dossie sobre movimentos sociais

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    Sumrio

    Apresentao....................................................................................................................04

    Parte 1

    A ofensiva das foras conservadoras contraa luta dos movimentos sociais e defensores de direitos humanos......................06

    Parte 2Casos de violaes contra movimentos sociaise defensores de direitos humanos.......................................................................12

    2.1. Violao dos direitos humanos na barranca dos rios:o caso do movimento dos atingidos por barragens (MAB)...................................................12

    2.2. O crime de ser MST:do direito livre maniestao lei de segurana nacional..................................................15

    2.3. A criminalizao das mulheres camponesas ...............................................................21

    2.4. O genocdio dos indgenas no Brasil: o caso dos Guarani-Kaiow..................................25

    2.5. Violaes causadas pelo mega-projeto da hidreltrica de Belo Monte...........................30

    Parte 3

    A favor da legitimidade dos movimentos sociais.................................................33

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    Summary

    Presentation......................................................................................................................04

    Part 1

    The offensive of the conservative forces againstthe actions of the social movements and human rights defenders.......................06

    Part 2Cases of violations committedagainst social movements and defenders of human rights..................................12

    2.1. Violation o human rights

    on river borders: the case o the movement o those aected by dams (MAB).......................12

    2.2. The crime o being MST:rom the right to ree maniestation to the national security law...........................................15

    2.3. The criminalization o the peasant women...................................................................21

    2.4. The genocide o the indigenous in Brazil: the Guarani-Kaiow issue...............................25

    2.5. Violations caused by the mega hydroelectric project o Belo Monte...............................30

    Part 3

    Support against criminalization of social movements..........................................33

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    Presentation

    The diversity o social struggles in ourcountry is responsible or the dierent con-gurations o the Brazilian social movements.There isnt a xed model or actions and or-ganization and in this diversity resides ourrichness. Thereore our organization and so-cial interventions ollow dierent patterns ac-cording to our identication and the mate-

    rial conditions or the interventions. Still weconverge in the same ideal o social justice:the construction o a society in which liestands above merchandise and prot.

    In Brazil we have social movements thatarticulate themselves on dierent levels,through grassroots groups or proessional-ized organizations. We also have movementsthat organize themselves based on agendas(or example, the cultural and environmentalmovements), and also the social movementsthat through integrated actions build uppolitical strength and uniy social interven-tions. To speak o social movements in Bra-zil is to speak o a vast, diverse and complexpart o the civil society, whose actors are thelandless, peasants, quilombolas, women, in-

    digenous people, homeless, people o theavelas, unemployed, detainees, adolescentsand young poor black people, homosexuals,among many others.

    The struggle o the social movementshave incorporated great achievements in thelast twenty years, among them the endingo the military dictatorship and the elabora-

    tion o the 1988 Federal Constitution o Bra-zil; The Statute o the Child and Adolescent(1980) and more recently the Maria da PenhaLaw (2006), which strengthened the ght orwomens rights against violence and discrimi-nation. We also have an intense ght or theurban and rural reorm, aiming the distribu-tion o wealth, which in Brazil is extremely

    concentrated.The mobilizations and actions or trans-ormations in our society confict with the in-terests o big companies, o the great estatesand conservative sectors o society, who wishto maintain the unequal and discriminatory

    Apresentao

    A diversidade das lutas em nosso pasaz com que os movimentos sociais brasi-leiros se apresentem com dierentes coni-guraes. No existe um modelo nico deaes desenvolvidas para nos organizarmose justamente nesta pluralidade que residea nossa riqueza. Assim, nossa organizao einterveno social seguem ormas distintas,

    conorme a nossa identicao e as condiesmateriais de atuao. No entanto, nos aproxi-mamos pelo mesmo ideal de justia social: aconstruo de uma sociedade na qual a vidaesteja acima das mercadorias e do lucro.

    No Brasil, temos movimentos sociais quese articulam em diversas eseras, atravs degrupos de base e/ou organizaes prossio-nalizadas. Alm disso, temos os movimentosque se organizam em uno de agendas(por exemplo, os movimentos culturais e oambientalista), bem como as redes de mo-vimentos sociais, que, atravs de aes inte-gradas, acumulam ora poltica e unicama interveno social. Falar de movimentossociais no Brasil abrange um campo da so-ciedade civil bastante complexo, diverso, plu-

    ral e heterogneo, cujos atores principais soos sem-terra, camponeses/as, quilombolas,mulheres, indgenas, sem-teto, avelados/as, desempregados/as, presidirios/as, ado-lescentes e jovens pobres e negros/as, ho-mossexuais, entre outros tantos.

    A luta dos movimentos sociais tem incor-porado grandes conquistas nos ltimos vinte

    anos, entre elas a derrota da ditadura militare a elaborao da Constituio Federal doBrasil de 1988; o Estatuto da Criana e doAdolescente (1980) e mais recentemente aLei Maria da Penha (2006), que veio engros-sar a luta pelos direitos das mulheres contraa violncia e discriminao. Tambm temosuma intensa luta pela reorma agrria e urba-

    na, visando a distribuio das riquezas que,no Brasil, so extremamente concentradas.A atuao e busca por transormaes de

    nossa sociedade erem o interesse de gran-des empresas, do latindio e de setores con-servadores da sociedade que desejam man-

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    ter as estruturas desiguais e discriminatrias,ruto de mais de 500 anos de explorao de

    ndios, negros, trabalhadores e trabalhado-ras rurais e urbanos, sugando do Brasil e daAmrica Latina suas riquezas. por ora daao desses setores conservadores que h,inelizmente, um intenso processo de crimi-nalizao de nossas lideranas e deslegiti-mao de nossas aes, de nossa luta, comoapontaremos a seguir.

    Nesse documento vamos apresentar, deorma sinttica, casos graves de violao dedireitos e a luta de organizaes e movi-mentos sociais, bem como indicar os vriosmecanismos que o Estado brasileiro cria paracriminalizar essas organizaes em avoreci-mento de interesses quase sempre privados.

    Boa leitura a todos e a todas.

    structures, legacy o more than 500 yearso exploitation o indigenous people; black

    people; workers both in the rural sector as inthe urban sector, and who have been steal-ingBrazil and Latin America o its riches. Itis because o such conservator sectors that,unortunately an intense process o criminal-ization o our leaderships and actions, o ourstruggle, has been going on. As we will showin this text.

    In this document we will shortly presentextreme cases o human rights violationsand the struggle o organizations and socialmovements. We will also indicate the variousmechanisms which the Brazilian State createsto criminalize these organizations, and thusalmost always avour the private interests.

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    Parte 1

    A ofensiva dasforas conservadoras contra a lutados movimentos sociaise defensores de direitos humanos

    Num passado ainda recente nal dosanos 70 e incio dos anos 80 as lutas so-ciais, polticas e culturais oram marcadas porperseguies violentas, ameaas e mortes delideranas por parte do Estado brasileiro. Sa-mos de um longo perodo de ditadura militar(1964-1988), quando os direitos humanosoram sobrepujados por governos autorit-rios e violentos, que viam em todos os oposi-tores seus inimigos.

    Decorridos mais de vinte anos do imdo regime militar, as violaes aos direitoshumanos continuam em nosso Pas. Os vciosdas instituies policiais e de investigaoperpetuam prticas indignantes como a tortu-ra, abuso de autoridade e prises arbitrrias,entre outros. Os mecanismos de represso tmse sosticado por meio de instrumentos le-gais como o caso judicializao indevida

    de lideranas de movimentos sociais, ou seja,a utilizao dos instrumentos do Estadodemocrtico de direito contra movimentossociais e deensores/as de direitos humanosque buscam assegurar direitos civis, polticos,econmicos, sociais, culturais e ambientais.

    bom lembrar que as Naes Unidas,atravs de suas declaraes, convenes eresolues consagram o direito de pessoas e

    organizaes de lutarem pela promoo dosdireitos humanos no mundo inteiro. Assim, de-ensores de direitos humanos e movimentossociais so reconhecidos pela ONU como: in-divduos, grupos e rgos da sociedadeque promovem e protegem os direitoshumanos e as liberdades undamentaisuniversalmente reconhecidas (...).1

    A prpria ONU tem denunciado as vio-laes que continuam contra movimentossociais e suas lideranas. A relatora da ONU

    1 Declarao dos Direitos e Responsabilidades dosIndivduos, Grupos e rgos da Sociedade paraPromover e Proteger os Direitos Humanos e Li-berdades Individuais Universalmente Reconheci-dos, adotada pela Assemblia Geral das Naes Unidas,na Resoluo 35/144 de 09 de dezembro de 1998.

    Part 1

    The offensive of theconservative forces against theactions of the social movementsand human rights defenders

    In the yet recent past end o the sev-

    enties and beginning o the eighties thesocial struggles, political and cultural, weretainted by violent persecutions, death threatsand murder o leaders on behal o the Bra-zilian State. We let a long period o militarydictatorship (1964-1988), in which humanrights had been overrided by authoritarianand violent governments, who saw all theiropponents as enemies.

    More than twenty years have passed sincethe military regime, but the violations o hu-man rights in our country persist. The habitso the investigative and police institutionscarry on atrocious practices such as torture,abuse o authority and arbitrary detentions.The mechanisms o repression have been so-phisticated by means o legal instrumentsas is the case o the improper judicial ac-tions moved against leaders o social move-ments, in other words, the instruments o thedemocratic State o Rights have been usedagainst social movements and deenders othe human rights, people who try to assurecivil, political, economical, social, cultural andenvironmental rights.

    It is convenient to remember that theUnited Nations, through its declarations, con-ventions and resolutions rearm the right

    o people and organizations to ght or thepromotion o human rights around the world.Thereore human rights deenders and socialmovements are recognized by the UN as:individuals, groups and entities o so-ciety, who promote and protect the hu-man rights and universally recognizedundamental liberties.1

    The UN itsel has denounced the continu-

    ous violations against social movements andtheir leaderships.

    1 Declaration o the Rights and Responsibilitieso the Individuals, Groups and and organs o

    society to promote and protect universally recog-nized human rights and undamental reedomswas adopted by the United Nations General Assembly onDecember 9, 1998 in Resolution 35/144.

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    sobre a situao de deensores/as de direitoshumanos, Hina Jilani, visitou o Brasil de 5 a 21

    de dezembro de 2005, ocasio em que se en-controu com representantes do governo, comuma grande quantidade de deensores/as dedireitos humanos e representantes de organi-zaes no-governamentais. O objetivo dessavisita era avaliar a situao dos deensores dedireitos humanos no Brasil. Alm de Braslia,a relatora visitou os Estados do Par, Bahia,Pernambuco, So Paulo e Santa Catarina ondeteve a oportunidade de se reunir com autori-dades ederais, membros dos poderes Legisla-tivos e dos Judicirios Estaduais, entre outros.Seu relatrio, de 2005, revela que no houvemuitas mudanas no quadro de violaes aosdireitos humanos que encontrou:

    entristecedor que, em termos reais,nem o retorno democracia, com umslido quadro legal para a deesa dos di-

    reitos humanos, nem a presena da aoe da experincia da sociedade civil temgarantido a proteo suciente aos de-ensores de direitos humanos e suas ati-vidades. Em seus esoros de alcanaremos direitos econmicos, sociais, ambien-tais e culturais; na tentativa de denunciaras violaes dos direitos humanos e deacabar com a impunidade dessas viola-es; e na resistncia discriminao ou marginalizao, muitos deensoresde direitos humanos continuam sendoameaados e prejudicados.2

    A criminalizao dos movimentos tem seacentuado nas duas ltimas dcadas. Alm deassassinatos e ameaas, suas lideranas tam-bm se tornaram alvos de aes criminais epoliciais ilegais. Podemos denir esse processo

    de criminalizao como um conjunto de atos eomisses que resultam na imputao indevidade crimes ou condutas ilegais a deensores(as)de direitos humanos e/ou s suas organizaes.Isso ocorre atravs de procedimentos adminis-trativos, judiciais ou policiais, em uno dasatividades de deesa e promoo de direitoshumanos que estes deensores e movimentosdesenvolvem. Essa criminalizao praticada

    pelas instituies que compem os Poderes Ju-dicirio, Legislativo e Executivo, e omentadapelos grandes meios de comunicao.

    2 Relatrio da Relatora da ONU para Deensores deDireitos Humanos. Verso disponibilizada pela Socie-dade Paraense de Deesa dos Direitos Humanos - De-partamento Internacional-DIDH.

    The UN rapporteur on the situation ohuman rights deenders, Hina Jilani, visited

    Brazil rom the 5th

    to the 21st

    o December o2005. On this occasion she met with govern-ment representants, with a large quantity ohuman rights deenders and non-governmen-tal organizations representants. The intentiono this visit was to evaluate the situation ohuman rights deenders in Brazil. The rappor-teur visited Braslia, the states o Par, Bahia,Pernambuco, So Paulo and Santa Catarina.

    In these places she had the opportunity tomeet with ederal authorities, members othe state Legislative and Executive powers,among others. Her 2005 rapport reveals thatnot much has changed in the panorama sheoundo human rights violation:

    It is saddening to see that neither thereturn to democracy, with a solid legal

    scenario or the deense o human rights,neither the action and experience o civilsociety have guaranteed enough protec-tion or the human right deenders andtheir activities. In their eorts to reacheconomical, social, environmental andcultural rights; in the quest to denouncethe violations o human rights and to endthe impunity o these violations; and in

    the resistance o discrimination and ex-clusion, many deenders o human rightsare still being threatened andimpaired.2

    The criminalization o the movements hasincreased in the last two decades. Besidesthe murders and the threats the movementsleaderships have also become target o law-suits and illegal police actions. We can dene

    this criminalization process as a combinationo actions and omissions perpetrated throughadministrative, judicial or police procedureswhich result in the improper accusation ohuman rights deenders and movementsas guilty o crimes or illegal conducts, withthese accusations being made because otheir activities deending and promoting hu-man rights. This criminalization is executed by

    the institutions which compose the Judiciary,Legislative and Executive powers, as well asby the mass communication vehicles.

    2 Rapport o the UN special rapporteur on Human RightsDeenders. Version made available by the SociedadeParaense de Deesa dos Direitos Humanos - Departa-mento Internacional (International Department)-DIDH.

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    As cartas lanadas por estas oras de

    direita hoje no se restringem a eliminar aslideranas isicamente. Buscam anular aslutas dos movimentos atravs de ataquessistemticos e orquestrados sua imagem ereputao, no intuito de desqualicar e des-moralizar os movimentos diante de toda asociedade. Para tanto, desenvolveram novosmtodos de represso e intimidao, comoa instalao de Comisses Parlamentares de

    Inqurito (CPIs) na Cmara dos Deputados(a CPI da Terra, a CPI das Organizaes No--Governamentais e a CPI do MST). Estas CPIscontam com total visibilidade da imprensa,que, diariamente, discursa contra os movimen-tos atacando desde questes ideolgicas atmtodos usados para as lutas.

    Um estudo do Instituto Brasileiro de Cin-cias Criminais (IBCCRIM), de 2005, apresenta

    um marco revelador, mostrando que h desi-gualdade na aplicao de medidas judiciaisem casos de confitos agrrios. Segundo umdos autores do estudo, Juvelino Strozake, aheterogeneidade de posies, a busca peloormalismo jurdico no tratamento penal e avalorizao do direito propriedade parecemconrmar um simulacro de justia, ou seja, aobservncia de requisitos ormais para a de-

    terminao das prises motivadas por confi-tos agrrios e, ao mesmo tempo, a utilizaocotidiana dessas prises como mecanismo decontrole social.3 Essas estratgias judiciaisse veriicam nos casos concretos de lide-ranas dos movimentos que importunamos grandes donos de terra, empresrios doagronegcio e de diversos outros setoresque recorrem ao Poder Judicirio e a algunssetores do Poder Executivo para verem seusinteresses protegidos.

    Uma prova disso oi apresentada em umrelatrio de 2008 elaborado pelo Movimentodos Atingidos por Barragens (MAB). O textoinorma que o Gabinete de Segurana Insti-tucional (GSI) da Presidncia da Repblicacriou os Grupos Tcnicos de Segurana deInraestruturas Crticas (GTSICS) para moni-torarem, controlarem e conterem as aes

    de movimentos sociais supostamente paraevitar prejuzos economia do pas, duranteprotestos em locais estratgicos, como hidre-ltricas, estradas e errovias.

    Um outro caso emblemtico vem do Es-tado do Par, onde existe uma DelegaciaEspecializada em Confitos Agrrios, a DECA. o brao repressor, investigador e contentorda luta dos camponeses na regio. Aparelha-

    do com recursos do governo ederal e subor-dinado Secretaria de Segurana do Estado,o rgo tem eito um excelente trabalhode investigao, mapeamento e identicaodas principais lideranas do MST e do movi-

    3 Disponvel em www.direitos.org.br. Acesso em:10/03/2006.

    Today these right-wing orces do not lim-

    it themselves to physical elimination o theleaderships. They also seek to diminish themovements through systematic and plannedattacks to the movements reputation, withthe objective o ruining societys image othem. To do this they developed new meth-ods or intimidation and repression, or ex-ample opening Parliamentary Commissionso Inquiry CPI at the Chamber o Deputies(Land CPI, o the Non Governmental Organi-zations and the CPI o the MST). These CPIsare totally accessible and broadcasted by thepress, which daily discourse against the so-cial movements attacking ideological mattersand also the methods used in the struggles.

    A revealing study made in 2005 by theBrazilian Institute o Criminal Science (IBC-

    CRIM) revealsthat there is inequality on theapplication o judicial measures in cases oagrarian conficts. According to one o theauthors o this research, Juvelino Strozake:the heterogeneity o opinions, the questor juridical ormalism in the criminal treat-ment and the importance given to the rightto property seem to conrm the simulation ojustice, that is, the observance o ormal req-

    uisites or the determination o prisons moti-vated by agrarian conficts and at the sametime the daily use o these imprisonments asa mechanism o social control.3These judi-cial strategies can be seen in those cases oleaders who harass the great landowners,agribusiness entrepreneurs and several othersectors who resort to the Judicial Power andto some sectors o the Executive power to

    protect their interests.Evidence o this was presented in the

    2008 report elaborated by the Movemento the Aected by Dams (MAB Movimentodos Atingidos por Barragens). That reportinorms that the Republic Presidencys Na-tional Security Oce (GSI) created the Tech-nical Groups o Critical Security and Inra-structures (GTSICS) to monitor, control andrestrain the actions o social movements,allegedly to avoid any loss or the countryseconomy in strategic places, such as the hy-droelectric, highways and railways.

    Another emblematic case comes rom thestate o Par where a Police station Special-ized on Agrarian Conficts exist: the DECA. Itis the repressive and investigative arm o the

    peasants struggle in the region. Sustainedwith ederal government resources and sub-ordinated to the State Secretary o Security,the organ has kept up an excellent job atinvestigating, mapping and identiying the

    3 Available at www.direitos.org.br. Last access:10/03/2006.

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    mento sindical rural que lutam pelo direito

    a terra. Segundo dados parciais da CPT (atjulho de 2007) a DECA trabalhou bem narepresso e criminalizao do movimentocampons, prendendo 76 camponeses e in-diciando em inquritos policiais 131 pessoas.Ao mesmo tempo, no se tem notcia de quealgum tenha sido punido por manter cemi-trios clandestinos na regio, por praticaratos violentos contra camponeses, ou pelos

    crimes de homicdio que, no Par, j vitima-ram mais de 851 pessoas. Desse total, 57 v-timas eram deensores de direitos humanos.H ainda uma lista de 207 pessoas ameaa-das no Estado sem que os ameaadores te-nham sido sequer processados.

    O que se constata que os grandes pro- jetos dos setores mineral e energtico, doagronegcio e da pecuria, ao mesmo tem-

    po em que causam violaes s populaesatingidas e ao meio ambiente, tambm soprotegidos por um intricado aparato legal,que, via de regra, criminaliza quem ousa en-rentar este projeto de desenvolvimento pre-datrio e irresponsvel.

    Estas aes institucionais perpassam to-das as eseras, constituindo-se, muitas vezes,numa poltica de governo. Em maro e 2008,

    a Agncia Brasileira de Inteligncia (ABIN)oi reormulada pelo decreto 6.408. Nessareorma merece destaque a criao de umDepartamento Contra o Terrorismo, que noexistia at ento. Essa alterao trata da es-trutura regimental da ABIN/GSI/Presidnciada Repblica nos arts. 2 e 15 e revela quesetores do governo esto se adequando sexigncias internacionais para que os pa-ses-membros da ONU estabeleam medidasde combate ao terrorismo. Tais adequaesrepresentam riscos aos movimentos sociais,pois a ABIN vem trabalhando com o con-ceito de inteligncia de Herman4, que noexclui temas como movimentos sociais emeio ambiente de suas atribuies.

    Como se v, alm do processo de crimi-nalizao, estes setores, sejam privados oupblicos, tambm cometem violncia e azem

    campanhas de diamao contra os deenso-res de direitos humanos e suas organizaes.A relatora da ONU tambm reconheceu emseu relatrio estas ormas de violao:

    4 Herman (1991) dene inteligncia como tudo aquiloque os rgos governamentais ociais de intelignciaproduzem, restringindo-a esera estatal. A deniode Herman mais precisa, pois, alm de no limitara atividade ao campo do confito, de desvincul-la da

    incondicionalidade do segredo e de no excluir temascomo movimentos sociais e meio ambiente, tam-bm no permite que qualquer entidade que auxiliena tomada de decises seja considerada um potencialprodutor de inteligncia. Nota-se, no entanto, que to-das as denies apresentadas parecem convergir aoairmarem ou sugerirem que a responsabilidade desubsidiar o decisor seria a principal uno da ativi-dade dos rgos de Inteligncia (onte: site da ABIN).

    main leaderships o the MST and o the ru-

    ral syndical movement, both ghting or theright to land. According to partial statistics othe CPT (till July 2007) the DECA workedwell repressing and criminalizing the peas-ant movement, arresting 76 peasants andindicting 131 people in police investigations.Meanwhile it is unheard o that anyone hasbeen punished or having clandestine cem-eteries in the region, practicing violent actsagainst peasants, or or the homicides, whichhave already victimized more than 850 peo-ple in Par. O these last, 57 victims were hu-man rights deenders. In the same state thereis also a list o 207 people who have beenthreatened and whose threateners haventeven been prosecuted.

    The great projects o the energetic and

    mineral sectors, o the agribusiness and live-stock, violate the aected communities andthe environment, and at the same time areprotected by an intricate legal apparatus thatas a rule criminalizes those who dare con-ront this irresponsible and predatory projecto development.

    These actions permeate all institutionalspheres, many times constituting a govern-

    ment policy. In March 2008, the Brazil-ian Agency o Intelligence (ABIN) was re-ormulated by decree 6.408. Attent to thecreation o a Department Against Terrorismwith this reorm. This alteration verses on theregime structure o the ABIN/GSI/ in the 2ndand 15th articles and reveals that governmentsectors are adapting themselves to interna-tional demands that UN member states take

    measures o combat against terrorism. Suchadaptations put in risk social movements,considering that the ABIN has been work-ing Hermans concept o intelligence,4 whichdoes not exclude themes such as socialmovements and environment and theirattributions.

    As you can see, aside the criminaliza-tion process, these sectors be they private

    or public, also commit violence and makeslandering campaigns against the deenderso human rights and their organizations. Inher report the UN rapporteur also recognizedthese orms o violation:

    4 Herman (1991) deines intelligence as everythingthat the ocial government organs produce, restrict-ing it to the states area o action. Hermans denitionis more precise, since it does not limit the action to

    the eld o confict. It detaches intelligence rom theinviolability o secret and does not exclude themessuch as social movements and the environment.It doesnt allow any entity which aids in the decisiontaking as a potential producer o intelligence. Notethat all denitions presented seem to converge whenit comes to arming or suggesting that the responsi-bility o inorming the decider should be the main roleo the organs o Intelligence (source:ABINs website).

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    75. Reconhece-se geralmente que os

    deensores dos direitos humanos quetrabalham com os direitos civis e pol-ticos receberam o reconhecimento parasua contribuio positiva democraciae ormao da lei. Muitos deles oramhonrados com concesses prestigiosas ealguns ganharam proeminncia polticae oram eleitos para cargos pblicos. Poroutro lado, os deensores dos direitos hu-

    manos, particularmente ativistas sociais,empenhados em proteger e promover osdireitos econmicos, sociais e culturaisenrentam ainda a hostilidade de vriossetores da sociedade, assim como doEstado. Esses deensores acreditam queisso devido aos seus desaos para eli-minar as injustias sociais e econmicasem contraposio aos poderosos interes-ses econmicos e sociais da sociedade

    atual.

    76. A relatora observou que, em vriosEstados, as oras policiais veem os de-ensores de direitos humanos e ativistassociais como criadores de problema. Huma tendncia a igualar a pobreza como crime e usar o medo geral do crimepara classicar os deensores de direitos

    humanos como obstculos manuten-o da ordem pblica. Isto particular-mente verdadeiro no exemplo dos quedeendem os direitos dos sem-terra edos sem-teto e que participam das ma-niestaes pblicas de resistncia e deprotestos contra a violao dos direitoshumanos

    77. Em vrios casos os lderes dos movi-

    mentos ou das ONGS tm sido alvo decampanhas constantes de diamao, vi-sando promover o descrdito ao trabalhodeles....

    Para atenuar esses ataques contra os mo-vimentos sociais, inmeras aes e reaesesto ocorrendo no mbito da sociedade civilbrasileira. Movimentos e diversas organiza-

    es tm se articulado em torno do Processode Articulao e Dilogo (PAD), por meio doGrupo de Trabalho de Legitimidade dos Mo-vimentos Sociais, que busca organizao ealiana com a Amrica Latina - e j zeramum seminrio nacional, resultando num dos-si latino-americano.

    A criminalizao vem sendo avaliada pe-los movimentos sociais como um desao co-

    mum a ser enrentado coletivamente e colo-car o tema na agenda poltica de todos notem sido uma diculdade. O problema maiorvem sendo sensibilizar os rgos pblicos deque esta criminalizao representa uma vio-lao aos direitos humanos e uma ameaa democracia. A criminalizao e a judicia-

    75. Generally deenders o human rights

    who work with civil rights and politi-cians were recognizedor their positivecontribution to the law ormation. Manyo them were honoured with prestigiousconcessions and some gained politicalprominence and were elected or publicoces. On the other hand, deenders ohuman rights, particularly social activists,committed to protecting and promoting

    economical, social and cultural rights stillace hostility o various sectors o society,as well as rom the State. These deend-ers believe this occurs because o theireorts to eliminate social and economi-cal injustice in opposition to the power-ul economical and social interests ocurrent society.

    76. The rapporteur observed that, in sev-eral States, the police orce see the hu-man rights deenders and social activistsas troublemakers. There is a tendency tolink poverty to crime and to use the gen-eral ear o crime to classiy deenders ohuman rights as obstacles to the upholdo public order. This is particularly true orthose who deend the right o the land-less and homeless and who participate

    in public maniestations o resistanceand in protests against the violation ohuman rights.

    77. In several cases the leaders o NGOsor movements have been targets o con-tinuous slandering campaigns, aiming todiscredit their work

    In an attempt to soten these attacksagainst social movements several actionsand reactions are going on in the sphere oBrazilian civil society. Movements and severalorganizations have articulated themselvesaround the Process o Articulation and Dia-logue (PAD), through the Group o Work othe Legitimacy o Social Movements who islooking or allegiance and organization with

    Latin America and have already hosted anational seminar which resulted into a LatinAmerican dossier.

    This criminalization has been seen by so-cial movements as a common challenge to beovercome collectively and putting the themeon the political agenda has not been dicult.The greater problem has been sensitizingthe pubic organs that the criminalization is a

    violation o human rights and a threat to de-mocracy. The criminalization and judicializa-tion o the social struggles are this countrysconservative orces strategies to stop theght or democracy and or the advance othe Human Rights, specially the Economical,

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    lizao das lutas sociais so estratgias das

    oras conservadoras deste pas para barrara luta pela democracia e o avano dos Di-reitos Humanos, em especial dos DireitosEconmicos, Sociais, Culturais e Ambientais.Essa tendncia conservadora do Brasil tam-bm vem se repetindo em outros pases daAmrica Latina, por exemplo, na Colmbia,Peru, Argentina, Nicargua, Panam, Equa-dor, Guatemala e Chile.

    Por m, vale ressaltar que esta problem-tica revela um comprometimento do Estadobrasileiro ainda com velhas prticas arbitr-rias, que, aliado a setores dominantes darea privada tem colaborado com essa ondade criminalizao. A atuao do Judicirio, desetores do Ministrio Pblico, seja ederal ouestadual, e de segmentos do Poder Legislati-vo representa uma ace do poder pblico que

    desrespeita os direitos humanos e no colocaem prtica a Constituio Brasileira. Esta ace, convenientemente, ocultada pelo governobrasileiro em seus inormes e na propagandainstitucional no exterior.

    Social, Cultural and Environmental Rights.

    This conservative tendency in Brazil has alsobeen going on in other countries o LatinAmerica, or example, in Colombia, Peru, Ar-gentina, Nicaragua, Panama, Ecuador, Guate-mala and Chile.

    Lastly, it is alsoconvenient to point outthat this problem reveals a commitment othe Brazilian State to the old arbitrary prac-tices, which, allied to the dominating sectorso the private area has collaborated with thiswave o criminalization. The behavior o theJudiciary, sectors o the Public Ministry, bethey ederal or o the state, and o nicheso the Legislative Power represents a side othe public power which disrespects the hu-man rights and does not collaborate withthe Brazilian Constitution. Conveniently thisacet is hidden by the Brazilian governmentin its bulletins and in the institutional com-mercials abroad.

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    Parte 2

    Casos de violaes contramovimentos sociais e defensoresde direitos humanos

    Apresentaremos alguns casos graves deocorridos no Brasil que demonstram a crimi-nalizao de movimentos sociais e de suaslideranas.

    2.1. Violao dos direitos huma-nos na barranca dos rios: o caso domovimento dos atingidos por barragens(MAB)

    Contexto

    No Brasil h aproximadamente 2.000grandes barragens. Sem programas sociais,suas construes prejudicaram pelo menosum milho de pessoas. O Movimento dosAtingidos por Barragens (MAB) congregaessa populao carente na luta pelo aten-

    dimento as suas reivindicaes. O presenterelatrio visa denunciar a criminalizao dedeensores de direitos humanos, atuantespelo respeito aos direitos econmicos, so-ciais e culturais dos atingidos e atingidaspor barragens no Brasil. O emblemticocaso ilustrativo a da Usina Hidreltrica deCampos Novos (UHECN), na Bacia do RioUruguai, regio sul do Brasil.

    Localizada entre o Rio Grande do Sul eSanta Catarina, a bacia do rio Uruguai umadas principais da Amrica do Sul, com umarea equivalente da Alemanha. Nesse rio oiinstalada a Usina Hidreltrica de Campos No-vos, que inundou 2.400 hectares e deslocouoradamente mais de 3.500 pessoas, que -caram sem moradia e sem a terra de onde tira-vam o sustento. A obra intereriu em stios ar-

    queolgicos, causou crescimento demogrcodesordenado, infacionou o mercado imobili-rio regional, alterou o uso do solo e provocouo aumento da criminalidade e da prostituio.

    A UHECN pertence a um consrcio deempresas privadas e pblicas, denominadoENERCAN - Campos Novos Energia S.A. Sua

    Part 2

    Cases of violations committedagainst social movements anddefenders of human rights

    We will present some extreme cases inBrazil that demonstrate the criminalization othe social movements and its leaderships.

    2.1. Violation of human rightson river borders: the case o themovement o those aected by dams(MAB)

    Context

    In Brazil there are approximately 2.000big dams. In the absence o social programs,their constructions have harmed at least onemillion people. The Movement o the aectedby dams (MAB) unies this needy popula-tion or the ulllment o their reivindications.The present rapport intends to denounce this

    criminalization o the deenders o humanrights, acting in respect o economical, socialand cultural rights o those aected by damsin Brazil. The emblematic and exemplar caseis the Campos Novos Hydroelectric PowerPlant, in the Basin o the Paraguay River, inthe south o Brazil.

    Located between Rio Grande do Sul andSanta Catarina, the Uruguay river is one o the

    most important basins o South America, anarea equivalent to Germany. In this river theHydroelectric power plant o Campos Novoswas built, this project fooded 2.400 hectares(ha) and orced more than 3.500 people outo their houses and out o the land o whichthey made their living. The construction inter-ered with archeological sites, caused chaoticdemographic growth, infated the local realestate, altered the soil usage and caused risein criminality and prostitution.

    The Hydroelectric Power Plant o CamposNovos belongs to a consortium o private andpublic companies named ENERCAN Cam-pos Novos Energia S.A (anonymous society).

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    construo oi iniciada em 2001 e concludaem 2005. O acionista majoritrio do consr-

    cio a CPFL Gerao (74,72%), que perten-ce ao Banco Bradesco, Votorantin e CamargoCorrea. A ENERCAN negou-se a negociarcom o Movimento dos Atingidos por Barra-gens, para no gerar precedentes, como asconquistas obtidas pelos atingidos nas hi-dreltricas de It, Machadinho e Barra Gran-de, localizadas na mesma bacia hidrogrca.

    Descrio das violaesEm 26 de setembro de 2001, a ENERCAN

    ingressou com ao possessria de interdi-to proibitrio contra apoiadores do MAB. Adeciso liminar oi deerida pelo Poder Ju-dicirio que proibiu protestos no canteirode obras da barragem e ixou multa diriade R$ 20.000,00 para o caso de descum-

    primento da deciso. As pessoas indiciadasno oram intimadas, uma clara violao aodireito de deesa garantido na ConstituioBrasileira. O juiz apenas publicou um editalde intimao no Dirio de Justia de SantaCatarina, quando as pessoas residiam emoutro Estado. Aps a intimao, por edital,o processo cou arquivado at os atingidospor barragens retomarem seus protestos.

    Em 29 de julho de 2003 ocorreu um dosprimeiros protestos em deesa dos direitos doatingidos e atingidas, consistindo na ocupa-o pacca do escritrio central da empreitei-ra Camargo Correa (responsvel pela constru-o da hidreltrica). A ENERCAN pediu paraconverter a ento extinta ao de interditoproibitrio em reintegrao de posse. O Po-der Judicirio concedeu novamente a ordeme convocou a ora policial contra os atingi-dos no mesmo dia.

    Em 2005 ocorreram novos protestos eo Poder Judicirio deeriu pedido de prisopreventiva contra dez apoiadores do MAB,48 horas antes do Dia Internacional de LutaContra as Barragens (14 de maro).1 No cum-primento desses mandados de priso, ocor-

    1 Processo 014.05.000628-6. 2 vara criminal. Comarca

    de Campos Novos. Pedido de priso preventiva. fs. 133.Ressalte-se que, em tais casos, sabe-se que, entrepessoas de bem que tambm azem parte do grupo,h inmeros indivduos oragidos da polcia agrega-dos ao bando que por se valer de nmeros noescolhe quem ar parte de seu corpo, mesclando osque eetivamente teriam algum direito (embora nose utilizem do meio legal para reclam-los) daquelesoportunistas de ocasio...

    Its construction started in 2001 and was n-ished in 2005. Its majority shareholder is the

    CPFL Gerao consortium (74,72%), whichbelongs to the Bradesco Bank, Votorantimand Camargo Correa. ENERCAN reused tonegotiate with the MAB in order to avoidprecedents, such as the victories achievedin the hydroelectric o It, Machadinho andBarrra Grande, located in the same drainagebasin.

    Description o the violations

    On the 26th o September o 2001, EN-ERCAN led a trespassaction o prohibitoryinterdict against supporters o the MAB. Thepreliminary injunction was granted by theJudiciary Power and prohibited protests onthe construction site o the dam and set adaily ne o US$ 11.428,00 (R$20.000,00) incase o violation o the judicial decision. The

    people indicted were not subpoenaed, a clearviolation o the right to deense guaranteedin the Brazilian Constitution. The judge solelypublished a public noticeo subpoena in theJustice Diary o Santa Catarina, whilst thepeople involved resided in another state. A-ter the subpoena by means o public notice,the process was archived until the aected bydams restarted their protests.

    On the 29th o July o 2003 occurred oneo the irst protests in deense o the a-ected, this protest consisted in the peaceuloccupation o the central oce o the con-tractor Camargo Correa (responsible or theconstruction o the hydroelectric). ENERCANasked to convert the extinct action o prohibi-tory interdict into an action o ejectment. Thejudicial power again conceded the order and

    on the same day summoned the police orceagainst the aected.In 2005 new protests occurred and the

    Judicial Power granted motion o preventiveprison against ten supporters o the MAB,this was 48 hours prior to the InternationalDay o Fight Against Dams (March the 14th).1

    1 Process 014.05.000628-6. 2nd criminal jurisdiction.County o Campos Novos. Request or preventive

    prison, leaves 133. We point out that in such cases it isknown that among the good people that are also parto the group there are innumerous ugitive individuals inthe group this happens because the movement tendsto add up as many members as possible and there-ore does not choose those to be part o their body,mixing those who are actually entitled to some right(even though they do not use o legal means to reclaimthem) and those who are opportunists o occasion

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    reu a maior represso policial j registrada

    contra o MAB at ento, por meio de umaoperao militar na madrugada do sbado,12 de maro, envolvendo cerca de 60 poli-ciais militares (dois tenentes, trs sargentos,vinte cabos e trinta e cinco policiais). Houvepriso de cinco pequenos agricultores e de-zesseis veculos (entre os quais um nibusescolar deixando 55 crianas sem irem escola no dia 16 de maro). dio Grasse, umdos presos, encontrava-se na lavoura comseu lho de sete anos quando a polcia che-gou. A criana oi levada presa junto com opai at a delegacia de Campos Novos, ape-sar de os policiais saberem que a mulher dedio estava em casa, pois oi ela quem lhesinormou onde ele estava. Eles poderiam terdeixado a criana com sua me, mas optaram

    por lev-la at a delegacia de polcia com opai preso. Carlos Grasse, irmo de dio, oipreso, algemado e conduzido delegaciaonde, somente ento, vericaram tratar-se deengano. Ao perguntar o motivo da priso, oiagredido com socos no estmago. Os poli-ciais militares tinham mandado contra Carlosda Silva (e no Carlos Grassi), trabalhadorrural de Campos Novos.

    Alm da truculncia, das oensas moraise agresses sicas praticadas pelos policiaismilitares contra os agricultores e suas amlias,vericou-se que o pedido de priso e a ordemjudicial imputavam genericamente vrios cri-mes aos acusados (ormao de quadrilhavoltada prtica de extorso, ameaa, lesocorporal, dano, apologia e incitao ao cri-me). Os documentos sempre se reeriam em

    terceira pessoa aos integrantes do bando,sem individualizar as condutas e presumindoa culpa deles. A ao penal contra os cri-minosos s seria proposta em 21 de maro,dez dias aps a priso, ou seja, sequer haviaprocesso criminal contra os presos.

    Somente na bacia rio Uruguai, inicialmen-te, oram processados 107 deensores/as dedireitos humanos, entre eles 11 mulheres. Onmero de processos aumentou ainda mais eh multas de 1.000,00 a 10.000,00 reais, emcaso de protestos ou ocupaes. Dez pessoasacusadas pela Usina Hidreltrica de CamposNovos respondem por processos que podemsignicar at trinta anos de priso. E outrosdez podem ser condenados a pagarem mul-tas indenizatrias de at um milho de reais.

    Na regio da hidreltrica da Machadinho, 14pessoas respondem a processos criminaiscom penas de at trinta anos de priso.

    Nas aes de natureza civil contra os de-ensores de direitos humanos destacam-se asde reintegrao de posse; de obrigao deno azer; de interdito proibitrio; cautelar

    In the ulillment o these prison warrants,

    the largest police repression ever registeredagainst the MAB so ar was carried out in amilitary operation on the dawn o Saturday,12th March, involving about 60 police ocers(two lieutenants, three sergeants, twenty cor-porals and thirty ve policemen). Five smallarmers were arrested and sixteen vehicles(o which one school bus - leaving 55 chil-dren without being able to go to school onthe 16th o March) were apprehended. dioGrasse, one o the arrested, was at his cropwith his seven year old son when the policearrived. The child was taken to the police sta-tion with his ather in Campos Novos eventhough the police ocers knew that dioswie was home, since she was the one thatinormed them where dio was. They could

    have let the child with his mother, but in-stead chose to take him to the police stationwith the arrested ather. Carlos Grasse, diosbrother, was arrested, handcued and takento the police station where, only then, didthey notice they had made a mistake. Whenhe asked or the motive o his prison he wasanswered with punches in his stomach. Thepolicemen had a warrant or Carlos da Silva,

    a rural worker o Campos Novos (and notCarlos Grassi).

    Aside the aggressiveness, the moral o-enses and physical aggressions perpetratedby the military police against the agricul-tors and their amilies, the order or prisonand the judicial order generically attributedvarious crimes on the accused (conspiracywith intention o extortion, threat, corporal

    lesion, damage, incitation andapologyocrime). The documents always reerred tothe people in the third person as integrantso the mob, without individualizing theirconducts and presuming them guilty. Theprosecution against the criminals wouldonly be proposed on the 21st o March, tendays ater their arrest, meaning that at thetime they were taken prisoners there werenteven criminal charges against the detained.

    In the Uruguay basin alone, initially 107deenders o human rights, among them 11women, were prosecuted. The number olawsuits kept rising and there are nes o 570to 5700 US$ in case o protests or occupa-tions. Ten people accused by the Hydroelec-tric plant o Campos Novo are responding to

    processes that can lead to up to thirty yearso prison. Other ten might be convicted topay indemnity o up to US$57.140 (1 millionreais). In the region o the hydroelectric oMachadinho 14 people respond to criminalcases with penalties o up to thirty years oprison.

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    inominada; e de indenizao. J nas aes

    de natureza penal os deensores de direitoshumanos so acusados dos seguintes crimes,todos eles supostamente praticados durantemobilizaes e protestos contra as barragens:ormao de quadrilha (art. 288 CPB); esbu-lho possessrio (art. 161, $1, II CPB); dano(art. 163 CPB); invaso de reas de seguran-a nacional (art. 265 CPB); descumprimentode deciso judicial (Desobedincia, art. 330CPB); crime contra a liberdade do trabalho(art. 197 CPB); ameaa aos uncionriosdas empresas (art. 147 CPB); destruio demarcos das barragens (art. 163 e 161 CPB);urto de bens nos canteiros de obras (art. 155CPB); obstruo de vias pblicas (no cri-me); perturbao do sossego pblico (art. 54da lei de contraveno penal); extorso (art.

    158 CPB); incitao ao crime (art. 286 CPB);leses corporais (art. 129 CPB); constrangi-mento ilegal (art. 146 do CPB); vias de ato(art. 21 da lei de contraveno penal).

    Avanos, desaos e propostas

    O MAB denunciou os policiais e as empre-sas envolvidas na criminalizao dos deenso-

    res de direitos humanos, mas os agentes estoimpunes at hoje. A representante especial daOrganizao das Naes Unidas (ONU), HinaJilani, esteve em Santa Catarina no nal de2005, ocasio em que conheceu o Movimentodos Atingidos por Barragens e a situao en-rentada na Barragem de Campos Novos. Norelatrio sobre a Promoo e proteo dosdireitos humanos Hina destaca a importncia

    da ao do MAB e repercutiu as denncias nogoverno brasileiro e no exterior.

    Graas mobilizao, os atingidos ob-tiveram algumas reparaes pelos direitoseconmicos, sociais e culturais violados pelabarragem. Fruto desse processo, 155 amliasconquistaram o direito de receber indeniza-o pela perda de suas atividades econmi-cas. Foi tambm rmado um termo de acordode repasse de R$5,9 milhes para estas a-mlias obterem terra, moradia e garantia desuas atividades econmicas.

    2.2. O crime de ser MST: do direito livre manifestao lei de segurana nacional

    O Brasil o segundo pas do mundo naconcentrao de terras. Apesar de envolver74% da ora de trabalho rural e produzir70% do alimento consumido internamente,a pequena propriedade representa apenas

    In the cases o civil nature against de-

    enders o human rights the ollowing actionsstand out: actions o ejectment; obligation onot doing; injunctions; and o indemnity. As orthe actions o punitive naturethe deenderso human rights are accused o the ollow-ing crimes, all o them allegedly committedduring the mobilizations and protests againstthe dams: conspiracy (art. 288 CPB); violenttrespassing (art. 161, $1, II CPB); property

    damage (art. 163 CPB); invasion o nationalsecurity areas(art. 265 CPB); disobeying acourt order (Desobedincia, art. 330 CPB);crime against the reedom o work (art. 197CPB); threats to the companies employees(art. 147 CPB); destruction o marks o thedams (art. 163 e 161 CPB); thet o goods atthe construction site(art. 155 CPB); obstruc-tion o public roads (is not a crime); disturb-

    ing the public peace (art. 54 o the criminalcontravention law) extortion (art. 158 CPB);incitation o crime (art. 286 CPB); physicalinjury (art. 129 CPB); illegal constraint (art.146 do CPB); misdemeanors (art. 21 o thecriminal contravention law).

    Advances, challenges and proposals

    The MAB denounced the police ocersand companies involved in the criminaliza-tion o the deenders o human rights, butthese agents are unpunished till this day.The special rapporteur o the United Nations(UN), Hina Jilani, was in Santa Catarina inthe end o 2005, occasion in which she metthe Movement o the Aected by Dams andthe situation o the Dam o Campos Novos.

    In her report on the Promotion and Protec-tion o Human Rights Hina emphasizes theimportance MABs actions and repercussesthe denounces to the Brazilian governmentand the world.

    Thanks to the mobilization the aectedgained some damage repair or the economi-cal, social and cultural rights violated by thedam. As a result o this process 155 amilies

    conquered the right to indemnity or the losso their economical activities. An agreementto repass R$5,9 millions or these amiliesto obtain land, habitation and guarantee otheir economical activities.

    2.2. The crime of being MST:from the right to free manifesta-

    tion to the national security law

    Brazil is the second country in the worldwhen it comes to concentration o land. De-spite o concentrating 74% o the rural man-power and o producing 70% o the ood con-

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    24% das terras agricultveis. O Movimento

    dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)luta contra essa concentrao e injustiano campo, organizando ocupaes de re-as improdutivas e promovendo a produoecologicamente correta. Atualmente, quase100 mil amlias organizadas pelo MST es-to acampadas em beiras de estradas exi-gindo reorma agrria. Perseguio polticae criminalizao a deensores de direitoshumanos ligados reivindicao da reormaagrria no Brasil so ameaas constantes aosque lutam para plantar e reduzir a concentra-o de terras no pas.

    Contexto - A situao dareorma agrria no Rio Grande do Sul

    Historicamente, a concentrao de terrastem caracterizado a estrutura undiria doRio Grande do Sul. A ocupao e uso da terrageraram duas realidades distintas no Estado.Na metade norte, organizada em pequenaspropriedades, desenvolveu-se um mercadolocal pujante e altos ndices de desenvolvi-mento humano. Na metade sul, caracteriza-da pela presena signicativa do latindio,

    os ndices invertem-se, demonstrando baixograu de desenvolvimento econmico e social.A reao aos sem-terra no Rio Grande do

    Sul emblemtica. Atravs da luta organi-zada pelo MST, mais de 12 mil amlias con-quistaram a terra no Estado e organizam-seem cerca de 300 assentamentos, com deze-nas de cooperativas e associaes de pro-duo. Mas 2.500 amlias ainda esperam

    a reorma agrria em onze acampamentosno Estado, distribudas nas regies norte,ronteira oeste, sul e metropolitana. Algumasdessas amlias esto h mais de quatro anosacampadas, lutando pela reorma agrria epela oportunidade de produzir alimentos.

    A alta cotao das terras, os entraves ju-rdicos, a oposio da mdia e dos azendeirostm contribudo para estancar o atendimento

    demanda por reorma agrria no Rio Gran-de do Sul. Nos ltimos cinco anos, menos de800 amlias oram assentadas. Estes ndicesso ineriores aos governos do regime militar.

    Descrio das violaes - Criminalizaodos deensores de direitos humanos no RS

    Considerar crime atos e protestos ou cri-

    minalizar os integrantes e lderes de movi-mentos sociais no nenhuma novidade noBrasil ou na Amrica Latina, onde assassi-natos, ameaas, diamao pela imprensa,prises e espionagem de deensores de Di-reitos Humanos so atos corriqueiros. No

    sumed internally, small property represents

    only 24% o the arable land. The Movemento the Landless Workers (MST) ghts againstthis land property concentration and injusticein the countryside by organizing occupationso unproductive areas and promoting ecolog-ically correct production. Nowadays almost100.000 amilies organized by the MST arecamped in borders o roadsdemanding landreorm. Political persecution and criminaliza-tion o deenders o Human Rights linkedto the demand o land reorm in Brazil areconstant threats to those who ght to reduceland concentration in our country and plant.

    Context - The situation o the landreorm in Rio Grande do Sul

    Historically the concentration o land hascharacterized the land structure in Rio Grandedo Sul. The occupation and use o the landhave lead to two dierent realities in thestate. The northern hal which is organizedin small properties developed a prosper lo-cal market and high development numbers.In the southern hal, characteristically markedby the presence o great properties, the in-

    dicators are the opposite, demonstrating lowsocial and economical developments.

    The reaction tothe landless in Rio Grandedo Sul is emblematic. By means o organizedstruggle organized by the MST more than 12thousand amilies obtained land in the stateand organize themselves in about 300 settle-ments, with dozens o cooperatives and asso-ciations o production. But 2.500 amilies arestill waiting on land reorm in eleven settle-ments in this state, distributed in the north,west border, south and metropolitan regions.

    The high values o the land, legal barriers,the opposition o the media and o the arm-ers have contributed to inhibit the supply othe demand o land-reorm in Rio Grande doSul. In the last ve years less than 800 ami-

    lies were settled. These statistics are inerioreven to those o military regimes.

    Description o the violations -Criminalization o human rights deendersin Rio Grande do Sul

    In Brazil or in Latin America consideringprotests and political acts crimes or criminal-

    izing members and leaders o social move-ments is nothing new. Here murders, threats,slandering by the press, arrests and espio-nage o Human Rights deenders are trivialacts. This kind o thing last happened twen-ty years ago when the diretas j campaign

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    entanto, h mais de vinte anos - quando a

    campanha pelas diretas j antecipava aderrocada da ditadura militar - no se crimi-nalizava a existncia de um movimento socialsob a acusao de deender o socialismo,desenvolver a conscincia revolucionria,possuir uma opo leninista ou cultuarpersonalidades do comunismo como KarlMarx e Che Guevara.

    Conhecido no mundo todo por sua ca-pital, Porto Alegre, ter sediado os primeirosFruns Sociais Mundiais, esse Estado passoua ser oco de ateno por ser o palco de umconjunto de aes obscurantistas contra oMST, dignas do auge da guerra ria e das di-taduras militares na Amrica latina.

    Em 11 de maro de 2008 o Ministrio P-blico Federal de Carazinho, ingressou comao criminal, aceita pela Justia Federal,contra oito supostos integrantes do MSTpelo cometimento de delitos contra a Se-gurana Nacional. A ao se baseia na Leide Segurana Nacional (LSN) promulgadaem 1983, no inal da ditadura militar. Se-gundo a denncia, nos anos de 2004, 2005e 2006, os grupamentos dos quais aziamparte os acusados constituram um Es-tado paralelo, com organizao e leisprprias, teriam resistido ao cumprimen-to de ordens judiciais, ignoraram a legi-timidade da Brigada Militar2, teriamutilizado tticas de guerrilha rural e esta-riam recebendo apoio de organizaes es-trangeiras tais como a Via Campesina e asFARC Foras Armadas Revolucionriasda Colmbia.3 Eles (os sem-terra) aron-taram o Estado de Direito de orma sistem-

    tica, declarou a procuradora que ingressoucom a ao em entrevista imprensa. Estesatos so enquadrados nos arts. 16, 17 e 20da LSN cujas penas mximas somadas sode 30 anos de recluso e tratam dos inte-grantes de grupamentos que tenham porobjetivo a mudana do Estado de Direito comuso de violncia e de atos de terrorismo porinconormismo poltico.

    Se todo mal traz um bem consigo, o m-rito desta ao penal oi divulgar a existnciade trs documentos secretos que a procu-radora usa como provas contra os acusa-dos. O primeiro deles intitulado Situaodo MST na regio norte do RS, de maio de2006, oi elaborado pelo Coronel Waldir Joo

    2 Denominao da Polcia Militar do RS.

    3 Cabe destacar que, a pedido da procuradora, a Pol-cia Federal de Passo Fundo, investigou o MST do RSdurante 2007 e no conseguiu encontrar provas daexistncia de vnculos do movimento com as FARC oupresena de estrangeiros realizando treinamento deguerrilha nos acampamentos do movimento. Concluiupela inexistncia de crimes contra a segurana do Es-tado, no indiciando nenhum acusado e requerendo oarquivamento do inqurito policial.

    (the campaign or direct elections in Brazil)

    anticipated the all o the military dictator-ship social movements were criminalized un-der the accusation o deending socialism,developing revolutionary consciousness,having a Leninist option or worshippingcommunist personalities like Karl Marx andChe Guevara.

    Known in the whole world or the actthat its capital Porto Alegre hosted the rstWorld Social Forums, this state now has beenthe centre o attentions or being stage oseries o obscure actions, worthy o peakcold war and military dictatorships in LatinAmerica strategies.

    On March the 11th the Public FederalMinistry o Carazinho led a criminal lawsuit,accepted by the Federal Justice, against eight

    alleged members o the MST or the commit-ment o crimes against National Security.The lawsuit was based on the Law o Na-tional Security promulgated in 1983, at theend o the military dictatorship. According tothe complaint in the years o 2004, 2005 and2006, the groups o which the accused werepart o constituted a parallel State withproper law and organization, had resisted

    the observance o judicial orders, ignoredthe legitimacy o the Military Brigade,2had used rural guerilla: tactics and wereallegedly being supported by oreign or-ganizations such as the Via Campesina andthe FARC- Revolutionary Armed Forces oColombia.3 They (the landless) arontedthe State o Rights in a systematic manner,declared the attorney who led the complaint

    to the press. These acts are encountered inthe articles 16, 17 and 20 o the National Se-curity law and the sum o the maximum pen-alties against the: members o the groupswho have the intention o changing the Stateo Rights with the use o violence and acts oterrorism through political inconormity, is o30 years o incarceration.

    I all evil brings some good along themerit o this criminal lawsuit was the disclo-sure o the existence o three secret docu-ments that the attorney uses as evidenceagainst the accused. The rst, called: Situa-tion o the MST in the northern region o RS,dated May 2006, was elaborated by Coronel

    2 Name o the military police in Rio Grande do Sul.3 It is convenient to highlight that, at request o the

    attorney, the Federal Police o Passo Fundo investi-gated the MST o Rio Grande do Sul during the year o2007 and was unable to nd evidence o the existenceo any bonds with the FARC or the presence o oreign-ers participating in guerilla training at the camps othe movement. Thereore they concluded that crimesagainst the State security inexisted and thereore didnot indict any accused and requested the closure othe police investigation.

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    Reis Cerutti4, chee do Comando Regional do

    Planalto da Brigada Militar do RS. Neste re-latrio do servio secreto da Brigada Militar- BM (PM2), de carter reservado, constaque rgos pblicos ederais como o INCRAe a Companhia Nacional de Abastecimento- CONAB, um deputado estadual e movimen-tos sociais (MST, MAB e MPA) so alvos deinvestigaes dos servios secretos da Pol-cia. Nas concluses so apresentadas vriasteses: vinculao do governo ederal aoMST; do MST com uma organizao crimino-sa organizada nos presdios paulistas (PCC);do MST com as FARC; presena de estrangei-ros nos acampamentos para dar treinamentomilitar. A tese mais espetacular a de queo movimento objetiva criar uma zona de do-mnio territorial no sul do Brasil, na regiocompreendida entre a Fazenda Anoni (onde400 amlias esto assentadas) e a FazendaGuerra. Essa ltima estaria sendo reivindica-da para desapropriao para reorma agrria,segundo o documento, por ser uma regioestratgica do ponto de vista geopolticopor sua localizao, que permitiria acesso sronteiras com a Argentina, e por ser uma dasmais ricas e produtivas regies do Estado.

    O segundo documento deles, o relatriode inteligncia reservado n. 1124-100-2007, elaborado pelo servio secreto da BM(PM2) a pedido do subcomandante geral doEstado Maior, cel. Paulo Roberto Mendes Ro-drigues, conclui que a atuao da Via Campe-sina em especial o MST - aronta a ordempblica e a ordem constituda. Caracteriza-oscomo movimentos que deixaram de realizar

    atos tpicos de reivindicao social para reali-zar aes criminosas, taticamente organizadascomo se ossem operaes paramilitares.

    Neste perodo oram descobertos inme-ros grampos telenicos clandestinos. Ocor-reram apreenses ilegais de documentos eagendas de maniestantes, iniltrao deagentes da PM2 como agitadores em pro-testos. Havia monitoramento de pessoas e

    sedes de entidades e identicao criminalmassiva dos participantes de atos pblicos,ossem estudantes, sindicalistas ou integran-

    4 Quando de sua passagem para a reserva em 2007,em entrevista ao jornal Peridico Central de PassoFundo, o coronel declarou que, durante a ditaduramilitar brasileira, nos anos 80, permaneceu cerca detrs anos inltrado no MST, no Acampamento da En-cruzilhada Natalino. Com o codinome Toninho, aziase passar por um uncionrio barbudo e cabeludo do

    INCRA. Conquistou a simpatia de parte dos acampa-dos e deixou 34 aliados de batismo e casamento.Fiquei cerca de trs anos no Servio de Inteligncia.Morava nas barracas junto com os sem-terra. Quan-do tinha oportunidade, passava inormaes para ocomando atravs de um rdio escondido numa borra-charia das proximidades. Meu objetivo era convenceras pessoas a irem para os assentamentos oerecidospelo governo. Assentei muita gente no Mato Grosso.

    Waldir Joo Reis Cerutti,4 chie o the Regional

    Command o the Planalto o the Military Bri-gade o RS. This report o reserved aspectmade by the secret service o the Military Bri-gade BM (PM2), states that ederal publicorgans such as the INCRA and the NationalCompany or Supplies (CONAB) , one statedeputy and social movements (MST, MABand MPA) are target o polices secret serviceinvestigations. At the conclusions dierenttheories are presented: link o the ederalgovernment to the MST; o the MST with acriminal organization acting in the prisons oSo Paulo state (PCC); o the MST with theFARC; presence o oreigners at the campingsso as to provide military training. The mostspectacular theory is that the movementplans to create a zone o territorial domin-ion in the south o Brazil, in the region be-tween the Anoni Farm (where 400 amiliesare settled) and the Guerra Farm. Accordingto this document, the Guerra Farm is beingclaimed or land reorm disappropriation be-cause its a strategic region and becauseits localization rom the geopolitical point oview would give access to Argentina bordersand also because its one o the richest andmost productive regions o the state.

    The second document, the reserved in-telligence report n. 1124-100-2007, elabo-rated by the secret service o the MilitaryBrigade by command o the general sub com-mandant coronel, Paulo Roberto Rodrigues,concludes that the acts o the Via Campesina and specially the MST aronts the publicand established order. He denes the move-

    ments as having switched rom carrying outtypical acts o social reivindication to carryingout criminal actions, tactically organized as inparamilitary operations.

    At this time innumerous illegal phonetaps were discovered. Documents and mani-estants agendas were illegally apprehended.PM2 agents inltrated themselves in protestsact as agitators. People and head oices

    were monitored and there was massivecriminal identication o the participants inpublic acts, whether they be students, syn-

    4 At the occasion o his location to the military reserve,in 2007 in an interview to the newspaper PeridicoCentral de Passo Fundo the coronel declaredthat during the Brazilian military dictatorship, inthe 80s, he was iniltrated in the MST at the En-cruzilhada Natalino settlement or three years. Underthe codename Toninho he pretended to be a hairy

    employee o the INCRA. He gained sympathy in themovement and let behind 34 godchildren and I was in the Intelligence Service or three years. Ilived in the shacks with the landless. When I had theopportunity I passed in ormation to the commandthrough a radio I hid in a shop in the proximities. Mygoal was to convince people to go to the sett lementsoered by the government. I settled a lot o peoplein Mato Grosso

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    tes de movimentos sociais.5 Na maioria dos

    despejos e protestos ocorreu a mobilizaode grandes contingentes de policiais (de100 e 800 policiais) do BOE Batalho deOperaes Especiais, com uso de ardamen-to camulado (semelhante ao do exrcito),aquartelamento das tropas, mobilizao dabanda marcial e ormao de pelotes comcavalaria e ces.

    O ato mais signicativo de todos talveztenha sido a atuao conjunta da Polcia Civil(60 agentes), Polcia Militar (800 policiais),Polcia Federal, Corpo de Bombeiros e PolciaRodoviria Estadual, para dissolver, o XXIVCongresso Estadual do MST6 realizado nosdias 14 a 17 de janeiro de 2008. O motivopara a dissoluo oi o cumprimento do man-dado de busca e apreenso de R$ 200, umamquina otogrca e um anel. Este exrci-to cercou todos os acessos comunidadeda COANOL, no assentamento da FazendaAnnoni (bero do MST no Brasil). A rea -cou congelada o dia inteiro. Desde as seishoras da manh nenhum dos mil e quinhen-tos participantes do congresso pde entrarou sair do local. Todas as atividades progra-madas para o ltimo dia, 17 de janeiro, o-ram suspensas. Os presentes queriam azervaler seu direito de reunio e a PM queriaingressar e identicar criminalmente todosparticipantes. No nal da tarde, cerca de 200policiais ingressaram no local e revistaram osnibus e alojamentos e nada oi encontrado,mas o congresso estava encerrado.

    O terceiro documento revela que o Con-selho Superior do Ministrio Pblico - CSMP

    do RS, rgo independente dos outros trspoderes da Repblica, cuja misso seria de-ender a Constituio Federal, descumpre seupapel no Estado. Instaurou um procedimentoadministrativo e designou dois promotorespara realizar um levantamento de dados so-bre as atividades do MST. Os investigadoresenocaram em sua tarea a atividade deinteligncia, undamental para planeja-

    mento estratgico, ormulando relatriocom os seguintes tpicos 1. Compreensodo enmeno MST, 2. Identicao de seusocos de atuao, 3. Esclarecimento de seumodus operandi, 4. Levantamento das con-seqncias de sua atuao, tticas e jurdicas;5. Propositura de linhas de enrentamento doproblema. Ao apresentar o relatrio con-clusivo das investigaes ao CSMP, o con-

    selheiro-relator, procurador Gilberto Thums,deendeu a necessidade de desmascarar o

    5 Estima-se que mais de 2000 maniestantes e lideran-as oram chados pela PM2 nestes dois anos, pelomenos 200 responderam processos judiciais.

    6 Ao similar ocorreu h 40 anos durante a ditaduramilitar brasileira quando da dissoluo do Congressoda UNE em Ibina SP.

    dicalists, or members o social movements.5 At

    most evictions and protests great contingentso police were mobilized (rom 100 to 800 po-licemen) o the Battalion o Special Operations,with the use o camoufage garment (similarto those o the army), call to readiness otroops, mobilization o the marching band andormation o squads with cavalry and dogs.

    Perhaps the most signicative act o allwas the union o the Civil Police (60 agents),

    Military Police (800 policemen), Federal Police,Fire Corps and the state Highway Police to dis-solve the MSTs 24th state Congress6 held onthe 14th and 17th January o 2008. The mo-tive or the dissolution was the enorcemento the search and apprehension warrant orUS$ 114,30, (R$200) one photo camera anda ring. This army closed all access to theCOANOL community, at the Fazenda Annoni

    settlement (birthplace o the MST). The areawas rozen all day. From six a.m. on noneo the 15 hundred participants o the con-gress were able to leave or enter the place. Allactivities or the 17th, the last day, were can-celled. Those present wanted to exercise theirright to reunion and the police wanted toenter and criminally identiy all participants.At the end o the aternoon about 200 police-

    men entered the place, searched the bus, theaccommodations and nothing was ound, butthe congress was over.

    The third document reveals that the Su-perior Council o the Public Ministry CSMPo RS, an organ whose mission it should beto deend the Federal Constitution, missionwhich it does not accomplish, and is indepen-dent rom the Republics three powers. They

    opened an administrative procedure and as-signed two prosecutors to collect data onthe MSTs activities. In their assignment theinvestigators ocused on intelligence activi-ty. which is undamental or strategic plan-ning, putting together a report with the ol-lowing topics 1. Comprehension o the MSTphenomenon, 2. Identication o their actionscope, 3. Elucidation o their modus ope-

    randi, 4. Identication o the consequenceso their work: tactically and juridically. 5. Propo-sition o lines o combat against the prob-lem. At the occasion o the presentation othe conclusive report o the CSMPs investiga-tions, the prosecutor, Gilberto Thums deend-ed the necessity o unveiling the MST, sinceaccording to him its a criminal organizationwith clearLeninist inspiration that uses rural

    guerilla tactics. The prosecutor criticized thepublic powers complacency, knowingly the

    5 It is estimated that more than 2000 maniestants andleaderships have been booked by the PM2 in thesetwo years, at least 200had to respond lawsuits.

    6 Similar action occurred 40 years ago, during the mili-tary dictatorship, when they dissolved UNE (NationalStudents Union) Congress in Ibiuna SP.

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    MST, por tratar-se, segundo ele, de uma

    organizao criminosa, com ntida inspiraoleninista, que se utiliza de tticas de guerri-lha rural. O procurador criticou a compla-cncia do poder pblico, notadamente dosgovernos de esquerda que se limitariam aornecer cestas bsicas, lonas para as bar-racas, cachaa, treinamento em escolas paraconhecer a cartilha de Lnin, etc. O procu-rador chama de vagabundos e invasores

    movidos a cachaa os sem-terra. Propeque sejam ingressadas aes judiciais para adissoluo do MST e a declarao de suailegalidade. E ainda: suspender marchascolunas, ou outros deslocamentos em massade sem-terras; investigar os integrantes deacampamentos e a direo do MST pela pr-tica de crime organizado; intervir nas trsescolas (...) de infuncia externa do MST;

    desativar os acampamentos que estejamsendo utilizados como base de operaespara invaso de propriedades; investigar osassentamentos promovidos pelo INCRA oupelo Estado do Rio Grande do Sul. Por m,sugere a ormulao de uma poltica ocialdo Ministrio Pblico (...) com a nalidade deproteo da legalidade no campo.

    Na reunio de 03 de dezembro de 2007

    o voto e os encaminhamentos propostos peloprocurador oram submetidos e aprovadospor UNANIMIDADE pelo CSMP. O Conselhodecidiu ainda que o reerido expediente [oprocesso administrativo n. 16315-09.00/07-9]tem carter condencial (...).

    Aps vrias denncias destes atos do Mi-nistrio Pblico do RS MPRS, o CSMP escla-receu que em 07 de abril de 2008 reuniu-se

    em nova sesso e ez reticao da ata dodia 03 de dezembro de 2007. E isso se deupor conta da repercusso e reao dos seto-res democrticos da sociedade brasileira. Ain-da em 30 de junho de 2008, em nova reuniodo MPRS, oi armado que tudo no passoude um equvoco. Tudo que constou na atano oi aprovado, azendo constar que a deli-berao do conselho teria sido somente a de

    designar promotores de justia para conhe-cer o expediente e levar a eeito as medidaslegais cabveis e no os encaminhamentospropostos pelo procurador Thums.

    Apesar da reticao, as decises propos-tas pelo relator do processo oram executadaspor integrantes do MP em todo o Rio Grandedo Sul. Vrias aes visando impedir marchas,cancelar ttulos eleitorais, retirar crianas de

    marchas, e solicitar despejos de acampamen-tos continuaram ocorrendo. Em 11 de junhode 2008, mesmo dia em que o cel. Mendesdispersava uma maniestao nas ruas dacapital gacha, vrios promotores ingres-saram com uma ao judicial e obtiveram li-minar para o despejo de dois acampamentos

    let-wing governments which limit them-

    selves in oering consumer baskets, canvasor the tents, cachaa (typical Brazilian alco-holic drink), school training to learn the Leninmanual, etc he calls the landless: bumsand invaders moved by alcohol. He pro-poses judicial measuresor the dissolution othe MST and the declaration o its illegality.It is also necessary to: suspend marchingcolumns, or any other mass displacements

    o landless; investigate members o the MSTcampings and management or the practiceo organized crime; intervene in the threeschools () o MSTs external infuence; de-activate the campings that are being used asoperation bases or the invasion o prop-erties; investigate the settlements promotedby the INCRA or the state o Rio Grande doSul. He also suggests the ormulation o an

    ocial policy rom the Public Ministry ()with the intention to protect legality in thecountryside.

    According to a survey done by the Orga-nization o the Ibero-American or Education,Science and Culture (0EI) in its publicationMap o Violence in Brazilian Municipalities)Coronel Sapucaia is the third in the rankingo Brazilian municipalities with the greatest

    numbers o homicides (per 100.000 inhabi-tants) in its total population in the periodbetween 2002/2004.

    In the meeting o the 3rd o December,2007 the votes and solutions proposed bythe attorney were submitted and approvedby unanimity by the CSMP. The Council alsodecided that this session [the administrativeprocess number 16315-09.00/07-9] is con-

    dential (...).Ater several denounces o these acts at the

    Public Ministry o Rio Grande do Sul MPRS,the CSMP explained that on the 7th o Aprilo 2008 they gathered in a new meeting andhad the minutes o the 3rd o December o2007 rectied. This happened because o therepercussion and reaction o the democraticsectors o Brazilian society. On the 30th o

    June, 2008, in a new meeting o the MPRSthey declared that it

    Was nothing more than a mistake.Everything on the minute was disapproved,making it understood that the Councils de-liberation had been only to designate Pro-secutors to know about the session and takethe necessary legal measures and not thesuggestions proposed by the attorney Thums.

    Despite o the rectication, the decisionsproposed by the rapporteur o the processwere carried out by members o the PublicMinistry in all o Rio Grande do Sul. Severalactions with the intention to prevent mar-ches, cancel voting titles, remove childrenrom the marches and the solicitations or

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    do MST existentes em propriedade privada

    legalmente cedida pelos proprietrios aosacampados. No dia 17 de junho de 2008, osmesmos promotores, ingressaram com outrastrs aes nas comarcas de So Gabriel, Ca-noas e Pedro Osrio, criando zonas de restri-o de direitos ao redor de trs azendas queso reivindicadas para ns de reorma agrriapelo MST. Na prtica, as aes criaram zonasespeciais onde os direitos de ir e vir, de reu-

    nio e maniestao esto suspensos e colo-cam em risco a integridade sica de cerca de800 amlias que esto merc da violnciae abuso de poder da PM, que passou a terrespaldo judicial para atuao arbitrria.

    Avanos, desaos e propostas

    O MST denunciou esta situao junto Comisso de Direitos Humanos do SenadoFederal, OEA, ONU, CDDPH da SEDH, e aoComit Estadual contra a Tortura. Entretan-to, todos os policiais militares ainda estoimpunes. A reao das oras democrticasbrasileiras oi surpreendente: centenas deentidades nacionais e internacionais semaniestaram em deesa do MST. Fruto doprocesso de mobilizao, o governo ederaltem sido constrangido a acelerar o processode reorma agrria.

    2.3. A criminalizaodas mulheres camponesas

    A violao de direitos das mulheres cam-

    ponesas ocorre numa poca em que a aodos movimentos sociais ortemente crimi-nalizada no Brasil. Diversas organizaes e oMovimento de Mulheres Camponesas (MMC)tm se deparado com essas violaes na lutapara melhorar a situao de milhes de pro-dutoras de alimentos, discriminadas e semdireitos aos servios pblicos de previdnciasocial, educao e sade.

    Uma das bandeiras do MMC rear aexpanso da monocultura da celulose, queexpulsa camponesas, indgenas e arodes-cendentes do campo. A expanso da celulo-se se deu a partir dos anos 70, nas regiesSudeste e Sul do Brasil. No Rio Grande doSul, esse avano oi iniciado em 1972, nasmargens do Rio Guaba, regio produtora dearroz, com pastagens naturais e pesca. Com

    nanciamento governamental, nessa rea oiinstalado um grande complexo industrial depasta de celulose para a exportao, pela multi-nacional Aracruz Celulose, associada com a Es-tora Enzo e a Votorantim. Essas trs empresasplanejam plantar, em menos de dez anos, cercade um milho de hectares de deserto verde.

    evictions continued going on. On the 11th

    o July o 2008, the same prosecutors ente-red three more procedures in the counties oSo Gabriel, Canoas and Pedro Osrio, cre-ating restriction zones o rights surroundingthree arms which are vindicated or meanso agrarian reorm by the MST. In reality theprocedures created special zones in whichthe right o movement, o meeting and todemonstrate were suspended and put in riskthe physical well-being o 800 amilies whowere let to violence miseasance o the Mi-litary Police, which obtained judicial supportor arbitrary actions.

    Progresses, Challenges and proposals

    The MST denounced this situation withthe Federal Senates Committee or HumanRights, OEA, UN, CDDPH and SEDH and thestate Committee against Torture. However,all military police oicers are still unpuni-shed. The reaction o the Brazilian democra-tic orces was amazing: hundreds o natio-nal and international agencies maniestedthemselves in deense o the MST. Becauseo the mobilizations the ederal government

    has been embarrassed into speeding up theprocess o agrarian reorm.

    2.3. The criminalizationof the peasant women

    The violation o peasant womens rightsoccurs in a time in which the actions o social

    movements are strongly criminalized in Bra-zil. Several organizations including the Move-ment o Peasant Women (MMC) have acedthese violations in the ght to better the situ-ation o millions o ood growers, discriminat-ed and without access to the public serviceso social security, education and health.

    One o the goalso MMC is to slow downexpansion o cellulose monoculture, which

    drives away peasants, indigenous peopleand aro descendants rom countryside.Expansion o cellulose started in the 70s, insoutheast and south Brazil. In Rio Grande doSul this expansion was initiated in 1972, onbanks o the Guaiba River a rice crop regionwith natural pastures and shing activities.With governmental inancing,a huge in-dustrial complex o cellulose paste was im-

    planted by multinational Aracruz Celulose,associated with Estora Enzo and Votorantim.These three companies intend to plant, in lessthan ten years, about one million hectares ogreen desert (as we call the elds o mono-culture eucalyptus).

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    H uma total servido do Estado s em-

    presas, at mesmo com alterao de leis paragarantir os interesses do capital. Exemplodisso oi diminuio da rea de ronteira na-cional de 150 km para 50 km. E ainda a totaldesestruturao da Fundao Estadual deProteo Ambiental - FEPAM (rgo executi-vo do Estado do RS, responsvel pela vistoriae liberao de reas para plantios).

    Em contraposio a isso esto os movi-

    mentos sociais, representantes da classe tra-balhadora. Buscando azer um enrentamen-to ao sistema capitalista e patriarcal, onde asrelaes comerciais e a opresso das mulhe-res so enmenos rmemente entrelaados,ousaram azer uma ao de prejuzo contra ocapital que tanto viola os direitos humanos.Essa ao se baseou no direito de resistnciaque consiste em reagir a um estado de coisas

    que rontalmente prejudicam a dignidade dapessoa humana. Por isso, essa ao oi de ex-trema ousadia.

    Descrio dasviolaes de direitos, durante invaso nasede das Associaes de Mulheres,em Passo Fundo, em 21 de maro de 2006.

    Na tarde de 21/03/2006, em Passo Fundo/RS,a pretexto de se buscar elementos incrimina-trios acerca de maniestao do Movimentode Mulheres Camponesas e das mulheres daVia Campesina, no dia 08 de maro, em a-zenda da multinacional Aracruz Celulose, emBarra do Ribeiro/RS, cinco agentes da PolciaCivil gacha, cheados pelo Delegado da 29Delegacia de Polcia Regional de Camaqu/RS,

    Rudimar de Freitas Rosales, em cumprimentoa Mandado de Busca e Apreenso (autorizadopala 1 Vara Criminal da Comarca de PassoFundo) na sede da Associao das MulheresTrabalhadoras Rurais do Rio Grande do Sul AMTR/RS. A partir de virulenta e ilcita ao,invadiu, sem qualquer mandado, a sede na-cional da Associao Nacional de MulheresCamponesas (ANMC), promoveu devassa em

    todos os cmodos e objetos do local, muitosdos quais sendo abusivamente apreendidos.Na sede da ANMC uma dirigente e uma

    uncionria oram mantidas em virtual crce-re privado, sem se locomoverem sequer paratomar gua e irem ao banheiro. Permanece-ram durante o tempo da diligncia sob a mirade arma de ogo, e por cerca de 30 minutos,sob intensa violncia psicolgica, humilhao

    e ameaas.Condutas abusivas e ilegais tambm ocor-reram na sede da AMTR/RS, onde sete mulhe-res e uma criana soreram as mesmas amea-as. Foram connadas em uma pequena peada casa, proibidas de se comunicarem comadvogado.

    The State is totally submissive to the

    companies, reaching the point o changinglaws to assure the interests o the capital.An example is the reduction o the area onational rontier rom 150 km to 5o km. Andalso the complete destructurizing o the stateFoundation or Environmental Protection -FEPAM (an executive organ o the state oRio Grande do Sul, responsible or the inspec-tion and clearance o areas or crops).

    On the other side are the social move-ments, representants o the working class.They dared to take an action o damageagainst the capital that so much violates thehuman rights, conronting the patriarchal andcapitalist system, where commercial relationsand womens oppression walk together. Thisaction was based on the right o resistance,which consists o reacting to a state o things

    that rontally harm the human persons dignity.That is why this action was o extreme audacity.

    Description o the violationo rights during the invasionat the headquarters o the WomensAssociation in Passo Fundo,on the 21st o March o 2006.

    On the aternoon o 21/03/2006, in PassoFundo, Rio Grande do Sul with the pretext olooking or incriminatory elements amongstthe maniestation o the Movement o thePeasant Women and the women o the ViaCampesina, on the 8th o March on the multi-national arm o Aracruz Celulose, in Barra doRibeiro/RS (Rio Grande do Sul), ve agentso the Civil Police o RS under the commando the chie o the 29th Regional Police sta-tion o Camaqu/RS, Rudimar de Freitas Ro-sales, in service o the Apprehension Warrant(authorized by the 1st criminal jurisdiction othe South - AMTR/RS. Without anywarrant in aviolent and illegal action the police invaded thenational head oce o the National Associationo the Peasant Women (ANMC) and havockedthe rooms and objects o the place, many o theobjects being abusively apprehended.

    At the head oce o the ANMC one man-agaresse and an employee were virtuallykept in alse imprisonment, without evenbeing able to move to drink water and go tothe bathroom. During the diligence they werekept in the aim o a re weapon and or about30 minutes were kept under severe psycho-logical violence, humiliation and threats.

    Abusive and illegal conducts also oc-curred at the head oice o the AMTR/RS,where seven women and one child sueredthe same threats. They were conined in asmall room o the house, and were orbiddento contact their attorney.

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    Em ace da legislao brasileira, descon-

    siderando garantia undamental da Constitui-o Federal de 1988 impressa no art. 5,inciso XI , integrando a 1 Dimenso de Di-reitos Fundamentais, de validade universal,os agentes estatais, alm do abuso de poder(sem punio), perpetraram o crime de vio-lao de domiclio. Previsto como ato tpicopenal no art. 150, do Cdigo Penal agrava-do, conorme o 2, por serem os acusadosuncionrios pblicos , oram denunciadospelo Ministrio Pblico, em 26/12/2007, noprocedimento n 021/2.07.0010501-0.

    Ignorando todas as evidncias e auto-ria constantes da diligente investigao daPromotoria e julgando de orma parcial naprtica, chancelando a ilegal ao policial ,o magistrado Antnio Eliseu Hildebrando de

    Arruda, da 2 Vara Criminal da Comarca dePasso Fundo, rejeitou sumariamente a slidadenncia apresentada, nos seguintes termos:

    Rejeito a denncia oertada por alta dejusta causa para instaurao da ao pe-nal, sendo que o recebimento da mesmaimplicaria sancionar um eventual abusode autoridade por parte do Ministrio

    Pblico, ao pretender instaurar ao pe-nal de orma injusticada, j que no sevislumbra qualquer sinal de indevido in-gresso policial na residncia. No havianem necessidade de autorizao judicialpara ingresso no local, por se tratar desedes ou escritrios de associaes, eno local de abrigo ou residncia, sendoque o ingresso poderia ser eetivado pelaautoridade policial, independente de or-dem judicial [...] A representao eetiva-da pela Comisso de Direitos Humanosde Passo Fundo j nasceu deciente esem base jurdica [...] O Ministrio Pbli-co, como instituio essencial unojurisdicional, e dita independente parao exerccio de suas unes constitu-cionais, no pode se prestar a servir deinstrumento de eventuais movimentos

    sociais requerendo instaurao de aopenal indevida e legitimando evidentetentativa de enraquecimento da atua-o de agentes estatais na investigaode verdadeiros atos delituosos, como ainvaso e destruio da propriedade pri-vada, em verdadeiro atentado ao EstadoDemocrtico de Direito.

    Buscando reverter essa descabida mani-estao do Poder Judicirio cujo contedorevela oensa pessoal ao promotor de justialvaro Luiz Poglia, da 3 Promotoria, com orecebimento da denncia, a Acusao Pbli-ca apresentou recurso ao Tribunal de Justiado Estado do Rio Grande do Sul.

    In the light o the Brazilian legislation,

    disregarding the undamental guarantee othe 1988 Federal Constitution article 5,item XI