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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ CURSO DE GEOGRAFIA CAMILA CRISTINA PEREIRA DE PAULA A SEGREGAÇÃO NO CAMPO: PEQUENO PRODUTOR X GRANDE LATIFUNDIÁRIO problemas socioeconômicos gerados pela má distribuição de terras e a política elitista de desenvolvimento agrário. IPORÁ 2011

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    CAMILA CRISTINA PEREIRA DE PAULA

    A SEGREGAO NO CAMPO:

    PEQUENO PRODUTOR X GRANDE LATIFUNDIRIO

    problemas socioeconmicos gerados pela m distribuio de

    terras e a poltica elitista de desenvolvimento agrrio.

    IPOR

    2011

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    CAMILA CRISTINA PEREIRA DE PAULA

    A SEGREGAO NO CAMPO:

    PEQUENO PRODUTOR X GRANDE LATIFUNDIRIO

    problemas socioeconmicos gerados pela m distribuio de

    terras e a poltica elitista de desenvolvimento agrrio.

    Monografia apresentada a Coordenao do

    curso de Geografia da Universidade Estadual

    de Gois UNU de Ipor, como requisito para

    a obteno do ttulo de Licenciatura em

    Geografia.

    Orientado: Prof. Espc. Adjair Maranho

    Ipor

    2011

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    CAMILA CRISTINA PEREIRA DE PAULA

    A SEGREGAO NO CAMPO:

    PEQUENO PRODUTOR X GRANDE LATIFUNDIRIO

    problemas socioeconmicos gerados pela m distribuio de

    terras e a poltica elitista de desenvolvimento agrrio.

    Monografia apresentada a Coordenao do curso

    de Geografia da Universidade Estadual de Gois

    UNU de Ipor, como requisito para a obteno do

    ttulo de Licenciatura em Geografia.

    Orientado: Prof. Espc. Adjair Maranho

    Ipor, 29 de junho de 2011

    Banca Examinadora

    ___________________________________________________

    Prof. Espec. Adjair Maranho

    ___________________________________________________

    Prof. Msc. Julio Cesar Pereira Borges

    ___________________________________________________

    Prof. Msc. Vadir Specian

  • 5

    Dedico

    Deus pela oportunidade de romper barreiras e

    que sempre est comigo nessa caminhada, aos

    meus pais, pelo estmulo, carinho e compreenso,

    ao meu esposo, professora Mestre Jackeline

    Alves, que me fez entender o verdadeiro sentido

    da Geografia, e a todas as pessoas que

    contriburam de forma direta e indiretamente

    para que esse trabalho tivesse viabilidade.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Ao meu Deus, por me guardar em sua presena, sempre re(ordenando) meu viver,

    e me concedendo o privilgio de trilhar os seus caminhos.

    Aos meus familiares e amigos de curso, que mesmo sem poder interferir em

    minhas escolhas e aes, estavam sempre me apoiando nos momentos difceis.

    Ao meu orientador Professor Adjair Maranho, que mesmo em meio a tantos

    desafios, tem sido prestativo e interessado, sempre me mostrando caminhos melhores a trilhar

    na busca por um bom resultado.

    A Universidade Estadual de Gois e ao curso de Geografia pela oportunidade de

    realizar este curso.

  • 7

    No estamos perdidos. Pelo contrrio,

    venceremos se no tivermos

    desaprendido a aprender.

    Rosa Luxemburgo

    Ningum ignora tudo, ningum sabe tudo.

    Por isso, aprendemos sempre.

    Paulo Freire

  • 8

    RESUMO

    A histria do Brasil conta, desde a chegada aqui dos portugueses, como foi feita a diviso das

    terras brasileira. A Sesmaria, a cana-de-acar no nordeste brasileiro, as plantations, a

    revoluo verde... So temas para lembrar que a posse e propriedade das terras no Brasil, bem

    como o setor produtivo estiveram sempre nas mos da elite e voltada para produo em larga

    escala, visando o mercado exterior. O objetivo deste trabalho foi traar linhas comparativas

    entre o pequeno produtor rural, que apesar de muito trabalhar e produzir teve pouco incentivo

    ao longo da histria e o agronegcio, que sempre ditou as regras da produo brasileira e

    recebeu todas as prioridades das polticas pblicas para o seu desenvolvimento, o que

    contribuiu para a concentrao fundiria no pas e incansveis lutas por reforma agrria.

    Dados comparativos mostram que apesar de no ser prioridade, a agricultura familiar sempre

    contribuiu para garantir o abastecimento alimentar interno, e, se tornou tambm responsvel

    por boa parte da produo de exportao.

    Palavras-chaves: Agricultura familiar, Diviso de terra e Latifndio.

  • 9

    SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................................... 10

    1. A OCUPAO DE TERRAS NO TERRITRIO BRASILEIRO E

    A FUNO SOCIAL DA TERRA .................................................................................... 12

    1.1- Diviso agrria e seus muitos problemas e poucas solues: ....................................... 14

    1.2 Funo social da terra no Brasil: aspecto social e no direito civil ................................... 18

    1.3 O Golpe Militar, o Estatuto da Terra e a Reforma Agrria.............................................. 21

    2. POLTICA DE CRDITO, CAMPONESES E LATIFNDIOS: ENLACES E

    DESENLACES ................................................................................................................ 23

    2.1 Caracterizao da Agricultura Familiar e programas de incentivo a agricultura familiar

    ............................................................................................................................................... 26

    2.2 Caracterizao do latifundirio e programas de incentivo a grande Produo................ 30

    2.3 Complexo Agroindustrial do Brasil (CAI) ...................................................................... 32

    3. O EMBATE ENTRE AGRONEGCIO E AGRICULTURA

    CAMPONESA/FAMILIAR. ............................................................................................... 35

    3.1 O Discurso do Agronegcio ............................................................................................ 37

    3.2 A Agricultura Familiar e a sua persistncia..................................................................... 39

    3.3 O PRONAF nos Governos FHC e Lula.......................................................................... 44

    3.4 Dados comparativos ....................................................................................................... 45

    CONCLUSO ...................................................................................................................... 48

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 50

  • 10

    INTRODUO

    A questo agrria no Brasil vem sendo discutida incansavelmente por vrios

    autores, tais como Andrade (1995), Fabrini (2008), Oliveira (2006), Souza (1998)... cada um

    com sua vertente de pensamento. O tema proposto, por sua vez, no se trata de um assunto

    simples, mas sim de uma dialtica sistemtica e complexa. Com base nessas discusses,

    tecemos uma anlise bibliogrfica, para mostrar como vem sendo, feito o atendimento ao

    produtor rural brasileiro pelas polticas publicas em face a cada categoria produtora

    organizada.

    O processo de construo dos modelos de desenvolvimento da agricultura

    brasileira agricultura camponesa/familiar e agronegcio, assim como o embate que existe

    entre esses dois paradigmas, vm ocorrendo durante sculos na sociedade brasileira, conforme

    se observa em Simo (2009) e Souza (1998), desde os tempos coloniais, em diferentes

    conjunturas histricas, eles coexistiram enquanto formas de organizao sociopoltica e

    produtiva (a agricultura camponesa e a agricultura capitalista), configurando como foras

    sociais e polticas que historicamente demarcaram espaos e territrios.

    Sendo que, para a afirmao, fortalecimento e avano do modelo da agricultura

    capitalista, as foras sociais (latifundirios, polticos, empresrios, etc.) que o impulsionaram,

    no passado e no presente, o fizeram sob a gide da explorao e subordinao da agricultura

    camponesa e dos trabalhadores rurais assalariados.

    Por outro lado, as lutas sociais e a resistncia dos camponeses e trabalhadores

    rurais no campo, sempre representaram a negao da lgica social da agricultura capitalista, e,

    a afirmao da agricultura camponesa/familiar e de seus princpios, como alternativa de

    desenvolvimento do campo brasileiro.

    Nesse sentido, abordamos o assunto, divididos em trs captulos que mostra como

    foi e ainda perdura a poltica de atendimento aos produtores rurais brasileiros. No primeiro

  • 11

    captulo deste trabalho vamos tratar de um retrospecto histrico trazendo a tona razes deste

    ento dito desenvolvimento. E isso deixa claro a expropriao camponesa, oriunda no de

    uma cultura feudal, mas sim de uma cultura de acumulao de capital tento como objetivo

    direto o abastecimento das grandes cidades. Com ressalvas pertinentes em vrios recortes

    temporais, no objetivando datas especificas, mas trazendo uma proposta analtica a meio

    tantos problemas agrrios (gnese, meio e conseqncia), e poucas solues.

    No segundo captulo, o trabalho mostra de uma forma intrnseca e objetivada, da

    poltica agrria, a elitizao dos fundos e crditos destinados ao setor produtivo, a luta do

    pequeno produtor e o grande latifundirio, evidenciando o vis de cada um e problemas

    gerados ao longo do tempo da histria agrria brasileira.

    Por ltimo, no terceiro captulo, a pesquisa aponta o confronto entre os dois

    setores da cadeia produtiva rural brasileira, e, tendo uma tica clara e concisa de quem de fato

    alimenta o mercado interno e aquece a economia, tanto regional, quanto nacional. Desta

    forma, o principal objetivo deste presente trabalho esta na ao analtica de compreender toda

    essa cadeia produtiva defeituosa e excludente que foi imposta ao campons brasileiro.

  • 12

    1. A OCUPAO DE TERRAS NO TERRITRIO BRASILEIRO E A FUNO

    SOCIAL DA TERRA

    Ao discutir o processo da ocupao e diviso das terras no Brasil, observa que,

    desde os primrdios da colonizao essa distribuio foi desigual. Segundo Souza (1998),

    Trinta e dois anos aps a descoberta do Brasil, quando o Rei de Portugal D. Joo III, tendo

    notcias dos progressos que faziam os castelhanos estabelecidos nas margens do Paraguai,

    resolveu dividir o seu enorme territrio da Amrica (Brasil) em lotes de 50 lguas,

    distribuindo aos servidores mais notveis do reino, que estabelecem e fixassem por seus

    recursos ou crditos prprios para promover eficazmente a povoao e defesa da parte que lhe

    foi confiada. Aps explorado e demarcado quinze lotes distintos por Martim Afonso de Souza

    e seu irmo Pero Lopes, assim nomeando doze donatrios, conferindo-lhes a carta de doao,

    considerveis regalias e poderes de governadores nas suas respectivas possesses; poderes

    quase majestticos, e que compreendiam o controle total de sua populao, oriunda de seus

    lotes. O autor ainda ressalva que tais propriedades eram divididas apenas por linhas

    imaginrias, medidas de seus extremos, de leste para o oeste e no eram iguais em extenso,

    como determinada pelo Rei, mas receberam maiores quinhes aqueles indivduos que mais

    valiam na Corte, e, por isso, como era de se prever, os exploradores Martim Afonso e Pero

    Lopes, tiveram na partilha aqueles lotes que, como conhecedores, consideravam o melhor.

    Entretanto, o autor deixa claro sua posio quanto a diviso de terras;

    [...] como ressalva a primeira vista, essa demarcao era defeituosssima,

    pois que os lotes, alm da instabilidade das linhas divisrias impossveis de

    traar regies to extensas e acidentadas, dava lugar a quinhes de

    grandezas fora de toda a comparao, servindo apenas para demonstrar que,

    o puro arbtrio do doador e o grau de valimento dos agraciados, foram os

    nicos que concorreram para soluo do problema to srio e suscetvel de

    to importantes conseqncias no futuro (SOUZA, 1988, p. 22).

  • 13

    Esse mesmo pensamento, tambm se observa em Simo (2009), que afirma que a

    concentrao fundiria um problema que se iniciou no perodo colonial, e, atualmente, est

    relacionada com a internacionalizao da economia brasileira. Situao que envolve o

    agronegcio latifundirio exportador de um lado e o campesinato de outro.

    A demarcao e a diviso de reas de grandes extenses, privilegiava a elite,

    entrelaava arranjos polticos com a Corte, desfavorecendo a massa da poca, extinguindo

    assim qualquer possibilidade de benefcios para a populao.

    De acordo com Andrade (1995), no se pode aceitar que no Brasil tenha tido, no

    perodo colonial, um modo de produo feudal do tipo europeu, mas a formao econmico-

    social capitalista que procurava maximizar a acumulao primitiva, destruindo a natureza,

    escravizando e dizimando tribos indgenas e desenvolvendo o trafego negreiro. Desta tica, o

    autor ressalta que a diviso de terras no poderia ser outra, pois o objetivo da Coroa era

    somente o de explorao, ou seja, a colonizao foi um empreendimento econmico tpico de

    domnio do capitalismo mercantil.

    Tal modelo de explorao adentra os sculos XVII e XVIII e se estende at o

    Brasil imperial, perodo compreendido entre 1822 1888, quando grandes elementos como a

    borracha e o caf entram em cena dando sentido e formao e consistncia de centros

    urbanos comerciais que funcionariam como entreposto de produo agrcola. Desta forma, o

    Brasil era caracterizado como um pais produtor, alimentando grande parte do mercado

    externo com seu caf, chegando at 82% da produo mundial. Esse status logo mudaria no

    sculo XIX, a grande depresso de 29, que afundou os EUA e os paises europeus, segundo

    Felippi (2009), o que provocou uma brusca queda na economia cafeeira e no afetando a

    estrutura de posse de terras no Brasil. A partir da segunda dcada do sculo XIX, a estrutura

    do Brasil sofreu grandes mudanas, primeiro passando de colnia para imprio, o que

    provocou de fato um abalo no mecanismo agrcola (produo) e agrrio (terras) do pas.

    V-se, portanto, que a principal funo do Brasil no mercado internacional

    , tal como ocorrera com o acar, multiplicar a produo de excedentes de

    produtos tropicais que, gradativamente, se tornavam mais acessveis ao

    consumo proletrio, dado o aumento mais que proporcional da produo

    em relao ao consumo. (FILIPPI. 2009, p. 94)

    Em relao abundncia e explorao de terras, em 1748 a coroa portuguesa

    institui o princpio de utis possidetis, ou seja, a terra a aquele que a ocupa. Esse dispositivo

    possui um duplo propsito: garantir a ocupao (portuguesa) das terras da colnia e obrigar o

  • 14

    ocupante a responder pelos imperativos de produzir obedecendo aos critrios impostos pela

    potncia colonizadora. Dada a abundncia de fatores de produo necessrios a esta misso

    (terras e escravos) e a existncia de mercados consumidores em expanso no velho mundo,

    a disputa por terras era inexistente. Assim, apesar da brutalidade com que a mo-de-obra era

    tratada e o avano na ocupao de terras acelerava sem nenhum constrangimento em termos

    de apropriao de territrios indgenas, a terra era privilgio de indivduos fiis coroa

    portuguesa, e a noo de pequena propriedade simplesmente no se colocava.

    1.1 - Diviso agrria e seus muitos problemas e poucas solues.

    O Brasil, pela sua extenso territorial, tinha somente a funo de abastecer o

    mercado externo e com o excedente, o mercado interno respectivamente, mas o que no pode

    deixar de salientar em relao a funo social da terra, ou seja, no somente a funo

    produtiva da terra, que Falco (2005) faz referncia segundo a origem e fundamentao

    jurdica mostra-se a partir da Emenda Constitucional n. 10, de novembro de 1964

    Constituio Federal de 1946.

    [...] a propriedade no um direito, uma funo social. O proprietrio,

    dizer, o possuidor de uma riqueza tem, pelo fato de possuir essa riqueza,

    uma funo social a cumprir; enquanto cumpre essa misso, seus atos de

    propriedade esto protegidos. Se no os cumpre, ou deixa arruinar-se sua

    casa, a interveno dos governantes legtima para obrigar-lhe a cumprir

    sua funo social de proprietrio. (FALCO. 2005, p. 1)

    Assim a funo da terra uma questo filosfica e normativa, dando uma

    conotao ideolgica, que na sua pratica , infelizmente, anulada, seguindo somente a

    vertente do vis econmico. Para Andrade (1995), no que cerne aos problemas do campo,

    durante a primeira republica o problema agrrio do Brasil tinha carter crnico, tendo sua

    gnese no perodo colonial, assim problemas gerados nessa base seriam resolvidos atravs do

    sistema, ignorando a questo agrria em sua essncia.

    Em Oliveira (2007) e Menezes Neto (2008), os movimentos sociais rurais, as

    primeiras Ligas Camponesas surgiram no Brasil, em 1945, logo aps a redemocratizao do

    pas depois da ditadura do presidente Getlio Vargas. Camponeses e trabalhadores rurais se

    organizaram em associaes civis, sob a iniciativa e direo do recm legalizado Partido

    Comunista do Brasil PCB. Foram criadas ligas e associaes rurais em quase todos os

    estados do pas. E neste contexto surge uma nova personagem na histria, que at ento havia

  • 15

    permanecido com status de controladora social, com objetivo somente de conformar seus

    fieis a vida indigna que Deus os concebeu.

    Como conseqncia do alastramento da misria social e o descontentamento que

    so decorrentes do processo da Lei de Terras de 1850, a igreja com objetivos no obstante,

    iniciou no sculo XIX determinados movimentos liderados pela CNBB em prol do

    campesinato, ento, aquela mesma igreja, que sculos anteriores era a maior detentora de

    terras, agora levanta a bandeira da via campesina, apresentando-se com esprito matriarcal.

    Deve-se salientar que, contraditoriamente com estas posies da cpula da

    Igreja, as Ligas Camponesas tiveram, nas diversas religies, um elemento

    impulsionador das lutas e, neste sentido, foram diversas as aes concretas

    em que comunistas, catlicos e evanglicos de esquerda, distante das

    discusses hierrquicas da Igreja, aproximaram-se no apoio reforma

    agrria e as lutas dos assalariados e camponeses. (MENEZES NETO. 2008,

    p. 3)

    A ecloso de problemas como dessa estirpe, trouxeram vrias linhas de

    pensamentos em prol do campesinato, como; uma nova abertura de fronteiras agrcolas,

    programas como (dentre os principais) PROTERRA, PROVALE, a POLAMAZNIA. Data

    de fins dos anos 1960 e de incio da dcada de 1970 a criao do INCRA - Instituto Nacional

    de Colonizao e Reforma Agrria - rgo estatal fundamental para a compreenso das

    dinmicas agrrias recentes do Brasil. O INCRA resultado da fuso de dois rgos

    efmeros: o IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrria e o INDA Instituto Nacional de

    Desenvolvimento Agrrio. Com objetivos camuflados, esses programas escondia suas reais

    intenes, conforme atesta Filippi.

    [muito] mais do que reforma agrria, o que se tentou fazer na poca foi a

    colonizao da Amaznia. Levas de migrantes nordestinos foram levados a

    ocupar as margens da estrada Transamaznica e empresas de variados

    ramos receberam incentivos fiscais para grandes projetos agropecurios. A

    experincia no foi bem-sucedida (INCRA, 2005). Estamos no perodo de

    amadurecimento dos projetos agropecurios de esprito produtivista.

    (FILIPPI, p. 59, 2009).

    Dando nfase a histria da reforma agrria brasileira, ela se inicia tardiamente, no

    final dos anos 1950 e incio dos anos de 1960, quando a reivindicao pelas reformas de

    base (agrria, urbana, bancria e estudantil) tomou corpo e passou a fazer parte das

    discusses populares. Se destacando em meio s demais, a reivindicao pela reforma agrria,

    exigia a extino do latifndio existente desde a poca de colonizao do Brasil e a melhoria

    das condies de vida no campo. (ESCOLA.COM, 2010).

    http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/reformas-de-base/http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/reformas-de-base/http://www.infoescola.com/geografia/reforma-agraria-brasileira/

  • 16

    Para Valverde (1985), no h necessidade de uma discusso para efetuar uma

    reforma agrria no Brasil a curto prazo, tema que j parece ser de fato estudado e

    compreendido. O que realmente importante o que se prope, se uma reviso,

    organizao ou plano de desenvolvimento rural, ou seja, qualquer sucedneo, mantendo

    porm, as bases da reforma agrria.

    indispensvel estabelecer a priori o que se estender pela expresso

    reforma agrria. Isto significa um conjunto de leis e medidas

    administrativas determinando modificaes a curto prazo na malha

    fundiria de um pais ou uma regio povoada, de maneira a fazer progredir

    as relaes de produo e desenvolver a produo agropecuria.

    (VALVERDE, p.261, 1985).

    Resumidamente, a reforma agrria uma operao muito complexa inadivel,

    tendo como complemento indispensvel o trabalho educativo: uma vez devidamente

    esclarecidos, cabe aos prprios trabalhadores optarem livremente por uma forma de

    organizao de sua produo, e para aplicao desta reforma necessrio uma analise

    dividida em escalas, assim com solues regionais. O problema agrrio de cada regio requer:

    a) o conhecimento mais completo possvel da estrutura agrria atual; b) a formulao da

    estrutura desejvel e mais adequada, assim como dos meios de alcan-la; c) a resoluo dos

    problemas correlatos, no menos importantes, da educao, do critrio, do fomento rural e

    ajuste da legislao civil.

    Como ressalta Oliveira (1991 e 2006) o processo de desenvolvimento do modo

    capitalista de produo no Brasil, particularmente no que se refere a agricultura, foi o prprio

    capital que instituiu a apropriao camponesa da terra, como conseqncia evidente da crise

    do trabalho escravo. Portanto, apropriao camponesa da terra fruto das contradies e da

    lgica do capital, o que vale dizer, o campons fruto da histria atual do capitalismo no pas.

    Assim a luta pela reforma agrria implicou alianas polticas, composio de grupos de

    presso, greves, prises e morte de lderes camponeses, mobilizao geral da sociedade civil e

    remanejamento na correlao de foras do bloco no poder de ento, enfim, a exigncia de uma

    reforma agrria no Brasil foi eminentemente uma luta poltica.

    As transformaes pelas quais a agricultura brasileira passou no sculo XX

    revelam todas as suas contradies, aquelas presentes no cerne da estrutura agrria, e sua

    caracterstica contempornea: a luta pela reforma agrria. Alm disso, mostra a relao

    simbitica entre a luta pela terra e a conquista da democracia por tais excludos, sendo que, a

    conquista democrtica sendo consumada pelo acesso legal a terra, conquistando a identidade

    camponesa e enfim a identidade de cidadania.

  • 17

    No alicerce dos estudos de Sinatora (1985) pode-se ver claramente sua posio em

    relao a reforma agrria; esse modelo concentrador da propriedade da terra no Brasil gera

    uma conseqncia imediata: ele tambm excludente. A poltica ideolgica de reforma

    agrria, que tem como caracterstica bsica: redistribuir a propriedade de terra, no s

    distribuindo pequenas glebas, mas sim assegurar aos que nela trabalham, emprego estvel,

    moradia e renda compatvel com sua condio de cidado brasileiro, est deixando de cumprir

    esse papel importantssimo para a populao rural. Aprofundando uma posio analtica,

    entende-se que o governo com todos os subsdios aos latifundirios, cumpri o inverso do ideal

    proposto por ele mesmo.

    O que ainda latente, refere-se ao fato de que a Reforma Agrria em sua essncia

    no foi posta em pratica, o que se observa uma pseudo-distribuio de terras, servindo

    apenas para sanar momentaneamente problemas sociais.

    O campo brasileiro tem passado por significativo aumento dos movimentos

    sociais, em busca de uma melhoria e dignidade, segundo Oliveira (2003). Essa mudana no

    algo novo, mas sim resultado de processos que se arrastam por sculos, tendo como premissas

    as lutas dos escravos negros contra a escravido. Nasceram inmeros movimentos no campo

    brasileiro, cada qual com seus objetivos, mas no mesmo sentido. Dentre eles se destaca o

    MST (Movimentos dos trabalhadores rurais), que tem como objetivo, segundo o autor, criar

    fatos polticos que mobilizem e sensibilizem os governantes para a necessidade de

    implantao de uma reforma agrria justa, se tornando assim o movimento mais organizado

    e combativo do campo brasileiro.

    A situao territorial agrria do Brasil continuava estagnada, com base em todos

    esses parmetros de comparao e parmetros analticos, v-se um constante questionamento

    agrrio, e outros mais que esto subjetivamente incorporados a cultura do pas e trazidos pelo

    legado poltico que seguido a risca pelos governantes. Assim como se mostra todos

    problemas acima citado, mostra-se tambm relevantes ideologias/tentativas de quebra deste

    sistema, logo percebe-se uma considervel frustrao na resoluo de vrios problemas.

    V-se, portanto a indagvel necessidade de sumarizar os processos e experincias

    da diviso de terras brasileiras, nesses tantos caminhos que at se mesclam, e no so mais

    contornados pela elite pensante, adentrando no s os lares, mas sim na vida da populao,

    dado ao fato de que toda populao, tanto regional, nacional e internacional, dependente do

    meio rural, e assim a economia torna-se depende das grandes produes agrcolas, mas no

    podendo justificar-se o ato de excluso gerado pelo tal processo, e sim na procura da

    ponderao. O modelo dual de agricultura no pas onde convivem o grande estabelecimento

  • 18

    agrcola capitalista e a lgica da agricultura familiar, que busca a reproduo social. Essa

    dualidade resulta, referenciado por Martins (1979), em Relaes sociais sob a lgica

    capitalista no campo produzem resultados antagnicos, personificados por pessoas distintas,

    que so o trabalhador e o capitalista. Contradio? Nem tanto. Em nosso entender, as

    respostas no devem ser buscadas na contradio, mas sim na formao dual do meio rural

    brasileiro onde subsistem duas realidades: o abastecimento do mercado interno em alimentos,

    e o fluxo intermitente de exportaes, parmetro no qual a estrutura econmica brasileira

    dependente h mais de quatro sculos.

    1.2 Funo Social da Terra do Brasil: Aspecto Social e no Direito Civil

    inegvel a importncia conferida propriedade pelo Homem. Enquanto no reino

    animal os indivduos da maioria das espcies preocupam-se com a deteno apenas do

    indispensvel sua sobrevivncia, possui o ser humano uma estranha vocao para a

    apreenso individual de bens desnecessrios/necessrios. Por outro lado, mais importante

    ainda, na sociedade humana, por razes econmicas, financeiras e polticas, tem sido a

    propriedade dos meios de produo.

    O direito propriedade direito fundamental, protegido pela Constituio Federal.

    Entretanto, com o objetivo de melhor compreend-lo, no se pode olvidar do carter histrico

    de que se reveste. A concepo absoluta da propriedade foi instrumento de consolidao do

    poder da burguesia, cujos contornos so inadaptveis realidade contempornea. (MATIAS

    & MARQUES JUNIOR. 2008, p. 1)

    Consideram os autores, que no campo, a dura realidade de repartio da terra,

    decorrente de um processo de ocupao perverso e injusto, clama por modificao, em que o

    direito assume papel fundamental, como instrumento de transformao social, de forma

    ordeira e pacfica.

    Em um Brasil estritamente agrrio, a propriedade de terras sempre representou

    poder e mando, o que decorrncia da prpria forma de ocupao e repartio de terras em

    nosso pas. Como j apresentado anteriormente, a diviso de terras extremamente

    defeituosa, e como premissa, houve uma diviso sesmarial, que se deu em razo da

    colonizao. Tal sistema acarretou grande prejuzo distribuio de terras, com a constituio

    de latifndios, j que no havia restrio extenso da rea nem concesses sucessivas. Esse

    vis s pouco modificado atravs da industrializao do pas, dando uma nova forma de

  • 19

    poder. As feitorias deste sistema de diviso de terras no obteve grandes xitos em razo da

    natureza diversa da distribuio das terras.

    Para Mello (2009, p. 38) com o Regime de Posse de Terras Devolutas, a utilizao

    efetiva da terra passou a ser privilegiada, por meio da ocupao direta. Apenas com a Lei de

    Terras, Lei n 601, de 1850, a propriedade se tornou prerrogativa e condio para acesso da

    terra, mediante da compra direta. Com a Lei de Terras privilegiado o ttulo de propriedade,

    segundo parmetro do Cdigo Napoleo.

    Assim, para o autor, a Lei de Terras teve a finalidade de impedir o acesso a terras

    no Brasil, por parte dos negros, no escravos. A referida lei teve o propsito ainda de

    favorecer a posseiros, sem domnio formal do bem, a partir de regularizao. Tratava-se de lei

    baseada na restrio ao acesso terra, bem como regularizao de posse anterior.

    Independentemente do recorte temporal, a mudana ideolgica/social no campo

    no mudou muito, a segregao social ocorrida evidenciaria as classes altas e baixas, ou seja,

    os escravos, camponeses e desfavorecidos economicamente ficariam impossibilitados, mesmo

    que trabalhando muito, a obter a terra como meio de sobrevivncia, assim leis voltadas as

    praticas camponesas so restritas, regulamentando apenas problemas emergentes, e no em

    sua totalidade.

    O equilbrio social oriundo da utilizao da propriedade no Brasil decorreu da

    presena de algumas classes de trabalhadores rurais: o sitiante, pequeno proprietrio; o

    parceiro, que trabalhava em terras, mas sem relao estvel. O ltimo estava entre o sitiante,

    com a prpria propriedade, e o colono que dependia do prprio trabalho assalariado. O

    parceiro teria maior autonomia por no depender diretamente da relao de trabalho, e poderia

    exercer atividade para qualquer interessado. (MELLO, 2009. p. 41).

    Para Oliveira (2006), o posseiro uma parcela dos camponeses sem terra, com

    uma bagagem de lutas contra a expropriao que os gera, e na outra ponta os grandes

    fazendeiros com seus jagunos liderando grandes embates sangrentos, e tal rivalidade no

    essencialmente caracterstica do sculo XIX, nos anos de 1950 e 1960 as ligas camponesas

    sacudiram o campo. Muitos foram os movimentos: Canudos, Contestados, Trombas e

    Formoso, so exemplos de lutas pela liberdade no campo.

    Tais acontecimentos mostram a tentativa de obteno de um meio de

    sobrevivncia, mas com um olhar analtico, pode-se enxergar nas entrelinhas deste contexto, a

    tambm luta pela insero social, ou seja, no somente o alimento fsico, mas sim o alimento

    social, aquele que faz o homem do campo caminhar ao lado da dignidade, impor a presena

    dele em uma sociedade capitalista torna-se indispensvel, e conseqentemente, se

  • 20

    posicionando como promotor social e no aquele que vive nas margens de rodovias e da

    sociedade.

    A questo social se apresenta como ideolgica, inegavelmente h ambio de

    alcanar a funo social da terra no mbito legal. H preocupao histrica em estabelecer

    relao entre o conceito de direito com a realizao da Justia, tendo em vista a manuteno

    do equilbrio social, pautado em perspectivas de justia horizontal e vertical, em que

    simbolicamente uma balana determinaria o equilbrio entre as duas vertentes.

    Como instrumento promotor da dignidade da pessoa humana e da justia social a

    Constituio Federal de 1988 trouxe inserido em seu texto final a positivao do princpio da

    funo social da propriedade como garantia fundamental, como princpio da ordem

    econmica e como elemento da poltica urbana, agrcola, fundiria e da reforma agrria.

    A primeira apario do princpio da funo social no texto Constitucional Federal

    de 1988 d se no ttulo II dos Direitos e Garantias Fundamentais, precisamente no inciso

    XXIII do Artigo 5.

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a

    inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e

    propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atender a sua

    funo social. (BARROS, 2008. p. 53).

    Barros ainda ressalta que, nessa ordem, o principio da funo social da terra,

    associado ao princpio da propriedade privada, com princpios privados e coletivos,

    asseguram a dignidade da pessoa humana de forma individual e coletiva, haja vista que

    garantem o exerccio do direito de propriedade de forma a contemplar no s o proprietrio,

    mas tambm toda a sociedade, conforme descrita na nova Lei agrria N 8.629, de 25 de

    fevereiro de 1993, que dispe sobre a regulamentao dos dispositivos constituintes relativos

    a reforma agrria, em consonncia os Artigos 2 e 9, em que se observa:

    Art. 2. A propriedade rural que no cumprir a funo social prevista no art.

    9 passvel de desapropriao nos termos desta Lei, respeitando os

    dispositivos constituintes.

    Art. 9. A funo social cumprida quando a propriedade rural atende,

    simultaneamente, segundo graus e critrios estabelecidos nesta Lei, os

    seguintes requisitos:

    I- aproveitamento racional e adequado;

    II- utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do

    meio ambiente;

    III- observncia das disposies que regulam as relaes de trabalho;

    IV- explorao que favorea o bem-estar dos proprietrios e trabalhadores.

  • 21

    Dadas as Leis, como a 1988 a de 1993, de forma correta, o poder constituinte

    reconheceu na propriedade rural, investida do princpio da funo social, veculo auxiliar do

    Estado na busca dos objetivos fundamentais da Repblica.

    A importncia estratgica da propriedade da terra no se resume pacificao dos

    conflitos sociais existentes no Brasil desde as pocas das sesmarias, pois se investida da

    funo social, tambm se torna estratgica aos assuntos relacionados segurana alimentar,

    desemprego, distribuio de renda, meio ambiente entre outros.

    1.3 - O Golpe Militar, o Estatuto da Terra e a Reforma Agrria.

    No ano de 1964, o Brasil tomado pelas foras militares em golpe de estado, que

    vai durar mais de duas dcadas. Aps passar por uma profunda agitao poltica, em vista a

    renncia do Presidente Jnio Quadros, fato que ocorreu no ano de 1961, e, a posse de seu

    vice, Joo Goulart, poltico de esquerda, e, prometendo uma ampla reforma no pas, o que

    logo preocupou as elites, que temiam uma alterao social que ameaasse seu poder

    econmico. Por isso, uma srie de decises foram tomadas para enfraquecer o governo Jango,

    como a adoo do parlamentarismo, que, em 1961 e 1962, atribuiu funes do presidente ao

    Congresso, ento dominado por representantes das elites. O regime presidencialista foi

    restabelecido em 1963 aps um plebiscito nacional.

    Os sinais da democracia brasileira, de fato, vm desse perodo, onde o governo, em

    meio aos anncios de reforma nacional, pretendia controlar a remessa de dinheiro para o

    exterior, dar canais de comunicao aos estudantes e permitir que os analfabetos, maioria da

    populao, votassem.

    Segundo Bigeli (2004), O inicio do golpe militar aconteceu na cidade do Rio de

    Janeiro, em maro de 1964, aps Joo Goulart discursar e determinar a reforma agrria e a

    nacionalizao das refinarias estrangeiras de petrleo, que to logo, Imediatamente, a elite

    reagiu: o clero conservador, a imprensa, o empresariado e a direita em geral organizaram, em

    So Paulo, a "Marcha da Famlia Com Deus pela Liberdade", que reuniu cerca de 500 mil

    pessoas.

    Uma vez no poder, os militares tinham que oferecer respostas aos movimentos

    rurais, que desde os meados do Sculo XX, tais como as ligas camponesas e sindicatos rurais,

    organizados cobravam e clamavam por uma melhor assistncia do poder publico aos assuntos

    agrrios. Incluir a reforma agrria como umas de suas prioridades, foi uma soluo imediatista

    http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/parlamentarismo-1.jhtm

  • 22

    encontrada para acalmar e tentar minimizar os movimentos nos campos brasileiros. Assim

    surge o Estatuto da Terra. Texto longo, detalhista, abrangente e bem-elaborado, o que

    constituiu-se na primeira proposta articulada de reforma agrria, feita por um governo, na

    histria do Brasil.

    O Estatuto, que surgiu como arma para resolver os problemas agrrios brasileiros,

    enquanto discurso, j que na prtica, ele foi aprovado para ser engavetado e cair no

    esquecimento ao longo do tempo, uma forma do governo militar esvaziar e massacrar os

    movimentos agrrios, teve na prtica a sua real funo, legalizar a propriedade e promover

    crditos de desenvolvimento para o setor fundirio. Ao contrrio do que reza na Lei, em vez

    de dividir e garantir a posse da terra, impulsionado pelo capitalismo, o governo militar

    promoveu a modernizao do latifndio, por meio do crdito rural fortemente subsidiado e

    abundante. Era o comeo do agronegcio brasileiro.

    Levantamentos iniciados pelo IBRA e depois pelo INCRA 1967, 1972 e

    1976 demonstraram um domnio completo dos latifndios no territrio

    brasileiro, que no eram cultivados intensamente, impedindo milhes de

    trabalhadores de terem acesso a terra e produo. Os minifndios, mesmo

    em maior nmero, ocupavam reas pequenas e respondiam pelo grande

    volume da produo brasileira de alimentos. Tal constatao teve que ser

    abafada. GASPAR (2009).

    A herana poltica agrria do regime militar apresenta como resultado o reforo ao

    poder do latifndio tradicional e o desenvolvimento do latifndio moderno, das grandes

    empresas nacionais e multinacionais. Projetos agrcolas, agroindustriais, agropecurios,

    financiados pelo Governo, transformaram-se em latifndios enormes, apoderando-se de terras

    de posseiros e ndios. O governo interviu nos sindicatos e passou a control-los por meio do

    Ministrio do Trabalho, e, esses, se viram na obrigao de praticar uma poltica de

    assistencialismo.

    O Estatuto da Terra que antes parecia ser uma soluo para a questo agrria

    brasileira, teve como nfase poltica de exportaes, melhorou o sistema virio, com a

    construo de auto-estradas, ampliao de portos e modernizao de ferrovias. Incentivou o

    desenvolvimento da tecnologia agrcola importada, com crescimento da produo de

    matrias-primas e de alimentos.

  • 23

    2. POLTICA DE CRDITO, CAMPONESES E LATIFNDIOS: ENLACES E

    DESENLACES

    At a dcada de 1930, a produo agrcola brasileira esteve assentada na produo

    de caf direcionada exportao, ficando as demandas do mercado interno dependente das

    ocilaes do mercado externo. Como conseqncia da Grande Depresso Econmica dos anos

    1929-33 e a Revoluo de 1930, constatou-se uma queda acentuada nas exportaes de caf e

    um movimento de diversificao produtiva, com crescimento da produo interna de

    alimentos e matrias-primas. Ocorreu, assim, uma mudana nos determinantes da economia

    nacional, que passaram a residir na capacidade produtiva e de consumo internas.

    Gradativamente, o processo de urbanizao aliado industrializao, ao criar um mercado

    interno, passou a delinear alteraes no padro de oferta de alimentos que at ento estava

    exclusivamente dependente dos excedentes da pequena produo camponesa.

    Com a urbanizao, a migrao rural-urbana passa a ser vista com ressalvas pelas

    elites dominantes, tanto como fator de reduo da produtividade do campo quanto como

    desencadeadora da expanso desordenada das cidades e do desemprego. (XLVI Congresso da

    Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural).

    O que se pretende neste capitulo, no se tange a uma analise minuciosa de linhas

    de crdito, mas sim um olhar analtico sobre os meios financeiros que mais tem mostrados

    resultados/ou no ao pequeno e grande produtor rural.

    Portanto neste contexto de busca por desenvolver a economia brasileira, surge o

    Crdito Rural Supervisionado (Crs), que:

    O Crdito Rural Supervisionado (CRS) foi institudo em 1948, para atender

    a uma grande massa de proprietrios marginalizados (minifundirios,

    arrendatrios, parceiros e ocupantes) que, em funo de no auferirem

    rendas suficientes para colocarem em prtica aquilo que aprendiam, no

    podiam se beneficiar plenamente de um trabalho educacional como era o

    servio de extenso. Essa modalidade de crdito, destinada

    fundamentalmente ao pequeno produtor, procurou conjugar os servios de

    crdito e de educao rural (MACHADO & RIBEIRO, 1960).

  • 24

    Segundo Oliveira (1984), a extenso rural encontrou grandes dificuldades para

    sensibilizar os agentes financeiros para operarem com o Crdito Rural Supervisionado junto

    ao pblico-alvo, visto que os pequenos agricultores eram considerados quase marginais, o que

    tornava, do ponto de vista bancrio, as operaes muito arriscadas. Outras dificuldades foram,

    a fraca capilaridade da rede bancria, a falta de estrutura administrativa para operar, a baixa

    qualificao profissional dos bancrios, a insuficincia de recursos, a falta de documentao

    por parte dos produtores e a excessiva burocracia para registro dos contratos nos cartrios.

    Sendo o ponta p inicial da poltica financeira de crdito, no s o CRS fracassou,

    mas outra tentativa de extenso rural entrou em colapso, como; Crdito Rural Orientado

    (CRO), com o fim de modernizar o modelo de produo brasileiro. Mas em 1965 pelo decreto

    lei, foi institudo o SNCR (Sistema Nacional de Crdito Rural), que tinha como propsito

    compartilhar a tarefa de financiar a agricultura entre as instituies financeira pblicas e

    privadas, que desenvolve-se com determinado xito, e para uma modernizao uniforme,

    foi criado a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa; o Plano Nacional de

    Defensivos Agrcolas, com o objetivo de clarear a complexidade da produo rural, servindo

    de base terica para os grandes e pequenos produtores . (XLVI Congresso da Sociedade

    Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural).

    Independente do recorte temporal, o Estado mostra sua face e a sua verdadeira

    inteno, assim a poltica de crdito, atravs do SNCR, fomentou as condies para que os

    agricultores adquirissem os meios necessrios para dinamizar a produo (insumos, mquinas

    e equipamentos, etc.). Esse instrumento foi altamente seletivo, na medida em que acabou por

    induzir um processo de modernizao desigual, com privilgios diferenciados a produtores, a

    produtos e a regies. O crdito rural e os subsdios a ele vinculado privilegiaram, sobretudo,

    os grandes proprietrios de terras e as empresas rurais, em detrimento dos pequenos

    produtores, que permaneceram margem das vantagens.

    Embora a face mais perceptvel da interveno do Estado no campo seja a poltica

    de credito e de preos mnimos dos produtos agrcolas (ou a ausncia dela), a interferncia das

    polticas publicas no processo de recriao camponesa por demais significativa.

    Refletir sobre seus desdobramentos requer, antes que mais nada, recuperar um

    pressuposto: trata-se de reconhec-las como instrumento privilegiado de mediao de

    interesse em uma sociedade dividida em classes, cujos objetivos so necessariamente

    conflitantes. (PAULINO, p.273, 2006)

  • 25

    Mesmo sendo significativa a poltica intervencionista, poder ser notado a falta de

    gesto desses mesmo financiamentos, onde ora funciona como agente facilitados e ora como

    agente excludente. Como mostra o autor:

    Na rea rural, o principal questionamento surgiu da incapacidade de o

    sistema bancrio convencional chegar ao pequeno agricultor, problema no

    resolvido pelos bancos pblicos (que no rompem com as prticas

    financeiras convencionais), que so questionados pela dependncia crescente

    de recursos oramentrios (o que acarreta baixo incentivo disciplina nas

    atividades de emprstimo emprstimos vistos como doao e elevados

    custos operacionais), bem como por possurem um baixo alcance em razo

    da forte centralizao das decises (o que gera incertezas quanto ao impacto

    das grandes quantidades de crdito direcionadas para a agricultura e ao

    desvio dos recursos do pblico-alvo em virtude dos generosos subsdios que

    estimulavam a atividade de rent-seeking dos menos necessitados quanto

    maior a capacidade financeira do agente maior a sua possibilidade de correr

    atrs dos subsdios). (GRENAUD, TONETO JR, p. 17, 2002).

    A sistemtica engendrada no procurou facilitar a reproduo dos pequenos

    produtores. Na busca pelo aumento da produtividade, o uso de tecnologia moderna tornava-se

    condio fundamental. O emprego de tcnicas modernas na produo estaria atrelado

    disponibilidade de capital, o qual no se encontrava acessvel aos pequenos produtores, pois a

    grande maioria permanecia em um crculo de reproduo estruturado na lgica

    colheita/sobrevivncia, no possuindo economias prprias para investir na melhoria da

    produo. O governo no se preocupou com a implementao de polticas agrcolas

    direcionadas a esses produtores, pela relevncia dada aos produtos destinados, principalmente,

    ao mercado externo, os quais contavam com crdito fcil, garantia de preos mnimos,

    assistncia tcnica, comercializao organizada etc., enquanto as culturas destinadas ao

    mercado interno foram, em grande parte, abandonadas ao crdito fornecido por agiotas, s

    tremendas oscilaes de preo entre safra e a entressafra e ganncia dos intermedirios.

    Em outro vis, o Estado, atuando neste papel, financiou a modernizao do campo,

    perante a todos subsdios prestados, o grande latifndio obtm uma grande gama de opes

    tecnolgicas. Essa modernizao no se refere somente a implementos e insumos, mas

    tambm a revoluo de conceitos metodolgicos/pedaggicos do campo, revoluo esta que

    reflete as grandes produes e safras classificadas de alta qualidade. O grande problema

    gerado, mostra-se na ala camponesa do pas, onde, a poltica de crdito direcionada para essa

    publico, acaba caindo por terra, no por fracasso, mas por inacessibilidade do setor,

    configurando e fortificando um novo problema agrrio: desenvolvimento e tecnologia para o

    grande e mdio produtor e despropsito para o campons. Esse problema mostra a face

  • 26

    altamente seletiva do poder maior, que deixa muito bvio o objetivo de grande produo de

    receita, e no de um pais progressista.

    Essa poltica de crdito, segundo Guedes Pinto (1978), como ao estatal

    altamente interventora, desencadeou vrias contradies: elevada concentrao de renda e de

    terras, favorecendo os grandes agricultores; aumento da inflao de custos, que estimulou a

    demanda de fatores escassos; elevao do preo de terras; inadequao tecnolgica, em

    funo do mau uso de insumos e equipamentos; surgimento de inadequaes na relao

    capital-trabalho em funo das disponibilidades de mo-de-obra; propiciou o vazamento de

    recursos subsidiados, atravs do uso de adubo-papel, de calcrio-papel; favoreceu o desvio de

    recursos para outras atividades, atravs de especulao no mercado financeiro, compra de

    imveis nos centros urbanos; o endividamento crescente do setor rural, em funo de que, o

    crdito chegou a representar praticamente 100% do valor da produo, uma total dependncia

    do setor.

    Seguindo a linha de raciocnio de Borges (2008, p. 14) Na tentativa de recuperao

    do Sistema de Crdito Brasileiro e incluso do campons no sistema, sistema essa que teve

    como premissa o campons, foi criado em meados da dcada de 1990 o primeiro programa de

    crdito especfico a Agricultura Familiar (Pronaf), no qual o alcance era especfico e limitado,

    em funo de atender somente os beneficirios do Programa de Reforma Agrria, segundo as

    normas do Ministrio da Agricultura os pequenos agricultores eram enquadrados como mini-

    produtores, o que os colocava em situao de desvantagem, visto que, tinham que disputar

    recursos com os grandes proprietrios, que historicamente foram os principais tomadores de

    crdito agrcola.

    2.1 Caracterizao da Agricultura Familiar e programas de incentivo a agricultura

    familiar

    Para um olhar analtico e inequvoco, ser de suma importncia a distino de duas

    categorias de agricultura existentes: a agricultura Patronal e agricultura Familiar, cujas

    categorias bsicas so apresentadas no quadro a seguir:

  • 27

    Modelo Patronal Modelo Familiar

    Completa separao entre gesto e

    trabalho

    Trabalho e gesto intimamente relacionados

    Organizao centralizada Direo do processo produtivo assegurada

    diretamente pelos proprietrios

    nfase na especializao nfase na diversificao

    nfase nas prticas agrcolas

    padronizveis

    nfase na durabilidade de recursos e na

    qualidade de vida

    Trabalho assalariado predominante Trabalho assalariado complementar

    Tecnologias dirigidas, eliminao de

    decises de terreno e de momento

    Decises imediatas, adequadas ao alto grau de

    imprevisibilidade do processo produtivo

    Fonte: FAO/INCRA, 1994, p. 2.

    A imagem da agricultura familiar vem estereotipada como setor atrasado do ponto

    de vista econmico, social e tecnolgico voltado fundamentalmente para a produo de

    produtos alimentares bsicos e com uma lgica de produo de subsistncia, est longe de

    responder realidade. (BUAINAIN et al., 2002, p. 49)

    Ainda, no que tange o recorte temporal e no muito obstante, foi criado o

    Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foi lanado em

    1995, atendendo reivindicaes da Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

    (CONTAG). Em 1996, passou a integrar o Oramento Geral da Unio, atingindo status de

    programa governamental, sendo vinculado ao Ministrio da Agricultura e do Abastecimento.

    Desde sua criao, o programa passou por vrias modificaes, visando atender s

    reivindicaes de seu pblico-alvo. O Programa tem como objetivo geral, do ponto de vista

    econmico, o aumento da produo agrcola e do nmero de empregos. Pelo lado social,

    visam a melhor distribuio de renda no campo, a garantia de sustentabilidade da agricultura

    familiar, e a reduo do xodo rural. Possui trs linhas de ao: Crdito, Infra-Estrutura, e

    Capacitao.

    So ainda objetivos do PRONAF segundo Silva (1999) e Buainain (1997):

    Ajustar polticas pblicas realidade da agricultura familiar;

    Melhorar o desempenho produtivo e a qualidade de vida da populao rural,

    viabilizando a infra-estrutura necessria;

    Fortalecer os servios de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar;

  • 28

    Elevar o nvel de profissionalizao de agricultores familiares, e assim lhes

    proporcionar novos padres tecnolgicos e de gesto;

    Favorecer o acesso dos agricultores familiares e suas organizaes aos mercados de

    produtos e insumos.

    A cartilha de acesso ao PRONAF (2010/2011, p.12) referencia e considera que

    uma atividade agricultura familiar, se o produtor rural preencher todos os seguintes

    requisitos:

    explorar parcela de terra na condio de proprietrio, posseiro, arrendatrio, parceiro

    ou concessionrio (assentado) do Programa Nacional de Reforma Agrria (PNRA);

    residir na propriedade rural ou em local prximo;

    dirigir e trabalhar em seu estabelecimento ou empreendimento, com sua famlia;

    no dispor, a qualquer ttulo, de rea superior a quatro mdulos fiscais.

    renda bruta anual do grupo familiar entre R$ 6 mil e R$ 110 mil com pelo menos 70%

    provenientes da explorao agropecuria e no agropecuria do estabelecimento, ou abaixo de

    R$ 6 mil com pelo menos 30% provenientes da explorao agropecuria e no agropecuria

    do estabelecimento;

    Atividades no agropecurias so os servios relacionados com turismo rural,

    produo artesanal, agronegcio familiar e outros servios no meio rural que sejam

    compatveis com a natureza da explorao rural e com o melhor emprego da mo de

    obra familiar;

    a famlia, realmente, trabalha na explorao da propriedade rural. S podem ser

    mantidos at dois empregados; eventualmente, em pocas de plantio e colheita, pode

    ter mo de obra temporria, devendo essa mo de obra ser predominantemente

    familiar.

    Os beneficirios do PRONAF tevem ter renda bruta anual familiar de at R$

    110.000,00. (Cartilha de acesso ao PRONAF, p. 9, 2010/2011)

    A criao do referido programa atendeu, de certa forma, uma antiga reivindicao

    das organizaes dos trabalhadores rurais, que demandavam a formulao e a implantao de

    polticas de desenvolvimento rural especficas para o maior segmento da agricultura

    brasileira, porm o mais fragilizado em termos de capacidade tcnica e de insero nos

    mercados agropecurios. Deve-se ressaltar que neste processo os atores sociais rurais, atravs

    de suas organizaes e de suas lutas, desempenharam um papel decisivo na implantao do

    programa, considerado uma bandeira histrica dos trabalhadores rurais, pois permitiria aos

  • 29

    mesmos o acesso a diversos servios oferecidos pelo sistema financeiro nacional, os quais at

    ento eram negligenciados aos agricultores familiares.

    Ao mesmo tempo, a criao do PRONAF tambm representa a legitimao, por

    parte do Estado, de uma nova categoria social os agricultores familiares que at ento era

    praticamente marginalizada em termos de acesso aos benefcios da poltica agrcola, bem

    como designada por termos como pequenos produtores, produtores familiares, produtores de

    baixa renda ou agricultores de subsistncia.

    Assim o referido programa passou a ser a principal poltica pblica do

    governo federal de apoio ao desenvolvimento rural, por meio do

    fortalecimento da agricultura familiar, em funo de sua importncia para a

    produo de alimentos para o mercado interno, para as agroindstrias e para

    as exportaes brasileiras e, principalmente como geradora de postos de

    trabalho e renda. Segundo orientaes institucionais, o PRONAF busca

    construir um padro de desenvolvimento sustentvel para os agricultores

    familiares e suas famlias, atravs do incremento e da diversificao da

    capacidade produtiva, com o conseqente crescimento dos nveis de

    emprego e renda, proporcionando bem-estar social e qualidade de vida.

    Alm do que, tem como ponto forte o gerenciamento das aes atravs da

    gesto social, cujo objetivo a promoo de uma melhor gesto do

    oramento pblico, da democratizao do crdito, dos servios de apoio e da

    infra-estrutura necessria consolidao e estabilizao socioeconmica

    dos agricultores familiares. (BORGES, p. 19, 2008).

    Outro meio financeiro de custeio, que muito tem contribudo ao acesso do pequeno

    produtor ao credito, o FCO rural, que te o objetivo de Contribuir para o desenvolvimento

    econmico e social da Regio Centro-Oeste, mediante a execuo de programas de

    financiamento aos setores agropecurio e agroindustrial, de forma a possibilitar o

    fortalecimento da agroindstria, com a utilizao de matria-prima regional, e a

    intensificao, diversificao e modernizao da agropecuria, mediante a elevao do padro

    de qualidade dos animais e o incremento da produo e da produtividade do setor rural.

    Os beneficirios podem/devem ser;

    Produtores rurais, pessoas fsicas ou jurdicas, que desenvolvam as suas

    atividades agropecurias isoladamente, ou ligados a associaes e

    cooperativas de produo, ou em sistema de produo familiar, ou em

    sistema de integrao a unidades de processamento ou comercializao, ou

    em sistemas de produo em assentamento oficializados pelo INCRA, alm

    de associaes e cooperativas de produo.

    Regras para classificao quanto ao porte dos produtores rurais:

  • 30

    Produtores Rurais e Extrativistas

    Porte Renda Bruta Agropecuria

    Anual

    Mini produtor At R$ 80 mil

    Pequeno produtor Acima de R$ 80 mil e at R$

    160 mil

    Mdio produtor Acima de R$ 160 mil e at R$ 1

    milho

    Grande produtor Acima de R$ 1 milho

    Associaes e Cooperativas - Classificao

    Mini produtores Rurais - pelo menos 70% do quadro constitudo de mini produtores. No caso

    de associaes, os 30% restantes devem ser compostos exclusivamente por pequenos

    produtores.

    Pequenos Produtores Rurais - pelo menos 70% do quadro constitudo de mini e pequeno

    produtores. No caso de associaes, os 30% restantes devem ser compostos exclusivamente

    por mdios produtores.

    Mdios Produtores Rurais pelo menos 70% do quadro constitudo de mini, pequenos e

    mdios produtores. No caso de associaes, vedada a concesso de crdito entidade de

    cujo quadro social participe associado classificado como grande produtor.

    Fonte: www.bancodobrasil.com.br/financiamentos/fcorural

    2.2 Caracterizao do latifundirio e programas de incentivo a grande produo

    Antes de qualquer julgamento a referida classe, necessrio fazermos um breve

    esclarecimento sobre o agronegcio:

    A palavra agronegcio tem um sentido genrico, referindo-se a todas as

    atividades de comrcio com produtos agrcolas. Ento, um pequeno

    agricultor quando vende um produto na feira est praticando um

    agronegcio. Um feirante quando vende frutas e verduras est praticando

    agronegcio. Esse o sentido da palavra. No entanto, aqui no Brasil, a

    expresso foi utilizada pelos fazendeiros, por intelectuais das universidades

    e, sobretudo, pela imprensa para designar uma caracterstica da produo no

    meio rural. Eles denominaram de agronegcio aquelas fazendas modernas,

    que utilizam grandes extenses de terra, que se dedicam monocultura, ou

    seja, que se especializam num s produto, utilizam alta tecnologia,

    mecanizao, s vezes irrigao, pouca mo-de-obra, e por isso falam com

    orgulho que conseguem alta produtividade do trabalho, com baixos salrios,

    com uso intensivo de agrotxicos, com uso de sementes transgnicas e, na

    maior parte dos casos, produzem para a exportao, em especial, cana de

    acar, caf, algodo, soja, laranja, cacau, e fazem pecuria intensiva. Esse

    tipo de fazenda chamado de agronegcio. (Via campesina Brasil, p. 25.

    2005)

    Perante tal conceito pode-se admitir que o latifundirio aqui recebeu uma

    roupagem diferenciada, ou seja, aquele latifndio de modelo concentrador de terras, sofreu

  • 31

    uma mudana de nomenclatura, e com advindo da tecnologia passa a se chamar agronegcio.

    O que h de novo? Pouqussimas caractersticas. Com um olhar analtico observa-se que esse

    tipo de produo foi inaugurado no perodo Colnia do pas. Onde a grande mudana esta no

    fato de no usar mo se obra escrava e sim assalariada. Outra grande caracterstica das duas

    categorias a excluso, ambas tm o poder de marginalizao do campons, promotoras de

    violncias, mazelas e barbries no campo. Esse poder de excluso ocorre no latifndio pela

    baixa produtividade e j na fase de agronegcio, pela grande produo e tecnologia

    empregada no sistema.

    Moreira (1988), reportando-se ao caso russo, tratado por Lnin, aponta dois

    caminhos para o desenvolvimento das relaes capitalistas no campo: o

    campons-burgus e latifundirio-burgus. Neste processo, sero limpadas

    as estruturas econmicas para o florescimento de um mercado capitalista em

    que grandes propriedades rurais atrasadas se transformam em modernas

    empresas capitalistas, semelhante ao agronegcio dos dias atuais. Assim, o

    latifndio tende a ser eliminado com a expanso das relaes puramente

    capitalistas. (FABRINI, P.10, 2008)

    E como o latifndio chegou a esse patamar? Para responder este questionamento,

    necessrio conhecer e entender os processos envolvidos no meio, processos esses que nascem

    na poltica de crdito e no desenvolvimento das tecnologias agrcolas.

    A primeira caracterstica a ser lembrada a apropriao privada e concentrada da

    terra como uma das formas concretas de acumulao patrimonial da riqueza capitalista. Uma

    segunda caracterstica marcante est presente nas relaes patrimonialistas entre as

    oligarquias regionais e o poder central na distribuio e apropriao dos fundos pblicos. A

    terceira caracterstica estrutural est presente nas relaes de dominao e cumplicidade entre

    os agentes do dinheiro mundial e as burocracias do dinheiro nacional que, dialeticamente,

    alimenta os conflitos do governo central com as elites regionais pelos escassos fundos

    pblicos.

    E, por serem estruturais, tais caractersticas ajudaram a sedimentar e agravar, ao

    longo das dcadas, a excluso social e econmica no pas sem rupturas no pacto de

    dominao interna. O avano do agronegcio sobre antigas reas gerenciadas pela tica

    patriarcal-patrimonialista foi e ambgua, pois atendidos os interesses desse capital

    moderno, o possvel antagonismo entre o antigo e este contido, e, assim, surgindo novo

    campo conciliatrio entre eles (CANO, 2010, pg. 11). O que por sua vez seculariza e

    ratifica a terra muito mais que um fator de produo e sua posse um signo de poder extra-

    econmico que sobrevive, amide, a ciclos de crise e expanso econmica.

  • 32

    Outra caracterstica de suma importncia para essa transio de latifndio para

    agronegcio a mecanizao/modernizao do campo brasileiro, que tem gnese na dcada

    de 1950 e concretizao na dcada de 1960, onde ocorre uma implantao de um setor

    agroindustrial de implementos e equipamentos agrcolas. No baseando-se somente na

    produo destes itens, a agricultura brasileira evolui com a tecnologia implantada de modos

    de produo e fertilizaes qumicas. No entanto o referido processo caminha somente com o

    auxilio de meios financeiros externos.

    O quadro que se forma no campo brasileiro de uma estrutura fundiria

    altamente pautada na concentrao de terras nas mos de uma minoria, com

    uma produo voltada para exportao e para servir como matria-prima

    para as indstrias, com crescente diminuio na produo de alimentos para

    o mercado interno e marginalizao dos pequenos produtores rurais.

    (TEIXEIRA, P.8, 2005)

    2.3 Complexo Agroindustrial do Brasil (CAI)

    A relao entre a agricultura e a indstria se intensificou, principalmente a partir

    da dcada de 1970, sendo que um setor passou a depender cada vez mais do outro. As

    agroindstrias cresceram como processadoras de produtos provenientes da agropecuria e se

    modernizaram, tornando-se mais exigentes. A formao do Complexo Agroindustrial se d a

    partir dessa maior relao entre a indstria e a agricultura no pas.

    Segundo Mller (1989, p.45):

    O complexo agroindustrial, CAI, pode ser definido, em termos formais,

    como um conjunto formado pela sucesso de atividades vinculadas

    produo e transformao de produtos agropecurios e florestais. Atividades

    tais como: a gerao destes produtos, seu beneficiamento/transformao e a

    produo de bens de capital e de insumos industriais para as atividades

    agrcolas; ainda: a coleta, a armazenagem, o transporte, a distribuio dos

    produtos industriais e agrcolas; e ainda mais: o financiamento, a pesquisa e

    a tecnologia e a assistncia tcnica. O avano da tecnologia permite uma

    reestruturao do sistema produtivo, tanto de um lado, como do outro. As

    formas dinmicas e modernas de produzir se tornaram dominantes.

    (TEIXEIRA, P. 12, 2005)

    Mas a simples existncia de agroindstria no configura haver um complexo

    agroindustrial. necessrio considerar alguns condicionantes econmicos que tambm so

    estruturais e temporais, ou seja, um nvel elevado de relaes entre diversos setores e

    atividades econmicas. Graziano da Silva (1996, p.64-65) ressalta que a noo original de

    Agribus iness nada tem que ver com quaisquer teorias de desenvolvimento ou idia de

  • 33

    dinmica de crescimento, mas tem uma origem estrutural. (caminhos da geografia Uberlndia

    p. 32).

    No que cerne a modernizao do CAI, foi somente uma conseqncia da

    modernizao agropecuria que subsidio suporte para isso, e surgindo uma relao simbitica,

    onde o setor agropecurio adquiria insumos industriais para a produo de matria prima para

    o setor industrial incorporando o modo industrial de produzir.

    Vale lembrar que os conceitos de CAI, no sentido mais amplo observa Mller

    (1981, p.36):

    Esse amplo espectro das relaes setoriais que, num elevado nvel de

    abstrao, pode ser entendido como uma forma particular de unificao das

    conexes entre os grandes departamentos econmicos com os ciclos

    econmicos, e que obrigatoriamente levam em considerao as atividades

    agrrias. Isso quer dizer que a agricultura e todas as atividades ligadas a ela,

    so inseridas numa nova realidade econmica, num conjunto de segmentos e

    cadeias vinculadas.

    No sentido especfico, ressalta Leite (1990, p.23):

    No intento de operacionalizar o conceito, os autores distinguem os diversos

    complexos, na medida em que o conjunto de indstrias de transformao no

    homogneo. Assim, um conjunto de indstrias que mantenham relaes

    mercantis entre si e poucas transaes com o restante da economia, pode

    delimitar um complexo. Ainda no que tange aos limites, a interrupo do

    complexo dada no momento em que aquele conjunto de indstrias atingem

    outras firmas de produo de um bem de uso difundido.

    O grfico esquema abaixo representa essa cadeia:

    Figura 1: Esquema do Complexo Agro-industrial

    Fonte: SZMRECSNYI, 1983

    Produo

    Agropecuria

    Instituies

    Indstrias de

    insumos

    Comercializao

    Indstrias de

    processamento

    C

    o

    n

    s

    u

    m

    i

    d

    o

    r

  • 34

    Szmrecsnyi (1983) sugere um esquema de anlise do setor agropecurio que

    permite melhor captar suas transformaes estruturais e qualitativas. Nas palavras desse autor,

    o setor deixa de constituir um compartimento semi autnomo e fechado, para tornar-se um

    sistema aberto e integrado aos setores que lhes so complementares no contexto da economia

    como um todo.

    Desse modo, o complexo agro-industrial formado pelos seguintes setores (figura

    1):

    produo agropecuria: engloba os vrios tipos de cultivo e criaes.

    instituies: envolve os vrios servios prestados ao setor agropecurio

    (crdito, assistncia tcnica, extenso, pesquisa, etc.).

    indstria de insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se

    orientam para o atendimento das necessidades produtivas agropecurias

    (corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos, etc.).

    comercializao: diz respeito aos servios de estocagem e comercializao

    dos produtos agropecurios (cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de

    comercializao, etc.).

    indstria de processamento: inclui os ramos industriais com produo

    predominantemente baseada em matrias-primas de origem agropecuria.

    A necessidade de equilbrio da economia caracterizada pelo processo produtivo

    que pauta na regularidade e qualidade mas no qualifica condies para a modernizao. Mas

    por outro lado, o tamanho do setor-agroindustrial de valia para o desenvolvimento moderno

    e isso implica aumento da produtividade que levaria a custos baixos. Outro fator importante a

    ser mencionado, o baixo risco de incerteza do agricultor, pois, onde haver desenvolvimento

    tecnolgico, tem-se maior controle sob o processo produtivo.

  • 35

    3. O EMBATE ENTRE AGRONEGCIO E AGRICULTURA CAMPONESA

    FAMILIAR.

    Os elementos que compem ou expressam a questo agrria brasileira ao longo da

    dcada de 2000, evidenciam o embate existente entre dois modelos de desenvolvimento que

    se reproduzem no campo brasileiro: a agricultura camponesa ou familiar e o agronegcio.

    Nesse contexto Ribeiro et al, destaca que a agricultura camponesa e os

    trabalhadores rurais sentem os efeitos sociais da expanso do agronegcio. As populaes

    rurais (pequenos posseiros, populaes tradicionais, camponeses, trabalhadores rurais) so

    ameaadas de vrias maneiras em seu modo de vida e de reproduo social, mediante a

    explorao intensiva da mo-de-obra assalariada no campo, o controle/domnio do acesso s

    terras ou outros recursos naturais (guas, florestas); e atravs de aes de expulso e despejo

    de pequenos posseiros e de ocupantes de terras.

    O autor ainda ressalta sobre as grandes lutas pela a terra, apontando atores sociais

    que interferem, uns em maior proporo, outros em memores, e dentre tais atores destacam-

    se: Comisso Pastoral da Terra (CPT), a Associao Brasileira de Reforma Agrria (ABRA),

    a Ong Greenpeace e os movimentos de luta pela terra, como o MST e a Via Campesina. Essas

    organizaes, dentre outras que se dedicam ao tema, so responsveis por vrios documentos,

    estudos, relatrios, campanhas e mobilizaes; propiciando o debate e a realizao de

    experincias concretas (aes, projetos, programas, etc), em direo construo de um

    modelo de desenvolvimento do campo brasileiro, assentado pelas bases sociais, polticas e

    econmicas da agricultura camponesa/ familiar.

    Apontando a outra face da moeda, alguns agentes sociais lutam a favor do

    agronegcio, como: Confederao Nacional da Agricultura (CNA), a Sociedade Nacional da

    Agricultura (SNA), a Frente Parlamentar de Apoio a Agropecuria (FPAA), e as

    representaes estaduais e municipais dos grandes produtores agrcolas (sindicatos patronais),

  • 36

    que atuam e intervm no conjunto da sociedade, seja na esfera civil ou governamental, no

    intuito de garantir a sustentao e o avano do agronegcio.

    Nesse contexto, a agricultura camponesa e os trabalhadores rurais sentem os

    efeitos sociais da expanso do agronegcio. As populaes rurais (pequenos

    posseiros, populaes tradicionais, camponeses, trabalhadores rurais) so

    ameaadas de vrias maneiras em seu modo de vida e de reproduo social,

    mediante a explorao intensiva da mo-de-obra assalariada no campo, o

    controle/domnio do acesso s terras ou outros recursos naturais (guas,

    florestas); e atravs de aes de expulso e despejo de pequenos posseiros e

    de ocupantes de terras. (RIBEIRO, P.6, 2008)

    Em relao ao agronegcio Fernandes (2005) defende:

    A apologia ao agronegcio, realizada pela mdia, pelas empresas e pelo

    Estado, uma forma de criar uma espcie de blindagem desse modelo,

    procurando invisibilizar sua conflitualidade. O agronegcio procura

    representar a imagem da produtividade, da gerao de riquezas para o pas.

    Desse modo, aparece como espao produtivo por excelncia, cuja

    supremacia no pode ser ameaada pela ocupao da terra.

    Em contrapartida, diversos movimentos de luta pela terra, entidades, sindicatos de

    trabalhadores rurais e demais atores sociais que apiam a reforma agrria e a agricultura

    camponesa/familiar, tem se manifestado contra o avano do modelo do agronegcio,

    sobretudo nesta dcada.

    A resistncia contra a expanso do agronegcio ganhou centralidade nos ltimos

    anos, notadamente nos espaos de mobilizao poltica, nas pautas de luta e nas diversas

    aes realizadas pelos movimentos de luta pela terra e de reforma agrria, associaes,

    sindicatos e confederaes de agricultores familiares e trabalhadores rurais, em nvel local,

    regional e nacional. Uma das diretoras nacionais do MST, Marina dos Santos, destaca alguns

    elementos da ofensiva do modelo do agronegcio sobre o campo brasileiro, em sua fala

    durante as comemoraes do Dia Internacional da Luta Camponesa no ano de 2008, na cidade

    de Braslia.

    De forma breve, a dirigente do MST expe aspectos relevantes da questo agrria

    recente, acerca da conjuntura nacional e internacional que concorre ao desenvolvimento e

    avano do agronegcio no Brasil e noutros pases. Aponta a questo dos incentivos

    concedidos pelo Governo Federal aos setores do agronegcio, assim como a ofensiva mundial

    empreendida por empresas transnacionais, (e por organismos financeiros internacionais, como

    FMI, Banco Mundial), com vistas apropriao e o controle de uso e acesso aos recursos

    naturais em vrios pases.

  • 37

    A crtica ao agronegcio tambm est centrada no apoio e incentivos dados por

    sucessivos governos da esfera federal, estadual e municipal, assim como pelos parlamentares

    que atuam no poder legislativo - cmaras municipais, assemblias legislativas e no Congresso

    Nacional, em favor dos interesses e do fortalecimento da poltica agrcola desse setor. Esse

    quadro se concretiza atravs de medidas polticas encaminhadas tanto pelo poder executivo,

    por meio da publicao de Decretos, Portarias, Instrues Normativas, Medidas Provisrias,

    como no mbito do poder legislativo, atravs da aprovao de projetos de lei, em favor das

    demandas do setor do agronegcio.

    3.1 O Discurso do Agronegcio

    O campo brasileiro est em constante transformao e conseqentemente, a cada

    momento, so acrescentados novos contedos que pedem cincia, interpretao. No

    somente os cientistas que esto desafiados a interpretar a complexidade do real, neste caso, o

    campo, mas tambm os movimentos sociais, instituies e entidades, que a fazem, a partir de

    diferentes paradigmas e referenciais tericos.

    O horizonte terico daquele que pensa a realidade agrria permite a

    visualizao do agronegcio (ou latifndio) a partir de diferentes

    perspectivas. Alguns estudiosos entendem, por exemplo, que as grandes

    propriedades rurais latifundirias, antes responsveis pela misria e pobreza

    porque no produziam, se transformaram em verdadeiras empresas rurais, ou

    seja, imveis altamente produtivos, explorados racionalmente e responsveis

    por vrios benefcios econmicos e sociais. (FABRINI, P. 3, 2008)

    Para vrios segmentos do meio, o agronegcio significa desenvolvimento para o

    Brasil, e tais segmentos tambm defendem a tese que no Brasil no existe problema agrrio,

    mas que necessita somente de uma reestruturao no modelo de desenvolvimento.

    Reestruturao essa, que, diga-se de passagem, nada mais que a agroindustrializao do

    pas.

    Segundo Oliveira (2005), o agronegcio gere as seguintes evolues na economia;

    Responsvel pelo crescimento econmico do PIB;

    Responsvel pelo sucesso na indstria;

    O agronegcio tomou conta da agricultura brasileira;

    O agronegcio a atividade que gera emprego no campo;

    O desenvolvimento nos modos de produo.

  • 38

    Continuando na vertente do autor, os itens mencionados acima, a propaganda

    que o agronegcio faz de sim mesmo, mas que na realidade essa propaganda s faz parte de

    uma tentativa de disputa de modelo econmico, e de modelo econmico agrcola, sendo

    apenas uma disputa e questo ideolgica.

    O que aparentemente o agronegcio repassa pelo meios de comunicao, o um

    desenvolvimento emergente, que analisado a fundo pode-se descobrir as reais conseqncias

    deste processo. Mas, o que mais preocupante, o fato desta propaganda ostensiva estar

    influenciando intelectuais e jornalistas, que reproduzem a luta ideolgica nos meios

    universitrios e jornalsticos. Por isso que esse discurso dente cada vez mais a bitolar a

    massa, e produzir mentes capazes de defender que esse modo de produo agrcola a melhor

    opo econmica para o Brasil.

    Para Fabrini (2008), o agronegcio enche o pas de orgulho com seus nmeros nas

    safras anuais, superando-se a cada ano, superando paises guarnecidos de grandes tecnologias

    e subsdios. O agronegcio reclama tambm investimento na educao rural (diferente de

    educao do campo defendida pelos movimentos sociais e entidades) para formar

    profissionais (operrios, tcnicos, etc.) que desempenhem com maior competncia as tarefas,

    inclusive as atividades no-agrcolas que a agricultura moderna e produtiva do agronegcio

    exige. A capacitao de um corpo tcnicocientfico capaz de elaborar balanos energticos

    dos ciclos de vida das cadeias produtivas, avaliao do potencial de diferentes produtos

    alternativos, zoneamento agrcola de espcies vegetais que possibilitem maiores rendas,

    desenvolvimento de tecnologias que permita aproveitar resduos e subprodutos de cadeias

    agroindustriais, dentre outras atividades, so necessidades do agronegcio brasileiro.

    Ainda para o autor:

    Dentre as medidas polticas defendidas pelo agronegcio a serem tomadas

    pelo Estado est o veemente combate ao dos movimentos sociais no

    campo, s ocupaes de terra e acampamentos realizados em todo o Brasil.

    Em passado recente, em favor do agronegcio, algumas medidas foram

    tomadas na esfera de ao do MDA (ministrio do desenvolvimento agrrio)

    para conter as ocupaes de terra. Este foi o caso da portaria 62/2001,

    fundamentadas na Medida Provisria 2109-49 de 2000, do Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio, no governo de FHC, que determinou no seu

    artigo 1 a proibio de vistoria e avaliao de imveis ocupados pelo prazo

    de dois anos para fins de reforma agrria. Em resposta, para pressionar as

    desapropriaes, os sem-terra passaram a ocupar as margens de rodovias e

    propriedade no passveis de desapropriao (propriedades produtivas).

    (FABRINI, P. 9, 2008)

    No que cerne a polticas defendidas pelo agronegcio, Oliveira (2005), mostra que

    representantes da categoria no aceitam a reforma agrria, por duas razes: primeiro, sabem

  • 39

    que a reforma agrria fortalece o modelo contrario seguido por eles, enfraquecendo assim o

    agronegcio. Segundo, o latifndio improdutivo a fonte de terras, pois a aglutinao de

    propriedades significa maior rentabilidade.

    Assim o agronegcio prospera, com todas as caractersticas apontadas neste

    texto, mesmo sendo um modelo de produo agrcola emergente aparentemente est se

    fixando na economia brasileira. Nessa disputa de modelo dual de economia a tendncia

    somente uma: a marginalizao do campons.

    3.2 A Agricultura Familiar e a sua persistncia.

    O setor da agricultura familiar sempre lembrado por sua importncia na absoro

    de emprego e na produo de alimentos, especialmente voltada para o auto-consumo, ou seja,

    focaliza-se mais as funes de carter social do que as econmicas, tendo em vista sua menor

    produtividade e incorporao tecnolgica. Entretanto, necessrio destacar que a produo

    familiar, alm de fator redutor do xodo rural e fonte de recursos para as famlias com menor

    renda, tambm contribui expressivamente para a gerao de riqueza, considerando a economia

    no s do setor agropecurio, mas do prprio pas.

    Para Soares (2001), a produo familiar est intrinsecamente ligada aos seguintes

    aspectos:

    contribuio segurana alimentar; A importncia da agricultura familiar para a

    segurana alimentar vai alm da produo primria. Sua caracterstica de distribuio de

    renda e gerao de empregos possibilita que milhes de pessoas tenham condies de acessar

    os alimentos.

    funo ambiental; a agricultura uma das atividades com maior impacto sobre o

    meio ambiente. Os sistemas agrrios ocupam cerca de 45% da superfcie total dos

    ecossistemas brasileiros. H inmeros exemplos de impactos negativos da agricultura,

    especialmente do modelo de agricultura da chamada revoluo verde: substituio das

    florestas por monocultivos, eroso de solos (e assoreamento de rios e lagos), contaminao de

    guas e alimentos com agroqumicos, desequilbrios na populao de insetos e plantas

    silvestres, etc. Contudo, a agricultura pode prover um conjunto de servios ambientais como a

    conservao de solos e guas, manejo sustentvel da biodiversidade, produo de biomassa,

    etc., cujo valor para as geraes presentes e futuras incalculvel. Mais uma vez, as polticas

    pblicas tm profundo efeito sobre qual o modelo de agricultura que se adota. (SOARES,

    2001)

  • 40

    funo Econmica; Agricultura continua sendo fundamental para o crescimento

    da economia mesmo em pases majoritariamente urbanizados, como o Brasil. A agricultura

    familiar responde por uma parte importante desta contribuio. Como j dissemos, apesar de

    ocupar somente 30,5% da rea e receber somente 25,3% do financiamento da produo, a

    agricultura familiar responsvel por 37,9% do Valor Bruto da Produo Agropecuria

    Nacional, isto corresponde a R$ 18,1 bilhes. Nas regies Norte e Sul mais de 50% do VPB

    produzido em estabelecimentos familiares.

    funo Social; na rea social, a agricultura familiar desempenha o papel de

    promotora movimentos sociais, evidenciando o posicionamento do governo. Outro aspecto

    importante, o fato de re-inserir o campons no campo, devolvendo o titulo de produtor e

    desempenhando a funo social da terra.

    Em relao ao peso da contribuio a segurana alimentar fica explicito:

    No processo de elaborao do documento brasileiro para a Cpula Mundial

    da Alimentao, representantes do governo e da sociedade civil chegaram

    seguinte definio: segurana alimentar e nutricional significa garantir a

    todos o acesso a alimentos bsicos de qualidade, em quantidade suficiente,

    de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades

    essenciais, com base em prticas alimentares saudveis. Contribuindo,

    assim, para uma existncia digna, em um contexto de desenvolvimento

    integral da pessoa humana. (SOARES, P.4, 2001)

    Aprofundando nesta citao, fica explicito o reconhecimento dos governantes

    perante a agricultura familiar, sendo a provedora de alimentos para a sociedade. Dentro desta

    questo surgem vrios questionamentos, questionamentos estes que ainda procuram respostas,

    como, por exemplo: Se o poder maior considera a agricultura familiar essencial, por que

    polticas pblicas do setor so voltadas para o grande produtor de monoculturas?

    Subjetivamente a idia de desenvolvimento est sendo incutida nas mentes da massa,

    desenvolvimento este que se d as custas das grandes produes, mas isso ser mesmo um

    desenvolvimento? E o mercado interno? Se Desenvolve? Respostas aparecem, e se avaliadas

    analiticamente o que descobrir so somente jogos de interesse.

    Essa inverso de prioridades ocorre porque a produo agrcola para o capitalismo

    e, conseqentemente, para o agronegcio no passa de mais uma mercadoria, onde o alimento

    tambm se torna mercadoria, cuja produo depende do retorno financeiro que esse negcio

    dar. Porm, a alimentao a primeira necessidade humana, e, logo, a primeira funo do

    trabalho na transformao da natureza, por isso deve ser a prioridade a ser produzida

    independente do retorno financeiro. Portanto, a agricultura camponesa que deve ser a

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    prioridade das polticas pblicas e no o agronegcio. Corroborando com nossa anlise,

    Stedile afirma: o alimento um direito de todos os seres humanos e no mera mercadoria da

    qual busca extrair lucros [...]. Logo, a produo agrcola camponesa baseada na policultura,

    essencial para manter a soberania alimentar. (2007, p. 42)

    Segundo Buainain et al (2003), Os agricultores familiares representam 85,2% do

    total de estabelecimentos, ocupam 30,5% da rea total e so responsveis por 37,9% do valor

    bruto da produo agropecuria nacional. Quando considerado o valor da renda total

    agropecuria (RT) de todo o Brasil, os estabelecimentos familiares respondem por 50,9% do

    total de R$ 22 bilhes. A participao dos familiares na renda total agropecuria (RT) maior

    do que no VBP (valor bruto da produo), o que pode ser explicado pelo fato de este ltimo

    desprezar os gastos de produo incorridos pelos agricultores. Esse conjunto de informaes

    revela que os agricultores familiares utilizam os recursos produtivos de forma mais eficiente

    que os patronais, pois, mesmo detendo menor proporo da terra e do financiamento

    disponvel, produzem e empregam mais do que os patronais.

    Como j foi mencionado, a agricultura familiar foi subjetivamente transmitida

    como sendo um atraso para a economia. Dados at neste momento mostrado por este

    trabalhado contradiz isto, pois, como possvel uma atividade que movimenta bilhes de reais

    ser considerada atrasada? O pode ser considerado atraso, uma economia onde exclui os

    prprios filhos as terra, uma economia neoliberalista escravizada por um capitalismo

    doentio, que dente a se movimentar como uma bola de neve. O que ainda mais interessante,

    o fato de que foi considerada atrasada por no corresponder uma expectativa produtivista a

    nveis extraordinrios, assim, ela caminha, solitria e silenciosa, que no momento certo

    apresenta resultados reais, e no resultados idealizados.

    Para Buainain (2003):

    O desempenho da agricultura familiar reflete um conjunto amplo de

    condicionantes, desde a disponibilidade de recursos, a insero

    socioeconmica, a localizao geogrfica, as oportunidades e a conjuntura

    econmica, as instituies e valores culturais da famlia, do grupo social e

    at mesmo do pas. (BUAINAIN, P. 339, 2003)

    O fortalecimento e desenvolvimento da agricultura familiar requer, pois, a

    integrao das polticas macroeconmica, agrcola e de desenvolvimento rural, de forma a

    reduzir os atritos e aumentar a convergncia e sinergia entre os diversos nveis de interveno

    do setor pblico. Em relao poltica macroeconmica, cabe aqui apenas pontuar que ela

    incide diretamente sobre os incentivos e a disponibilidade de recursos. Os preos reais, o grau

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    de proteo efetiva, a disponibilidade de recursos e o custo de oportunidade para a utilizao

    desses recursos so fortemente influenciados pelas polticas e preos macroeconmicos. Alm

    disso, essas polticas afetam tambm as variveis estruturais como a dinmica da oferta e

    demanda, a distribuio de renda e a disponibilidade e qualidade da infra-est