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DOM DA PALAVRA DE CIÊNCIA DDPC Diante do seu limitado conhecimento, o homem não é capaz de compreender perfeitamente o que acontece ao seu redor, com outras pessoas e consigo mesmo. Existem situações na sua vida e no mundo que escapam totalmente de seu domínio, da sua vontade e de seu entendimento racional. Por conta de tudo isto, por muitas vezes ter diante de suas mãos situações de difícil entendimento, e formar decisões impulsionando atitudes erradas. Deus que é onisciente, que conhece todas as coisas como elas devem ser conhecidas, por seu infinito amor e misericórdia, permite e deseja que o homem participe e desfrute de um fragmento da sua onisciência, concedido através do Dom Carismático de Ciência ou “Palavra de Ciência”. A Palavra de Ciência é o dom através do qual o Senhor faz com que o homem entenda as coisas da maneira como ele as entende. Faz que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, situação, estado de espírito. O dom de Ciência é um diagnóstico dado por Deus. Quando estamos com febre nos dirigimos ao médico para saber a causa, uma vez que a febre não é a doença propriamente dita, mas um sinal de que algo não vai bem. Através do dom de Ciência , Deus dá o diagnóstico de um fato, de uma situação, de um estado de espírito e do que Ele revelar. Por exemplo, quando alguém está deprimido, pensamos logo em resolver o problema da depressão, aliviando seus sintomas, porém não conseguimos conhecer rapidamente a causa da depressão. Através do Dom da Ciência , o Senhor nos revela a causa da depressão, sua raiz, com o objetivo de curar. Através desta sua manifestação de amor, leva-nos a amá-lo, entregando sua vida a Ele. O dom da Ciência refere-se sempre a uma revelação do passado remoto da vida de alguém, de um grupo, de uma comunidade, e pode vir como uma palavra, uma imagem (visão), uma seqüência de imagens, um sentimento , uma frase, um sonho. Revela uma obra que Deus quer, mas, precisa da colaboração da pessoa. O carisma da Palavra de Ciência está sempre a serviço de um outro: cura, palavra de sabedoria, da profecia. Deve ser exercido amplamente na oração comunitária, na intercessão com ou sem imposição de mãos; muitos pensam que como os crismas são dons para a edificação da Igreja, e quando se oram por alguém. Todos os carismas devem ser utilizados na oração pessoal, na vida do dia-a-dia, na oração comunitária e quando se ora por alguém. Podemos dizer então, que o Dom da Ciência, a Palavra de Ciência é conhecimento sobrenatural que se recebe, por meio da qual a inteligência do homem se ilumina pela ação do Espírito Santo. Todos os carismas devem ser utilizados na oração pessoal, na vida do dia-a-dia, na oração comunitária e quando se ora por alguém. A sigla DDPC ou ddpc significam dom da palavra de ciência. As demais siglas estão nas contracapas da Bíblia e se referem aos livros do NT e AT. Seus comentários são muito bem aceitos, pois nos ajudará a aperfeiçoar os outros dons citados por São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios (cap.12 vv.4-10), que estamos colocando no site para novas reflexões Boa leitura a todos. A Palavra de Ciência manifesta-se neste capítulo a Ezequiel através de uma visão do novo Templo e do novo estado judaico, levando-o a uma descrição de que o santuário e o culto divino centralizarão toda a vida nova da comunidade judaica.

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DOM DA PALAVRA DE CIÊNCIA

DDPC

Diante do seu limitado conhecimento, o homem não é capaz de compreender perfeitamente o que

acontece ao seu redor, com outras pessoas e consigo mesmo.

Existem situações na sua vida e no mundo que escapam totalmente de seu domínio, da sua vontade e de

seu entendimento racional.

Por conta de tudo isto, por muitas vezes ter diante de suas mãos situações de difícil entendimento, e

formar decisões impulsionando atitudes erradas. Deus que é onisciente, que conhece todas as coisas como

elas devem ser conhecidas, por seu infinito amor e misericórdia, permite e deseja que o homem participe

e desfrute de um fragmento da sua onisciência, concedido através do Dom Carismático de Ciência ou

“Palavra de Ciência”.

A Palavra de Ciência é o dom através do qual o Senhor faz com que o homem entenda as coisas da

maneira como ele as entende. Faz que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, situação,

estado de espírito.

O dom de Ciência é um diagnóstico dado por Deus.

Quando estamos com febre nos dirigimos ao médico para saber a causa, uma vez que a febre não é a

doença propriamente dita, mas um sinal de que algo não vai bem.

Através do dom de Ciência, Deus dá o diagnóstico de um fato, de uma situação, de um estado de espírito

e do que Ele revelar.

Por exemplo, quando alguém está deprimido, pensamos logo em resolver o problema da depressão,

aliviando seus sintomas, porém não conseguimos conhecer rapidamente a causa da depressão.

Através do Dom da Ciência, o Senhor nos revela a causa da depressão, sua raiz, com o objetivo de curar.

Através desta sua manifestação de amor, leva-nos a amá-lo, entregando sua vida a Ele.

O dom da Ciência refere-se sempre a uma revelação do passado remoto da vida de alguém, de um grupo,

de uma comunidade, e pode vir como uma palavra, uma imagem (visão), uma seqüência de imagens, um

sentimento , uma frase, um sonho.

Revela uma obra que Deus quer, mas, precisa da colaboração da pessoa. O carisma da Palavra de Ciência

está sempre a serviço de um outro: cura, palavra de sabedoria, da profecia.

Deve ser exercido amplamente na oração comunitária, na intercessão com ou sem imposição de mãos;

muitos pensam que como os crismas são dons para a edificação da Igreja, e quando se oram por alguém.

Todos os carismas devem ser utilizados na oração pessoal, na vida do dia-a-dia, na oração comunitária e

quando se ora por alguém.

Podemos dizer então, que o Dom da Ciência, a Palavra de Ciência é conhecimento sobrenatural que se

recebe, por meio da qual a inteligência do homem se ilumina pela ação do Espírito Santo.

Todos os carismas devem ser utilizados na oração pessoal, na vida do dia-a-dia, na oração comunitária e

quando se ora por alguém.

A sigla DDPC ou ddpc significam – dom da palavra de ciência. As demais siglas estão nas contracapas da

Bíblia e se referem aos livros do NT e AT.

Seus comentários são muito bem aceitos, pois nos ajudará a aperfeiçoar os outros dons citados por São

Paulo na sua primeira carta aos Coríntios (cap.12 vv.4-10), que estamos colocando no site para novas

reflexões

Boa leitura a todos.

A Palavra de Ciência manifesta-se neste capítulo a Ezequiel através de uma visão do novo Templo e do

novo estado judaico, levando-o a uma descrição de que o santuário e o culto divino centralizarão toda a

vida nova da comunidade judaica.

Ez. 47,1-9.12- DDPC p.1184- 1.Conduziu-me então à entrada do templo. Eis que águas jorravam de sob o limiar do edifício, em direção ao oriente (porque a

fachada do templo olhava para o oriente). Essa água escorria por baixo do lado direito do templo, ao sul do altar.

2.Fez-me sair pela porta do norte e contornar o templo do lado de fora até o pórtico exterior oriental; eu vi a água brotar do

lado sul.

3.O homem foi para o oriente com uma corda na mão: mediu mil côvados; a seguir fez-me passar na água, que me chegou até

os tornozelos. Mediu ainda mil côvados e me fez atravessar a água, que me subiu até os joelhos.

4.Mediu de novo mil côvados e fez-me atravessar a água, que me subiu até os quadris.

5.Mediu, enfim, mil côvados; e era uma torrente que eu não podia atravessar, de tal modo as águas tinham crescido! E era

preciso nadar, era um curso de água que não se podia passar (a vau).

6.Viste, filho do homem? - falou-me, e me levou ao outro lado da torrente.

7.Ora, retornando, avistei nas duas margens da torrente uma grande quantidade de árvores.

8.Essas águas, disse-me ele, dirigem-se para a parte oriental, elas descem à planície do Jordão; elas se lançarão no mar, de

sorte que suas águas se tornarão mais saudáveis.

9.Em toda parte aonde chegar a corrente, todo animal que se move na água poderá viver, e haverá lá grande quantidade de

peixes. Tudo o que essa água atingir se tornará são e saudável e em toda parte aonde chegar a torrente haverá vida

12.Ao longo da torrente, em cada uma de suas margens, crescerão árvores frutíferas de toda espécie, e sua folhagem não

murchará, e não cessarão jamais de dar frutos: todos os meses frutos novos, porque essas águas vêm do santuário. Seus frutos

serão comestíveis e suas folhas servirão de remédio.

Comentário feito por :

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja

Sobre os mistérios, 24s (trad. breviário rev.)

«Queres ficar são?»

O paralítico da piscina de Betsaida esperava um homem [para ajudá-lo a descer à piscina]. Quem era esse

homem, a não ser o Senhor Jesus, nascido da Virgem? Com a Sua vinda, Ele não prefigurou apenas a cura

de algumas pessoas; Ele era a própria verdade que cura todos os homens. Por conseguinte, era Ele que se

esperava que descesse, Ele de Quem Deus Pai disse a João Baptista: «Aquele sobre Quem vires o Espírito

descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo» (Jo 1, 33). [...] Então, por que desceu o Espírito

como uma pomba, se não para que tu a visses e reconhecesses que a pomba enviada da arca por Noé, o

justo, era uma imagem desta outra pomba, de modo a que nela reconhecesses a prefiguração do

sacramento do Batismo? Podes estar ainda na dúvida, quando o Pai proclama para ti de maneira

indubitável no Evangelho: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o Meu agrado» (Mt.3, 17);

quando o Filho o proclama, Ele sobre Quem o Espírito Santo se manifestou sob forma de pomba; quando

o Espírito Santo também o proclama, Ele que desceu sob forma de pomba; quando David o proclama: «A

voz do Senhor ressoa sobre as águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a

vastidão das águas» (Sl 28, 3)? A Escritura atesta também que, às preces de Gedeão, o fogo desceu do

céu; e que, à prece de Elias, o fogo foi enviado para consagrar o sacrifício (Jz. 6, 21; 1R 18, 38).

Não consideres o mérito pessoal dos sacerdotes, mas a sua função [...]. Por conseguinte, acredita que o

Senhor Jesus está lá, invocado pela oração dos sacerdotes, Ele que disse: «Pois, onde estiverem dois ou

três reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt.18, 20). Por maioria de razão, onde está a

Igreja, onde estão os mistérios, é lá que Ele se digna conceder-nos a Sua presença. Desceste ao batistério.

Recorda o que disseste: que crês no Pai, que crês no Filho, que crês no Espírito Santo. [...] Pelo mesmo

compromisso da tua palavra, quiseste crer no Filho da mesma maneira que crês no Pai, acreditar no

Espírito Santo da mesma maneira que crês no filho, apenas com a diferença que professas que é

necessário crer na cruz do único Senhor Jesus.

(Dn.7,9-10.13-14) - DDPC – p.1199 1.No primeiro ano do reinado de Baltazar, rei de Babilônia, Daniel, estando em seu leito, teve um sonho e visões surgiram em

seu espírito. Consignou por escrito esse sonho e a substância dos fatos.

9.Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve

eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas,com rodas de fogo ardente.

10.Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu

audiência e os livros foram abertos.

13.Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o

lado do ancião, diante de quem foi conduzido.

14.A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no.

Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído

Comentário feito por :

São Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego

Hino 2

«Os anjos nos céus vêem constantemente a face de Meu Pai» (Mt.18, 10)

Eu Te dou graças, porque me concedeste a vida,

e conhecer-Te e adorar-Te, meu Deus.

Porque «a vida, é conhecer-te, a Ti, único Deus verdadeiro» (Jo 17, 3),

criador e autor de tudo,

não gerado, não criado, sem princípio, único,

e Teu Filho, gerado de ti,

e o Espírito santíssimo, procedente de Ti,

a trina unidade digna de todo o louvor.

O que há nos anjos, nos arcanjos,

nas dominações, nos querubins e nos serafins

e em todos os outros exércitos celestes,

como glória ou como luz de imortalidade,

que alegria, que esplendor de vida imaterial,

senão a única luz da Santíssima Trindade?

Cita-me um ser incorporal ou corpóreo,

e encontrarás que foi Deus que tudo fez.

Se te falam de um ser qualquer, os do céu,

os da terra ou os dos abismos,

para esses também, para todos, não há senão uma única vida, uma glória,

um desejo e um reino,

uma única riqueza, alegria, coroa, vitória, paz,

ou qualquer outro brilho; e consiste isto:

no conhecimento do Princípio e da Causa

de onde tudo veio, onde tudo teve a sua origem.

Lá está quem mantém as coisas nas alturas e as coisas daqui de baixo,

Lá está quem põe ordem em todos os seres espirituais,

Lá está quem reina sobre todos os seres visíveis.

Eles cresceram em conhecimento e redobraram o temor

ao verem Satanás cair

e os seus companheiros arrebatados pela presunção.

Os que caíram esqueceram tudo isso,

escravos do seu orgulho;

enquanto que todos os que conservaram o conhecimento,

elevados pelo temor e pelo amor,

se uniram ao seu Senhor.

Assim, o reconhecimento do senhorio

produziu também o crescimento do seu amor

porque viram melhor e mais claramente

o brilho fulgurante da Trindade.

Há.2,14[pg.1261]:- “Porque a terra encher-se-á de conhecimento da glória do Senhor, como o fundo do

mar está coberto de águas”.

É o segundo carisma de ensino apresentado por S.Paulo na 1ª. Carta aos Coríntios. Este dom também

age através do entendimento.O Espírito Santo inspira uma pessoa a entender uma verdade, a entender

coisas de maneira como Deus a entende, para depois falar sobre isto. A Palavra de Ciência é o que

chamamos de ensino doutrinal. É o Espírito Santo inspirando alguém a expressar com inteligência

uma verdade do mistério de Cristo (conf. Ef.1,1) ou do Pai (conf. Lc.10,21) .

(Mq.5,1-4) - p.1252 – DDPC

1.Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel.

Suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado.

2.Por isso, (Deus) os deixará, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará

para junto dos filhos de Israel.

3.Ele se levantará para (os) apascentar, com o poder do Senhor, com a majestade do nome do Senhor, seu Deus. Os seus

viverão em segurança, porque ele será exaltado até os confins da terra.

4.E assim será a paz.

Comentário feito por:

São Nicolau Cabasilas (c. 1320-1363), teólogo leigo grego

Homilia para a Natividade da Mãe de Deus, 16, 18

«Eis que faço novas todas as coisas»

Quando chegou para a natureza humana o momento de se encontrar com a natureza divina e de ficar

unida a ela tão intimamente que as duas não formassem senão uma só pessoa, cada uma delas devia

necessariamente ter-se manifestado já na sua integridade. No que toca a Deus, Ele tinha-se revelado da

maneira que convinha a Deus; a Virgem é aquela que dá à luz a natureza humana... Até parece que, se

Deus se misturou com a natureza humana não na sua origem mas, no fim dos tempos (Ga.4,4), foi porque,

antes desse momento, esta natureza ainda não tinha plenamente nascido, ao passo que agora, em Maria,

ela aparece pela primeira vez na sua integridade...

É tudo isto que viemos celebrar hoje, com todo o seu brilho. O dia do nascimento da Virgem é também o

do nascimento da humanidade inteira, porque esse dia viu nascer o primeiro ser plenamente humano.

Agora, "a terra" verdadeiramente "deu o seu fruto" (Sl 66,7), esta terra que, desde sempre, entre silvas e

espinhos, apenas tinha produzido a corrupção do pecado (Gn 3,18). Agora o céu sabe que não foi criado

em vão, uma vez que a humanidade, para a qual foi construído, vê a luz do dia...

É por isso que toda a criação faz subir até à Virgem um louvor sem fim, que todas as línguas cantam a sua

glória em uníssono, que todos os homens e todos os coros dos anjos não cessam de compor hinos à Mãe

de Deus. Também nós a cantamos e lhe oferecemos todos juntos o nosso louvor... Só a ti, Virgem digna

de todo o louvor, assim com ao teu amor pelos homens, cabe apreciar o benefício da graça obtida não por

nós mas, pela tua generosidade. Escolhida como dom oferecido a Deus entre toda a nossa raça, revestiste

de beleza o resto da humanidade. Santifica, pois, o nosso coração que concebeu as palavras que te

dirigimos e impede o terreno da nossa alma de produzir qualquer mal, pela graça e bondade de teu Filho

único, Senhor nosso Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo.

(Mt.1,16-18-21.24) –pg.1385 – Prólogo – Nascimento de Jesus – DDPC

16.Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.

17.Portanto, as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze. Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E,

depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações. Nascimento de Jesus

18.Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela

concebeu por virtude do Espírito Santo.

19.José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.

20.Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não

temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.

21.Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.

24.Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.

25.E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus.

Comentário feito por:

Leão XIII, papa de 1878 a 1903

Quanquam pluries

S. José, santo patrono da Igreja

José era o guarda, o administrador e o defensor legítimo e natural da casa divina de que era o chefe.

Exerceu esses cargos durante a sua vida mortal. Aplicou-se a proteger com um amor soberano e uma

solicitude quotidiana a sua Esposa e o divino Filho; ganhou dia a dia, com o seu trabalho, o que era

necessário a um e a outro, para o alimento e para o vestuário; preservou da morte o Menino ameaçado

pelo ciúme de um rei...; nas dificuldades da viagem e nas amarguras do exílio, foi constantemente o

companheiro, o auxílio e o sustentáculo da Virgem e de Jesus.

Ora a divina casa que José governou com autoridade de pai continha as primícias da Igreja nascente. Tal

como a Virgem santíssima é a mãe de Jesus, também ela é mãe de todos os cristãos que gerou no

Calvário, no meio dos sofrimentos supremos do redentor; Jesus Cristo é também o primogênito dos

cristãos que são seus irmãos, pela adoção e pela redenção (Rm.8,29).

Tais são as razões pelas quais o bem-aventurado patriarca S. José considera como sendo-lhe

particularmente confiada a multidão dos cristãos que compõem a Igreja, isto é, essa imensa família

espalhada por toda a terra, sobre a qual ele detém como que uma autoridade paternal, uma vez que é o

esposo de Maria e o pai de Jesus Cristo. É, portanto, natural e muito digno do bem-aventurado S. José

que, tal como provia outrora a todas as necessidades de família de Nazaré e santamente a envolvia com a

sua proteção, cubra agora com o seu patrocínio celeste a Igreja de Jesus Cristo e a defenda.

(Mt.1,1-16;18-23)-p.1285 – Prólogo –Nascimento de Jesus – DDPC 1.Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.

2.Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos.

3.Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão.

4.Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon.

5.Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.

6.O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias.

7.Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa.

8.Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias.

9.Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias.

10.Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias.

11.Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de Babilônia.

12.E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zorobabel.

13.Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou Azor.

14.Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud.

15.Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó.

16.Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.

18.Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela

concebeu por virtude do Espírito Santo.

19.José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.

20.Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas

receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.

21.Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.

22.Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:

23.Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco.

Comentário feito por:

Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense

II Sermão para a Natividade de Maria

“Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo” – (v.16)

(Mt.1,1-16.18-23) – p.1285 - DDPC

São Nicolau Cabasilas (c. 1320-1363), teólogo leigo grego

Homilia para a Natividade da Mãe de Deus, 16, 18

«Eis que faço novas todas as coisas»

Quando chegou para a natureza humana o momento de se encontrar com a natureza divina e de ficar

unida a ela tão intimamente que as duas não formassem senão uma só pessoa, cada uma delas devia

necessariamente ter-se manifestado já na sua integridade. No que toca a Deus, Ele tinha-se revelado da

maneira que convinha a Deus; a Virgem é aquela que dá à luz a natureza humana... Até parece que, se

Deus se misturou com a natureza humana não na sua origem mas, no fim dos tempos (Ga.4,4), foi porque,

antes desse momento, esta natureza ainda não tinha plenamente nascido, ao passo que agora, em Maria,

ela aparece pela primeira vez na sua integridade...

É tudo isto que viemos celebrar hoje, com todo o seu brilho. O dia do nascimento da Virgem é também o

do nascimento da humanidade inteira, porque esse dia viu nascer o primeiro ser plenamente humano.

Agora, "a terra" verdadeiramente "deu o seu fruto" (Sl 66,7), esta terra que, desde sempre, entre silvas e

espinhos, apenas tinha produzido a corrupção do pecado (Gn 3,18). Agora o céu sabe que não foi criado

em vão, uma vez que a humanidade, para a qual foi construido, vê a luz do dia...

É por isso que toda a criação faz subir até à Virgem um louvor sem fim, que todas as línguas cantam a

sua glória em uníssono, que todos os homens e todos os coros dos anjos não cessam de compor hinos à

Mãe de Deus. Também nós a cantamos e lhe oferecemos todos juntos o nosso louvor... Só a ti, Virgem

digna de todo o louvor, assim com ao teu amor pelos homens, cabe apreciar o benefício da graça obtida

não por nós mas, pela tua generosidade. Escolhida como dom oferecido a Deus entre toda a nossa raça,

revestiste de beleza o resto da humanidade. Santifica, pois, o nosso coração que concebeu as palavras que

te dirigimos e impede o terreno da nossa alma de produzir qualquer mal, pela graça e bondade de teu

Filho único, Senhor nosso Deus e nosso Salvador, Jesus Cristo.

Mt. (1,1-17) – pg.1285 – DDPC 1.Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.

2.Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos.

3.Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão.

4.Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon.

5.Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.

6.O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias.

7.Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa.

8.Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias.

9.Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias.

10.Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias.

11.Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de Babilônia.

12.E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zorobabel.

13.Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou Azor.

14.Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud.

15.Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó.

16.Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.

17.Portanto, as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze. Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E,

depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações. Nascimento de Jesus

Comentário feito por:

Concile Vatican II

Constituição Dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», 55

"Maria, da qual nasceu Jesus..." – (v.16)

A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo

progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na

economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai

preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na

Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura

duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa

da vitória sobre a serpente (cfr. Gn.3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a

Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Mq.5, 2-3; Mt.

1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a

salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se

cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a

natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena

Mt. (1,1-17) – p.1285 - DDPC

Comentário feito por:

Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino

De Divinis Officiis, 3, 18 (trad. de Lubac, Catholicisme, p. 333)

"Na tua posteridade serão abençoadas todas as nações da Terra" (Gn 28,14)

Em São Mateus lemos a genealogia de Cristo. Este costume tradicional da Santa Igreja tem bons e

misteriosos motivos. Verdadeiramente este texto apresenta-nos a escada que Jacob viu de noite, durante o

seu sono (Gn. 28,11s). Apoiado no alto dessa escada, que tocava os céus, o Senhor apareceu a Jacob e

prometeu-lhe a herança da terra. Ora, sabemos que «a sua vinda é-nos apresentada de forma simbólica»

(1Co 10,11). Então o que prefigura essa escada, senão a linhagem da qual Jesus deveria nascer, linhagem

que o santo evangelista, com um sopro divino, faz subir, de maneira que chegasse a Jesus passando por

José? E a este José o Senhor confiou o Menino. Pela «Porta do Céu» (Gn.28,17), quer dizer, pela bem-

aventurada Virgem, sai Nosso senhor a chorar, feito criança por nós. [...] No seu sono, Jacob ouviu que o

Senhor lhe dizia: «Na tua posteridade serão abençoadas todas as nações da terra», e este fato realizou-se

com o nascimento de Cristo.

Era o que o evangelista tinha em vista quando, na genealogia de Jesus, inseriu Rahab, a prostituta, e Rute,

a moabita; porque efetivamente viu que Cristo não encarnou apenas para os judeus, mas também para os

pagãos, Ele que Se dignou receber os anciãos consagrados entre os pagãos. Por conseguinte, vindos dos

dois povos, judeus e pagãos, como os dois lados da escada, os anciãos colocados em diferentes degraus

recebem Cristo Senhor que desce do alto dos céus. E todos os santos anjos descem e sobem por esta

escada, por onde os eleitos são descidos, para receberem humildemente a fé na encarnação do Senhor,

sendo depois elevados a fim de contemplarem a glória da Sua divindade.

Comentário feito por :

Concílio Vaticano II

Constituição dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», § 55

«Maria, da qual nasceu Jesus»

A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo

progressivamente mais claro, e como que nos põem diante dos olhos, o papel da Mãe do Salvador na

economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai

preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na

Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura

duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa

da vitória sobre a serpente (cf. Gn.3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a

Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emanuel (cf. Is.7, 14; cf. Mq. 5,2-3; Mt.1,2-

23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação

de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os

tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza

humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena.

Mt.(1,18-24) – pg.1285 - DDPC

18.Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela

concebeu por virtude do Espírito Santo.

19.José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.

20.Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas

receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.

21.Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.

22.Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:

23.Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco.

24.Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.

Comentário feito por:

Papa Bento XVI

(copyright trad. © L'Osservatore Romano)

São José, modelo de escuta

O silêncio de São José é um silêncio pleno de contemplação do mistério de Deus, numa atitude de

disponibilidade total à vontade divina. Por outras palavras, o silêncio de São José não revela um vazio

interior, pelo contrário revela a plenitude da fé que transporta no seu coração e que guia cada um dos

seus pensamentos e cada uma das suas ações. Um silêncio que leva José, em união com Maria, a guardar

a Palavra de Deus conhecida através das Sagradas Escrituras, confrontando-o permanentemente com a

vida de Jesus; um silêncio tecido na oração constante, oração de louvor ao Senhor, de adoração da Sua

Vontade e de confiança sem reservas na providência.

Deixemo-nos «contaminar» pelo silêncio de S. José! Precisamos tanto, neste mundo tantas vezes

demasiado barulhento, que não favorece o recolhimento e a escuta da voz de Deus. Neste tempo de

preparação do Natal, cultivemos o recolhimento interior para acolhermos e conservarmos Jesus nas

nossas vidas.

Comentário feito por:

Aelrede de Rielvaux (1110-1167), monge de Cister

Sermão para a Anunciação

“Chamar-se-á Emanuel”- (v.23)

«Emanuel, que se traduz ‘Deus conosco’». Sim, Deus conosco! Até então, ele era «Deus acima de nós»,

«Deus frente a nós», mas agora é «Emanuel». Hoje ele é Deus conosco na nossa natureza, conosco na sua

graça; conosco na nossa fraqueza, conosco na sua bondade; conosco na nossa miséria, conosco na sua

misericórdia; conosco por amor, conosco pelo laço de família, conosco pela ternura, conosco pela

compaixão…

Deus conosco! Vós, os filhos de Adão, não pudestes subir ao céu para estar com Deus; Deus desce do céu

para ser Emanuel, Deus conosco. Ele vem até nós para ser Emanuel, Deus conosco, e nós, nós

negligenciamos vir a Deus para estar nele! «Ó homens, até quando transformais a minha honra em

desonra? Porque amais as vaidades e buscais a mentira?» (Sl 4,3) Aqui está a verdade que veio; «porquê

amar o nada e procurar a mentira?» Aqui está o Emanuel, eis aqui Deus conosco.

Como poderia ele estar mais comigo? Pequeno como eu, fraco como eu, nu como eu, pobre como eu em

tudo, ele veio semelhante a mim, tomando o que é meu e dando o que é seu. Eu jazia morto, sem voz, sem

sentido; a própria luz dos meus olhos não estava mais comigo. Ele desceu hoje, este homem tão grande,

«este profeta com poder em obras e em parábolas» (Lc 24,19). «Ele pousou o seu rosto sobre o meu rosto,

a sua boca sobre a minha boca, as suas mãos sobre as minhas mãos» (2R 4,34) e fez-se Emanuel, Deus

conosco!

Mt.(1,18-24)- 1285 - DDPC

Comentário feito por:

João Paulo II

Redemptoris custos, §4

"Quando José acordou, fez o que o Anjo do Senhor lhe tinha prescrito"- (v.24)

Ao iniciar a sua peregrinação, a fé de Maria encontra-se com a fé de José. Se Isabel disse da Mãe do

Redentor: «Feliz daquela que acreditou», esta bem-aventurança pode, em certo sentido, ser referida

também a José, porque, de modo análogo, ele respondeu afirmativamente à Palavra de Deus, quando esta

lhe foi transmitida naquele momento decisivo. A bem da verdade, José não respondeu ao «anúncio» do

anjo como Maria; mas «fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu a sua esposa». Isto que ele fez

é puríssima «obediência da fé» (cf. Rom.1, 5; 16, 26; 2 Cor 10, 5-6).

Pode dizer-se que aquilo que José fez o uniu, de uma maneira absolutamente especial, à fé de Maria: ele

aceitou como verdade proveniente de Deus o que ela já tinha aceitado na Anunciação. O Concílio ensina:

«A Deus que revela é devida a "obediência da fé" (...); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a

Deus, prestando-lhe "o obséquio pleno da inteligência e da vontade" e dando voluntário assentimento à

sua revelação». A frase acabada de citar, que diz respeito à própria essência da fé, aplica-se perfeitamente

a José de Nazaré.

Ele tornou-se, portanto, um depositário singular do mistério «escondido desde todos os séculos em Deus»

(cf. Ef 3, 9), como se tornara Maria, naquele momento decisivo que é chamado pelo Apóstolo «plenitude

dos tempos», quando «Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher... para resgatar os que se encontravam

sob o jugo da lei e para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gl. 4, 4-5).

Deste mistério divino, juntamente com Maria, José é o primeiro depositário... Tendo diante dos olhos os

textos de ambos os Evangelistas, São Mateus e São Lucas, pode também dizer-se que José foi o primeiro

a participar na mesma fé da Mãe de Deus e que, procedendo deste modo, ele dá apoio à sua esposa na fé

na Anunciação divina. Ele é quem primeiro foi posto por Deus no caminho da «peregrinação da fé» de

Maria... A caminhada própria de José, a sua peregrinação da fé terminaria antes... E contudo, a caminhada

da fé de José seguiu a mesma direção.

Mt.1,18-25 [pg.1285] – “Nascimento de Jesus”. - DDPC

A Palavra de Ciência ou de conhecimento vem também através de um sonho, como no caso de José. Em

sonhos, o Espírito Santo revela a José o mistério da Encarnação. Ele próprio recebe a Palavra de Ciência e

através dela vê acontecer, em si próprio, mudança radical de mentalidade e do conhecimento de Deus.

Como percebemos por este exemplo bíblico, pela Palavra de Ciência, Deus revela e comunica o que já

houve, o que está acontecendo na história da salvação das pessoas e da humanidade.

Esta revelação acontece a uma pessoa para a sua vida pessoal, para a vida de outro irmão, para a vida de

um grupo. Deus se revela por palavras, sentimentos, sonhos, visões e outros, com o objetivo de curar e

salvar os homens.

- Assim nos diz a Igreja através da Constituição Dogmática Dei Verbum: “Pela revelação Divina, quis

Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de sua vontade acerca da Salvação

dos homens, a saber, para fazer participar os bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da

mente humana”.

25.E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus.

Comentário feito por:

S. Beda o Venerável (c. 673-735), monge, doutor da Igreja

Homilia 5

«Dar-lhe-ás o nome de Jesus»- (v.25)

Em hebreu «Jesus» significa «salvação» ou «Salvador», um nome que designava para os profetas uma

vocação muito determinada. Assim se compreendem estas palavras cantadas num grande desejo de o ver:

«A minha alma exultará no Senhor, e rejubilará na sua salvação, a minha alma consuma-se pela tua

salvação» (Sl 12,6; 34,9; 118,81). «Alegrar-me-ei no Senhor, exultarei em Deus meu Salvador»

(Hb.3,18). E, acima de tudo, «Salva-me ó Deus, por teu nome» (Sl 54,3). É como se disséssemos: «Tu

que te chamas Salvador, manifesta a glória do teu nome salvando-me». Portanto, o nome do filho que

nasceu da Virgem Maria é Jesus, segundo a explicação do anjo: «É ele que salva o seu povo dos seus

pecados»...

A palavra «Cristo», essa, designa a dignidade sacerdotal ou real. Com efeito, os padres e os reis eram

«crismados», ou seja ungidos dos óleos santos; por isso, eram sinais daquele que, aparecendo no mundo

como o verdadeiro rei, o grande pai, recebeu a unção do «óleo da alegria, primeiro do que aqueles que,

com ele, nisso participam» (Sl 44,8). É por causa desta unção que ele é chamado Cristo, e que aqueles que

tomam parte nesta mesma unção, a da graça espiritual, são chamados cristãos. Que pelo seu nome de

Salvador, Ele se digne salvar-nos dos nossos pecados! Que pela sua unção de grande pai, ele se digne

reconciliar-nos com Deus Pai. Que pela sua unção de rei, nos dê o reino eterno de seu Pai.

Mt. (2,1-12) – pg.1285/6 – DDPC – Adoração dos magos

1.Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.

2.Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.

3.A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.

4.Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.

5.Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:

6.E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará

Israel, meu povo(Miq 5,2).

7.Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.

8.E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me,

para que eu também vá adorá-lo.

9.Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar

sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.

10.A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

11.Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo

seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.

12.Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

1º sermão para a Epifania

«Caindo de joelhos, prostraram-se diante d’Ele» - (v.11)

O desígnio de Deus não foi apenas descer à terra, mas ser nela conhecido; não foi nascer, apenas, mas

dar-Se a conhecer. De fato, é com vista a esse conhecimento que celebramos a Epifania, esse grande dia

da Sua manifestação. Hoje mesmo, de fato, os magos vieram do Oriente em busca do nascer do Sol da

Justiça (Ml 3,20), esse de quem se diz: «Eis o homem, cujo nome é Oriente» (Za.6,12). Hoje adoraram o

menino nascido da Virgem, seguindo a direção traçada por uma nova estrela. Temos aqui, irmãos, um

grande motivo de alegria, como aliás também nas palavras do apóstolo Paulo: «A bondade de Deus nosso

Salvador e o seu amor pelos homens foram-nos manifestadas» (Tt 3,4).

Que fazeis, magos, que fazeis? Adorais um menino de colo, envolto em faixas miseráveis, num pobre

casebre? Será este, então, Deus? Mas «Deus mora no seu templo santo, o Senhor tem o seu trono nos

céus» (Sl 10,4), e vós, vós procurai-o assim, num qualquer estábulo, uma criança de colo? Que fazeis?

Porque ofereceis esse ouro? Será este o rei? Mas onde está a sua corte real, o seu trono, a multidão de

cortesãos? Acaso um estábulo é um palácio, acaso uma manjedoura é um trono, serão Maria e José

membros da sua corte? Como podem os homens ser tolos a ponto de adorar uma simples criança, um ser

assim desprezível, quer pela pouca idade, quer pela evidente pobreza de seus pais?

Loucos, sim, tornaram-se loucos, para serem sábios; o Espírito Santo ensinou-lhes primeiro o que o

apóstolo Paulo mais tarde proclamou: «Aquele que quer ser sábio, torne-se louco para ser sábio. Pois já

que o mundo, por meio da sua sabedoria, não conseguiu reconhecer Deus na sua Sabedoria divina,

aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação» (1 Co 1,21). Prostaram-se portanto diante

daquela humilde criança, prestando-Lhe homenagem como a um rei, adorando-O como um Deus. Aquele

que de longe os guiou através de uma estrela fez brilhar a Sua luz no mais profundo dos seus corações.

Mt.(2,13-15.19-23) – pg.1286 – DDPC

13.Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge

para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.

14.José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.

15.Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu

filho (Os 11,1).

19.Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse:

20.Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida

do menino.

21.José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel.

22.Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente

em sonhos, retirou-se para a província da Galiléia

23.e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será chamado Nazareno

Comentário feito por:

Jean Tauler (c. de 1300-1361), dominicano em Estrasburgo

Sermão nº 2, para a vigília da Epifania

"Levanta-te... porque morreram aqueles que atentavam contra a vida do Menino" – (v.20)

Quando José estava no exílio com o Menino e sua mãe, soube pelo anjo, durante o sono, que Herodes

tinha morrido; mas, ao ouvir dizer que o seu filho Arquelau reinava no país, continuou a ter grande receio

de que o Menino fosse morto. Herodes, que perseguia o Menino e o queria matar, é o mundo que, sem

dúvida alguma, mata o Menino, o mundo de onde é necessário fugir se se quer salvar o Menino. Mas,

uma vez que se fugiu exteriormente do mundo..., eis que Arquelau se levanta e reina: há ainda todo um

mundo em ti, um mundo do qual tu não triunfarás sem muita aplicação e sem o socorro de Deus.

Porque há três inimigos fortes e encarniçados a vencer em ti e é com dificuldade se alguma vez se triunfa

deles. Serás atacado pelo orgulho do espírito: queres ser visto, considerado, escutado... O segundo

inimigo é a tua própria carne que te provoca pela impureza corporal e espiritual... O terceiro inimigo é

aquele que te ataca, inspirando-te a malvadez, os pensamentos amargos, as suspeitas, os julgamentos

malévolos, a raiva e os desejos de vingança... Queres tornar-te cada vez mais querido de Deus? Deves

renunciar completamente a tais atitudes, porque tudo isso é Arquelau, o malvado. Receia e fica atento; na

verdade, ele quer matar o Menino...

José foi avisado pelo anjo e chamado a regressar ao país de Israel. Israel significa «terra da visão»; Egipto

quer dizer «trevas»... É durante o sono, é só num verdadeiro abandono e na verdadeira passividade que

receberás o convite para sair delas, tal como aconteceu a José... Podes então dirigir-te para a Galileia, que

quer dizer «passagem». Ali se está acima de todas as coisas, tudo se atravessou, e chegou-se a Nazaré, «a

verdadeira floração», o país onde desabrocham flores para a vida eterna. Ali se está certo de encontrar um

verdadeiro aperitivo da vida eterna; ali está toda a segurança, a paz inexprimível, a alegria e o repouso; ali

só chegam os que se abandonam, os que se submetem a Deus até que Ele os liberte e que não procuram

libertar-se a si mesmos pela violência. São esses os que alcançam essa paz, essa floração, Nazaré, e ali

encontram o que lhes dará a alegria eterna. Que isso seja a nossa partilha comum, que a isso nos ajude o

nosso Deus, digno de todo o amor!

.(Mt. 9,1-8) – pg.1293 – Cura de um paralítico – DDPC. 1.Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.

2.Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico:

"Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados."

3.Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema."

4.Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações?

5.Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?

6.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -

, toma a tua maca e volta para tua casa."

7.Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.

8.Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre o evangelho de Mateus

"Confiança, meu filho, os teus pecados estão perdoados" – (v.2)

Os judeus professavam que só Deus pode perdoar os pecados. Mas Jesus, mesmo antes de perdoar os

pecados, revelou os segredos dos corações, mostrando assim que possuía também esse outro poder

reservado a Deus. Porque está escrito: "Só tu, Senhor, conheces os segredos dos homens" (2Cr.6,30)...

Jesus revela pois a sua divindade e a sua igualdade ao Pai, mostrando aos escribas o fundo dos seus

corações, divulgando pensamentos que eles não ousam declarar abertamente por medo da multidão. E fá-

lo com muita doçura...

O paralítico teria podido manifestar a Cristo a sua decepção, dizendo-lhe: "Seja! Tu vieste para tratar

outra doença e curar outro mal, o pecado. Mas que prova tenho de que os meus pecados estão

perdoados?" Ora ele não diz nada disso, mas confia naquele que tem o poder de o curar...

Aos escribas, Cristo diz: "O que é mais fácil? Dizer: 'Os teus pecados estão perdoados' ou dizer 'Toma o

teu catre e vai para tua casa'?" Por outras palavras: Que é que vos parece mais fácil? Mostrar o poder

sobre um corpo inerte ou perdoar a uma alma as suas faltas? É evidentemente curar um corpo, porque o

perdão dos pecados ultrapassa essa cura, tanto quanto a alma é superior ao corpo. Mas, uma vez que uma

destas obras é visível e a outra não, vou cumprir também a obra que é visível e menor, para provar a outra

que é maior e invisível. Nesse momento, Jesus testemunha pelas suas obras que é "aquele que tira o

pecado do mundo" (Jo 1,29).

Comentário feito por:

Isaac de l’Étoile (? - c. 1171), monge cisterciense

Homilia 11

“Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” – (v.3)

Há duas coisas que apenas provêem de Deus: a honra de receber a confissão e o poder de perdoar.

Devemos confessar-nos a Ele, e esperar o seu perdão. Com efeito, somente a Deus pertence perdoar os

pecados; só a Ele, pois, devem ser confessados. Mas o Onipotente, o Altíssimo, tendo tomado uma esposa

fraca e insignificante, fez desta serva uma rainha, colocando a Seu lado a que estava ajoelhada a Seus pés;

pois foi do Seu lado que ela saiu, e foi desse modo que Ele a tomou como esposa (Gen 2, 22; Jo 19, 34).

E, da mesma maneira que tudo aquilo que pertence ao Filho pertence ao Pai, e tudo aquilo que pertence

ao Pai pertence ao Filho pela unidade de natureza que há entre os dois (Jo 17, 10), assim também o

Esposo deu todos os seus bens à esposa, e se encarregou de tudo o que pertence à esposa, que uniu a Si

mesmo e também a seu Pai. É por isso que o Esposo, que é um com o Pai e um com a esposa, retirou dela

tudo quanto nela encontrou de estranho, prendendo-lhe os pecados à madeira da cruz, e destruindo-os por

meio desse lenho. O que é natural e próprio da esposa, assumiu-o Ele, tomando-o para Si; aquilo que Lhe

é próprio e divino, deu-o Ele à esposa. […] Deste modo, partilha a fraqueza da esposa, bem como os seus

gemidos, sendo todas as coisas comuns ao Esposo e à esposa: a honra de receber a confissão e o poder de

perdoar. É essa a razão da ordem: “Vai mostrar-te ao sacerdote” (Mc 1, 44).

Comentário ao Evangelho do dia feito por

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

«A multidão ficou dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens» -

(v.8)

O paralítico, incurável, estava deitado no seu catre. Depois de ter esgotado a arte dos médicos, veio,

levado pelos seus, ter com o único médico verdadeiro, o médico que vem do céu. Mas, quando foi

colocado em frente Àquele que o podia curar, foi a fé dele que atraiu o olhar do Senhor. Para mostrar

claramente que esta fé destruía o pecado, Jesus declarou imediatamente: «Os teus pecados estão

perdoados». Dir-me-ão talvez: «Este homem queria a cura da sua doença, porque é que Cristo lhe anuncia

a remissão dos seus pecados?» Foi para aprenderes que Deus vê o coração do homem no silêncio e sem

ruído, que Ele contempla os caminhos de todos os viventes. A Escritura diz, com efeito: «O Senhor olha

atentamente para os caminhos do homem e observa os seus passos» (Pr.5, 21).

No entanto, quando Cristo disse: «Os teus pecados estão perdoados», deixou o campo livre à

incredulidade da assistência; o perdão dos pecados não se vê com os olhos da carne. Então, quando o

paralítico se levanta e anda, manifesta com evidência que Cristo possui o poder de Deus. Quem possui

este poder? Somente Ele ou também nós? Nós também, com Ele. Ele perdoa os pecados porque é o

homem-Deus, o Senhor da Lei. Quanto a nós, recebemos d'Ele esta graça admirável e maravilhosa,

porque Ele quis dar ao homem este poder. Com efeito, Ele disse aos Seus apóstolos: «Em verdade vos

digo: tudo o que desligardes na terra será desligado no céu» (Mt.18, 18). E ainda: «Aqueles a quem

perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados» (Jo 20, 23).

.Mt.(9,14-17) – pg.1293/4 – DDPC

14.Então os discípulos de João, dirigindo-se a ele, perguntaram: "Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não?"

15.Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será

tirado o esposo. Então eles jejuarão.

16.Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior.

17.Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se

perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.

Comentário feito por:

S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja

Sermão 1 para o primeiro dia da Quaresma, 1, 3, 6

“Então jejuarão” – (v.15)

Porque é que o jejum de Cristo não é vulgar entre os cristãos? Porque é que os membros não seguem a

Cabeça? (Cl.1,18). Se recebemos os bens desta Cabeça, não suportaremos os males? Queremos nós

rejeitar a sua tristeza e participar das suas alegrias? Se é assim, mostramo-nos indignos de fazer corpo

com esta Cabeça. Porque tudo o que ele sofreu, foi por nós. Se nos repugna colaborar na obra da nossa

salvação, em que é que mostraremos as suas ajudas? Jejuar com Cristo é pouca coisa para aquele que

deve sentar-se com ele à mesa do Pai. Feliz o membro que tiver aderido em tudo a esta Cabeça e a tiver

seguido por onde quer que ela tenha ido (Ap.14,4). Por outro lado, se ele vier a ser cortado e separado,

será imediatamente privado do sopro da vida…

Para mim, aderir completamente a ti é um bem, ó Cabeça gloriosa e bendita por todos os séculos, sobre a

qual os anjos também se inclinam com cobiça (1Pd.1,12). Eu seguir-te-ei por onde quer que fores. Se

passares pelo fogo, não me separarei de ti, e não temerei nenhum mal, porque tu estás comigo (Sl 22,4).

Tu carregas as minhas dores e sofres por mim. Tu, o primeiro, tu passaste pela estreita passagem do

sofrimento para abrires uma grande entrada aos membros que te seguem. Quem nos separará do amor de

Cristo? (Rm.8,35) … Este amor é o perfume que desce da cabeça sobre a barba, que desce também sobre

a gola da veste, para a olear até ao mais pequeno fio (Sl 132,2). Na Cabeça encontra-se a plenitude das

graças, e dela recebemos tudo. Na Cabeça está toda a misericórdia, na Cabeça o excesso dos perfumes

espirituais, como está escrito: “Deus te ungiu com o óleo da alegria” (Sl 44,8) …

E nós, o que é que o Evangelho nos pede no início desta Quaresma? “Tu, diz ele, quando jejuares,

perfuma a cabeça” (Mt.6,17).

.Mt.(9,14-17) – pg.1293/4 – DDPC – Junto com pecadores.Discussão sobre o jejum

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

Sermão 210

<<Então jejuarão» - (v.15)

«Dias virão em que o Esposo lhes será retirado; então jejuarão.» Pois que o Esposo nos foi retirado, é,

para nós, tempo de tristeza e de lágrimas.

Este Esposo «é mais belo que todos os filhos dos homens; a graça escorre nos seus lábios» (Sl 44,3) e

contudo na mão dos seus carrascos, perdeu todo o brilho, toda a beleza, e foi arrancado à terra dos vivos

(Is 53, 2-8). Ora o nosso luto é justo se ardemos de desejo de o ver. Felizes dos que, antes da Sua Paixão,

puderam gozar da Sua presença, interrogá-Lo como queriam e escutá-lo como se devia... Quanto a nós,

assistimos agora ao cumprimento daquilo que Ele disse: «dias virão em que desejareis apenas ver um dos

dias do Filho do Homem, mas não o vereis» (Luc 17,22)...

Quem não diria com o rei profeta: «As minhas lágrimas tornaram-se o meu alimento, dia e noite,

enquanto me diziam sem cessar: “onde está o teu Deus?"» (Sl 41,4). Cremos nele, sem dúvida, sentado já

à direita do Pai, mas enquanto estivermos neste corpo, estamos longe dele (2Co.5,6), e não podemos

mostrá-Lo àqueles que duvidam da sua existência e, mesmo quem a nega dizendo: «Onde está o teu

Deus?»...

« Um pouco mais de tempo ainda, dizia o Senhor aos Seus discípulos, e não me vereis mais» (Jo 16,19).

Agora é a hora acerca da qual Ele disse :«Vós estareis na tristeza, mas o mundo estará na alegria»... Mas,

acrescenta ele, «voltarei a ver-vos e o vosso coração alegrar-se-á, e ninguém vos retirará a vossa alegria»

(v. 20). A esperança que nos dá assim, Aquele que é fiel nas suas promessas não nos deixa, desde agora,

sem nenhuma alegria – até que venha a alegria superabundante do dia em que nos tornaremos

semelhantes a Ele, porque O veremos tal como é (1Jo.3,2)... «Uma mulher que vai dar à luz, diz Nosso

Senhor, sofre, porque chegou a sua hora, mas quando o filho nasce, experimenta uma grande alegria,

porque um ser humano veio ao mundo» (Jô.16,21). É esta alegria que ninguém poderá tirar-nos, e da qual

estaremos cheios, logo que passemos da concepção presente da fé à luz eterna. Jejuemos, pois, agora, e

rezemos, porque estamos ainda no dia do parto.

Mt.(9,14-15) – pg.1293 – DDPC – Junto com pecadores.Discussão sobre o jejum.

Comentário feito por:

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Sermão 81

“Então hão-de jejuar.” – (v.15)

Há três atos, meus irmãos, em que a fé se sustenta, a piedade consiste e a virtude se mantém: a oração, o

jejum e a misericórdia. A oração bate à porta, o jejum obtém, a misericórdia recebe. Oração, misericórdia

e jejum são uma só coisa, dando-se mutuamente a vida. Com efeito, o jejum é a alma da oração e a

misericórdia é a vida do jejum. Que ninguém os divida, pois não podem ser separados. Quem pratica

apenas um ou dois deles, esse nada tem. Assim, pois, aquele que reza tem de jejuar, e aquele que jejua

tem de ter piedade. Ele que escute, o homem que pede e que, ao pedir, deseja ser escutado; aquele que

não se recusa a ouvir os outros quando lhe pedem alguma coisa, esse se faz ouvir por Deus.

Aquele que pratica o jejum tem de compreender o jejum; isto é, tem de ter compaixão do homem que tem

fome, se quer que Deus tenha compaixão da sua própria fome. Aquele que espera obter misericórdia tem

de ter misericórdia; aquele que quer beneficiar da bondade tem de praticá-la; aquele que quer que lhe

dêem tem de dar. […] Sê pois a norma da misericórdia a teu respeito: se queres que tenham misericórdia

de ti de certa maneira, em certa medida, com tal prontidão, sê tu misericordioso com os outros com a

mesma prontidão, a mesma medida e da mesma maneira.

A oração, a misericórdia e o jejum devem, pois, constituir uma unidade, para nos recomendarem diante de

Deus, devem ser a nossa defesa, são uma oração a nosso favor com este triplo formato

Mt.9,18-26) – pg.1294 – A filha de Jairo – A mulher doente – DDPC 18.Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: Senhor, minha filha acaba

de morrer. Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.

19.Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.

20.Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do

manto.

21.Dizia consigo: Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei curada.

22.Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada

instantaneamente.

23.Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:

24.Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles, porém, zombavam dele.

25.Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se.

26.Esta notícia espalhou-se por toda a região.

Comentário feito por:

São Romano Músico (?-c. 560), compositor de hinos

Hino 23, sobre a hemorroísa

“Se ao menos tocar nas Suas vestes, ficarei curada” – (v.22).

Tal como a hemorroísa, também eu me prostro diante de Ti, Senhor, para que me livres do sofrimento e

me concedas o perdão dos meus pecados, a fim de que eu clame a Ti, de coração compungido: “Salvador,

salva-me!” Ela aproximou-se de Ti às escondidas, Salvador, porque Te tomava por um simples homem,

mas o fato de ter sido curada demonstrou-lhe que eras Deus e homem ao mesmo tempo. Em segredo,

tocou na orla do Teu manto, com o temor na alma […], dizendo para consigo: - Como poderei deixar-me

ver por Aquele que tudo observa, eu, que trago comigo a vergonha das minhas faltas? Se vir o fluxo de

sangue, Aquele que é Todo-puro afastar-Se-á de mim que sou impura e, se Ele se afastar de mim apesar

do meu grito – “Salvador, salva-me!” –, tal será mais terrível do que a minha chaga.

Ao ver-me, todos me empurram: “Onde vais? Tem consciência da tua vergonha, mulher, percebe quem

és, e de quem pretendes aproximar-te! Tu, a impura, aproximares-te do Todo-puro! Vai purificar-te e,

quando tiveres limpado a mancha que trazes contigo, poderás aproximar-te dele gritando: ‘Salvador,

salva-me!’”

- Procurais causar-me maior dor que o próprio mal de que padeço? Bem sei que Ele é puro e é

precisamente por isso que me dirijo a Ele, para ser libertada do opróbrio e da infâmia. Não me impeçais,

pois, de gritar: “Salvador, salva-me!”

A fonte derrama as suas vagas para todos: com que direito a cerrais? […] Sois testemunhas das curas que

Ele praticou. […] Todos os dias nos encoraja dizendo: - Vinde a Mim, todos os que estais cansados e

oprimidos e aliviar-vos-ei (Mt 11, 28). Ele gosta de conceder o dom da saúde a todos. Por que me tratais

com rudeza, impedindo-me de Lhe gritar: “Salvador, salva-me!”? Aquele que conhece todas as coisas

volta-se e pergunta aos seus discípulos: “Quem tocou nas minhas vestes?” (Mc 5, 30) […] Por que Me

dizes, Pedro, que a multidão me empurra? Eles não tocam a Minha divindade, mas esta mulher, ao tocar a

Minha veste invisível, tocou a Minha natureza divina e recuperou a saúde, gritando-Me: “Salvador, salva-

me!”

“Tem coragem, mulher. […] Desde agora, ficarás curada. […] Isto não é obra das Minhas mãos, mas da

tua fé. Pois muitos tocaram a orla das Minhas vestes sem obter a força, porque não vinham com fé. Tu

tocaste-Me cheia de fé e recuperaste a saúde. Foi por isso que te expus diante de todos, para que

dissesses: ‘Salvador, salva-me!’”

.Mt.(9,18-26) – pg.1294 – DDPC

Comentário feito por:

S. Clemente de Roma, papa de 90 a 100 aproximadamente

Carta aos Coríntios, § 24-29

“A menina não está morta: ela dorme” – (v.24)

Reparemos, meus bem-amados, como o Senhor não cessa de nos mostrar a ressurreição futura da qual ele

nos deu as primícias ressuscitando dos mortos o senhor Jesus Cristo. Consideremos, bem-amados, as

ressurreições que se cumprem periodicamente. O dia e a noite fazem-nos ver uma ressurreição. A noite

deita-se, o dia levanta-se; o dia desaparece, a noite surge. Olhemos os frutos: como se fazem as

sementeiras, o que é que se passa? O semeador sai, deita na terra as diferentes sementes. Estas caem,

secas e nuas, sobre a terra e desagregam-se. Depois, a partir desta decomposição, a magnífica providência

do Mestre as faz reviver e um só grão multiplica-se e dá fruto… Acharemos pois estranho e

extraordinário que o criador do universo faça reviver aqueles que o serviram fielmente e com a confiança

de uma fé perfeita?...

É nesta esperança que os nossos corações se agarram àquele que é fiel às suas promessas e justo nos seus

juízos. Ele, que ordenou que não se mentisse, com mais forte razão não mente ele próprio. Nada é

impossível a Deus, exceto mentir. Reavivemos pois a nossa fé nele e consideremos que tudo está ao seu

alcance.

Com uma palavra do seu poder total, formou o universo, e com uma palavra ele pode aniquilá-lo… Ele

faz tudo quando e como quer. Nada se afastará jamais daquilo que ele decidiu. Tudo está presente em

frente dele e nada escapa à sua providência.

(Mt.9,18-26) – p.1294 – DDFC- DDPC -DDM

Comentário feito por:

S. Cirilo de Alexandria (380-444), bispo, doutor da Igreja

Comentário ao evangelho de João, 4; p.73, 560

«Ele entrou e pegou na mão da menina»

Assim que Cristo entrou em nós pela sua própria carne, nós revivemos inteiramente; é inconcebível, ou

mais ainda, impossível, que a vida não faça viver aqueles nos quais ela se introduziu. Como se cobre um

tição ardente com um montão de palha para guardar intacto o germe do fogo, assim nosso Senhor Jesus

Cristo esconde a vida em nós pela sua própria carne e coloca aí como uma semente de imortalidade que

afasta toda a corrupção que trazemos em nós.

Não é pois apenas pela sua palavra que ele realiza a ressurreição dos mortos. Para mostrar que o seu

corpo dá a vida, como tínhamos dito, ele toca os cadáveres e pelo seu corpo dá a vida a esses corpos já em

vias de desintegração. Se o simples contacto da sua carne sagrada restitui a vida a esses mortos, que

beneficio não encontraremos na sua eucaristia vivificante quando a recebemos!... Não será suficiente que

apenas a nossa alma seja regenerada pelo Espírito para uma vida nova. O nosso corpo denso e terrestre

também deve ser santificado pela sua participação num corpo também denso e da mesma origem que o

nosso e deve ser chamado também à incorruptibilidade

Mt.18,1-5.10 – p.1359 – DDPC

1. Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?

2. Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:

3. Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.

4. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus.

5. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.

10. Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a

face de meu Pai que está nos céus.

Comentário feito por:

São João Maria Vianney (1786-1859), sacerdote, cura de Ars

Sermão para a festa dos Santos Anjos da Guarda (in Sermons, Beauchesne 1925, t. 4)

«Os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de Meu Pai»

Meus irmãos: os anjos da guarda são os nossos amigos mais fiéis, porque estão conosco de dia, de noite,

em todos os momentos e em todos os lugares; a fé ensina-nos que os temos sempre ao nosso lado. É isso

que leva David a dizer: «Nenhum mal te acontecerá. Ele deu ordens aos Seus anjos, para que te guardem

em todos os teus caminhos» [Sl 91 (90), 10-11]. E, para demonstrar como são grandes os desvelos que

têm conosco, o profeta diz que eles nos trazem nos braços, como uma mãe leva o seu filho. Ah! É que o

bom Deus previu os perigos sem número aos quais seríamos expostos na terra, entre tantos inimigos que

não procuram senão a nossa perdição. Sim, são os nossos anjos bons que nos consolam das nossas penas,

que nos alertam quando o demônio nos vem tentar, que apresentam a Deus as nossas orações e todas as

nossas boas ações, que nos assistem na hora da morte e apresentam as nossas almas ao juiz soberano. O

trato dos anjos com os homens é tão freqüente desde o princípio do mundo que a Sagrada Escritura se

lhes refere a cada passo. [...] Quase todos os patriarcas e profetas foram por eles instruídos acerca da

vontade do Senhor. Muitas vezes até vemos que Deus Se faz representar pelos anjos. Mas, dir-me-eis, se

os víssemos teríamos muito mais confiança neles? Se isso fosse necessário para a salvação da nossa alma,

o bom Deus tê-los-ia tornado visíveis. No entanto, isso não nos interessa, porque na nossa religião tudo

conhecemos através da fé, para que as nossas ações sejam mais meritórias. Se quereis saber o número dos

anjos, as suas funções, dir-vos-ei que são inúmeros: uns foram criados para honra de Jesus Cristo durante

a Sua vida oculta, sofredora e gloriosa, ou para serem guardiães dos homens sem que, por isso, deixem de

fruir da divina presença; outros dedicam-se à contemplação das perfeições de Deus, ou então velam pela

nossa segurança e providenciam todos os meios necessários à nossa santificação. Embora o bom Deus

seja auto-suficiente utiliza o ministério dos Seus anjos para governar o mundo.

Mc.(2,13-17) – p.1324 – DDPC – Vocação de Levi.

13. Jesus saiu de novo para perto do mar e toda a multidão foi ter com ele, e ele os ensinava.

14. Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto da arrecadação e disse-lhe: "Segue-me." E Levi,

levantando-se, seguiu-o.

15. Em seguida, pôs-se à mesa na sua casa e muitos cobradores de impostos e pecadores tomaram lugar com ele e seus

discípulos; com efeito, eram numerosos os que o seguiam.

16. Os escribas, do partido dos fariseus,. vendo-o comer com as pessoas de má vida e publicamos, diziam aos seus

discípulos: "Ele come com os publicamos e com gente de má vida? "

17. Ouvindo-os, Jesus replicou: "Os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vim chamar os justos, mas os

pecadores."

Comentário feito por:

S. Pedro Crisólogo (cerca 406-450), bispo de Ravenne, doutor da Igreja

Sermão 30

“O homem levantou-se e seguiu-o”- (v.14)

Sentado no seu posto de cobrança, este infeliz publicano estava numa situação pior do que o paralítico de

que vos falei no outro dia, que jazia no seu leito (Mc 2,1s). Um estava atingido de paralisia no seu corpo,

o outro na sua alma. No caso do primeiro, todos os membros estavam disformes; no caso do segundo, era

o juízo no seu todo que estava confundido. O primeiro jazia, prisioneiro da sua carne; o outro estava

sentado, cativo de alma e de corpo. Era contra a sua vontade que o paralítico sucumbia aos sofrimentos; o

publicano, ele, estava voluntariamente escravo do mal do pecado. Este último, inocente a seus próprios

olhos, era acusado de cupidez pelos outros; o primeiro, no meio das suas feridas, sabia-se pecador. Um

acumulava lucro sobre lucro, e todos eram pecados; o outro apagava os seus pecados gemendo nas suas

dores. Por isso são justas estas palavras dirigidas ao paralítico: “Meu filho, os teus pecados estão

perdoados”, porque pelos seus sofrimentos ele compensava as suas faltas. Quanto ao publicano, ele

escutou estas palavras: “Vem, segue-me”, quer dizer: “Tu repararás, seguindo-me, tu que te perdeste

seguindo o dinheiro”.

Alguém dirá: porque é que o publicano, aparentemente mais culpado, recebe um dom maior? Ele torna-se

imediatamente apóstolo… Ele próprio recebeu o perdão, e concede a outros a remissão dos seus pecados;

ele ilumina toda a terra com a luz da pregação do Evangelho. Quanto ao paralítico, é julgado digno de

receber apenas o perdão. Queres saber porque é que o publicano recebeu mais graças? É que, segundo

uma palavra do apóstolo Paulo: “Onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rm.5,20).

Mc. (2,18-22) – pg.1324 – DDPC – A misericórdia e o jejum.

18.Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Por isso, foram-lhe perguntar: "Por que jejuam os discípulos de João e os

dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?"

19.Jesus respondeu-lhes: "Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo?

Enquanto têm consigo o esposo, não lhes é -possível jejuar.

20.Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão.

21."Ninguém prega retalho de pano novo em roupa velha; do contrário, o remendo arranca novo pedaço da veste usada e torna-

se pior o rasgão.

22.E ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho os arrebentará e perder-se-á juntamente com os odres mas

para vinho novo, odres novos."

Comentário feito por:

São Nicolau Cabasilas (c. 1320-1363), teólogo laico grego

A Vida em Cristo, II, 75ss

«O Esposo está com eles» - (v.19)

Para nós há duas maneiras de conhecer os objetos: o conhecimento que se pode receber por nos ser

contado, e aquele que se pode adquirir por nós próprios. Pelo primeiro, não alcançamos o objeto em si,

apenas o percebemos através de palavras, como numa imagem […]; de modo diverso, fazer a experiência

dos objetos é encontrá-los realmente em si próprios. Neste segundo tipo de conhecimento, a forma do

objeto prende a alma e desperta o desejo como um sinal à medida da sua beleza […].

Da mesma forma, se o nosso amor pelo Salvador nada produz de novo nem de extraordinário, é evidente

que o nosso empenhamento em amá-Lo deriva de apenas termos ouvido falar a seu respeito. Como

poderíamos nós, apenas por ouvir falar d’Ele, conhecê-Lo como merece, Esse a quem nada se assemelha

[…], Esse a quem nada pode ser comparado e que não pode ser comparado a nada? Como poderíamos

conhecer a sua beleza e amá-Lo à medida da sua beleza? Mas, sempre que os homens experimentam um

intenso desejo de amar, um desejo de fazer por Ele coisas que ultrapassam a natureza humana, é porque

foi o próprio Esposo a tê-los tocado e ferido. Ele abriu-lhes os olhos à beleza divina. A profundidade da

ferida testemunha o quanto a seta de fato penetrou; e o ardor do desejo revela Quem os feriu.

Eis como a nova Aliança é diferente da Antiga; antigamente era a palavra o que educava os homens; hoje,

é Cristo em pessoa quem, de uma maneira indizível, prepara e modela as almas dos homens. Se o

ensinamento da Lei bastasse para conduzi-los, então não teriam sido necessários os atos extraordinários

de um Deus tornado homem, que foi crucificado e depois morto. Isto é verdade também para os

apóstolos, nossos pais na fé. Eles tinham ouvido os ensinamentos do Salvador, as palavras da sua boca;

tinham visto os seus milagres e assistido a todas as provações que suportou pelos homens, viram-No

morrer, ressuscitar e em seguida elevar-Se nos céus. Tudo isto eles o sabiam, mas nada mostraram de

novo, de generoso, de verdadeiramente espiritual, até se terem batizados no Espírito Santo […]. Só então,

somente, o verdadeiro desejo por Cristo neles se acendeu, e através deles, se acendeu em outros.

Mc. 5,25”-34 [pg.1237/8]: - DDPC –.” Cura da hemorroíssa”.

25.Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue.

26.Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava

cada vez mais.

27.Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto.

28.Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada.

29.Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada.

30.Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas

vestes?

31.Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?

32.E ele olhava em derredor para ver quem o fizera.

33.Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e contou-lhe toda a

verdade.

34.Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.

-Aí, Deus mais uma vez, vem mostrar sua misericórdia infinita. A caridade derruba o preconceito; “Jesus

percebe imediatamente a ação curativa de Deus:“ Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma

força”.(v.30)

Vimos que a Palavra de Ciência ou Palavra de Conhecimento é uma manifestação do Espírito Santo em

nós para o bem de nossos irmãos e que ela pode se manifestar de vários modos.

Na passagem da Samaritana, este dom do Espírito Santo manifestou-se através de palavras.

No caso da mulher pecadora na casa do fariseu, o Espírito Santo se manifestou dando a Jesus um

conhecimento ou entendimento espiritual do que se passava no coração do fariseu.

Na narrativa da mulher hemorroíssa, a Palavra de Ciência se manifesta através de um sentimento ou

percepção da ação curativa de DEUS, quando Jesus percebeu que dele saíra uma força que cura pela ação

do Espírito Santo.

- Com a samaritana, Jesus usa a Palavra de Ciência para convertê-la e a muitos.

- Com o fariseu, Jesus usava a Palavra de Ciência para abrir seu coração à Boa Nova.

- Com a hemorroíssa, Jesus usa a Palavra de Ciência como confirmação da cura pelo poder do Espírito

Santo pela fé.

O dom da Palavra de Ciência ou conhecimento é um dom de revelação.

Através desta manifestação do Espírito Santo, foi revelado que a samaritana tinha cinco “maridos”, que o

fariseu não havia entendido nem aceito o que era misericórdia do Evangelho, que a hemorroíssa havia

sido curada fisicamente.

- O dom da Palavra de Ciência revela uma ação que Deus já está fazendo (a cura) , ou uma situação ou

mentalidade que precisa ser transformada por Deus (os 5 maridos) da Samaritana, o (pensamento do

fariseu) sempre com a finalidade de transformação e conversão através do poder e da misericórdia de

Deus que cura o corpo e o coração.

- O amor de Jesus move o Espírito Santo a agir através da Palavra de Ciência para a conversão da

Samaritana e de seus amigos. A fé move o Espírito Santo a agir através da Palavra de Ciência para a

cura física e a reabilitação social da hemorroíssa.

- O zelo de Jesus pela pregação da Boa Nova leva o Espírito santo a agir através da Palavra de Ciência

para a abertura do entendimento espiritual do fariseu preconceituoso e legalista.

Mc.(5,21-43) – pg.1327/8- DDPC- A filha de Jairo e a mulher doente.

21.Tendo Jesus navegado outra vez para a margem oposta, de novo afluiu a ele uma grande multidão. Ele se achava à beira do

mar, quando

22.um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, se apresentou e, à sua vista, lançou-se-lhe aos pés,

23.rogando-lhe com insistência: Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe-lhe as mãos para que se salve e viva.

24.Jesus foi com ele e grande multidão o seguia, comprimindo-o.

25.Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue.

26.Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava

cada vez mais.

27.Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto.

28.Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada.

29.Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada.

30.Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas vestes?

31.Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?

32.E ele olhava em derredor para ver quem o fizera.

33.Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e contou-lhe toda a

verdade.

34.Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.

35.Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: Tua filha morreu. Para que ainda

incomodas o Mestre?

36.Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-se ao chefe da sinagoga: Não temas; crê somente.

37.E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.

38.Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações.

39.Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo.

40.Mas riam-se dele. Contudo, tendo mandado sair todos, tomou o pai e a mãe da menina e os que levava consigo, e entrou

onde a menina estava deitada.

41.Segurou a mão da menina e disse-lhe: Talita cumi, que quer dizer: Menina, ordeno-te, levanta-te!

42.E imediatamente a menina se levantou e se pôs a caminhar (pois contava doze anos). Eles ficaram assombrados.

43.Ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse, e mandou que lhe dessem de comer.Jesus de Nazaré

Comentário feito por:

São Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de Marcos, 2

“Sou Eu que te digo: levanta-te!”- (v.41)

“Não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.” Podemos

perguntar por que motivo leva Jesus sempre estes discípulos, e por que motivo deixa os outros. Já quando

Se transfigurou no monte estes três o acompanhavam. […] Os escolhidos são Pedro, sobre quem foi

construída a Igreja, bem como Tiago, o primeiro apóstolo a receber a palma do martírio, e João, o

primeiro a enaltecer a virgindade. “Entrou onde a criança jazia e, tomando-lhe a mão, disse: «Talitha

qûm!», isto é, ‘Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!’ E logo a menina se ergueu e começou a andar.”

Desejemos que Jesus nos toque, também a nós, e começaremos imediatamente a andar. Quer por sermos

paralíticos, quer por termos cometido más ações, deixamos de andar; talvez estejamos deitados na cama

dos nossos pecados como em verdadeiro leito. Mas, assim que Jesus nos tocar, ficaremos curados. A

sogra de Pedro estava com febre; Jesus tomou-lhe a mão, ela levantou-se e começou imediatamente a

servi-los (Mc 1, 31). […] "E mandou dar de comer à menina.” Pela graça, Senhor, toca-nos na mão, a nós

que estamos deitados, levanta-nos do leito dos nossos pecados, faz-nos andar. Quando tivermos

começado a andar, manda que nos dêem de comer. Deitados, não podemos andar e, se não estivermos de

pé, não poderemos receber o corpo de Cristo, a Quem pertence a glória, com o Pai e o Espírito Santo,

pelos séculos dos séculos

.(Lc.1,26-38)-p.1345/6 – Anunciação do nascimento de Jesus – DDPC

26.No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,

27.a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.

28.Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.

29.Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.

30.O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.

31.Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.

32.Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente

na casa de Jacó,

33.e o seu reino não terá fim.

34.Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?

35.Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por

isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.

36.Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,

37.porque a Deus nenhuma coisa é impossível.

38.Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

Comentário feito por:

Aelred de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense inglês

2º sermão sobre a Anunciação

EVA mudada em AVE

Adão tinha escalado a montanha da soberba; o Filho de Deus quis descer ao vale da humildade.

Encontrou um vale para onde descer. Onde se encontra ele? Não em ti, Eva, mãe do nosso mal, não em ti

– mas na bem-aventurada Maria. Ela é bem este vale de Hebron, devido à sua humildade e à sua força.

Ela é forte devido à sua participação na força da qual está escrito: “O Senhor é forte e poderoso” (Sl

24,8). Ela é a mulher virtuosa que Salomão desejava: “Uma mulher virtuosa, quem a poderá encontrar?”

(Prov. 30,10).

Eva, apesar de criada no paraíso sem corrupção e sem mancha, sem enfermidade nem dor, revelou-se tão

fraca, tão insegura. “Quem encontrará pois a mulher virtuosa?” Podemos encontrá-la nesta terra de

miséria, uma vez que não a pudemos encontrar na beatitude do paraíso?... Dado que se encontrou no

paraíso uma mulher tão fraca, quem poderá encontrar aqui a mulher virtuosa?

Hoje, Deus Pai encontrou essa mulher, para santificá-la; o Filho encontrou-a, para nela habitar; o Espírito

Santo encontrou-a, para iluminá-la… E o anjo encontrou-a, para saudá-la assim: “Ave, ó cheia de graça, o

Senhor está contigo”. Ei-la, a mulher virtuosa, aquela em quem a ponderação substitui a curiosidade, em

quem a humildade elimina toda a vaidade, em quem a virgindade liberta de toda a voluptuosidade.

Comentário feito por:

João Paulo II

Alocução de 27.11.1983

"Rejubila, cheia de graça!" – (v.28)

A alegria é uma componente fundamental do tempo sagrado que começa. O Advento é um tempo de

vigilância, de oração, de conversão, para além de uma espera fervorosa e alegre. O motivo é claro: «O

Senhor está próximo» (Fl. 4,5).

A primeira palavra dirigida a Maria no Novo Testamento é um convite jubiloso: «Exulta, rejubila!» (Lc

1,28 grego). Tal saudação está ligada à vinda do Salvador. Maria é a primeira a quem é anunciada uma

alegria que, em seguida, será proclamada a todo o povo; Maria participa nela de uma forma e numa

medida extraordinária. Em Maria, a alegria do antigo Israel concentra-se e encontra a sua plenitude; nela,

a felicidade dos tempos messiânicos manifesta-se irrevogavelmente. A alegria da Virgem Maria é, de

modo particular, a do «pequeno resto» de Israel (Is 10,20 ss), dos pobres que esperam a salvação de Deus

e que experimentam a sua fidelidade.

Para participarmos também nesta festa, é necessário esperarmos com humildade e acolhermos o Salvador

com confiança. «Todos os fiéis que, pela liturgia, vivem o espírito do Advento, considerando o amor

inefável com que a Virgem Maria esperava o Filho, serão levados a tomá-la como modelo e a preparar-se

para ir ao encontro do Senhor que vem, 'vigilantes na oração e cheios de alegria'» (Paulo VI, Marialis

cultus,4; Missal Romano).

Comentário feito por:

Santo Amadeu de Lausana (1108-1159), monge cisterciense, posteriormente bispo

Terceira homilia mariana

O Espírito Santo faz nascer em Maria a nova criação – (v.35)

«O Espírito Santo descerá sobre ti». Ele revelar-se-á em ti, Maria. Veio a outros santos, e a outros virá;

mas em ti, revelar-se-á. […] Revelar-se-á na fecundidade, na abundância, na plenitude da sua efusão em

todo o teu ser. Quando te tiver tomado, continuará em ti, presente em teus fluidos para fazer em ti obra

melhor e mais admirável do que quando, movendo-se na superfície das águas no começo, fez evoluir em

diversas formas a matéria criada (Gn 1,2). «E a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra».

Cristo, força e sabedoria de Deus, envolver-te-á na sua sombra; tomará então de ti a natureza humana, e a

plenitude de Deus, que não poderias ter, mantê-la-á em Si ao mesmo tempo em que assume a nossa carne.

Estenderá sobre ti a sua sombra porque a humanidade que for escolhida pelo Verbo será como um véu

para a luz inacessível de Deus; e essa luz, assim joeirada, penetrará nas tuas tão castas entranhas […].

Rogamos-te pois, Soberana, digníssima Mãe de Deus, não desprezes os que pedem com verdadeiro temor,

os que procuram com piedade, os que com amor te batem à porta. Diz-nos, rogamos-te, que sentimento te

comoveu, por que amor foste tomada […] quando em ti se realizou a maravilha, quando o Verbo em ti se

fez carne? Em que estado se encontrava a tua alma, teu coração, o espírito, os sentidos e a razão? Como a

sarça outrora mostrada a Moisés, inflamavas-te, sem te queimares (Ex 3,2). Abandonavas-te no calor de

Deus, sem que a chama te consumisse. Assim ardente, fundias-te sob o fogo do Altíssimo; mas desse fogo

divino ganhavas novas forças, para ficares sempre ardente e n’Ele te fundires mais ainda […]. Ficaste

mais virgem – e bem mais do que isso, porque virgem e mãe. Louvamos-te pois, ó cheia de graça; o

Senhor é contigo; bendita sejas entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

Lc.(1,26-38) – pg.1345/6 – Anunciação do Nascimento de Jesus – DDPC

Comentário feito por:

Da liturgia bizantina

Hino "acatistos" à Mãe de Deus (séc. VII)

"Eu te saúdo, ó cheia de graça!" – (v.28)

Do céu foi enviado um arcanjo eminente para dizer à Mãe de Deus: "Alegra-te!"

Mas quando te viu, ó Senhora, a sua voz ganhou corpo e ele gritou a sua surpresa e o seu encantamento:

"Alegra-te: em ti brilha a alegria da salvação.

Alegra-te: por ti o mal desapareceu.

Alegra-te, porque ergues Adão da sua queda.

Alegra-te, porque Eva também já não chora.

Alegra-te, montanha inacessível aos pensamentos dos homens.

Alegra-te, abismo insondável aos próprios anjos.

Alegra-te, porque te tornas o trono e o palácio do Rei.

Alegra-te: tu levas em ti Aquele que tudo pode.

Alegra-te, estrela que anuncias o nascer do Sol.

Alegra-te, porque em teu seio Deus tomou a nossa carne.

Alegra-te: por ti, toda a criação é renovada.

Alegra-te: por ti, o Criador fez-se menino.

Alegra-te, Esposa que não foste desposada."

A Puríssima, conhecendo o seu estado virginal, respondeu confiadamente ao anjo Gabriel: "Que estranha

maravilha essa que dizes! Ela parece incompreensível à minha alma; como conceberei sem semente para

engravidar, como tu está a dizer?" Aleluia, aleluia, aleluia!

Para compreender este mistério desconhecido, a Virgem dirige-se ao servo de Deus e pergunta-lhe como

é que um Filho poderia ser concebido nas suas castas entranhas. Cheio de respeito, o anjo aclama-a:

Alegra-te: a ti Deus revela os seus desígnios inefáveis.

Alegra-te, confiança dos que rezam em silêncio.

Alegra-te: tu és a primeira das maravilhas de Cristo.

Alegra-te: em ti são recapituladas as doutrinas divinas.

Alegra-te, escada pela qual Deus desce do Céu.

Alegra-te, ponte que nos conduz da terra ao Céu.

Alegra-te, inesgotável admiração dos anjos.

Alegra-te, ferida incurável para os demônios.

Alegra-te: tu geras a luz de forma inexprimível.

Alegra-te: tu não revelas o segredo a ninguém.

Alegra-te: tu ultrapassas a sabedoria dos sábios.

Alegra-te: tu iluminas a inteligência dos crentes.

Alegra-te, Esposa que não foste desposada."

O poder do Altíssimo cobriu então com a sua sombra a Virgem que não tinha sido desposada, para levá-la

a conceber. E o seu seio fecundado tornou-se um jardim de delícias para os que nele querem colher a

salvação, cantando: "Aleluia, aleluia, aleluia!"

Lc.(1,26-38) – p.1346 - DDPC

Comentário feito por:

Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa

As Núpcias do Cordeiro (trad. Source Cachée, p. 261)

"Mãe de todos os viventes" (Gn 3, 20)

"Vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, bela como uma esposa que se

ataviou para o seu esposo" (Ap.21, 2). Tal como Cristo desceu do céu à terra, também a Sua esposa, a

Santa Igreja, tem origem no céu; nasceu da graça de Deus, desceu com o próprio Filho de Deus e está-Lhe

indissoluvelmente unida. É formada por pedras vivas (1Pd. 2, 5); e a sua pedra angular (Ef 2,20) foi

colocada quando o Verbo de Deus assumiu a natureza humana no seio da Virgem. Nesse instante,

estabeleceu-se entre a alma do filho divino e a alma de sua virginal mãe o laço da mais íntima de todas as

uniões, a que chamamos união nupcial.

Oculta ao mundo, a Jerusalém celeste tinha descido à terra. Desta primeira união nupcial haveriam de

nascer todas as pedras que se juntariam à poderosa construção, todas as almas que a graça despertaria

para a vida. Deste modo, a mãe esposa seria a mãe de todos os redimidos.

Lc.(1,26-38) – p.1345.6 – DDPC

Comentário feito por:

Papa Bento XVI

Encíclica Deus Caritas est, § 41; Libreria Editrice Vaticana

Maria, mulher de fé, de esperança e de amor

Os santos são os verdadeiros portadores de luz dentro da história, porque são homens e mulheres de fé,

esperança e caridade. Entre os Santos, sobressai Maria, Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. No

Evangelho de Lucas, encontramo-La empenhada num serviço de caridade a sua prima Isabel, junto da

qual permanece «cerca de três meses» (1, 56), assistindo-a na última fase da gravidez. «Magnificat anima

mea Dominum – A minha alma engrandece o Senhor» (Lc 1, 46), diz por ocasião de tal visita, exprimindo

assim todo o programa da sua vida: não se colocar a si mesma ao centro, mas dar espaço ao Deus que

encontra tanto na oração como no serviço ao próximo — só então o mundo se torna bom.

Maria é grande, precisamente porque não quer fazer-se grande a si mesma, mas engrandecer a Deus. Ela é

humilde: não deseja ser mais nada senão a serva do Senhor (cf. Lc 1, 38.48). Sabe que contribui para a

salvação do mundo, não realizando uma obra sua, mas apenas colocando-se totalmente à disposição das

iniciativas de Deus. É uma mulher de esperança: só porque crê nas promessas de Deus e espera a salvação

de Israel, é que o Anjo pode vir ter com Ela e chamá-la para o serviço decisivo de tais promessas. É uma

mulher de fé: «Feliz de Ti, que acreditaste», diz-lhe Isabel (cf. Lc 1, 45).

Comentário feito por:

São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja

Homilias para o Advento, nº 3; CCL 122, 14-17 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p.

170)

«O Senhor Deus vai dar-Lhe o trono de Seu pai David; Ele reinará eternamente sobre a casa de

Jacob e o Seu reinado não terá fim»

«O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, uma virgem, desposada

com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria». O que é dito da casa de

David não diz respeito apenas a José, mas também a Maria. Porque a Lei prescrevia que um homem se

casasse com uma mulher da sua tribo e da sua estirpe, segundo o testemunho do apóstolo Paulo, que

escreveu a Timóteo: «Lembra-te de Jesus Cristo, saído da estirpe de David, e ressuscitado dos mortos,

segundo o meu Evangelho» (2Tm.2, 8). [...]

«Ele será grande e vai chamar-Se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de Seu pai

David». O trono de David significa aqui o poder sobre o povo de Israel, que David governou no seu

tempo, com um zelo pleno de fé. [...] A este povo, que David dirigiu pelo seu poder temporal, vai Cristo

conduzir por uma graça espiritual para o reino eterno. [...]

«Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacob». A casa de Jacob designa a Igreja universal que, pela fé e

o testemunho rendido a Cristo, se une ao destino dos patriarcas, quer dos que tiram a sua origem carnal da

sua cepa, quer dos que, nascidos pela carne de uma outra nação, são reunidos em Cristo, pelo batismo no

Espírito. É sobre esta casa de Jacob que Ele reinará eternamente: «e o Seu reinado não terá fim». Sim, Ele

reina sobre ela na vida presente, quando governa o coração dos eleitos onde habita, pela sua fé e o seu

amor para com Ele; e governa-os pela Sua contínua proteção, para lhes fazer chegar os dons da

recompensa celeste. Ele reina no futuro, quando, uma vez terminado o estado de exílio temporal, os

introduz na estadia da pátria celeste, onde eles se regozijam com a Sua presença visível que

continuamente lhes lembra que não podem senão cantar os Seus louvores

Comentário feito por:

Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego

Hinos, n°29 (a partir da trad. SC 174, pp. 315ss.)

«Quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»

De onde vens? Como penetras,

no interior da minha cela,

fechada de todos os lados?

Com efeito, isto é estranho,

ultrapassa a palavra e o pensamento.

Mas o fato de vires até mim,

subitamente todo inteiro, e de brilhares,

o fato de Te deixares ver sob uma forma luminosa,

como a Lua na sua plena luz,

deixa-me incapaz de pensar

e sem voz, meu Deus!

Sei bem que és

Aquele que veio para iluminar

os que estão nas trevas (Lc 1,79),

e fico estupefato,

fico privado de senso e de palavras

ao ver tão estranha maravilha

que ultrapassa toda a criação,

toda a natureza e todas as palavras. [...]

Como é que Deus está fora do universo

pela Sua essência e a Sua natureza,

pelo Seu poder e pela Sua glória,

e ao mesmo tempo habita em tudo e em todos,

mas de uma maneira especial nos Seus santos?

Como arma neles a Sua tenda

de forma consciente e substancial,

Ele que está totalmente para lá da substância?

Como está contido nas suas entranhas,

Ele que contém toda a criação?

Como é que brilha no coração deles,

este coração carnal e espesso?

Como é que Ele está no interior deste,

como é que Ele está fora de tudo,

mas preenche tudo?

Como é que de noite e de dia

brilha sem ser visto?

Diz-me, pode o espírito do homem

conceber todos estes mistérios,

ou poderá exprimi-los?

Seguramente que não! Nem um anjo

nem um arcanjo to poderiam explicar;

seriam incapazes

de to expor por meio de palavras.

Só o Espírito Santo, porque é divino,

conhece estes mistérios

e os sabe, porque apenas Ele

partilha a natureza, o trono e a eternidade

com o Filho e o Pai.

É pois àqueles a quem este Espírito resplandecerá

e com quem Se unirá liberalmente

que Ele mostra tudo de forma inexprimível. [...]

É como um cego: quando vê,

vê primeiramente a luz

Comentário feito por:

Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja

Homilias sobre a Mãe de Deus, 2, 93-145; CSCO 363 e 364, 52-53 (trad. Delhougne, Les Pères

commentent, p. 481 rev.)

«Porque me fez grandes coisas, o Omnipotente» (Lc 1, 49)

Contemplai Maria, bem-amados, vede como Gabriel entrou em sua casa e como, à sua objeção, «Como

será isso?», o servo do Espírito Santo deu a seguinte resposta: «Nada é impossível a Deus, para Ele tudo é

simples.» Considerai como ela acreditou no que ouvira e disse: «Eis a serva do Senhor.» Desde logo o

Senhor desceu, de uma forma que só Ele conhece; pôs-Se em movimento e veio como Lhe agradava;

entrou nela sem que ela o sentisse e ela acolheu-O sem ter qualquer sofrimento. Ela trazia em si, como

uma criança, Aquele de que o mundo está cheio. Ele desceu para ser o modelo que renovaria a imagem

antiga de Adão.

É por essa razão que, quando te anunciam o nascimento de Deus, deves manter-te em silêncio. Que a

palavra de Gabriel esteja presente no teu espírito, pois nada é impossível a esta gloriosa Majestade que

desceu por nós e que nasceu da nossa humanidade. Nesse dia, Maria tornou-se para nós o céu que contém

Deus, pois a Divindade sublime desceu e fez dela a Sua morada. Nela, Deus fez-se pequeno – mas sem

enfraquecer a Sua natureza – para nos fazer crescer. Nela, Ele teceu-nos uma veste com a qual nos

salvaria. Nela cumpriram-se todas as palavras dos profetas e dos justos. Dela se elevou a luz que expulsou

as trevas do paganismo.

Numerosos são os títulos de Maria [...]: ela é o palácio no qual habitou o poderoso Rei dos reis, mas Ele

não a deixou como viera, pois foi dela que Ele se fez carne e que nasceu. Ela é o novo céu no qual o Rei

dos reis habitou; nela elevou-se Cristo e dela subiu para iluminar a criação, formada e talhada à Sua

imagem. Ela é a cepa de vinha que deu uvas; ela gerou um fruto superior à natureza; e Ele, se bem que

diferente dela pela Sua natureza, vestiu a sua cor quando nasceu dela. Ela é a fonte da qual brotaram as

águas vivas para os sequiosos e aqueles que aí se dessedentam dão frutos a cem por um.

Comentário feito por:

Bem-Aventurado Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense

Sermão 3 para a Anunciação, 2-4 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 6, p. 38)

«O próprio Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá»

«O Senhor mandou dizer de novo a Acaz: 'Pede ao Senhor teu Deus um sinal'. Acaz respondeu: 'Não

pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor'.» (Is 7, 10-12) . Pois bem, a este sinal recusado acolhemo-lo nós

com uma fé ilimitada e um respeito pleno de amor. Reconhecemos que o Filho concebido pela Virgem é

para nós, nas profundezas do inferno, sinal de perdão e de liberdade, e nas alturas dos céus sinal de

esperança, de exultação e de glória para nós. [...] Doravante este sinal foi elevado pelo Senhor,

primeiramente sobre o chão da cruz, e depois sobre o Seu trono real. [...]

Sim, é um sinal para nós esta mãe virgem que concebe e dá à luz: sinal de que este homem concebido e

nascido é Deus. Este Filho que realiza obras divinas e suporta sofrimentos humanos é para nós o sinal,

que levará Deus até aos homens pelos quais Ele foi concebido e nasceu, e pelos quais também sofreu.

E, de todas as enfermidades e desgraças humanas que este Deus Se dignou suportar por nós, a primeira no

tempo, a maior no Seu abaixamento, parece-me ter sido sem dúvida que esta Majestade infinita tenha

suportado ser concebida no seio de uma mulher e aí estar oculta durante nove meses. Onde esteve Ela tão

completamente aniquilada como aqui? Quando é que A vimos despojar-Se até este ponto? Durante todo

esse tempo, esta Sabedoria não diz nada, esta Potência não opera nada de visível, esta Majestade

escondida não Se revela por nenhum sinal. Nem na cruz Cristo pareceu tão fraco. [...] No seio de Maria,

pelo contrário, está como se não estivesse; o Todo-Poderoso está inoperante, como se nada pudesse; e o

Verbo eterno escondeu-Se no silêncio.

Comentário feito por:

Santo Epifânio de Salamina (? - 403), bispo

Homilia n°5; PG 43, 491.494.502 (a partir da trad. cf Solesmes, Lectionnaire, t. 1, p. 1003)

«Salve, ó cheia de graça»

Que dizer? Que elogio se há de fazer à Virgem gloriosa e santa? Ela ultrapassa todos os seres, à exceção

apenas de Deus; por natureza, é mais bela que os querubins, os serafins e todo o exército dos anjos. Nem

as línguas do céu nem as da terra, nem as línguas dos anjos bastam para louvá-la. Virgem bendita, pomba

pura, esposa celeste [...], templo e trono da divindade! Cristo, sol esplendoroso do céu e da terra,

pertence-te. Tu és a nuvem luminosa que fez descer Cristo, Ele o brilho resplandecente que ilumina o

mundo.

Rejubila, ó cheia de graça, porta do céu; é de ti que fala o autor do Cântico dos Cânticos [...] quando

exclama: «És horto cerrado, minha irmã, minha esposa, horto cerrado, fonte selada» (4, 12). [...] Santa

Mãe de Deus, ovelha imaculada, tu trouxeste ao mundo o Cordeiro, Cristo, o Verbo encarnado em ti. [...]

Que maravilha espantosa nos céus: uma mulher vestida de sol (Ap.12, 1), trazendo nos braços a luz! [...]

Que maravilha espantosa nos céus: o Senhor dos anjos que Se torna filho da Virgem. Os anjos acusavam

Eva; agora, cumulam Maria de glória, porque Ela levantou Eva da queda e abriu as portas do céu a Adão,

outrora expulso do Paraíso. [...]

Imensa é a graça concedida a esta Virgem santa. É por isso que Gabriel a cumprimenta dizendo-lhe:

«Rejubila, cheia de graça», resplandecente como o céu. «Rejubila, cheia de graça», Virgem ornada de

virtudes sem número. [...] «Rejubila, cheia de graça», tu que sacias os sedentos com as doçuras da fonte

eterna. Rejubila, Santa Mãe Imaculada, tu que geraste Cristo, que te precede. Rejubila, púrpura real, tu

que revestiste o Rei do céu e da terra. Rejubila, livro selado, tu que deste a ler ao mundo o Verbo, o Filho

do Pai.

Lc.1,39-45 [pg.1346] – Maria visita Isabel. 39.Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.

40.Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

41.Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42.E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

43.Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

44.Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

45.Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

-Maria comunica o Espírito Santo a Isabel como sinal do que iria acontecer em Pentecostes sobre toda a

Igreja. Através da Palavra de Ciência, Isabel recebe o conhecimento de um mistério que, humanamente

ela jamais seria capaz de compreender, a encarnação de Jesus(v.43).

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

Sermão para a oitava da Assunção, sobre as doze prerrogativas de Maria

“Bem-aventurada Aquela que acreditou”- (v.45)

Maria é bem-aventurada, como lhe diz sua prima Isabel, não apenas porque Deus a olhou, mas porque

acreditou. A sua fé é o mais belo produto da bondade divina. Mas foi necessário que a arte inefável do

Espírito Santo pousasse sobre Ela, para que tanta grandeza de alma se unisse a tanta humildade no

segredo do seu coração virginal. A humildade e a grandeza de alma de Maria são, como a sua virgindade

e a sua fecundidade, semelhantes a duas estrelas que se iluminam mutuamente, porque em Maria a

profundidade da humildade em nada prejudica a generosidade da alma, e reciprocamente. Julgando-se a si

mesma de forma tão humilde, Maria nem por isso foi menos generosa na sua fé na promessa que lhe tinha

sido feita pelo anjo. Ela que apenas se considerava uma pobre serva, não duvidou de que tivesse sido

chamada a este mistério incompreensível, a esta união prodigiosa, a este segredo insondável. E acreditou

imediatamente que se tornaria de fato a Mãe de Deus encarnado.

É a graça de Deus que produz esta maravilha no coração dos eleitos; a humildade não os torna receosos e

timoratos, como a generosidade de alma os não torna orgulhosos. Pelo contrário, nos santos, estas duas

virtudes reforçam-se uma à outra. A grandeza de alma, não só não abre a porta ao orgulho, como é

sobretudo ela que permite avançar no mistério da humildade. Com efeito, os mais generosos ao serviço de

Deus são também os mais penetrados pelo temor do Senhor e os mais reconhecidos pelos dons recebidos.

Reciprocamente, quando está em jogo a humildade, covardia alguma se insinua na alma. Quanto menos

tem o hábito de presumir das suas próprias forças, mesmo nas coisas menores, mais a pessoa se confia ao

poder de Deus, mesmo nas maiores

Comentário feito por:

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja

Poema «Porque Te amo, ó Maria», estrofes 4-7 (OC, Cerf DDB 1992, p.751)

«O senhor fez em mim Maravilhas» (Lc 1, 49)

Como te amo, Maria, quando te dizes serva

do Deus que conquistaste pela tua humildade (Lc 1, 38),

tornou-te onipotente essa virtude oculta.

Trouxe ao teu coração a Santíssima Trindade

e quando o Espírito de Amor te cobriu com a Sua sombra (Lc 1, 35),

o Filho, igual ao Pai, em ti encarnou.

Inúmeros serão os Seus irmãos pecadores,

Uma vez que Jesus é o teu primogênito! (Lc 2, 7)

Ó Mãe muito amada, apesar da minha pequenez,

trago em mim, como tu, o Todo-Poderoso,

mas não tremo ao ver em mim tanta fraqueza.

Os tesouros da Mãe pertencem aos filhos

e eu sou tua filha, ó Mãe querida.

As tuas virtudes e o teu amor não me pertencerão também?

E quando ao meu coração chega a Hóstia santa,

Jesus, teu suave Cordeiro, crê repousar em ti!

Fazes-me sentir que não é impossível

seguir os teus passos, ó Rainha dos eleitos,

porque tornaste o trilho do céu visível,

vivendo cada dia as mais humildes virtudes.

A teu lado, Maria, gosto de ser pequena

para ver como são vãs as grandezas do mundo.

Ao ver-te visitar a casa de Isabel,

aprendo a praticar uma caridade ardente.

Aí escuto arrebatada, doce Rainha dos anjos,

o canto sagrado que jorrou do teu peito (Lc 1, 46 ss.);

ensinas-me a cantar os divinos louvores

e a gloriar-me em Jesus, meu Salvador.

Tuas palavras de amor são rosas místicas

que perfumarão os séculos vindouros.

Em ti, o Todo-Poderoso fez maravilhas,

desejo meditá-las a fim de delas usufruir.

Comentário feito por :

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Jesus, the Word to Be Spoken, cap. 12

«Maria pôs-se a caminho»

A vivacidade e a alegria eram a força de Nossa Senhora. Foi isso que fez dela a serva apressada de Deus,

Seu filho, porque assim que Ele veio até ela, «pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha».

Apenas a alegria podia dar-lhe força para partir rapidamente para as montanhas da Judéia, a fim de se

tornar serva de sua prima. Acontece o mesmo conosco; tal como ela, devemos ser verdadeiras servas do

Senhor e todos os dias, após a sagrada comunhão, apressar-nos a subir as montanhas de dificuldades com

que deparamos ao oferecer com todo o coração o nosso serviço aos pobres. Dai Jesus aos pobres enquanto

servas do Senhor.

A alegria é a oração, a alegria é a força, a alegria é o amor, é um fio de amor graças ao qual podereis

captar as almas. «Deus ama aquele que dá com alegria» (2Cor 9, 7). Aquele que dá com alegria dá mais.

Se encontrarmos dificuldades no trabalho e as aceitarmos com alegria, com um grande sorriso, nisto como

em muitas outras coisas constatar-se-á que as nossas obras são boas e o Pai será glorificado. A melhor

maneira de mostrardes a vossa gratidão a Deus e aos homens é aceitar tudo com alegria. Um coração

alegre provém de um coração que arde de amor.

Comentário feito por:

São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja

Homilias para a Vigília do Natal, 5; CCL 122, 32-36 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères

commentent, p.19 rev.)

«Dar-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»

O profeta Isaías diz: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-Lhe o nome de

Emanuel» (7, 14). O nome do Salvador, «Deus conosco», dado pelo profeta, refere-se às duas naturezas

da Sua pessoa única. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, é também

o Emanuel do fim dos tempos, quer dizer «Deus conosco». Tornou-Se assim no seio de Sua Mãe, porque

Se dignou aceitar a fragilidade da nossa natureza na unidade da Sua pessoa quando «o Verbo se fez carne

e habitou entre nós» (Jo 1, 14). Quer dizer que começou de uma forma admirável a ser o que nós somos,

sem deixar de ser Quem era, assumindo a nossa natureza, de forma a não perder o que era em Si mesmo.

[...]

«Maria e teve o seu filho primogênito [...] e deram-lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21). Portanto, Jesus é o

nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a explicação do anjo, que Ele salvará o

povo dos seus pecados. [...] Será Ele que, evidentemente, salvará também da destruição da alma e do

corpo os seguidores do pecado.

Quanto ao nome «Cristo», é título de uma dignidade sacerdotal e real. Porque, sob a antiga Lei, os

sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido à unção. Essa unção com óleo santo prefigurava o

Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo

da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros» [cf. Sl 44 (45), 8]. Por causa dessa unção ou crisma,

Cristo em pessoa e aqueles que participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são

chamados «cristãos». Pelo fato de ser o Salvador, Cristo pode-nos salvar dos nossos pecados; pelo fato de

ser Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; pelo fato de ser Rei, digna-Se dar-nos o Reino eterno

de Seu Pai.

Lc.(1,39-56) – p.1346 - DDPC

39.Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.

40.Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

41.Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42.E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

43.Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

44.Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

45.Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

46.E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,

47.meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

48.porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,

49.porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.

50.Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.

51.Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.

52.Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

53.Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.

54.Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

55.conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.

56.Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.

Comentário feito por:

S. Nicolau Cabasilas (c. 1320-1363), teólogo leigo grego

Homilia sobre a Dormição da Mãe de Deus

"Exalta os humildes"

Era preciso que a Virgem fosse associada a seu Filho em tudo o que respeita à nossa salvação. Tal como

ela o fez partilhar a sua carne e o seu sangue..., assim ela tomou parte em todos os seus sofrimentos e em

todas as suas dores... Foi ela quem primeiro se tornou conforme à morte do Salvador por uma morte

semelhante à dele (Rm 6,5). Foi por isso que, antes de qualquer outro, ela participou da ressurreição. Com

efeito, depois de o Filho ter quebrado a tirania do inferno, ela teve a felicidade de o ver ressuscitado e de

receber a sua saudação e de acompanhá-lo tanto quanto pôde até à sua partida para o céu. Depois da

ascensão, ela tomou o lugar que o Salvador tinha deixado livre entre os apóstolos e os outros discípulos...

Não convinha isso a uma mãe, mais do que a qualquer outra pessoa?

Mas era preciso que aquela alma santíssima se separasse daquele corpo sacratíssimo. Deixou-o e uniu-

se à alma de seu Filho, ela que era uma luz criada uniu-se à luz que não teve princípio. E o seu corpo,

depois de ter ficado algum tempo debaixo da terra, também ele foi levado ao céu. Era preciso, com efeito,

que ele passasse por todos os caminhos que o Salvador tinha percorrido, que resplandecesse para os vivos

e para os mortos, que santificasse a natureza em todos os aspectos e que, em seguida, recebesse o lugar

que lhe convinha. Por isso, o túmulo o abrigou durante algum tempo; depois, o céu acolheu aquela terra

nova, aquele corpo espiritual, mais digno do que os anjos, mais santo do que os arcanjos. E o trono foi

entregue ao rei, o paraíso à árvore da vida, o mundo à luz, a árvore ao seu fruto, a Mãe ao Filho; ela era

perfeitamente digna pois que ela o tinha gerado.

O bem-aventurada! Quem encontrará as palavras capazes de exprimir os benefícios que recebeste do

Senhor e os que prodigalizaste a toda a humanidade?... Só lá em cima podem resplandecer as tuas

maravilhas, nesse "novo céu" e nessa "nova terra" (Ap.21,1), onde brilha o Sol da Justiça (Ma 3,20) que

as trevas nem seguem nem precedem. O próprio Senhor proclama as tuas maravilhas, enquanto os anjos

te aclamam.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja

1º Sermão para a Assunção (a partir da trad. Pain de Cîteaux 32, p. 63 rev.)

«Em Cristo, todos serão vivificados, cada qual na sua ordem» (1Cor 15, 22-23)

Hoje a Virgem Maria sobe, gloriosa, ao céu. É o cúmulo de alegria dos anjos e dos santos. Com efeito, se

uma simples palavra sua de saudação fez exultar o menino que ainda estava no seio materno (Lc 1, 44),

qual não terá sido o regozijo dos anjos e dos santos, quando puderam ouvir a sua voz, ver o seu rosto, e

gozar da sua presença abençoada! E para nós, irmãos bem-amados, que festa a da sua assunção gloriosa,

que motivo de alegria e que fonte de júbilo temos hoje! A presença de Maria ilumina o mundo inteiro, a

tal ponto resplandece o céu, irradiado pelo brilho desta Virgem plenamente santa. Por conseguinte, é

justificadamente que ecoa nos céus a ação de graças e o louvor.

Ora [...], na medida em que o céu exulta da presença de Maria, não seria razoável que o nosso mundo

chorasse a sua ausência? Mas não, não nos lastimemos, porque não temos aqui cidade permanente

(Hb.3,14), antes procuramos aquela aonde a Virgem Maria chegou hoje. Se já estamos inscritos no

número de habitantes dessa cidade, convém que hoje nos lembremos dela [...], compartilhemos a sua

alegria, participemos nesta alegria que hoje deleita a cidade de Deus; uma alegria que depois se espalha

como o orvalho sobre a nossa terra. Sim, Ela precedeu-nos, a nossa Rainha, precedeu-nos e foi recebida

com tanta glória que nós, seus humildes servos, podemos seguir a nossa Rainha com toda confiança

gritando [com a Esposa do Cântico dos Cânticos]:

«Arrasta-me atrás de ti. Corramos ao odor dos teus perfumes!» (Ct.1, 3-4) Viajantes sobre a terra,

enviamos à frente a nossa advogada [...], a Mãe de misericórdia, para defender eficazmente a nossa

salvação.

(Lc.1,44). Aqui a Palavra de Ciência veio acompanhada de um sinal físico: O menino estremeceu de

alegria no seu seio

Comentário feito por:

S. Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra e doutor da Igreja

Ephata I

"O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas"- (v.49)

Quando toca um coração, é típico do Espírito Santo afastar dele toda a tibieza. Ele ama a prontidão, é

inimigo dos adiamentos, dos atrasos na execução da vontade de Deus... "Maria partiu apressadamente"...

Que graças se teriam derramado sobre a casa de Zacarias quando Maria ali entrou! Se Abraão recebeu

tantas graças por ter albergado três anjos em sua casa, que bênçãos se derramaram sobre a casa de

Zacarias onde entrou o Anjo do Grande Conselho (Is 9,6), a verdadeira arca da Aliança, o divino profeta,

Nosso Senhor escondido no seio de Maria! Toda a casa ficou repleta de alegria: o menino estremeceu, o

pai recuperou a fala, a mão ficou cheia do Espírito Santo e recebeu o dom da profecia. Vendo Nossa

Senhora entrar em sua casa, ela exclamou: "De onde me vem esta graça, que a Mãe do meu Deus me

venha visitar?"... E Maria, ouvindo o que sua prima dizia em seu louvor, humilhou-se e rendeu glória a

Deus de todo o seu coração. Confessando que toda a sua felicidade procedia desse Deus que "tinha olhado

para a humildade da sua serva", ela entoou o belo e admirável do seu Magnificat.

Como devemos estar transbordantes de alegria, também nós, quando nos visita esse divino Salvador no

Santíssimo Sacramento ou através das graças interior, as palavras que dia a dia ele diz no nosso

coração!

(Lc.1,39-45 –pg.1346 – Maria visita Isabel -DDPC

39.Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.

40.Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

41.Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42.E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

43.Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

44.Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

45.Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia e depois Bispo de Constantinopla, Doutor da

Igreja

Homilia atribuída (a partir da trad. de Solesmes, Leccionário, t. 3, p. 1039 rev.)

«O menino saltou de alegria no meu seio»

Que mistério novo e admirável! João não nasceu ainda e já fala através dos seus saltos. Ainda não

apareceu e já profere anúncios. Ainda não pode gritar e já se faz ouvir através dos seus atos. Ainda não

começou a sua vida e já prega a Deus. Ainda não vê a luz e já aponta para o Sol. Ainda não foi dado ao

mundo e já se apressa a agir como precursor. O Senhor está ali: ele não é capaz de se conter, não suporta

os limites fixados pela natureza, esforça-se por romper a prisão do seio materno e procura dar a conhecer

antecipadamente a vinda do Salvador. Ele diz: «Aquele que rompe as cadeias chegou e eu continuo em

cadeias, sou forçado a continuar aqui? O Verbo vem para restabelecer tudo e eu permaneço cativo? Vou

sair e vou correr diante d'Ele e proclamarei a todos: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do

mundo!» (Jo 1, 29)

Mas diz-nos, João: ainda retido na obscuridade do seio da tua mãe, como é que vês e ouves? Como

contemplas as coisas divinas? Como podes tu saltar e exultar? Ele responde: «Grande é o mistério que se

cumpre – é um feito que escapa à compreensão do homem. Tenho o direito de inovar na ordem natural

por causa d'Aquele que deve inovar na ordem sobrenatural. Vejo antes mesmo de nascer, porque vejo em

gestação o Sol de Justiça (Ml 3, 20). Apercebo-me pelo ouvido porque, vindo ao mundo, sou a voz que

precede o grande Verbo. Grito porque contemplo, revestido da Sua carne, o Filho único do Pai. Exulto

porque vejo o Criador do universo receber a forma humana. Salto de alegria porque penso que o Redentor

do mundo tomou corpo. Sou o precursor da Sua vinda e antecipo o vosso testemunho com o meu.»

Lc.1,46-56 – DDPC – p.1346 46.E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,

47.meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

48.porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,

49.porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.

50.Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.

51.Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.

52.Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

53.Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.

54.Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

55.conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.

56.Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

7ª homilia sobre S. Lucas

"Donde me vem esta graça de que a mãe do meu Senhor venha até mim?"- (v.43)

"Tu és bendita entre as mulheres e o fruto do teu ventre é bendito. Donde me vem esta graça de que a mãe

do meu Senhor venha até mim?" Estas palavras: "Donde me vem esta graça?" não são sinal de ignorância

como se Isabel, toda cheia do Espírito Santo, não soubesse que a mãe do Senhor tinha vindo até ela de

acordo com a vontade de Deus. Eis o sentido das suas palavras: "Que fiz eu de bom? Em que é que as

minhas obras são tão importantes que a mãe do Senhor venha ver-me? Serei uma santa? Que perfeição,

que fidelidade me mereceram esta graça, a visita da mãe do Senhor?" "Porque ainda a tua voz não tinha

aflorado os meus ouvidos e já o meu filho exultava de alegria no meu seio". Ele tinha sentido que o

Senhor viera para santificar o seu servo ainda antes do seu nascimento.

Pode acontecer que me chamem louco os que não têm fé por eu ter acreditado nestes mistérios!... Porque

o que é considerado loucura por essa gente é para mim ocasião de salvação. Na verdade, se o nascimento

do Salvador não tivesse sido celeste e bem-aventurado, se não tivesse tido nada de divino e de superior à

natureza humana, nunca a sua doutrina teria atingido toda a terra. Se, no seio de Maria, tivesse havido

apenas um homem e não o Filho de Deus, como teria sido possível que nesse tempo, e ainda hoje, fossem

curadas todas as espécies de doenças, não só do corpo mas também da alma?... Se reunirmos tudo o que

se diz acerca de Jesus, podemos constatar que tudo o que foi escrito a seu respeito é considerado divino e

digno de admiração, porque o seu nascimento, a sua educação, o seu poder, a sua Paixão, a sua

Ressurreição não são apenas fatos que ocorreram naquele tempo: eles agem em nós ainda hoje.

Lc.(2,16-21) – p.1348 – DDPC – Nascimento de Jesus Cristo 16.Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.

17.Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.

18.Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.

19.Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.

20.Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o

que lhes fora dito.

21.Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha

chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno.

Comentário feito por:

S. Proclus de Constantinopla (c. de 390-446), bispo

Sermão n° 1 ; PG 65, 682

"Quando foi a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher" (Ga. 4,4)

Que a natureza estremeça de alegria e que exulte todo o gênero humano, uma vez que as mulheres

também são chamadas a esta honra. Que a humanidade dance em coro...: «Onde o pecado abundou,

superabundou a graça» (Rm 5,20). A santa Mãe de Deus reuniu-nos aqui, a Virgem Maria, tesouro

puríssimo de virgindade, paraíso espiritual do segundo Adão, ponto de união das duas naturezas, lugar de

troca onde se concluiu a nossa salvação, câmara nupcial em que Cristo desposou a nossa carne. Ela é essa

sarça ardente que o fogo do parto de um Deus não consumiu, a nuvem ligeira que transportou Aquele que

tem o trono acima dos querubins, o velo puríssimo que recebeu o orvalho celeste... Maria, serva e mãe,

virgem, céu, ponte única entre Deus e os homens, tear da encarnação em que se achou admiravelmente

confeccionada a túnica da união das duas naturezas - e o Espírito Santo foi o tecelão.

Não sua bondade, Deus não desdenhou nascer de uma mulher, mesmo se Aquele que dela ia ser formado

era Ele mesmo a vida. Mas, se a mãe não tivesse permanecido virgem, esta gestação não teria nada de

espantoso; seria simplesmente um homem que teria nascido. Mas, uma vez que ela permaneceu virgem

mesmo após o parto, como poderia não se tratar de Deus e de um mistério inexprimível? Nasceu de uma

maneira inefável, sem mancha, Aquele que mais tarde entrará sem obstáculo, com todas as portas

fechadas, e diante de quem Tomé exclamará, contemplando a união das duas naturezas: «Meu Senhor e

meu Deus!» (Jo 20,28)

Por nosso amor, Aquele que por natureza era incapaz de sofrer expôs a numerosos sofrimentos. Cristo

não se tornou Deus pouco a pouco; de modo nenhum! Mas, sendo Deus, a sua misericórdia levou-o a

tornar-se homem, tal como a fé nos ensina. Não pregamos um homem que se tornou Deus, proclamamos

um Deus feito carne. Tomou por mãe a sua serva, Ele que pela sua natureza não conhece mãe e que, sem

pai, encarnou no tempo.

Comentário feito por:

João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005

Homilia de 01/01/02 (© copyright Libreria Editrice Vaticana)

Mãe de Deus, Mãe do Príncipe da Paz

«Salve Santa Mãe santa, que destes à luz o Rei do céu e da terra» (antífona de entrada). Hoje, oitavo dia

depois do Natal e primeiro dia do ano, a Igreja dirige-se com esta antiga saudação à Santíssima Virgem

Maria, invocando-a enquanto Mãe de Deus. O Filho eterno do Pai tomou n'Ela a nossa carne e tornou-se,

através d'Ela «filho de David, filho de Abraão» (Mt 1, 1). Maria é, portanto, a verdadeira Mãe, a

Theotokos, a Mãe de Deus! Se Jesus é a Vida, Maria é a Mãe da Vida. Se Jesus é a Esperança, Maria é a

Mãe da Esperança. Se Jesus é a Paz, Maria é a Mãe da Paz, a Mãe do Príncipe da Paz. Entrando no novo

ano, pedimos a esta Mãe santa que nos abençoe. Peçamos-lhe que nos dê Jesus, a nossa bênção completa,

com a qual o Pai abençoou a história de uma vez por todas, fazendo com que se tornasse uma história de

salvação. [...] O Menino nascido em Belém é a Palavra eterna do Pai feita carne para nossa Salvação: é

«Deus conosco» que traz consigo o segredo da verdadeira paz. Ele é o Príncipe da Paz (Is 7, 14; 9, 5).

«Salve, Santa Mãe!» [...] O Menino que apertas contra o peito tem um nome querido aos povos da

religião bíblica: «Jesus», que significa «Deus salva». Assim Lhe chamava o arcanjo, antes mesmo de que

Ele fosse concebido no teu seio (Lc 2, 21). Na face do Messias recém-nascido reconhecemos a face de

cada um dos teus filhos ultrajados e explorados. Reconhecemos em especial a face das crianças, seja qual

for a sua raça, o país ou a cultura a que pertençam. Para elas, ó Maria, pelo futuro delas, te pedimos que

enterneças os corações endurecidos pelo ódio, a fim de que se abram ao amor e de que a vingança ceda

finalmente o lugar ao perdão. Ó Mãe, alcança-nos que a verdade desta afirmação – não há paz sem haver

justiça e não há justiça sem haver perdão – se imprima no coração de todos. A família humana poderá

assim reencontrar a paz verdadeira, que nasce do encontro entre a justiça e a misericórdia. Mãe santa,

Mãe do Príncipe da Paz, ajuda-nos! Mãe da humanidade e Rainha da Paz, ora por nós!

Lc.5,17-26 [pg.1352/53] – Cura de um paralítico.- DDPC 17.Um dia estava ele ensinando. Ao seu derredor estavam sentados fariseus e doutores da lei, vindos de todas as localidades da

Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor fazia-o realizar várias curas.

18.Apareceram algumas pessoas trazendo num leito um homem paralítico; e procuravam introduzi-lo na casa e pô-lo diante

dele.

19.Mas não achando por onde o introduzir, por causa da multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o arriaram com o

leito ao meio da assembléia, diante de Jesus.

20.Vendo a fé que tinham, disse Jesus: Meu amigo, os teus pecados te são perdoados.

21.Então os escribas e os fariseus começaram a pensar e a dizer consigo mesmos: Quem é este homem que profere blasfêmias?

Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?

22.Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, replicou-lhes: Que pensais nos vossos corações?

23.Que é mais fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer: Levanta-te e anda?

24.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados (disse ele ao paralítico), eu te ordeno:

levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.

25.No mesmo instante, levantou-se ele à vista deles, tomou o leito e partiu para casa, glorificando a Deus.

26.Todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificavam a Deus; e tomados de temor, diziam: Hoje vimos coisas

maravilhosas.

Encontramos também na narrativa da cura de um paralítico, duas Palavras de Ciência, que transformaram

a vida de várias pessoas.

- A 1ª. Palavra de Ciência (v.20) – Foi uma ação do Espírito Santo movida pela fé daquelas pessoas que

traziam o paralítico para que Jesus o curasse.

Quando Jesus diz “ teus pecados te são perdoados” é porque sabe por revelação de que a necessidade do

paralítico é ser perdoado de seus pecados, que inúmeras vezes são a causa de muitos males físicos e

espirituais. Para o paralítico, certamente, eram empecilhos para a ação de Deus em sua vida. – (DDCI)

- A 2ª. Palavra de Ciência: Revelou pensamentos dos escribas e fariseus: “Quem é este homem que

profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?”.

- Quando Jesus penetra nos pensamentos dos fariseus e escribas através de uma ação espiritual do Espírito

Santo, pela Palavra de Ciência Ele “desarma” os escribas e fariseus em seus argumentos para daí poder

agir, curando o paralítico, e atingir seu objetivo: fazer que eles percebam que Ele é Deus e tem poder de

perdoar pecados e de curar.

- A manifestação do Espírito Santo, na cura, na Palavra de Ciência, nas línguas e nos outros dons tem

sempre a finalidade de nos voltar para Deus:

“Todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificaram a Deus; e tomados de temos, diziam: Hoje

vimos coisas maravilhosas. (v.26)”.

- O fato de Jesus curar, expulsar demônios, utilizar todos os carismas do Espírito Santo, servia sempre

como sinal de que o Reino de Deus havia chegado, pois os profetas haviam predito que o Messias faria

prodígios e sinais. Estes sinais serviam também como meio de conversão.

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lião (c.130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias III, 2, 2

«Hoje vimos coisas extraordinárias» - (v.26)

O Verbo de Deus veio habitar no homem; fez-se «Filho do Homem» para habituar o homem a receber

Deus e para habituar Deus a habitar no homem, como foi vontade do Pai. Eis por que o sinal da nossa

salvação, Emanuel nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is 7,14). É de fato o próprio Senhor

que salva os homens, pois estes não podem salvar-se a si próprios. […] Disse o profeta Isaías: «Revigorai,

ó mãos abatidas, ó vacilantes joelhos! Dai ânimo à vossa coragem, corações pusilânimes! Tomai ânimo,

não temais! Eis o nosso Deus, que vem para nos vingar; Ele vem em pessoa, e vem para nos salvar»

(35,3-4). Porque é pela intervenção de Deus, e não pela do homem, que recebemos a salvação.

Eis outro texto onde Isaías prediz que Quem nos salvará não é homem nem ser incorpóreo: «Não será um

mensageiro, não será um anjo, será o próprio Senhor a salvar o seu povo. Porque o ama, perdoar-lhe-á;

Ele próprio o libertará» (63,9). Mas tal Salvador é homem também, verdadeiramente, e portanto visível:

«Eis, Cidade de Sião, que os teus olhos verão o nosso Salvador» (33,20). […] Disse um outro profeta:

«Ele próprio virá, far-nos-á misericórdia, e lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mi 7,19). […]

De Belém, aldeia da Judéia (Mi 5,1), é que deverá sair o filho de Deus, que é Deus também, para difundir

o seu louvor por toda a terra […]. Portanto Deus fez-se homem; e o próprio Senhor nos salvou, ao dar-nos

o sinal da Virgem.

Comentário feito por:

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Sermão 50; PL 52, 339 (a partir da trad. Matthieu commenté, DDB 1985, p. 72)

«Que pensais em vossos corações?»

Graças à fé de outrem, a alma do paralítico foi curada antes do seu corpo. «Vendo a fé daqueles homens»

diz o Evangelho. Observai, irmãos, que Deus não Se incomoda com o que querem os homens insensatos,

que não espera encontrar fé nos ignorantes [...], nos ímpios. Em contrapartida, não Se recusa a vir em

auxílio da fé de outrem. Esta fé é uma graça concedida e acontece por vontade de Deus. [...] Na Sua

divina bondade, este médico que é Cristo tenta chamar à salvação aqueles que, contra a sua própria

vontade, sofrem as doenças da alma, aqueles a quem o peso dos pecados e das faltas esmaga até ao

delírio. Mas que não desejam ser salvos.

Ó meus irmãos, se quiséssemos, se todos quiséssemos ver até ao fundo a paralisia da nossa alma!

Observaríamos que, privada das suas forças, ela jaz numa cama de pecados. A ação de Cristo em nós seria

fonte de luz. Compreenderíamos que Ele observa em cada dia a nossa falta de fé tão prejudicial, nos

arrasta para uma cura benigna e esmaga de imediato a nossa vontade rebelde. «Meu filho, diz Ele, os teus

pecados estão perdoados.»

.Lc.(5,27-32)-p.1353 – DDPC – Vocação de Levi- Discurso sobre o jejum. 27.Depois disso, ele saiu e viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: Segue-me.

28.Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.

29.Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles.

30.Os fariseus e os seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: Por que comeis e bebeis com os publicanos

e pessoas de má vida?

31.Respondeu-lhes Jesus: Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos.

32.Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores.

Comentário feito por:

Liturgia Latina

Hino "Audi benigne Conditor"

"Não vim para chamar os justos mas os pecadores, para que se convertam"- (v.32)

Benigno Criador, ouvi clemente

As nossas orações e o nosso pranto;

Neste sagrado tempo da Quaresma,

Compadecido olhai-nos, ó Deus santo.

Justíssimo juiz das nossas almas,

Vós conheceis a enfermidade humana:

Voltando para Vós arrependidos,

Pedimos vossa graça soberana.

Confessamos que somos pecadores,

Mas, em vez do castigo, perdoai-nos.

Por vosso nome santo e vossa glória,

Da nossa vil miséria libertai-nos.

Aceitai o jejum e a penitência

Que em nossa própria carne suportamos;

Por eles, nossas almas se libertem

Dos erros e misérias que choramos.

Estas nossas humildes oferendas

Aceitai, ó Santíssima Trindade,

E levai-nos, no amor purificados,

Ao esplendor da vossa eternidade.

Lc.(5,27-32) – p.1353 - DDPC – Vocação de Levi.Discurso sobre o jejum

Comentário feito por:

Richard Rolle (c. 1300-1349), ermita inglês

O Cântico do Amor, 32

"Eu vim para chamar... os pecadores, para que se convertam" – (v.32)

Na cruz, Cristo chama com grandes gritos... Ele oferece a paz e dirige-se a ti, desejando ver-te abraçar o

amor...:

«Pensa só nisto, meu bem-amado! Eu, que sou o Criador sem limite, desposei a carne para ser capaz de

nascer de uma mulher. Eu, que sou Deus, apresentei-me aos pobres como seu companheiro. Foi uma mãe

humilde, a que escolhi. Foi com os publicanos que comi. Os pecadores nunca me inspiraram aversão.

Quanto aos perseguidores, pude suportá-los. Experimentei o chicote e "humilhei-me até à morte, e morte

de cruz" (Fl.2,8). "Que deveria ter feito e não fiz?" (Is 5,4) Abri o meu lado com a lança. A minha carne

ensangüentada, porque não olhas para ela? A minha cabeça inclinada (Jo 19,30), porque não lhe prestas

atenção? Aceitei que me contassem no número dos condenados e eis que, submergido em sofrimentos,

morro por ti, para que tu vivas para mim. Se não fazes grande caso de ti mesmo, se não procuras libertar-

te dos laços da morte, arrepende-te, pelo menos agora, por causa de mim, que derramei por ti o bálsamo

tão precioso do meu próprio sangue. Olha-me a morrer e pára nessa encosta de pecado. Sim, deixa de

pecar: custaste-me tão caro!

Por ti encarnei, por ti também nasci, por ti me submeti à Lei, por ti fui batizado, esmagado de opróbrios,

preso, amarrado, coberto de escarros, escarnecido, flagelado, ferido, pregado na cruz, embebedado com

vinagre e, por fim, imolado. Por ti. O meu lado está aberto: agarra o meu coração. Corre, abraça-te ao

meu pescoço: ofereço-te o meu beijo. Eu adquiri-te como minha parte da herança, por forma a que

nenhum outro te tenha em seu poder. Entrega-te todo a mim que me entreguei totalmente por ti.»

Comentário feito por:

Comentário ao Evangelho do dia feito por

Beato Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara

«E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-O»

Como sois bom, meu Deus, e como Vos aplicais a reabilitar os pecadores, a clamar «Esperança» aos

culpados. Como Vos revelais, desde as primeiras linhas do Evangelho, o Bom Pastor, o Pai do filho

pródigo, o médico divino que veio para os doentes.

Parece que assumistes, logo desde as primeiras linhas do Evangelho, a tarefa de nos repetir: «Não desejo

a morte do pecador, mas sim que ele se converta e viva» (Ez.18,23). Oh Deus, Pai das misericórdias,

quereis dizer-nos que há esperança e graça mesmo para os culpados, mesmo para os mais caídos, os mais

impuros. Aqueles que, aos olhos dos homens, estão irremediavelmente aviltados e perdidos são ainda

nobres e belos aos Vossos olhos. Que eles se arrependam, que digam como David: «Pequei» (2Rs 12,13).

Revelais com tanta generosidade a estas almas, que o mundo considerava tão perdidas e que Vós tendes

plenamente encontrado, reabilitado, purificado, embelezado, revelais tão generosamente o tesouro dos

Vossos favores que nenhuma graça lhes é recusada, nenhuma grandeza lhes está inacessível.

Por mais fundo que caiamos, não desesperemos nunca. A bondade de Deus está acima de todo o mal

possível. «Mesmo que os vossos pecados fossem como escarlate, tornar-se-iam brancos como a neve.» (Is

1,18). Não há nenhum momento na nossa vida em que não possamos começar uma existência nova,

separada como que por um muro das nossas infidelidades do passado.

Comentário feito por:

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

No Greater Love (a partir da trad. Il n'y a pas de plus grand amour, Lattès, 1997, p. 67)

Chamados a ser santos

Qual é a vontade perfeita de Deus a nosso respeito ? Deves tornar-te santo. A santidade é a maior dádiva

que Deus nos pode fazer, porque Ele criou-nos para esse fim. Para aquele ou aquela que ama, submeter-se

é mais do que um dever, é o próprio segredo da santidade.

Como dizia São Francisco, todos nós somos quem somos aos olhos de Deus – nada mais, nada menos.

Todos somos chamados a ser santos. Não há nada de extraordinário nessa chamada. Todos fomos criados

à imagem de Deus, a fim de amarmos e sermos amados. Jesus deseja a nossa perfeição com um ardor

indizível. «Eis a vontade de Deus: a vossa santificação» (1Ts.4, 3). O Seu Sagrado Coração transborda de

uma vontade insaciável de nos ver caminhar em direção à santidade.

Devemos renovar todos os dias a nossa decisão de nos elevarmos com mais fervor, como se se tratasse do

primeiro dia da nossa conversão, dizendo: «Ajuda-me, Senhor meu Deus, nas minhas boas resoluções ao

Teu santo serviço e dá-me hoje mesmo a graça de começar verdadeiramente, pois tudo o que fiz até agora

não é nada.» Só podemos ser renovados se tivermos a humildade de reconhecer aquilo que em nó tem

necessidade de o ser.

.Lc.(5,33-39)-p.1353 – DDPC

33.Eles então lhe disseram: Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com freqüência e fazem longas orações,

mas os teus comem e bebem...

34.Jesus respondeu-lhes: Porventura podeis vós obrigar a jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles?

35.Virão dias em que o esposo lhes será tirado; então jejuarão.

36.Propôs-lhes também esta comparação: Ninguém rasga um pedaço de roupa nova para remendar uma roupa velha, porque

assim estragaria uma roupa nova. Além disso, o remendo novo não assentaria bem na roupa velha.

37.Também ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo arrebentará os odres e entornar-se-á, e

perder-se-ão os odres;

38.mas o vinho novo deve-se pôr em odres novos, e assim ambos se conservam.

39.Demais, ninguém que bebeu do vinho velho quer já do novo, porque diz: O vinho velho é melhor.

Comentário feito por:

João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha

Sermões

"Podem os convidados da boda jejuar, enquanto o Esposo está com eles?" – (v.34)

Tínhamos deixado a Síria e aproximávamo-nos da província do Egipto, desejosos de aí aprender os

princípios dos monges antigos, e espantávamo-nos com a grande cordialidade com que éramos recebidos.

Contrariamente ao que nos tinham ensinado nos mosteiros da Palestina, não observavam ali a regra de se

esperar o momento fixado para as refeições mas, exceto à quarta e à sexta-feira, onde quer que fôssemos,

quebravam o jejum. Um dos anciãos a quem perguntamos porque é que, entre eles, se omitiam tão

freqüentemente os jejuns quotidianos, respondeu-nos: "O jejum está sempre comigo, mas quanto a vós, de

quem em breve me vou despedir, não poderei guardar-vos constantemente comigo. E o jejum, embora útil

e necessário, é, contudo, a oferenda de um presente voluntário, ao passo que o cumprimento de uma obra

de caridade é a exigência absoluta do preceito. É por isso que, acolhendo em vós a Cristo, eu devo

restabelecê-lo e, depois de me ter despedido de vós, poderei compensar em mim, através de um jejum

mais estrito, a cortesia que vos manifestei em atenção a Cristo. Na verdade, 'os amigos do Esposo não

podem jejuar enquanto o Esposo está com eles'. Mas, logo que ele se afastar, então poderão fazê-lo".

Lc.(5,33-39)- p.1353 – DDPC

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

Sermão 83 sobre o Cântico dos Cânticos

«O Esposo está com eles»

De entre todos os movimentos da alma, de entre todos os sentimentos e os afetos da alma, o amor é o

único que permite à criatura corresponder ao seu Criador, senão de igual para igual, pelo menos de

semelhante para semelhante. [...] O amor do Esposo, ou antes, o Esposo que é amor, apenas pede amor

recíproco e fidelidade. Que seja, pois, permitido à esposa corresponder a esse amor. E como podia ela não

amar, sendo como é esposa, e esposa do Amor? Como poderia o Amor não ser amado? Ela tem, pois,

razões para renunciar a todos os outros afetos, para se entregar a um único amor, uma vez que lhe foi

dado corresponder ao Amor com um amor recíproco. [...]

Mas, mesmo que ela se fundisse por completo no amor, o que seria isso em comparação com a torrente de

amor eterno que brota da própria fonte? O fluxo não corre com a mesma abundância daquele que ama e

do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, da criatura e do Criador; não existe a mesma

abundância na fonte e naquele que vem beber à fonte. [...] Quer dizer então que os suspiros da esposa, o

seu fervor amoroso, a sua espera cheia de confiança, que tudo isso é em vão, porque ela não pode

rivalizar na corrida com um campeão (Sl 18, 6), não pode querer ser tão doce como o mel, terna como o

cordeiro, branca como o lírio, luminosa como sol, e tão amorosa como Aquele que é o próprio Amor?

Não. Porque, se é certo que a criatura, na medida em que é inferior ao Criador, ama menos do que Ele,

também é certo que pode amar com todo o seu ser; e, onde há totalidade, nada falta.

É esse o amor puro e desinteressado, o amor mais delicado, pacífico e sincero, mútuo, íntimo, forte, que

reúne os dois amantes, não numa só carne, mas num único espírito, de modo que eles se tornam um só,

nas palavras de São Paulo: «Aquele que se une ao Senhor constitui com Ele um só espírito» (1Cor 6, 17).

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermões sobre a primeira carta de São João, I, 2 (a partir da trad. de SC 75, p. 115)

«Enquanto o esposo está com eles»

São João escreve: «Nós vimo-la, dela damos testemunho» (1Jo 1, 2). Onde a viram eles? Na sua

manifestação. Como foi a sua manifestação? Foi sob o sol, por outras palavras, a esta luz visível. Mas

poderíamos nós ver Quem fez o sol à luz do mesmo sol se Ele não tivesse feito «lá no alto, uma tenda

para o sol, donde sai, como esposo do seu leito, a percorrer alegremente o seu caminho» [Sl 19 (18), 6]?

Verdadeiro Criador, Ele é anterior ao sol, precedeu a estrela da manhã, todos os astros e todos os anjos

porque «por Ele é que tudo começou a existir e sem Ele nada veio à existência» (Jo 1, 3). Querendo que O

víssemos com os nossos olhos de carne que vêem o sol, montou a Sua tenda debaixo do sol, quer dizer,

mostrou-Se na carne manifestando-Se a esta luz terrestre e o tálamo deste esposo foi o seio da Virgem.

Porque neste seio virginal uniram-se os dois, o esposo e a esposa, o Verbo esposo e a carne esposa. Como

está escrito: «os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24); e o Senhor disse no Evangelho: «Portanto já não

são dois, mas um só» (Mt 19, 6). Isaías exprime melhor como esses dois se tornam um quando, falando

em nome de Cristo, diz: «Como um noivo que cinge a fronte com o diadema, e como a noiva que se

adorna com as suas jóias» (61, 10). Parece ser um único indivíduo a falar e apresenta-se alternadamente

como esposo e como esposa. Não são dois, mas uma só carne, porque «o Verbo fez-se homem e veio

habitar conosco» (Jo.1,14). A esta carne se une a Igreja e forma-se o Cristo total, cabeça e corpo (Ef.1,

22-23).

Lc.7,36-47 [pg.1356] – A pecadora perdoada. - DDPC

36.Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa.

37.Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de

perfume;

38.e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os

enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.

39.Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia

quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora.

40.Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele.

41.Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta.

42.Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?

43.Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem.

44.E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas

esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos.

45.Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés.

46.Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés.

47.Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco

se perdoa, pouco ama.

48.E disse a ela: Perdoados te são os pecados.

49.Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados?

50.Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz.

- Os fariseus tinham uma dificuldade enorme de aceitar Jesus como Messias, porque estavam com a

mentalidade amarrada a muitas regras, leis e preceitos.Isto faziam com que eles vissem as coisas

espirituais com olhos de homens carnais e conseqüentemente, não aceitaram a misericórdia e o amor que

Jesus veio ensinar a viver. Por isto eram intolerantes com relação aos pecadores e acreditavam que os que

se misturavam aos pecadores públicos tornavam-se impuros.

- Podemos constatar esse pensamento dos fariseus em relação aos pecadores nesta narrativa da pecadora

perdoada(Lc.7,36-47) onde o fariseu, por ter escrúpulos, pensou que Jesus não fosse profeta, porque pelas

aparências não sabia que aquela mulher era pecadora, uma vez que permitia que o tocasse.(Lc.7,39).

- A Palavra de Ciência revela a Jesus o pensamento íntimo do fariseu, o que lhe trouxe assim a

oportunidade de ensinar-lhe sobre a mentalidade do Reino dos Céus.

- Através de uma pequena Parábola, Jesus levou o fariseu a raciocinar como a nova mentalidade do

Evangelho, afim de que ele pudesse, assim, abrir-se ao ensinamento fundamental que Jesus lhe daria a

seguir: a misericórdia está acima da lei.Deus perdoa e acolhe com alegria o pecador que se arrepende; a

mulher pecadora não o faria impuro, pois Ele viera exatamente para os pecadores. Da mesma forma que

os judeus consideram “impuro“ quem tocasse, ou que se deixasse tocar, ou convivesse com um pecador

público, também era considerada impura a mulher em sua menstruação ou hemorragia; assim como quem

a tocasse ou se deixasse tocar por ela nesse período.

Comentário feito por:

São Romano, o Melodista (c. 560), compositor de hinos

Hino 21

«Os pecados, os seus muitos pecados são perdoados» - (v.47)

Quando viu as palavras de Cristo a espalhar-se por toda a parte como aromas, a pecadora começou a

detestar o fedor que saía dos seus próprios atos: «Não fiz caso da misericórdia que Cristo tem para

comigo, procurando-me quando por minha culpa me perco. Porque é a mim que Ele procura em todo o

lado; é por mim que janta em casa do fariseu, Ele que dá alimento ao mundo inteiro. Faz da mesa um altar

de sacrifício onde Se oferece, perdoando as dívidas aos devedores, para que estes se aproximem com

confiança dizendo: ‘Senhor, me salva do abismo das minhas más obras.’».

Ali acorreu avidamente e, desprezando as migalhas, agarrou no pão; mais faminta do que a Cananéia (Mc

7,24 ss), saciou a sua alma vazia, com igual fé. Não foi o grito de apelo a chamá-Lo o que a remiu, mas o

silêncio, pois disse num soluço: «Senhor, livra-me do abismo das minhas más obras».

Correu até casa do fariseu, precipitando-se na penitência. «Vamos, alma minha, disse, chegou o momento

que tanto pedias! Aquele que purifica está aqui, por que ficares no abismo das tuas más obras? Vou ao

Seu encontro, pois foi por mim que Ele veio. Deixo os amigos do passado, porque a Este que hoje aqui

está, apaixonadamente O desejo; e como Ele me ama, dou-Lhe o perfume e as lágrimas que trago… O

desejo pelo Desejado transfigura-me e eu amo Aquele que me ama da maneira que Ele quer ser amado.

Arrependo-me e a Seus pés me rojo, é o que Ele espera; procuro o silêncio e o retiro, é o que Lhe agrada.

Rompo com o passado; renuncio ao abismo das minhas más obras.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

A Penitência, II, 8

“A tua fé te salvou. Vai em paz” – (v.50)

“Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt.9,12). Mostra portanto ao

médico a tua ferida, para poderes ser curado. Mesmo se tu não a mostrares, ele conhece-a, mas ele exige

de ti que tu o faças ouvir a tua voz. Limpa as tuas feridas com as tuas lágrimas. Foi assim que esta mulher

da qual fala o Evangelho se desembaraçou do seu pecado e da má reputação do seu desvio; foi assim que

ela se purificou da sua falta, lavando os pés de Jesus com as suas lágrimas.

Possas tu reservar também para mim, Jesus, o desvelo de lavar os teus pés, que tu sujaste enquanto

caminhavas em mim!... Mas onde encontrarei a água viva com a qual poderei lavar os teus pés? Se não

tenho água, tenho as minhas lágrimas. Fazei que lavando os teus pés com elas, eu possa purificar-me a

mim próprio! Como fazer de modo que digas de mim: “Os seus numerosos pecados são-lhe perdoados,

porque ela amou muito”? Confesso que a minha dívida é considerável e que “já fui resgatado”, eu que fui

arrancado do barulho das querelas da praça pública e das responsabilidades do governo para ser chamado

ao sacerdócio. Por conseqüência, eu temo ser considerado um ingrato se amo menos, dado que ele já me

resgatou.

Não me posso comparar à importância dessa mulher que foi justamente preferida ao fariseu Simão que

recebia o Senhor em sua casa. Entretanto, a todos os que quiserem merecer o perdão, ela dá uma

instrução, beijando os pés de Cristo, lavando-os com as suas lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos,

ungindo-os com perfume… se não a podemos igualar, o Senhor Jesus sabe vir em socorro dos fracos.

Onde não há ninguém que saiba preparar uma refeição, levar o perfume, trazer consigo uma fonte de água

viva (Jo 4,10), vem ele próprio.

(Lc.9,18-22) – pg.1359 – DDPC

18.Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou?

19. Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.

20.Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.

21.Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.

22.Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos

sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.

Papa Bento XVI

Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, 77 (trad. DC 2377, p. 335 © copyright Libreria Editrice

Vaticana)

"Quem sou eu para vós?" – (v.20)

É preciso reconhecer que um dos efeitos mais graves da secularização, há pouco mencionada, é ter

relegado a fé cristã para a margem da existência, como se fosse inútil para a realização concreta da vida

dos homens; a falência desta maneira de viver «como se Deus não existisse» está agora patente a todos.

Hoje torna-se necessário redescobrir que Jesus Cristo não é uma simples convicção privada ou uma

doutrina abstrata, mas uma pessoa real cuja inserção na história é capaz de renovar a vida de todos.

Por isso, a Eucaristia, enquanto fonte e ápice da vida e missão da Igreja, deve traduzir-se em

espiritualidade, em vida «segundo o Espírito» (Rm 8, 4s; cf. Gal 5, 16.25). É significativo que São Paulo,

na passagem da Carta aos Romanos onde convida a viver o novo culto espiritual, apele ao mesmo tempo

para a necessidade de mudar a própria forma de viver e pensar: «Não vos conformeis com este mundo,

mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus,

o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito» (12, 2). Deste modo, o Apóstolo das Gentes põe em

evidência a ligação entre o verdadeiro culto espiritual e a necessidade duma nova maneira de

compreender a existência e orientar a vida. Constitui parte integrante da forma eucarística da vida cristã a

renovação da mentalidade, pois «assim já não seremos crianças inconstantes, levadas ao sabor de todo o

vento de doutrina» (Ef 4, 14).

Comentário feito por:

Teodoreto de Cyr (393-460), bispo

Tratado sobre a Encarnação, 26-27; PG 75, 1465 (a partir da trad. breviário)

«O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado [...], ser morto e, ao terceiro dia,

ressuscitar.» (v.22)

Jesus aceitou, exclusivamente por Sua vontade, os sofrimentos anunciados pela Escritura. Tinha-os

predito muitas vezes aos discípulos e tinha mesmo repreendido Pedro severamente por ter acolhido este

anúncio com desagrado (Mt. 16, 23); por fim, tinha-lhes mostrado que seriam para salvação do mundo.

Foi por isso que Se designou a Si mesmo aos que vinham buscá-Lo: «Sou Eu» (Jo.18,5.8). [...]

Esbofetearam-No, cuspiram-Lhe em cima, foi ultrajado, torturado, flagelado, e por fim crucificado.

Aceitou que dois ladrões, um à direita e outro à esquerda, fossem associados ao Seu suplício; colocado ao

nível de assassinos e criminosos, recolhe o vinagre e o fel, frutos de uma vinha perversa; troçam Dele,

atingindo-O com uma cana, perfuram-Lhe o lado com uma lança, e por fim depositam-No no túmulo.

E sofreu tudo isto para nos dar a salvação. [...] Por meio dos espinhos, pôs fim aos castigos infligidos a

Adão, que devido ao seu pecado tinha escutado a seguinte sentença: «Maldita seja a terra por tua causa!

Há de produzir para ti espinhos e cardos» (Gn 3, 17-18). Com o fel, tomou para Si o que há de amargo e

penoso na vida mortal e dolorosa dos homens; com o vinagre, aceitou a degenerescência da natureza

humana e concedeu-lhe a restauração num estado melhor. Por meio da púrpura, simbolizou a Sua realeza;

pela cana, sugeriu quão fraco e frágil é o poder do demônio. Pela bofetada, proclamou a nossa libertação

[como se fazia aos escravos]; suportou as violências, as correções e as chicotadas que nos eram devidas.

Foi atingido no lado, fazendo lembrar Adão. Porém, ao invés da fazer sair dele a mulher que, por meio do

pecado, deu à luz a morte, fez jorrar uma fonte de vida (Gn 2, 21; Jo.19,34), que vivifica o mundo através

de uma dupla corrente: a primeira renova-nos e reveste-nos da veste da imortalidade no batistério; a

segunda, após este nascimento, alimenta-nos à mesa de Deus, como se dá de mamar aos recém-nascidos.

Comentário feito por:

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja

Pesia 52, «O abandono é o fruto delicioso do amor»

«"E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim". E dizia isto para indicar de que morte ia

morrer» (Jo, 12, 32-33)

Há nesta terra

uma Árvore maravilhosa

cuja raiz, oh mistério!

se encontra nos céus.

À sombra dos seus ramos

nada pode ferir;

aí se pode repousar

sem temer a tempestade.

Esta Árvore inefável

tem por nome Amor;

e seu fruto deleitável

chama-se abandono.

É um fruto que me torna feliz

já nesta vida;

e minha alma se alegra

com seu odor divino.

Este fruto, quando lhe toco,

é para mim um tesouro;

ao levá-lo à boca

mais doce ainda o sinto.

Ele me dá neste mundo

um oceano de paz;

e nesta paz profunda

repouso para sempre.

Só o abandono me entrega

em Teus braços, Jesus.

Ele me faz viver

a vida dos eleitos.

Lc.9,46-50 – p.1360 - DDPC 46.Veio-lhes então o pensamento de qual deles seria o maior.

47.Penetrando Jesus nos pensamentos de seus corações, tomou um menino, colocou-o junto de si e disse-lhes:

48.Todo o que recebe este menino em meu nome, a mim é que recebe; e quem recebe a mim, recebe aquele que me enviou;

pois quem dentre vós for o menor, esse será grande.

49.João tomou a palavra e disse: Mestre, vimos um homem que expelia demônios em teu nome, e nós lho proibimos, porque

não é dos nossos.

50.Mas Jesus lhe disse: Não lho proibais; porque, o que não é contra vós, é a vosso favor.

Comentário feito por:

João Cassiano (c. 360-435), fundador do mosteiro de Marselha

Conferências, n°15, 6-7 (a partir da trad. de SC 54, p. 216 e de Bourguet, L'Evangile médité, p. 53 rev.)

«Vinde e aprendei de Mim» (Mt.11, 28-29)

Os grandes da fé não tiravam nenhum partido do poder que detinham de operar maravilhas. Confessavam

que não tinham mérito nenhum nisso e que quem fazia tudo era a misericórdia do Senhor. Se alguém

admirava os seus milagres rejeitavam a glória humana com palavras recolhidas dos apóstolos: «Homens

de Israel, porque vos admirais com isto? Porque nos olhais, como se tivéssemos feito andar este homem

por nosso próprio poder ou piedade?» (At. 3, 12) No seu entender, ninguém devia ser louvado pelos dons

e maravilhas de Deus.

Mas por vezes acontece que homens inclinados ao mal, condenáveis a respeito da fé, expulsam demônios

e operam prodígios em nome do Senhor. Foi disso que os apóstolos se queixaram um dia: «Mestre –

disseram eles – vimos um homem expulsar demônios em Teu nome e impedimo-lo porque não é dos

nossos». Nessa altura Cristo respondeu: «Não o impeçais porque quem não está contra nós é por nós».

Mas quando, no fim dos tempos, Lhe disserem: «Senhor, Senhor, não foi em Teu nome que profetizamos,

em Teu nome que expulsamos os demônios e em Teu nome que fizemos muitos milagres?», Jesus afirma

que responderá: «Nunca vos conheci; afastai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade» (Mt.7, 22ss).

E àqueles a quem Ele próprio concedeu a graça gloriosa dos sinais e dos milagres, o Senhor avisa que não

se ensoberbeçam com isso: «Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por

estarem os vossos nomes escritos no céu» (Lc 10, 20). O Autor de todos os sinais e milagres chama os

Seus discípulos a guardar a Sua doutrina: «Vinde – diz-lhes – e aprendei de Mim», não a expulsar

demônios pelo poder do céu, nem a curar os leprosos, nem a dar luz aos cegos, nem a ressuscitar os

mortos, mas, diz Ele: «Aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração» (Mt.11, 29).

Comentário feito por:

João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha

Conferência n°15, 6-7 (a partir da trad. SC 54, p. 216 rev.)

«Quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande» -(v.48)

«Vinde», diz Cristo aos Seus discípulos, «e aprendei de Mim», não certamente a expulsar os demônios

pelo poder do céu, nem a curar os leprosos, nem a dar luz aos cegos, nem a reanimar os mortos [...]; mas,

diz Ele, «aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt.11, 28-29). Aí está,

efetivamente, o que todos podem aprender e praticar. Fazer revelações e milagres nem sempre é

necessário, nem vantajoso para todos, e também não é concedido a todos.

Pois a humildade é a mestra de todas as virtudes, o fundamento inabalável do edifício celestial, o dom

próprio e magnífico do Salvador. Aquele que o possui poderá fazer, sem perigo de causar estranheza,

todos os milagres que Cristo operou, porque procura imitar o Senhor manso, não na sublimidade dos Seus

prodígios, mas na virtude da paciência e da humildade. Em contrapartida, quem se sente impaciente por

se impor aos espíritos impuros, por dar saúde aos doentes, por mostrar às multidões sinais maravilhosos,

bem pode invocar o nome de Cristo no meio de toda a sua ostentação; mas esse é estranho a Cristo,

porque a sua alma orgulhosa não segue o mestre da humildade.

Eis o legado que o Senhor deixou aos Seus discípulos quando do Seu regresso para junto do Pai: «Dou-

vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu

vos amei»; e acrescenta de imediato: «Por isto é que todos conhecerão que sois Meus discípulos: se vos

amardes uns aos outros» (Jo 13,34-35). É bem certo que, quanto menos mansos e humildes formos,

menos cumpriremos este amor.

Lc.19,1-10 DDPC p.1374 1.Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.

2.Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.

3.Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura.

4.Ele correu adiande, subiu a um sicômoro para o ver, quando ele passasse por ali.

5.Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu

fique hoje em tua casa.

6.Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente.

7.Vendo isto, todos murmuravam e diziam: Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...

8.Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe: Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver

defraudado alguém, restituirei o quádruplo.

9. Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão.

10.Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.

Comentário feito por:

Santo Efrém (c. 306 – 373), diácono na Síria, Doutor da Igreja

Diatessaron, XV, 20-21 (a partir da trad. cf. SC 121, p. 277)

«Hoje veio a salvação a esta casa»

Rezava Zaqueu em seu coração: «Bem-aventurado aquele que é digno de receber este Justo em sua casa».

Nosso Senhor disse-lhe: «Desce depressa, Zaqueu!» E este, vendo que o Senhor lhe conhecia os

pensamentos, disse: «Se conhece os meus pensamentos, também conhece os meus atos». E foi por isso

que declarou: «Se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais».

«Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa». Graças à segunda árvore, a do chefe dos

publicanos, a primeira árvore, a de Adão, cai no esquecimento, e também o nome de Adão é esquecido

graças ao justo Zaqueu [...]: «Hoje veio a salvação a esta casa». [...] Pela sua obediência pronta, aquele

que ontem não passava de um ladrão torna-se hoje um benfeitor; aquele que ontem era coletor de

impostos torna-se hoje um discípulo.

Zaqueu abandonou a lei antiga; subiu a uma árvore inerte, símbolo da surdez do seu espírito. Mas esta

ascensão é o símbolo da sua salvação. Ele abandonou a sua baixeza, subindo à árvore para ver a

divindade nas alturas. Nosso Senhor apressou-Se a convidá-lo a descer daquela árvore ressequida que era

a sua antiga maneira de ser, a fim de que ele não permanecesse surdo. O amor a Nosso Senhor que nele

ardia consumiu nele o homem velho, para nele moldar um homem novo.

Lc.22,7-13 DDPC p.1378 7.Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa.

8.Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa.

9.Perguntaram-lhe eles: Onde queres que a preparemos?

10.Ele respondeu: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha de água; segui-o até a casa em que

ele entrar,

11.e direis ao dono da casa: O Mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos?

12.Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os preparativos.

13.Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa.

Comentário feito por:

Proclo de Constantinopla (c. 390-446), bispo

Sermão 9, para o Dia de Ramos; PG 65, 772 (a patir da trad. Brésard, 2000 anos, ano C, p. 108)

«Bendito Aquele que vem, o nosso Rei»

O dia de hoje, meus bem-amados, é da maior importância. É um dia que nos solicita um grande desejo,

uma pressa imensa, um alento vivo, para nos conduzir ao encontro do Rei dos Céus. Paulo, o mensageiro

da Boa Nova, dizia-nos: «O Senhor está perto. Não vos inquieteis» - (Fl.4, 5-6).

Acendamos, pois, as lamparinas da fé; à semelhança das cinco virgens sensatas (Mt.25, 1ss.), enchamo-

las do óleo da misericórdia para com os pobres; acolhamos a Cristo bem despertos, e cantemos-Lhe com

as palmas da justiça na mão. Beijemo-Lo, derramando sobre Ele o perfume de Maria (Jo 12, 3). Ouçamos

o cântico da ressurreição: que as nossas vozes se elevem, dignas da majestade divina, e brademos com o

povo, soltando esse grito que se escapa das bocas da multidão: «Hosana nas alturas! Bendito seja Aquele

que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel». É razoável chamar-Lhe «Aquele que vem», porque Ele

vem sem cessar, porque Ele nunca nos falta: «O Senhor está próximo de quantos O invocam em verdade»

(Sl 144, 18). «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor».

O Rei manso e pacífico está à nossa porta. Aquele que tem o trono nos céus, acima dos querubins, senta-

Se, cá em baixo, sobre uma burrinha. Preparemos a casa da nossa alma, limpemos as teias de aranha que

são os mal-entendidos fraternos, que não haja em nós a poeira da maledicência. Difundamos às mãos-

cheias a água do amor, e apazigüemos todas as feridas criadas pela animosidade; semeemos o vestíbulo

dos nossos lábios com as flores da piedade. E soltemos então, na companhia do povo, esse grito que brota

dos lábios da multidão: «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel»

Jo.1,19-28 DDPC p.1386 19.Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem

és tu?

20.Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo.

21.Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não.

22.Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes

de ti mesmo?

23.Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3).

24.Alguns dos emissários eram fariseus.

25.Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?

26.João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.

27.Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado.

28.Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.

Comentário feito por:

João Escoto Erigena (?- c. 870), beneditino irlandês

Homilia sobre o Prólogo de João, cap. 15 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 168; cf

SC 151, p. 275)

«No meio de vós está Aquele que não conheceis: é Ele quem vem após mim»

Como é lógico, é o evangelista João quem introduz João Baptista no seu discurso sobre Deus, «o abismo

que atrai o abismo» à voz dos mistérios divinos (Sl 41, 8): o evangelista conta a história do precursor.

Aquele que recebeu a graça de conhecer «o Verbo no princípio» (Jo 1, 1) ensina-nos acerca daquele que

recebeu a graça de vir à frente do Verbo encarnado. [...] Ele não diz simplesmente: houve um enviado de

Deus, mas «houve um homem». Fala assim para distinguir o precursor, que participa apenas da

humanidade, e o Homem que, unindo estreitamente em si divindade e humanidade, veio em seguida; para

separar o voz que passa e o Verbo que permanece para sempre de maneira imutável; para sugerir que um

é a estrela da manhã que aparece na aurora do Reino dos céus e declarar que o Outro é o Sol da justiça

que lhe sucede (Ml 3, 20). Distingue a testemunha Daquele que o envia, a lâmpada vacilante da luz

esplêndida que enche o universo (cf. Jo 5, 35) e que, para todo o gênero humano, dissipa as trevas da

morte e do pecado.

«Um homem foi enviado». Por quem? Pelo Deus Verbo que o precedeu. A sua missão era ser precursor.

É num grito que ele envia a palavra à sua frente: «no deserto, uma voz grita» (Mt.3, 3). O mensageiro

prepara a vinda do Senhor. «O seu nome era João» (Jo 1, 6): foi-lhe dada a graça de ser o precursor do

Rei dos reis, o revelador do Verbo desconhecido, o que batiza em ordem ao nascimento espiritual, a

testemunha da luz eterna, pela sua palavra e pelo seu martírio.

-Jo.1,47-51[pg.1385] – “ Encontros com os primeiros Discípulos”.

47.Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.

48.Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas

debaixo da figueira.

49.Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel.

50.Jesus replicou-lhe: Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta.

51.E ajuntou: Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o

Filho do Homem.

-O carisma de revelação é manifestado na Palavra de Jesus a Natanael.

-No (v.48) Jesus revela a Natanael uma palavra de ciência ao declarar que o tinha visto antes que Felipe o

chamasse.Uma particularidade que só Natanael e Jesus sabia.No (v.51) Jesus revela a Natanael que ele o

veria no céu após a sua morte,tendo Jesus ressuscitado.

-Podemos dizer então, que o Dom da Ciência, a Palavra de Ciência é conhecimento sobrenatural que se

recebe, por meio da qual a inteligência do homem se ilumina pela ação do Espírito Santo.

-O Dom da Ciência refere-se sempre a uma revelação do passado remoto da vida de alguém, de um

grupo, de uma comunidade, e pode vir como uma palavra, uma imagem (visão), uma seqüência de

imagens, um sentimento, uma frase, um sonho.

-Revela uma obra que Deus quer fazer mas precisa da colaboração da pessoa.O carisma da Palavra de

Ciência está sempre a serviço do outro: Cura, Palavra de Profecia, de Sabedoria.

-Deve ser exercido amplamente na oração comunitária, na intercessão com ou sem imposição de mãos;

muitos pensam que, como os carismas são dons para a edificação da Igreja... e quando se ora por alguém.

-Todos os carismas devem ser utilizados na oração pessoal, na vida do dia-a-dia, na oração comunitária e

quando se ora por alguém.

Comentário feito por:

S. Siluane (1866-1938), monge ortodoxo

Escritos

Na senda de Bartolomeu - Natanael, os apóstolos de hoje

Depois da Ascensão do Senhor, os apóstolos ficaram cheios de uma grande alegria, tal como nos diz o

Evangelho (Lc 24,52). O Senhor sabe que alegria lhes deu e quão intensamente a alma deles a

experimentou. A sua primeira alegria era a de conhecerem o verdadeiro Senhor, Jesus Cristo; a segunda, a

de o amarem; a terceira, a de conhecerem a vida eterna e celestial; a quarta, a de desejarem a salvação

para todo o mundo, tal como para eles próprios. Por fim, estavam inundados de alegria porque conheciam

o Espírito Santo e viam com agia neles.

Os apóstolos percorriam a terra e falavam ao povo do Senhor e do Reino dos Céus, mas as suas almas

estavam cheias de saudades e aspiravam a ver o Senhor. Por isso, eles não temiam a morte mas iam ao

seu encontro cheios de alegria; se desejavam viver na terra, era apenas por amor aos homens. Os

apóstolos amavam o Senhor e por isso não receavam qualquer tribulação. Amavam o Senhor, mas

amavam também os homens, e esse amor retirava-lhes todo o temor. Não temiam nem as tribulações nem

a morte e por isso o Senhor os enviou por todo o mundo para iluminarem os homens.

Até aos nossos dias, há gente de oração que experimenta este amor divino e a ele aspira dia e noite.

Servem o mundo com a sua oração e com os seus escritos. Mas esta tarefa recai sobretudo nos pastores da

Igreja, que têm em si uma graça tão grande que, se os homens lhe pudessem ver o brilho, o mundo inteiro

ficaria maravilhado. Mas o Senhor escondeu-o, a fim de que os seus servos não se orgulhem dele mas se

salvem na humildade.

Jo.(1,43-51) – pg.1385 – DDPC –

43.No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-se à Galiléia. Encontra Filipe e diz-lhe: Segue-me. 44.(Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro.)

45.Filipe encontra Natanael e diz-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei e que os profetas anunciaram: é Jesus

de Nazaré, filho de José.

46.Respondeu-lhe Natanael: Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré? Filipe retrucou: Vem e vê.

47.Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.

48.Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas

debaixo da figueira.

49.Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel.

50.Jesus replicou-lhe: Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta.

51.E ajuntou: Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do

Homem.

Comentário feito por:

Encontro com os primeiros discípulos.S. Basílio (cerca de 330 - 378), monge e bispo de Cesareia na

Capadócia, doutor da Igreja

Tratado do Espírito Santo, cap. 16

A santidade dos anjos (v.51)

«Os Céus foram consolidados pela palavra do Senhor e todo o seu exército pelo sopro da

Sua boca» (Sl 32,6)... Como não pensar na Trindade: O Senhor que ordena, a Palavra que cria, o Sopro

que consolida? O que quer dizer «consolidar», senão perfazer em santidade, designando seguramente esta

palavra o fato de estar solidamente fixado no bem? Mas, sem o Espírito Santo, não há santidade, porque

as potestades do céu não são santas pela sua própria natureza, senão não se distinguiriam do Espírito

Santo; cada uma delas detém do Espírito a medida da sua santidade.

A substância dos anjos é talvez um sopro aéreo ou um fogo imaterial. Um salmo diz: «Tens os ventos por

mensageiros, por servidor uma chama de fogo» (Sl 103,4). É por isso que podem estar num sítio e de

seguida tornar-se visíveis sob um aspecto corporal para aqueles que são dignos disso. Mas a santidade...

é-lhes comunicada pelo Espírito. E os anjos mantêm-se na sua dignidade perseverando no bem,

guardando a sua escolha; escolhem nunca se afastar do verdadeiro bem...

Como diriam os anjos: «Glória a Deus no mais alto dos céus» (Lc 2,14) senão pelo Espírito? Na verdade,

«ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, senão no Espírito Santo, e ninguém, se falar no Espírito de

Deus, diz: “maldito seja Jesus”» (1Co 12,3). É o que terão dito precisamente os espíritos maus,

adversários de Deus... no seu livre arbítrio... Poderiam as potestades invisíveis (Cl.1,16) ter uma vida feliz

se não vissem incessantemente a face do Pai que está nos céus? (Mt.18,10) Ora essa visão não se pode tê-

la sem o Espírito... Diriam os serafins: «Santo, Santo, Santo» (Is 6,3) se o Espírito lhes não tivesse

ensinado esse louvor? Se todos os Seus anjos e todas as Suas potestades celestes louvam a Deus (Sl

148,2), se milhares de milhares de anjos e inumeráveis miríades de ministros se conservam perto dele, é

na força do Espírito Santo que rege toda esta harmonia celeste e indizível, ao serviço de Deus e em

acordo mútuo.

Jô.(1,43-51) – 1385 – DDPC -

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica

§ 328-332

«Os anjos de Deus sobem e descem por cima do Filho do Homem»- (v.51)

A existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é

uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição.

Santo Agostinho diz a respeito deles: Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se

perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito

por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu ser, os anjos são servidores e mensageiros de

Deus. Porque contemplam "constantemente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são

"poderosos executores de sua palavra, obedientes ao som de sua palavra" (Sl 103,20).Como criaturas

puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e imortais.

Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá testemunho o fulgor de sua glória.

Cristo é o centro do mundo angélico. São seus os anjos: "Quando o Filho do homem vier em sua glória

com todos os seus anjos..." (Mt 25,31). São seus porque foram criados por e para Ele: “Pois foi nele que

foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Dominações,

Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1,16). São seus, mais ainda, porque Ele os

fez mensageiros de seu projeto de salvação. "Porventura não são todos eles espíritos servidores, enviados

ao serviço dos que devem herdar a salvação?"(Hb.1,14).

Jo.(1,43-51) –p.1385 – DDPC – Encontro com os primeiros discípulos

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja

Sermões sobre São João, nº 7

“Vi-te quando estavas debaixo da figueira” – (v.48)

Natanael estava sentado debaixo de uma figueira, como que à sombra da morte. E foi aí que o Senhor o

viu, Ele acerca de Quem está escrito: “Para aqueles que habitavam uma terra de sombras, a luz brilhou”

(Is 9, 1). Que disse Ele a Natanael? Perguntas-Me como te conheci? Falas-Me agora porque foste

chamado por Filipe. Mas, antes de o apóstolo o chamar, já Jesus tinha visto que ele fazia parte da Sua

Igreja. Tu, Igreja cristã, verdadeira filha de Israel, também tu conheces agora Jesus Cristo por meio dos

apóstolos, como Natanael conheceu Jesus Cristo por meio de Filipe. Mas a Sua misericórdia descobriu-te

antes de tu O teres conhecido, quando estavas caída, esmagada sob o peso dos teus pecados.

Com efeito, fomos nós quem primeiro buscou a Jesus Cristo? Não foi Ele, pelo contrário, Quem primeiro

nos procurou? Fomos nós, pobres doentes, que nos apresentamos ao médico? Não foi antes o médico

Quem veio ao encontro dos doentes? Não foi a ovelha que se perdeu antes de o pastor, deixando as outras

noventa e nove, ter ido à sua procura, a ter encontrado e a ter posto aos ombros cheio de alegria (Lc 15,

4)? Não estava a moeda perdida antes de a mulher ter acendido a lamparina e a ter procurado por toda a

casa, até a encontrar (Lc 15, 8)? O nosso pastor encontrou a sua ovelha, mas primeiro foi à sua procura;

tal como esta mulher, que só encontrou a moeda depois de tê-la procurado. Com efeito, nós fomos

procurados, e só podemos falar depois de termos sido encontrados; longe de nós, pois, qualquer

sentimento de orgulho. Estávamos perdidos para sempre, se Deus não tivesse ido à nossa procura para nos

encontrar.

Comentário feito por:

São Pedro Damião (1007-1072), eremita e depois bispo, Doutor da Igreja

Sermão 42, 2º para São Bartolomeu: PL 144, 726, 728 C-D (a partir da trad. Orval)

«Assim como a chuva e a neve descem do céu, [...] o mesmo sucede com a palavra que sai da Minha

boca» (Is 55, 10-11)

Os apóstolos são as pérolas preciosas que João afirma ter contemplado no Apocalipse, as pérolas que são

as portas da Jerusalém celeste (Ap.21, 21). [...] Com efeito, quando irradiam a luz divina por meio de

sinais e de milagres, os apóstolos abrem o acesso da glória celeste de Jerusalém aos povos convertidos à

fé cristã. E aqueles que graças a eles são salvos entram na vida, qual viajante que entra por uma porta. [...]

É também acerca deles que o profeta pergunta: «Quem são estes que voam como as nuvens?» (Is 60, 8),

nuvens que se condensam em água quando regam a terra do nosso coração com a chuva dos seus

ensinamentos, a fim de a tornarem fértil e portadora dos germens das boas obras.

Bartolomeu, cuja festa celebramos hoje, significa precisamente, em aramaico, «filho daquele que traz a

água». Ele é o filho deste Deus que eleva o espírito dos seus pregadores à contemplação das verdades do

alto, a fim de que eles possam difundir, com eficácia e abundância, a chuva da palavra de Deus nos

nossos corações. Assim, eles bebem a água na fonte, para depois no-la darem a beber a nós.

Jo.(1,47-51) – pg.1385 - DDPC

Comentário feito por:

S. Gregório o Grande (c. 540-604), papa e doutor da Igreja

Catequeses sobre o Evangelho, 34, 8-9

«Bendizei ao Senhor, todos os Seus anjos, sempre dóceis à Sua palavra» (Sl 103,20)

Muitas páginas da Sagrada Escritura atestam que os anjos existem... Mas é preciso saber que a palavra

«anjo» designa a sua função: ser mensageiro. E chamam-se «arcanjos» os que anunciam os

acontecimentos mais importantes. É assim que o arcanjo Gabriel é enviado à Virgem Maria; para esta

função, para anunciar o maior de todos os acontecimentos, impunha-se enviar um anjo da mais elevada

categoria...

Semelhantemente, quando se trata de estender um poder extraordinário, é Miguel que é o enviado. Com

efeito, a sua ação como o seu nome, querem dizer: «Quem é como Deus?», fazem compreender aos

homens que ninguém pode fazer o que pertence apenas a Deus realizar. O antigo inimigo, que desejou por

orgulho fazer-se semelhante a Deus, dizia: «Subirei aos céus, estabelecerei o meu trono acima das estrelas

de Deus, serei semelhante ao Altíssimo» (Is. 14,13). Mas o Apocalipse diz-nos que no fim dos tempos,

assim que ele for abandonado à sua própria força, antes de ser eliminado pelo suplício final, deverá

combater contra o arcanjo Miguel: «Travou-se uma batalha no céu: Miguel e os seus anjos pelejavam

contra o Dragão. E o Dragão também combatia juntamente com os seus anjos. Mas não prevaleceram; o

Dragão e os seus anjos foram precipitados na terra» (Ap.12, 7-9).

À Virgem Maria, foi pois Gabriel, cujo nome significa «Força de Deus», que foi enviado; não vinha ele

anunciar aquele que quisera manifestar-se num condição humilde, para triunfar do orgulho do

demônio? Era pois pela «Força de Deus» que devia ser anunciado aquele que vinha como «o Senhor

forte e poderoso, o Senhor herói nas batalhas» (Sl 24,8). Quanto ao arcanjo Rafael, o seu nome significa

«Deus cura». Com efeito, foi ele que libertou da escuridão os olhos de Tobias, tocando-os como um

médico vindo do alto (Tb 12,14). Aquele que foi enviado para tratar o justo na sua enfermidade bem pode

ser apelidado de «Deus cura».

Comentário feito por:

São Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego

Hino 2

«Os anjos nos céus vêem constantemente a face de Meu Pai» (Mt.18, 10)

Eu Te dou graças, porque me concedeste a vida,

e conhecer-Te e adorar-Te, meu Deus.

Porque «a vida, é conhecer-te, a Ti, único Deus verdadeiro» (Jo 17, 3),

criador e autor de tudo,

não gerado, não criado, sem princípio, único,

e Teu Filho, gerado de ti,

e o Espírito santíssimo, procedente de Ti,

a trina unidade digna de todo o louvor.

O que há nos anjos, nos arcanjos,

nas dominações, nos querubins e nos serafins

e em todos os outros exércitos celestes,

como glória ou como luz de imortalidade,

que alegria, que esplendor de vida imaterial,

senão a única luz da Santíssima Trindade?

Cita-me um ser incorporal ou corpóreo,

e encontrarás que foi Deus que tudo fez.

Se te falam de um ser qualquer, os do céu,

os da terra ou os dos abismos,

para esses também, para todos, não há senão uma única vida, uma glória,

um desejo e um reino,

uma única riqueza, alegria, coroa, vitória, paz,

ou qualquer outro brilho; e consiste isto:

no conhecimento do Princípio e da Causa

de onde tudo veio, onde tudo teve a sua origem.

Lá está quem mantém as coisas nas alturas e as coisas daqui de baixo,

Lá está quem põe ordem em todos os seres espirituais,

Lá está quem reina sobre todos os seres visíveis.

Eles cresceram em conhecimento e redobraram o temor

ao verem Satanás cair

e os seus companheiros arrebatados pela presunção.

Os que caíram esqueceram tudo isso,

escravos do seu orgulho;

enquanto que todos os que conservaram o conhecimento,

elevados pelo temor e pelo amor,

se uniram ao seu Senhor.

Assim, o reconhecimento do senhorio

produziu também o crescimento do seu amor

porque viram melhor e mais claramente

o brilho fulgurante da Trindade.

Comentário feito por:

São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja

Conselhos e máximas (a partir dos n.° 220-226 in trad. Seuil 1945, p. 1212 rev.)

«Os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de Meu Pai que está no Céu» (Mt.18,10)

Os anjos são os nossos pastores; não só levam a Deus as nossas mensagens, como também trazem até nós

as que Deus nos envia. Apascentam-nos a alma com doces inspirações e comunicações divinas; sendo

bons pastores, protegem-nos e defendem-nos dos lobos, isto é, dos demônios.

Com as suas secretas inspirações, os anjos possibilitam à alma um conhecimento mais elevado de Deus;

inflamam-na assim de uma chama mais viva de amor para com Ele; chegam até a deixá-la ferida de amor

[...].

A luz de Deus ilumina o anjo, penetrando-o com o seu esplendor e inflamando-o com o seu amor, porque

o anjo é um espírito puro completamente disposto a essa participação divina, mas, ao homem, ilumina-o

habitualmente de uma maneira obscura, dolorosa e penosa, porque o homem é impuro e fraco [...].

Quando o homem se torna verdadeiramente espiritual e fica transformado pelo amor divino que o

purifica, recebe a união e a amorosa iluminação de Deus com uma suavidade semelhante à dos anjos [...].

Lembrai-vos de como é vão, perigoso e funesto exultarmos com tudo o que não seja serviço de Deus, e

considerai a tamanha infelicidade dos anjos que exultaram e se comprazeram com a sua própria beleza e

seus próprios dons naturais; pois foi esse o motivo por que alguns deles caíram, privados de toda a beleza,

no fundo dos abismos.

Jo.2,13-25 – DDPC –p.1386

13.Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

14.Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas.

15.Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro

dos trocadores e derrubou as mesas.

16.Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes.

17.Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome (Sl 68,10).

18.Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu, para procederes deste modo?

19.Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias. 20.Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?!

21.Mas ele falava do templo do seu corpo.

22.Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na palavra de

Jesus.

23.Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia.

24.Mas Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos.

25.Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermão 163, 5 (trad. Brésard, 2000 anos p. 96 rev)

«Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei» -(v.19)

Somos os trabalhadores de Deus e construímos o templo de Deus. A dedicação deste templo já teve lugar

na sua Cabeça, uma vez que o Senhor ressuscitou dos mortos, após ter triunfado da morte; tendo destruído

n'Ele o que era mortal, subiu ao céu [...]. E agora, construímos este templo pela fé, de modo a que

aconteça também a sua dedicação quando da ressurreição final. É por isso que há um salmo intitulado:

«quando se reconstruía o Templo, após o cativeiro» (95, 1 Vulg). Recordai-vos do cativeiro onde

estivemos outrora, quando o diabo tinha o mundo inteiro em seu poder, como um rebanho de infiéis. Foi

por causa deste cativeiro que o Redentor veio. Ele derramou o Seu sangue para nos resgatar; pelo Seu

sangue derramado, suprimiu o bilhete da dívida que nos mantinha cativos (Colo 2, 14). Outrora vendidos

ao pecado, fomos libertados pela graça.

Após este cativeiro, construímos agora o templo; para o edificar, anunciamos a Boa Nova. É por isso que

este salmo começa assim: «Cantai ao Senhor um cântico novo.» E para que não penses que se construiu

este templo num pequeno recanto, como o constroem os hereges que se separam da Igreja, presta atenção

ao que segue: «Cantai ao Senhor terra inteira».

«Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor terra inteira.» Cantai e construí! Cantai e «bendizei

o Seu nome» (v. 2). Anunciai o dia nascido do dia da salvação, o dia nascido do dia de Cristo. Quem é,

com efeito, a salvação de Deus se não Seu Cristo? Para a salvação, nós rezamos o salmo: «Mostrai,

Senhor, a vossa misericórdia, e dai-nos a vossa salvação.» Os antigos justos desejavam esta salvação, eis

o que dizia o Senhor aos seus discípulos: «Muito quiseram ver o que vedes, e não o viram» (Lc 10, 24).

[...] «Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor.» Vede o ardor dos construtores! «Cantai ao

Senhor e bendizei o Seu nome.» Anunciai a Boa Nova! Qual boa nova? O dia nasceu do dia [...]; a Luz

nasceu da Luz, os Filhos nascidos do Pai, a Salvação de Deus! Eis como se constrói o templo após o

cativeiro.

Jo.(4,5-42) – pg.1387/8 - DDPC – A Samaritana

5.Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras que Jacó dera a seu filho José.

6.Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à beira do poço. Era por volta do meio-dia.

7.Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: Dá-me de beber.

8.(Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.)

9.Aquela samaritana lhe disse: Sendo tu judeu, como pedes de beber a mim, que sou samaritana!... (Pois os judeus não

se comunicavam com os samaritanos.)

10.Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias

tu mesma e ele te daria uma água viva.

11.A mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água viva?

12.És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus

filhos e os seus rebanhos?

13.Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede,

14.mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água,

que jorrará até a vida eterna.

15.A mulher suplicou: Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!

16.Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e volta cá.

17.A mulher respondeu: Não tenho marido. Disse Jesus: Tens razão em dizer que não tens marido.

18.Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade.

19.Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que és profeta!...

20.Nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar.

21.Jesus respondeu: Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém.

22.Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.

23.Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são

esses adoradores que o Pai deseja.

24.Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade.

25.Respondeu a mulher: Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo); quando, pois, vier, ele nos fará conhecer

todas as coisas.

26.Disse-lhe Jesus: Sou eu, quem fala contigo.

27.Nisso seus discípulos chegaram e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher. Ninguém, todavia,

perguntou: Que perguntas? Ou: Que falas com ela?

28A mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:

29.Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não seria ele, porventura, o Cristo?

30.Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus.

31.Entretanto, os discípulos lhe pediam: Mestre, come.

32.Mas ele lhes disse: Tenho um alimento para comer que vós não conheceis.

33.Os discípulos perguntavam uns aos outros: Alguém lhe teria trazido de comer?

34.Disse-lhes Jesus: Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra.

35.Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos,

porque já estão brancos para a ceifa.

36.O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna; assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão.

37.Porque eis que se pode dizer com toda verdade: Um é o que semeia outro é o que ceifa.

38.Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado; outros trabalharam, e vós entrastes nos seus trabalhos.

39.Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por causa da palavra da mulher, que lhes declarara:

Ele me disse tudo quanto tenho feito.

40.Assim, quando os samaritanos foram ter com ele, pediram que ficasse com eles. Ele permaneceu ali dois dias.

41.Ainda muitos outros creram nele por causa das suas palavras.

42.E diziam à mulher: Já não é por causa da tua declaração que cremos, mas nós mesmos ouvimos e sabemos ser este

verdadeiramente o Salvador do mundo

Comentário feito por

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Carta a toda a sua comunidade, dita “Testamento espiritual”

“Dá-me de beber” – (v.15)

As palavras de Jesus “Tenho sede” (Jo 19,28), que estão escritas na parede de todas as nossas capelas, não

fazem parte do passado mas estão vivas, aqui e agora; elas são ditas para vós. Acreditais nisso? Se sim,

ouvireis e sentireis a sua presença. Deixai-o tornar-se tão íntimo em vós como ele o é em mim; essa será a

maior alegria que lhe podereis oferecer. Tentarei ajudar-vos a compreender isso, mas é Jesus, ele próprio,

o único a poder dizer-vos “Tenho sede!” Escutai o vosso próprio nome. E não apenas uma vez. Todos os

dias. Se escutardes com o vosso coração, vós ouvireis, vós compreendereis.

Porque é que Jesus disse: “Tenho sede”? Qual é o sentido? É tão difícil de explicar por palavras…

Contudo, se deveis reter alguma coisa desta carta, que seja esta: “Tenho sede” é uma palavra muito mais

profunda do que se Jesus tivesse simplesmente dito “Amo-vos”. Enquanto não souberdes, e de uma forma

muito íntima, que Jesus tem sede de vós, ser-vos-á impossível saber o que ele quer ser para vós; nem o

que ele quer que vós sejais para ele. O coração e a alma das Missionárias da Caridade consistem

exclusivamente nisto: a sede do coração de Jesus, escondida nos pobres. Eis a única fonte de toda a nossa

vida. Ela dá-vos, ao mesmo tempo o objetivo… e o espírito da nossa Congregação. Estancar a sede de

Jesus vivo no meio de nós é a nossa única razão de ser e o nosso único objetivo. Podemos dizer o mesmo

de nós próprias, a saber, que essa é a nossa única razão de viver?

Jô.4,7-26 [pg.1387/88] – “ A Samaritana”

O dom carismático de Ciência na Palavra de Deus.

- Textos onde o Espírito Santo manifestou este carisma através de Jesus e dos discípulos.

- No diálogo de Jesus com a Samaritana junto ao poço de Jacó (Jô. 4,7-26), Jesus desejava a conversão da

Samaritana e ela ao mesmo tempo sem saber, desejava a mesma coisa, pois ela desejava a “Água Viva”.

- Jesus sabia que era necessário que ela tivesse uma experiência pessoal com Ele, uma experiência de

salvação, que ela o reconhecesse como o Messias.

- Este encontro pessoal acontece através da manifestação do Espírito Santo, quando Jesus fala à mulher

samaritana sobre os 5 maridos que tivera (v.17 e 18).

- Esta Palavra fez a mulher samaritana perceber em 1.o lugar que Jesus era um profeta abrindo a porta de

seu coração para a revelação que Ele fez a pouquíssimas pessoas de modo tão particular como fez a ela:

de que Ele era o Messias.

- A samaritana experimentou a misericórdia de Deus aplicada ao pecado público de adultério, pois Jesus

não a acusou, mas apenas revelou o que sabia.

- A Palavra de Ciência teve o poder de levá-la a arrepender-se, ser perdoada e reconhecer em Jesus o

Messias, tendo assim à “Água Viva” por Ele prometida.

- A Palavra de Ciência, assim como todos os outros dons espirituais, está sempre a serviço da edificação

do Reino do Deus, levando as pessoas à conversão ,à consciência da cura que Deus realizou nelas, ao

crescimento no amor e gratidão de Deus.

- A Palavra de Ciência revelada a Jesus sobre a vida da Samaritana, trouxe não só a conversão da

própria Samaritana, mas de muitos habitantes da Samaria, que conheceram Jesus levado pelo testemunho

da mulher (VV.39 e 42).O que ela lhes transmitira era exatamente o que Jesus lhe tinha revelado através

da Palavra de Ciência: “ Ele me disse tudo quanto tenho feito”.(v.39).

- A Palavra de Ciência abriu o coração da mulher samaritana e ela passou a aceitar o que lhe dizia

Jesus como Messias prometido e encontrando assim a salvação.

Jo.4,43-54- p.1389 - DDPC 43.Passados os dois dias, Jesus partiu para a Galiléia.

44.(Ele mesmo havia declarado que um profeta não é honrado na sua pátria.)

45.Chegando à Galiléia, acolheram-no os galileus, porque tinham visto tudo o que fizera durante a festa em Jerusalém; pois

também eles tinham ido à festa.

46.Ele voltou, pois, a Caná da Galiléia, onde transformara água em vinho. Havia então em Cafarnaum um oficial do rei, cujo

filho estava doente.

47.Ao ouvir que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi a ele e rogou-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava prestes

a morrer.

48.Disse-lhe Jesus: Se não virdes milagres e prodígios, não credes...

49.Pediu-lhe o oficial: Senhor, desce antes que meu filho morra!

50.Vai, disse-lhe Jesus, o teu filho está passando bem! O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu.

51.Enquanto ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhe disseram: Teu filho está passando bem.

52.Indagou então deles a hora em que se sentira melhor. Responderam-lhe: Ontem à sétima hora a febre o deixou.

53.Reconheceu o pai ser a mesma hora em que Jesus dissera: Teu filho está passando bem. E creu tanto ele como toda a sua

casa.

54.Esse foi o segundo milagre que Jesus fez, depois de voltar da Judéia para a Galiléia.

- Jô. 4,50 (pg.1389) – “ Cura do filho do oficial”.

-A Palavra de Ciência manifesta-se através de uma frase: é o que acontece com o fato da cura do filho

do oficial: “Vai, disse-lhe Jesus, teu filho está passando bem!”.

-A Palavra de Ciência manifesta-se numa frase de Jesus, num texto em que predomina “o dom da Fé”.

Comentário feito por:

Gregório de Narek (cerca de 944- cerca de 1010), monge e poeta arménio

O Livro das Orações, 12, 1 (trad. SC 78, p. 102 rev.)

«Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais»

«Todo aquele que invocar o nome do Senhor

será salvo» (Jl.3,5; Rm.10,13).

Quanto a mim, não apenas O invoco

mas, antes de tudo, creio na Sua grandeza.

Não é pelos Seus presentes

que persevero nas minhas súplicas:

é que Ele é a Vida verdadeira

e n'Ele respiro;

Sem Ele não há movimento nem progresso.

Não é tanto pelos laços de esperança:

é pelos laços de amor que sou atraído.

Não é dos dons:

é do Doador que tenho perpétua nostalgia.

Não é à glória que aspiro:

é ao Senhor glorificado que quero abraçar.

Não é de sede da vida que constantemente me consumo,

é da lembrança d'Aquele que dá a vida.

Não é pelo desejo de felicidade que suspiro,

que do mais profundo do meu coração rompo em soluços:

é porque anelo por Aquele que a prepara.

Não é o repouso que procuro,

é a face d'Aquele que aquietará o meu coração suplicante.

Não é por causa do festim nupcial que feneço,

é pelo anseio do Esposo.

Na esperança certa do Seu poder

apesar do fardo dos meus pecados,

creio, com uma esperança inabalável,

que, confiando-me na mão do Todo-Poderoso,

não somente obterei o perdão

mas que O verei em pessoa,

graças à Sua misericórdia e à Sua piedade

e que, conquanto justamente mereça ser proscrito,

herdarei o Céu.

- Jô.8,1-11 [pg.1395] – “ A mulher adúltera” - DDPC

1.Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras.

2.Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar.

3.Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério.

4.Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério.

5.Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?

6.Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia

com o dedo na terra.

7.Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.

8.Inclinando-se novamente, escrevia na terra.

9.A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a

começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele.

10.Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te

condenou?

11.Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.

Comentário feito por:

S. Simeão, o Jovem Teólogo (c. 949-1022), monge ortodoxo

Hino 45

"Também eu não te condeno... Eu sou a luz do mundo" (Jo 8, 11-12) – (v.11)

Ó meu Deus, que amas perdoar, meu Criador,

faz crescer sobre mim o fulgor da tua luz inacessível

para que encha de alegria meu coração.

Ah! não te irrites! Ah! não me abandones!

mas faz resplandecer a minha alma com a tua luz,

porque a tua Luz, ó meu Deus, és tu...

Afastei-me do caminho reto, do caminho de Deus,

e caí lamentavelmente da glória que me tinha sido dada.

Fui despojado da veste luminosa, da veste de Deus,

e, caído nas trevas, nas trevas permaneço,

e não sei mesmo que estou privado da Luz...

Porque, se tu brilhaste no alto, se apareceste na obscuridade,

se vieste ao mundo, ó Misericordioso, se quiseste viver com os homens,

segundo a nossa condição, por amor ao homem,

se... disseste que eras a luz do mundo (Jo 8,12)

e, ainda assim, nós não te vimos,

não seremos nós totalmente cegos

e mais desgraçados do que os próprios cegos, ó meu Cristo?...

Mas tu, que és todos os bens,

tu os dás sem cessar aos teus servos,

aos que vêem a tua luz...

Quem te possui, realmente possui tudo em ti.

Que eu não seja privado de ti, Mestre!

Que eu não seja privado de ti, Criador!

Que eu não seja privado de ti, Misericordioso,

eu que sou um humilde estrangeiro...

Peço-te: dá-me um lugar junto de ti,

mesmo se multipliquei meus pecados mais do que todos os homens.

Aceita a minha oração como a do publicano (Lc 18,13),

como a da prostituta (Lc 7,38), Mestre,

ainda que eu não chore como ela...

Não és tu a nascente da piedade, a fonte da misericórdia e o rio da bondade?

Tem piedade de mim!

Sim, tu que tiveste as mãos, que tiveste os pés pregados na cruz,

que tiveste o lado trespassado pela lança, ó todo-Compassivo,

tem piedade de mim e arranca-me ao fogo eterno...

Que nesse dia eu me erga sem condenação diante de ti,

para ser acolhido na sala das tuas núpcias,

em que partilharei a tua felicidade, meu bom Mestre,

na alegria inexprimível, por todos os séculos. Amem!

- Jô.11,11 (pg.1399) – “ Ressurreição de Lázaro”.

O dom da Ciência, o Dom da Palavra de Ciência, este conhecimento sobrenatural que Jesus recebe

pela ação do Espírito Santo, é o conhecimento da morte de Lázaro: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas

vou despertá-lo”. (Jô.11,11).

- Jô.11,14 – “ Lázaro morreu”.

- Neste texto do Evangelho de S.João, são manifestados os Dons; “da Fé”; “do Discernimento dos

Espíritos”, ligados ao “Dom da Palavra de Ciência”.

Jo.(11,1-45) – pg.1399/400 –DDPC – Ressurreição de Lázaro

1.Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta.

2.Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava

enfermo, era seu irmão.

3.Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas está enfermo.

4.A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela

será glorificado o Filho de Deus.

5.Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro.

6Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar.

7.Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para a Judéia.

8.Mestre, responderam eles, há pouco os judeus te queriam apedrejar, e voltas para lá?

9.Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo.

10.Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz.

11.Depois destas palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo.

12.Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há de sarar.

13.Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal.

14.Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro morreu.

15.Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele.

16.A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós, para morrermos com ele.

17.À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro.

18.Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.

19.Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão.

20.Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa.

21.Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!

22.Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá.

23.Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá.

24.Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia.

25.Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.

26.E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?

27.Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo.

28.A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e te chama.

29.Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao encontro dele.

30.(Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado.)

31.Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na,

crendo que ela ia ao sepulcro para ali chorar.

32.Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui,

meu irmão não teria morrido!

33.Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em

espírito. E, sob o impulso de profunda emoção,

34.perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vinde ver.

35.Jesus pôs-se a chorar.

36.Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava!

37.Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que este não morresse?

38.Tomado, novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra.

39.Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí...

40.Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se creres, verás a glória de Deus? Tiraram, pois, a pedra.

41.Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me ouviste.

42.Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste.

43.Depois destas palavras, exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!

44.E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: Desligai-

o e deixai-o ir.

45.Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele.

Comentário feito por:

São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja

Sermão sobre o Santo Batismo

“Lázaro, vem para fora” – (v.43)

“Lázaro, vem para fora!” Deitado no túmulo, ouviste este chamamento imperioso. Haverá voz mais

sonora do que a do Verbo? Então, vieste para fora, tu que estavas morto, e não apenas há quatro dias, mas

há muito tempo. Ressuscitaste com Cristo […]; caíram-te as faixas. Agora, não voltes a cair na morte; não

voltes a juntar-te aos que habitavam nos túmulos; não te deixes abafar pelas faixas dos teus pecados. É

que talvez não pudesses voltar a ressuscitar. Poderias acaso retirar da morte deste mundo a ressurreição de

todos, no final dos tempos?

Que o chamamento do Senhor te ressoe, pois, aos ouvidos! Não te feches aos ensinamentos e aos

conselhos do Senhor. Se estavas cego e mergulhado em trevas no túmulo, abre os olhos para não te

afundares no sono da morte. Na luz do Senhor, contempla a luz; no Espírito de Deus, fixa o teu olhar no

Filho. Se acolheres a Palavra, concentrarás na tua alma todo o poder de Cristo, que cura e ressuscita. […]

Não receies sofrer para conservares a pureza do teu batismo e abre no coração os caminhos que te fazem

ascender ao Senhor. Conserva cuidadosamente o ato de libertação que recebeste por pura graça. Sejamos

luz, como os discípulos aprenderam a sê-lo Daquele que é a grande Luz: “Vós sois a luz do mundo” (Mt

5, 14). Sejamos luminárias no mundo, erguendo bem alto a Palavra da vida, sendo poder de vida para os

outros. Partamos em busca de Deus, em busca Daquele que é a primeira e a mais pura das luzes

Jo.(13,21-33.36-38) – pg.1404 – Adeuses.Despedidas - DDPC

21.Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me

há de trair!...

22.Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava.

23.Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus.

24.Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala.

25.Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é?

26.Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão

Iscariotes.

27.Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o depressa.

28.Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera.

29.Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: Compra aquilo de que temos necessidade para a

festa. Ou: Dá alguma coisa aos pobres.

30.Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite...

31.Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.

32.Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve.

33.Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse aos judeus,

também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir.

36.Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus respondeu-lhe: Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas

seguir-me-ás mais tarde.

37.Pedro tornou a perguntar: Senhor, por que te não posso seguir agora? Darei a minha vida por ti!

38.Respondeu-lhe Jesus: Darás a tua vida por mim!... Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo até que me

negues três vezes.

-Jesus pela Palavra de Ciência revela a Pedro um acontecimento que iria acontecer na noite de sua Paixão

antecipando a um fato. Esta negação tornou para Pedro um trauma que o próprio Jesus o curou

posteriormente, perguntando a ele se o amava por três vezes, curando a Pedro interiormente.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (cerca de 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

Comentário ao evangelho de S. Lucas

“Antes de o galo cantar, negar-me-ás três vezes” – (v.38)

Pedro negou uma primeira vez e não chorou, porque o Senhor não o olhou. Negou-o uma segunda vez e

não chorou, porque o Senhor ainda não o tinha olhado. Negou-o uma terceira vez, Jesus olhou-o, e ele

chorou, amargamente (Lc 22,62). Olha-nos, Senhor Jesus, para que saibamos chorar o nosso pecado. Isto

mostra que mesmo a queda dos santos pode ser útil. A negação de Pedro não me fez mal; ao contrário,

com o seu arrependimento, eu ganhei: aprendi a defender-me de um ambiente infiel…

Portanto, Pedro chorou, e muito amargamente; chorou para chegar a lavar a sua culpa com as lágrimas.

Também vós, se quereis obter o perdão, apagai a vossa falta com as lágrimas; nesse exato momento,

nessa mesma hora, Cristo olha-vos. Se vos suceder alguma queda, ele, testemunha presente da vossa vida

secreta, olha-vos para vos lembrar e vos fazer confessar os vossos erros. Fazei então como Pedro, que

disse noutra ocasião por três vezes: “Senhor, tu sabes que eu te amo” (Jo 21, 15). Ele negou três vezes,

três vezes também ele confessa; mas ele negou na noite, e confessa em pleno dia.

Tudo isto está escrito para nos fazer compreender que ninguém se deve vangloriar. Se Pedro caiu por ter

dito: “Ainda que todos se escandalizem de Ti, eu nunca me escandalizarei” (Mt.26,33), que outra pessoa

estaria no direito de contar consigo próprio?... Donde te chamarei, Pedro, para me ensinares os teus

pensamentos quando tu choravas? Do céu onde já tomaste lugar entre os coros dos anjos, ou ainda do

túmulo? Porque a morte, da qual o Senhor ressuscitou, não te repugna por seu turno. Ensina-nos em que é

que as tuas lágrimas te foram úteis. Mas tu ensinaste-o bem depressa: porque tendo caído antes de chorar,

as tuas lágrimas fizeram-te ser escolhido para conduzir outros, tu que, inicialmente, não tinhas sabido

conduzir-te a ti mesmo

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermões sobre o Evangelho de São João, 62, 63 (a partir da trad. En Calcat rev.)

«Molhando um pedaço de pão, deu-o a Judas»

Quando o Senhor, Pão da Vida (Jo 6, 35), deu pão a este homem morto e marcado, entregando a quem

traía o pão vivo, disse-lhe: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». Não ordenava o crime; descobria o mal

em Judas, e anunciava-nos o nosso bem. O fato de Cristo ser entregue não terá sido o pior para Judas e o

melhor para nós? Por conseguinte, Judas prejudica-se, beneficiando-nos sem o saber.

«O que tens a fazer, fá-lo depressa.» Palavras de um homem que está pronto, não de um homem irritado.

Palavras que não anunciam a punição de quem trai, mas a recompensa do Redentor, Daquele que resgata.

Ao dizer: «O que tens a fazer, fá-lo depressa», Cristo, mais que condenar o crime de infidelidade, procura

apressar a salvação dos crentes. «Foi entregue por causa das nossas faltas; como Cristo amou a Igreja e se

entregou por ela» (Rm. 4, 25; Ef 5, 25). É isso que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Amou-me e a Si

mesmo Se entregou por mim» (Gal 2, 20). De fato, ninguém entregava Cristo se Ele mesmo não Se

tivesse entregado. [...] Quando Judas O trai, é Cristo que Se entrega; um negocia a sua venda, o Outro o

nosso resgate. «O que tens a fazer, fá-lo depressa»: não que tenhas poder para tal, mas porque é a vontade

Daquele que pode tudo.

«Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite». E aquele que saía era a noite. Então, quando

a noite saiu, Jesus disse: «Agora o Filho do Homem foi glorificado!» «Um dia passa ao outro esta

mensagem» (Sl 18, 3), ou seja, Cristo confiou-Se aos Seus discípulos para que O escutassem e O

seguissem no amor. [...] Algo de semelhante acontecerá quando este mundo, vencido por Cristo, acabar.

Então, o joio deixará de se misturar com o trigo, «então, os justos resplandecerão como o Sol, no Reino

de seu Pai» (Mt.13, 43).

Comentário feito por:

São Romão, o Melodioso (?-c.560), compositor de hinos

Hino 34 (trad. SC 128, p. 111s)

A negação de Pedro

Bom Pastor, que deste a vida pelas Tuas ovelhas (Jo 10, 11), apressa-Te, ó santo, a salvar o Teu rebanho.

Após a refeição, Cristo disse: Meus filhos, Meus queridos discípulos, esta noite todos Me negareis e

fugireis de Mim (Jo 16, 32). E, tendo todos ficados estupefatos, Pedro exclamou: Mesmo que todos Te

neguem, eu não Te negarei. Eu estarei contigo, e contigo morrerei exclamando: Apressa-Te, ó Santo, a

salvar o Teu rebanho.

Que dizes, Mestre? Eu, negar-Te? Eu, abandonar-Te e fugir? E o Teu chamamento, e a honra que me

fizeste, esquecer-me-ei deles? Ainda me recordo de me teres lavado os pés e Tu dizes: Hás de negar-Me?

Vejo-Te aproximar, com uma bacia na mão, Tu que sustentas a terra e seguras o céu. Com essas mãos

com que fui moldado são lavados os meus pés, e Tu declaras que cairei e que não voltarei a exclamar:

Apressa-Te, ó Santo, a salvar o Teu rebanho?

Ao ouvir estas palavras, o Criador do homem respondeu a Pedro: Que Me dizes, Pedro, Meu amigo? Que

não Me negarás? Que não fugirás de Mim? Que não Me rejeitarás? Também Eu gostaria muito de que

assim fosse, mas a tua fé é vacilante e não resistes às tentações. Não te lembras de que por pouco não te

afogavas, se Eu não te estendesse a mão? Andaste sobre as águas, tal como Eu, mas logo hesitaste e

depressa sucumbiste (Mt 14, 28 ss.). E Eu acorri em teu auxílio, quando gritaste: Apressa-Te, ó Santo, a

salvar o Teu rebanho.

Eis que te digo: antes de o galo cantar, três vezes Me trairás e, deixando-te abater por todos os lados e

deixando submergir o teu espírito como que pelas vagas do mar, três vezes Me negarás. Tu que então

exclamaste e que agora hás de chorar, tu já não Me terás junto de ti, para te dar a mão como da primeira

vez, pois dessa mão Me servirei para escrever uma carta de remissão em favor de todos os descendentes

de Adão. Da Minha carne que vês farei um papel, do Meu sangue a tinta, para nela escrever o dom que

distribuo sem demora a quantos exclamam: Apressa-Te, ó Santo, a salvar o Teu rebanho!

(Jô.16,12-15) –pg1406 – Obra do Paráclito –DDPC 7.Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu

for, vo-lo enviarei.

8.E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo.

9.Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em mim.

10.Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis;

11.ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado.

12.Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora.

13.Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas

dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão.

14.Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.

15.Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará.

Comentário feito por:

Santo António (cerca 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja

Sermões para os domingos e as festas dos santos

“Se eu não for, o defensor não virá a vós; mas se eu partir, eu enviá-lo-ei a vós”- (v.7)

O Espírito Santo é o sustento que nos reconforta no caminho da pátria, é o vinho que nos alegra na

tribulação, o óleo que adoça as amarguras da vida. Faltava este triplo socorro aos apóstolos que deviam ir

pregar no mundo inteiro. Por isso Jesus lhes enviou o Espírito Santo. Ficaram cheios dele – cheios, para

que os espíritos impuros não pudessem ter qualquer acesso a eles: quando um copo está bem cheio, não se

pode por nada nele.

O Espírito Santo “vos ensinará” (Jo 16,13), para que vós saibais; ele vos sugerirá, para que vós queirais.

Ele dá o saber e o querer; juntemos o nosso “poder”, na medida das nossas forças, e seremos templos do

Santo Espírito (1Co 6,19).

Comentário feito por:

Guilherme de Saint-Thierry (cerca 1085-1148), monge beneditino, depois de Cister

O espelho da fé, 6; PL 180, 384 (trad. brviário rev., cf. SC 301, p.137)

«O Espírito da Verdade há de guiar-vos para a Verdade completa»

«Quem conhece os segredos do homem, a não ser o espírito do homem que está nele? De igual modo,

ninguém conhece os segredos de Deus, a não ser o Espírito de Deus» (1Cor 2, 11). Apressa-te a

comunicar com o Espírito Santo. Ele torna-Se presente logo que é invocado; se O invocamos é porque Ele

já está presente. Chamado, Ele vem; e chega na abundância das bênçãos divinas. É Ele o rio impetuoso

que alegra a cidade de Deus (Sl 45, 5). Quando vem, se te encontra humilde e sem preocupações, temente

à palavra de Deus, ficará em ti e revelar-te-á o que Deus esconde aos sábios e aos entendidos deste mundo

(Mt.11, 25). Então começarão a brilhar para ti todas essas verdades que a Sabedoria podia dizer aos

discípulos quando estava na terra, mas que eles não podiam entender antes da vinda do Espírito da

verdade que lhes ensinaria toda a verdade. Assim como os que adoram a Deus devem necessariamente

adorá-Lo «em espírito e em verdade» (Jo 4, 24), também os que desejam conhecê-Lo só no Espírito Santo

devem procurar a inteligência da fé. No meio das trevas e da ignorância desta vida, Ele é, para os pobres

em espírito (Mt.5, 3), a luz que ilumina, a caridade que atrai, a doçura que agarra a alma, o amor daquele

que ama, a devoção daquele que é livre sem reservas. É Ele quem, de convicção em convicção, revela aos

crentes a justiça de Deus; Ele dá graça sobre graça (Jo 1, 16) e, à fidelidade na escuta da Palavra, Ele dá a

fé da iluminação.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica §§ 687-688

«O Espírito da Verdade há de guiar-vos para a Verdade completa»

«Ninguém conhece o que há em Deus, senão o Espírito de Deus» (1Co.2, 11). Ora, o Seu Espírito, que O

revela, faz-nos conhecer Cristo, o Seu Verbo, a Sua Palavra viva; mas não Se diz a Si próprio. Aquele que

«falou pelos profetas» faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas a Ele, nós não O ouvimos. Não O conhecemos

senão no movimento em que Ele nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhê-Lo na fé. O Espírito de

verdade, que nos «revela» Cristo, «não fala de Si próprio» (Jo 16, 13). Tal ocultação, propriamente

divina, explica porque é que «o mundo não O pode receber, porque não O vê nem O conhece», enquanto

aqueles que crêem em Cristo O conhecem, porque Ele habita com eles e está neles (Jo 14, 17).

A Igreja, comunhão viva na fé dos Apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso conhecimento do

Espírito Santo:

— nas Escrituras, que Ele inspirou:

— na Tradição, de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre atuais;

— no Magistério da Igreja, a que Ele assiste;

— na liturgia sacramental, através das suas palavras e dos seus símbolos, em que o Espírito Santo nos põe

em comunhão com Cristo;

— na oração, em que Ele intercede por nós;

— nos carismas e ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;

— nos sinais de vida apostólica e missionária;

— no testemunho dos santos, nos quais Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da salvação.

- Jô.16,13 (pg.1406) – “ Obra do Paráclito”.

- A Palavra de Ciência nos é dada para que Deus possa agir através do conhecimento da causa do mal que

nos aflige, quer física, quer espiritual quer emocionalmente. Ela não é dada de forma gratuita ou

irresponsável, sem um objetivo divino ou em nenhuma situação dará uma inspiração que não seja de

acordo coma Igreja: “ Quando vier o Paráclito, O Espírito da verdade ensinar-vos-á toda a verdade” e “a

verdade vos libertará”. (Jô.16,13).

(Jô.16,16-20)-p.1407 – Tristeza da separação,alegria do reencontro- DDPC

16.Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver, porque vou para

junto do Pai.

17.Nisso alguns dos seus discípulos perguntavam uns aos outros: Que é isso que ele nos diz: Ainda um pouco de tempo, e não

me vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver? E que significa também: Eu vou para o Pai?

18.Diziam então: Que significa este pouco de tempo de que fala? Não sabemos o que ele quer dizer.

19.Jesus notou que lho queriam perguntar e disse-lhes: Perguntais uns aos outros acerca do que eu disse: Ainda um pouco de

tempo, e não me vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver.

20.Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas

a vossa tristeza se há de transformar em alegria.

Comentário feito por:

Santo António (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja

Sermões para os domingos e as festas dos santos

“Ele vos guiará para a verdade plena” – (v.8)

O Espírito Santo, o Paráclito, o Defensor, é Aquele que, como um sopro, o Pai e o Filho enviam à alma

dos justos. É por Ele que somos santificados e merecemos ser santos. O sopro humano é a vida dos

corpos; o sopro divino é a vida dos espíritos. O sopro humano torna-nos sensíveis; o sopro divino torna-

nos santos. Este Espírito é Santo, porque, sem ele, nenhum espírito – nem angélico nem humano – pode

ser santo.

“O Pai – diz Jesus – vo-Lo enviará em meu nome” (Jo 14, 26), isto é, em minha glória, para manifestar a

minha glória; ou ainda, porque Ele tem o mesmo nome que o Filho: é Deus. “Ele Me glorificará”, porque

vos tornará espirituais e vos levará a compreender como o Filho é igual ao Pai e não simplesmente um

homem como O vedes, ou porque vos tirará todo o temor e vos fará anunciar a minha glória a todo o

mundo. Porque, a minha glória é a salvação dos homens.

“Ele vos ensinará todas as coisas”. “Filhos de Sião, alegrai-vos”, diz o profeta Joel, porque o Senhor

vosso Deus vos deu Aquele que ensina a justiça”(2, 23 Vulg.), que vos ensinará tudo o que diz respeito à

salvação.

Jo.18,1-19,42- DDPC- p.1408.9 1.Depois dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual

entrou com os seus discípulos.

2.Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia freqüentemente para lá com os seus discípulos.

3.Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e

armas.

4.Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?

5.Responderam: A Jesus de Nazaré. Sou eu, disse-lhes. (Também Judas, o traidor, estava com eles.)

6.Quando lhes disse Sou eu, recuaram e caíram por terra.

7.Perguntou-lhes ele, pela segunda vez: A quem buscais? Disseram: A Jesus de Nazaré.

8.Replicou Jesus: Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes.

9.Assim se cumpriu a palavra que disse: Dos que me deste não perdi nenhum (Jo 17,12).

10.Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O servo

chamava-se Malco.)

11.Mas Jesus disse a Pedro: Enfia a tua espada na bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?

12.Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o ataram.

13.Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.

14.Caifás fora quem dera aos judeus o conselho: Convém que um só homem morra em lugar do povo.

15.Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no

pátio da casa do sumo sacerdote,

16.porém Pedro ficou de fora, à porta. Mas o outro discípulo (que era conhecido do sumo sacerdote) saiu e falou à porteira, e

esta deixou Pedro entrar.

17.A porteira perguntou a Pedro: Não és acaso também tu dos discípulos desse homem? Não o sou, respondeu ele.

18.Os servos e os guardas acenderam um fogo, porque fazia frio, e se aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé,

aquecendo-se.

19.O sumo sacerdote indagou de Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.

Comentário feito por:

Severiano de Gabala (?-c. 408), bispo na Síria

6ª Homilia sobre a criação do mundo, 5-6 (trad. Soeur Isabelle de la Source, Lire la Bible; Médiaspaul

1988, t. 1, p. 31)

A cruz, árvore da vida

Havia uma árvore no meio do paraíso. A serpente serviu-se dela para enganar os nossos primeiros pais.

Reparem nesta coisa espantosa: para iludir o homem, a serpente vai recorrer a um sentimento inerente à

sua natureza. Com efeito, ao modelar o homem, o Senhor tinha colocado nele, para além de um

conhecimento geral do universo, o desejo de Deus. Logo que o demônio descobriu esse desejo ardente,

disse ao homem: «Sereis como deuses (Gn 3, 5). Agora sois apenas homens e não podeis estar sempre

com Deus; mas, se vos tornardes como deuses, estareis sempre com ele». [...] Dessa forma, foi o desejo

de ser igual a Deus que seduziu a mulher [...], ela comeu e induziu o homem a fazer outro tanto. [...] Ora,

após a falta, «Adão ouviu a voz do Senhor que se passeava no Paraíso ao cair da tarde» (Gn 3, 8). [...]

Bendito seja o Deus dos santos por ter visitado Adão ao cair da tarde! E por visitá-lo ainda agora, ao cair

da tarde, na cruz.

Porque foi precisamente na hora em que Adão acabava de comer que o Senhor sofreu a sua paixão, nessas

horas marcadas pelo pecado e pelo julgamento, isto é, entre a sexta e a nona hora. Na hora sexta, Adão

comeu, de acordo com a lei da natureza; em seguida, escondeu-se. E ao cair da tarde, Deus veio até ele.

Adão tinha desejado tornar-se Deus; tinha desejado uma coisa impossível. Cristo cumulou esse desejo.

«Quiseste tornar-te, disse Ele, o que não podias ser; mas Eu desejo tornar-Me homem, e posso-o. Deus

faz todo o contrário do que tu fizeste ao deixares-te seduzir. Desejaste o que estava acima de ti; quanto a

Mim, agarro o que está abaixo de Mim. Tu desejaste ser igual a Deus; Eu quero ser igual ao homem. [...]

Desejaste tornar-te Deus e não o pudeste. Eu faço-Me homem, para tornar possível o que era impossível»

Sim, foi realmente para isso que Deus veio. Ele dá testemunho aos seus apóstolos: «Desejei tanto comer

esta Páscoa convosco!» (Lc 22, 15) [...] Desceu ao cair da tarde e disse: «Adão, onde estás?» (Gn 3, 9)

[...] Aquele que veio para sofrer é o mesmo que desceu ao Paraíso.

Jo.21,15-19- p.1412.3– DDPC

15.Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim,

Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 16.Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João,

amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 17.Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira

vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas. 18.Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho,

estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.

19.Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado,

acrescentou: Segue-me!

Comentário feito por:

Bem-aventurado João XXIII (1881-1963), papa

Diário da Alma (Lisboa, Paulus Ed., p. 363)

<Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes? [...] Amas-Me? [...] Amas-Me?»

O sucessor de Pedro sabe que, na sua pessoa e na sua atividade, é a graça e a lei do amor que sustenta,

vivifica e embeleza tudo; e, diante do mundo inteiro, a Igreja Santa apoia-se no intercâmbio de amor entre

Jesus e ele, Simão Pedro, filho de João, como sobre um alicerce visível e invisível: Jesus invisível aos

olhos da carne, o Papa, Vigário de Cristo, visível ao mundo inteiro. Meditando neste mistério de amor

íntimo entre Jesus e o Seu Vigário, que honra e que felicidade para mim, mas ao mesmo tempo que

motivo de confusão pela pequenez, pelo nada que sou.

A minha vida deve ser toda de amor a Jesus e, simultaneamente, uma completa efusão de bondade e de

sacrifício por cada alma e por todo o mundo. É rapidíssima a passagem do episódio evangélico que

proclama o amor do Papa a Jesus e, através Dele, às almas, à lei do sacrifício. O próprio Jesus anuncia-o

assim a Pedro: «Eu te garanto: quando eras mais novo, punhas o cinto e ias para onde querias. Quando

fores mais velho, estenderás as mãos e outro te apertará o cinto e te levará para onde não queres ir» (Jo

21, 18).

Pela graça do Senhor, ainda não entrei nesta velhice mas, com os meus oitenta anos feitos, encontro-me à

porta. Portanto, devo estar preparado para este último trajeto da minha vida, em que me esperam

limitações e sacrifícios, até ao sacrifício da vida corporal e ao abrir da vida eterna. Jesus, estou disposto a

estender as minhas mãos, já trêmulas e fracas, a deixar que outro me ajude a vestir-me e me ajude na

caminhada.

Senhor, a Pedro acrescentaste: «e te levará para onde não queres ir». Depois de tantas graças,

multiplicadas durante a minha longa vida, não há nada que não queira. Jesus, Tu revelaste-me o caminho:

«Seguir-Te-ei para onde quer que fores» (Mt 8, 19).

At.5,1-11 [pg.1418] – “Astúcia de Ananias e Safira”. 1.Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo

2.e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos

apóstolos.

3.Pedro, porém, disse: Ananias, por que tomou conta Satanás do teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e

enganasses acerca do valor do campo?

4.Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? Por que

imaginaste isso em teu coração? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.

5.Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto. Apoderou-se grande terror de todos os que o ouviram.

6.Uns moços retiraram-no dali, levaram-no para fora e o enterraram.

7.Depois de umas três horas, entrou também sua mulher, nada sabendo do ocorrido.

8.Pedro perguntou-lhe: Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes o vosso campo? Respondeu ela: Sim, por esse preço.

9.Replicou Pedro: Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Estão ali à porta os pés daqueles que sepultaram

teu marido. Hão de levar-te também a ti.

10.Imediatamente caiu aos seus pés e expirou. Entrando aqueles moços, acharam-na morta. Levaram-na para fora e a

enterraram junto do seu marido.

11.Sobreveio grande pavor a toda a comunidade e a todos os que ouviram falar desse acontecimento.

-- Outro episódio muito rico sobre a Palavra de Ciência, dá-se na 1.a Comunidade Cristã, onde era

absolutamente imperativo o zelo pelas coisas de Deus como base para o relacionamento e a convivência

fraternos.

- O Espírito Santo, através da Palavra de Ciência, revela a intenção secreta do coração de Ananias e

Safira.

- Esta revelação fez com que a Comunidade compreendesse que o salário do pecado é a morte e que cabia

a Pedro a autoridade e o dever de zelar pela verdade e pela vivência da fé.

- Portanto o objetivo da Palavra de Ciência não e tê-los levado à morte, mas sim, proteger a Comunidade

Cristã recém-nascida e levá-los a firmar na mentalidade do Evangelho e refutar todo procedimento

maligno.

- As obras do mal são denunciadas e arrasadas pelo poder do Espírito Santo, que tem a missão de

propagar até os confins da terra e em todos os tempos a mensagem de Cristo.

- A Palavra de Ciência,neste caso, foi canal para o ensino doutrinal.

- O Dom da Palavra de Ciência manifestado a Ananias por uma visão onde o Senhor Jesus pede a ele para

ir à casa de Judas para impor as mãos sobre Paulo para que ele recobrasse a visão e fosse curado da

cegueira.

At.9,10-16 - pg.1424 - Batismo de Saulo por Ananias - DDPC

1.Enquanto isso, Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes,

2.e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que

achasse seguindo essa doutrina.

3.Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu.

4.Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

5.Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão.

6.Então, trêmulo e atônito, disse ele: Senhor, que queres que eu faça? Respondeu-lhe o Senhor:] Levanta-te, entra na cidade. Aí

te será dito o que deves fazer.

7.Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém.

8.Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco,

9.onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber.

10.Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: Ananias! Eis-me aqui, Senhor,

respondeu ele.

11.O Senhor lhe ordenou: Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso,

chamado Saulo; ele está orando.

12.(Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.)

13.Ananias respondeu: Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém.

14.E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome.

15.Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome

diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel.

16Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome.

17.Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no

caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo.

18.No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado.

19.Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em

Damasco.

20.Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.

21.Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Este não é aquele que perseguia em Jerusalém os que invocam o nome de

Jesus? Não veio cá só para levá-los presos aos sumos sacerdotes?

22.Saulo, porém, sentia crescer o seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.

23.Decorridos alguns dias, os judeus deliberaram, em conselho, matá-lo.

24.Estas intenções chegaram ao conhecimento de Saulo. Guardavam eles as portas de dia e de noite, para matá-lo.

25.Mas os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha dentro de um cesto.

26.Chegando a Jerusalém, tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se tivesse tornado

discípulo.

27.Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que

lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus.

28.Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o nome do Senhor.

29.Falava também e discutia com os helenistas. Mas estes procuravam matá-lo.

30.Os irmãos, informados disso, acompanharam-no até Cesaréia e dali o fizeram partir para Tarso.

31.A Igreja gozava então de paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Estabelecia-se ela caminhando no temor do Senhor, e a

assistência do Espírito Santo a fazia crescer em número.

32.Pedro, que caminhava por toda parte, de cidade em cidade, desceu também aos fiéis que habitavam em Lida.

33.Ali achou um homem chamado Enéias, que havia oito anos jazia paralítico num leito.

34.Disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te cura: levanta-te e faze tua cama. E levantou-se imediatamente.

35.Viram-no todos os que habitavam em Lida e em Sarona, e converteram-se ao Senhor.

36.Em Jope havia uma discípula chamada Tabita - em grego, Dorcas. Esta era rica em boas obras e esmolas que dava.

37.Aconteceu que adoecera naqueles dias e veio a falecer. Depois de a terem lavado, levaram-na para o quarto de cima.

38.Ora, como Lida fica perto de Jope, os discípulos, ouvindo dizer que Pedro aí se encontrava, enviaram-lhe dois homens,

rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco.

39.Pedro levantou-se imediatamente e foi com eles. Logo que chegou, conduziram-no ao quarto de cima. Cercavam-no todas

as viúvas, chorando e mostrando-lhe as túnicas e os vestidos que Dorcas lhes fazia quando viva.

40.Pedro então, tendo feito todos sair, pôs-se de joelhos e orou. Voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu

os olhos e, vendo Pedro, sentou-se.

41.Ele a fez levantar-se, estendendo-lhe a mão. Chamando os irmãos e as viúvas, entregou-lha viva.

42.Este fato espalhou-se por toda Jope e muitos creram no Senhor.

43.Pedro permaneceu ainda muitos dias em Jope, em casa dum curtidor, chamado Simão.

- O Dom da Palavra de Ciência manifestado a Ananias por uma visão onde o Senhor Jesus pede a ele para

ir à casa de Judas para impor as mãos sobre Paulo para que ele recobrasse a visão e fosse curado da

cegueira.

- At.10,3-8 (pg.1425) - “ A visão de Cornélio”. - DDPC

1.Havia em Cesaréia um homem, por nome Cornélio, centurião da corte que se chamava Itálica.

2.Era religioso; ele e todos os de sua casa eram tementes a Deus. Dava muitas esmolas ao povo e orava constantemente.

3.Este homem viu claramente numa visão, pela hora nona do dia, aproximar-se dele um anjo de Deus e o chamar:

Cornélio!

4.Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: Que há, Senhor? O anjo replicou: As tuas orações e as

tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança.

5.Agora envia homens a Jope e faze vir aqui um certo Simão, que tem por sobrenome Pedro.

6.Ele se acha hospedado em casa de Simão, um curtidor, cuja casa fica junto ao mar.

7.Quando se retirou o anjo que lhe falara, chamou dois dos seus criados e um soldado temente ao Senhor, daqueles que

estavam às suas ordens.

8.Contou-lhes tudo e enviou-os a Jope.

At.10,9-16 [pg.1425] – “ O centurião Cornélio primeiro estrangeiro convertido”.

9.No dia seguinte, enquanto estavam em viagem e se aproximavam da cidade - pelo meio-dia -, Pedro subiu ao terraço

da casa para fazer oração.

10.Então, como sentisse fome, quis comer. Mas, enquanto lho preparavam, caiu em êxtase.

11.Viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra, segura pelas quatro pontas.

12.Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu.

13.Uma voz lhe falou: Levanta-te, Pedro! Mata e come.

14.Disse Pedro: De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura.

15.Esta voz lhe falou pela segunda vez: O que Deus purificou não chames tu de impuro.

16.Isto se repetiu três vezes e logo a toalha foi recolhida ao céu.

Nos (vv.9-16)– A Palavra de Ciência manifesta-se através de uma visão como foi o caso de Pedro, onde

Deus revelou a ele que não poderia julgar impuro o que Deus havia purificado.

Para nós fica resolvida a controvertida polêmica referente à carne de porco que os judeus não comem até

hoje.Embora respeitando a lei antiga,ficamos abolidos desta restrição nesta passagem dos Atos dos

Apóstolos,dada a Pedro pelo dom da Palavra de Ciência, manifestada através de uma visão.

-Após a revelação do Senhor que penetra profundamente o seu ser, Pedro prontamente obedece a Deus e

se dirige à casa do Centurião Cornélio, um homem pagão, considerado impuro para os judeus.

At.10,34.37-43 DDPC p.1426 34.Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas

37.Vós sabeis como tudo isso aconteceu na Judéia, depois de ter começado na Galiléia, após o batismo que João pregou.

38.Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e

curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele.

39.E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, suspendendo-o num

madeiro.

40.Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e permitiu que aparecesse,

41.não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que

ressuscitou.

42.Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos.

43.Dele todos os profetas dão testemunho, anunciando que todos os que nele crêem recebem o perdão dos pecados por meio de

seu nome

-No (v.34) - Através da palavra de ciência, desse entendimento espiritual profundo das coisas de Deus, o

Senhor ensina que não faz distinção de pessoas e que toda nação lhe é agradável aquele que o temer e

fizer o que é justo.

Comentário feito por:

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo

CC Sermão 53, sobre o salmo 117 ; PL 57, 361 (trad. coll. Migne n° 65, p. 126)

«Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e cantemos de alegria»

«Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e cantemos de alegria» (Sl 117, 24). Não é por acaso, meus

irmãos, que lemos hoje este salmo em que o profeta nos convida à alegria, em que o santo David convida

toda a criação a celebrar este dia; porque hoje a ressurreição de Cristo abriu a mansão dos mortos, os

novos batizados da Igreja rejuvenesceram a terra, o Espírito Santo mostrou o céu. O inferno, aberto,

devolve os seus mortos; a terra, rejuvenescida, faz eclodir os ressuscitados; e o céu abre-se em toda a sua

grandeza para acolher aqueles que a ele ascendem.

O ladrão subiu ao paraíso (Lc 23, 43); os corpos dos santos entram na cidade santa (Mt.27, 53). À

ressurreição de Cristo, todos os elementos se elevam, com uma espécie de impulso, até às alturas. O

inferno entrega aos anjos aqueles que mantinha presos, a terra envia para o céu aqueles que cobria, o céu

apresenta ao Senhor aqueles que acolheu. [...] A ressurreição de Cristo é vida para os defuntos, perdão

para os pecadores, glória para os santos. Assim, o grande David convida toda a criação a festejar a

ressurreição de Cristo, incita-a a exultar de alegria neste dia que o Senhor fez.

Dir-me-eis talvez [...] que o céu e o inferno não foram estabelecidos no dia deste mundo; como podemos

então pedir aos elementos que celebrem um dia com o qual nada tem de comum? O certo é que este dia

que o Senhor fez tudo penetra, tudo contém, abraçando o céu, a terra e o inferno! A luz que é Cristo não

foi detida pelas paredes, não foi abalada pelos elementos, não foi ensombrada pelas trevas. A luz de

Cristo é um dia sem noite, um dia sem fim. Por toda a parte resplandece, por toda a parte brilha, em toda a

parte permanece.

Comentário feito por:

Proclo de Constantinopla (c. 390-446), bispo

Sermão 14; PG 65, 796 (trad. a partir de coll. Icthus, vol. 10, p. 149 rev.)

«Este é o dia [...] do Senhor: cantemos e alegremo-nos nele!» [Sl 118 (117), 24]

Que bela festa de Páscoa! E que bela assembléia! Este dia tem tantos mistérios, antigos e novos! Nesta

semana de festa, ou antes, de alegria, por toda a terra os homens rejubilam e até as forças celestes se

juntam a nós para celebrar com alegria a Ressurreição do Senhor. Exultam os anjos e os arcanjos que

esperam que o Rei dos Céus, Cristo nosso Deus, regresse vencedor à terra; exultam os coros dos anjos

que aclamam Aquele que foi elevado «das entranhas da madrugada, como orvalho» [Sl (110) 109, 3],

Cristo. A terra exulta: o sangue de Deus a lavou. O mar exulta: os passos do Senhor o honraram. Que

exulte todo o homem renascido da água e do Espírito Santo; que exulte o primeiro homem, Adão, liberto

da antiga maldição. A ressurreição de Cristo não somente instaurou este dia de festa como também nos

alcançou, em vez do sofrimento, a Salvação, em vez da morte, a imortalidade, em vez das feridas, a cura,

em lugar do fracasso, a Ressurreição. Outrora, o mistério da Páscoa cumpriu-se no Egito segundo os ritos

indicados pela lei; o sacrifício do cordeiro era disso apenas um sinal. Mas hoje celebramos, segundo o

Evangelho, uma Páscoa espiritual, que é o dia da Ressurreição. Antes, imolava-se um cordeiro do rebanho

[...]; agora, é Cristo em pessoa que Se oferece como cordeiro de Deus. Dantes, era um animal do aprisco;

agora já não é um cordeiro mas o próprio bom pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas (Jo 10, 11) [...]

Nessa altura, os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e entoaram um hino de vitória em honra do seu

Defensor: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande» (Ex 15, 1). Nos nossos dias, aqueles que

foram julgados dignos do batismo cantam nos seus corações o hino da vitória: «Só vós sois o santo, só

vós o Senhor, só vos o altíssimo Jesus Cristo [...] na glória de Deus Pai. Amem». «O Senhor é rei, vestido

de majestade», aclama o profeta [Sl 93 (92), 1]. Os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e comeram o

maná no deserto. Hoje, saindo das fontes batismais, nós comemos o pão descido do céu (Jo 6, 51).

(At.10,38)

38.Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e

curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele.

Comentário feito por:

Faustino de Roma (2ª metade do século IV), presbítero

Tratado sobre a Trindade

"Deus consagrou a Jesus de Nazaré pelo Espírito Santo e pelo seu poder" (At.10,38)

O nosso Salvador tornou-se Cristo ou Messias pela sua encarnação e permanece verdadeiro rei e

verdadeiro sacerdote... Entre os Israelitas, os sacerdotes e os reis recebiam uma unção de óleo...;

chamavam-lhes "crismados" ou "cristos" - ao passo que o Salvador, que é verdadeiramente o Cristo, foi

consagrado pela unção do Espírito Santo...

Sabemos que isto é verdade pelo próprio Salvador. Quando recebeu o livro de Isaías, abriu-o e nele leu:

"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou pela unção"; depois, declarou que a profecia

acabava de se realizar para aqueles que o estavam a ouvir. Por outro lado, Pedro, o príncipe dos apóstolos,

ensinou-nos que aquele óleo santo, aquele crisma pelo qual o Senhor se manifesta como Cristo, é o

Espírito Santo, por outras palavras, o poder de Deus. Nos Atos dos Apóstolos, quando falava a esse

homem cheio de fé e de misericórdia que era o centurião, ele disse: "Isso começou na Galiléia, depois do

batismo proclamado por João. A Jesus de Nazaré, Deus consagrou-o pelo Espírito Santo e pelo seu poder.

Por onde quer que passasse, realizava milagres e maravilhas e libertava todos os que tinham caído no

poder do demônio" (10, 37 s).

Vedes, pois, que Pedro também o disse: esse Jesus, na sua encarnação, recebeu a unção que o "consagrou

pelo Espírito Santo e pelo seu poder". É por isso que o mesmo Jesus, na sua encarnação, foi feito Cristo,

Ele que a unção do Espírito Santo fizera rei e sacerdote para sempre.

( At.10,25-26.34-35.44-48 p.1426) -DDPC

25.Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo.

26.Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também eu sou um homem!

34.Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas,

35.mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo.

44.Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a (santa) palavra.

45.Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram, vendo que o dom do Espírito Santo era

derramado também sobre os pagãos;

46.pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus.

47.Então Pedro tomou a palavra: Porventura pode-se negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo como

nós?

48.E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias.

- A conseqüência, além do precioso ensinamento sobre a vontade de Deus para os pagãos, foi que toda a

família de Cornélio recebeu o Espírito Santo.Receberam primeiro o Batismo no Espírito, logo em seguida

Pedro os batizou com água, confirmando-os na fé em Jesus Cristo. Temos neste capítulo 10 a dupla visão

(Pedro e Cornélio),manifestando-se o dom da palavra de Ciência e também o dom de línguas (v.46).

Comentário feito por:

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir

Carta aos Romanos, 4-8 (trad. cf. breviário)

«Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos»

Escrevo a todas as Igrejas e faço saber a todos que morria de bom grado por Deus se vós não me

impedísseis. Suplico-vos, poupai-me a um bem-querer inoportuno. Deixai-me tornar-me pasto das feras;

elas me ajudarão a alcançar a Deus. Sou o Seu fermento: moído pelos dentes dos animais selvagens

tornar-me-ei no puro pão de Cristo. Que me fariam as doçuras deste mundo e os impérios da terra? É mais

belo morrer por Cristo Jesus do que reinar até aos confins do Universo. É a Ele que procuro, que morreu

por nós; é a Ele que desejo, a Ele que ressuscitou por nós. Aproxima-se o momento em que darei à luz.

Por mercê, meus irmãos, não me impeçais de nascer para a Vida. [...] Deixai-me abraçar a luz

inteiramente pura. Quando tiver conseguido fazê-lo, serei verdadeiramente homem. Aceitai que eu imite a

Paixão do meu Deus. O meu desejo terrestre foi crucificado, e em mim já não há fogo para amar a

matéria, mas uma água viva (Jo 4, 10;7, 38) que murmura e me segreda ao coração: «Vem para o pé do

Pai». Já não posso saborear os alimentos perecíveis e as doçuras desta vida. É do pão de Deus que estou

faminto, da carne de Jesus Cristo, filho de David; e, para bebida, quero o Seu sangue, que é o amor

incorruptível. [...] Rezai pela minha vitória.

At.11,1-18 –DDPC p.1426.7 – Pedro em Jerusalém justific seu proceeder

1. Os apóstolos e os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus.

2. E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no:

3. Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles?

4. Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera, dizendo:

5. Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha,

presa pelas quatro pontas, descia do céu até perto de mim.

6. Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres, feras, répteis e aves do céu.

7. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come.

8. Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha boca coisa profana ou impura.

9. Outra vez falou a voz do céu: O que Deus purificou não chames tu de impuro.

10. Isto aconteceu três vezes e tudo tornou a ser levado ao céu.

11. Nisso chegaram três homens à casa onde eu estava, enviados a mim de Cesaréia.

12. O Espírito me disse que fosse com eles sem hesitar. Foram comigo também os seis irmãos aqui presentes e entramos na

casa de Cornélio.

13. Este nos referiu então como em casa tinha visto um anjo diante de si, que lhe dissera: Envia alguém a Jope e chama Simão,

que tem por sobrenome Pedro. 1

4. Ele te dirá as palavras pelas quais serás salvo tu e toda a tua casa.

15. Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós.

16. Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: João batizou em água, mas vós sereis batizados no

Espírito Santo.

17. Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?

18. Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus, dizendo:

Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida!

- O texto mostra-nos que a partir dessa atitude de Pedro, ele juntamente com Paulo são os grandes

realizadores pela entrada em massa dos pagãos na Igreja.

Comentário feito por:

São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de João, 10, 3 (a partir da trad. Orval)

O Bom Pastor e a porta das ovelhas

Jesus disse: «Eu sou o Bom Pastor.» E é evidente que o título de pastor convém a Cristo porque, assim

como o pastor leva o rebanho a pastar, assim também Cristo restaura os fiéis através do alimento

espiritual que é o Seu próprio Corpo e o Seu próprio Sangue.

Para se distinguir do mau pastor e do ladrão, Jesus precisa que é o «bom pastor». É bom porque defende o

rebanho com a dedicação com que o bom soldado defende a sua pátria. Por outro lado, Cristo afirmou que

o pastor entra pela porta e que Ele é essa porta. Assim, pois quando aqui afirma ser o Pastor, temos de

compreender que é Ele que entra e que entra por Si mesmo. E é bem verdade, porque Ele afirma que

conhece o Pai por Si mesmo, enquanto nós entramos por meio Dele e é Ele que nos dá a felicidade.

Reparemos bem que não há outro que seja a porta, porque mais ninguém é a luz, a não ser por

participação. João Baptista não era a luz, antes tinha vindo para dar testemunho da luz (Jo 1, 8). Mas

Cristo «era a luz que ilumina todo o homem» (v. 9). Ninguém pode, por conseguinte, dizer de si mesmo

que é a porta, porque Cristo reservou para Si esse título.

Mas o título de pastor, esse o comunicou a outros, deu-o a alguns dos Seus membros. Com efeito,

também Pedro o foi, e os outros apóstolos, e também o são todos os bispos. «Dar-vos-ei pastores segundo

o Meu coração», diz Jeremias

(3, 15). Ora, ainda que os chefes da Igreja - que são filhos da mesma Igreja - sejam todos pastores, Cristo

afirma «Eu sou o Bom Pastor» para nos mostrar a singular força do Seu amor. Nenhum pastor será bom

se não estiver unido a Cristo pela caridade, tornando-se assim membro do verdadeiro Pastor.

At.16,1-10 - DDPC - p.1433

1.Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego,

2.que gozava de ótima reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio.

3.Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares, pois

todos sabiam que o seu pai era grego.

4.Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e

anciãos em Jerusalém.

5.Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número dia a dia.

6.Atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra de

Deus na (província da) Ásia.

7.Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.

8.Depois de haverem atravessado rapidamente a Mísia, desceram a Trôade.

9.De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à Macedônia, e vem em nosso

auxílio!

10.Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o

Evangelho.

-A Palavra de Ciência pelo dom da visão,`manifestada a Paulo guia sua caminhada e a de Lucas para a

Macedônia

Comentário feito por:

São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir

Carta 56 (a partir da trad. rev. Tournay)

«Como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o

mundo vos odeia»

O Senhor quis que nos alegrássemos, que rejubilássemos de alegria quando somos perseguidos (Mt.5,

12), porque, com as perseguições, vem-nos também a coroa da fé (Tg.1, 12), pois é nessa altura que os

soldados de Cristo dão prova do que são, que os céus se abrem ao seu testemunho. Não pertencemos à

milícia de Cristo para vivermos descansados, para repousarmos durante o serviço, quando o Mestre da

humildade, da paciência e do sofrimento pertenceu à mesma milícia antes de nós. E aquilo que Ele nos

ensinou, que foi o primeiro a cumprir e que nos exorta a cumprirmos também, foi que Ele próprio sofreu

antes de nós e por nós.

Para participarem nas competições dos estádios, os homens exercitam-se, treinam, e são objeto de grandes

honras quando, diante da multidão, recebem o prêmio. Mas eis aqui uma prova ainda mais nobre e

extraordinária, em que é diante de Deus que combatemos, nós que somos Seus filhos, e em que Ele

mesmo nos concede a coroa celestial (1Co.9, 25). Também os anjos nos olham e é Cristo Quem nos

assiste. Armemo-nos pois com todas as nossas forças para travarmos o bom combate, de alma generosa e

fé íntegra.

At.17,15.22-18,1 ddpc p.1435.6

15.Os que conduziam Paulo levaram-no até Atenas. De lá voltaram e transmitiram para Silas e Timóteo a ordem de que fossem

ter com ele o mais cedo possível

22.Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. 23.Percorrendo a

cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus

desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!

24.O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos

humanas.

25.Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a

respiração e todas as coisas.

26.Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os

tempos e os limites da sua habitação.

27Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está

longe de cada um de nós.

28.Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de

sua raça...

29.Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra lavrada por

arte e gênio dos homens.

30.Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, convida agora a todos os homens de todos os lugares a se

arrependerem.

31.Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para

todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos.

32.Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: A respeito disso te ouviremos outra

vez.

33.Assim saiu Paulo do meio deles.

34.Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o areopagita, e uma mulher chamada Dâmaris; e com

eles ainda outros

1.Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto.

Comentário feito por:

Guilherme de Saint-Thierry (cerca 1085-1148), monge beneditino, depois de Cister

O espelho da fé, 6; PL 180, 384 (trad. brviário rev., cf. SC 301, p.137)

«O Espírito da Verdade guiar-vos-á para a Verdade completa»

«Quem conhece os segredos do homem, a não ser o espírito do homem que está nele? De igual modo,

ninguém conhece os segredos de Deus, a não ser o Espírito de Deus» (1Cor 2, 11). Apressa-te a

comunicar com o Espírito Santo. Ele torna-Se presente logo que é invocado; se O invocamos é porque Ele

já está presente. Chamado, Ele vem; e chega na abundância das bênçãos divinas. É Ele o rio impetuoso

que alegra a cidade de Deus (Sl 45, 5). Quando vem, se te encontra humilde e sem preocupações, temente

à palavra de Deus, ficará em ti e revelar-te-á o que Deus esconde aos sábios e aos entendidos deste mundo

(Mt.11, 25). Então começarão a brilhar para ti todas essas verdades que a Sabedoria podia dizer aos

discípulos quando estava na terra, mas que eles não podiam entender antes da vinda do Espírito da

verdade que lhes ensinaria toda a verdade.

Assim como os que adoram a Deus devem necessariamente adorá-Lo «em espírito e em verdade» (Jo 4,

24), também os que desejam conhecê-Lo só no Espírito Santo devem procurar a inteligência da fé. No

meio das trevas e da ignorância desta vida, Ele é, para os pobres em espírito (Mt.5, 3), a luz que ilumina,

a caridade que atrai, a doçura que agarra a alma, o amor daquele que ama, a devoção daquele que é livre

sem reservas. É Ele quem, de convicção em convicção, revela aos crentes a justiça de Deus; Ele dá graça

sobre graça (Jo 1, 16) e, à fidelidade na escuta da Palavra, Ele dá a fé da iluminação.

At.18,1-11 DDPC p.1435

1.Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto.

2.Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco antes haviam chegado da Itália,

por Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo uniu-se a eles.

3.Como exercessem o mesmo ofício, morava e trabalhava com eles. (Eram fabricantes de tendas.)

4.Todos os sábados ele falava na sinagoga e procurava convencer os judeus e os gregos.

5.Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à pregação da palavra, dando aos judeus

testemunho de que Jesus era o Messias.

6.Mas como esses contradissessem e o injuriassem, ele, sacudindo as vestes, disse-lhes: O vosso sangue caia sobre a vossa

cabeça! Tenho as mãos inocentes. Desde agora vou para o meio dos gentios.

7.Saindo dali, entrou em casa de um prosélito, chamado Tício Justo, cuja casa era contígua à sinagoga.

8.Entretanto Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor com todos os da sua casa. Sabendo disso, muitos dos coríntios,

ouvintes de Paulo, acreditaram e foram batizados.

9.Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: Não temas! Fala e não te cales.

10.Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.

11.Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a palavra de Deus.

- Paulo sendo orientado pelo dom da Palavra de Ciência (visão) onde o Senhor o encoraja para o

ensinamento à comunidade de Corinto

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermão Maio, 98, 1, 2: PLS 2, 494-495

Já estamos com Ele

Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo elevou-Se ao céu; que o nosso coração se eleve com Ele. Ouçamos o que

nos diz o apóstolo Paulo: «Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto,

onde está Cristo, sentado à direita de Deus» (Cl.3, 1).

Assim como Jesus Se elevou sem com isso Se afastar de nós, do mesmo modo nós estamos já com Ele

apesar de a Sua promessa ainda não se ter realizado na nossa carne. Ele já foi elevado acima dos céus;

contudo, sofre na terra todas as penas que nós, os Seus membros, sentimos. Disso deu testemunho quando

exclamou do alto: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At. 9, 4), e ainda: «Tive fome, e destes-Me de

comer» (Mt 25, 35). Por que não trabalhamos na terra de modo a descansarmos, pela fé, pela esperança e

pela caridade que nos unem a Ele, desde já com Ele no céu?

Ele, que está lá, está também conosco, e nós, que estamos aqui, estamos também com Ele. Ele pode fazê-

lo devido à Sua divindade, ao Seu poder, ao Seu amor; e nós, se não o podemos fazer pela divindade,

podemos fazê-lo pelo amor. Ele não abandonou o céu quando desceu até nós, e não nos abandonou

quando subiu ao céu. Permanece conosco, mesmo estando no alto, pois prometeu-no-lo antes da Sua

Ascensão, dizendo: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt.28, 20).

At.18,9-18 ddpc p.1436

9.Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: Não temas! Fala e não te cales.

10.Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.

11.Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a palavra de Deus.

12.Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo e levaram-no ao tribunal e

disseram:

13.Este homem persuade os ouvintes a (adotar) um culto contrário à lei.

14.Paulo ia falar, mas Galião disse aos judeus: Se fosse, na realidade, uma injustiça ou verdadeiro crime, seria razoável que vos

atendesse.

15.Mas se são questões de doutrina, de nomes e da vossa lei, isso é lá convosco. Não quero ser juiz dessas coisas.

16.E mandou-o sair do tribunal.

17.Então todos pegaram em Sóstenes, chefe da sinagoga, e o espancaram diante do tribunal, sem que Galião fizesse caso algum

disso.

18.Paulo permaneceu ali (em Corinto) ainda algum tempo. Depois se despediu dos irmãos e navegou para a Síria e com ele

Priscila e Áquila. Antes, porém, cortara o cabelo em Cêncris, porque terminara um voto.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona, (norte de África) e Doutor da Igreja

Sermões sobre o Evangelho de João, nº 101 (trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 199)

«Eu hei de ver-vos de novo! Então, o vosso coração alegrar-se-á»

Diz o Senhor: «Dentro em pouco já não Me vereis e pouco depois voltareis a ver-Me» (Jo 16, 16). Aquilo

a que Ele chama pouco é o nosso tempo actual, acerca do qual o evangelista João declara na sua epístola:

«É a última hora» (1Jo 2, 18). Esta promessa [...] diz respeito a toda a Igreja, como também esta outra

promessa: «E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt.28, 20). O Senhor não tardará em

cumprir a Sua promessa: dentro em pouco, vê-Lo-emos e deixaremos de ter súplicas a fazer-Lhe,

perguntas a dirigir-Lhe, porque deixaremos de ter que desejar, de ter que procurar.

Este pouco parece-nos muito porque ainda está a decorrer; quando tiver terminado, perceberemos quão

curto foi. Que a nossa alegria seja portanto diferente da do mundo, sobre a qual está dito: «O mundo

alegrar-se-á>>. Ao dar à luz este desejo, não sejamos sem alegria, mas como diz o apóstolo Paulo: «Sede

alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm.12, 12). Porque a mulher que se prepara para dar à

luz, com a qual no Senhor nos compara, rejubila muito mais com o filho que vai pôr no mundo do que se

entristece com o sofrimento por que tem de passar.

- 1Co.12,8 – (pg.1476) – Diversidade dos carismas.

8.A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito;

- É a palavra de Ciência como todos os outros dons, um serviço que o Espírito Santo presta ao povo

de Deus através de nós.

- Deus deseja que o homem cresça no seu conhecimento, que tenha penetração espiritual, que conheça

pelo entendimento espiritual os seus mistérios e, a partir daí, experimente-os na sua vida de maneira

concreta.

- Deseja que o homem compreenda com Ele está agindo, porque agiu de determinada maneira e qual o

objetivo que Ele quer alcançar.

- Através do Dom da Ciência, Deus ensina ao homem sobre as suas verdades, permite que a sua luz

penetre no entendimento do homem.

- Alimenta assim o espírito do homem para que este entenda as coisas da maneira que ele entende e possa

ter a liberdade de optar pelo bem: “O homem porém não pode voltar-se para o bem a não ser livremente...

- “Pois Deus quis “deixar ao homem o poder de decidir”, para que assim procure espontaneamente o seu

Criador, a Ele adira livremente e chegue à perfeição plena e feliz”.

- Gol.1,11-12 [pg.1492]

São Paulo escreve na sua carta aos Gálatas:

“Asseguro-vos irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o

aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo”, o que comprova que Deus com

o objetivo de salvar os homens revela-lhes os mais profundos mistérios de Cristo.

- O Dom da Ciência faz crescer grandemente a vida espiritual do homem.Através dele, Deus comunica ao

homem informações que são impossíveis de se adquirir humanamente ou por conhecimento natural pela

razão.

-Ef.(3,2-3.5-6) – p.1500 –DDPC – O Mistério da salvação dos gentios 2.Vós deveis ter aprendido o modo como Deus me concedeu esta graça que me foi feita a vosso respeito.

3.Foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar.

5.que em outras gerações não foi manifestado aos homens da maneira como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus

santos apóstolos e profetas.

6.A saber: que os gentios são co-herdeiros conosco (que somos judeus), são membros do mesmo corpo e participantes da

promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho.

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

1º sermão para a Epifania

«Caindo de joelhos, prostraram-se diante d’Ele» -

O desígnio de Deus não foi apenas descer à terra, mas ser nela conhecido; não foi nascer, apenas, mas

dar-Se a conhecer. De fato, é com vista a esse conhecimento que celebramos a Epifania, esse grande dia

da Sua manifestação. Hoje mesmo, de fato, os magos vieram do Oriente em busca do nascer do Sol da

Justiça (Ml 3,20), esse de quem se diz: «Eis o homem, cujo nome é Oriente» (Za.6,12). Hoje adoraram o

menino nascido da Virgem, seguindo a direção traçada por uma nova estrela. Temos pois aqui, irmãos,

um grande motivo de alegria, como aliás também nas palavras do apóstolo Paulo: «A bondade de Deus

nosso Salvador e o seu amor pelos homens foram-nos manifestadas» (Tt 3,4). Que fazeis, magos, que

fazeis? Adorais um menino de colo, envolto em faixas miseráveis, num pobre casebre? Será este, então,

Deus? Mas «Deus mora no seu templo santo, o Senhor tem o seu trono nos céus» (Sl 10,4), e vós, vos o

procurai assim, num qualquer estábulo, uma criança de colo? Que fazeis? Porque ofereceis esse ouro?

Será este o rei? Mas onde está a sua corte real, o seu trono, a multidão de cortesãos? Acaso um estábulo é

um palácio, acaso uma manjedoura é um trono, serão Maria e José membros da sua corte? Como podem

os homens ser tolos a ponto de adorar uma simples criança, um ser assim desprezível, quer pela pouca

idade, quer pela evidente pobreza de seus pais?

Loucos, sim, tornaram-se loucos, para serem sábios; o Espírito Santo ensinou-lhes primeiro o que o

apóstolo Paulo mais tarde proclamou: «Aquele que quer ser sábio, torne-se louco para ser sábio. Pois já

que o mundo, por meio da sua sabedoria, não conseguiu reconhecer Deus na sua Sabedoria divina,

aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação» (1 Co 1,21). […] Prostaram-se portanto

diante daquela humilde criança, prestando-Lhe homenagem como a um rei, adorando-O como um Deus.

Aquele que de longe os guiou através de uma estrela fez brilhar a Sua luz no mais profundo dos seus

corações.

- Hb. 5,1-14 [pg.1529/30] – Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote.

- Deus deseja que nós deixemos a nossa infância espiritual e encarnemos a estatura de homem adulto,

exercitados na distinção do bem e do mal, verdadeiros mestres.

1.Em verdade, todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que

dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.

2.Sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza.

3.Por isso, ele deve oferecer sacrifícios tanto pelos próprios pecados quanto pelos pecados do povo.

4.Ninguém se apropria desta honra, senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão.

5.Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo a glória de ser pontífice. Esta lhe foi dada por aquele que lhe disse: Tu és

meu Filho, eu hoje te gerei (Sl 2,7),

6.como também diz em outra passagem: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec (Sl 109,4).

7.Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi

atendido pela sua piedade.

8.Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.

9.E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem,

10.porque Deus o proclamou sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.

11.Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada a vossa lentidão em compreender...

12.A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da palavra

de Deus; e vos tornastes tais, que precisais de leite em vez de alimento sólido!

13.Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque é ainda criança.

14.Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal.

Hb.5,7-9 DDPC p.1530

7.Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi

atendido pela sua piedade.

8.Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.

9.E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem,

Comentário feito por:

São Cirilo de Alexandria (380-444), Bispo, Doutor da Igreja

Comentário sobre o Livro dos Números, 2; PG 69, 619 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 193)

«Se o grão de trigo morrer, dá muito fruto»

Cristo, primícias da nova criação [...], depois de ter vencido a morte, ressuscitou e sobe para o Pai como

oferenda magnífica e esplendorosa, como as primícias do gênero humano, renovado e incorruptível. [...]

Podemos considerá-Lo o símbolo do feixe das primícias da colheita que o Senhor exigiu a Israel que

oferecesse no Templo (Lv.23, 9). O que representa este sinal?

Podemos comparar o gênero humano às espigas de um campo, que nascem da terra, ficam à espera de

crescer e, depois de amadurecerem, são apanhadas pela morte. Era por isso que Cristo dizia aos Seus

discípulos: «Não dizeis vós que, dentro de quatro meses, chegará o tempo da ceifa? Pois bem, Eu digo-

vos: erguei os olhos e vede. Os campos estão brancos para a ceifa. O ceifeiro já recebe o salário e recolhe

o fruto para a vida eterna» (Jo 4, 35-36). Ora, Cristo nasceu entre nós, nasceu da Virgem Santa como as

espigas brotam da terra. Aliás, não hesita em dizer de Si próprio que é o grão de trigo: «Em verdade, em

verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito

fruto.» Deste modo, ofereceu-Se por nós ao Pai, à maneira de um feixe e como primícias da terra.

Porque a espiga de trigo, como aliás nós próprios, não pode ser considerada isoladamente. Vemo-la num

feixe, constituído por numerosas espigas de um mesmo braçado. Cristo Jesus é único, mas aparece-nos

como um feixe, e constitui efetivamente uma espécie de braçado, no sentido em que contém em Si todos

os crentes, em união espiritual, evidentemente. Se assim não fosse, como poderia São Paulo escrever:

«Com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar lá nos céus» (Ef 2, 6)? Com efeito, uma vez que Se fez um de

nós, nós formamos com Ele um mesmo corpo (Ef 3, 6). [...] Aliás, é Ele quem dirige estas palavras a Seu

Pai: «Que todos sejam um como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti» (Jo 17, 21). O Senhor constitui,

pois, as primícias da humanidade, que está destinada a ser armazenada nos celeiros do céu.

1Jo.2,22-28 DDPC p.1551

22.Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho.

23.Todo aquele que nega o Filho não tem o Pai. Todo aquele que proclama o Filho tem também o Pai.

24.Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se permanecer em vós o que ouvistes desde

o princípio, permanecereis também vós no Filho e no Pai.

25.Eis a promessa que ele nos fez: a vida eterna.

26.Era isto o que eu vos tinha a escrever a respeito dos que vos seduzem.

27.Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas,

como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou.

28.E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando aparecer, tenhamos confiança e não sejamos confundidos por ele, na

sua vinda.

-O Apocalipse escrito por João Evangelista apresenta aos nossos olhos uma série de visões e revelações

muito simbólicas,tendo um sentido oculto. Nele a Palavra de Ciência está presente numa mensagem

sobrenatural velada sob símbolos, representando tanto o passado,como o presente e o futuro,concernente

a um período indefinido que separa a ascensão de Jesus de sua volta gloriosa.

Comentário feito por:

João Escoto Erigena (?- c. 870), beneditino irlandês

Homilia sobre o Prólogo de João, cap. 15 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 168; cf

SC 151, p. 275)

«No meio de vós está Aquele que não conheceis: é Ele quem vem após mim»

Como é lógico, é o evangelista João quem introduz João Baptista no seu discurso sobre

Deus, «o abismo que atrai o abismo» à voz dos mistérios divinos (Sl 41, 8): o evangelista conta a história

do precursor. Aquele que recebeu a graça de conhecer «o Verbo no princípio» (Jo 1, 1) ensina-nos acerca

daquele que recebeu a graça de vir à frente do Verbo encarnado. [...] Ele não diz simplesmente: houve um

enviado de Deus, mas «houve um homem». Fala assim para distinguir o precursor, que participa apenas

da humanidade, e o Homem que, unindo estreitamente em si divindade e humanidade, veio em seguida;

para separar o voz que passa e o Verbo que permanece para sempre de maneira imutável; para sugerir que

um é a estrela da manhã que aparece na aurora do Reino dos céus e declarar que o Outro é o Sol da justiça

que lhe sucede (Ml 3, 20). Distingue a testemunha Daquele que o envia, a lâmpada vacilante da luz

esplêndida que enche o universo (cf. Jo 5, 35) e que, para todo o gênero humano, dissipa as trevas da

morte e do pecado.

«Um homem foi enviado». Por quem? Pelo Deus Verbo que o precedeu. A sua missão era ser precursor.

É num grito que ele envia a palavra à sua frente: «no deserto, uma voz grita» (Mt.3, 3). O mensageiro

prepara a vinda do Senhor. «O seu nome era João» (Jo 1, 6): foi-lhe dada a graça de ser o precursor do

Rei dos reis, o revelador do Verbo desconhecido, o que batiza em ordem ao nascimento espiritual, a

testemunha da luz eterna, pela sua palavra e pelo seu martírio.

Ap.11,19.12,1.3-6.10 – DDPC p.1556.7 19.Abriu-se o templo de Deus no céu e apareceu, no seu templo, a arca do seu testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões,

terremotos e forte saraiva.

1.Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma

coroa de doze estrelas.

3.Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas.

4.Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que

estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho.

5.Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi

arrebatado para junto de Deus e do seu trono.

6.A Mulher fugiu então para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser sustentada por mil duzentos e

sessenta dias.

10.Eu ouvi no céu uma voz forte que dizia: Agora chegou a salvação, o poder e a realeza de nosso Deus, assim como a

autoridade de seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava, dia e noite, diante do nosso

Deus.

Comentário feito por :

São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja

1º Sermão para a Assunção (a partir da trad. Pain de Cîteaux 32, p. 63 rev.)

«Em Cristo, todos serão vivificados, cada qual na sua ordem» (1Co. 15, 22-23)

Hoje a Virgem Maria sobe, gloriosa, ao céu. É o cúmulo de alegria dos anjos e dos santos. Com efeito, se

uma simples palavra sua de saudação fez exultar o menino que ainda estava no seio materno (Lc 1, 44),

qual não terá sido o regozijo dos anjos e dos santos, quando puderam ouvir a sua voz, ver o seu rosto, e

gozar da sua presença abençoada! E para nós, irmãos bem-amados, que festa a da sua assunção gloriosa,

que motivo de alegria e que fonte de júbilo temos hoje! A presença de Maria ilumina o mundo inteiro, a

tal ponto resplandece o céu, irradiado pelo brilho desta Virgem plenamente santa. Por conseguinte, é

justificadamente que ecoa nos céus a ação de graças e o louvor.

Ora [...], na medida em que o céu exulta da presença de Maria, não seria razoável que o nosso mundo

chorasse a sua ausência? Mas não, não nos lastimemos, porque não temos aqui cidade permanente

(Hb.13, 14), antes procuramos aquela aonde a Virgem Maria chegou hoje. Se já estamos inscritos no

número de habitantes dessa cidade, convém que hoje nos lembremos dela [...], compartilhemos a sua

alegria, participemos nesta alegria que hoje deleita a cidade de Deus; uma alegria que depois se espalha

como o orvalho sobre a nossa terra. Sim, Ela precedeu-nos, a nossa Rainha, precedeu-nos e foi recebida

com tanta glória que nós, seus humildes servos, podemos seguir a nossa Rainha com toda confiança

gritando [com a Esposa do Cântico dos Cânticos]:

«Arrasta-me atrás de ti. Corramos ao odor dos teus perfumes!» (Ct 1, 3-4) Viajantes sobre a terra,

enviamos à frente a nossa advogada [...], a Mãe de misericórdia, para defender eficazmente a nossa

salvação.

Comentário feito por:

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Um caminho simples

«Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.»

Digo sempre que o amor começa em casa. Primeiro está a família, depois a cidade. É fácil fingir amar as

pessoas que estão longe; mas é muito menos fácil amar aqueles que vivem conosco ou que estão muito

perto de nós. Desconfio dos grandes projetos impessoais, porque o importante são as pessoas. Para se

amar alguém, é preciso estar perto dessa pessoa. Toda a gente precisa de amor. Todos nós precisamos de

saber que temos importância para os outros e que temos um valor inestimável aos olhos de Deus.

Cristo disse: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei». E disse também: «Aquilo que

fizerdes ao mais pequeno dos Meus irmãos, a Mim o fazeis» (Mt 25, 40). É a Ele que amamos em cada

pobre, e todos os seres humanos são pobres de alguma coisa. Disse Ele: «Tive fome e destes-Me de

comer, estava nu e vestistes-Me» (Mt.25, 35). Recordo sempre às minhas irmãs e aos nossos irmãos que o

nosso dia consiste em passar vinte e quatro horas com Jesus

Ap.14,14-19- DDPC p.1569 14. Eu vi ainda uma nuvem branca, sobre a qual se sentava como que um Filho do Homem, com a cabeça cingida de coroa de

ouro e na mão uma foice afiada.

15. Outro anjo saiu do templo, gritando em voz alta para aquele que estava assentado na nuvem: Lança a tua foice e ceifa,

porque é chegada a hora de ceifar, pois está madura a seara da terra.

16. O Ser que estava assentado na nuvem lançou então a foice à terra, e a terra foi ceifada. 17. Outro anjo saiu do templo do

céu. Tinha também uma foice afiada.

18. E outro anjo, aquele que tem poder sobre o fogo, saiu do altar e bradou em alta voz para aquele que tinha a foice afiada:

Lança a foice afiada e vindima os cachos da vinha da terra, porque maduras estão as suas uvas.

19. O anjo lançou a sua foice à terra e vindimou a vinha da terra, e atirou os cachos no grande lagar da ira de Deus.

Comentário feito por:

São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja

Catequeses baptismais, nº 15 (a partir da trad.Bouvet, Soleil levant 1961, p. 330 rev.)

«O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar» (Mt.24,35)

Nosso Senhor Jesus Cristo virá dos céus e virá no fim deste mundo, no último dia; porque este mundo

terá um fim, e este mundo criado será renovado. Efetivamente, uma vez que a corrupção, o roubo, o

adultério e toda a espécie de faltas se espalharam sobre a terra e «derramam sangue sobre sangue» (Os

4,2), para que esta admirável morada não permaneça cheia de injustiça, este mundo desaparecerá e surgirá

outro mais belo. Escutai o que diz Isaías: «os céus enrolam-se como um pergaminho, os seus exércitos

extinguem-se e caem como folhas mortas de vinha ou de figueira» (Is 34, 4). E o Evangelho diz: «o Sol

irá escurecer-se, a Lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu» (Mt.24, 29). Não nos aflijamos como

se fôssemos os únicos que têm de morrer: as estrelas também morrerão, mas talvez sejam ressuscitadas. O

Senhor enrolará os céus, não para destruí-los, mas para ressuscitá-los mais belos. Escutai o que diz o

profeta David: «Tu fundaste a terra desde o princípio e os céus são obra das Tuas mãos. Eles deixarão de

existir, mas Tu permanecerás; [...] como um vestido que se muda, assim eles desaparecem. Mas Tu

permaneces sempre o mesmo, os Teus anos não têm fim» (Sl 101, 26-28). [...] Escutai ainda as palavras

do Senhor: «O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar» (Mt.24, 35); é que o

peso das coisas criadas não se iguala ao das palavras do meu Senhor

Ap.15,1-4 – DDPC p.1570

1.Vi ainda, no céu, outro sinal, grande e maravilhoso: sete Anjos que tinham os sete últimos flagelos, porque por eles é que se

deve consumar a ira de Deus.

2.Vi também como que um mar transparente, irisado de fogo, e os vencedores, que haviam escapado à Fera, à sua imagem e ao

número do seu nome, conservavam-se de pé sobre esse mar com as cítaras de Deus.

3.Cantavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras,

Senhor Deus Dominador. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!

4.Quem não temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Só tu és santo e todas as nações virão prostrar-se diante de ti,

porque se tornou manifesta a retidão dos teus juízos.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja

Sermão 306

«Pela vossa constância é que sereis salvos»

Queres alcançar a vida onde estarás para sempre liberto do engano? Quem não o quererá? Todos

queremos a vida e a verdade. Mas como o conseguir? Que caminho seguir? É verdade que não chegamos

ainda ao termo da viagem, mas vislumbramo-lo, já [...], aspiramos à vida e à verdade. Ambas as coisas

estão em Cristo. Que direção tomar, para as alcançarmos? «Eu sou o Caminho», disse Ele. «Eu sou o

Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6).

Eis o que os mártires realmente amaram; eis por que motivos ultrapassaram o amor a bens presentes e

efêmeros. Não vos surpreenda a sua coragem; foi o amor que, neles, venceu o sofrimento [...]; trilhemos

os seus passos, de olhos postos n'Aquele que é o seu e o nosso Chefe; se desejarmos alcançar tão grande

felicidade, não temamos passar por caminhos difíceis. Aquele que no-lo prometeu é verdadeiro; Ele é fiel,

Ele não nos enganaria. Por que temer as duras vias do sofrimento e da tribulação? O próprio Salvador as

sofreu.Responderás: «Mas era Ele, o Salvador !» Lembra-te de que os apóstolos também passaram por

esses caminhos. Dirás: «Eram apóstolos !». Eu sei. Mas não te esqueças de que, depois deles, um grande

número de homens como tu passaram por semelhantes provações e mulheres, também; e crianças, mesmo

meninas muito pequenas, passaram por tal caminho de provação. Será ainda tão duro, esse caminho afinal

já aplanado por tantos que o percorreram?

Ap.18,1.2,21-23 –DDPC p.1572.3 1.Depois disso, vi descer do céu outro anjo que tinha grande poder, e a terra foi iluminada por sua glória.

2.Clamou em alta voz, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, a Grande. Tornou-se morada dos demônios, prisão dos espíritos imundos

e das aves impuras e abomináveis,

21.Então um anjo poderoso tomou uma pedra do tamanho de uma grande mó de moinho e lançou-a no mar, dizendo: Com tal

ímpeto será precipitada Babilônia, a grande cidade, e jamais será encontrada.

22.Já não se ouvirá mais em ti o som dos citaristas, dos cantores, dos tocadores de flauta, de trombetas. Nem se encontrará em

ti artífice algum de qualquer espécie. Não se ouvirá mais em ti o ruído do moinho,

23.não brilhará mais em ti a luz de lâmpada, não se ouvirá mais em ti a voz do esposo e da esposa; porque teus mercadores

eram senhores do mundo, e todas as nações foram seduzidas por teus malefícios.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja católica §§ 668-671

Cristo voltará na Sua glória

«Cristo morreu e voltou à vida para ser Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm.14, 9). A ascensão de Cristo

aos Céus significa a Sua participação, em Sua humanidade, no poder e autoridade do próprio Deus. Jesus

Cristo é Senhor: Ele possui todo o poder nos Céus e na Terra. Está «acima de todo o principado, poder,

virtude e soberania», porque o Pai «tudo submeteu a Seus pés» (Ef.1, 20-22). Cristo é o Senhor do

cosmos e da história. N'Ele, a história do homem e, até, a Criação inteira encontram a sua «recapitulação»

(Ef 1, 10), o seu acabamento transcendente.

Como Senhor, Cristo é também a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo. Elevado aos Céus e glorificado,

tendo assim cumprido plenamente a Sua missão, continua na Terra por meio da Igreja. A redenção é a

fonte da autoridade que, em virtude do Espírito Santo, Cristo exerce sobre a Igreja. «A Igreja, ou seja, o

Reino de Cristo já presente em mistério», «gérmen e principio deste mesmo Reino na Terra» (LG 3.5).

Depois da ascensão, o desígnio de Deus entrou na sua consumação. Estamos já na «última hora» (1 Jo

2,18). Já presente na Sua Igreja, o Reino de Cristo, contudo, ainda não está acabado «em poder e glória»

(Lc 21, 27) pela vinda do Rei à terra. Este Reino ainda é atacado pelos poderes do mal, embora estes já

fossem potencialmente vencidos pela Páscoa de Cristo. Até que tudo Lhe tenha sido submetido,

«enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra, em que habita a justiça, a Igreja peregrina,

nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem

passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores do parto, esperando a

manifestação dos filhos de Deus» (LG 48). Por este motivo, os cristãos oram, sobretudo na Eucaristia,

para que se apresse o regresso de Cristo, dizendo-Lhe: «Vem, Senhor» (1Cor 16, 22; Ap.22, 17.20).

Ap.21,9-14.21 DDPC p.1575

9.Então veio um dos sete Anjos que tinham as sete taças cheias dos sete últimos flagelos e disse-me: Vem, e mostrar-te-ei a

noiva, a esposa do Cordeiro.

10.Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de

Deus,

11.revestida da glória de Deus. Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra muito preciosa, tal como o jaspe cristalino.

12.Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze

tribos dos filhos de Israel.

13.Ao oriente havia três portas, ao setentrião três portas, ao sul três portas e ao ocidente três portas.

14.A muralha da cidade tinha doze fundamentos com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.

21.Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal.

Comentário feito por:

São Pedro Damião (1007-1072), eremita e depois bispo, Doutor da Igreja

Sermão 42, 2º para São Bartolomeu: PL 144, 726, 728 C-D (a partir da trad. Orval)

«Assim como a chuva e a neve descem do céu, [...] o mesmo sucede com a palavra que sai da Minha

boca» (Is 55, 10-11)

Os apóstolos são as pérolas preciosas que João afirma ter contemplado no Apocalipse, as pérolas que são

as portas da Jerusalém celeste (Ap.21, 21). [...] Com efeito, quando irradiam a luz divina por meio de

sinais e de milagres, os apóstolos abrem o acesso da glória celeste de Jerusalém aos povos convertidos à

fé cristã. E aqueles que graças a eles são salvos entram na vida, qual viajante que entra por uma porta. [...]

É também acerca deles que o profeta pergunta: «Quem são estes que voam como as nuvens?» (Is 60, 8),

nuvens que se condensam em água quando regam a terra do nosso coração com a chuva dos seus

ensinamentos, a fim de a tornarem fértil e portadora dos germens das boas obras.

Bartolomeu, cuja festa celebramos hoje, significa precisamente, em aramaico, «filho daquele que traz a

água». Ele é o filho deste Deus que eleva o espírito dos seus pregadores à contemplação das verdades do

alto, a fim de que eles possam difundir, com eficácia e abundância, a chuva da palavra de Deus nos

nossos corações. Assim, eles bebem a água na fonte, para depois no-la darem a beber a nós.