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  • R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 123 / Abril, 2005 / No 2.113

    Fundada em 21 de janeiro de 1883

    Fundador: Augusto Elias da Silva

    ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

    Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

    70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

    Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

    [email protected]

    Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

    Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

    Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

    20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2187-8282; Fax: (21) 2187-8298

    E-mail: [email protected]

    E-mail: [email protected]

    Capa: Agadyr Torres Pereira

    Tema da Capa: A NOVA ERA – homenagem ao ad-vento do Espiritismo, com a publicação de O Livrodos Espíritos, por Kardec, em 18 de abril de 1857.

    EDITORIAL 4A Nova Era

    ENTREVISTA: HONÓRIO ONOFRE DE ABREU 13Vibrações do Bicentenário do Codificador alcançam o coração dos espíritas

    PRESENÇA DE CHICO XAVIER 15

    O Espiritismo na atualidade – Emmanuel

    ESFLORANDO O EVANGELHO 21Busquemos o melhor – Emmanuel

    A FEB E O ESPERANTO 34Arthur Azevedo, Esperanto, Espiritismo – Affonso Soares

    PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 36Problema psicológico – Dois irmãos idiotas – Allan Kardec

    SEARA ESPÍRITA 42

    A vinda do Consolador – Juvanir Borges de Souza 5

    Terapia do Perdão – Joanna de Ângelis 9

    Os limites da transgressão – Carlos Abranches 11

    Mão divina – Antero de Quental 14

    Os sinais do Reino – Richard Simonetti 16

    Provérbios – Casimiro Cunha 18

    A convivência amorosa – Aylton Paiva 19

    Exposição Kardec 200 anos chega ao 22

    Rio de Janeiro em abril

    Compromisso – Dalva Silva Souza 24

    Selos homenagearam o Espiritismo no Brasil 27

    Formação do Trabalhador Espírita – Cairbar Schutel 28

    Psicografia espírita – José Carlos Monteiro de Moura 29

    Retorno à Pátria Espiritual – Antonio Fernandes Rodrigues 31

    Em dia com o Espiritismo – V – Marta Antunes Moura 32

    Prática do Bem – Washington Borges de Souza 38

    Repensando Kardec – Da Lei de Sociedade – 39

    Inaldo Lacerda Lima

    Os vícios – Mauro Paiva Fonseca 41

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  • 4 Reformador/Abril 2005122

    “Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência pa-ra uma manifestação universal e que sendo eles os ministros de Deus e os agentes desua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova erapara a regeneração da Humanidade.”

    Esta frase de Allan Kardec, encontrada em “Prolegômenos” de O Livro dos Espíritos, tem por ba-se afirmações dos próprios Espíritos, tal como a que se segue e se encontra no mesmo texto:“Ocupa-te, cheio de zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso concurso,

    pois esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia háde reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade.”

    Com base nestes enunciados, e em tudo mais que a Doutrina Espírita apresenta, não resta dú-vida de que ela é de origem divina; que os seus autores são os Espíritos Superiores; e que tem por ob-jetivo instruir e esclarecer os homens para que estes, através da sua regeneração moral, construam umnovo mundo social, marcado pela prática dos sentimentos de amor e de caridade.

    Como se observa, os Espíritos Superiores orientam, esclarecem e ajudam, mas a construçãodessa Nova Era é de responsabilidade dos homens, dos Espíritos encarnados que já se conscientiza-ram da sua condição de seres imortais – com liberdade para construir e com a responsabilidade deresponder pelo que fazem –, e também dos que já estão conscientes de que lhes cabe proceder à re-novação interior, construindo novos hábitos compatíveis com as Leis que emanam de Deus, explica-das e vivenciadas por Jesus em seu Evangelho.

    É por isso que o espírita, convicto dessas verdades, se empenha no estudo da Doutrina Espí-rita, para melhor conhecer a si mesmo e a tudo o que o cerca; aplica-se à difusão de seus princípios,para que outros também se beneficiem dos seus ensinos; e dedica-se à sua prática, pois sabe que so-mente desta forma poderá contribuir para a construção do “edifício que se eleva e que um dia há dereunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade”, projetado pelos Espíritos Su-periores em atenção aos “tempos marcados pela Providência Divina”.

    EditorialA Nova Era

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  • Quando nos propomos a estu-dar as origens da DoutrinaEspírita, desde a fenomenolo-gia que se notabilizou, em meadosdo século XIX, nos Estados Unidose na Europa, até os estudos sériosde Allan Kardec, que resultaram naCodificação Espírita, uma conclu-são lógica, límpida, inelutável apre-senta-se ao estudioso: o Espiritismo,neologismo criado pelo Codifica-dor, é o Consolador que o Cristo deDeus prometeu enviar à Humani-dade.

    Insistimos em repetir essa con-clusão, por motivos diversos, entreos quais: a) a não aceitação da evi-dência, por parte das igrejas ditascristãs – católicos romanos, ortodo-xos e protestantes – que insistemem encontrar nos fenômenos doPentecostes o cumprimento da pro-messa da vinda do Consolador;b) a importância que representa pa-ra toda a Humanidade a promessado envio de outro Consolador, pa-ra permanecer eternamente com oshabitantes deste Planeta; c) a in-compatibilidade entre o que estáexpresso nas palavras de Jesus – “ou-tro Consolador que meu Pai envia-rá em meu nome, que vos ensinarátodas as coisas e fará vos lembreisde tudo o que vos tenho dito” – ea simples ocorrência da fenomeno-

    logia do Pentecostes, que sempreocorreu e continua ocorrendo, en-tre o mundo invisível e o mundodas formas; d) as diversas ilações de-correntes do texto do Evangelho deJoão, especialmente no seu cap. XIV,15-17 e 26.

    Eis o texto evangélico acima ci-tado:

    “Se me amais, guardai os meusmandamentos; e eu rogarei ameu Pai e ele vos enviará outroConsolador, a fim de que fiqueeternamente convosco: – O Es-pírito de Verdade, que o mun-do não pode receber, porque onão vê e absolutamente o nãoconhece. Mas, quanto a vós,conhecê-lo-eis, porque ficaráconvosco e estará em vós. –Porém, o Consolador, que é oSanto Espírito, que meu Paienviará em meu nome, vos en-sinará todas as coisas e vos farárecordar tudo o que vos tenhodito.”Esse texto do evangelista João,

    reproduzindo palavras de Jesus, oCristo, referentes ao tempo futuro,não tem registros correspondentesnos outros Evangelhos.

    Torna-se evidente, nas palavrasde Jesus, que Ele não ensinou todasas coisas aos homens, quando desua passagem pela Terra, pela inca-pacidade de entendimento de umaHumanidade atrasada, moral e in-telectualmente.

    Havia necessidade, pois, de

    aguardar o futuro, para que os ho-mens, Espíritos eternos, mesmoque constituindo apenas uma par-cela da população, pudessem enten-der as coisas novas, as realidadesininteligíveis por inteligências emevolução.

    Era necessária a evolução damentalidade humana, pelo menosde uma parte dos habitantes daTerra, para que se tornassem com-preensíveis certos conhecimentostranscendentes.

    O progresso das ciências, as su-cessivas reencarnações, a substitui-ção das crenças pagãs por uma teo-logia mais próxima da realidadesomaram-se a outros fatores do pro-gresso geral da Humanidade, emmuitos séculos, desde a promessaformulada por Jesus.

    Por outro lado, o Consoladorprometido visava também relem-brar os ensinos de Jesus, como Elese expressou claramente, numa de-monstração evidente de que previaa deturpação e o não entendimen-to de suas palavras.

    Observa-se, no texto evangéli-co acima transcrito, que Jesus é en-fático ao assinalar as finalidades dooutro Consolador, e a presença doEspírito de Verdade, que o mundonão poderia receber antes do tem-po certo.

    Mas o Cristo não se referiu àépoca em que promoveria a vindado outro Consolador. Essa circuns-tância é de suma importância. >

    Reformador/Abril 2005 5123

    A vinda do ConsoladorJuvanir Borges de Souza

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  • Na realidade, Ele sabia que aHumanidade passaria por diversasfases de experiências, de sofrimen-tos e de imposições do atraso e daignorância, fatores que não permi-tiriam a recepção e a permanênciado Consolador prometido.

    Com as limitações impostaspelo Absolutismo, na governançados povos; sem o desenvolvimen-to do conhecimento de verdadeseternas; sem uma maior justiçanas organizações sociais; e, sobre-tudo, sem a conquista das liberda-des de pensamento, de expressão ede reunião, as idéias superioresnão encontram meios e formas dese firmarem em um mundo atra-sado, de expiações e provas, comoo nosso.

    Vejamos algumas das etapas vi-vidas no seio da Humanidade, apósa vinda do Cristo:I – deturpação do Cristianismo

    autêntico, substituído, em par-te, por organizações huma-nas;

    II – ligação do Movimento Cristãocom o poder temporal maisabsoluto do mundo ocidental– o Imperador Constantino,no ano 325;

    III – a Idade Média, uma noite de1.000 anos, caracterizada pe-la intolerância, destruição dos“hereges” – todos os que ti-nham idéias discordantes daIgreja;

    IV – as Cruzadas, guerras de des-truição, em nome de Deus edo Cristo, sob o pretexto dedefesa da Terra Santa;

    V – a instituição da Inquisição edo Tribunal do Santo Ofíciopela Igreja Romana, a partirdo século XII, destinadas aperseguir e destruir todos os

    que pensassem ou agissem emdiscordância com a Igreja. Es-sas instituições, de triste me-mória, duraram até a segundametade do século XIX;

    VI – a divisão da Igreja em Roma-na e Oriental, ou Ortodoxa,sob orientações diferentes;

    VII – o absolutismo do poder tem-poral, ligado às Igrejas;

    VIII – o início das reações contra oAbsolutismo, com a Renas-cença das artes, ciências e le-tras, nos fins do século XV;

    IX – o início da Reforma, no co-meço do século XVI;

    X – o Iluminismo e suas conse-qüências importantes (sécu-los XVII e XVIII);

    XI – a conquista das liberdades,com a Independência dosEstados Unidos (1776) e aRevolução Francesa (1789),nos fins do século XVIII.

    ...

    Torna-se claro e evidente, paraqualquer observador atento, que so-

    mente após a conquista, pelos pró-prios homens, das liberdades essen-ciais – liberdade de pensamento, deexpressão, de reunião – que a Revo-lução Francesa conquistou à custade muitos sacrifícios, derrubando oabsolutismo dos reis, imperadores epotentados e a imposição religiosaaliada aos poderes temporais –, seriapossível a vinda e permanência nomundo da Doutrina Consoladora.

    Desde os primeiros tempos doCristianismo, quando começaram osdesentendimentos interpretativos daMensagem do Cristo, com os dog-mas impróprios que acabaram pre-valecendo sobre os ensinos do mes-tre Incomparável, a EspiritualidadeSuperior aguardou o momento ade-quado para o cumprimento da pro-messa do envio do Consolador.

    Se tivesse vindo antes da épocaoportuna, não teria sobrevivido àsperseguições e imposições dos de-tentores dos poderes governamen-tais e religiosos, aliados entre si.

    Comprovação dessa afirmativasão os fatos históricos ocorridoscom os cristãos do século IV, que,de perseguidos, ou exterminadosnos circos romanos, passaram a per-seguidores, aliados aos detentoresdo poder, desde Constantino.

    Outras provas claras da invia-bilidade da presença do Consola-dor no mundo, antes da época es-colhida, são a exterminação com-pleta dos cátaros, no sul da França,pelo fato de cultivarem o Cristia-nismo baseados somente no Evan-gelho de S. João, nos Atos dos Após-tolos e em algumas Epístolas, e asperseguições dos judeus, dos here-ges e de todos os que divergissemdas crenças e dos dogmas instituí-dos, levados às fogueiras e às pri-sões, sem meios de defesa, como

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    A Espiritualidade

    Superior aguardou

    o momento

    adequado para o

    cumprimento da

    promessa do envio

    do Consolador

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  • ocorreu com João Huss, o futuroAllan Kardec.

    A declaração da Independên-cia dos Estados Unidos da Améri-ca, o triunfo da Revolução France-sa, com o dístico “Liberdade, Igual-dade e Fraternidade” e as novas or-ganizações sociais em todo o mun-do constituem o início de uma no-va etapa na evolução da Humani-dade.

    É justamente quando se fir-mam princípios essenciais para odesenvolvimento da vida humananeste planeta, ultrapassados milê-nios de obscurantismo e cerca de1.800 anos desde a vinda de Cristo,que a Espiritualidade Superior re-solve planejar e executar a vinda dooutro Consolador prometido peloGovernador do Orbe.

    Esse planejamento começa jus-tamente com a consolidação dosprincípios libertadores conquista-dos, e com o renascimento, na Fran-ça, do missionário escolhido para adifícil missão.

    Hippolyte Léon Denizard Ri-vail, o futuro Allan Kardec, o “lúci-do discípulo do Cristo”, no dizer deEmmanuel, renasce a 3 de outubrode 1804.

    Nesse mesmo ano, em dezem-bro, outro missionário que vieracom outras tarefas específicas, masque infelizmente falhara em parteda missão, aprovava o novo CódigoCivil Francês, o denominado “Có-digo Napoleônico”, que serviria demodelo e inspiração para a legisla-ção civil dos povos ocidentais, pon-do fim a leis iníquas e injustas queprovinham da Idade Medieval.

    Mas, justamente na época es-colhida pelo Alto para a vinda doConsolador, com base na liberdadeconquistada com enormes sacrifí-

    cios, surgem na Europa algumas fi-losofias e doutrinas de fundamen-tação materialista, que seriam opo-sitoras naturais do Espiritualismoem geral e do Espiritismo, em par-ticular.

    Assim é que no século XIX, odenominado “século das luzes”, sur-gem o Positivismo, de AugustoComte, o Materialismo histórico--dialético, de Karl Marx, e o Utili-tarismo, de Bentham e John StuartMill, que tiveram e ainda têm gran-de influência em todo o mundo.

    As religiões tradicionais, comseus desvios e dogmas impróprios,viram-se impotentes para combatera onda materialista que avassalou omundo, até os nossos dias.

    O Consolador, a DoutrinaConsoladora e Esclarecedora, o Es-piritismo, cumpre perante os ho-mens a promessa do Cristo, de re-lembrar os ensinamentos do Mes-tre, no seu verdadeiro sentido, reti-

    ficando os desvios ocorridos e detrazer coisas novas ao conhecimen-to geral, especialmente no que se re-fere a Deus, ao Cristo, o Governa-dor do Orbe Terrestre, à vidaespiritual, às leis divinas ou natu-rais, às quais está sujeita toda aCriação divina.

    A Doutrina Consoladora nãosó desvenda a vida nos mundos es-pirituais, retificando conceitos decéu, inferno e purgatório criadospelas religiões tradicionais. Mostraque a vida espiritual é eterna, regi-da por leis divinas justas e per-feitas, e se desdobra pelos mun-dos em número infinito no Uni-verso.

    É exatamente quando surgi-ram e se expandiram as doutri-nas materialistas, no século XIX,que o Consolador é enviado peloCristo.

    Torna-se evidente que esse fa-to, essa coincidência, somados àconquista da liberdade, foram fato-res decisivos para a escolha da épo-ca da vinda do Consolador.

    Se, por um lado, o materialis-mo multifário espalhava-se pelomundo, favorecido pela liberdade jáconsolidada, a partir de 1848, anodo Manifesto Comunista, as mani-festações e fenomenologia espíritasfazem-se presentes, chamando aatenção dos americanos para fatosinusitados que reclamavam explica-ção plausível.

    As mesas girantes e falantes,tanto na América quanto na Euro-pa, foram a forma seguinte de des-pertar a atenção dos homens para omundo espiritual.

    Era a primeira meta visadapela Espiritualidade Superior den-tro de uma planificação hoje evi-dente. >

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    É exatamente

    quando surgiram

    e se expandiram

    as doutrinas

    materialistas,

    no século XIX,

    que o Consolador

    é enviado pelo

    Cristo

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  • Seguir-se-ia a segunda fase doprojeto superior, com a explicaçãoracional e segura da fenomenologia,que sempre existiu, e que serviria debase factual para a Grande Revela-ção de que carecia a Humanidade.

    É nessa fase, a partir de 1855,que tem início a atuação do missio-nário Allan Kardec, “o lúcido discí-pulo do Cristo”, para a realizaçãoda “obra de sua vida”, como a ela sereferiu.

    Essa obra é a Doutrina Espírita,o Consolador prometido por Jesus.

    Desdobra-se e consolida-se noscinco livros da denominada Codi-ficação Espírita, escritos por AllanKardec com a cooperação e assis-tência permanente dos Espíritos Su-periores, à frente o Espírito de Ver-dade, a mesma referência feita peloMestre Jesus, no item 17 do cap. 14do Evangelho de João.

    ...

    São muitas as fontes de remis-são, de referências e de esclareci-mentos que se encontram nas obrasespíritas que serviram de base paraeste trabalho.

    Vamos transcrever algumas,para facilidade dos leitores que pre-tendam aprofundar-se nos assuntosaqui tratados.

    O Livro dos Espíritos“Prolegômenos”“Os Espíritos anunciam que

    chegaram os tempos marcados pelaProvidência para uma manifestaçãouniversal e que, sendo eles os minis-tros de Deus e os agentes de suavontade, têm por missão instruir eesclarecer os homens, abrindo umanova era para a regeneração da Hu-manidade.”

    Questão 799. “De que manei-ra pode o Espiritismo contri-buir para o progresso?”Resp. – “Destruindo o mate-

    rialismo, que é uma das chagas dasociedade, ele faz que os homenscompreendam onde se encontramseus verdadeiros interesses. Deixan-do a vida futura de estar velada pe-la dúvida, o homem perceberá me-lhor que, por meio do presente, lheé dado preparar o seu futuro. Abo-lindo os prejuízos de seitas, castas ecores, ensina aos homens a grandesolidariedade que os há de unir co-mo irmãos.”

    A Gênese“Caráter da Revelação Espí-rita”“30 – O Espiritismo, partindo

    das próprias palavras do Cristo, co-mo este partiu das de Moisés, éconseqüência direta da sua doutri-na. À idéia vaga da vida futura,acrescenta a revelação da existênciado mundo invisível que nos rodeiae povoa o espaço, e com isso preci-sa a crença, dá-lhe um corpo, umaconsistência, uma realidade à idéia.Define os laços que unem a alma aocorpo e levanta o véu que ocultavaaos homens os mistérios do nasci-mento e da morte. Pelo Espiritis-mo, o homem sabe donde vem, pa-ra onde vai, por que está na Terra,por que sofre temporariamente e vêpor toda parte a justiça de Deus.

    Sabe que a alma progride in-cessantemente, através de uma sé-rie de existências sucessivas, atéatingir o grau de perfeição que aaproxima de Deus. Sabe que todasas almas, tendo um mesmo pontode origem, são criadas iguais, comidêntica aptidão para progredir,em virtude de seu livre-arbítrio;

    que todas são da mesma essência eque não há entre elas diferença, se-não quanto ao progresso realizado;que todas têm o mesmo destino ealcançarão a mesma meta, mais oumenos rapidamente, pelo trabalhoe boa vontade.

    Sabe que não há criaturas de-serdadas, nem mais favorecidasumas do que outras; que Deus anenhuma criou privilegiada e dis-pensada do trabalho imposto às ou-tras para progredirem; que não háseres perpetuamente votados ao male ao sofrimento; que os que se de-signam pelo nome de demônios sãoEspíritos ainda atrasados e imper-feitos, que praticam o mal no espa-ço, como o praticavam na Terra,mas que se adiantarão e aperfeiçoa-rão; que os anjos ou Espíritos purosnão são seres à parte na criação, masEspíritos que chegaram à meta, de-pois de terem percorrido a estradado progresso; que, por essa forma,não há criações múltiplas, nem di-ferentes categorias entre os seres in-teligentes, mas que toda a criaçãoderiva da grande lei de unidade querege o Universo e que todos os seresgravitam para um fim comum queé a perfeição, sem que uns sejam fa-vorecidos à custa de outros, visto se-rem todos filhos das suas própriasobras.”

    Obras Póstumas“Liberdade...”“(...) A liberdade sem a frater-

    nidade é rédea solta a todas as máspaixões, que desde então ficam semfreio; com a fraternidade, o homemnenhum mau uso faz da sua liber-dade: é a ordem; sem a fraternida-de, usa da liberdade para dar cursoa todas as suas torpezas: é a anar-quia, a licença.”

    8 Reformador/Abril 2005126

    Abril 2005.qxp 5/4/2005 14:14 Page 8

  • Éimperioso e mesmo urgente oimpositivo do perdão incondi-cional, de modo que a paz seestabeleça por definitivo na cons-ciência humana.

    Enquanto vicejam os senti-mentos de desforço, de animosida-de, de rebeldia em relação a pessoasou a acontecimentos perturbadores,também permanecem os distúrbiosda emoção que afetam a saúde fisio-lógica e o comportamento.

    Por mais graves hajam sido asofensas e agressões sofridas, sempremais infeliz é aquele que aos demaisperturba, mesmo que, consciente-mente, não tenha idéia da gravida-de sobre a conduta infeliz.

    Compreensivelmente, aqueleque é ofendido se crê no direito dejustificar-se, demonstrando o erroque o outro cometeu em relação àsua pessoa, ou, pelo menos, reser-var-se, permanecer a distância, man-tendo o ressentimento que decorreda injustiça de que se vê vítima.

    Tal postura, no entanto, so-mente lhe trará aborrecimentos eperturbações, porque terminará pordesequilibrá-lo.

    Qualquer tipo de ressentimen-to preservado transforma-se emmorbo que afeta aquele que o con-duz, ao tempo em que vitaliza aocorrência infeliz, mantendo-a sem-

    pre presente na memória e naemoção.

    Da mesma forma como se tor-na difícil esquecer a ocorrência da-nosa, o que exige um grande esfor-ço da vontade, a sustentação damágoa somente lhe piora os efeitosno sistema emocional.

    O ódio, o ressentimento, omedo, o ciúme, o remorso afetampoderosamente o organismo, em-bora a sua procedência emocional.

    As altas cargas vibratórias da-nosas que são atiradas pela menteno sistema nervoso central irão afe-tar o aparelho circulatório com re-sultados negativos para o respirató-rio, ao tempo em que as glândulasendócrinas serão prejudicadas pelasenergias captadas, encaminhando--as ao sistema imunológico que sedesestrutura.

    Grande número de enfermida-des orgânicas e transtornos psicoló-

    gicos procede dos sentimentos atri-bulados.

    Há pessoas que sabem mani-pular palavras e situações com ha-bilidade felina, quando desejamprejudicar a outrem. São pusilâni-mes e insensíveis a tal ponto que sefazem acreditadas, arquitetandoplanos danosos que executam comnaturalidade, comprazendo-se eminfelicitar todo aquele a quem nãoconseguem suplantar.

    Quando se fazem inimigas dealguém, são estimuladas na perver-sidade que lhes constitui os senti-mentos vis, mentindo e caluniandocom naturalidade, de forma que osobjetivos que perseguem sejam al-cançados.

    Quase sempre preferem inimi-zades a afetos, discussões infindáveise perturbadoras a conciliação e paz,urdindo intrigas em que se compra-zem, quando poderiam silenciaracusações indébitas e esforçar-se pormanter contatos saudáveis.

    São enfermos graves da almaque ignoram as doenças ou prefe-rem continuar nesse estágio aindaprimário da evolução.

    Qualquer tipo de revide às suasagressões somente lhes constituiráestímulo mórbido para que prossi-gam na infame conduta.

    ...

    Perdoa todos quantos te ofen-dem, sem manter qualquer tipo deressentimento em relação ao malque pensaram fazer-te. >

    Reformador/Abril 2005 9127

    Terapia do Perdão

    Perdoa todos

    quantos te ofendem,

    sem manter qualquer

    tipo de ressentimento

    em relação ao mal

    que pensaram

    fazer-te

    Abril 2005.qxp 5/4/2005 14:14 Page 9

  • Se considerares a agressão quete foi dirigida como sendo uma ex-periência de que necessitavas paraevoluir, permanecerás invulnerávelàs suas sórdidas conseqüências. To-davia, se te permitires intoxicar pe-las vibrações que dela decorrem, fi-carás vinculado àquele que prefereafligir-te, ante a impossibilidadeque sente de amar-te.

    Perdoa sempre, porque osmaus e infelizes, quando detestame malsinam o seu próximo, não sa-bem o que estão fazendo.

    Volverão, hoje ou mais tarde,pelos caminhos ora percorridos, re-colhendo os cardos da sua loucurae perversidade, que se lhes cravarãonas carnes da alma, convidando-osao ressarcimento.

    O odiento perdeu o endereçoda vida e desgarrou-se da esperan-ça, jornadeando sem rumo e emdesolação.

    Aflige os demais porque se en-contra aturdido, e os seus momen-tos de infelicidade são transforma-dos em agressões que aparentementeo tranqüilizam, levando-o a esgaresque são confundidos com sorrisosde vitória.

    Não acreditando nos valoresmorais que lhe são escassos, não res-peita o próximo, aquele que defron-ta em toda parte, tornando-se-lheadversário insano.

    Estremunhado, em face dosdesajustes que experimenta, dese-ja nivelar todos os demais nos pa-tamares inferiores em que se de-tém.

    Evitando esforçar-se para evo-luir, pensa que essa é a única atitu-de que pode tomar como mecanis-mo de desforço contra a vida e ascriaturas que constituem a socieda-de, que infelizmente antagoniza.

    Deslocou-se do conjunto socialpor inferioridade que se reconhecepossuir, no entanto, investe contrao grupo, projetando a imagem ator-mentada que pensa irá inspirar pa-vor, porque é incapaz de entregar--se ao amor.

    Torna-se instrumento das For-ças do Mal que o utilizam para darcampo ao funesto plano de perse-guição às criaturas humanas, geran-do lamentáveis processos de obses-são individual e coletiva.

    Pessoas desse porte são encon-tradas amiúde, em toda parte, des-de o grupo familiar ao social, na es-fera das atividades profissionaiscomo nos labores da arte, da inves-tigação científica, das diversões,porque se encontram em estágio in-ferior da evolução. Embora algumasapresentem-se bem vestidas, falan-do com entusiasmo e correção delinguagem, sendo bem apessoadas,o que importa é o seu mundo inte-rior, são as suas aspirações e ânsiasde progresso, de destaque, de domi-nação que, não tornadas realidade,transformam-nas em algozes de in-divíduos que lhes experimentam asanha ou dos grupos em que semovimentam.

    Perdoa todo tipo de ofensa ede ofensores, de difamadores, de se-quazes do mal. Eles não merecemas tuas preocupações nem os teussofrimentos.

    Tens compromissos mais valio-sos com a Vida, para perderes tem-po com mesquinharias inevitáveisdo processo evolutivo.

    Fita os altiplanos morais eavança conquistando os espaços de-safiadores.

    Quem teme tempestades mo-rais não consegue fortalecer-se paraas lutas do progresso espiritual.

    O teu adversário é também atua chance de superação de melin-dres, de paixões egóicas, das pe-quenezes que te assinalam a exis-tência.

    Nunca cedas ao mal, descen-do ao nível dos maus. Se os consi-deras infelizes, atrasados, melhorrazão para que te detenhas em pa-tamar espiritual mais elevado, des-cendo somente para ajudá-los enão para competir com eles nosestranhos comportamentos queassumem.

    Perdoar não significa concor-dar com o ato infame nem com apessoa desatinada. Constitui o atode não revidar com o mesmo mal,aquele que lhe é dirigido, permane-cendo em melhor situação emocio-nal do que o seu antagonista e empaz.

    ...

    Jesus, o Psicoterapeuta por ex-celência, quando lecionou o per-dão indistinto, incondicional, per-manente, propôs um dos maisformosos procedimentos propor-cionador de saúde e de harmoniapessoal.

    Ele tornou-se exemplo do per-dão amoroso, não anuindo com ocrime de que era vítima, tambémnão estigmatizando seus algozescom reproche ou censura.

    O perdão é medicamento va-lioso para sarar as feridas da alma einstalar áreas de bem-estar e debem-estar na mente e na emoção.

    Joanna de Ângelis

    (Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na noite de 23 de junho de2004, em Beijing, China.)

    10 Reformador/Abril 2005128

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  • Foi-se o tempo que transgressorera a pessoa que saía pela cida-de pichando muros, desrespei-tando normas e infringindo as re-gras da boa convivência. Algunsfaziam isso por pura rebeldia juve-nil; outros, por impulso ao crime.

    Agora, está em voga a trans-gressão virtual. Uma entrevista pu-blicada pela revista Época de janei-ro de 2005 revela que jovens de 14a 19 anos optaram por ser picha-dores de páginas da Internet. Oshackers brasileiros são, inclusive,campeões mundiais na capacidadede causar dores de cabeça aos admi-nistradores de sites.

    A reportagem revela que elesnormalmente não roubam nadanem apagam arquivos importantes.Querem apenas aparecer ou im-pressionar a namorada e acabam in-vadindo sites de corporações ouórgãos governamentais, desconfi-gurando os layouts e deixando nolugar mensagens de amor ou deprotesto.

    O que nos importa tratar nes-ta página é o limite da transgressão.É analisar o fato de que basta um“empurrãozinho” da vontade invi-gilante para que um menino dessespasse a usar a inteligência para rou-bar lista de senhas bancárias e gaste

    o dinheiro dos outros, sacando oque não lhe pertence e tornando-seum criminoso como os ladrões co-muns, que fazem o mesmo assal-tando um banco ou uma pessoa.

    ...

    Um segundo aspecto do temamerece abordagem. É a prática doque se costuma chamar de trans-gressão leve, ou um quase crime,que dependendo do jeito que é vis-to e tolerado, passa a ser tão corri-queiro que aquele que o faz nempercebe que o pratica e que isto jávirou hábito.

    O problema desses “minideli-tos” é que eles são contagiosos.Muita gente não faz porque achaerrado, mas quando vê um outrofazendo, sente-se como que autori-zado a também fazer.

    O jornalista norte-americanoMichael Kepp, autor de um artigosobre esse assunto*, define bem emque situações os “miniabusos” setransformam em impulsos para umdelito mais grave.

    É o barulho do jovem em casapara incomodar os vizinhos, o usoda calçada como depósito de lixo, é

    a “furada” de fila no show para en-trar logo e ver o espetáculo, mesmoque à custa dos que ficaram paratrás.

    O autor conta que ficou parti-cularmente indignado com um ca-sal que pediu a um conhecido, quese encontrava justamente à frentedele na fila, durante o intervalo deuma peça, que comprasse comes ebebes para ambos.

    Kepp disse que o fura-fila o ir-ritou não só porque ele demoroumais para ser atendido, mas tam-bém porque o segundo ato estavapara começar. No texto, ele aindaquestiona: “Qual é a diferença deum casal como esse para os moto-ristas que me ultrapassam peloacostamento nas estradas e depoisfuram a fila, atrasando a minha via-gem? E que dizer daqueles motoris-tas que ‘costuram’ atrás das ambu-lâncias?”

    ...

    Há exemplos mais graves deinfrações que usualmente são con-sideradas por seus agentes como demenor importância, e que por issocontinuarão sendo feitas. É o casodos que usam drogas e não perce-bem que o simples consumo dequalquer uma delas em uma festa(“só pra descontrair”) os vinculatanto à rede de consumo quanto aotraficante e à bala perdida, que in-festa a paz de milhões de pessoas.

    Michael Kepp reforça a lem-

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    Os limites da transgressãoCarlos Abranches

    * Michael Kepp escreveu o livro de crônicas“Sonhando com Sotaque – confissões e desa-bafos de um gringo brasileiro” (Ed. Record). Oartigo a que me refiro foi publicado na Folhade S.Paulo de 26 de agosto de 2004, sob o tí-tulo A mania nacional da transgressão leve.

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  • brança do roubo de “lembranci-nhas” – de toalhas e cinzeiros dehotéis a cobertores de companhiasaéreas, como “pequenos delitos” co-metidos por impulso de aventura,que obrigam as empresas a onerarum pouco mais os custos da hospe-dagem e das viagens aéreas paracompensar as perdas com esses des-lizes de seus clientes.

    Quantos já não passaram pelasituação de ter recebido por enganouma nota de R$50,00 em vez dacorreta de R$10,00 e pensou emnão denunciar o erro do caixa, quedepois vai ter de repor o equívoco,prejudicando o próprio suado ren-dimento no fim do mês?

    Quando era criança, costuma-va ver que ao entrar nos ônibus,boa parte dos meninos de meubairro passava por debaixo da role-ta e pagava ao trocador Cr$1,00 emvez dos Cr$1,80 da passagem a serpaga (moeda da época). Kepp ques-tiona se esse tipo de suborno não éigual a pagar à polícia uma propinapara se safar.

    ...

    Relembro meu pai, afirmando--me que aceitar um real ou um mi-lhão de suborno tem diferença sóno volume de dinheiro, mas o sen-tido moral da corrupção é o mes-mo. Ambos foram aceitos porquem aceitou se vender.

    O desleixo da pessoa com suaconduta ética acaba sendo outro es-tímulo à consolidação de uma ten-dência às pequenas infrações. É oque o pastor batista G. D. Board-man afirma, ao dizer: “Semeia umato, ceifarás um hábito; semeia umhábito, ceifarás um caráter; semeiaum caráter, ceifarás um destino.”

    O que mais impressiona nas

    pessoas que agem dessa forma é queelas sempre têm uma justificativapara explicar por que fazem assim.É o exemplo dado pelo empresárioque colocou à venda o carro semi-novo por um preço de tabela, massem dizer ao futuro comprador queaquele mesmo veículo fora muitobem recuperado por um lanternei-ro, que camuflou direitinho a bati-da forte que lhe alterou o chassi epode provocar a morte do novodono. Para ele, o que vale é recupe-rar ao máximo o investimento feitoanteriormente.

    ...

    O estudo sério da DoutrinaEspírita ajuda a esclarecer bem co-mo a pessoa pode trabalhar sua pos-tura diante dessas ocorrências docotidiano, orientando-a a portar-secom dignidade e inteireza, não ce-

    dendo ao conceito de que pequenastransgressões podem ser cometidase que só as grandes devem ser evi-tadas.

    Na realidade, tudo está interli-gado, e o homem está na vida paravencer justamente essas pequenastendências de hoje, que possivel-mente ontem predominavam noconjunto geral do caráter.

    Conheço pessoas extremamen-te caridosas, mas que ainda nãoconseguiram superar a inclinaçãode furtar pequenos objetos em su-permercados. Há os que trabalhamincansavelmente no serviço do bem,mas ainda carregam a fraqueza deoprimir os familiares com a sovini-ce injustificável na administraçãodo dinheiro de casa.

    Difícil julgar nesses casos. Omelhor é analisar para se chegara opiniões amadurecidas e clarasquanto à conduta ética do espírita.

    Apesar da tentação de se que-rer cometer pequenos deslizes, épreciso ser firme para resistir à von-tade de querer tirar vantagem dassituações de uma ou de outramaneira. Para Kepp, dizer “não” aelas beneficia a sociedade como umtodo.

    Para nós, espíritas em busca dadignificação integral do ser, o cami-nho é não aceitar as alternativas fá-ceis e nem sempre éticas, oferecidaspor um mundo interessado em le-var vantagem em tudo.

    Nosso propósito pode e deveser o de usar a medida justa de nos-sas convicções para agir com acertoe coerência íntima, confirmandoem atos que a escolha da religiãoque nos orienta foi, para nós, comoter encontrado a bússola moral anos guiar nestes tempos de difícilviver.

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    É preciso ser firme

    para resistir à

    vontade de querer

    tirar vantagem

    das situações de

    uma ou de outra

    maneira. Para

    Kepp, dizer “não”

    a elas beneficia

    a sociedade como

    um todo

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  • Reformador/Abril 2005 13131

    P. – Há quanto tempo vocêatua no Movimento Espírita?

    Honório – A presente reencar-nação nos presenteou com o conhe-cimento espírita quando ainda maisjovem. Na década de 1950 começa-mos a nos inteirar da obra de AllanKardec, associada ao trabalho deChico Xavier com sua vasta litera-tura, por nós, em boa parte apro-priada.

    Em 1957 fundamos em BeloHorizonte, juntamente com algunscompanheiros, o Grupo EspíritaEmmanuel, dedicado ao estudo eprática do Espiritismo, sempre comum cuidado especial com o Evange-lho de Jesus, já compreendido co-mo fundamento reeducacional doser.

    P. – Você sempre esteve envol-vido com o estudo das Obras Bási-cas?

    Honório – Sem dúvida. Desdecedo pudemos compreender o alcan-ce da obra de Allan Kardec, da qualnão nos afastamos em momento al-gum, cultivando-a por chave liberta-dora do Evangelho, até então atadoao dogmatismo. Permitimo-nos re-gistrar nosso esforço levado a efeitoem todo esse tempo, na elaboração

    de trabalhos que pudessem auxiliar aquantos se aproximassem da Doutri-na, ajudando-os na apropriação deseu conteúdo doutrinário, ampla-mente utilizados, e que hoje cedemo seu terreno ao Estudo Sistematiza-do da Doutrina Espírita (ESDE),abençoado roteiro implementado pe-la FEB, também por nós adotado edivulgado com o maior empenho.

    P. – Há um trabalho específi-co que realizou para contribuircom a interpretação de O Evange-lho segundo o Espiritismo?

    Honório – Durante váriosanos investimos no estudo minu-cioso do Evangelho à luz da Dou-trina Espírita, inspirados na lucideze lógica de Emmanuel no trato damensagem de Jesus, surgindo daídiversas reuniões com esta finali-dade. De tais grupos emergirampreciosos registros que sob nossacoordenação foram reunidos, dan-do origem à edição do livro LuzImperecível, através da União Espí-rita Mineira, obra que vem auxi-liando os aprendizes e trabalhado-res da Terceira Revelação, no quereporta a um mais profundo enten-dimento da Boa Nova, em suasfrentes operacionais.

    P. – Como avalia o atual esta-do da difusão das Obras de AllanKardec?

    Honório – Desde muito, tra-balhando ao lado de outros tantoscompanheiros, para que Kardecchegue efetivamente ao coração dosespíritas, notamos que esta propos-ta ainda não tem alcançado a metaideal. O conhecimento horizontalinformativo, apenas o aspecto con-solador e de esperança de O Evan-gelho segundo o Espiritismo e o sen-tido da caridade, em sua expressão

    ENTREVISTA: HONÓRIO ONOFRE DE ABREU

    Vibrações do Bicentenário do Codificadoralcançam o coração dos espíritas

    Honório Onofre de Abreu, Presidente da União Espírita Mineira, considera que o Bicentenáriode Allan Kardec coincide com maior consciência de quanto nos responsabilizamos pelo

    fortalecimento e expansão do Movimento Espírita

    Honório Onofre de Abreu

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  • periférica, têm sido os pontos de re-ferência de muitos.

    A pergunta sugere nossa refle-xão quanto ao papel da Unificaçãoneste contexto. Digno de registro oempenho dos órgãos como a FEB eas Federativas estaduais na extensãodo território nacional, priorizandoo conhecimento da essência doutri-nária por parte de quantos se apro-ximam do Movimento Espírita acada instante ou já operam em suadifusão.

    P. – Como se envolveu nos tra-balhos de Unificação?

    Honório – Desde o primeiromomento de nossa ligação com aDoutrina Espírita sentimos, de mo-do quase que “inato” a necessidadede operar nas áreas de aproximaçãoda família espírita. Uma das metaspropostas pelo nosso Grupo Espíri-ta Emmanuel desde sua fundação,em 1957, foi a de prestar à UniãoEspírita Mineira constante apoio,cooperando cada qual, na pauta desuas possibilidades pessoais, para oêxito de seu trabalho no Estado ejunto de nossa querida FederaçãoEspírita Brasileira.

    Durante vários anos acompa-nhamos como simples colaboradoro trabalho junto às lideranças espí-ritas em Minas Gerais e outros Es-tados. O mesmo ocorrendo quandonas funções de diretor do Departa-mento para Assuntos de Unificaçãoda UEM. Há dois anos a bondadedo Alto julgou por bem nos inves-tir na direção da Federativa Minei-ra, tarefa que temos procuradoexercer com o mesmo critério eideal cultivado por todo esse tempo.

    P. – Ao ensejo do Bicentenáriode Nascimento de Allan Kardec,que ação considera prioritária pa-ra favorecer a difusão doutrinária?

    Honório – Cumprida a pri-meira etapa do advento do Espiri-tismo, quando ao Brasil coube maisamplamente trabalhar seu conteú-do doutrinário nos fundamentos doEvangelho e sob os auspícios da Ca-ridade, as vibrações do Bicentená-rio do Codificador alcançaram ocoração dos espíritas para muitoalém do júbilo exterior, de caráterhumano.

    Aos órgãos espíritas constituí-dos está afeta a grande responsabili-dade de divulgar Kardec, com serie-dade, coragem e responsabilidade.Aos que dirigem e integram tais ór-gãos, cabem a capacidade de teste-munho e a quebra do personalismocomo já aprendemos na história dopróprio Cristianismo nascente.

    O avanço tecnológico tem fa-vorecido este trabalho, no entanto,tem sido instrumento de muito

    material que em nada edifica senãoconturba, impedindo a difusão dolegítimo conteúdo que deve alcan-çar, com urgência, as almas doscansados e oprimidos.

    O Bicentenário, que coincidecom uma maior consciência dequantos nos responsabilizamos pe-lo fortalecimento e expansão doMovimento Espírita, sugere e espe-ra a ação segura de dirigentes, mé-diuns, expositores e de nossas enti-dades, maior investimento nas áreasque apontam ou propõem a verti-calização do conhecimento adqui-rido na instauração da ação renova-dora consciente proposta peloCristo e reafirmada pela Doutri-na Espírita, codificada por AllanKardec, o qual registra, sem qual-quer dúvida ou artifício, que o ver-dadeiro espírita será reconhecidopela sua transformação moral.

    14 Reformador/Abril 2005132

    Mão divinaA luz da mão divina sempre desce,Misericordiosa e compassiva,Sobre as dores da pobre alma cativa,Que está nas sendas lúcidas da Prece.

    Se a amargura das lágrimas se aviva,Se o tormento da vida recrudesce,Aguardai a abundância da outra messeDe venturas, que é da alma rediviva.

    Confiando, esperai a ProvidênciaCom os sentimentos puros, diamantinos,Lendo os artigos ríspidos da Lei!

    Os filhos da Piedade e da PaciênciaEncontrarão nos páramos divinosA paz e as luzes que eu não alcancei.

    Antero de Quental

    Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de Além-Túmulo. 17. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2004, p. 92. Edição Comemorativa – 70 Anos.

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  • Reformador/Abril 2005 15133

    OEspiritismo, nos tempos mo-dernos, é, sem dúvida, a revi-vescência do Cristianismo emseus fundamentos mais simples.

    Descerrando a cortina densa,postada entre os dois mundos, nosdomínios vibratórios em que a vidase manifesta, mereceu, desde a pri-meira hora de suas arregimentaçõesdoutrinárias, o interesse da ciênciainvestigadora que procura escravizá--lo ao gabinete ou ao laboratório,qual se fora mera descoberta deenergias ocultas da natureza, comoa da eletricidade, que o homem sub-mete ao seu bel-prazer, na extensãode vantagens ao comodismo físico.

    Interessada no fenômeno, a es-peculação analisa-lhe os componen-tes, acreditando encontrar, no inter-câmbio entre as duas esferas, nadamais que respostas a velhas questõesde filosofia, sem qualquer conse-qüência de ordem moral, na expe-riência humana.

    Erra, todavia, quem se norteiapor essas normas, de vez que o Es-piritismo, positivando a sobrevivên-cia além da morte, envolve em simesmo vasto quadro de ilações, nocampo da ética religiosa, constran-gendo o homem a mais largas refle-xões no campo da justiça.

    Não cogitamos aqui de dog-mática, de apologética ou de qual-

    quer outro ramo das escolas de féem seus aspectos sectários.

    Não nos reportamos a reli-giões, mas à Religião, propriamen-te considerada como sistema decrescimento da alma para celestecomunhão com o Espírito Divino.

    Desdobrando o painel das res-ponsabilidades que a vida nos con-fere, o novo movimento de revela-ção implica abençoado e compul-sório desenvolvimento mental.

    A permuta com os círculos deação dos desencarnados compele acriatura a pensar com mais ampli-tude, dentro da vida.

    Novos aspectos da evolução selhe descortinam e mais rico mate-rial de pensamento lhe enriquece osceleiros do raciocínio e da obser-vação.

    Entretanto, como cada reci-piente guarda o conteúdo dessa oudaquela substância, segundo a con-formação e a situação que lhe sãopróprias, a Doutrina Renovadora,com os seus benefícios, passa des-percebida ou escassamente aprovei-tada pelos que se inclinam às dis-cussões sem utilidade, pelos que sedemoram no êxtase improdutivoou pelos que se arrojam aos despe-nhadeiros da sombra, companhei-ros ainda inaptos para os conheci-mentos de ordem superior, trazidosà Terra, não para a defesa do egoís-mo ou da animalidade, mas sim pa-ra a espiritualização de todos osseres.

    De que nos valeria a prodigio-sa descoberta de Watt, se o vapornão fosse disciplinado, a benefí-cio da civilização? que faríamos daeletricidade, sem os elementos decontenção e transformação que lhecontrolam os impulsos?

    No Espiritismo fenomênico,somos constantemente defrontadospor aluviões de forças inteligentes,mas nem sempre sublimadas, quenos assediam e nos reclamam.

    Aprendemos que a morte équestão de seqüência nos serviçosda natureza.

    Reconhecemos que a vida es-tua, ao redor de nossos passos, nosmais variados graus de evolução.

    Daí o impositivo da força dis-ciplinar.

    Urge o estabelecimento de re-cursos para a ordenação justa dasmanifestações que dizem respeito ànova ordem de princípios que seinstalam vitoriosos na mente de ca-da um.

    E, para cumprir essa grandemissão, o Evangelho é chamado aorientar os aprendizes da ciência doespírito, para que, levianos ou desa-visados, não se precipitem a imen-sos resvaladouros de amargura oudesilusão.

    Emmanuel

    Fonte: XAVIER, Francisco C. Roteiro.11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004,cap. 22, p. 95-97.

    PRESENÇA DE CHICO XAVIER

    O Espiritismo na atualidade

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  • Reformador/Abril 200513416

    Mateus, 24:32-44Marcos, 13:28-37

    Lucas, 21:29-36

    No chamado Sermão Profético,Jesus fala de acontecimentosmarcantes, envolvendo o fu-turo dos judeus.

    E adverte:

    Quando virdes Jerusalém cer-cada de exércitos, sabereis que échegada a sua desolação.

    Então, os que estiverem na Ju-déia, fujam para os montes, os queestiverem no meio da cidade, saiam,e os que estiverem nos campos nãoentrem nela.

    Mas ai das grávidas, e das quecriarem naqueles dias. Haverá gran-de aperto na terra e ira sobre estepovo.

    Cairão ao fio da espada, e pa-ra todas as nações serão levadoscativos. Jerusalém será pisada pelosgentios, até que os tempos deles secompletem.

    Efetivamente, no ano setenta,trinta e sete anos após a crucifica-ção, o general romano Tito, paraacabar de vez com a rebeldia daque-le povo altivo, que resistia ao domí-nio de Roma, invadiu com seusexércitos a Palestina e arrasou opaís, expulsando os judeus, que seespalharam pelo mundo.

    Em Jerusalém, como previuJesus, Tito, literalmente, não deixoupedra sobre pedra, destruindo, in-

    clusive, o famoso Templo de Salo-mão, do qual resta hoje apenas umpedaço do muro enorme que o cer-cava.

    É conhecido como o muro daslamentações, porquanto, antes dacriação do Estado de Israel, quandovisitavam a cidade reconstruída, osjudeus choravam pela diáspora, asua dispersão.

    ...

    Jesus fala das atribulações queenfrentariam os cristãos na divulga-ção da mensagem, perseguidos, ca-luniados, torturados, ante as mani-festações da incompreensão huma-na.

    Estimula-os a serem firmes,conscientes de que estariam habili-tados às bem-aventuranças celestes.

    Reporta-se ainda ao futuro,anunciando o advento do Reino Di-vino:

    Haverá sinais no sol, na lua enas estrelas.

    Na terra as nações ficarão an-gustiadas, e perplexas pelo brami-do do mar e das ondas.

    Homens desmaiarão de terror,na expectativa das coisas que sobre-virão ao Mundo, pois os corpos ce-lestes serão abalados.

    Então verão o filho do homemvindo numa nuvem, com poder egrande glória.

    Quando estas coisas começa-rem a acontecer, olhai para cima elevantai as vossas cabeças, porquea vossa redenção está próxima.

    Trechos assim fazem o deleitedos fundamentalistas bíblicos, pes-soal que gosta de brandir a Bíbliasobre as nossas cabeças, como umaclava divina a verberar o pecado.

    Ao longo dos séculos, pregado-res exaltados, proclamando-se ins-pirados pelas potestades celestes,têm assustado seus ouvintes comesses maus augúrios, como se tudoestivesse prestes a acontecer. E reco-mendam, enfáticos, que se cuidemos fiéis para não serem colhidos pe-las chamas do inferno.

    A Primeira Guerra Mundial,em 1914, foi prato cheio para osfundamentalistas, a proclamarem oApocalipse, o fim do Mundo e oadvento do Reino de Deus.

    O mesmo aconteceu na Se-gunda Guerra Mundial, em 1939.

    Na virada do milênio, a mes-ma idéia.

    Ainda hoje, seitas aferradas àletra, sem discernir o espírito damensagem evangélica, falam daconfusão do Mundo, envolvendodrogas, vícios, guerras, e catastrófi-cos fenômenos naturais – maremo-tos, terremotos, ciclones, enchentes–, como um anúncio do final dostempos e do juízo final.

    Esquecem ou ignoram que tu-do isso tem acontecido desde que seformaram os primeiros agrupamen-tos humanos. E já foi até pior, co-mo tem sido demonstrado porpesquisadores.

    Nos séculos passados, a par dosfenômenos naturais arrasadores,doenças graves dizimavam multi-

    Os sinais do Reino Richard Simonetti

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  • Reformador/Abril 2005 135 17

    dões, a criminalidade era mais am-pla e incontrolável, campeavam osvícios...

    Basta lembrar que a expectati-va de vida não chegava aos quaren-ta anos. Hoje está perto dos setentano Brasil. Ultrapassa os oitenta, empaíses desenvolvidos.

    Um detalhe: é pouco provávelque Jesus tenha falado assim.

    Não era o seu jeito, a sua ma-neira de ser.

    Não eram essas as expressõesque usava.

    A dramaticidade que vemos notexto evangélico fica por conta dospróprios evangelistas ou dos copis-tas, sob inspiração do espírito apo-calíptico do Velho Testamento.

    ...

    No desdobramento de suasconsiderações, e no contexto da vin-da do Reino, Jesus usa uma ima-gem, que o evangelista Marcos situacomo a parábola da figueira:

    Olhai a figueira. Quando vedes que as suas fo-

    lhas começam a brotar, sabeis porvós mesmos que o verão está próxi-mo.

    Assim, também, quando virdesestas coisas acontecerem, sabei queo reino de Deus está perto.

    Em verdade vos digo que nãopassará esta geração sem que tudoisso aconteça.

    Passará o céu e a terra, mas asminhas palavras não hão de passar.

    Mas a respeito daquele dia ehora, ninguém sabe, nem os men-sageiros dos céus, nem o Filho, se-não o Pai.

    Acautelai-vos por vós mesmos,para que não aconteça que os vos-sos corações se sobrecarreguem de

    glutonaria, de embriaguez, e doscuidados da vida, e aquele dia vospegue de surpresa, como uma ar-madilha.

    Vigiai em todo o tempo, e oraipara que sejais havidos por dignosde escapar de todas estas coisas quehão de acontecer, e de estar em pédiante do filho do homem.

    Haveria sinais do advento doReino, ensina Jesus.

    E fala da figueira. No OrienteMédio sabe-se que o verão está che-gando quando a figueira lança seusbrotos.

    Da mesma forma os discípulosdo Evangelho devem estar atentosaos sinais, anunciando a chegada doReino.

    E explica que “não passará es-ta geração sem que tudo isso acon-teça”.

    Bem, com exceção das previ-sões sobre a destruição de Jerusaléme das perseguições ao Cristianismonascente, podemos dizer que se pas-saram múltiplas gerações, sem queo Reino Divino preconizado por Je-sus se instalasse na Terra.

    Teria havido um engano de Je-sus?

    Certamente, não!O engano está na apreciação

    da expressão geração.No sentido temporal, envolve

    um grupo de indivíduos nascidosem determinada época. Geraçãodos anos setenta, por exemplo.

    Espiritualmente, define a cole-tividade de Espíritos que evoluemem determinado planeta.

    Segundo notícias da Espiritua-lidade, a geração humana, a Huma-nidade, é composta de perto de vin-te e cinco bilhões de Espíritos emevolução.

    Cerca de um quarto dessa po-pulação, encarnados; os restantes,desencarnados.

    É essa geração que não passará,como informa Jesus. Viveremos naTerra, envolvidos com as experiên-cias na carne, até que se cumpramsuas previsões, no advento do Rei-no de Deus.

    ...

    Entendo que o Reino não seráinstalado na base de decretos.

    Será uma conquista coletiva, apartir do esforço individual.

    Acontecerá quando a Humani-dade estiver cristianizada.

    E esse é o problema. Estamoslonge disso.

    Um exemplo é suficiente.Diz Jesus, no Sermão da Mon-

    tanha (Mateus, 5:5):

    Bem-aventurados os mansos,porque herdarão a Terra.

    Ficarão no planeta, no adven-to do Reino, os que houverem con-quistado a mansuetude, o que sig-nifica que se isso ocorresse hoje, pordecreto divino, nosso Mundo fica-ria deserto. >

    O Reino não será

    instalado na base

    de decretos. Será

    uma conquista

    coletiva, a partir do

    esforço individual

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  • Reformador/Abril 200513618

    Estamos tão longe dela, que apalavra mansuetude guarda conota-ção pejorativa.

    O marido que não mata a mu-lher ou a abandona quando traído,disposto a dar-lhe uma chance poramor aos filhos, é brindado com oadjetivo manso, precedido daquelesubstantivo que define o apêndiceósseo na cabeça dos bois.

    Para aquele que não reage aoinsulto com agressividade, manso ésinônimo de covarde, sangue debarata.

    Por conservar a calma quandotodos a perdem, o manso é conside-rado um sonso, sem iniciativa.

    Por isso Jesus diz que só Deussabe quando virá o Reino, porquesomente o Criador pode definirquando a Humanidade criará juízoe se disporá a vencer a agressividade.

    ...

    Nos caminhos do Reino, o pri-meiro passo, como recomenda Je-sus, é vigiar e orar, para não nos en-volvermos com o imediatismo ter-restre.

    Vigiar é cultivar a reflexão,confrontando os ideais evangélicoscom nossa maneira de ser.

    É algo que devemos fazer todosos dias, submetendo-nos ao juízoda consciência.

    Estamos mais calmos, mais se-renos, mais dispostos a relevaras faltas alheias?

    Aprendemos a contar até dez,antes de reagir às contrarieda-des?

    Perdemos a mania de dizerumas verdades àqueles que nos

    aborreçam, exercitando a com-preensão?

    Escovamos a língua, eliminan-do palavrões e pornografias denosso vocabulário?

    Evitamos adjetivos pejorativosdiante de pessoas que se com-prometem com o vício, o cri-me, o erro, encarando-os comoirmãos necessitados de ajuda?

    Conseguimos falar de alguémdurante alguns minutos, semlembrar de seus defeitos?

    Somos severos conosco, e in-dulgentes com o próximo?

    Atendemos de boa vontade osnecessitados de um modo ge-ral, que cruzam o nosso cami-nho, sem críticas, sem menos-prezo?

    Quando solicitados a colaborarem iniciativas que visam obem-estar coletivo, nos serviçosda filantropia, encontramostempo para participar, e des-prendimento para doar?

    A par dessa vigilância que seexprime em reflexão, é preciso orarmuito!

    Exorar a ajuda divina para quesuperemos nossas tendências infe-riores, partindo da mera teoria pa-ra a ação decidida em favor de nos-sa renovação.

    Então, sim, estaremos no ca-minho certo, e teremos, em inefá-veis sentimentos de paz, serenidade,alegria, bem-estar, os sinais maisevidentes de que o Reino está seinstalando em nós.

    ProvérbiosSe desejas surpreenderA luz, a beleza e a paz,Guarda o silêncio da línguaE muito perceberás.

    Sê valoroso no esforçoPela fé que te ilumina.No mármore embrutecidoRepousa a estátua divina.

    Se vives rogando à vidaPara que o ouro te ajude,Não olvides que a riquezaÉ a tentação da virtude.

    Cresceste à frente do mundo?Que a tua boca se cale.A montanha, por mais nobre,Tem alicerces no vale.

    Quando julgares alguémNa luta que te reclama,Recorda que o lótus lindoVive puro sobre a lama.

    Se temes pardais e vermes,Ventania, pedra e bruma,Não arredes pé de casa,Nem semeies coisa alguma.

    Por roupas e exibições,Não alongues teu capricho.Depois do fausto, há museusE o luxo procura o lixo.

    Casimiro Cunha

    Fonte: XAVIER, Francisco C. Gotasde Luz. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,1994, cap. 22, p. 53-54.

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  • Reformador/Abril 2005 19

    Tanto o Espiritismo como osEvangelhos demonstram a ne-cessidade da virtude e nela avivência do amor ao próximo comofundamental à convivência amoro-sa, e os Mentores Espirituais queorientaram a codificação da Doutri-na Espírita exaltam, conforme vis-to na questão acima citada, a neces-sidade do exercício da Caridade eeles mesmos esclareceram como seconceitua a caridade: “Benevolên-cia para com todos, indulgência pa-ra as imperfeições dos outros, per-dão das ofensas.” (Questão 886 deO Livro dos Espíritos.)

    Portanto, o exercício do amorao próximo pressupõe a benevolên-cia, a indulgência e o perdão dasofensas.

    Também o Mestre Jesus esta-belece como fundamental o amorao próximo, até mesmo ao inimigo,nas relações interpessoais, conformeo texto citado.

    Então, a convivência pacífica,justa e amorosa é fundamental pa-ra o nosso bem-estar e também dooutro.

    Esse comportamento adequa-do ou assertivo deve ser procurado,entendido e, sobretudo, praticado.

    Falamos em amor ao próximo,mas é preciso definir, detalhar oque, em nossas ações comuns, nodia-a-dia, isso significa.

    Como seres sociais, vivendo

    em sociedade, necessariamente es-tabelecemos interações com pes-soas, em diversos grupos; a começarda parentela familiar, no grupo detrabalho profissional, nas institui-ções religiosas, clubes, na rua, emlojas, repartições públicas.

    É importante, então, que sai-bamos relacionar-nos bem, com-preendendo o outro e desejando serpor ele compreendidos. Exercitan-do os nossos direitos como cidadãose respeitando os mesmos direitos dopróximo.

    Para a vivência agradável e sau-dável, precisamos saber como noscomportar adequadamente.

    Nessa convivência, a todomomento, estamos sujeitos a ava-liações e julgamentos que se mani-festam como crítica ou maledicên-cia.

    Há a crítica quando a pessoapretende dizer-nos a verdade comreal interesse em ajudar-nos; a ma-ledicência, quando a pessoa não usaa verdade e simplesmente procuradiminuir-nos, a fim de que ela sesinta superior a nós.

    Quando alguém nos faz umacrítica desejando ajudar-nos, nemsempre sabemos ou queremos acei-tar as observações apresentadas,porque o nosso orgulho não nospermite, visto ferirem a imagem su-perior idealizada que fazemos denós mesmos.

    Desequilibramo-nos emocional-mente, psiquicamente e até, às vezes,fisicamente quando não estamos pre-parados para receber a crítica. >

    137

    A convivência amorosaAylton Paiva

    “Qual a mais meritória de todas as virtudes?Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam pro-

    gresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência vo-luntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da vir-tude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem dopróximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assentana mais desinteressada caridade.” (Questão 893 de O Livro dosEspíritos.)

    “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam eorai pelos que vos perseguem e caluniam. – Porque, se somenteamardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fa-zem assim também os publicanos? – Se unicamente saudardes osvossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazemo mesmo os pagãos? – Sede, pois, vós outros, perfeitos, como per-feito é o vosso Pai celestial.” (Mateus, 5:44, 46-48, de O Evange-lho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 1, ed. FEB.)

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  • 20 Reformador/Abril 2005

    Vale, então, buscarmos os en-sinamentos da Doutrina Espírita,dos ensinamentos do Mestre Jesusnos Evangelhos, e também da Psi-cologia.

    Psicólogos procuram detalharpara nós as habilidades de lidar coma crítica, para que possamos aceitá--la de maneira adequada:

    ACEITAR:1. Permitir que a pessoa expo-

    nha a sua crítica, sem inter-rompê-la.

    Mesmo que em suas pri-meiras palavras você sinta al-gum desconforto emocio-nal pelo que está ouvindo,achando que seja verdadeiroou não, deixe que ela encer-re completamente a sua fala;

    2. Prestar atenção nos aspectosmais importantes da crítica.

    Controle, da melhor ma-neira possível, o estado emo-cional para não “bloquear” oentendimento das palavrasque está ouvindo;

    3. Concordar, total ou parcial-mente, com a veracidade dacrítica.

    Após permitir que a pes-soa apresente a sua crítica evocê tenha prestado atençãopara avaliar o significado da-quelas observações, poderá,então, concordar com tudoo que foi dito ou apenasparte do que lhe foi apresen-tado, manifestando, tam-bém, com a tranqüilidadepossível o seu grau de aceita-ção da crítica, na totalidade,em parte ou mesmo rejei-tando as observações feitas;

    4. Agradecer a pessoa pela suapreocupação e solicitar no-vas críticas.

    Ao concordar com a críti-ca, na totalidade ou em par-te, você sentirá que, efetiva-mente, o outro está queren-do ajudá-lo. Está colaboran-do para o seu aperfeiçoa-mento como pessoa e Es-pírito. Merece, portanto, oagradecimento. Essa pessoaestaria manifestando, assim,amor por você.

    Constatando a sua since-ridade e desejo em ajudá-la,você poderá, então, dizer--lhe que, quando achar opor-tuno, poderá fazer outrascríticas;

    5. Desculpar-se por comporta-mentos inadequados que fo-ram objeto da crítica.

    Se reconhecer o erro ouengano, praticado conscien-te ou inconscientemente,procure sinceramente des-culpar-se, aproveitando aoportunidade para enrique-cer a sua personalidade comas contribuições de verdadesque recebeu;

    6. Manifestar intenção de mu-danças no comportamentoinadequado.

    Se houve reconhecimen-to de que a crítica era pro-cedente, é importante ma-nifestar ao crítico que vocêtem interesse em mudaraquele comportamento quenão foi adequado, tenhaele sido expresso por pala-vras, atos ou através de am-bos.

    Esse roteiro não é fácil de serseguido, pois ele mexe com a nos-sa personalidade, com as nossasemoções e sentimentos, toca emnosso egoísmo, orgulho e vaidade,no entanto ele é muito importan-te para vivermos de forma amoro-sa e saudável, a começar do pró-prio lar.

    BIBLIOGRAFIA:

    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 71. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1991. Parte 3a, caps. XI eXII.

    ______. O Evangelho segundo o Espiritismo.116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, cap. XVII,item 1.

    PRETTE, Almir e Zilda. Habilidades SociaisCristãs. 1. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.

    138

    Cadastro deAssinantes e Instituições EspíritaSAtualizem seu cadastro a fim de receber

    Reformador com regularidade

    ([email protected]).

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  • Reformador/Abril 2005 139 21

    Busquemos o melhor“Por que reparas o argueiro no olho de teu irmão?”

    – Jesus. (Mateus, 7:3.)

    A pergunta do Mestre, ainda agora, é clara e oportuna.

    Muitas vezes, o homem que traz o argueiro num dos olhos traz igualmente con-

    sigo os pés sangrando. Depois de laboriosa jornada na virtude, ele revela as mãos cale-

    jadas no trabalho e tem o coração ferido por mil golpes da ignorância e da inexpe-

    riência.

    É imprescindível habituar a visão na procura do melhor, a fim de que não seja-

    mos ludibriados pela malícia que nos é própria.

    Comumente, pelo vezo de buscar bagatelas, perdemos o ensejo das grandes rea-

    lizações.

    Colaboradores valiosos e respeitáveis são relegados à margem por nossa irreflexão,

    em muitas circunstâncias simplesmente porque são portadores de leves defeitos ou de

    sombras insignificantes do pretérito, que o movimento em serviço poderia sanar ou

    dissipar.

    Nódulos na madeira não impedem a obra do artífice e certos trechos empedrados

    do campo não conseguem frustrar o esforço do lavrador na produção da semente no-

    bre.

    Aproveitemos o irmão de boa-vontade, na plantação do bem, olvidando as nugas

    que lhe cercam a vida.

    Que seria de nós se Jesus não nos desculpasse os erros e as defecções de cada dia?

    E, se esperamos alcançar a nossa melhoria, contando com a benemerência do Se-

    nhor, por que negar ao próximo a confiança no futuro?

    Consagremo-nos à tarefa que o Senhor nos reservou na edificação do bem e da

    luz e estejamos convictos de que, assim agindo, o argueiro que incomoda o olho do

    vizinho, tanto quanto a trave que nos obscurece o olhar, se desfarão espontaneamen-

    te, restituindo-nos a felicidade e o equilíbrio, através da incessante renovação.

    Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 30. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 113,p. 259-260.

    ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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  • Apartir deste mês, a exposição“Kardec 200 anos” estará per-correndo diversos Estados bra-sileiros. Integrada por livros raros,objetos do século XIX, réplicas deroupas, quadros e cartas de AllanKardec, a mostra foi apre-sentada pela primeira vezno 4o Congresso EspíritaMundial, em outubro de2004, em Paris.

    Durante a reunião de2004 do Conselho Fede-rativo Nacional da FEB, aexposição foi inauguradano Brasil. O Secretário--Geral do Conselho Espí-rita Internacional, NestorJoão Masotti, informou aos Presi-dentes das Federativas estaduais edas Entidades Especializadas deÂmbito Nacional que a exposição éitinerante e poderá ser solicitada pa-ra exibição nos Estados brasileiros.O primeiro Estado a exibir a mos-tra será o Rio de Janeiro. Na SedeSeccional da FEB, em abril, a expo-sição vai integrar a programação co-memorativa denominada “Mês Al-lan Kardec”, mais uma homenagemda FEB ao Bicentenário de Nasci-mento do Codificador do Espiri-tismo.

    Cartas de Kardec

    O ponto alto da exposição sãosete cartas de Allan Kardec, cedidaspelo Instituto Canuto Abreu, deSão Paulo. Os documentos foramescaneados e traduzidos pelo Con-selho Espírita Internacional para osidiomas inglês, espanhol e por-tuguês. Na mostra o público podeler tanto as cópias em alta resolução

    dos originais como astraduções.

    Entre os objetos expostos estãoréplicas de roupas de Allan Kardece de sua esposa, Amélie-GabrielleBoudet, além de objetos do séculoXIX, como pince-nez, relógio debolso e caneta-tinteiro. As roupasforam confeccionadas exclusiva-mente para a exposição, a partir deretratos de Kardec e Amélie. Os te-cidos foram fabricados por tecela-gens que funcionam há mais de300 anos na Europa e confecciona-dos rigorosamente de acordo com

    22 Reformador/Abril 2005140

    Exposição Kardec 200 anos chegaA mostra, organizada pelo Conselho Espírita Internacional, integra

    1.

    2.

    Abril 2005.qxp 5/4/2005 14:15 Page 22

  • o padrão de vestuário do séculoXIX.

    Organizada por Elsa Rossi,que integra a Coordenadoria Euro-pa do Conselho Espírita Interna-cional, a mostra também traz comodestaque um conjunto de livros ra-ros, relacionados com o Espiritismo

    Reformador/Abril 2005 23141

    ao Rio de Janeiro em abrila programação em homenagem ao Codificador

    e editados em diversos idiomas.Para agendar a exposição, a Federa-tiva estadual deverá entrar em con-tato com o Setor de Arquivo, Bi-blioteca de Obras Raras e Museuda FEB. O telefone é: (61) 321--1767, ramal 225. O e-mail é:[email protected]

    1. Carta de Kardec2. Folha de rosto de livro pedagógico de

    Kardec3. Réplica de vestido de Amélie Boudet4. Pintura realizada por Irene Hernan-

    perez por ocasião do 4o Congresso Es-pírita Mundial

    5. Réplica de roupa de Allan Kardec

    4.

    Abril 2005.qxp 5/4/2005 14:15 Page 23

  • 24 Reformador/Abril 2005142

    Afirmam Maturana e Varelaque “o conhecimento do co-nhecimento nos comprome-te”.1 Esses dois pesquisadores fize-ram uma incrível viagem peloscampos da Biologia, para entendero fenômeno do “conhecer”. A gran-de indagação que vem instigandopensadores de todos os tempos e foio ponto de partida do trabalho queempreenderam é:

    Como aprendemos? As respostas dadas a essa inda-

    gação ao longo da História funda-mentaram ações pedagógicas que sesucederam no tempo e afetaram avida de tantas gerações. Agora esta-mos no limiar de uma nova era,cujas bases precisarão assentar-seem uma nova maneira de educar ohomem. A Doutrina Espírita apre-senta um arcabouço filosófico capazde fundamentar uma pedagogia no-va e revolucionária, mas sua açãopermanece ainda restrita a um mo-vimento minoritário dentro docontexto social, por isso queremosdestacar aqui a importância desteestudo que nasceu no próprio meio

    acadêmico e tem pontos de conver-gência fortes com as propostas es-píritas.

    As buscas que esses dois cien-tistas empreenderam acabaram pordemonstrar que o fenômeno do co-nhecer não pode ser equiparado àexistência de “fatos” ou objetos láfora que podemos captar e armaze-nar na cabeça. Eles provam que aexperiência de qualquer coisa é va-lidada pela estrutura humana e oencadeamento entre ação e expe-riência, a inseparabilidade entre serde uma maneira particular e comoo mundo nos parece ser, indica quetodo ato de conhecer produz ummundo.

    É motivante para nós, espíritas,ver surgir, no meio acadêmico, umestudo que fundamenta uma ma-neira absolutamente nova de ver avida e o homem, e conhecer traba-lhos de cientistas que, não temendoenfrentar as atitudes inflexíveis quenascem do orgulho de saber, afir-mam:

    “A reflexão é o ato de conhecercomo conhecemos, um ato de nosvoltarmos sobre nós mesmos, a úni-ca oportunidade que temos de des-cobrir nossas cegueiras e de reco-nhecer que as certezas e os conheci-mentos dos outros são, respecti-vamente, tão nebulosos e tênuesquanto os nossos.”

    Essa fala sem dúvida nos reme-te ao reconhecimento da humilda-de dessa postura. E, como Jesus dis-se que Deus se oculta aos doutos e

    se revela aos simples, percebemosque essa postura favorece mais am-plas incursões da mente nos escani-nhos da vida. Os pesquisadores deque falamos assumem assim umaposição favorável ao conhecimentodo essencial, pois reconhecem as li-mitações dos sentidos para apreen-der a vida em sua inteireza.

    Ao nos debruçarmos sobre oestudo que fizeram, aprendemosque somos seres integrantes de umasociedade não por escolha, mas porum determinismo biológico que ga-rante a nossa sobrevivência. Postu-lam que a interação entre os sereshumanos e entre estes e seu meioresulta de um acoplamento estrutu-ral que desencadeia mudanças mú-tuas de estado, num processo con-tínuo que modifica o meio e osindivíduos nele envolvidos; quecompartilhamos um mundo espe-cificado em conjunto por meio denossas ações e que foi por essa inte-gração, por essa soma de possibili-dades, que a espécie humana se de-senvolveu e dominou a Terra.

    O saber que sabemos, segundoinformam, conduz a uma éticainescapável, que não podemos des-prezar. Uma ética que brota daconsciência humana e a coloca nocentro como fenômeno social cons-titutivo. Equivale a buscar as cir-cunstâncias que permitem tomarconsciência da situação em que es-tamos e olhá-la de uma perspectivamais abrangente e distanciada. “Oconhecimento do conhecimento

    CompromissoDalva Silva Souza

    1MATURANA, Humberto & VARELA, Fran-cisco. A Árvore do Conhecimento – As BasesBiológicas do Entendimento Humano. Tradu-ção de Jonas Pereira dos Santos. WorkshopsyEditora. SP. 1995.

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  • Reformador/Abril 2005 25143

    compromete-nos a tomar uma ati-tude de permanente vigilância con-tra a tentação da certeza, a reconhe-cer que nossas certezas não sãoprovas da verdade, como se o mun-do que cada um de nós vê fosse omundo, e não um mundo, que pro-duzimos com outros.”

    Com base nessa forma de ver,advertem: “Toda vez que nos opu-sermos a alguém, precisaremos con-siderar que o ponto de vista dele étão válido quanto o nosso, aindaque nos pareça menos desejável,portanto teremos que buscar umaperspectiva de domínio experiencialem que o outro também tenha lu-gar. Só podemos chegar a esse atode ampliar nosso domínio cogni-tivo pelo encontro com o outro,olhando-o como igual, num atoque habitualmente é chamado deamor. Sem amor, não há socializa-ção, e sem socialização não há hu-manidade.”

    A reação que emerge em nós,ao constatarmos que essas palavrasnasceram no contexto mesmo dasacademias mais festejadas do mun-do e começam a circular nos meiosintelectualizados, com capacidadede ampliar concepções e propormudanças, traz-nos um grande oti-mismo quanto ao futuro. Fazendoa leitura espírita dessas idéias, inda-gamos: Quais seriam, pois, os com-promissos que nascem da consciên-cia de conhecer?

    Podemos definir três compro-missos: o primeiro é, exatamente, ode desenvolver a humildade, poruma atitude de permanente vigilân-cia contra a tentação da certeza, porreconhecer que nossas certezas nãosão provas da verdade, porque omundo que cada um de nós vê é,na verdade, um mundo que produ-

    zimos na interação com aquelescom quem convivemos. O segundoé com a fraternidade, precisamosimplementar um modo de viver emque o outro também tenha lugar eno qual possamos, com ele, cons-truir a experiência amorosa queproduz alegria e crescimento espi-ritual. O terceiro é com a meditaçãopara o autoconhecimento, recursoreiteradamente indicado pelos Es-píritos (O Livro dos Espíritos, 919),pois esse voltar-se para dentro de simesmo é que conduz à vitória con-tra a cegueira que caracteriza o dia--a-dia de seres imersos numa cultu-ra que precisa ser transformada.

    Se aceitarmos esses três com-promissos, avaliaremos criticamen-te as posições pedagógicas a que noshabituamos. Estamos dia a dia dian-te da exclusão de milhões de pes-soas, marginalizadas da sociedadepor vários motivos, mas não se ob-serva um movimento de reversãodo quadro, parece haver uma insen-sibilidade generalizada em relaçãoao problema da miséria social e mo-ral que gera tantos dissabores na vi-da da sociedade. Os avanços cientí-ficos e tecnológicos existentes pode-

    riam dar conta de solucionar amaior parte desses problemas, masnão há consenso para enfrentá-los eresolvê-los. Cabe, pois, a indagaçãode como educar os Espíritos quechegam às nossas famílias, seja pe-lo renascimento, seja pela adoção,num momento tão delicado detransformações, para olhar o mun-do contraditório em que vivemos,de modo a despertar neles os senti-mentos de solidariedade em relaçãoao próximo e de responsabilidadepela transformação.

    A pedagogia tradicional vê oconhecimento como reflexo da rea-lidade externa e objetiva e, então,ensinar é transmitir informações darealidade objetiva e educar é, alémdisso, criar hábitos adequados a es-sa realidade. Na visão de mundo edo homem que está na base dessaconcepção pedagógica, nossos sen-tidos são órgãos que captam ima-gens de como o mundo realmenteé. A realidade é vista como conjun-to de objetos captáveis e, portanto,manipuláveis. Conhecer é apode-rar-se das coisas para poder con-trolá-las. Essa concepção gera umarelação de oposição, competitiva,defensiva e agressiva com o mundoe as pessoas.

    Mas, ainda com Maturana eVarela, aprendemos que não vemosque não vemos. Eles criticam a con-cepção tradicional, afirmando queé possível correlacionar o nomearcores com estados de atividade neu-ral, mas não com comprimento deonda, e acrescentam que isso é váli-do para qualquer modalidade per-ceptiva, provando que a simplesapreensão de alguma coisa (espaço,cor) traz a marca indelével de nossaprópria estrutura. “Não vemos o es-paço do mundo, vivemos nosso

    Ensinar é transmitir

    informações da

    realidade objetiva e

    educar é, além disso,

    criar hábitos

    adequados a

    essa realidade

    Abril 2005.qxp 5/4/2005 14:15 Page 25

  • 26 Reformador/Abril 2005144

    campo visual. Não vemos as coresdo mundo, vivemos nosso espaçocromático.” Então, precisamos en-tender que não há esse mundo lá defora. Existe uma visão de mundointernalizada e, muitas vezes, com-partilhada, criando a ilusão de quehá “fatos” ou objetos lá fora que po-demos captar e armazenar na ca-beça. Na verdade, o processo todoé complexo, nossos sentidos sãopontes de mão dupla, trabalhamtambém de dentro para fora. O or-ganismo vivo e seu meio ambienteformam uma unidade indissociável.

    Em outras palavras, Jesus nosalertou quanto a isso: “Buscai o rei-no de Deus e sua justiça e tudo omais vos será dado por acréscimo.2”Afirmativa examinada em todos ostempos e entendida com mais ade-quação, agora, pelo esclarecimentoespírita: buscar o reino de Deus sig-nifica desenvolver o entendimentodas leis que regem a vida, e a pala-vra justiça, no contexto da fala doCristo, não remete a julgamentos etribunais, mas, como bem esclare-ceu Pastorino3, tem a conotação dejusteza, ajustamento. O ensinamen-to de Jesus poderia então ser tradu-zido assim: ajuste-se às leis naturaisque regem a vida, porque elas sãodeterminismos divinos; agir contraelas é semear a perturbação, o dese-quilíbrio e candidatar-se ao sofri-mento. É notável a síntese do Espí-rito de Verdade: amai-vos e instruí--vos.

    Para estabelecer uma nova pe-dagogia, precisamos entender, en-

    tão, que o conhecimento não é al-go a ser colocado na cabeça do edu-cando, para que ele se comporte daforma como queremos. O conheci-mento não é recebido passivamen-te, mas é construído ativamente pe-lo indivíduo em seu meio. A funçãodo conhecimento deverá levar àadaptação do indivíduo ao ambien-te em que é chamado a construirsua vida, para descobrir que ela sóterá sentido se ele perceber quecompartilha um mundo que cons-trói na interação com seus seme-lhantes, por meio de suas ações.Propõe-se, pois, a pedagogia da so-lidariedade. A educação para a soli-dariedade não deve partir de umabusca de descobrir culpados da si-tuação que nos está dada, nem delevantar libelos contra governos,empresas e lideranças sociais, masdeve buscar propor a compreensãode que os seres humanos precisamsobreviver na complexa sociedadeatual e encontrar alegria nisso, paraque possam despertar o lado bom

    de si mesmos, superar a competiti-vidade e a ganância para mudar, as-sim, o mundo que estão construin-do pela sua interação.

    Neste novo modelo pedagógi-co, os indivíduos devem colocar-sena perspectiva de aprender conti-nuamente, mantendo-se abertos,para continuarem descobrindo as-pectos da sua realidade que favore-çam seu crescimento. As experiên-cias de aprendizagem não construi-rão realidades fechadas ou saberesdefinitivos, totalmente delimitadose adquiridos. Os campos de senti-do se construirão continuamentepara continuar sendo realidadesabertas. O aprender será construirmundos mais solidários, onde cabe-rão todos, e campos de significadocom conexões com outros camposde sentido na composição em rededa interação humana. E então, fi-nalmente, teremos compreendido adinâmica proposta por Jesus de im-plantação do Reino de Deus naTerra.

    2Lucas, cap. XII, v. 31.3PASTORINO, Carlos Tôrres. Sabedoria doEvangelho. 2. ed. Rio de Janeiro: Grupo Edi-torial SPIRITVS, 1967, vol. 2, p.122.

    Reformador no Centro EspíritaA FEB faz, mensalmente, remessa gratuita de Reformador aos

    centros espíritas de todo o Brasil, quer estejam ou não ligados àsrespectivas Entidades Federativas estaduais, com base no cadastroque possui.

    Para que essa oferta atinja seus objetivos de divulgação da Dou-trina e do Movimento Espírita, solicitamos aos dirigentes dos cen-tros espíritas que façam campanha de assinatura de Reformador jun-to aos seus trabalhadores.

    Pedimos às Federativas que nos informem se as casas espíritasdo Estado estão recebendo a Revista, assim como os nomes e en-dereços das novas instituições.

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  • Em 47 anos, o Governo brasilei-ro emitiu cinco selos e diversosprodutos postais com motivoespírita.

    O primeiro selohomenageou o cente-nário da Codificaçãodo Espiritismo, em 18de abril de 1957, e te-ve como desenhista Ber-nardino da Silva Lan-cetta. Foram impres-sos 5 mil selos, que cus-tavam Cr$2,50 cadaum.

    O centenário delançamento de O Evan-gelho segundo o Espiri-tismo foi homenageadocom um selo lançadoem 18 de abril de1964. Com uma tira-gem de 5 mil exempla-res, custava, cada um,Cr$30,00. O desenhotambém era de Bernar-dino Lancetta.

    Em 1965, o centenário defundação da primeira sociedadeespírita do Brasil – o Grupo Fami-liar do Espiritismo, que funciona-va em Salvador (BA) – foi lembra-do com dois carimbos comemo-rativos.

    Allan Kardec foi homena-geado com um selo em 31 de mar-ço de 1969, no centenário de suadesencarnação. Bernardino Lancet-ta assinou pela terceira vez um selocom motivo espírita. Os Correios

    atenderammais uma veza uma soli-citação daFEB. A tira-gem era de 2mil exempla-res.

    No dia26 de julho

    do mesmo ano, os cemanos da imprensa espíritano Brasil foram lembradoscom um selo que trazia aefígie de Luís Olímpio Te-les de Menezes, fundadordo primeiro jornal espíritabrasileiro: O Eco d’Além--Túmulo. Mais uma vez odesenhista Ber-nardino Lacet-ta foi o criadordo selo.

    Com umatiragem de mil exempla-res, o selo foi lançadocom carimbos oblitera-dores em vários Estadosbrasileiros.

    Em 2004, o Gover-no brasileiro lançou um selo come-

    morativo doBicentenário deNascimento deAllan Kardec eum carimboobliterador es-pecial do 4o

    Congresso Es-pírita Mundial.Tarcisio Ferrei-ra desenhou oselo, que tevetiragem de 810

    mil exemplares e valor de face deR$1,60.

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    Selos homenagearam o Espiritismo no Brasil

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    Recordando o Excelso MestreJesus, relata-nos o evangelistaMateus: “Um homem tinhadois filhos, e chegando ao primei-ro, lhe disse: Filho, vai hoje, e tra-balha na minha vinha. E respon-dendo, ele lhe disse: Não quero.Mas depois, tocado de arrependi-mento, foi. E chegando ao outrolhe disse do mesmo modo. E res-pondendo ele, disse: Eu vou, se-nhor, e não foi. Qual dos dois fez avontade do pai? Responderam eles:O primeiro. Jesus disse: Na verda-de vos digo que os publicanos e asmeretrizes vos levarão a dianteira noreino de Deus.” (Mateus, 21:28--31.)

    Adequando esses ensinamentosdo Mestre à formação do trabalha-dor espírita, e guardando as devidasproporções, somos inclinados apensar que a vinha do Senhor podeser entendida como sendo a searaespírita. Seara bendita que disponi-biliza aos seus servidores oportuni-dades de reajustamento espiritual,desde que estejam dispostos a ofe-recer suor e lágrima, alegria e dedi-cação, nos serviços de amor aosemelhante.

    Entendemos que todos os es-píritas são convidados a dar a suacota de trabalho na vinha do Se-nhor. Entre os convidados existemaqueles que, à semelhança do pri-

    meiro filho da parábola, recusam oconvite, para, mais tarde, cumprir avontade do Pai. Representam a vas-ta categoria de trabalhadores espíri-tas que, num primeiro momento,se julgam inaptos à execução da ta-refa, assinalando diferentes justifi-cativas: necessidade de construirum futuro profissional, essencial àsubsistência no plano físico; deverde priorizar atendimento aos desa-fios da vida em família, sobretudoos relativos à educação dos filhos;executar, ainda que tardiamente, so-nhos imaginados nos distantes diasda infância ou juventude; impor-tância em considerar que, a despei-to do real significado dos ensina-mentos da Doutrina Espírita, so-mente missionários devam dedicar--se, de corpo e alma, às múltiplas edesafiantes tarefas existentes naseara.

    São espíritas que se deixam in-fluenciar, em demasia, pelos cha-mamentos da vida física, sempreadiando para mais tarde a dedica-ção solicitada. Sabemos, no entan-to, que por força das provações quelhes ocorrem ao longo da jornadaterrestre são naturalmente conduzi-dos a reflexões, deixando que o de-sejo de algo fazer em benefício dopróximo lhes preencha, pouco apouco, o coração. Tornam-se entãomais solidários com os que sofrem,encarnados ou desencarnados. Li-bertos de si mesmos passam a en-tender que a dedicação ao próximodeva ser a maior preocupação da vi-da, e, revelando nova disposição,

    honram as tarefas que lhes foramconfiadas com os cuidados da per-sistência e da continuidade. Arre-pendidos dos equívocos cometidos,quando aceitaram o jugo dos atra-tivos materiais, compreendem, fi-nalmente, a grandeza que existe emservir sem imposições, mas de cora-ção aberto, independentemente dascotas de sacrifício oferecidas pelotrabalho na vinha do Senhor.

    Devemos considerar, porém,que, como o segundo filho da pará-bola, existem espíritas que aceitam,de imediato, colaborar no campodo Senhor, quando convidados.Tempos depois, no entanto, se afas-tam da prestação de serviço quelhes foi destinada, por se revelaremincapazes de enfrentar os obstácu-los que surgem. São os entusiastasdo primeiro momento. Conseguemidentificar os benefícios do traba-lho, discorrendo sobre os mesmoscom alegria e bom ânimo. Perma-necem, porém, nesta posição. Nãosuportando a carga diária e rotinei-ra imposta pela tarefa, afastam-se,transferindo para o grande futuro aoportunidade de servir, ainda quesob o peso de renúncias e provasdolorosas.

    Endereçamos a vocês, amigos eirmãos, estas singelas