dois pesos maria rita kehl - estadão

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  • 8/8/2019 DOIS PESOS Maria Rita Kehl - Estado

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    S que agora comem. Alguns j conseguem at produzir e vender para outros quetambm comearam a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nascidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a

    economia local. A Bolsa-Famlia, acreditem se quiserem, proporciona as condies deconsumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da esmolinha poltico erevela conscincia de classe recm-adquirida.

    O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrrio do que pensam os indignados da internet,mudou para melhor. Se at pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar,

    por menos de um salrio mnimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem conscinciade seus direitos, hoje no to fcil encontrar quem aceite trabalhar nessas condies.

    Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Famlia, que apesar de modesta, reduziu de12% para 4,8% a faixa de populao em estado de pobreza extrema. Ser que o leitor

    paulistano tem ideia de quanto preciso ser pobre, para sair dessa faixa por umadiferena de R$ 200? Quando o Estado comea a garantir alguns direitos mnimos

    populao, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigochamou esse efeito de acumulao primitiva de democracia.

    Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros,como na inesquecvel observao de Pel, no esto preparados para votar. Nem todos, claro.

    Depois do segundo turno de 2006, o socilogo Hlio Jaguaribe escreveu que os 60% debrasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus prpriosinteresses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instrudos pensavam nosinteresses do Pas.

    Jaguaribe s no explicou como foi possvel que o Brasil, dirigido pela elite instrudaque se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milniocontando com 60% de sua populao to inculta a ponto de seu voto ser desqualificadocomo pouco republicano.

    Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabea acima da linha damendicncia e da dependncia das relaes de favor que sempre caracterizaram as

    polticas locais pelo interior do Pas, dizem que votar em causa prpria no vale.Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mnimos quedesejam preservar pela via democrtica, parte dos cidados que se consideram classe Avem a pblico desqualificar a seriedade de seus votos.

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    Quinta, 7 de outubro de 2010, 11h25 Atualizada s 15h25

    Maria Rita Kehl: "Fui demitida por um 'delito' de opinio"

    Bob Fernandes

    A psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois deter escrito, no ltimo sbado (2), artigo sobre a "desqualificao" dos votos dos pobres.O texto, intitulado "Dois pesos...", gerou grande repercusso na internet e mdias sociaisnos ltimos dias.

    Nesta quinta-feira (7), ela falou a Terra Magazine sobre as consequncias do seuartigo:- Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um "delito" deopinio (...) Como que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir algum

    s porque a opinio da pessoa diferente da sua?

    Veja trechos do artigo "Dois pesos".

    Leia abaixo a entrevista.

    Terra Magazine - Maria Rita, voc escreveu um artigo no jornal O Estado de

    S.Paulo que levou a uma grande polmica, em especial na internet, nas mdias

    sociais nos ltimos dias. Em resumo, sobre a desqualificao dos votos dos pobres.Ao que se diz, o artigo teria provocado conseqncias para voc...

    Maria Rita Kehl - E provocou, sim...

    http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722295-EI6578,00-Trechos+de+artigo+da+psicanalista+Maria+Rita+Kehl.htmlhttp://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722295-EI6578,00-Trechos+de+artigo+da+psicanalista+Maria+Rita+Kehl.html
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    - Quais?

    - Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um "delito" deopinio.

    - Quando?

    - Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).

    - E por qual motivo?- O argumento que eles estavam examinando o comportamento, as reaes ao queescrevi e escrevia, e que, por causa da repercusso (na internet), a situao se tornouintolervel, insustentvel, no me lembro bem que expresso usaram.

    - Voc chegou a argumentar algo?

    - Eu disse que a repercusso mostrava, revelava que, se tinha quem no gostasse do queescrevo, tinha tambm quem goste. Se tem leitores que so desfavorveis, tem leitoresque so a favor, o que bom, saudvel...

    - Que sentimento fica para voc?- tudo to absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenes decensura, de autoritarismo...

    - Voc concorda com essa tese?- No, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratgico quandocriticam, quando se queixam da imprensa, da mdia, um erro porque isso, nesseambiente eleitoral pode soar autoritrio, mas eu no conheo nenhuma medida,nenhuma ao concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ao concreta para cercear aimprensa. No me refiro a debates, frases soltas, falo em ao concreta, concretizada.

    No conheo nenhuma, e, por outro lado...

    - ...Por outro lado...?- Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econmicos, partidrios, demitealgum, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinio. Acho absurdo, noconcordo, que o dono do Maranho (senador Jos Sarney) consiga impor a medida queimps ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitiralgum apenas porque exps uma opinio? Como que um jornal que est, que anunciaestar sob censura, pode demitir algum s porque a opinio da pessoa diferente dasua?

    - Voc imagina que isso tenha algo a ver com as eleies?- Acho que sim. Isso se agravou com a eleio, pois, pelo que eles me alegaram agora,

    j havia descontentamento com minhas anlises, minhas opinies polticas.

    Quinta, 7 de outubro de 2010, 14h29 Atualizada s 14h40

    Diretor do Estado: "No houve censura a Maria Rita Kehl"

    Bob Fernandes

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    O diretor de contedo do Grupo O Estado de S.Paulo, Ricardo Gandour, conversou comTerra Magazine sobre a demisso da colunista Maria Rita Kehl, psicanalista, que, noltimo sbado (2), publicou no jornal um artigo no qual tratava da "desqualificao dovoto dos pobres". Gandour, para comeo de conversa, diz que "no houve demisso":

    - No demisso. Colunistas se revezam, cumprem ciclos.

    Disse ainda o diretor de contedo do Grupo O Estado de S.Paulo:

    - Havia uma discusso em torno de novos rumos para a coluna, essa conversa comeouna ltima tera-feira pela manh, (...) Horas depois, houve um vazamento na internetque precipitou a deciso. No houve censura. Tanto que a coluna saiu integralmente.

    A seguir, a conversa com Ricardo Gandour.

    Terra Magazine - O que aconteceu entre o jornal o Estado de S.Paulo e a colunista

    Maria Rita Kehl?Ricardo Gandour - O projeto original no caderno C2 + Msica de de ter ali, aossbados, um espao em torno da psicanlise. Um div para os leitores. Mas esse no erao enfoque que ela vinha praticando e frequentemente conversvamos sobre isso.

    Com voc?

    No comigo diretamente, mas com a editora do caderno. Assim iniciou-se com a autorauma discusso em torno de novos rumos para a coluna. Inclusive com o contrapropor dacolunista.

    Quando comeou essa conversa?

    Essa ltima conversa comeou na ltima tera-feira, pela manh. Ela chegou acontrapropor alguma coisa, tinha um dilogo rolando... Horas depois, houve umvazamento na internet que precipitou a deciso...

    Mas vocs atribuem isso a ela?

    Eu no sei, no posso afirmar. E esto dizendo na internet que houve censura...

    ...Na verdade, o que h na internet uma entrevista com Maria Rita Kehl, onde ela

    diz: "Como que um jornal que est, que anuncia estar sob censura, pode demitir

    algum s porque a opinio da pessoa diferente da sua?"

    No houve censura, a coluna saiu integralmente, sem mexer em uma vrgula.

    Mas houve consequncias...Tinha uma conversa em torno dos rumos daquele espao. Esto dizendo que foi acoluna de sbado que causou isso, mas no foi, no. Era o foco daquele espao que eraoutro. Claro que a coluna de sbado foi uma coluna forte...

    Forte...Dentro da questo de que no era esse o foco.

    Ento, a demisso no se deu pela opinio da Maria Rita e por posterior censura

    ela?No demisso... colunistas se revezam, cumprem ciclos. A Chris Mello saiu do jornal

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    em agosto, o Mark Margolis entrou em outra seo. O jornal tem 92 colunistas, e esseano saram trs e entraram trs ou quatro. O que estava havendo a era a simples gestode uma coluna especfica.

    Desde...

    Tinha um dilogo rolando e esse dilogo vazou e eu lamento que esteja havendo umaleitura histrica disso.

    Talvez porque um momento...

    O momento delicado, crtico, de eleies, mas abriu-se um dilogo que vazou e nsmantivemos a linha. O fenmeno da rede social que uma conversa entre trs pessoas

    passou a acontecer entre 3 mil pessoas, mas a verdade sobre esse fato esta.