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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
UM OLHAR PARA O SUJEITO AUTISTA FRENTE AO SEU
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Sônia Gomes Teixeira da Silva
Orientador
Profª. Mary Sue de Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
UM OLHAR PARA O SUJEITO AUTISTA FRENTE AO SEU
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Especial e
Inclusiva.
Sônia Gomes Teixeira da Silva.
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares e amigos que
sabem da minha paixão pela
aprendizagem e do enorme respeito
com que trato as diferenças e
diversidades sociais. Não poderia
deixar de agradecer especialmente a
minha mãe como fonte inesgotável de
inspiração e força.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa a
minha Diretora Sra. Léa Cortez Rocha
Lima, Fundadora do Centro
Educacional Miraflores, pelo
permanente incentivo e crédito à minha
formação profissional. Seus
questionamentos diante das situações,
me inquietaram e se transformaram
em alavancas para novas buscas e
aprimoramento pessoal e profissional.
.
5
RESUMO
O tema eleito para o trabalho de pesquisa apresentado, tem a intenção
de conduzir a reflexão sobre a questão da verdadeira inclusão escolar do
sujeito autista. Não apenas quanto ao seu desempenho em sala de aula, ou
resultados em avaliações, mas conduzindo-o mais adiante no seu processo
social, oferecendo oportunidades reais de interação, de mostrar o que sabe
fazer, autorizando as suas contribuições e estimulando o seu convívio com
todos.
Esse processo só será de fato produtivo, na medida em que professores
e comunidade escolar estudem sobre o tema e entendam o funcionamento de
um aluno autista. Só conhecendo e entendendo sobre o TEA-Transtorno do
Espectro do Autismo é que o pleno atendimento, a esse novo integrante será
resguardado e encaminhado com respeito e êxito, pois ele precisa sentir-se
pertencente a esse novo espaço, que muitas vezes é carregado de desafios e
ameaças também.
Igualmente prioritário é preparar os seus novos colegas para recebê-lo,
mantendo postura de interesse, respeito e atenção com o novo integrante da
turma, recebendo-o com todo o cuidado com que merece ser recebido um
novo colega que se integra ao grupo. Discutir sobre suas características e
esclarecer aos alunos sobre o seu comportamento, também são ações que
auxiliarão a todos a estabelecer novos vínculos diante do convívio social. A
postura e atuação do professor diante o grupo será determinante para a
condução dos trabalhos e a verdadeira inclusão do aluno.
O trabalho da escola exige além de conhecimento, interesse e vontade
de auxiliar, dependendo da situação, preparação de materiais e estratégias
pedagógicas que possam auxiliar o aluno a mostrar suas habilidades e
conhecimentos, atendendo-o em suas necessidades. É preciso planejar e
estar sempre atento, tanto as atividades quanto as rotina acadêmica, visando
6
o bem-estar do aluno, pois surpresas e situações inesperadas podem
desencadear comportamentos disfuncionais, interferindo na sua relação com
os colegas.
Conhecer a história de vida do aluno é importante e agregará
informações para o manejo de comportamentos, estimulação e
desenvolvimento . É interessante saber do que ele gosta, temas que chamam
sua atenção, suas reações diante de determinadas situações, bem como
formas de manter sua atenção e tranquilizá-lo diante de uma situação de
estresse.
Igualmente prioritário é o bom atendimento aos responsáveis do aluno,
acolhendo-os e integrando-os também ao novo contexto social. Eles precisam
sentir-se seguros diante de possíveis exposições e questionamentos sociais.
Mantê-los informados sobre o desenvolvimento do aluno e suas conquistas é
crucial, pois precisam reconhecer o percurso de desenvolvimento e
crescimento do seu filho, diante dos seus esforços e imenso amor, almejando
a cada dia por sua felicidade e cidadania.
.
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METODOLOGIA
Os métodos que auxiliaram na pesquisa do tema proposto, foram artigos
acadêmicos, livros, periódicos especializados e revistas que agregaram muitas
informações e dados estatísticos ao trabalho. Também foi considerado na
pesquisa, as novas normas de diagnóstico segundo o DSM-V Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders, Manual de Diagnóstico e Estatística
dos Transtornos Mentais-5ª. Edição, realizado pela Associação Americana de
Psiquiatria, para definir critérios para diagnósticos, publicado em 2013.
A pesquisa bibliográfica me conduziu a vários pesquisadores e
estudiosos sobre o assunto, que através da prática e investigação sobre o
tema são relevantes nos dias atuais, como fonte de referência no assunto
autismo.
Constatei que falar sobre autismo, principalmente dentro do contexto
escolar, exige postura de interesse sobre o tema, além do conhecimento sobre
a história de cada caso e respeito pelo sujeito, que está diante da possibilidade
de crescimento ou não, dependendo do olhar e da disponibilidade do condutor-
facilitador de seu processo de aprendizagem.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - O conceito de autismo e suas definições 13
CAPÍTULO II – O trabalho em sala de aula 22
CAPÍTULO III – A importância do acolhimento e orientação aos pais 32
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
9
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como principal objetivo identificar estratégias e
atividades pedagógicas, bem como manejos do comportamento dos alunos
incluídos no Transtorno do Espectro do Autismo, objetivando seu
desenvolvimento acadêmico. É de valor inegável o papel da escola na
construção do ser social, da cidadania e da formação de valores sociais,
agregando valor à trajetória de vida dos alunos em formação.
O assunto autismo ainda hoje, traz à tona muitos questionamentos e
surpresas, talvez pela falta de informações e/ou esteriótipos construídos pela
sociedade ao longo dos anos. Havia pouca informação sobre o quadro, falta
de incentivo à pesquisa, uma gama de diagnósticos equivocados e o autista
permanecia privado da vida social e principalmente longe da rede regular de
ensino.
No imaginário popular, os autistas viviam isolados num mundo
impenetrável, com um olhar perdido, em movimentos repetitivos e alheios a
qualquer manifestação afetiva. Quando a criança chegava à escolaridade,
muitas vezes a família optava por escolas especiais, para sua estimulação. Os
diagnósticos muitas vezes aconteciam tardiamente, após os três anos, quando
muitas vezes através do pediatra, havia o encaminhamento para um
especialista no quadro. Esse caminho a se percorrer muitas vezes era longo,
com avaliações de fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, neurologistas
e psiquiatras. Essa trajetória rumo ao diagnóstico, que hoje sabe-se do quanto
sua precocidade auxilia no tratamento, não acontecia rapidamente e conduzia
a criança muitas vezes a iniciar um trabalho de estimulação especializada,
após alguns anos de vida. Deve-se a esse fato não apenas a necessidade de
incentivo na formação do Médico Pediatra, através de disciplinas preparatórias
e obrigatórias como a Psiquiatria Infantil, como também o auxílio de
10
campanhas que levem esclarecimento e informações sobre o comportamento
das crianças autistas a toda sociedade.
No mundo a OMS-Organização Mundial da Saúde, estima que
tenhamos 70 milhões de pessoas com autismo. No Brasil, a estimativa é de 2
milhões de autistas, cerca de 1,0% da população (dados da pesquisa realizada
em 2007-site:revistaautismo.com.br).
O comportamento que mais marcava o início do questionamento de
famílias e médicos era a incapacidade de interação social e hoje já sabe-se da
tríade que caracteriza o comportamento dessas crianças, além do prejuízo na
interação social, também registra-se o prejuízo no desenvolvimento da
linguagem (falta ou atraso) e movimentos esteriotipados.
As campanhas pró-diagnóstico, lançadas por outros países como por
exemplo os Estados Unidos, trazem benefício à população, não apenas no
diagnóstico precoce e na estimulação necessária, mas também quanto aos
direitos garantidos nas escolas acerca do atendimento individualizado. Isso
faz toda a diferença no tratamento e nas probabilidades da criança conquistar
sua autonomia e seu desenvolvimento frente ao contexto social, no qual está
inserida. Muitas vezes a dificuldade em aceitar o diagnóstico por parte dos
pais e núcleo familiar da criança, também procrastina o início do seu
acompanhamento especializado, por esse motivo as campanhas sobre o
assunto são positivas, pois permitem também o acolhimento e o tratamento
nos casos mais leves do autismo. Crianças que outrora eram consideradas
“diferentes” ou “esquisitas”, permanecendo rotuladas e segregadas da
sociedade, hoje também são estimuladas e desenvolvem suas capacidades e
habilidades.
Conhecer, estudar, pesquisar mais sobre o autismo nos conduz ao
acolhimento, ao respeito e a inserção das crianças na vida social, objetivando
dar-lhes oportunidades iguais de desenvolvimento e escolarização. É preciso
11
conhecer o assunto, saber das nuances de cada quadro, da história de cada
criança, principalmente dentro do contexto escolar, para a elaboração de
planos individuais de desenvolvimento. A escola tem que se preparar para
receber e estabelecer com o seu aluno, dependendo de cada caso, um
programa específico de estimulação. É preciso conhecer o diagnóstico e as
potencialidades de cada novo aluno. Em alguns casos, o diagnóstico do
autismo se apresenta com comorbidades, ou seja o aluno traz consigo outras
síndromes associadas, como por exemplo a epilepsia, síndrome de down,
esquizofrenia, cegueira e surdez. Segundo o neurologista Drº Salomão
Schwartzman, aproximadamente 70% sofrem de déficit cognitivo.
É fato de que precisamos estudar e muito, acerca do comportamento e
formas de atuar com o autista, visando não só sua integração na sociedade,
mas também seu pleno desenvolvimento, como ser atuante que pode vir a ser,
auxiliado pela família, escola e especialistas que o cercam e acreditam no seu
potencial, agindo com ética e respeito.
Lembrar que cada sujeito age de uma forma e responde de maneira
individualizada aos estímulos é importante, pois cada técnica de estimulação
deve basear-se na diversidade dos casos e procurar estabelecer um programa
próprio para cada um. Hoje o espectro do autismo, abrange uma série de
distúrbios que vão do autismo clássico, com grande probabilidade da
associação do déficit cognitivo, à Síndrome de Asperger, uma forma branda,
muitas vezes associada a uma Q.I. muito acima da média. Devido a essa
maior elasticidade e abrangência dos casos, o número de diagnósticos
cresceu, proporcionando melhor atendimento e estimulação.
Precisamos cada vez mais, dentro da instituição escola, buscar
capacitação para lidar com as necessidades apresentadas pelos alunos, no
que tange não apenas a manejos de comportamentos mas e principalmente, a
formas diferentes para o aprender, onde deve ser oferecido permissão para
12
que ele mostre o que consegue fazer, de outra forma, pois isso de fato é
incluir.
Os capítulos a seguir reportam-se ao tema desde a sua conceituação
até a importância do acolhimento aos pais e núcleo familiar da criança
diagnosticada. A importância da garantia das leis no acesso à escolarização
também será abordada, enfatizando a relevante atuação dos legisladores
quanto a possibilidade de inserção do aluno autista no contexto escolar,
respeitando-se suas individualidades e necessidades. A cidadania é fruto de
exercícios e possibilidades sociais frente a uma sociedade cada vez mais
múltipla, onde o princípio de educar para a diversidade tem que ser a sua
premissa máxima, beneficiando a todos.
13
CAPÍTULO I
O CONCEITO DE AUTISMO E SUAS DEFINIÇÕES
“Se aprende com as diferenças e não com as igualdades”
(Paulo Freire)
Historicamente, desde o início da existência humana, os grupos sociais
eram voltados, construídos e funcionavam em função dos sujeitos ditos
“normais”, excluindo e/ou negligenciando todos os que por algum motivo,
afastavam-se da norma instituída pela sociedade. Muitas vezes, essas
crianças, que apresentavam em seu funcionamento alguma especificidade,
certa necessidade especial, não frequentavam os grupos sociais e não tinham
acesso à escolarização. Geralmente cresciam longe dos olhares sociais,
impedidos e excluídos da possibilidade do desenvolvimento, em várias áreas.
Essas crianças inicialmente não eram encaminhadas para a escola,
muitas vezes recebiam educação individual em casa, por receio das famílias
quanto à sua exposição e as adversidades que enfrentariam. Eram isoladas
praticamente do convívio com seus pares, após algum tempo com o
surgimento das escolas especiais essas crianças passam a receber
estimulação e começam a conviver com outros grupos sociais e não apenas
seus familiares. A família passa então a contar com outro contexto social, onde
inclusive também sente-se aceita e acolhida.
Atualmente, esse cenário social mudou e a atenção e as pesquisas
estão voltadas para esses sujeitos que não são atendidos por esta sociedade e
que igualmente, tem direitos enquanto ser social e garantia de lei, para que
possam ser atendidos em suas necessidades, em todos os contextos sociais.
Logo, o sujeito autista, também ganhou espaço em várias frentes de estudos,
devidos as suas características específicas de comportamento, que impactam
tanto em seus relacionamentos interpessoais como na vida em grupo.
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Pode-se dizer que o conceito do autismo é relativamente novo. E, ainda
hoje, nos deparamos com muitas especulações e dúvidas a seu respeito. Mas
o campo de pesquisa nas áreas médica, social e escolar está muito voltado
para o estudo do autismo, com descobertas que certamente auxiliarão a todos
no atendimento do sujeito autista.
O psiquiatra Leo Kanner da Universidade Johns Hopkins, em Maryland –
EUA, em 1943, foi o primeiro pesquisador a mencionar o termo autismo. Ele
publicou um artigo científico no qual descreveu uma “síndrome rara”
caracterizada por uma série de sintomas muito específicos, a qual chamou de
autismo. Nesse cenário as crianças autistas ainda tinham um acesso a
socialização muito restrito à família, pouco circulavam nos contextos sociais e
não chegavam à escolarização. As pesquisas realizadas nessa época ainda
tinham como base as causas da esquizofrenia. A palavra autismo referia-se a
tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, fechando-se em seu mundo,
alheio ao que acontecia ao seu redor.
Nessa época o Dr. Leo Kanner já descrevia a síndrome, baseando-se
em pilares que ele definiu como: deficiência no desenvolvimento da linguagem,
interação social pobre e interesses e movimentos corporais repetitivos, tríade
que até hoje é usada como caracterização do autismo.
“O termo “autismo” é oriundo da palavra
grega “autos” que significa “próprio” ou “de si
mesmo”. Antes mesmo da publicação do
trabalho de Kanner em 1943 (“Autistic
Disturbances of Affective Contact”), muitas
descrições do conceito de autismo tinham já
sido anteriormente aceitas como referências
“a crianças invulgares, tais como Vitor, o
rapaz selvagem de Aveyron, estudado por
15
Itard” em 1801 (Marques, 1998, pg. 13).
Kuperstein e Missalglia (2005), citam ainda o
fato de que o termo autista foi introduzido na
literatura psiquiátrica em 1906 por Plouller e,
só em 1911, começou a ser difundido por
Bleuler quando procurava referir-se ao quadro
de esquizofrenia (no que concerne à limitação
das relações humanas e com o mundo
externo). (Sousa, Pedro e Santos, Isabel, pg
3).
No início das pesquisas, o autismo chegou a ser confundido com vários
quadros clínicos, devido as suas características de isolamento social e
prejuízos na relação interpessoal. Foi confundido com quadros de
esquizofrenia, de retardo mental e até de surdez, já que não havia turnos de
conversação estabelecidos. Sabe-se hoje, que o transtorno do autismo pode
trazer junto outras comorbidades associadas, inclusive o déficit cognitivo.
Em meados de 1944 a Síndrome de Asperger , condição do espectro de
autismo leve, onde não há necessariamente prejuízo no desenvolvimento
cognitivo e atraso na fala, foi abordada no meio científico:
“A Síndrome de Asperger foi descrita pela
primeira vez em 1944 pelo médico austríaco
Hans Asperger. Ele descreveu crianças com
déficit na socialização, interesses
circunscritos, prejuízos na linguagem e na
comunicação. Esta condição é classificada
como um transtorno do espectro autista; no
entanto, diferentemente do autismo infantil, a
criança com Síndrome de Asperger apresenta
desenvolvimento cognitivo e intelectual
16
normal e não apresenta atraso na aquisição
da fala. (Teixeira, Gustavo, pg. 183).
Alguns autores se reportam as pessoas com Síndrome de Asperger
como “pensadores visuais”, que melhor compreendem imagens do que
palavras. Esses autores destacam a dificuldade de empatia nas relações
interpessoais e a peculiaridade na comunicação.
Até os anos 70, acreditava-se que as causas do autismo estavam
associadas ao desenvolvimento psicológico ou emocional da criança. Ligado a
relação afetiva estabelecida entre a criança e a mãe, que segundo hipóteses
levantadas na época, devido a falta de trocas e vínculo afetivo, a criança era
privada do afeto e desenvolvia o autismo – tese da “mãe geladeira”. As
discussões tinham como base os referenciais psicanalíticos. Tinha-se a
convicção nesse período, que a falta de afeto na primeira infância daria início
ao transtorno. Vários debates deram início a desconstrução dessa premissa e
através da publicação de um artigo, no meio científico, é desfeita a idéia da
fase autística do desenvolvimento infantil.
Muitos autores são unânimes ao relatarem sobre a importância do
diagnóstico precoce propiciando melhores resultados através de terapias de
estimulação, com as descobertas sobre a neuroplasticidade cerebral e também
visando a integração dos autistas na sociedade. Na verdade pretende-se
alertar para a qualidade de vida alcançada, bem como o desevolvimento que a
criança autista pode alcançar, se for proporcionada a um ambiente de
estimulação e aprendizagem. É preciso inclusive pensar e repensar sobre as
outras fases de vida que estão por vir, como a adolescência e sua inserção no
mercado de trabalho, incluída no mundo adulto e profissional.
É fundamental ressaltar a importância do diagnóstico e dos critérios
utilizados para essa prática do diagnóstico, que deve ocorrer no máximo até os
três anos de vida, visando a sua estimulação, para o alcance de resultados
17
positivos para a vida e auto-estima da criança. O diagnóstico deve ser sempre
baseados numa visão sistêmica e multiprofissional. As equipes técnicas
geralmente são compostas por psiquiatra, neurologista, fonoaudiólogo,
psicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta. Há muito que pode ser feito
pela criança autista, desde que diagnostica precocemente e levada a estímulos
de vários aspectos. Sabe-se que o autismo não tem cura, porém é notório os
benefícios e desenvolvimento que uma criança pode alcançar com trabalhos
especializados e com o apoio das pessoas com as quais está envolvida,
professores, familiares, colegas, terapeutas, enfim a sociedade.
1.1 – As pesquisas e novas descobertas
O diagnóstico do autismo é clínico e deve ser realizado por especialistas
que conhecem e seguem os critérios para avaliação, objetivando um
diagnóstico responsável e cuidadoso, pois ainda hoje, lidamos com certos
mitos que cercam o autista, como por exemplo associar o autismo à
genialidade. De fato, alguns autistas conseguem resultados fantásticos,
principalmente no campo da inteligência lógica, como a matemática ou física,
realizando cálculos de probabilidades com exatidão. Eles revelam ilhas de
habilidades, ou seja um funcionamento específico a nível cerebral. Esses
sujeitos que tem uma habilidade cognitiva em certas áreas acima da média e
sem muitas dificuldades na interação em grupos, são considerados autistas de
“alto funcionamento”. Em contrapartida, os autistas com maiores limitações
relacionais, de aprendizagem e sociais, são considerados autistas com “baixo
funcionamento”, que também são capazes de aprender.
Com o surgimento de novas tecnologias, exames de neuroimagem e
pesquisas específicas sobre o tema ligadas ao funcionamento cerebral dos
autistas, as descobertas sobre o transtorno avançaram e no fim dos anos 70
18
provou-se que o autismo e outras síndromes revelavam uma alteração
cerebral. Passa a ser considerado um distúrbio multifatorial, ligado ao
neurodesenvolvimento, ou seja, as causas seriam múltiplas, e não
necessariamente as mesmas, por exemplo, para duas pessoas.
Um exame sobre o direcionamento do olhar (eye-gaze), tem trazido
grandes contribuições para o entendimento do transtorno. É realizado na frente
da tela de computador com monitoramento sobre a direção do olhar. Autistas
segundo a pesquisa, tem padrões bem diferentes para a exploração das fotos
de rostos humanos e tendem a olhar mais para objetos e mecanismos
motores.
Uma frente de pesquisa do neurologista José Salomão Schwartzman,
revela que a poda neuronal ocorrida entre os 2 e os 4 anos, ou seja a morte
programada de milhões de neurônios (entre 30% a 40%, das células sem
funções claras) nos autistas ocorre de forma “defeituosa”.
Existem outras linhas de pesquisa, procurando possíveis causas para o
aparecimento do autismo, como inflamações cerebrais (causas como
encefalite, otites de repetição, ou interações medicamentosas na infância).
Além de otites, é muito comum crianças com autismo sofrerem de alterações
gastrointestinais, como o refluxo. Há pesquisadores nessa área, estudando
sobre possíveis ligações entre o autismo e a dieta. Segundo dados, inclusive
difundidos na web, foi cogitado a ligação entre a irritação no tecido nervoso,
causado pelo glúten e laticínios, o que levou várias famílias a experimentarem,
sem orientações claras e científicas, essa dieta nas crianças. Essas pesquisas,
apesar dos resultados, ainda sem comprovação no meio científico, já atrai
seguidores, responsáveis de crianças autistas, em busca de auxílio.
Nos Estados Unidos há um movimento que vincula o autismo à
aplicação de vacinas. Seu precursor foi o médico Andrew Wakefield, um inglês
radicado no Canadá. Em 1988 ele publicou na comunidade científica, um
19
estudo que associava o autismo à vacina tríplice viral (caxumba, rubéola e
sarampo) e outras . No ano de 2004, os debates na área médica foram
acirrados em posições diferentes sobre as possíveis causas do autismo e após
novas pesquisas e debates a comunidade científica descartou a associação
do autismo às vacinas.
Ainda não existe cura para o autismo, o que é preciso entender é que
essas pessoas tem um maneira diferente de pensar, de ver o mundo, de
existir, respondendo de forma muito peculiar as situações que se apresentam..
É importante destacar que o diagnóstico é o primeiro passo na
caminhada rumo ao melhor atendimento para o autista, com estimulação
individualizada e profissionais capacitados para o atendimento, e nessa lista
devemos incluir o neurologista, o psiquiatra, o fonoaudiólogo, o fisioterapeuta,
o psicopedagogo e o terapeuta ocupacional. Todos tem função primordial para
que esse sujeito retorne ao seu desenvolvimento, visando possibilidades de
sua inserção social, acadêmica e profissional no futuro.
1.2 – Contribuições do DSM-V
Muitas pessoas acreditam que os casos de autismo estão aumentando,
como uma forma de “epidemia” ou uma onda de “diagnósticos
equivocados”. O que na verdade vem acontecendo, de forma crescente é o
estudo do transtorno através de pesquisas, testes e avaliações dos
resultados, logrando-se êxito em maior número de diagnósticos, que até
então ou não existiam, ou estavam inseridos em outra síndrome,
equivocadamente. Com o advento do novo Manual DSM-V, o autismo
passa a ser encarado com uma amplitude maior diante dos casos
diagnosticados, incluindo-se os casos na abrangência do TEA-Transtorno
20
do Espectro do Autismo. Assim, podemos dizer que identificam-se os casos
dentro das categorias de leve, moderado e severo. O termo asperger não é
mais utilizado.
O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais
Diagnostic and statistical manual of mental disorders-DSM-V, 5ª. Edição, é
um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de
Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais.
Esse instrumento é utilizado por psicólogos, médicos e terapeutas
ocupacionais. A última versão saiu em maio de 2013 em substituição do
DSM-IV, criado em 1994 e revisado no ano de 2000. Desde o DSM-I, criado
em 1952, esse manual tem sido uma base confiável de diagnóstico de
saúde mental muito utilizada ao redor do mundo.
O DSM-V traz a caracterização do transtorno, caracterizado por
anormalidades generalizadas de interação social e de comunicação, e leva
em consideração também uma gama de interesses muito restritos e
comportamentos altamente repetitivos.
Além do instrumento DVM-V, é preciso instrumentalizar/alertar todos os
profissionais que lidam com o desenvolvimento infantil sobre o valor do
diagnóstico, pois muitos profissionais que lidam com esse público
diretamente, nem sempre tem informações suficientes que os auxiliam na
identificação dos sinais do transtorno. Muitos também são levados ainda,
por preconceitos sociais, acreditando que o diagnóstico de autismo irá
“marcar”, “excluir”, “rotular”, “isolar” a criança de seu grupo, seja na escola,
no clube ou na igreja. Essa prática está totalmente equivocada e deve dar
lugar ao respeito pelo sujeito autista, pois ao agirem dessa forma, estão
impedindo o desenvolvimento de suas potencialidades e cada vez mais,
aprisionando-o no olhar outro como “diferente”, “esquisito”, “estranho”.
Ao olharmos a criança com respeito, identificando claramente suas
dificuldades e procurando oferecer-lhes a possibilidade da sua real
21
participação no contexto social é que a libertamos para a vida plena, com a
garantia de desenvolvimento de suas possibilidades, estimulando a sua
relação com os pares e a sua participação na sociedade.
É justamente nessa relação com o outro, vislumbrando as suas
potencialidades, que todos crescem na escola, fazendo parte de um
contexto diverso e amplo de culturas, religiões, valores, e formas de ser,
onde o desafio é crescer de forma plena, respeitosa e solidária, junto com o
outro, pois todo ser humano precisa sentir-se incluído, pertencendo a um
grupo, com amigos e pessoas que marcarão sua história de vida,
escrevendo o nosso vir-a-ser diário como cidadão
.
A prioridade que devemos ter em primeira instância com todas as
pessoas e também com os autistas, consiste em oferecer todo o tipo de
estimulação necessária dentro de um cenário social que o acolha e o respeite,
propiciando convívio, contato, interação e acesso à educação, não como
alguém que só tenha limitações e dificuldades, mas como um ser integral, que
merece estar com seus pares na aventura do crescimento.
O primeiro passo rumo a inserção de fato dessas crianças, diz respeito
às políticas públicas e iniciativa governamental, não apenas para o incentivo ao
diagnóstico, através de campanhas, mas também para oferecer práticas
visando um tratamento público digno e de qualidade. Acredito no objetivo de
devolver às famílias a esperança com caminhos responsáveis de estimulação
e desenvolvimento dessas crianças, visando sua autonomia na construção de
seu futuro.
22
CAPÍTULO II
O TRABALHO EM SALA DE AULA
“Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido” (Rubem Alves)
Ainda hoje ao se mencionarmos o termo autista no contexto escolar,
percebe-se a angústia dos profissionais de educação, frente ao sujeito que faz
parte de sua turma, tendo em vista não apenas o desconhecido sobre o
transtorno e seu comportamento e desenvolvimento, mas e principalmente
frente a total falta de informação sobre o “como” fazer com esse novo aluno.
Como posso desenvolvê-lo? Como posso estimulá-lo? Como posso descobrir
suas potencializades? Como ensiná-lo?
Vale ressaltar que a desinformação chega no campo legal da
aplicabilidade das leis, ou seja, das garantias já conquistadas pelos
aprendentes autistas, o que nem sempre é respeitado ou cumprido, não
apenas pelas instituições escolares, mas também pela sociedade, que ainda o
vê com preconceito e distanciamento.
Muitas histórias de sucesso e real inclusão de alunos, deve-se ao fato
de um desejo profissional rumo a capacitação, visando o bom
desenvolvimento de trabalhos pedagógicos frente aos alunos. Trabalho esse,
que muitas vezes exige investimento pessoal e isolado de docentes, na busca
de leituras, cursos, congressos, enfim conhecimentos imprescindíveis para sua
prática. Esse é o lugar do desejo por resultados e do respeito com os alunos, o
da busca, do inconformismo, da ousadia e da afetividade, ingredientes que
certamente fazem a diferença diante de qualquer sujeito aprendente.
23
É urgente informar, instruir, capacitar, pesquisar e construir material e
práticas pedagógicas adequadas, visando à melhoria do atendimento aos
alunos, todos. O corpo docente das escolas necessita de forma sedenta de
preparação e conhecimento para lidar de forma respeitosa e profissional com o
aluno autista, visando não apenas sua inclusão e socialização com os pares,
mas também o desenvolvimento de sua reais possibilidades frente a
aprendizagem. O professor é agente fundamental para as práticas inclusivas,
não apenas pela grandiosidade do seu papel social, mas pela relevância do
seu trabalho de formação acadêmica. O professor estimula o respeito a
diversidade, exercitando o ser cidadão e salvaguardando a contribuição de
todos para o sucesso de qualquer ação pedagógica. Esse profissional precisa
ser capacitado, respeitado e valorizado, dentro de qualquer sociedade que
deseje ver o desenvolvimento de seu país.
Muito pode ser feito e oferecido ao aluno autista dentro da escola, desde
a preparação dos alunos e também de seus profissionais para o acolhimento a
esse novo aluno, como também sobre o estudo e troca de informações sobre o
seu comportamento e desenvolvimento. Sempre objetivando o seu melhor
atendimento e inserção nesse novo espaço de relações, desafios e
aprendizagens mútuas. Uma das premissas básicas que precisamos difundir e
acreditar é que o aluno aprende, o aluno autista também aprende, pois a
aprendizagem é característica do ser humano.
É preciso destacar a relevância da observação sistemática no processo
de conhecimento do aluno, privilegiando essa prática como fundamental para
as intervenções pedagógicas, para a mediação rumo a construção de seu
conhecimento. Igualmente importante também é a relação de respeito e afeto
estabelecida com esse novo aluno, quanto a construção do diálogo e da
interação. Considerando que o aprendente autista tem um jeito diferente de
aprender, é preciso oferecer-lhe novas formas de construir conhecimentos,
novas formas de ensinar, que não necessitam ser “mirabolantes”, mas que os
24
levem a pensar e a oferecer respostas, resguardando seu lugar nesse novo
espaço coletivo de aprendizagem-onde aprendemos o tempo todo com o outro.
Se, de um lado é difícil para os alunos receberem esse novo sujeito, que
traz em seu comportamento uma nova forma de se organizar e responder aos
estímulos, do outro é também desafiador para o aluno autista entrar em novos
espaços, com rotinas já estipuladas e novos relacionamentos. Essa promoção
de trocas, de convivência, de contato com diversidade
s, de crescimento com o outro já está garantida e é preconizada na Resolução
CNE/CEB nº 2, de 11/09/2001- em seu Artigo 8º, inciso II:
“distribuição dos alunos com necessidades
educacionais especiais pelas várias classes
do ano escolar em que forem classificados,
de modo que essas classes comuns se
beneficiem das diferenças e ampliem
positivamente as experiências de todos os
alunos, dentro do princípio de educar para a
diversidade.”
Trazer para a sala de aula o mundo dos aprendentes autistas é
importante para dar significado ao que se pretende ensinar, de forma simples,
com materiais construídos e de fácil manejo. É preciso que eles percebam e
participem desse contexto, por esse motivo é tão crucial a observação e
conhecimento de suas histórias, hábitos e interesses. Quanto mais
associarmos a prática pedagógica a conteúdos que tenham significado, mais
contribuiremos para a experiência da aprendizagem. Quando se conhece as
atividades que o aluno gosta de fazer, os assuntos que o interessam e sua
rotina fica mais fácil, envolvê-lo em ações escolares que tenham relação com
sua história, pois afinal, muitas vezes é importante fazê-lo focar e envolver-se
nas atividades. Em alguns casos, o tempo curto de envolvimento com a tarefa
25
já é um grande avanço, os progressos são gradativos e o que importa nessa
situação é o desenvolvimento da capacidade de concentração.
Levando-se em consideração a importância do foco e tempo de
concentração, atividades artísticas são estratégias eficazes nesse aspecto.
Ações com pintura, massa de modelar, desenhos, música, atividades de
colorir, entre outras, são excelentes exercícios para desenvolver a
concentração, pois os canais sensoriais são os melhores receptores da
aprendizagem.
O manejo dos comportamentos disruptivos em sala de aula, precisam
de uma condução pedagógica que favoreça o aluno e permita a continuidade
de seu envolvimento com a tarefa em andamento. Além do encorajamento ao
aluno, é preciso que sua condução o estimule e não o reprima. Sempre que o
aluno desviar a atenção da tarefa, é necessário redirecionar a atenção e a
ação do aluno, para a continuidade no processo iniciado. O auto-controle do
professor é fundamental, não apenas para a condução da atividade perante a
turma, mas também para que as ações do aluno não recebam valorização as
reações de forma excessiva. A confiança e a relação afetiva entre professor e
aluno são fundamentais para as situações de impasses, pois permitirão o
controle da situação, não alterando o tom de voz e mantendo o contato visual
com o aluno, é preciso disciplinar o ambiente, a atividade e não paralisar o
aluno.
É preciso conhecer as causas que desencadeiam os comportamentos
disfuncionais, ou seja, quais os fatores que os motivam. O aprendente autista
pode estar reagindo a ambientes com barulhos, mudanças de rotina e
frustrações.
2.1 – O método TEACCH
26
O método TEACCH-Treatment and Education of Autistic and Related
Communication Handicapped Children, que significa Tratamento e Educação
para Austistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à Comunicação é
um programa de intervenção terapêutica educacional e clínico. Baseado em
pressupostos do autismo ligado a cognição, comunicação e interação social o
Drº Eric Schopler e equipe desenvolveram na Universidade de Carolina do
Norte (1966) as premissas científicas do método TEACCH, cuja metodologia
baseou-se em intensa observação comportamental das crianças autistas frente
a diversas situações frente a estímulos diferentes.
O método que tem por base as perspectivas da teoria behaviorista-
comportamental, é frequentemente utilizado no Brasil e no mundo por
instituições que atuam com autistas. O programa TEACCH objetiva indicar,
especificar e definir de maneira operacional os comportamentos que devem
ser trabalhados. O ambiente é totalmente manipulado pelo professor ou
profissional que atua com o aluno autista, visando a redução ou
desaparecimento de comportamentos inadequados, com técnicas de reforço
positivo.
O método é organizado utilizando-se estímulos visuais e
audiocinestésicos-visuais para produzir a comunicação. Cada aprendente tem
suas atividades programadas de forma individualizada e mediadas por um
profissional. Nas salas, os grupos costumam ser pequenos para a observação
e o acompanhamento adequado do aluno, pois a metodologia de ensino utiliza-
se de símbolos, em contínuo direcionamento de suas ações, até que o aluno
consiga desenvolver condições de realizá-las sozinho, sempre com o recurso
visual. A rotina e a programação sistemática das ações é fundamental para o
êxito no atendimento ao aluno, que desenvolve repertórios de
comportamentos, diante de um estímulo oferecido. Tudo é muito importante
para a aprendizagem do aluno, desde a organização da sala, dos materiais,
estruturação do ambiente físico, além da rotina previsível e inalterada. O
método enfoca a comunicação receptiva do aluno, acreditando que a ela se
27
antepõe a linguagem expressiva. É previsto atividades que atuam com:
pareamento de formas e letras, figuras geométricas, cores, identificação de
quantidades e números, objetos em movimento, entre outras.
Quanto a avaliação, cada aluno é avaliado de acordo com as tarefas
que realiza, dentro do programa planejado para ele, pensando em seu
desenvolvimento cognitivo e interacional.
Com relação a comunicação visual por fichas o sistema de comunicação
e organização PECS-Picture Exchange Communication System, estimula e
auxilia o aluno, quanto ao funcionamento de sua rotina e execução de tarefas.
Sua aplicabilidade tanto pode favorecer autistas não verbais como verbais.
2.2 – A garantia das Leis
Hoje o Brasil conta com um suporte de legislação que não apenas
considera a questão da pessoa com deficiência, como também promove
através das leis, sua inserção em vários contextos, seja no educacional, no
profissional, no social, levando-se em consideração seus direitos e
contribuições com a sociedade na qual está inserido. Não há falta de leis, mas
falta de cumprimento e de fiscalização para que sejam efetivadas. Ainda há
desinformação, despreparo, falta de estruturação para o seu real cumprimento,
além da falta de determinação para a concretude das mesmas. Não
precisamos de mais leis, de mais decretos, ou deliberações, precisamos de
firmeza política e social para que sejam colocadas a serviço de uma sociedade
mais justa, ética, que considere todos os seus integrantes, como iguais em
seus deveres e direitos.
A Constituição Federal de 1988, já trazia em seu texto a garantia do
“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino” conforme a redação do artigo.
208, inciso III, ou seja, desde então já era previsto que a inclusão fazia parte
28
do contexto educacional, embora nem sempre fora visto tal prática em algumas
instituições de ensino desde então. Porém, o inconformismo com a situação
das pessoas portadoras de deficiências, continuou alavancando avanços para
que a perspectiva mudasse com relação ao olhar para esse público,
principalmente dentro da escola.
Em 1989, através da Lei 7.853, em seu artigo 8º-inciso I, registra-se o
texto; “ constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e
multa, I-recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa
causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso
ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta”.
Através do texto observa-se inclusive penalidades previstas a quem
descumprisse tal determinação legal, ou seja, desde então já havia interesse
pela acolhida e desenvolvimento do aluno com deficiência.
No ano seguinte, em 1990, o ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente
entra em vigor salvaguardando os direitos das crianças e adolescentes e nos
artigos 53 e 54 também cita o direito à educação, visando o pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-lhes atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
de ensino.
Como já foi citado, o Brasil tem inúmeros dispositivos legais que
resguardam e amparam as pessoas com deficiência, garantindo seu
atendimento na rede educacional. Dentre essas leis e deliberações podemos
destacar a Declaração de Salamanca de 1994 – Conferência promovida pela
UNESCO e subscrita por 92 países participantes. Em seu texto destaca-se
logo no segundo item:
“as crianças e jovens com necessidades
educativas especiais devem ter acesso às
29
escolas regulares, que a elas se devem
adequar através de uma pedagogia centrada
na criança, capaz de ir ao encontro destas
necessidades”
“as escolas regulares, seguindo esta
orientação inclusiva, constituem os meios
mais capazes para combater as atitudes
discriminatórios, criando comunidades
abertas e solidárias, construindo uma
sociedade inclusiva e atingindo a educação
para todos; além disso, proporcionam uma
educação adequada à maioria das crianças e
promovem a eficiência, numa ótima relação
custo-qualidade, de todo o sistema
educativo”.
Como podemos observar descreve-se e orienta-se para uma pedagogia
que seja capaz de ir ao encontro das necessidades de cada pessoa, além de
citar também a orientação inclusiva, combatendo discriminações. Enfim, o
texto é um compromisso sério e ético ligado também a educação inclusiva.
Levando-se em consideração o dado histórico, chegamos a LDB-Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394 de 1996 que também
preconiza em seu capítulo V - Da Educação Especial, orientações para o
atendimento a pessoa com deficiência, quando em seu artigo 59 cita que: “os
sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
inciso I-“currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades”.
Como já mencionado, inúmeras leis, decretos e resoluções amparam e
encaminham para ações que promovam o real desenvolvimento dos alunos
com deficiência. Entre elas podemos citar ainda, o Decreto 3956/2001, a Lei
30
10.436/2002, o Decreto 5626/2005, a Resolução nº 4-CNE/CEB 2009, o
Decreto 7611/2011 e a Lei 12.764/2012 que institui a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista,
importante conquista dos direitos relacionados as pessoas autistas.
Em 06 de Julho de 2015, foi recém lançada a Lei 13.146 que institui a
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência), que passará a vigorar em Janeiro de 2016. O texto de forma
ampliada, com 127 artigos, prevê inúmeros ajustes para o pleno atendimento
a pessoa com deficiência, desde a acessibilidade de espaços, equipamentos,
mobiliário até a barreira da comunicação assegurando a forma de interação,
através da utilização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e o Braile, além
das tecnologias assistivas para melhor atendimento as pessoas com
deficiência. Essa lei em seu artigo 1º menciona a importância da cidadania,
reconhecendo a importância dessas pessoas para nossa sociedade:
“É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), destinada a assegurar e a
promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência,
visando à sua inclusão social e cidadania”.
É importante lembrar e não perder de vista, que o processo de inclusão
não é fácil, tanto para a criança como para a família e a escola, o que não
significa em absoluto que é inviável fazê-lo, mas que para sua efetivação,
todos os protagonistas devem se envolver com respeito e zelo pelo cidadão
que merece estar em sociedade.
31
Contudo, é preciso além de interesse, firmeza e perseverança,
contarmos com um aspecto que é essencial em qualquer relação humana
estabelecida – o amor. Amor esse que não deve ser impeditivo de crescimento
do outro, amor esse que deve impulsioná-lo e dar-lhe a oportunidade de vir-a-
ser, de verdade um cidadão participante de seu grupo, com seus semelhantes
de forma integrada e valorizada.
32
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO
AOS PAIS
“Não se perde uma criança para o autismo. Perde-se uma criança porque a que se esperou nunca chegou a existir. Isso não é culpa da criança autista que, realmente existe e não deve ser o nosso fardo. Nós precisamos e merecemos famílias que possam nos ver e nos valorizar por nós mesmos, e não famílias que tem uma visão obscurecida sobre nós por fantasmas de uma criança que nunca viveu. Chore por seus próprios sonhos perdidos se você precisa. Mas não chore por nós. Estamos vivos. Somos reais. Estamos aqui esperando por você” Jim Sinclair (autista – Não chorem por nós – Discurso na Conferência Internacional de Autismo – Toronto – 1993)
A família que se vê diante de comportamentos da criança fora dos
“padrões” e ainda não tem em mãos o diagnóstico, sofre diante de suspeitas e
hipóteses e angustia-se numa jornada solitária em busca de respostas. Sente-
se impotente frente a comportamentos e desenvolvimento muito particulares
do filho, que não consegue controlar.
Em busca do diagnóstico, é muito comum encontrarmos na família
muitos questionamentos, tendo em vista, em algumas situações, não
conhecerem tão bem o desenvolvimento infantil e seus marcos (nos casos do
primeiro filho) e também, devido a resistência frente ao temor de um
diagnóstico, o que reporta a culpa e questiona suas fraquezas enquanto
progenitores. É comum que a família leve algum tempo para legitimar o
diagnóstico, procrastinando em tomadas de decisões, precisando assim,
elaborar e procurar respostas para suas íntimas indagações, chegando a
duvidar do pertencimento do filho ao espectro, mesmo percebendo que há algo
estranho no comportamento do filho.
33
Também pode ocorrer uma situação de estresse e raiva entre os pais e
os outros familiares da criança autista, tendo em vista a sinalização dos
mesmos, quanto ao comportamento da criança e preocupações quanto ao seu
desenvolvimento, acreditando que há algo de errado com a criança, mesmo
frente a contestação dos pais.
Cada responsável é de um jeito e logo, responde emocionalmente de
maneira muito peculiar ao diagnóstico recebido. Os responsáveis, podem ou
não vivenciar algumas das seguintes emoções: alívio, culpa, perda, dúvidas e
busca incessante de informações e também receio do futuro. O alívio é fruto de
respostas, de saber o que o filho tem, de vislumbrarem a possiblidade de
contar com outras pessoas no auxílio ao filho. É muito comum os pais
permanecerem em estado de perda e tristeza por algum tempo, temendo pelo
futuro de seus filhos. Quando a criança recebe o diagnóstico de autismo, o
temor em relação ao futuro, geralmente é a primeira emoção que surge,
substituindo os sonhos e as expectativas que tinham até então, com relação
as aspirações para a vida da criança. O fato de não saberem ao certo até onde
a criança se desenvolverá e se terá condições de cuidar-se, de estudar e
trabalhar, ou seja de ter uma vida autônoma e funcional, os amedronta.
Temem pelos cuidados e proteção que ela precisará durante a vida, e também
pela sua ausência (morte dos pais) e são invadidos pela dor e anseio de quem
cuidará dessa criança no futuro.
Sem dúvidas, a família tem papel fundamental na escolha dos caminhos
que serão oferecidos à criança autista, quer seja quanto à sua estimulação
através de terapias especializadas, quer seja na escolha da escola, ou ainda
no tipo de orientação que adotará com a família extensa (irmãos, tios, primos,
avós, entre outros parentes da criança).
Inúmeras vezes os responsáveis passam por uma verdadeira maratona
emocional, durante um longo tempo, se deslocando de terapia em terapia,
imersos em tantos compromissos, que nem sempre, são olhados de forma
34
respeitosa, envolvidos e informados sobre o objetivo de tanta estimulação e
para que servem no futuro, resguardando o bem-estar da criança.
Pouco ou nada adiantam os esforços da família, se ficarem apenas
concentradas as ações, à criança autista, pois a família precisa ser acolhida,
cuidada e envolvida no processo de desenvolvimento da criança, entendendo
e participando ativamente das decisões, estimulações e acompanhamentos.
Após o nascimento de um filho tão idealizado, esperado e sonhado,
receber o parecer médico de um diagnóstico de autismo não é tarefa fácil e
após as fases de negação e luto, pelo qual passam muitos responsáveis, vem
a dor e as dúvidas sobre o que fazer agora, diante de uma situação muitas
vezes totalmente desconhecida por eles. É nesse momento, que os
responsáveis terão que reescrever um projeto de vida que não se havia
cogitado, desejado e tampouco conhecido.
O núcleo familiar não pode ser esquecido, pois além de conviver com as
dificuldades da criança todo o tempo, sofre com a rotina, com o grande
preconceito ainda existente e também com o novo planejamento que envolverá
tempo, investimento financeiro e limites. É preciso que além de informações,
seja fornecida à família orientações sobre manejos de comportamentos e
ajustes, visando a continuidade da rotina familiar, bem como os
relacionamentos entre os integrantes da família, sem abrirem mão do lazer, do
bem-estar e de seus próprios limites. É preciso alimentar a coragem e a
tenacidade diante dos desafios que surgirão, além da dor de ver seu filho
muitas vezes ainda rotulado como “doente mental ou louco”. Muitas famílias,
ainda hoje, temem o convívio de seus filhos com crianças autistas na escola,
no parque, nas festas, devido a lamentável falta de conhecimento e
preconceito sobre a situação. Reagem com desconfiança, preterindo a criança
autista ao convívio com seus filhos. A trajetória da família rumo ao
desenvolvimento da criança autista não é fácil, envolve esforço, renúncia,
coragem e muito amor, mas é possível e sem dúvidas, quanto mais
35
orientações tiverem, mais seguros os pais estarão diante das escolhas feitas
pelas terapias, atividades de estimulação e vida social.
Compreender a dor e a falta de perspectivas da família, diante do
momento inicial frente ao diagnóstico de autismo infantil, é a primeira etapa
para o acolhimento e amparo, diante do caminho a ser percorrido para o
desenvolvimento da criança autista. Muitas vezes essa família, não contará
com o retorno de um carinho, de um beijo, de um gesto de afeto, o que gera
dor e angústia na família, principalmente nos pais, que necessitarão de ajuda
quanto as expectivas e sobre os avanços no desenvolvimento da criança.
Cada quadro de autismo é diferente em cada criança, são peculiaridades
individuais que marcam sua rotina. Cada um reage de uma forma, que é
singular. Por esse motivo, muitas vezes a primeira pergunta que os pais fazem
é: -E agora o que fazer ? Como devo agir ? Os pais antes de qualquer coisa,
de qualquer encaminhamento, precisam de respostas, de esclarecimentos, até
porque uma questão também muito comum é se questionarem de quem a
criança herdou a carga genética, como se procurassem um “culpado” para a
situação enfrentada, ou uma justificativa racional, concreta para o fato.
O diagnóstico precoce e a imediata estimulação fazem a diferença,
sabe-se portanto que é necessário esclarecer aos pais sobre a situação e
contar com sua participação para o desenvolvimento da criança, do processo e
do tempo para os resultados esperados. Quanto mais cedo iniciarem as
terapias de estimulação, mais cedo verão os resultados, dentro de um
prognóstico que é favorável devido a precocidade dos trabalhos realizados
com a criança. O início do convívio com uma criança autista, coloca a família
diante de uma realidade ainda desconhecida e muitas vezes assustadora. É
preciso a partir do diagnóstico, estimular a aceitação dos próprios pais, que
deverão entrar em contato com seus preconceitos e dificuldades. Só assim
conseguirão ajudar, aceitando o filho com suas limitações e características
próprias. A partir da participação dos pais diante das possibilidades do
tratamento, aceitando a realidade, apesar da dor, é possível vislumbar grandes
36
perspectivas de desenvolvimento no comportamento das crianças, que terão
melhores chances de uma vida acadêmica e social com seus pares.
Em muitas famílias diante do diagnóstico ocorre alterações no núcleo
familiar e talvez um dos desafios mais difíceis enfrentados pela família, diz
respeito as mudanças nos papéis sociais, ou seja, toda a rotina até então em
funcionamento, passa por mudanças drásticas, para atender a nova demanda
da criança por longo tempo, seja para as terapias, seja para seus cuidados
pessoais, e um dos responsáveis muitas vezes decide permanecer em casa
para cuidar do filho. Geralmente é a mãe que opta por permanecer em casa,
gerenciando essas questões. Por mais que essa decisão seja determinante,
na condução das ações que serão adotadas para o desenvolvimento e
atendimento da criança, não se pode desprezar que essa opção traz uma
renúncia ou adiamento quanto aos seus planos e objetivos pessoais,
educacionais e profissionais. É preciso além de resiliência, recursos internos
para lidar com essa situação, tanto por parte da mãe, quanto por parte do pai,
ou seja, é necessário contar com os recursos de enfrentamento pelas famílias:
“Os recursos e as características dos pais podem
influenciar suas relações um com o outro e suas
interações com seus filhos, bem como seu bem-
estar pessoal. .... alguns dos recursos mais
importantes, dos pais e seus filhos, que influenciam
o ajuste familiar e a resiliência. Esses recursos
incluem o conhecimento e habilidades dos pais, a
inteligência emocional, a capacidade de resolver
problemas, o otimismo, a capacidade de
organização e a religiosidade/espiritualidade”.
(WHITMAN, pág. 253)
Além das alterações quanto a responsabilidade nos cuidados, rotina,
condução para as terapias, os irmãos podem se ver envolvidos em tarefas e
37
atividades de cuidados e supervisão com os irmãos autistas, obtendo mais
responsabilidades dentro do contexto familiar. Esse novo papel Pode acarretar
menor tempo de convívio pessoal com os pais e atenção, interferindo em suas
relações parentais. Em algumas famílias com filhos que tem desenvolvimento
típico, os irmãos podem ser responsáveis por novas rotinas, voltadas para
atender a demanda dos irmãos autistas.
Cada núcleo familiar, com as orientações profissionais, poderá adotar
planejamentos, comportamentos e rotinas próprias, de acordo com as
demandas de seus membros, respeitando suas necessidades e
individualidades. O profissional que atende a criança e também orienta os
responsáveis, precisa ouvir atentamente a família e buscar, em conjunto,
soluções e ajustes para cada situação vivida. A história de vida de cada
família, retrata a maneira como aprendeu a enfrentar as dificuldades, as
necessidades e os ganhos proporcionados com a aprendizagem mútua –
criança e família. Conviver com uma criança autista pode acarretar situações
de estresse, cansaço e até mesmo de vergonha, em certas famílias. Mas,
também podem ser motivo de aprendizagem, de crescimento, exercício de
resiliência e até mesmo de tolerância, diante das diferenças e formas únicas
de agir. É através do desafio que nasce a coragem, de conhecer pessoas
singulares que nos oferecem novas perspectivas e novas forma de também
aprendermos com suas lições diante da vida, julgando menos e amando mais.
3.1 – As intervenções terapêuticas
As diferentes terapias especializadas oferecidas as crianças autistas
contribuem com seu desenvolvimento em diversos aspectos. A terapia
ocupacional é um recurso excelente como auxiliar nos trabalhos de habilitação,
pois direciona à estimulação das habilidades da criança para as atividades da
vida diária, como alimentar-se, vestir-se, ter hábitos de higiene e organizar
38
materiais e ambientes. O terapeuta ocupacional planeja exercícios que
objetivam favorecer a autonomia da criança no seu autocuidado, nos diversos
ambientes sociais.
É importante que os pais sigam as orientações do profissional,
reproduzindo em casa os mesmos exercícios e procedimentos, fortalecendo e
agilizando a aquisição das habilidades, proporcionando a auto-confiança da
criança autista, na medida em que melhora sua auto-estima.
Muitos responsáveis são orientados a buscar a equoterapia como fonte
de intervenção para a criança. Esse trabalho é desenvolvido por uma equipe
multidisciplinar, formada por profissionais de saúde, educação e equitação. O
uso do cavalo na reabilitação física decorre de seu movimento ritmado,
repetitivo e simétrico que acaba sendo passado ao paciente. O movimento
realizado pelo cavalo é semelhante ao que uma pessoa realiza ao andar. É,
portanto, um trabalho de conhecimento do próprio corpo, pois exige a
participação do corpo inteiro, trabalhando e desenvolvendo uma melhor
coordenação física, a postura, o ritmo, o equilíbrio, a flexibilidade , o tônus
muscular, além de favorecer a auto-estima. O contato animal-paciente permite
trabalhar aspectos como a afetividade, a auto-confiança e a criatividade.
Desenvolvem-se atividades físicas, psicológicas, de aprendizagem e afetivas,
facilitando a reintegração social da criança autista.
A psicoterapia também tem um papel fundamental no desenvolvimento
das crianças autistas, pois a abordagem relacional, visando o controle
emocional, na modificação do comportamento e na resolução dos impasses,
agrega valor para o convívio com seus pares, atendo-se a vida diária do
indivíduo. Em alguns casos a abordagem sugerida baseia-se na Teoria
Cognitiva-Comportamental-TCC, campo da Psicologia que propõe a criança
através de técnicas, a um novo repertório de interpretações, pensamentos e
ações, diante de um situação, lidando de outra forma e oferecendo respostas
diferentes a essas situações, onde as respostas até então, eram disfuncionais
39
e rígidas. Objetiva tornar a criança autônoma para o exercício das habilidades
adquiridas no processo clínico. Entre as técnicas cognitivas-comportamentais
podemos citar: técnicas de relaxamento, exercícios de respiração, relaxamento
muscular, treino de habilidades sociais, solução de problemas e exposição e
prevenção de respostas, entre outras. O apoio à família e orientações também
é papel relevante desse especialista, que poderá auxiliar aos responsáveis no
entendimento das suas ações e comportamentos, oferecendo estímulos a
criança, para que consiga posicionar-se de forma autônoma e confiante diante
dos impasses vivenciados.
No que diz respeito à terapia da linguagem a experiência é
fundamental, pois além de possibilitar o desenvolvimento de habilidades
sociais, oferece à comunicação um caráter altamente significativo, que facilitar
a troca das habilidades adquiridas à fala espontânea, turnos de conversas,
interpretação e entendimento do que é comunicado. A fonoaudiologia tem por
objetivos básicos: o contato visual e o relacionamento, a compreensão
auditiva, a imitação não-verbal, o jogo vocal, a imitação verbal, a fala
expressiva e a fala comunicativa.
A musicoterapia é uma modalidade terapêutica relevante que utiliza a
música, enquanto som e movimento, para reestabelecer um canal de
comunicação. È um grande canal de estimulação que possibilita a prevenção,
tratamento e/ou reabilitação de problemas e necessidades físicas, mentais,
emocionais, cognitivas e sociais. Cabe esclarecer que a música, não é o
objetivo final, mas sim o meio pelo qual a criança e o terapeuta se comunicam
e interagem. Não é necessário que a criança tenha algum tipo de
conhecimento musical pois o elemento primordial é a expressão da criança.
Não há restrição de idade, de condição psíquica, motora, social ou de domínio
e conhecimento musical. O processo terapêutico é construído pelo fazer
musical da criança e do especialista. As atividades são planejadas de acordo
com cada necessidade e baseiam-se em: cantar, tocar um instrumento,
improvisar, compor, ouvir músicas e sons diversos, movimentar-se a partir de
40
um estímulo, entre outras. Durante esse processo, os problemas e as
necessidades são acessadas diretamente por meio da ação musical e/ou por
meio da relação interpessoal que se estabelece e se desenvolve entre o
musicoterapeuta e a criança durante as atividades.
De acordo com as necessidades, habilidades e capacidades da criança
ou do grupo de trabalho, o atendimento pode ser dirigido a um trabalho focal
ou global. O trabalho focal se caracteriza pela diminuição ou eliminação de
sintomas, tais como estereotipias, mudanças na comunicação, dificuldades e
atrasos motores e cognitivos, tratando-se de um trabalho de ressignificação
dos atos e dos processos psíquicos.
A prática de esportes também agrega à saúde física e mental da criança
autista e traz inúmeros benefícios para o seu desenvovimento. O esporte é
uma ferramenta para a interação com seus pares e também atua de forma
terapêutica, melhorando a linguagem, a atenção, a coordenação motora, a
disciplina e a auto-estima. O esporte favorece o desenvolvimento e o
reconhecimento de suas potencialidades.
O acompanhamento médico regular também faz-se necessário,
objetivando melhor qualidade de vida para a criança. Alguns casos sugerem o
acompanhamento do psiquiatra infantil e algumas medicações são prescritas,
visando o melhor controle dos comportamentos agressivos e hiperativos que
aparecem e impactam no desenvolvimento das crianças. Casos em que há
comorbidades associadas ao quadro de autismo, também necessitam do
acompanhamento do psiquiatra infantil. O monitoramento da família, quer seja
com relação aos medicamentos prescritos, bem como com a dosagem
orientada, será fonte de informação para os especialistas que acompanham a
criança, visando o ajuste, manutenção ou suspensão do medicamento e
ajustes das dosagens, que devem contribuir para o desenvolvimento e
inserção da criança em sociedade e não o contrário, impedindo-a de realizar
alguma atividade seja em qualquer contexto social. A medicação deve trazer
41
benefícios, e deve salvaguardar a criança quanto a sua integridade física,
social e emocional.
As terapias certamente contribuirão para o crescimento da criança
diante dos desafios da vida social, mas é principalmente, através da postura
perseverante, corajosa e paciente da família que os avanços tornar-se-ão
certezas. É preciso comemorar cada pequena vitória e desenvolvimento,
alimentado as conquistas, permanecendo abertos a uma nova forma de olhar
a vida.
.
.
42
CONCLUSÃO
O caminho para a verdadeira inclusão e o trabalho diferenciado com os
alunos, digo todos, inclusive os que não tem laudo, diagnóstico, ou qualquer
outra demanda específica no desenvolvimento, que não seja sua própria
individualidade e sua maneira singular de aprender, é desconstruir paradigmas
e certezas e mergulhar no mar de possibilidades e de caminhos diferentes
rumo ao desenvolvimento de cada aprendente.
Não é tarefa fácil, abandonar modelos pedagógicos, ou certezas
pedagógicas construídas durante décadas, que geram a cômoda certeza do
êxito do ensinar e da fantasiosa garantia do aprender. É preciso na
contemporaneidade não ser escravo de planejamentos engessados e
imutáveis, distantes das realidades que habitam as novas salas de aula.
Espaços de comunhão de diversidades inúmeras, de culturas, de credos de
raças e principalmente de valores. Os profissionais de educação tem que se
preparar para atuar de forma responsável com esse novo grupo de alunos que
trazem em si o desejo de aprender, com cérebros diferentes, canais de
entrada de informações diferentes e que necessitam de estímulos próprios,
respeitando-se a forma e tempo próprios, para que a aprendizagem se efetive.
A educação que almeja verdadeiramente a inclusão é aquela que
valoriza a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças
individuais, pois é dentro dessa certeza que a escola sustenta a aprendizagem
da convivência, da solidariedade, da construção de um mundo de
oportunidades reais para todos. A inclusão é responsabilidade de todos
imbuídos da proposta de oportunidades iguais para sujeitos aprendentes
diferentes. Cada educador é responsável pela qualidade da aprendizagem do
seu aluno, pois ele traz inúmeras potencialidades e habilidades que precisam
ser desenvolvidas e compartilhadas. Por vezes, essa situação nova e
inusitada, nunca antes experenciada por muitos educadores, diante da
inclusão de novos alunos, gera angústias e temores por não saber como
43
atendê-los, como estimulá-los ou até mesmo como estabelecer uma
comunicação com esses alunos. Antes de qualquer coisa, o educador não
pode perder de vista a sua função muito além do ensinar, mas do seu papel
social diante do encontro e do desejo de desenvolvê-lo como sujeito
aprendente e social. A relevância do vínculo afetivo e do interesse pela sua
história, desenvolvimento e habilidades, favorece a aceitação desse novo
aluno e auxilia na sua adaptação ao novo grupo social.
Sabe-se que a inserção e total inclusão do aluno autista, está
intimamente ligada ao posicionamento do professor diante dessa proposta,
desse novo contexto, que ainda está carregado de dúvidas, questionamentos,
pressões, inclusive judiciais e despreparo dos profissionais da escola, da
própria sociedade que ainda o atinge com preconceitos e das famílias que não
sabem o que fazer. É nessa teia de tantas hipóteses e dúvidas que o sujeito
aprendente está, muitas vezes a mercê de um olhar interessado e afetivo
diante das suas dificuldades e particularidades. Através desse novo par
educativo – professor e aluno, é que o professor o atinge com suas ações,
posturas e valores e também é atingido por ele, por esse motivo a postura do
professor é tão importante diante do quadro da inclusão e da aprendizagem.
As trocas afetivas, os vínculos são muito importantes para a aprendizagem de
todos, são capazes de modular novas conexões neurais, motivar e favorecer o
aprendizado. . Aliás, não só o componente da afetividade, mas também a
estimulação diferenciada deve estar presente em todo o contexto escolar, pois
um evento situacional significativo pode gerar processos cognitivos e
processos biológicos que estão interligados ao ato de aprender. Contudo, não
pode-se desconsiderar o quanto as contribuições da neurociência para a
aprendizagem, são significativas e relevantes.
Além das novas sinapses neurais e da liberação de substâncias que
favorecem a aprendizagem, há também um novo conceito que amplia todas as
possibilidades do sujeito diante da vida, ou seja a neuroplasticidade cerebral
que está ligada a capacidade adaptativa do sistema nervoso central, para
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modificar a sua organização e funcionamento. Diante de cada nova
experiência do sujeito, as redes neuronais são rearranjadas, outras sinapses
são reforçadas e múltiplas respostas diante do ambiente são possíveis, o
repertório de respostas amplia-se. Diante de tantas descobertas que auxiliam o
entendimento desse cérebro dentro da sala de aula, é possível vislumbrar
inúmeras formas de estimulação para todos os alunos, respeitando-se as
singularidades de cada um.
O professor, enquanto profissional tão determinante na vida de seus
alunos, deve ser fonte de encorajamento e confiança, buscando desenvolver
em seus alunos não apenas a autonomia e as habilidades, mas e
principalmente a capacidade de compartilhar sua existência com seus pares,
através de uma convivência baseada no respeito, na paz, na solidariedade, no
amor ao próximo e na riqueza das diferenças individuais.
Professores que não resistem aos desafios de lidar com alunos
diferentes, inclusivos, singulares, inspiram os pais com seus gestos de
confiança e desejo de ajudar. E os pais por sua vez, através da coragem de
expor seus filhos e de respeitá-los incondicionalmente, inspiram os professores
na sua rotina diária de estimulação. E assim, todos os atores nessa jornada,
ainda carregada de dúvidas e incertezas são levados ao crescimento: o aluno,
o professor, a turma e a família, ou seja, a sociedade.
A aventura de lidar com alunos inclusivos, conduz o educador a novas
práticas a novos campos, a pesquisas, a dúvidas, a busca incessante por
respostas, mas também o transporta a descoberta de suas próprias
possibilidades e recursos, muitas vezes adormecidos por uma rotina repetitiva
e sem perspectivas.
Ao refletirmos sobre as grandes transformações sociais, principalmente
dentro da instituição escola, nos deparamos com a contribuição dos
profissionais que inconformados com os “óculos da mesmice”, tiveram a
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coragem de lutar pela inovação, pela escola para todos, pela justiça e respeito
social, considerando cada um, um todo de valências e grandezas.
A sociedade vive um novo momento de incluir os que foram de alguma
forma excluídos no passado, revendo seus valores, rumo a uma ética social
que ainda não foi totalmente alcançada, mas hoje está mais próxima da
realidade. Com certeza apenas as leis não assegurarão a questão da inclusão,
não somente na escola, mas na sociedade, porém o incômodo com atos
preconceituosos e desrespeitosos com os pares, marca um novo recomeço.
Diante da expectativa da mudança é preciso não apenas acreditar e
considerar importantes as conquistas, as leis e os movimentos sociais, é
preciso ação, é preciso a contribuição de cada um que acredita e sonha com
uma sociedade mais justa, para que o desenho de uma nova sociedade surja,
como uma certeza. Como citou Mahatma Gandhi “Seja a mudança que você
quer ver no mundo”.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CUNHA, Eugênio. Autismo na escola-Um jeito diferente de aprender, um jeito
diferente de ensinar. WAK Editora, 2013.
CUNHA, Eugênio. Autismo e inclusão-psicopedagogia e práticas educativas na
escola e na família. WAK Editora, 2015.
CUNHA, Eugênio. Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade. WAK
Editora, 2013.
DRAGO, Rogério (organizador) Síndromes-conhecer, planejar e incluir, WAK
Editora, 2012.
ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo-O que os pais devem saber ?- WAK Editora,
2011.
RODRIGUES, Janine Marta Coelho e SPENCER, Eric. A criança autista-um
estudo psicopedagógico. WAK Editora, 2010.
TEIXEIRA, Gustavo. Manual dos Transtornos Escolares-entendendo os
problemas de crianças e adolescentes na escola. Editora Best Seller Ltda,
2013.
WHITMAN, Thomas L. O desenvolvimento do autismo-social, cognitivo,
linguístico, sensório-motor e perspectivas biológicas. M. Books do Brasil
Editora Ltda, 2015.
47
WILLIAMS, Chris e WRIGHT, Barry. Convivendo com autismo e Síndrome de
Asperger-Estratégias práticas para pais e professores. M.Books do Brasil
Editora Ltda, 2008.
Estatuto da Criança e do Adolescente-Lei Federal nº 8069/90 de 13/07/1990-
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro, 2009.
Constituição da República Federativa do Brasil. Serie Legislação Brasileira,
Editora Saraiva, 1988.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
O CONCEITO DE AUTISMO E SUAS DEFINIÇÕES 13
1.1 – As pesquisas e novas descobertas 17
1.2 – Contribuições do DSM-V 19
CAPÍTULO II
O TRABALHO EM SALA DE AULA 22
2.1 – O método TEACCH 25
2.2 – A garantia das leis 27
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO AOS
PAIS 32
3.1 – As intervenções terapêuticas 37
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49