1. PREVENÇÃO DO CRIME NO ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Representação de um Estado Social e Democrático de Direito
Artigo 2º da CRP
“A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular,
no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de
poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa.”
! Elementos a reter:
- Soberania popular;
- Pluralismo de expressão e organização política democráticas;
- Respeito e garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais (Títulos I e
II da CRP – art.ºs 12º a 57º);
- Separação e interdependência dos poderes
! Objetivos:
- Realização da democracia económica, social e cultural (Título III da CRP -‐ art.ºs 58 a
79º);
- Aprofundamento da democracia participativa.
A. Abordagem do crime enquanto fenómeno social
! “O crime não é nenhum tumor nem uma qualquer epidemia”;
! Trata-‐se, isso sim, de um problema de natureza interpessoal e comunitário.
B. Perspetiva do crime segundo a criminologia clássica:
! Uma espécie de confronto formal, simbólico e direto entre dois rivais: o Estado e o
infrator;
! Segundo tal perspetiva, a pretensão punitiva do Estado, ou seja, o castigo do infrator,
polariza e esgota toda a resposta a dar ao facto criminoso;
! Prevalece, assim, a sua face patológica e epidémica sobre o seu profundo significado
problemático e conflitual;
! A reparação do dano causado à vítima é totalmente ignorada. Não constitui nem se
apresenta como uma exigência social;
! Tão-‐pouco preocupa à criminologia clássica a efetiva ressocialização do infrator.
Em suma:
Segundo uma tal perspetiva (clássica), de inspiração mais ou menos totalitária, não será
possível sequer falar em prevenção do crime ou em prevenção social, mas apenas de
mera dissuasão penal (por via da incondicionada submissão do infrator ao castigo –
retribuição e exemplo pedagógico).
O delinquente era considerado quase como um inimigo; jamais como um cidadão, com
determinados direitos e deveres.
C. Perspetiva do crime segundo a moderna criminologia:
! É partidária de uma visão mais complexa do comportamento criminoso, de acordo
com o papel ativo e dinâmico que atribui aos seus diversos protagonistas
(delinquente, vítima e comunidade) e com a relevância acentuada dos múltiplos
fatores que convergem e interatuam na situação criminal;
! Destaca o lado humano e conflitual do crime, a sua aflitividade e os elevados custos
pessoais e sociais que acarreta;
! Apela para uma análise tranquila da sua etiologia, da sua génese e dinâmica próprias,
bem como para o indispensável debate político-‐criminal em torno das melhores
técnicas de intervenção e controle do mesmo;
Em Suma:
Segundo a moderna criminologia, o simples castigo do infrator não esgota todas as
expectativas que o comportamento criminoso desencadeia.
Deve apostar-‐se sobretudo na prevenção, na antecipação ao facto criminoso.
A consideração da vítima e a reparação do dano, a ressocialização do delinquente e a
prevenção do crime, constituem também objetivos da maior importância.
E esta é, sem qualquer dúvida, a perspetiva que cientificamente se afigura mais
satisfatória e adequada às exigências de um Estado Social e Democrático de Direito.
A prevenção ganhou, assim, nos Estados contemporâneos, um importante lugar na
tarefa de construção da respetiva política criminal.
• Indicações bibliográficas (meramente referenciais):
> Garcia-‐Pablos de MOLINA, António de, Criminologia; una introdución a sus
fundamentos teóricos, 6ª edição, da Editora Tirant Lo Blanch, Valencia 2007.
Pág. 79 – 94.