
Para os anos iniciais do 2º Ciclo, foi ainda enfatizada a oralidade como ponto de partida
para o trabalho com a literatura. O(A) professor(a) poderá sugerir a leitura de determinado
texto e pedir aos(às) estudantes que dêem a opinião deles(as). Essa atividade possibilitará
exercitar a capacidade de ouvir, dialogar, argumentar, concordar e discordar.
1.
2.
3.
•
2 Os referidos registros
foram produzidos com
a colaboração de acom-
panhantes da assessoria
pedagógica da SEDUC
e de professores-repre-
sentantes das turmas
em formação.
71Literatura e Leitura Literária no 2º Ciclo
A dramatização foi outra proposta: os(as) estudantes realizam a leitura de diversas
histórias e, em grupos, representam uma peça teatral.
Foi ressaltada a importância da mudança de ambiente para a realização de leituras.
Há escolas que têm um horário determinado para leitura na biblioteca. Naquele
horário, os(as) estudantes escolhem o livro, iniciam a leitura e podem levá-lo para
casa por oito dias. Esse trabalho tem por objetivo fazer com que o estudante faça
da leitura literária uma rotina e possa consolidar hábitos e estratégias.
A contação de histórias também foi proposta e ilustrada por várias experiências.
Em uma delas, realizada no 3º ano do 2º Ciclo, a professora trabalhou com um
fragmento, um texto retirado da obra Menino de engenho, de José Lins do Rego.
Ela comentou que o texto fora tirado daquela obra, contextualizou-a, bem como
a vida do autor. Informou que, além daquele livro, o autor escreveu outros com
o mesmo tema e que a biblioteca da escola possuía vários exemplares da obra
comentada. Ao término da aula, a professora foi até a biblioteca procurar um
material para planejar algumas aulas e teve uma surpresa: vários(as) estudantes
lá estavam, procurando o livro Menino de engenho.
Ainda no campo da contação de histórias, outra alternativa foi relatada: o(a)
estudante tem o tempo que desejar para escolher e ler determinado livro; no dia
em que se sente à vontade e preparado, veste uma roupa reservada aos contadores
de história e reconta para toda a turma o livro que leu. Esse processo acontece
gradativamente, envolvendo toda a turma.
Entre as atividades de reconto, algumas se destacam pela ludicidade. Por exem-
plo, os(as) estudantes são previamente motivados(as) por meio da criação de
fi gurinhas, fi cando cada um(a) responsável por distribuir uma fi gurinha de
determinada obra de literatura, à medida que os(as) colegas vão recontando a
história do livro. O(A) responsável por aquele título entrega a um(a) colega a
fi gurinha do livro. Assim, toda a turma tem a oportunidade de ler várias obras,
recontar e completar seu álbum de fi gurinhas.
Outras atividades foram compartilhadas por professores(as) de diversas áreas de
conteúdos curriculares do 2º Ciclo, das quais selecionamos alguns exemplos:
•
•
•
•
•
•
72 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Uma professora de artes mencionou um trabalho intitulado Leitura Dialogada,
no qual pede aos(às) estudantes que levem para a sala pequenos textos onde
haja diálogos. Com base nesse repertório, ela trabalha os sinais de pontuação
e, juntamente com os alunos, planeja dramatizações sobre os textos.
Em outro relato, um professor de história se insere na perspectiva literária
desenvolvendo trabalho pontual com mitos. Utiliza, também, contos literá-
rios que contêm temas referentes à matéria estudada – como exemplo citou o
tema da “peste” na Idade Média, para o qual o professor utiliza a história do
Flautista mágico,3 a título de introdução do tema a ser estudado. De acordo
com o professor, o texto literário em questão é utilizado somente como leitura
e uma discussão sobre o texto, não sendo exigindo outros trabalhos/avaliações.
O que se espera é que os(as) estudantes consigam articular, no contexto do
estudo histórico, a questão da peste à história do Flautista mágico.
Finalizando essa seção, uma refl exão merece ser reiterada, pois mobilizou bastante o
interesse dos(as) educadores(as): que lugar ocupam na formação de leitores literários?
Esse papel fi cou bastante marcado nas seguintes direções:
O(A) professor(a) deve sempre dialogar com os(as) estudantes e possibilitar que
eles(as) possam manifestar, oralmente e por escrito, os sentidos produzidos,
avaliações, preferências, questionamentos e problematizações;
cabe ao(à) professor(a) expandir as possibilidades de produção de sentido, lembran-
do que o texto literário é o campo da produção de múltiplos signifi cados;
o(a) professor(a) precisa ser um leitor para incentivar os(as) estudantes em práticas
de leitura que sejam gratifi cantes, prazerosas e lúdicas;
nesse papel de modelo e exemplo, professores(as) de todas as áreas podem e
devem estar envolvidos tanto na atuação em cada área de conteúdo, como na
proposição de projetos integrados e interdisciplinares.
Diversos trabalhos desenvolvidos nessa perspectiva, apresentados no capítulo
sobre Projetos inovadores, evidenciam o compromisso dos(as) educadores(as) desta rede
com os pressupostos aqui enfatizados.
√
√
•
•
•
•
3 O fl autista mágico ou
o fl autista de Hamelin
é uma história dos
Irmãos Grimm, rela-
cionada à epidemia de
peste que assolou uma
cidade alemã. A fi m
de resolver o problema
da invasão de ratos por
toda parte, o exímio
fl autista ofereceu ao rei
seus préstimos. Com
sua melodia, ele conse-
guiu encantar todos os
ratos, que o seguiram,
atraídos pela sua músi-
ca, distanciando-se da
cidade.
74 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
No capítulo destinado à discussão da proposta curricular para o 2º Ciclo, o
eixo da apropriação do sistema da escrita foi apresentado em termos das metas e das
capacidades que necessitam ser desenvolvidas nesse Ciclo. Retomemos a síntese já
apresentada, para uma ampliação da refl exão em torno desse eixo.
»» Metas para o 2º Ciclo no eixo da apropriação do sistema de escrita
Consolidação da consciência fonológica, da conceitualização da escrita alfabética
e expansão de conhecimentos ortográfi cos
Essas metas mais amplas abrangem diversas habilidades ou capacidades:
identifi car diversos tipos de letras, discriminando visualmente e grafi camente
as de traçado semelhante;
escrever alfabeticamente, com poucos erros ortográfi cos;
ordenar palavras por ordem alfabética;
dominar convenções da escrita: orientação, alinhamento, segmentação e
pontuação;
grafar palavras com sílabas canônicas (consoante/vogal) e não canônicas (vogal/
vogal; consoante/ consoante/vogal, etc);
comparar as formas oral e escrita de palavras em que um mesmo grafema (letra)
representa diferentes fonemas (sons);
•
•
•
•
•
•
75Conhecimentos Lingüísticos No 2º Ciclo
comparar a forma oral e escrita de palavras em que um mesmo fonema é repre-
sentado por diferentes grafemas;
reconhecer regularidades e irregularidades ortográfi cas, observando correspon-
dências invariáveis e correspondências que dependem do contexto;
comparar a forma oral e a escrita de palavras de uso freqüente grafadas de forma arbitrária.
A apropriação do sistema de escrita constitui um eixo complexo, que demanda
progressivas capacidades para sua plena consolidação. Muitas dessas capacidades foram
introduzidas e trabalhadas no 1º Ciclo, como já analisado na Proposta de Alfabetização
e Letramento para esta rede (CONTAGEM, 2007). Os(As) estudantes desse Ciclo
inicial já perceberam que nem sempre escrevemos da maneira como falamos, já foram
levados a deduzir algumas regras do sistema ortográfi co, já aprenderam a recorrer ao
dicionário quando surge uma dúvida sobre a grafi a de determinada palavra. No 2º
Ciclo, porém, esse eixo deverá ser consolidado: além de ampliar as capacidades ainda
não desenvolvidas, no contexto da alfabetização e do letramento, nossos(as) estudantes
precisarão sistematizar o trabalho com as convenções da escrita e com a ortografi a.
Nesta revisão, retomaremos alguns aspectos trabalhados ao longo da formação dos(as)
educadores(as) do 2º Ciclo de Contagem, em parceria com o CEALE. O texto-referência
para este estudo integra a coleção adotada nessa formação (CEALE, 2005-2008).1
O ensino da ortografi a no 2º Ciclo A análise desse eixo apresenta aos(as) educadores(as) um campo de grande
complexidade, sobretudo no que diz respeito às questões ortográfi cas. Afi nal, o sistema
ortográfi co do português tem poucas regularidades absolutas, algumas contextuais e
muitas irregularidades.
As regularidades absolutas dizem respeito às poucas letras do nosso sistema que
representam sempre um único fonema da língua. A relação direta ou biunívoca entre
a letra e o fonema que ela representa não depende do contexto, isto é, da posição em
•
•
•
1 Cf.
OLIVEIRA, 2005.
76 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
que a letra aparece na palavra escrita, nem do que vem antes ou depois dela. O quadro
seguinte exemplifi ca essas regularidades absolutas ou diretas.
As regularidades contextuais são as relações em que o valor sonoro da letra
depende da posição que ela ocupa na sílaba ou na palavra. Muitas dessas relações serão
infl uenciadas pelo uso da linguagem oral, conforme dialetos pertinentes a vários grupos
sociais ou geográfi cos, pois o sujeito falante tenderá a transferir para a escrita os sons
que escuta em seu contexto de interação lingüística (como em leite/leiti).
O quadro seguinte exemplifi ca algumas regularidades contextuais.
As irregularidades ortográfi cas constituem o maior conjunto de ocorrências
em nossa língua e, por isso mesmo, serão fonte de maiores difi culdades na apropriação
do sistema de escrita. Uma mesma letra poderá representar vários fonemas (sons), e
esses mesmos fonemas poderão ser representados por outras letras. O quadro seguinte
exemplifi ca apenas alguns desses inúmeros casos:
Além de todas essas irregularidades, já por demais complexas, é preciso lembrar que
as variações na fala e as discrepâncias entre fala e escrita serão importante fonte de “erros”
na escrita, também chamadas de “variações na escrita”. Essas variações não justifi cam,
entretanto, a adoção de uma postura pedagógica espontaneísta nesse campo de aprendi-
zagens: a ortografi a precisa ser ensinada sistematicamente, especialmente no 2º Ciclo.
O trabalho em sala de aula, no planejamento e replanejamento de atividades
desse eixo, deve se pautar por um diagnóstico consistente das difi culdades dos(as) estu-
dantes e das capacidades ainda não dominadas (de acordo com o quadro inicialmente
apresentado). Tais diagnósticos serão mais sólidos se incorporarem, além das avaliações
elaboradas pela própria escola, os resultados das diversas avaliações sistêmicas atualmen-
te incorporadas pelas redes públicas, que acrescentam um “olhar de fora” à análise do
desempenho dos(as) estudantes (conforme analisado no capítulo sobre “Avaliação”).
Tendo em vista as difi culdades dos(as) estudantes no que se refere aos conheci-
mentos lingüísticos aqui enfatizados, algumas orientações bastante gerais podem nortear
o trabalho dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo:
As primeiras difi culdades a vencer, nesse Ciclo, são as que envolvem discrimi-
nação visual e incorporação de padrões culturais defi nidores de nossa escrita:
Identifi car e traçar adequadamente as letras e dominar convenções básicas da escrita
•
77Conhecimentos Lingüísticos No 2º Ciclo
são capacidades fundamentais que alicerçam todas as demais. Por mais que tais
capacidades pareçam elementares, é essencial que sejam retomadas, caso não
tenham sido plenamente dominadas no 1º Ciclo. Precisam ser, de fato, traba-
lhadas sistematicamente e consolidadas logo no primeiro ano do 2º Ciclo – e,
nesse trabalho, educadores de todas as áreas devem estar envolvidos;
O ensino sistemático da ortografi a tem início quando os(as) estudantes já compre-
endem o sistema de escrita alfabética. Portanto, no 2º Ciclo, as regras ortográfi cas
de natureza contextual e as irregularidades devem ser objeto de ensino com a
progressiva introdução de novos casos, mas sem a pretensão de esgotar todas
as regras.
A consolidação de grafi as de natureza arbitrária constitui um processo mais
complexo e se prolongará por toda a escolaridade, pois sempre dependerá
de consulta a dicionários e da memorização associada ao conhecimento de
signifi cados. A expansão dessas estratégias deve, portanto, ser estimulada siste-
maticamente no 2º Ciclo.
O ensino dessas capacidades lingüísticas não pode ser exclusivamente centrado
na memorização. Deve haver lugar contínuo para a refl exão, o levantamento de
hipóteses, a dedução de regras e sua aplicação a novos contextos.
Aspectos relacionados ao eixo dos conhecimentos lingüísticos na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo
Segundo os(as) educadores(as) do 2º Ciclo da Rede de Contagem, são várias as
fontes de preocupação associadas às difi culdades lingüísticas de seus(suas) estudantes.
Para aqueles que se encontram no início da produção de textos, os níveis de difi culda-
•
•
•
78 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
des são maiores, pois, além de persistirem problemas de segmentação (demarcação ou
separação correta das palavras no texto), constatam-se limitações no vocabulário, pela
restrita prática de leitura e uma incidência de muitos erros ortográfi cos.
Tais difi culdades exigem do(a) professor(a) um esforço para compreender a natu-
reza desses erros. Os(As) educadores(as) reconhecem que alguns problemas ortográfi cos
serão resolvidos com a internalização de certas normas, mas a maioria dependerá da
exposição progressiva aos processos de escrita e reescrita, com a mediação de outros.
O surgimento das dúvidas durante o processo de produção escrita é importan-
te; a dúvida, nesse caso, deve ser aproveitada pelo(a) professor(a) para promover uma
discussão sobre a escrita de determinada palavra. Nesse momento, a oralidade, o modo
como o(a) estudante pronuncia a palavra, constitui elemento de análise para melhor
compreensão ortográfi ca.
Essas questões evidenciam a necessidade de que o(a) educador(a) do 2º Ciclo se
envolva com as questões de alfabetização, compreendendo que a escrita não é meramente
codifi cação, e, sim, representação, conceitualização e inserção em práticas letradas. Na
escola, a maior contribuição ao desenvolvimento da escrita dos(as) estudantes está em
fazer circular o maior número possível de portadores de textos, elevando, com isso, o
nível do conhecimento lingüístico interno (CLI) dos(as) estudantes, pois, de alguma
forma, ao longo do processo, o sujeito que aprende estará sempre se pautando por esse
conhecimento.
80 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
No capítulo destinado à discussão da proposta curricular para o 2º Ciclo, o eixo
da escrita foi apresentado em termos das metas e das capacidades que necessitam ser
desenvolvidas nesse Ciclo. Retomemos a síntese já apresentada, como ponto de partida
para a abordagem do presente capítulo.
Metas para o 2º Ciclo no eixo da escrita:
Ampliação da produção de textos de gêneros diversos, com padrões adequados
de composição e com níveis crescentes de autonomia na elaboração e revisão da própria
escrita.
Essas grandes metas abrangem diversas capacidades ou habilidades:
utilizar a escrita em situações do cotidiano escolar que demandem interação
(bilhetes, registros, relatórios, convites, etc.);
planejar e elaborar a escrita de textos de acordo com convenções gráfi cas e orto-
gráfi cas, com domínio do uso da letra cursiva e do papel pautado;
utilizar a variedade lingüística própria à cada situação de produção e de circu-
lação, com escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática;
grafar corretamente palavras de uso freqüente, incluindo as que apresentam
correspondências arbitrárias entre fonema (som) e grafema(letra);
recontar, por escrito, textos lidos por professores(as), mantendo estruturas e
convenções da língua escrita e as características do gênero;
produzir textos em gêneros diversos adequados aos objetivos, ao(à) destinatário(a)
e ao contexto de circulação;
•
•
•
•
•
•
81Produção Escrita E Reescrita No 2º Ciclo
produzir diferentes formas de registros, como mapas, desenhos, tabelas, esquemas
e outras representações gráfi cas e icônicas de ampla circulação;
revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objetivos,
ao destinatário, ao gênero selecionado e ao contexto de circulação previstos.
A concepção de linguagem subjacente a esse quadro de metas e capacidades é
a que vem norteando toda a proposta deste Caderno e que já foi explorada no capítulo
sobre a leitura. Linguagem é aqui entendida como atividade sociointerativa, ou seja, como
espaço de interação e interlocução, em determinado contexto social de comunicação.
O processo de produção textual é, portanto, uma atividade que visa à construção de
sentidos na relação que se estabelece entre interlocutores: o ”eu” que produz o texto (enuncia-
dor) e o “tu” – o sujeito que interpreta( enunciatário). Por essa razão, um texto – escrito ou
falado – é construído na e pela situação de interação. É por meio dele que se torna possível
entender as condições de produção de um discurso – quem escreve, para quem se escreve,
para que se escreve, sobre o que se escreve, onde se escreve, como se escreve. São essas
condições que determinam o gênero1 de texto que será produzido e o processo de sua produção
e interpretação (VIEIRA; COSTA VAL, CEALE, 2005, p. 24-26).
Escrever e reescrever textos: ampliando as funções da escrita no 2º Ciclo
A refl exão sobre o eixo da escrita constituiu um dos grandes temas do processo
de formação dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo da Rede de Contagem, implementado em
2007, em parceria com o CEALE. Guiaram essa refl exão as análises de alguns textos-
referência que compõem a coleção adotada nessa formação (CEALE, 2005-2008).2
Em razão dos pressupostos apresentados anteriormente e das metas propostas para o 2º
Ciclo, fi ca evidente que o trabalho nesse segmento deve centrar-se na ampliação da competência
discursiva dos(as) estudantes – ou seja, na capacidade que eles têm de produzir e de interpretar
textos com adequação, em patamares cada vez mais elaborados, autônomos e refl exivos.
Isso implica, certamente, a ampliação da mediação dos(as) educadores(as) de todos
os componentes curriculares do 2º Ciclo – e não apenas de professores(as) de Língua
Portuguesa. Todas as áreas de conhecimento devem convergir para a consolidação de
•
•
1 A categorização de
gêneros textuais pode
ser revista no capítulo
sobre Leitura.
2 Dois Cadernos da
Coleção Alfabetização
e Letramento foram
norteadores dos encon-
tros centrados na
produção e na revisão
de textos: 1) VIEIRA;
COSTA VAL, 2005 e
2) FIAD, 2005-2008.
82 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
estratégias de representação escrita em padrões textuais convencionalmente estabeleci-
dos. Portanto, são indispensáveis, no trabalho em torno da produção textual, algumas
intervenções para o efetivo ensino desse complexo campo de competências. Destacamos
as principais, tal como enfatizadas no texto-referência sobre o tema (VIEIRA; COSTA
VAL, CEALE, 2005, p. 42-43):
a criação de espaços signifi cativos de interlocução, ou seja, de situações reais
de envolvimento dos(as) estudantes com a escrita, que mantenham o foco nas
condições de produção textual já citadas;
a criação de situações que estimulem a produção de textos orais em diferentes
situações de comunicação (jornal falado, apresentações de poesias e peças teatrais,
recontos de histórias, entrevistas, debates, feiras de cultura, entre inúmeras
outras possibilidades; 3
a comparação de produções escritas e produções orais, com ênfase nas diferenças
entre as duas modalidades;
o planejamento de rotinas de trabalho que transformem a sala de aula em ambien-
tes organizados, possibilitando o acesso a diferentes tipos de textos, a pesquisa
de conteúdos relacionados aos temas, a integração de áreas, o compartilhamento
de idéias e a autonomia de produção dos(as) estudantes;
a avaliação de produções dos(as) estudantes, sempre orientada por questões-chave: Que
estratégias ou procedimentos utilizam? Que hipóteses constroem? Quais as intervenções
necessárias para o processo de revisão e reelaboração dos textos produzidos?
Deve-se enfatizar, ainda, o último processo apontado: a revisão e reelaboração da
escrita. Afi nal, como sinaliza o Caderno utilizado para a discussão desse tema, “escrever
é reescrever” (FIAD, CEALE 2006).
O termo reescrita, recorrente nos livros didáticos e nas discussões sobre o tema,
sinaliza um ponto de chegada e um novo ponto de partida, no processo de produção
textual – e ultrapassa a simples correção de textos. O processo de reescrita precisa ser
ensinado como se ensina a escrita; não se pode esperar, assim, que o(a) estudante chegue
a dominar tais processos apenas por auto-regulação ou hipóteses espontâneas.
Relembremos agora, como já fi zemos a respeito da escrita, algumas intervenções que
•
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•
•
•
3 Rever quadro de
capacidades relaciona-
das à linguagem oral
e aos gêneros orais, no
capítulo sobre Proposta
curricular.
83Produção Escrita E Reescrita No 2º Ciclo
os(as) educadores(as) necessitam implementar, no ensino e na prática da reescrita, conforme
propostas enfatizadas no texto-referência sobre o tema (FIAD, CEALE, 2006):
Focalizar o que deve ser alterado nos textos, visando à adequação ao gênero
textual às convenções gramaticais, aos aspectos normativos esperados na escrita.
Tais aspectos necessitam ser mais consolidados no 2º Ciclo, sobretudo no que
diz respeito à ortografi a, pontuação, coesão, correta segmentação no interior do
texto e outras capacidades reapresentadas no início deste capítulo.
Focalizar o que pode ser alterado, visando à exploração de recursos lingüísticos e
possibilidades de expressão, também ampliadas no 2º Ciclo (por exemplo, a capa-
cidade de substituir o discurso direto pelo indireto, de utilizar elementos de coesão
que substituam as repetições, ou ainda advérbios como alternativas expressivas).
Utilizar, coletivamente, procedimentos de reescrita na sala de aula baseando-se
questões do(a) professor(a), incorporação de respostas orais dos(as) estudantes
ou de análise de rascunhos e rasuras mantidos nos textos escritos.
Estimular a reescrita coletiva com base em um texto selecionado pelo(a)
educador(a), no início do processo; posteriormente, utilizar reescrita em duplas
ou em pequenos grupos (com rodízio de textos e propostas de todos os leitores).
Outra modalidade interessante consiste em selecionar uma coletânea de trechos
de textos de diferentes estudantes sobre um mesmo aspecto lingüístico. Trata-se
de uma interessante estratégia, pois o foco é o processo de produção textual, e
não o erro particular – ou quem o produz.
Selecionar aspectos linguísticos que serão trabalhados em cada aula, para que
não sejam abordados vários problemas simultaneamente. Algumas dessas ques-
tões são enumeradas a seguir, dentre muitas outras possibilidades de trabalho:
Adequação ao gênero selecionado. Adequação ao tema proposto.Coerência:
relação título-texto;
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•
84 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
continuidade e progressão (não-circularidade) - articulação princípio, meio e fi m.
Consistência argumentativa (pertinência, sufi ciência e relevância de argumentos).Gramática:
adequação formal;coesão: tempos e modos verbais; uso adequado de anáforas - elementos que substituem um termo anterior, para se evitar repetições, como os pronomes (Paulo/ele);morfossintaxe (estruturação de períodos, concordâncias, regências);paragrafação, pontuação; ortografi a, acentuação.
Aspectos relacionados ao eixo da escrita e da reescrita na perspectiva dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo
A análise do tema deste capítulo pode ser enriquecida pelo conhecimento já conso-
lidado pelos(as) educadores(as) do 2º Ciclo da Rede de Contagem, em suas práticas de
ensino da escrita e da reescrita de textos. Assim, destacamos, a seguir, algumas percepções
e demandas registradas ao longo dos encontros de formação destinados a este eixo.4
A primeira constatação signifi cativa refere-se à apropriação de uma visão processual
da produção de textos, que leva em conta a ocorrência de situações de produção e a
análise de condições dessas produções. Assim, os(as) educadores(as) já evidenciam, a
respeito de suas práticas, importantes questões problematizadoras: Com que freqüên-
cia os(as) estudantes produzem textos? Quais temas são focalizados? O que é gênero
textual? Quais são os gêneros mais explorados e os que deveriam ser abordados? Para
que os(as) estudantes escrevem? E para quem os(as) estudantes escrevem?
1.
4 Os referidos regis-
tros foram produzidos
com a colaboração de
assessores(as)/acom-
panhantes que
representaram o Núcleo
de Alfabetização
e Letramento
da SEDUC e de
professores(as)-repre-
sentantes das turmas
em formação.
85Produção Escrita E Reescrita No 2º Ciclo
Baseando-se na problematização anterior, os(as) educadores(as) enfatizam que,
no ambiente escolar, as condições de produção de texto devem passar por três
momentos:
1º momento
O que escrever?
Para quem escrever (leitor pretendido)?
Por que escrever?
2º momento
Textualização – a produção do texto.
3º momento
Voltar ao texto e fazer a refl exão sobre ele.
Ainda segundo esses relatos, na maioria das vezes, o(a) estudante ainda escreve
apenas para os(as) professores(as), sendo fundamental criar oportunidades para que
ele(a) possa escrever para um leitor real e diferenciado (colegas, pais, comunidade).
Uma alternativa já utilizada é a produção de convites, bilhetes ou a leitura de um livro
e a posterior elaboração de uma resenha, recomendando a leitura dele aos colegas.
Outra alternativa apontada refere-se a atividades nas quais os(as) estudantes se
colocam como enunciadores(as) diferentes (como se fossem um personagem da história
que leram, um pai, um(a) professor(a), etc.).
Professores(as) de História, Ciências, Geografi a e Artes também relatam signifi -
cativos trabalhos com a escrita, na maioria das vezes com resumos, respostas aos estudos
dirigidos ou em projetos interdisciplinares que integram várias áreas em torno de um
tema.5 Constata-se um reduzido trabalho de produção textual no campo da Matemática,
pelas especifi cidades dessa área – aspecto que pode ser superado nas abordagens que
buscam a integração de diversas áreas.
Ainda segundo os(as) educadores(as), é importante que tais atividades sejam
rotineiras: que haja planejamento do trabalho de produção textual, um debate sobre o
tema, uma conversa coletiva com os(as) estudantes e os momentos de reelaboração dos
textos. Isso faz com que os(as) estudantes obtenham mais segurança para escrever.
2.
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•
•
3.
5 Vários desses relatos
– por área ou inter-
disciplinares – são
apresentados neste
Caderno, como proje-
tos inovadores dos(as)
educadores(as) desta
rede.
86 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Quanto à freqüência do trabalho com produção de textos, os(as) educadores(as)
assinalam consistência na exploração, mas ressalvam duas questões ainda não
consolidadas:
Temos que ter consciência de que os(as) estudantes têm que conhecer e identifi car
todos os gêneros textuais trabalhados mesmo que ainda não saibam escrever
aqueles que, no planejamento, formam selecionados para a escrita..
Não é a quantidade de textos que garante a aprendizagem dos(as) estudantes, mas
a refl exão sobre as modalidades e as estratégias de produção desses textos.
Dentre os problemas mais registrados no campo da escrita, destacam-se, na
percepção dos(as) educadores(as):
os(as) estudantes cometem erros de ortografi a decorrentes de “erros” na fala;
os(as) estudantes estão “misturando” os diversos tipos de linguagens – um exem-
plo marcante é o uso da linguagem da internet para escreverem um texto formal.
Na perspectiva da reescrita de textos, inúmeras propostas foram identifi cadas
com base nos relatos de experiências no 2º Ciclo, algumas delas relacionadas a seguir.
Alguns educadores relataram avanços nesse trabalho, baseando-se roteiros
elaborados para orientar os(as) estudantes na reescrita em dupla ou trio, levando
em consideração questões lingüísticas tais como: pontuação, organização em
parágrafos, nomes próprios, transposição do oral para a escrita e, ainda, orga-
nização textual; outras alternativas de trabalho também enfatizam correção
coletiva, rascunhos, contrastes entre oralidade e a escrita.
Outros relatos enfatizaram, nesse processo, a transcrição do discur-
so indireto para o direto, utilizando textos de diferentes extensões – uma
difi culdade ainda recorrente no 2º Ciclo. Como proposta para esse tipo
de trabalho, foi indicada a comparação de vários gêneros textuais, como
peça teatral, dramatização, texto narrativo com discurso direto e indireto.
4.
•
•
5.
•
•
1.
2.
87Produção Escrita E Reescrita No 2º Ciclo
Há, ainda, relatos interessantes de ofi cinas de escrita6 envolvendo toda a escola
– do 1º ao 3º Ciclo –, nas quais os(as) estudantes têm contato com diferentes gêneros
(de acordo com o ano/ciclo) por meio de leituras, discussões, conto, reconto e produção
escrita. Eles gostam de usar a biblioteca, inclusive na hora do recreio, de forma espontâ-
nea e autônoma. Ao escrever seus textos, os(as) estudantes fazem o rascunho e reescritas
com a mediação do(a) educador(a), em aula compartilhada.
As difi culdades mencionadas com maior freqüência pelos(as) educadores(as)
nesse eixo se referiram ao trabalho de “correção” de textos, pois nem sempre o proces-
so individual se torna viável. Em termos ideais, consideram interessante a revisão na
própria sala, junto com os(as) estudantes, que fazem um rascunho e o(a) professor(a)
faz a intervenção ao lado deles)as), evidenciando os principais problemas do texto. No
conjunto de possibilidades, as alternativas metodológicas mais utilizadas abrangem:
– correção individual com uso de legenda para indicação de problemas
principais;
– correção em conjunto, na qual se escolhe um texto e o(a) professor(a) vai realizan-
do as alterações com a participação dos(as) estudantes. Esse processo interativo
contribui para uma refl exão sobre a língua, a escrita e as diversas possibilidades
de comunicação que podem ser realizadas pela produção de textos;
– troca de textos entre colegas: o(a) professor(a)a pede a um(a) estudante que
analise a redação do(a) colega e coloque, a lápis, uma cruzinha nos pontos que
considera problemáticos. A confi rmação fi ca a cargo do(a) educador(a), pois todo
o trabalho de reescrita requer a mediação dele(a).
Nesse conjunto de difi culdades, as questões ortográfi cas sempre ocupam um lugar
de realce nas preocupações dos(as) educadores(as). Por essa razão, no capítulo seguinte
retomaremos a discussão sobre os conhecimentos lingüísticos, sobretudo ortográfi cos,
que demandam sistematização no 2º Ciclo.
6 Alguns desses relatos
foram apresentados,
durante a formação, por
educadores da E.M.
Vereador Benedito
Batista.
90 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Ao longo deste Caderno, foram analisados os principais eixos de capacidades
ou habilidades lingüísticas que devem ser desenvolvidas no 2º Ciclo, como base para
uma proposta curricular para a rede municipal de Contagem. As refl exões de natureza
teórico-conceitual foram articuladas às experiências e aos projetos já consolidados por
educadores(as) desta rede, compartilhados ao longo de processos de formação desen-
volvidos em parceria com o CEALE /UFMG.
Ficou evidenciado, na perspectiva de formadores e educadores, que são muitos
os projetos de sucesso e muitas as experiências dignas de serem socializadas, preservadas
e replicadas, tanto no que se refere à Secretaria de Educação quanto ao que se refere às
Escolas Municipais. Por isso mesmo, merecem um registro mais sistematizado, neste capí-
tulo, mesmo que o espaço tenha que se restringir apenas a determinados exemplos.
Ressaltamos que, durante o processo de formação continuada ofertada aos(às)
educadores(as) do 2º Ciclo, em 2007 – A leitura e a escrita no 2º Ciclo –, foi solicitado
aos(às) professores(as) que enviassem projetos de sucesso pertinentes às temáticas desen-
volvidas durante o curso. O objetivo seria registrar esses projetos neste Caderno com o
intuito de divulgar as experiências signifi cativas e inovadoras, bem como a garantia da
valorização profi ssional dos(as) educadores(as) da Rede Municipal de Contagem.
A opção por apresentá-los de forma concentrada justifi ca-se pela intenção de
possibilitar uma visão mais operacional dos eixos contemplados, das áreas envolvidas e
das múltiplas possibilidades interdisciplinares que tais projetos permitem vislumbrar.
Projetos implementados pela Secretaria de Educação de Contagem
Cientes da importância e da necessidade de um trabalho em parceria da Secretaria
Municipal de Educação e as Escolas Municipais, a equipe pedagógica desta Secretaria
91Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
propõe e assegura o desenvolvimento de projetos e programas que, aliados às propos-
tas dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo, auxiliam na aprendizagem dos(as) estudantes.
Dentre eles, ressaltamos aqueles que, diretamente, implicam a aquisição das capacidades
relacionadas à sistematização da leitura e da escrita no 2º Ciclo.
I – Além das letras Um país se faz com homens e livros.
Monteiro Lobato
É conhecido o fato de que a leitura confi gura-se como direito indispensável a
toda pessoa. Isso porque por meio do texto se conhece e reconhece o mundo é conhecido
e reconhecido, a realidade é criada a recriada. A leitura é o principal aspecto constituinte
do pensamento crítico. O sujeito-leitor pode se posicionar de forma política diante do
mundo. Nesse sentido, a prática de leitura é essencial para o desenvolvimento cognitivo e
pessoal dos indivíduos, contribuindo para a (re)construção de uma sociedade melhor.
A formação de um bom leitor, isto é, sua competência leitora, está ligada à multi-
plicidade de leitura. Um leitor profi ciente não é aquele que lê muitas vezes o mesmo tipo
de texto, mas aquele que lê diversos tipos e gêneros de texto com certa profundidade,
para além da codifi cação da escrita, em busca de sentidos múltiplos e de articulações
com outros textos e outras formas de expressão.
É com essa concepção de leitura que surgiu o Programa “Além das Letras”, uma
proposta implementada pela Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura de
Contagem,1 visando à consolidação de uma política de leitura no município, especialmente
no que se refere à promoção de atividades de formação de leitores e ao amplo acesso a obras
literárias, nas escolas e demais espaços públicos – bibliotecas, praças, parques e outros.
Três eixos orientam o programa, com projetos e ações executados pelo município,
pelas empresas e escolas:
A) ACESSO À LEITURA
Pressuposto que o acesso aos recursos de leitura deve ser proporcionado aos
sujeitos leitores, o programa enfatiza duas vertentes:
Investimento no acervo, com as seguintes ações já desenvolvidas: 1.
1 Colaboram no desen-
volvimento do projeto
a Coordenadoria de
Políticas da Educação
Básica e a Biblioteca do
Professor – SEDUC.
Este relato se baseia na
formulação institucio-
nal do programa.
92 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
distribuição de livros aos(às) estudantes no kit escolar (vale livro);
distribuição de livros aos(às) estudantes por meio de parcerias com as editoras;
ampliação dos acervos das bibliotecas escolares, por meio de repasse de recursos
às escolas ou por distribuição de livros de literatura referentes ao kit escolar.
Reestruturação das bibliotecas escolares, com as seguintes ações em processo
de implementação:
readequação do espaço físico das bibliotecas;
aquisição de equipamentos e mobiliários;
informatização das bibliotecas escolares.
B) FORMAÇÃO DE SUJEITOS LEITORES
A formação de leitores depende de eventos de letramentos de que o sujeito parti-
cipa e também do contexto social, político, cultural e afetivo que permeia suas relações
com a leitura e a escrita. Para ser mais efetiva, a formação de leitores deve acontecer
de maneira abrangente, de forma a atingir todos os segmentos da comunidade escolar
(professores(as), dirigentes, bibliotecários(as), auxiliares de biblioteca, estudantes, fami-
liares). Nesse sentido, várias ações já foram desenvolvidas pelo programa:
curso de formação para bibliotecários, auxiliares e demais educadores;
curso específi co para professores(as): “A leitura como processo de interação e
formação de leitores”;
ofi cinas;
palestras;
plantões de atendimento;
acompanhamento das bibliotecas escolares.
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1.
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93Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
C) PRÁTICAS DE LEITURA
Dentre as ações coletivas voltadas para as práticas de leitura, o programa tem
implementado:
Circuito Literário: projeto que propicia diversifi cação de práticas literárias
mediante o contato com as mais variadas linguagens artísticas, abrangendo: bate-
papo com autores, discussão sobre obras literárias, contação de histórias, ofi cinas
de leitura e editoração, banquete de idéias, peças teatrais, dentre outras;
Revista Contagem Literária: publicação do município que visa divulgar trabalhos
de leitura e escrita, desenvolvidos por estudantes e educadores(as) de Contagem;
Prêmio Contagem Literária: estimula projetos de leitura desenvolvidos nas
escolas da rede municipal/FUNEC e a produção de trabalhos que fomentem a
formação de sujeitos leitores;
Mostra Contagem Literária: evento no qual são desenvolvidas diversas práticas leito-
ras; ofi cinas, lançamento de livros e revistas, café literário, feira de livros e outras;
Caravana da leitura: ação de extensão da biblioteca pública Municipal Dr. Edson
Diniz, com a meta de percorrer dez locais da cidade, abrangendo todas as regio-
nais administrativas. O objetivo é ampliar o acesso à leitura por meio de um
ônibus-biblioteca, fazendo empréstimo de livros, leitura no próprio local, exibição
de vídeos educativos e desenvolvimento de ofi cinas artístico-culturais.
II - Letramento digital: práticas inovadoras de leitura e escrita no 2º ciclo
1. A cultura digital: sua implicação no processo de apropriação da cultura escrita e
no letramento2
A cultura digital, entendida como uma manifestação em torno de diferentes
linguagens, tais como a oralidade, a escrita, a leitura, o som e a imagem, inaugurou
•
•
•
•
•
2 Uma contribuição
relevante para apro-
fundamento nessa
temática é apresentada
por ARAÚJO, 2007.
94 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
gestos, comportamentos e práticas inéditas de leitura e escrita. Materializada por meio dos
computadores e, em especial, pela internet, a cultura digital instiga o sujeito a entrar no
mundo da cultura escrita e ampliar o seu nível de letramento de forma lúdica e desafi adora.
Por intermédio dos hipertextos digitais e de uma diversidade de softwares educativos, o(a)
estudante amplia os procedimentos em torno do processo de alfabetização, sistematização
da leitura e da escrita e do letramento. Soares (2002, p. 151), afi rma que
as mudanças referentes aos processos cognitivos envolvidos na escrita e na leitura de
hipertextos confi guram um letramento digital, isto é, um certo estado ou uma condi-
ção que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas
de leitura e escrita na tela diferente do estado ou condição – do letramento – dos que
exercem práticas de leitura e de escrita no papel.
Desse modo, o sujeito que anteriormente poderia exercer práticas de leitura e
escrita somente com materiais impressos, como livros, revistas, textos mimeografados
ou jornais, experimentava gestos e comportamentos específi cos dessa cultura, como
escolher um livro e deitar-se na sua cama para lê-lo e folhear suas páginas. Hoje, na
cultura digital, ele, por exemplo, ouve a história que desejar com as imagens em movi-
mento dos personagens, acessa uma diversidade de livros, revistas e jornais do mundo
inteiro e se apropria do nosso sistema de escrita ouvindo o som de determinada sílaba
e clicando no teclado as sílabas correspondestes. Logo, mover a barra de rolagem para
passar as páginas do texto, escrever digitando nas teclas do teclado, cortar um trecho que
não deseja mais e colar um outro, clicar em uma palavra que leve a outro texto, esses e
outros gestos e comportamentos são inéditos da cultura escrita digital. Nessa perspectiva,
vários pesquisadores questionam a necessidade, por exemplo, de ensinar caligrafi a – se
no computador é disponibilizada uma diversidade de tipos de letras, exigindo apenas
que a criança tenha a capacidade de conhecer o alfabeto.
Podemos perceber que o novo suporte, o computador, modifi cou as relações com
a cultura escrita e os processos de alfabetização e letramento escolar e extra-escolar. Frade
(2005, p. 67), afi rma que “[...] para cada alteração nas tecnologias de escrita, deveríamos
pensar em novos gestos e possibilidades cognitivas [...]”. Assim, nós, educadores, devemos
desmistifi car a cultura digital de modo a romper com as estruturas estabelecidas em
torno da cultura impressa e manuscrita para podermos oportunizar aos educandos(as), na
escola, vivenciar uma ambiência digital que favoreça ainda mais a apropriação do nosso
sistema de escrita alfabético ortográfi co e a ampliação das práticas de leitura e escrita.
95Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
2. Programa Linkletr@s
A Secretaria Municipal de Educação, atenta à necessidade de criar e/ou ampliar ambi-
ências que favoreçam o letramento digital e as práticas de leitura e escrita, vem implantando,
progressivamente, o Programa Linkletr@s nas escolas municipais. Esse programa teve início
em três escolas, em 2006; em 2007, ocorreu uma expansão para mais oito instituições.
O Linkletr@s tem por objetivos atender os(as) estudantes do 2º Ciclo, com
atividades de leitura e escrita, com foco em seu uso social, desenvolver as competências
básicas de cálculos, que completam e subsidiam a prática pedagógica da sala de aula,
bem como ampliar o nível de letramento digital.
O espaço da sala de informática é o lugar em que os(as) estudantes exploram
possibilidades, levantam hipóteses, discutem com o outro, criam desafi os, argumentam. A
atitude do(a) professor(a) é fundamental para a garantia de um ambiente de aprendizagem
e de um espaço que se transforme em um campo de pesquisa, no qual os(as) estudantes
possam vivenciar atividades reais de linguagem e legítimas experiências matemáticas.
O papel do(a) professor(a) do 2º Ciclo é encorajar os(as) educandos(as) a explo-
rar possibilidades, fazer previsões, levantar e testar suas hipóteses. Cabe-lhe, também,
organizar as situações de cooperação entre os(as) estudantes; considerar o conhecimento
que eles(as) explicitam; incentivar a análise de estratégias; fazer com que se discuta e
se aproxime sempre do saber socialmente constituído. Assumir essa atitude signifi ca
acreditar que o processo de aprendizagem se baseia realmente na ação do(a) estudante
em busca da solução de problemas, em investigações e em explorações de situações e de
desafi os que o provocam verdadeiramente.
Esse programa, ainda recente, já faz diferença nas práticas pedagógicas de educadores(as)
e na aprendizagem dos(as) estudantes da Rede Municipal. Experiências importantes são rela-
tadas por dirigente, pedagogo(a), professores(as) e estudantes em avaliação das atividades do
programa, quando era chamado Virtus Letramento, como veremos a seguir:
A tecnologia atrai o adolescente. A partir do momento em que a gente começou a
trabalhar com o Virtus Letramento, os(as) estudantes fi caram mais estimulados.
(Cacilda Maria Resende – Professora – E. M. Maria do Amparo)
O Virtus Letramento não está ajudando só a aprender a usar o computador, no português e
na matemática, mas nas outras matérias também, por causa da linguagem; no dia-a-dia, por
causa da matemática. (Indianara Teixeira Freitas – Estudante – E. M. Maria do Amparo)
96 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Virtus Letramento consegue alavancar uma motivação no(a) estudante que, desper-
cebidamente, vai buscando a construção de conhecimento de forma prazerosa. (Ana
do Carmo Belém – Dirigente – E. M. Ápio Cardoso)
O(A) estudante não vai embora com a dúvida; se errou ou acertou. Além de ser atra-
vés de imagem e som, o programa é muito atrativo. Ele prende o(a) estudante de tal
forma, que uma hora aqui no laboratório de informática passa muito rápido.(Maria
Bernadete Rocha – Pedagoga – E. M. Ápio Cardoso)
Sou tímido, demoro pra relacionar com meus(minhas) colegas e com o(o) professor(a).
O Virtus Letramento me ajudou muito porque tem que compartilhar o trabalho com
o(a) colega do lado.(Jonathan Rodrigues Lima – Estudante – E. M. Ápio Cardoso)
Os(as) estudantes se sentiram tão à vontade no programa, com tanta segurança que
pediram para ler textos em voz alta na sala de aula. Perderam a inibição de antes
e criaram coragem; mesmo que lendo errado, pediam pra ler. (Andréa Gonçalves
Galastro – Professora – E. M. Maria Silva Lucas)
Os relatórios dos(as) professores(as) que atuam no Programa Virtus Letramento
relatam que os(as) estudantes que não escreviam defi nitivamente, na sala de aula,
estão desenvolvendo essa produção no computador. (Maria Efi gênia de Souza Lima
– Assessora Pedagógica – Núcleo Regional de Educação Ressaca/Nacional
Projetos inovadores desenvolvidos pelas
escolas municipaisA seguir relatamos alguns projetos da rede municipal de Contagem, desenvolvidos ou em
execução, também relacionados às temáticas apresentadas durante o curso a Leitura e a escrita
no 2º Ciclo, como: Cartas Além-Mar... da Escola Municipal Paulo Cézar Cunha; Consciência
Negra e Igualdade Racial, da Escola Municipal Vereador Benedito Batista; Educação Ambiental, da
Escola Municipal Vereador José Ferreira de Aguiar; Letratamento Digital, da Escola Municipal
97Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
Virgílio de Melo Franco; Literatura Infanto-Juvenil, da Escola Municipal Ana Guedes Vieira; e
O Caso Da Pata: Ler É 10!, da Escola Municipal Sônia Braga da Cruz e Silva;
I – Cartas Além-Mar A Escola Municipal “Paulo Cezar Cunha”, localizada na Rua das Violetas, 239,
bairro Sapucaias, Contagem, região de periferia, atende estudantes de baixa renda, com sérios
problemas de vulnerabilidade social. No 2º turno, horário em que o projeto “Pé no Chão” foi
desenvolvido, os(as) estudantes do 2º Ciclo encontram-se na faixa etária de 9 a 18 anos.
Em 2007, o coletivo de profi ssionais da escola, mediante um diagnóstico realizado no
início do ano, identifi cou e problematizou algumas das necessidades dos(as) estudantes, criando,
a partir daí, o projeto intitulado “Pé no Chão”, cujo foco tem os seguintes eixos: valores, etnia,
gênero, sexualidade, arte e meio ambiente. Foram desenvolvidas propostas de trabalho com o
intuito de contemplar esses aspectos, perpassando por todas as áreas de conhecimento.
As temáticas valores, etnia e gênero fi caram sob a responsabilidade do professor de
Ensino Religioso, José Luiz Rodrigues, e da professora de Português, Jane Moreira de
Carvalho, com auxílio pedagógico da supervisora Juliana Dias A. Matozinhos. Juntos
desenvolveram um trabalho que buscou instigar e provocar o imaginário dos(as) estudantes
em relação aos temas propostos, por meio de recursos diversos, de modo que eles pudessem
retratar a sua visão de mundo, construindo e/ou desconstruindo seus conceitos.
Tal projeto apresentou uma abordagem lúdica dos temas por meio de gravuras,
desenhos, fi lmes e documentários, buscando sensibilizar os(as) estudantes. Houve, também,
o incentivo à leitura de poemas e de outros gêneros textuais ligados à temática, além do
debate e da produção de textos por parte dos(as) estudantes, repensando, no contexto
escolar, os preconceitos que permeiam a sociedade e a construção da nossa identidade.
Outro ponto abordado foi o papel da mídia, da religião e da escola na formação
de conceitos e preconceitos e na capacidade de criar paradigmas para a sociedade.
Durante o projeto, foram realizadas palestras, abordando os seguintes temas:
O afro-descendente como sujeito da história; Exclusão e preconceito em sua trajetória;
Construção da identidade negra – gênero e etnia em debate; e a Construção do estere-
ótipo em relação aos negros no cinema e na literatura.
A professora Jane Moreira de Carvalho3 também realizou uma atividade que
possibilitou o acesso dos(as) estudantes a alguns aspectos da cultura africana, mediante a
exposição de fotos, roupas e artesanatos, além de contar um pouco sobre a forma de vida
do povo e da escola que possui em Tete, na África, junto com a irmã Vanessa Moreira.
3 Jane Moreira de
Carvalho, professora da
Escola Municipal Luiza
Augusta Guimarães
em Ribeirão das Neves,
ex-professora da Escola
Municipal “Paulo Cezar
Cunha” é responsável
pelo intercâmbio de
profi ssionais entre
Brasil e Moçambique
na África.
98 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Assim, diante dos frutos colhidos no decorrer do projeto e das indagações e
conversas entre o professor José Luiz Rodrigues, a professora Jane Moreira de Carvalho
e a pedagoga Juliana Dias Araújo Matozinhos, nasceu a idéia de continuar o trabalho,
possibilitando uma nova abordagem por meio de um intercâmbio entre os(as) estudan-
tes desta escola e os da Escola Centro Pedagógico Tip Mateu Sansão Muthema, em
Canongola, localizada na província de Tete (Moçambique, África), mediante a troca
de correspondências, estreitando, assim os laços entre nossas culturas.
Com base em relatos da professora Jane Moreira, passamos a conhecer um pouco
da realidade Tete/Moçambique, por meio do trabalho voltado para a educação infan-
til, desenvolvido na Escola Mundial, junto com a irmã Vanessa Moreira. A partir daí,
começamos a vislumbrar a possibilidade de um intercâmbio sociocultural e educacional
entre nossos(as) estudantes e os(as) de alguma escola pública daquela região.
No fi nal de 2007, a professora Jane viajou para Tete e conseguiu um contato com o
referido Centro Pedagógico, por meio do professor Carlito. Após explicar as idéias e objetivos do
nosso projeto, os profi ssionais da instituição aceitaram o convite de desenvolver um trabalho em
conjunto com a Escola Municipal Paulo Cezar Cunha, a partir do mês de junho de 2008.
Com o contato estabelecido, o coletivo de educadores(as) do 2º Ciclo elaborou
esse projeto, que conta com o auxílio constante das educadoras Jane Moreira de Carvalho
e Vanessa Moreira. Tal projeto recebeu o nome de “Cartas Além Mar” e tem como foco
o encontro e o reencontro com nossa ancestralidade – e, consequentemente, com nossa
identidade histórica, pois sem isso não sabemos o que somos e para onde vamos.
Com o Projeto, pretende-se continuar o trabalho desenvolvido em 2007, buscando
desconstruir o registro colonialista que historicamente nos foi repassado com o resgate dos
valores e aspectos culturais do povo africano, que, embora negados pela visão eurocêntrica da
sociedade, estão totalmente inseridos em nosso cotidiano de forma direta ou indireta. Além
disso, ele permite que os(as) estudantes de Tete conheçam a cultura brasileira de forma menos
superfi cial. Esse trabalho visa possibilitar a troca de experiências e conhecimentos entre os(as)
estudantes das duas escolas, mediante o contato com os valores e tradições que constituem
comunidades tão distantes geografi camente, mas com aspectos em comum, onde todos são
sujeitos de ações, desejos e virtudes. Outro aspecto a ser considerado no projeto é o de ajudar
os(as) estudantes no processo de construção e reconstrução de sua identidade de forma cons-
ciente, mediante o encontro com a história e a cultura do povo moçambicano e vice-versa.
“Cartas Além Mar...” enfoca, também, a questão da oralidade e da escrita, tão
importante na cultura africana e na brasileira, visando ao letramento, o qual é enten-
dido como fundamento e fi nalidade do ensino, permitindo que o(a) educando(a) não
só adquira a tecnologia de codifi car e decodifi car a língua escrita, bem como o uso das
99Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
práticas sociais de leitura e escrita da sociedade.
Além de desenvolver atividades voltadas para o desenvolvimento dos(as) estudan-
tes nas capacidades de leitura e de escrita, o coletivo de educadores(as) do 2º Ciclo tem
trabalhado de forma transdisciplinar a infl uência do espaço escolar na vida do indivíduo
e do coletivo, buscando despertar nesse indivíduo o sentimento de pertencimento em
relação à sua comunidade, à sua origem e à sua história, além de positivar-lhe o papel
perante a sociedade, desconstruindo estereótipos.
No que tange às áreas de História, Geografi a e Ensino Religioso, busca-se, por
meio de atividades de leitura, escrita, músicas, debates, desenhos e fi lmes, mudar a ótica
construída em relação ao continente africano como uma unidade monolítica, sem cultura
e história, selvagem e totalmente pobre. Com tais atividades pretende-se reconhecer o
dinamismo interno evidenciado no continente africano desde a Antiguidade.
Posteriormente, será realizada uma troca de correspondências entre as escolas
Centro Pedagógico Tip Mateu Sansão Muthema em Canongola e Paulo Cezar Cunha, na
qual cada aluno irá enviar uma carta a outro(a) estudante de Tete, trocando informações
e experiências diversas, sendo a primeira remessa levada e entregue à escola mencionada
acima, por Vanessa Moreira, que se encontra no Brasil. A primeira correspondência terá
como foco a apresentação de cada estudante a um destinatário indefi nido, contando seu
nome, características físicas, falando sobre onde mora, sua escola, seus sonhos e o que gosta
de fazer. Junto com esse material, uma carta de apresentação da escola, um vídeo e fotos
da instituição, do seu entorno e dos profi ssionais envolvidos no projeto serão enviados.
De acordo com a resposta dos profi ssionais da Escola Centro Pedagógico Tip
Mateu Sansão Muthema em Canongola, direcionaremos, em conjunto, os aspectos que
serão trabalhados em cada correspondência e a forma de comunicação entre as institui-
ções. Pretende-se construir um intercâmbio que leve os(as) estudantes e educadores(as)
a construir novos conhecimentos e formas de trabalho para auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem dos(as) estudantes de forma global.
Durante os projetos exploram-se atividades e diferentes recursos pedagógicos
como textos informativos, literários, provérbios africanos e produções dos(as) estudantes;
obras literárias que se referem à temática e livros didáticos de História e Geografi a; fi lmes
como Kiriku e a feiticeira e As aventuras de Azur e Asmar, de Michel Ocelot; documentários,
como Tanza, curta-metragem de Mehdi Charef que integra o documentário Crianças
invisíveis, composto por mais seis curtas-metragens; palestras da professora Vanessa,
que atualmente mora em Tete e, em visita ao Brasil, conversou com os(as) estudantes do
2º Ciclo sobre alguns costumes e curiosidades da África; correspondências destinadas
a um grupo de africanos; fotos e gravuras; teatro, música e poemas.
100 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
A avaliação do projeto “Cartas Além Mar...” será realizada de forma contínua
e processual, na qual os temas serão reorganizados de acordo com as necessidades e
anseios de estudantes e profi ssionais de ambas as escolas, mediante os objetivos propostos.
Os processos avaliativos tem-se o objetivo de diagnosticar os níveis de aprendizagem
para futuras intervenções pedagógicas e contemplar as seguintes funções: diagnóstica,
investigativa, refl exiva e inclusiva.
Dessa forma, “Cartas Além Mar” é entendido como uma proposta de traba-
lho coletivo que busca expandir os horizontes de nossos(as) estudantes brasileiros(as),
de Contagem, e dos(as) estudantes africanos de Tete. O projeto prioriza práticas de
letramento e possibilita a construção do conhecimento de forma signifi cativa e ímpar,
mediante a troca de experiências, idéias, curiosidades, desejos, sonhos e valores que
serão expandidos pelos docentes e discentes, tanto no contexto escolar quanto fora dele.
Além disso, essa proposta permite que os(as) estudantes envolvidos construam e/ou
desconstruam conceitos sobre a cultura dos dois países, entendendo a ligação histórica
que existe entre eles e o processo de negação da cultura africana ao longo do tempo
e como ela se refl ete em seu cotidiano. Espera-se que, com base nessa refl exão, os(as)
estudantes se posicionem de forma crítica e consciente perante o mundo.
Apoiada pela Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura, a escola
tem garantido, em seu cronograma de atividades, discussões e estratégias de refl exão,
conhecimento e intervenções sobre a presença do racismo e suas manifestações nas
diversas esferas sociais e instituições.
É necessário que o(a) professor(a) considere as possibilidades de desenvolvimento de
cada um e as explore por meio de atividades abertas, nas quais o(a) estudante se enquadre
por si mesmo(a), de acordo com seus interesses, competências, habilidades, ao resolver um
problema ou realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafi o a ser enfrentado pelas escolas
comuns e tradicionais, fundadas na transmissão de conhecimentos do currículo formal.
II – Consciência negra e igualdade racialNa Escola Municipal Vereador Benedito Batista, localizada na região do Ressaca/
Nacional, um dos projetos desenvolvidos é o da Consciência negra e Igualdade racial. Esse projeto
proporciona aos participantes a compreensão dos conceitos de raça e racismo, estimula o posicio-
namento crítico diante de estereótipos raciais, resgata o respeito pelo outro, independentemente
da etnia, e leva os participantes à compreensão da multiculturalidade brasileira.
101Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
Os(As) professores(as) atuam em sala com alguns procedimentos didáticos.
Um deles é a pesquisa da descendência da família nas interpretações e produções de
textos de acordo com o tema “Etnias brasileiras”; por meio da história e geografi a do
Brasil, buscam a localização das raças presentes na formação da população do País e
as regiões onde elas mais se concentram. Outro procedimento é a pesquisa, feita após
estudo e internalização de conceitos pertinentes, de fatos da mídia nos quais o racismo
se apresenta; rodas de bate-papo em torno das pesquisas-diálogo, produção da árvore
genealógica de cada um – uma árvore colorida, que expressa Minha família colorida.
Os recursos para esse trabalho são: livro de literatura Minha família colorida, de
autoria de Georgina Martins, textos diversos, construção de material para confecção de
mural. Destacam-se o interesse e o envolvimento do(a) estudante nas produções textuais,
confecção e apresentação dos trabalhos dele.
Há um(a) estudante com difi culdades de socialização, mas esse projeto está possi-
bilitando a interação dele com os(as) colegas. Nesses momentos, ele constrói os brinquedos
que servem de mediação, interlocução e diálogo entre ele e seus pares na sala de aula.
Os(as) educadores(as) têm colhido resultados positivos com o projeto Consciência negra
e igualdade racial, pois os(as) estudantes aumentaram a curiosidade a respeito das temáticas
estudadas, buscam outras leituras quando necessitam sobre esse e outros temas de estudo.
2. Ofi cinas de escrita
A escola conta ainda com outros projetos, como o de Ofi cina de escrita, no 3º ano do 2º
Ciclo e que acontece duas vezes ao ano. No fi nal do semestre de 2007, a ofi cina se restringiu ao
tema: “Gêneros textuais”, desdobrando-se para letras de música – no caso específi co, no estilo
de raps – e produções escritas em formato de jornal. Essa modalidade musical dialogou o tempo
todo com a ética e a interdisciplinaridade, possibilitando e interagindo com o tema racismo.
A proposta de trabalho dessa ofi cina está fundamentada nos seguintes prin-
cípios, sala de aula: comunidade de autores e escritores; ajuda mútua: troca de textos
entre os(as) estudantes; autonomia: o(a) estudante assume a responsabilidade sobre
seu processo de ensino aprendizagem; respeito: opinião do outro ao texto do colega;
refl exão: sobre seu próprio desempenho; conscientização: há sempre o que aprimorar
em um material escrito.
Os trabalhos, isto é, as produções da ofi cina de escrita, são autografados por seus
escritores e entregues aos familiares deles, em geral, em momentos culturais criados no
espaço escolar. O jornal é um produto desse processo.
Os projetos desenvolvidos pela Escola Municipal Benedito Batista aqui relata-
dos enfatizam a igualdade racial explicitada na Lei nº 10.639/03, cujo princípio é criar
102 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
estratégias para construção do conhecimento sobre a história dos povos africanos e a
valorização da cultura africana.
III – Educação ambientalA Escola Municipal ”Vereador José Ferreira de Aguiar”, situada na Rua Picassu,
275, bairro Icaivera, em Contagem, foi inaugurada no dia 11 de maio de 1991. Contava
apenas com três salas de aulas, água abastecida por caminhões-pipas e cercada por telas
de arame. O bairro cresceu e a comunidade fi cou mais atuante. Outros bairros surgiram
na vizinhança, tornando-se necessária a ampliação da escola.
A condição socioeconômica da maioria dos(as) estudantes é baixa, sendo que há
um grande grupo deles em situação de maior vulnerabilidade social.
Esse é um dos poucos espaços públicos de referência para essa comunidade, que
participa dos momentos de festas, reuniões, discussões no Colegiado Escolar, Programa
Escola Aberta, além de utilizar a quadra de esportes à noite e nos fi ns de semana.
Dada a nova demanda, a escola passou por várias ampliações, descaracterizando e
difi cultando a visão de todo o ambiente físico, que se tornou um espaço ocioso, sem arbori-
zação e área verde, ocasionando assoreamentos, poeiras, inundações e pequenos acidentes.
Dessa maneira, os(as) estudantes fazem uso do ambiente de forma inadequada.
Em 2006, com a reelaboração do Projeto Político-Pedagógico da Escola, fi cou
clara, para a comunidade escolar, a necessidade de estabelecer práticas de cuidados e
melhoria do ambiente físico da instituição, articulado a um projeto coletivo de Educação
Ambiental, o que contribuiu para a compreensão e a valorização da escola como espaço
publico de qualidade e de responsabilidade de todos.
Em 2008, estão sendo desenvolvidas atividades interdisciplinares teóricas e práticas
que visam contribuir para a formação do ser humano. Dessa maneira, os(as) estudantes podem
incorporar princípios ecológicos e, ao mesmo tempo, desenvolver a consciência social, o pensar
comunitário, que modifi cariam o comportamento deles(as) em relação à própria realidade.
A equipe responsável pelo Projeto Educação Ambiental é constituída por Tânia
Maria Francisquini – diretora escolar; Ana Lúcia Teodoro Marques – vice-diretora;
Clênia Pereira da Veiga – professora; Lílian Fabrízia Silva Marquezini Alves – profes-
sora; Maria Angélica de O. Evangelista e Selvina Mara Moreira Penido – Assessoras
do Núcleo de Educação Ambiental – SEDUC.
103Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
Situação-problema
A Escola Vereador José Ferreira de Aguiar cresceu de forma desordenada,
atendendo à grande demanda escolar da região: as construções foram realizadas sem
planejamento, não oferecendo espaços agradáveis para leitura, aulas práticas, brincadei-
ras, hora do lanche. O ambiente é árido, com pouca arborização, não oferecendo boa
qualidade de vida aos(às) estudantes, funcionários(as) e freqüentadores(as) da escola.
Dessa maneira, o ambiente é usado de forma inadequada: os(as) estudantes
usam os barrancos como escorregadores, alguns pisam e destroem as poucas áreas
verdes existentes construídas por outros(as) estudantes, deixam de passar pelas rampas
utilizando lugares que deveriam estar arborizados e sofrem pequenos acidentes. Como
citado, por causa do solo árido, ocorrem inundações, assoreamentos e muita poeira,
sendo necessário um gasto excessivo com a limpeza do ambiente.
A comunidade escolar ainda não desenvolveu a consciência ambiental direcio-
nada às questões ambientais do entorno escolar. Neste sentido, buscou-se através do
Projeto Educação Ambiental trabalhar, com os(as) estudantes, atividades relacionadas à
importância social e ambiental. É um projeto educacional que se baseia na concepção
de trabalho interdisciplinar, resultando numa atividade coletiva que envolve estudantes,
professores(as), funcionários(as), comunidade e outros(as).
Esse projeto tem por objetivo maior desenvolver na comunidade escolar um
comportamento de cooperação e o desenvolvimento de consciência ambiental. Outro
objetivo é ambientar o espaço escolar, tornando-o mais aprazível, e resgatar os valores
humanos por meio de ações pedagógicas interativas e afetivas, de acordo com os pilares
relacionados à educação ambiental – a sensibilização e a conscientização. Mediante o projeto
Educação Ambiental, a equipe pedagógica envolvida sensibilizará a comunidade escolar a
participar da construção de um mundo socialmente mais justo e mais ecológico.
Metas
Dentre as metas estabelecidas, citamos:
conscientização dos(as) estudantes quanto à necessidade de preservar a nature-
za, usufruir os espaços com mais responsabilidade e prazer, transitar em locais
específi cos de passagem, evitando acidentes;
percepção da comunidade da necessidade de conservação da área verde em seus
lares, conscientizando-se dos problemas ambientais;
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104 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
contribuição para a recuperação do solo, protegendo os lençóis d`água;
atuação da comunidade escolar como participantes do projeto;
melhoria da disciplina dos(as) estudantes, mantendo-os mais calmos(as), em
decorrência do ambiente agradável;
redução do lixo e organização de uma escola com ambiente saudável, colaborando
para a melhoria da qualidade de vida;
redimensionamento dos conteúdos das aulas de forma mais agradável, nos quais
se discutem meio ambiente e temas signifi cativos vividos no dia-a-dia.
Abrangência social
O projeto foi desenvolvido com os(as) estudantes das escolas, dentre eles 342 do 2º
Ciclo. A princípio, os benefi ciários do projeto foram os(as) próprios(as) estudantes, que, além
de terem desenvolvido habilidades ligadas a técnicas de plantio e produção de mudas, puderam
se apropriar de um lugar mais agradável, limpo, acolhedor. O projeto possibilitou, também,
a criação de uma área verde produtiva na escola, pela qual todos se sentiram responsáveis.
Havia também a intenção de que estudantes e pais envolvidos repassassem aos
familiares, aos vizinhos e à comunidade o gosto e a importância de plantar nos seus
lares e no entorno, para que o bairro se tornasse mais verde e arborizado.
O projeto contou com a participação da associação do bairro e de órgãos compe-
tentes, a fi m de ambientalizar o bairro, na perspectiva de, no futuro, poder contar com
uma praça para o lazer das famílias.
Atividades
Dentre as atividades desenvolvidas, ressaltamos:
palestras de divulgação do projeto para a comunidade escolar;
preparação dos canteiros (cercá-los e irrigá-los);
controle das pragas e doenças com tratamento de inseticidas orgânicos e caldas
(biofertilizante), evitando o uso de produtos químicos;
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105Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
reprodução assexuada por estaquia (produção de mudas de Pingo de Ouro);
criação de um conselho ambiental com representantes de pais, estudantes,
funcionários e associação;
construção de um minhocário;
produção de adubo composto orgânico;
produção de textos referentes aos assuntos abordados;
pesquisas referentes às temáticas inerentes ao projeto.
Avaliação
A avaliação do projeto foi constante a fi m de, realmente, tocar a comunidade
escolar de como hoje se torna necessário ter um ambiente agradável. O processo avaliativo
aconteceu por meio de observações e registro das atividades desenvolvidas pela comunidade
escolar nas produções de texto em sala de aula, registro do(o) professor(a) dos avanços dos(as)
estudantes na aprendizagem, conduta, disciplina e registro das atividades realizadas. Foi
feita uma documentação fotográfi ca das etapas do projeto e relatório fi nal de avaliação.
O Conselho Ambiental fez avaliações mensais, revendo o que foi possível ser
realizado até o momento, destacando pontos positivos e pontos para melhoria. Foram
avaliados, também, o trabalho realizado na horta, nos canteiros, em sala de aula, obser-
vando a participação de estudantes e da comunidade; atitudes como companheirismo e
interesse; e o desenvolvimento nos trabalhos no decorrer do projeto.
IV – Letramento digitalOutras experiências signifi cativas relacionadas ao letramento digital estão presentes nas
escolas municipais. A Escola Municipal Virgílio de Melo Franco, situada na rua Luminosa, 75,
Vila São Paulo, Contagem, desenvolve o projeto Letramento Digital com os(as) estudantes do
2º e do 3º Ciclo. Esse projeto é coordenado pelas pedagogas Maria Virgínia Figueiredo Faria
e Cláudia Lopes Gonçalves e desenvolvido pelas professoras Flávia Cristina de S. Almeida
e Maria de Lourdes Rodrigues. Segundo a professora Maria de Lourdes, do 2º Ciclo, os(as)
estudantes que participam do projeto dominam parcialmente a leitura e estão em processo de
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106 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
construção de inferências textuais. Em matemática, os(as) estudantes ainda não dominavam
as ordens, no sistema de numeração, e tinham difi culdades nos cálculos, principalmente na
subtração, mesmo as mais simples. Por isso, foram priorizadas as operações matemáticas por
meio digital e também trabalhos de campo em supermercados para que os(as) estudantes viven-
ciassem o uso social, tanto de práticas de leitura quanto as práticas relacionadas ao letramento
matemático – numeramento.4 Nesse local, os(as) estudantes pesquisam, analisam e comparam
preços. Segundo a professora Maria de Lourdes Rodrigues, as atividades referentes ao projeto
Letramento Digital acontecem no contraturno, a fi m de viabilizar, por meio de maior tempo
na escola, intervenções específi cas que possibilitem o avanço dos(as) estudantes.
O projeto Letramento Digital se propõe a:
promover intervenções específi cas com base em atuações direcionadas e
diferenciadas;
possibilitar inferências signifi cativas na condução e na construção cognitiva dos(as)
estudantes;
atender os(as) estudantes em processos e tempos diferentes de aprendizagem e
de desenvolvimento;
garantir desenvolvimento constante do letramento e do letramento digital;
favorecer o trabalho coletivo entre professores(as), eliminando as hierarquias
entre as disciplinas, e facilitar a troca de experiências entre os docentes;
favorecer o trabalho interdisciplinar, pois provoca discussões de questões que
não poderiam ser trabalhadas no limite de uma disciplina.
A pedagoga Maria Virgínia informou que sua contribuição para o desenvolvi-
mento do projeto se dá de forma a orientar e discutir as atividades pedagógicas propostas
pela professora, bem como a análise dos resultados, levantando hipóteses e propondo
intervenções e alternativas para garantir o desenvolvimento dos(as) estudantes. Ainda
segundo a pedagoga, a interação e a integração da coordenação e da professora comple-
mentam o trabalho desenvolvido no projeto Letramento Digital.
Segundo os(as) educadores envolvidos(as), projetos como o Letramento Digital possibi-
litam que os(as) profi ssionais modifi quem e ressignifi quem o seu fazer pedagógico no 2º Ciclo
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4 Conjunto de práticas
que envolvem conhe-
cimento, registro,
habilidades e modos de
pensar os procedimentos
matemáticos – o nume-
ramento é visto como um
fenômeno paralelo ao
fenômeno do letramento.
(Cf. FONSECA, 2005,
p. 15)
107Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
e os tenham como uma ferramenta a mais para contribuir com o desenvolvimento pleno dos(as)
estudantes desse Ciclo, em sintonia com as demandas contemporâneas e inclusivas.
V – O Caso da Pata: Ler é 10!A Escola Municipal Sônia Braga da Cruz Ribeiro Silva, situada na região Ressaca/
Nacional, desenvolve, em 2008, o projeto O caso da pata; Ler é 10!, que envolve as disciplinas
Língua Inglesa e Língua Portuguesa, tendo como responsável o professor de Língua Inglesa,
Flávio Martins da Silva, e como auxiliares as professoras Tônia Kelley Botas, Keller Edmee
e Márcia Clestino. Trata-se de um projeto que pode ser articulado a vários eixos explorados
neste Caderno: o trabalho com diversos gêneros textuais, a importância da leitura literária,
a necessidade de articulação entre diversas áreas e componentes curriculares, como suporte
para o desenvolvimento de capacidades de leitura e produção de textos.
Nosso principal objetivo com o projeto consiste em cativar o(a) estudante com as
maravilhas do mundo dos livros, apresentando nuances e particularidades que o texto escrito
oferece. Esse pressuposto se fortalece a partir do momento em que o leitor se sente vinculado
aos sentidos do texto. Visamos, com esse projeto: desenvolver hábitos de leitura para a formação
de bons leitores; ler pelo prazer de ler para transformar, entender e contextualizar o mundo;
despertar o senso crítico e analítico no meio em que o(a) estudante vive; desmistifi car o espaço
da biblioteca como um local proibido ou de difícil acesso; criar textos e livros com material
produzido pelos(as) estudantes a fi m de valorizar o que eles(as) têm para mostrar e socializar.
Justifi cativa do projeto
Nos últimos tempos, tem-se discutido os impasses de um ensino estereotipado
da literatura na escola, limitando-se aos textos de antologia e à exigência de memoriza-
ção passiva. Esses problemas levam os(as) educadores(as) à maior refl exão sobre as reais
funções da literatura na escola. Verifi ca-se que há uma lacuna muito grande entre objetivos
e conteúdos valorizados pela escola e os interesses do(a) estudante. Não é possível formar
bons leitores se eles não têm um contato íntimo e sistemático com textos. É de extrema
importância que o material escrito apresentado aos(às) estudantes seja interessante e
desperte-lhes a curiosidade. É importante, também, apresentar os diferentes gêneros
literários e buscar uma produção oriunda do(a) próprio(a) estudante.
108 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Metodologia
Os procedimentos metodológicos elaborados para esse projeto de incentivo à
leitura baseiam-se em alguns critérios:
estimular o(a) estudante ao prazer do hábito da leitura, uma vez que ele(a) tem acesso a
diferentes tipos de literatura, a diferentes tipos de leitura dentro e fora da sala de aula;
orientar o(a) estudante nas atividades de leitura e na construção de atividades
dos textos em estudo, o que permite melhor compreensão;
integrar o grupo de professores(as) e a escola em torno de objetivos comuns;
construir sentido entre o que é apreendido em sala e o que o(a) estudante vive
no dia-a-dia;
utilizar a biblioteca por meio de leitura e empréstimo de livros, em busca da
sistematização desses hábitos;
incentivar a escrita de material literário com enredos e personagens que fazem
parte da realidade e do imaginário dos(as) estudantes;
utilizar as experiências literárias do(a) professor(a) para capturar o desejo do(a)
aluno(a) e maximizar esse desejo em favor da formação de um(a) leitor(a).
Histórico do projeto
Segundo o professor Flávio Martins, o projeto surgiu de uma conversa ouvida
na sala de professores(as), quando foi mencionado que seria muito estranho se uma
pata botasse ovos diferentes; ao mesmo tempo, alguém reclamou que os(as) estudantes
não liam ou estavam lendo livros que exigiam habilidades muito aquém da capacidade
deles(as). Isso provocou-lhe um incômodo muito grande, já que os(as) estudantes se
interessavam muito pelos clássicos da literatura inglesa por ele apresentados, por meio
de contação de histórias, durante as aulas de Língua Inglesa.
Mediante conversa com os(as) estudantes, o professor descobriu que muitos nunca
tinham lido um livro por completo, que a maioria achava que ler era perda de tempo e que
a biblioteca não tinha nada interessante. Diante disso, Flávio selecionou, na biblioteca, um
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109Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
montante de livros infanto-juvenis e levou-os às salas de aula dos(as) estudantes do 2º Ciclo.
Eles(as) se assustaram, mas o professor explicou que, quando tinha a idade deles(as), sua professo-
ra lia, diariamente, ao fi nal das aulas, parte das histórias, deixando o restante para o dia seguinte.
Essa ação fez com que Flávio e seus(suas) amigos(as) se tornassem ávidos leitores(as).
Depois dessa conversa, os(as) estudantes do 2º Ciclo, ressabiados, pediram ao professor
que contasse as histórias que estavam naqueles livros. O professor atendeu a esse pedido: narrou
parte das histórias e disse aos(às) estudantes que, para saber do restante, eles deveriam ler o
livro todo. Muitos reclamavam que os livros eram grossos e desinteressantes. A partir daí, o
professor decidiu investigar o tipo de histórias ou linguagens diversas de que eles gostavam e
descobriu que prevaleceram novelas, fi lmes violentos, desenhos animados, funk.
Assim, o professor Flávio resolveu escrever uma história em formato de novela com o
assunto que ouviu na sala dos professores: uma pata que choca ovos estranhos. Todas as segun-
das, quartas e sextas-feiras, o professor colocava um capítulo da história nos murais da sala e
do pátio. Os(As) estudantes começaram a ler e a fi car interessados em saber mais sobre aquela
história. Cada capítulo tinha um clímax, que levava o(a) estudante a se interessar pela leitura do
capítulo seguinte. Conversando, o professor descobriu que os(as) estudantes gostavam da história
porque nela havia personagens mais próximos deles(as) e porque o ambiente da narrativa era a
região em que moravam. Ele continuou a história e, antes do capítulo fi nal, os(as) estudantes
começaram a pedir mais livros que tivessem histórias interessantes como aquela. A partir daí,
o professor levava livros para as salas de aula e os(as) estudantes passaram a ler de um a três
livros por semana. Sempre são oferecidas opções nessa escolha e os(as) estudantes levam os
livros para casa, sem prazo de entrega. Contudo, como querem ler outras histórias, terminam
o que levaram e logo procuram trocar por um que o(a) colega leu e gostou. Ainda segundo o
professor, a história da pata é simples e direta, mas proporcionou a cada estudante experimentar
o prazer da leitura e a possibilidade de se tornar um(a) leitor(a) competente e refl exivo.
Atividades desenvolvidas
As atividades exploradas em torno desse projeto apresentam fortes indícios de
que podem melhorar o nível de leitura dos(as) estudantes da escola. São todas interativas,
orais ou escritas e permitem ao(à) estudante manifestar sua opinião como leitor(a). Isso
pode fazer dele(a) um cidadão crítico e capaz de analisar o meio em que vive e as situações
cotidianas com outro olhar. Seguem-se algumas das atividades desenvolvidas:
Releitura: os(as) estudantes recontam a história aos(às) colegas de acordo com
o que entenderam.
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110 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
Roda literária: os(as) estudantes discutem textos lidos com orientação dos(as)
professores (as).
Contando pontos: interpretação textual escrita orientada.
Reescrevendo a história: os(as) estudantes reescrevem o texto lido em formato
de resumos e fi chamentos.
Eu recomendo: estudantes dão depoimento sobre os livros lidos e os indicam
aos(às) colegas.
Se eu fosse escritor(a): estudantes reescrevem as histórias ou partes delas,
mudando-as de acordo com a opinião deles(as).
Aconteceu comigo: estudantes escrevem textos contando fatos acontecidos com
eles(as). Os textos são expostos na sala e lidos para os(as) colegas.
Meu livro de cabeceira: estudantes falam aos(às) colegas sobre o livro ou
escritor(a) favorito(a) e explicam as razões que os(as) levaram a se identifi car
com ele(a).
Meu(Minha) amigo(a) escritor(a): estudantes são encorajados a escrever cartas
e e-mails a escritores(as) consagrados.
Livro nosso de cada dia: estudantes escrevem uma história em capítulos e devem
apresentá-los aos(às) colegas a cada três dias.
Descobrindo tesouros: estudantes são encorajados a procurar em casa livros e
revistas e trazê-los para a sala de aula.
Avaliação
A avaliação é realizada durante todo o processo, pois dela dependem os passos seguin-
tes e os ajustes, aproveitando as próprias situações de aprendizagem. Os(As) professores(as)
de Matemática, Ciências e Língua Portuguesa têm elaborado atividades que envolvem os
livros e os textos lidos e o sucesso tem sido alcançado. Após o início do projeto, o número de
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111Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
empréstimos de livros da biblioteca aumentou muito, chegando a dobrar a quantidade. Há
casos de estudantes se sentarem em grupo durante o recreio para contar e discutir as histórias
lidas, que ilustraram livros inteiros, que leram o mesmo livro três vezes e até mesmo que não
querem mais devolver o livro para a escola porque se identifi caram demais com ele.
Os(As) professores(as) envolvidos(as) aproveitam o momento de entusiasmo
pela leitura para torná-lo perene. Assim, têm conseguido com terceiros um número
signifi cativo de livros que são doados aos(às) estudantes.
O coletivo de educadores acredita que a verdadeira concepção de educação deve
se vincular à noção de transformação sociocultural, que só se viabiliza por meio de um
ensino eminentemente voltado para a realidade do(a) estudante e que deseja alcançar
uma postura crítica ante o mundo e a realidade social do(a) estudante. A maneira de
transformar o(a) educando(a) em leitor(a) é o incentivo à leitura e o desenvolvimento de
projetos como o que foi apresentado. Toda atividade de literatura deve, em conseqüência
dessas premissas, resultar num fazer transformador, numa leitura em que o(a) estudante
descobre sentidos e reelabora aquilo que ele(a) é e o que pode ser. Esse projeto tem dado
passos em direção a isso, na acepção desses(as) educadores(as).
VI – Literatura Infanto-juvenilO atual momento da educação brasileira exige que a Escola deixe der ser, exclu-
sivamente, um espaço de ensino localizado dentro de sala de aula e passe a assumir, na
vida do(a) estudante, um lugar de construção permanente e signifi cativa do conhecimento.
A relação indissociável entre os processos de alfabetização e letramento e a necessidade
de práticas de leitura em diversos gêneros textuais nos instigam a preservar um dos
sentimentos mais básicos e inerentes ao ser humano: o encanto e o prazer de ler e ouvir
histórias, enfatizado ao longo da discussão do tema leitura e literatura, neste caderno.
Nesse sentido, A Escola Municipal Profª Ana Guedes Vieira, situada na região
de Nova Contagem, desenvolveu, dentre outros, o projeto de Literatura Infanto-juvenil
envolvendo o livro O Diário do lobo: a verdadeira história dos três porquinhos! (de John
Scieska, Editora Companhia das Letrinhas).
Esse projeto foi desenvolvido, em 2008, com os(as) estudantes do 2º Ciclo,
coordenado pela professora Vitória Delazarri.
O projeto foi discutido e elaborado pelo Grupo de Estudos, Socialização e
Planejamento (GESP) de literatura infanto-juvenil, formado por educadores(as) do 1º e do
112 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
2º Ciclo, e coordenado pela pedagoga Neide Aparecida Rezende. Esse grupo se constituiu
do desejo e do interesse de vários(as) professores(as) de diversos componentes curriculares,
expressos por meio de uma entrevista escrita, no fi nal de 2007. As reuniões do grupo aconte-
cem às segundas-feiras à tarde, quando os participantes procuram sempre avaliar a realização
das metas propostas no encontro anterior, dando prosseguimento ao projeto desenvolvido.
O coletivo de educadores(as) envolvido nesse projeto entende que a literatura
é de suma importância no aprendizado da língua materna, escrita e falada, bem como
na sistematização das capacidades lingüísticas previstas para os(as) estudantes do 2º
Ciclo.
Dentre os objetivos estabelecidos, citamos:
transformar o espaço escolar em um espaço de trocas, debates e refl exões
críticas sob diversas linguagens;
proporcionar aos(às) estudantes formas alternativas de aprender e conviver
- pressupondo-se que tal convivência considera e respeita o outro como ser
integrante do mesmo espaço, apesar de suas diferenças;
promover um espaço lúdico e um aprender prazeroso;
confeccionar uma trilha com base na leitura do livro focalizado (O diário do
lobo: a verdadeira história dos três porquinhos).
ampliar o vocabulário e a linguagem oral;
despertar o gosto e o prazer pela leitura;
trabalhar a memória e a atenção;
realizar atividades de leitura e escrita baseando-se no texto.
A metodologia utilizada pelos(as) professores(as) caracteriza-se pela realização de
atividades que visem à compreensão total do texto e ao reconhecimento do signifi cado
da cada palavra. No processo de consolidação da escrita, o ponto de partida é o texto – e
nenhum trabalho de sistematização de palavras, sílabas e letras deve ser desvinculado
da produção e da interpretação do texto.
113Projetos Inovadores Desenvolvidos Na Rede De Contagem Em Torno Dos Eixos Do 2º Ciclo
Dentre as atividades propostas, salientamos:
leitura silenciosa feita pelos(as) estudantes;
leitura oral feita pela professora;
leitura oral de alguns estudantes;
comentários a respeito dos personagens, do tema, do espaço;
apresentação da trilha (escolha sua história);
formação de duplas e socialização das regras do jogo pela professora:
cada grupo de cinco estudantes deverá sortear cinco palavras que estão na trilha;
a trilha (caminho dos porquinhos ou lobo) que tiver mais palavras sorteadas é a
que o grupo deverá seguir; de acordo com o número de palavras sorteadas em cada
caminho, será debatida, na visão de cada grupo, a versão dos porquinhos ou do lobo;
ao fi nal do debate, defendido com coesão e coerência, será escolhida a versão
da história vencedora.
•
•
115
Na proposta apresentada neste Caderno, voltada para o 2º Ciclo de formação
da Rede Municipal de Contagem, buscou-se fi rmar uma continuidade de concepções,
princípios e ações pedagógicas que nortearam a proposta de Alfabetização e Letramento
para essa mesma Rede. Tais princípios, constitutivos dos compromissos da Secretaria
Municipal de Educação, Esportes e Cultura de Contagem, visam à educação de quali-
dade para todos, ao respeito à diversidade e a inclusão social, à valorização e à formação
continuada dos(as) profi ssionais da educação. Visam, ainda, à consolidação de capaci-
dades de escrita e leitura dos(as) estudantes, em uma visão integrada e interdisciplinar
dos componentes curriculares do 2º Ciclo de formação.
Tais dimensões foram apropriadas no processo de construção coletiva desta propos-
ta, que buscou articular duas grandes contribuições: a base teórico-conceitual explorada
na formação dos(as) educadores(as) do 2º Ciclo, em parceria com o CEALE/UFMG, e
os saberes e experiências de nossos(as) educadores(as), expressos em suas refl exões sobre os
temas propostos na formação e nos projetos inovadores desenvolvidos nas escolas da rede de
Contagem. A riqueza desses relatos evidencia o elevado interesse desses profi ssionais refl exivos
pela busca de soluções para os problemas pedagógicos de seu contexto de atuação.
No que diz respeito aos patamares de desempenho esperados de nossos(as)
estudantes, esta proposta para o 2º Ciclo enfatizou a importância da consolidação da
alfabetização e da ampliação do letramento, conquistando maior autonomia e fl uência
na compreensão e produção de textos orais e escritos, de gêneros diversifi cados, para
contextos de circulação cada vez mais amplos.
Esperamos que esta proposta colabore para o sucesso das metas traçadas e que
possa se tornar uma referência para os(as) educadores(as) do 2ª Ciclo, comprometidos
com a educação de qualidade de todos(as) os(as) nossos(as) estudantes, em uma Contagem
cada vez mais leitora, inclusiva e cidadã.
Considerações fi nais
116 Educadores na Rede - Contagem: A Leitura e a Escrita no 2o Ciclo
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