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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A ERA VARGAS E A EDUCAÇÃO Por: Paulo Mauricio Pimenta Pereira Leite Orientador Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2007 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ERA VARGAS E A EDUCAÇÃO

Por: Paulo Mauricio Pimenta Pereira Leite

Orientador

Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves

Rio de Janeiro

2007 DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ERA VARGAS E A EDUCAÇÃO

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes

como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Administração e Supervisão Escolar.

Por: . Paulo Mauricio Pimenta Pereira Leite.

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AGRADECIMENTO

Agradeço através de preces e eterna gratidão:

A meus professores que ajudaram na confecção deste trabalho e a minha

formação acadêmica.

A minha mãe.

Aos meus avôs paternos pelo financiamento de meus estudos.

Ao Cardeal Dom Eugênio Sales e a Padre Mendonça pelo exemplo na fé,

amor e dedicação a Deus e a Igreja de Cristo.

E principalmente a Deus que é uno e trino que tudo nos deu em seu infinito

amor, carinho e bondade.

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DIDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a Deus, meus familiares, aos meus amigos.

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RESUMO

O trabalho apresenta de uma forma breve, porém explicativa a Era Vargas

dando maior ênfase a sua atuação no campo educacional, no tempo e espaço de

1930 até 1945. Para isso, retrataremos da Revolução de 1930 até o fim da

ditadura fascista de Getúlio Vargas no ano de 1945. Neste espaço de tempo

analisaremos a economia, política e social, sendo que a educação será tratada

com maior destaque.

Este nos levará a uma contextualização com a realidade, pois o problemas

enfrentados pela educação brasileira e nas salas de aula não caíram do céu e

nem começaram do dia para noite. Isso que este trabalho busca provar.

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SUMÁRIO

Introdução 6 Capítulo I – Revolução de 1930 9

Capítulo II – O Estado Getulista 12

Capítulo III – O Manifesto do Pioneiros da Escola Nova 19

Capítulo IV – A educação no governo provisório e constitucional 22

Capítulo V – O Estado Novo e a educação 26

Conclusão 30

Referências Bibliográficas 34

Índice 36

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INTRODUÇÃO

As questões referentes à educação são sempre polêmicas e divergentes,

principalmente quando as mesmas estão ligadas à atuação política. Tal afirmativa

é o que motivou a elaboração do presente trabalho.

Iremos retornar a uma fase de ouro do nosso país que foi o período entre

1930 a 1945, a famosa “Era Vargas”. Neste período houve avanços na economia,

no social e principalmente para os trabalhadores que ganharam a Consolidação

das Leis Trabalhistas (CLT).

Mas não podemos deixar de passar pelo lado mais sombrio e trágico do

período que foi o Estado Novo, ditadura de cunho fascistas que durou

aproximadamente oito anos e que o presidente era a autoridade suprema.

Só que esse o governo de Getúlio Vargas representou uma mudança do eixo

na economia, que deixou de ser essencialmente agrária e começou a adquirir o

caráter urbano industrial. Assim sendo, era necessário mão-de-obra qualificada e

preparada para as nova oportunidades que doravante surgiam no Brasil.

Neste contexto histórico, a educação ganha destaque, por que vai ser

obrigatoriamente modificada para se adequar às exigências do mercado de

trabalho. Além disso, teremos a pressão de boa parte dos intelectuais da

educação que com a Revolução de 1930 sonhavam com novos ares e um futuro

novo para o povo brasileiro e também se movimentam para modificações. O

maior exemplo é o Manifesto da Escola Nova de 1932.

O maior problema a ser percebido é que as reformas educacionais foram

realizadas dentro de um contexto democrático e por sua vez modificadas na

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ditadura. Só que a essência da mesma foi de caráter elitista e segregador o que

afastou as classe populares. Também neste período foi finamente criada no Brasil

as duas primeiras Universidades a de São Paulo e a do Rio de Janeiro que

passou a funcionar.

Mas para melhor compreensão nosso trabalho vai percorrer a parte histórica

da Era Vargas, de vai da Revolução de 1930 no capítulo I e a fase história

denominada Era Vargas que teve três divisões: Governo Provisório; Governo

Constitucional e Estado Novo, ambos presentes no capítulo II.

Após a situação do leitor na história, vamos passar a apresentação das

mudanças e fatos na área educacional, começando pelo Manifesto dos Pioneiros

da Educação Nova, que foi um movimento isolado que clamou por mudanças na

educação.

Em seguida passaremos a educação no governo provisório e no período

constitucional, onde foram iniciadas as reformas principalmente no setor

secundário e no universitário (capítulo IV). Posteriormente com a ascensão da

ditadura do Estado Novo, uma outra reforma foi imposto pelo regime. Desse vez

do primário ao ensino superior foram modificados, se destacando o ensino

técnico-profissional que foi incrementado e incentivado no período, presente no

capítulo V.

Desse modo, não se pretende esgotar o tema e nem tirar conclusões

precipitadas, mas constatar que alguns problemas na educação atual já são

históricos em nosso país e que a solução pode ser encontrada. Assim os que

estão envolvidos no ensino podem melhorar a qualidade do mesmo e lutarmos por

uma educação pública de qualidade e para todos, que formem cidadãos para a

vida e para o mercado de trabalho.

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CAPÍTULO I

A REVOLUÇÃO DE 1930

O ano de 1929 foi marcado por uma das maiores crises do capitalismo

mundial. A principal causa dessa crise foi à superprodução da indústria norte-

americana que, nos anos seguintes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918),

“cresceu muito, produzindo além das necessidades de compra do mercado

internacional e do seu próprio mercado interno” (CONTRIM,1999 p.267).

Um dos dias mais tenebrosos dessa crise foi 29 de outubro de 1929, quando

ocorreu a queda vertiginosa de milhões de ações na Bolsa de Valores de Nova

York1. O crack da bolsa abalou o mundo, afetando os países que dependiam de

exportações para os Estados Unidos. Foi o caso do Brasil, que deixou de vender

sacas de café. “Neste mesmo ano a produção nacional havia atingido o número de

21 milhões de sacas, mas as exportações atingiram 14 milhões” (CONTRIM, 1999

p.267). Como conseqüência o preço despencou. Esse desastre econômico afetou

a cafeicultura brasileira e abalou as estruturas da República Velha2.

Além dos problemas econômicos, surgiu ainda a ruptura política entre as

lideranças de Minas Gerais e São Paulo.

“Como Washington Luís representava os paulistas, o futuro

presidente seria mineiro. No entanto, quebrando esse pacto, o

presidente demonstrava clara intenção de lançar sua

sucessão Júlio Prestes, outro paulista” (COSTA, 1999, p.290).

1 Os americanos compraram desenfreadamente ações das mais diversas empresas, que em pouco tempo atingiram cotações altíssimas, muito maiores que o crescimento real do capital das empresas. No momento em que algumas delas faliram é que os acionistas se aperceberam de terem pagado muito mais pelos títulos. Então resolveram vender suas ações, provocando uma vertiginosa queda no seu valor. 2 Período que compreende 1894-1930, marcado pelo domínio político e econômico dos cafeicultores paulistas.

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O rompimento do acordo do café-com-leite3 a oposição às oligarquias mais

tradicionais aproveitou o momento para conquistar espaço político e formar

alianças. Foi nesse ambiente que nasceu a Alianças Liberal, lançando os nomes

de Getúlio Vargas e João Pessoa, para presidente e vice respectivamente.

Essa aliança apresentava um programa de reformas com alguns avanços,

cujos pontos principais eram: a instituição do voto secreto; a criação de leis

trabalhistas; e o incentivo à produção industrial. Era um programa que tinha

aceitação junto às classes médias e aos militares ligados ao tenentismo.

Apurados os votos os resultados da eleição de 1930, Júlio Prestes saiu

vitorioso, o que levou líderes gaúchos, mineiros e paraibanos a recusarem a

aceitar o resultado. Ambos os lados haviam praticado fraudes, mas os paulistas

foram mais eficientes.

A revolta contra as velhas estruturas ganhou força quando João Pessoa foi

assassinado por motivos pessoais e políticos. Esse fato foi à gota d’água, a

emoção que faltava para unir a oposição contra o governo. A três de outubro

eclodia a revolta no Rio Grande do Sul, liderados por Góes Monteiro e em seguida

no nordeste sob o comando de Juarez Távora.

Na iminência de uma guerra civil, que ameaçaria as oligarquias,

desencadeou-se um golpe militar que depôs Washington Luís. Formou-se a junta

pacificadora4, que sem êxito procurou manter o poder. Getúlio Vargas apoiado

pelos tenentes partiu para o Rio de Janeiro e a três de novembro assumiu o

governo do país.

3 São Paulo era o maior produtor de café e Minas Gerais de leite, logo são as maiores oligarquias do país; juntos possuíam a maioria dos eleitores e o controle nacional; assim todos os presidente até 1930 foram vieram dessa aliança, exceto Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa. 4 Composta pelos generais Mena Barreto, Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías Noronha.

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“A composição dos vencedores era muito heterogênea para

possibilitar um consenso entre eles. As oligarquias dissidentes

queriam mais poder e proteção econômica; os tenentes

pregavam a centralização política e a implantação de algumas

reformas sociais; os adeptos civis do tenentismo pretendiam a

realização de reformas sociais, mantendo a descentralização

política” (COSTA, 199 p.292).

Diante desse quadro não era difícil prever as grandes dificuldades que teria

de enfrentar o governo provisório recém-instalado.

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CAPÍTULO II

O ESTADO GETULISTA (1937-1945)

Durante quinze anos o Brasil sofreu grandes mudanças:a sociedade urbana

cresceu em relação à sociedade agrária; a indústria ampliou seu espaço na

economia nacional; a burguesia empresarial das cidades aumentou seu poder

sobre as tradicionais oligarquias do campo; a classe média e o operariado

cresceram em quantidade e conquistaram maior importância na vida política do

país. Essa etapa é mercada pela liderança política de Getúlio Dornelles Vargas. O

período do seu poder é dividido em três fases: Governo Provisório (1930-1934);

Governo Constitucional (1934-1937) e Governo ditatorial (1937-1945).

2.1 – Governo Provisório (1930-1934)

Ao assumir o poder, Getúlio Vargas tratou de tomar medidas para controlar

politicamente o país. Nomeou ministros de Estado; fechou o Congresso e as

Assembléias Legislativas; extinguiu partidos políticos; suspendeu a constituição de

1891 e indicou interventores para chefiar os governos estaduais.

Getúlio exercia o papel de mediador político, para evitar choques entre os

diversos grupos políticos que o apoiavam. Porém aos poucos Vargas foi revelando

suas principais características: centralizador, preocupação com a questão social

dos trabalhadores, interesse em defender as riquezas nacionais. Isso logo

assustou a oposição política de São Paulo que, na realidade desejava a volta da

República Velha.

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A oposição paulista exigia a nomeação de um interventor civil e paulista,

além de novas eleições e a convocação de uma assembléia constituinte. A

primeira reivindicação foi atendida, mas as manifestações não acabaram.

Porém a morte de quatro estudantes, em maio de 1932 foi o estopim da

Revolução Constitucionalista de 19325, que embora tenha sido derrotada

garantiu a realização de eleições para a Assembléia Nacional Constituinte.

A constituição de 1934, promulgada em 16 de julho instituiu: o voto secreto;

direitos trabalhistas6 e nacionalismo econômico7. Além disso, o primeiro

presidente seria eleito de forma indireta, pelos membros da assembléia

constituinte, para exercer mandato de quatro anos, que se encerraria em 3 de

maio de 1938. Getúlio Vargas foi o vitorioso nessa primeira eleição, iniciando seu

mandato constitucional.

2.2 – Governo Constitucional (1934-1937)

Durante o período em que Getúlio Vargas governou constitucionalmente a

nação, dois grupos, com ideologias totalmente diversas ganharam destaque na

vida pública brasileira: Ação Integralista Brasileira (integralismo) e Aliança nacional

Libertadora (aliancionismo).

2.2.1 – Integralismo

Contando com apoio das oligarquias tradicionais e alguns setores da Igreja

católica, Plínio Salgado criou a Ação Integralista Brasileira, versão brasileira do

5 Tropas paulistas enfrentaram as tropas do governo, durante três meses na luta pela realização de eleições para uma assembléia constituinte. Apesar de isolados e derrotados conseguiram o seu objetivo. 6 Salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas; proibição do trabalho de menores de 14 anos; férias anuais remuneradas, indenização na demissão sem justa causa. 7 As riquezas do país seriam propriedade do governo da União.

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nazi-fascismo. Em 1932 foi redigido o Manifesto à nação8, contendo os princípios

básicos do integralismo. “Era uma espécie de cópia, adaptada ao Brasil, das

idéias básicas do regime fascista de Mussolini e Hitler” (CONTRIM, 1999 p.274).

O lema dos integralistas era Deus, pátria e família.

2.2.2 – Aliancismo

Era um grupo político contrário ao Integralismo, a Aliança Nacional

Libertadora (ANL), cujos membros eram apoiados pelo Partido Comunista

Brasileiro, por diversos líderes sindicais e por líderes tenentistas como Luís Carlos

Prestes.

A ANL era uma frente de oposição ao fascismo e ao imperialismo. Declarava-

se contrária ao latifúndio e a favor da nacionalização das empresas estrangeiras ,

bem como a suspensão do pagamento da dívida externa.

O governo federal, apoiado pelas classes economicamente dominantes

fechou a sede da Aliança em 11 de junho de 1935. A acusação era de

financiamento de estrangeiros e controlada por perigosos comunistas.

2.2.3 – Intentona Comunista

Em novembro de 1935 eclodiu a chamada Intentona Comunista, ou seja,

rebeliões militares em batalhões do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de

Janeiro. Todas elas dominadas pelas forças governamentais.

Tal movimento serviu de pretexto para o presidente decretar estado de

guerra9, aumentando as perseguições. 8 Em termos gerais, o integralismo defendia: combate ao comunismo; nacionalismo extremado; Estado onipotente; extinção dos partidos políticos e a entrega do poder a um único chefe; fiscalização das atividades artísticas.

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Aproximando-se a data das eleições presidenciais, mas Vargas estava

decidido a continuar no poder. Ao mesmo tempo o governo tratava de arrumar um

pretexto para suspender o processo democrático.

Com a ajuda dos integralistas, criou-se o Plano Cohen, forjado com a

participação do militar Olímpio Mourão Filho, divulgado ao público como um plano

comunista descoberto pelo serviço secreto do Exército.

Em fins de setembro de 1937, o falso plano foi noticiado com grande

estardalhaço pelos jornais, criando clima favorável para que Getúlio Vargas

decretasse um novo estado de guerra, prendendo todos os possíveis adversários

do regime.

Em 10 de dezembro de 1937, Vargas ordenou o cerco militar ao congresso,

determinado seu fechamento. Na mesma noite, através do rádio anunciou ao povo

uma autoritária constituição10. Decretada a constituição, iniciou-se o Estado Novo,

período de governo sob o regime ditatorial inspirado no fascismo e no

corporativismo, em voga em vários países europeus, sobretudo Itália e Alemanha.

2.3 – Estado Novo (1937-1945)

Durante o Estado Novo, o governo exerceu uma ação enérgica e vigorosa

contra seus adversários. Em todo o país vigorava o estado de emergência11. Para

assegurar o controle da nação, o Estado Novo impôs a censura prévia dos meio

de comunicação, jornais, rádio, teatro e cinema, Essa censura era exercida pelo

Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

9 Consiste na suspensão dos direitos e garantias individuais. 10 As principais medidas são: prorrogação do mandato presidencial para seis anos; nomeação de interventores para os estados; proibição de greve; vinculação direta dos sindicatos ao governo. 11 Pelo qual o governo podia invadir domícilio, prender pessoas e expulsar do país os líderes oposicionistas.

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Além disso, o DIP tinha como função cuida da boa imagem de Getúlio.

Assim, era selecionados e divulgados apenas os melhores ângulos do presidente,

isto é, os momentos em que ele tinha.

No período de 1939 a 1945, o mundo foi abalado pela Segunda Guerra

Mundial. Dois grupos de nações se enfrentavam: Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e

Aliados (EUA, Inglaterra e URSS).

Vargas mantinha o Brasil em posição de neutralidade e com isso tirar

proveito do conflito mundial para obter vantagens econômicas para o país. Em seu

ministério, havia tanto simpatizantes do Eixo como defensores das potências

Aliadas.

A partir de 1941, o Brasil passou a fazer acordos apoiando os Aliando.

“Em troca de seu apoio, o governo Vargas conseguiu

arrancar do Estados Unidos grande parte do financiamento

que necessitava para a construção de Usina de Volta

Redonda, obra de grande importância para a industrialização

do país” (CONTRIM, 1999, p.280).

O Brasil se comprometeu a fornecer borracha de ferro para os aliados e

permitiu que americanos fossem enviados para bases militares no nordeste.

A Alemanha reagiu à cooperação do Brasil aos Aliados. Após diversas

agressões militares nazistas, levaram Getúlio a declarar guerra às potencias do

Eixo e aos poucos enviar soldados aos campos de batalha.

Quanto à economia, a tentativa de reequilibrar os preços do café, Vargas

ordenou a queimada de milhões de sacas de café. Com isso conseguiu provocar

uma certa normalização dos preços. Em outros setores da agricultura, o governo

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tomou medidas no sentido de proteger produtos. Todavia o setor agrícola vivia

uma período de crise, causada em grande parte pelas dificuldades econômicas da

conjuntura mundial.

Por sua vez o setor industrial continuou em ascensão. Durante a guerra era

difícil à importação de produtos industrializados. Seguindo o processo de

substituição de importações, as industrias nacionais diversificaram suas atividades

para suprir as necessidades do mercado interno. Para estimular a industrialização,

o governo interveio na economia e colaborou com os empresários industriais,

incrementando as áreas de infra-estrutura que os particulares não podiam

desenvolver.

Entre os principais empreendimentos do Estado Novo foram: Usina de Volta

Redonda e Companhia Vale do Rio Doce.

Apesar do crescimento alcançado durante o Estado Novo, o setor industrial

não conseguiu superar o domínio político e econômico da agricultura de

exportação. Nos finais da Segunda Guerra Mundial, “tanto algodão quanto,

principalmente, o café eram exportados em condições favoráveis de volume e

preço” (CONTRIM, 1999, p.281).

2.4 – O FIM DA ERA VARGAS

A luta do Brasil contra o fascismo, durante a Segunda Guerra, foi aproveitada

pelos grupos brasileiros de oposição para denunciar o fascismo interno,

acobertado pelo Estado Novo. À medida que as potências liberais foram

derrotando militarmente as potências do Eixo, um clima favorável às idéias

democráticas foi-se espalhando pelo mundo.

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Sentindo a onde liberal, Getúlio Vargas promoveu uma reforma constitucional

em fevereiro de 1945, antes do fim da guerra. A reforma representa a abertura

política do Estado Novo. Renascia a vida partidária, sendo fundados diversos

partidos12.

Nas eleições presidenciais marcadas para dezembro de 1945, concorreram

três candidatos: Eurico Dutra (PSD e PTB); Eduardo Gomes (UDN) e Yedo Fiúza

(PCB). Sendo que o primeiro era apoiado por Vargas.

Durante o jogo eleitoral, Getúlio tinha uma atitude ambígua, apoiando Dutra e

aguardando o apelo popular pela sua continuidade no poder. Esse movimento

impulsionado pelo PTB e PCB ficou conhecido como Queremismo13.

Vargas aproveitou o período e decretou a lei Antitruste, que dificultava as

atividades do capital estrangeiro no Brasil, o que provocou enorme reação das

empresas estrangeiras. Assim, setores de oposição temendo que ele continuasse

no poder e impedisse a realização das eleições presidenciais, uniram forças para

derrubá-lo da presidência.

Em outubro de 1945, o Exército cercou a sede do governo e obrigou Vargas

a renunciar. A presidência foi entregue a José Linhares, presidente do Supremo

tribunal Federal. Assim, o Estado Novo chegou ao fim e os responsáveis não

sofreram punição nenhuma.

Getúlio Vargas retirou-se para sua fazendo em São Borja, no Rio Grande do

Sul. “Com o apoio político de Vargas, o general Dutra venceu as eleições

presidenciais” (COSTA, 1999, p. 330).

12 UDN, PSD, PTB, PSP e PCB foram alguns dos partidos 13 Palavra derivada dos gritos populares de Queremos Vargas!

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CAPÍTULO III

MANIFESTO DOS PIONEIOROS DA EDUCAÇÃO NOVA

A Revolução de 1930 propiciou um clima de muita discussão e de agitação

de idéias em todos os campos. O próprio governo, na conferência de educação

promovida pela Associação Brasileira de Educação, em 1931, convidou os

educadores a auxiliá-lo na formulação de uma política nacional de educação.

Um grupo de educadores comprometidos com a renovação da educação

nacional, resolveu marcar a presença na orientação do ensino brasileiro. Essa

presença já existia, “mas esse grupo julgou oportuno reunir suas idéias num

manifesto ao governo e à nação” (PILETTI, 1995, P.76). Redigido por Fernando de

Azevedo, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi assinado por 25

educadores e escritores, entre eles podemos citar: Lourenço Filho, Anísio

Texeira, Roquete Pinto e Cecília Meireles.

A esses educadores que eram favoráveis ao ensino público totalmente laico,

opuseram-se os educadores católicos14, que defendiam o ensino religioso

obrigatório em todas as escolas, inclusive públicas. A solução introduzida na

constituição de 1934 e reafirmada nas posteriores é o ensino religioso obrigatório

para as escolas e facultativo para os alunos. 14 Eram liderados pelo padre Leonel Franca e pelo escritor Alceu Amoroso Lima.

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A abertura do manifesto de 1932 é, bastante significativo, expressando de

maneira nítida a importância que seus signatários atribuíam à educação e a

necessidade urgente de sua reorganização, em consonância com a realidade do

país.

“é impossível desenvolver as forças econômicas ou de

reprodução, sem o preparo intensivo das forças culturais e o

desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que

são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de

uma sociedade” (PILETTI, 1995, p.77).

Entre as principais idéias defendidas no manifesto estão as seguintes:

ヰ A educação é vista como instrumento de reconstrução da democracia com

integração de todos os grupos sociais;

ヰ A educação deve ser essencialmente pública, obrigatória, gratuita e leiga e sem

preconceitos, vinculada com as comunidades;

ヰ A educação deve ser uma só15, com vários graus articulados para atender às

diversas fases do crescimento humano;

ヰ A educação deve ser funcional e ativa e os currículos devem adaptar-se aos

interesses naturais dos alunos, que são o eixo da escola;

ヰ Todos os professores, mesmo os do ensino primário, devem ter formação

universitária.

15 Unidade não quer dizer uniformidade, antes pressupõe multiplicidade .

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Assim sendo, podemos afirmar:

“A tendência escolanovista costuma ser identificada como

expressão otimismo pedagógico, à medida que seus

divulgadores estão imbuídos da esperança de democratizar

e de transformar a sociedade por meio da escola. Reagir ao

individualismo e academicismo da educação tradicional,

propondo a renovação das técnicas e a exigências da

escola única, obrigatória e gratuita” (ARRANHA, 2002. p

198).

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CAPÍTULO IV

A EDUCAÇÃO NO GOVERNO PROVISÓRIO E NO

PERÍODO CONSTITUCIONAL

Com a revolução de 1930, alguns reformadores educacionais da década

anterior passaram a ocupar cargos importantes na administração do ensino. Como

resultado, a educação brasileira sofreu importantes transformações.

O movimento da Escola Nova foi o pioneiro porém, não podemos considerar

ligado ao governo, porque mantiveram sua independência de ação e pensamento.

O que não fez as sua propostas serem aderidas por Getúlio Vargas.

A primeira iniciativa no campo da educação foi a criação do Ministério da

Educação e das secretárias de Educação dos estados. Tal situação permitiu

ampliar a participação no desenvolvimento da educação nacional, desenvolver

instrumentos destinados a unificar, disciplinar e proporcionar a integração aos

sistemas isolados e por fim promover a integração federal com os diversos

sistemas.

Já na constituição de 1934, foi a primeira a incluir um capítulo especial sobre

a educação, estabelecendo pontos importantes: a educação como direito de

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todos; a obrigatoriedade da escola primária integral; a gratuidade do ensino

primário; a assistência aos estudantes etc.

Tais atitudes tem como justificativa “a crise do modelo agroexportador e o

delineamento do modelo nacional-desenvolvimentista com base na

industrialização, é exigida melhor escolarização, sobretudo para os segmentos

urbanos” (ARRANHA, 2002, p.200). Então, vamos apresentar as reformas e

modificações realizadas nos diversos segmentos de ensino durante esse período

da Era Vargas.

4.1 – Ensino secundário

Para não fugir a tradição brasileira, primeiro o ensino das elites e depois o

resto. O governo que assumiu o poder em 1930 também se dedicou inicialmente à

reforma do ensino secundário e do superior.

O ensino secundário foi reformado em 1931, tendo como seus objetivos o

ensino secundário passaria a ter uma dupla finalidade: formação geral e

preparação para o ensino superior. É nesse sentido que se manifesta Francisco

Campos, o ministro da Educação:

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“A finalidade exclusiva não há de ser a matrícula nos cursos

superiores; o seu fim, pelo contrário deve ser a formação do

homem para todos os grandes setores da atividade

nacional, construindo no seu espírito todo um sistema de

hábitos, atitudes e comportamentos que o habilitem a viver

por si mesmo e a tomar em qualquer situação as decisões

mais convenientes e mais seguras” (PILLETTI, 1995, p. 78).

Quanto a estrutura, o ensino secundário passou a dividir-se em dois ciclos:

um fundamental, de cinco anos e outro complementar de dois anos, este último

visando à preparação para o curso superior. Essa educação complementar ainda

se dividia em três ramos: os que pretendiam estudos jurídicos com ênfase na

matérias de Humanidade; os que pretendiam cursar medicina e áreas afins, a

predominância ficava pelas ciências naturais e Biológicas; e os que objetivavam

os cursos de Engenharia e Arquitetura, estudariam matemática.

No tocante aos conteúdos curriculares, considerando-se o curso

fundamental, verificou-se em 1931, uma diminuição do tempo reservado às

Humanidades16, em benefício das áreas de matemática, ciências e estudos

sociais.

16 Em Humanidades encontram-se as seguintes disciplinas: Português, Francês, Inglês, Latim e Alemão (de caráter facultativo).

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4.2 – O ensino superior

O ensino superior passou por importantes modificações a partir de 1930. foi

superada a fase das escolas superiores isoladas, de caráter marcadamente

profissional. “Começaram a ser criadas e funcionar, de fato, as universidades

brasileiras” (PILLETTI, 1995, p.79).

A inexistência de uma universidade, apesar do funcionamento do ensino

superior desde o início do século XIX, colocava o Brasil numa situação de

inferioridade em relação aos outros países sul-americanos. Na realidade, a

Universidade de São Paulo17, criada em 25 de janeiro de 1934, foi à primeira

universidade a funcionar no Brasil. A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 7

de setembro de 1920, não teve existência mais que nominal, nunca chegando a

funcionar na prática, pois as escolas que a formaram (medicina, direito e

engenharia), continuaram técnicas e administrativamente isoladas, não tendo sido

criados os instrumentos necessários à sua integração.

Nesse período não ocorreu nenhuma modificação ou estruturação do nível

superior, porém o surgimentos das primeiras universidades brasileiras integradas

foi o maior avanço no ensino superior.

17 “Foi criada a circunstância histórica que envolvia São Paulo na primeira década de 30” (PILLETTI, 1995, p. 80).

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CAPÍTULO V

O ESTADO NOVO E A EDUCAÇÃO

O novo governo promoveu mudanças importantes em diversos setores e a

educação não ficou fora desse processo. A constituição de 1937 chama a

atenção nos seguintes aspectos: o direito a educação sofre um retrocesso no que

diz respeito as instituições públicas que passou a ser garantido as pessoas que

não dispunham de recursos necessário para as instituições particulares; o caráter

de ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é

dever do Estado; e a separação nítida onde seria destinado as elites o ensino

secundário e superior e às classes populares o ensino primário e profissional.

Assim, além de uma nova reforma no ensino secundário, o governo Vargas

regulamentou os diversos ramos do ensino técnico-profissional (industrial, agrícola

e comercial), o ensino normal e o ensino primário. Os dois últimos regulamentados

em 1946, após a queda de Getúlio, porém com as mesmas características.

5.1 – Ensino secundário

O ensino secundário foi novamente modificado em 1942. Seus três objetivos

eram: formar a personalidade integral dos adolescentes; acentuar e elevar a

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consciência humanística; dar preparação intelectual geral que possa servir de

base a estudos mais elevados de formação especial.

“A lei nada mais fazia do que acentuar a velha tradição do ensino secundário

acadêmico, propedêutico e aristocrático” (ARRANHA, 2002, p.202). Em pleno

processo de industrialização do país, persiste a escola acadêmica. Por sua vez, as

escolas oficiais são mais procuradas pelas camadas médias desejosas de

ascensão social e que por isso mesmo preferem os cursos de formação,

desprezando os profissionalizantes.

A estrutura em dois ciclos foi mantida, porém com duração modificada: um

curso ginasial de quatro anos sucedia um curso colegial de três anos, que perdeu

seu caráter quase exclusivo de preparatório para o ensino superior e passou a

preocupar-ser mais com a formação geral. Dividia-se em dois ramos, o colegial

clássico e o colegial científico, com poucas diferenças de conteúdo entre eles.

O curso secundário em termos de conteúdos curriculares ganhou um ligeiro

acréscimo da carga horária de Humanidades e uma redução da destinada à área

de matemática e ciências. Outra novidade: a introdução de trabalhos manuais,

História do Brasil e Geografia do Brasil, “com o objetivo de acentuar e elevar a

consciência patriótica ainda de acordo com a exportação de motivos; a

substituição da Música pelo Canto Orfeônico” (PILLETTI, 1995, p.91).

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5.2 – Ensino técnico-profissional

No decorrer do Estado Novo, o ensino técnico-profissional continuou a

ocupar uma posição subalterna em relação ao ensino secundário: era este que

representava a estrada real que conduzia os filhos das classes dominantes à

universidade. Quem fizesse o curso profissional e pretendesse continuar seus

estudos em nível superior, só poderia fazê-lo se completasse o curso secundário

integral. Ou seja, nenhuma utilidade tinha o curso profissional em termos de

continuidade dos estudos.

Assim, em 1942 é criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

(Senai) e em 1946 o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A

população de baixa renda, desejosa de se profissionalizar, encontra nesses

cursos boas condições de estudo, mesmo porque os alunos são pagos para

aprender. Daí o sucesso do empreendimento particular paralelo.

Quanto às finalidades do ensino profissional são as seguintes: formar

profissionais aptos ao exercício de atividades específicas do setor; dar aos

trabalhadores não diplomados uma qualificação profissional; aperfeiçoar os

conhecimentos e habilidades técnicas de trabalhadores diplomados ou habilitados.

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5.3 – Ensino primário e o normal

O ensino primário teve o sua regulamentação no período republicano. Porém

as suas finalidades foram regulamentadas do seguinte modo: proporcionar a

iniciação cultural; formação e desenvolvimento da personalidade; elevar o nível

dos conhecimentos necessários à vida na família, à defesa da saúde e à iniciação

ao trabalho.

Por sua vez, a escolarização primária era dividida em duas categorias: ensino

primário fundamental, destinado às crianças de sete a doze anos de caráter

elementar com duração de quatro anos e primário complementar de um ano; e o

ensino primário supletivo, destinado a adolescentes e adultos.

Um aspecto referente ao ensino primário era o da sua articulação com outras

modalidades de ensino.

Quanto ao ensino normal, suas finalidades eram: formar professores para as

escolas primárias, habilitar administradores escolares; e desenvolver e propagar

conhecimentos e técnicas sobre a educação da infância.

“Persiste no entanto, a predominância de matérias de cultura gera em

detrimento das de formação profissional, bem como o caráter rígido de avaliação.

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Com o tempo, as escolas normais se tornaram reduto das moças de classe média

em busca da profissão feminina” (ARRANHA, 2002, p.203).

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CONCLUSÃO

A Era Vargas foi um grande período da História do Brasil, pois representou

uma ruptura ao quadro construído desde o descobrimento de um país de vocação

apenas agrícola. Além disso, representou um maior avanço paras as camadas

urbanas, que antes da Revolução de 1930 eram deixadas em segundo plano.

Por outro lado, vivemos um período de “ditadura que transformou seu líder

num típico caudilho latino-americano” (CASLECCHI, 2002, p. 9). Que restringiu as

liberdades democráticas e beneficiou de modo indireto uma determinada classe,

que são os trabalhadores. Esse beneficiou se deu principalmente pela

Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Só que esse desenvolvimento e os avanços sociais conquistados no período

não representaram a liberdade e a construção de uma vida melhor e mais digna.

Parece ser um contra-senso, mas o salário melhor e o emprego garantido não

garantem uma felicidade plena. Pois como afirma Niskier, tudo terminaria e um

grande problema não seria resolvido: a educação do povo.

De fato essa questão no governo Vargas deve ser dividida em 2 grupos

distintos e não separados, o período provisório e constitucional e o segundo o

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Estado Novo. Apesar de serem situações políticas diferentes ambos se

complementam.

A partir de 1934, é que o governo assumi novas atribuições, como a

integração e planejamento global da educação e a função normativa. É de

espantar, pois o Brasil foi descoberto em 1500 e já atravessou diversas fases

políticas e somente nessa época foi implantado tal sistema.

Por sua vez, o Manifesto dos Pioneiros em 1932, defendeu novas idéias:

“educação como instrumento de reconstrução nacional;

educação pública obrigatória e leiga; a educação adaptada

as regiões e interesses do aluno e formação universitária

dos professores” (PILLETTI, 1995, p.82).

São questões antigas, mas continuam no nosso cotidiano do século XXI,

muito embora ocorreram diversos avanços nesta luta no passar dos anos.

Mas o primeiro período de reformas educacionais de Getúlio Vargas, mexeu

bastante com o ensino secundário. Esse passou a dar maior ênfase a formação

geral para o ensino superior, o que de caracterizou como um erro pois o ensino

secundário passou a ser destinado às elites dirigentes. Também merece grande

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destaque a fundação da Universidade de São Paulo, a primeira universidade

brasileira a funcionar de maneira integrada.

Na segunda fase, dentro do golpe do Estado Novo, que foi caracterizado por

uma ditadura pessoal de Vargas, a educação passou a privilegiar as escolas

particulares, o que representou um afastamento maior do movimento da Escola

Nova. Outra mudança realizada se deu novamente no nível secundário com um

incremento de matérias ligadas a Humanidades e a introdução de História e

Geografia do Brasil, com a finalidade de despertar o caráter patriótico. Pode-se

dizer que essa consciência patriótica imposta por esse ditadura foi um erro, mas

hoje em dia faz muita falta aos estudantes do todos os níveis um melhor

entendimento e compreensão do nosso país.

Também foi introduzido o ensino profissional (industrial, comercial e agrícola),

o que de fato não foi ruim, já que atendia as necessidades dos trabalhadores e do

mercado de trabalho crescente no país. Só que isso representou um retardamento

as classes mais baixas. O motivo que esse tipo de ensino era voltado para eles e

sem continuidade no nível superior.

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“Em relação ao ensino primário trata-se, praticamente,

da primeira regulamentação nacional após a lei de 1827,

expressão clara da omissão do governo central no que diz

respeito ao ensino elementar, situação que em parte

continua até hoje, embora os burocratas ministeriais não

deixem de reafirmar a prioridade da educação básica”

(PILLETTI, 1995, p. 92).

Como o Pilletti afirmou a educação primário, hoje fundamental não é a

prioridade dos governantes se formos fazer um paralelo entre a Era Vargas e os

governos atuais. O objetivo do primário era desenvolver a personalidade a

preparação para a vida, saúde e trabalho, dividido em fundamental e supletivo. O

maior problema era desvinculado com o ensino secundário, pois apenas as elites

eram direcionadas para tal nível.

Assim sendo, as escolas particulares começaram a preparar os seus alunos

para tal seqüência e a escola pública ficou no cumprimento da lei. Em síntese

podemos dizer que lacuna entres essas duas escolas e seus respectivos alunos

teve seu inicio.

Também em importante citar o ensino normal, que representou o primeiro

curso de formação de docentes e administradores educacionais. Um avanço no

período.

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Se formos concluir o Estado Getulista na educação, com toda certeza não

vamos ter uma boa avaliação em dias de hoje. Mas no período apresentou a

melhor saída para a educação no Brasil, apresentando melhora em todos os

índices de educação. Para isso, utilizaremos o historiador Boris Fausto que nos

levou a essa conclusão:

“Entre 1920 e 1940 houve algum declínio do índice de

analfabetos, mas esse índice continuou a ser elevado.

Houve uma queda de 69,9% em 1920, para 56,2% em 1940.

O esforço pela expansão do sistema escolar produziu

resultados, a partir de índices muito baixos de freqüência à

escola em 1920. Estima-se que naquela época o índice de

escolarização na faixa dos cinco a dezenove anos chegou a

21%. No que diz respeito ao ensino superior, houve um

incremento de 60%” (FAUSTO, 2002, p. 393 e 394).

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Enciclopédia Novo Século. Rio de Janeiro: Visor, 2002. v. 3, 4 e 6.

LUFT, Celso Pedro. Super dicionário da língua portuguesa. 52 ed. São Paulo:

Globo, 1999.

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ÍNDICE

Introdução 7

Capitulo I – Revolução de 1930 9

Capítulo II – O estado Getulista 12

2.1 – Governo Provisório 12

2.2 – Governo Constitucional 13

2.2.1 – Integralismo 13

2.2.2 – Aliancismo 14

2.2.3 – Intentona Comunista 14

2.3 – Estado Novo 15

2.4 – Fim da Era Vargas 17

Capítulo III – Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova 19

Capítulo IV – A Educação nos Governos Provisório e constitucional 22

4.1 – Ensino Secundário 23

4.2 – Ensino Superior 25

Capítulo V – O Estado Novo e a Educação 26

5.1 – Ensino secundário 26

5.2 – Ensino técnico-profissional 28

5.3 – Ensino primário e o normal 29

Conclusão 31

Referências Bibliográficas 36