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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Código de Ética Empresarial na Governança Corporativa
Érica Faria de Souza Maia
ORIENTADOR:
Prof. Luciana Madeira
Rio de Janeiro
2018
DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em Auditoria e Controladoria.
Por: Érica Faria de Souza Maia
Código de Ética Empresarial como ferramenta para Boas Práticas de Governança
Corporativa.
Rio de Janeiro
2018
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e ao meu marido William de
Souza Maia por me apoiar em todo o período que
me dediquei a essa Pós Graduação.
5
RESUMO
Este trabalho disserta sobre os principais conceitos de ética
aplicados às empresas e associados às práticas de boa Governança
Corporativa. O objetivo primordial de um código de ética empresarial é
expressar e encorajar o sentido de justiça e decência em cada membro
do grupo organizado, através de um novo padrão de conduta interposto
na vida profissional de cada trabalhador que esteja exercendo qualquer
cargo na organização.
Ao associarmos esta definição ao conceito de Governança
Corporativa, dado como o sistema de gestão pelo qual uma empresa é
dirigida e monitorada, surge a questão:
Como um código de ética empresarial pode servir de
ferramenta para as boas práticas de Governança Corporativa?
Este questionamento torna-se cada vez mais relevante frente a
crescente demanda das grandes organizações por profissionais
conscientes de seus deveres éticos perante a organização, a
sociedade e a própria profissão. Além disso, o relacionamento da
Organização com seus públicos exige uma revisão completa da
postura social adotado pelas empresas e na forma como divulga suas
informações ao mercado. Diante deste cenário, afirma-se a
necessidade da implantação de um código de ética empresarial claro e
objetivo, como ferramenta para gerir e monitorar uma organização
empresarial, de forma mais eficiente e eficaz.
Sendo assim, apresentaremos os principais conceitos que
envolvem o tema e alcançar uma maior compreensão a respeito da
influência de um código de ética empresarial sobre as práticas de
Governança Corporativa.
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METODOLOGIA
A metodologia adotada para a realização do trabalho é a pesquisa
bibliográfica e documental. Utilizam-se como fonte livros e artigos/matérias
veiculados em revistas, jornais e internet, bem como publicações de
instituições e materiais de palestras acerca do assunto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Aspectos gerais sobre ética 10
CAPÍTULO II
Ética Empresarial 16
CAPÍTULO III
Código de ética empresarial 25
CAPÍTULO IV
Código de ética e governança corporativa 45
CONCLUSÃO 58
BIBLIOGRAFIA 60
ÍNDICE 62
8
INTRODUÇÃO
A ética é um tema que, nos últimos anos, vem ganhando
espaço para discussão nas empresas, universidades, órgãos públicos,
organizações não governamentais e meios de comunicação em muitos
países, inclusive no Brasil.
Este fato deve-se, principalmente, às mudanças advindas da
globalização, da abertura da economia, dos processos de
democratização da tecnologia e da informação e do processo de
amadurecimento dos consumidores, que impulsionaram uma maior
fiscalização e exigência da sociedade com relação à postura das
organizações.
Além disso, os recentes escândalos financeiros envolvendo
grandes corporações norte americanas contribuíram para o
questionamento dos valores centrais que têm norteado as atividades
das organizações modernas. O questionamento surge também com
relação à qualidade das relações estabelecidas entre as organizações
e os públicos com os quais se relacionam - os chamados stakeholders.
Cultura e ética empresarial são assuntos de destaque num
momento em que observa-se uma grande mudança no papel das
organizações na sociedade. A transparência nos princípios
organizacionais e a conduta socialmente responsável tornam-se, mais
do que diferenciais, fatores determinantes para a sobrevivência das
organizações no mercado e para a manutenção de uma imagem
institucional positiva.
Neste sentido, os códigos de ética empresarial constituem um
instrumento importante para a comunicação dos valores, princípios e
missão das organizações, tanto para seus funcionários quanto para
todos os outros públicos com quem se relacionam. Atuam como
comunicadores da filosofia organizacional e como orientadores às
ações dos funcionários, à tomada de decisões pela alta administração
e às relações das organizações com seus diversos públicos.
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Este trabalho tem por objetivo geral descrever os códigos de
ética empresarial como premissa básica à execução das práticas de
Governança Coorporativa.
A metodologia adotada para a realização do trabalho é a
pesquisa bibliográfica e documental. Utilizam-se como fonte livros e
artigos/matérias veiculados em revistas, jornais e internet, bem como
publicações de instituições e materiais de palestras acerca do assunto.
Este trabalho é composto de 4 (quatro) capítulos. O primeiro
capítulo conceitua ética, discorre acerca das suas principais diferenças
em relação ao Direito e a Moral e introduz a ética nas empresas,
citando o profissional ético. Em seguida, no segundo capítulo, iniciamos
com uma perspectiva histórica sobre ética empresarial, ressaltamos o
relacionamento das empresas e seus públicos e finalizamos o capítulo,
aliando ética empresarial e responsabilidade social. O código de ética
empresarial, suas funções, conteúdo e implantação são debatidos no
terceiro capítulo e anexo a este trabalho segue um exemplo de código
de ética empresarial. O quarto capítulo consolida a associação do
Código de Ética empresarial aos conceitos de Governança Corporativa,
utilizando exemplos de esforços institucionais para a disseminação da
cultura ética no mercado, como a criação do Novo Mercado e a
implantação da lei Sarbanes-Oxley.
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CAPÍTULO I
ASPECTOS GERAIS SOBRE ÉTICA
1.1. DEFINIÇÃO DE ÉTICA
“Justiça é ter e fazer o que nos compete”
(Platão)
Esta simples e brilhante definição de Platão para justiça
significa que cada homem irá receber o equivalente àquilo que produz
e irá exercer a função para a qual está mais bem preparado. Um
homem justo é aquele colocado justo no lugar certo, fazendo o que lhe
for possível e dando o pleno equivalente daquilo que recebe. Uma
sociedade de homens justos seria, portanto, um grupo altamente
harmonioso e eficiente, porque todos os elementos estariam nos seus
lugares, exercendo sua função apropriada como as partes de uma
orquestra perfeita.
Há duas palavras gregas, parecidas, que explicam o sentido
etimológico de Ética: ethos e éthos.
Ethos significa costume. Refere-se a usos e costumes de um
grupo. Nos grupos humanos primitivos os costumes são decisivos para
a conduta dos indivíduos. Nesse estágio, a moral e o direito são os
costumes. A Ética do grupo é também a Ética dos indivíduos, O modo
de ser do grupo é o modo de ser de cada indivíduo.
Éthos significa domicílio, moradia. É a morada habitual de
alguém, o país onde alguém habita. Passou a designar a maneira de
ser habitual, o caráter, a disposição da alma. Caráter é marca, sigilo,
timbre ou disposição interna da vontade que a inclina a agir
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habitualmente de determinada maneira. Hábito, para o bem ou para o
mal, virtuoso ou vicioso, é quase segunda natureza, fonte de atos.
(Hábito é efeito de atos, pois a repetição de atos causa o hábito; mas
uma vez adquirido, o hábito toma-se causa de atos).
Pois bem, etimologicamente, Ética, seja de ethos seja de éthos,
as duas palavras são parentas, chega-se ao mesmo sentido — via
costumes ou via morada habitual. Os dois caminhos levam à conduta
humana.
Ética não se restringe à descrição de costumes ou hábitos de
diferentes povos. Esta descrição seria Etiologia ou Etnografia. O objeto
real da Ética vai além do sentido etimológico. Ética procura princípios
que dirijam a consciência na escolha do bem e concentra sua atenção
na vontade humana (como a lógica, na inteligência), porque o objeto da
Ética é o ato humano, e o ato humano é produzido pela vontade.
a) Ato humano — é o ato voluntário e livre. Não é voluntário o
ato espontâneo e necessário. Vontade é tendência racional; só há
vontade em seres racionais. Por isso o ato voluntário supõe que a
inteligência teve conhecimento prévio do objeto que se apresenta à
vontade. É necessário este conhecimento para que o ato seja humano.
A liberdade acrescenta o domínio da vontade sobre o ato, de tal
maneira que possa escolher entre agir e não agir, ou agir desta ou
daquela maneira, isto é, possa escolher entre este ou aquele ato.
O objeto material da Ética é o ato humano, ato voluntário e livre,
qualquer ato involuntário e não livre não é ato humano e, portanto, não
é objeto da Ética.
b) Objeto Formal é o ponto de vista sob o qual uma ciência
encara o objeto material. O homem é objeto material de muitas
ciências: Antropologia, Psicologia, Filosofia, Medicina, etc. O que
distingue uma ciência da outra é o objeto formal. — O corpo humano é
objeto material da Anatomia, da Fisiologia, da Medicina, etc... Mas cada
uma destas ciências estuda o mesmo objeto material — o corpo
humano — sob o ponto de vista da estrutura, do funcionamento dos
órgãos, de saúde, etc...
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Pois bem, o objeto material da ética — o ato humano — é
objeto material também de outras ciências: p. ex., Psicologia,
Psiquiatria, Sociologia, Política, etc... Mas é diferente o objeto formal. A
Psicologia estuda o aspecto entitativo e funcional da vontade e seus
atos. A Ética estuda o aspecto moral do ato humano e de toda a
atividade humana: o bem e o mal, o honesto e o desonesto, o justo e o
injusto, o virtuoso e o vicioso.
Mas para julgar o aspecto moral dos atos humanos é preciso
ser portador de critérios, princípios e normas que sirvam para distinguir
o bem do mal; o justo do injusto, a virtude do vício.
Da Ética ocupou-se a vida inteira Sócrates.
Sobre a Ética discorreu Platão em todos os seus diálogos.
Aristóteles legou-nos quatro tratados de Ética. E quando morria
Aristóteles, nascia Zenão de Cício, o fundador do Estoicismo, que
reduziu toda a Filosofia à Ética.
Diante do exposto, podemos citar a definição do objetivo do
estudo da Ética, definida pelo Profº Lázaro Plácido Lisboa 2 como:
“Entender os conflitos existentes entre pessoas, buscando suas
razões, como resultado direto de suas crenças e valores, e com base
nisto estabelecer tipos de comportamento que permitam a convivência
em sociedade, é o objetivo do estudo da Ética”.
1.2. Diferenças entre Direito, Ética e Moral.
É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e
do Direito. Estas três áreas de conhecimento se distinguem, porém têm
grandes vínculos e até mesmo sobreposições.
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam
estabelecer certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas,
porém, se diferenciam.
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A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa,
como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das
fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que
sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral
comum.
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade
delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial,
elas valem apenas para aquela área geográfica onde uma determinada
população ou seus delegados vivem. Alguns autores afirmam que o
Direito é um subconjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a
conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras
situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral e o
Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos morais
impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. Este é um
exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de referirem-se a uma
mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou
incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos
da Ética é a busca de justificativas para as regras propostas pela Moral
e pelo Direito. Ela é diferente de ambos - Moral e Direito - pois não
estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que
caracteriza a Ética.
1.3. O Profissional Ético
“É dever ético proteger um nome profissional.”
Segundo O Prof.: Lázaro Plácido Lisboa (1997:23), ética
profissional serve como indicativo do conjunto de normas que baliza a
conduta dos integrantes de determinada profissão.
Segundo Lisboa (1997:88), o profissional enfrenta inúmeros
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problemas éticos quando do exercício da profissão, que se
circunscrevem nos conceitos do dever, direito, justiça,
responsabilidade, consciência e vocação.
O direito é a contrapartida do dever. Cabe à justiça dar a cada
pessoa o que lhe corresponde. Sendo esta a principal virtude da ética.
A responsabilidade representa a capacidade de entendimento
do direito e do dever para com o exercício de qualquer atividade.
Podendo ser dividida em dois grandes grupos:
I – Responsabilidade profissional pessoal: obriga o profissional
a assumir um compromisso de aprimorar-se intelectualmente.
II – Responsabilidade profissional social: é uma extensão da
responsabilidade profissional pessoal.
A consciência se manifesta na capacidade de decidir diante de
possibilidades variadas, decorrentes de alguma ação que será
realizada, agindo como um juiz interno, que influencia na tomada de
decisões. Ela aprova, reprova, concorda, discorda, etc.
Os conceitos de profissão e responsabilidade estão ligados ao
conceito de vocação ( dedicar-se a uma profissão).
A sociedade está criando novas responsabilidades para o
profissional da área, na procura da verdade. Os procedimentos éticos
estão cada vez maiores e alcançando cada vez mais pessoas,
independentes de sua função social.
Por outro lado, o respeito ao procedimento ético enfrenta
perigoso risco de degradação. Recentes acontecimentos da política
nacional revelaram falta de ética, causando uma indignação
generalizada, o que provocou fortemente a busca de um processo de
moralização, gerando a necessidade de um modelo único, com o
propósito de estabelecer linhas éticas de conduta. Neste contexto, a
credibilidade é um dos elementos fundamentais do sucesso dos
profissionais, além da qualidade dos seus serviços.
Diante dessas considerações é necessário que numa economia
globalizada o profissional apresente pré-requisitos como:
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Ser um profissional digno e capaz de padrões morais e
éticos;
Saber respeitar os demais profissionais;
Respeitar sempre o Código de ética e demais
instrumentos normativos úteis ao desempenho da
profissão;
Fazer julgamentos justos para que suas atitudes não venham a
prejudicar a imagem da empresa, nem a sua como profissional;
Manter-se bem informado dentro de uma visão genética e
crítica para saber tratar as questões que envolvam o cenário da
globalização no qual está inserido, onde o conhecimento será uma das
maneiras de exercer a ética perante o mercado de trabalho.
Saber julgar e ser julgado com serenidade, sabedoria e
dignidade. Valorizando-se como profissional e fortalecendo a sua
profissão.
Segundo Silva e Speroni (1998:78) “a ética profissional tem
como premissa maior o relacionamento do profissional com seus
clientes e com outros profissionais, levando em conta valores como a
dignidade humana, auto realização e sociabilidade”.
.
16
CAPÍTULO II
ÉTICA EMPRESARIAL
2.1. Perspectiva histórica
A perspectiva moral sobre a atividade empresarial ao longo da história
tem sido em grande parte do tempo negativa e por vezes até mesmo
estereotipada. Antes de ser considerada uma atividade respeitável, como
nas sociedades capitalistas modernas, a atividade empresarial foi durante
séculos condenada pela religião e pela filosofia.
Durante toda a Idade Média, a busca do lucro e a usura foram
severamente criticadas pela Igreja católica. Além disso, a Igreja Católica
condenava o trabalho como forma de enriquecimento e pregava o desapego
aos bens materiais e riquezas terrenas. Sob esta ótica, o trabalho era visto
apenas como um meio de subsistência, disciplina do corpo e purificação da
mente.
Somente a partir do século XVI, com a Reforma Protestante, a
poupança, o lucro e a iniciativa passaram a ser consideradas virtudes. A
Reforma, junto com as grandes modificações que estavam ocorrendo neste
momento na Europa Ocidental, contribuiu decisivamente para a formação
das primeiras estruturas do mundo capitalista.
Este período de transição entre o feudalismo e o capitalismo foi
caracterizado por um complexo processo de reestruturação, inclusive moral,
pelo qual passava a sociedade da época: o início da urbanização, dando
origem a sociedades maiores e mais centralizadas; a expansão ultramarina;
a acumulação do capital; a ascensão da racionalização e do
antropocentrismo; o renascimento cultural e o desprestígio da Igreja
Católica. É nesse cenário que as doutrinas calvinista e luterana ganharam
força e adeptos.
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A burguesia nascente nos principais centros comerciais da Europa
buscava uma nova moral econômico-religiosa que legitimasse a obtenção
do lucro através do comércio e da exploração do trabalho assalariado. A
doutrina calvinista parece ter ido ao encontro das necessidades da
burguesia, incentivando o lucro e valorizando moralmente o trabalho e a
poupança. Como o bem-estar econômico era interpretado como um sinal de
salvação, os seguidores desta doutrina trabalhavam e poupavam cada vez
mais para provarem a si mesmos que haviam sido eleitos por Deus.
Na nova moral capitalista, a valorização do trabalho produtivo era
sinônimo de salvação divina. Assim, a riqueza deixa de ser vista como
pecado e passa a representar a vontade de Deus.
Já no século XVIII, a obra Riqueza das Nações (1776) do economista
inglês Adam Smith (1723-1790) tornou-se uma espécie de bíblia do
liberalismo ao postular a liberdade à atividade empresarial. A obra nasce no
período em que a Inglaterra passa pela Revolução Industrial, uma época
marcada pela obsessão pelo progresso e pela busca de novos mercados.
Adam Smith acreditava que o interesse individual deveria ser aceito e
estimulado. Num mundo liberal regido pelas forças do mercado, uma "mão
invisível" garantiria a sustentação da economia e conciliaria o interesse
pessoal com o interesse comum, sem que se fizesse necessária à
intervenção do Estado mercantilista.
Smith1 assim se expressa:
(...) cada indivíduo trabalha, necessariamente, para que o rendimento
anual da sociedade seja o maior possível. Na realidade, ele não pretende,
normalmente, promover o bem público, nem sabe até que ponto o está a
fazer. Ao preferir apoiar a indústria interna em vez da externa, só está a
pensar na sua própria segurança; e, ao dirigir essa indústria de modo que
sua produção adquira o máximo valor, só está a pensar no seu próprio
ganho, e, neste como em muitos outros casos, está a ser guiado por uma
1 SMITH, Adam. Riqueza das Nações (1776). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981. Livro IV,
cap.2, p.758.
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mão invisível a atingir um fim que não fazia parte de suas intenções.
A doutrina de Smith, que pregava a busca dos interesses individuais
como ideal normativo de conduta, encaixou-se perfeitamente no processo
de expansão econômica da Inglaterra na época. Porém, esse individualismo
exacerbado deu origem a uma moral empresarial egoísta, justificando o
investimento em atividades destinadas a incrementar os lucros como único
papel social das empresas.
Desta forma, durante os séculos XIX e XX, persistiu a ideia do lucro
como único objetivo das empresas. Acreditava-se - e em muitos casos
acredita-se ainda hoje - que as empresas buscam somente o lucro como
objetivo final, desconsiderando seus deveres ou obrigações perante a
sociedade.
É exatamente neste ponto que nasce a nova preocupação da ética
empresarial. Como o lucro deve ser concebido dentro de um contexto mais
amplo de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável? Quais são
os deveres e responsabilidades das empresas perante os públicos com os
quais se relacionam? Como as empresas podem melhorar as relações com
seus funcionários e outros públicos estratégicos e como pode beneficiá-los?
Como orientar a tomada de decisões pela alta administração e envolver
todos os seus colaboradores na busca dos objetivos organizacionais? Como
ser considerada uma empresa legítima e não apenas legal pela sociedade?
Não é difícil perceber, pois, que as questões principais da ética empresarial
hoje se relacionam fundamentalmente ao papel que a empresa exerce na
sociedade e que o indivíduo exerce na empresa.
Também fazem parte deste contexto à identificação das práticas que
orientam a atividade empresarial, a conduta dos funcionários e a tomada de
decisões pela alta administração, bem como das normas que regem as
relações internas e externas das empresas, considerando-as organismos
complexos em constante interação com a sociedade.
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Essa nova perspectiva sobre a atividade empresarial destaca os
aspectos de cooperativismo, interação e interdependência, à medida que
integra a organização em um contexto mais amplo e considera as relações
existentes entre grandes grupos que possuem papéis e responsabilidades
diferentes. Nesta rede, incluem-se, além das empresas, seus clientes,
fornecedores, funcionários, distribuidores, acionistas, concorrentes, governo
e comunidades nas quais atuam. Ao considerar a existência desses grupos
e suas relações na estrutura da vida empresarial, implica-se o
reconhecimento da existência de valores partilhados e mais, de uma cultura
empresarial coesa que permeia toda a organização.
É claro que a cultura empresarial não pode e não deve ser
considerada algo à parte da sociedade. Pelo contrário, ela é diretamente
influenciada pela cultura da sociedade na qual está inserida. Assim, a
cultura organizacional é parte integrante de uma cultura mais vasta e seu
conjunto de normas também estão relacionados, em menor ou maior nível,
com o conjunto de normas, prescrições e práticas da comunidade na qual
atua.
2.2. Ética Empresarial e seus Públicos
A ética empresarial está, pois, fundamentada nas relações da
organização com seus diversos públicos e na cultura e normas morais que
as regem.
Cada um dos públicos que interage com a organização exerce
influência sobre ela e vice-versa. Por isso, é importante que esses públicos
sejam identificados e analisados quanto ao poder que possuem de
influenciar os objetivos da organização.
O público de decisão: seria aquele cuja autorização ou concordância
é necessária para a realização das atividades da organização Exemplo:
governo.
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O público de consulta: seria aquele sondado pela organização quando
ela pretende agir. Exemplo: acionistas, também chamados de stockholders
ou shareholders (seus acionistas) e sindicatos.
Já o público de comportamento: englobaria os indivíduos cuja atuação
pode frear ou favorecer a ação da organização. Exemplo: funcionários e
clientes.
Por fim, o público de opinião seria aquele cuja manifestação de
opinião, julgamento ou ponto de vista pode influenciar a organização. São
os chamados "formadores de opinião", como por exemplo: líderes
comunitários, colunistas de jornais, comentaristas, professores
universitários, etc.
Portanto, a opinião e o comportamento desses públicos com relação à
organização - em diferentes graus e níveis - são importantes para a
realização de suas atividades.
Neste sentido, as relações públicas assumem papel fundamental nas
organizações modernas, na medida em que as últimas sentem a
necessidade de adotar novas posturas e relacionamentos - mais
transparentes e responsáveis - perante seus públicos estratégicos.
Assim, tão importante quanto à alta produtividade e a capacidade de
inovação tecnológica das empresas é também a sua capacidade de
estabelecer uma comunicação aberta e eficaz com seus públicos, de forma
a gerar a boa vontade e a simpatia desses grupos estratégicos com relação
à organização. Tão importante quanto oferecer produtos e serviços de
qualidade, é construir relacionamentos duradouros com seus públicos
estratégicos e gerar uma imagem positiva perante a sociedade.
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2.3. Ética Empresarial e Responsabilidade Social
As organizações começam a perceber que a credibilidade das
empresas é o fruto da prática efetiva e constante de valores como respeito
ao consumidor, honestidade, transparência nas relações com seus públicos,
integridade nas demonstrações financeiras e preocupação com o meio
ambiente e comunidade.
É crescente a necessidade das empresas de demonstrar aos seus
públicos que elas estão preocupadas em oferecer produtos e serviços de
qualidade, que elas protegem o meio ambiente, que elas se empenham em
contribuir para o desenvolvimento social, que elas buscam transparência em
seus processos administrativos, enfim, que elas cumprem um papel social,
sendo não apenas empresas legais, mas legítimas.
Algumas questões passam a ser levantadas dentro e fora das
empresas: como as organizações estabelecem um diálogo com seus
públicos, fortalecem a governança corporativa, tornam sua contabilidade
transparente, aprofundam as discussões com as organizações
governamentais e desenvolvem programas de ética empresarial baseados
em valores realmente praticados, aceitos e estimulados pela organização?
Neste sentido, a responsabilidade social empresarial ou
responsabilidade corporativa tem ganhado espaço na mídia e é pauta de
discussões nas empresas, governo e universidades. O conceito de
responsabilidade corporativa - ou corporate accountability, em inglês - está
relacionado à tomada de decisões condicionada pela preocupação com o
bem-estar da coletividade.
A essência da corporação socialmente responsável é conduzir seu
negócio de forma a ser co responsável pelo desenvolvimento social. E, ao
contrário do que alguns empresários imaginam, a responsabilidade
corporativa não se limita à preservação do meio ambiente ou à filantropia.
Mais do que isso, ela relaciona-se à capacidade da empresa de entender os
interesses e demandas de seus diferentes stakeholders - clientes,
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comunidade, fornecedores, acionistas, funcionários, governo, entre outros -
e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades.2
Desta forma, uma empresa que desenvolve programas voltados à
comunidade, mas que ao mesmo tempo sonega impostos polui o meio
ambiente, não é transparente com seus acionistas, não respeita seus
consumidores ou utiliza procedimentos escusos para conseguir vantagens a
qualquer custo, por exemplo, não pode ser considerada socialmente
responsável. Isso porque a responsabilidade social envolve valores e
princípios éticos adotados pela organização em todas as suas ações e
relacionamentos. Não existe, pois, empresa meio ética. A empresa ética age
de acordo com seu discurso sempre - e não apenas quando lhe é
conveniente.
Há outro aspecto importante a ser destacado com relação à questão
da legalidade e legitimidade das ações praticadas pelas organizações. A
empresa legal é aquela que observa e cumpre a lei em todos os seus
aspectos. A empresa legítima é aquela cujas ações são legitimadas pela
sociedade, sendo reconhecidas como positivas e responsáveis. Na verdade,
cumprir a lei já é uma base de responsabilidade social. Porém espera-se
das empresas muito mais do que o cumprimento dos aspectos legais;
espera-se uma postura legítima. As empresas têm de ser percebidas como
uma parte ativa do contexto sócio-econômico que assume compromissos e
responsabilidades com a sociedade.
Percebe-se um processo de inserção implícito nesta perspectiva. A
empresa deixa de ser um elemento isolado para ser reconhecida como um
elemento ativo que interage com a sociedade e contribui para seu
desenvolvimento.
Alguns empresários acreditam que a simples adoção de um programa
de responsabilidade social já é suficiente para que a empresa seja
reconhecida como legítima por seus stakeholders e para divulgar ou agregar
2 Disponível em <www.ethos.org.br/pri/prin/prespostas/index.asp> Acesso em 13/03/02.
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valor à imagem institucional. Essa é uma visão errônea, que não traz
resultados duradouros, porque a própria empresa não conseguiria sustentar
tal imagem em longo prazo.
Por isso, nenhum programa de responsabilidade social será válido se
a empresa não estiver envolvida com os verdadeiros propósitos dos
mesmos. Mas, se os valores assumidos pela organização forem realmente a
base desses projetos, a empresa poderá obter resultados muito positivos
para sua imagem institucional e da marca.
A postura ética das empresas traz reflexos, inclusive, no valor de suas
ações. Tanto que analistas financeiros começaram a incorporar a variável
ambiental e a responsabilidade social em suas análises, de forma que hoje,
em Wall Street, um dos elementos analisados para definir o preço das ações
é o comportamento ambiental das empresas.
Investidores de diversos tipos procuram fazer suas aplicações
financeiras em empresas que respeitam o meio ambiente e as condições
humanas e sociais de seus empregados, que mantêm elevados níveis de
transparência em relação aos acionistas e que zelam pela qualidade de
suas relações com a sociedade civil, etc.
Outro exemplo de que o mercado financeiro também está levando em
conta o papel social das empresas é que para as ações registradas nos
Estados Unidos há um índice de referência denominado Domini 400 Social
Index, que não admite empresas envolvidas com tabaco, álcool, jogo, armas
e geração de energia nuclear. Para os papéis britânicos, existe o NPI Social
Index. Em 1999, a Dow Jones publicou um novo índice para as ações
internacionais, o Dow Jones Sustainability Index (DJSI). A sustentabilidade
foi definida de acordo com uma série de critérios que medem o desempenho
de uma empresa em termos econômicos, ambientais e sociais.
O primeiro fundo de investimento em empresas socialmente
responsáveis no Brasil é o "Fundo Ethical", criado pelo ABN Amro Real, em
novembro de 2001. O fundo utiliza o critério de responsabilidade social
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como fator "sine qua non" para a entrada de uma empresa na carteira.
O lançamento pela Bovespa, em 2001, do Novo Mercado e dos
Níveis 1 e 2 de governança corporativa representou um marco para o
mercado de capitais brasileiro, caracterizando-se como uma das mais bem-
sucedidas iniciativas de auto-regulação já vistas no país.
Além disso, a elaboração de balanços sociais ou relatórios anuais de
responsabilidade corporativa também já faz parte da realidade de muitas
empresas nacionais e multinacionais. Mais do que descrever projetos
sociais desenvolvidos, os balanços sociais podem contribuir para aprimorar
a comunicação das organizações, bem como constituir um importante
instrumento de captação de recursos no momento em que os investidores
estão se tornando cada vez mais exigentes.
O foco é, pois, muito mais amplo do que detalhar os programas
sociais ou ambientais das empresas; o conceito está diretamente ligado à
forma como as organizações adicionam valor às relações com seus
diferentes públicos e como elas gerenciam os impactos provocados por
suas estratégias e atividades sobre cada um deles.
Ao que tudo indica a responsabilidade social e a ética nas relações
entre a empresa e as partes interessadas terão cada vez mais importância
para todos os tipos de organizações. E cada vez mais também a postura
social das organizações e a qualidade das relações com seus públicos
passarão a ser questionados.
25
CAPÍTULO III
CÓDIGO DE ÉTICA EMPRESARIAL
3.1. Definição de Código de Ética Empresarial
“O código de ética ou de compromisso social é um instrumento de
realização da visão e missão da empresa, que orienta suas ações e explicita
sua postura social a todos com quem mantém relações. O código de ética
e/ou compromisso social e o comprometimento da alta gestão com sua
disseminação e cumprimento são bases de sustentação da empresa
socialmente responsável. A formalização dos compromissos éticos da
empresa é importante para que ela possa se comunicar de forma
consistente com todos os parceiros3. Dado o dinamismo do contexto social,
é necessário criar mecanismos de atualização do código de ética e
promover a participação de todos os envolvidos. 3
Como avaliar a qualidade das relações entre as empresas e seus
stakeholders? Sob a perspectiva da interação da empresa com os grupos
ou partes interessadas, como seria possível assegurar relações éticas? Em
primeiro lugar, é preciso ter claro os valores e princípios que regem a cultura
empresarial e como esse discurso se traduz em atitudes e comportamentos.
Em outras palavras, a base de um programa de ética empresarial é sempre
o conjunto de valores da organização.
E valor é a palavra chave para as organizações do século XXI. As
organizações cada vez mais deverão focar em valores, que constituem a
base das práticas organizacionais e dos programas de ética empresarial e
de responsabilidade social. Estes, por sua vez, deverão ser continuamente e
eficazmente comunicados a toda a organização e a seus públicos. Neste
novo cenário, a comunicação corporativa e as relações públicas assumem
3 “Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial – Versão 2000, p. 13.”
26
papel estratégico.
É cada vez mais importante para as empresas manterem canais de
comunicação com seus diversos públicos estratégicos, por meio dos quais
comuniquem os princípios e valores que norteiam suas atividades, bem
como os avanços na área social. Assim, os relatórios de responsabilidade
social corporativa ou balanços sociais certamente estão ganhando
importância nas organizações, até mesmo pelo fato da globalização e
internacionalização de seus negócios. E o foco desses relatórios está cada
vez mais voltado para as relações das organizações com os públicos com
os quais ela interage: funcionários, consumidores, fornecedores,
comunidade, investidores, entre outros.
Neste novo cenário organizacional - e com as novas exigências do
mercado e da sociedade - também as declarações de visão, propósito e
missão, as cartas de valores, os chamados credos empresariais e os
códigos de ética empresarial ganham importância, figurando como
delineadores da cultura e políticas organizacionais para os diversos públicos
que interagem com a organização e constituindo um instrumento de
orientação à tomada de decisões pela alta administração. Estes documentos
devem representar também um compromisso com a sociedade e, por isso
mesmo, é imprescindível que os valores e princípios neles descritos sejam
genuinamente praticados pela organização na realização de suas
atividades.
Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
uma associação de empresas interessadas em desenvolver suas atividades
de forma socialmente responsável, o código de ética empresarial é "um
instrumento de realização da visão e missão da empresa, que orienta suas
ações e explicita sua postura social a todos com quem mantém relações".4
Os códigos de ética empresarial não apenas formalizam os
compromissos éticos da empresa, mas também constituem uma importante
4 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Indicadores Ethos de
Responsabilidade Social empresarial . São Paulo, 2000, p.13.
27
ferramenta de comunicação desses valores e práticas para seus
stakeholders. Eles exprimem os princípios que norteiam a atividade da
organização e suas expectativas com relação ao comportamento de seus
funcionários e à qualidade das relações estabelecidas com as partes
interessadas.
Enfim, os códigos de ética empresarial são a articulação dos valores
que conduzem à conduta empresarial. Cada vez mais, as organizações
estão percebendo que podem agregar valor às relações com seus parceiros,
funcionários, clientes, e muitos outros públicos, por meio de seus códigos de
ética.
Porém, adotar um código de ética empresarial não significa
simplesmente escrever uma série de tópicos como se fossem ordens ou
mandamentos e distribui-los aos funcionários. É necessário que suas
palavras reflitam os valores realmente praticados a partir dos dirigentes para
que seja interiorizado nos demais níveis da organização. Por constituir-se
uma comunidade hierárquica, que concentra o poder de decisão na alta
administração, pode-se dizer que o comportamento dos colaboradores da
empresa é em grande parte influenciado pelas determinações e exemplos
que vêm de cima.
Por outro lado, a adesão da alta direção à prática dos valores e
princípios do código de ética empresarial também não é, por si só,
suficiente. Para moldar comportamentos e atitudes, é necessário que a
empresa promova o diálogo sobre as questões éticas, além de acompanhar,
avaliar, cobrar, recompensar e estimular. Mais do que isso, é necessário
entender que a organização é apenas um subsistema dentro da sociedade,
e que a cultura organizacional também é parte da própria cultura da
sociedade que a cerca.
Um aspecto importante a ser observado é o papel da comunicação
neste processo de identificação de cultura e disseminação de valores na
organização. Percebe-se que a construção da identidade e imagem
organizacional depende fundamentalmente de um processo de
28
comunicação constante, transparente e eficaz nas frentes interna e externa
da organização.
Neste sentido, as relações públicas, ao identificarem os valores e
cultura organizacional e ao administrarem a comunicação da organização
com seus diversos públicos estratégicos, buscando a compreensão e
integração entre os mesmos, estão diretamente relacionadas à elaboração e
implantação dos códigos de ética empresariais.
Além de relações públicas, áreas como recursos humanos, auditoria
e comunicação institucional também aparecem relacionados ao tema
códigos de ética empresarial com frequência.
3.2. Função do código de Ética Empresarial
Um código de ética empresarial bem elaborado e implantado pode
ajudar a organização a solucionar questões antes que elas se tornem
grandes problemas. Porém, a implantação de um código de ética
empresarial não é uma tarefa simples e apresenta algumas oportunidades e
riscos que devem ser observadas.
Dentre as oportunidades, pode-se destacar o incentivo à integração
entre os funcionários e a promoção do debate e da conscientização com
relação à conduta ética, estimulados pelo próprio processo de
desenvolvimento deste instrumento. Além disso, sua elaboração possibilita à
empresa um exercício de autoconhecimento, que envolve a busca de seus
verdadeiros valores, princípios, objetivos, expectativas, papel e razão de ser
na sociedade.
Por outro lado, um dos riscos relacionados à implantação dos códigos
de ética empresarial é que ele se transforme em um instrumento de
controle, com um caráter estritamente normativo e punitivo, ao invés de um
instrumento orientador e inspirador, que incentive os funcionários a buscar a
excelência e a ética empresarial na realização de seu trabalho. Como
instrumento normativo, o código de ética é severamente criticado e
29
desacreditado.
Há de fato uma tendência dos códigos de ética empresarial,
especialmente quando denominados "códigos de conduta", de se
concentrarem no que os membros da organização devem ou não devem
fazer, dando pouca atenção às obrigações da organização para com esses
membros e não estabelecendo um foco claro em valores e princípios da
organização. Neste sentido, tornam-se apenas uma ferramenta de gestão
disciplinar.
A própria obrigatoriedade de adesão aos termos contidos em um
código de ética empresarial demonstra uma preocupação em garantir
salvaguardas à empresa e um pretexto legal para a demissão ou punição do
funcionário que eventualmente burle alguma das normas. Entretanto, como
já ressaltado anteriormente, a ética pressupõe a liberdade de opção e
adesão, de forma que o termo "código de ética" torna-se contraditório em
sua essência.
Outra tendência das empresas é atribuir deveres aos funcionários,
sem que a empresa expresse seu compromisso e responsabilidade para
com todos os seus públicos. Assim, para que seja um instrumento recíproco
entre indivíduos e empresas, é necessário que às responsabilidades
atribuídas aos funcionários correspondam responsabilidades da empresa. A
alta direção deve ser a primeira a adotar as práticas éticas, pois se ela
assim o faz, esta é a melhor forma de estimular os outros níveis hierárquicos
a agirem semelhantemente.
Porém, o maior risco na implantação de um código de ética
empresarial é o de se tornar um documento vazio, de palavras e ideias que
não significam nada para seus stakeholders, que não os motivam, que não
fazem parte de seu dia a dia e não se traduzem em ações. Por isso, para
que um código de ética empresarial seja bem sucedido, sua concepção
deve envolver todos os interlocutores com os quais a empresa se relaciona.
É essa cumplicidade e transparência que levará os participantes desse
processo a contribuir e dar vida às intenções presentes na origem do
30
documento.5
O código de ética empresarial também contribui para o fortalecimento
da identidade corporativa perante os diversos públicos estratégicos da
organização, dessa forma fortalecendo também sua imagem. Para um
melhor entendimento, enquanto a imagem é como a organização é
percebida por seus públicos-alvo, a identidade está associada com a forma
por meio da qual a empresa se apresenta a seus públicos.
No âmbito interno, uma identidade corporativa forte envolve os
funcionários e os leva a se identificar e se comprometer com a organização
e seus objetivos. Este comprometimento com a organização, por sua vez,
afeta sua performance, causando também impactos externos positivos. No
âmbito externo, uma identidade corporativa baseada em valores e práticas
consistentes é essencial, uma vez que a organização cujas mensagens e
ações são contraditórias corre o risco de perder sua credibilidade.
A seguir são mencionados riscos e oportunidades inerentes ao
processo de desenvolvimento de um Código de Ética:
1) A adoção de um Código de Ética pela empresa é uma
oportunidade de aumentar a integração entre seus funcionários. Em certas
circunstâncias, um debate aberto, com a finalidade de obter tal formulação,
pode ser muito útil para despertar a consciência das pessoas. (Há o risco de
tais debates serem administrados e transformados em oportunidades: a
empresa cria automaticamente estímulos para a formulação de críticas
internas à sua atuação).
2) Um Código de Ética só pode ser adotado pelas pessoas da
empresa se suas formulações forem equitativas na atribuição de
responsabilidades. Assim, a toda responsabilidade atribuída aos
funcionários deve corresponder à contrapartida, ou seja, uma
responsabilidade por parte da direção da empresa. Um CE não deve ser
5 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Formulação e Implantação
de Código de Ética em Empresas. São Paulo, 2000, p.8.
31
considerado apenas como mais um documento disciplinar ou de gestão de
pessoal. Caso se considere importante que os funcionários subscrevam
formalmente esse documento como condição de emprego, é preciso que,
em contrapartida, a empresa assuma compromissos igualmente formais e
coerentes com as exigências.
3) É recomendável que um Código de Ética exprima sempre as ideias
de forma clara e simples. Por exemplo: “Nesta empresa não pagamos nem
recebemos propinas”. Quanto mais complicada a formulação, mais estará
sujeita a interpretações pessoais.
4) Quanto maior a empresa e quanto mais complexa a cadeia
produtiva na qual se insere, mais relevantes, sob o ponto de vista ético, são
os relacionamentos com seus fornecedores. É possível ocorrer casos em
que seja importante que fornecedores adotem pontos do Código de Ética
como condição para a manutenção do fornecimento. Por exemplo: “Só
trabalhamos com fornecedores que respeitam o meio ambiente” ou “Só
trabalhamos com fornecedores que não exploram a mão-de-obra infantil”.
5) Determinados setores exercem atividades que apresentam risco de
exploração direta ou indireta do trabalho escravo ou infantil. Nesse caso,
recomenda-se que no Código de Ética de tais empresas conste uma
proibição relacionada a esse aspecto.
3.3. Conteúdo do Código de Ética Empresarial
Os temas que compõem os códigos de ética empresarial levam
a organização à reflexão e definição de diretrizes. Tais códigos podem
abordar uma série grande e diversificada de questões bem como
aprofundar-se no relacionamento com um ou outro público estratégico,
de acordo com as necessidades de cada organização e
particularidades do negócio. No entanto, podemos destacar algumas
questões básicas, como as relativas a:
32
O respeito aos acionistas minoritários
Em muitas empresas, e não apenas nas de capital aberto,
acionistas majoritários convivem com minoritários. A estrutura
societária, baseada no voto por ação, em geral confere aos acionistas
majoritários o poder de controlar o negócio. Isto é fonte de
desequilíbrios e de conflitos potenciais com os participantes
minoritários e, portanto, dá origem a problemas de natureza ética. Sem
dúvida, as prerrogativas de que os majoritários são investidos conferem
legitimidade incontestável a seus atos administrativos. São nas
decisões estratégicas que os dilemas éticos podem se apresentar.
Assim, por exemplo, a decisão de investir pesadamente num
novo setor tem consequências diretas, e às vezes decisivas, sobre o
capital de todos os acionistas, sejam minoritários ou majoritários. Por
isso, mesmo que se considere que a votação da questão em
assembleia de acionistas seja uma formalidade predefinida pela
distribuição dos votos, existe a necessidade ética de discuti-la
abertamente, com a vantagem adicional de que argumentos emitidos
por acionistas minoritários podem muito bem vir a acrescentar
subsídios importantes, levando até a uma reformulação da estratégia
proposta.
O território mais sensível à violações éticas é, naturalmente,
aquele que diz respeito às porcentagens de participação dos
acionistas. A imprensa às vezes noticia ocorrências em que, por meio
de operações de aquisição e fusão, acionistas majoritários reduzem
unilateralmente a porcentagem de participação de minoritários.
Entende-se por governança corporativa a maneira com que a
empresa procura equilibrar a relação entre os acionistas majoritários e
minoritários, o conselho de administração (eleito pelos acionistas) e os
executivos (selecionados pelo conselho). Trata-se de uma potencial
fonte de conflitos éticos entre diretoria e acionistas, quando, por
exemplo, divulgam-se dados e relatórios otimistas, maquiando a
33
verdadeira realidade da empresa. É importante elaborar regras que
protejam o acionista minoritário desse tipo de artifício, usado muitas
vezes para atrair recursos e capitais. Ainda que a legislação apresente
brechas gerando possibilidade de desigualdades de poder entre os
sócios, o conceito ético é que deve balizar as relações societárias,
visando conquistar a confiança a médias e longo prazo.
Relações com funcionários
Para a presente finalidade importa ressaltar o recrutamento e
seleção, as relações de trabalho, avaliação e promoção.
Recrutamento e seleção – valorização da diversidade
Ao selecionar um candidato para desempenhar uma função, a
empresa busca encontrar a solução mais eficiente possível, ou seja,
contratar o profissional que ocupará a posição com máxima
produtividade. Portanto, quaisquer considerações que extrapolem esse
fim devem ser desestimuladas. As quais considerações isso se refere?
Em primeiro lugar, aos diversos preconceitos que as pessoas
alimentam: cor, raça, credo religioso, sexo, idade, preferência sexual
etc. A sociedade como um todo condena a discriminação nesses
terrenos, e espera-se que toda empresa também a condene
internamente. Mas existem outras discriminações que podem ser tão
prejudiciais às pessoas – e à empresa – quanto as mencionadas
anteriormente. Por exemplo, o modo como os indivíduos falam ou se
vestem. Evidentemente, a urbanidade é característica desejável nas
pessoas. Contudo, convém refletir se o interesse da empresa
contratante é adequadamente atendido quando a seleção dá peso
demasiado a essas peculiaridades. O recrutamento também pode ser
um excelente momento para se avaliar o perfil ético do candidato,
fortalecendo ao longo dos anos o que se pretende implantar na
empresa em termos de valores e posturas.
34
Preconceitos de classe muitas vezes interferem no respeito
profissional devido às pessoas. Tais preconceitos não cabem no
ambiente de trabalho, pois sua manifestação significa, em termos
objetivos, que a função exercida é considerada não importante. E um
profissional, ao se conscientizar dessa situação, percebendo que os
colegas de trabalho desprezam sua atividade, acaba ficando
desmotivado para o desempenho do seu papel.
Relações hierárquicas
Em princípio, o motivo da presença de um indivíduo numa
empresa se deve à sua capacidade de desempenhar determinado
conjunto de funções. Não importando o nível hierárquico no qual ele se
situa se é funcionário da empresa, isto acontece porque é útil, e o papel
da alta direção reside em gerir os compromissos da organização. É
claro que, como peça de um todo, o desempenho de um profissional
será tanto mais eficiente quanto mais for respeitado em suas funções.
É oportuno lembrar que uma pessoa é muito mais do que a sua
posição funcional, não se constituindo propriedade da empresa,
geralmente confundindo-se equivocadamente com o produto do seu
trabalho, este sim patrimônio da empresa.
O relacionamento entre chefes e subordinados é também
território sujeito a violações éticas e fonte potencial de ineficiências
para a empresa. O princípio da chefia, essencial para o bom
funcionamento de qualquer estrutura organizada, não pode ser
confundido com um pretenso direito à arbitrariedade. Pessoas vítimas
de arbitrariedades se acostumam a tomá-las como naturais e passam a
replicar o comportamento.
Privacidade
Da empresa em relação ao funcionário: as empresas contam,
hoje, com equipamentos e softwares capazes de controlar
35
completamente todas as interações eletrônicas de seus funcionários.
Algumas organizações têm usado esses instrumentos para gravar
conversas telefônicas e interceptar e-mails de seus empregados. Trata-
se de intrusão na vida privada das pessoas, sendo esses atos
justificados por meio da alegação de que, enquanto no ambiente de
trabalho, suas interações seriam assunto do empregador. Tal
argumento traz embutida a proposição de que os indivíduos não teriam
direito à existência privada durante as horas que dedicam ao trabalho.
Esse tipo de cerceamento não foi considerado eticamente aceitável em
nenhuma época histórica. E isso não porque a questão não tivesse sido
levantada, mas porque sempre se considerou que a vida privada é um
direito fundamental do ser humano, não condicionado a certos horários
do dia. Resumindo, a interceptação de e-mails e conversas telefônicas
configura uma grave violação ética.
Do funcionário em relação à empresa: diversas empresas
explicitam prévia e claramente os conteúdos de cunho confidencial e
restritos a determinadas áreas ou profissionais, ficando mais fácil para
o funcionário saber o que pode ou não ser reproduzido e divulgado.
Em função da concorrência e espionagem empresarial, muitos
documentos, arquivos e projetos são de uso exclusivamente restrito ao
âmbito da organização, em virtude dos danos que causariam se
chegassem às mãos de concorrentes ou da imprensa. Sigilo,
confidencialidade e preservação do bom nome da instituição e dos
colegas de trabalho são atitudes esperadas em ambientes de trabalho
e mais facilmente conquistadas quando se abrem espaços para
diálogos e mútuos feedbacks entre os profissionais nas relações
horizontais e verticais da estrutura organizacional.
Avaliação e promoção
De forma geral, as empresas reconhecem que um plano de
carreira explícito, respaldado por avaliações de desempenho realizadas
periodicamente a partir de fatores mensuráveis, é uma boa política de
36
valorização profissional. O funcionário deve conhecer com antecipação
como será avaliado e que suas condutas e decisões éticas, tanto no
meio interno quanto externo, também serão objetos de consideração.
O tema tem grande relevância para a questão ética, uma vez
que lida diretamente com os processos de recompensa vigentes no
âmbito da empresa. Considerando o interesse empresarial, se a
recompensa das pessoas decorre de seu bom desempenho
profissional e da produção do seu trabalho, elas tenderão a se respeitar
mais, buscando continuamente e com mais afinco o aperfeiçoamento
de suas capacitações. Se, ao contrário, os sistemas de avaliação e os
critérios de promoção passam por territórios nebulosos ou
personalistas, isto estabelece um clima de descrédito, de hiper
valorização de aspectos superficiais, de dissimulação, o que é
prejudicial tanto para o funcionário quanto para a empresa.
Demissão
As demissões em grande escala acontecem quando há
necessidade de se lidar com aspectos como: redução de custos
aumento de produtividade, incorporação de novas tecnologias,
centralização de serviços, downsizing e terceirização. No fundo, está
presente a maximização do lucro, seja pelo aumento de receita ou pela
redução de despesas e, em determinadas circunstâncias, até mesmo a
sobrevivência da empresa. Sempre que se pensa em redução de
despesas, a tendência natural é enfocar a folha de pagamentos,
normalmente responsável por grandes custos e onde a ação pode ser
mais fácil e trazer resultados significativos em curto prazo.
No entanto, existem outras atitudes que podem reduzir os
custos antes de buscar eliminar postos de trabalho. É bom lembrar que
sempre se podem envolver os funcionários nesse processo,
consultando-os para que opinem sobre onde se podem cortar custos.
Outro recurso é procurar realocações internas, aproveitando os
investimentos já realizados nos profissionais da empresa em vez de
37
buscar novos profissionais no mercado. Caso a empresa conclua que
as demissões são inevitáveis, alguns cuidados são importantes para
que a responsabilidade social e ética da organização esteja servindo de
base nesse processo, como, por exemplo, a situação do funcionário,
seja ele temporário ou efetivo, seus anos dedicados à empresa,
condição de ser chefe de família, época de festividades religiosas etc.
O feedback pessoal e confidencial é uma das atitudes fundamentais
para posicionar os acertos e desacertos do funcionário, além de
permitir contextualizá-lo quanto ao desempenho ao longo do tempo
dedicado à organização. Os funcionários devem ser tratados com
dignidade, e sua empregabilidade tratada como um complemento do
processo demissionário.
Relações com clientes
A relação da empresa com seus clientes é afetada por uma
tensão fundamental entre dois conjuntos de expectativas conflitantes. O
objetivo da empresa é a maximização do lucro; o do cliente é obter o
melhor produto ou serviço pelo menor preço. Conforme a teoria
econômica clássica, tal tensão é resolvida pelos mecanismos de
mercado.
Contudo, entre o modelo econômico do mercado perfeito e as
práticas do mercado real existe uma considerável distância. Múltiplos
fatores interferem na eficiência do mercado. Produtos de qualidade
inferior, ou que não atendem integralmente às normas técnicas, podem
ganhar a preferência da clientela em virtude de estratégias de
propaganda e de comercialização sem a correta discriminação dos
consumidores.
Toda empresa tem, em princípio, a obrigação ética de fornecer
bens e serviços produzidos conforme as especificações técnicas e
legislações pertinentes, mesmo que o consumidor não tenha condições
de proceder à verificação. Para isso existem os órgãos fiscalizadores,
técnicos e normativos.
38
É evidente que práticas comerciais coercitivas e desleais,
abuso de poder em situações conjunturais, privilegiadas na relação
empresa-consumidor final, são eticamente condenáveis.
Juntamente com a imposição da venda casada e práticas de
cartel constituem violações ao próprio mercado, sendo, por isso, objeto
de legislação específica no terreno do direito econômico.
A tensão fundamental do sistema de livre mercado se manifesta
claramente aqui: toda empresa busca ampliar seu mercado e deslocar
seus concorrentes. Isto dá origem a dilemas éticos que só podem ser
resolvidos caso a caso.
Um papel importante cabe à propaganda. Violações éticas
flagrantes são cometidas quando da veiculação da chamada
propaganda enganosa, isto é, publicidade que afirma falsidades a
respeito do produto anunciado. Existem também propagandas abusivas
que discriminam ou denigrem gêneros, raças ou culturas. Dada a
abrangência e o alcance, as estratégias de marketing e de
comunicação merecem uma atenção ética constante. Um exemplo
positivo pode ser útil para demonstrar como esses desafios
transformam-se em oportunidades. No ramo da informática, é comum
que os materiais de marketing mencionem explicitamente aquilo que os
produtos não fazem. Essa prática tem o objetivo de minimizar os custos
de devolução de produtos adquiridos por engano e de reduzir a
vulnerabilidade das empresas a ações indenizatórias.
Independentemente disso, o resultado é um público mais bem
informado. Portanto, nessas circunstâncias, o comportamento das
empresas anunciantes é eticamente adequado. Movimentos
preventivos por parte das empresas podem resultar em
comportamentos eticamente melhores.
Relações com fornecedores
A relação de uma empresa com seus fornecedores é permeada
por situações de natureza ética. As constantes negociações com
39
fornecedores levam, inevitavelmente, a situações de conflito, originadas
por circunstâncias que ocorrem de forma natural: mal-entendidos no
que diz respeito a quantidades, prazos, especificações, formas de
pagamento, incorreção de notas fiscais etc. O modo como tais conflitos
são resolvidos reflete a atitude ética da empresa.
Caso eles sejam abordados a partir do pressuposto de que a
empresa está sempre certa e os outros sempre errados, não se estará
agindo eticamente, pelo simples motivo de que isso pode não ser
verdade.
Existem também situações de profundo desequilíbrio de poder
entre empresas e fornecedores, particularmente no caso de micro,
pequeno e médio portes, relegando-os a posições extremamente
vulneráveis e desvantajosas frente às arbitrariedades comerciais
impostas e abuso de poder por parte da empresa-cliente ou da parte
que detiver, em última instância, maior poder econômico e/ou político.
Na conjuntura atual de contratação de empresas terceirizadas devem
ser observadas regras de respeito ao fornecedor e seus funcionários,
para restringir as discriminações no tratamento de pessoal terceirizado
e daqueles com vínculo empregatício. Deve-se observar que a principal
consequência de um comportamento conflituoso com os fornecedores
é a geração de expectativas desfavoráveis e a incitação de atitudes de
desconfiança, nenhuma das quais trabalha em benefício da empresa.
O cumprimento de obrigações contratuais, em especial aquelas
relativas a pagamentos, sinaliza o comportamento ético da empresa.
Relações com concorrentes
A convivência entre as empresas concorrentes tem se
caracterizado pela utilização de técnicas sofisticadas e belicosas ou,
por outro lado, formação de cartéis e composição de interesses
comerciais desfavoráveis em relação aos clientes e consumidores
finais.
A relação ética com o concorrente pressupõe que a
40
competência e a qualidade dos produtos e serviços sejam vetores
soberanos para influenciar o mercado. Práticas de difamação,
disseminação de inverdades e maledicências, sabotagens, espionagem
industrial, contratação de funcionários de concorrentes para obtenção
de informações privilegiadas, roubo de documentos e outros atos
ilícitos e antiéticos têm sido registrados, caracterizando crime e
concorrência desleal.
Algumas empresas chegam ao extremo de proibir que seus
funcionários utilizem produtos ou serviços dos concorrentes, cerceando
lhes o livre-arbítrio na condição de consumidores, entendendo como
deslealdade o não atendimento a essas proibições. A abordagem de
funcionários de concorrentes para efeitos de contratação deve ocorrer
de forma profissional e de acordo com os trâmites aceitos pelo
mercado, visando resultados benéficos para todas as partes
envolvidas, e não como alternativa de captação escusa e oportunista
de informações privilegiadas de concorrentes ou para
enfraquecimento/destruição do concorrente.
Relações com a esfera pública
Toda empresa é sujeita a pagamento de impostos e
fiscalização por parte de órgãos públicos. Aqui residem as mais
notórias oportunidades de violação de princípios éticos. Como o
assunto é tema de debates constantes, e escândalos de grande
amplitude quanto a propinas e corrupção chegam ao conhecimento
público, seria ocioso estender- se sobre ele.
Da mesma forma, empresas são colocadas em contato com o
mundo da política e da administração pública. Programas tecnológicos,
financiamentos, licitações, contratos, alíquotas de impostos, subsídios,
incentivos fiscais, regras de importação e exportação, contribuições em
campanhas políticas, tudo isso exige relacionamentos mais ou menos
constantes com órgãos públicos. Na ética dessas relações, cada
transação financeira deve ser cuidadosamente avaliada, e as
41
oportunidades escusas, rejeitadas. A transparência com que as
empresas definem seus critérios de doações para candidatos em
campanhas políticas e a oportunidade de se abrir debates dentro da
empresa para melhor esclarecer a decisão do voto dos funcionários
são comportamentos éticos que conduzem a um estágio de maior
consciência a respeito desse importante evento que celebra o exercício
de cidadania.
Relacionamento com o meio ambiente
Neste particular, o território mais evidente no qual se
apresentam questões éticas é o comportamento das empresas quanto
ao alto potencial de impacto no meio ambiente. O fato de esse impacto
ser benéfico ou não fornece uma medida direta de seu
comprometimento ético com a comunidade local e global. O tema mais
óbvio ligado a isso é a poluição ambiental: poluir o ambiente significa
prejudicar as pessoas, no presente ou no futuro, e no atual estágio de
desenvolvimento tecnológico as empresas contam com várias
alternativas para uma produção limpa. Legislações ambientais
rigorosas e exigências mundiais por processos sustentáveis deverão
pressionar cada vez mais as empresas, forçando-as a retirar ou
restringir seus produtos no mercado mundial.
Outro fator é a utilização sustentável dos recursos naturais,
sejam eles renováveis ou não. O relacionamento com o meio ambiente
não se limita à poluição química ou biológica. Para mencionar um
exemplo entre muitos outros possíveis, uma empresa cuja operação
envolva tráfego intenso de veículos pesados poderá causar danos ao
ambiente urbano circundante caso não se ocupe de minimizar seus
efeitos.
42
Práticas coercitivas à corrupção e propina
A corrupção e o pagamento de propina são atividades
moralmente condenáveis e que contaminam os demais
comportamentos das pessoas que trabalham na empresa. É fácil
entender por quê. Suponha-se que os vendedores de uma empresa
estejam autorizados a pagar propinas aos compradores das empresas
clientes (sem mencionar os esquemas de ida e volta, em que o
vendedor paga propina ao comprador e exige deste uma parcela de
“comissão”). Tal autorização corresponde, objetivamente, a uma
aceitação cultural e consequente absolvição moral. Portanto, como da
transação eticamente aprovada participam duas pessoas, conclui-se
que é considerado moralmente aceitável que compradores aceitem
propinas.
Acontece que esse fato desencadeia uma sequência de
comportamentos similares em outras áreas que esperam a mesma
absolvição: em resumo, a sinalização transmitida pela empresa a seus
funcionários é de que a recepção de propinas não é condenável.
Assim, quem paga propinas deve estar preparado para conviver com o
tráfico interno de gorjetas. Dado que existe uma situação de assimetria
formal, tais práticas só podem ser coibidas por vigilância e repressão,
jamais por convencimento. Tudo isso implica despesas para a
empresa, por vezes de altíssima monta. Quanto maior a empresa, mais
complexos e mais caros são os esquemas de auditoria interna que
precisam vigorar, ininterruptamente. Áreas funcionais precisam ser
criadas para vigiar parte dos funcionários – e as áreas vigilantes, por
sua vez, precisam ser vigiadas. Deve-se notar ainda que o ato de pagar
propinas não pode ser eticamente distinguido do de recebê-las. Um
político que receba benefícios escusos de uma empresa é considerado
corrupto. No entanto, quem efetua o pagamento participa com a
mesma responsabilidade do ato de corrupção.
Diferentemente do que se poderia julgar, a corrupção nas
relações das empresas entre si é tão deletéria para o bem comum
43
quanto a que envolve as esferas governamentais. O fato de essa
corrupção se dar no território privado não minimiza o problema. Ao
contrário, funciona no sentido de disseminar uma cultura privada de
corrupção que, aos poucos, vai contaminando todos os aspectos da
vida. Como a ética não existe pela metade, o resultado é que as
relações entre as pessoas vão se deteriorando, em prejuízo do
ambiente social. As pessoas aprendem a manter as piores expectativas
possíveis em relação a tudo o que as cerca, seja outras pessoas,
empresas ou governo.
É interessante que uma cópia do código de ética seja incluída
no relatório anual da organização. Dessa forma, os acionistas e
também outros públicos que terão acesso ao mesmo poderão conhecer
melhor a posição da organização com relação às questões "éticas".
Algumas empresas consideram importante que os funcionários
assinem um "termo de aderência" ao código de ética e até mesmo
incluem referência ao mesmo nos contratos de trabalho, relacionando-o
a medidas disciplinares. Sob esta óptica, o código não passa de um
instrumento de controle, sem valor agregado. Neste sentido, o código
de ética empresarial se aproxima dos documentos legais e seu caráter
normativo e punitivo só atende aos interesses da organização.
3.4. A implantação de um código de ética empresarial
Como visto, a identificação dos principais valores reais
praticados pela organização é um ponto chave para a implantação de
um código de ética empresarial. Mas tão importante quanto
desenvolver um código de ética empresarial que corresponda aos
valores, princípios e crenças realmente presentes na organização, é
elaborar formas eficazes de implementação, acompanhamento e
revisão.
O acompanhamento do código de ética empresarial é uma das
principais dificuldades encontradas na implantação do mesmo. Ele
requer avaliação e feedback periódicos para mensurar as mudanças no
44
comportamento moral e evitar que ele se transforme em um
instrumento de controle. Além disso, é interessante que haja a
divulgação de ações bem sucedidas do ponto de vista ético para
ressaltar o que a organização considera positivo e esperado nas
práticas e relações empresariais.6
Enquanto algumas instituições encontram na auditoria interna
um meio de identificar desvios de conduta ética, outras já percebem
que a moral organizacional só poderá ser interiorizada quando existir
diálogo, liberdade pessoal e adesão voluntária de cada um. Para as
últimas, a criação de grupos de profissionais encarregados de
encaminhar as questões éticas surgidas dentro ou fora da organização,
promover a discussão e o aconselhamento quanto às questões éticas,
sugerir novas políticas e modificar as existentes é importante para a
implantação eficaz do código de ética empresarial.
6 INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL. Formulação e Implantação
de Código de Ética em Empresas. São Paulo, 2000, p.19.
45
CAPÍTULO IV
CÓDIGO DE ÉTICA E GOVERNANÇA CORPORATIVA
4.1. Definição e Origem de Governança Corporativa
Neste capítulo apresentaremos a definição, estrutura, e como o
código de ética empresarial está intimamente associado a boas
práticas de Governança Corporativa.
A definição que apresentaremos abaixo foi extraída do site do
IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, Fundado em 27
de novembro de 1995, como uma sociedade civil de âmbito nacional,
sem fins lucrativos com o propósito de "ser a principal referência
nacional em governança corporativa; desenvolver e difundir os
melhores conceitos e práticas no Brasil, contribuindo para o melhor
desempenho das organizações e, consequentemente, para uma
sociedade mais justa, responsável e transparente."
Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades
são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre
Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria
Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança
corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar
seu acesso ao capital (oferta pública ou privada de ações,
financiamentos de longo prazo ou a própria reinversão de recursos
oriundos do fluxo de caixa) e contribuir para a sua perenidade.
Na economia capitalista, as empresas que se utilizam do
mercado de capitais possuem um papel primordial criação de
tecnologia, aumento da produtividade e geração de riqueza. O
desenvolvimento dos mercados de capitais, principalmente a partir do
início do século XX, forneceu parte significativa do financiamento
necessário para o crescimento das empresas privadas, propiciando um
ambiente para o surgimento da chamada "grande corporação
46
moderna", na qual o papel de gestor da empresa passou a ser exercido
não necessariamente pelo proprietário. Esta separação de papéis
ocorreu como consequência da pulverização do controle acionário, que
não poderia ser correspondida por uma pulverização semelhante do
poder dentro das empresas. O processo de desenvolvimento dos
mercados de capitais e a consequente pulverização do controle das
empresas foi mais rápido e acentuado nos países que, entre outros
fatores, ofereceram maior proteção legal aos investidores por meio da
existência e garantia de aplicação de um conjunto de leis e regras de
mercado claras.
A separação da propriedade e controle entre acionistas e
gestores por meio da oferta pública de ações, característica marcante
das grandes corporações modernas, fez com que surgisse a
necessidade da criação de mecanismos que alinhassem os interesses
dos gestores aos dos acionistas, a fim de fazer com que os primeiros
procurassem sempre agir no melhor interesse de todos os acionistas,
entendido como a maximização da riqueza a partir do que foi investido.
Como reação à característica acima citada, a governança
corporativa surge para procurar superar o chamado “conflito de
agência”, presente a partir do fenômeno da separação entre a
propriedade e a gestão empresarial. O “principal”, titular da
propriedade, delega ao “agente” o poder de decisão sobre essa
propriedade. A partir daí surgem os chamados conflitos de agência,
pois os interesses daquele que administra a propriedade nem sempre
estão alinhados com os de seu titular. Sob a perspectiva da teoria da
agência, a preocupação maior é criar mecanismos eficientes (sistemas
de monitoramento e incentivos) para garantir que o comportamento dos
executivos esteja alinhado com o interesse dos acionistas.
A boa governança corporativa proporciona aos proprietários
(acionistas ou cotistas) a gestão estratégica de sua empresa e a efetiva
monitoração da direção executiva. As principais ferramentas que
asseguram o controle da propriedade sobre a gestão são o Conselho
de Administração, a Auditoria Independente e o Conselho Fiscal.
47
A empresa que opta pelas boas práticas de governança
corporativa adota como linhas mestras transparência, prestação de
contas (accountability) e equidade. Para que essa tríade esteja
presente em suas diretrizes de governo, é necessário que o Conselho
de Administração, representante dos proprietários do capital (acionistas
ou cotistas), exerça seu papel na organização, que consiste
especialmente em estabelecer estratégias para a empresa, eleger a
Diretoria, fiscalizar e avaliar o desempenho da gestão e escolher a
auditoria independente. No entanto, nem sempre as empresas contam
com conselheiros qualificados para o cargo e que exerçam, de fato, sua
função legal. Essa deficiência tem sido a raiz de grande parte dos
problemas e fracassos nas empresas, na maioria das vezes
decorrentes de abusos de poder (do acionista controlador sobre
minoritários, da Diretoria sobre o acionista e dos administradores sobre
terceiros), erros estratégicos (decorrentes de muito poder concentrado
numa só pessoa, normalmente o executivo principal), ou fraudes (uso
de informação privilegiada em benefício próprio, atuação em conflito de
interesses).
Em resposta a esse cenário, o movimento de governança
corporativa ganhou força nos últimos dez anos, tendo nascido e
crescido, originalmente, nos Estados Unidos e na Inglaterra e, a seguir,
se espalhando por muitos outros países.
No Brasil, os conselheiros profissionais e independentes
começaram a surgir basicamente em resposta à necessidade de atrair
capitais e fontes de financiamento para a atividade empresarial, o que
foi acelerado pelo processo de globalização e pelas privatizações de
empresas estatais no país.
Atualmente, diversos organismos e instituições internacionais
priorizam a governança corporativa, relacionando-a a um ambiente
institucional equilibrado, à política macroeconômica de boa qualidade e,
assim, estimulando sua adoção em nível internacional.
· O G7, grupo das nações mais ricas do mundo considera a
governança corporativa o mais novo pilar da arquitetura econômica
48
global.
· A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) desenvolveu uma lista de Princípios de Governança
Corporativa e promovem periodicamente, em diversos países, mesas
de discussão e avaliação do desenvolvimento da governança. Também
lançou junto com o Banco Mundial, em setembro de 1999, o “Global
Corporate Governance Forum”, com o objetivo de dar abrangência,
importância e visibilidade mundial ao tema.
· Banco Mundial e FMI consideram a adoção de boas práticas
de governança corporativa como parte da recuperação dos mercados
mundiais, abatidos por sucessivas crises em seus mercados de
capitais. Praticamente em todos os países surgiram instituições
dedicadas a promover debates em torno da governança corporativa.
4.2. Princípios Fundamentais de Governança Corporativa
A base ética é fundamental ao desenvolvimento e prática de
boa governança corporativa. Empresa ética possui os ingredientes para
ter boa governança. Os princípios de governança também têm muito a
ver com a ética, entre eles, a transparência, equidade, prestação de
contas (accountability) e responsabilidade corporativa. A seguir
descreveremos tais princípios conforme definição do IBGC:
Transparência
Mais do que "a obrigação de informar", a Administração deve
cultivar o "desejo de informar", sabendo que da boa comunicação
interna e externa, particularmente quando espontânea, franca e rápida,
resultam um clima de confiança, tanto internamente, quanto nas
relações da empresa com terceiros. A comunicação não deve restringir-
se ao desempenho econômico-financeiro, mas deve contemplar
também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação
49
empresarial e que conduzem à criação de valor.
Equidade
Caracteriza-se pelo tratamento justo e igualitário de todos os
grupos minoritários, sejam do capital ou das demais "partes
interessadas" (stakeholders), como colaboradores, clientes,
fornecedores ou credores. Atitudes ou políticas discriminatórias, sob
qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis.
Prestação de contas (Accountability)
Os agentes da governança corporativa devem prestar contas
de sua atuação a quem os elegeu e respondem integralmente por
todos os atos que praticarem no exercício de seus mandatos.
Responsabilidade Corporativa
Conselheiros e executivos devem zelar pela perenidade das
organizações (visão de longo prazo, sustentabilidade) e, portanto,
devem incorporar considerações de ordem social e ambiental na
definição dos negócios e operações. Responsabilidade Corporativa é
uma visão mais ampla da estratégia empresarial, contemplando todos
os relacionamentos com a comunidade em que a sociedade atua. A
"função social" da empresa deve incluir a criação de riquezas e de
oportunidades de emprego, qualificação e diversidade da força de
trabalho, estímulo ao desenvolvimento científico por intermédio de
tecnologia, e melhoria da qualidade de vida por meio de ações
educativas, culturais, assistenciais e de defesa do meio ambiente.
Inclui-se neste princípio a contratação preferencial de recursos
(trabalho e insumos) oferecidos pela própria comunidade.
50
4.3 Códigos das Melhores Práticas de Governança Corporativa
Os agentes de mercado recomendam às empresas a adoção
de algumas práticas para o aprimoramento da governança corporativa.
Essas práticas são descritas em diversos "Códigos das Melhores
Práticas de Governança Corporativa" que, em última instância, visam
criar mecanismos corporativos para harmonizar as relações entre
acionistas e gestores.
Entre os Códigos das Melhores Práticas de Governança
Corporativa podemos citar o emitido pelo IBGC e a “cartilha” emitida
pela CVM sobre recomendações a boas práticas de governança
corporativa.
O objetivo do código elaborado pelo IBGC é de indicar
caminhos para todos os tipos de sociedades – por ações de capital
aberto ou fechado, limitadas ou civis – visando a: aumentar o valor da
sociedade; melhorar seu desempenho; facilitar seu acesso ao capital a
custos mais baixos e contribuir para sua perenidade.
Desde o lançamento do Código, em maio de 1999 – quando a
própria expressão governança corporativa era praticamente
desconhecida no Brasil – os principais modelos e práticas de
governança corporativa passaram por intenso questionamento e houve
uma acentuada evolução do ambiente institucional e empresarial em
nosso país. Em abril de 2001, houve uma primeira revisão, já sob a
influência de avanços legislativos e regulatórios que confirmaram a
importância da governança corporativa. Este código está divido em seis
capítulos:
Propriedade (Sócios): Cada sócio é um dos proprietários da
sociedade, na proporção de sua respectiva participação no capital
social. Esse princípio deve valer para todos os tipos de sociedades e
demais organizações, no que couber.
Conselho de Administração: Independentemente de sua forma
societária e de ser companhia aberta ou fechada, toda sociedade deve
51
ter um Conselho de Administração eleito pelos sócios, sem perder de
vista todas as demais partes interessadas (stakeholders), o objeto
social e a sustentabilidade da sociedade no longo prazo.
Gestão: O executivo principal (CEO) deve prestar contas ao
Conselho de Administração e é o responsável pela execução das
diretrizes por este fixada. Seu dever de lealdade é para com a
sociedade. Cada um dos diretores é pessoalmente responsável pelas
suas atribuições na gestão e deve prestar contas disso ao executivo
principal (CEO) e, sempre que solicitado, ao Conselho de
Administração, aos sócios e demais envolvidos, na presença do
executivo principal (CEO).
Auditoria Independente: Toda sociedade deve ter auditoria
independente, pois se trata de um agente de governança corporativa
de grande importância para todas as partes interessadas, uma vez que
sua atribuição básica é verificar se as demonstrações financeiras
refletem adequadamente a realidade da sociedade.
Conselho Fiscal: O Conselho Fiscal, parte integrante do
sistema de governança das organizações brasileiras, é um órgão não
obrigatório que tem como objetivos fiscalizar os atos da administração,
opinar sobre determinadas questões e dar informações aos sócios.
Deve ser visto como uma das ferramentas que visam agregar valor
para a sociedade, agindo como um controle independente para os
sócios.
Conduta e Conflito de interesses: Dentro do conceito das
melhores práticas de governança corporativa, além do respeito às leis
do país, toda sociedade deve ter um código de conduta que
comprometa administradores e funcionários, elaborados pela Diretoria
de acordo com os princípios e políticas definidos pelo Conselho de
Administração e por este aprovado. O código de conduta deve também
definir responsabilidades sociais e ambientais.
Obviamente não é pretensão de este trabalho esgotar todo o
conteúdo do código apresentado pelo IBGC, o qual é rico de
fundamentos para a efetiva aplicação das boas práticas de governança
52
corporativa no Brasil.
Após descrever o conteúdo básico do Código elaborado pelo
IBGC, é justo que conheçamos um pouco dos objetivos e da estrutura
da “cartilha” proposta pela CVM.
Com a publicação da cartilha, a CVM busca estimular o
desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro por meio da
divulgação de práticas de boa governança corporativa. Seu objetivo é
orientar nas questões que podem influenciar significativamente a
relação entre administradores, conselheiros, auditores independentes,
acionistas controladores e acionistas minoritários. A CVM procurou
adaptar alguns conceitos de governança corporativa internacional às
características próprias da realidade brasileira, notadamente a
predominância de companhias com controle definido.
Esta cartilha está estruturada em capítulos abrangentes
divididos entre os seguintes temas:
Transparência: Assembleias, Estrutura Acionária e
Grupos de Controle;
Estrutura e Responsabilidade do Conselho de
Administração;
Proteção a Acionistas Minoritários;
Auditoria e Demonstrações Financeiras;
Vários países adotam códigos das melhores práticas de
governança corporativa, no Brasil o código utilizado é o elaborado pelo
IBGC.
4.4 Níveis diferenciados de Governança Corporativa – Bovespa
Em consulta ao site da BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo
extraiu-se as informações a seguir.
Implantados em dezembro de 2000 pela Bolsa de Valores de São
53
Paulo – BOVESPA, os Níveis Diferenciados de Governança Corporativa são
segmentos especiais de listagem que foram desenvolvidos com o objetivo
de proporcionar um ambiente de negociação que estimulasse,
simultaneamente, o interesse dos investidores e a valorização das
companhias.
Empresas listadas nesses segmentos oferecem aos seus acionistas
investidores melhorias nas práticas de governança corporativa que ampliam
os direitos societários dos acionistas minoritários e aumentam a
transparência das companhias, com divulgação de maior volume de
informações e de melhor qualidade, facilitando o acompanhamento de sua
performance.
A premissa básica é que a adoção de boas práticas de governança
corporativa pelas companhias confere maior credibilidade ao mercado
acionário e, como consequência, aumenta a confiança e a disposição dos
investidores em adquirirem as suas ações, pagarem um preço melhor por
elas, reduzindo seu custo de captação.
A adesão das Companhias ao Nível 1 ou ao Nível 2 depende do grau
de compromisso assumido e é formalizada por meio de um contrato,
assinado pela BOVESPA, pela Companhia, seus administradores,
conselheiros fiscais e controladores. Ao assinarem o contrato, as partes
acordam em observar o Regulamento de Listagem do segmento específico,
que consolida os requisitos que devem ser atendidos pelas Companhias
listadas naquele segmento, além de, no caso das Companhias Nível 2,
adotar a arbitragem para solução de eventuais conflitos societários.
Companhia Nível 1
As Companhias Nível 1 se comprometem, principalmente, com
melhorias na prestação de informações ao mercado e com a dispersão
acionária. Por exemplo, a companhia aberta listada no Nível 1 tem como
obrigações adicionais à legislação:
54
Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações
Trimestrais (ITRs), disponibilizado ao público e que contém demonstrações
financeiras trimestrais – entre outras: demonstrações financeiras
consolidadas e a demonstração dos fluxos de caixa.
Melhoria nas informações relativas a cada exercício social,
adicionando às Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs)
disponibilizado ao público e que contém demonstrações financeiras anuais
entre outras, a demonstração dos fluxos de caixa.
Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações
Anuais (IANs) entre outras: a quantidade e características dos valores
mobiliários de emissão da companhia detidos pelos grupos de acionistas
controladores, membros do Conselho de Administração, diretores e
membros do Conselho Fiscal, bem como a evolução dessas posições.
Realização de reuniões públicas com analistas e investidores, ao
menos uma vez por ano.
Apresentação de um calendário anual, do qual conste a programação
dos eventos corporativos, tais como assembleias, divulgação de resultados
etc.
Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e
partes relacionadas.
Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores
mobiliários e derivativos de emissão da companhia por parte dos acionistas
controladores.
Companhia Nível 2
As Companhias Nível 2 se comprometem a cumprir as regras
aplicáveis ao Nível 1 e, adicionalmente, um conjunto mais amplo de práticas
de governança relativas aos direitos societários dos acionistas minoritários.
Por exemplo, a companhia aberta listada no Nível 2 tem como obrigações
55
adicionais à legislação:
Divulgação de demonstrações financeiras de acordo com padrões
internacionais IFRS ou US GAAP.
Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e
mandato unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo,
20% (vinte por cento) dos membros deverão ser conselheiros
independentes.
Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, tais
como, transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia e
aprovação de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo
sempre que, por força de disposição legal ou estatutária, sejam deliberados
em assembleia geral.
Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das
mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do
controle da companhia e de, no mínimo, 80% (oitenta por cento) deste valor
para os detentores de ações preferenciais (tag along).
Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em
circulação, no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento
do capital ou cancelamento do registro de negociação neste Nível;
Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de
conflitos societários.
Além de presentes no Regulamento de Listagem, alguns desses
compromissos deverão ser aprovados em Assembleias Gerais e incluídos
no Estatuto Social da companhia.
56
4.5 Sarbanes-Oxley
Em dezembro de 2001, o mundo, ainda abalado pelos atentados
terroristas ocorridos em 11 de setembro, foi surpreendido por outro evento
com proporções globais: a descoberta de manipulações contábeis em uma
das empresas mais conceituadas dos Estados Unidos: a Enron. Essa
descoberta deu início a um efeito dominó, com a constatação de práticas de
manipulação em várias outras empresas, não só norte-americanas, mas no
resto do mundo, resultando em uma crise de confiança em níveis inéditos
desde a quebra da bolsa norte-americana em 1929.
Até mesmo personagens, antes tidas como baluartes da moral norte-
americana, revelaram-se pessoas capazes de manipular informação em
benefício próprio. Gigantes da área de auditoria deram provas de total
ausência de independência com relação aos atos praticados pelas diretorias
das empresas por eles auditadas. A reação do mercado financeiro foi
imediata, as bolsas caíram no mundo inteiro. Empresas de auditoria
perceberam quão rápidas é o processo de decadência e aniquilação de um
negócio de décadas, a partir do momento em que o seu trabalho perde o
nível de confiabilidade necessária.
Órgãos reguladores se viram pressionados a rever suas normas, a fim
de detectar falhas em seus sistemas que não lhes permitira diagnosticar o
problema antes que ele tivesse atingido proporções tão gigantescas.
Neste contexto, uma série de medidas regulatórias foi introduzida ao
longo de 2002, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo, inclusive no
Brasil. Dentre estas medidas, destaca-se a Lei Sarbanes-Oxley, de 30 de
julho de 2002.
O grande objetivo da Lei Sarbanes-Oxley é restaurar o equilíbrio dos
mercados por meio de mecanismos que assegurem a responsabilidade da
alta administração de uma empresa sobre a confiabilidade da informação
por ela fornecida.
57
A princípio acreditava-se que a Lei Sarbanes-Oxley iria atingir apenas
empresas norte-americanas ou empresas estrangeiras que
comercializassem seus papéis no mercado dos Estados Unidos. No entanto,
o que se verifica é um grande interesse nos efeitos desta Lei por parte dos
principais mercados internacionais.
Investidores a apontam como uma grande solução; empresários, no
entanto, preocupados com os altos custos de sua implementação, a
consideram grande demais.
A Lei Sarbanes-Oxley de 2002 reescreveu, literalmente, as regras
para a governança corporativa, relativas à divulgação e à emissão de
relatórios financeiros. Contudo, sob a infinidade de páginas da Lei, repletas
de “legalismos”, reside uma premissa simples: a boa governança corporativa
e as práticas éticas do negócio não são mais requintes – são leis.
Caso as empresas não aprendam a alimentar princípios éticos que
sublimem a busca desmedida por resultados e estabelecer boas práticas de
governança corporativa, não haverá segurança de que novos casos, como o
da Enron e da World Com, não venham a ocorrer no futuro.
58
CONCLUSÃO
Esta pesquisa pôde mostrar que à medida que as empresas
procuram melhorar seus sistemas de responsabilidade social e governança
corporativa, maior atenção tem dedicado ao comportamento ético e às
conseqüências de tal comportamento. A lei americana “Sarbanes-Oxley”
exige que os Comitês de Auditoria se certifiquem que o Código de Ética
esteja sendo aplicado e seguido pelas diretorias executivas das empresas.
A criação dos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa pela
BOVESPA certifica o compromisso das grandes instituições envolvidas no
mercado de ações em assumir valores intimamente ligados a conceitos
éticos. Diversas empresas brasileiras já possuem seus códigos de ética e
conduta e este é o primeiro passo para a implantação de um sistema de
Governança Corporativa fundamentado na identidade cultural de sua
Organização. Como relatado, são muitos os debates a respeito da relação
custo x benefício para implantação de sistemas de controles internos
capazes de certificar grandes empresas como confiáveis e duradouras,
porém é indiscutível o fato de que Códigos de Ética Empresariais bem
formulados e divulgados entre os colaboradores de uma Organização
podem fazer a diferença diante de um mercado cada vez mais competitivo.
Também foi mencionado o compromisso das empresas com a
sociedade, principalmente com seus acionistas minoritários. A empresa que
aplica e divulga seus valores éticos são vislumbradas com mais serenidade
por seus minoritários, evitando turbulências especulativas e onerosas à
organização. Observou-se como os princípios fundamentais das boas
práticas de Governança Corporativa - transparência, equidade, prestação de
contas e responsabilidade corporativa – são conceitos éticos e que devem
ser divulgados nos Códigos de Ética Empresariais das empresas.
Esta pesquisa conclui que não é possível haver Governança
Corporativa sem que a base ética da empresa esteja muito bem estruturada
e divulgada entre seus públicos. Espera-se que o leitor possa ter ampliado a
sua visão quanto a este tema e como público alvo dos grandes
59
conglomerados empresariais, adote uma visão crítica sobre o
posicionamento ético das Organizações que influenciam diretamente na sua
vida social e econômica.
60
BIBLIOGRAFIA
SÁ, Antônio Lopes de. Ética Profissional. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998.
LISBOA, Lázaro Plácido. Ética Geral e Profissional em Contabilidade. 1ª Ed.
São Paulo: Atlas, 1996.
INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL.
Formulação e Implantação de Código de Ética em Empresas. São Paulo, 2000.
SILVA, Marcos Fernandes Gonçalves da. Para que servem os códigos de
ética? Valor Econômico: São Paulo, 22/08/02.
SMITH, Adam. Riqueza das Nações (1776). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1981. Livro IV.
VALQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 17.ed. Rio de Janeiro: 1997.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 2. ed. São Paulo: 1999.
BORGERTH, Vânia Maria da Costa. SOX Entendo a Lei Sarbanes Oxley. 1.
Ed. São Paulo, Thomson Learning Edições: 2006
DURANT, Will. A história da Filosofia. 1. Ed. São Paulo, Nova Cultural: 2000
Pesquisados na Internet
MATOS, Francisco Gomes. Ética empresarial e responsabilidade social. Disponível em: http://www.ceris.org.br/rse/eticaempr.asp Acessado em: 30/09/2006.
Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/ibConteudo.asp?IDArea=3 Acessado em: 23/10/2006.
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Guia para melhorar a Governança Corporativa através de eficazes controles internos. Disponível em:
61
http://www.deloitte.com/dtt/whitepaper/0,1017,sid%253D7173%2526cid%253D
17040,00.html Acessado em: 30/11/2006
Níveis de Governança Corporativa – Conheça os níveis 1 e 2 de Governança Corporativa. Disponível em: http://www.bovespa.com.br/Empresas/NovoMercadoNiveis/cias_niveisdif_intro.
aspAcessado em 01/12/2006
62
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05
METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Aspectos gerais sobre ética 10
1.1. Definição de ética 10
1.2. Diferenças entre Direito, Ética e Moral 12
1.1. O profissional ético 13
CAPÍTULO II
Ética empresarial 16
2.1. Perspectiva histórica 16
2.2. Ética empresarial e seus Públicos 19
2.3. Ética empresarial e responsabilidade social 21
CAPÍTULO III
Código de ética empresarial 25
3.1. Definição de código de ética empresarial 25
3.2. Função do código de ética empresarial 28
3.3. Conteúdo do código de ética empresarial 31
3.4. A implantação de um código de ética empresarial 43
CAPÍTULO IV
Código de ética e governança corporativa 45
4.1. Definição e origem de governança corporativa 45
4.2. Princípios fundamentais de governança corporativa 48
4.3. Códigos das melhores práticas de governança corporativa 50
4.4. Níveis diferenciados de governança corporativa - Bovespa 52
4.5. Sarbanes - Oxley 56
CONCLUSÃO 58 BIBLIOGRAFIA 60