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Fundada a Associação de Editoras Espíritas 31 Exercitando o Evangelho — Adultério no coração Inaldo Lacerda Lima 10 A FEB e o Esperanto — Zamenhof — Benfeitor da Humanidade Affonso Soara 20 Frederico Fígner — Cinqiientenário de desencarnação 25 Esflorando o Evangelho Sigamos até lá Emmanuel 15 Consciência, o espelho da alma Marcelo Paes Barreto 12 A proposta do Cristo Warwick Mota 14 Seara Espírita — Fatos em Notícia 32 O direito de não fumar Marcos F. Moraes 19 Editorial 8 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 - 2

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REFORMADORISSN 1413-1749

REVISTA DE ESPIRITISMO CRISTÃOFUNDADA EM 21-1-1383

ANO 115/ JANEIRO, 1997/ Nº 2.014Fundador: Augusto Elias da Silva

INTERNET

PÁGINA NA WEB:

http://www.febrasil.org.br

EditorialExortação de Bezerra de Menezes

2

A Unidade DoutrináriaJuvanir Borges de Sousa

3

Aos trabalhadores do EvangelhoCruz e Souza

4

Fechar as portasRichard Simonetti

5

Construir a LiberdadeDalva Silva e Souza

6

"Nada pode deter a marcha daDoutrina Espírita"

Bezerra8

Exercitando o Evangelho — Adultériono coração

Inaldo Lacerda Lima10

Consciência, o espelho da almaMarcelo Paes Barreto

12

Ano BomPasses Lírio

13

A proposta do CristoWarwick Mota

14

Esflorando o EvangelhoSigamos até lá

Emmanuel15

Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA

BRASILEIRA

DIREÇÃO E REDAÇÃORua Souza Valente, 17

20941-040 - Rio - RJ - Brasil

INTERNET

E-MAIL:

[email protected]

20 Anos da Campanha Permanente deEvangelização Espírita infanto-Juvenil

16

O direito de não fumarMarcos F. Moraes

19

A FEB e o Esperanto — Zamenhof —Benfeitor da Humanidade

Affonso Soara20

Novos Cursos de Esperanto na FEB —Rio de Janeiro

21

Monismo, Materialismo eEspiritualismo

Paulo de Tarso São Thiago22

Estudo Sistematizado da DoutrinaEspírito

24

Frederico Fígner — Cinqiientenário dedesencarnação

25

FEB — Conselho Federativo Nacional— Reunião Ordinária de 1996

26

Seareiros que Retornaram à PátriaEspiritual — Cenyra de Oliveira Pinto

30

Fundada a Associação de EditorasEspíritas

31

Seara Espírita — Fatos em Notícia32

Page 3: reformador-1997- Janeiro -

o terminarem os trabalhos do Con-selho Federativo Nacional, no dia 10de novembro do ano findo, pronun-

ciou-se Bezerra de Menezes, psicofonica-mente, através da mediunidade de DivaldoPereira Franco, em memorável exortaçãoaos trabalhadores presentes e ao Movimen-to Espírita.

Essa palavra, de grande lucidez e de altasignificação nos tempos de transição que omundo atravessa, tem importância especialpara os seguidores da Terceira Revelação,razão pela qual, além de sua publicaçãointegral nas páginas de REFORMADOR,vamos resumir aqui determinados conceitostransmitidos pelo benfeitor espiritual quetodos admiramos.

Eis os principais pontos da mensagem:

---- Os tempos atuais são de dificuldadese desafios, mas a obra do bem permanece eprecisa ser sustentada.

---- Os discípulos da verdade devempermanecer fiéis, vivenciando os princípiosque os norteiam, com o que obviarão osóbices externos e internos do MovimentoEspírita.

---- Assim como não podemos impor aMensagem Libertadora da Doutrina, nãodevemos aceitar as imposições de váriaprocedência.

---- ‘‘A grande luta deste momento setravará no país da consciência de cadadiscípulo de Jesus.’’

---- Precisamos manter a serenidade, pormaior seja a morbidez a nós direcionada.

---- A atuação persistente no bem é agarantia para que a Mensagem Espíritaautêntica seja levada a toda parte, conformeno-la legaram os Espíritos Superiores.

---- Expande-se o Movimento e nadapode deter o conhecimento da Doutrina,nem mesmo os que, dizendo-se adeptos,optaram pelo trabalho destrutivo, disfarçadode dedicação à Causa.

---- Os passos dos verdadeiros obreiros,na Terra, devem servir de roteiro para osque terão a incumbência de continuar aobra.

---- Não guardemos ressentimentos, nemnos deixemos entristecer, nem desani-memos, eis que a tarefa demanda valor,coragem, estoicismo, assinalados peloamor.

---- Avancemos unidos. O ideal daUnificação vem do Alto para a Terra.

---- As dificuldades devem ser discutidasem paz, com respeito mútuo, com frater-nidade, com dignificação dos indivíduos edas Instituições. Se não formos capazes deassim proceder, que exemplo vamosoferecer ao mundo?

---- A criatura humana no seu encontrocom o Cristo, através da fé raciocinada, é ocampo onde o bem deverá se instalar, comocélula do organismo social.

---- Confiemos na casa construída sobre arocha, no ideal que nos conduz à plenitude.

A nós, os trabalhadores da última hora ,cumpre acatar o pensamento lúcido dogrande amigo espiritual, para o nosso pró-prio bem e pelo bom direcionamento doMovimento que nos congrega.

Exortação deBezerra de Menezes

Editorial

A

8 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 - 2

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Vamos transcrever partedos ensinamentos dosEspíritos a Kardec, no

que concerne à unidade e à ten-tativa muito comum de se intro-duzir cunhas divisionistas naDoutrina e nos movimentosdela oriundos.

‘‘(...) Se o vosso mundo fosseinacessível ao erro seria perfei-to, e longe disso se acha ele.Ainda estais aprendendo a dis-tinguir do erro a verdade. Fal-tam-vos as lições da experiênciapara exercitar o vosso juízo efazer-vos avançar. A unidade seproduzirá do lado em que o bemjamais esteve de mistura com omal; desse lado é que os ho-mens se coligarão pela forçamesma das coisas, porquantoreconhecerão que aí é que estáa verdade. ‘‘Aliás, que importam algu-mas dissidências, mais de formaque de fundo! Notai que os prin-cípios fundamentais são os mes-mos por toda parte e vos hão deunir num pensamento comum: oamor de Deus e a prática dobem. Quaisquer que se supo-nham ser o modo de progressão

ou as condições normais daexistência futura, o objetivo fi-nal é um só: fazer o bem. Ora, nãohá duas maneiras de fazê-lo.’’(‘‘O Livro dos Espíritos’’ ----Conclusão IX ---- edição FEB.)

Palavras sábias que serviramde orientação ao Codificador eque continuam elucidativas eaplicáveis a todos os movimen-tos que se formam em torno daDoutrina.

Em nossos dias ainda se le-vantam celeumas em torno dequestões secundárias que setornam irritantes. Há certosadeptos que se esquecem deseus compromissos com obem, com os princípios doutri-nários fundamentais, com anecessidade de praticar a cari-dade e a fraternidade, a come-çar pelos irmãos mais próximos,deixando de praticar a humil-dade e a solidariedade, emuma palavra, de praticarem aparte moral da Doutrina, a qualestá toda contida na Mensa-gem do Cristo.

Em lugar da prática dobem, do esforço natural paraentender a finalidade da Dou-trina, que é a preparação doadepto tanto em conhecimen-tos, sempre mais amplos, quan-to em moralidade, muitos seentregam às discussões infin-dáveis em torno de questõessecundárias.

Adotam certas interpretaçõespessoais e julgam que a Doutri-na lhes dá inteiro respaldo.

Citam Allan Kardec, invo-cam os Evangelhos, valem-sede autoridades nas mais diver-sas questões, mas nunca abremmão de suas interpretações pes-soais.

Esquecem-se, porém, da prá-tica do bem. Criam atritos, dis-cutem, caluniam, ofendem, in-juriam, e pensam que estão‘‘defendendo o Espiritismo’’.

Há os que conhecem a Dou-trina Espírita, admiram-na, masnão seguem seus princípios, op-tando por seguir seu próprio pa-recer, num subjetivismo quecontrasta flagrantemente com afilosofia e a moral do Cristo,que é a mesma do Espiritismo.

O Movimento se ressentedesse fenômeno humano ----‘‘espíritas’’ que não seguem osditames da Doutrina, e sim oque lhes parece certo, o quecorresponde ao seu subjetivis-mo, para não dizer personalis-mo intolerante.

Querem um exemplo, umacomprovação? Leiam determi-nadas publicações ditas espíri-tas.

Constatarão exatamente oantiespiritismo: ataques e acu-

A U n i d a d eD o u t r i n á r i a

Ao tempo em que o Codificador se dedicava à conso-lidação dos princípios estabelecidos em ‘‘O Livrodos Espíritos’’, dando prosseguimento à obra, em seus

desdobramentos, que durariam até seu decesso, em 1869,surgiram divergências diversas que afetaram a unidadedoutrinária.

Os Espíritos reveladores, sempre atentos à base sobrea qual se levantaria a Doutrina Consoladora, disseram aAllan Kardec que não se inquietasse com as possíveis di-vergências, que partiam tanto de entidades encarnadasquanto de desencarnadas e que a unidade se estabelece-ria, apesar de algumas oposições que o tempo se incumbiu deafastar.

‘‘O argumento supremodeve ser a razão. Amoderação garantirámelhor a vitória daverdade do que as

diatribes envenenadaspela inveja e pelo ciúme’’

3 ---- REFORMADOR, JANEIRO, 1997 7

JUVANIR BORGES DE SOUZA

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sações a companheiros e insti-tuições; defesa de idéias pes-soais, travestidas de Kardecis-mo, como se Allan Kardec esti-vesse sempre de plantão paraatender a quantos lhe invocam onome respeitável.

O resultado é a confusão, apregação aberta do divisio-nismo, a falta de sensibilidadequanto ao mal que causamespecialmente aos que não sefirmaram conscientemente so-bre os princípios da Doutrina,entre os quais sobressai o dafraternidade, o do amor e dacompreensão entre as criatu-ras.

Espírita que calunia, quedetrata, que divide, que des-respeita a si mesmo e ao pró-ximo, está cumprindo seuselementares deveres de se-guidor da Doutrina e do Cris-to?

Ora, se é certo, como dizKardec, que entre os seguidoresdo Espiritismo existem os quedivergem de opinião sobre cer-tos pontos teóricos, não menoscerto é que todos estão de acor-do quanto ao que é essencial,fundamental.

A unidade há que se fazerem torno do que é fundamental.No tocante ao secundário, hánecessidade de tolerância, soli-dariedade, compreensão.

É a prática da liberdade, queprecisamos cultivar para nósmesmos e respeitar no procedi-mento alheio.

O espírita verdadeiro nãoodeia, nem fere, nem foge desuas responsabilidades maioresperante as leis divinas do amor,da justiça e da caridade.

Infelizmente, no mundo im-perfeito e atrasado em que vive-mos, não é pelo fato de se dizerespírita que o homem se trans-forma para melhor.

Se não toma a si o dever deporfiar contra suas mazelasmorais, dentre as quais sobres-saem o egoísmo e a vaidade,tudo o leva ao interesse pes-soal. O resultado é a inconfor-mação ante o que não lhe

agrada, a crítica acerba ao quenão compreende, o azedumepermanente contra tudo que nãoreza por sua cartilha interpreta-tiva.

Não pode ser consideradoespírita quem simplesmente co-nhece a Doutrina, mas, sim,quem a estuda atentamente e seesforça por praticá-la, especial-mente na sua feição moral.

É evidente que o Espiritis-mo não veio ao mundo ape-nas para informar sobre fatosnovos, nem somente para ex-plicar as comunicações entrevivos e mortos, nem tampou-co para explicar filosofica-mente a razão das coisas co-muns ou transcendentes, masveio sobretudo para tornarmelhor o homem, tal como ofez o Cristo com seu Evange-lho, que a Nova Revelaçãoprocura reviver, nesse esforçoque alguns espíritas aindanão conseguem compreender.

‘‘O argumento supremo deveser a razão. A moderação ga-rantirá melhor a vitória da ver-dade do que as diatribes enve-nenadas pela inveja e pelo ciú-me’’, eis o pensamento do Co-dificador, que todos os refor-mistas, cismáticos, ‘‘donos daverdade’’ teimam em ignorar,preferindo as ofensas, os ata-ques pessoais e a irresponsabili-dade diante da liberdade de queabusam.

Escribas e fariseus não existi-ram somente ao tempo de Jesus,quando o Mestre era perseguidoe atacado por não concordar como erro não percebido por seusopositores.

Escribas e fariseus existiramem todas as épocas. Fazem par-te da paisagem do mundo áspe-ro em que vivemos.

Dentro dos movimentos es-píritas não poderia deixar demedrar também o joio da male-dicência, da incompreensão edo personalismo.

Aos trabalhadores do Evangelho

Há uma falange de trabalhadores,Espalhada nas sendas do Infinito,Desde as sombras do mundo amargo e aflitoAos espaços de eternos resplendores.

É a caravana de batalhadores Que, no esforço do amor puro e bendito, Rompe algemas de trevas e granito, Aliviando os seres sofredores.

Vós que sois, sobre a Terra, os companheirosDessa falange lúcida de obreiros,Guardai-lhe a sacrossanta claridade;

Não vos importe o espinho ingrato e acerbo, Na palavra e nos atos, sede o Verbo De afirmações da Luz e da Verdade.

CRUZ E SOUZA

(Do livro ‘‘Parnaso de Além-Túmulo’’, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, pág. 248, 14a ed., FEB.)

8 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 4

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Desde as culturas mais re-motas encontramos refe-rências à influência exer-

cida por seres invisíveis.Na antiga Grécia eram os deu-

ses que interferiam no destinohumano, de conformidade comseus humores e caprichos.

Na Idade Média consa-grou----se a idéia do demônio,ser rebelado contra Deus, espe-ciali- zado em atazanar os ho-mens, induzindo suas vítimas àperdição.

Sabemos hoje que os invisí-veis são as almas dos mortos,homens desencarnados, que agemde conformidade com suas ten-dências e desejos.

O chamado plano espiritu-al é apenas uma proteção dacrosta terrestre. Começa exata-mente onde estamos. Boa par-cela dos defuntos aqui per-manece, exercendo sobre nósampla e insuspeita pressão psí-quica.

Na questão 459, de ‘‘O Li-vro dos Espíritos’’, os mento-res que assistiam Kardec nosfornecem a notícia de que essainfluência é tão grande quenão raro eles nos dirigem.

Algo para se pensar, não émesmo, caro leitor?

Muitas pessoas, nos Cen-tros Espíritas, são in-formadas de que seus

problemas estão relacionadoscom a presença de inimigos es-pirituais que as assediam bus-cando desforra por passadasofensas.

Em princípio está certo.Problemas físicos e psíqui-

cos que resistem aos recursosda Medicina podem originar--se dessa influência, com a pos-sibilidade de se tornarem crô-nicos, porquanto os médicos ig-noram as causas. Cuidam pre-

cariamente dos efeitos. Mas há um detalhe:

Nem sempre estamos às vol-tas com vingadores.

Nem sempre essa pressãoenvolve motivação passional.

São Espíritos presos à vidamaterial, aos seus vícios e inte-resses. Sofrem por isso umadensamento do corpo espiri-tual. Isto os leva a viver comose fossem encarnados, sentindonecessidades relacionadas comalimentação, abrigo, sexo, ví-cios...

Daí ligarem-se aos homens,nutrindo-se de seu magnetismo,e satisfazendo seus anseios nosdomínios das sensações.

Esses ‘‘hóspedes’’ não inten-tam nos prejudicar.

A expressão mais correta se-ria explorar.

Exploram nosso psiquismo,servem-se dos fluidos densosque lhes possamos oferecer.

É uma associação perturba-dora, porquanto nos sujeita aosseus desajustes. E nos exaurepsiquicamente, já que eles agemcomo autênticas sanguessugasespirituais.

Durante seu apostoladohouve freqüentes conta-tos de Jesus com tais Es-

píritos, chamados por seus con-temporâneos imundos, impuros,maus...

Vezes inúmeras os afastoude suas vítimas, usando de suairresistível força moral.

E o Mestre antecipava o co-nhecimento espírita, ao dizer,textualmente (Mateus, 12:43--45):

Quando o Espírito impurotem saído dum homem, andapor lugares áridos, procurando

repouso; não o encontrando,diz:

---- Voltarei para minha ca-sa, donde saí.

E, ao chegar, acha-a deso-cupada, varrida e adornada.

Então ele vai, e leva consigomais estes Espíritos piores doque ele, e ali entram e habitam.

O último estado daquele ho-mem fica sendo pior que o pri-meiro.

A casa a que se refere Jesusé a mente humana, habitada pornossos pensamentos.

A estrutura, organização edisposição dependem do mora-dor ---- a vontade.

Uma casa escura ---- moradordeprimido.

Uma casa abafada ---- mora-dor pessimista.

Uma casa em desordem ----morador confuso.

Uma casa iluminada ---- mo-rador feliz.

Uma casa arejada ---- mora-dor animado.

Uma casa bem arrumada ----morador organizado.

Por que Espíritos desajus-tados nos envolvem e in-fluenciam tão facilmente?

Podemos responder com avelha pergunta de algibeira:

Por que o cachorro entra naIgreja? Ora, entra porque a portaestá aberta!

Fechar as portasRICHARD SIMONETTI

‘‘Quem se empenhaem servir e tem certeza

da proteção divinaresguarda a casa mental

contra malfeitores e

5 ---- REFORMADOR, JANEIRO, 1997 9

Page 7: reformador-1997- Janeiro -

Exatamente o que acontececom essas entidades. Aproximam-se de nós, en-volvem-nos, invadem nossa ca-sa mental porque, segundo aexpressão evangélica:

Está desocupada ---- vazia deideais superiores, de motivaçãoexistencial.

Está varrida e adornada ----atraente para os invasores, re-ceptiva às suas sugestões.

A intervenção dos benfeito-res desencarnados e os recursosmobilizados no Centro Espíritapromovem seu afastamento.

Todavia, isso não é o bastan-te.

Fundamental que aprenda-mos a nos defender, que tenha-mos cuidado, porquanto podeser que eles resolvam voltar evenham acompanhados de ou-tros iguais ou piores. O estragoserá maior.

Necessário, portanto, fechara porta, impedir seu acesso.

Na questão 469, de ‘‘O Li-vro dos Espíritos’’, Kardec per-gunta aos mentores espirituaiscomo podemos fazer isso.

A resposta é bastante eluci-dativa:

‘‘ ---- Praticando o bem epondo em Deus toda a vossaconfiança (...).’’

Quem se empenha em servire tem certeza da proteção divinaresguarda a casa mental contramalfeitores e desocupados doAlém.

Uma pergunta que deve-ríamos formular a nósmesmos:

Que tipo de gente recebemosem nossa casa mental?

Não é difícil definir.Basta analisar como estamos,

nossas emoções e sentimentos.Talvez seja preciso despejar

hóspedes indesejáveis e convi-dar outros mais recomendáveis,em favor de nossa paz.

Somos Espíritos imortais,mas, quando encarnados,estamos sujeitos às limita-

ções do corpo físico e presos àsleis que regem a matéria. Nãoobstante esses limites, a possibili-dade de adquirir conhecimentoscria para nós infinitas oportunida-des de crescimento. Somos, alémdisso, capazes de utilizar os po-tenciais da imaginação para con-ceber novas formas de estar nomundo, por isso sonhamos comum futuro diferente, com diasmais felizes. Nesse sonho de feli-cidade projetado, para o amanhã,incluímos a liberdade. Não pode-mos pensar em felicidade sem li-berdade.

Quando refletimos mais pro-fundamente sobre esse anseio deliberdade, percebemos a com-plexidade desse tema. Em pri-meiro lugar, precisamos analisarse é viável esse sonho, ou se es-taremos gastando energia impro-dutivamente, por ser impossívellibertar-nos, enquanto estiver-mos presos à necessidade devestir corpos materiais para evo-luir. Segundo o ensino dos Espí-ritos, a liberdade é uma leidivina, porque sem ela o homemseria apenas uma máquina mo-vida ao sabor de circunstânciasalheias à sua vontade1. Uma pri-meira resposta já se delineiacom essa informação: é possívelao homem construir sua liberda-de. Podemos, pois, não só sonharcom a liberdade, como tambémtrabalhar para conquistá-la. Apartir dessa primeira resposta,podemos analisar mais de pertoo assunto. Será possível traçarum caminho para essa conquistatão fundamental?

Em reuniões para reflexão eestudo habitualmente realizadasnas Instituições Espíritas, o con-vívio com um público diversifi-cado permite-nos a percepção

de que as pessoas não estão sa-tisfeitas com suas vidas. Háuma fome interior que não con-seguem satisfazer, e isso ocorre,mesmo que sejam pessoas reali-zadas profissionalmente e te-nham suas famílias bem cons-tituídas. Percebe-se que a ques-tão do anseio por mais liberdadeestá presente aí como uma dascausas da insatisfação íntima. Oestudo espírita mostra que a li-berdade é um sonho realizável etemos procurado destacar isso,já que a informação poderá fun-cionar como fator de motivaçãoimportante, para que as pessoasiniciem um trabalho necessárioe enriquecedor do seu cotidiano,mas propor a viabilidade da rea-lização de um anseio não temsido suficiente. Surge a necessi-dade de responder às indaga-ções: 1) Que tipo de liberdade éessa que podemos construir, en-quanto encarnados num mundode provas e expiações? e 2)Qual o meio de fazê-lo?

O estudo das questões liga-das à liberdade traz à lembrançaum pensamento oriental inspira-dor de profundas reflexões:

‘‘O mundo inteiro ambiciona a li-berdade, porém cada criatura ado-ra os próprios grilhões. Este é oprincipal e o mais inextricável pa-radoxo da natureza humana.’’ (ShriAurobindo)2

Ambicionar a liberdade e ado-rar os grilhões constitui um para-doxo, sem qualquer sombra dedúvida. Em avaliação mesmo su-perficial percebemos a veracida-de da ambição de liberdade. Issoé algo verdadeiramente perti-nente ao ser humano, indepen-dentemente de raça, credo ounacionalidade. Todos nós deseja-mos a liberdade de realizar todo onosso potencial; desejamos a li-berdade de usar plenamente as

CONSTRUIR

1. KARDEC, Allan. ‘‘O Livro dos Es-píritos’’, Parte 3a, cap. IX.

2. LEITE, Celso Barroso. ‘‘O Livro dasCitações’’. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A.s/d.

10 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 6

Page 8: reformador-1997- Janeiro -

oportunidades que a vida nosoferece; desejamos a liberdade deincorporar aquilo que seja bom enos afastar de tudo o que causesofrimento e dor. Mas, de pronto,é difícil atinar com os fatos quelevaram o sábio oriental a perce-ber que a criatura humana adoreos seus grilhões. Teria havido al-gum engano na formulação des-sa proposição? Teria o sábioobservado erradamente o ho-mem?

De tempo para cá, o mundoocidental começou a admirar asabedoria nascida nos longínquospaíses do Oriente, pela proprie-dade de suas proposições em con-traposição ao pragmatismo dasfilosofias que proliferam em nos-sa cultura. A milenar filosofiaoriental não deriva suas proposi-ções do nada, elas se fundamen-tam no conhecimento profundodo ser humano e na meditaçãomadura sobre a vida. Devemosportanto tentar, também, ampliarnossa concepção de mundo, peloestudo e pela meditação, para al-cançar o entendimento mais pro-fundo desse paradoxo que foca-lizamos aqui. Muitos pensadoresjá se detiveram na análise desseassunto. Jean-Paul Sartre, filóso-fo francês do nosso tempo, porexemplo, tem uma contribuição adar a esse tema.

Analisando o ser humano como propósito fundamental de al-cançar a compreensão das ques-tões e problemas que agitam aHumanidade, Sartre afirmou quehá dois modos fundamentais deser: o da consciência humanaque é pura transcendência, é oser-para-si; e o das coisas mate-riais que é pura imanência, éo ser-em-si. O ser-para-si épura indeterminação, é radical-mente livre, mas, ao experimen-tar a liberdade, experimenta tam-bém uma angústia característica:

a angústia da escolha. Para esca-par a essa angústia, tenta livrar--se dessa liberdade. Nega, então,suas possibilidades, procura exi-mir-se das suas responsabilida-des, ilude-se com o pensamentode ter um destino irremediável.Cai em má-fé. Definiu ele dois ti-pos de comportamento de má--fé: o primeiro, quando nos com-portamos como seres-em-si, istoé, objetos, e deixamos que osoutros escolham por nós; e o se-gundo, quando representamos opapel que os outros designarampara nós, pela necessidade deprestígio social. Sartre lutoucontra as ideologias que mini-mizavam o poder da consciên-cia humana, como as que nas-ceram do irracionalismo filosó-fico ou do conhecimento do in-consciente psicanalítico. Ele es-tava convencido do poder daconsciência humana, afirmavaque somos totalmente livrespara escolher e que nos escolhe-mos a nós próprios a cada mo-mento. Segundo ele, as circuns-tâncias materiais que marcamnossos limites constituem a basesobre a qual deveremos exercernossa escolha livre.

Nessa análise rápida do pen-samento filosófico de Sartre, jásurpreendemos a confirmaçãodo que afirma o sábio oriental:o ser humano adora seus pró-prios grilhões. É certo que oexistencialismo sartreano parteda premissa da não existênciade Deus, com a qual não con-cordamos, mas ele, não obstan-te, alcançou uma percepção quea Doutrina Espírita corrobora,quando menciona a liberdadeinerente ao ser humano. ComoEspíritos, somos dotados do li-vre-arbítrio, somos inteiramentelivres, para decidir e escolhernossos caminhos de desenvolvi-mento moral. Estamos sujeitos a

contingências determinadas pe-las leis que regem a vida, masos limites originários dessasleis que marcam a nossa expe-riência na Terra não inibem anossa liberdade essencial. Oque limita essa liberdade é anossa maneira de interpretar osacontecimentos da vida, a ideo-logia que inadvertidamente as-similamos no contexto culturalem que vivemos.

Para construir a liberdadecom que sonhamos, portanto,precisamos deslocar o foco danossa atenção. Até hoje, estive-mos olhando as amarras que es-tão fora de nós, lutamos contracorrentes exteriores, mas os ver-dadeiros entraves estão em nósmesmos. Afirmou Jesus com mui-ta propriedade: ‘‘Se permanecer-des nas minhas palavras, sereismeus discípulos, e conhecereis averdade, e a verdade vos farálivres’’. A meditação mais pro-funda sobre essa proposição doCristo poderá trazer-nos a chan-ce de construir a liberdade comque, por enquanto, apenas so-nhamos.

‘‘Permanecer na sua pala-vra’’ significa considerar comseriedade seus ensinamentos, e,temos que convir, até mesmoisso fica difícil, sem a chaveque o Espiritismo proporciona.É quando consideramos a sobre-vivência da alma ao fenômenoda morte física, sua possibili-dade de comunicar-se com omundo material e a reencarna-ção, que alcançamos o entendi-mento mais preciso das re-comendações de Jesus. Suas pa-lavras passam a fazer sentidoe descortina-se-nos o roteiroque Ele trilhou na exemplifi-cação da fraternidade. Fazendo--nos seus discípulos, no esforçocontínuo de seguir esse exem-plo luminoso impresso na histó-ria da sua vida, iremos atin-gindo o burilamento necessárioà visão clara da verdade quenos libertará de todas as amar-ras.

A LIBERDADE DALVA SILVA SOUZA

7 ---- REFORMADOR, JANEIRO, 1997 11

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Meus Filhos: permaneça conosco a paz do Senhor!

Recrudescem as lutas.Os anunciados tempos de tran -sição chegam e fragorosas bata -

lhas são travadas.É indispensável a aferição de valores

que devem caracterizar os combatentes.Dificuldades e desafios apresentam-

-se no planeta em todas as áreas do co-nhecimento e do comportamento.

As estruturas mal construídas do pas-sado esboroam-se ante o fragor das de-molições incessantes.

A árvore que não foi plantada peloBem é derrubada, e as casas edificadassobre as areias movediças ruem desas-trosamente. Mas a obra do bem perma-nece suportando os vendavais, enfren-tando todos os desafios.

Não nos preocupemos com esses mo-mentos que nos chegam, estabelecendoentre as criaturas o desequilíbrio e esti-mulando à debandada.

Os discípulos da verdade devem per-manecer fiéis aos postulados que abra-çam vivenciando-os.

Não seja pois, de estranhar, que a in-compreensão sitie os nossos passos eobstáculos imprevistos apareçam pelasenda que percorremos.

Devemos contar com a consciência ili-bada e nunca aguardar o aplauso da in-sensatez.

Nosso modelo é Jesus, para Quem nãohouve lugar no mundo.

O Codificador igualmente seguiu-Lheas pegadas e soube arrostar as conse-qüências do messianato a que se entre-gou, incorruptível e tranqüilo.

Lamentamos que as maiores dificul-dades sejam intestinas em nosso Movi-mento, mas compreendemos que as cria-turas se demoram em diferentes pata-mares de consciência, possuindo a ópti-ca própria para observação dos fatos einterpretação da mensagem.

Já que não nos é lícito impor a pro-posta espírita libertadora, não nos preo-cupemos com as imposições que noschegam.

Todos estamos informados dos finsdos tempos e o egrégio Codificador daDoutrina asseverou-nos que o mundo deprovas e de expiações cederia lugar aomundo de regeneração.

Através dos tempos se tem informadoque essa modificação se dará por meiode fenômenos sísmicos dolorosos; atra-vés de lutas cruentas, em guerras inter-mináveis; mediante os conflitos huma-nos. No entanto, se observarmos a His-tória encontraremos todos esses aconte-cimentos assinalando períodos de tran-sição.

A grande luta deste momento se trava-rá no país da consciência de cada discí-pulo de Jesus. As convulsões serão denatureza interna. A batalha mais difícilserá da superação das más inclinações,administrando-as e direcionando-as pa-ra o bem.

Por mais difíceis se nos apresentem asacusações, e por mais terrível seja amorbidez direcionada para impossibili-tar-nos o avanço, mantenhamos a sere-nidade.

Que receio nos podem proporcionaraqueles que apenas falam contra nós?!

Atuando no bem e sabendo confiar notempo, levaremos a mensagem de liber-tação da Doutrina Espírita às diferen-tes Nações da Terra, pulcra, conformeno-la legaram os Espíritos por intermé-dio de Allan Kardec e dos seus discípu-los mais dedicados.

O Movimento expande-se; nada podedeter a marcha da Doutrina Espírita,nem mesmo aqueles que, se dizendoadeptos da palavra do Codificador, er-guem-se para zurzir-nos com as expres-sões destrutivas, utilizando-se das ar-mas da impiedade disfarçada de dedi-cação à Causa.

O servidor da verdade permanece-lhefiel, não divulgando o mal, mas apresen-

‘‘Nada pode deter a marchaMensagem do Dr. Bezerra de Menezes aos membros

do Conselho Federativo Nacional exortando-os aavançar unidos, pois ‘‘o ideal de unificação vem do

mundo espiritual para a Terra’’

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tando o bem; mesmo do erro tirando amelhor parte, aquela que serve de liçãopara não se voltar ao engano ou não seestabelecerem novos compromissos ne-gativos.

Confiai, filhos dedicados!Vossos passos na Terra devem deixar

sinais que possam servir de roteiropara os que vierem depois.

O nosso compromisso é com Jesus, oAmor, e com Allan Kardec, a razão,para que a religião cósmica da verdadedomine os corações humanos, restau-rando no planeta a era da legítima fra-ternidade.

O Espiritismo vem desempenhando opapel para o qual foi codificado.

Não nos detenhamos na análise dosimpedimentos, dos erros, mas examine-mos a extensão dos benefícios que hojeconduzem milhões de vidas que se nor-teiam para o Bem.

Não guardemos qualquer ressenti-mento, nem nos deixemos entristecer ouentibiar, quando as forças pareceremdiminuídas.

Não nos permitamos desanimar, por-quanto o nosso é um trabalho pioneiro,a nossa é uma tarefa caracterizadapelo estoicismo.

Nossa jornada deve estar assinaladapelo amor, e é natural que ainda nãohaja lugar para ele entre muitos Espíri-tos que se encontram em níveis de evolu-ção diferentes.

Avancemos unidos. O ideal de unifica-ção vem do mundo espiritual para aTerra.

Se não formos capazes de discutir asnossas dificuldades idealísticas em cli-ma de paz, de fraternidade, de respeitomútuo, de dignificação dos indivíduos edas Instituições, que mensagem podemosoferecer ao mundo e às criaturas estúr-dias deste momento?!

Tem-se a medida do valor moral dohomem pelas resistências que vive naslutas que trava.

Os ideais tornam-se grandiosos peloque provocam nos inimigos gratuitos doprogresso.

A Doutrina Espírita, repitamos, é Je-sus, meus filhos, em nova linguagemperfeitamente compatível com os arrou-bos da Ciência e os fatos demonstradospela experimentação de laboratório, as-sim como pelas conquistas tecnológicas.Mas, a criatura humana, que é o labora-tório da própria evolução, no seu en-

contro com Jesus através da fé racional,clara e nobre, é o campo onde o bemse instalará em definitivo, como célula doorganismo social. E dessa criatura trans-formada teremos a sociedade melhorque o Espiritismo deve construir.

Fiquem, no passado, todos os proble-mas-desafio.

Fiquem, no silêncio das nossas pala-vras e no verbo das nossas ações edifi-cantes, os nossos propósitos de servir,confiando que a casa construída na rochasobreviverá aos fatores externos que,aparentemente, a ameaçam, e o ideal so-brepairará conduzindo todos ao imensofanal da plenitude.

Senhor de nossas vidas, prossegueconduzindo-nos.

Ovelhas tresmalhadas que somos doTeu rebanho, apiada-Te da nossa tibiezade caráter, da nossa fragilidade moral econduze-nos com a Tua paciência dePastor multimilenário, que nos aguardapelas trilhas da evolução.

Despede-nos, Excelente Filho de Deus,enriquecidos de paz e de entusiasmo, nacerteza de que nunca nos deixarás asós, mesmo quando, por qualquer cir-cunstância, nos resolvamos afastar deTi, concede-nos então uma outra oportu-nidade, permanecendo conosco por todoo tempo.

Que assim seja!

M uita paz, meus filhos. Que o Senhor permaneça conos-

co, são os votos do servidor hu-mílimo e fraternal de sempre,

BEZERRA *

* Revisada pelo Autor. (Mensagem psicofônica recebida pelo mé -

dium Divaldo P. Franco ao encerramento daReunião Ordinária do Conselho Federativo Na -cional, da Federação Espírita Brasileira, namanhã do dia 10-11-1996, na sua sede, em Bra -sília-DF.)

da Doutrina Espírita’’

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Coração, nesse ensinamentodo Mestre, simboliza, comoórgão da vida, a sede do

sentimento da alma.É importante não esquecer-

mos que essa simbologia tem umfundamento lógico muito antigo,em que se acreditava que todosentir humano partia do coração.A imagem, portanto, é perfeita ese tem feito registrar em todas aslínguas vivas e mortas por artis-tas, poetas e filósofos.

Eis como se expressa o poetaAugusto dos Anjos em seu lin-díssimo soneto do livro ‘‘Eu eOutras Poesias’’, que ele intitu-lou Vandalismo:

‘‘Meu coração tem catedrais [imensas, Templos de priscas e lon- [gínquas datas, Onde um nume de amor, em [serenatas, Canta a aleluia virginal das [crenças.’’

Ou como verseja o poeta Ana-creonte (VI século antes de Cris-to), numa feliz tradução do poetaportuguês Antônio Fernandes deCastilho de um de seus poemasque foi possível preservar ---- AAndorinha:

‘‘São tais seus clamores, que às vezes abalos de raiva me dão; mas tantos amores... Como hei-de lançá-los do meu coração?’’

Em todos os tempos e emqualquer parte de nosso Orbe, ocoração sempre foi o símboloperfeito do sentimento humano,

quer no bem quer no mal. Aí estápor que profundamente correta éa expressão do Mestre divino aoafirmar que ‘‘do coração proce-dem os maus pensamentos, mor-tes, adultérios, prostituição, furtos,falsos testemunhos e blasfêmias’’.Porque o sentimento do homemobscurecido pela imperfeição epela ignorância do bem semprefoi responsável por toda a trevaque tem marcado de sombrias to-nalidades o cenário social destanossa sofrida morada planetária.

Como tem podido o homemcometer, ainda em nossos dias,ações tão iníquas se de Deus eleé filho? Será por cegueira espiri-tual ou ignorância de sua origemdivina? Não! Nem uma coisanem outra. A História nos dáconta de que em todas as épocasda vida do homem nunca lhe fal-tou a intuição do bem e do mal,ou a presença daqueles que seincumbiam de o ensinar e orien-tar. É o abuso do livre-arbítrioque tem conduzido o homem àprática do mal, segundo os im-pulsos do coração.

Ao falar de adultério no cora-ção, não nos pretendemos situar,simplesmente, num comportamen-to licencioso e sensual. Quere-mo-nos referir a todo e qualquertipo de ação imprópria ao bomsenso e que possa gerar o mal,permitindo-se o homem a condu-zir-se por pensamentos estranhosa sua natureza de criatura deDeus.

Prevenir contra o assédiomental responsável por qualquerforma de adultério é tarefa dequem quer que assuma o com-promisso de educar ou instruir os

outros, na busca de um caminhosuperior para o bem, para a luz.

Adulterar é também mentir,é trair a boa-fé ou confian-ça daqueles que acreditam

em nós, é querer fazer prevaleceros seus pontos de vista; é tam-bém difamar, enganar, mascarara verdade.

O mundo, indiscutivelmente,caminha para a perfeição, em quepese os obstáculos impostos portodos aqueles que se contrapõemao progresso. Pois a hora da co-lheita chegou. Em 1862, em Pa-ris, dizia o Espírito de Verdade,numa mensagem dirigida aosobreiros do Senhor: ‘‘Mas, ai da-queles que, por efeito das suasdissensões, houverem retardadoa hora da colheita, pois a tem-pestade virá e eles serão levadosno turbilhão! (...).’’ Essa mensa-gem encontra-se no vigésimo ca-pítulo de ‘‘O Evangelho segundoo Espiritismo’’.

O espírito do Evangelho so-freu ao longo dos séculos muitasadulterações por causa da letra.Não obstante a advertência doApóstolo das gentes dirigida aoscoríntios de que a letra mata(2 Cor. 3:6), em função dela, oshomens traíram tremendamente oespírito dos ensinos de Jesus.

Vejamos um exemplo simplesdo perigo a que a letra pode con-duzir a quem quer que dela nãosepare o espírito. Certa feita,aproximando-se o Mestre de Ce-saréia de Filipe, perguntou aosseus discípulos sobre o pensa-mento dos homens a seu respei-to. E eles responderam que, para

EXERCITANDO O EVANGELHO

ADULTÉRIO NO CORAÇÃO

‘‘ (...) do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.’’ Jesus (MATEUS,15:19).

INALDO LACERDA LIMA

14 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 10

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uns, era ele João Batista, outros,supunham-no Elias, ou Jeremias,ou algum dos profetas. E Jesusindaga-lhes, ainda: ‘‘---- E paravós, quem sou?’’ Pedro, comoque tomado de uma força supe-rior, adianta-se e fala: ‘‘Tu és oCristo, Filho do Deus vivo.’’ E oMestre exclama, então: ‘‘---- Bem--aventurado és, Simão, filho deJonas, porquanto não foram nema carne nem o sangue que isso terevelaram, mas meu Pai, que estános céus. E eu te digo que és Pe-dro e sobre esta pedra edificarei aminha igreja.’’ (Mateus, 16:13-20.)*

Pedra, aí, na voz do Senhor,não é o homem Pedro, mas a re-velação do Altíssimo através damediunidade de Pedro. A igrejado Senhor é a integração de to-dos os seguidores do Evangelho.Não estabelecia Jesus que fossePedro, filho de Jonas, o chefe deuma instituição que somente noano 400, no Concílio de Toledo,designava o título de Papa ao bis-po de Roma.

Aí está, apenas como exem-plo, a primeira adulteração im-posta ao Evangelho do Cristo efundamentada na letra que mata.Mais tarde, um pouco antes dapromessa do Consolador, ele,Jesus, assim se expressara: ‘‘Umnovo mandamento vos dou: quevos ameis uns aos outros; comoeu vos amei a vós, que tambémvós uns aos outros vos ameis.Nisto todos conhecerão que soismeus discípulos, se vos amardesuns aos outros.’’ (João, 13:34-35.)

Logo depois daquela confis-são de Pedro (filtrando o pensa-mento divino), quando Jesuspassou a anunciar a sua morte, oque teria de sofrer dos homens,Pedro censura o Mestre: ‘‘Se-nhor, tem compaixão de ti; demodo nenhum te acontecerá is-so.’’ Diz o texto que o Mestre sevolta para ele, exclamando comautoridade: ‘‘Afasta-te de mimSatanás, tu me és motivo de es-cândalo, pois que não tens acompreensão das coisas de Deus,

mas só das que são dos homens.’’(Mateus, 16:22-23.)

Que é isso?! Tão logo foi no-meado guardião das chaves doCéu, já é repudiado como Sata-nás?! Claro que não é ao homemPedro que o Divino Amigo se di-rige, mas ainda à sua mediunida-de, agora, instrumentalmente ne-gativa.

Não houvessem as letras doEvangelho sofrido as conseqüên-cias do adultério no coração dohomem, milhares de fogueirasnão teriam sido acesas nas trevasda Idade Média para queimaremcorpos vivos, num atentado infe-liz à lei magna do Senhor doUniverso, no seu 5o Mandamen-to: Não matarás.

Tudo isso é passado... Esta-mos, hoje, no início de umaNova Era. Importa que nos posi-cionemos, agora, evangelicamen-te, no bem, e atentos ao espíritodas determinações do Pai de infi-nito amor, tudo esquecendo eperdoando, sem que os postula-dos do Consolador sejam infrin-gidos.

Há uma tendência terrível naalma imperfeita dos homens aoerro e à adulteração das coisaspuras e verdadeiras. E não é poracaso que encontramos homensvalorosos nos arraiais do Espiri-tismo com inclinações ao confli-to ou a acomodações estranhas àinfluência de outros, obscurecen-do a verdade, traindo os bonsprincípios e tentando semear acizânia na vinha do Senhor. O fe-nômeno é mera repetição do que

ocorrera com Pedro, quando cen-surou o Cristo; com Judas Isca-riotes, quando tenta ludibriar agente do Sinédrio convencido deque nunca poriam as mãos sobreaquele Mestre que ele, Judas,efetivamente amava; ou com osdois discípulos mais jovens ----João e Tiago ---- quando disputa-vam, com os outros, lugares deprimazia ao lado do Cristo. Asintenções são sempre boas naaparência!...

Se nos apraz, efetivamente, acondição superior, mas não mui-to fácil, de trabalhadores da últi-ma hora, na conceituação dosEspíritos em ‘‘O Evangelho se-gundo o Espiritismo’’, mantenha-mo-nos atentos e vigilantes contrao adultério no coração. Ele nospenetra, tendenciosamente, pelajanela da vaidade, pelas brechasdo orgulho, pelas chaminés daambição, pelas frestas da adula-ção ou por quaisquer outras cica-trizes que nos manchem a epidermeda alma.

Ser guardião do Evangelho,da Doutrina Espírita e das verda-des eternas é missão que se con-quista através do desenvolvimentodaquelas três condições assinala-das pelo Espírito Verdade aoProfessor Rivail, antes ainda deassinar-se Allan Kardec: humil-dade, modéstia e desinteresse.

Será que julgamos sofrer demiopia o Cristo de Deus, que nãoperceba os nossos erros, deslizesou falsidades no cumprimentodas determinações do Pai celes-tial? Atentemos na advertênciado Espírito Verdade àquele queviera para coordenar, pela Dou-trina-Luz, a reforma do mundointeiro: ‘‘Para o teu triunfo nãobasta a inteligência.’’

Quando o coração corre ris-co de perverter-se por sin-tomas de adultério, seja

ele qual for, constitui isso um in-dício natural de carência de vigi-lância em nossa fé, que se podecorrigir pelo hábito da oração.

Oração e vigilância são colunasseguras de nossa sustentação. Pou-

*Igreja: Assembléia do povo, conformeo latim ecclesia.

‘‘Enquanto estivermosvinculados ao processo

reencarnatóriocometeremos erros esofreremos as suas

conseqüências. Por issosomos, sempre,

aprendizes do Evangelho’’

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co importa o nível que já tenha-mos alcançado na meta evolutiva.Enquanto estivermos vinculados aoprocesso reencarnatório cometere-mos erros e sofreremos as suas con-seqüências. Por isso somos, sempre,aprendizes do Evangelho.

Atentemos na sublimidade decada frase e de cada termo do lumi-noso Prefácio de ‘‘O Evangelho se-gundo o Espiritismo’’, e no nomede seu autor; em seguida, consulte-mos nossa própria consciência.

Atentemos, ainda, nas pala-vras do Codificador do Espiritis-mo ao concluir a Introdução aolivro ‘‘A Gênese’’, em seu penúl-timo parágrafo:

‘‘Os mesmos escrúpulos havendopresidido à redação das nossasoutras obras, pudemos, com todaverdade, dizê-las: segundo o Es-piritismo, porque estávamos certoda conformidade delas com o en-sino geral dos Espíritos. O mes-mo sucede com esta, que podemos,por motivos semelhantes, apre-sentar como complemento dasque a precederam, com exceção,todavia, de algumas teorias aindahipotéticas, que tivemos o cuida-do de indicar como tais e que de-vem ser consideradas simplesopiniões pessoais, enquanto nãoforem confirmadas ou contradita-das, a fim de que não pese sobrea doutrina a responsabilidade de-las.’’ (Grifo do original.)

Eis a prudência fecunda doCodificador. Comparamo-la comaquela do apóstolo Paulo: ‘‘Aque-le, pois, que pensa estar em pé,veja não caia.’’ (1 Cor., 10:12.)

O missionário da Terceira Re-velação, que tinha consigo, a seulado, o Espírito Verdade, pelomenos uma vez por mês, durantequinze minutos (‘‘Obras Póstu-mas’’, 13a ed., FEB, pág. 274),poderia ter liquidado de uma vezdeterminadas questões. Se não ofez é porque, certamente, nãochegara o momento...

A verdade é, pois, coisa seriís-sima que, quando invigilantes oumuito convencidos, pode gerarargueiro nos olhos ou pedrinhasincômodas nos sapatos de muitosde nós, levando-nos a correramargos riscos de adultério no

coração. Por isso, vale a penatranscrever as orientações do Es-pírito Verdade ao nosso ínclitoCodificador (‘‘Obras Póstu-mas’’, pág. 283):

‘‘(...) Para lutar contra os ho-mens, são indispensáveis cora-gem, perseverança e inabalávelfirmeza. Também são de necessi-dade prudência e tato, a fim deconduzir as coisas de modo con-veniente e não lhes comprometero êxito com palavras ou medidasintempestivas.’’(...)

No trato das coisas espirituais,temos que ser em tudo prudentes.Às vezes necessário se faz citarou mencionar determinados acon-tecimentos, mas sem fundo críti-co ou censura: apenas como lem-brete oportuno na pedagogia des-se manancial de luz e manual deevolução espiritual, que é o Evan-gelho.

Oespelho reflete a imagemda pessoa postada à suafrente, tal qual esta se lhe

apresenta no momento em que alise coloca, oportunidade na qualpode visualizar a sua situação físi-ca, podendo, se quiser, retificá- -laou deixá-la como está.

Nele, porém, não pode visuali-zar a sua situação interna, ou seja,a sua vida interior, fato somentepossível através do exame da cons-ciência.

A consciência passa, então, aser o espelho da alma, retratando,através do registro dos atos realiza-dos ou mesmo idealizados, as coi-sas boas ou más das quais o Espíri-to é portador.

Quando o indivíduo passa a ob-servar-se através do espelho daalma, assume, conseqüentemente,a postura da responsabilidade, vi-giando-se para não deixar que no-vos erros ou enganos aconteçam

em seu patrimônio íntimo, o queequivale dizer que passa a havernovo comando!!!

É nesse momento que surgemos institutos da cautela, da prudên-cia e da análise dos fatos e atos desua vida, objetivando o acerto dospassos para um rumo melhor, oque deverá propiciar tranqüilidade,

e até alegria, ao se olhar no espelhointerno da própria alma.

Trata-se, na verdade, tal pro-cesso, do ‘‘Vigiai e Orai’’ e do‘‘Conheça-te a ti mesmo’’, propi-ciando a ponderação racional antesda tomada de qualquer atitude.

Assim, à medida que o ser en-carnado passa a se conscientizar dasua realidade, da verdade e das leisnaturais, trazidas ao mundo de for-ma concreta pelo Cristo Jesus, per-ceberá, diante do espelho da alma,uma figura desprovida de manchase de maldade, sem pesos que atra-vancam a própria caminhada.

A partir disso, torna-se, então,de verdade, um arauto do bem, quebusca, em todas as oportunidadesda vida, realizar coisas que ajudema edificar uma vida plena de luz,alegria e progresso.

16 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 12

Consciência, o espelho da alma

MARCELO PAES BARRETO

‘‘À medida que o serencarnado passa a seconscientizar da sua

realidade, da verdade e dasleis naturais, perceberá,

diante do espelho da alma,uma figura desprovida demanchas e de maldade’’

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chamos admirável a dispo-sição de ânimo das criatu-ras que se saúdam à en-

trada de cada Novo Ano, augu-rando votos de felicidades umas àsoutras. É ainda uma das belas praxescultivadas pelo espírito humano,abstração feita ao caráter meramen-te protocolar que, em alguns casos,possa oferecer. Isso ameniza um pouco as aspe-rezas da trajetória terrena e dá novoalento ao trato social, que se revesteassim de mais beleza e atrativo. Quem realiza semelhante prodígiode cordialidade e delicadeza nasmanifestações dos sentimentos?quem responde por esse clima deamenidade de que nos damos contadentro e fora dos ambientes domés-ticos? quem contribui, assim, demaneira tão decisiva, para que ascoisas, de um final de ano aocomeço de outro, mostrem-se a-brandadas, cativantes, impregnadasde um quê de radiosidade envol-vente e penetrativa? E a resposta é - o Tempo, única eexclusivamente o Tempo, esse pa-trimônio comum de todos e deno-minador comum de renovação detudo, tal como o entendia PadreGermano, que situava nele alcan-doradas esperanças de grandiosasrealizações e grandes realidades. Quando empregamos as expres-sões "Ano Novo" e "Ano Bom",para qualificar um outro ciclo doCalendário, temos - talvez sem operceber - a idéia de que o Tempo éuma das maiores e mais exuberan-tes bênçãos com que o Criador nosfelicita na experiência planetária. Todo Ano poderá ser Bom, aindaque nossas impressões sejam emcontrário.

Ele será bom, tanto quanto odesejamos, não pelo que receber-mos, mas pelo que dermos; nãopelo que os outros nos fizerem, maspelo que fizermos aos outros; nãopelo que eles forem para nós, maspelo que formos para eles, isto é,todo Ano-Novo será necessaria-mente Ano Bom, se bons nossospensamentos e atos, se boas nossaspalavras e atitudes. Manifestações de coisas ótimassão também novidades ótimas. Transmissão de notícias alenta-doras. Anúncio de acontecimentos pro-missores. Divulgação de mensagens salu-tares. Surpresas agradáveis. Lembranças carinhosas. Impressões estimulativas. Impulsos de cordialidade. Expansões de sadio bom humor. Delicadas demonstrações de senti-mento gratulatório. Expressões de gentileza. Apresentação de maneiras discre-tas, distintas, corretas e nobres. Tudo que possa contribuir paraedificar e expandir o Bem, de quedermos autênticos testemunhos, se-rão como que parcelas de nós mes-mos que se entranharão na Alma doTempo, refletindo nela Luz e Bon-dade de nossa própria alma. Tudo que, por nosso intermédio,caracterizar e definir o Belo, cara-cterizará e definirá gemas e precio-sidades do nosso relicário íntimo, jápor si mesmo embelezado. Assim, se, ao término de um"Ano", acharmos que ele não foi"Bom", como esperávamos que ofosse e sempre esperamos que o

seja, é que não realizamos o idealda Bondade em nós mesmos. Não nos fazendo bons nem me-lhores, coisa alguma de bom e me-lhor poderemos amealhar na caixaforte de nossas riquezas e aquisi-ções. Não sabendo demonstrar valordiante das situações difíceis comque nos vemos a braços, estas senos afigurarão adversas, madrastase inarredáveis. Não revelando tolerância, faltar-nos-ão elementos para suportar ecompreender os outros. Não manifestando espírito de dis-ciplina, as coisas mostrar-se-nos-ãotumultuadas e incontroláveis. Não demonstrando boa vontade,tudo nos parecerá penoso, difícil,estranho, anormal, anômalo, in-compreensível. Não nos esforçando por progredir,as maravilhas da Evolução manter-se-ão distantes e ausentes, ocultas einapreensíveis, sem que possamosvê-las, senti-las e alcançá-las. Não trabalhando com afinco, asmelhorias de condições de vida re-trair-se-ão ao nosso contato. Não estudando com real aplica-ção, o Conhecimento e a Culturapermanecerão alheios à nossa pre-sença. Não nos dedicando ao fielcumprimento dos nossos devereshumanos e espirituais, as verdadei-ras alegrias e venturas da existêncianão darão acordo de si à passagemde nossos corações. Não nos conduzindo bem, as boascoisas não se apresentarão em nos-so caminho, nem se farão sentir emnós e por nós, estrada afora. Um Ano é Bom quando bons nosfazemos em todo o seu decurso,evidenciando a presença de Deusem nossas vidas.

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A N O B O MPASSOS LÍRIOA

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Seria impossível mensurar-mos a grandeza dos ensi-namentos do Mestre Jesus,

mas podemos afirmar que aSua proposta é nortear o com-portamento individual de cadaum de nós, proporcionando--nos ensinamentos que provo-cam profundas reflexões e en-sejam orientações que desper-tam para o desenvolvimentoespiritual.

Para lograr objetivos, a men-sagem do Evangelho fundamen-ta-se em dois grandes aspectos: aautoridade moral e a autoridadeespiritual. A primeira refere-se àexemplificação dos ensinamentosatravés dos atos; a segunda, inte-ragente com a primeira, além dedenotar a grandeza moral do Cris-to, que transcende aos atos e pa-lavras, faculta a modificação doser, pelo envolvimento fluídicoque provoca a Sua superioridadeespiritual. A exemplo disso nosnarra Lucas (19:1-10) a passa-gem de Jesus por Jericó:

‘‘E tendo Jesus entrado em Jericó,ele atravessava a cidade. Havia lá um homem chamadoZaqueu, era rico e chefe dos pu-blicanos. Ele procurava ver quemera Jesus, mas não o conseguiapor causa da multidão, pois erade baixa estatura. Correu então àfrente e subiu num sicômoro paraver Jesus que iria passar por ali.Quando Jesus chegou ao lugar,levantou os olhos e disse-lhe:‘Zaqueu, desce depressa, pois hojedevo ficar em tua casa’. Ele des-ceu imediatamente e o recebeucom alegria. À vista do aconteci-do todos murmuravam, dizendo:‘Foi hospedar-se na casa de umpecador!’ Zaqueu, de pé, disse aoSenhor: ‘Senhor, eis que dou ametade de meus bens aos pobres,e se defraudei alguém, restituo--lhe o quádruplo’. Jesus lhedisse: ‘Hoje a salvação entrounesta casa, porque ele também éum filho de Abraão. Com efeito,

o Filho do homem veio procurare salvar o que estava perdido’.’’

O diálogo, aparentemente sim-plista, revela grandes ensinamen-tos, por muitos ainda desper-cebidos, mas que destacam o en-sinamento moral e o ensinamentoespiritual. O fato de Zaqueu pro-curar uma melhor forma de verJesus revela predisposição à mu-dança dos atos, pois a simplespresença do Rabi Galileu provo-cava profundas reflexões. Outroponto indiscutível é que a mu-dança de Zaqueu já fazia partedos objetivos do Mestre, tantoque, ao entrar em Jericó, perce-be-o facilmente em cima de umaárvore ansioso por um olhar, aoque Jesus corresponde, demons-trando profundos conhecimentosde psicologia transpessoal: levantao olhar e a ele se dirige dizendo:‘‘Zaqueu, desce depressa, poishoje devo ficar em tua casa’’.

O vocábulo casa, neste caso,adquire outra conotação, vistoque vem antecedido de uma afir-mativa verbal ---- ‘‘pois hoje devoficar em tua casa’’. Na frase, overbo devo é aplicado no sentidode certeza e não de hipótese. En-tendemos, com isso, que o Mes-tre se refere à casa mental deZaqueu, pois a hospedagem quedesejava Jesus não era apenas nolar físico, mas principalmente noseu coração, a fim de que este semodificasse. Convém ressaltar aimensa facilidade com que Jesusmanipula os fluidos, pois suben-tende-se que ele altera a psicosfe-ra pessoal de Zaqueu, permitindoque este compreenda a mensa-gem de natureza espiritual na suaperfeita essência. E ele a entende,como se Jesus a propusesse: ‘‘Des-ce depressa, pois hoje devo ficarem teu coração para sempre.’’

O envolvimento fluídico naquestão é tão patente, que bas-taram alguns momentos em con-tato com o Mestre para que seprocessassem profundas modifi-cações morais em Zaqueu, nãoapenas pelo compromisso pú-blico de restituir quadruplamen-te (segundo a lei de Moisés),àqueles a quem prejudicou, maspor despertar nele o sentimentode caridade e desprendimento,levando-o a doar aos pobres me-tade dos bens que lhe perten-ciam.

A autoridade espiritual de Je-sus se faz presente, ao afirmar:‘‘A salvação entrou nesta casa,porque ele também é filho deAbraão. Com efeito, o Filho dohomem veio procurar e salvar oque estava perdido’’. Não obstan-te demonstrar claramente que co-nhecia as mazelas que marcavamo caminho espiritual de Zaqueu,percebia nos seus pensamentos avontade de mudar. Se não fosseverdade estaria Jesus interferindono livre-arbítrio daquele, modifi-cando-o intimamente contra a suavontade.

A receptividade de Zaqueu àssugestões fluídicas do Mestre mo-difica instantaneamente seu com-portamento para com Deus, paracom o próximo e para consigomesmo, salvando aquela encarna-ção e por conseguinte reformando--se pela conversão, através de atose não de promessas.

É oportuno recordarmos que apassagem de Zaqueu é de grandealcance e importância na conduçãode nossas ações. Subir no sicômo-ro representa a predisposição paraa mudança, que funciona comoagente facilitador da reforma ínti-ma, reforma esta que se constituino preparo da morada de nossoscorações, onde o Cristo com certe-za pedirá pousada.

A proposta do CristoWARWICK MOTA

18 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 14

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SIGAMOS ATÉ LÁ

‘‘Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras esti-

verem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será

feito.’’ ---- Jesus. (JOÃO, 15:7.)

Na oração dominical, Jesus ensina aos cooperadores a necessidadede observância plena dos desígnios do Pai.

Sabia o Mestre que a vontade humana é ainda muito frágil e queinúmeras lutas rodeiam a criatura até que aprenda a estabelecer a uniãocom o Divino.

Apesar disso, a lição da prece foi sempre interpretada pela maioriados crentes como recurso de fácil obtenção do amparo celestial.

Muitos pedem determinados favores e recitam maquinalmente asfórmulas verbais. Certamente, não podem receber imediata satisfaçãoaos caprichos próprios, porque, no estado de queda ou de ignorância, oespírito necessita, antes de tudo, aprender a submeter-se aos desígniosdivinos, a seu respeito.

Alcançaremos, porém, a época das orações integralmente atendidas.Atingiremos semelhante realização quando estivermos espiritualmenteem Cristo. Então, quanto quisermos, ser-nos-á feito, porquanto teremospenetrado o justo sentido de cada coisa e a finalidade de cada circunstân-cia. Estaremos habilitados a querer e a pedir, em Jesus, e a vida se nosapresentará, em suas verdadeiras características de infinito, eternidade,renovação e beleza.

Na condição de encarnados ou desencarnados, ainda estamos cami-nhando para o Mestre, a fim de que possamos experimentar a união glo-riosa com o seu amor. Até lá, trabalhemos e vigiemos para compreendera vontade divina.

(Do livro ‘‘Pão Nosso’’, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, Capítu-lo 59, págs. 129 e 130, ed. FEB.)

Esflorando o Evangelho EMMANUEL

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1) Qual a sua avaliação geral sobre esses vinteanos de atividades da Campanha?

Inspirados pelos Bons Espíritos, que são os inter-mediários de Jesus, o Mestre por Excelência, foi-nospossível desenvolver um programa de atividades es-píritas-cristãs direcionado à Infância e à Juventudecom o êxito esperado.

Tomando o solo virgem dos corações infanto-ju-venis, ensementamos a palavra de vida eterna, ofere-cendo o conhecimento como luz libertadora e o amorcomo alicerce de segurança para a felicidade.

Compreendendo que a criança e o jovem encon-tram-se em formação, na atual existência, não ficouesquecido o postulado da imortalidade, demonstran-do que, embora a forma física em fase de desenvolvi-mento, ela reveste o Espírito experiente e vivido emmuitas etapas, nas quais deu curso aos instintosem predomínio como à razão em crescimento. As-sim sendo, as atividades desenvolvidas alcançaram asmetas objetivadas, porque penetraram no âmago doser despertando-o para as realidades novas, com ma-turação em torno das conquistas passadas e superaçãodos compromissos negativos ainda em prevalência.

Vencendo os obstáculos naturais, que toda idéianova enfrenta, foi gerada uma consciência lúcida deque a Infância e a Juventude são o campo fértil a la-vrar, preparando a sociedade do futuro.

Certamente ainda permanecem alguns bolsões deignorância em torno do relevante assunto, que nos es-tão exigindo maior soma de cuidados e, sobretudo,de perseverança, que nos emulam ao prosseguimentosem descanso.

Superando a acomodação ancestral a respeito dapreparação das gerações novas, a Campanha vemsensibilizando as pessoas responsáveis pelo progres-so da Humanidade, nas Casas Espíritas, despertandonovos e interessados trabalhadores, que compreen-dem a urgência da educação espírita-cristã, à luz doEvangelho e da Codificação.

A socialização da criança e do jovem através daCampanha de Evangelização Espírita é fundamentalpara a construção de uma mentalidade livre de pre-conceitos e equipada de recursos superiores para oenfrentamento dos desafios no mundo moderno, noqual as mudanças se fazem com muita rapidez.

Sob esse e muitos outros aspectos doutrinários,psicológicos e humanos, a atividade vem preenchen-do, com excelentes resultados, os objetivos para osquais foi criada.

2) Considerando-se que a Evangelização Infanto--Juvenil tem objetivos a longo prazo, é possível de-tectar até agora alguns resultados positivos no to-cante ao interesse dos Evangelizadores, dos pais edos alunos?

Vive-se, na Terra, o momento da grande transiçãoanunciada pelo Evangelho libertador. Nunca houvetanta violência, agressividade e desequilíbrio entre ascriaturas, como nos dias atuais. Concomitantemente,jamais existiu tanto amor trabalhando pelo ser huma-no como na atualidade. Quase num paradoxo, o ho-mem que conquistou as estrelas rasteja em lamentáveldesequilíbrio, por esquecimento proposital das Leisde Deus, das quais tem procurado fugir, como reaçãoaos ditames ortodoxos das religiões do passado, queo limitaram, que o afligiram. Não obstante, para ondequer que fuja encontra a realidade divina advertindo-o edespertando-o para a Vida. Cansado dessa evasão darealidade, constatando, frustrado, a ineficácia e inex-pressividade das conquistas logradas, volta-se paradentro e redescobre o Bem, deixando-se conduzir emprocesso de renovação e de identificação com oAmor. Somente então compreende que a sua viagempara fora não resolveu os problemas que o aturdem,porque Deus está aguardando-o no seu próprio cora-ção.

A Evangelização Infanto-Juvenil vem produzindoresultados positivos e relevantes na família, em faceda preparação das crianças e dos jovens que se dispõemaos enfrentamentos com estrutura mais bem trabalhada,despertando nos pais e nos evangelizadores o justojúbilo que não pode ser medido pelos métodos con-vencionais, já que têm caráter qualitativo-quantitati-vo, com pesos específicos de significado vertical paraDeus e não apenas horizontal na direção da socieda-de.

Já se podem observar esses resultados, acompa-nhando-se aqueles que ontem estiveram nas classesda Campanha e agora, alcançada a idade adulta, per-severam nos ideais espíritas e trabalham com entu-siasmo em favor de uma nova ordem de valores, deuma sociedade equilibrada e feliz. Dignificados peloconhecimento e vivência dos postulados espíritas-cris-tãos que aprenderam na Infância e na Juventude, en-frentam melhor os desafios que os surpreendem,ricos de esperança e de paz, sem se permitirem afligirou derrapar nas valas do desequilíbrio, da agressivi-dade, da delinqüência.

20 anos da Campanha Permanente de

Entrevista com Francisco Thiesen, que fala, da Espiritualida-de, sobre o significado da Evangelização, através da psicogra-

fia de Divaldo Pereira Franco

20 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 16

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3) Por que uma Campanha de tal envergadura comtantas possibilidades no campo da transformaçãomoral dos homens encontra tantas dificuldades paraser realizada?

Toda proposta de dignificação humana encontraresistência naqueles que se comprazem no erro, naignorância da verdade, no comodismo. Reagindocontra os fatores que promovem a libertação, os anta-gonistas do progresso investem com violência, bran-dindo as armas do ressentimento e malquerença, afim de obstaculizar-lhe o avanço.

Sempre foi assim e, por largo período, ainda per-manecerá dessa forma, em razão de as consciênciasadormecidas preferirem o letargo ao discernimento, asombra à luz, o prazer ao dever dignificador...

A figura impoluta de Jesus permanece na alça-de-mira dos inimigos do Bem e a Sua Doutrina de amortem sido manipulada de forma que atenda às paixõesservis dos dominadores de um dia, que passam dei-xando sombras e amarguras, infelizes, também eles,que rumam na direção da sepultura.

Por outro lado, estamos em um grande enfrenta-mento, que se caracteriza pela oposição das forças domal, que laboram em favor do desvario na Terra,sempre interessadas nas lides perversas das obsessõesde demorado curso, que se encarregam de inspiraraqueles que lhes dependem da hospedagem, para selevantarem contra os nobres labores em favor da Hu-manidade.

Não houvesse essa resistência forte, que procededo atavismo animal da criatura humana, sempre ar-mada contra tudo que é novo e nobre, e já nos encon-traríamos em mundo de regeneração, que não é ocaso do planeta terrestre neste momento.

Graças a essa teimosa obstinação, na qual perma-necem alguns companheiros que combatem o traba-lho iluminativo direcionado à Infância e à Juventude,somos estimulados à perseverança, à renovação, aoprosseguimento da luta, tendo como modelo Jesus ecomo guia Allan Kardec.

4) Por que esta Campanha, que, temos certeza, foiinspirada e é dirigida pelo Plano Superior, sofre tan-tas interferências negativas que dificultam a suamarcha?

Pelas mesmas razões que levaram o Messias Divi-no a ser traído por um amigo, a ser negado por outrocompanheiro; a sofrer o repúdio da multidão que tan-to Lhe devia em misericórdia e amor; à cruz infaman-te; à morte vergonhosa que Ele transformou em umaperene madrugada de imortalidade. Não tivéssemosaqueles transtornos da loucura coletiva que tomouconta de quase todos que O cercavam e não desfruta-ríamos da glória da Ressurreição.

Assim também, toda obra de engrandecimento daHumanidade que não experimentar o testemunho, adeserção de cooperadores, a calúnia, a perseguição

ensandecida, não triunfará no futuro em madrugadapermanente de felicidade.

5) Que ações realizadas pelos encarregados dasua execução no plano físico conseguiram mobilizar,de maneira mais efetiva, os espíritas em geral em fa-vor da Evangelização?

A qualidade dos conteúdos propostos na Campa-nha responde pela excelência do seu programa, des-pertando interesse e empenho em todos aqueles queamam a Doutrina e que se interessam pelo bem da so-ciedade, compreendendo que o melhor método deconstruir o futuro é dignificar o presente e equipá-locom valiosos instrumentos de conhecimento, amor etrabalho direcionado para as criaturas do amanhã.

Ao mesmo tempo, a dedicação e a perseverançados pioneiros na atividade da Evangelização espírita-cristã, pelo alto significado do seu esforço, consegui-ram sensibilizar os espíritas em geral, que ora apóiamo labor relevante e precursor de uma nova mentalida-de espírita.

6) Vimos realizando ao longo desse período inú-meros cursos, encontros, reuniões, com o propósitode não só dinamizá-la como, principalmente, manteros seus objetivos, algumas vezes ameaçados em seusrumos. Qual a sua opinião sobre estas realizações?

É necessário que sejam mobilizados todos os re-cursos disponíveis, a fim de que a Campanha prossi-ga no seu rumo iluminativo, abrindo novas portas emantendo aquelas que facultam o trabalho, que estáem fase de crescimento e tem por meta melhorar aqualidade do ensino espírita-cristão às gerações no-vas.

Estimulando os evangelizadores, os pais e os diri-gentes espíritas para que se mantenham engajados noprojeto da Campanha, conseguiremos atingir os obje-tivos mediatos que nos estão reservados.

O nosso é um trabalho que não cessará, porquantoestaremos sempre apresentando propostas novas eadequadas a cada época, sem fugirmos às bases doprograma estabelecido, que são os pensamentos deJesus e da Codificação, conforme no-la ofereceu Al-lan Kardec.

7) Hoje, já com uma visão mais dilatada, é possí-vel avaliar se esses esforços são positivos e se estãoalcançando os propósitos desejados?

Os nossos Benfeitores da Vida Maior nos afirmamque estão sendo alcançadas as metas mais rapidamen-te do que seria de esperar-se. Um trabalho de tal en-vergadura ---- que pretende remodelar e substituirparadigmas culturais deteriorados pelo caruncho decertas Doutrinas religiosas do passado, assim comodo materialismo perverso ---- desenvolve-se com mui-to vagar, porque deve eliminar os vestígios do preté-

Evangelização Espírita Infanto-Juvenil

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rito e colocar bases novas para a construção do futu-ro. Assim sendo, os propósitos em pauta estão sendoconseguidos com elevação e sabedoria.

8) Considerando a missão atribuída ao Brasil, deCoração do Mundo e Pátria do Evangelho, qual asua opinião relativamente à realização do 1o CursoInternacional de Evangelização Espírita Infanto-Ju-venil, realizado em julho de 1984 sob sua presidên-cia? a) Houve resultados positivos? b) Haveria indicação de nova realização nes-se sentido? c) Como poderíamos ajudar os países daAmérica Latina a desenvolverem a tarefa de Evange-lização?

Os resultados fizeram-se imediatamente, quandopaíses, nos quais não se realizava a Evangelização es-pírita-cristã passaram a adotá-la, iniciando uma etapade alta relevância na divulgação da Doutrina Espíritae na construção de uma Infância feliz e uma Juventu-de saudável. Graças àquele labor valioso, a Campa-nha atingiu a finalidade de despertar consciênciasfora do Brasil para o compromisso com as geraçõesnovas.

a) Sem dúvida os resultados foram muito positi-vos, transformando-se em flores e frutos abençoa-dos.

b) Seria ideal se pudéssemos voltar a reunir-noscom os diferentes países que hoje trabalham na Evan-gelização espírita-cristã direcionada às crianças eaos jovens. Porém, a decisão cabe aos queridoscompanheiros que hoje administram a Casa de Is-mael.

c) Mediante correspondência constante e troca deexperiências, seria possível auxiliar os demais paísesda América Latina a desenvolverem o programa daEvangelização. Igualmente propondo a criação da ati-vidade onde não exista e continuando a enviar o ma-terial pedagógico traduzido.

9) Que pensar de tendências existentes no Movi-mento Espírita da atualidade, de introduzir na Evan-gelização Espírita correntes de pensamentos filosóficos,pedagógicos e metodológicos desvinculados do Espi-ritismo?

O nosso compromisso é com a Doutrina Espíritaconforme se encontra exarada na obra magistral daCodificação. Todo o tempo disponível deverá seraplicado na sua divulgação através dos métodos maiscompatíveis com a psicopedagogia infantil. A intro-dução de novos conteúdos que não estejam vincula-dos ao Espiritismo, em nosso modo de ver, seriatomar o espaço e o tempo preciosos ---- insuficientesque são para as necessidades doutrinárias ---- para am-pliação de conhecimentos gerais que pertencem àgrade escolar, fugindo-se do objetivo essencial daEvangelização. É claro que, no programa da Campa-nha, as propostas filosóficas e outras se encontramembutidas, sem, no entanto, desfrutarem de campoespecífico, porque o nosso objetivo, repetimos, é a

moralização espírita, formando homens e mulheresdignos desde a infância.

10) Como despertar os Evangelizadores para anecessidade do estudo da Doutrina Espírita, metaque ainda não conseguimos conquistar?

Somente a conscientização individual conseguirádespertar os Evangelizadores para o estudo da Dou-trina Espírita, porque compreenderão que não se po-dem ocupar de uma atividade para a qual não seencontram preparados. É difícil sensibilizar a menteinfanto-juvenil e transmitir-lhe conhecimentos doutri-nários se o Evangelizador não estiver sinceramentetocado pelo conteúdo que pretende transmitir.

Para que se consiga esse desiderato, torna-se in-dispensável o trabalho fraternal de persuasão, de dou-trinação, a fim de que seja afastado o anestésico dapreguiça mental que domina muitas criaturas aindadistraídas da realidade do Espírito imortal, emborainformadas pelo Espiritismo.

11) Como os dirigentes espíritas poderão colabo-rar no incentivo aos Evangelizadores e na criação decondições mais favoráveis ao trabalho nessa áreatão importante, por suas próprias características noMovimento Espírita?

Ao dirigente espírita cabe a tarefa de propiciar aosEvangelizadores todo o apoio necessário ao bom êxi-to do empreendimento espiritual. Não apenas a con-tribuição moral de que necessitam, mas também ascondições físicas do ambiente, o entusiasmo doutri-nário atraindo os pais, as crianças e os jovens, facili-tando o intercâmbio entre todos os participantes e,por sua vez, envolvendo-se no trabalho que é de to-dos nós, desencarnados e encarnados.

Compreendendo que a tarefa da Evangelização es-pírita-cristã é de primacial importância, o dirigente daCasa Espírita se sentirá envolvido com o labor nobili-tante, dispondo-se a brindar toda a cooperação neces-sária ao êxito do mesmo, o que implica em resultadopositivo da sua administração, que não se descuidados tarefeiros do porvir, já que a desencarnação a todosespreita, e particularmente aos que seguem à frentecom a faixa etária mais avançada.

Contribuir, portanto, para que a Campanha deEvangelização Infanto-Juvenil atinja os seus objeti-vos é compromisso de todo espírita responsável edisposto ao trabalho do Bem, particularmente aquelesque dirigem as Casas Espíritas, conduzindo-as con-forme os postulados exarados na Codificação.

12) Que mensagem daria aos Evangelizadores nosentido de estimulá-los a permanecerem na tarefacom o mesmo entusiasmo das primeiras horas e nacerteza de estarem contribuindo para a obra de re-denção da Humanidade?

A sementeira de amor é precioso legado de Jesus--Cristo para as criaturas que O amam e que desperta-ram para o dever inadiável de contribuírem em favordo mundo melhor do futuro. Trabalhadores da última

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hora, sois herdeiros da oportunidade feliz para repa-rardes o passado mediante a construção do porvir.

Não é o acaso que vos reúne no campo da ação es-pírita-cristã. Tendes compromisso com o pensamentode Jesus, que adulterastes anteriormente e que apli-castes em favor de interesses mesquinhos quão per-turbadores. Renascestes para vos liberardes do ontempernicioso mediante o presente rico de amor e debênçãos.

Não desanimeis! Jesus vela por vós e os SeusMensageiros vos acompanham, inspirando-vos e con-duzindo-vos pela estrada nobre do dever.

Não vos importem as dificuldades momentâneasque fazem parte do programa de ascensão. Pensai noamanhã e preparai-o através das estrelas que puder-des deixar pelos caminhos percorridos, a fim de queaqueles que venham depois encontrem luz apontan-do-lhes rumos de segurança.

Assumistes compromissos superiores com osMensageiros do Mundo Maior, e por isso fostes con-vocados à tarefa enriquecedora da Evangelização dacriança e do jovem, trabalhando-os para Jesus. Nãovos surpreendais com o desafio, nem o abandoneis aqualquer pretexto. Hoje é a oportunidade ditosa paradepositardes sementes no solo dos corações; amanhãserá o dia venturoso de colherdes os frutos da paz.

Permanecei, desse modo, dedicados e fiéis até ofim, mesmo que as dificuldades repontem em formaameaçadora de dor e sombra. Quem anda na luz nãoreceia a treva e quem faz o bem não sofre solidãonem desajuste.

Perseverai, pois, alegres e confiantes na vitória fi-nal.

Jesus vos abençoe!

Salvador, 31 de agosto de 1996.

FRANCISCO THIESEN

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Aprimeira lei brasileira quedefine regras sobre o fumorepresenta, sem dúvida, um

importante avanço na caminhadaem direção ao controle do taba-gismo no Brasil. Por isso, ela ébem recebida pelo Instituto Na-cional de Câncer (Inca), institui-ção do Ministério da Saúde res-ponsável pela coordenação dasações de controle do tabagismono país, que, há dez anos, vemestimulando a criação de leis querespaldem as ações educativasnessa área. É importante deixarclaro, porém, que o objetivo nãoé declarar guerra ao fumante. Amaior prova disso é que, de acor-do com levantamento realizadopela Organização Mundial da Saú-de (OMS) em países latino-ame-ricanos, inclusive o Brasil, 60%dos que fumam apóiam as medi-das restritivas da lei.

Ao proibir o fumo em lo-cais fechados, a atenção está vol-tada muito mais à proteção dasaúde dos não-fumantes do quepropriamente aos fumantes.

Visa, sobretudo, a buscaruma convivência respeitosa entre

fumantes e não-fumantes, preser-vando a opção dos que não dese-jam se expor aos malefícios dofumo. Se levarmos em conta que96% da fumaça produzida pelocigarro não passa pelo filtro, sen-do, portanto, mais tóxica do que ainalada pelo fumante, atentare-mos para a importância de garan-tir o direito de ‘‘não fumar’’ a umuniverso de pessoas muito maiorque o de fumantes.

Controlar o tabagismo é, naverdade, interferir em hábitos,comportamentos, atitudes enrai-zadas há muito tempo. É alertar,por meio de campanhas educati-vas, que o fumante não irá ao su-cesso, não terá um raro prazernem será mais livre porque fumaesta ou aquela marca de cigarros.

Por isso, a nova lei brasilei-ra traz embutido um avanço fun-damental em relação à regu-lamentação da propaganda de ci-garros. A proibição de associar ofumo a atividades esportivas e aobom desempenho sexual talvez

seja um dos aspectos mais impor-tantes da lei, porque protege es-pecialmente crianças e adoles-centes, alvos principais da propa-ganda.

A lei representa mais umpasso em direção ao apoio aos tra-balhos educativos sobre o fumo. Éo início de um processo que buscaproibir totalmente a propaganda decigarros no Brasil, como já é feitoem outros 27 países. Os fumantes(e os não-fumantes também) preci-sam saber que o cigarro é um dosprincipais responsáveis pelas duasprimeiras causas de morte pordoença no mundo: doenças cardio-vasculares e câncer. Trinta porcento de todos os tipos de câncer e90% dos cânceres de pulmão sãocausados pelo cigarro. O fumocausa mais mortes prematuras nomundo do que a soma de todas asmortes provocadas por Aids, co-caína, heroína, álcool, acidentes detrânsito, incêndios e suicídios.

(Transcrito da Folha de SãoPaulo, seção Opinião, de 2-8-1996.)

O direito de não fumarMARCOS F. MORAES

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Lázaro Luís Zamenhof nasceuem 15 de dezembro de 1859,na pequena cidade de Bialis-

tok, Polônia, então anexada ao Im-pério Russo.

Sua nobre missão já se mostra-va nas atitudes superiores da crian-ça preocupada com os sofrimentosque advêm das diferenças entre ascriaturas, as quais, a seus olhos,eram todas iguais e deviam amar-seumas às outras.

Em 1887 lega à família humanao instrumento ideal para as comu-nicações entre seus membros,engolfados numa consternadoramultiplicidade de línguas e diale-tos a entravar-lhes a marcha doprogresso. Surge o Esperanto, im-pregnado dos elevados ideais dejustiça e fraternidade entre os po-vos, e logo se espalha pelo mundo,atraindo corações de boa-vontadepara um movimento cuja finalida-de precípua é a construção de umaponte através da qual se aproxi-mem os homens, separados pormilenares barreiras culturais, reli-giosas, raciais e lingüísticas.

Os adeptos, encantados pelaforça unificadora do Esperanto,rendem-se à autoridade irresistíveldo grande missionário, cujos talen-tos de pensador profundo, intelec-tual vigoroso, artista inspirado econdutor inato sustentaram a causacom tal genialidade que nenhumaforça, interna ou externa, poderájamais destruí-la.

E são esses talentos do gênio deBialistok que anualmente, no mêsde dezembro, os esperantistas evo-cam em homenagens sincerasprestadas nos milhares de núcleosdo generoso movimento espalha-dos pelo mundo.

Também nos associamos às ho-menagens que, em 1996, recorda-ram os 137 anos de seu nascimento,mas dessa vez procuramos focali-zar, com o auxílio da excelente obrade Marjorie Boulton ---- ‘‘Zamenhof

---- Autoro de Esperanto’’ ----, al-guns nobilíssimos aspectos de suapersonalidade, evidenciados nosatos comuns de uma vida toda te-cida de sacrifícios, abnegação edevotamento.

Em uma das melhores biografiasdo Dr. Esperanto ---- senão a melhor---- Marjorie Boulton, mestra, es-critora, poetisa de grande sensibi-lidade do inglês e no Esperanto,põe em relevo aqueles traçosque, comuns à personalidade dosEspíritos verdadeiramente supe-riores, também adornavam o ca-ráter do criador do Esperanto: ohumanitarismo, a solidariedade, atolerância, a afabilidade, a com-paixão, numa palavra, a caridade.

Zamenhof era médico e no exer-cício de sua profissão agia sob oimpulso do desprendimento, nãoobs- tante haver permanecido sem-pre pobre. Dos camponeses jamaisexigia honorários, chegando mes-mo a dar-lhes dinheiro e a pedir defazendeiros ricos auxílio para o so-corro de sua clientela sem recurso.Certa ocasião, após atender a crian-ças gravemente feridas num incên-dio, inteirou-se de que o fogo haviadestruído a propriedade de seuspais, reduzindo-os a absoluta misé-ria. Zamenhof deu-lhes todo o di-nheiro que possuía, não cuidandoem reservar algum para o regressoao lar em longa viagem. Recorre,para esse fim, a um rico cliente dasredondezas, para que lhe empresteo necessário para o regresso. De ou-tra feita, no caminho que habitual-mente fazia entre Vejseje eKovno, encontra um carroceiroem prantos pela morte do seu ca-valo, esgotado pelos esforçosnuma estrada coberta de lama. Za-menhof oferece-lhe 50 rublos paraque o pobre homem tenha comque comprar outro animal e as-sim assegurar o seu sustento. E,

após assistir uma agonizante ido-sa, juntamente com quatro outroscolegas, recusa-se a receber da fa-mília polpudos honorários, consi-derando que a doença culminoucom a morte da paciente. Zame-nhof sempre se dedicou a seusclientes pobres, proporcionando-lhes até o fim de sua carreira doisdias da semana para consultasgratuitas, pedindo a seu filhoAdam, igualmente médico, quecontinuasse essa prática.

Nos mínimos gestos e atitudesrevelava-se a nobreza de seu cará-ter. Em Boulogne-sur-mer, França,por ocasião do 1o Congresso Uni-versal de Esperanto, comparece,embora judeu, a uma missa do cul-to romano. A uma fervorosa espe-rantista que lhe pede um autógrafono recinto da igreja Zamenhof sus-surra: ‘‘Com muito prazer, minhasenhora, mas eu lhe peço que sejaem outro lugar ---- aqui é um lugarsagrado.’’

Os pequeninos, os sofredores eparticularmente aqueles que atra-vessavam a prova da cegueira de-dicavam entranhada veneração pelobondoso oculista de Varsóvia, equando Zamenhof visita Cambrid-ge, para os festejos do 3o Congres-so Universal, encontra-se commuitos cegos esperantistas prove-nientes de outros países, todos alo-jados numa mansão às expensasde outro grande pioneiro esperan-tista, Théophile Cart. Zamenhofcumprimentou cada um à parte,encorajou-os ao otimismo e de to-dos recebeu ardorosos agradeci-mentos pelo idioma que lhesproporcionava uma pequena clari-dade em seu mundo sem luz. Masos cegos lhe pediram outro privilé-gio: queriam tocá-lo com as mãos,conhecer melhor aquele que nuncapoderiam ver. E suas mãos que, deforma tão extraordinária, traduzempensamentos e emoções, tocavamrespeitosamente o corpo pequeno

AFFONSO SOARES

ZAMENHOF ---- BENFEITOR DA HUMANIDADE

24 REFORMADOR, JANEIRO, 1997 ---- 20

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e frágil, a barba, os óculos de len-tes ovais, a larga calva do genialmissionário polonês. Marjorie Boul-ton supõe que naquele momentoZamenhof talvez pensasse nascrianças judias cujos olhos forambarbaramente vazados durante um‘‘pogrom’’ na sua cidade natal deBialistok.

O ano de 1908 viu a explosãode um escândalo nas hostes espe-rantistas, provocado pela traiçãode um adepto em quem Zamenhofdepositava absoluta confiança. Sobo comando daquele infeliz adepto,Zamenhof, até o fim de sua vida,receberia de alguns outros apósta-tas insultos e calúnias vis. A tudoporém respondeu com tolerância,perdão verdadeiramente cristão,dando aos seguidores da grandecausa o luminoso exemplo da mag-nanimidade diante do erro. EmDresden, alguns esperantistas des-pedem-se de Zamenhof após oCongresso Universal de 1908, en-tre eles Julius Glück, ThéophileCart e Eduard Myls. Este últimocomenta com seus co-idealistas:

‘‘O que vocês pensam que Zame-nhof vai fazer agora? Ele preten-de viajar ao encontro de B..., oseu falso amigo de outrora, aquem confiou a representação desua obra e que traiu sua amizade!Zamenhof quer fazer a longa via-gem ao encontro de B... para per-doar o traidor!...’’Um dos grandes ideais de Za-

menhof era dar aos religiosos detodas as correntes um fundamentoneutro concreto para que se apro-ximassem em nome do bem daHumanidade. Seu desejo era deque os livros sagrados de todas asreligiões fossem vertidos para oEsperanto. Ele próprio traduziuo Velho Testamento. Dizia o gran-de missionário:

‘‘Se todos os fundadores de religiõespudessem encontrar-se pessoal-mente, eles se apertariam as mãosreciprocamente, como amigos, por-que todos tiveram um único objeti-vo: fazer com que os homens setornassem bons e felizes.’’O ideal esperantista fê-lo pai-

rar acima de sua própria identida-

de nacional e racial. Quando oconvidaram para a festa de fun-dação de uma sociedade judaicainternacional em Paris, ele res-pondeu:

‘‘Estou profundamente convenci-do de que todo nacionalismo repre-senta tão-somente um grande pre-juízo para a Humanidade, sendode opinião que o objetivo princi-pal de todas as criaturas deveriaser a criação de uma Humanidadeharmônica. É certo que o nacio-nalismo dos oprimidos ---- comoreação natural de autodefesa ---- émuito mais desculpável do que onacionalismo dos opressores. Mas,se o nacionalismo dos fortes é vil,o nacionalismo dos fracos é im-prudente, ambos se engendrame se sustentam reciprocamente,dando lugar a um círculo viciosode infelicidades, do qual a Huma-nidade jamais sairá se cada um denós, fazendo o sacrifício de seuamor-próprio grupal, não tentar oencontro num terreno absoluta-mente neutro. Eis por que, apesar dos pungen-tes sofrimentos de minha raça,não quero aderir a um nacionalis-mo judeu, preferindo trabalharapenas para uma absoluta justiçaentre os homens. Estou profunda-mente convencido de que assimproporciono a meus irmãos maiorsoma de bem do que se aderisse aum movimento nacionalista.’’Mas a mais expressiva home-

nagem, por nascer do coração deuma alma simples, foi a que lhefez a velha criada da família Za-menhof. Ela era católica romana,mas durante toda a sua vida guar-

dou em seu quarto, sob um cruci-fixo, uma fotografia de Zamenhof.Aos visitantes ela costumava mos-trar esse retrato, dizendo: ‘‘Elenunca pecou!...’’

Ao nobre Espírito de LázaroLuís Zamenhof, em nomeda família espírita, no

seio da qual seus ideais e sua ge-nial criação naturalmente encon-tram fervorosa acolhida, oagradecimento pelos sacrifícioscom que pôde ser transplantadano seio da sociedade a nobre cau-sa do Esperanto e do Esperantis-mo.

Terão início, no mês de março próximo, os cursos gratuitos da Lín-gua Internacional Neutra, nos níveis elementar e de aperfeiçoamento,bem como serão reiniciadas as reuniões para a prática do idioma atra-vés do estudo de obras vertidas para o Esperanto.

As inscrições deverão ser feitas na Av. Passos no 30 ---- 1o andar, nohorário comercial.

---- Curso Elementar: Quintas-feiras às 17h; ---- Curso de Aperfeiçoamento: Sextas-feiras às 17h;---- Grupo de Estudos Espíritas em Esperanto: Segundas-feiras, das

15h30min às 16h45min.

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NOVOS CURSOS DE ESPERANTO NA FEB ---- RIO DE JANEIRO

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Ao proceder a ligeira arru-mação em meu escritóriodoméstico, encontrei dez

exemplares da revista Revelação,escondidos atrás de alguns livros.Peguei um deles ao acaso e fo-lheei-o. Era um exemplar corres-pondente aos números 3, 4, 5 e 6,ano XI, Março-Junho-1970.

Logo na página 4, deparei-mecom um interessante artigo domeu saudoso avô, Arnaldo S.Thiago, intitulado Monismo ver-sus Espiritismo.

Sobre este assunto tecerei aseguir algumas considerações, jáque a questão continua de trans-cendente atualidade, em virtudedo rumo filosófico que o espiri-tualismo vem tomando atualmen-te.

Antes, porém, gostaria de es-clarecer, a quem não sabe, queessa revista foi fundada em 1906,em São Francisco do Sul, SantaCatarina, por meu bisavô Joa-quim S. Thiago. Posteriormente,após alguns interregnos, teve comodiretores-responsáveis o meu avôArnaldo e, a seguir, meu tio JoséAntônio de S. Thiago que, depoisde algum tempo, transferiu a ad-ministração e a redação para Flo-rianópolis. Por motivos diversos,especialmente escassez de recur-sos, não pôde continuar a ser pu-blicada. O último número é de1971.

O citado artigo do meu avôé uma espécie de rebate-crítica aescritos de certo espírita mexica-no, o qual defendia a idéia daunicidade da substância. Queristo dizer que, no Universo, tudoo que existe proviria, sem exce-ção, de um elemento primordial.Esse elemento, por transforma-ção, diferenciação e especializa-ção, teria dado origem tanto àmatéria como ao espírito, enten-dido este como princípio espiri-tual, em consonância com aterminologia da Codificação Es-pírita.

Ora, precisamente a esta uni-cidade é que Cristian von Wolff(filósofo alemão, que viveu entre1679 e 1754), batizou de monis-mo. Ele identificava como mo-nistas os filósofos que admitemum único gênero de substância,compreendendo nessa categoriaseja os materialistas, seja os idea-listas.

A posição contrária ao monis-mo é o dualismo, defendida porWolff. De acordo com o ‘‘Dicio-nário de Filosofia’’, de NicolaAbbagnano (Ed. Mestre Jou, SãoPaulo), o monismo ‘‘foi constan-temente monopolizado pelos ma-terialistas; quando usado sem ad-jetivo designaria o materialis-mo’’.

Em toda exposição que sefaça, utilizando-se a palavra es-crita, e especialmente em assun-tos de certa transcendentalidade,em virtude da pobreza e das limi-tações da linguagem humana, épreciso que certos termos sejamdefinidos com clareza. Senão,corre-se o risco de os leitorescompreenderem de forma diversao que o autor quer exprimir.

Reporto-me especificamente àsexpressões materialismo, idea-lismo, espiritualismo.

Nos tratados de filosofia, oconceito de materialismo é vistoquase sempre como oposto ao deidealismo, permanecendo o espi-ritualismo como uma visão parti-cular do Mundo, pouco relacio-nado com os dois primeiros.

A definição mais aceita atual-mente de espiritualismo, entreos filósofos, é a ‘‘doutrina quepratica a filosofia como análiseda consciência ou que, em geral,pretende extrair da consciênciaos dados da pesquisa filosóficaou científica’’. A expressão foicunhada por Victor Cousin (filó-sofo francês ---- 1792-1867), emmeados do século passado, que a

utilizara especialmente no senti-do de doutrina moral, ética ecomportamental, dentro de umaconcepção finalística que proma-na de Deus, o Criador.

Dizia Cousin que espiritualis-mo é uma doutrina ‘‘que ensina aespiritualidade da alma, a liber-dade e a responsabilidade das açõeshumanas, as obrigações morais, avirtude desinteressada, a dignida-de da justiça, a beleza da carida-de, e, além dos limites dessemundo, ela mostra um Deus, au-tor e modelo da Humanidade...’’.

Percebe-se logo que não é esteo conceito de espiritualismo, noâmbito da Codificação Karde-quiana. Diversos autores espíri-tas, desde Kardec, identificavam--no com a demonstração empí-rica e racional da existência daalma ou espírito, independentedo corpo físico. Léon Denis usa-va comumente as expressões es-piritualismo moderno e espiri-tualismo experimental, para dife-renciá-la do espiritualismo teóri-co e dogmático. Este último, pro-fessado por algumas religiões,dispõe o problema da existênciae sobrevivência da alma sob umaótica imprecisa e nebulosa.

Já o Espiritismo, como espiri-tualismo moderno por excelência,apóia suas construções teóricas emsólidas bases empíricas e racio-nais. Não só considera lógicos seuspostulados relativos ao Espíritoimortal, como os tem demonstra-do, através da observação e dométodo experimental.

Sob esta ótica, espiritualismoseria antagônico ao materialismo,compreendido este como a dou-trina que admite a existência ex-clusiva da matéria no Universo.Tudo o mais seria dela derivado.

Reportando-se, porém, ao pen-samento dos filósofos e aos com-pêndios de filosofia, observa-seque as conceituações são díspa-res.

Monismo, Materialismo e EspiritualismoPAULO DE TARSO SÃO THIAGO

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Têm sido aceitos e adotados,ao longo da História, os seguin-tes conceitos de materialismo:

1 ---- Materialismo metafísicoou cosmológico, cujas teses cen-trais são o ‘‘caráter originário ouinderivável da matéria que prece-de qualquer outro ser e é a causadeste’’; estrutura atômica da ma-téria; a independência e motopróprio, desde toda a eternidade,dos átomos que a compõem; anegação de um finalismo ou pro-pósito no Universo; a reduçãodos poderes espirituais humanosà sensibilidade. Esta concepçãode materialismo provém de De-mócrito e Leucipo e mantém nosdias atuais um certo fôlego.

Ainda que, teoricamente, omonismo possa ser aceito, tantopor materialistas como por idea-listas, na prática, porém, o que seobserva é que o materialismo, es-pecialmente o cosmológico, comoexposto acima, tem dele se apro-priado.

2 ---- Materialismo metodoló-gico, concebido por Hobbes, ecuja tese fundamental ‘‘consiste emjulgar que a noção da matéria,isto é, de corpo e de movimento,é o único instrumento disponívelpara a explicação dos fenôme-nos’’. Na prática, esta acepçãoacaba incorporando-se à primeira,podendo-se considerá-las em con-junto, para fins de raciocínio.

3 ---- Materialismo prático, que‘‘reconhece no prazer o únicoguia da vida’’. Na verdade estaexpressão pertence mais à lin-guagem comum do que à filosó-fica. Filosoficamente ele iden-tifica-se com o hedonismo e como epicurismo. Por ter pouco a vercom concepções a respeito do sere do Universo, não o levaremosem consideração, em nossas elu-cubrações.

4 ---- Materialismo psicofísico,que advoga a total e estrita de-pendência da atividade espiritualhumana da matéria. Para CarlosVogt, em escrito de 1854, o ‘‘pen-samento está para o cérebro namesma relação em que a bílisestá para o fígado e a urina paraos rins’’.

Podemos, sem provocar dis-torções importantes nas idéiase no pensamento, considerar emúnico bloco as concepções dematerialismo até aqui expostas,exceção feita à segunda acep-ção, pelos motivos já vistos.Assim sendo, compõem a filo-sofia materialista a unicidade dasubstância que se reduziria àmatéria; a subordinação dos atri-butos mentais, intelectuais, mo-rais e espirituais ao elementomaterial, o qual seria o móvel e acausa de tudo, e a casualidade eausência de propósito no Universo.

Sendo os corpos e objetosmateriais perecíveis por nature-za, a existência humana indivi-dual seria um acontecimento for-tuito, fugaz, destituído de objeti-vos e que finalizaria no não-ser,no nada.

Por incrível que possa parecer,esta absurda filosofia continuamuito em voga ainda e, por ni-ilista, perniciosa e anti-social,está a merecer decisivo combatepor parte dos que auguram para aHumanidade um porvir mais ra-dioso, na senda da evolução.

Antes de prosseguir em nos-sas elucubrações, é preciso abrirum parêntese, em nome da cla-reza e da caracterização das coi-sas, para observar que existemduas categorias de materialismonão consideradas até aqui, pornão apresentarem muita relaçãocom o tema central deste arti-go. Referimo-nos ao materia-lismo dialético e ao materia-lismo histórico.

Estreitamente vinculadas en-tre si, as expressões foram cunha-das por Marx e Engels, emmeados do século XIX. O mate-rialismo dialético poderia serchamado, mais apropriadamente,de dialetismo naturalista eapresenta a idéia central da com-penetração dos opostos, comomecanismo intrínseco das mu-danças incessantes que se verifi-cam na natureza. É a filosofia deHeráclito de Éfeso (século Va.C.) adaptada aos tempos mo-dernos.

O materialismo histórico, poroutro lado, afirma que os fatoreseconômicos, traduzidos nas con-dições de produção e nas relaçõesde trabalho, têm um peso prepon-derante na História. O modo deprodução da vida material condi-cionaria a vida social, política eespiritual.

Retornando à linha de raciocí-nio que vínhamos desenvolven-do, esclarecemos que, em opo-sição ao materialismo, conformefoi conceituado, apresenta-se oidealismo, doutrina filosófica queadmite ser a idéia, o pensamento,a vontade os móveis e propulso-res de tudo. A matéria e os cor-pos seriam apenas conseqüênciaou resultado.

O idealismo, embora tenhapermanecido o mesmo em suaessência, desde Platão, passan-do por Kant, Hegel, Fichte eSchelling, sofreu mudanças deforma, em função do avançonos conhecimentos e do pro-gresso científico. A confronta-ção materialismo versus idea-lismo continua, porém, presen-te.

Do nosso ponto de vista, con-sideramos, contudo, mais impor-tante e digno de atenção o em-bate entre materialismo e espiri-tualismo, porque do seu resulta-do final dependerá, como frisa-mos há pouco, o futuro da Hu-manidade.

Monismo e materialismo, uni-dos, permeiam as ciências físicase biológicas, na defesa da unici-dade da substância, reduzida esta,em última instância, à matériapropriamente dita, considerada amatriz universal.

Nas próprias fileiras do Mo-vimento Espírita, há quem profes-se, de forma explícita, o monismo,com outras denominações. Di-versas obras consideradasespíritas, que têm sido publica-das, expõem modelos cosmo-lógicos nitidamente unicistas,segundo os quais os princípiosmaterial e espiritual teriam ori-gem comum, isto é, engendra-dos a partir de um tipo único desubstância. Ora, essas idéias,

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em última análise, desembocamno materialismo e estão em desa-cordo com o que consta nas obrasbásicas da Codificação Karde-quiana.

Basta consultar ‘‘O Livro dosEspíritos’’, para confirmar isso.No capítulo II da Parte 1a ---- DosElementos Gerais do Universo ----,no tópico Espírito e matéria, ques-tão 27, pode-se ler o seguinte:

‘‘---- Há então dois elementosgerais do Universo: a matéria eo Espírito?

---- Sim e acima de tudo Deus,o criador, o pai de todas as coi-sas. Deus, espírito e matériaconstituem o princípio de tudo oque existe, a trindade universal(...).’’

Vê-se aí o dualismo expressocom toda a clareza. O princípiomaterial e o princípio espiritualsão diversos, em sua essência,embora interajam entre si e secomplementem, de acordo comos desígnios do Criador.

Acreditamos que a Ciênciaterrena já conheça bastante arespeito do princípio material.No século XX, avanços signi-ficativos foram obtidos nessesentido, não só pela ampliaçãodos conhecimentos sobre a es-

trutura atômica, como tambémpela nova e revolucionária con-ceituação de matéria.

Já se conhecem mais de du-zentas ‘‘partículas’’ classifica-das como hádrons e que com-põem o núcleo atômico, entre asquais se incluem prótons e nêu-trons. Descobriu-se que os há-drons não são ‘‘partículas’’ ele-mentares, mas constituídas porquarks, estas sim indivisíveis eindestrutíveis.

O que mantém essas ‘‘partí-culas’’ coesas entre si é uma po-derosa força fundamental da na-tureza a que os cientistas cha-mam de força ou interação nu-clear forte, milhares de vezesmais intensa que as forças gra-vitacional e eletromagnética. Estaúltima provém da dinâmica de‘‘partículas’’ fundamentais de-nominadas léptons, entre as quaisse inclui o elétron, que vibra ese movimenta em torno do nú-cleo atômico.

A física moderna, apoiadasobretudo nas teorias quânticae relativística, transformou ra-dicalmente ou derrubou algunsconceitos classicamente aceitos.Um deles é de que a massa éuma grandeza primária da qual

se derivariam grandezas secun-dárias, como força de energia.Hoje, cada vez mais se aceita queé a energia a grandeza primária,sendo a massa uma manifestaçãodela. A solidez e a impenetrabili-dade dos corpos materiais sãoapenas aparentes.

Com a rapidez com que aCiência avança, as incógnitasque ainda existem a respeito damatéria logo serão decifradas.Incluímos entre elas as formasenergético-materiais denomina-das fluido cósmico universal,ectoplasma, perispírito e outrostipos de ‘‘fluidos’’ revelados pelaDoutrina Espírita, nos últimoscento e quarenta anos.

Já o princípio espiritual, esteainda é um completo desconheci-do dos homens e da ciência terre-na. Talvez pela imperfeição dosnossos recursos sensitivos e inte-lectuais e pela total ausência dosinstrumentos capazes de detec-tá-lo.

Algumas tentativas entre au-tores espíritas foram feitas pa-ra estabelecer modelos teóricosconvincentes a respeito do prin-cípio espiritual e do Espírito.São todos, porém, modelos ana-lógicos que partem da estruturamaterial. Apesar de interessan-tes, esses modelos não compro-vam nada e têm a desvantagemde apresentar similitudes com ovelho monismo de Demócrito ecom o materialismo-unicismomoderno.

Muita água ainda correrá e de-vemos ter a certeza, conformenos revelaram os Espíritos Supe-riores, de que o princípio espiri-tual, como princípio inteligenteque é, nada tem em comum, doponto de vista estrutural, com oprincípio material. Este é regidosempre pela lei da inércia, a qualreza que todo corpo só muda suasituação dinâmica por ação deuma força externa. E esta sem-pre é a do princípio espiritual,seja em sua forma dispersa ouem sua forma individualizada.

Com muita alegria anunciamos que estão abertas as inscriçõespara a formação, em 1997, de um novo grupo dedicado aos estu-dos da Doutrina Espírita, nos moldes do programa sistematizadoadotado pela FEB.

O novo grupo funcionará às terças-feiras, no horário de 17h às18h30min, sob a coordenação da Dra. Regina Lúcia de Souza B.Rodrigues, com início na primeira semana de fevereiro. As inscrições devem ser feitas na Secretaria, na Av. Passos no

30, no horário comercial, e as apostilas com o Programa I estarãoà disposição dos interessados na Livraria, no mesmo endereço.

Ainda em fevereiro, na primeira sexta-feira, terão continuidade ostrabalhos do grupo formado em 1995, devendo iniciar-se os estu-dos da matéria contida no Programa IV, relativa ao aspecto filosóficoda Doutrina Espírita.

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Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita

Nova turma na Sede Seccional ---- Rio de Janeiro

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Em 19 de janeiro de 1947 par-tia deste mundo aquele judeuespírita que o então presiden-

te da Federação Espírita Brasileira,A. Wantuil de Freitas, consideravaum vencedor da prova da riqueza.

Nascido em 2 de dezembro de1866, na cidade de Milevsko,Tchecoslováquia, filho de pais ju-deus, emigrou, ainda muito jovem,para os Estados Unidos da Améri-ca do Norte, passando depois parao México, América Central e, fi-nalmente, chegou ao Brasil, ondese naturalizou brasileiro.

Muito pobre, teve que lutar bas-tante para vencer na vida, até che-gar a uma estabilidade econômicainvejável.

Espírito muito ativo, ingressouno ramo de gravação de músicasem discos fonográficos, tornando--se também o distribuidor no Bra-sil de máquinas de escrever. Veio aser, com o correr do tempo, prós-pero negociante, amealhando nãopequena fortuna, jamais, porém, seesquecendo dos menos aquinhoa-dos, aos quais sempre abria a portalarga do seu coração.

Em fins do século XIX váriosacontecimentos o levaram ao Espi-ritismo, e já em 1903 freqüentava aFederação Espírita Brasileira, naAvenida Passos, doando o seu tra-balho junto aos sofredores, inclusi-ve como médium passista, já quese desenvolvera nele a mediunida-de curadora. Inúmeros foram oscasos de pessoas curadas atravésdele, sendo muito procurado pelosenfermos, aos quais se dedicavacom verdadeiro amor cristão.

Tornou-se, assim, um espíritamodelar, exemplificando pela açãoa Doutrina que pregava pela pala-vra escrita e falada. Consagrougrande parte de sua vida a tarefasde beneficência e assistência socialjunto a um sem-número de neces-sitados e de Instituições. Na gripeespanhola de 1918, chegou a abri-gar 14 doentes em seu próprio lar.

Contrariamente à primeira im-pressão que causava, de aparente as-pereza no trato, era extremamentehumilde, sincero, leal, disciplinado e

cordato, tanto assim que não dei-xou nenhum adversário ou inimi-go.

Do seu matrimônio com D. Es-ther de Freitas Reys, em 1897, nas-ceram seis filhos. A desencarnaçãoda filha primogênita Raquel, em1920, levou-o a conhecer a notávelmédium de materializações, AnaPrado, de Belém, Pará, por inter-médio da qual foi obtida a materia-lização do Espírito Raquel, alémde uma série de diferentes outrasmanifestações, assistidas por mui-tas pessoas gradas da sociedadeparaense, tudo sendo enfeixado nolivro ‘‘O Trabalho dos Mortos’’,do Dr. Nogueira de Faria, ediçãoFEB.

Compreendendo a importânciado livro, custeou a edição de muitos,e em 1946, juntamente com outroscompanheiros febianos, dava a suacontribuição monetária para o levan-tamento do Departamento Editorialda FEB, em São Cristóvão.

Mantinha Fígner, no Correio daManhã, então um dos maiores diá-rios do País, uma seção de crônicassobre Espiritismo, algumas dasquais foram postumamente reuni-das no livro ‘‘Crônicas Espíritas’’,publicado pela FEB, e hoje esgota-do.

Fígner foi tesoureiro e vice-pre-sidente da Federação Espírita Bra-sileira e, depois, membro do seuConselho Fiscal, função que exer-ceu até à desencarnação. Presiden-te de honra do Grupo EspíritaBittencourt Sampaio.

Logo após a sua desencarnação,o hebdomadário A Noite Ilustrada,do Rio, consagrou-lhe duas pági-nas de encômios, considerando-o‘‘o mais brasileiro de todos os es-trangeiros, o cidadão dos mil ami-gos, o protetor dos necessitados,filantropo dos mais legítimos e de-dicados’’.

Francisco Cândido Xavier, emcarta de 30-1-47 a Wantuil de Frei-tas, dizia-lhe1:

‘‘A partida do nosso inesquecívelamigo Fígner encheu-me de gran-des saudades. Ele foi um compa-

nheiro admirável. Convivi comele, epistolarmente, durante de-zessete anos consecutivos. Delerecebi as maiores provas de abne-gação que um amigo pode dar aoutro.’’

Comunicava ainda o Chico o le-gado de cem mil cruzeiros queFígner lhe deixara em Obrigaçõesde Guerra ---- talvez sua últimavontade ----, legado que o médiumrecusou receber, pedindo o transfe-rissem para as obras do Departa-mento Editorial da FEB.

O escritor Viriato Correia,membro da Academia Brasileirade Letras, amigo de muitos anosde Fígner, dedicou-lhe extenso pa-negírico no diário carioca A Noite,de 27-2-47, do qual extraímos estetrecho:

‘‘E ele não era poeta, nem prosa-dor, nem pintor, nem escultor,nem cientista, não era nada doque se pode incluir no rol dequalquer modalidade intelectual.Era apenas um homem de profun-da sinceridade, de radiosa, como-vedora e dinâmica capacidade deternura humana.’’

Um ano após sua desencarnação,Fígner retornaria ao convívio dos es-píritas. Através do médium ChicoXavier, sob o pseudônimo IrmãoJacob, brindava-nos com a excelen-te obra ---- VOLTEI, patenteando‘‘aos irmãos de ideal e serviço’’ arealidade que nos espera além damorte: ‘‘É para vocês ---- membrosda grande família que tanto desejeiservir ---- que grafei estas páginas,sem a presunção de convencer!’’

FREDERICO FÍGNER Cinqüentenário de desencarnação

1. Suely Caldas Schubert, ‘‘Testemu-nhos de Chico Xavier’’, FEB, 2a ed., 1991,p. 124.

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ABERTURA DOS TRABALHOSE EXPEDIENTE

A Reunião Ordinária do Conse-lho Federativo Nacional da FEB,do ano de 1996, foi aberta às 9horas da manhã do dia 8 denovembro pelo Presidente JuvanirBorges de Souza, que proferiu aprece preparatória do ambiente esaudou os presentes.

Na Palavra do Presidente fezimportante pronunciamento sobreo Movimento Espírita e suas difi-culdades, afirmando que estamosaqui para enfrentá-las e vencê-las,pois que o trabalho na seara espí-rita é sempre sacrificial. A divulga-ção do Espiritismo ganha novadimensão mas também enfrentaproblemas com o avanço datecnologia nos setores do livro, dojornal, da televisão, do vídeo e doáudio; no que respeita ao livroespírita, precisamos estar atentosà proliferação dos livros repetitivose daqueles que deturpam aDoutrina com meias-verdades,cabendo-nos defender oMovimento Espírita através doesclarecimento geral, como será ocaso da Campanha de Divulgaçãodo Espiritismo a ser apreciada peloCFN nesta Reunião. Sobre apresença da FEB na Internetinformou que: dentro em brevetodas as obras da CodificaçãoKardequiana estarão disponíveisnos idiomas português, inglês,francês e espanhol; as consultas àHome Page da FEB, que somaram680 em agosto, dobraram em se-

tembro e continuaram aumentandono mês de outubro; a FEB está sepreparando para ser provedora, oque trará grande benefício para asFederativas Estaduais e o Movi-mento Espírita, visto que teremosa oportunidade de ingressar nacomunicação de massa sem per-der o nosso rumo. Finalizou com areferência a algumas verdades,que afirma serem óbvias, mas queprecisam ser repetidas: o Espiri-tismo fundamenta-se na Codifica-ção de Allan Kardec; a moral espí-rita é a moral do Evangelho; e aDoutrina Espírita, baseada na ra-zão e na realidade transcedente,não se compadece com as extra-vagâncias do mundo. O texto inte-gral da Fala do Presidente serápublicado em nossa próxima edi-ção.

Na parte do Expediente, foifeita a análise da ata da Reuniãorealizada no período de 4 a 6 denovembro de 1994, publicada emREFORMADOR de março, abril emaio de 1995, e da Reunião de 4de outubro de 1995 (durante operíodo do 1º Congresso EspíritaMundial), sendo ambas aprovadas.

ORDEM DO DIA

Em clima de muita compreen-são e fraternidade, os assuntos daOrdem do Dia foram analisados,discutidos e aprovados pelosmembros do CFN nos dias 8, 9 e10, destacando-se os seguintes:

CAMPANHA DE DIVULGAÇÃODO ESPIRITISMO

O Presidente Juvanir teceuconsiderações sobre a importânciadessa Campanha preparada pelaFEB, com o apoio das FederativasEstaduais, que apresentaram inú-meras sugestões com vistas àelaboração dos folhetos e carta-zes. O Vice-Presidente Nestor Jo-ão Masotti apresentou o Plano deAção a ser observado na suaimplantação e desenvolvimento.

Recebida e discutida com mui-to entusiasmo, a Campanha de Di-vulgação do Espiritismo foi aprova-da por unanimidade, tendo por di-retrizes:

Objetivo: Tornar a Doutrina Es-pírita cada vez mais conhecida emelhor compreendida pelo públicoem geral.

Público alvo: 1. As pessoas detodos os níveis e condições sociaise culturais que ainda desconhe-cem a Doutrina Espírita. (Slogan:Conheça o ESPIRITISMO, umaNova Era para a Humanidade.) 2.Os espíritas em geral: dirigentes,trabalhadores e simpatizantes, in-teressados e participantes nas ta-refas de estudo, difusão e práticada Doutrina Espírita. (Slogan: Di-vulgue o ESPIRITISMO, uma NovaEra para a Humanidade.)

Meios: 1. Ampliar a divulgaçãoda Doutrina Espírita através detodos os veículos de comunicaçãopossíveis, tais como: cartazes, fo-lhetos, vídeos, rádios, TV, jornais,outdoors, adesivos, etc. 2. Promo-ver, de forma mais ampla e maisadequada, o atendimento a todosos que procuram as InstituiçõesEspíritas em busca de esclare-cimento, orientação e assistência.

CONGRESSO ESPÍRITABRASILEIRO

Foi aprovada a proposta daFederação Espírita do Estado deGoiás para a realização do 1º Con-gresso Espírita Brasileiro, sob pro-moção da FEB, em outubro de1999, em Goiânia (GO), comapoio de infra-estrutura daquela

CONSELHO FEDERATIVO NACIONALREUNIÃO ORDINÁRIA DE 1996, REALIZADA NA

SEDE DA FEB, EM BRASÍLIA

Reuniu-se o Conselho Federativo Nacional na sede daFederação Espírita Brasileira, em Brasília, nos dias 8, 9 e 10 denovembro do ano passado, com a presença do Presidente, deVice-Presidentes e Diretores da FEB; dos representantes das 27Entidades Federativas Estaduais e das 3 EntidadesEspecializadas de Âmbito Nacional (Associação Brasileira deDivulgadores do Espiritismo, Cruzada dos Militares Espíritas eInstituto de Cultura Espírita do Brasil).

Importantes assuntos de interesse da Doutrina e do Movi -mento Espírita foram tratados, destacando-se a aprovação e lan -çamento da CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO DO ESPIRITISMO,que tem por objetivo tornar a Doutrina Espírita cada vez maisconhecida e melhor compreendida pelo público em geral.

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Federativa Estadual. Será come-morado nesse evento o Cinqüên-tenário do Pacto Áureo.

CAMPANHAS PERMANENTES

A Vice-Presidente Cecília Ro-cha falou sobre as CampanhasPermanentes mantidas pela Fede-ração Espírita Brasileira e desen-volvidas pelas Federativas Estadu-ais e Instituições Espíritas de seusterritórios, expressando-se nos ter-mos abaixo:

Campanha Permanente de Evange-lização Espírita Infanto-Juvenil

Essa Campanha completa 20anos de ação no próximo ano.Essa afirmativa não significa queantes de outubro de 1977, quandofoi lançada, não se estivessemmultiplicando as Escolas para cri-anças e as juventudes espíritas,nas Instituições Espíritas do País.É que se desejava com essaCampanha, vitoriosa até hoje, darnovo impulso ao trabalho, peloenvolvimento de mais companhei-ros na tarefa e aprimoramento deprogramas, métodos e procedi-mentos didáticos adotados.

Grande foi o progresso dela re-sultante, que pode ser facilmenteconstatado através, ao longo des-se tempo, dos inúmeros cursos,seminários, confraternizações dejuventudes, entre outros eventos,realizados em todos os Estados doBrasil.

O objetivo maior das comemo-rações a serem desenvolvidas,que recebeu o título de ProjetoVinte Anos, é de reforçar o ânimoe o entusiasmo de todos os traba-lhadores da Evangelização e cha-mar a atenção dos Dirigentes Es-píritas para essa grande responsa-bilidade do Movimento Espíritaque é, sem dúvida, a evangeliza-ção das novas gerações.

A Campanha dirige-se especial-mente aos evangelizandos, aosdirigentes e pais espíritas, poden-do ainda atingir os espíritas emgeral.

A programação gira em tornode materiais de divulgação taiscomo: cartazes, folders, mensa-gens alusivas à Campanha, entre-vistas, artigos em REFORMA-DOR, culminando com um grandeencontro de envangelizadores emBrasília, em outubro de 1997. Nes-sa oportunidade será oferecido um

novo currículo, ou melhor, umanova versão do Currículo já exis-tente, aos companheiros que labo-ram nas atividades com crianças ejovens.

O Projeto Vinte Anos será ava-liado como satisfatório pelo graude envolvimento das FederativasEstaduais e dos Centros Espíritasna realização das ações que enfo-quem a Campanha no sentido desua maior dinamização.

Campanha de Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita

Com referência à Campanhade Estudo Sistematizado da Dou-trina lembramos três grandeseventos realizados, que muito con-tribuíram para a sua dinamização:o Encontro Nacional de coordena-dores do ESDE realizado emGoiânia de 23 a 25 de julho de1993 e os cursos regionais, queocorreram em Curitiba (1995) eem Salvador (1996), além dos en-contros estaduais realizados emquase todos os Estados brasi-leiros.

Reportou-se ainda, aos progra-mas de estudos oferecidos pelaFEB que foram revistos, recebe-ram nova apresentação gráfica eque estão à disposição do Movi-mento Espírita.

Informou, também, que novasapostilas que subsidiam a apli-cação dos Programas de Estudosestão à disposição dos interes-sados, tais como as técnicas deensino, recursos didáticos e plane-jamento do ensino, em modernaapresentação gráfica.

ATIVIDADES EDITORIAIS

Difusão e defesa do Livro Espí-rita: O Presidente Juvanir enfati-zou a necessidade de divulgar obom livro espírita, combatendo-seo mau livro mediúnico ou deautores encarnados através doestudo da Doutrina e do esclare-cimento aos dirigentes e freqüen-tadores dos Centros Espíritas.Mencionou a defesa dos direitosautorais como forma de preserva-ção do patrimônio doutrinário efalou sobre a Associação de Edito-ras Espíritas, em fase de funda-ção, entre cujos objetivos está oprocedimento ético dos seus mem-bros na preservação dos direitosautorais e da pureza doutrinária,com base na Codificação Karde-

quiana. Referiu-se ao plano derenovação do parque gráfico daFEB, com a futura compra de umamáquina rotativa.

Revista REFORMADOR: O Vi-ce-Presidente Altivo Ferreira tececonsiderações sobre os critériosde editoração de REFORMADOR,que está a serviço da Doutrina edo Movimento Espírita, emboraseja, também, o órgão informativoda FEB na divulgação dos livrosde seu Departamento Editorial ede outras atividades. Apelou paraos representantes das Federativase das Entidades Especializadas nosentido de remeterem notícias deseus eventos e estimularem osCentros Espíritas a fazerem cam-panhas de assinatura de REFOR-MADOR.

COMISSÕES REGIONAIS

O Coordenador das ComissõesRegionais do CFN, Nestor JoãoMasotti, fez considerações sobreos trabalhos dessas Comissões einformou sobre o pedido de trans-ferência de região, do Norte para oNordeste, feito pelo Maranhão, oque foi aprovado. Em seqüencia,os Secretários das Regiões Norte(Alberto Ribeiro de Almeida), Nor-deste (Francisco Bispo dos Anjos),Centro (Umberto Ferreira) e Sul(Luiz Alberto Zanardi) apresenta-ram relatório sobre as atividadesdas respectivas Comissões nosanos de 1995 e 1996 e a progra-mação para 1997.

MOVIMENTO ESPÍRITAINTERNACIONAL

O Presidente Juvanir fez consi-derações sobre a fundação e ofuncionamento do Conselho Espíri-ta Internacional, enfocando a fide-lidade desse órgão à codificaçãoKardequiana em seu tríplice as-pecto. Disse da importância doEvangelho no trabalho espírita edo ressurgimento do MovimentoEspírita na Europa.

Nestor (Secretário-Geral daComissão Executiva do CEI) eAltivo(representante da FEB emBuenos Aires) relataram as ativi-dades desenvolvidas na 3ª Reu-nião Ordinária do Conselho Espí-rita Internacional, realizada de 3 a5 de outubro em Buenos Aires(Argentina), as quais estão publi-cadas em REFORMADOR de de-

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zembro de 1996, nas páginas 380a 383.

ATIVIDADES DASFEDERATIVAS E ENTIDADES

ESPECIALIZADAS

As Federativas Estaduais e asEntidades Especializadas de Âm-bito Nacional apresentaram relató-rios por escrito sobre as atividadesdesenvolvidas no período de no-vembro/94 a outubro/96, os quaisforam distribuídos à Presidência, àSecretaria e aos integrantes doCFN. Além disso, seus Represen-tantes informaram, em Plenário,as realizações mais significativasdo período em referência.

ASSUNTOS DIVERSOS

Entre outros assuntos da reu-nião destacam-se:

1. Atualização do Regimento In-terno do CFN: O Conselho apro-vou por unanimidade essa medidaproposta pela FEB. Foi designadauma Comissão formada por Már-cia Regina Pini de Souza (Rondô-nia - Região Norte), José Raimun-do de Lima (Paraíba - RegiãoNordeste), Marcelo Paes Barreto(Espírito Santo - Região Centro) eGerson Simões Monteiro (Rio deJaneiro - Região Sul), coordenadapelo Presidente do CFN, paraelaborar o anteprojeto de um novoRegimento Interno do ConselhoFederativo Nacional, que será en-caminhado à consideração do ci-tado Conselho em sua próximareunião de 1997. As Entidades queintegram o CFN deverão encami-nhar a essa Comissão, até 31 de

março deste ano, as sugestõesque consideraram oportunas.

2. Mensagens mediúnicas noinício dos trabalhos: José RaulTeixeira, presente no início daReunião, dia 8 pela manhã, psi-cografou durante os trabalhos umamensagem do Espírito SebastiãoAffonso de Leão e a poesia Rumoao Cristo, do Espírito SebastiãoLasneau, que serão publicadas emedições futuras de REFORMA-DOR.

3. Próxima Reunião do CFN:Dias 7, 8 e 9 de novembro de1997, na sede da FEB, em Brasília(DF).

ENCERRAMENTO

No encerramento da Reunião, oPresidente da Federação Espíritado Amapá, Luiz Gonzaga Pereirade Souza, proferiu palavras deagradecimento e despedida, emnome de todos os membros doCFN. O Presidente da FEB res-saltou o significado de mais aqueleencontro das representações doMovimento Espírita Brasileiro, on-de reinaram a paz e a operosidadefraterna. Convidado para transmitiro seu pensamento e fazer a precede encerramento, Divaldo PereiraFranco recebeu, por via psicofô-nica, a mensagem do Dr. Bezerrade Menezes, que publicamos nes-ta edição.

MUSEU DO ESPIRITISMONA FEB

No final da tarde de sábado, dia9, os participantes da Reunião doCFN assistiram à inauguração do

Museu do Espiritismo, organizadosob a orientação de Geraldo Cam-petti Sobrinho e instalado no ter-ceiro piso do novo prédio (em fasede acabamento). Documentos efotos históricos, livros e peças ra-ras, móveis que pertenceram aBezerra de Menezes e Wantuil deFreitas são alguns dos compo-nentes do seu acervo.

Em singela mas comovente so-lenidade, o Presidente Juvanir de-clarou inaugurado o Museu e as-sinou o Livro de Presença, querecebeu, também, as assinaturasdas demais pessoas ali presentes.

A FEB apela para as Institui-ções Espíritas e os espíritas emgeral no sentido de ofertarem aoMuseu livros, documentos e obje-tos raros, que venham enriquecero seu acervo.

PALESTRAS

Foram realizadas, como ativi-dade doutrinária complementar àReunião do CFN, as seguintespalestras:

Dia 8 - Sexta-feira, às 20h30min: José Raul Teixeira, noSalão de Conferências (Cenáculo),para o público em geral.

Dia 9 - Sábado, às 20h30min:Divaldo Pereira Franco, no auditó-rio do Prédio Unificação, para opúblico interno (membros do CFNe os colaboradores da FEB).

Dia 10 - Domingo, às 16h: Di-valdo Pereira Franco, no Salão deConferências (Cenáculo), para opúblico em geral.

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SEAREIROS QUE RETORNARAM À PÁTRIA ESPIRITUALCENYRA DE OLIVEIRA PINTO

Desencarnou Cenyra de OliveiraPinto. Era conhecida de todo Mo -vimento Espírita principalmente pelaautoria de músicas espíritas, entreelas “Quanta Luz”, e pelos livros queescreveu. Nasceu na cidade de SãoFidélis, RJ, e era filha de BenedictoPereira de Oliveira e Emília Pereira deOliveira. Casou-se com José Pinto edesde cedo manifestou suas tendên -cias para a literatura. “Uma Voz noSilêncio”, “Levanta-te e Anda” (na 8ªedição), “Vem”, “Eu sou o Caminho”,“A Verdadeira Vida”, “Conversa com aVida” e “Momentos de Reflexão” sãoalguns de seus livros mais vendidos.

Na década de 40 sofreu uma sériede problemas físicos e após visitarvários médicos e não conseguirresultados satisfatórios foi aconse -lhada a visitar a “Congregação EspíritaFrancisco de Paula”. Os resultadosnão tardaram a surgir com suafrequência assídua às reuniões. Comseu dinamismo envolveu-se nas

atividades da Instituição e logo setornou uma de suas trabalhadoras.Em 1964, junto de um grupo deamigos, entre eles, Luiz AntonioMillecco, fundava o “Movimento Assis -tencial Rosa do Amor”, com o objetivode auxiliar mais de perto os grupossocialmente carentes. Além do aten -dimento individual, o “Movimento”auxiliou várias instituições como o“Centro Espírita Filhos de Deus”, naColônia de Curupaiti, na Colônia deItaboraí, ambas para hansenianos, a“Ação Cristã Vicente Moretti”, emBangu; e ainda o Hospital do Pênfigo,em Uberaba, MG.

Todos os trabalhos eram mantidoscom o auxílio de doações, venda delivros e ainda com a montagem depeças teatrais espíritas. Vale a penarecordar que “Nos Domínios daMente”, com 33 personagens, contoucom participação de bailarinos doTeatro Municipal do Rio de Janeiro,merecendo crítica favorável de toda a

imprensa e de atores, como JardelFilho.

Quando completou 80 anos deidade declarou à imprensa espírita: -”Para mim é como se estivesse comvinte anos! A velhice não me assusta.Dou meu tempo em trabalho, pen -sando na felicidade de meus irmãosem humanidade. Não me preocupocom a idade. Interesso-me pela vida;sou alegre e agradeço ao Pai Celestialde todo o meu coração e de toda aminha alma. Tenho em Jesus meuMestre e sou grata a Deus por con -servar-me a saúde, a disposição e alucidez da mente. Sou feliz!”

Cenyra de Oliveira Pinto nasceu nodia 25 de novembro de 1904 e suadesencarnação ocorreu no dia 14 desetembro de 1996, no Rio de Janeiro.

Transcrito do SEI, nº 1489, de12-10-96)

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m Assembléia Geral reali-zada no dia 30 de no-vembro de 1996, na sede

do Instituto de Difusão Espírita,em Araras (SP), foi fundada aAssociação de Editoras Espíri-tas, cujas finalidades principaissão:

I ---- Promover e divulgar oLivro Espírita, CD-Rom, video-cassete e outras obras espíritasdessa natureza, dentro dos prin-cípios da Doutrina Espírita codi-ficada por Allan Kardec;

II ---- incentivar e apoiar, portodos os meios idôneos, a ex-pansão dos locais de divulgaçãodo Livro Espírita, CD-Rom, vi-deocassete e outras obras espíri-tas dessa natureza, dentro e forado Movimento Espírita, no paíse no exterior;

III ---- defender os princípiosda ética e o respeito aos direitosautorais das suas associadas, naedição, produção, distribuição edivulgação do Livro Espírita,CD-Rom, videocassete e outrasobras espíritas dessa natureza,no país e no exterior, em juízo efora dele, desde que solicitada.

Participaram da Assembléia,como fundadoras da Associa-ção, através dos seus represen-tantes, as seguintes Editoras:Instituto de Difusão Espírita ----Salvador Gentile, Wilson Frun

gilo Júnior e Hércio MarcosCintra Arantes; Federação Espí-rita Brasileira ---- Juvanir Bor-ges de Souza, Altivo Ferreira ePaulo Roberto Pereira da Costa;Folha Espírita Editora Jornalís-tica Ltda ---- Paulo Rossi Se-verino e Luís Carlos Gomes dosSantos; União das SociedadesEspíritas do Estado de São Pau-lo ---- Attílio Campanini e Amé-lio Fabrão Fabbro Filho; Comu-nhão Espírita Cristã ---- AntônioBorges da Silva; Lar EscolaCairbar Schutel (Editora Alvora-da Nova) ---- Abel Glaser, LuizEduardo Almeida Barbosa eHaércio Suguimoto; e CentroEspírita Amantes da Pobreza(Casa Editora O Clarim) ----Carlos Vital Olson, AparecidoOnofre Belvedere, Eliseu Flo-rentino da Mota Júnior (que pre-sidiu a Assembléia) e LaudicéaTereza Torquato Lucca Belve-dere. Participaram das reuniõespreparatórias, tendo justificado aausência na Assembléia de fun-dação, as editoras: Centro Espí-rita União (CEU), Instituto deDivulgação Editora André Luiz(IDEAL) e o Grupo EspíritaEmmanuel S/C Editora (GEEM). Foram eleitos e empossa-dos os componentes dos órgãosde administração da Associação:

Conselho Deliberativo ----Presidente: Paulo Roberto Pe-reira da Costa (FEB); Vice-Presidente: Paulo Rossi Seve-rino (Folha Espírita); AmélioFabrão Fabbro Filho (USE);Antônio Borges da Silva (CEC);Luiz Eduardo Almeida VieiraBarbosa (L.E.C. Schutel). Dire-toria Executiva ---- Presidente:Salvador Gentile (IDE); WilsonFrungilo Júnior (IDE); Secre-tário: Eliseu Florentino da MotaJúnior (Casa Editora O Clarim);Tesoureiro: Aparecido OnofreBelvedere (C.E. O Clarim);Conselho Fiscal ---- Titulares:Luiz Eduardo Almeida VieiraBarbosa (L.E.C. Schutel), AltivoFerreira (FEB) e Attílio Campa-nini (USE); Suplentes: HaércioSuguimoto (L.E.C. Schutel),Nestor João Masotti (FEB) eLuís Carlos Gomes dos Santos(Folha Espírita). Espera-se queoutras Editoras venham integrar-se à Associação de EditorasEspíritas. As interessadas deve-rão dirigir-se à sede da Entidade,no endereço do IDE: Av. OttoBarreto, 1067 ---- Caixa Postal,110 ---- Telefo-ne (0195) 41-0077 e Fax (0195) 41-0966 ----CEP 13600-970 ---- Araras(SP).

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Fundada a Associação de Editoras Espíritas

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SEARA ESPÍRITAFATOS EM NOTÍCIA

UNICAMP: III SEMANA ESPÍRITA

O Grupo de Estudos Espíritas daUNICAMP (Universidade de Campinas) rea -lizou sua III Semana Espírita, no período de11 a 14 de novembro do ano passado,através de um Ciclo de Palestras com osseguintes temas e expositores: “Aspectosda reencarnação” - Cyro José Fumagalli(USE-Campinas); “A ciência espírita” -Silvio Seno Chibeni (UNICAMP); “A famíliaem nossos dias” - Antonio Cesar Perri deCarvalho (UNESP-Araçatuba); e “Jesus e oEspiritismo” - Márcio Roberto Silva Correa(USP-São Carlos).

MONTE ALTO (SP): LIVRO ESPÍRITA GANHAESPAÇO EM PRAÇA PÚBLICA

Através de lei aprovada pela CâmaraMunicipal de Monte Alto e sancionada peloPrefeito, foi concedido à União Espírita deMonte Alto o espaço junto à Praça Dr. LuizZacharias de Lima, durante o mês dedezembro de cada ano, para a realização daFeira do Livro Espírita, já tradicional há 15anos.

ALAGOAS: ENCONTRO DE JOVENSESPÍRITAS

A Federação Espírita do Estado de Ala -goas estará promovendo de 23 a 26 docorrente mês, no Lar São Domingos, bairrode Mangabeira, o Décimo Terceiro Encontrode Jovens Espíritas do Estado de Alagoas(XIII EJEEAL), tendo como tema central: “OSer perante a Consciência”.

ALEMANHA: ENCONTRO FRATERNO DASCASAS ESPÍRITAS

Sob o patrocínio do Grupo Berlinense deEstudos e Divulgação da Doutrina Espírita,realizou-se em Berlim o Primeiro EncontroFraterno das Casas Espíritas da Alemanha,nos dias 14 e 15 de setembro de 1996, com aparticipação de três grupos espíritas, diante daimpossibilidade de outros comparecerem.Foram tratados através de diálogos, troca deexperiências e estudo em grupo os seguintesassuntos: Movimento Espírita, A Casa Espírita,Divulgação Espírita e Estruturação do Movi-mento Espírita. Foram utilizados textos dasapostilas do Estudo Sistematizado da DoutrinaEspírita e da Revista REFORMADOR, ambasda FEB, transcritos no folheto que divulgou aProgramação do Encontro.

ICEB COMEMORA ANIVERSÁRIO

O Instituto de Cultura Espírita do Brasil,que, passa por uma fase de estruturação edinamismo, comemorou no dia 7 dedezembro último, na sede da Rua dosInválidos, 182, Rio de Janeiro, o seu 39ºaniversário em reunião solene de encer -ramento da sua programação anual.

PORTO RICO: CONGRESSO ESPÍRITA

Será promovido pela Escola de ConselhoMoral de Porto Rico (P. O. Box 360592 - SanJuan de Porto Rico 00939-0592 Porto Rico), de27 de fevereiro a 2 de março, o CongressoEspírita de Porto Rico, com o objetivo deintensificar o estudo sistematizado da DoutrinaEspírita naquele país e contribuir para oMovimento da Unificação Espírita portorrique-nho. O tema central será: “Ante os Pequenos eGrandes Dilemas da Vida... O EspiritismoResponde!”. Telefone para informações: (787)751-4872.

PERNAMBUCO: ENCONTRO DE COMUNI-CADORES

A Federação Espírita Pernambucanapromoveu em sua sede, nos dias 9 e 10 denovembro do ano passado, o 2º EncontroEstadual de comunica-dores do Espiritismo.O tema central - “Identificação com osCanais de Comunicação para divulgar oEspiritismo” - foi amplamente debatidopelos comunicadores espíritas participan -tes do evento.

PARAÍBA: CURSOS PARA EVANGELIZA-DORES

A Federação Espírita Paraibana realizou emJoão Pessoa um curso de formação e outro dereciclagem para 120 evangelizadores da Infân-cia e da Juventude, com a participação doDepartamento de Infância e Juventude da FEB.

COLÔMBIA: ATIVIDADES DA CONFECOL

A Confederación Espiritista Colombianaelegeu e empossou sua nova Diretoria parao exercício 1996-97, com a seguinteconstituição: Presidente - Fábio VillarragaBenavides; Vice-Presidente - Álvaro VelezPareja; Secretária - Dolores A. de Moscoso;Tesoureiro - Arturo Moreno; Vogais - Ernes -to Carlos Martelo, José Ramiro Flórez M. eRuth Suárez. Entre as atividades já pro -gramadas destacam-se os preparativospara o 7º Congresso Espírita Colombiano,que se realizará na cidade de Santa Marta.

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