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1. INTRODUÇÃO GERAL

Durante os últimos dois séculos, as atividades humanas não sustentáveis têm levado

ecossistemas e comunidades naturais à beira da extinção. Uma das principais causas para esta

crise mundial tem sido o desmatamento para alimentar as carvoarias e a indústria madeireira.

A conseqüência do desmatamento é a perda irreversível da biodiversidade e de serviços do

ecossistema. Uma vez desmatadas, as áreas são geralmente convertidas em áreas para cultivo

ou pastagem para criação de gado.

Atualmente são reconhecidos 34 Hotspots mundiais, ou seja, as áreas biologicamente

mais ricas e mais ameaçadas do Planeta. A Mata Atlântica é um dos cinco Hotspots mais

ameaçados do mundo e atualmente detém apenas cerca de 7% de cobertura vegetal de sua

extensão original. Contudo, esta pequena parcela remanescente abriga alta riqueza e

endemismo de plantas e de animais (CONSERVATION INTERNATIONAL, 2005). Além da

perda de área de cobertura vegetal, o que restou da Mata Atlântica encontra-se fragmentado,

em sua maior parte em remanescentes de pequeno porte inseridos em uma matriz de áreas

urbanas e áreas de manejo agrícola.

Os primatas estão entre os mamíferos mais ameaçados da Mata Atlântica devido ao

desmatamento e a fragmentação. Dentre as 23 espécies de primatas que ocorrem na Mata

Atlântica, 15 estão enquadradas em alguma categoria de ameaça de extinção (IBAMA, 2003).

Dentre as espécies ameaçadas estão os sauás, Callicebus spp, com cinco espécies

distribuídas do norte do rio Tietê até a margem sul da foz do rio São Franscisco (VAN

ROOSMALEN, 2002).

Os sauás realizam vocalizações de longa distância para manter o espaçamento entre os

grupos, através da definição e reforço mútuo dos limites territoriais (ROBINSON, 1979).

Devido a esta característica comportamental, tornou-se comum pesquisadores explorarem a

técnica de playback para trabalhar com presença/ausência e para estudar o comportamento das

espécies do gênero. Poucos pesquisadores, no entanto, têm explorado tal técnica para estudos

populacionais, para estudos sobre áreas de vida e outros estudos relacionados à ecologia

destes animais.

Principalmente levantamentos populacionais e estimativas de área de vida são estudos

fundamentais para a definição de estratégias de conservação e manejo de espécies ameaçadas.

Para levantamentos populacionais de primatas, usualmente, aplicam-se métodos que

requerem a visualização para que se estabeleçam contagens de indivíduos e medições entre a

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posição do observador e o local onde se encontrava o animal estudado, como a exemplo do, o

método de amostragem de distâncias em transecto linear (BURNHAM et al., 1980).

Os sauás são animais tímidos e cripticos, o que torna difícil a obtenção de dados nos

moldes exigidos para os métodos tradicionais.

Para estimativas de área de vida usualmente monitoram-se os animais por meio de

colares rádiotransmissores. Tal procedimento, além de ser caro, é pouco eficaz em florestas

com densa vegetação e topografia irregular. Além disto, os colares trazem incômodos e

podem provocar dermatites e lesões graves nos animais, conforme verificado nos estudos de

MÜLLER & SCHILDGER (1994) e NERI (1997).

Atualmente os cientistas têm enfrentado limitações metodológicas, escassez de

recursos financeiros e curto espaço de tempo para execução de trabalhos envolvendo estudos

ecológicos de primatas. Há a necessidade de métodos eficazes, acurados e que se adequem às

limitações operacionais e logísticas que envolvem esse ramo de atividade.

Neste contexto, o presente estudo teve por finalidade desenvolver e testar uma

alternativa metodológica (Áudiotelemetria) baseada no uso da técnica de playback, buscando

solucionar algumas das dificuldades encontradas no estudo sobre a ecologia dos sauás,

particularmente de Callicebus nigrifrons.

1.1. Biologia de Callicebus

O gênero Callicebus é o segundo gênero mais rico em espécies de primatas

neotropicais, ficando atrás somente do gênero Saguinus. Na mais recente revisão do gênero,

van Roosmalen et al., (2002), reconheceu 28 espécies, separando-as em 5 grupos (Callicebus

cupreus, C. donacophilus, C. moloch, C. personatus e C. torquatus). Do total, 21 espécies

ocorrem no território brasileiro sendo que 15 espécies ocorrem na Floresta Amazônica, 1 no

Pantanal e 5 na Mata Atlântica, das quais duas também podem ser encontradas no bioma

Cerrado. As espécies encontradas no bioma Mata Atlântica são: C. barbarabrownae, C.

coimbrai, C. melanochir, C. nigrifrons e C. personatus.

Em termos de conservação Callicebus barbarabrownae e C. coimbrai estão

enquadrados como Criticamente em Perigo, C. melanochir e C. personatus estão enquadrados

como Vulneráveis e C. nigrifrons está enquadrado como Quase Ameaçado segundo a lista

oficial do IBAMA (2003). Callicebus nigrifrons ainda é enquadrado como Vulnerável

segundo a listagem de espécies ameaçadas de Minas Gerais (COPAM, 1998).

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Callicebus nigrifrons é a espécie que tem a distribuição mais setentrional do gênero.

Distribui-se ao norte do rio Tietê nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Limita-se a oeste pela margem direita do rio Paraná e do Paranaíba e a leste pela Serra da

Mantiqueira e Serra do Espinhaço até o limite de distribuição de C. personatus (VAN

ROOSMALEN et al., 2002) (Figura 1).

Os sauás são primatas de pequeno porte, pesando entre 0,700g e 1,650g. O

comprimento do corpo varia de 232 a 450 mm e a cauda mede entre 334 a 560mm (ROWE,

1996). Callicebus nigrifrons é a maior espécie do gênero (PACHECO et al., 2003).

Callicebus nigrifrons possui a fronte, mãos e pés negros. A coloração do corpo varia

do amarelo-claro ao bege e a cauda é castanho-avermelhada (AURICCHIO, 1994) (Figura 2a).

A dieta dos sauás é composta basicamente por frutos, alimentando-se também de

folhas, exudatos e insetos (AURICCHIO, 1994). Na estação seca, quando os frutos são

escassos, observa-se o aumento no consumo de folhas (MÜLLER & PISSINATI, 1995).

A reprodução parece não ter época definida. A maturidade sexual é atingida entre 2,5 a

3 anos (AURICCHIO, 1994). A gestação é de, aproximadamente cinco meses e meio, e o

filhote nasce com 90 a 100g, sendo sempre carregado pelo pai. A mãe o segura somente para

amamentá-lo e, com quatro ou cinco meses, o infante já não é mais carregado

(HERSHKOVITZ, 1987).

Figura 1: Distribuição geográfica das espécies de Callicebus do grupo personatus (Printes et al., no prelo).

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Todos os sauás vivem em grupos familiares de 2 a 5 indivíduos compostos por um

casal monogâmico e suas crias de diferentes idades (KINZEY, 1981).

Um comportamento típico das espécies do gênero Callicebus é o hábito dos indivíduos

se juntarem e enrolarem suas caudas durante o descanso noturno (WELKER et al., 1998).

Possuem áreas de vida relativamente exclusivas e frequentemente menores do que 25

hectares, que são defendidas contra grupos vizinhos (EASLEY, 1982; MÜLLER, 1996). No

entanto a localização da área de vida pode mudar com o tempo (EASLEY & KINZEY, 1986).

Os sauás possuem um aparelho hióidico desenvolvido, o que lhes permite emitir sons

com grande intensidade (AURICCHIO, 1994) (Figura 2b).

Os sauás emitem assobios e vocalizações de longa distância. As vocalizações de longa

distância são realizadas em dueto pelo casal e são usadas para manter o espaçamento entre os

grupos, através da definição e reforço mútuo dos limites territoriais (ROBINSON, 1979).

A

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Figura 2a: Callicebus nigrifrons (Stephen Nash, 2002)

Figura 2b: Crânio e osso hióide de Callicebus sp (Paulo Auricchio, 1994). Escala de 1cm.

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Segundo Price & Piedade (2001), para C. personatus, as vocalizações de longa

distância não representam um mecanismo efetivo de defesa territorial, pois as mesmas são

realizadas quase que exclusivamente pela manhã e não são realizadas todos os dias, o que não

garante o acesso exclusivo aos recursos em sua área de uso.

As vocalizações de longa distância de Callicebus nigrifrons ultrapassam 7 kHz

contudo, a frequência média dominante é de 750,7 ± 25,96 Hz (MARTINS & SILVA, 1998)

(Figura 3). Pode-se dizer que, as vocalizações de longa distância dos sauás são emitidas em

baixa frequência e, portanto, se propagam com maior facilidade pelo ambiente. Devido a tais

características acústicas, estas vocalizações podem ser ouvidas a distâncias relativamente

grandes em uma floresta.

Figura 3: Sonograma de vocalização de longa distância de Callicebus nigrifrons.

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2. O USO DO MÉTODO ÁUDIOTELEMETRIA PARA MAPEAMENTO E ESTIMATIVA DE ÁREA DE USO DOS SAUÁS NO PARQUE MUNICIPAL DE POUSO ALEGRE 2.1. Introdução

Os mapas são recursos gráficos muito utilizados por diversas áreas do conhecimento.

No contexto das ciências biológicas, os mapas temáticos podem ser correlacionados

com os registros de ocorrência de animais e auxiliar na compreensão sobre as causas da

distribuição geográfica das espécies.

Em pequena escala, um mapeamento dos registros dos espécimes pode auxiliar na

identificação das áreas preferenciais de uso, o que possibilita o acesso a informações sobre a

ecologia das espécies. Portanto, os estudos de área de uso podem ser úteis para delinear

estratégias de manejo e conservação das espécies, principalmente daquelas ameaçadas de

extinção.

Dentre os métodos usados para a coleta de dados em estudos de áreas de uso, o mais

conhecido é a Rádiotelemetria.

Muller & Schildger (1994) e depois Neri (1997) monitoraram grupos de sauás a partir

do método Rádiotelemetria. Ambos os trabalhos não alcançaram o êxito esperado, pois os

animais não se adaptaram aos rádiocolares e os mesmos causaram lesões graves nos animais.

Segundo Neri (1997), os sauás possuem mandíbulas proeminentes e pescoço curto, o que

propicia o aparecimento de lesões.

Além disto, o alto custo dos aparelhos e a dificuldade na obtenção de dados em

ambientes mais fechados como florestas tornam a aplicação deste método não aconselhável

para o monitoramento desses animais.

Portanto se faz necessário explorar outros métodos, de preferência não invasivos,

voltados para o monitoramento espacial de primatas, cujo propósito seja subsidiar medidas de

manejo e conservação das espécies.

2.1.1. Objetivos

usar o método Áudiotelemetria para mapear as localizações dos grupos de sauás no

Parque Municipal de Pouso Alegre;

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estimar a área que os grupos de sauás usam no Parque Municipal;

identificar se há preferências de uso entre áreas alteradas e não alteradas e entre áreas

baixas e áreas altas pelos sauás no Parque Municipal;

avaliar a distância de resposta dos sauás ao playback;

avaliar a frequência com que os sauás respondem aos playbacks ao longo do dia e

entre as estações;

2.2. Materiais e Métodos 2.2.1. Área de estudos O município de Pouso Alegre insere-se na macrorregião de Planejamento III, Sul de

Minas Gerais, na microrregião que leva seu nome e na Região Administrativa do Vale do

Sapucaí (Figura 4). O município encontra-se inserido na Sub-bacia do Rio Sapucaí-Mirim e

do Rio Mandú, que fazem parte da Bacia do Rio Sapucaí (SANTOS et al., 1998). Apresenta

uma topografia onde predominam altitudes compreendidas entre o plano e o suave ondulado.

O ponto culminante do município (1.347 metros de altitude) situa-se na Serra de Santo

Antônio, onde está situado o Parque Municipal de Pouso Alegre (SANTOS et al., 1998). A

topoaltimetria mostra os seguintes resultados percentuais, em termos do relevo municipal:

plano – 30%; ondulado – 60%; montanhoso – 10% (SANTOS et al., 1998). Na região de

Pouso Alegre, dadas as condições locais de topografia e a presença dos rios Sapucaí-Mirim e

Mandú, predomina o clima do tipo temperado mesotérmico, com 2 a 3 meses secos ao ano,

enquadrado no tipo Cwb de Köppen, ou seja, um tipo de clima com verões chuvosos brandos

e invernos secos. O índice pluviométrico situa-se entre 1300 e 1700 mm (SANTOS et al.,

1998).

Os trabalhos foram realizados no Parque Municipal de Pouso Alegre, também

conhecido como Parque Zoobotânico de Pouso Alegre (Andrade & Cunha, 1988). Tem como

coordenadas geográficas 22° 13’ S e 45° 58’ W. O Parque Municipal abriga 204 ha de

remanescentes de Florestas Estacionais Semideciduais Montanas, domínio fitogeográfico da

Mata Atlântica, delimitada por um perímetro de 7.766 metros (Figura 5).

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Figura 4: Localização do município de Pouso Alegre em Minas Gerais e no Brasil.

Figura 5: Imagem aerofotogramétrica do Parque Municipal de Pouso Alegre - MG (PROSPEC, 1985).

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Figura 6: Modelo Digital de Elevação do Parque Municipal de Pouso Alegre – MG.

A variação altitudinal no Parque encontra-se entre os 860 aos 1.140 metros de altitude

(SANTOS et al.,1998) (Figura 6).

O Parque Municipal de Pouso Alegre foi criado em 1975, com o objetivo de proteger

os recursos hídricos para o abastecimento público. Em 1992 foi criado um espaço turístico

denominado “Parque Zoobotânico”.

O Parque Municipal abriga um zoológico, um horto florestal e áreas de recreação.

O Parque está inserido no maciço montanhoso denominado Serra de Santo Antônio.

Encontra-se localizado de forma contígua a outros remanescentes florestais de propriedade de

terceiros como os da “Fazenda Gamelão” e a “Mata da Remonta”, de propriedade do Exército

Brasileiro. Juntos formam um fragmento que ultrapassa 400 ha. Em outro fragmento, a

noroeste, localiza-se a Reserva Biológica Municipal, com cerca de 186 ha. A distância entre

esses fragmentos é de aproximadamente 500 m e a fisionomia vegetal dessa área entre as

Unidades de Conservação é predominantemente campestre, constituída por pastagens

antrópicas. Outros fragmentos florestais de dimensões variadas se distribuem em direção ao

oeste, seguindo a linha de cumeada da Serra de Santo Antônio, adentrando os limites dos

municípios de Borda da Mata e Congonhal (BONILLO-FERNANDES, 2005).

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2.2.2. Descrição do método Áudiotelemetria

O método Áudiotelemetria foi idealizado como uma ferramenta que visa aproveitar a

comunicação vocal dos sauás de maneira que seja possível realizar estimativas de localizações

dos grupos por meio de suas vocalizações.

O método se baseia no uso da técnica de playback, com a finalidade de induzir uma

resposta vocal dos grupos de sauás. Ao responder ao playback os sauás revelam as suas

posições, possibilitando a estimativa de localização dos mesmos por meio de triangulações.

As triangulações são realizadas quando dois ou mais pesquisadores localizados em pontos

distintos de uma trilha estimam simultaneamente azimutes (ângulos de visada) a partir das

direções de onde se originam as respostas sonoras dos sauás (Figura 7).

Figura 7: Esquema mostrando a triangulação de um grupo de sauá vocalizando em resposta ao playback acionado.

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2.2.3. Mapeamento das localizações dos grupos de sauás no Parque Municipal através do método Áudiotelemetria (Primeira fase do mapeamento)

O método foi testado preliminarmente, usando a “trilha principal” do Parque

Municipal de Pouso Alegre (Figura 8). A trilha principal inicia-se no perímetro do jardim zôo-

botânico e estende-se, sinuosamente por aproximadamente 1.400 m até um antigo local de

exploração de granito na parte alta do Parque.

Foram implantados 14 pontos de 100 em 100 m ao longo da trilha principal (Figura 8)

Na proximidade de cada ponto foi escolhida uma árvore, a qual foi numerada e marcada com

fita zebrada. Foram tomadas as coordenadas geográficas destes pontos com um receptor GPS-

72 da Garmin Corporation, o qual apresentou uma precisão média de ±10 m. Estes pontos

foram denominados de estações de amostragem.

Os playbacks foram acionados a partir de um Disc Man adaptado a um megafone

modelo HMP 1501 da CSR, com 20 watts de potência (Figura 9a). Os arquivos de som usados

para playback foram obtidos a partir de gravações de vocalizações de longa distância de

Callicebus nigrifrons registradas no próprio Parque Municipal de Pouso Alegre.

Ao longo das amostragens foram utilizadas 3 sequências de vocalizações de longa

distância diferentes, para reduzir as chances dos animais se habituarem com os playbacks.

Para a medição dos azimutes, ou ângulos de visada, foram utilizadas bússolas

magnéticas da marca Kantaz. Os azimutes foram estimados com as bússolas portadas

manualmente pelos pesquisadores ou fixadas em tripés fotográficos (Figura 9b).

Para combinar e sincronizar todas as ações durante as amostragens, foi utilizado um

par de rádiocomunicadores talkabout T5500 da Motorola (Figura 9a).

Para uma coleta de dados apropriada foi necessário que os pesquisadores mantivessem

seus relógios sempre sincronizados.

Foi criado um mapa da área de estudo com base em uma imagem aerofotogramétrica

(PROSPEC, 1985), um mapa planialtimétrico (IEF, 1986) e dados obtidos em campo por GPS.

O mapa foi criado e georreferenciado no software CorelDraw 12.0. Os dados foram

trabalhados a partir do sistema de projeção Universal Transverse Mercator (UTM) e no

datum WGS 84. Os mapas foram trabalhados em escalas de 1:4.000 e 1:10.000.

Esse mapa permitiu analisar os dados obtidos em campo, mediante a visualização da

distribuição espacial das posições estimadas dos sauás obtidas através das triangulações.

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Figura 9a: Equipamentos usados no método Áudiotelemetria.

Figura 9b: Bússola fixada em tripé usada para a técnica de triangulação.

2.2.3.1. Protocolo amostral

Foram realizadas 12 expedições ao campo, entre os meses de dezembro de 2007 a

março de 2008 (estação chuvosa). As amostragens foram realizadas no transcorrer dos

trabalhos, em três períodos: das 07:00 as 11:00 h, das 11:00 as 14:00 h e das 14:00 as 17:00 h.

Em cada expedição de campo apenas um período foi amostrado. Portanto, foram realizadas

quatro amostras em cada período.

Em cada expedição a campo, a amostragem iniciou-se em uma das extremidades da

trilha, de forma alternada.

Para realizar as triangulações, dois pesquisadores se posicionavam em duas estações

de amostragem em seqüência, por exemplo: (triangulador 1 = P1); (triangulador 2 = P2).

Apenas um dos pesquisadores ficava encarregado de acionar o playback. Os playbacks

foram acionados sempre em duas sequências. Em cada sequência, o playback era acionado

durante 1 minuto e em seguida cronômetrava-se 2 minutos como tempo de resposta. Após

terminado o tempo de espera da segunda sequênciade playback os pesquisadores se dirigiam

até as próximas e respectivas estações de amostragem ao longo da trilha. Ao acionar o

playback o pesquisador projetava o megafone para frente a uma altura de aproximadamente 2

m e com uma leve inclinação para cima (Figura 10).

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Figura 10: Pesquisador acionando o playback na trilha principal do Parque.

Durante o procedimento o pesquisador rotacionava o seu corpo lentamente de modo a

propagar o som em todas as direções, procurando cobrir 360° em um minuto.

Havendo resposta positiva, ou seja, sauás vocalizando em resposta ao playback, ambos

os pesquisadores anotavam simultaneamente o horário de resposta (hh:mm:ss) e o azimute

estimado a partir das direções de onde se originavam as vocalizações. Outras informações

também eram anotadas, tais como: número de indivíduos, quando houvesse avistamentos, e

condições do tempo (ver formulário, Anexo I).

O procedimento completo, ou seja, o acionamento dos playbacks mais o tempo de

espera e o deslocamento dos pesquisadores até as estações de amostragens seguintes, foi

definido como sequência amostral.

Na Primeira fase do mapeamento, o tempo médio levado entre uma sequência

amostral e outra foi de 12 minutos.

As estimativas de localizações dos sauás foram confirmadas a partir do cruzamento

entre dois azimutes anotados em horários iguais. No mapa digital, os azimutes foram

representados por linhas projetadas a partir das estações de amostragem. O cruzamento entre

as linhas, ou seja, a intercessão entre elas, representou as localizações estimadas dos grupos.

Cada localização estimada recebeu um número sequencial que foi indexado. Uma

planilha foi criada contendo data, hora, coordenadas geográficas e outras informações sobre

cada localização.

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As localizações plotadas no mapa, representadas por círculos, foram discriminadas

entre 10 categorias de cores. Cada cor representou um intervalo de 1 hora, portanto cada

localização teve uma cor que correspondeu ao horário em que foi estimada. O intuito foi

avaliar possíveis padrões de ocupação de área por período.

2.2.4. Mapeamento das localizações dos grupos de sauás no Parque Municipal através do método Áudiotelemetria (Segunda fase de amostragem)

A segunda fase do mapeamento foi realizada através de quatro transectos lineares

implantados na área de estudos, os quais foram confeccionados entre os meses de dezembro

de 2007 a março de 2008. Os transectos foram feitos no sentido norte/sul e o distanciamento

entre os mesmos foi de 300m (Figura 12).

Como o Parque tem aproximadamente 2 km de extensão no sentido leste/oeste, havia a

possibilidade de confecção de seis transectos (6 x 300 = 1.800 m), contudo, optou-se por

apenas quatro transectos devido ao curto espaço de tempo disponível. Os transectos foram

nomeados de A, B, C e D e mediam 1014m, 1086m, 1170m e 1000m respectivamente (Figura

12).

Figura 11: Árvore marcada com fita zebrada, indicando o local de uma estação de amostragem.

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De acordo com o comprimento de cada transecto foram implantados entre 10 e 12

estações de amostragem e a distância entre as mesmas foi de 100 m. Os locais das estações de

amostragem foram definidos a partir de coordenadas geográficas situadas ao longo dos

transectos. Por exemplo, a estação de amostragem A1 localizada no transecto A, foi alocada

na coordenada UTM norte/sul 7542100, a estação de amostragem A2 foi alocada na

coordenada 7542200 e assim consecutivamente. Na proximidade de cada ponto foi escolhida

uma árvore, a qual foi referenciada (ex.: A5) e marcada com fita zebrada (Figura 11).

2.2.4.1. Protocolo amostral

Foram realizadas 20 expedições ao campo entre maio e setembro de 2008 (estação

seca). As amostragens foram realizadas em dois períodos: das 07:00 as 13:00 h (matutino) e

das 13:00 as 17:00 h (vespertino). Em cada expedição ao campo, apenas um período foi

amostrado.

Em cada período (matutino ou vespertino) foi possível amostrar dois transectos.

Portanto, para amostrar os quatro transectos nos dois períodos de amostragem foram

necessários quatro dias de campo.

Para realizar a estimativa de localização dos grupos de sauás através dos transectos

lineares foi empregado o método Áudiotelemetria, basicamente da mesma forma como foi

empregado na primeira fase do mapeamento.

Na segunda fase do mapeamento o tempo médio levado entre uma sequência amostral

e outra foi de 15 minutos.

Teoricamente, das 07:00 as 17:00 h haveria tempo suficiente para amostrar os quatro

transectos, mas, na prática, foi inviável, pois as baterias e pilhas dos equipamentos não tinham

a autonomia suficiente para suportar a carga de trabalho diária e os pesquisadores teriam que

dedicar o tempo integral com as amostras sem que houvesse pausa para descanso ou

alimentação.

Para a amostragem no período matutino foi considerada uma pausa de uma hora para

descanso e alimentação. A cada amostragem completa a partir do período matutino (dois dias

de campo = quatro transectos amostrados) foi necessário mudar o horário de descanso para

evitar que um horário fosse mais amostrado que o outro. Como a amostragem no período

vespertino era realizada em apenas quatro horas decidiu-se não considerar pausa para

descanso.

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Para evitar viés na amostragem, os transectos foram amostrados intercaladamente. Por

exemplo, no mês de maio os transectos foram amostrados de oeste para leste, ou seja, do

transecto A para o B e do C para o D e no mês de junho foram amostrados de leste para oeste,

ou seja, de D para C e de B para A. Desta forma, a cada dia de campo a amostragem se

iniciava em um transecto diferente.

Este protocolo amostral foi criado com o intuito de orientar uma amostragem

homogênea, de modo que no período da manhã todos os horários fossem amostrados oito

vezes, no período da tarde fossem amostrados seis vezes e no geral todos os quatro transectos

fossem amostrados oito vezes.

2.2.5. Estimativa da área usada pelos grupos de sauás no Parque Municipal

Para estimar o tamanho da área que os grupos de sauás usaram no Parque Municipal

ao longo do mapeamento foi gerado um grid sobre o mapa da área de estudo com quadrículas

de 100x100 m (um hectare). Foram somadas todas as quadrículas que enquadravam pelo

menos uma localização estimada (conforme método usado por Price & Piedade, 2001). As

quadrículas foram diferenciadas em um gradiente de cores para identificar as áreas com maior

densidade de localizações. Somente as localizações estimadas na segunda fase do

mapeamento foram usadas para a estimativa de área de uso dos sauás.

2.2.6. Avaliação dos hábitats utilizados pelos sauás

O mapa com as localizações estimadas dos grupos foi comparado com mapas de

cobertura vegetal do Parque Municipal para avaliar se os sauás usaram diferentemente as

áreas alteradas e não alteradas do Parque.

Para avaliar se os sauás usaram preferencialmente as áreas baixas em vez das áreas

altas do Parque, as localizações estimadas dos grupos foram plotadas em um mapa

topográfico do Parque Municipal. Foi quantificado o número de localizações estimadas entre

cada nível de altitude do Parque. Usou-se uma regressão linear simples para determinar a

correlação entre a altitude e o número de localizações.

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2.2.7. Avaliação da distância de resposta dos sauás ao playback

Para avaliar a distância de resposta dos sauás ao playback, foi considerada a distância

linear entre a localização estimada de um grupo até a estação de amostragem aonde foi

acionado o playback que induziu a resposta ao mesmo.

Para esta análise, foi considerada somente a primeira vocalização de uma sequência de

vocalizações, pois as vocalizações posteriores podem ter sido desencadeadas em resposta à

primeira vocalização e não necessariamente ao playback. Foi usada estatística descritiva para

interpretar os resultados.

2.2.8. Avaliação da frequência de resposta dos sauás ao playback ao longo do dia e entre as estações

Os dados sobre vocalizações em respostas aos playbacks obtidos ao longo do dia

foram agrupados em intervalos de uma hora (ex.: 07:00 ┬ 08:00 h) com a finalidade de

identificar os períodos do dia que os animais mais respondem a técnica de playback.

Para esta análise também foi considerada somente a primeira vocalização de uma

sequência de vocalizações, pois as vocalizações subsequentes podem ter sido desencadeadas

em resposta à primeira vocalização e não necessariamente ao playback.

Os dados sobre vocalizações em respostas aos playbacks obtidos na estação chuvosa

(primeira fase do mapeamento) e seca (segunda fase do mapeamento) foram comparados com

o intuito de verificar se houve diferença significativa na proporção de respostas aos playbacks

nas duas estações. Para comparar as proporções foi usado o teste Chi-quadrado com correção

de continuidade de Yates.

2.3. Resultados e Discussão 2.3.1. Mapeamento das localizações dos grupos de sauás no Parque Municipal através do método Áudiotelemetria (Primeira fase do mapeamento)

Na primeira fase do mapeamento 97 localizações foram estimadas. Observou-se que a

área com maior concentração de localizações situou-se entre uma faixa de 100m ao longo dos

dois lados da trilha principal (Figura 13). Mais de um terço das localizações (33) foram

estimadas nesta área.

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Provavelmente a maior concentração de localizações próximas à trilha principal esteja

diretamente relacionada a um número maior de grupos que vivem próximo a trilha principal.

É de se esperar também que quanto mais próximos os sauás estejam dos locais onde os

playbacks estão sendo acionados, maior seja o número de vocalizações emitidas.

Observou-se também que a maioria das localizações foram estimadas no setor norte do

Parque Municipal (acima da trilha principal). Não houveram localizações nos setores sul e

leste do Parque. Apenas uma localização foi estimada no setor oeste (próxima à pedreira) e

duas no setor sudoeste do Parque (próxima à coordenada 7542400/0399990) (Figura 13).

É possível que não existam grupos de sauás nos setores sul e leste do Parque

Municipal ou se existem, não ouviram os playbacks acionados a partir da trilha principal,

talvez por conta da distância ou por alguma barreira física que impediu a propagação do

estímulo sonoro até os locais onde os sauás estavam posicionados. É possível também que os

grupos de sauás tenham ouvido os playbacks e mesmo assim não responderam, pois o som

pode ter sido percebido tão atenuadamente que não significou uma ameaça para os mesmos.

Ao observar o mapa com as localizações individualizadas em intervalos de tempo,

nota-se um agrupamento de localizações entre a “represa menor” e o jardim zôobotânico

estimados entre as 11:00 e 13:00 h (pontos pretos e roxos) (Figura 14). Neste mesmo trecho

do Parque, apenas duas localizações foram estimadas entre as 07:00 e 11:00 h e nenhuma

localização foi estimada entre as 13:00 e 17:00 h.

Este resultado evidencia que um ou mais grupos de sauás preferem ocupar esta área do

Parque apenas no período das 11:00 e 13:00 h. Talvez este trecho do Parque seja beneficiado

por uma temperatura mais amena devido à localização dos cursos d’água e da “represa

menor” e os sauás se desloquem até estas áreas no período mais quente do dia visando

aproveitar as características físicas do local.

No segmento da trilha principal entre as estações de amostragem P5 e P8, encontram-

se algumas localizações estimadas entre as 09:00 e 10:00 h (pontos verdes) (Figura 14).

Provavelmente é um trecho da floresta que um ou mais grupos preferem ocupar durante este

período do dia para forragear e descansar.

No extremo norte do Parque, algumas localizações foram estimadas entre as 07:00 e

08:00h (pontos azuis) (Figura 14). Como estas localizações foram estimadas no início da

manhã e consequentemente no período do dia em que os animais iniciam as suas atividades,

deduz-se que a área abrangida por estes pontos deva abrigar os sítios de pernoite de um ou

mais grupos.

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Figura 14: Localizações de grupos de sauás, obtidas pelo método Áudiotelemetria, individualizadas pelos horários em que foram estimadas.

2.3.2. Mapeamento das localizações dos grupos de sauás no Parque Municipal através do método Áudiotelemetria (Segunda fase do mapeamento)

Na segunda fase do mapeamento a área do Parque Municipal foi amostrada sob forma

de varredura, o que possibilitou verificar a presença ou ausência de grupos de sauás em áreas

que não tiveram localizações estimadas na primeira fase.

Tal como na primeira fase do mapeamento, a maior parte das localizações se

concentrou no setor norte do Parque Municipal (referência: estações de amostragem C7 à

C10). Estes resultados indicam que o setor norte do Parque tem grande importância para os

sauás, provavelmente por que há abundância de recursos e locais preferências de abrigo.

Houve apenas três localizações estimadas na parte alta do Parque (próxima à pedreira),

contudo não foram estimadas localizações entre a pedreira e o limite oeste do Parque (Figura

15). Tal como na primeira fase não foram ouvidas vocalizações espontâneas de grupos de

sauás partindo desta região do Parque. De acordo com estes resultados os sauás parecem

evitar o deslocamento e a permanência em áreas altas do Parque Municipal.

Na primeira fase do mapeamento apenas duas localizações foram estimadas no setor

sudoeste do Parque, em contrapartida, dezenas de localizações foram estimadas na segunda

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fase do mapeamento na mesma região (referência: estação de amostragem B4).

Provavelmente na primeira fase do mapeamento, os grupos de sauás que ocupam este setor do

Parque não ouviram os playbacks acionados a partir da trilha principal ou o som foi percebido

de forma tão atenuada que não significou uma ameaça para os grupos e, portanto os mesmos

não vocalizaram.

Na primeira fase do mapeamento nenhuma localização foi estimada no setor sul-

sudeste do Parque, enquanto que na segunda fase algumas localizações foram estimadas,

confirmando assim a presença de grupos de sauás nesta região do Parque (referência: estações

de amostragem D0 à D4). Como no caso anterior, provavelmente os sauás não ouviram os

playbacks acionados a partir da trilha principal ou não responderam, pois o som não

significou uma ameaça para os mesmos.

Na segunda fase do mapeamento todos os transectos foram amostrados oito vezes,

portanto todos os grupos de sauás tiveram a mesma oportunidade de responder aos playbacks.

Contudo os grupos de sauás que ocupam o setor sul-sudeste do Parque Municipal foram os

que menos responderam a técnica de playback e consequentemente poucas localizações

foram estimadas neste setor do Parque (Figura 15). Talvez trate-se de grupos recentemente

formados que ainda estejam desenvolvendo a técnica de comunicação de longa distância.

Uma constatação que apoiou esta hipótese foi que as vocalizações realizadas pelos referidos

grupos foram sempre de curta de duração.

Tanto na primeira fase como na segunda fase do mapeamento não houveram

vocalizações em respostas aos playbacks originadas do extremo leste do Parque (referência:

coordenada 7542600/0400890) (Figura 15). Portanto, conclui-se que nenhum grupo de sauá

usou esta região do Parque ao longo das amostragens. Uma evidência que reforça esta

conclusão é o fato de que durante as amostragens e em outras visitas à área de estudo não

foram ouvidas vocalizações espontâneas originadas deste setor do Parque.

Levando em consideração que o sauá Callicebus nigrifrons é uma espécie ameaçada

de extinção e que o Parque Municipal de Pouso Alegre é uma Unidade de Conservação,

espera-se que as informações obtidas por meio deste mapeamento possam ser úteis para a

definição de estratégias de manejo do Parque Municipal a fim de conservar as áreas de maior

importância ecológica para a população de sauás. Na confecção do Plano de Manejo da

referida Unidade de Conservação podem ser estabelecidos limites de visitação pública e

restrições a quaisquer formas de uso que venham causar perturbação ou degradação dos

ambientes prioritários para a conservação dos sauás.

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F

igur

a 15

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arqu

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unic

ipal

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izaç

ões e

stim

adas

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2.3.3. Estimativa da área usada pelos grupos de sauás no Parque Municipal

Levando em consideração que na segunda fase do mapeamento o Parque Municipal foi

amostrado sob forma de varredura, supõe-se que as 157 localizações foram estimadas a partir

de vocalizações de todos os grupos que residem no Parque Municipal, logo, a área abrangida

por estas localizações representa a soma das áreas de uso de todos os grupos. Esta área foi

definida como área de uso total.

A área de uso total foi estimada em 74 hectares (74 quadrículas de 100x100 m), o que

representa somente 39% da área de floresta do Parque Municipal. Em tese, podemos esperar

que a área florestada do Parque (190 ha) represente o nicho espacial fundamental para os

sauás, contudo percebe-se que apenas parte desta área foi efetivamente utilizada durante este

estudo (Figura 16).

Müller (1995) realizou um estudo de área de uso com um grupo de Callicebus

melanochir e constatou que na época seca os animais usaram uma área de 13,7 ha e na época

chuvosa uma área 16,5 ha, mas a área total ao longo de um ano foi estimada em 23,8 ha.

Heiduck (1997) acompanhando um grupo de Callicebus melanochir verificou que na

época de menor disponibilidade de alimentos (época seca) os animais freqüentam menos

manchas da floresta e permanecem mais tempo nas mesmas a fim de reduzir o seu gasto

energético com locomoção e otimizar a alimentação.

A área de uso estimada no presente estudo contou com os dados coletados na estação

seca (abril a setembro) e de acordo com os estudos mencionados acima a área utilizada pelos

animais na época chuvosa tende a ser maior. Deste modo seria necessário a continuidade das

amostragens por mais seis meses (época chuvosa) para se ter uma idéia mais realista sobre a

área de uso total utilizada pelos sauás no Parque Municipal.

A partir do mapa com o grid (Figura 16), pode-se visualizar o grau de utilização das

áreas do Parque pelos sauás. As quadrículas com maiores densidades de localizações foram o

E11 (setor sudoeste do Parque) e o J15 (setor norte do Parque). Isto quer dizer que estas duas

quadrículas representam as localidades do Parque Municipal onde há maiores chances de

obter vocalizações de sauás em resposta à técnica de playback e, consequentemente,

induzirem contatos visuais.

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F

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a 16

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2.3.4. Avaliação dos hábitats utilizados pelos sauás

A preferência por determinadas áreas em detrimento de outras pelos sauás deve estar

relacionada principalmente à disponibilidade de alimentos e basicamente no que se refere à

presença de árvores que produzem frutas com polpa (a base da alimentação dos sauás).

Além da alimentação, a estrutura vegetacional também pode influenciar a preferência

de manchas da floresta pelos sauás.

De acordo com funcionários antigos do Parque Municipal, nas décadas de 80 e 90 o

setor leste do Parque sofreu queimadas, passou por corte seletivo e outras perturbações,

tornando-se uma área com vegetação de aspecto savânico. Ao visualizar uma imagem aérea

de 1985 (Figura 17 a) pode-se constatar esta alteração e ao compará-la com uma imagem atual

(Figura 17 b) percebe-se que houve nítida regeneração da floresta. Em campo, verificou-se

que apesar da notável regeneração florestal, a vegetação em boa parte ainda encontra-se em

estágio de sucessão secundária e as árvores remanescentes são de pequeno porte e esparsas

(Figura 18). Provavelmente isto explica a inexistência de registros de sauás no extremo leste

do Parque Municipal.

Figura 17 a: Vista aérea do setor leste do Parque Municipal (PROSPEC, 1985).

Figura 17 b: Vista aérea do setor leste do Parque Municipal (GoogleEarth, 2008).

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Figura 18: Aspecto da vegetação no setor leste do Parque Municipal.

Heiduck (2002), realizou um estudo com Callicebus melanochir em uma fragmento

com três diferentes estruturas vegetacionais presentes: Floresta não alterada, Floresta com

registro de exploração seletiva e floresta em regeneração e observou que os sauás em questão,

usavam com mais frequência as áreas não alteradas.

Os sauás provavelmente evitam áreas alteradas e principalmente aquelas que

apresentam vegetação mais esparsa devido ao maior gasto de energia requerido na locomoção.

Os sauás também devem evitar áreas com vegetação mais aberta, pois aumentam os riscos de

ataques de predadores como grandes aves de rapina e felinos.

O relevo do Parque Municipal ergue-se até 1.140m, entretanto, não houve registros de

sauás além dos 1000 m de altitude (Figura 20). Segundo Auricchio (1994), as espécies de

sauás do grupo personatus preferem florestas abaixo dos 1.000m de altitude.

Ao analisar o número de localizações pelo gradiente altitudinal do Parque (entre 860 e

1000 m) percebe-se que houve gradativamente menos localizações de acordo com o aumento

das curvas de nível, evidenciando uma correlação negativa entre o número de localizações e a

altitude (R² = 0,800; p = 0,002) (Figura 19).

Contudo, não se pode afirmar que os sauás prefiram as áreas mais baixas do Parque

Municipal, pois a área disponível em cada faixa de altitude é diferente, e tende a ser menor

para maiores altitudes (Tabela 1). Portanto, o decréscimo de registros ao longo do gradiente

altitudinal pode também ser atribuído às menores áreas disponíveis por faixa de altitude e não

necessariamente à altitude.

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29

860 880 900 920 940 960 980

0

10

20

30

40

50

1000 1020

Figura 19: Relação entre o número de localizações estimadas de sauás e o gradiente altitudinal do Parque Municipal de Pouso Alegre.

Tabela 1 Número de localizações estimadas de sauás e área do

Parque Municipal entre os níveis de altitude. Altitude Área do Parque

entre cada nível (%)Número de localizações

860-880 14,2 41 880-900 12,54 23 900-920 16,24 36 920-940 16 25 940-960 11,58 12 960-980 9,75 13 980-1000 7,9 6

de 1000 a 1140 11,88 0

100 157

núm

eros

de

regi

stro

s (n

= 1

57)

altitude (m)

R² = 0,800; p = 0,002

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30

F

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Figura 21: Vista da vegetação encontrada no setor oeste do Parque (parte alta do Parque Municipal).

Ao observar a vegetação encontrada nas áreas acima de 1000 m (setor oeste do Parque)

verifica-se a presença de árvores de pequeno porte e arbustos (Figura 21). É possível que os

sauás evitem estas áreas devido a uma combinação de fatores que envolvem a estrutura da

vegetação, maior exposição a temperaturas extremas, maior exposição a ventos e maior

exposição à predadores, como grandes aves de rapina.

2.3.5. Avaliação da distância de resposta dos sauás ao playback

Na primeira fase do mapeamento (dezembro/07 a março/08) foram estimadas 97

localizações de grupos de sauás. Destas 97 localizações, 69 foram estimadas a partir de

respostas diretas ao playback, ou seja, a primeira vocalização de uma sequência de

vocalizações.

A menor distância entre uma localização estimada até o pesquisador que acionou o

playback foi de cinco metros e a maior distância foi 516 m (obs.: distância medida em linha

reta). A média das distâncias foi 176,97 ± 137,12 m. Cerca de 77% das localizações foram

estimadas até uma distância de 250 m do pesquisador que acionou o playback (Tabela 2).

Na segunda fase do mapeamento (abril a setembro/08) foram estimadas 157

localizações de grupos de sauás. Destas 157 localizações, 110 foram estimadas a partir de

respostas diretas ao playback.

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32

A menor distância entre uma localização estimada e o pesquisador que acionou o

playback foi de 10 m e a maior distância foi 780m. A média das distâncias foi 165 ± 133m.

As 110 localizações estimadas a partir de respostas diretas ao playback estão

distribuídas em uma amplitude de distâncias de 770 m (10 a 780m), entretanto, cerca de 77%

das localizações foram estimadas até uma distância de 200 m do pesquisador que acionou o

playback (Tabela 2).

Este resultado é muito similar ao encontrado na primeira fase do mapeamento

portanto, podemos dizer que de 0 a 250 m é a faixa de maior aplicabilidade do playback para

os sauás devido a maior chance de se induzir uma resposta destes primatas através de

vocalizações (Figura 22).

Estas informações podem ser úteis para direcionar a escolha do melhor distanciamento

entre os transectos, tanto quanto do distanciamento entre as estações de amostragem.

Tabela 2 Número de localizações de acordo com as distâncias com que foram estimadas.

1ª fase do mapeamento 2ª fase do mapeamento Categorias de

distâncias Número de localizações

Frequência (%)

Número de localizações

Frequência (%)

0 ┬ 50m 16 23,18 12 10,90 50 ┬ 100m 7 10,14 28 25,45 100 ┬ 150m 11 15,94 22 20,00 150 ┬ 200m 10 14,49 23 20,90 200 ┬ 250m 9 13,04 9 8,18 250 ┬ 300m 3 4,34 4 3,63 300 ┬ 350m 2 2,89 2 1,81 350 ┬ 400m 6 8,69 2 1,81 400 ┬ 450m 2 2,89 1 0,90 mais de 450m 3 4,40 7 6,42

69 100 110 100

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33

23,2%

10,1%

13,0%

4,3%2,9%

8,7%

2,9%

25,5%

20,0% 20,9%

6,4%4,4%

14,5%15,9%

0,9%1,8%1,8%3,6%

8,2%

10,9%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

0 -50

50-10

0

100-1

50

150-2

00

200-2

50

250-3

00

300-3

50

350-4

00

400-4

50

mais de 4

50

intervalos de distância

prop

orçã

o de

loca

lizaç

ões

primeira fase do mapeamentosegunda fase do mapeamento

Figura 22: Comparação entre as proporções de localizações à diversas distâncias estimadas na primeira fase e segunda fase do mapeamento.

2.3.6. Avaliação da frequência de resposta dos sauás ao playback ao longo do dia e entre as estações Na primeira fase de amostragem do mapeamento observou-se que das 07:00 as 08:00

h e das 08:00 as 09:00 h foram os horários em que se obteve as maiores frequências de

respostas aos playbacks. Das 09:00 as 11:00 h observou-se uma queda na frequência de

respostas. Um aumento na frequência de respostas foi verificado a partir das 11:00 h

atingindo um pico entre as 12:00 e 13:00 h. Observou-se uma queda súbita na frequência de

respostas entre as 12:00-13:00 h e 13:00 -14:00 h e uma queda gradativa a partir das 14:00 h,

que chegou a zero entre as 16:00 e 17:00 h (Figura 23).

Na segunda fase de amostragem do mapeamento a frequência de respostas aos

playbacks ao longo do dia apresentou um padrão próximo aquele observado na primeira fase

aonde verificou-se um primeiro pico com maiores frequências durante o início da manhã, na

sequência uma queda e um novo pico após a 12:00 h. Após as 13:00 h verificou-se uma nova

queda e a ausência de respostas a partir das 16:00 h (Figura 23).

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34

81,0% 81,8%

60,7%

45,5%

57,7%65,4%

22,7%17,9%

8,1%

0,0%

53,3%

39,1%

24,0%

15,7% 13,0%

36,5%

22,2% 19,4%

5,9%0,0%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

07:00

- 08:0

0

08:00

- 09:0

0

09:00

- 10:0

0

10:00

- 11:0

0

11:00

- 12:0

0

12:00

- 13:0

0

13:00

- 14:0

0

14:00

- 15:0

0

15:00

- 16:0

0

16:00

- 17:0

0

horários de amostragem

frequ

ênci

a re

lativ

a de

resp

osta

s ao

pla

y-ba

ckprimeira fase do mapeamento segunda fase do mapeamento

Figura 23: Frequência relativa de resposta vocal dos sauás ao playback ao longo do dia nas duas fases do mapeamento no Parque Municipal de Pouso Alegre.

Ao comparar o número de playbacks acionados e o número de respostas obtidas nas

duas fases do mapeamento verificou-se que a proporção de resposta positiva ao playback na

primeira fase e na segunda fase foram estatisticamente diferentes (X² = 16,63; gl = 1; p =

0,000) (Tabela 3).

Contudo, ao comparar as frequências de resposta separadas em intervalos de 1 hora

obtidas nas duas fases de amostragem, observa-se diferenças apenas no período matutino

(07:00 ┬ 13:00 h), enquanto que no período vespertino (13:00 ┬ 17:00 h) as frequências

de resposta foram proporcionalmente semelhantes (Figura 23).

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35

Tabela 3 P roporções de resposta positiva dos sauás ao playback nas duas fases do mapeamento

1ª fase do mapeamento 2ª fase do mapeamento Horários de amostragem

Número de playbacks

Respostas positivas

Número de playbacks

Respostas positivas

07:00 ┬ 08:00 21 17 30 16 08:00 ┬ 09:00 22 18 64 25 09:00 ┬ 10:00 28 17 50 12 10:00 ┬ 11:00 11 5 51 8 11:00 ┬ 12:00 26 15 54 7 12:00 ┬ 13:00 26 17 52 19 13:00 ┬ 14:00 22 5 36 8 14:00 ┬ 15:00 28 5 36 7 15:00 ┬ 16:00 37 3 17 1 16:00 ┬ 17:00 35 0 28 0

total 256 102 418 103

Durante as primeiras horas da manhã (07:00 as 09:00 h) os sauás são mais ativos e

dedicam mais tempo em interações sociais (NERI, 1997), consequentemente, mais tempo

deve ser dedicado à realização de vocalizações de longa distância como forma de

comunicação inter-grupal, o que torna os animais mais propensos a responder aos playbacks,

explicando assim o maior número de respostas obtidas neste período. A partir das 09:00 h

talvez os animais foquem mais a atenção em outras atividades como busca por alimento e

descanso e por isso respondem menos as vocalizações artificiais. O aumento no número de

respostas entre as 12:00 h e 13:00 h talvez esteja relacionado a um segundo pico de maior

atividade dos animais e portanto tornam-se mais dispostos a responder aos playbacks. Já a

partir das 13:00 h nota-se uma gradativa diminuição no número de respostas, provavelmente

este é o período do dia em que os animais dedicam mais tempo ao descanso e, desta forma

evitam gastos desnecessários de energia no período mais quente do dia. É possível que a

inexistência de vocalizações em resposta aos playbacks das 16:00 h em diante, se deva ao fato

dos animais estarem se deslocando até os sítios de pernoite.

Através desta análise foi possível identificar os horários que os sauás melhor

respondem à técnica de playback e os resultados obtidos poderão ser úteis na definição de

protocolos de amostragem para o uso do método Áudiotelemetria.

Proporcionalmente houve um número menor de respostas ao playback na segunda

fase do mapeamento (apenas no período matutino). Duas hipóteses podem ser sugeridas para

tentar explicar esta diminuição.

Primeiro, a primeira fase do mapeamento foi conduzida na estação chuvosa (dezembro

a março) e a segunda fase foi conduzida na estação seca (abril a setembro). É possível que os

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sauás vocalizem menos durante a estação seca como uma estratégia para reduzir o gasto

energético. Durante a época chuvosa há maior disponibilidade de recursos, com isso a

preocupação com o gasto energético é menor e a preocupação se volta para o acesso e defesa

dos recursos disponíveis fazendo com que os sauás usem com maior frequência vocalizações

de longa distância.

Segundo, é possível que com o tempo os sauás consigam perceber diferenças sutis

entre um playback e uma vocalização real e a partir daí passam a responder com menor

frequência os playbacks.

Contudo, ao comparar as frequências de resposta obtidas no período vespertino nas

duas fases do mapeamento, nenhuma das duas hipóteses torna-se plausível.

Portanto, para afirmar ou refutar a hipótese de que a sazonalidade influencie na

frequência com que os sauás respondem a técnica de playback se faz necessário a

continuidade das amostragens no Parque Municipal de Pouso Alegre até o final da próxima

estação chuvosa (março de 2009).

2.3.7. Limitações na coleta de dados

Na segunda fase do mapeamento (de abril a setembro de 2008) foram acionados 542

playbacks e 290 vocalizações foram registradas em decorrência dos estímulos. Das 290

vocalizações apenas 157, ou seja, 54,13% foram convertidas em localizações.

As outras 133 vocalizações não puderam ser convertidas em localizações por conta de

algumas limitações. Estas limitações foram devidas basicamente a quatro motivos.

Primeiro, um dos pesquisadores não ouviu a vocalização ou não conseguiu anotar os

dados em tempo no formulário. Das 133 vocalizações não trianguladas, cerca de 70 (52,63%)

foram devidas a este motivo.

Aspectos físicos do ambiente como a topografia e a vegetação interferem diretamente

no como e quanto um som pode se propagar no ambiente e fazer com que um ou outro

pesquisador não ouça uma determinada vocalização. Por exemplo: um pesquisador poderá

não ouvir uma vocalização se o mesmo estiver posicionado em uma grota ou depressão. Tais

acidentes geográficos podem proporcionar uma área de sombra acústica e dificultar a

percepção de estímulos sonoros por parte dos pesquisadores (ver mais detalhes no teste de

acurácia das triangulações). Durante as amostragens, houve ocasiões em que vários grupos de

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sauás vocalizaram ao mesmo tempo. Isto dificultou a estimativa dos azimutes, pois as

bússolas levavam em média 20 segundos para estabilizar na linha de fé e as vezes os sauás

cessavam suas vocalizações antes que os pesquisadores conseguissem estimar os azimutes e

anotar no formulário. Para isto um tripé fotográfico foi modificado para servir de apoio para

as bússolas, o que reduziu o tempo de leitura de 20 segundos para um segundo.

Segundo, erros na anotação do horário de resposta ou do azimute causaram a perda de

45 triangulações (33,83% do total). Ao serem plotados no mapa os azimutes ficavam paralelos

ou divergentes (Figura 24 a, 24 b).

Neste caso, tais localizações foram perdidas por displicência no momento de fazer a

leitura da bússola e do relógio ou no momento de anotar estas informações no formulário de

campo.

Terceiro, erros de estimativa provocaram a perda de 13 localizações (9,77% do total).

Ao serem plotados no mapa, os azimutes se cruzaram fora do fragmento florestal (Figura 24

c).

Presumivelmente, todas as localizações estimadas têm erros associados e estes erros

são impossíveis de serem medidos ou previstos. Contudo, obviamente as localizações

trianguladas fora do fragmento florestal foram descartadas, pois a matriz de entorno é

pastagem antrópica. Provavelmente as localizações estimadas fora do fragmento se deram,

porque os grupos deviam estar vocalizando próximos à borda da floresta e os pesquisadores

estavam em uma posição pouco favorável para realizar uma boa estimativa.

Por último, cinco triangulações (3,75% do total) foram perdidas por que um ou ambos

pesquisadores estimaram azimutes na mesma orientação angular do transecto (norte-sul), isto

quer dizer que os sauás estavam vocalizando próximo ou logo acima do transecto. Nestas

ocasiões a localizações dos grupos foram impossíveis de serem determinadas (Figura 24 d, 24

e).

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38

A B

C

D E Figura 24 a: Esquema mostrando azimutes paralelos. b: Esquema mostrando azimutes divergentes. c: Esquema mostrando azimutes convergentes, porém triangulando fora do fragmento florestal. d: Esquema mostrando um grupo posicionado no transecto e a frente dos pesquisadores. e: Esquema mostrando um grupo posicionado no transecto e entre os pesquisadores.

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2.3.8. Aplicabilidade do método

Como foi visto, para conduzir um trabalho de mapeamento de grupos de sauás através

do método Áudiotelemetria é necessário realizar uma amostragem em forma de varredura, de

modo que toda a área de estudo seja amostrada e que todos os grupos de sauás tenham a

mesma chance de serem detectados.

Usando as informações levantadas no trabalho realizado no Parque Municipal de

Pouso Alegre pode-se calcular uma área limite em que este método pode ser empregado.

Verificou-se que o período do dia em que os sauás estão mais propensos a responder a

técnica de playback é das 07:00 as 13:00 h, sendo possível 6 horas de amostragem com uma

boa frequência de resposta.

Verificou-se também que a partir do ponto de acionamento do megafone até um raio

de 200-250 m foi a área em que houve o maior número de vocalizações em resposta ao

playback (77% do total).

Uma estimativa realizada em campo, demonstrou que o tempo médio levado entre

uma sequência amostral e outra (considerando uma distância de 200 m entre as estações de

amostragem) é de aproximadamente 20 minutos.

Considerando um raio de “atuação” do playback de 200 m, os transectos poderiam ser

alocados de 400 em 400 m e as estações de amostragem de 200 em 200 m. Este

distanciamento parece garantir uma boa eficiência na detecção e uma cobertura completa e

homogênea da área compreendida entre os transectos (Figura 25).

Considerando um esforço amostral diário de seis horas e um tempo médio de 20

minutos entre uma sequência amostral e outra, um transecto de 4,4 km ou dois transectos de

2,2 km poderiam ser amostrados em um dia cobrindo uma área de 1,76 km² (Figura 25).

Sob estas circunstâncias, para realizar duas amostragens completas em um mês em

uma área de 700 hectares (7 km²) seriam necessários oito dias de campo.

Pode-se dizer que, estudos que envolvam o mapeamento de grupos de sauás por meio

do método Áudiotelemetria são mais viáveis em áreas de até 7 km², haja visto a demanda de

recursos necessários para suprir as expedições de campo e também pelo esforço amostral

necessário. Uma possibilidade para amostrar áreas maiores, seria a formação de duas ou mais

equipes, mas ainda assim implicaria em mais gastos com equipamentos e suprimentos para os

trabalhos de campo.

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40

Fig

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25: E

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.

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41

2.4. Conclusões Conclui-se que:

o método Áudiotelemetria foi útil para mapear as localizações dos grupos de sauás no

Parque Municipal de Pouso Alegre;

os sauás utilizaram uma área de aproximadamente 74 ha no Parque Municipal de

Pouso Alegre;

os sauás não utilizaram as áreas mais altas do Parque Municipal (acima de 1.000m) e

nem áreas alteradas (setor oeste do Parque);

os sauás respondem com mais frequência à técnica de playback até uma distância de

200-250m;

os sauás respondem com mais frequência à técnica de playback principalmente nas

primeiras horas da manhã (07:00 as 09:00 h) e por volta das 12:00 h.

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3. TESTE DE ACURÁCIA DAS TRIANGULAÇÕES 3.1. Introdução

A técnica de triangulação por azimutes é um procedimento largamente utilizado no

método Rádiotelemetria para estimar a posição dos animais que estão sendo monitorados. De

acordo com o número de pontos utilizados para a triangulação, a diferença angular entre os

azimutes medidos e o tempo transcorrido entre as estimativas realizadas em cada ponto erros

podem ser gerados e diminuir consideravelmente a acurácia das triangulações. (JACOB &

RUDRAN, 2000).

Alguns dos programas de computador que fazem as estimativas de áreas de uso já

calculam os erros em torno das estimativas de localização (JACOB & RUDRAN, 2000).

Portanto, pouco interesse tem sido voltado para desenvolver experimentos que avaliem a

acurácia desta técnica de triangulação.

Com o advento da bioacústica e o avanço tecnológico, modernas técnicas de

triangulação têm sido desenvolvidas com base no sistema de comunicação sonora dos animais.

Mennill et al., (2006) desenvolveram um sistema de localização acústico e o testaram em uma

espécie de pássaro (Thryothorus rufalbus) em uma floresta tropical na Costa Rica. O método

consiste na triangulação da posição dos animais a partir do tempo que o som emitido pelos

mesmos leva para chegar até microfones que estão posicionados na área de estudo. Um

experimento simulado pelos autores mostrou que este sistema de localização proporciona uma

acurácia melhor que 3 metros.

Experimentos como estes são úteis, pois mostram a confiabilidade do método e

servem de comparativo no momento da escolha do método mais apropriado para um

determinado objetivo.

O método Áudiotelemetria é uma técnica desenvolvida para estimar a posição de

grupos de sauás onde os azimutes são estimados com base na percepção auditiva dos

pesquisadores. Diante disto se fez necessário a realização de um experimento para avaliar a

acurácia das estimativas e consequentemente conhecer a confiabilidade do método.

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43

3.1.1. Objetivos

Realizar um teste experimental com a finalidade de:

avaliar a acurácia média das triangulações realizadas pelos pesquisadores mediante o

método Áudiotelemetria a uma distância de 50, 100 e 200 m da origem da fonte

sonora (locais onde se acionaram os playbacks);

avaliar qual o número de trianguladores (2 ou 3) e o distanciamento entre estações de

amostragem (de 100 em 100 m ou de 200 em 200 m) que proporciona melhor acurácia

nas triangulações mediante o método Áudiotelemetria.

3.2. Materiais e métodos

O teste de acurácia foi realizado por meio de uma simulação do método de

triangulação por Áudiotelemetria onde um pesquisador posicionado em pontos

georreferenciados na área de estudos acionou playbacks (vocalizações de longa distância de

sauás), enquanto outros pesquisadores posicionados em pontos distintos, também

georreferenciados, estimavam a origem da fonte sonora (playback), como se estivessem

triangulando a localização de um grupo de sauás.

O teste de acurácia das triangulações foi realizado no Parque Municipal de Pouso

Alegre a partir de um esquema de pontos implantados no transecto C. O Transecto C está

implantado no sentido norte/sul e compreendido entre as coordenadas 7542000 e 7543170.

Foram definidos quatro pontos em um segmento de 200 m no transecto C (pontos 2, 4,

5 e 6). Outros dois pontos foram definidos a 100 m perpendicular do ponto 2, um à esquerda

(ponto 1) e outro à direita (ponto 3) (Figura 26 a). Os pontos foram definidos com auxílio de

um GPS, o qual apresentou uma precisão média de 10 m, variando de 8 a 12 m. A altitude dos

pontos variou de 862 a 895 m (Figura 26 c).

As estimativas de localização foram realizadas a partir dos pontos 1, 2 e 3 os quais

foram denominados de pontos de triangulação. O segmento formado pelos pontos 1, 2 e 3

foi denominado de eixo de triangulação (Figura 26 a).

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Os playbacks foram acionados a partir dos pontos 4, 5 e 6 os quais foram denominados

de pontos de acionamento. O segmento formado pelos pontos 4, 5 e 6 foi denominado de

eixo de acionamento. As distâncias dos pontos 4, 5 e 6 ao eixo de triangulação foram de 50,

100 e 200 m respectivamente (Figura 26 a). Não foram definidos pontos de acionamento além

dos 200 m, pois os rádiocomunicadores usados (amadores), operavam com muita interferência

a maiores distâncias.

Os ângulos formados a partir dos pontos de acionamento (4, 5 e 6) até as extremidades

do eixo de triangulação foram de 127º, 90º e 53º respectivamente, os quais foram

denominados de ângulos de triangulação (Figura 26 b).

Para realizar o teste de acurácia, o volume do megafone foi regulado de modo a emitir

o som com uma intensidade próxima à intensidade com que os sauás emitem suas

vocalizações com o intuito de proporcionar a mesma sensação acústica aos pesquisadores.

Quatro pesquisadores foram necessários para realizar o teste. Três pesquisadores se

incumbiram de estimar os azimutes e um quarto pesquisador acionava os playbacks. Os

pesquisadores foram chamados de triangulador A, triangulador B, triangulador C e

triangulador D.

Nas três primeiras triangulações, o triangulador D acionou o playback nos pontos 6, 5

e 4, enquanto os trianguladores 1, 2, e 3 se mantiveram posicionados nos pontos 1, 2 e 3

aonde estimaram os azimutes. Na segunda sequência de triangulações, o triangulador D

passou para o ponto 1, o triangulador A passou para o ponto 2, o triangulador B passou o

ponto 3 e o triangulador C realizou o acionamento dos playbacks nos pontos 4, 5 e 6. As

triangulações seguintes foram realizadas respeitando a mesma sequência de troca de

posicionamento, até que os quatro trianguladores tivessem estimado azimutes nos três pontos

de triangulação. Para isto foram necessárias 12 triangulações em quatro sequências (Tabela

4). Este teste foi repetido duas vezes, um em cada dia de campo, totalizando 24 triangulações.

O teste foi conduzido no período vespertino, pois como verificado durante o

mapeamento, os sauás respondem muito pouco ao playback durante a tarde e desta forma o

teste poderia ser executado com menor chance de intervenções dos animais, o que poderia

confundir os pesquisadores.

As localizações estimadas por dois trianguladores foram representadas pelos pontos de

interseção entre os azimutes estimados. Já as localizações estimadas por três trianguladores

foram representadas pelo ponto médio calculado a partir dos 3 vértices de cruzamento dos

azimutes (Figura 27 a).

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45

A B

C

Figura 26 a: Distâncias entre os pontos de triangulação e entre os pontos de acionamento. b: Ângulos de triangulação. c): Curvas de nível da região onde se realizou o teste e a altitude dos pontos de acionamento e de triangulação. (escala 1:4.000)

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46

A B

Figura 27 a: Localizações estimadas por dois e três trianguladores b: Acurácia das triangulações.

Tabela 4: Formulário utilizado para anotar os azimutes

Posicionamento dos trianguladores e azimutes estimados

Pontos onde se acionaram os play-

backs

Seqüência de triangulações

P1 P2 P3 P4 P5 P6 tA tB tC tD 1

2 tA tB tC tD 1ª

tA tB tC tD 3 tD tA tB tC 4

5 tD tA tB tC 2ª

tA tB tC tD 6 tC tD tA tB 7

8 tC tD tA tB 3ª

tA tB tC tD 9 tB tC tD tA 10

11 tB tC tD tA 4ª

tB TC tD tA 12

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A acurácia de uma triangulação foi a distância linear entre a localização estimada

pelos trianguladores e o ponto real onde se acionou o playback (Figura 27 b). Foi calculado a

média aritmética e o desvio padrão de todas as localizações estimadas para cada ponto de

acionamento.

Os azimutes estimados a partir dos três pontos de triangulação foram combinados de

modo a obter estimativas de localização a partir de três trianguladores distados de 100 em 100

m (p1-p2-p3), de dois trianguladores distados a 100 m (p1-p2 e p2-p3) e de 2 trianguladores

distados a 200 m (p1-p3).

A acurácia média das localizações estimadas por três e dois trianguladores (nas duas

combinações) para os três pontos de acionamento foram comparadas a partir do teste ANOVA.

3.3. Resultados e discussão Ao comparar a acurácia média das localizações estimadas para os três pontos de

acionamento de playback (a 50, 100 e 200 m) verificou-se que quanto maior a distância do

ponto de acionamento ao eixo de triangulação, menor foi a acurácia das triangulações,

independentemente do número de trianguladores e do distanciamento entre os mesmos.

Ao comparar a acurácia média das localizações estimadas por dois trianguladores

(distados a 100m e a 200 m) e por três trianguladores (distados de 100 em 100 m) para o

ponto de acionamento 4 (a 50 m do eixo de triangulação) verificou-se que a acurácia média

obtida através de três trianguladores foi ligeiramente melhor do que a acurácia média obtida

através de dois trianguladores (distados a 100 m e distados a 200 m), contudo as diferenças

foram consideradas devido ao acaso (Fcalc = 1,05 < F 0,05;2;26 = 4,27; p = 0,362), (Figuras 37a,

b,c). As localizações estimadas a partir de 3 trianguladores foram as mais precisas,

apresentando um desvio padrão de 2,95 m (Figura 28 a).

Ao comparar a acurácia média das localizações estimadas por dois trianguladores e

por três trianguladores para o ponto 5 (a 100 m do eixo de triangulação) verificou-se que a

acurácia média obtida através de três trianguladores também foi melhor do que a acurácia

média obtida através de dois trianguladores, mas as diferenças também não foram

significativas (Fcalc = 2,28 < F0,05;2;29 = 4,20; p = 0,119). As localizações estimadas a partir de

dois trianguladores (distados a 200 m) foram as mais precisas, apresentando um desvio padrão

de apenas 1,83 m (Figura 28 c).

Ao comparar a acurácia média das localizações estimadas por dois trianguladores e

por três trianguladores para o ponto 6 (a 200 m do eixo de triangulação), verificou-se que

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48

houve diferença significativa (Fcalc = 4,42 > F0,05;2;23 = 4,35; p = 0,023). Em média as

localizações estimadas a partir de 2 trianguladores distados a 100 m foram estatisticamente

menos acuradas. As localizações estimadas a partir de dois trianguladores distados a 200 m

foram as mais precisas, apresentando um desvio padrão de 10,67 m (Figura 28 c).

De acordo com os resultados obtidos através deste teste, como era esperado, quanto

mais distantes os pesquisadores estejam dos locais onde os sauás estejam vocalizando, mais

atenuado o som será percebido e consequentemente menos acuradas serão as estimativas de

localização. Isto porque na propagação do som no ar livre ocorre uma dispersão da energia

sonora através do espaço, pois a esfera sonora se expande, mas a energia contida no

movimento vibratório se mantém a mesma acarretando numa atenuação da intensidade do

som (FERNANDES, 2005). Ao considerar a floresta como obstáculo o som terá uma

atenuação ainda maior, pois ao incidir através da vegetação o som será gradativamente

absorvido.

As localizações estimadas para o ponto 6 (a 200 m) trianguladas a partir dos pontos 1 e

2 e dos pontos 2 e 3 foram em média menos acuradas do que as localizações estimadas a

partir dos pontos 1, 2 e 3 e dos pontos 1 e 3. Esta diferença se deve ao fato de que o ângulo

formado a partir de qualquer ponto de acionamento até dois pontos de triangulação distados

de 100 em 100 m formará um ângulo de triangulação 50% mais fechado (agudo) do que o

ângulo de triangulação formado por 3 pontos de triangulação distados de 100 em 100 m ou 2

pontos de triangulação distados de 200 em 200 m.

Considerando erros de ± 5° para cada azimute estimado, triangulações realizadas a

partir dos pontos 1 e 2 estimando a posição do ponto de acionamento 6 (ângulo de

triangulação = 27°) teriam acurácias que poderiam variar de 20 a 120 m, dependendo da

combinação dos erros de estimativa, representados pelos vértices do polígono de erro (Figura

29 a).

Considerando o mesmo erro de estimativa para os azimutes (± 5°), triangulações

realizadas a partir dos pontos 1 e 3 estimando a posição do mesmo ponto de acionamento

(ângulo de triangulação = 53°) teriam acurácias que poderiam variar de 22 a 49 m,

dependendo da combinação dos erros de estimativa, representados pelos vértices do polígono

de erro (Figura 29 b).

Portanto quanto mais agudo for um ângulo de triangulação, ou seja, o ângulo formado

a partir da posição real de um grupo que respondeu ao playback aos pontos de triangulação,

menos acuradas poderão ser as estimativas de localização.

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A B

C

Figura 28 a: Localizações estimadas a partir dos pontos 1, 2 e 3. b:Localizações estimadas a partir dos pontos 1 e 2 e dos pontos 2 e 3. c: Localizações estimadas a partir dos pontos 1 e 3.

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A B

Figura 29 a: Possíveis estimativas de localização a partir de 2 pontos de triangulação (distados a 100 m), assumindo um erro de ± 5°. b: Possíveis estimativas de localização a partir de 2 pontos de triangulação (distados a 200 m), assumindo um erro de ± 5°.

3.3.1. Fontes de erro

Neste teste de acurácia foram realizadas estimativas a base de um experimento

controlado e foram obtidos médias, desvios e comparações estatísticas, o que forneceu uma

noção sobre a acurácia de uma triangulação real considerando as mesmas condições do teste,

entretanto, se o mesmo teste fosse desenvolvido em outra parte do Parque Municipal,

provavelmente um resultado diferente seria obtido. Isto por que as interações sonoras

aconteceriam de acordo com as características físicas de cada local, influenciando a percepção

dos sons pelos trianguladores e consequentemente influenciando a acurácia das estimativas de

localização.

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Não obstante a incapacidade de estimar ou prever o erro de uma estimativa de

localização pode-se entender os fatores que os provocam. Baseando-se no estudo da física do

som espera-se que características físicas do ambiente como a densidade da vegetação,

topografia, dinâmica dos ventos e mudança de temperatura do ar influenciem a propagação do

som em uma floresta.

A vegetação além de causar atenuação na intensidade do som pode causar mudança

na directividade do som. Quanto mais densa for a vegetação maior será a absorção do som

através dos obstáculos e menor será a distância que o som irá se propagar. A vegetação pode

também mudar a direção de propagação do som por reflexão. A quantidade de som refletido

dependerá da dureza e densidade dos obstáculos (FERNANDES, 2005). Quanto mais

refletido o som chegar ao pesquisador pior será a acurácia de sua estimativa de localização.

Um som também pode ter a sua directividade afetada por refração. Um som pode ser

refracionado quando ao se propagar, passar de um meio com uma determinada temperatura

para outro com uma temperatura diferente (FERNANDES, 2005).

O vento pode aumentar a velocidade de propagação de um som se estiver na mesma

direção e pode retardar a velocidade se estiver na direção oposta e em ambas as situações

mudar a direção de propagação do som por refração (FERNANDES, 2005). Além disso, o

nível de ruídos provocado pela movimentação da vegetação em decorrência de uma corrente

de vento pode atrapalhar a percepção de sons por parte dos pesquisadores e consequentemente

prejudicar a acurácia de uma localização por mascaramento.

A topografia por sua vez, pode impedir a propagação do som por absorção e mudar a

direção de propagação do som por reflexão e difração. Sons de baixa frequência como as

vocalizações de sauás tem a capacidade de difracionar ou contornar determinado obstáculos,

porém grandes elevações funcionam como barreira acústica bloqueando totalmente a

passagem de sons. Ao difracionar, o som pode mudar a sua direção de propagação e

prejudicar a acurácia de uma estimativa de localização. Em contrapartida, as elevações podem

favorecer a propagação do som. Se o megafone for acionado a partir de uma elevação, o som

se propagará com menor dificuldade a maiores distâncias, estimulando a resposta de um

maior número de grupos e também a estimativa de localização realizada a partir de uma

elevação poderá ser mais acurada.

Um pesquisador perceberá com pouca intensidade ou poderá até não ouvir uma

vocalização se o mesmo estiver posicionado em uma grota ou depressão. Tais acidentes

geográficos podem proporcionar uma área de sombra acústica e dificultar a percepção de

estímulos sonoros por parte dos pesquisadores.

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Outros fatores como acuidade acústica e saúde auditiva dos pesquisadores também

podem influenciar negativamente na acurácia das triangulações.

De modo geral todo ser humano nasce com os mesmos atributos auditivos. Contudo, a

acuidade acústica pode diferir em indivíduos adultos devido a idade, tempo de exposição a

níveis altos de ruídos e patologias. Um pesquisador também terá dificuldade de ouvir

vocalizações caso esteja com gripe, resfriados ou infecções de ouvido.

3.3.1.1. Erro do GPS

Neste trabalho os locais das estações de amostragem e os pontos definidos para o teste

de acurácia foram georreferenciados a partir de um GPS comum.

A precisão do sistema de localização do GPS é afetada principalmente pela reflexão e

ou bloqueio dos sinais dos satélites, ocasionado pela vegetação e pela topografia. Na área de

estudos a precisão do GPS variou de 8 a 20m. Portanto todas as localizações estimadas a

partir dos pontos georreferenciados incorporaram os erros do GPS.

Os erros de georreferenciamento poderiam ter sido minimizados usando um DGPS. O

DGPS ou GPS Diferencial é uma técnica usada para melhorar a precisão da localização do

receptor pelo processamento contínuo de correções dos sinais que são transmitidos em

frequência modulada ou via satélite e são disponibilizados através de serviços de subscrição

taxados ou pela aquisição ou locação de um receptor DGPS. O DGPS permite uma precisão

na localização de 1 a 5m (GORGULHO, 2001).

3.3.1.2. Erro da bússola

A acurácia das triangulações pode ser seriamente afetada se alguns cuidados não

forem observados sobre as bússolas magnéticas.

Primeiramente as bússolas precisam ser aferidas e se necessário serem calibradas. As

bússolas usadas neste trabalho foram aferidas no Aeroclube de Bragança Paulista - SP, com o

auxílio de uma bússola magna de precisão (Figuras 30).

As bússolas se orientam pelo magnetismo terrestre, portanto indicam direções a partir

de um norte magnético. Os mapas foram trabalhados em uma orientação geográfica, ou seja, a

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partir de um norte geográfico ou verdadeiro, por isso foi necessário considerar a declinação

magnética, que é a diferença angular entre o norte magnético e o norte geográfico. Então, para

todo azimute projetado no mapa, foi subtraído a declinação magnética, que para a região de

Pouso Alegre em 2008 é de aproximadamente 20º para oeste (IBGE, 1982).

Caso a declinação magnética não fosse considerada, seria obtido um desvio linear de

aproximadamente 35 m para cada 100 m de distância entre o pesquisador que acionou o

playback e o ponto de triangulação.

Neste trabalho os azimutes foram anotados em um formulário de campo e a declinação

magnética só foi subtraída no momento de fazer as plotagens no mapa. Atualmente existem

bússolas digitais que podem ser previamente ajustadas de modo a oferecer em campo os

azimutes já com a devida correção de declinação magnética.

As bússolas podem ser influenciadas pelo campo eletromagnético gerado por metais

ferrosos e aparelhos eletrônicos e gerar um desvio de bússola. Este desvio é expresso por um

valor angular para leste ou oeste, a partir da direção do norte magnético à direção do norte

apontado pela bússola, chamado de norte da bússola (ROOS, 2007).

Neste trabalho as bússolas foram usadas apoiadas manualmente ou apoiadas sobre as

pranchetas dos formulários. Ao estimar os azimutes, procurou-se manter os

rádiocomunicadores e telefones celulares a pelo menos um metro de distância das bússolas e

foram usadas pranchetas com prendedores de plástico.

Figura 30: Bússola magna ao lado da bússola usada no presente trabalho.

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As bússolas também foram usadas apoiadas sobre tripés fotográficos modificados.

Para isto a base de encaixe da bússola no tripé foi confeccionada com metais não-ferrosos

(alumínio e latão). A bússola montada no tripé foi testada no aeroclube de Bragança Paulista

– SP, onde verificou-se que a estrutura do tripé não ocasionou desvio na bússola.

A inobservância destas precauções poderia causar desvios na bússola e afetar

consideravelmente as estimativas das localizações dos sauás.

3.4. Conclusões Conclui-se que:

que quanto mais distantes os pesquisadores estejam dos locais onde os sauás estejam

vocalizando menos acuradas serão as estimativas de localização;

em média as estimativas de localização realizadas por dois trianguladores (distados a

200 m) e três trianguladores (distados de 100 em 100 m) foram igualmente acuradas

para todos os pontos de acionamento;

em média as estimativas de localização realizadas por dois trianguladores (distados a

200 m) e três trianguladores (distados de 100 em 100 m) foram mais acuradas do que

as estimativas de localização realizadas por dois trianguladores (distados a 100 m)

somente para o ponto de acionamento localizado a 200 m;

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4. A EFICIÊNCIA DOS MÉTODOS ÁUDIOTELEMETRIA E DISTANCE SAMPLING PARA LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS DE SAUÁS Callicebus nigrifrons 4.1. Introdução

Um dos temas centrais da ecologia é determinar as causas da distribuição e da

abundância dos organismos (KREBS, 1985).

O conhecimento adequado sobre o tamanho e a ocorrência das populações é essencial

para planejar ações de conservação de uma espécie (BLAKE & HEDGES, 2004).

Através de levantamentos populacionais pode-se avaliar o status de conservação e

analisar a viabilidade populacional de uma espécie, além de disponibilizar informações para o

manejo da mesma.

Entre os diversos métodos conhecidos, o Distance Sampling (Amostragem de

Distâncias em Transectos Lineares) é o mais utilizado em estimativas populacionais de

primatas em florestas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1981).

Recentemente vários pesquisadores vem tentando adaptar o método Distance

Sampling à técnica de playback, a fim de otimizar a coleta de dados em estimativas

populacionais de primatas (MENDES, 1993; PINTO, 1994; KIERULF & RYLANDS, 2003).

Junior (2005), estimou o tamanho populacional de micos-leões Leontopithecus rosalia

adaptando a técnica de playback à transectos lineares em faixa (largura fixa do transecto)

obtendo bons resultados.

Martins (2005) inovou, propondo a utilização da técnica de playback associada ao

método de amostragem em transecto de ponto para estimar tamanhos populacionais de

macacos-prego Cebus spp. Segundo o autor a vantagem do transecto de ponto é que as

distâncias conhecidas dos pontos podem ser mapeadas e, além disso, apenas a distância do

observador ao animal é requerida, diferentemente do transecto linear que é necessário medir a

distância perpendicular do animal à trilha.

É evidente a preocupação dos pesquisadores em desenvolver métodos e técnicas que

ofereçam dados mais precisos e acurados, contudo os levantamentos baseados em estimativas

podem levar a resultados tendenciosos, às vezes subestimando ou superestimando uma

população.

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Censos ou contagens absolutas são impraticáveis em grandes áreas, entretanto, podem

ser viáveis e mais aconselháveis do que estimativas populacionais em pequenos fragmentos.

Contudo, se faz necessário o desenvolvimento de métodos capazes de possibilitar a contagem

dos indivíduos priorizando técnicas não invasivas como o playback.

4.1.1. Objetivos

realizar o recenseamento de sauás Callicebus nigrifrons através do método

Áudiotelemetria no Parque Municipal de Pouso Alegre;

realizar estimativa populacional de sauás Callicebus nigrifrons por meio de

amostragem de distâncias em transecto linear (Distance Sampling) no Parque

Municipal de Pouso Alegre;

comparar os resultados e a logística envolvidos nos levantamentos populacionais

realizados através dos métodos Distance Sampling e Áudiotelemetria;

4.2. Materiais e Métodos

4.2.1. Recenseamento através das informações obtidas pelo método Áudiotelemetria

Entre os meses de abril e setembro de 2008 foi realizado o mapeamento das

localizações dos grupos de sauás no Parque municipal de Pouso Alegre através do método

Áudiotelemetria.

As localizações dos grupos de sauás foram realizadas quando dois pesquisadores

localizados em pontos distintos de um transecto estimavam simultaneamente azimutes a partir

das direções de onde se originavam as vocalizações de grupos de sauás em resposta ao

acionamento de playbacks.

Alguns critérios foram definidos e usados para tentar individualizar as localizações

estimadas e consequentemente prever o número de grupos que vocalizaram em resposta aos

playbacks.

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1º - localizações estimadas em um intervalo de resposta de < 2 minutos originadas de

direções distintas representam grupos distintos (Figura 31 a);

2º - localizações estimadas em sequência partindo de direções similares indicam a

movimentação de um grupo (Figura 31 b);

3º - Em amostras independentes (em dias diferentes), localizações estimadas próximas

a grupos de pontos já individualizados, tendem a representar o mesmo grupo (Figura 31 c);

4º - Localizações estimadas associadas a avistamentos reincidentes diminuem a chance

de erro em uma combinação de localizações em amostras independentes (Figura 31 d);

5º - as localizações que não se enquadram nos 4 primeiros critérios não foram

agrupadas às outras (Figura 31 e);

A B C

Figura 31 a: Três localizações trianguladas a partir das estações de amostragem A1 e A2 originadas de direções distintas; b: As posições 1, 2 e 3 foram trianguladas a partir das estações de amostragem A1 e A2. Na sequências posições 4, 5 e 6 foram trianguladas a partir da A2 e A3 e as posições 7, 8 e 9 foram trianguladas a partir da A3 e A4. Devido a proximidade das localizações e o intervalo entre uma sequência amostral e outra (15 minutos em média) conclui-se que as 9 localizações referem-se a 3 grupos distintos que se deslocaram ao longo da amostragem; c: As localizações 1, 2 e 3 foram trianguladas a partir das estações de amostragem A3 e A4 em uma segunda amostra (independente). Devido a proximidade de cada localização estimada a um agrupamento de localizações já individualizado, supõe-se que ambos devam representar o mesmo grupo de sauás, contudo a probabilidade de afirmar que a associação é verdadeira é de 1/6;

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D E

Figura 31 d: A localização 8 da primeira amostra e a localização 1 da segunda amostra foram associadas a avistamentos, onde ambos foram do mesmo grupo. Os avistamentos reincidentes diminuem a chance de erro em uma combinação de probabilidades ao associar as localizações de amostras independentes. Neste exemplo a diminuição foi de 1/6 para 1/2; e: Em outra amostra independente, apenas duas localizações foram estimadas, ambas não tenderam para qualquer dos agrupamentos e não houve avistamentos. Nestas ocasiões estas localizações não foram agrupadas às outras.

A partir dos agrupamentos de localizações individualizadas foram definidos núcleos

de amostragem, por onde se buscou estabelecer o contato visual com os animais, usando para

isto a técnica de playback. Os núcleos de amostragem foram definidos a partir da média

aritmética das coordenadas x e y das localizações de cada agrupamento (centróide) (Figura

47). Os núcleos de amostragem situam-se no centro de gravidade de cada agrupamento de

localizações e teoricamente representam os locais com maior probabilidade de encontro com

os grupos de sauás.

Também foram definidos núcleos de amostragem a partir das localizações não

individualizadas (símbolos sem preenchimento) (Figura 32). O propósito foi averiguar a

presença ou não de outros grupos (ainda não individualizados).

Expedições in loco foram realizadas até os núcleos de amostragem. Para isto foi

necessária a abertura de picadas (trilhas temporárias) na floresta a fim de viabilizar o acesso

até estas áreas.

Não foi definido limite para o número de playbacks e nem tempo de espera. Os

playbacks foram acionados até que se estabelecesse o contato visual com os animais.

Os playbacks foram acionados no período matutino em cinco dias de campo. Em

média foram visitados cinco núcleos por dia. Caso não houvesse resposta em um determinado

núcleo, mais duas tentativas eram realizadas em dias seguintes.

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Figura 32: núcleos de amostragem definidos a partir dos centróides das localizações individualizadas.

Ao estabelecer contato visual com os grupos, foram anotados o número de indivíduos,

a estrutura (número de adultos, sub-adultos, juvenis e infantes) e o comportamento de cada

grupo (reação à presença dos pesquisadores, frequência de resposta ao playback). Estas

informações foram usadas como critério para identificar e diferenciar os grupos.

4.2.2. Estimativa populacional através de amostragem de distâncias em transecto linear (Distance Sampling)

Para realizar a amostragem de distâncias em transecto linear no Parque Municipal

foram utilizados os mesmos transectos usados para estimar as localizações dos grupos de

sauás através do método de Áudiotelemetria. Os transectos foram nomeados de A, B, C e D e

mediam 1014m, 1086m, 1170m e 765m respectivamente (Figura 33).

As amostragens foram realizadas duas vezes por semana nos horários das 09:00 as

12:00 h e das 13:00 as 16:00 h durante 5 meses (abril a agosto/08). As amostragens não foram

realizadas em dias chuvosos.

Ao longo de um dia de amostragem todos os quatro transectos foram percorridos uma

vez. Os deslocamentos foram efetuados a uma velocidade de 1 km/h e conforme os animais

foram sendo avistados, foram anotados em um formulário o número de indivíduos do grupo, a

distância do primeiro animal avistado ao observador e o ângulo do animal em relação à trilha,

conforme preconizado por Buckland et al., (1993).

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Para a medição da distância do observador ao primeiro animal avistado foi utilizado

uma trena e um binóculo de telêmetro modelo PRO1000 da Bushnell (para distâncias maiores

que 20 jardas = 18 metros) (Figura 34). Para a medição do ângulo foi utilizada uma bússola

magnética da marca Kantaz. Foi utilizado o software Distance 5.0 para realizar as estimativas,

onde a densidade foi gerada em indivíduos e grupos por km² e a abundância relativa em

grupos/10 km percorridos.

Figura 34: equipamentos utilizados para a medição de ângulos (bússola) e de distâncias (telêmetro).

4.3. Resultados e Discussão

4.3.1. Recenseamento através das informações obtidas pelo método Áudiotelemetria

Foram definidos 17 núcleos de amostragem. Do total, 12 foram definidos a partir de

agrupamentos de localizações individualizadas e cinco foram definidos a partir das

localizações isoladas (Figura 35). Os 12 núcleos definidos a partir das localizações

individualizadas foram visitados e 12 grupos de sauás distintos foram identificados,

assegurando 100% de êxito na individualização das localizações. Os outros dois grupos

foram identificados a partir de visitas a núcleos de localizações isoladas.

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De acordo com o recenseamento realizado o Parque Municipal de Pouso Alegre abriga

entre 39 e 45 indivíduos de sauás distribuídos em 14 grupos. O tamanho médio dos grupos foi

de 3 indivíduos, e a densidade populacional foi de 22,12 ind./km².

Apenas um grupo foi visualizado com cinco indivíduos, dois grupos com quatro

indivíduos, quatro grupos com três indivíduos, cinco grupos com dois indivíduos, além de

dois grupos que não chegaram a ser visualizados, os quais podem ter de 2 a 5 indivíduos

(Tabela 5).

Apenas um grupo foi verificado com um recém nascido, o qual foi observado sendo

carregado pelo seu progenitor.

Price & Piedade (2001), relatam o nascimento de filhotes de Callicebus personatus em

setembro. Em anos anteriores, no Parque Municipal de Pouso Alegre, foi verificado o

nascimento de filhotes durante a primavera (Outubro e Novembro). É possível que os

nascimentos aconteçam nesta estação do ano devido à maior disponibilidade de alimentos, o

que deve proporcionar melhores condições para a sobrevivência e desenvolvimento dos

filhotes. O recenseamento no Parque Municipal foi desenvolvido no mês de setembro,

portanto é de se esperar que a população aumente nos meses seguintes devido ao nascimento

de filhotes.

Para facilitar a discussão, os grupos de sauás foram nomeados. Cada grupo foi

batizado com uma letra do alfabeto grego (Tabela 5).

O grupo Alfa, o qual foi registrado a partir do núcleo 1 (parte alta do Parque) não

chegou a ser visualizado. Durante as visitas ao núcleo 1 houve vocalizações em resposta aos

playbacks acionados, confirmando a presença de um grupo neste domínio do Parque,

entretanto, os animais não se aproximaram. Também não foi possível se deslocar até os locais

onde os animais estavam, pois as condições do terreno ofereciam risco iminente à integridade

física dos pesquisadores.

O grupo Beta foi visualizado a partir do núcleo 2 (Figura 36). Foram visualizados 4

indivíduos, sendo o casal mais um filhote sub-adulto e um juvenil. O grupo respondeu a todos

os playbacks acionados e se aproximaram. Contudo, ao estabelecer contato visual com os

pesquisadores procuraram se afugentar.

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Tabela 5 Informações referentes aos grupos identificados

Nome do grupo

Núcleo em que foi visualizado

Tamanho do grupo

Estrutura do grupo

Alfa 1 2 a 5 1 casal + filhotes Beta 2 4 1 casal + 1 sub-adulto + 1 juvenil

Gama 3 e 7 2 1 casal Delta 4 3 1 casal + 1 sub-adulto

Epsilon 5 2 1 casal Zeta 6 2 1 casal Eta 8 2 1 casal Teta 10 5 2 casais + 1 juvenil Iota 12 3 1 casal + 1 infante

Kapa 13 3 1 casal + 1 sub-adulto Lambda 14 4 1 casal + 1 sub-adulto + 1 juvenil

Miiu 15 3 1 casal + 1 sub-adulto Niu 16 2 a 5 1 casal + filhotes Csi 17 2 1 casal

O grupo Gama foi visualizado a partir dos núcleos 3 e 7. O grupo era composto

apenas por um casal de porte pequeno, provavelmente um casal recém constituído.

Responderam 4 de 5 playbacks acionados antes de serem visualizados. Ao estabelecer contato

visual com os pesquisadores o casal de sauás mostrou curiosidade.

O grupo Delta foi visualizado a partir do núcleo 4. O grupo era composto por 3

indivíduos, sendo um casal e um sub-adulto. O grupo delta mostrou ser um grupo tímido,

respondendo apenas dois dos seis playbacks acionados e quando foram visualizados se

afugentaram.

O grupo Epsilon foi visualizado a partir do núcleo 5. O grupo era composto apenas

por um casal de grande porte. O casal respondeu aos cinco playbacks acionados e não se

incomodaram com a presença dos pesquisadores. Talvez se trate do casal dominante do lado

sudoeste do Parque e possivelmente sejam progenitores dos grupos vizinhos.

O grupo Zeta foi visualizado a partir do núcleo 6. O grupo era composto por um casal.

O grupo respondeu três dos seis playbacks acionados e mostraram curiosidade ao estabelecer

contato com os pesquisadores.

O grupo Eta foi visualizado a partir do núcleo 8. O grupo era composto por um casal

com indivíduos de pequeno porte, provavelmente um casal recém constituído. O grupo

respondeu aos cinco playbacks acionados e não se incomodaram com a presença dos

pesquisadores.

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O grupo Teta foi visualizado a partir do núcleo 10. O grupo era composto por cinco

indivíduos, sendo quatro adultos e um juvenil. A princípio os animais começaram a vocalizar

como se fossem dois grupos distintos em árvores diferentes. No decorrer do acionamento dos

playbacks os animais se uniram e vocalizaram todos juntos na mesma árvore. O grupo

respondeu aos 10 playbacks acionados e também não se incomodaram com a presença dos

pesquisadores. Provavelmente trata-se do grupo dominante do lado norte do Parque Municipal

e possivelmente são progenitores dos grupos vizinhos.

O grupo Iota foi visualizado a partir do núcleo 12. O grupo era composto por um casal

em um infante que estava sendo carregado por seu progenitor. Este grupo se mostrou tímido e

respondeu apenas um dos cinco playbacks acionados e se afugentaram ao visualizar os

pesquisadores.

O grupo Kapa foi visualizado a partir do núcleo 13. O grupo era composto por um

casal e um sub-adulto. O grupo respondeu bem ao playback a distância, mas ao se aproximar

e visualizar os pesquisadores se afugentaram.

O grupo Lambda foi visualizado a partir do núcleo 14. O grupo era composto por

quatro indivíduos, sendo um casal, um sub-adulto e um juvenil. O grupo respondeu quatro dos

seis playbacks acionados. Ao estabelecer contato com os pesquisadores os animais não se

intimidaram e continuaram a responder os playbacks. Os filhotes não participaram das

vocalizações e ficaram em outra árvore apenas observando o comportamento de seus

progenitores.

O grupo Miu foi visualizado a partir do núcleo 15. O grupo era composto de três

indivíduos, sendo um casal e um sub-adulto. O grupo respondeu apenas dois dos seis

playbacks acionados e ao estabelecer contato com os pesquisadores não se afugentaram e se

mostraram curiosos.

O grupo Niu, o qual foi registrado a partir do núcleo 16, não chegou a ser visualizado.

O grupo respondeu bem ao playback a distância, mas quando se tentava uma aproximação os

animais paravam de responder e se escondiam sob a densa vegetação. Este comportamento se

repetiu durante todas as tentativas.

O grupo Csi foi visualizado a partir do núcleo 17. O grupo era composto por apenas

um casal. Este grupo mostrou ser tímido respondendo apenas um dos seis playbacks

acionados, contudo não se afugentaram ao estabelecer contato visual com os pesquisadores.

Não houve vocalizações em respostas aos playbacks acionados a partir dos núcleos 9 e

11 nos três dias em que foram visitados. Portanto estas áreas parecem não ser de uso

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exclusivo de qualquer um dos grupos, mas provavelmente áreas em que há sobreposição de

área de uso de mais de um grupo.

Quanto ao uso da técnica de playback como ferramenta para auxiliar recenseamentos

de sauás, a eficácia foi considerada como boa, pois ajudou na indução do contato visual com

os animais em 85 % dos casos.

Foi demonstrado que os critérios definidos para individualizar as localizações de sauás

obtidas através do método Áudiotelemetria foram eficazes, pois disponibilizaram as

referências dos locais onde haviam maiores chances de encontros com os grupos de sauás.

Os resultados também demonstraram que os grupos puderam ser identificados

objetivamente, levando em consideração para isto o número de indivíduos dos grupos, a

estrutura dos grupos e o comportamento dos grupos em relação ao playback e ao contato com

os pesquisadores.

4.3.2. Estimativa populacional através de amostragem de distâncias em transecto linear

Foram percorridos 164 km em 41 dias de amostragem. No total foram contabilizados

30 avistamentos.

Foi estimada uma densidade populacional de 23,8 ind./km² e um tamanho

populacional médio de 45 indivíduos, podendo variar de 27 a 63 indivíduos.

A média do tamanho dos grupos foi de 2,3 indivíduos, portanto estima-se um número

médio de 19 grupos de sauás para o Parque Municipal de Pouso Alegre. A taxa de encontro

ou abundância relativa foi de 1,83 grupos/10 km percorridos.

Devido ao baixo número de avistamentos, os coeficientes de variação ficaram em

torno de 39%, bem acima do preconizado por Buckland et al., 1993, que é inferior a 20%.

A densidade populacional encontrada neste estudo é a mais alta entre as estimativas já

realizadas com Callicebus nigrifrons. A taxa de encontro também é a mais alta, juntamente

com a encontrada por Oliveira et al., (2003) em Viçosa – MG (Tabela 6).

Segundo Oliveira et al., (2003), os pequenos fragmentos suportam maiores densidades

de sauás do que grandes fragmentos, devido a falta de grandes predadores e também porque

em fragmentos pequenos as árvores frutíferas se distribuem melhor no espaço e no tempo,

favorecendo as espécies frugívoras.

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Tabela 6 Comparação entre estudos sobre levantamentos populacionais de sauás Callicebus nigrifrons

Área de estudos Tamanho da

área (km²)

Densidade

(ind./km²)

Taxa de avistamento

(grupos/10 km)

Referência

Pouso Alegre, MG 1,9 23,8 1,83 Presente estudo

Serra da Cantareira, SP 79,2 11,21 1,43 Trevelin et al., 2007

São José, SP 2,3 3,5 0,56 São Bernardo & Galetti, 2004

Viçosa, MG 0,8 14,86 1,83 Oliveira et al., 2003

Serra do Brigadeiro, MG 132,1 10,3 - Cosenza & Melo, 1998

Barreiro Rico, SP 32,6 7 -10 - Pinto et al., 1993

É possível que a alta densidade de sauás no Parque Municipal possa ser explicada

pelos argumentos de Oliveira et al., (2003), principalmente no que se refere à ausência de

predadores.

Alguns estudos apontam os mamíferos meso-carnívoros como a jaguatirica Leopardus

pardalis e a irara Eira barbara como potenciais predadores de primatas (DEFLER, 1980;

PHILLIPS, 1995; MIRANDA et al., 2005). Outros potenciais predadores de primatas são as

grandes aves de rapina como a harpia Harpyja harpyja e o gavião-pega-macaco Spizaetus

tyrannus (MACHADO et al., 1998).

A jaguatirica e a irara ainda ocorrem nos limites do Parque Municipal e em áreas

contíguas, contudo a harpia e o gavião-pega-macaco são raros na região (COSTA, 2005).

A teoria de Oliveira et al., (2003) é plausível, entretanto, existem poucos

levantamentos populacionais de sauás para poder afirmar uma relação de densidade e

tamanho de fragmentos e tão pouco informações para afirmar que as populações de sauás em

pequenos fragmentos são favorecidas por relaxamento ecológico.

Comparando os resultados da estimativa populacional obtidos pelo método Distance

Sampling com os resultados do recenseamento obtidos através do método Áudiotelemetria,

podemos perceber que em média as estimativas se aproximaram dos valores obtidos no

recenseamento, contudo o desvio padrão das estimativas calculadas pelo Distance 5.0 foi alto.

É provável que o baixo número de avistamentos realizados neste estudo seja a

explicação para a grande variação nas estimativas (Tabela 7).

Os sauás são animais de pequeno porte que vivem em pequenos grupos e de forma

agregada. Além disto, são animais tímidos e desconfiados, que se camuflam em meio a

vegetação assim que percebem a presença humana. Devido a estes fatores a detectabilidade

destes animais é baixa.

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Tabela 7 Comparação entre os resultados obtidos no recenseamento e na estimativa populacional dos

sauás no Parque Municipal de Pouso Alegre. Natureza do

levantamento

Densidade populacional

(ind/km²)

Tamanho médio

da população

Tamanho médio

dos grupos

Número de

grupos

Recenseamento/

Áudiotelemetria

22,12 42 3 14

Estimativa populacional/

Distance Sampling

23,8 ± 9,5 45 ± 18 2,3 ± 0,18 19

Para realizar o mapeamento dos grupos de sauás, o qual subsidiou o recenseamento,

foram investidos 20 dias de campo e para realizar o recenseamento propriamente dito foram

necessários mais cinco dias. No total foram investidos 25 dias de campo, somando um esforço

amostral de 135 horas.

Para realizar a estimativa populacional através do método Distance Sampling foram

investidos 41 dias de campo, somando um esforço amostral de 246 horas. Se for levado em

consideração que este esforço amostral propiciou apenas 30 avistamentos, seria necessário o

dobro do esforço amostral para se obter o número recomendado pelos criadores do método

(60 avistamentos).

O método Áudiotelemetria apresenta-se como uma boa opção metodológica para a

realização de levantamentos populacionais de sauás Callicebus spp em pequenos fragmentos,

pois o esforço amostral e o custo operacional são menores do que os requeridos pelos

métodos que levam em conta estimativas populacionais.

Além disto, as informações coletadas através do método Áudiotelemetria podem ser

usadas para estimativas de área de uso, análise de preferência de hábitats, estudo de padrões

de resposta à técnica de playback e outros estudos sobre comportamento e ecologia sobre

estes animais.

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4.4. Conclusões

Conclui-se que:

as localizações dos grupos de sauás obtidas através do método Áudiotelemetria foram

úteis ao gerar informações que puderam subsidiar o recenseamento no Parque

Municipal de Pouso Alegre;

os resultados da estimativa populacional realizada pelo método Distance Sampling

foram muito próximos aos resultados obtidos através do recenseamento apoiado pelo

método Áudiotelemetria;

o esforço amostral e custo operacional despendido no levantamento populacional

através do método Distance Sampling foram maiores do que os requeridos no

recenseamento através da Áudiotelemetria.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sugere-se a continuidade deste trabalho de modo a aprimorar o método

Áudiotelemetria e conhecer mais detalhadamente as suas potencialidades e limitações;

Sugere-se a realização de um projeto piloto para verificar a aplicabilidade do método

Áudiotelemetria para as outras espécies do gênero Callicebus;

Recomenda-se a criação de um software dedicado ao método Áudiotelemetria que

execute o mapeamento e todos os cálculos necessários;

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ANEXO I

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