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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU DESENVOLVENDO O GOSTO PELA LEITURA Por: Divina Eterna de Souza Castilho Orientadora: Profª. Fabiana Muniz Goiânia – GO 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

DESENVOLVENDO O GOSTO PELA LEITURA

Por: Divina Eterna de Souza Castilho

Orientadora: Profª. Fabiana Muniz

Goiânia – GO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

DESENVOLVENDO O GOSTO PELA LEITURA

Por: Divina Eterna de Souza Castilho Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Institucional. Orientadora: Profª. Fabiana Muniz

Goiânia – GO 2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me conceder mais

essa vitória e aos professores do curso,

por terem proporcionado subsídios ao

meu crescimento profissional.

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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus pais e ao

meu marido, pelo apoio e incentivo, e às

minhas filhas, razão do meu existir.

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RESUMO

Esta pesquisa foi realizada visando analisar como as escolas lidam com a

responsabilidade de formar cidadãos pensantes e atuantes na sociedade em que

vivem. A leitura é de suma importância para o aprendizado, pois este é adquirido

através de métodos e técnicas bem estruturadas que levem o leitor ao conhecimento

científico e a possibilidade de reflexão. É também uma das maiores potências do

vocabulário e expressão envolvendo e informando o leitor com idéias as quais lhe

darão enfoques abrangentes para o crescimento cultural do qual depende o seu

progresso na vida.

Assim, a leitura trabalhada na escola, não deve ser apenas um

instrumento de alfabetização, mas sim suporte para que, ao vivenciá-la, o indivíduo

tenha um senso crítico aguçado, de modo a torná-lo sensível às questões do

cotidiano. Sendo assim, a psicopedagogia exerce grande importância no que se

refere ao aprendizado e à prática da leitura, pois quando o professor proporciona a

seus alunos esse tipo de atividade, deve ter em mente alguns métodos para que

haja uma prevenção a possíveis dificuldades que possam surgir. Por isso, a

presença de um psicopedagogo na escola pode ser bastante útil, pois esse

profissional pode orientar o professor a adotar determinados procedimentos que

venham auxiliar os alunos da melhor forma possível para que s tornem leitores

críticos, participativos e sobretudo que gostem do ato de ler.

Fazendo isso, certamente a sociedade se verá repleta de pessoas

capazes de interpretação, ou seja, os cidadãos estarão aptos a exercerem

plenamente sua cidadania.

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METODOLOGIA

A metodologia usada para a realização deste trabalho constitui-se

inicialmente de uma extensa pesquisa bibliográfica com o objetivo de determinar o

que existe na literatura em relação ao desenvolvimento do hábito da leitura.

Como parte do trabalho de pesquisa, aconteceu um diálogo informal com

a professora Aparecida Santos para uma observação e análise de como ocorre o

desenvolvimento da leitura entre os alunos. Esta forneceu dados e materiais para a

complementação da parte teórica de pesquisa.

Os principais autores que foram utilizados para a realização deste

trabalho foram Maria Helena Martins (1994), com o livro O que é Leitura, e Iser

Wolfang (1996), com seu livro, O ato da leitura.

Além desses autores, foram pesquisados artigos, revistas, sites e demais

autores que se dedicam ao tema abordado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 07

CAPÍTULO I - APRENDENDO A LER: COMO E QUANDO OCORRE?............. 10

1.1 Os níveis de leitura e a relação que estabelecem entre si ............................ 15

CAPÍTULO II - LEITURA E COMPREENSÃO..................................................... 22

CAPÍTULO III - O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE BONS

LEITORES................................................................................

30

3.1 – Práticas de leitura no cotidiano da escola................................................... 34

3.2 – Dificuldades de leitura sob o enfoque psicopedagógico............................. 38

CONCLUSÃO....................................................................................................... 42

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 46

ANEXOS............................................................................................................... 51

ANEXO I – Pesquisa na Internet.......................................................................... 52

ANEXO II – Entrevista.......................................................................................... 54

ANEXO III – Reportagem..................................................................................... 58

ANEXO IV - Conteúdo de Revistas sobre Leitura................................................ 59

ÍNDICE................................................................................................................. 61

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INTRODUÇÃO

A formação de leitores críticos e participativos na sociedade em que

vivemos é uma tarefa bastante difícil que as escolas vem enfrentando atualmente.

Se em seu convívio familiar, o indivíduo possui um bom estímulo à leitura,

isto será um excelente início para a sua condição de leitor. Um ambiente em que o

filho vê os pais lendo e comentando a leitura de jornais e revistas, por exemplo,

infelizmente não é a cultua dominante em nossa sociedade. Assim, a maioria de

nossos jovens são pessoas que não possuem o hábito de ler.

A leitura deve ser considerada uma atividade de construção dos sentidos

de um discurso do eu com o outro. O ato de ler não pode ser visto simplesmente

como uma atividade receptiva. A sua compreensão está ligada a significações e à

força que elas assumem no uso comunicativo. Do ponto de vista do ensino, a leitura

passa a ser mais do que a reconstrução do significado de um texto, ou seja, ler

passa a ser visto como processo de reconstrução de significados que interligam um

texto ao conhecimento e às experiências anteriores, à atenção e ao propósito e às

expectativas dos educandos. Tal habilidade não estará somente ligada às

estratégias cognitivas individuais dos educandos, mas ao compromisso social dessa

prática. Pois, cada ser humano, estudante ou não, trás para o ato de ler sua

bagagem existencial e social.

Refletir como o ato de ler pode-se constituir um meio de apreensão da

realidade, da formação, da compreensão, do desvelamento e da (re) construção do

conhecimento, própria ao educando, que amplia sua visão de mundo a partir da

apropriação deste ato de leitura. Essa reflexão aliada a um trabalho interdisciplinar

de incentivo constante contribui para o crescimento do educando enquanto ser

humano comprometido com a transformação social.

O presente trabalho teve como objetivo, investigar como se vem dando a

prática da leitura nas escolas, pois é sabido que as tecnologias do mundo moderno

fizeram com que as pessoas deixassem os livros de lado havendo cada vez mais

desinteresse pelo ato de ler.

A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano porque é

através dela que se obtém o conhecimento, dinamizando o raciocínio e a

interpretação.

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A maioria dos problemas de aprendizagem está intimamente relacionada

com a prática da leitura, por ser ela a responsável pela capacidade de interpretação

do indivíduo.

O hábito de ler deve ser estimulado na infância para que a pessoa

aprenda desde pequena que ler é muito importante e pode ser bastante prazeroso.

Assim, certamente a criança que for condicionada à prática de leitura, será um

adulto culto, dinâmico e perspicaz.

Desta forma, a escola não pode perder a chance de fazer de seus alunos,

leitores, já nas primeiras séries de escolarização. Esta é a tarefa essencial e básica

para o professor.

Portanto o trabalho de leitura na escola deve começar pelo professor,

para que amplie seus conhecimentos e cultive o gosto pela leitura e pelas atividades

com livros de leitura.

O interesse pala leitura nasce da prática e da relação que seu conteúdo

tem com os interesses pessoais.

Na verdade, o prazer de ler se estabelece quando a relação livro/leitor

adquire significado para sua vida, atende a seus interesses, fala de suas crenças,

seus prazeres e sua escala de valores. Tudo isto leva à aproximação livro/leitor e,

quanto mais significativa for esta aproximação, maior será o prazer de ler; fator

decisivo para a formação do leitor.

Saber ler tornou-se, pois, condição indispensável para o acesso a

qualquer área do conhecimento e, mais ainda, à própria vida do ser humano, uma

vez que a leitura apresenta função utilitária e transformadora da sociedade. O

acesso ao aprendizado da leitura apresenta-se como um dos múltiplos desafios da

escola e, talvez como o mais valorizado e exigido pela sociedade.

Sendo assim precisam-se oportunizar diferentes leituras aos alunos e

assim, estabelecer uma ampla rede de relações de indivíduos que buscam no

universo da leitura o gosto, o aprendizado e a formação de cidadãos pensantes. É

imprescindível que a escola crie diferentes oportunidades para levar os seus alunos

a ler.

Assim, este estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro capitulo

pretendeu-se analisar a forma com que o indivíduo começa a desenvolver sua

leitura. Inicialmente esta se dá através do fascínio com que as crianças sentem com

as coisas maravilhosas que moram dentro do livro.

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A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras:

quando alguém lê, a criança escuta com prazer. Quando isso ocorre, a criança se

interessa por aqueles sinais misteriosos chamados letras e deseja decifrá-los,

compreendê-los, porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que

moram nos livros.

Para que a criança se interesse pelo aprendizado da leitura, é importante

também que lhe sejam apresentados textos significativos, ou seja, que retratem sua

realidade social. Neste capítulo, foi abordado também os níveis de leitura pelos

quais o individuo se depara ao ler.

O segundo capítulo tratou basicamente da importância de se dar sentido

àquilo que se lê. A compreensão e a proficiência na leitura evoluem ao longo do

desenvolvimento da criança e relacionam-se com a compreensão de outras

informações que a criança obtém através de outros sistemas de comunicação, além

da escrita. A compreensão da informação lingüística depende do desenvolvimento

das capacidades cognitivas para selecionar, processar, organizar informações; mas

depende igualmente do nível de conhecimento prévio em relação à língua e aos

conteúdos abordados no texto.

No terceiro e último capítulo, procurou-se abordar a forma com que os

professores devem proce3der para que seus alunos adquiram o gosto pela leitura,

por meio de atividades de incentivo ao hábito de ler.

Enfocou também, a importância que a psicopedagogia exerce na

prevenção a determinados problemas referentes ao aprendizado da leitura e à

compreensão da mesma.

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CAPÍTULO I

APRENDENDO A LER: COMO E QUANDO OCORRE?

Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta é uma opção. É tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem com seu corpo. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida, é esperar alguma coisa. É um sinal de vida, um apelo, ocasião de amar sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece sob re o prazer. (BELLENGER, Lionel, 1979, p. 17).

Sendo um tipo específico de comunicação, a leitura é uma forma de

encontro entre o homem e a realidade sociocultural; é também uma forma de

encontro do homem consigo mesmo, pois através da leitura podemos ampliar nosso

conhecimento sobre nós mesmos.

O ato de ler é um aprendizado bastante natural, porém muito exigente e

complexo. É fragmentado, e ao mesmo tempo, constante em nossa vida.

Segundo Freire (1990) “ninguém educa ninguém, como tampouco

ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, midiatizados

pelo mundo”. Assim, percebe-se que ninguém ensina ninguém a ler.

Segundo Martins (1994) certamente aprendemos a ler a partir do nosso

contexto pessoal, e temos que valorizá-lo para poder ir além dele. “a LEITURA DE

MUNDO – a primeira com a qual nos deparamos – é particular a cada indivíduo de

acordo com sua vivência”. (leituras, 2006, P. 23).

Para Calvino (2000) a primeira leitura que se faz de qualquer texto é a

sensorial, isto é, o leitor, ao ver-se frente a uma produção escrita projeta sobre ela

todo o seu emocional. Esta visão de leitura encara o ato de ler como um processo

dinâmico, uma vez que o objetivo é a formação de um leitor crítico e criativo.

A primeira literatura provavelmente consistia em mitos que tentavam explicar a natureza do mundo e do homem: era uma literatura através da qual o homem tentava entender a si mesmo. A partir dos mitos desenvolveu-se a poesia, e mais tarde a ciência, as fontes das ‘duas culturas’ que ainda são as duas avenidas para a compreensão de nós mesmos do mundo. Se desejarmos abrir o mundo da plena alfabetização às nossas crianças, aquilo que elas devem ler deve desde o início ajudar a compreender a si próprias e ao seu mundo. As suas cartilhas devem conter somente trechos que tenham significado e mérito literário ao mesmo tempo. A partir desses livros textos – particularmente quando nós respeitamos a maneira como querem lê-los – as crianças serão capazes de aprender a ler

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sozinhas, desfrutarão seu progresso de toda a vida em direção a uma alfabetização sempre e cada vez mais plena de sentido. (BETTELHEM, 1984. p. 34)

Observa-se que Bettelheim atribuiu à escola um papel muito importante

no que diz respeito ao ato de ler. Às crianças devem ser dados textos significativos,

ou seja, aquilo que elas lerem desde o início deve ajudá-las a compreender a si

próprias e ao seu mundo. Assim, conclui-se que aprendemos a ler a partir do nosso

contexto pessoal.

Será que basta decifrar palavras para ocorrer a leitura? Ao entrar na

escola, a criança, independentemente do domínio da palavra escrita, já é capaz de

falar sobre suas experiências e sobre o mundo que a rodeia.

Essa expressão é a manifestação de uma leitura da realidade que ela já

faz e continuará fazendo dentro e fora da escola.

Assim, segundo Arroyo (1996) “é preciso alargar nossa visão de como as

pessoas se educam e aprendem também fora da escola. Há uma pedagogia além

da nossa pedagogia” (p. 11).

É possibilitando que a criança compare, observe, questione o mundo, o

meio através do concreto, que ela se tornará uma pessoa capaz de ver além das

superfícies lisas e quase sempre incoerentes.

Para propiciar essa leitura, é preciso transformar a escola e a sala de aula

num ambiente estimulador das mais variadas situações, o que irá permitir que as

crianças manifestem a leitura que fazem do real, ou seja, manifestem livremente a

compreensão e o questionamento que fazem a partir dessa leitura.

Segundo Rebello (1993) “ler é compreender a linguagem escrita e reagir a

ela – no sentido de compreender, tanto de modo literal como interpretativo”. (p. 25).

Weiss (1983) vê a aprendizagem da leitura em três estágios de

aprendizagem, os quais, segundo o autor, se dividem num primeiro estágio que vai

dos 2 aos 5-6 anos, um segundo estágio que se inicia por volta dos 6-7anos, e um

terceiro estágio por volta dos 7 anos de idade.

No primeiro estágio a criança aprende naturalmente com a família e com

o contato com objetos do seu cotidiano.

No segundo estágio a criança começa a relacionar a escrita com o que

ela diz e já no terceiro estágio, a criança começa a ler, identificando o significado de

cada palavra.

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A iniciação da leitura do escrito deve ocorrer através do contato da

criança com pequenos textos de duas ou três frases encadeadas, em que as

palavras são constantemente repetidas. Dessa forma, a criança será alfabetizada.

Alfabetização significa o domínio da leitura e da escrita, mas esse domínio é na

verdade a conclusão de um longo processo.

Para que uma criança seja alfabetizada, é preciso que ela passe antes

por uma série de etapas em seu desenvolvimento, tornando-se então preparada

para a aquisição da leitura e da escrita.

Segundo Aline Simoni (2002) em seu artigo, a pré-escola tem um papel

importantíssimo no preparo da criança para a alfabetização e deve cumpri-lo com

competência.

É o início da formação da criança, é onde ela vai ter o primeiro contato

com o processo de aprendizagem, que será a base para todos os anos escolares.

A ilustração também é um aspecto importante no processo de aquisição

do escrito. Ela deve ocupar um espaço maior ou equivalente ao do texto escrito. As

ilustrações proporcionam a oportunidade da construção de idéias semelhantes ou

não ao texto. Assim, possui uma grande importância na formação de leitores.

A leitura frequente na infância também contribui de forma direta para o

sucesso no processo de aquisição da escrita. (FARIA, 2004).

Dentro dessa perspectivas, as ilustrações são de grande valia para ajudar

a atrair a atenção da criança para o livro ou o texto em si e possivelmente sua

leitura.

Felizmente, no Brasil, o livro infantil apresenta ilustrações da melhor

qualidade, que levam o leitor a uma interpretação paralela do texto. Para os não

leitores, as ilustrações proporcionam a oportunidade da construção de idéias

semelhantes ou não ao texto.

Sem riqueza de idéias não se chega a uma leitura criadora. Aqueles que

não assimilam a leitura ou que ficam apenas por aí, sem chegar à interpretação, ou

ainda os que não adquiriram o hábito de ler, têm no livro ilustrado mais uma porta

para a sua percepção e expressão criadora.

À medida que a criança adquire fluência e velocidade no ato de

decodificação, aumenta a sua possibili8dade de interação com os textos mais

extensos e complexos. Assim, ela não vai somente manipulando com maior

desembaraço o código escrito, pelo contrário, pelo contato com textos escritos

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reveladores de diferentes visões da realidade, como também vai refinando e

especializando sua forma de expressão.

Como é sabido, ler e escrever são tarefas que a sociedade atribui à

escola. Se a criança vive em um contexto que favorece a leitura, sua passagem pela

escola é relativamente tranquila.

Em todas as sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação, de passagem ritualizada para fora de um estado de dependência e comunicação rudimentar. A criança, aprendendo a ler, é admitida na memória comunal por meio de livros, familiarizando-se assim com um passado comum que ela renova, em maior ou menor grau a cada leitura. (MANGUEL, 1997, p. 89-90)

Segundo Allard e Sundblad (1987) o desenvolvimento da leitura tem a ver

com o desenvolvimento da leitura tem a ver com o desenvolvimento lingüístico, para

eles o desenvolvimento da leitura é exatamente como o de falar.

Assim, se a criança provém de um ambiente onde inexiste a prática da

leitura, certamente terá maiores dificuldades em seu aprendizado, cabendo à escola

dar início e continuidade a esse hábito.

Embora seja esse um aspecto relevante do processo de alfabetização,

merecendo atenção especial e sistemática do professor, a leitura não deve restringir-

se ao ato mecânico de reconhecimento / reprodução de palavras e frases, assim

como não deve favorecer uma leitura passiva do texto.

Segundo Kleiman (2002) a criança em fase de alfabetização lê

vagarosamente, mas o que ela está fazendo é decodificar, um processo diferente da

leitura, embora as habilidades necessárias para a decodificação sejam necessárias

para a leitura.

Para a leitora o leitor adulto não decodifica, ela percebe as palavras

globalmente e adivinha muitas outras, guiadas pelo seu conhecimento prévio e suas

hipóteses de leitura.

É a partir do contato com o material escrito (muitas vezes inexistentes em

suas casas), que a criança elabora suas hipóteses sobre o sistema de escrita que

usamos. A tarefa da escola é trazer o mundo da escrita para a sala de aula,

aproveitar ao máximo a experiência de cada criança, sua vivência e conhecimentos.

“Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura, que não

conhecem o valor que possui, é fundamental ver seu professor envolvido com a

leitura e com o que conquista por meio dela. Ver alguém seduzido pelo que faz pode

despertar o desejo de fazer também.” (PCNs, 2001, p. 58).

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A escolha do material para se iniciar as atividades de leitura é de grande

importância. Os textos dever ser selecionados de acordo com os interesses da

criança deve de alguma forma, relacionar-se com as suas vivências, pois só assim

serão significativos para sua aprendizagem.

O sentido de adquirir novos conhecimentos como ler e escrever, deve

estar associado à possibilidade de encontrar prazer em tais atividades.

O processo de descoberta da leitura seduz bastante as crianças. Assim

foi para o grande educador Paulo Freire, como podemos verificar em seu fascinante

depoimento:

Fui alfabetizado no chão do quintal da minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo dos meus pais. O chão foi o meu quadro-giz; gravetos, o meu giz. Por isso é que ao chegar à escolinha particular já estava alfabetizado. A professora Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a leitura do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da palavra-mundo. (FREIRE, 1963, p. 09).

Portanto, para aprender a ler é preciso que o aluno se defronte com os

escritos que utilizaria se soubesse mesmo ler com os textos de verdade. (PCNs,

2001, p. 56).

Segundo Martins (1982) a aprendizagem em geral e a da leitura em

particular significa uma conquista de autônoma, permite a ampliação dos horizontes,

implica igualmente um comprometimento, acarreta alguns riscos.

Para aprender a ler e a escrever é preciso também pensar sobre a

escrita, pensar sobre o que é a escrita e como ela representa graficamente a

linguagem. (PCNs 2001, p. 82).

O que é considerado matéria de leitura na escola, está longe de propiciar aprendizado tão vivo e duradouro (seja de que espécie for) como o desencadeado pelo cotidiano familiar, pelos colegas e amigos, pelas diversões e atribuições diárias, pelas publicações de caráter popular, pelos diversos meios de comunicação de massa, enfim, pelo contexto geral em que os leitores se inserem. Contexto esse permanentemente aberto a inúmeras leituras. (MARTINS, 1982, p. 28)

Percebe-se com isso, que o que é válido para a criança é tudo aquilo que

lhe desperta a atenção e a curiosidade.

Desde o primeiro dia, o desenvolvimento cognitivo da criança se opera

pela inferência do sentido de certos elementos de uma situação fortemente

envolvente.

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Segundo Foucambert (1980) a partir das situações nas quais interage, a

criança cria um sistema provisório que lhe permite antecipar índices pertinentes para

a classificação, a denominação, a ação. Os índices escolhidos para distinguir um

cachorro de um gato, para isolar seu pai de todos os outros homens com bigode,

são operacionais com relação ao seu sistema atual e ao seu projeto. As defasagens,

os fracassos, os conflitos irão levá-lo a ajustar progressivamente esse sistema.

Aos cinco anos de idade, o que a criança sabe fazer melhor e que o

adulto não consiga mais sequer imaginar -0 é criar significados.

No aprendizado da leitura, a decodificação é uma necessidade óbvia,

tarefa que qualquer pessoa alfabetizada pode empreender, pois consiste apenas na

tradução dos sinais gráficos em palavras. A interpretação baseia-se na continuidade

da leitura do mundo, isto é, na apreensão e compreensão das idéias, nas relações

entre o texto e o contexto.

Portanto, ao aprender a ler, a criança adquire a capacidade de se interagir

com aquilo que está no papel e transferindo tudo para sua vivência.

1.1 Os níveis de leitura e a relação que estabelecem entre si

De acordo com Martins (1994) o ato de ler envolve três níveis básicos de

leitura: sensorial, emocional e o racional.

A leitura sensorial se faz através dos órgãos dos sentidos, dá ao leitor a

definição do que gosta ou não no caso de ouvir músicas, ver livros e outros.

Cor, textura, cheiro, etc são características que podem despertar nas

crianças a curiosidade em explorar este objeto, que pode ser lido, através das

emoções, despertando, assim, o interesse em ler, aumentando a capacidade de

comunicação com o mundo.

A leitura sensorial pode ser considerada uma leitura inicial, quando o

interesse do leitor se despertará com as cores, letras, ilustrações trazidas no livro, ou

também na entonação de voz (sons), quando contado uma história e até mesmo

quando cantada uma música por alguém.

Por isso é muito importante explorar esses sentidos na criança que está

aprendendo a ler. Ao fazê-lo, o professor está criando condições para que esta

criança se sinta envolvida e estimulada em manusear um livro, e portanto, querer lê-

lo.

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A leitura lúdica cria a fantasia, as ilusões juntamente com o mágico, o

fantástico que fazem parte da imaginação das crianças. É através desta

sensibilidade que o leitor começará a descobrir, de forma inconsciente, sua

preferência de leitura.

Na leitura sensória, percebe-se que cada pessoa tem uma recepção

diferente sobre determinados fatos. O que para uma pessoa é emocionante, para

outra, pode ser indiferente. Assim, cada pessoa reage de forma diferente a

determinadas situações, seja lendo um livro, vendo imagens ou até ouvindo uma

música ou poesia.

Segundo Goodman (1967) a leitura pode ser entendida como um

processo seletivo, envolvendo a utilização parcial de pistas de linguagem mínimas

disponíveis, selecionadas a partir de “inputs” oriundos da expectativa do leitor. Ele

associa três tipos de memórias, pistas gráficas, imagem perceptual, escolhas

semânticas, decodificação e sentido, o que torna esse modelo bastante complicado.

O autor tenta visualizar a mente do leitor durante o ato de ler, caracterizando a

leitura como um jogo de adivinhação e utilizando a teoria de sistemas para

representar o processo de leitura.

Ler é “percorrer com a vista e interpretar o que está escrito”. (CUNHA,

1996, p. 471). Nessa visão, o foco está no leitor, e, quando falamos em leitura,

sempre nos vem à mente pessoas lendo revistas e jornais, porém o mas comum é

relacionado à leitura de livros. É inevitável não lembrar da relação existente entre

autor e leitões que buscam constituir sentidos para o texto lido a partir de suas

próprias experiências, de seus conhecimentos prévios e sobretudo de suas emoções

frente a determinadas leituras.

A leitura sensorial não se trata de uma leitura elaborada; é simplesmente

uma resposta imediata às exigências e ofertas das coisas que nos rodeiam. Ela

começa muito cedo e nos acompanha por toda a vida.

Com isso, desde bem pequenas, as crianças já são capazes de reagir de

algum modo a tudo aquilo que lhes é apresentado. Por isso é muito importante que

nas séries iniciais, onde a criança se encontra numa fase de formação de sua

personalidade, que o professor contribua para a aquisição de uma auto-imagem

positiva, através de incentivo e elogios. É recomendado, portanto, atitudes que

valorizem a criança como um ser precioso para os que estão a sua volta. Fazendo

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isso, certamente a criança terá mais facilidade em executar suas atividades dentro

da sala de aula e estará mais receptiva a aprender a ler, por exemplo.

Manusear livros pode ser um bom modo de inserir nas crianças a vontade

de tomar conhecimento sobre o que eles guardam.

Assim, os primeiros contatos propiciam à criança a descoberta do livro

como um objeto especial, diferente dos outros brinquedos, mas que pode ser

também uma fonte de prazer. Motivam-na para a concretização maior do ato de ler o

texto escrito, a partir do processo de alfabetização, gerando a promessa de

autonomia para saciar a curiosidade pelo desconhecido e para renovar emoções

vividas.

Para Martins (1994) a leitura sensorial vai possibilitando ao leitor, saber o

que ele gosta ou não, mesmo inconscientemente, sem a necessidade de

racionalizações ou justificativas, apenas porque impressiona a vista, o ouvido, o tato,

o olfato ou a o paladar.

Sob o ponto de vista da cultura letrada, se a leitura sensorial parece menor, superficial pela sua própria natureza, a leitura emocional também tem seu teor de inferioridade: ela lida com os sentimentos, o que necessariamente implicaria falta de objetividade, subjetivismo. No terreno das emoções as coisas ficam ininteligíveis, escapam ao controle do leitor, que se vê envolvido por verdadeiras armadilhas trançadas no seu inconsciente. (MARTINS, 1994, p. 48).

A leitura emocional, portanto, nos leva a participar efetivamente da

realidade de outras pessoas que é a disponibilidade para aceitar o que vem do

mundo exterior. Esse comportamento está presente de forma mais constante, nas

crianças, por serem mais espontâneas e ingênuas.

A leitura emocional possui caráter reflexivo. É expressa através das

manifestações artísticas, como texto literário, música, pintura, fotografia, cinema e

demais formas de expressão. Ela tem o poder de ligar o texto à realidade do leitor, o

unindo às experiências pessoais do indivíduo.

O leitor, quando está em contato com o que está sendo lido, é rodeado

por sentimentos que podem levá-lo para outros tempos e lugares. Com isso, a

imaginação tomará conta desse indivíduo até o final da leitura. Isso pode ter um lado

positivo e outro negativo. Quando a emoção ressalta a necessidade do ser humano

de fugir da realidade em que vive e buscar experiências novas, o leitor vivenciará

este momento de modo prazeroso. Ele com certeza se sentir[á melhor, mar se a

leitura for angustiante, poderá levá-lo à um estado de angústia e inquietação. Neste

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nível a emoção é mais forte que a razão. Assim se confirmam as palavras de

Martins: “(...) na leitura emocional não importa perguntarmos sobre o ser aspecto,

sobre o que um certo texto trata, em que ele consiste, mas sim o que ele faz, o que

provoca em nós”. (MARTINS, 1994, p. 52-53)

É importante não se esquecer que durante o processo de aprendizagem

da leitura e da escrita, é primordial que o professor planeje bem todas as situações a

serem vividas na sala de aula. A alfabetização é um processo de natureza complexa

e está cercada por sentidos diversos e distintos. Cada aluno tem seu tempo para

aprender, para se alfabetizar, o que deve ser respeitado pelo professor. Assim,

aprender a ler, deve ser visto pelas crianças como algo bastante interessante.

O professor deve, constantemente, ler para seus alunos, pois é ouvindo

histórias que a criança imagina, sonha, cria e sente emoções importantes.

Como já foi citado, a leitura desenvolve habilidades e capacidades

intelectuais e afetivas que possibilitam à criança uma vida mais digna e feliz,

ajudando-a a se expressar melhor e a desenvolver idéias com clareza -0

instrumentos básicos para melhorar o mundo à sua volta. É uma relação mágica que

envolve livro e leitor.

Certas pessoas, situações, ambientes, coisas, imagens, cenas, tem o

poder de incitar a fantasia e liberar as emoções das pessoas. E quando estas se

vêem dominadas por elas, é que estão fazendo uma leitura emocional, ligando o que

está escrito com o sentimento que está lhe provocando essa leitura.

Segundo Martins (1994) na leitura emocional emerge a empatia,

tendência de sentir o que se sentiria caso a pessoa estivesse no lugar de outra,

experimentando determinadas situações e circunstâncias, ou seja, na pele de outra

pessoa, ou mesmo de um objeto, animal. Caracteriza-se, pois, um processo de

participação afetiva numa realidade alheia, fora das pessoas.

A criança tende a ter maior disponibilidade que o adulto pelo simples fato

de, em princípio, tudo lhe ser novo e desconhecido e ela precisar conhecer a mais

possível a fim de aprender a conviver com o mundo que a cerca. Assim sendo, não

só é mais receptiva como mais espontânea quanto a manifestar suas emoções.

Quando se chega ao nível da leitura racional, o que fala mais alto é o

intelecto. Esta leitura juntamente com a sensorial e a emocional, fará com que o

leitor tenha uma visão ampla de conhecimentos, a fim de conseguir captar a

essência trazida no texto, bem como o que está nas entrelinhas, tornando-o capaz

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de questionar e argumentar sobre o que foi lido. Assim, é importante que desde

cedo, a criança seja estimulada a compreender o que lê, através de leituras

constantes e atividades que lhe permitam ampliar seus conhecimentos.

“(...) E ela (a leitura) não é importante por ser racional, mas por aquilo que

o seu processo permite, alargando os horizontes de expectativa do leitor e

ampliando as possibilidades de leitura do texto e da própria realidade social

(MARTINS, 1994, p. 66).

Assim, cabe à escola possibilitar a seus alunos a continuidade da leitura

de mundo que eles já possuem. A criança entra na escola, trazendo consigo todo

um universo individual, o qual deve ser motivado, estimulado para que o professor

possa então, introduzir a leitura da palavra escrita.

Para Martins (1994) a leitura ao nível intelectual enfatiza o intelectualismo,

doutrina que afirma a preeminência e anterioridade dos fenômenos intelectuais

sobre os sentimentos e a vontade. Tende a ser unívoca; o leitor se debruça sobre o

texto, pretende vê-lo isolado do contexto e sem envolvimento pessoal, orientando-se

por certas normas preestabelecidas.

Uma leitura racional exige do leitor uma compreensão mais abrangente

do que é lido. Mobilizam as capacidades racionais do leitor, a capacidade de

analisar o texto, separar suas partes, estabelecer relações entre elas e outros textos,

sintetizar as idéias do autor, etc. A leitura racional é baseada em fatos que

geralmente vão constituir a bagagem cultural, possibilitando ao indivíduo o

desenvolvimento crítico, lógico, entre outros. Necessitando da memorização, da

capacidade para ordenar, classificar e destacar o que se julga mais importante para

suas conclusões e aprendizado.

Na leitura racional, estabelece-se um diálogo com o texto, a fim de

compreender seus significados mais profundos. Nesse momento, o professor deve

averiguar a compreensão através de atividades orais, através de perguntas ou de

forma espontânea: os alunos podem colocar questões ao professor, pedir

esclarecimentos, etc. É uma oportunidade dos alunos expressarem não só a

compreensão racional do texto, mas também as emoções que experimentaram ao

lê-lo. Através de atividades de enriquecimento, os alunos podem manifestar sua

visão pessoal do texto.

Segundo Marins (1994) a leitura racional acrescenta à sensorial e à

emocional o fato de estabelecer uma ponte entre leitor e o conhecimento, a reflexão,

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a reordenação do mundo objetivo, possibilitando-lhe, no ato de ler, atribuir

significado ao texto e questionar tanto a própria individualidade como o universo das

relações sociais.

A autora alerta, também, para o cuidado que deve ser tomado para não

confundir o estágio racional com a investigação do texto em seu arcabouço formal.

Ela diz que esse tipo de olhar pode acabar por eliminar a constante dinâmica que se

defende nesse nível, entre leitor, texto e contexto. A falta desses componentes

limitaria consideravelmente a leitura global, fazendo com que a compreensão seja

prejudicada.

Portanto, as crianças devem ser induzidas a utilizar sempre seu

raciocínio, inclusive nas atividades com leitura.

O desenvolvimento do raciocínio está associado a habilidades de

natureza cognitiva. Cognição é o processo através do qual o mundo de significados

tem origem.

Segundo Moreira (1982) quando se fala em aprendizagem segundo o

construto cognitivista, está se encarando a aprendizagem como um processo de

armazenamento de informações, condensação em classes mais genéricas de

conhecimentos, que são incorporados a uma estrutura no cérebro do indivíduo de

modo que esta possa ser manipulada e utilizada no futuro. Assim, a aprendizagem

da leitura e a sua prática, são atividades que exigem bastante do indivíduo.

Nos níveis de leitura apresentados neste capítulo, não há uma hierarquia;

existe uma tendência de a leitura sensorial anteceder a emocional e a esta suceder

a racional, o que se relaciona com o processo de amadurecimento do homem.

Para Martins (1994) são a hi8stória, a experiência e as circunstâncias de

vida de cada leitor no ato de ler, bem como as respostas e questões apresentadas

pelo objeto lido, no decorrer do processo que podem evidenciar certo nível de

leitura, não devendo supor a existência isolada de cada um desses níveis. Talvez há

a prevalência de um ou outro.

Diante disso, cada pessoa terá uma opinião diferente em relação à leitura

e interpretação de um texto, pois cada indivíduo pensa de uma forma, sente, e lida

com suas emoções distintamente. “Assim como há tantas leituras quantos são os

leitores, há também uma nova leitura a cada aproximação do leitor com um mesmo

texto, ainda quanto mínimas as suas variações. Nessas ocasiões talvez ocorram

mudanças de nível.” (MARTINS, 1994, p. 79).

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O que no presente não agrade alguém, pode no futuro, se tornar

emocionante, fazendo mais sentido que antes. Isso é a prova de que, nós seres

humanos, estamos em constante evolução.

À medida que desenvolvemos nossas capacidades sensoriais,

emocionais e racionais também se desenvolvem nossas leituras nesses níveis. A

leitura sensorial tem um tempo de duração e abrange um espaço mais limitado, em

face do meio utilizado para realizá-las – os sentidos.

A leitura emocional é tida através da vivência anterior do leitor, tem um

caráter retrospectivo implícito, se volta para o passado.

A leitura racional tende a ser prospectiva, ou seja, transforma o

conhecimento já existente em um novo conhecimento, desenvolvendo assim, o

discernimento acerca do texto lido.

Essas leituras, se radicalizadas – realizadas sempre de modo isolado umas das outras – apresentariam aspectos altamente questionáveis, enfatizando o imediatismo (sensorial), o conservadorismo (emocional) e o progressismo (racional), (...) Felizmente é pouco provável se efetivarem radicalmente, em função da dinâmica própria do procedimento existencial do homem. Mesmo querente forçar sua natureza com posturas extremistas, o homem lê como em geral vive, num processo permanente de interação entre sensações, emoções e pensamentos (MARTINS, 1994, p. 81).

Para que ocorra uma leitura eficiente, é necessário que haja maturidade

para a sua compreensão, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado

na memória, sem uso.

De uma forma geral, o indivíduo passa por diferentes níveis ou etapas até

ter condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou níveis são

cumulativos e vão sendo adquiridos pela vida, estando presente em praticamente

toda a sua leitura.

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CAPÍTULO II

LEITURA E COMPREENSÃO

Todos consideram que a leitura é um dos meios eficientes de se estimular

o pensamento. Porém para que a criança chegue a isso, é necessário auxiliá-la para

que desenvolva a habilidade de compreender, e depois de questionar o que lê.

Assim, a criança lê com melhor compreensão e interesse quando sabe por que está

lendo.

Muitos aspectos colaboram para a formação da habilidade de

compreender. Mas um dos mais importantes, como já foi frisado no capítulo anterior,

é o que se proponha como leitura à criança, esteja relacionado com suas

experiências e com sua linguagem. É o que se designa de leitura significativa.

“Se o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita,

sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global

do indivíduo, à sua capacitação para o convívio e atuações social, política,

econômica e cultural.” ( MARTINS, 1994, p. 22).

Assim, a leitura deve ser encarada como algo natural e constante no

cotidiano da criança.

Outro aspecto orientador da habilidade de compreender é nortear sempre

a leitura com um objetivo: ler para responder a uma pergunta, ler para retirar a

informação mais importante de um parágrafo, ler para verificar uma opinião, ler para

apreciar um diálogo, ler para observar as atitudes dos personagens.

Segundo Kleiman (2002) a leitura precisa permitir que o leitor aprenda o

sentido do texto não podendo transformar-se em mera decifração de signos

linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos.

O professor, ao orientar a compreensão, nunca deve usar as palavras do

livro ou fazer perguntas que permitam as crianças responderem com um simples

“sim” ou “não”. E sim dirigir o pensamento das crianças à reflexão, associações e,

finalmente, a conclusões.

A leitura não deve ser um ato passivo, pois, “decodificar sem

compreender é inútil. Compreender sem decodificar, impossível”. (MARTINS, 1994,

p.8).

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Isto significa que, ao nos debruçarmos sobre um texto, buscamos

compreender o que o autor tem a nos dizer, pois os signos impressos registram as

diferentes experiências humanas.

O ato de ler é um processo abrangente e complexo; é um processo de

compreensão, de entender o mundo a partir de uma característica particular ao

homem: sua capacidade de interação com o outro através das palavras, que por sua

vez estão sempre submetidas a um contexto.

Segundo Silva (1985) a leitura leva a produção ou construção de um outro

texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera

expressão. Assim, esse tipo de leitura é muito mais do que um simples processo de

apropriação de significado; a leitura crítica deve ser caracterizada como um estudo,

pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser no mundo, dirigido ao outro.

Para Brandão (1997) o leitor se institui no texto em duas instâncias: No

nível programático, o texto enquanto objeto veiculador de uma mensagem está

atento em relação ao seu destinatário, mobilizando estratégias que tornem possíveis

e facilitem a comunicação.

Essa é uma perspectiva que concebe a leitura como um processo de

compreensão amplo, envolvendo aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais,

fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos.

Segundo Martins (1994) o ato de ler é considerado um processo de

entendimento e de expressões formais e simbólicas, através de qualquer linguagem.

Há que se encarar o leitor como atribuidor de significados e, nessa

atribuição, leva-se em conta a interferência da bagagem cultural do receptor sobre o

processo de decodificação e interpretação da mensagem. Assim, ler um texto

implica não só aprender o seu significado, mas também trazer pra esse texto nossa

experiência e nossa visão do mundo.

Segundo Kriegl (2002) quando alguém lê algo, aplica determinado

esquema alternando-o ou confirmando-o, mas principalmente entendendo

mensagens diferentes de seus esquemas cognitivos, ou seja, as capacidades já

internalizadas e o conhecimento de mundo de cada um são diferentes.

O leitor usa, simultaneamente, seu conhecimento do que o cerca e seu

conhecimento de texto para construir uma interpretação sobre o que se lê. Vale

ressaltar que não basta apenas ler, mas é importante analisar, interpretar, conhecer

para agregar valor à atividade ou necessidade que se tem.

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A compreensão da leitura, é uma tentativa de desmistificá-la, por meio de

uma abordagem despretensiosa, mas que permita avaliar aspectos básicos do

processo, dando margem a se conhecer mais propriamente o ato de ler.

A escrita se configura como um meio transmissor de informações, a

leitura se configura como um meio de aquisições de que se passa ao redor do

homem. Ela é, portanto, um ato social.

A leitura ultrapassa o passar dos olhos por algo, vai além do visualizar,

aventurando-se no desconhecido para uma plena compreensão dos sentidos das

coisas. Ler não é fácil, mas cabe à escola, explorar os diferentes tipos de textos que

fazem parte do cotidiano das crianças, tornando a leitura cada vez mais significativa

e útil.

Contudo que foi visto, talvez a leitura e a interpretação sejam as coisas

mais importantes que a escola deva ensinar.

O leitor, entretanto, pouco se detém no funcionamento do ato de ler, na

intrincada trama de inter-relações que se estabelecem. Todavia propondo-se a

pensá-lo, perceberá a configuração de três níveis básicos, os quais já foram tratados

no capítulo anterior.

Como já foi dito, cada um desses níveis corresponde a um modo de

aproximação ao objeto lido. Como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três

níveis são inter-relacionados, senão simultâneos, mesmo sendo um ou outro

privilégio, segundo experiência, expectativas, necessidades e interesses do leitor e

das condições do contexto geral em que se insere.

Quando alguém observa algo como objetos, construções; é invadido

pelas mais variadas sensações, emoções e pensamentos. Cada indivíduo reagirá a

eles de uma forma; irá lê-los a seu modo.

Isso tudo leva a crer como aponta Freire (1989) que “a leitura do mundo

precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da

leitura daquele”. (p.11). Isso nos remete à importância que deve ser dada às

emoções sentidas e vividas para a constituição do indivíduo e para sua atuação em

seu meio social.

A compreensão do texto se dá a partir de uma leitura crítica. Dessa forma,

um leitor crítico não é apenas um decifrador de sinais, mas sim aquele que se coloca

como co-enunciador, travando um diálogo com o escritor, sendo capaz de construir

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o universo textual e produtivo na medida em que refaz o percurso do autor,

instituindo-se como sujeito do processo de ler.

A compreensão do texto, que requer do indivíduo uma capacidade de

entendimento e fazendo uso de sua bagagem cultural, é um processo que se

caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza o que ele já sabe,

o conhecimento adquirido ao longo de sua vida.

“Compreender não significa atribuir sentidos ou descobrir o sentido que o

autor quis dar ao texto, mas reconhecer os diversos significados de um texto.” ( DE

BERTOLLI, 2002, p.94)

Para Smith (1989), esperar que a criança aprenda a ler através de

materiais sem sentido é o método mais fácil de tornar o aprendizado da leitura

impossível. “Somente pela leitura o indivíduo consegue obter uma visão do mundo

de maneira mais consciente, podendo assim, contribuir para o crescimento de sua

sociedade e do meio onde vive.” (FREIRE, 1990, p.35).

Para Kato (1995), a “leitura favorece uma interdisciplinaridade entre todos

os tipos de conhecimento.”

Quando o aluno consegue fazer essa associação entre os conteúdos, tem

mais facilidade de entendimento de sua própria realidade e compreensão dos

assuntos expostos.

É notório que a leitura favorece o desenvolvimento cognitivo do ser

humano, permite que o indivíduo construa suas próprias idéias e automaticamente,

seu senso crítico frente à sua sociedade.

Portanto ler é treinar a mente, criar opinião, obter experiências,

especializações. “É melhor ler do que estudar”, diz com frequência o escritor Ziraldo.

Evidentemente, que o ato de estudar é imprescindível para a

aprendizagem, mas o interesse de ler e compreender certamente vem em primeiro

lugar. Ler, além de ser uma conquista de melhoramento do sujeito, também deveria

ser um ato de prazer e não de imposição ou de obrigação.

Com as transformações que a sociedade globalizada está sofrendo, não

basta saber, mais ou menos ler, e mal assinar o nome. É preciso ser um bom leitor,

isto é, ser alguém que gosta e faz da leitura um compromisso diário de informação e

conhecimento.

Não basta tapear saber ler e escrever. É preciso, sobretudo, compreender

o que é lido. Segundo Vesco e Galeazi (2001) o desenvolvimento econômico exige

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que todos saibam ler e façam com facilidade. Isto é exigido não só no trabalho,

como também nos afazeres do dia-a-dia. A automatização substitui o trabalho braçal

e aumenta o nível de exigência em termos de capacidade de leitura.

“Em 2003, o Brasil caiu para o vergonhoso 37º lugar em compreensão de

leitura com estudantes na faixa de 15 anos de idade. Em 2001, o país ocupava o 32º

lugar. Temos atualmente um tipo de leitor analfabeto que não consegue

compreender o que lê.” (FOLHA DE SÃO PAULO, dez./2007)

Compreender um texto escrito significa extrair a informação necessária da

maneira mais eficiente possível.

Num texto, o significado de uma parte não é autônomo, mas depende

das outras como que se relaciona e que o significado global (...) não é resultado de

mera soma de suas partes, mas de uma certa combinação geradora de sentidos,

embutindo já na definição inicial de texto, o conceito de contexto.

Para reafirmar a importância do contexto na formação e compreensão de

texto, os autores escrevem que num texto o sentido de cada parte é definido pela

relação que mantém com as demais constituintes do todo; o sentido é dado pelas

múltiplas relações que se estabelecem entre elas.” (FIORIN E SAVIOLI, 1991, p.29).

O texto é cheio de significado como uma jarra de água; a mente do leitor

absorve-o como uma esponja. O papel do leitor é passivo nessa visão, que devemos

rejeitar, porque isso raramente corresponde à realidade.

Infelizmente, o fato de que a mensagem esteja no texto não é garantia de

que o leitor poderá compreendê-la por completo. Um texto pode parecer fácil para

uns, mas difícil pra outros.

O aluno deve adquirir também, a capacidade de interpretar imagens.

Como leitor da imagem, consegue argumentar, tem de ser instigado a descobrir

pistas a respeito daquilo que vê para compreender a imagem propriamente dita.

“Ele deve aprender a contextualizar, saber quem fez, por que fez, ter

acesso à sua história, entre outros parâmetros. “ (REVISTA LEITURA S, 2006, p.27).

É importante que o leitor e autor tenham certas coisas em comum. O mínimo que se

pede é que eles compartilhem um código, no caso em questão, a língua. Caso

contrário, as dificuldades são enormes.

O leitor é visto, então, como sendo parte de um processo de negociação

do significado com o escritor, dois interlocutores interagindo entre si na busca do

significado. Essa interação é caracterizada por procedimentos interpretativos que

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são parte da capacidade do leitor de se engajar no discurso ao operar no nível

pragmático da linguagem.

Ler é, portanto, saber-se envolvido em uma interação com alguém em um

momento sócio-histórico específico e que o escritor, como qualquer interlocutor, usa

a linguagem a partir de um lugar social marcado. Segundo Lopes (2000) ler é se

envolver em uma prática social.

Para a pessoa decodificar e atribuir significado ao que está escrito, é

preciso também ativar sua estrutura representativa, atribuir significado ao código de

modo a reconhecer a palavra impressa, atribuindo a essa palavra o significado

correspondente e compreender a mensagem.

Também é preciso coordenar as informações de modo a conseguir

interpretar a mensagem dentro de um contexto, pois a compreensão da leitura

implica o reconhecimento das estruturas gramaticais, a consideração da ordem das

palavras, o papel funcional das palavras, o reconhecimento e o uso dos sinais de

pontuação.

Nesse contexto, a compreensão da leitura tem a ver com a capacidade

de fazer inferências, recorrendo a elementos mencionados no próprio texto. “As

dificuldades de compreensão não estão, normalmente no âmbito das palavras e,

sim, no âmbito de orações e da integração da informação das orações.“

(DOCKRELL E MCSHANE, 1997, p.20).

Como se sabe, diariamente identificamos várias situações que requerem

o uso da habilidade da leitura. No mundo moderno, inúmeras tarefas dependem

dela, desde pegar o ônibus certo ou ler uma bula de um remédio. A leitura se faz

presente em vários momentos de nosso dia-a-dia.

Nesse sentido, Teberosky e Cardoso (1993) advertem que a sociedade

urbana contribui bastante para que os conhecimentos linguísticos ocorram através

de televisão, jornais, out-doors, entre outros meios de comunicação; o que comprova

que a leitura e a escrita não são restritas à atividade escolar.

Segundo Kopke (2001) quando um leitor atinge um nível de

compreensão é considerado fluente ou proficiente, desde que também sejam

agregadas outras habilidades relevantes, tais como, a velocidade, a criticidade e a

motivação.

Para Iser (1996) a relação entre texto e leitor se atualiza porque o leitor

insere no processo da leitura as informações sobre os efeitos nele provocados, em

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consequência, essa relação se desenvolve como um processo constante de

realizações. Em nosso dia-a-dia, somos levados a fazer leituras constantes para

compreendermos as coisas à nossa volta.

A leitura não dever ser memorizada mecanicamente, mas ser

desafiadora, que nos ajude a pensar e analisar a realidade em que vivemos. Para

isso, um dos fatores essenciais é sabermos valorizar a cultura popular em que o

aluno está inserido, partindo desta cultura, e procurando aprofundar seus

conhecimentos, para que participe do processo permanente de sua libertação.

“A biblioteca popular como centro cultural e não como um depósito

silencioso de livros, é vista como um fator fundamental para o aperfeiçoamento e a

intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação com o contexto.”

(FREIRE, 1990, p.50).

Nesse sentido, a atuação da biblioteca popular tem algo a ver com uma

política cultural, pois incentiva a compreensão crítica do que é a palavra escrita, a

linguagem, as suas relações com o contexto para que as pessoas participem

ativamente das mudanças constantes da sociedade.

A biblioteca é considerada um dos mais antigos sistemas de informação

existentes na história da humanidade, é considerada pólo de irradiação cultural de

grande significação. “Inerente à sua própria condição, tem o papel de motivar o leitor

para o livro e a leitura.” (CARVALHO, 2006, p.9).

Assim, ao ser motivado a ler sempre, o leitor adquirirá condições para a

compreensão daquilo que está sendo lido. O significado da leitura é que estabelece

e fortalece o elo entre o texto e o leitor. Daí a importância do acervo acessível,

especialmente nessa fase em que os livros disponíveis precisam contemplar as

expectativas de leitura dos seus usuários.

A biblioteca dentro da escola exerce grande influência na aptidão dos

alunos pela leitura. Assim:

Biblioteca escolar é o centro dinâmico de informação da escola, que

permeia o seu contexto e o processo ensino-aprendizagem, interagindo com a sala

de aula. A partir do perfil de interesse dos usuários-alunos, professores, comunidade

apóia-se nas tecnologias da informação – a informática, as comunicações e os

conteúdos e põe à disposição recursos informacionais adequados (bibliográficos,

multimeios, digitais, virtuais), provindos de rigorosos critérios de seleção, dando

acesso ao pluralismo de idéias e saber. Favorece o desenvolvimento curricular,

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conta com mecanismo de alerta e divulgação de livros para a leitura recreativa,

formativa e a pesquisa escolar, sempre sob orientação de mediadores competentes

para funções referenciais, informativas, instrucionais e outras.

Estimula a criatividade, o espírito crítico, a construção do conhecimento;

dá suporte à atualização de professores, à formação continuada, a programas

especiais e à qualificação do ensino. Contribui ainda para a formação integral do

indivíduo, capacitando-o a viver em um mundo em constante evolução. (ANTUNES,

W; 1986, p.38).

Já foi dito que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça,

além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimento prévios

necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com a leitura. Ele

precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê. Assim, o leitor mergulha no

texto e se confunde com ele, em busca de seu sentido. “(...) o texto se faz, se

trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa

textura, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas

secreções construtivas de sua teia.” (BARTHES, 1987, p.82.83).

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CAPÍTULO III

O PAPEL DO PROFESSOR NA FRMAÇÃO DE BONS LEITORES

Formar leitores é algo que requer, portanto, condições favoráveis para a prática de leitura – que não se restringem apenas aos recursos materiais disponíveis, pois, na verdade, o uso que se faz dos livros e demais materiais impressos é o aspecto mais determinante para o desenvolvimento da prática e do gosto pela leitura. (PCNs, 2001, p. 58).

O educador exerce um importante papel no ensino da leitura. Sua tarefa é

encaminhá-la de forma que envolva a compreensão crítica do ato de ler.

A época da vida mais propícia para a formação de hábitos de

incorporação de conhecimentos básicos, é a infância. Desta forma, a escola, dada

às dificuldades das famílias, não pode perder a chance de fazer de seus alunos,

leitores, já nas primeiras séries de escolarização.

Segundo Freire (1996) não existe docência sem discência, pois no

processo de formação, o educador não está apenas transferindo seu conhecimento

para o educando, mas sim participando no processo de produção do conhecimento

por conta do educando, que ao ter seu conhecimento de mundo respeitado, e

utilizado pelo educador na exposição dos conteúdos, é capaz de pensá-lo de forma

a ativar sua criticidade, produzindo novos conceitos a partir dos antigos.

Para Freire (1992) ler como ato de estudar não é um simples

passatempo, mas uma tarefa séria, em que os leitores procuram classificar as

dimensões opacas de seu estudo. Com isso, entende-se a necessidade do leitor

assumir uma leitura ativa, memorizando e absorvendo o conteúdo de um texto.

Assim fazendo, será capaz de adotar tal atitude diante de problemas e desafios

encontrados em sua realidade social.

Para fazer um trabalho educativo eficiente, é fundamental ter uma visão

clara sobre o contexto em que se vai intervir. Isso é especialmente válido em relação

às práticas e políticas de incentivo à leitura, pois esse é um tema sobre o qual há

muitos pressupostos que não correspondem à realidade dos fatos. Por exemplo, é

comum ouvir dizer que os jovens não se interessam pela leitura. “Será mesmo

verdade? Em que situações? Em que grupos sociais? Que tipos de leitura

interessam mais ou menos?” (REVISTA Leitura S, p. 35).

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“Os meus alunos não gostam de ler” é, sem dúvida, a queixa mais

comumente ouvida entre professores. É um dos comentários a serem feitos quando,

ao terminar uma palestra sobre leitura, abre-se a sessão para perguntas ou

esclarecimentos.

Por que essa realidade? Provavelmente isso se dê, devido ao lugar cada

vez menor que a leitura tem no cotidiano do brasileiro, a pobreza no seu ambiente

de letramento (o material escrito com o qual ele entra em contato, tanto dentro

quanto fora da escola), ou ainda, a formação precária d um grande número de

profissionais da escrita que não são leitores, tendo, no entanto, que ensinar a ler e a

gostar de ler. Para formar leitores, devemos ter paixão pela leitura.

Na escola a leitura serve não só para aprender a ler, como para aprender outras coisas, lendo. Serve ainda para se ensinar e treinar a pronúncia dos alunos no dialeto – padrão e em outros. A leitura é uma maneira de se aprender o que é escrever e qual a forma ortográfica das palavras. Para conseguir esses objetivos é preciso planejar as atividades de tal modo que se possa realizar o que se pretende. A leitura não pode ser uma atividade secundária na sala de aula ou na vida [...] a leitura deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois ela, e não a escrita, será a fonte perene de educação, com ou sem escola. (CAGLIARI, 1996, p. 173).

É necessário que o professor não negligencie a sua tarefa de mostrar as

possibilidades do texto literário, em oferecer um destino que nos conduza a lugares

diferentes e inesperados, para além dos condicionamentos da realidade que nos

imobiliza. Para tanto, segundo Iser (1996), o professor não pode perder de vista a

qualidade fundamental da literatura, de favorecer o diálogo com os conflitos

humanos percebendo o texto como uma estrutura organizada e coerente, capaz de

ativar as faculdades sensórias, emotivas e cognitivas do leitor.

Muitos educadores apregoam a necessidade da constituição do hábito de

ler. A leitura seria a ponte para o processo educacional eficiente, proporcionando a

formação integral do indivíduo. Todavia os próprios educadores constatam sua

importância diante do que denominam a crise da leitura. “Mas que crise é essa?

Para a maioria deles, ela significa a ausência de leitura de texto escrito,

principalmente livros, já que a leitura num sentido abrangente está mais ou menos

fora de cogitação”. (MARTINS, 1994, p. 25).

A fim de estimular a participação ativa do aluno na leitura de txtos, cabe

ao professor, a responsabilidade de estabelecer em sala de aula, situações abertas

e flexíveis que, além de possibilitarem a interação professor – classe, abrem

caminhos para a interação aluno – texto.

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O diálogo do professor com a classe é importante, porque vai estabelecer

a troca de experiências entre professor e alunos, fazendo com que cresçam juntos

no processo. “Quando trabalhamos com a criança, mas muito mais, quando lemos

para a criança e com a criança entramos num ambiente de parceria, de conspiração

que possivelmente é o maior benefício, que só conseguimos quando lemos em voz

alta para a criança.” (ANTUNES, 2005, p. 21).

Assim, o professor lendo para seus alunos, faz com que os mesmos

compartilhem palavras, ilustrações, encantamento, alegria, tristezas, esperanças,

impressões e descobertas. Juntos, viajam a partir das páginas de um livro.

Os elos estabelecidos por essa experiência conjunta são um bom

caminho para o aprendizado da leitura, para a formação do leitor, pelo prazer que

esta atividade oferece e que deve se estabelecer.

O desenvolvimento da linguagem é um dos grandes benefícios oferecidos

à criança a partir da leitura oral feita pelo professor. O aluno escuta a leitura,

participa dos comentários, faz sua interpretação, tem oportunidade de falar.

Numa atitude coerente com o desejo de formar um leitor crítico e

participativo, é preciso rever a postura do professor no tratamento do material de

leitura. “Ninguém se torna leitor por um ato de obediência, ninguém nasce gostando

de leitura. A influência dos adultos como referência é bastante importante na medida

em que são vistos lendo ou escrevendo.” (KRIEGL, 2002, p. 12).

Daí a grande importância da leitura pelo professor, dado o desejo natural

do aluno em imitar o seu professor – o professor que lê. Quando o professor lê para

a classe, prende a atenção da criança, e ao comentar o texto lido e conversar com

ela, faz com que a própria exploração do texto leve a criança a se concentrar no qu

está acontecendo, nas situações que lhe vão sendo apresentadas, estimulando-a a

expressar seus pensamentos e a colocar suas dúvidas. Na inter-relação leitor-texto,

é preciso considerar tanto a situação do professor quanto a do aluno, no papel de

leitores.

Para tornar os alunos bons leitores, para desenvolver, muito mais do que

a capacidade de ler, o gosto pela leitura, um compromisso com ela, a escola precisa

mobilizá-los internamente, pois aprender a ler e ler para aprender requer esforço.

Os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma

conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estudar confiantes, na

capacidade de enfrentar o desafio e aprender fazendo. “Uma prática de leitura que

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não desperte nem cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente”.

(PCN em Ação. Alfabetização, p. 34).

Desse ponto de vista, é claro que a professor, pela sua própria vivência, é

um leitor privilegiado em relação ao aluno. Isso, contudo, não significa que ele deva

tolher a liberdade de o aluno fazer sua própria leitura. Não se trata, assim, de

sobrepor a leitura de um em detrimento da do outro, mas sim de valorizar cada uma

dessas leituras, que podem complementar-se, enriquecendo o processo e

alimentando a criatividade dos alunos .

Segundo Martins (1994) quanto mais lermos de modo abrangente, mais

estaremos também favorecendo nossa capacidade de leitura do texto escrito.

Portanto, cabe ao professor oferecer aos seus alunos a oportunidade de realizar

leituras assim, tendo o cuidado de selecionar, graduar e diversificar o material de

leitura de acordo com as características, necessidades e interesses de seus alunos.

O professor deve propiciar a seus alunos a possibilidade de escolher,

entre os livros oferecidos, aquele que gostaria de ler e, ainda, permitir que ele sugira

a leitura de ouros livros. Fazendo isso, estará motivando seus alunos a apreciar a

leitura. Há, entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e

válida: o desejo do leitor, pois quando transformada em obrigação, a leitura se

resume a simples enfado.

Para suscitar o desejo e o prazer de ler, é importante que se respeite os

limites do leitor. Como já foi dito anteriormente, o leitor deve ter a liberdade de ler o

que quiser ler, reler, ler em qualquer luar, ou até mesmo o de não ler. Respeitados

esses direitos, o leitor passa a respeitar e valorizar a leitura. Cria-se assim, um

vínculo indissolúvel. A leitura passa a ser um irmã que atrai e prende o leitor, numa

relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se. Durante esse

processo de motivação poderão ocorrer alguns imprevistos, como por exemplo, a

dificuldade que alguns alunos possam ter na realização da leitura.

Para trabalhar com os alunos que apresentam tais dificuldades, é muito

importante que boa parte da aula seja dedicada à leitura prazerosa.

Segundo Duke e Pearson (2002) existem seis tipos de estratégias de

leitura consideradas relevantes, baseadas em pesquisas tidas como auxiliares no

processo da leitura. São as seguintes:

• Predição – ato de prever fatos ou conteúdos do texto, utilizando o

conhecimento existente para facilitar a compreensão.

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• Estrutura do texto – analisa a estrutura do texto, auxiliando os

alunos a aprenderem a usar as características dos textos, como

cenário, problema, meta, ação, resolução e tema.

• Pensar em voz alta – o leitor verbaliza seu pensamento enquanto

lê.

• Representação visual do texto – auxilia leitores a entenderem,

organizarem e lembrarem algumas das muitas palavras lidas

quando formam uma imagem mental do conteúdo.

• Resumo – tal atividade facilita a compreensão global do texto, pois

implica na seleção e destaque das informações mais relevantes

contidos no texto.

• Questionamento – auxilia no entendimento do conteúdo da leitura.

Vale ressaltar que tanto no desenvolvimento da leitura quanto da escrita,

pais e professores são mediadores indispensáveis no processo de aprendizagem,

prevenindo e intermediando através da correção quando necessária, e com cautela.

3.1 – Práticas de leitura no cotidiano da escola

Ao selecionar os textos para leitura, o professor deve considerar tanto os

fatores relacionados ao desenvolvimento cognitivo da criança, quanto os

diretamente ligados ao contexto socioeconômico e cultural em que ela vive.

Dependendo dessas variáveis irá graduando os textos tendo em vista as

dificuldades que apresentem sob o ponto de vista lingüístico e de organização

textual. Assim, a escola deve buscar a constituição de práticas que possibilitem ao

aluno aprender linguagem a partir da diversidade de textos que circulam

socialmente, “viabilizando, assim, o acesso do aluno ao universo de textos que

circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los.” (PCNs, 2000, p. 30).

O professor deve ler cuidadosamente os textos que selecionar,

procurando analisar criticamente o seu conteúdo e os valores neles veiculados.

Portanto, deve evitar textos cuja única finalidade seja passar uma lição de

moral ou um ensinamento, o que, longe de estimular, distanciará a criança do texto.

Em contrapartida, o professor deve escolher textos que coloquem temas em

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questionamento, proporcionando também à criança a oportunidade de dar respostas

divergentes.

Segundo Iser (1996) as perspectivas do texto visam certamente já um

ponto comum de referências e assumem assim o caráter de instruções; o ponto

comum de referências, no entanto, não é dado enquanto tal e deve ser por isso

imaginado. É nesse ponto que o papel do leitor ganha seu caráter efetivo. Esse

papel ativa atos de imaginação que de certa maneira despertam a diversidade

referencial das perspectivas da representação e a reúnem no horizonte de sentido.

As práticas de leitura participam ativamente nas diversas dimensões

social, família, emprego, escola, etc. A possibilidade de ler torna-se mais próximo da

realidade social. “Toda sociedade, nas suas diferentes etapas evolutivas, produz

uma memória, isto é, das idéias, instrumentos e técnicas produzidos e conservados

pelo homem.” (SILVA, 1983, p. 20).

Para o mesmo autor, por ser um instrumento d aquisição e transformação

do conhecimento, a leitura, se levada a efeito de crítica e reflexivamente, levanta-se

como um trabalho de combate à alienação, capaz de facilitar ao gênero humano a

realização de sua plenitude.

Ler na perspectiva da escola tem a conotação de silêncio, de tarefas de

leituras rotineiras e livrescas, de caráter didático,, que em nada contribui para um

avanço sócio-cultural do processo de aprender e ensinar na escola.

Segundo Fagundes (1991) os que permanecem analfabetos, em nossa

cultura, foram incapacitados de interagir com o conhecimento acumulado ao longo

dos tempos, impedidos de fazer bom uso desse conhecimento e ficam, dessa forma,

impossibilitados de julgar os valores sociais e de tomar decisões importantes.

Cosson (2006) nos faz pensar a respeito do papel dos textos literários,

pois o leitor não nasce feito ou que o simples fato de saber ler não transforma o

indivíduo em leitor maduro, mas somente quando somos desafiados por leituras

progressivamente complexas. Assim, o professor desempenha um importante papel

ao difundir a leitura como proposta pedagógica de elaboração e transformação de

saberes.

As atividades de leitura que o professor escolher, além de muito variadas,

deverão garantir que a sala de aula seja sempre um lugar agradável, vivo e

dinâmico, onde a criança se sinta bem.

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A proposta de leitura da escola e a forma como a própria escola aborda e

avalia a leitura dos livros literários são apontadas como os maiores entraves ao

hábito de ler. Os profissionais de educação preocupados com a crise da leitura,

procuram as causas, examinam as consequências e, principalmente, buscam

saídas.

Os professores parecem estar de acordo que a leitura não pode ser

sentida como algo obrigatório, pois essa postura só afasta o aluno do livro. É

preciso, pois, resgatar a leitura como uma forma única de prazer.

O professor precisa ficar atento à destreza e interesse de leitura por parte

dos alunos. Terá de Sr compreensivo com o estudante que apresenta dificuldades

para acompanhar o texto, apoiando-o com a indicação de produtos ao mesmo tempo

bons e fáceis de entender (LEITURA S, 2006, p. 24).

Professores e alunos aprenderão juntos que a literatura dirigida ou não

para as crianças lhes proporciona grande variedade de diversão e sabedoria,

aprofundando as relações humanas na escola e sua participação na sociedade. “O

livro é um mágico artefato (...) que nos abre portas, fantasias e mundos”. (MINDLIN,

2002, p. 14).

A literatura é uma das formas de leitura recomendável às crianças,

juntamente às inúmeras formas de leitura: jornais, revistas, cartazes, etc. o texto

literário contempla o pensar, o sentir e o criar, e o professor é o responsável pelo

planejamento das atividades na rotina da sala de aula, de maneira a garantir o

interesse dos alunos no contato com livros, e seu aprimoramento nas habilidades de

leitura.

A leitura compartilhada de livros em capítulos possibilita aos alunos o

acesso a textos bastante longos (e às vezes difíceis) que por sua qualidade e

beleza, podem vir a encantá-los, ainda que nem sempre sejam capazes de lê-los

sozinhos (PCN, 2001).

Como já foi citado anteriormente, o processo da leitura não ocorre de uma

hora para outra, mas sim com muito treino. Para Martins (1994) “o treinamento para

a leitura efetiva implica aprendermos e desenvolvermos determinadas técnicas”. (p.

84)

Mas somente isto não basta, pois cada leitor possui sua maneira ou

hábito de ler. Logicamente que tais técnicas ajudarão o leitor a descobrir o seu

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próprio jeito para o gosto da leitura, não há como forçar ou acelerar o timo de

ninguém.

É sabido que nem sempre a criança gosta de ler, porém é necessário que

os envolvidos em sua educação estejam atentos para demonstrar a ela que ler se

tornou fundamental no mundo em que vivemos. Com isso, Souza (1992) afirma que

leitura é basicamente o ato de perceber e atribuir significados através de uma

conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias.

Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado

contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da

realidade.

A prática social e cotidiana da leitura pode ser estimulada com diferentes

textos, adequando a modalidade aos propósitos específicos. É preciso dialogar com

o texto. É necessário ampliar o repertório de leitura e reduzir a influência exclusiva

do livro didático, que muitas vezes traz apenas fragmentos de um texto. A

diversidade é importante para formar o leitor, já ab re diferentes portas de entrada

para o mundo da leitura.

Os gibis podem ser um bom começo, já que os clássicos como Don

Quixote são publicados em quadrinhos e pode estimular a criança a ler a obra

original o futuro.

O acesso à prática social da leitura deve permitir ao aluno a recriação dos significados privilegiados pela escola, porém, a escola costuma trabalhar com uma visão do significado enquanto presente no texto, determinado por ele, e não como uma construção social realizada no terreno da história e da cultura. (LOPES, 1994, p. 301).

Assim, para o autor, ler, deixou de ser uma atividade universal, praticada

sempre da mesma maneira para se tornar uma prática individual e subjetiva, onde o

texto pode receber inúmeras possibilidades de leitura, de acordo com a experiência

de vida do leitor.

É necessário que o professor conheça antes os livros, prepare o ambiente

e valorize variados textos e livros para um trabalho com a leitura. As atividades

preparatórias (escolha do texto, motivação, incentivo), são importantes para que o

gosto de ler de fato aconteça. É o momento de contextualizar as atividades

planejadas a partir da leitura que o aluno fez por livre escolha e do que ela provocou.

Um ponto é muito importante ressaltar: se a criança ouve o professor,

aprecia a história que ouve. É bastante importante que o professor, antes de efetuar

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a leitura, conheça perfeitamente o livro que se propõe a ler e ao fazê-lo, procurar

interagir com o texto lido, utilizando principalmente recursos da voz, do olhar, alguns

gestos, recursos estes que auxiliam na expressão e compreensão do que está

sendo lido. Desse modo, o professor está contribuindo para que seus alunos sintam

que ler é bastante prazeroso e emocionante. “Não se lê um texto da mesma forma,

cada leitura é inédita, até mesmo uma releitura é ímpar. E os sentidos dependem da

interpretação das palavras, os textos estão abertos a interpretações múltiplas

dependendo do intérprete.” (MAGALHÃES e LEAL, 2004, p. 12). Assim, entende-se

que cada leitor, no momento da leitura acionará uma série de unidades significativas

para a eficácia desta.

3.2 – Dificuldades de leitura sob o enfoque psicopedagógico

“A psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e

Educação que lida com o processo de aprendizagem humana, seus padrões

normais e patológicos, considerando a influência do meio, família, escola e

sociedade no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios”

(SHROEDER, MARCHESE, 2006).

A definição de distúrbio, transtorno, dificuldade e/ou problema de

aprendizagem é uma das mais inquietantes problemáticas para aqueles que estão

envolvidos no processo de aprendizagem.

A dislexia resulta de um processo de dificuldade aquisitiva de leitura,

incapacidade de compreensão do que se lê. Nessas condições, a criança consegue

ler, contudo experimenta sensações desagradáveis pela falta de assimilação do

texto.

Num enfoque psicopedagógico, encaramos os transtornos de

aprendizagem como um sintoma, um sinal de descompensação, no sentido de que

não são permanentes, sendo passíveis de transformação.

Segundo Pain (1986) a hipótese fundamental para avaliar o sintoma é

entendê-lo como um estado particular de um sistema que para equilibrar-se precisa

adotar esse tipo de comportamento que pode merecer um nome positivo, mas que

caracterizamos como não - aprender. Assim, quando o professor se depara com a

dificuldade de seus alunos no âmbito da leitura, deve primeiramente, averiguar como

vive essa criança fora da escola.

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O desenvolvimento cognitivo da criança está bastante influenciada pelo

contexto sócio-cultural ao qual está inserida. Assim, dentro do quadro de dislexia,

deve-se estar atento ao histórico familiar desse aluno. Fonseca (1995) ressalta que

a dislexia é uma dificuldade que se manifesta na aprendizagem da leitura,

independentemente da inteligência do indivíduo e da vivência sócio-cultural;

dependendo, portanto, das funções cognitivas.

Para Condemarim (1986) a dislexia é um conjunto de sintomas que

demonstram uma disfunção parietal, e que na maioria das vezes, é hereditária.

A dislexia, segundo Lubois (1993) “é um defeito de aprendizagem da

leitura caracterizada por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às

vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes, mal identificados.” (p.197).

Assim, indivíduos disléxicos que nunca se trataram lêem com dificuldade,

porque para eles se torna difícil a diferenciação entre os fonemas e grafemas das

palavras. Fonseca (1995) ainda afirma que há diferença entre não aprender a ler e

não conseguir aprender a ler com os métodos tradicionais: Sendo assim, cabe ao

professor atentar para o fato de que tipo de problema seu aluno está enfrentando;

pois é na fase da alfabetização em que os sinais da dislexia se tornam mais

evidentes.

As dificuldades na prática da leitura podem existir em grande número, por

isso a escola deve respeitar os limites de cada criança, incentivando-a a seguir em

frente, vencendo tais dificuldades.

O que acontece no início da escolaridade primária é decisivo para todo o resto da história escolar da criança. É no 1º ano das séries iniciais, que a criança é definida como um aluno lento, rápido, com ou sem problemas. É neste espaço que o aluno receberá a primeira etiqueta, que terá consequência no resto de sua escolaridade. (FERREIRO, 1987, p.15).

A primeira tarefa do professor é resgatar a autoconfiança da criança,

depois entender a natureza de suas dificuldades, buscando orientação especializada

para obter um possível diagnóstico.

O processo diagnóstico do aluno com dificuldade em aprender a ler não é

tarefa simples; exige avaliações psicológicas, neurológicas e pedagógicas. Esse

processo possibilita a coleta de informações para a verificação do desempenho do

aluno. Assim, o psicopedagogo usa o diagnóstico psicopedagógico para detectar os

problemas de aprendizagem e intervir sobre eles.

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Rubinstein (1996) compara diagnóstico psicopedagógico a um processo

de investigação, onde o psicopedagogo assemelha-se na investigação de todo

processo de aprendizagem, levando-se em conta a totalidade dos fatores envolvidos

neste processo.

Antes de buscar ajuda especializada, o professor deve fazer uso de

diversas atividades e técnicas de ensino para descobrir qual delas melhor se adéqua

a seus alunos.

Segundo Fernandez (2001) todo sujeito tem sua modalidade de

aprendizagem e os seus meios para construir seu próprio conhecimento. Assim,

cada indivíduo possui seu próprio ritmo para construir seu saber; porém a

aprendizagem não depende somente do aluno, ela é um processo que requer várias

situações.

Para Almeida (1993) aprender é, pois, aprender com alguém; é nas

relações entre professor e aluno que se criam as condições necessárias para que

ocorra a aprendizagem propriamente dita.

Podem ser diversos os motivos do não aprender a ler. Diante disso, é

preciso reconhecer que não é tarefa fácil para os educadores lidar com esse tipo de

problema. Com isso, as escolas apresentam grande número de repetência.

Assim, pode-se verificar algumas intervenções psicopedagógicas na

dificuldade de aprendizagem. Esta intervenção psicopedagógica tem para o

disléxico, um caráter de urgência e o estará habilitando para a leitura e a escrita.

A atuação psicopedagógica também deve ser estendida à família. Esta

ação deve se estender também à escola, sensibilizando os educadores de que os

disléxicos podem aprender, e que merecem o respeito de todos os envolvidos em

sua educação, mas que necessita de técnicas e estratégias que o auxiliem nessa

luta.

A psicopedagogia seria a área de atuação mais indicada para atender às

crianças com problema para aprender porque oferece uma ação multidisciplinar e

conta com um acervo de técnicas de diagnóstico e tratamento capazes de atingir e

eliminar os problemas de aprendizagem em suas raízes. O trabalho

psicopedagógico auxilia o aluno na sua produção escolar e para além dela, coloca-o

em contato com suas reações frente à tarefa escolar, com seus vínculos com

pessoas ou com conteúdos escolares, com seus lapsos, bloqueios, sentimentos de

angústia e hesitações.

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Portanto, a Psicopedagogia tem como objetivo auxiliar o aluno para que

ele tenha um bom desenvolvimento na aprendizagem e que seja realmente

significativo e prazeroso esse aprendizado, pois ela compreende o aluno de forma

interdisciplinar.

A criança com dislexia difere das outras da mesma idade em várias maneiras. Estas diferenças não são evidentes em todas as crianças com dislexia, e elas ocorrem em diversas combinações, assim como no nível de dificuldades variam muito. Por isto é muito importante que os educadores tenham informações dos sintomas da dislexia. (FILHO; THOMÉ, 2000, p. 256).

O compromisso do psicopedagogo juntamente com os educadores, é a

transformação da realidade escolar, colocando a criança com problemas de

aprendizagem num patamar de igualdade com as demais crianças de sua idade.

“Historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Psicologia e a

Pedagogia, a partir das necessidades de atendimentos de crianças com distúrbios

de aprendizagem, consideradas dentro do sistema educacional convencional”

(KIGUEL, 1991, p. 22). Sendo assim, o professor é o eixo central de todas as

relações e produções infantis. Ele é e deve ser um personagem atuante e líder nas

atividades realizadas na sala de aula.

Com tudo o que foi abordado, percebe-se a necessidade de a escola

promover campanhas de incentivo à leitura, estimulando seus alunos a lerem vários

tipos de textos para que possam ver na leitura uma boa opção de entretenimento.

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CONCLUSÃO

A prática da leitura é determinante na formação do indivíduo como um

cidadão crítico e participativo.

Criar o prazer pela leitura exige certo comprometimento e paciência tanto

por parte dos pais quanto por parte dos professores, pois ambos são tidos como

exemplos para as crianças pequenas.

De acordo com especialistas, se a família não possui o hábito de ler,

raramente as crianças o possuirão, cabendo, assim à escola, na maioria das vezes,

inculcar no aluo esse hábito tão importante.

Todos sabem que não basta criar um espaço na sala de aula e colocar

livros para que as crianças se sintam por eles atraídas e passem a explorá-los. É

claro que este é um dos objetivos do professor para seus alunos; no entanto para

que isso aconteça é necessário a participação efetiva do professor.

Lemos desde que nascemos. O conhecimento gradativo do ambiente em

que vive chega à criança através da visão, Ada audição, do tato, do gosto, do olfato.

Tudo são leituras, até que chega o momento do conhecimento das letras, das

palavras, das frases, dos textos. Entender o que se lê é a condição básica para se

dizer que existe o leitor.

A questão da leitura deve de fato fazer parte da vida de todas as pessoas,

porque formar leitor é uma construção coletiva da qual participam a família e o

professor, podendo citar também as condições que a escola, a biblioteca da escola

oferecem, apoiados na comunidade e nas autoridades educacionais.

A escola deve dar uma atenção toda especial à leitura que, junto com a

literatura infantil, assume importante papel em nossas vidas, pois através delas é

que aumentamos nossos conhecimentos, mexemos com as nossas emoções,

damos asas à imaginação, viajamos por meio dos livros. Crescemos, portanto, por

meio dos livros.

A leitura deve ser preocupação de cada um de nós e também da escola;

precisa estar presente no dia-a-dia da sala de aula para que haja o desenvolvimento

de uma cultura leitora. O professor, a cada dia, durante todo o processo pedagógico,

deve estar atento para desenvolver e fortalecer ao máximo o leitor potencial que

existe em toda criança. Sua atuação segura e hábil é que formará leitores

competentes e apaixonados.

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Normalmente, as crianças não gostam de ler. Assim, o professor não

deve esperar, de início, receptividade total. É preciso que se dê tempo, que se

experimente para depois gostar. Enquanto isso, os bons textos irão abrindo os seus

próprios caminhos na imaginação, sensibilidade e cognição das crianças.

Inicialmente, tudo leva a crer que o problema a ser enfrentado pelos

professores é o da mecanização e do marasmo em que transmutou o ato de ler. A

busca do professor deve-se concentrar, pois, no ato pedagógico da descoberta, da

experimentação, do prazer, da função, da introspecção, da discussão e da crítica.

São as relações humanas em sala de aula que precisam mudar para que

os alunos passem a gostar de ler.

A base do aprendizado da leitura, é o diálogo entre os alunos e entre

professor e alunos, e os seus limites são os vários campos da cultura e do

pensamento. Ao professor é sempre bom ter em mente que a leitura é um ato sócio-

cognitivo – afetivo que envolve elaborações semânticas, pragmáticas, lógicas e

culturais. Seu processamento envolve uma série de fatores linguísticos e

extralinguísticos, constituindo-se numa atividade bem mais complicada do que a de

decifrar um suposto sentido literal.

As crianças reclamam e têm razão, quando dizem que ler é cansativo.

Para quem não está afeito à leitura isso acontece deveras, como acontece com

qualquer outra atividade humana mais exigente.

A leitura é um processo de seleção informativa que se dá por meio de

avanços, recuos, predições e correções, não ocorrendo linearmente. Uma política de

formação de leitores deve estimular práticas de leituras diversificadas, valorizando

diferentes textos, em diferentes suportes.

A formação do professor é condição para que se efetive uma proposta de

leitura no âmbito da escola. Se se pretende incentivar o professor a ser ele próprio

um leitor, além de um formador de leitores competentes, é preciso fomentar o

debate permanente sobre a leitura e fornecer instrumentos para que esse debate e a

prática da leitura se efetivem no ambiente escolar.

O professor não deve propor apenas a leitura literária ou a leitura

cotidiana, mas a leitura como forma de participação social. Diferentes formas de

leitura que s intercalam e se complementem, com a intenção de formar um mosaico

das diferentes formas de manifestação cultural e social.

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De todo o exposto, pode-se dizer que a prática da leitura transforma o ser

humano, o faz livre e consciente de tudo o que existe a sua volta.

A psicopedagogia possibilita uma aprendizagem enriquecedora, resgata

no aluno, sua capacidade e sua auto-estima. Assim, quando a escola se depara com

alunos que não conseguem aprender a ler de forma satisfatória, deve recorrer aos

psicopedagogos para que estes profissionais, juntamente com os professores e

familiares, possam buscar o melhor caminho a percorrer para que a criança com

dificuldades possa atingir seu aprendizado.

Um psicopedagogo pode ajudar a elevar a auto-estima da criança,

descobrir qual o seu processo de aprendizagem através de instrumentos que o

ajudarão em seu entendimento.

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais

preocupadas com os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, não

sabem ais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o

processo considerado normal. Nesse contexto, o psicopedagogo institucional, pode

auxiliar o professor e outros profissionais da instituição escolar, para uma prevenção

de problemas de aprendizagem.

Através de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma

intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de alunos que

apresentam dificuldade para aprender a ler. Juntamente com toda a equipe escolar,

esse profissional buscará a melhor forma de ajudar essa criança.

É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que

suas curiosidades sejam satisfeitas para que ela tenha mais confiança em si, para

que desenvolva um aprendizado pleno e satisfatório.

A prática psicopedagógica utiliza-se de planos de trabalho onde há a

construção do conhecimento pelo próprio aluno, ou seja, cada indivíduo possui seu

próprio ritmo de aprendizagem e cada uma prende de uma forma diferente. Dentro

desta perspectiva, o professor ao iniciar um trabalho de leitura na sala de aula, deve

atentar para ao fato de que cada aluno em particular abstrairá o conteúdo do texto

de uma forma diferente. Cada ser é único, assim seu entendimento sobre as coisas

também é único.

As atividades de leitura planejadas pelo professor devem ser bastante

variadas, garantindo que as crianças tenham nos livros, fontes de alegrai,

descobertas, sonhos, imaginação e estímulo à criatividade.

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Antes de tudo, a liberdade de escolha de leitura, ou apenas o desejo de

manusear o livro que mais atrai, que mais chama a atenção pelas ilustrações, pela

curiosidade por novos conhecimentos ou pelas cores da capa, são situações que

com prioridade, devem ser asseguradas a cada criança.

Portanto, o ponto de partida para desenvolver nos alunos o gosto em ler,

é transmitir a elas não só a importância da leitura em nossa vida, mas sobretudo,

mostrar às crianças as vantagens advindas desse ato.

O trabalho com leitura deve incluir o compartilhar, isso significa estimular

a troca de experiências, e requer a competente mediação por parte do professor.

Na sala de aula pode-se propor muitas formas para dinamizar essa

atividade e estimular o diálogo sobre as leituras realizadas. Essas atividades devem

ser planejadas, orientadas e estimuladas pelo professor diariamente. Assim, com o

tempo, os alunos tornar-se-ão mais ativos e poderão dar sugestões de diferentes

leituras. Fazendo isso, com certeza os professores poderão encaminhas seus

alunos a enveredar por esse caminho tão bonito, estimulante e necessário no

cotidiano dos cidadãos: a prática constante da leitura.

Conclui-se com a pesquisa, que para desenvolver o gosto pela leitura é

preciso que a pessoa seja estimulada desde pequena. Esse estímulo deve partir da

família e ter continuidade na escola, onde os professores devem estar conscientes

de que ler e entender o que se lê, é algo primordial para se exercer a cidadania.

Com isso, a criança descobrirá que a leitura é realmente um mundo

fascinante, uma porta aberta para um universo infinito de sensações e de

descobertas. Assim, poderá ser um adulto com plena consciência de sua

responsabilidade para com a sociedade na qual está inserido.

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MINDLIN, José. Uma vida entre livros. São Paulo, 2002.

MOREIRA, Marco Antônio. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel.

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SOUZA, Renata Junqueira de. Narrativas Infantis. São Paulo, Brasiliense, 1992.

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ANEXOS

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Ilustração de Gláucia Cavalcante/Portal Aprendiz

ANEXO 1

PESQUISA NA INTERNET

Uso do jornal na sala de aula melhora desempenho dos estudantes, diz pesquisa

Pesquisa do PJE mostra que utilização do jornal como ferramenta

complementar de ensino melhora o hábito da leitura, aumenta a assimilação de

conteúdo, amplia o vocabulário, eleva as notas, estimula o senso crítico e motiva os

estudantes.

A utilização do jornal

como ferramenta complementar

de ensino melhora o hábito da

leitura, aumenta a assimilação de

conteúdo, amplia o vocabulário,

eleva as notas, estimula o senso

crítico e motiva os estudantes. A

conclusão é de uma pesquisa

realizada com alunos e

professores de escolas públicas e

particulares, participantes do

Programa Jornal e Educação, da

Associação Nacional de Jornais (ANJ).

O estudo qualitativo foi elaborado por meio de um questionário, feito pela

consultoria John Snow Brasil e aplicado em sete capitais brasileiras: Brasília,

Florianópolis, Belém, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Os

entrevistados foram divididos em 14 grupos separados entre alunos e professores.

Foram respondidas questões diversificadas sobre hábitos de leitura, percepção de

atividades de incentivo à leitura, benefícios do acesso à informação para o exercício

da cidadania e os principais obstáculos que existem entre o jornal e o aluno.“A

pesquisa veio para comprovar o que os professores e coordenadores do programa

presenciavam na rotina de trabalho. Mas, para ganhar força, era necessário um

estudo mais profundo, uma pesquisa com resultados efetivos, que mostrasse como

o uso bem feito do jornal traz benefícios não só dentro das salas de aula, como

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também para o desenvolvimento social e pessoal dos alunos”, explica a

coordenadora do Programa Jornal e Educação da ANJ, Cristiane Parente. De

acordo com Miguel Fontes, diretor da John Snow Brasil, o principal motivo para a

não leitura do jornal é o desconhecimento. “Quando você desmitifica o jornal para o

jovem, ele gosta, percebe o mundo. Sente-se mais atuante e mais crítico”.

www.anj.org.br/jornaleducacao/noticias/uso-do_jornal_na_sala_de_aula

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ANEXO II

ENTREVISTA

Portal do Professor Edição 21 - Incentivo à Leitura

Entrevista

Fabrício Carpinejar: Ler é conversar consigo para melhor conversar com os outros.

Fabrício Carpinejar é autor de 13 livros, sendo oito de poesia.

Autor: Renata Stoduto

Poeta, cronista, jornalista e professor, com mestrado em literatura

brasileira, Fabrício Carpinejar (junção dos sobrenomes da mãe, Carpi, e do pai,

Nejar) coordena e dá aulas no curso de Formação de Escritores e Agentes Literários

da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), em São Leopoldo (RS).

Também leciona no curso de Formação de Músicos e Produtores de Rock, da

mesma universidade. Ele ainda encontra tempo para apresentar dois programas em

rádios gaúchas: um de entrevista com escritores e outro de dicas culturais.

Jornal do Professor – Em sua opinião, qual é a importância da leitura na vida das

pessoas?

Fabrício Carpinejar - A leitura não nos empresta somente palavras, nos empresta

silêncio. Quem não lê dificilmente aprende a ficar quieto, aceitando a solidão como

parte do pensamento. Ler é conversar consigo para melhor conversar com os

outros. É organizar a experiência. Todo o turbilhão de fatos, lembranças, sequência

de nossa vida pode ficar solto sem uma literatura que o organize. Não teríamos

hierarquia, ordem, força nas idéias. Seria um caos sensitivo.

JP – A escola deve incentivar a leitura? De que maneira? Como os professores

podem colaborar nesse sentido?

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FC - Totalmente. A escola precisa entender que a criação e a leitura devem andar

juntas. Não basta ler poesia, a criança depende de uma oportunidade para brincar

com a poesia, escrever, entender como funciona, que ela não é à procura da beleza,

é a procura da verdade. De uma verdade pessoal. Nada substitui a descoberta de

um dom. Ler é um dom como o de escrever. Requer cuidado, afeto e disponibilidade

para unir o que está sendo estudado com aquilo que está sendo vivido pelo

estudante.

JP – Qual é o papel da família na formação dos leitores?

FC – A tarefa de casa não precisava existir na escola, é da família. O livro sempre foi

um elo para entender meus pais. Deixavam cartas dentro das obras, trechos

sublinhados. O livro é a toalha de mesa do café da manhã, do almoço e da janta.

Objeto acessível, que não era endeusado. Muitas vezes, os pais criam bibliotecas

para a criança pedir licença para mexer. Biblioteca tem que ter a naturalidade de

nosso braço. É puxar de cima e amar. Assim como o hábito de contar histórias

seduz a criança. É um teatro que ela dispõe por alguns minutos para ouvir a voz

paterna e materna. Depois, eles vão procurar a voz dos pais nos livros e vão

encontrar a sua. O livro fica em nossa vida quando emoldurado de encontros

afetuosos. Todo jovem tem uma trilha sonora, eu tenho uma biblioteca para ouvir e

guardar minhas mais fortes recordações. A escrita pode ser tão atraente quanto à

música. Está esperando bons intérpretes.

JP – Você acha que é possível despertar o interesse pela leitura em pessoas mais

velhas, tardiamente alfabetizadas, os chamados neoleitores? Que ações recomenda

nesse sentido?

FC – Diante da solenidade da leitura, se a criança pede - infelizmente - licença para

ler, o adulto tardiamente alfabetizado é obrigado a pedir desculpa. Ele lê com culpa,

com medo de errar, de se envergonhar por não ter feito isso antes. O trabalho é

retirar a carga de sacrifício e pesar, de vitimização. Cada um tem seu ritmo e sua

mensagem. Indicaria o uso da vida cotidiana e o emprego da oralidade criativa e

alegre para os neoleitores. Cantar, contar histórias, redigir cartas para família,

preencher pedidos de emprego. Ler a vida para ler um livro, para ler depois o livro

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de sua vida. Outra coisa: somos analfabetos perante os nossos próprios

sentimentos. Ninguém é culto o suficiente para lidar com o milagre vulnerável da

pele. Diante da paixão, somos analfabetos e vamos soletrar o nome da amada.

Diante da dor, somos analfabetos e vamos repetir as tristezas até acomodá-las.

Ninguém nunca está atrasado para se revelar.

JP – O brasileiro ainda lê pouco. Para você, qual a razão disso? O que pode ser

feito para melhorar a situação?

FC – Lê pouco porque não entende a leitura como uma escolha, mas como uma

obrigação. E vamos adiar o que não escolhemos. Nesse processo de desvalia, o

jornal é menosprezado. O jornal é sempre uma porta de entrada para o livro. No Rio

Grande do Sul temos o exemplo de como o jornal é um hábito familiar. Ou seja:

cuidar do cotidiano para depois navegar em direção às ilhas mais distantes. Eu acho

importantíssimo não se descartar o jornal desse processo, como se fosse um objeto

já anacrônico. Acho que o jornal tem um peso que é essa disposição de um tempo

para ver o que está acontecendo no seu próprio mundo. É essa disponibilidade que

tem de se criar. E a leitura produz um efeito de complicação, de hermetismo, ou

seja, uma dificuldade, no caso da poesia. Parece que a gente tem de entender

poesia. Não. A gente precisa aprender a lidar com a intuição. A gente precisa aceitar

o erro, a falha, o tropeço, aceitar que a gente não vai entender praticamente tudo. A

gente vai entender aos poucos, aos goles. É importante que a gente não tenha essa

burocratização da leitura, ou seja, fazer com que a pessoa se sinta condenada a

leitura. Eu acho que os dividendos e os ganhos a gente verá depois.

O livro tem de ser muito mais familiar do que a gente costuma ligar, manejar. Tem de

ser algo mais acessível. A gente ainda trabalha o livro como estudo, não como

prazer. Temos que estudar mais. Então ler mais é estudar mais, é se preparar mais.

O livro é justamente o contrário também. É como jogar futebol, vôlei. É de uma certa

forma se descontrair mais, conversar mais, se alegrar mais. Eu não vejo um produto

tão lúdico e tão aberto a essas referências referentes à imaginação. É óbvio que o

livro é visto como trabalho. Eu acho que o livro é um jogo. A partir disso, um jogo de

idéias, assim como os socráticos e os filósofos gregos se divertiam na

argumentação, assim como os repentistas se divertem procurando o riso pelas

palavras, assim como os trovadores do RS se divertem procurando a bravata, o

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chiste. É o modo como a gente lida ainda com a cultura. A gente lida como resíduo

de um sistema de trabalho. Ela não está inserida ou enquadrada num contexto de

contentamento e de final de semana. Quando o livro for tão importante quanto um

domingo, com certeza os níveis de leitura no Brasil serão muito mais elevados.

JP – Algumas pessoas e municípios têm promovido ações visando estimular a

leitura. Aqui em Brasília, por exemplo, foram criadas minibibliotecas nas paradas de

ônibus. Qualquer pessoa pode pegar um livro para devolver outro dia, sem

burocracia nenhuma. O que você acha desse tipo de ação? Traz contribuições?

FC – No Rio Grande do Sul a gente percebe que as experiências estão dando certo

há décadas e décadas, que é a valorização do escritor. As escolas adotam

escritores gaúchos, eles vão dar palestras, toda a cidade tem uma feira do livro. Há

esse contato miúdo de conversa num trem, no ônibus, na rua, sem prefácio ou pós-

fácio ou orelhas. Há uma identificação da leitura com o seu meio. Isso é feito de todo

um trabalho de humanização do autor, que é um mediador carismático da sua obra.

O livro é um cofre que às vezes nem o autor sabe o segredo para abrir. E isso é

bonito, porque o livro não é um cofre e nem um altar. Eu acho que ele precisa ser

uma estante virtual, no sentido do que ela passa para as pessoas. Uma estante não

tem portas para que a gente possa arrancar mais facilmente o livro dali. A gente

ainda trata a estante como se fosse um armário fechado.

Os índices de leitura do Rio Grande do Sul são os mais elevados do país. Eu acho

que isso ocorre em função da leitura de jornal, dessa integração entre escola e

autor, pela multiplicação de feiras do livro. Ou seja, há a necessidade de ter no

calendário de qualquer cidade uma feira aberta ao público com descontos,

promoções e conversas com escritores. Essa mobilização da cidadania é

importantíssima porque a pessoa é que tem que escolher ler, porque se não for uma

escolha não há reincidência. É uma necessidade espontânea. Não é fazer isso pelos

outros, porque é importante para o trabalho, para família. A gente costuma delegar

ao livro uma importância, para não assumir a nossa própria autoria.

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ANEXO III

REPORTAGEM

31/07/2003 - 11h07

Aluno brasileiro tem dificuldade para ler da Folha de São Paulo.

Estudos realizados com alunos brasileiros mostram que a maior parte

deles tem dificuldade para ler e compreender textos. Entre os alunos do terceiro ano

do ensino médio, apenas 5,34% têm habilidade de leitura compatível com a série

que cursam. Pouco mais de 42% têm um desempenho considerado crítico ou muito

crítico.

Esses dados, levantados pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Básica) em 2001 e divulgados neste ano, confirmam a deficiência de

aprendizado que já havia sido mostrada quando o Brasil ficou na 37ª posição do

ranking do Programa Internacional de Avaliação do Estudante, que avaliou o

desempenho de leitura de estudantes na faixa dos 15 anos em 41 países, em 2000.

Os alunos brasileiros ficam atrás dos chilenos e dos argentinos.

Os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) também

revelam a mesma dificuldade. O relatório final do exame de 2002 diz que "só a

leitura superficial e fragmentada pode explicar a opção por alternativas de resposta

que revelam leitura de gráficos sem associação com a proposta, escolha de

alternativas dissociadas do contexto, dificuldade de estabelecer relações entre

linguagens expressas por tabelas, fórmulas e gráficos, escolha de afirmações e

argumentos contraditórios e mutuamente excludentes". Do 1,8 milhão de

participantes do último Enem, 74% tiveram desempenho considerado insuficiente e

regular. "Interpretar um texto é base para entender outras matérias. Às vezes, o

aluno não sabe história porque não sabe ler", diz Carlos Henrique Araújo, diretor de

avaliação da educação básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais).

Segundo ele, um dos motivos do baixo desempenho em compreensão de

textos é a falta do hábito de leitura, problema detectado não só entre os alunos mas

também entre os pais e mesmo entre os professores. "Somos um país de não-

leitores. O professor lê pouco, a família lê pouco. O contato com o livro só é feito

dentro do sistema de ensino e, muitas vezes, de forma desagradável."

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ANEXO IV

CONTEÚDO DE REVISTAS SOBRE LEITURA

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O nascimento das cidades-leitoras Especialista em políticas públicas de

promoção à leitura e implantação de bibliotecas reflete a respeito da

experiência de Iepê

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61

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO.............................................................................................. 01

AGRADECIMENTO............................................................................................... 02

DEDICATÓRIA...................................................................................................... 03

RESUMO.............................................................................................................. 04

METODOLOGIA.................................................................................................... 05

SUMÁRIO............................................................................................................. 06

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 07

CAPÍTULO I - APRENDENDO A LER: COMO E QUANDO OCORRE?............. 10

1.2 Os níveis de leitura e a relação que estabelecem entre si ............................ 15

CAPÍTULO II - LEITURA E COMPREENSÃO..................................................... 22

CAPÍTULO III - O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE BONS

LEITORES................................................................................

30

3.1 – Práticas de leitura no cotidiano da escola................................................... 34

3.2 – Dificuldades de leitura sob o enfoque psicopedagógico............................. 38

CONCLUSÃO....................................................................................................... 42

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 46

ANEXOS............................................................................................................... 51

ANEXO I – Pesquisa na Internet.......................................................................... 52

ANEXO II – Entrevista.......................................................................................... 54

ANEXO III – Reportagem..................................................................................... 58

ANEXO IV - Conteúdo de Revistas sobre Leitura................................................ 59

ÍNDICE................................................................................................................. 61