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Dossier: Reabilitação 39 elevare Dossier de Eletrónica e Conetividade nos Elevadores Fernando Maurício Dias O Homem já domina a técnica das grandes construções há vários séculos, no entanto, um problema que se colocava era “como subir”. Efetivamente, o elevador veio dar resposta a esse problema. Inicialmente, controladores mecânicos eram usados para permitir o movi- mento do elevador de acordo com as instruções dos utilizadores. Mais tarde, muitas partes mecânicas foram substituídas por partes elétricas. A automação dos elevadores permitiu dotá-los de “inteligência”, facilitando a realização de diversas funções de uma forma fácil, ou seja, com o apertar de um botão, todas as operações de fechar porta, arrancar, contar os andares, parar, nivelar e abrir a porta automaticamente. No princípio, toda esta automação foi realizada através de sistemas de relés eletromecânicos (esta técnica ainda existe em vários elevadores). Até à década de 80 esta tecnologia pouco evoluiu devido ao facto de ser suficiente para as necessidades da época. No entanto, com a entrada da tecnologia dos microprocessadores, os elevadores evoluíram significativamente. Os comandos com microprocessadores são muito mais fiáveis, logo, menos sujeitos a fa- lhas. Com esta tecnologia o elevador ganhou novos horizontes: o controlo do tráfego é otimizado, o consumo de energia é reduzido, o interface com o utilizador é mais amigável (indicadores digitais, anunciador de voz, barreiras de infravermelhos, comunicação bidire- cional, proteção para chamadas falsas, entre outros). Hoje, em boa verdade, o elevador não é considerado um bem de consumo que, passado al- gum tempo, é substituído por outro novo. Assim, para ultrapassar esta dificuldade opta-se por efetuar a sua modernização tecnológica, ou seja, uma reforma que substitui os quadros de comando antigos por outros com tecnologia recente. Outros componentes mecânicos, porque possuem uma vida útil mais longa, são aproveitados (máquina de tração, guias, portas, …).

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Dossier: Reabilitação

39elevare

Dossier de Eletrónica e Conetividade nos Elevadores

Fernando Maurício Dias

O Homem já domina a técnica das grandes construções há vários séculos, no entanto, um

problema que se colocava era “como subir”. Efetivamente, o elevador veio dar resposta a

esse problema. Inicialmente, controladores mecânicos eram usados para permitir o movi-

mento do elevador de acordo com as instruções dos utilizadores. Mais tarde, muitas partes

mecânicas foram substituídas por partes elétricas. A automação dos elevadores permitiu

dotá-los de “inteligência”, facilitando a realização de diversas funções de uma forma fácil, ou

seja, com o apertar de um botão, todas as operações de fechar porta, arrancar, contar os

andares, parar, nivelar e abrir a porta automaticamente. No princípio, toda esta automação

foi realizada através de sistemas de relés eletromecânicos (esta técnica ainda existe em

vários elevadores). Até à década de 80 esta tecnologia pouco evoluiu devido ao facto de

ser suficiente para as necessidades da época. No entanto, com a entrada da tecnologia dos

microprocessadores, os elevadores evoluíram significativamente.

Os comandos com microprocessadores são muito mais fiáveis, logo, menos sujeitos a fa-

lhas. Com esta tecnologia o elevador ganhou novos horizontes: o controlo do tráfego é

otimizado, o consumo de energia é reduzido, o interface com o utilizador é mais amigável

(indicadores digitais, anunciador de voz, barreiras de infravermelhos, comunicação bidire-

cional, proteção para chamadas falsas, entre outros).

Hoje, em boa verdade, o elevador não é considerado um bem de consumo que, passado al-

gum tempo, é substituído por outro novo. Assim, para ultrapassar esta dificuldade opta-se

por efetuar a sua modernização tecnológica, ou seja, uma reforma que substitui os quadros

de comando antigos por outros com tecnologia recente. Outros componentes mecânicos,

porque possuem uma vida útil mais longa, são aproveitados (máquina de tração, guias,

portas, …).

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

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Garantia da proteção de pessoas em instalações elétricas (1.a Parte)

Sérgio Ramos

Instituto Superior de Engenharia do Porto

INTRODUÇÃO

Nas sociedades modernas atuais não conce-

bemos o nosso estilo de vida sem a utilização

de energia elétrica. O uso e a exploração das

instalações elétricas e dos equipamentos a

elas ligadas requerem meios de proteção

adequados, de forma a garantir a segurança

de pessoas e bens. O presente artigo aborda,

de uma forma breve, e sucinta as medidas

ativas e operativas na conceção e utilização

das instalações elétricas para garantir a se-

gurança dos seus utilizadores.

REGIMES DE NEUTRO

A conceção e garantia da proteção de pesso-

as e bens, decorrentes da utilização das ins-

talações elétricas, estão intimamente liga-

das com o tipo de regime de neutro imposto

para uma dada instalação. Assim, e de um

modo sucinto, existem três tipos de regimes

de neutro:

> TT - Ponto neutro do secundário do

transformador ligado diretamente à ter-

ra, e que garante a condição de explora-

ção do condutor neutro da instalação, e

as partes metálicas empunháveis (mas-

sas), normalmente sem tensão, ligadas

diretamente à terra;

> TN - Ponto neutro do secundário do

transformador ligado diretamente à ter-

ra, e que garante a condição de explora-

ção do condutor neutro da instalação, e

as partes metálicas empunháveis (mas-

sas) normalmente sem tensão ligadas

ao condutor de neutro;

> IT - Ponto neutro do secundário do

transformador isolado ou ligado à terra

através de uma impedância, e as partes

metálicas empunháveis (massas) nor-

malmente sem tensão ligadas direta-

mente à terra.

O quadro seguinte resume o significado do

primeiro e segundo dígito de cada um dos

diversos regimes de neutro.

Quadro 1. Codificação dos regimes de neutro.

1.ª Letra

Define a situação do ponto

Neutro em relação à Terra 2.ª Letra

Define a situação da ligação

das Massas

Designação Designação

TPonto Neutro

Ligado à TerraT

Massas Ligadas

Diretamente à Terra

TPonto Neutro

Ligado à TerraN

Massas Ligadas

Diretamente ao Neutro

IPonto Neutro

Isolado da TerraT

Massas Ligadas

Diretamente à Terra

Figura 1. Esquemas de regime de neutro em Corrente Alternada.

Fonte: Regras Técnicas de Instalações Elétricas de Baixa Tensão (RTIEBT).

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

41elevare

As figuras anteriores ilustram os esque-

mas dos diversos sistemas de regime de

neutro em Corrente Alternada.

Em função do tipo de sistema de regime de

neutro, os aparelhos que garantem a pro-

teção de pessoas e bens pode variar entre

aparelhos sensíveis à corrente residual

diferencial, disjuntores magnetotérmicos

ou corta circuitos fusíveis. Se a instalação

estiver bem dimensionada qualquer um dos

aparelhos de corte automático garantem

eficazmente a proteção de pessoas e bens,

não havendo um que se sobreponha ao ou-

tro em termos de eficácia.

PROTEÇÃO DE PESSOAS – O SISTEMA TT

Neste primeiro artigo versamos as medi-

das a ter em conta em instalações elétricas

com regime de neutro do tipo TT.

A proteção contra contactos indiretos (con-

tacto com uma massa que normalmente

não está em tensão, mas que, acidentalmen-

te e por defeito de isolamento de um con-

dutor ativo pode ficar em tensão – Tensão

de Contacto Uc) visa defender as pessoas

contra os riscos a que podem ficar sujeitas

em resultado de as massas ficarem aciden-

talmente sob tensão (RTIEBT – 131.2.12).

Figura 2. Exemplo de um contacto indireto.

Basicamente, as medidas ativas ou opera-

tivas consistem na garantia de ligação di-

reta das massas à terra e utilização de um

aparelho de proteção de corte automático

associado. É no aparelho de corte automá-

tico que se baseia a segurança desta medi-

da e, em particular, na coordenação entre

a regulação do dispositivo de corte e o va-

lor da resistência de terra. A ligação das

massas à terra só é eficaz se o dispositivo

de corte automático associado obedecer

às regras a seguir enunciadas. Para com-

preender o mecanismo desta medida de

proteção considere-se a Figura 3 que esquematiza um defeito de isolamento num recetor

alimentado por uma rede trifásica, cujo ponto neutro está diretamente ligado à terra.

Em caso de defeito de isolamento estabelece-se uma corrente no circuito de defeito (Id). A

proteção é assegurada se a diferença de potencial Uc (tensão de contacto) entre a massa

sob tensão e um elemento condutor, suposto ao potencial da terra, não for superior ao

limite perigoso. As duas condições às quais deve satisfazer a medida são as seguintes:

1. A corrente de defeito franco (Rd=0 Ω) deve assegurar o funcionamento tão rápido

quanto possível do dispositivo de corte automático;

2. Qualquer massa não pode ficar, em relação a uma tomada de terra eletricamente

distinta, a um potencial superior a um limite considerado como perigoso (25 Volt –

locais húmidos ou 50 Volt – restantes locais).

O valor da corrente de defeito será obtido pela equação (1), em que U0 é a tensão sim-

ples, Rd a resistência do defeito (normalmente desprezável), RA a resistência de ligação

à terra das massas (terra de proteção) e RB a resistência de ligação à terra do neutro

(terra de serviço).

(1)

O valor da tensão de contacto será dado por UC, equação (2) e o valor da sensibilidade do

aparelho diferencial (IΔn) será dada pela equação (3).

(2)

(3)

O valor da tensão de contacto será dado por UC, equação (2) e o valor da sensibilidade do

aparelho diferencial (IΔn) será dada pela equação (3). Entende-se por sensibilidade apare-

lho sensível à corrente residual diferencial o valor da corrente resultante de um defei-

to – corrente diferencial-residual estipulada IΔn – que faz abrir obrigatoriamente o circuito

defeituoso.

Figura 3. Defeito de isolamento num recetor alimentado por uma rede trifásica num regime de neutro TT.

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

42 elevare

Assim, e no caso de instalações com regi-

me de neutro TT, o aparelho de proteção

que garante a proteção concomitante de

pessoas e bens é o aparelho de corte sen-

sível à corrente residual diferencial, vulgar-

mente denominado de aparelho diferencial

(interruptor ou disjuntor diferencial). A sua

abertura obriga o corte à primeira situação

da ocorrência do defeito. Não obriga a que

a instalação elétrica tenha uma equipa de

manutenção. Tipicamente, os aparelhos di-

ferenciais distinguem-se pelo valor da sua

sensibilidade. Assim o Quadro 2 apresenta a

distinção efetuada.

Relativamente ao tempo de atuação dos

aparelhos diferenciais e, de acordo com a

Norma EN 61008-1, os valores normaliza-

dos dos tempos de funcionamento máximo

e de não funcionamento em interruptores

diferenciais devem obedecer ao disposto no

Ponto 539.3 das RTIEBT. Por exemplo, no

caso de utilização de aparelhos diferenciais

do tipo geral, se o defeito for igual a duas

vezes a corrente diferencial o disparo deve

realizar-se em menos de 0,15 s, por outro

lado se o defeito for igual ao valor da cor-

rente defeito o disparo deve realizar-se em

menos de 0,3 s.

No que se refere ao valor a partir do qual

o aparelho diferencial dispara, este pode

tomar qualquer valor a partir dos 50% do

valor da sensibilidade do dispositivo.

Tipicamente, os aparelhos sensíveis a cor-

rente residual diferencial são exclusivamente

para instalações de Corrente Alternada (CA).

A diferença encontra-se no tipo de correntes

de fuga que são capazes de detetar. Assim,

podem-se caraterizar e distinguir as seguin-

tes classes:

> Classe AC – capazes de detetar apenas

fugas de Corrente Alternada. Esta é a

classe para as aplicações mais comuns

em Portugal;

> Classe A - capazes de detetar fugas de

Corrente Alternada e Correntes Alterna-

das com componente contínua (contínu-

Figura 4. Exemplo de um aparelho de corte sensível à corrente residual diferencial.

Quadro 2. Sensibilidades dos aparelhos diferenciais.

Sensibilidade I∆n (mA) Valores Típicos Valores RA (Ω)

Alta sensibilidade IΔn ≤ 30 6; 10; 30 mA R ≤ 1.666,67

Média sensibilidade 30 < IΔn ≤ 500 100; 300; 500 mA R ≤ 166,67

Baixa sensibilidade IΔn > 500 1; 3; 5; 10; 20 A R ≤ 16,67

Na medida do possível a resistência de terra não deve exceder os 100 Ω

(RTIEBT – 801.5.6.1).

Figura 5. Princípio de funcionamento de um aparelho diferencial.

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as pulsantes), geradas por cargas não lineares, como por

exemplo, retificadores de onda (tipo Ponte de Wheatstone);

> Classe B - capazes de detetar fugas de Corrente Alternada,

Corrente Alternada com componente contínua (contínuas

pulsantes) e Correntes Contínuas alisadas. Ideais para va-

riadores trifásicos, inversores, ascensores, equipamentos

médicos e unidades de alimentação ininterrupta (UPS – Unit

Power Supply).

A Figura 5 ilustra, de um modo muito sucinto, o princípio de

funcionamento subjacente ao funcionamento de um aparelho

diferencial residual.

Na ausência de defeito a corrente da fase é igual à do neutro

pelo que o fluxo da bobine da fase é igual à do neutro não ha-

vendo, assim, corrente induzida na bobine de deteção que acio-

na o relé. Os contactos permanecem fechados e a instalação

funciona normalmente. Porém, na presença de um defeito de

isolamento a corrente na fase será maior do que a do neutro,

visto que há uma corrente de defeito para a terra, pelo que a di-

ferença dos fluxos será diferente de zero, promovendo o apa-

recimento de uma corrente induzida na bobine de deteção que

aciona o relé. Os contactos abrem e a instalação é desligada.

CONCLUSÃO

Neste primeiro artigo sobre a proteção de pessoas e bens de-

correntes do uso das instalações elétricas, incidimos sobre as

medidas a ter em conta nessas mesmas instalações elétricas

com regime de neutro do tipo TT. De um modo simplista pode-

mos afirmar que na presença deste regime de neutro o apare-

lho que garante a proteção de pessoas é o aparelho sensível

à corrente diferencial residual. Há, no entanto, outros tipos de

cuidado aquando do seu dimensionamento e instalação, nome-

adamente no que se refere à escolha do valor da sensibilidade,

quer respeitando regulamentos quer associados a valores de

resistência de terra obtidos, na garantia de seletividade verti-

cal numa cascata de sucessivas proteções diferenciais de di-

ferentes respostas e sensibilidades, bem como na escolha de

dispositivos diferenciais de alta imunização, os quais apresen-

tam um ligeiro atraso intencional no disparo em relação aos

instantâneos.

A garantia da proteção de pessoas e bens pelo uso das ins-

talações elétricas deve ser cuidadosamente dimensionado e

projetado por técnicos devidamente habilitados, dado que não

existe uma solução única para todas as situações, devendo to-

das serem alvo de uma rigorosa e séria avaliação.

«A garantia da proteção de pessoas e bens pelo uso das instalações

elétricas deve ser cuidadosamente dimensionado e projetado por

técnicos devidamente habilitados»

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44 elevare

Desenvolvimento Tecnológico dos Elevadores

Carlos Gens

Pinto & Cruz Elevadores e Instalações

O elevador tornou-se, sem dúvida, um dos

sistemas de transporte mais utilizados e se-

guros do mundo. Neste artigo vou, de for-

ma resumida, explicar um pouco a evolução

deste equipamento ao nível do seu controlo

e o seu atual estado da arte.

O elevador, segundo reza a história, é um

equipamento já utilizado no tempo dos egíp-

cios mas, nessa altura, este seria apenas

para transporte de carga e era acionado por

mão-de-obra escrava. Foi à cerca de 150

anos que Elisha Graves Otis numa feira da

época cortou a corda que suportava a pla-

taforma onde se encontrava e demonstrou

assim a sua invenção, o elevador seguro,

perante o olhar estupefacto da assistência.

A partir daí o mundo dos elevadores evoluiu

imenso com a possibilidade de se chegar

cada vez mais alto e mais rápido.

Construíram-se elevadores com depósitos

de água com nível variável no contrapeso,

com tração a vapor e pouco tempo mais tar-

de passamos para o acionamento elétrico, e

é a partir daqui que todo um manancial de

equipamentos se desenvolve. Os comandos

elétricos dos elevadores inicialmente eram

dispositivos eletromecânicos simples que

recorriam a relés e contactores com con-

tactos de grafite. Nos edifícios com poucos

pisos era possível estes terem um funcio-

namento automático em manobra universal

(uma chamada por utilizador) e as motoriza-

ções eram, regra geral, motores assíncro-

nos de uma velocidade. Nos edifícios com

muitos pisos e com muito tráfego os co-

mandos eram um pouco mais complicados

já que na altura só existia a possibilidade de

regular a velocidade das máquinas através

de Corrente Continua com recurso a reósta-

tos, e assim cada elevador tinha um grupo

gerador e uma máquina de tração de Cor-

rente Continua. Ao nível da lógica de contro-

lo recorria-se a um manobrador, chamado

de ascensorista que controlava a paragem,

a velocidade e o atendimento, e cada vez que

um utilizador carregava num botão acendia

uma luz de um quadro de alvos dentro do

elevador e aí o ascensorista sabia que tinha

de ir buscar alguém ao piso marcado. Esta

era a forma mais eficaz de juntar várias pes-

soas que se deslocavam para a mesma dire-

ção de destino, a aceleração, desaceleração

e velocidade eram controlados por uma ala-

vanca existente na cabina à semelhança da

existente nos Carros Elétricos.

Entretanto a evolução continuou e com a

redução do tamanho dos componentes ele-

tromecânicos, nomeadamente os relés, foi

possível construir elevadores mais autóno-

mos e, consequentemente, substituiu-se o

ascensorista por enormes quadros a relés

localizados nas casas das máquinas. Assim

nasceu aquilo que hoje chamamos de Cole-

tivo à Descida (CD) ou Subida (CS) e Coletivo

Seletivo Subida e Descida (CSD). Este concei-

to de “coletivo” é utilizado como a forma que

o elevador tem de colecionar e organizar as

chamadas na mesma direção. A partir daqui

evoluiu-se para o conceito de “duplex” que

consistia em chamar no piso o elevador mais

próximo dos dois, com recurso a uma boto-

neira de chamada para os dois elevadores.

Em alguns casos utilizava-se apenas a técni-

ca do par e impar, ou seja um elevador servia

pisos pares e o outro servia pisos ímpares

mas havia sistemas bem mais complexos

que recorriam a matrizes de díodos e relés

para alcançar o objetivo de otimização.

Os comandos a relés ainda hoje são utiliza-

dos mas em situações muito específicas e

muito simplificadas.

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

45elevare

Há cerca de trinta anos atrás os enormes

comandos eletromecânicos foram sendo

substituídos por comandos eletrónicos

que além de aumentarem as capacida-

des e versatilidade reduziram em muito a

dimensão.

Até aqui, no que respeita ao controlo de

tração, os elevadores poderiam ter várias

topologias de controlo, no que respeita aos

elétricos passava pela utilização da topo-

logia DC para grandes velocidades, duas

velocidades, uma velocidade e elevadores

hidráulicos com duas e uma velocidade

para velocidades abaixo de 1 m/s.

Ao nível do controlo de potência das má-

quinas de tração elétrica começou a ser

possível, por exemplo, regular a veloci-

dade das máquinas elétricas assíncronas,

através do controlo por tiristores e injeção

de tensão DC num enrolamento extra para

fazer a frenagem das mesmas, o que fez

com que se abandonasse a topologia DC

lentamente.

Com o aparecimento do conversor de fre-

quência e dos comandos com placas eletró-

nicas dedicadas os elevadores tornaram-se

equipamentos mais flexíveis, confortáveis,

seguros e menos dispendiosos quer na ins-

talação, manutenção e utilização. A eletró-

nica atualmente influencia o elevador em

todos os aspetos, desde a gestão de cha-

madas até ao controlo das máquinas de

tração sendo elas puramente elétricas ou

hidráulicas, manutenção, monitorização e

segurança.

Atualmente os comandos têm cablagem

e dimensão muito mais reduzida graças

a sistemas de comunicação robustos tipo

“Can-Bus” e placas de comando extrema-

mente pequenas recorrendo à tecnologia

“SMD” (Surface-Mount Device) com capa-

cidades de processamento enorme e ex-

tremamente flexíveis através do seu sof-

tware. Com os variadores de frequência

(elétricos) e válvulas de variação de cau-

dal (hidráulicos até 8 pisos) os elevadores

tornaram-se extremamente confortáveis,

compactos com extrema precisão de pa-

ragem e muito mais eficientes do que os

seus antecessores, atingindo velocidades

até 17 m/s em edifícios com caixas de 800

metros de altura.

Recorrendo à tecnologia de máquinas sín-

cronas ou assíncronas de última geração,

variadores de frequência ligados direta-

mente aos comandos através de comuni-

cações e encoders absolutos que indicam

com precisão milimétrica a posição da ca-

bina na caixa é possível um elevador arran-

car de um piso e parar sem que o utilizador

se aperceba que se tenha movido.

No que respeita à gestão de chamadas

ainda se utilizam os tradicionais “coletivos”

agora com capacidade para gerir até 8 ele-

vadores em bateria, mas a mais recente

tecnologia é o sistema de gestão de fluxo

de passageiros que consiste em juntar o

maior número de pessoas com os destinos

compatíveis. Para isso recorre a uma boto-

neira por piso com o teclado onde o utiliza-

dor indica o piso de destino e o sistema diz

em qual o elevador deverá ir. Este sistema

reduziu os comandos de cabina apenas ao

botão de abrir portas e alarme. Mas a tec-

nologia ainda continua a avançar e como se

costuma dizer o céu é o limite.

Apesar de tudo de positivo que a eletró-

nica trouxe existe um senão: a utilização

de software com protocolos específicos

das marcas e consolas de monitorização

específicas para cada marca, faz com que

o dono do elevador fique dependente dos

preços e peças apenas daquela marca o

que provoca normalmente uma inflação

de preços não muito clara.

Ainda existia muito mais para dizer mas a

tecnologia nos elevadores é tão diversa e

existiram e existem soluções tão interes-

santes, que daria para escrever um livro,

apenas e só, sobre tecnologia dos eleva-

dores. Por isso vou ficar por aqui deixando

um bem-haja a todos os que contribuíram

e contribuem para que o nosso dia-a-dia na

deslocação vertical seja mais simples, se-

guro e confortável

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

46 elevare

Sistemas e Tecnologias para Elevadores

Miguel Tato

EFALIFT - Sistemas e Tecnologias para Elevadores

Este artigo pretende descrever a forma como os circuitos eletrónicos têm vindo

a substituir os circuitos eletromecânicos nos quadros de comando para

elevadores, e de que modo essa substituição traz vantagens para todos:

para o utilizador, para o instalador e, indiretamente, para todos através da

otimização da eficiência energética.

Desde que foi inventado no fim do sécu-

lo XIX, o elevador seguro para transporte

vertical de pessoas dependia quase exclu-

sivamente de dispositivos eletromecâni-

cos para a implementação da sua lógica de

funcionamento.

Tal acontece porque a eletricidade é um fe-

nómeno físico que revela particular apetên-

cia para a aquisição de ordens, para o pro-

cessamento lógico dessas ordens e para a

realização de comandos baseados nessas

ordens processadas: é fácil implementar

uma ordem com um contacto elétrico, é fácil

processar essa ordem usando uma “lógica

de contactos”, e é fácil realizar um coman-

do usando um sinal elétrico num atuador

adequado.

A utilização de eletricidade como força mo-

triz é também bastante vantajosa quer pela

facilidade de construção de máquinas elétri-

cas capazes de a produzir, quer pelo elevado

rendimento energético que essas máquinas

conseguem.

Da conjunção de todos estes fatores não é

de admirar que o processo de eleição para o

comando de um elevador seja, desde há mais

de um século, feito através da eletricidade.

O elevador como transporte seguro de pes-

soas começou a ser amplamente utilizado

desde a sua invenção e proporcionou o ar-

ranque da construção em altura em larga

escala. Com o passar do tempo e o aumen-

to do número de utilizadores, as exigências

no funcionamento do elevador foram cada

vez maiores e pressionaram fortemente a

melhoria da lógica do seu funcionamento. O

sempre crescente aumento de tráfego e da

dimensão dos edifícios, aliada a uma socie-

dade que, ao modernizar-se, se tornava cada

vez mais exigente e apressada, requeria

cada vez mais complexidade na gestão das

chamadas de forma a otimizar o tempo de

espera. Essa complexidade era conseguida

pelos projetistas através da utilização cria-

tiva de mais e mais dispositivos eletromecâ-

nicos, interligando-se numa rede de lógica

de contactos progressivamente maior. Os

quadros de controlo dos elevadores come-

çaram assim a tornar-se grandes e comple-

xos, utilizando quantidades consideráveis de

energia apenas para o controlo.

De algumas décadas para cá a eletrónica é,

talvez, a disciplina tecnológica que mais tem

vindo a evoluir. A invenção do transístor em

1947 potenciou, de forma extraordinária,

essa evolução, já que dotou os projetistas

com um componente que, entre outras fun-

ções, pode funcionar como um comutador

extremamente rápido, barato, fiável, extre-

mamente pequeno e com um baixíssimo

consumo energético. Depressa se chegou

à conclusão que toda a lógica baseada em

eletromecânica poderia ser substituída por

este novo conceito de interruptor sólido

com imensas vantagens.

Os quadros de comando para elevadores

não foram exceção a esta revolução: da

utilização de dezenas de dispositivos de co-

mutação podia agora passar-se facilmente

para as centenas ou milhares e ainda assim

poupando em espaço e consumo energéti-

co. As restrições que condicionavam o au-

mento de complexidade deixaram de existir

e abriram-se as portas para novos níveis de

lógica de funcionamento até então vedados.

A crescente miniaturização do transístor

abriu caminho para outra invenção que im-

pulsionou ainda mais o desenvolvimento do

comando do elevador: o microprocessador.

Com um microprocessador, a lógica deixou

de ser implementada com contactos e pas-

sou a ser programável. Passou-se de uma

situação onde o quadro de comando era fei-

to à medida para cada caso para uma outra

em que o quadro é standard, e apenas se al-

teram parâmetros específicos à instalação.

«O estabelecimento de protocolos

rápidos e seguros de comunicação

eletrónica foi outro fator de melhoria»

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Dossier: Eletrónica e Conetividade

Além disso, novas funcionalidades podiam

agora ser implementadas de forma simples:

serviço de bombeiros, controlo de acessos,

chamadas prioritárias, um sem número de

regimes especiais antes impensáveis.

O estabelecimento de protocolos rápidos

e seguros de comunicação eletrónica foi

outro fator de melhoria introduzido: é pos-

sível transportar informação não crítica–

–chamadas, entradas e saídas básicas – uti-

lizando poucos condutores. Este facto re-

duz de forma substancial a quantidade de

condutores utilizados e, portanto, a quanti-

dade de cobre. A instalação da parte elétri-

ca do elevador fica bastante simplificada.

CONCLUSÃO

O que a eletrónica veio trazer de novo ao

universo dos quadros de comando de eleva-

dores foi um facto simples mas de impacto

elevado: ao utilizá-la foi possível aumentar

a complexidade da lógica de comando em

várias ordens de grandeza e com uma re-

dução substancial do consumo energético

e do espaço utilizado.

Sendo por si só a otimização do consumo

energético um facto suficiente para que a

substituição da eletromecânica pela eletró-

nica seja fortemente recomendável, outros

há que se repercutem diretamente em be-

nefícios para todos:

> Universalidade do quadro de comando:

um mesmo quadro para qualquer ins-

talação. Vantagens do ponto de vista

do fabricante, do instalador e da ma-

nutenção;

> Elevada capacidade de processamento

de informação: possibilidade de imple-

mentar algoritmos dinâmicos e ótimo

atendimento de chamadas. Vantagem

para o utilizador;

> Funcionalidades acrescidas: controlo de

acessos, chamadas prioritárias, alarme

de incêndio, e muitas outras. Vantagem

para o utilizador.

> Ferramentas de diagnóstico: ao ser mais

“inteligente”, o comando informa – tipica-

mente utilizando uma consola ou ligando

ao computador – de qual o seu estado

e quais os erros de funcionamento. Van-

tagem para a manutenção e para o uti-

lizador.

> Redução da quantidade de cobre: utili-

zando comunicações eletrónicas conse-

gue-se passar mais informação utilizan-

do menos condutores elétricos, o que

reduz drasticamente o cobre utilizado

na instalação. Vantagem para todos os

intervenientes.