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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU
Juliana Madureira Masello
Reflexões sobre as possíveis influências das Telenovelas no cotidiano
brasileiro
Orientador: Prof. Jorge Vieira
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU
Reflexões sobre as possíveis influências das Telenovelas no cotidiano
brasileiro
Esta publicação atende a complementação didático-pedagógica da disciplina de metodologia da pesquisa e a produção e desenvolvimento de monografia para o curso de pós-gradução lato e stricto sensu.
Rio de Janeiro
2014
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AGRADECIMENTOS
Aos meus queridos amigos que tive o imenso prazer e oportunidade de conhecer na minha pós-graduação, pela ajuda. À minha mãe, pelo apoio financeiro, pela dedicação e confiança em minha capacidade intelectual. Aos professores que já passaram pela minha vida acadêmica e a Deus, por me dar diariamente força para continuar.
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DEDICATÓRIA
Aos meus queridos amigos da
Pós-Gradução. Aqueles que fizeram com que minhas quintas-feiras tivessem uma razão a mais para existir.
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RESUMO
Esta monografia traça historicamente o percurso que a televisão e a
telenovela brasileira fizeram até chegar aos moldes que conhecemos hoje.
Retratando a telenovela desde os folhetins de jornais franceses, passando
pelas comerciais soap operas, as radionovelas e com o surgimento da tevê, o
teleteatro e as diversas reformulações televisivas e novelísticas que
acompanharam o movimento sociopolítico e econômico brasileiro. A telenovela
ganha na década de 1970 um importante lugar de disseminação de ideologias,
conceitos, normas e preconceitos.
Esse trabalho visa mostrar quão impactante e poderosa pode ser uma
telenovela como um meio televisivo no cotidiano da sociedade brasileira,
abordando assuntos que envolvem o dia-a-dia das pessoas, como a moda,
música e merchandising.
Palavras-chaves: televisão, telenovela, influências das telenovelas
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I
A Televisão e suas Possíveis Influências 9
1.1 – Uma breve história antes da televisão: o rádio 10
1.2 – Década a década da televisão no Brasil 12
CAPÍTULO II
As Telenovelas 18
2.1 – As Radionovelas Brasileiras: da origem a sua decadência 18
2.2 – Telenovelas: da fantasia à realidade 23
CAPÍTULO III
Possíveis Influências das Telenovelas no Cotidiano 30
3.1 – Elementos estéticos
3.1.1 – Trilha Sonora 32
3.1.2 – Merchandising 34
3.1.3 – Moda 36
CONCLUSÃO 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42
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INTRODUÇÃO
Desde sua inauguração no Brasil, em setembro de 1950, a televisão
nascia predestinada, segundo seu fundador, o empresário Assis
Chateaubriand, a ser a mais subversiva máquina de influir na opinião pública
(BARBOSA, 2010, p. 19). Levou apenas uma década para que a tevê, de um
artigo de luxo, se tornasse algo indispensável à vida social (e familiar) do
brasileiro. A televisão expandiu-se bastante já naquela época; logo, seu poder
de subversão também foi aumentado. Um fato a ser destacado é a importância
social da televisão na Ditadura Militar, período que também caracterizou a
transição da experimentação para o profissionalismo, além dos padrões de
qualidade que surgem a partir da década de 1970. É também nesse decênio
que observamos a ascensão da Televisão, o surgimento da televisão em cores
e o fortalecimento do ato de assistir a novelas diariamente (RIBEIRO et al.,
2010). Podemos classificar a década de 1970 como o período no qual surgiu
molde televisivo dos programas, telenovelas, do telejornalismo e da própria
programação da televisão. Entretanto, com mais de 60 anos de consolidação,
ainda pouco se sabe sobre tal poder subversivo das imagens, e, sobretudo,
quanto à formação e projeção de identidade de seu público. Neste trabalho se
discute particularmente o formato da telenovela.
Esse formato é contado através de imagens televisivas, constituídas de
ações e diálogos, com apresentações em capítulos e com grupos de
personagens que se relacionam em diferentes locais dentro da trama. Roberta
Andrade acredita que a telenovela é uma dramatização e representação da
vida cotidiana, com todos seus problemas, conflitos, resoluções e
comportamentos. A narrativa que conta ―como a vida é‖ atua como um fator
que minimiza a distância entre o telespectador e o personagem, criando a
ilusão de uma história ―real‖. A realidade apresentada coincide com a realidade
social das pessoas (ANDRADE, 2003, p.58).
Este estudo propõe discutir a influência das telenovelas no cotidiano
brasileiro, apresentando os elementos estéticos que são abordados na ficção e
sua repercussão social. E é a partir desse pensamento que pretendemos,
nesse trabalho, apontar a real distância da realidade e da ficção, a fim de
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compreender como as telenovelas mexem com os mecanismos mentais, fortes
e decisivos de quem as assiste, a ponto de causar certa confusão por parte de
alguns telespectadores.
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CAPÍTULO I
A TELEVISÃO E SUAS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS
A televisão é um dos meios de comunicação de massa que incentiva a
sociedade a hábitos, atitudes e costumes. Por justamente esse meio influenciar
tanto a sociedade, ela tem o compromisso de ser educativa e ética. Muitos
programas televisivos usam temas educacionais já pensando em mobilizar a
população sobre um determinado assunto, por ser ela o grande instrumento de
comunicação e disseminação de informação e cultura da sociedade de massa
na qual fazemos parte.
Sua influência é tão grande que em uma pesquisa realizada nos Estados
Unidos, mostrou que 64% das pessoas só acreditam que um determinado
assunto é verídico depois que é divulgado na Televisão, ou seja, apenas 36%
dos americanos acreditam primeiramente nos outros meios de comunicação,
como nas Rádios, Jornais, Revistas, Sites etc. No Brasil esse fato se torna
mais complicado, pois maioria da população da classe E, que em grande parte
é analfabeta, tem a televisão como seu único meio de informação.
Desde segunda metade do século passado a Televisão esteve e está
presente nos mais diversos momentos históricos da humanidade, como: a
chegada do homem à lua; a queda do mudo de Berlim; o atentado de 11 de
Setembro, entre milhares de outros acontecimento acompanhados pelas lentes
das câmeras e em seguida televisionado para os telespectadores. E é através
disso que esse poderoso meio de comunicação faz com que o mundo fique
pequeno e que as pessoas se sintam mais próximas dos acontecimentos, de
diferentes culturas, hábitos e costumes. As telenovelas são uma prova disso,
quem não conhece ninguém que não tenha idolatrado a Xuxa? A rainha dos
baixinhos que nos anos de 1980 foi febre entre as crianças? A Televisão foi um
forte aliado do sucesso da apresentadora, foi através dela que gerações e
milhares de infâncias de muitos brasileiros e até estrangeiros foram
influenciadas. Mas não são apenas as crianças que são "dominadas", existem
muitos telespectadores adultos que se hipnotizam nas histórias televisivas,
quanto adulto não torceu pelo fim trágico da vilã Carminha na novela Avenida
Brasil?
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A força da TV é tão grande que não importa o sexo, classe social e a
idade, todos são atingidos de uma forma tão comum que quase nunca é
percebida. E por isso que diariamente somos bombardeados com
merchandising e campanhas publicitárias com objetivo de fidelizar o cliente
com exemplos em televisão. Estudos de psicologia mostram que a TV atinge a
cognição, o afeto e a conduta de indivíduos, independentemente da origem,
cultura e localidade (ORJUELA, 2001).
E é por isso que a TV se torna em muitos planos de mídia das agências
de publicidade os preços mais caros, ainda mais com a propaganda sendo
veiculada em horário nobre.
Essa força se torna visível e clara aos olhos de todos, uma metáfora
perfeita para descrever o poder da televisão é: ― para que você vai continuar
pescando de anzol se pode pescar de arrastão?‖
1.1 – Uma breve história antes da televisão: o rádio.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1920,
Westinghouse Eletric and Manufacturing Company tornou as ideias de David
Sarnoff, que previu as possibilidades da utilização da tecnologia da criação de
um novo produto de comunicação massiva, possíveis, criando a primeira
emissora de rádio do mundo, a KDKA (GONTIJO, 2004).
O rádio pôde ser considerado um veículo de comunicação de massa em
1922, nos Estados Unidos. Após três anos, em 1925, 19 países da Europa
implantaram transmissões regulares, além da Argentina, Austrália, Japão e o
Brasil. O progresso da radiofusão na Europa ocorreu de forma lenta. O governo
britânico, em 1926, tornou-se do estado a radiofusão, criando a BBC – British
Broadcasting Corporation, na qual a emissão se diferenciava da norte-
americana.
A década de 30 foi marcada pela ascensão desse veículo de
comunicação de massa, o rádio, que refletiu as mudanças que o país na época
passava. Por causa do crescimento econômico do Brasil, ele passou a ser
considerado um mercado promissor, o que fez com que investidores
estrangeiros se sentisse atraído pelo País.
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A Rádio Nacional marcou a radiofonia no Brasil, sua criação ocorreu
quando o mundo estava ainda se refazendo da primeira Guerra Mundial, em
1936. Sua programação já contava com a participação de famosos talentos,
como: Luciano Perrone, Dorival Caymmi, Almirante, Radamés Gnattali, entre
outros.
Parece que o rádio, mesmo no início de sua formação como meio de
comunicação de massa em meados da década de 1930, conseguiu determinar
modas e criar gostos, impondo gêneros e certa estandardização na música
popular, ―regredindo a audição das massas‖ (ADORNO, 1980). Entretanto, com
um diferente olhar da afirmativa de Adorno, o rádio no Brasil possibilitou nessa
época que a população de classe social pobre, difundisse seus gêneros de
uma maneira mais ampla, com estilos regionais urbanos como o Samba,
choros e canções sertanejas.
Em 1940, Getúlio Vargas encampou a Rádio Nacional, que sob a
direção de Gilberto de Andrade, ganhou um novo formato de programação.
Ano este que foi marcado como o auge do rádio no país. Foram considerados
ídolos dessa época Emilinha Borba, Janete Clair, Cauby Peixoto, Mario Lado, e
muito outros. Foi desde essa década até a década de 50 que a rádio viveu sua
era de ouro, tornando-se o meio de comunicação mais popular até então,
caracterizando uma implantação de cultura de massa no Brasil. Em 1974, com
a invenção do transistor, o rádio se tornou um equipamento
―amplamente acessível
devido ao seu fácil
manuseio e baixo preço.
Notícias e idéias puderam,
assim, alcançar grande
parte da população que não
sabia ler devido ao
analfabetismo disseminado
e contribuir diretamente
para o desenvolvimento de
processos políticos e
militares de enorme
alcance‖ (GIOVANNINI,
1987, p.18).
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Por várias décadas o rádio obteve total destaque na sociedade
brasileira, mas com o surgimento da televisão, no final da década de 50, o
rádio começou a perder o destaque, uma vez que o novo veículo de
comunicação não emitia apenas som, mas sim som e imagem.
1.2 - Década a década da televisão no Brasil
Em São Paulo, através da TV Tupi, PRF-3 TV, canal 3, no dia 18 de
setembro de 1950, a televisão foi apresentada aos brasileiros, o que
possibilitou que o país sentisse pela primeira vez a sensação de assistir
televisão, e foi o empresário das comunicações Assis Chateaubriand, que na
época controlava o Diários Associados, que possibilitou a nação o início desse
mais novo meio de comunicação da época, mas teve a pré-estréia com
apresentação de um padre cantor mexicano da época, Frei José, com as
imagens sendo assistidas em aparelhos instalados no saguão dos Diários
Associados.
Devido a pouca audiência por causa do caro preço do produto, apenas
quem tinha melhor poder aquisitivo tinha acesso ao aparelho, logo, após a
estréia da TV, as emissoras transmitiam suas programações apenas no
período da noite, das 18h às 23h, mas conforme o passar dos anos, a TV Tupi
paulista começou a disponibilizar a programação diurna.
A TV brasileira nos anos 50 submeteu-se à influência das rádios,
aproveitando profissionais e artistas, o que a diferenciou da TV americana que
era implantada com apoio na indústria cinematográfica. Na época a
programação era completamente ao vivo e improvisada, os recursos eram
pouquíssimos para manter a estação no ar. Como um exemplo de improviso,
logo na pré- estréia, uma das apenas duas câmeras que eram utilizadas pifou,
mas o diretor Cassiano Gabus Mendes, decidiu que o programa fosse ao ar
mesmo assim, transmissão essa que foi assistida com sucesso através de 200
aparelhos importados por Chateaubriand e espalhados pela cidade. Para
produção desses programas, eram utilizados somente alguns equipamentos e
os conhecimentos dos profissionais que ao longo de suas vidas haviam
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adquirido no rádio, no cinema e no teatro, que na época passaram a trabalhar
na televisão. Mas mesmo com poucos recursos seu rendimento e evolução não
deixaram de ocorrer.
Três anos depois, em 1953, já existia uma emissora no Rio de Janeiro, a
TV Tupi e três em São Paulo, entre elas a TV Paulista, inaugurada em 14 de
março de 1952, no canal 5, pertencente as Organizações Victor Costa e em 27
de setembro de 1953, a TV Record. A programação na época nessas três
emissoras era bastante variada, incluía dramaturgia, humorismo, programas
infantis, jornalismo, esportes etc.
Em 1955, acontece um marco importante na programação de esporte e
na televisão brasileiras, em 18 de setembro deste ano foi ao ar, na Vila
Belmiro, pela TV Record, a primeira transmissão externa direta do jogo Santos
X Palmeiras. E um ano depois, em 1956, a TV Tupi realizou a primeira
transmissão interestadual, direto do Maracanã, com o jogo Brasil X Itália.
O musical era um gênero muito utilizado nessa época, e ele foi
produzido de todas as formas, desde mais simples cópias de programas de
rádio até superproduções.
A telenovela praticamente sempre existiu na programação desde seu
surgimento, mas não havia a mesma popularidade e frequência que existe nos
dias atuais, iam ao ar apenas dois capítulos por semana transmitidos pela TV
Tupi e apresentava aos telespectadores jovens um conteúdo educativo muito
maior do que das novelas existentes hoje.
O gênero humor era realizado, quando possível, a presença de auditório
e através de pequenas histórias ou quadros, destinados para um público
adulto. Já para o público infantil, havia programações de desenhos animados e
gincanas.
Os Telejornais foram constantes na programação, os que obtiveram
maiores sucessos foram os emitidos no horário nobre. O primeiro telejornal
colocado no ar foi o Imagens do Dia. Como não havia boas condições para as
reportagens, elas eram realizadas em condições difíceis. Por não haver
equipamentos leves e menos pesados para televisão, as matérias externas
eram feitas com câmeras de cinema, para que houvesse agilidade nas
coberturas das reportagens que um telejornal precisa ter para obter um bom
retorno.
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Com o início da força de comunicação na televisão, era preciso
conhecer mais o telespectador e seus hábitos de consumo, para então
conseguir definir o melhor horário para veiculação de determinado produto.
Sendo feita em 1954, o primeiro IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião e
Estatística) de pesquisa de audiência de Televisão, que forneceu às agências
de publicidade a audiência, fator que foi dominante para a publicidade dentro
da Televisão.
No final da década de 50 a televisão já havia se expandido para as
outras capitais do país. Através de acertos e erros seus conhecimentos iam se
aprimorando cada vez mais. Até que em 1960 foi usado e introduzido na
televisão brasileira, pela primeira vez, o processo de gravação de imagem e
som, o chamado videoteipe, instrumento que possibilitava o melhor
acabamento dos programas e que as fitas dos programas televisivos fossem
copiadas e enviadas para outros centros de televisão do país, sem a
necessidade de transmissores, que tinham um curso muito alto. Finalmente
com o VT as telenovelas passaram a ser passadas diariamente e com menos
erros de texto. O VT fez com que mais 27 emissoras, com 80% da
programação em vídeotape gravadas no trecho Rio de Janeiro a São Paulo,
fossem inauguradas pelo país. Mas nessa época ainda não existi a
possibilidade de edição do VT. Mas ele passou a ser usado com freqüência
para gravação de comercial, que anteriormente eram passados ao vivo, e no
programa do Chico Anísio, chamado ―Chico Anísio Show‖, dirigido por Carlos
Manga.
Em 1965, foi inaugurada no Rio de Janeiro a TV Globo, canal 4, que
passou a se tornar Rede Globo e que um ano depois, em 1965, foi
implementada pelo diretor Walter Clark, um padrão de qualidade à emissora,
chamado até os dias atuais de ―Padrão Globo‖. A partir daí deu início ao
surgimento de outras emissoras famosas, como TV Bandeirantes de São
Paulo, TV Cultura, TV Excelsior.
Com essas reformulações, agilidade e maior alcance da informação, nos
anos 60 iniciaram-se as condições para que a televisão se tornasse um
fenômeno de comunicação de massa e o mais importante veículo de
comunicação. Dois gêneros de programas contribuíram para isso, foram eles: A
Novela e o programa de auditório. O programa de auditório sempre existiu
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desde estréia da TV, foi uma herança do rádio, onde a presença do público
servia como um adicional para gerar identificação e simpatia dos
telespectadores. Todos os programas eram apresentados por apresentadores
famosos como: Airton Rodrigues na TV Tupi, Silvio Santos, Bibi Ferreira na TV
Excelsior, Dercy Gonçalves na Globo, Chacrinha representando um público de
nível sócio e cultural menos favorecidos, através de gincanas e brincadeiras,
entre outros. A novela também existiu desde sempre, porém foi apenas nessa
década de 60 que ocorreu o grande interesse popular.
Em 1970 e 1972 ocorreram as maiores, até então, evoluções
tecnológicas da televisão no Brasil. A invenção da transmissão via satélite
possibilitou um crescimento popular assustador por causa do imediatismo e em
1972, houve uma segunda evolução, a televisão a cores, por meio da TV
Difusora de Porto Alegre.
Segundo o censo de 1970,
75% dos milhões de
televisores estão
concentrados entre o Rio
de Janeiro e São Paulo.
Devido à Copa do Mundo
ao vivo, o número de
aparelhos de televisão
chegou a 4 milhões de
lares equivalendo,
aproximadamente, a 25
milhões de
telespectadores.
Por causa do maior imediatismo através da formatação de redes, a
industrialização do veículo cresceu consideravelmente. Contudo, o país estava
vivendo na época da Ditadura Militar, na qual existia uma forte repressão da
informação, o que fez com que todo o conteúdo que fosse veiculado na
televisão e em todos os outros meios de comunicação, passasse antes pelo
setor de censura antes de ser apresentado ao público, mostrando ao
telespectador apenas o que interessava ao regime militar vigente, censurando
rigidamente qualquer outra informação "não aprovada". Podemos até dizer que
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naquela época a conduta brasileira era controlada pelos os meios de
comunicação através da Polícia Federal.
A Década de 70 foi também muito importante para os programas
televisivos brasileiros serem reconhecidos tanto no país quanto no exterior.
Cada vez mais programas brasileiros eram adquiridos em todo o mundo,
especialmente a novela, que introduziu esse famoso modismo brasileiro em
países Europeus como: Espanha, Portugal e Itália.
No início dos anos 80, com a liberação da censura militar, os programas
jornalísticos passou novamente a serem transmitidos com a tentativa de formar
uma consciência na população, deixando de ser apenas informativos e
passando a também discutir outras ideias. A televisão tornou-se referência,
direcionando pensamentos individuais e coletivos. Um exemplo disso foi o
presidente Emílio Médici, em março de 1973, ter falado o seguinte trecho no
Jornal Nacional, na emissora Rede Globo:
Sinto-me feliz todas as noites
quando ligo a televisão para assistir
ao jornal. [...] Enquanto as notícias
dão conta de greves, agitações,
atentados e conflitos em várias
partes do mundo, o Brasil marcha
em paz, rumo ao desenvolvimento.
É como se eu tomasse um
tranquilizante, após um dia de
trabalho" (Lima, 1985, p. 36).
Cada vez mais o esclarecimento se tornou presente nos programas de
diferentes gêneros. Mais do que nunca, a enorme força de manipulação desse
meio de comunicação exerceu a sua influência comportamental na sociedade.
O suavizamento da censura fez com que a TV transmitisse uma forma de
expressão mais ousada, introduzindo nus femininos e masculinos em diversas
atrações, inclusive nas de propaganda.
Os anos 90 e na nova era do ano 2000 continuou a ocorrer na televisão
novidades, técnicas e conteúdos. Inúmeras emissoras com um direcionamento
a públicos mais específicos foram inauguradas, houve o surgimento de novas
redes, chegava ao país as primeiras concessões do sistema de TV a cabo,
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sendo a Canal Plus o primeiro canal por assinatura, maior veiculação do
esporte, que teve um momento muito marcante em 1994, quando foi realizada
a transmissão da Copa do Mundo dos EUA e outros marcos importantes para o
país, pela emissora Rede Globo. A programação de esporte passou a ser
exibida no horário nobre por causa do retorno positivo do público.
Entretanto, o maior marco da televisão nos anos 90 foi à extrema
comercialização do veículo, tudo passou a ser comercializado, programas
passaram a utilizar vinhetas com nomes dos patrocinadores, foi criados canais
para venda de produtos, até as novelas foram dominadas pela
comercialização. O comercial sempre teve grande importância para a
sobrevivência da televisão, mas nunca havia sido em outras décadas dessa
forma exagerada, que induziu e induz até os dias atuais o público a comprar.
Com a televisão tendo como objetivo principal lucrar, cada vez menos
ela se preocupa com a qualidade dos seus produtos, o que proporciona a
televisão um padrão de informação cada vez pior. Essa década foi marcada
pela excessiva liberdade de transmissão e pela desenfreada comercialização,
transformando um momento de lazer em uma vitrine de ofertas.
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CAPÍTULO II
AS TELENOVELAS
Para os brasileiros, ver telenovelas se tornou um hábito tão comum
como qualquer outro a que estamos acostumados. O que não se imagina é que
nessas seis décadas de sua evolução esse ―assistir se tornou algo inerente até
mesmo no que tange a nossa identidade nacional.
As telenovelas da América do Sul são sem dúvida o produto televisivo
de entreterimento de ficção mais exportado e mais consumido no mundo inteiro
(MOREIRA, 1991). Décadas após o seu surgimento, é possível afirmar que as
telenolevas no Brasil conquistaram reconhecimento do público como um
produto artístico e cultural, ganhando visibilidade como agente central do
debate sobre a cultura brasileira e a identidade do país (LOPES, 2003).
Vale salientar dois pontos importantes que devem ser citados antes da
leitura deste capítulo: o primeiro é que as telenovelas não são apenas um
gênero de entreterimento da programação. O outro é que este trabalho ―não
pretende defender ou criticar os produtos de comunicação de massa como um
todo‖ (LOPES, 2003, p. 29), mas sim apresentar ao leitor outros pontos de vista
sobre as possíveis influências e a história das telenovelas brasileiras.
2.1 - As radionovelas brasileiras: da origem a sua decadência
As telenovelas têm como grande antecessor histórico o folhetim, que se
designa como uma narrativa fragmentada, de divulgação em série, ligada à
dramaturgia divulgada pelos jornais europeus no século XVIII. Os pioneiros na
veiculação dos folhetins foram os jornais franceses La Presse de Émile de
Girardin e Le Sièle de Dutacq, que se aproveitaram do poder e do sucesso
comercial dos folhetins. Em 1836, foram lançadas as primeiras edições do
romance fatiado, mais tarde a base do que hoje conhecemos como telenovela
(SOUSA, 2009). É válido ressaltar que a França da década de 1830 passava
por uma grande censura política por parte de Napoleão III. Já com o intuito de
popularizar o jornal, Girardin, editor do La Presse, além de torná-lo um diário,
levou-o também o jornal aos artesões, operários e camponeses, fazendo com
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que iniciasse ali o gênero feulleton, com forte influência literária sobre o
Romantismo na virada do século XVII para o XIX: ―como estilo, como gênero –
embora a mentalidade romântica tenha origem no século XI. E é exatamente
no século XIX que o empresário deu início ao comércio de obras literárias,
nascendo assim a indústria cultural, tendo como base a literatura desse século‖
(ALENCAR, 2002, p. 41-2). Isto é, foi gerado um sistema poderoso, que deu
origem a lucro e mais acessibilidade às massas.
O primeiro romance desse gênero foi o espanhol Lazarillo de Tormes, de
1836 de autoria anônima. O La Presse passou a vender diariamente 950 mil
exemplares na França. Depois do êxodo, Girardin convocou seletos escritores
da época para escreverem para o jornal, entre eles estavam: Alexandre
Dumas, autor de O Conde de Monte Cristo, e Honoré de Balzac, que escreveu
La Vieille File, em capítulos. A partir daí deu-se início à concorrência. Em 1846,
o Le Siècle publicou Os mistérios de Paris, de autoria de Eugène Sue, que
alcançou tanto sucesso quanto as outras produções do La Presse. A
popularidade transformou o folhetim no ―primeiro produto da indústria cultural
crescente‘‘ (ALENCAR, 2002, p. 42). A população da literatura fez emegir nos
folhetins ―A necessidade de atender a uma demanda popular grande e
diversificada, fazendo com que os autores optassem por um gênero
maniqueísta e instrumental, jogando com as oposições luz/trevas, bem/mal,
herói/ vilão, etc‖ (PERET, 2005, p. 38). Peret ainda cita o interessante fato de
que alguns autores desses folhetins popularescos, hoje autores clássicos,
como Dickens e Dostoiévski, transcenderam de uma origem popular e
massificada. Afirma também que os folhetins além, de romance e suspense,
tinham em suas histórias elementos melodramáticos, que os transformavam
em uma produção voltada para o público feminino. Isso porque, no século
XVIII, o mundo europeu percebia que o ―amor romântico‖ se distinguia do sexo
reprodutivo, e logo as demonstrações de afeto mudaram. Esse seria um dos
motivos pelos quais em nossa língua o romance representa tanto um formato
literário, que se caracteriza por sua extensão relativamente longa, como divisão
por capítulos, diversos gêneros (drama, suspense, comédia etc), e ao mesmo
tempo o ―romance‖ pode ser empregado para designar o sentido do amor
romântico. Considerando-se que a língua é um reflexo direto da cultura,
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podemos estabelecer a premissa de que, na nossa cultura, a narrativa de
ficção e os ideais românticos são muito próximos no imaginário popular
(ALENCAR, 2002, p.39).
Foi nesse contexto sociocultural que o folhetim romanceado surgiu e foi
agregando elementos, como a fotografia, as revistas ilustradas e as
fotonovelas. A partir daí, em 1940, os folhetins encontraram um meio de
potencializar seu alcance nas massas, passando a ser contados no Rádio, nos
Estados Unidos, caracterizando a radionovela (ALENCAR, 2002, p. 44-5)
O caminho dos jornais para o rádio foi percorrido rapidamente. No
processo de desenvolvimento, as radionovelas continuavam marcadas pelas
fortes influências do padrão comercial e folhetinesco das antecessoras soap
operas, um produto que se originou nos moldes dos folhetins, porém
desenvolvido nos Estados Unidos e denominado em português ―ópera de
sabão‖, cuja
a denominação provém dos patrocinadores
deste gênero narrativo (...). Com o objetivo
de sensibilizar as donas de casa, levando-
as a consumir sabões, detergentes e
outras mercadorias do gênero. O público a
que se destinam já de início difere a
narrativa do gênero folhetinesco. Este era
voltado para um público mais genérico, os
leitores de jornais. Ao passo que a soap
opera destina-se a um gênero específico, o
feminino (SOUSA, 2009).
A primeira soap opera foi a radionovela Painted Dream, de Irna Phillips.
As radionovelas, de origem folhetinesca, desceram um pouco o Atlântico e,
pela proximidade com Miami, desembarcaram em Cuba, passando aquele país
a produzir novelas. Foi lá que se tornou o maior influenciador no modo de fazer
as radionovelas, primeiro, e posteriormente as telenovels brasileiras das
décadas de 1950 e 1960 (ALENCAR, 2002, p 17). Lembrando que a soap
opera difere da própria telenovela|rádio novela pela sua estrutura em que se
baseia e pelo viés comercial na duração, assim:
Uma das diferenças principais é
que a soap opera, nascida nos
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Estados Unidos, é escrita para ser
infinita, indo ao ar enquanto houver
uma audiência suficiente para
persuadir os patrocinadores a
pagar pelo programa. A telenovela,
por outro lado, é escrita para ter
uma duração de 120 a 300
capítulos, hoje padronizada entre
180 a 200 capítulos. Na telenovela,
os protagonistas são, geralmente,
um casal, enfatizando o star
system, enquanto que na versão
norte-americana os protagonistas
são uma família ou uma
comunidade inteira (MAZZIOTTI;
FREY-VOR, 1993, p. 48).
No Brasil, é possível citar um programa atual que foi elaborado com o
intuito de seguir a linha das Soap Operas Americanas, que é o seriado
Malhação. O seriado existe desde 1995 e chega à sua 20ª temporada em
2012. Inicialmente, a trama se passava em uma academia na Barra da Tijuca e
ao longo desses 17 anos muitas mudanças já foram realizadas, mas apenas
uma coisa permanece até hoje, a tentativa de retratar uma juventude de classe
média da sociedade brasileira.
Entre a soap opera e a telenovela ocorreu outro tipo de produção que
também teve um papel importante na formatação das telenovelas|radionovelas,
que foram as influências nos propósitos comerciais das mesmas
patrocinadoras de sabão. Essa força comercial é demonstrada ao apontarmos
casos em que os patrocinadores das radionovelas escolhiam o autor com quem
desejavam trabalhar (AZEVEDO, 2007, p. 88).
As radionovelas chegaram ao
Brasil no período após a II Guerra
Mundial. (...). Nascida sob a
influência de patrocinadores seguiu
a trajetória já testada na América
Latina mantendo o padrão
maniqueísta, que prioriza temas
22
folhetinescos e melodramáticos,
direcionados ao público feminino
(SOUSA, 2009).
A partir da década de 1940, surgiram as radionovelas no Brasil,
estreando na Rádio Nacional, em 1941, ―Em busca da felicidade‖, do autor
cubano Leandro Blanco, adaptado por Gilberto Martins. O texto com caráter
dramático foi levado ao ar por meio da Standart Propaganda, na época a
agência de propaganda do creme dental Colgate, que escolheu o horário
matutino, especificamente às 10h30, segundas, quartas e sextas-feiras, para a
radionovela ir ao ar. Porém, a escolha desse horário não favoreceu a
audiência, causando um fracasso iminente, pois as radiodramatizações eram
veiculadas normalmente no horário noturno. A intenção da agência era
contratar o diretor de radioteatro Victor Costa, e todo o seu elenco, para
posteriormente comprar um horário próprio no rádio e poder realizar a
transmissão de suas radionovelas. Mas o diretor da Rádio Nacional, Gilberto de
Andrade, não permitiu que isso acontecesse, proibindo a saída do diretor e dos
atores para a agência. Em contrapartida Victor Costa propôs que a própria
Rádio Nacional passasse a produzir suas radionovelas, vendendo-as aos
patrocinadores e a outras emissoras de rádio. Além disso, Victor Costa
passava a receber uma comissão de participação sobre todos os programas
que tivessem a atuação do radioteatro, tornando seus lucros de Victor
altíssimos (SOUSA, 2009).
A partir daí tiveram início as produções radiofônicas do gênero, que logo
em 1940 se popularizaram. Essa grande popularização do rádio veio da não
necessidade da leitura, que na época (década de 1940), mais da metade da
população acima dos 15 anos eram analfabetas. Logo, a leitura dos folhetins
não seria tão regular quanto o uso do rádio, um veículo independente daquele
tipo de recepção.
Nas décadas de 40 e 50, o número
de emissoras de rádio cresceu
vertiginosamente, exercendo uma
atração tal sobre o público ouvinte
que fez com que o período
entrasse para a história como os
23
anos dourados do rádio brasileiro‗.
As radionovelas ocuparam um
lugar de destaque nesse período
(SOUSA,2009, p.83).
As radionovelas dominaram o cenário radiofônico e trilharam
um caminho de grande sucesso na
América Latina e no Brasil (...):
entre 1943 e 1945, foram
registradas as transmissões de
116 novelas só pela Rádio
Nacional, em um total de 2.985
capítulos; a Rádio São Paulo tinha
até nove novelas diárias
transmitidas simultaneamente. O
folhetim impresso jamais tivera
tanta repercussão (PERET, 2005,
p. 71).
2.2 - Telenovelas: da fantasia à realidade
A radionovela durou até meados da década de 1950, quando foi
apresentada aos brasileiros a desconhecida televisão. Os custos de produção
das radionovelas tornaram-se muito altos para serem mantidos, enquanto o
fluxo de patrocínio do rádio fluía para a televisão. Isto tornou a falta de recursos
uma das grandes causas do abandono do gênero pelo rádio.
Na década de 1950, com o fim das radionovelas, vimos a ascensão de
outro gênero, o qual esse estudo visa abordar com maior profundidade: as
telenovelas. Esse formato tão desconhecido deu origem a uma verdadeira
revolução social na vida e no cotidiano dos brasileiros.
Com a inauguração em setembro de 1950, a televisão tornou-se a
meninas novidade em matéria de meios de comunicação. Já em 1952 entraram
em cena os teleteatros, produções que mais se assemelhavam a um teatro
gravado do que a uma telenovela, diária, com linguagem própria, tal como
conhecemos hoje.
24
Principal gênero dramático brasileiro a que
se assistiu nos anos de 1950, o teleteatro
foi o principal programa ficcional de maior
privilégio junto ao público, aos
profissionais da televisão e aos críticos
que acompanham as telepeças em todos
os horários e emissoras existentes
naqueles primeiros anos da TV. Isso se
deve, em partes, ao fato de os principais
teleteatros trazerem para a TV um
referencial da chamada alta cultura,
exibindo os clássicos da dramaturgia e
literatura mundiais e, ainda, levando à
telinha os atores mais representativos do
nosso teatro. Sua produção/exibição se
organizou com o virtual monopólio de um
grupo — a Rede Tupi de Televisão — que
integrava o primeiro oligopólio da
informação no Brasil, os Diários
Associados, de propriedade de Assis
Chateaubriand (BRANDÃO, 2010, p. 37).
Mas o desgaste inicial do teleteatro veio, primeiramente, por causa da técnica
imensamente limitada, pois naquela época a programação era feita ao vivo,
com improvisos. Além de tudo não havia profissionais de televisão no Brasil, o
que prejudicava o desenvolvimento. Mas o enfraquecimento final do gênero só
ocorreu na segunda metade da década de 1960, quando a telenovela diária já
se impunha como gênero de maior popularidade e de baixo custo para as
emissoras de TV (BRANDÃO, 2010, p. 46-8). Coincide de ser na mesma época
em que a televisão se popularizava, ou seja, se tornava mais acessível a um
número cada vez maior de pessoas, em meados de 1960 (BERGAMO, 2010, p.
59).
Com a importação de um modelo argentino de videotape, em 1963, pelo
superintendente da tevê Excelsior, Edson Leite, tornou-se possível o
surgimento da telenovela diária. E foi nesse momento que o videotape passou
a ser introduzido na programação diária. Essa tecnologia possibilitou que
25
diversas pessoas, em lugares diferentes vissem os mesmos programas, mas
com atrasos que variam de acordo com o tempo que a fita demorava a chegar
(HAMBUGUER, 2011, p. 2). A primeira delas foi 25499 Ocupado, adaptada por
Dulce Santucci da espanhola 0597 Da ocupado, de Alberto Migré. Mas o
primeiro grande sucesso das telenovelas foi produzido na tevê tupi de São
Paulo, com O Direito de Nascer, adaptada para a televisão do clássico cubado
El Derecho de Nacer de 1946. Mauro Alencar aponta que o sucesso da novela
era tão grande que:
Todas as noites de 21h30 às 22
horas, o País parava (inclusive
com uma acentuada queda do uso
da rede sanitária; os banheiros das
casas não eram usados durante o
horário de O direito de nascer)
porque as pessoas estavam
acompanhando as peripécias
daquele emocionante drama da
paternidade perdida, num tempo
em que o DNA ainda não tinha
entrado em cena no palco da vida
real. (...) Cartórios espalhados pelo
País ainda guardam em seus livros
alguns Albertinhos Limontas‗ antes
de seus sobrenomes, assim na
certidão como na pia batismal. E
vários casamentos foram
marcados para as 22 horas em
ponto. Ou seja, para que o noivo, a
noiva, os padrinhos, os convidados
e até mesmo o celebrante não
perdessem o capítulo daquela
noite (...). Daí pra frente, tudo ia
ser diferente, o Brasil nunca mais
seria o mesmo: depois das
capitanias hereditárias, o País
26
estava dividido em capítulos
(ALENCAR, 2002, p. 18).
Com a telenovela diária, esta passou a entrar na residência das pessoas
e começar a fazer parte do dia-a-dia do povo brasileiro. O que antes era o
público da rádio agora se tornava o público da TV. Mas não foi apenas o
público que migrou para a televisão, os patrocinadores também. Antes de uma
matriz que personificasse o brasileiro, houve no rádio uma experiência de
formação entre as estruturas de ―espectador‖ e ―povo‖, quando os ouvintes
enviavam cartas, faziam ligações telefônicas, o que marcava o apoio ou a
reprovação aos comportamentos dos personagens. O que facilitou na formação
e formatação do sentido de ―povo intelectualmente ingênuo‖, sendo assim, foi
criada a estrutura de ―público‖ e ―povo‖ intrinsecamente moral, destaca
Alexandre Bergamo (2010, p.70-1).
Em 1968, quando foi lançada pela tevê Tupi a telenovela Beto
Rockfeller, de autoria de Cassiano Gabus Mendes e Braúlio Pedroso, ocorreu,
mesmo que acidentalmente, a renovação do gênero no Brasil. Na época a tevê
Tupi passava por dificuldades financeiras e decidiu lançar um formato mais
simplificado, sem um estilo fantasioso, ou seja, sem duques, duquesas, sheiks
etc. Talvez tenha sido este o grande motivo da boa aceitação, a aproximação
com o cotidiano. Esse sucesso grandioso de Beto Rockfeller e de Antônio
Maria, ambas da tevê Tupi, despertou uma grande preocupação dos
concorrentes.
Em 1973, como uma medida reacionária da popularização de outras
emissoras, a TV Globo, por meio de fortes influências tecnológicas e
administrativas (provenientes dos Estados Unidos), revoluciona o modo de
fazer televisão, definindo o que ficaria conhecido por ―padrão Globo de
qualidade‖. Englobando dentro desse parâmetro a consolidação do videotape e
a diminuição das produções ao vivo, contando com o mais poderoso recurso
para edição de imagem da época, o Editec, que permitia, além da inserção de
recursos gráficos, a voz em off e a correção de equívocos e imperfeições nas
gravações, pois no começo da televisão no Brasil toda a programação ia ao ar
instantaneamente.
Do ponto de vista da televisão como grande mercado e as emissoras
como megaempresas, como uma indústria que dá asas à fantasia,
27
A TV Globo levou vantagem em
seu processo de modernização,
pois contou com o auxílio do grupo
Time-Life, que recebeu recursos
de assistência técnica,
administrativa e de equipamento
que permitiu a consolidação de seu
prestígio televisivo respaldada pelo
conceito de um produto de classe
média, límpido e tecnicamente
bem-feito
Logicamente, o padrão Globo de qualidade atingiu também as
telenovelas. Grande intelectuais e artistas, como Gianfrancesco Guarnieri,
Walter Lima Júnior e Dias Gomes, foram escalados pela emissora carioca para
conseguir a adesão de públicos mais distintos. A Telematurgia da Globo era
conduzida pela autora cubana Glória Magadan, predominando ainda o estilo
folhetinesco, ou seja, com tramas mirabolantes, histórias inverossímeis e
lugares exóticos. Após a sua demissão, as tramas da emissora tornaram-se
mais realistas, simples e próximas do cotidiano do público, com temas com
uma linguagem propriamente televisica e mais urbanos. Foi em 1969 que a
novela Véu de noiva, marcou a nova formatação do genêro na TV Globo. Com
a trama baseada em diálogos curtos e rápidos de linguagem coloquial, além de
imagens do Rio de Janeiro, com personagens de ficção misturados a pessoas
conhecidas, como Vinicius de Moraes. Também nessa novela foi introduzido
uma outra novidade: as trilhas sonoras.
A novela foi divulgada da seguinte
forma: Em Véu de noiva tudo
acontece como na vida real. A
novela-verdade. O slogan
demonstrava como estava sendo
estrategicamente implantado o
processo de modernização da
teledramaturgia. A trama se
ancorava tanto nas inovações
narrativas quanto na
28
representação realista trazendo
para a história traços e fatos de
reconhecida existência (e de fácil
identificação) no tempo de sua
exibição (RIBEIRO, 2010, p. 124).
Toda a estrutura da telenovela tal como a conhecemos hoje resulta de
seu passado e das reformulações já sofridas desde os folhetins até o modo
brasileiro de se fazer teledramaturgia. Pouco se conhece sobre as formas de
influência na vida de quem a assiste. Mas o fato é que precisamos analisar
também o sentido social e a proporção que a novela causa na sociedade
brasileira.
Destacamos a década de 1970, como a época em que a telenovela
tornou-se alvo de investimentos industriais. Até 1974, a intensificação da venda
de aparelhos de televisão e a criação de uma programação que agradasse
também às classes mais baixas, continuaram a crescer. Aumentando assim a
influência da televisão sobre o povo brasileiro. Logo, os interesses dos órgãos
censores, como o da Divisão de Censura de Diversões Públicas, tinham como
estratégia veicular na televisão mensagens mais simples e assimiláveis à maior
parte da população (MARCELINO, 2004). Sendo assim:
o Estado, particularmente a partir
de 1964, durante o regime militar,
tornou as telecomunicações um
elemento estratégico na política
de desenvolvimento, integração e
de segurança nacional do regime.
Além de aumentar o seu poder de
ingerência na programação por
meio de novas regulamentações,
forte censura e políticas
normativas, o governo militar
investiu maciçamente na
infraestrutura, o que possibilitou a
formação de redes nacionais
(sistema de micro-ondas, satélite)
(LOPES, 2003, p. 20).
29
Sendo assim, se até o regime militar tinha a pretensão de estimular o
sentimento de nacionalidade latente nos brasileiros, o que mais a telenovela
poderia influenciar?
30
CAPÍTULO III
POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS DAS TELENOVELAS NO
COTIDIANO
As novelas são produtos permanentes e indispensáveis na vida
cotidiana da maioria das pessoas. Marcondes Filho (1988) acredita que as
novelas produzem emoções, mexem com os mecanismos mentais, fortes e
decisivos de quem a assiste, ou seja, a telenovela faz com que o público entre
inteiramente no social, fazendo-o ter domínio das regras da sociedade, seja ela
da moda, da música ou até mesmo do que se é falado, dos famosos bordões.
Transformam os telespectadores em verdadeiros consumidores.
Quando a diminuição da distância entre a realidade e a ficção tende a
diminuir, pode se dar certa confusão por parte de alguns telespectadores,
que promovem uma reciprocidade entre a
ficção e a realidade, transferindo aos
interpretes os defeitos ou qualidades dos
personagens. Como aconteceu com O
cafona, quando alguns setores da alta
sociedade carioca passaram a se sentir
desnudados por certas canas e a
emissora começou a creditar o famoso
aviso: Qualquer semelhança com pessoas
vivas ou mortas e com fatos reais terá sido
mera coincidência (ALENCAR, 2002, p.
92).
Os modismos instaurados pela telenovela a partir de 1970 não seriam a
exemplificação do seu poder de projeção? As novelas transmitem imagens que
funcionam como passaportes para que os telespectadores sintam-se num
grupo, assim são levados a utilizarem o cabelo de tal personagem, as roupas
de outra, ou até mesmo um bordão; isso nos dá a segurança de um
posicionamento na sociedade. Por isso,
―observasse ainda hoje jovens do interior
da Amazônia tentados a adotar atitudes
dos rapazes de Ipanema, no Rio de
31
Janeiro, ou dos Jardins, em São Paulo,
que representam absoluta minoria, mas
que a partir do momento em que são
tirados do real e recriados na tela, passam
a ser imitados, como acontece com todos
os valores da sociedade de consumo―
(ALENCAR, 2002, p. 90).
Esse sentimento de identificação está diretamente ligado ao surgimento
do sujeito pós-moderno, que Stuart Hall define como um sujeito fragmentado,
como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente (2004, p.12). Ao
receber certos tipos de imagens, esse sujeito fragmentado pode agregar em si
certos valores e ser mais passível ao assimilar representações culturais. Sendo
assim, possuímos identidades cambiantes, o que faz com que nos
identifiquemos com certos tipos de personagens, mesmo que temporariamente
(Hall, 2004, p. 13).
Destacamos as telenovelas da década de 1970 e seu sentido social,
porque foram flagrantemente utilizadas como veículo que sancionou um
espírito primeiramente brasileiro e depois com ênfase no Brasil moderno que o
poder militar gostaria de propagar. Nem que para isso o país tivesse de ser
retratado com ênfase em cenários e personagens glamurosos. Nesse período,
a novela exclui situações de pobreza e constrói universos formados
basicamente por personagens brancos (HAMBUGUER, 2011, p. 6).
A (re)construção da realidade por meio da telenovela está diretamente
ligada ao mesmo processo de criação de uma nova identidade nacional (tão
veiculada durante a Ditadura Militar) e que Hall exemplifica ao dizer que as
identidades não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e
transformadas no interior da representação (2004, p. 48). E a telenovela reforça
e potencializa o sentido das representações e identificações ao longo dos
capítulos. Esther Hambuguer reitera a observação de Hall ao analisar que a
telenovela tem um poder que potencializa a função vitrine do folhetim
eletrônico. Ao difundir narrativas que veiculam moda, possibilita que, via
consumo, o espectador se sinta parte do universo narrativo (HAMBUGUER,
2011, p. 6). A novela se torna também um espaço no qual são retratos temas
relacionados ao dia-a-dia dos telespectadores, usando o comportamento social
32
como um gancho para o aumento da audiência, fazendo com que o público
enxergue no personagem de uma determinada história/novela reflexos de sua
própria vida.
3.1.1 - Trilha Sonora
A utilização das músicas nas telenovelas se iniciou com as chamadas
"trilhas sonoras originais", como o nome já diz, eram feitas originalmente para
especificas novelas. Sendo a emissora Rede Globo, através da gravadora
Philips, a primeira a levar adiante músicas compostas especialmente para
determinada novela. Foi na novela "Véu de Noiva", produzida por Nelson
Motta, a primeira trilha sonora original, que vendeu 70 mil cópias. Xavier
menciona que essas trilhas foram tradição até 1976, quando a partir de então
passaram a ser feitas através de seleções aleatórias.
A música é um dos instrumentos fundamentais para compor e mexer
com o íntimo do telespectador. E é exatamente essa a intenção quando se
escolhe a canção para fazer parte da trilha sonora da trama de uma telenovela.
A trilha sonora foi feita para isso,
para induzir! É o elo entre a cena
visual e o que, na verdade, só com
os olhos não se percebe. (...) em
termos do uso dos sentidos, no
fundo, a audição é o que mais
atinge os sentimentos. (...) Eu acho
que a grande arma é a trilha.
Porque ela é o codificador e o
decodificador das emoções. A
música materializa para você a
intensa alegria, a pouca alegria, o
intenso medo, o pouco medo; ela é
como um balizador do que o diretor
quer passar (Righini, 2004, p. 153-
4).
Sendo ela, pensada desde o momento da pré-produção, por colaborar
para dois tipos de cenas: a que sem o diálogo do autor/atriz a cena consiga
33
falar por si só e também cenas com diálogos, mas que sem a trilha sonora
passariam despercebidas e pouco dramatizadas. Não causando os impactos
necessários que os telespectadores necessitam para entrar e se envolver na
trama, o que os fazem, depois desse envolvimento, consumir as músicas
presentes na trilha sonora.
Moraes (1986) acredita que, se alguém está triste e com vontade de
continuar deprimido, vai procurar uma música que a convenção qualificou como
triste. E, assim, poderá eventualmente saborear com maior intensidade o seu
sentimento, com o auxílio da música transformada em clima. Ou seja, se algum
personagem da telenovela estiver chorando com uma música de fundo triste,
certamente a chance de esse telespectador procurar essa música para reforçar
algo que já é latente nele mesmo é grande.
Moura (2008) sustenta a ideia que uma canção em uma trilha sonora faz
com que o nível de expressão venha carregado de outros significados,
segundos e terceiros, a começar pela (re)leitura da nova intérprete. Nesse
contexto, podemos ressaltar que a interpretação do cantor(a) influencia muito
na forma de expressão e dramaticidade, podendo fazer total diferença na hora
de incorporar sua canção em um determinado personagem de uma telenovela.
Muitas canções foram gravadas há anos, e após a sua regravação para serem
usadas nas telenovelas se tornaram novamente sucesso. Como por exemplo, a
canção de Roberto Carlos "Como vai você" gravada inicialmente, em 1972, e
que a cantora Daniela Mercury regravou para a novela das nove horas, "Laços
de Família".
Mas nesse universo da teledramaturgia, os autores buscam
compreender o que causa ou não impacto no telespectador, por justamente a
"fórmula" continuar a mesma. As questões da vida em si não mudam. O que
pode vir a mudar é o caminho, o motivo que levou a se viver determinado
sentimento dentro de determinada história. Mas as alegrias e as tristezas
continuam sendo sempre as mais exploradas nesse universo.
Como todos os produtos existentes no mercado, com a telenovela não
seria diferente, e logicamente ela também tem o seu "prazo de validade" na
memória do telespectador. As telenovelas,
como as séries americanas, não
foram feitas para serem
34
lembradas. Trata-se realmente de
produtos que possuem uma
obsolescência muito mais rápida
do que um disco ou um filme, que
podem sempre ser escutados ou
vistos, em momentos posteriores
ao seu lançamento no mercado
(RAMOS, 1991, p. 121).
É possível que muitos se recordem de personagens marcantes, cenas
impactantes, mas é praticamente impossível recordar de todos os
acontecimentos ocorridos na trama, mesmo tendo assistido-os na integra. O
que se torna memorável por um tempo maior são os famosos bordões que
caem no gosto do público. Mas a trilha sonora tem um poder diferenciado, pois
as músicas ajudam na construção da "marca" da novela e na personalização
da marca. A recém-exibida novela "Avenida Brasil" é um exemplo: não há um
telespectador que não associe e se recorde da novela ao passar por um
determinado local e escutar "oi oi oi", refrão da música de abertura.
A comercialização dos respectivos produtos fonográficos faz com que
passe a ser além de uma forma rentável, uma forma de associação com as
telenovelas como forma de marcar presença na memória dos brasileiros. Por
ser mais fácil a associação e a lembrança da novela ao escutar um CD
comprado na época, do que a lembrança sem nenhuma referência.
Podemos então constatar que o som pode ser visto também como um
transmissor de emoções, que envolve o público no contexto vivido e no texto
narrado, desde um personagem ao elenco inteiro.
3.1.2 - Merchandising
Podemos observar o merchandising como um elemento estético
claramente perceptível para os telespectadores que assistem as telenovelas.
Muitas vezes nos deparamos com cenas que envolvem nelas diversos tipos de
ações de merchandising. Essas que podem ser divididas em duas maneiras de
serem interpretadas: o Comercial e o Social.
35
Blessa no livro Comunicação no ponto de venda (PEREZ e BARBOSA,
2007, p. 342) afirma que o merchandising é ―qualquer técnica, ação ou material
promocional usado no ponto-de-venda que proporcione informação e melhor
visibilidade a produtos, marcas e serviços, com o propósito de motivar e
influenciar as decisões de compras dos consumidores‖. Dessa forma, é
importante lembrar que o produto ou serviço divulgado deve sempre se
adequar à teledramaturgia, pois assim os telespectadores podem se identificar
com os personagens, causando repercussão nos hábitos de consumo de cada
telespectador. E é justamente isso que o torna uma ferramenta tão forte,
porque, estando inserido nos programas, passa a ser algo que está incluído na
trama, e é ela que as pessoas querem ver.
Em 1969, na telenovela Beto Rockfeller, como protagonista, Beto,
personagem de Luís Gustavo, foi à primeira experiência de merchandising.
Luís Gustavo conta como tudo começou:
O (empresário) Dirceu Fontoura, que não
perdia um capítulo da novela, me chamou
porque ia lançar um remédio, o Engov. E
propôs que cada vez que eu falasse a
palavra Engov dentro da novela, ganharia
três mil cruzeiros. Eu enlouqueci, porque
ganhava novecentos cruzeiros por mês e
não recebia. Não podia olhar nada, que
tudo era Engov em mim. Só um capítulo,
falei trinta e três vezes a palavra Engov,
sendo vinte e duas por telefonema para o
Vitório (Plínio Marcos).
Com essas ações improvisadas começaram a surgir na década de oitenta, os
primeiros casos de merchandising em outras diversas novelas, como Dancing
Day's, Água Viva etc. Isto fez surgir também anunciantes interessados em
utilizar essa nova ferramenta.
Como foi mencionado no começo, existem duas formas de
interpretações do merchandising. A comercial, como a palavra mesmo já diz,
visa comercializar, ou seja, divulgar uma mercadoria, marca ou serviço, com a
única intenção de lucrar. E o Social que ao contrário da comercial, tem como
objetivo a difusão de valores positivos para o bem-estar coletivo da sociedade,
36
formando um compromisso ideológico com o pensamento do autor ou da
emissora de televisão. Partindo da vontade do autor discutir temáticas sociais
ou por pura imposição da emissora de televisão. Mas normalmente a comercial
é desenvolvida pela emissora e a social pelo autor, justamente por ser uma
maneira de alertar a sociedade sobre algo que acontece no dia a dia de todos.
O Merchandising comercial por não possuir cliente fixo como nas
agências de publicidade, apresenta dois tipos duas maneiras de oportunidades
para o anunciante: através de resposta a consultas, que é quando as próprias
agências verificam se existe oportunidade dentro da trama para o produto que
elas querem vender e através do levantamento de oportunidades, o chamado
LEVOPS, que é justamente ao contrário, antes mesmo da novela começar a
ser gravada, já se constitui possibilidade de colocar em determinadas cenas
um merchandising. O gerente de criação e produção da TV Globo, Paulo
Roberto Moura, menciona: que "a gente vai o tempo todo trabalhando, um
trabalho de formiguinha, decupando capítulo, decupando sinopse, conversando
com autor, conversando com diretor, conversando com cenógrafo, vendo que
tipo de oportunidade a gente poder oferecer".
É interessante notar que a TV através de muitos elementos influencia a
sociedade, mas através do merchandising social, concluímos que a TV também
pode ser alvo de influencia. A telenovela brasileira passou a ser uma
verdadeira crônica do cotidiano nacional, com o rosto e o corpo da nossa
sociedade. O objetivo dessa ação é fazer com que o público se identifique com
o que ele está assistindo, o que proporciona uma forma de manipulação da
opinião pública, porque muitos indivíduos ao se identificarem passam a crer e
fazer uso dos valores transmitidos pela telenovela e os usando no seu
cotidiano, como um exemplo claro disso, o elemento estético: a moda.
3.1.3 - Moda
Ao longo dos anos, cada vez mais a informação se tornou mais
disponível e acessível para todos, independentemente da sua classe social,
idade e sexo. Esse avanço da tecnologia se destaca, principalmente, nos
37
meios de comunicação, este que em momento algum tem o seu crescimento
interrompido.
Muitos acreditam que podemos nos comunicar apenas através da fala e
da escrita, mas sem sequer perceber, conversamos diariamente com as
pessoas através de nossas roupas, sem mencionar uma palavra, ou seja, seus
trajes e figurinos passam a ser considerados textos em determinadas
situações, constituídos pela linguagem não-verbal dos acessórios e das
roupas.
A telenovela muitas vezes tem o poder de influenciar o telespectador na
hora de escolher uma vestimenta. Mas para entendermos o poder dessa
influência, temos que esclarecer e definir o conceito de Moda,
palavra vinda do latim modus, significa
modo, maneira. Entre todas as áreas do
conhecimento, a moda tem chamado
atenção de muitas áreas de pesquisa
ultimamente. É uma fonte inesgotável de
novidades que estimula os desejos e, há
muito tempo, deixou de ser sinônimo de
glamour para se tornar um fenômeno
social e de grande importância econômica,
além de ditar comportamentos e
tendências (FEGHALI, 2001, P. 6).
Desde do surgimento do homem, a vestimenta já era usada para três
determinadas utilidades: enfeite, pudor e proteção. Fluguel (1999) afirma que a
grande maioria dos estudiosos considera o enfeite como o motivo que
conduziu, em primeiro lugar, a adoção de vestimentas, e que apenas
posteriormente, as outras duas utilidades, pudor e proteção, adquiriram enorme
importância.
Apesar de seu surgimento ter se dado há muito tempo, não se faz muito
tempo que a moda entrou no nosso cotidiano. A moda ganhou mais
importância somente a partir dos anos 1990, através dos meios de
comunicação. Nessa época ela começou a ser vista não mais como uma
futilidade, mas sim como um negócio. Negócio este que a única definição de
moda não diz mais a respeito apenas de vestimenta, mas sim a outros objetos,
como carros, celulares etc.
38
Baseado nisso, Palomino acredita que a moda é um sistema que acompanha o
vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um
contexto maior. Ou seja, através dos nossos pertences, seja um automóvel,
livros e roupas, criamos uma identidade, essa que necessitamos renovar
constantemente por pura necessidade de ―estar na moda‖.
A partir de 1951, uma grande influenciadora da moda passa a entrar na
casa das pessoas, as telenovelas. Com um poder de modificar atitudes, gostos
e opiniões, Érika Schmid, autora do livro Marketing de Varejo de Moda (2004),
coloca que, após uma personagem afirmar odiar a cor roxa na novela Pai
Herói, todas as peças de cor violeta, lilás e afins ficaram encalhadas nas
prateleiras das lojas cariocas. Isto mostra que na novela exibida em 1979, a
influência da moda já predominava fortemente nos telespectadores. Essa
influência depende também do personagem, se for um personagem que o
público possua identificação, admiração e adoração, ele tende a ser mais
copiados nas ruas e vendidos nas lojas.
É importante ressaltar o fato de que uma sociedade com tantos
contrastes culturais e sociais, em um determinado horário do dia, pára e assiste
algo em comum, a mesma novela.
Isto direciona apenas o seu olhar e sua identificação dentro da trama.
Telespectadores de classes sociais
variadas demonstram o domínio de
detalhes da decoração das casas de
novela. Uns manifestam o orgulho que
sentem pela filha que é decoradora e cuja
a mobília da sala de jantar é exatamente
igual à da mansão do Rei do Gado na
Novela. Outros observam o fogão a lenha
na fazenda do Rei do Gado no rio
Araguaia com nostalgia de sua cidade
natal no interior de Pernambuco
(HAMBURGUER, 1998, p. 483).
O poder que a telenovela exerce sobre a sociedade é assustador.
Reparamos isso quando uma semana depois de determinado capítulo ter ido
ao ar, nos deparamos ao andar na rua, com diversos modelos de roupas e
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assessórios que foram exibidos na novela. A Rede Globo é um exemplo para
demonstrarmos a assustadora influência que a própria emissora possui. Com
objetivo estratégico de fortalecer o relacionamento dos telespectadores com o
universo da televisão e enriquecer cada vez mais a experiência de cada um
com as marcas da TV Globo, foi criada em 2000, a própria loja da Rede Globo,
a chamada Globo Marcas, que se destina a vender produtos que são utilizados
nas novelas, minisséries e programas da emissora, como figurinos de
personagens, assessórios, CDs, livros etc.
A Telenovela tem sido até os dias atuais, um poderoso instrumento de
influência sobre os elementos estéticos. Cabe aos indivíduos tentar separar a
realidade da ficção e se esforçar para distinguir o que vale a pena ou não ser
absorvido.
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CONCLUSÃO
Percebemos neste trabalho que as possíveis influências dos meios de
comunicação, com ênfase nas telenovelas, é um assunto muito vasto e que
possivelmente poderá render muitas análises e estudos futuros. Como
sugestão: o futuro das telenovelas com um olhar mais educativo, aproveitando
a influência que esses programas exercem nos telespectadores de uma
maneira mais enriquecedora, de uma forma diferente para a sociedade. Mas
como chegar a uma conclusão nesse universo telenovelesco tão cheio se
subjetividade? Afinal, a telenovela é produzida por homens para agradar seus
semelhantes, sempre na tentativa de conseguir ganhar a tão desejada atenção
dos telespectadores, foi assim desde década de 50 e acredito que continuará
assim por muitos anos.
Procurei ao longo do meu trabalho não achar apenas um lado do tema, mas
sim mostrar o fato de que a novela influência certamente a vida da maioria da
população brasileira, seja no modo de se vestir, que podemos reparar quando
uma semana depois de determinado capítulo ter ido ao ar, nos deparamos ao
andar na rua, com diversos modelos de roupas e assessórios que foram
exibidos na novela; No modo de falar, aqueles famosos bordões que caem no
gosto do público e que acabam sendo utilizados no nosso dia-dia;
E principalmente, as músicas, que ao longo do trabalho pude perceber que
a trilha sonora tem um poder diferenciado, pois as músicas ajudam na
construção da "marca" da novela e na personalização da marca. A recém-
exibida novela "Avenida Brasil" é um exemplo que inclusive foi citado no
trabalho: não há um telespectador que não associe e se recorde da novela ao
passar por um determinado local e escutar "oi oi oi", refrão da música de
abertura. A música é um dos instrumentos fundamentais para compor e mexer
com o íntimo do telespectador. O que me fez perceber que a novela por si só
de certa forma já interfere no mecanismo de compra do cliente/telespectador.
Ela se utiliza desse meio de comunicação que possui tanto alcance no
cotidiano da sociedade para realizar propagandas de maneiras "sutis" que
chamamos de Merchandising Tie in, que muitas vezes faz com que o
telespectador repare mais no produto/serviço por ele estar sendo exposto na
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trama e também por um personagem/celebridade que o cliente admira e se
identifica. Tentando assim, seguir o mesmo padrão do mundo imaginário vivido
por famosos na sua própria vida cotidiana. Utilizando os artistas como um
estímulo do consumo. Como o exemplo citado da última novela das nove "Em
família", na qual a atriz Giovanna Antonelli utilizou em inúmeros capítulos um
esmalte azul vibrante, que passou a estar entre os mais pedidos na Central de
Atendimento ao Telespectador (CAT) da Globo. A popularidade do figurino foi
tão grande que bastou Giovanna Antonelli aparecer em cena com um esmalte
azul para que ele se tornasse alvo das manicures, a fim de satisfazer as
clientes pela cor. Ou seja, ela utilizou desse alcance de audiência e influência
que as telenovelas possui para divulgar sua segunda linha de esmaltes, em
parceria com a marca Hits Speciallità.
A conclusão que obtive após meses de estudo, é que a telenovela leva
para a televisão um espelho da sociedade que vive, com exageros de uma
obra de ficção, e que influencia hábitos, costumes e tantas outras coisas.
Na verdade, procurei neste trabalho entender como a telenovela atua na
mente das pessoas, como e porque este programa conquistou a sociedade,
como chega à casa da população e de quais maneiras ele é assimilado,
imitado e refletido. Apresentando também os benefícios que as telenovelas
geram para o telespectador, como: deixar a sociedade mais informada, pois na
maioria das vezes os temas abordados são temas polêmicos e de muita
importância, como exemplo: violência a mulher, preconceito, etc e, também as
desvantagem, na qual podemos considerar que por elas possuírem todo esse
alcance, se torna algo ameaçador para a sociedade, caso os telespectadores a
utilizem como exclusiva e única fonte de informação. Mas procurei ao longo do
meu trabalho não achar apenas um lado, mas sim mostrar o fato de que a
novela influência certamente a vida da maioria da população brasileira, em
diversos aspectos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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