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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Multiculturalismo e Religião:
A importância da Pastoral da Comunicação (Pascom) na dialética da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil
Por: Raphael Luís Freire Silva
Orientador
Prof. Jorge Vieira
Rio de Janeiro
2016
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Multiculturalismo e Religião: A importância da Pastoral da Comunicação (Pascom) na dialética da Igreja
Católica Apostólica Romana no Brasil
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Comunicação Empresarial. Por: Raphael Luís Freire Silva
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a Nossa Senhora Aparecida por todas as bênçãos e oportunidades dadas a mim; aos meus familiares por sempre acreditarem no meu potencial; aos meus mestres (professores) por todo o conhecimento transmitido e pelo carinho; aos meus irmãos e amigos pela amizade; a minha comunidade paroquial Nossa Senhora do Bonsucesso de Inhaúma por todas as experiências e partilhas; as minhas mulheres da Casa Cinco Produções por acreditarem no meu profissionalismo; ao Cinemaneiro, Geração Futura e Trilheiros, projetos que iniciaram minha carreira dentro da comunicação; aos profissionais do Vicariato para a Comunicação Social e Cultura da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em especial, Carlos Moioli, Daniela Oliveira, Elizabete Martins, Fátima Lima, Nice Affonso e Symone Matias, pela acolhida, confiança, amizade e paciência; e, é claro, a todos os meus amigos da melhor turma de Comunicação Empresarial que já existiu na AVM Faculdade Integrada. A todos aqui citados e a tantos outros que contribuíram e ainda hoje contribuem para minha formação pessoal, acadêmica e profissional, meus agradecimentos... Amo vocês!
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DEDICATÓRIA
A Jesus Cristo, comunicador por excelência.
A Nossa Senhora Aparecida, virgem do silêncio.
A Maria do Socorro Freire, incansável em sua vocação de ser minha mãe.
A Thiago Barros de Lima, meu parceiro por toda vida.
A Leonardo Lenine Aquino Filho (in memoriam), exemplo de família e profissional.
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RESUMO Esta é uma pesquisa do campo das Ciências Sociais, na área da Comunicação Social e que se insere na relação entre Religião e Multiculturalismo, com foco na Pastoral da Comunicação (Pascom). A maioria das pessoas que atuam na comunicação da Igreja Católica como agentes da Pascom, especialmente nas paróquias, não tem formação acadêmica na área da Comunicação Social. São pessoas que se identificam com o trabalho e, voluntariamente e com boa vontade, produzem e apresentam os conteúdos veiculados nos jornais impressos, sites, blogs, webtv‘s, webrádios e nas redes sociais, divulgando assim, as ações da Igreja. A intenção desta pesquisa é propor uma reflexão sobre a importância da Pastoral da Comunicação na dialética da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil e investigar se, de fato, esses agentes contribuem para a comunicação da Igreja nesta era do multiculturalismo, além de tentar compreender como a instituição milenar enxerga-os. Dentro deste contexto, o presente trabalho traz alguns apontamentos relacionados à área da formação clerical e a implantação da Comunicação Organizacional para que a comunicação realizada pela Pascom seja potencializada e verdadeiramente contribua nesta era do multiculturalismo.
PALAVRAS-CHAVE
Multiculturalismo; Religião; Igreja; Católica; Pastoral; Comunicação; Dialética
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METODOLOGIA
Tendo como objetivo geral analisar a contribuição da Pastoral da Comunicação (Pascom) para a Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil na era do multiculturalismo, a metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho monográfico partiu da análise qualitativa dos documentos oficiais sobre comunicação publicados pelo Vaticano e pelos organismos da Igreja Católica, além de teses, artigos e monografias que falam sobre comunicação social, religião e multiculturalismo.
Durante o desenvolvimento da pesquisa fez-se necessário focar e permear os estudos a partir do Documento de Aparecida, apontamento mais recente sobre os caminhos que a Igreja na América Latina e no Caribe deve seguir a partir do texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Além disso, o presente trabalho ampliou seu campo de pesquisa utilizando também artigos e documentos publicados em sites, percebendo, dentre todas as temáticas já apontadas, que as bibliografias sobre Comunicação Organizacional deveriam fundamentar algumas teorias apresentadas neste estudo.
Inicialmente a proposta metodológica foi investigar as ideologias subjacentes ao discurso religioso veiculado pela Igreja Católica a partir dos documentos sobre comunicação; apontar como a Igreja deseja que a Pastoral da Comunicação trabalhe e como a mesma enxerga o trabalho desenvolvido pela pastoral; mostrar as práticas utilizadas pelos agentes da Pascom na divulgação da doutrina e atividades relacionadas à Igreja Católica Apostólica Romana; refletir se verdadeiramente, na prática, a Pastoral da Comunicação contribui com a Igreja; e favorecer a construção de um senso crítico que permita aos leitores refletir sobre a legitimidade da Pascom, sua atuação e contribuição para a Igreja.
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 08 1. COMUNICAÇÃO E RELIGIÃO ........................................................................ 10 1.1. A COMUNICAÇÃO E OS DOCUMENTOS DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA ....................................................................................... 14 1.2. A COMUNICAÇÃO DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA ........................ 22 2. MULTICULTURALISMO ................................................................................... 26 2.1. MULTICULTURALISMO: INCLUSÃO DA PLURALIDADE/DIVERSIDADE DE GRUPOS E TRADIÇÕES .................................................................................. 29 2.2. MULTICULTURALISMO BRASILEIRO E RELIGIÃO ............................... 34 3. PASTORAL DA COMUNICAÇÃO .................................................................... 37 3.1. DELIMITAÇÃO CONCEITUAL E ESTRUTURA DA PASTORAL DA COMUNICAÇÃO ..................................................................................................... 41 3.2. A PASTORAL DA COMUNICAÇÃO COMO NOVAS COMUNIDADES DE PERTENCIMENTO .................................................................................................. 46 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 50 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 59 SITES ........................................................................................................................ 63
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INTRODUÇÃO
Pensar comunicação humana é algo fascinante. Mais fascinante ainda se fazemos
essa reflexão voltada para a mensagem de uma das maiores instituições de todos os
tempos: a Igreja Católica Apostólica Romana. Segundo Bruneau (1974, p. 15), ―não há
como negar que o objetivo da Igreja é influenciar indivíduos e toda a sociedade,
convertendo os homens para fazê-los discípulos e orientando o mundo para Deus‖. Mas
no mundo atual, pós-moderno, onde os valores morais, sempre abraçados pela
instituição, estão em declínio e o próprio homem questiona ser criatura de Deus e se
aventura mesmo a ser criador, como conseguir estabelecer diálogo, levar a mensagem
cristã, conseguindo atingir seu objetivo?
Dentro desse contexto e com a finalidade de tentar elucidar um pouco mais essa
questão, o presente trabalho deseja levar uma reflexão sobre a influência da Pastoral da
Comunicação (Pascom) nesta era do multiculturalismo tendo como objetivos
específicos: perceber qual é o verdadeiro significado da comunicação para a Igreja
Católica Apostólica Romana e, consequentemente, para os agentes da Pascom;
investigar quando e por que a Igreja Católica no Brasil sentiu a necessidade de criar
uma pastoral voltada para a comunicação e quais os avanços realizados desde o seu
início até os dias de hoje; refletir se a metodologia comunicacional empregada pelos
agentes da Pastoral da Comunicação parte do princípio pastoral ou profissional; estudar
como o multiculturalismo tem influenciado na comunicação da Igreja; e desenvolver o
senso crítico no que diz respeito às práticas utilizadas pelos agentes da Pascom na
divulgação da doutrina e atividades relacionadas à Igreja Católica Apostólica Romana.
Nesse sentido, esta pesquisa se divide em três capítulos. Na seção 1, o tema
escolhido traça um panorama sobre ―comunicação e religião‖, além de trazer um
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profundo conteúdo histórico sobre ―a comunicação e os documentos da Igreja Católica
Apostólica Romana‖ e ―a comunicação da Igreja na América Latina‖. No capítulo 2,
este trabalho monográfico busca definir e apresentar um conceito para
―multiculturalismo‖, faz uma reflexão sobre a ―inclusão da pluralidade/diversidade de
grupos e tradições‖ e apresenta a proximidade entre ―multiculturalismo brasileiro e
religião‖. Já no módulo 3, realiza-se uma análise sobre a ―Pastoral da Comunicação‖,
sua ―delimitação conceitual e estrutura‖, e sua possível atuação como ―Novas
Comunidades de Pertencimento‖.
Ao fim, inspirado pela exortação de João Paulo II em sua Carta Encíclica
Redemptoris Missio (1990, n. 37) que diz: ―não é suficiente usar os meios de
comunicação para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário
integrar a mensagem nesta ―nova cultura‖, criada pelas modernas comunicações‖, o
presente estudo busca apontar caminhos que podem potencializar o trabalho
desenvolvido pela Pastoral da Comunicação nesta era do multiculturalismo.
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Capítulo I. Comunicação e Religião
Refletir sobre a comunicação humana é algo encantador. Mais encantador ainda
se depositamos nossos esforços intelectuais para ajuizar como vem sendo difundidas e
propagadas às mensagens das religiões, em especial, das igrejas cristãs e de uma das
maiores instituições de todos os tempos: a Igreja Católica Apostólica Romana. De
acordo com Rodrigues (1999, p. 1), ―a mensagem de Cristo é a mensagem da Igreja, que
tem por objetivo principal levar todos os homens à salvação. Assim, essa mensagem,
que a Instituição tem a missão de levar a todos, é transcendental‖.
Se partirmos desta premissa, podemos afirmar que a Igreja precisa de todos os
recursos lícitos disponíveis para comunicar o anúncio da salvação, ou seja, meios que
proporcionem a difusão e divulgação do evangelho, pois quanto mais pessoas forem
interpeladas pela Palavra, melhor. Vale ressaltar que a preocupação da instituição com a
propagação deste evangelho de salvação tem sido feita há séculos, e a princípio, de
forma direta e interpessoal, seja através da pregação de um cristão perante um grupo de
pessoas – práticas constatadas nas histórias do Novo Testamento –, ou do testemunho
partilhado a uma outra pessoa.
Segundo Patriota (2004, p. 3), ―a comunicação religiosa verbal foi ampliada pela
comunicação escrita. Boa parte do Novo Testamento é composta de comunicações
escritas por cristãos que tinham a intenção de informar sobre a fé a seus amigos não-
cristãos, ou às congregações de cristãos que se formavam‖.
A dimensão que o ato de proclamar alcançou com a palavra escrita em pergaminhos, papiros e códices representou o fator diferencial para que apóstolo Paulo pudesse declarar aos colossenses que ―a palavra da verdade do evangelho que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal como acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade‖ (Cl 1:6). (Rocha, 2006, p. 31)
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Outras formas de comunicação também são encontradas na igreja cristã
primitiva, dentre elas: a música (Icther, 1980), as artes plásticas (Brose, 1980) e o teatro
(Brook, 1970). Mas como apontam Geisler e Nix (1997, p. 220,223), ―o surgimento da
imprensa com tipos móveis, em 1454, por Gutemberg, abriu um mundo novo. Uma
nova fase não somente para a publicação da Bíblia, que passou a ser lida em alemão e
inglês, mas também ao próprio movimento reformador que motivava entre os cristãos
uma inigualável dimensão à obra evangelizadora‖.
Com isso, ao longo da história a Igreja Católica sempre buscou encontrar meios
para motivar seus fiéis e teve que se adaptar também a esse progresso do ―cenário
midiático‖ não só para mantê-los, mas também para atrair novos adeptos a religião. Na
verdade, desde os primórdios a Igreja propõe que as mensagens transmitidas pelos
meios de comunicação social não sejam um exercício utilitarista, com a simples
finalidade de solicitar, persuadir ou vender. Na realidade, a instituição afirma que a
comunicação tem a tarefa de unir pessoas e de enriquecer suas vidas, e não as de isolar e
explorar, lançando à sociedade o desafio de não se reduzir o valor da comunicação, mas
compreender que ela tem um papel fundamental no que diz respeito às relações
humanas, conforme explica Díez (1997, p. 47): ―Um dos erros mais frequentes quanto à
comunicação é associá-la pura e simplesmente à transmissão de ideias ou de
informações impessoais. Esse erro empobrece notavelmente a realidade da
comunicação‖.
As comunicações poderiam ser descritas como a forma pela qual as pessoas se vêem levadas a compartilhar ideias, sentimentos, atitudes ou formas de agir através do contato com os demais. Elas não significam necessariamente a transferência de pensamentos articulados de professor para discípulo, embora essa seja uma forma importante de comunicação. A comunicação pode ter lugar igualmente através de uma espécie de ação catalizadora, na qual as ideias ou as atitudes se colocam de manifesto por meio de encontros sociais. (A. Dulles, Cf. Díez, 1997, p. 47).
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Com o advento do mundo globalizado, da nova era digital e, por vezes, da
―incômoda‖ pluralidade religiosa, a comunicação das igrejas vem assumindo novas
perspectivas no que diz respeito à utilização dos meios de comunicação de massa. Na
contemporaneidade é possível observar que não só a Igreja Católica, mas todas as
igrejas cristãs estão extremamente inseridas numa gama de apelos, símbolos e práticas
midiáticas. Dentro deste contexto, Tempesta (2011, p.47), afirma que ―a fé não é
autêntica, e a missão da igreja não é eficaz, se ambas não assumirem uma densidade e
uma valência culturais‖. Desta forma, um dos grandes desafios para as religiões é levar
os fiéis a viver e refletir a fé como um fato cultural que demanda de todos uma
criatividade e um discernimento.
Desvalorizar, por um lado, a comunicação como experiência de vida que surge da e na comunidade e, por outro, ignorar o mundo das tecnologias, ou simplesmente subestimar a sua capacidade de incluir sobre as consciências, significam privar-se de evangelizar a cultura moderna. (Tempesta, 2011, p. 47).
É notório que os meios de comunicação social criaram, criam e sempre poderão
criar novos modelos culturais com uma capacidade de difundi-los de forma rápida e
eficaz. O fato irrefragável é que no mundo contemporâneo a comunicação detém muito
poder em todos os setores da sociedade e, ciente disso, a própria Igreja Católica se
dispõe a abraçar esse ―novo areópago‖.
O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na aldeia global. Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass média. Talvez se tenha descuidado um pouco este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass média foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas secundariamente na programação pastoral. O uso dos mass-média, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um facto muito mais profundo porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência. Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a
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mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta nova cultura, criada pelas modernas comunicações. (João Paulo II, n. 37).
―A cultura midiática muda e cresce, transformando o mundo em torno de si. A
Igreja segue com atenção tal processo e tem consciência da sua relevância, como
demonstram os documentos do Magistério em diversos níveis‖, afirma Tempesta (2011,
p. 49), referindo-se a Igreja Católica Apostólica Romana. Sendo assim, pode-se afirmar
neste caso que a cultura e a comunicação, ou seja, a cultura e a mídia constituem um
areópago de importância fundamental para a os fins de inculturação da fé cristã,
ajudando na propagação das diversas expressões religiosas.
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1.1. A Comunicação e os Documentos da Igreja Católica Apostólica Romana
No curso da história eclesial a comunicação sempre esteve em pauta dentro da
Igreja Católica. As primeiras reações ante os modernos meios de comunicação social
foram de prudência e reserva, mas logo as novas possibilidades de se propagar o
Evangelho foram entendidas como elementos importantes a serem contemplados na sua
especificidade, sendo notória a evolução do pensamento do magistério desde a
―aceitação‖ da comunicação, passando pela compreensão da necessidade do diálogo
entre fé e cultura.
A origem de tais meios, especialmente da imprensa, ficou envolta num ambiente
agitado, atribulado e conflituoso, com isso, houve por parte da Igreja posições
intransigentes e inflexíveis. Para Rodrigues (1999, p. 11), ―elas não podem ser negadas
nem justificadas, mas é preciso julgá-las sob as circunstâncias históricas do momento. A
postura era a de zelar pela prudência institucional, ainda que, na opinião de alguns, em
determinadas situações isso tenha sido absolutamente condenável‖. De acordo com
Puntel (2011, p. 222), ―a seu modo, segundo os critérios e cultura da época, bem como o
grau de compreensão da Igreja em cada período, esta, de certa forma, sempre se
interessou pela comunicação. A diferença está na maneira como ela se ocupou da
comunicação através dos séculos‖. Refletindo sobre esses aspectos podemos avaliar que
a dimensão entre Igreja e Comunicação é extensa, trabalhosa, gradativa e encorajadora
em determinadas situações e circunstâncias particulares, por isso, abordaremos neste
trabalho alguns documentos da instituição de maiores destaques e de grande relevância
para o diálogo entre Igreja e Comunicação.
Com o início da imprensa a Igreja volta-se aos meios de comunicação impresso
e, em 1487, Inocêncio VIII publica o Inter Multiplices determinando o pensamento da
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Igreja sobre os meios de comunicação escritos e como se posicionar sobre eles, tendo
em vista sua preocupação com a vida espiritual dos fiéis e uma possível ameaça sobre a
autoridade e o domínio eclesiástico da produção cultural.
Em 1559, século XVI, o então Papa Paulo IV divulga um índex, aprovado por
Pio IV e confirmado pelo Concílio de Trento, de autores e livros que não poderiam ser
editados nem lidos, que só foi abandonado sob Paulo VI, em 1966.
Gregório XVI (1831-1846) evidenciou preocupação pastoral com os pequenos
jornais panfletários e com sua incidência, vista por ele como danosa para a doutrina, a
moral e a política. ―A primeira condenação oficial de um órgão de imprensa periódica
por parte da Santa Sé foi pela encíclica Mirari Vos, em que o Papa escreve contra a
liberdade de imprensa proposta por Lammenais na revista L’ Avenir (1830)‖, afirma
Rodrigues (1999, p. 12).
Já em 1766, o Papa Clemente XIII, acenando a ameaça das obras de cunho
anticristão, escreveu o documento Christiane Reipublicae, onde condenava essas obras
e exortava todos os bispos reafirmando que os mesmos deveriam combater a literatura
considerada imoral.
Segundo Rodrigues (1999, p. 12), ―o pontificado de Pio IX foi marcado por
grandes e graves acontecimentos de caráter doutrinal, político e eclesial‖.
O avançar do racionalismo, do liberalismo e do comunismo levaram à publicação da encíclica Quanta Cura e à compilação do Syllabus, catálogo de doutrinas consideradas perniciosas, abordando os principais erros da época: panteísmo, naturalismo, racionalismo, indiferentismo, socialismo e comunismo, assim como a falsidade doutrinária a cerca do matrimônio e da moral cristã. O Papa vê nas revistas uma nova técnica editorial que ataca de frente em sua encíclica Nostis Et Nobiscum. Contudo, para compensar os efeitos nocivos dessa literatura, convida a escrever outros livros e folhetos de ‗sã doutrina‘. (Rodrigues, 1999, p. 12).
Com atitudes que recordam a ―Cultura do Encontro‖ defendida pelo atual
Pontífice, Papa Francisco, em 1879 o então Papa Leão XIII tornou seu pontificado mais
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aberto à imprensa e reconheceu que os meios de comunicação social poderiam ser
utilizados como instrumentos que levariam ao povo a mensagem do Evangelho. Para
defender o povo contra o erro, conforme acredita Díez (1997, p. 85), ―o Papa legisla
sobre o Índex e regulamenta a proibição de leituras, mas também incentiva os estudos
históricos e abre os arquivos vaticanos aos pesquisadores para dar a conhecer a verdade
e desfazer a falsidade e a calúnia‖.
Tendo seu pontificado marcado pela luta contra o modernismo, Pio X mostrou-
se mais conservador. Tal característica fica bem expressa em Pieni d’Animo (1906),
quando proibiu os seminaristas de lerem jornais e relembrou aos sacerdotes de não
produzirem conteúdos para os meios impressos sem licença, com o objetivo de
resguardarem-se contra ideias consideradas modernistas, como o evolucionismo e o
positivismo. O pontífice determinou também que cada diocese tivesse um departamento
de censura para analisar e aprovar os diversos trabalhos a serem publicados. ―Nesse
período, as novas tecnologias de comunicação espantavam o clero por influírem na
opinião pública. O cinema, o rádio e a televisão eram vistos pelos religiosos como
meios de possibilitar as relações entre os grupos sociais‖, pontuou Rodrigues (1999, p.
13).
Com prudência, entre os anos de 1878 e 1939, a Igreja se moveu e demonstrou
certa flexibilidade com relação às novas tecnologias de comunicação, em especial, ao
cinema e ao rádio. Puntel (2011, p. 225) recorda que ―a evolução do cinema no início do
século XX impressionou Pio XI, que se tornou pessoalmente interessado na recente
invenção. Essa nova tecnologia de comunicação levou-o a criar a Organização Católica
Internacional para o Cinema (OCIC) em 1928.‖ Não indiferente ao potencial do rádio,
em fevereiro de 1931, Pio XI funda a Rádio Vaticana. Rodrigues (1999, p. 13) ressalta
que neste período três encíclicas foram escritas pelo Santo Padre onde ele falou sobre o
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poder e o potencial do cinema, sendo que, na última, escrita em 1936 e intitulada
Vigilanti Cura, o Pontífice ―externou a preocupação relativa ao impacto psicológico e
moral que o cinema poderia ter sobre os indivíduos e a sociedade‖.
Mas foi sob o pontificado de Pio XII que a Igreja Católica despertou e percebeu
a importância de se pensar sobre o papel da informação na construção da opinião e nas
relações sociais dentro de uma sociedade democrática. ―De fato, o tema da opinião
pública foi abordado em muitas palestras de Pio XII aos profissionais de comunicação.
Convencido pela influência dos meios de comunicação de massa e por seu grande
significado, Pio XII escreveu a proeminente encíclica Miranda Prorsus...‖, destaca
Puntel (2011, p. 225). Para Dariva (2003, p. 33), o documento demonstra ―grande
capacidade da análise e uma postura positiva em relação aos meios eletrônicos, ao seu
potencial e às exigências pastorais que delas derivam‖. ―Na verdade, é neste documento
que vamos encontrar a gênese da Pastoral da Comunicação‖, conclui Soares (1988, p.
80).
Considerado o mais importante evento da Igreja no século XX, o Concílio
Vaticano II completou cinquenta anos de história no ano de 2013 e foi celebrado pela
Igreja Católica demonstrando sua força e atualidade após décadas. Convocado pelo
Papa João XXIII, o Concílio reuniu bispos do mundo inteiro, em Roma, para três
importantes sessões realizadas entre outubro de 1962 e dezembro de 1965, após 92 anos
do Vaticano I, datado de 1870.
A convocação realizada por João XXIII marcou profundamente o mundo das
comunicações sociais, pois foi a primeira vez que o assunto esteve presente num
Concílio Geral da Igreja Católica. O decreto Inter Mirifica, aprovado em 4 de dezembro
de 1963, tornou-se a ―aceitação oficial da Igreja aos meios de comunicação‖ como
afirma Puntel (1984, p. 53-62). Mas segundo Andrade (2009, p. 3), ―embora tenha sido
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escrito num clima de euforia renovadora da Igreja, a noção chave que organiza o
decreto é a vigilância‖ visto que, segundo o Inter Mirifica, o pontífice ―sabe também
que os homens podem utilizar tais meios contra o desígnio do Criador e convertê-los em
meios da sua própria ruína‖ (CONC. VATICANO, Inter Mirifica, art. 2).
A Igreja Católica, tendo sido constituída por Cristo nosso senhor, a fim de levar a salvação a todos os homens e, por isso, impelida pela necessidade de evangelizar, considera como sua obrigação pregar a mensagem de salvação, também com o recurso dos instrumentos de comunicação social, e ensinar aos homens seu correto uso. Portanto, pertence à Igreja o direito natural de empregar e possuir toda sorte desses instrumentos, enquanto necessários e úteis à educação cristã e a toda sua obra de salvação das almas... (Puntel, 1994, p. 58-59).
Entretanto, o ―direito de informação‖ é considerado a maior contribuição trazida
pelo Inter Mirifica, pois foi percebido pela Igreja como um bem social: ―É intrínseco à
sociedade humana o direito à informação sobre aqueles assuntos que interessam aos
homens e às mulheres, quer tomadas individualmente, quer reunidos em sociedade,
conforme as condições de cada um‖ (Puntel, 1994, p. 59). Além disso, conferiu
independência ao tema dentro da Igreja; admitiu os instrumentos de comunicação social
como indispensáveis para a ação pastoral; e incentivou a criação do Dia Mundial das
Comunicações sob a coordenação de um secretariado especial da Santa Sé para a
comunicação social, criando assim, em 1964, o Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais – permanente no Vaticano.
Promulgada pelo Papa Paulo VI, em 1971, a Instrução Pastoral Communio et
Progressio é considerada como uma resposta pastoral ao decreto Inter Mirifica e um
dos textos mais positivos da Igreja sobre comunicação social. Tornou-se importante por
seu tom e pelo desenvolvimento dos caminhos pelos quais a ação pastoral deve usar os
meios de comunicação. ―Pela primeira vez a Instituição Católica parece abdicar do
controle da mensagem e tenta compreender o fenômeno comunicativo, embora alertem
contra o uso indevido dos meios de comunicação‖, afirma Andrade (2009, p. 4).
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Contudo, ―finalmente a Communio et Progressio ressalta que a comunicação social é
um elemento que articula qualquer atividade da Igreja, reconhecendo a legitimidade da
formação da opinião pública dentro dela‖, destaca Puntel (2011, p. 231).
Anualmente, por ocasião do Dia Mundial das Comunicações, o Papa apresenta
uma mensagem onde os fiéis podem colher o pensamento do magistério da Igreja sobre
a comunicação. Mas entre os anos de 1971 e 1989, época caracterizada por grandes
transformações com a passagem da era analógica para a era digital, a Igreja viveu um
momento de ―grande silêncio‖ em termos de documentos sobre o campo midiático. Só
em 1989 que a Instituição Católica publicou os documentos: Critérios de colaboração
ecumenical e inter-religioso no campo das comunicações sociais e Pornografia e
violência nos meios de comunicação.
Enfim, em 1992 foi publicada a instrução pastoral Aetatis Novae, que resume
características e informações fundamentais da área de comunicação destacando, em
especial, a necessidade de uma pastoral da comunicação. ―Aetatis Novae, à luz dos
documentos precedentes, estimula, encoraja, apresenta princípios e perspectivas
pastorais, planos para uma eficiente pastoral da comunicação‖, pontuou Puntel (2011, p.
231).
É possível observar que a questão ética, assunto muitas vezes caro para a
indústria da comunicação, é algo recorrente e de progressiva preocupação dentro da
Instituição Católica quando analisamos a relação entre Igreja e Comunicação. Dentro
deste contexto, o Pontifício Conselho para as Comunicações publica, em 1997, Ética na
Publicidade e, no ano 2000, Ética nas comunicações sociais. Já em 2002, o Conselho
divulga Igreja e Internet e, ao mesmo tempo, Ética na Internet.
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Em janeiro de 2005, três meses antes da morte do Papa João Paulo II, o Vaticano
publicou o último documento sobre a comunicação, a carta apostólica O rápido
desenvolvimento, de Karol Wojtyla, hoje proclamado Santo.
Num estudo mais aprofundado sobre os documentos que a Igreja nos apresenta
podemos observar com nitidez que a Instituição Católica começa a compreender e,
consequentemente, começa a se expressar melhor sobre o impacto que as novas mídias
têm na construção social. Com isso, a Igreja passa a refletir sobre a comunicação dentro
de um novo ―ambiente‖ no qual estamos mergulhados e inseridos, muitas vezes, como
protagonistas. Trata-se de uma cultura, a cultura midiática. Este pensamento
revolucionário não se encontra em um documento voltado para a comunicação, mas
para o novo enfoque de missão da Igreja no mundo atual, por isso, merece destaque. Ao
referir-se aos novos ―areópagos‖ modernos como lugar de missão, a encíclica
Redemptoris Missio (1990) ―coloca o mundo da comunicação em primeiro lugar e
insiste no novo contexto comunicativo como uma ‗nova cultura‘‖, afirma Puntel (2011,
p. 233).
O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações… Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais… Talvez se tenha descuidado um pouco este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass-media foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas secundariamente na programação pastoral. O uso dos mass-media, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato muito mais profundo porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência. Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta «nova cultura», criada pelas modernas comunicações. É um problema complexo, pois esta cultura nasce, menos dos conteúdos do que do próprio fato de existirem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas, novas atitudes psicológicas… (Puntel, 2011, p. 233).
Portanto, com tal citação que compreende a mudança de pensamento do
magistério eclesial, podemos afirmar que em sua trajetória a Igreja não trata mais a
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comunicação com desconfiança e nem como uma simples lógica instrumental, mas
empenha-se para que o estilo de comunicar seja de forma inculturada, destacando que é
importante adquirir cada vez mais a cultura e a linguagem das novas mídias dentro desta
nova ―cultura midiática‖.
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1.2. A Comunicação da Igreja na América Latina
Durante muito tempo a Igreja usou a imprensa para propagar a fé através de
formulações catequéticas e a educação formal, com as escolas, constituía o ―modelo da
comunicação religiosa‖. Essa comunicação ocorria dentro de um ciclo anual de
―celebrações‖ entre as famílias e as comunidades rurais antes do advento tecnológico.
De acordo com Rodrigues (1999, p. 20), ―a independência da Espanha (1820), a
separação do Brasil de Portugal (1822) e os governos liberais anticlericais (decorrer do
século XIX) fizeram com que tendências secularizantes atingissem as raízes do
catolicismo na América Latina‖. Com a Segunda Guerra Mundial os canais de
comunicação entre a América Latina e os Estados Unidos se ampliaram, iniciando um
processo de secularização e urbanização, e consequentemente a ênfase ao sagrado foi
diminuindo, na mesma proporção em que se começou a dar maior ênfase à tecnologia e
à ciência secular.
A visão de mundo derivava agora de um enfoque cíclico e ritualista para o progresso e o planejamento econômico. As relações pessoais começaram a ser menos baseadas na família e no compadrio e mais em valores puramente econômicos e comerciais. A proteção dos padroeiros sagrados passou a ser vista como menos essencial à comunidade e ao bem-estar nacional; os acontecimentos celebrativos cívico-religiosos tornaram-se folclóricos para muitos, e a liderança da Igreja como patrocinadora do sagrado tornou-se marginal na tomada de decisões e na rede de comunicação. Em muitos países, a Igreja começou a perder contato com as classes média e alta que se modernizaram e secularizaram. (Puntel, 1994, p. 104-105).
No período colonial era a elite econômica, política e religiosa que controlava a
comunicação, e a Igreja abrigava-se nessa época e no período pós-independência
Espanha/Portugal no poder político para garantir sua influência cultural e religiosa. Essa
―aliança‖ começou a ficar enfraquecida quando a oligarquia política se tornou
dependente da influência econômica norte-americana. Logo, com a sociedade mais
pluralista e multiculturalista, com a presença de outras religiões e governos
desinteressados na garantia da influência religiosa e ideológica, e com a modernização e
23
secularização do setor técnico, a Igreja mudou sua forma de fazer comunicação
direcionando seu campo de ação para lavradores e trabalhadores urbanos, atingindo-os
em grande escala pela Missão Popular – uma das mais importantes abordagens de
comunicação de massa que a Igreja usou, em especial, na década de 50. ―A estratégia da
Igreja foi a de intensificar a estrutura da organização religiosa em paróquias rurais para
enaltecer a educação religiosa e treinar leigos como líderes religiosos – forma de suprir
a falta de sacerdotes‖, destaca Rodrigues (1999, p. 21).
Dentro do contexto eclesial latino-americano as reflexões relacionadas aos meios
de comunicação ganharam destaque no final da década de 60, a partir das discussões
levantadas no Concílio Vaticano II que proporcionou um novo comportamento da Igreja
Católica. Motivados pelas mudanças provocadas pelo Vaticano II, o Conselho
Episcopal Latino Americano (CELAM), órgão vinculado a Igreja Católica localizado na
Colômbia e fundado em 1955 pelo Papa Pio XII, reforça e expandi as discussões sobre a
comunicação em documentos publicados nas conferências episcopais realizadas na
Colômbia, México, República Dominicana e no Brasil. ―A comunicação social entra em
tudo, tem a ver com tudo. É e deve estar, neste sentido, onipresente, como dimensão
constitutiva, em toda atividade evangelizadora [...]‖ (CELAM Apud Andretta, 1988, p.
281).
Com o objetivo de articular as atividades pastorais ligadas à comunicação e
produzir material para as conferências episcopais, o CELAM criou o Departamento de
Comunicação Social (Decos). Dentre os documentos elaborados durante as conferências
dois se destacam: o de Medellín (1968), que expressa como a Igreja Católica Latino-
Americana deve utilizar os meios de comunicação para dar maior visibilidade a si
mesma; e o de Puebla (1979), que reconhece que é preciso inserir as pastorais da
comunicação em uma nova realidade sociocultural. Para Melo (2005), o documento de
24
Medellín exorta uma visão infantil e maravilhada da comunidade católica sobre os
meios de comunicação:
Medellín, apesar dos avanços no campo social e político, mostra-se ainda vacilante no comportamento em relação aos mass media. Tendo abandonado aquela posição de desconfiança ante as novas tecnologias de difusão coletiva, que marcou tantos outros documentos oficiais da Igreja Católica, os bispos caem em uma atitude de ingenuidade e deslumbramento. (Melo, 2005, p. 33)
Já o documento de Puebla, na perspectiva de Puntel (2012), denota um avanço
nas questões apresentadas em Medellín despertando o olhar para a utilização da
comunicação popular ou de grupo que leve em conta um processo dialógico e
participativo. Deste modo, ―[...] a comunicação grupal, reforçada por Medellín e Puebla,
tornou-se a atividade principal na comunicação da América Latina. Ela provinha dos
meios audiovisuais para alcançar os objetivos de evangelização e de conscientização
para uma mudança social‖, afirma Puntel (2012, p. 34).
Não menos importante, a quarta conferência episcopal de Santo Domingo, na
República Dominicana, em 1992, discutiu o tema: ―Comunicação Social e Cultura‖,
tendo a nova evangelização como ideia central do documento, onde os bispos ressaltam
os avanços tecnológicos dos meios de comunicação e suas potencialidades para a
evangelização. ―Nas linhas pastorais, os Bispos propõem estímulo e apoio as iniciativas
de preservação da identidade cultural e de diálogo autêntico; articulação da
comunicação de massa com a comunitária e grupal e o esforço da Igreja para possuir
seus próprios meios [...]‖, aponta Klering (2012, p. 353).
A necessidade de investir e aprimorar as atividades das pastorais da
comunicação, realizadas através das pastorais da comunicação, nortearam as discussões
da Conferência de Aparecida, em 2007. De acordo com Santos (2013, p. 44), ―o
25
encontro ressaltou a importância da tecnologia como elemento que auxilia na
evangelização e os desafios da Igreja Católica na nova cultura midiática‖.
O documento de Aparecida retoma o tema, nos números 491-500. Fala de novos areópagos e centros de decisão, entre os que enumera como ambientes onde tradicionalmente se faz cultura: o mundo da comunicação, a construção da paz, o desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo, as minorias, a promoção da mulher e das crianças, a ecologia e a proteção da natureza. (Gomes, 2008, p. 16)
Em Aparecida, os bispos assumiram o compromisso de acompanhar, valorizar e
formar os profissionais da comunicação social, para o uso adequado dos meios de
comunicação. Além disso, o episcopado latino-americano propõe que as ações pastorais
priorizem e criem um planejamento de comunicação, como também utilize os próprios
meios e subsídios para auxiliar na evangelização.
Seguindo a visão de Melo (2005), que afirma que a comunicação na América
Latina continua sendo um privilégio para as minorias que detém o poder político e
econômico, podemos refletir e destacar que o grande desafio da Igreja Católica latino-
americana consiste em democratizar e pluralizar as práticas comunicacionais,
silenciadas muitas vezes por conta da imposição de alguns grupos e militares que
governam os países da América Latina.
26
Capítulo II. Multiculturalismo
Com o advento da globalização as sociedades também começaram a se
caracterizar pelo conceito da pluralidade cultural, fruto da grande movimentação de
pessoas, referências culturais, bens e valores. Por conta deste fenômeno, o
multiculturalismo surge como conceito teórico que diz respeito à necessidade de
acomodar outras concepções e práticas, diferentes daquelas dos grupos hegemônicos
que ―idealizaram o universo‖, colonizaram e oprimiram outros grupos, menosprezando
suas práticas e visões de mundo no processo.
Termo muito utilizado nas últimas décadas nos EUA e na Europa,
multiculturalismo pode ter muitos significados. De acordo com Lima (1997, p. 15),
―tem sido visto como novo modelo de interação cultural entre grupos étnicos e raciais.
Ligado às lutas das minorias étnicas para defender seus direitos e por uma política de
igualdade de oportunidades é, assim, herdeiro dos movimentos das minorias dos anos
60 dos EUA‖. Para Moura (2007, p. 42), ―é imprescindível ter em mente que só existe
multiculturalismo onde existem culturalismos, estes baseados em alguma noção do que
seja essa coisa chamada cultura‖. E por culturalismos a autora referiu-se a discursos, no
sentido foucaultiano de epistemologias e programas de verdade que, de acordo com a
mesma, servem como sustentáculos a regimes de poder específicos. Já Machado (2000,
p. 2) afirma que ―a celebração dos vários hibridismos é, senão o maior, pelo menos o
mais constante atributo a garantir a definição de multiculturalismo‖. A acadêmica
ressalta que o multiculturalismo tornou-se um movimento fundado não apenas no
encontro das culturas, mas, sobretudo, na busca de identidades perdidas, tendo em vista
seu vínculo histórico dentro do contexto das expansões coloniais e pós-coloniais.
27
Para que o multiculturalismo seja reconhecidamente um conceito confiável, é preciso concebê-lo através de uma visão policêntrica em que o mundo possa ser visto através de vários posicionamentos culturais dinâmicos. Poli, assim concebido, não é um centro infinito, mas um princípio sistemático de diferenciação, relação e vinculação. Rejeita um centro unificado, fixo e essencialista de identidades (ou comunidades) como a consolidação de um conjunto de práticas, significados e experiências. (Shohat e Stam apud Machado, 2000, p. 2)
Ferreti (2007, p. 1) critica o ambiente universitário quando faz sua analise sobre
multiculturalismo e sincretismo: ―Falar em multiculturalismo é um novo pretexto para
voltarmos a dizer algo sobre sincretismo‖, destaca o autor. Se utilizando de Stuart Hall
(2003), um dos acadêmicos que mais têm escrito sobre o assunto, Ferreti reforça que o
multiculturalismo não é algo novo, e como o sincretismo, já estava presente no mundo
helênico, em termos de interação entre o centro e a periferia. ―No lugar das expressões
tradição e modernidade, que têm sido criticadas, Hall propõe que se utilize
preferentemente o termo hibridismo‖, pontua o acadêmico (2007, p. 2) reforçando o
pensamento de Machado (2000).
Ao examinarmos o multiculturalismo no Brasil, país de dimensões geográficas
semelhantes aos EUA e com composição étnica também variada, enxergaremos que as
semelhanças são muito menores que as diferenças no que diz respeito à ideologia racial.
Segundo Lima (1997, p. 17), ―para se entender a situação das minorias no Brasil é
preciso passar pelo conhecimento dessa ideologia racial de caráter assimilacionista e
pautada, ainda, pelo chamado mito da democracia racial‖.
De acordo com essa ideologia, sustentada em parte por esse mito, as minorias são vistas como estado transitório, verdadeiro degrau temporário para um passo ideal e subsequente que seria o da sua plena assimilação à sociedade brasileira, compondo uma única identidade. Esta deve ser, segundo ainda a ideologia oficial, uma só, unívoca e inequívoca, não se admitindo o cultivo de identidades étnicas e parciais. (Lima, 1997, p. 17)
Entretanto, Ferreti (2007, p. 3) destaca que para entendermos o
multiculturalismo no Brasil devemos ―lembrar que desde o início nosso país surgiu do
28
contato entre diferentes culturas. Nesse contato predominava a cultura de origem
européia, sendo que o hibridismo e o multiculturalismo foram negados por muito tempo
e atualmente começa a ser pensado e discutido‖.
Em virtude das citações expostas acima, em especial, da predominância do
modelo ideológico-racial, que bloqueia a manutenção de identidades parciais étnicas ou
raciais em favor de uma única identidade – a brasileira –, há dificuldade de se vingar, no
Brasil, práticas pautadas pelo multiculturalismo.
O multiculturalismo é, assim, considerado positivo quando permite à sociedade refletir sua diversidade em todos os níveis e quando propicia a igualdade de oportunidades para todos os grupos étnicos e culturais que a compõem. Pode ser considerado perigoso quando instrumentaliza as minorias com o conhecimento somente de uma cultura étnica e das tradições de seu grupo, tomando-as, assim, despreparadas para competir com os grupos dominantes da sociedade que detêm, entre outras coisas, o conhecimento oficial e ocidental que lhes permite vencer tal competição. (Lima, 1997, p. 16-17)
Logo, podemos inferir que para que haja uma conquista não só das minorias,
mas de toda uma nação, é importante termos, pensarmos e vivermos o multiculturalismo
como reconhecimento da contribuição, do valor, dos direitos e da igualdade de
oportunidade de todos os grupos étnicos e culturais que compõem uma sociedade, pois
só assim chegaremos mais próximos desse caminho ideal igualitário, tendo como
premissa que ―a gestão pacífica das diferenças é o caminho possível do
multiculturalismo‖, como conclui Moura (2007, p. 1).
29
2.1. Multiculturalismo: inclusão da pluralidade/diversidade de grupos e tradições
Termo de uso corrente em muitos estudos, o multiculturalismo é analisado por
diversos pesquisadores que expõem diferentes significados a palavra. Enquanto matriz
da orientação neocolonialista, define as bases do etnocentrismo, fala do manejo da
diferença em nossas sociedades, tem sido observado como importante modelo de
interação cultural entre grupos étnicos e raciais, além de estar intimamente relacionado
às lutas das minorias étnicas para defender seus direitos e por uma política de igualdade
de oportunidades.
De acordo com Burity (2001, p. 1), o multiculturalismo "remete não apenas a um
discurso em defesa da diversidade de formas de vida existentes nas sociedades
contemporâneas, mas a um conjunto de aspectos fortemente ligados entre si", dentre
eles: a demanda por inclusão e por pluralidade de esferas de valor e práticas
institucionais no sentido da reparação de exclusões históricas, e a demanda por
reorientação das políticas públicas no sentido de assegurar a diversidade/pluralidade de
grupos e tradições. Já Machado (2000, p. 2), ao seguir os conceitos de Shohat & Stam
(1994), aponta que o termo não se trata de um conceito acima de qualquer suspeita e
afirma: "Para que o multiculturalismo seja reconhecidamente um conceito viável, é
preciso concebê-lo através de uma visão policêntrica em que o mundo possa ser visto
através de vários posicionamentos culturais dinâmicos".
Com um descentramento da cultura ocidental, a já conhecida e tão difundida
globalização reforça o paradoxo existente em torno do tema.
Pois, ao mesmo tempo que a globalização representa uma certa forma de interconexão e interpenetração entre regiões, estados nacionais e comunidades locais que está marcada pela hegemonia do capital e do mercado, ela também se faz acompanhar por uma potencialização da demanda por singularidade e espaço para a diferença e o localismo. O discurso multiculturalista, neste sentido, tanto beneficia-se de como impulsiona a globalização, embora em direções nem sempre favoráveis
30
às falas dominantes sobre a mesma. (Burity, 2001, p. 3)
Retomando a história, o grande questionamento que sempre existiu é como
devem se comportar os países multiétnicos ou multirraciais frente à diversidade étnica e
cultural dos grupos que a compõem. A partir daí encontramos o modelo
assimilacionista, que defende a integração entre os grupos, a mistura cultural e a
diluição das diversidades numa única identidade. Lima (1997, p.15) explica que ―a
partir dos anos 60, a luta pelos direitos civis empreendida pelos negros americanos, o
aumento da imigração não-européia e o reconhecimento dos nativos (indígenas) operam
mudanças no modelo interracial e levam ao questionamento das ideias assimilacionistas
e do modelo anglo-saxão‖. Com isso, origina-se o modelo pluralista/multiculturalista,
que defende que os diversos grupos étnicos não devem se desfazer de sua cultura e que
o pluralismo é a fórmula para que se mantenha a diversidade respeitada e compreendida.
Logo, propõe que se ouça a pluralidade de vozes que compõem um país multiétnico
tornando-se um termo positivo quando permite à sociedade refletir sua diversidade em
todos os níveis e quando propicia a igualdade de oportunidades para todos os grupos
étnicos e culturais que a compõem.
O termo excluído, vale ressaltar, tem sido hoje cada vez mais utilizado pelos
movimentos sociais, inspirado, muitas vezes e principalmente, pela sua adoção no
âmbito das atuais ações e iniciativas da Igreja Católica no Brasil no campo popular,
chegando a ser assumido, inclusive, pela imprensa brasileira no contexto de cobertura
dos movimentos sociais. Para Cogo (1997, p. 2), além disso, o termo excluído ―parece
assegurar hoje uma certa identidade, ou pelo menos distinção, ao campo conceitual
dessa comunicação, se considerarmos o uso cada vez mais indiscriminado da
terminologia comunitário, principalmente no âmbito da comunicação massiva‖.
Dentro deste contexto observa-se que, inicialmente, a exclusão se torna,
31
portanto, inclusão ao não aplicar um recorte de classe social como elemento exclusivo
para o entendimento do universo de seus atores, mas abrange, ao lado dela, o gênero, a
etnia, a idade, a religiosidade, como aspectos fundamentais que lhe permitem ser
inseridos na chamada pós-modernidade ou nesse atmosfera geral de revisões descrito
por Boaventura de Souza Santos (1996) em que convergem velhas e novas
metodologias de recontextualização e particularização das práticas e dinâmicas sociais,
ou, ainda, quando segundo Michel Maffesoli, ―as grandes certezas desmoronam
regularmente‖ (1995).
Burity (2001, p. 3) afirma que sob qualquer forma ―o multiculturalismo está
envolvido num contencioso, numa disputa que vai além do manejo de uma diversidade
que simplesmente se dá, como mera constatação empírica‖. Para o acadêmico, muito
além ou na base das demandas lançadas ao estado, ao mercado e a outros atores sociais,
há movimentos de retorno ao passado, de reconstrução ou de invenção de identidades
coletivas, bem como há cobranças por redefinição de padrões societários.
A vinculação das demandas multiculturais com a problemática dos direitos, através de um discurso sobre a legitimidade das diferenças e a necessidade de reparação tem aparecido, simultaneamente, como uma tentativa de ―pacificar‖ o caráter mais ―truculento‖ da emergência desses novos atores sociais que postulam uma identidade de base cultural, e como aprofundamento da disputa, uma vez que claramente há reivindicações de poder envolvidas. (Burity, 2001, p. 3)
Ressaltamos, então, de forma puramente provocativa e reflexiva, alguns desafios
ao multiculturalismo dentro da perspectiva do lugar da identidade no contexto global
propostos também por Burity (2001). São eles: os desafios da abertura, da reflexividade,
da política e do pluralismo. A partir de tais orientações que abarcam a necessidade de
reconhecer dentro de si a presença (ausente) de outros sujeitos e de negociar com eles
suas demandas e valores; a avaliação permanente das suas condições de existência e de
suas chances de melhora relativa no espaço social, político, econômico e cultural; a
32
centralidade da política na análise da identidade; e o pluralismo como um espaço de
emergência de demandas que não somente expressam injustiças passadas, mas a
exclusão sobre a qual se assenta toda ordem social; proponho uma reflexão com a
definição de Machado (2000, p. 2-3), quando ao considerar que multiculturalismo
traduz encontros de culturas, o define como um modo dialógico de comunicação, sem o
qual nenhuma cultura se constitui: ―Multiculturalismo é comunicação e, enquanto tal,
abarca um universo produtivo de mensagens que abrigam tanto as trocas de informações
genéticas e antropológicas quanto o contexto maior, diversificado e mutável da
informação semiótica‖.
Mas na tentativa de encontrar caminhos para melhorar essa realidade da inclusão
da pluralidade/diversidade de grupos e tradições na sociedade, Bannell (2002, p. 6)
destaca outra dimensão de maior importância: a comunicação intercultural na sala de
aula. ―Isso quer dizer um multiculturalismo que não se restringe ao apoio e exaltação às
culturas diferenciadas como merecendo preservação total e completa, nem uma
tolerância liberal ao outro como algo exótico, mas, ao contrário, estimula um processo
de diálogo no qual tanto a cultura dominante, quanto a cultura oprimida não são
absolutizadas‖.
O caminho em frente reside nem na exaltação de culturas separadas como totais, completas e merecidas de preservação inteira, nem no triunfo de uma cultura sobre outras. Ironicamente, o resgate de culturas oprimidas só pode ser realizado por um processo de diálogo no qual tanto a cultura do opressor quanto a cultura do oprimido estão renunciadas nas suas formas puras. Multiculturalismo, dentro das fronteiras de uma entidade política (p.ex., a nação), não pode ser um processo de preservação de culturas separadas. Pode ser um processo no qual cada cultura é respeitada e protegida no seu diálogo com as outras, enquanto ela e elas se modificam, e uma (melhor) intercultura emerge. A política de multiculturalismo então se torna uma política de desconstrução de discursos para seu bias na direção de uma cultura ou outra, e urna política de comunicação e suas estruturas e práticas políticas culturalmente assimétricas. (Robert Young apud Bannell, 2002, p. 8)
Sendo assim, poderíamos considerar difícil a tarefa de desconstruir discursos e
práticas já assimiladas e tidas como verdade absoluta, para criar as condições para um
33
multiculturalismo crítico. Bannell (2002, p. 8) traz as palavras de Young (1996), onde o
autor afirma que o multiculturalismo ―poderia ser um processo no qual cada cultura é
respeitada e protegida no seu diálogo com as outras, enquanto ela e elas se modificam e
uma (melhor) intercultura é construída‖. Se tal definição seria o melhor para a realidade
da inclusão da pluralidade/diversidade de grupos e tradições não podemos afirmar, mas
compreendemos que certamente estaríamos contribuindo para a promoção da cidadania,
no sentido de dar a oportunidade a todos os grupos étnicos e culturais que compõem a
sociedade, pois a ―... cultura... são todas as manifestações humanas, inclusive o
cotidiano, e é no cotidiano que se dá algo essencial: o descobrimento da diferença‖
(Faundez e Freire, apud Bannell, 2002, p. 6).
34
2.2 . Multiculturalismo brasileiro e religião
Segundo Araujo e Franco (2010, p. 248), ―a história da humanidade nos ensina
que, principalmente, durante a Idade Média, as pessoas viviam intensamente a vida
religiosa sempre à procura de um ser superior que pudesse ajudar e realizar milagres em
suas vidas‖. Atualmente, as mudanças no campo religioso que emerge em nossos dias
desafia cada vez mais a mente dos teóricos das religiões em elaborar pesquisas sobre a
demanda da sociedade contemporânea. E se considerarmos a globalização como um
fenômeno cultural, tendo em vista que não podemos mais falar em uma cultura global
que conduz uma determinada sociedade, mas que muitas sociedades são multiculturais e
por consequência são regidas pelo multiculturalismo, perceberemos que o
multiculturalismo brasileiro favorece o hibridismo religioso por ser formado de
diferentes grupos étnicos, logo, de uma diversidade cultural e religiosa.
Para Matos, Souza e Gomes (2009, p. 477), ―o multiculturalismo não é uma
doutrina, mas uma série de processos e estratégias políticas inacabados‖, já que a
migração e o deslocamento dos povos têm gerado cada vez mais sociedades étnica e
culturalmente mistas, fazendo emergir questões de escolhas identitárias. Mas ressaltam
também que segundo Wallace (apud Stuart, 2003, p. 52) ―precisamos encontrar formas
de manifestar publicamente a importância da diversidade cultural (...)‖.
Assim como ocorre na maioria das diásporas, as tradições variam de acordo com a pessoa, ou mesmo dentro de uma mesma pessoa, e constantemente são revisadas e transformadas em resposta às experiências migratórias. [...] Jovens [...] expressam certa fidelidade às tradições de origem, ao mesmo tempo em que demonstram um declínio visível em sua prática concreta. Declaram não uma identidade primordial, mas uma escolha de posição ao grupo que desejam ser associados. As escolhas identitárias são mais políticas que antropológicas [...]. (Stuart, 2003, p. 64)
35
O fato é que em diversas sociedades o Estado se separou da Igreja e a mesma
deixou de ditar as regras acerca da interpretação e dos estudos dos fenômenos naturais
ou sociais. Cabe ressaltar que a produção científico-acadêmica sobre religião começou
exatamente no momento em que, no ocidente, se concretizou essa separação entre as
esferas ou domínio sociais.
De acordo com Moura,
O próprio termo ―ciência da religião‖ só é possível neste contexto em que ciência e religião são vistos como esferas relativamente autônomas e a ―ciência‖ é tomada como a esfera de conhecimento legítimo e a ―religião‖ um objeto passível de investigação científica. Tal concepção é impensável ou mesmo absurda em um contexto onde não há tal divisão entre o natural e o sobrenatural e onde todo o conhecimento se reveste de uma aura de sacralidade atribuída a forças superiores à natureza humana. Dentro de tal contexto, ou ―cultura‖, se assim o quisermos chamar, não há ciência da religião, pois a própria religião já é a ciência e toda ciência tida como verdadeira está relacionada a concepções espirituais. Assim sendo, uma ―cultura‖ que não faz a separação entre ciência e religião não ―tem‖ uma religião, ela é a própria religião. (Moura, 2007, p. 45)
Dentro deste contexto, Matos, Souza e Gomes (2009, p. 478), afirmam que ―o
Brasil possui sistemas sociais poliétnicos, ou seja, é uma sociedade plural integrada no
espaço mercantil sob o controle de um sistema estatal dominado por grupos, mas
deixando amplos espaços de diversidade cultural nos setores de atividade religiosa e
doméstica‖. Essa interculturação tem sido vivenciada pelos meios de comunicação e se
concretiza através do arrojo das massas migratórias. Com o deslocamento de massas
populacionais rurais para as cidades a concentração populacional começou a existir e
como consequência disso teve início o processo de urbanização e industrialização, o que
acabou causando uma massificação. Analisando este fenômeno, Moreira (2008, p. 3)
ressalta que ―os acontecimentos midiáticos de massa se tornaram vetores da experiência
religiosa‖. Matos, Souza e Gomes (2009, p. 480) apontam:
36
Junto a esse processo de massificação do indivíduo ocorre um deslocamento do religioso em que esse indivíduo começa a perceber que a religião não tem necessariamente ser buscada nos templos religiosos, mas pode também ser vivenciada em outras instâncias sociais que assumem as funções das instituições religiosas no campo cultural. (Matos, Souza e Gomes, 2009, p. 480)
Lançando um desafio para aqueles que se dispõem a pensar a complexidade do
mundo atual e reconhecer a diversidade de pontos de vista e interpretações da realidade,
Moura (2007, p. 50) assegura que é importante que tenham ―a capacidade de imaginar
uma transcendência que não seja nem sectária nem homogeneizante‖.
A religião, como propriedade universal da humanidade, mas que se apresenta de formas tão particulares e diversas, representa desafios análogos. A transcendência imaginada no âmbito religioso originou historicamente – e continua originando – concepções das mais diversas, inclusive as científicas, econômicas e políticas. O multiculturalismo é um possível caminho para chegar à gestão pacífica das diferenças, mas o desafio está no processo, no caminhar, mais do que nas formulações teóricas propositivas, ainda que essas nos permitam imaginar e pautem nossos projetos de ação. (Moura, 2007, p. 50)
Pode-se concluir neste caso que com a globalização enxergamos diversas
mudanças no campo religioso, dentre elas: religião e ordem global se interpenetram; há
um deslocamento do religioso; e também uma midiatização do religioso. Além disso,
podemos observar que a cultura e o multiculturalismo constituem um areópago de
importância fundamental para os fins de aceitação, entendimento e inculturação da fé
cristã.
37
Capítulo III. Pastoral da Comunicação
A Pastoral da Comunicação comemora 60 anos em 2017 ao considerarmos como
ponto de partida por parte da Igreja as recomendações que o documento Miranda
Prorsus (1957) já apresentava com referência à comunicação. Para Puntel e Corazza
(2007), muitas foram as iniciativas que se seguiram em vários países, e também grande
foi o ―descuido‖ neste campo, como apontou João Paulo II em Redemptoris Missio
(1990), documento que dá um novo enfoque da missão da Igreja no mundo atual, ao se
referir aos novos ―areópagos‖ modernos como lugar de evangelização, colocando o
mundo da comunicação em primeiro lugar e enfatizando o novo contexto comunicativo
como uma ―nova cultura‖. Afirma João Paulo II:
Talvez se tenha descuidado um pouco este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass media foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas secundariamente na programação pastoral. (RM, n. 37c).
No Brasil, em 1989, o tema da Campanha da Fraternidade foi: ―Comunicação‖,
e o lema: ―Comunicação para a Verdade e a Paz‖. Desde então, a comunicação foi
indicada em diversas ocasiões para ser tema central de uma Assembleia Geral da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas só foi aceita no ano de 1997
com a seguinte temática: ―A Igreja e a comunicação rumo ao novo milênio‖. A partir
daí, ficou mais clara a definição do que é a Pastoral da Comunicação (Pascom) para a
CNBB:
Embora saibamos que existem diversas maneiras de compreender a Pastoral da Comunicação, assumimos o seguinte conceito: é a pastoral ser / estar em comunhão / comunidade. É a pastoral da acolhida e da participação; a pastoral das inter-relações humanas, a pastoral da organização solidária e do planejamento democrático do uso de recursos e instrumentos que facilitem o intercâmbio de informações e de manifestações das pessoas no interior da comunidade para o mundo que a rodeia. (Estudos da CNBB 75, 1997, p. 81).
38
Com a definição da CNBB pode-se compreender que a Igreja, povo de Deus a
caminho do corpo místico de Cristo, participa do processo de autocomunicação quando
atua na Pastoral da Comunicação, pois é comunicativa em si e não apenas em suas
funções e tarefas práticas.
Toda a Igreja é e faz comunicação. Sua ação pastoral inseri-se no amplo horizonte do caráter comunicativo global do seu ser e do seu agir. A comunicação da Igreja nasce da escuta, amorosa e tenta, da Palavra. Ela comunica não a si mesma, mas sim um mistério sublime que a ultrapassa e a projeta para a eternidade. Vive a tensão constante de comunicar um conteúdo divino e eterno, por meio da fragilidade dos meios e dos recursos humanos; tem sua forma mais sublime de comunicação na linguagem litúrgica e sacramental. (Bombonatto, 2009, p. 16).
Interligadas pela preposição da, pastoral e comunicação são duas realidades
importantes na vida da Igreja e, ao mesmo tempo em que são amplas e complexas,
formam a conjunção da expressão Pastoral da Comunicação, que tem como
característica fundamental a dinamicidade, pois seu conceito não é estático. ―A
expressão Pastoral da Comunicação sintetiza em si, simultaneamente, a riqueza e a
dinamicidade, a complexidade e os desafios destes dois universos distintos‖, explica
Bombonatto (2009, p. 20).
Para compreendermos melhor esta expressão faz-se necessário apontar o que
entendemos por pastoral e por comunicação. Contudo, apesar de todos os esforços e
buscas, toda e qualquer definição será parcial e restringida, porque esquecerá alguns
elementos e aspectos importantes, e demonstrará outros. Por isso, o presente trabalho
assume os conceitos explicitados pelo Concílio Vaticano II, na constituição pastoral
Gaudium et Spes (1965), e por Bombonatto (2009), para as palavras Pastoral e
Comunicação.
Importante na linguagem cristã, a palavra Pastoral anuncia uma característica
expressiva e abrangente da vida da Igreja no que diz respeito ao seu modo de agir e de
39
se relacionar no mundo. De acordo com a constituição pastoral Gaudium et Spes (1965),
ela não se limita a ação dos pastores, mas a ação de toda a comunidade, de toda a Igreja.
Num sentido amplo, Pastoral é toda a ação da Igreja e sua missão neste mundo. Já
Bombonatto (2009, p. 25), afirma que ―a palavra Comunicação provém do latim
communis, que significa múnus comum, função comum, ou seja, comum + ação.
Consequentemente, comunicação é relação, partilha, participação; é tornar comum,
interagir, conviver.‖
A dimensão comunicativa inerente ao ser humano possibilita a relação/comunicação consigo mesmo, com o próximo e com o transcendente, e torna possível a vida em comunidade. Nesse sentido, a comunicação é um processo relacional que viabiliza a vida em sociedade; é uma rede de relações que vamos tecendo, a cada instante de nossa existência, no convívio com os nossos semelhantes. (Bombonatto, 2009, p. 25-26).
Com esta breve definição do binômio pastoral e comunicação, podemos agora
refletir sobre as vertentes constitutivas da Pastoral da Comunicação: a experiência de
Deus, o diálogo entre fé e cultura, e a prática pastoral. Para a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (Estudos da CNBB, nº 75, p. 81-82), ―a vida da comunidade; a criação
de condições para que seus membros possam expressar-se com liberdade; (...) e a gestão
democrática dos processos comunicacionais‖ são a maior preocupação da Pastoral da
Comunicação. Dentro deste contexto, Bombonatto (2009, p. 47) reforça que a Pascom
―é um processo de interação no seio da Igreja, entre pessoas, pastorais, recursos e meios
pautados na pedagogia de Jesus Comunicador. É um processo permanente e contínuo de
interação entre Igreja-Evangelho-Cultura‖.
Uma das preocupações da CNBB é que a Pastoral da Comunicação não seja
reduzida ―exclusivamente ao uso dos instrumentos ou recursos da comunicação, como
meios impressos ou audiovisuais, sem a devida reflexão sobre o papel desses
instrumentos no projeto de comunicação da comunidade eclesial‖ (Estudos da CNBB,
40
nº 75, p. 82). Já Bombonatto (2009, p. 48) afirma que ―um dos maiores desafios da
Pascom é a necessidade que tem de defrontar-se constantemente com a contínua
mutação que ocorre na cultura da comunicação‖.
Independente das preocupações e dos desafios, a Pastoral da Comunicação
torna-se um importante instrumento dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, pois
perpassa, pela própria razão de ser, as ações das demais pastorais, animando-as e
colocando-se a seu serviço, buscando sempre contribuir para a unidade. Concluindo,
podemos afirmar que a Pascom aponta para a relação da Igreja com todos os diversos
segmentos da sociedade e os diferentes meios de comunicação cumprindo a sua missão,
pois evangelizar é comunicar, e sem comunicação não seria possível a evangelização.
41
3.1. Delimitação conceitual e estrutura da Pastoral da Comunicação
Refletindo e observando com atenção a evolução do pensamento da Igreja,
expresso em seus documentos, nota-se um crescente interesse, incentivo e insistência
para que não somente se desenvolva uma pastoral da comunicação, mas também se
providencie formação adequada para o seu exercício. Contudo, é necessário dar atenção
a alguns aspectos fundamentais que, conceitualmente, passaram por transformações na
sociedade de hoje, em função do crescente progresso e dos desdobramentos acadêmicos,
seja pelo advento das novas tecnologias de comunicação ou pelos novos focos em áreas
como as da antropologia e sociologia, reforçando nossa vivência em uma cultura da
comunicação.
Ao tratarmos especificamente da Pastoral da Comunicação, Puntel e Corazza
(2007) apontam a superação do discurso das décadas de 70 e 80, quando se perguntava
se seria ―pastoral dos meios‖ ou, ainda, ―pastoral nos meios‖. Outra grande barreira no
entendimento do que se trata a Pastoral da Comunicação de fato é que não se pode
definir claramente como ela deve ser criada ou organizada, pois não existe um tipo
único de gestão e utilização de uma Pascom nas dioceses ou paróquias, tendo em vista
que a mesma se desenvolve de acordo com os recursos e a realidade disponível para seu
trabalho. Com a finalidade de justificar e delimitar uma conceituação sobre do que se
trata uma Pascom, Soares (1989) descreve cinco atitudes básicas para se organizar uma
pastoral para este fim:
1ª – Camaradagem e democracia nas relações interpessoais e grupais; 2ª – Desmonopolização dos comunicados; 3ª – Vida e participação nas festas e atos comunitários; 4ª – Representação nos conselhos comunitários; 5ª – Reconhecimento da especificidade da comunicação como campo de ação do leigo cristão (SOARES, 1989, p. 25).
Cabe ressaltar que estes pontos não são a chave para o ―sucesso‖ de uma
42
Pascom, mas, de acordo com o pesquisador, auxiliam para que o processo
comunicacional seja mais amplo, abrangente, e alcance o maior número de pessoas de
uma comunidade. Além disso, o autor defende que tais aspectos estimulam a
criatividade de todos; não focaliza o líder institucional, mas as atividades desenvolvidas
e construídas pelo todo; e capacitam os agentes envolvidos nesta pastoral, independente
de suas funções na hierarquia.
Para Puntel e Corazza (2007, p.22), ―é preciso superar a ―visão simplesmente
pragmática‖, força que advém dos próprios documentos da Igreja, que incentivam a
considerar a comunicação não simplesmente reduzida à técnica, mas como uma
cultura‖. Tal observação parte da análise das palavras de João Paulo II na encíclica
Redemptoris Missio, onde proclama a necessidade de superar uma leitura simplesmente
instrumental da mídia: ―Não basta usar (os meios) para difundir a mensagem cristã [...]
mas é preciso integrar a mensagem nesta ‗nova cultura‘ criada pela comunicação social‖
(n. 37c). Logo, Puntel e Corazza defendem que importa conceber a comunicação como
um fenômeno global, que se conjuga com tantos outros aspectos da vida social e
eclesial. ―Não basta, portanto, apenas dispor de meios ou de um treinamento
profissional; é preciso uma formação cultural, doutrinal e espiritual‖ (2007, p.23).
Em unidade com Puntel e Corazza, Vera Ivanise Bombonatto (2009) também
afirma que não se pode reduzir a Pascom a uma mera atividade do uso dos recursos
oferecidos pelos meios de comunicação para a divulgação de eventos e do evangelho. A
autora também aponta que não basta ter técnica e que é necessário ―ler a realidade na
ótica da fé, e optar por uma comunicação que leva à comunhão com o próximo e com
Deus‖ (Bombonatto, 2009, p. 43). Mas diferente dos estudiosos anteriores, Bombonatto
aponta que a pastoral da comunicação não se trata mais de uma pastoral atuante – como
a catequese, pastoral dos músicos, pastoral da saúde, entre outras –, mas sim a
43
responsável por estabelecer um diálogo entre todas as outras pastorais, mesmo estando
entre elas. Nesta dimensão entre fé e cultural, a Pascom torna-se uma incentivadora das
relações comunitárias, fazendo com que pessoas, grupos, pastorais e movimentos se
articulem e troquem experiências, não se limitando este trabalho apenas as dioceses ou
paróquias, mas sendo o mesmo destinado a toda sociedade.
A Pastoral da Comunicação não limita sua ação ao círculo interno da comunidade, mas aponta para a ampla relação da Igreja com os diversos segmentos da sociedade e se preocupa com o uso adequado de todos os meios possíveis para o exercício de sua missão evangelizadora (BOMBONATTO, 2009, p. 48).
Dentro deste contexto é que inspirado pela instrução pastoral Aetatis Novae
(1992), o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais fala da urgência de um
plano de Pastoral da Comunicação, solicitando aos ―bispos e responsáveis pela decisão
da distribuição dos recursos da Igreja‖ prioridade neste campo que foi descuidado e até
negligenciado pela instituição, e que acabou se tornando um grande areópago
contemporâneo. Ocorre que essa proposta de planejamento traz consigo um novo
elemento que propõe uma mudança de foco integrando as ações pastorais em um novo
olhar que compreende que na cultura da comunicação não basta considerar ações ou um
setor dedicado à comunicação. ―Trata-se de uma nova visão, uma nova ―ambiência‖,
que interfere na vida das pessoas e em toda a prática eclesial. Daí a proposta de um
novo enfoque para os planos pastorais para que a ótica da comunicação perpasse toda a
ação evangelizadora da Igreja‖, afirmam Puntel e Corazza (2007, p.81).
Ao olharmos de forma mais pragmática e estrutural, atualmente a Pastoral da
Comunicação em nível nacional se situa na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), na Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação Social. De acordo com
Fogolari e Borges (2009), o setor tem o dever e a missão de dialogar com as
coordenações regionais, diocesanas e paroquiais, visando à construção de um trabalho
44
que atenda e corresponda as diretrizes gerais do Brasil, através da unidade de cada
grupo. Cabe também à coordenação nacional da pastoral desenvolver o planejamento de
uma comunicação integrada na Igreja do Brasil, organizar encontros nacionais da
Pascom, criar e promover iniciativas de comunicação para a Igreja no país e ressaltar,
por meio da divulgação, o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Em nível regional a Pastoral da Comunicação possui quase as mesmas
atribuições do setor em nível nacional, só que nesta instância cabe aos seus
representantes o dever de atribuírem à comunicação a linguagem necessária para o seu
público. Assim como em nível nacional, também é liderada por um bispo escolhido para
esta função e conta com uma comissão formada por coordenadores em nível regional
que consultam representantes da Pascom em suas dioceses – que compõem o regional –,
para que sejam tomadas as devidas decisões em suas reuniões.
A partir das orientações do Concílio Vaticano II e dos documentos da Igreja, fica
clara a importância de que cada diocese elabore um projeto de pastoral que garanta
passos concretos na reflexão e no assumir a cultura midiática que está no horizonte da
missão da Igreja. Para Puntel e Corazza (2007, p.85), ―é aconselhável fazer o
planejamento envolvendo todas as coordenações e pastorais, a fim de garantir a
participação e a sinergia em todo o processo do planejamento, desde a análise da
realidade, até a definição de objetivos e programas‖.
Toda essa estrutura de níveis nacional, regional e diocesano deve culminar na
implantação e consolidação de equipes de comunicação nas paróquias, articuladas com
a diocese, tendo em vista a formação nas diferentes áreas, os programas de formação, a
realização de eventos e a presença na mídia. A coordenação paroquial, formada pelo
pároco, tem como atribuições divulgar todos os eventos relacionados à Igreja em todos
os níveis a toda a comunidade paroquial, que compreende não só os paroquianos, mas
45
também todos os habitantes e cidadãos que residem na localidade em que a paróquia
está situada, favorecendo e integrando as pessoas, além de evidenciar aspectos culturais,
serviços importantes para a comunidade e colaborar com todas as outras pastorais na
produção e no uso dos meios de comunicação social.
Observando sua delimitação conceitual e sua estrutura, pode-se afirmar que a
Pastoral da Comunicação só existe graças ao entendimento de que um setor precisa e
depende do outro, tendo em vista que as iniciativas e as decisões são construídas de
forma dialogal. Entender e assimilar a cultura da comunicação como um elemento
transversal, ou seja, que abrange toda a prática pastoral, faz com que todos os setores,
pastorais e movimentos interajam mais e estabeleçam entre si um relacionamento sólido
e coeso, favorecendo um planejamento integrado que possibilite a unidade, o
pensamento comum, a participação afetiva e efetiva, e o vínculo entre as pessoas e as
pastorais.
46
3.2. A Pastoral da Comunicação como novas comunidades de pertencimento
Começou a existir na sociedade contemporânea algumas alterações
fundamentais nas dimensões conceituais de comunidade, como a noção de
territorialidade geográfica – antes tida como um elemento central na configuração de
uma comunidade –, sendo esta superada pelas novas possibilidades de interação através
dos processos de comunicação mediatizada, gerando um fenômeno da religião na mídia
televisiva, em especial, católica, caracterizado como ―comunidade de pertencimento‖.
Não é uma pretensão deste breve texto esgotar o assunto e nem considerar a
abordagem como pronta, pois além das ―comunidades‖ (concretas e virtuais) serem algo
cheias de grande densidade e complexidade teórica e histórica, as mesmas passam por
transformações constantes, não se adequando a estudos cabais e definitivos.
Horckheimer e Adorno (1973, p. 156) citam Warner para definir comunidade
como ―uma pluralidade de homens com interesses, sentimentos, comportamentos e
finalidades comuns, em virtude de sua pertença ao mesmo grupo social como estrutura
constante em toda e qualquer forma de sociedade antiga ou moderna‖. Mas é Weber que
mais especifica seu lugar no processo de socialização ao contrapor comunidade e
sociedade:
Chamamos comunidade a uma relação social quando a atitude na ação social [...] inspira-se no sentimento subjetivo (afetivo ou tradicional) dos partícipes da constituição de um todo [...] Chamamos sociedade uma relação social quando a atitude na ação social inspira-se numa compreensão de interesses por motivos sociais (de fins ou de valores) ou também numa visão de interesses como idêntica motivação [...]. (Weber, 1973, pág. 140)
Esses significados ―originais‖ de comunidade estão sendo ampliados na extensão
de sua significação quando se percebe hoje a pluralidade de outras acepções com que o
termo vem sendo utilizado. Como vimos anteriormente, a Pastoral da Comunicação é a
47
pastoral do ser, do estar em comunhão, e em comunidade. Nesse sentido, a preocupação
maior da Pascom será a vida da comunidade. Ela aponta para a relação da Igreja com
todos os diversos segmentos da sociedade e os diferentes meios de comunicação,
utilizando-se de todos os instrumentos possíveis para cumprir a sua missão. ―A Pastoral
da Comunicação, desse modo, perpassa, pela própria razão de ser, as ações das demais
pastorais, animando-as e colocando-se a seu serviço‖ (Estudos da CNBB, nº 75, p. 82).
Já o conceito de sentimento de pertencimento parece também se ampliar e
diversificar em suas significações à medida que se amplia o de comunidade, mas em
diversos estudos o termo ―pertencimento‖ está em contextos de análise. Em Martín-
Barbero (1997), a questão perpassa pelo menos por duas direções que se complementam
e que estão intimamente ligadas: identidade e consumo. Para tratar sobre o assunto, o
autor reflete sobre uma sociedade fragmentada, sobre o conflito povo-público mediados
cada vez mais pelos veículos de comunicação e, numa segunda direção, traz um novo
olhar sobre os meios.
Os meios de comunicação se situam como mediadores desse caos e dessa fragmentação, ou muitas vezes chegam a ser uma compensação nessa desarticulação, produzindo no imaginário das pessoas certas articulações [...] estão compensando as novas formas de solidão, os novos isolamentos, através da diferenciação, as convocações tribais que estimulam a configuração de audiência e de públicos. (Martín-Barbero, 1995, p.152)
Com isso, poderíamos afirmar que, em sua essência, o campo midiático é
responsável por promover conexões e interações entre os campos sociais, que estão
sendo exigidos pelas aceleradas inovações tecnológicas e as rápidas mudanças
socioculturais a redefinir suas estratégias, seus discursos e suas posições, resultando em
processos que contribuem para a movimentação da comunidade de pertencimento.
A partir dos princípios e conceitos abordados acima sobre a Pascom, a Igreja
afirma que ―cabe a todos e a cada um dos fiéis o desenvolvimento da Pastoral da
48
Comunicação em seus respectivos campos de atuação‖ (Estudos da CNBB, nº 75, p.
82). Tal declaração traz consigo diversos elementos simbólicos que reforçam a inclusão
dos fiéis dentro do trabalho pastoral desenvolvido pela Igreja no Brasil, e
consequentemente um comprometimento e um sentimento de pertença à instituição,
tendo em vista a importância dada a esses agentes.
De acordo com Sousa (1999, p. 15), o pertencimento se reforça como estratégia
simbólica de busca de inclusão ante contextos de fragmentação derivados de processos
de desigualdade cada vez mais intensos. Já dentro da perspectiva de uma comunidade de
pertencimento que parte da oferta religiosa, Gasparetto (2011, p. 186) reitera a premissa
de que ―ao lado de suas diferenças de enfoque e mesmo de sentido, percebemos que há
uma comunidade que se organiza e funciona segundo a lógica da mídia‖.
Quais as causas que nos levam a pensar por que a existência da ―comunidade de pertencimento‖ somente seria possível existir no momento presente e não em décadas passadas? Ouso dizer que talvez uma das respostas à pergunta seja porque a cultura Pós-Moderna incorporou uma religiosidade da busca de segurança através dessas novas modalidades da religião midiática do sensível via contato. Na ―comunidade de pertencimento‖ é garantida a promessa de se resolver os problemas individuais pelo simples ―estar juntos‖. (Gasparetto, 2011, p. 190)
Assim, podemos considerar que, a partir do olhar dos fiéis, essa comunidade de
informação e serviço caminha para uma sociedade que privilegia os ―grupos‖ que têm
como alicerce o emocional, o sentimental e o afetivo. Uma simplificação da Pastoral da
Comunicação como um serviço que exclusivamente só se utiliza dos instrumentos ou
recursos da comunicação pode favorecer e fortalecer o monopólio da fala no interior da
Igreja, comprometendo diversas pastorais, além de propiciar um contratestemunho do
verdadeiro sentido dos processos de comunicação como ação evangelizadora.
De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Estudos da CNBB,
nº 75, p. 82), ―o interior da comunidade e as relações da comunidade para o mundo são
os espaços privilegiados do exercício da Pastoral da Comunicação‖. Portanto, essa
49
modalidade de construção de uma comunidade de pertencimento permeada pela mídia é
um fenômeno que deve ser considerado para os novos estudos que envolvem os
processos pelos quais o mundo institucional religioso busca adesão dos fiéis via captura
de processos midiáticos e/ou através das pastorais como, por exemplo, por meio da
Pastoral da Comunicação.
50
Conclusão
Após importantes considerações sobre Comunicação e Religião,
Multiculturalismo e Pastoral da Comunicação, a intenção deste estudo é propor uma
reflexão sobre a importância da Pascom na dialética da Igreja Católica Apostólica
Romana no Brasil nesta era do Multiculturalismo.
Dentro deste contexto, ao debruçar-se sobre a história, documentos da Igreja
Católica e estudos de alguns autores sobre a convergência entre comunicação e religião,
esta pesquisa considerou a seguinte afirmação que alguns estudiosos fazem e que está
intimamente ligada aos documentos pontifícios: Jesus é o expoente supremo da
comunicação ou do encontro entre Deus e o homem na história da humanidade. Ele é o
comunicador por antonomásia, o perfeito comunicador.
Não foi e nem é pretensão do autor esgotar o assunto que durante muitas décadas
vem sendo debatido e estudado, mas tentou-se trabalhar com precisão e apontamentos
que, posteriormente, servirão para uma possível pesquisa de campo com a finalidade de
obter dados de como na prática e com a realidade de recursos disponíveis nas paróquias
é feito o trabalho da Pascom e se, de fato, ele contribui com a Igreja nesta era também
do pluralismo, da diversidade, e não só do multiculturalismo.
Verifica-se nesta primeira análise qualitativa que a Igreja tem procurado
conhecer e valorizar esta nova cultura da comunicação, além de buscar um diálogo com
toda a diversidade que o mundo multiculturalista oferece. Observa-se também um apoio
motivacional, por parte da Igreja, a criação de meios de comunicação social próprios,
mas ainda pouco investimento financeiro na construção dessas novas ferramentas. Nota-
se ainda pouca promoção da formação profissional dos agentes da Pascom e dos cristãos
nessa cultura midiática, bem como a falta de formação religiosa para comunicadores
51
profissionais comprometidos com os valores humanos e cristãos, o que de certa forma
dificulta o anúncio da mensagem evangélica.
Outra ideia estabelecida ao longo do estudo parte para a aceitação de que a
Igreja tem grande protagonismo com importantes reflexões dentro do âmbito da ciência
da comunicação social se olharmos do ponto de vista das elaborações de textos,
documentos e mensagens, em especial, as produzidas pelos papas para o Dia Mundial
das Comunicações Sociais, quando somos capazes de notar também grandes evoluções
nos pensamentos, linguagens e orientações de acordo com as características e as
aspirações de cada pontífice. Se observarmos, porém, cases e práticas comunicacionais
desenvolvidas e executadas pela Igreja percebemos que tais casos bem sucedidos –
sejam eles na Pastoral da Comunicação ou não –, quando apresentados e repercutidos,
são feitos de forma muito tímida, talvez pela falta da comunicação organizacional que
tanto contribui para as grandes empresas, mas que a instituição religiosa ainda enxerga
como algo somente do campo empresarial ou funcional apenas quando baseia-se numa
profunda obediência à hierarquia.
Por fim, à luz do Documento de Aparecida – Texto conclusivo da V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, e compreendo que a Pastoral da
Comunicação é vista como uma pastoral de base, ou seja, um serviço que está
intimamente ligado às paróquias, aponto minha conclusão para duas grandes
intervenções que devem ser observadas com muita atenção por parte da Igreja Católica
para que a Pascom contribua de forma efetiva nesta era do multiculturalismo já que
atinge diretamente os fiéis ligados a instituição e a comunidade local: o cuidado e o zelo
aos projetos de formação dos Seminários na área da Comunicação Social, pois dentro
desta realidade contemporânea faz-se necessário que os futuros sacerdotes
compreendam a teoria e a prática dos processos comunicacionais adequando-se às
52
exigências do ministério no tempo atual; e a implementação da Comunicação
Organizacional por parte das arquidioceses/dioceses com a finalidade de potencializar
um discurso único nas mais diversas ações desenvolvidas pela Igreja, o que nem sempre
é observado.
A presente linha de pesquisa, cada vez mais, produz neste estudioso o interesse
de se aprofundar integralmente em questões relacionadas à comunicação social e
empresarial, Igreja, mídia, religiosidade, cultura e psicologia. Os campos de estudo
apresentados geram excitações e questionamentos intelectuais, e um enorme desejo de
implementação de ações, na prática, das possíveis soluções apontadas pelo estudo para
que a genuína comunicação aconteça. Tais interesses almejam por respostas através da
elaboração de outros trabalhos sendo este um dos objetivos deste autor... Dar
continuidade aos estudos, no mestrado, destacando a importância e a necessidade da
formação dos seminaristas em Comunicação Social e a fundamental implementação e
execução da Comunicação Organizacional dentro da Igreja Católica para atender um
pedido da própria instituição, destacado pelo Cardeal Orani João Tempesta no livro
‗Pastoral da Comunicação – Diálogo entre fé e cultura‘: ―Uma das maiores dificuldades
que sentimos em nossos trabalhos pastorais é a necessidade de saber nos comunicar bem
com o nosso povo. Há tempos a Igreja Católica vem insistindo em seus documentos
para que haja uma organização e um bom planejamento na área da comunicação‖.
Parafraseando Tempesta, se o presente estudo e os futuros ―despertarem uma ‗santa
crise‘, que leve muitos a examinar os caminhos até agora percorridos, e incentivar a
tomada de novos e desafiadores rumos‖, tenho certeza que já terei cumprido parte de
meus objetivos.
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