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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A ARTE E O LÚDICO: BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA TERAPIA Rejany de Oliveira Silva dos Santos Orientadora: Maria Poppe Rio de Janeiro 2007 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A ARTE E O LÚDICO: BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA TERAPIA

Rejany de Oliveira Silva dos Santos Orientadora: Maria Poppe

Rio de Janeiro 2007

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A ARTE E O LÚDICO: BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA TERAPIA

OBJETIVOS:

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau em Arte terapia.

ARTETERAPIA NA SAÚDE E NA EDUCAÇÃO

Rejany de Oliveira Silva dos Santos

DEDICATÓRIA Às crianças que sempre

fizeram parte da minha

vida, com todo o carinho.

AGRADECIMENTOS

Aos professores que me auxiliaram a partir

de seus conhecimentos e atenção, aos

amigos que sempre expressaram apoio nos

momentos difíceis, ao meu marido que

esteve presente em todas as situações me

fortalecendo e a Deus porque está em

minha vida direcionando os meus passos

para o caminho certo.

RESUMO

Este trabalho originou-se com o intuito de valorizar o lúdico e a arte

como um auxílio para o terapeuta. Constitui a tentativa de exploração do

brincar e das atividades artísticas, uma busca a comunicação da criança, que

pode ser encontrada com o terapeuta ou individualizada, é o terapeuta com o

olhar centrado na criança que brinca, e assim, sendo observadas situações que

não eram esperadas das situações do cotidiano da criança. O lúdico é um

dos veículos que a criança possui para resolver seus medos, angustias e

conflitos. É através do brincar e da arte que a criança tem a oportunidade de

criar e expressar suas idéias e nos jogos porque permite o

desenvolvimento global e a construção da identidade da criança. A utilização

do lúdico dentro do processo terapêutico possibilita que a criança expresse

e crie novas produções, cooperando, competindo, lidando com as

diferenças, enfrentando desafios e solucionando problemas. A criança

adquire competências sociais, cognitivas e afetivas, se apropria da cultura

e vai se construindo na medida em que situações lúdicas vão sendo

vividas de forma intensa e real.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada destina-se a apoiar a terapia com crianças

utilizando o lúdico e a arte, tornando-a mais atraente e compreensível aos

terapeutas.

É um trabalho que auxiliará a terapia com recursos lúdicos e atividades

artísticas que possibilitem a expressão do cliente.

Ao contrário das terapias tradicionais, onde o verbal é o principal

instrumento utilizado, esse trabalho traz outros caminhos que levam a formas

de expressão sem padrões estabelecidos.

A proposta deste trabalho é valorizar a terapia com o desenvolvimento

da atividade lúdica em crianças e a importância de suas produções artísticas

como forma de expressão.

Torna-se importante ressaltar que é um relato sobre a criança que brinca

e cria, visando o enriquecimento da construção lúdica, de forma a compreender

o significado das brincadeiras e atividades artísticas na experiência de vida

visando uma intervenção terapêutica.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

O DESENVOVIMENTO DA ATIVIDADE LÚDICA 10

CAPÍTULO II

A CRIANÇA, O BRINCAR E A ARTE 14

CAPÍTULO III

A PSICOTERAPIA E A ARTETERAPIA 21

CONCLUSÃO 26

BIBLIOGRAFIA 28

INTRODUÇÃO

Atualmente há uma extensa literatura que revela que o brincar e a

arte se destacam como essencial para o desenvolvimento da criança.

É antigo o estudo do brinquedo, talvez, porque o brinquedo e o

jogo façam parte da vida infantil. Entender seu significado é importante para

conhecer a criança. O brincar é algo tão natural e tão da criança que

não há como imaginá-la sem brinquedo. Porém, não é só natural, é social e

cultural.

As discussões procuram entender o ato de brincar da criança e

verifica-se que ela constrói conhecimento. E para isto uma das qualidades mais

importantes do jogo é a confiança que a criança tem quanto à própria

capacidade de encontrar soluções. Confiante, pode chegar as suas próprias

conclusões.

Assim, tanto o jogo quanto a brincadeira, o brinquedo e mesmo a

arte, podem ser englobados no ato de brincar, que não é apenas recrear-se, é

uma forma de comunicação da criança consigo mesma e o mundo. Nesse

brincar está a verbalização, o pensamento, o movimento, gerando canais de

comunicação.

A linguagem cultural própria da criança é o lúdico. O ato de brincar é

importante, é terapêutico, é prazeroso. No brincar, quanto mais papéis a

criança representar, mais amplia sua expressão, constrói conhecimentos

através de papéis que representa e aumenta o ajustamento afetivo e

emocional.

O modo como à criança brinca revela o seu mundo interior e implica

em apropriar-se de algumas características da realidade, reproduzindo o meio

em que a criança está inserida.

O ato de brincar proporciona as crianças a possibilidade de

relacionar as coisas umas com as outras, e ao relacioná-las é que elas

constroem o conhecimento. Esse conhecimento é adquirido pela criação de

relações e não por exposição a fatos e conceitos isolados, e é justamente

através da atividade lúdica que a criança o faz. O brincar, a arte são meios de

expressão da criança.

A criança vai construindo seu conhecimento do mundo de modo

lúdico, transformando o real com os recursos da fantasia e da imaginação,

dando vazão a afetividade tolhida no dia-a-dia.

Na atividade artística e no brinquedo a criança coloca seus

sentimentos, enfrentando o que a incomoda, se libertando, resolvendo o

problema e chegando ao controle do que sente.

Este trabalho tem como objetivos definir o brincar como uma

atividade reveladora e analisar as interações da criança na arte e no brincar

acreditando que a produção artística e o brincar são maneiras espontâneas de

se comunicar com o mundo à volta, como também são importantes para o

desenvolvimento pessoal, social e cognitivo.

O capítulo I relata o desenvolvimento da atividade lúdica com os

apontamentos de Freud, Melanie Klein e Ana Freud sobre a criança, o

brinquedo e a brincadeira como construção de significados visando à

intervenção terapêutica.

O segundo capítulo é mais específico e coloca o brincar e a arte na

vida da criança como uma atividade natural, indispensável à saúde física,

emocional e intelectual.

Nos dois últimos capítulos retrata-se o atendimento da criança

utilizando o lúdico e a arte de forma expressiva e significativa na terapia.

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE LÚDICA

Freud ensinava que uma criança brinca não somente para repetir

situações satisfatórias, mas também para elaborar as que lhe foram

traumáticas e dolorosas.

O brinquedo possui muitas características dos objetos reais pelo fato

de que a criança exerce domínio sobre ele, pois o adulto outorga-lhe a

qualidade de algo próprio e permitido, transforma-se no instrumento para o

domínio de situações penosas, difíceis, traumáticas, que se engendram na

relação com os objetos reais. Além disso, o brinquedo é substituível e permite

que a criança repita, à vontade, situações prazerosas e dolorosas que,

entretanto, ela por si mesma não pode reproduzir no mundo real.

Freud foi o primeiro a descrever este mecanismo psicológico do

brincar quando interpretou o brinquedo de uma criança de 18 meses. O garoto

fazia aparecer e desaparecer um carretel, tentando, assim, dominar a sua

ansiedade em relação ao aparecimento e desaparecimento de sua mãe,

simbolizada pelo carretel e, ao mesmo tempo, ajudá-la longe sem perigo de

ajudá-la, já que o carretel voltava quando ele o desejava. Este brinquedo

permitia ao menino descarregar, sem risco algum, fantasias agressivas e de

amor em relação à mãe, já que era senhor absoluto da situação. Além disso,

elaborava deste modo sua angústia diante de cada despedida da mãe. (Klein,

1975)

Ao brincar, a criança desloca para o interior seus medos, angústias e

problemas internos, dominando-os por meio da ação. Repete no brinquedo

todas as situações excessivas para seu ego fraco e isto lhe permite, devido ao

domínio sobre os objetos externos a seu alcance, tornar ativo aquilo que sofreu

passivamente, modificar um final que foi penoso, tolerar papéis e situações que

seriam proibidos na vida real tanto interna como externamente e também

repetia à vontade situações prazerosas.

O primeiro passo da aplicação dos conceitos aqui expostos sobre o

significado do brinquedo foi a aplicação da atividade lúdica à terapêutica. Freud

proporcionou as bases da técnica do brinquedo, posteriormente desenvolvida

por Melanie Klein.

Por meio da atividade lúdica, a criança expressa seus conflitos e,

deste modo, podemos reconstruir seu passado, assim como no adulto fazemos

através das palavras. Esta é uma prova convincente de que o brinquedo é uma

das formas de expressar os conflitos passados e presentes.

Um outro elemento técnico de auxílio é o desenho podendo em

alguns períodos substituir outras formas de comunicação. Não é sempre que a

família prontamente fornece todas as informações e que a criança se mostra

atenta aos seus sonhos e traz desenhos interessantes. Tudo se cancela se a

criança se recusa a colaborar.

Melanie Klein procurava encontrar por trás de cada ação com o

brinquedo sua função simbólica. Acompanhava as atividades da criança com

traduções e interpretações.

A criança segue uma trajetória e recua um pouco para encontrar o

caminho adequado a sua natureza, pois não escolheu profissão, não fez

amigos, não namorou, não escolheu os seus ideais. A criança é viva no mundo

exterior, não está presa a memória. As exigências de uma criança são mais

simples e mais fáceis de satisfazer. Na análise de crianças, mesmo as mais

difíceis, pode-se observar transformações, melhoras e recuperações.

(Oaklander, 1980)

Para Ana Freud a presença ou ausência de sofrimento não é

decisivo no tratamento de crianças. Há distúrbios sérios que as crianças

suportam firmes e outros menos sérios que provocam sofrimento. Como a

decisão de um tratamento vem dos responsáveis, o mesmo é procurado

quando os sintomas são conturbadores para o meio ambiente, mostrando-se

mais preocupados. (Aberastury, 1992)

Há autores que sugerem que o brinquedo é tão importante para a

criança quanto o trabalho para o adulto, portanto o brincar é altamente

significativo. O valor terapêutico da interpretação compreendido por Freud

desde o primeiro momento, comprovou que a comunicação no momento

oportuno do paciente suas descobertas, conseguia que estes fossem

conscientes do momento que estava reprimido.

A técnica criada por Melanie Klein se baseia na utilização do jogo e

continua as investigações de Freud. Na interpretação do jogo devemos

considerar: a representação no espaço; a situação traumática que o envolve;

porque aparece aqui, agora e comigo; que função cumpre o humor no jogo.

A hora do jogo, a construção de casas e as representações do corpo são

métodos de observações que utilizamos no diagnóstico das neuroses infantis.

Ana Freud (1971) considera que as crianças não têm capacidade de

transferência e portanto é necessária uma preparação para o trabalho, dando

consciência da enfermidade, confiança na análise e criando uma transferência

positiva. Sua única preocupação em cada caso é criar um vínculo forte e

positivo para assegurar a continuidade do tratamento.

A análise de crianças exige, segundo ela, uma vinculação positiva

mais intensa que no adulto, porque atrás da finalidade analítica há um objetivo

pedagógico e o êxito pedagógico sempre dependerá da vinculação afetiva do

educando com o educador.

Ela não concorda com a técnica do jogo de Melanie Klein que

equipara a atividade lúdica com a associação livre e acredita que para ser

analista de crianças é preciso conhecer jogos, personagens de revistas infantis,

contos e refletir sobre seu significado. Freud descobriu em uma análise que se

um menino joga é porque necessita elaborar situações traumáticas.

Hoje, existem muitas técnicas para ajudar as crianças a expor seus

sentimentos através do desenho, da pintura, do brinquedo e outros, ajudando-a

a tomar consciência de si mesma e da sua existência em seu mundo.Os

propósitos dos desenhos podem ser diversos, porém o próprio ato de

desenhar, sem interferência, é uma expressão de si mesmo que ajuda a

estabelecer a auto-identidade e proporciona a expressão de sentimentos.

De alguma forma as crianças se protegem. Algumas se retraem

para não serem feridas. Algumas criam fantasias para tornarem suas vidas

mais fáceis. Algumas brincam, trabalham, aprendem como se nada importasse.

Algumas se protegem querendo aparecer e recebem mais atenção reforçando

o comportamento mais detestado pelos adultos.(Aberastury, 1992) Para

sobreviver ás crianças investem em direção ao crescimento adotando algum

comportamento que elas acreditam servir para ajudá-las avançar. Não há limite

na tentativa de atender as suas necessidades.

Às vezes, as crianças crescem acreditando no que ouvem acerca de

si próprias, absorvendo toda a informação falha a seu respeito. A função do

terapeuta nessa situação é ajudar a criança a redescobrir o seu próprio ser,

fortalecendo as funções de contato com seus sentidos, sentimentos e uso do

intelecto. A sua consciência é dirigida a comportamentos mais satisfatórios.

CAPÍTULO II

A CRIANÇA, O BRINCAR E A ARTE

Todas as crianças são reais, mergulhadas em adversidades o dia

inteiro, pouco favorecidas, infelizes, que, não tiveram nem mesmo migalhas de

amor, segurança e felicidade necessários à toda criança. Estão lutando para se

situarem no mundo. Empenham-se em obter algo valioso aos seus próprios

olhos. Têm coragem, perseverança e firmeza, mas são “crianças-problema”.

Essas crianças podem infernizar as pessoas que seriam suas

amigas, adoecer por causa de suas tensões íntimas, têm problemas e não

sabem exatamente como ajudá-los, descarregam as tensões através de seu

comportamento agressivo. Essas são características de ”crianças-problema”,

que frequentemente são encaminhadas a terapia por pais, professores,

médicos ou outro responsável. As agressivas, perturbadoras, barulhentas são

as mais facilmente identificadas como problema, porque estão constantemente

criando novas dificuldades para elas e para os outros.(Oaklander, 1980)

Existem crianças mais necessitadas de ajuda, pois vivem retraídas,

e, porque são quietas, não provocam distúrbios, portanto são deixadas

sozinhas. Mas essas crianças tímidas precisam de terapia e dos benefícios que

ela possa lhe proporcionar.

São crianças que parecem recusar-se a crescer e se apegam às

maneiras infantis. Nervosas, roem as unhas, tem pesadelos, urinam na cama,

tem tiques nervosos, recusam-se a comer e manifestam outros tipos de

comportamento que indicam ansiedade. A ludoterapia e a arteterapia oferecem

a essas crianças uma oportunidade de resolver seus problemas, aprender a

ajudá-los como são e amadurecer através de experiência terapêutica.

Também as crianças com necessidades físicas beneficiam-se da

experiência terapêutica, no caso do problema físico dar origem a ansiedade,

distúrbios e conflitos emocionais. Estas crianças têm em seu íntimo os mesmos

desejos e sentimentos de uma criança normal. Muitas vezes, o defeito físico

frustra e bloqueia de tal forma que gera tensões quase insuportáveis para a

criança. Alguns médicos estão dispostos a trabalhar em conjunto com o

psicólogo, tentando dar a criança toda ajuda necessária. (Oaklander, 1980)

Os problemas de comportamento incluem todos os tipos que podem

constituir desajustamento: desde os muitos reprimidos e tímidos até os de

muita agressividade e inibição.

Os problemas com os estudos escolares frequentemente coexistem

com conflitos e tensões. As sessões com a utilização da arte e dos brinquedos

têm-se demonstrado eficazes para resolver esses problemas, dando à criança

condições de explorar seus sentimentos e atitudes, de se libertar de suas

emoções reprimidas. Ao término da terapia, elas alcançam uma evolução

psicológica e uma maturidade suficientes para a realização dos trabalhos

escolares.

Não há nenhuma justificativa em esperar que a criança esteja

seriamente desajustada para que se tente ajudá-la. Com a ludoterapia, a

criança se diverte e pode se expressar.(Oaklander, 1980)

2.1 - O brincar e o brinquedo

Nos dias de hoje, é observado claramente que o brincar é uma forma

de comunicação na psicoterapia, sendo utilizado o brinquedo, as brincadeiras e

o jogo.

O brincar tem sido enfocado por diversas áreas do conhecimento, e,

de modo geral, tem se destacado como uma atividade essencial à criança, por

seu papel no desenvolvimento, na aprendizagem e no próprio bem estar. Pode-

se ver o lugar a que pertence o brincar a partir da descrição de uma seqüência

de relacionamentos sobre o processo de desenvolvimento.

O brincar é sempre importante pelo interjogo entre a realidade

psíquica pessoal e a experiência de controle de objetos reais. É a precariedade

da própria magia, que se origina na intimidade, numa descoberta de um

relacionamento digno de confiança. Para se estabelecer a confiança é

necessário ser motivado pelo amor de mãe, ou pelo amor-ódio ou pela sua

relação de objeto, não por formações reativas. Se o paciente não pode brincar

o psicoterapeuta tem que atender a esse sintoma principal, antes de interpretar

fragmentos. Assim, o caminho está arrumado para um brincar conjunto num

relacionamento.

O brincar como símbolo lúdico é entendido como a linguagem mais

apropriada a criança porque lhe permite adaptar sua realidade em função das

suas necessidades e assim lidar melhor com o mundo adulto.

É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma

criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir na esfera cognitiva, ao

invés da esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências

internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.

No brinquedo, os objetos perdem a força determinadora. A criança vê

um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que ela vê. Assim,

é alcançada uma condição em que a criança começa a agir

independentemente daquilo que ela vê.

No brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação

surge das idéias e não das coisas. A ação regida por regras começa a ser

determinada pelas idéias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha

inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é

difícil subestimar seu pleno significado. A criança não realiza esta

transformação de uma só vez porque é extremamente difícil para ela superar o

pensamento dos objetos.

A criança inclui no brinquedo ações reais e objetos reais. Isto

caracteriza a natureza de transição da atividade do brinquedo: é um estágio

entre as restrições puramente situacionais da primeira infância e o pensamento

adulto, que pode ser totalmente desvinculadas de situações reais.

Através do brinquedo a criança atinge uma definição funcional de

conceitos ou de objetos, e as palavras passam a se tornar parte de algo

concreto. O brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos a um “eu”

fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Dessa maneira, as maiores

aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo.

Definir o brinquedo como sendo sempre uma atividade prazerosa às

crianças é incorreto, pois há brinquedo que só dá prazer se o resultado é

interessante. Porém é impossível ignorar que a criança satisfaz certas

necessidades no brinquedo.

É importante colocar que a partir das necessidades não realizáveis

nos anos escolares, as crianças começam a inventar os seus brinquedos. No

brinquedo a criança cria uma situação imaginária, o que não é uma idéia nova.

A situação imaginária não era considerada como uma característica definidora

do brinquedo em geral, mas era tratada como um atributo de subcategorias

específicas do brinquedo.

Essas idéias são insatisfatórias porque se o brinquedo é entendido

como simbólico pode ser igualado a álgebra, e se o brinquedo não é uma ação

simbólica no sentido próprio, é essencial mostrar o papel da motivação do

brinquedo.

Se todo brinquedo é, realmente, a realização das tendências que não

podem ser imediatamente satisfeitas, então os elementos das situações

imaginárias constituirão, automaticamente, uma parte da atmosfera emocional.

Uma criança não se comporta de forma puramente simbólica no

brinquedo, ao invés disso, ela quer e realiza seus desejos, permitindo que as

categorias básicas da realidade passem através de sua experiência

(Piaget,1971). No brinquedo, uma ação substitui outra ação, assim como um

objeto substitui outro objeto.

2.2 - As brincadeiras e os jogos

O papel da brincadeira sendo destacado como cultural dá a criança

possibilidade de sociabilidade na interação com os amigos dentro do jogo,

permitindo a criança lidar no plano simbólico com experiências traumáticas.

As crianças interagem preferencialmente dentro de contextos lúdicos,

onde os jogos são destacados como formas de brincadeiras. Cada jogo, em

cada cultura possui uma característica que o define, estabelece limites e

diretrizes e a descrição da estrutura pode auxiliar na compreensão das

interações infantis.

Estudos têm demonstrado que meninos preferem brincadeiras com

muita ação, espaços abertos e modificam as brincadeiras, enquanto as

meninas preferem brincadeiras estruturadas, com pouca movimentação e

espaços fechados, delimitados. Ambos preferem brincar em grupos separados

pelo sexo.

A rua é um local onde observamos brincadeiras com muita

movimentação pique-pega, pique-alto, esconde-esconde, etc. É importante que

todas as brincadeiras delimitem território, espaço aonde brincar.

Os espaços disponíveis para a brincadeira podem interferir na forma

como as crianças se organizam socialmente para brincar, inclusive nos tipos de

atividades lúdicas desenvolvidas. As crianças se adaptam as brincadeiras, aos

espaços e aos materiais disponíveis exercendo sua criatividade e capacidade

de transformação.

Através do jogo, a criança consegue ter acesso à realidade social,

compreender como as regras são necessárias e construídas. Por outro lado,

ela tem no jogo de regras um momento próprio de elaboração das suas

próprias regras. Compreender, aceitar, submeter seus desejos e impulsos,

conviver com frustrações, controlar sua agressividade, perceber e considerar o

outro é uma carga muito pesada para a criança. Essa oportunidade de discutir,

de expressar suas necessidades, tem também um papel de alivio da realidade

social e cultural a qual ela está submetida.

Os gestos realizados pelas crianças durante os jogos expressam

suas intenções, extensões e contrações, todas as tensões que se coordenam

ou não, se tornam visíveis e perceptíveis no jogo.

2.3 - A arte

A arte é essencial na vida da criança, uma vez que ela tem uma

necessidade natural de expressar o que pensa e o que pensa. A arte deve ser

uma fonte de alegria e prazer para ela, quando permite que organize seus

pensamentos e sentimentos presentes em suas atividades criadoras. A arte

tem influência importante sobre o desenvolvimento da personalidade infantil, e

por isso a atividade artística deve ser estimulada através dos sentidos, da

imaginação e de atividades lúdicas,que por esses meios, irá ampliar as

possibilidades cognitivas, afetivas, sociais e criadoras da criança.

Segundo Barbosa (1991, p.4), “a arte não é apenas básico, mas

fundamental... Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra

para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário e é conteúdo.”

A arte tem também como finalidade fornecer experiências que ajudem a

criança a refletir sobre a arte, desenvolver valores, sentimentos, emoções e

uma visão crítica do mundo que a cerca.

A arte tem papel fundamental para desenvolver na criança os aspectos

físicos, motor, emocional e perceptivo, desenvolvendo com isso os processos

criativos que a levarão a descobrir sua capacidade inventiva. Para Ferreira

(2005, p.47), “a constituição da criança não pode ser explicada apenas pelos

fatores biológicos. Os fatores culturais e sociais também constituem a criança”.

A arte tem a função de favorecer a ação espontânea, facilitar a livre expressão

e permitir a comunicação.

CAPÍTULO III

A PSICOTERAPIA E A ARTETERAPIA

O brincar e a psicoterapia juntas nos remetem a uma forma de

comunicação entre o paciente (a criança) e o terapeuta. No entanto, quando a

criança não consegue brincar o terapeuta a ajuda a renovar sua capacidade

de brincar.

Alguns autores mantém o interesse direto no uso da brincadeira, já

que o terapeuta visa à comunicação, e a criança não possui total domínio da

linguagem. Possivelmente, os psicanalistas se preocupam mais com o

conteúdo da brincadeira do que com a criança que brinca, daí a idéia da

criança concentrada no adulto.

O brincar na vida da criança significa saúde, ajuda no

desenvolvimento, no crescimento, nos relacionamentos e possibilita a

comunicação na psicoterapia.

Winnicott (1975) afirma que a precariedade da brincadeira está no

fato de que ela se acha sempre na linha técnica existente entre o subjetivo e o

que é objetivamente percebido.

O brincar possui tudo em si, embora o psicoterapeuta trabalhe o

conteúdo brincar com hora marcada, mas temos que estar cientes que o

brincar é uma experiência criativa e consome espaço e tempo intensamente

real para a criança. O momento principal é aquele em que ela se surpreende. O

brincar deve ser espontâneo, se o que se busca é a psicoterapia.(Axline,1972)

É no brincar que existe a liberdade de criação e que é examinado

como desenvolvimento do conceito de fenômenos transicionais e que precisa

ser aceito, tolerado e não solucionado (Vygotsky,1984).

A realidade psíquica interna localiza-se dentro dos limites da

personalidade do indivíduo enquanto a realidade externa está fora desses

limites, o brincar e a experiência cultural podem receber uma localização caso

utilizemos o conceito do espaço potencial existente entre mãe e bebê.

O conteúdo da brincadeira é importante (solidão, agressão, amparo,

acidentes constantes) e o psicólogo pode dirigir o foco de consciência da

criança para o seu processo e contato durante a brincadeira, esperar para o

término da brincadeira, fazer perguntas sobre a vida da criança, perguntar o

que está fazendo, pedir para que se repita situações ou se identifique, falar de

suas emoções, sugerir que mantenha um diálogo com objetos e que se

coloque no lugar dos mesmos.

A psicoterapia é efetuada entre o paciente e o terapeuta, áreas

lúdicas que se superpõem. Para psicoterapia se iniciar o terapeuta precisa

brincar e o paciente também. O essencial no brincar é a manifestação da

criatividade no paciente.

3.1 - O terapeuta

O papel do terapeuta no relacionamento da arte e do lúdico é de

alerta, sensibilidade e de constante apreciação daquilo que a criança está

dizendo ou fazendo. São necessários compreensão e interesse pela criança. O

terapeuta respeita a criança, trata-a com honestidade e sinceridade. Não há

nem irritação nem excesso de doçura em suas atitudes ao lidar com ela. É

franco e sente-se à vontade na presença da criança.

O terapeuta não manda na criança, não apressa e nem, por

impaciência toma atitudes precipitadas que a façam perceber qualquer falta de

confiança em sua capacidade de ser responsável por si mesma. Nunca ri dela.

Ri com ela, às vezes, mas dela nunca! Tem uma paciência especial, relaxa a

criança, coloca-a à vontade e a encoraja a compartilhar o seu mundo interior. A

hora de terapia é realmente a hora da criança e mantém-se no princípio que o

que ela diz ou faz é confidencial.(Oaklander, 1980)

O terapeuta deve gostar de crianças e conhecê-las. É interessante

que tenha experiências pessoais com crianças fora da situação terapêutica,

para que conheça e entenda como são fora do consultório. As crianças são

sensíveis a sinceridade dos adultos. Um bom terapeuta faz diferença em

decorrência de suas atitudes básicas, atitudes que revelam paciência,

habilidade, compreensão e serenidade, somados a disciplina, o que estimula a

responsabilidade e a confiança das crianças.

Essas atitudes não podem ser simuladas pelo terapeuta pois devem

ser parte de sua personalidade. Permanecer alerta para aprender e refletir

profundamente sobre os sentimentos revelados pela criança em seu brinquedo,

sua atividade artística ou em sua conversa requer uma completa participação

durante todo o tempo da sessão. A tarefa do terapeuta é ajudar as crianças a

se sentirem fortes, ver o mundo como é, a fazer escolhas e ao crescerem ver a

si próprias com mais clareza. (Oaklander, 1980)

A pessoa que trabalha com crianças precisa gostar de crianças,

estabelecer uma relação de aceitação e confiança, conhecer como se

desenvolvem, crescem e aprendem, conhecer as questões importantes a cada

faixa etária, estar integrado as dificuldades de aprendizagem que as afetam, ter

habilidade em ser direto sem ser invasor, saber o funcionamento familiar, ter

consciência da influência do meio. Deve observar as expectativas depositadas

na criança acreditando na sua singularidade, sendo honesto, tendo senso de

humor e estando ligado as necessidades da criança respeitando suas defesas

e se colocando no mundo dela com delicadeza.

O terapeuta deve junto com a criança saber a hora de falar e de

permanecer em silêncio porque a própria criança mostra o que precisa seja

pela atividade escolhida ou pela resistência manifestada (Klein, 1975)

A arteterapia usa a arte como meio de expressão pessoal para

comunicar sentimentos, em vez de ter como objetivo produtos finais

esteticamente agradáveis a serem julgados segundo padrões externos. Esse

meio de expressão é acessível a todos, não apenas aos que têm talento

artístico. Essa abordagem é chamada de arteterapia principalmente porque se

desenvolveu mais no campo da saúde mental. (Liebmann, 2000)

Fazer arte implica em estimular as idéias surgidas pela elaboração

mental produzindo pensamento. Uma imagem no papel ou uma escultura, ou

um movimento do corpo, reflete a maneira de cada um se relacionar, posicionar

e estar no mundo. Envolve os níveis sensório motor, emocional, cognitivo e

intuitivo. Na atividade com arte o sujeito transforma a realidade e a si mesmo,

promovendo a percepção, organização e organização do pensamento,

possibilitando a compreensão do todo.

A prática da arteterapia facilita o entendimento interno, mas não se

restringe apenas a clínica, sendo a área educacional um campo para sua

aplicação. A arte possibilita a quem cria a aproximação com o estado interior

de imaginar e a ativação do imaginário.

A atividade artística é terapêutica porque proporciona integração de

uma personalidade, mediante a aplicação de técnicas e práticas expressivas,

que tanto facilitam a materialização de formas, doadas por conteúdos

projetados, bem como permitem a identificação funcional. (Urrutigaray,2004)

O trabalho com arteterapia é poder se expressar, ir contra as regras,

aos modelos idealizados, a tradição, os costumes, a conformidade. É ousar,

experimentar, se soltar, sair de estados confortáveis, confiáveis, seguros e

estagnados para lugares desconhecidos.

A arteterapia direciona o indivíduo à autonomia, sendo autor de seus

pensamentos, se estruturando, aumentando a motivação, tendo disposição

para expressar suas idéias, buscar ideais e direcionar suas escolhas.

A arte é antes de tudo criação, porém a noção de beleza é a de

refletir o momento individual, entendendo à expressão verdadeira da

compreensão do real.

A arteterapia não se preocupa com o aspecto estético dos padrões

estabelecidos, ela oferece meios para criar e reconhecer padrões próprios

vinculando-os a cultura pessoal.

Seu principal objetivo é o de acompanhamento do progresso pessoal

auxiliando a lidar com conteúdos internos, estruturando na busca do equilíbrio.

CONCLUSÃO

Brincar faz parte do universo infantil. Todas as atividades lúdicas são

de fundamental importância para o desenvolvimento da criança. Tudo é motivo

para a criança brincar; ela pula, corre , salta, se esconde.

Vygotsky, acredita que a brincadeira é uma atividade social para a

criança e por meio desta, ela adquire elementos básicos para a construção de

sua personalidade.

Desse modo afirmasse que as atividades lúdicas e artísticas são

importantes para o desenvolvimento da imaginação e da criação. Devido a

isso, essas atividades precisam ser mais consideradas, receber maior atenção,

pois é através das atividades lúdicas que se desenvolverá na criança, a

expressão, as relações afetivas com o mundo, com as pessoas e com os

objetos. Enquanto brinca a criança amplia sua capacidade corporal, sua

relação com o outro, a percepção de si mesma como um ser social.

Brincar para a criança é assunto muito sério. Ao brincar a criança

descobre o mundo, imita gestos e atitudes dos adultos, conhece leis, regras e

experimenta sensações. O brincar integra, desenvolve, socializa e propicia a

valorização da criança aumentando a auto-estima.

No mundo da globalização, da televisão e do vídeo game, a criança

perdeu o espaço lúdico das brincadeiras de rua e do quintal. Perdeu um pouco

do contato com o grupo, com as brincadeiras de roda, de pique, de bola, de

amarelinha, de soltar pipa. Hoje, as crianças vão mais cedo para a escola,e,

vivendo em um mundo competitivo, realizam uma grande quantidade de

tarefas, tanto tarefas da própria escola, como também muitas outras: cursos de

inglês, informática, balé, natação, entre outros. Por outro lado, os professores

reclamam do desinteresse e dificuldade de concentração dos alunos na sala de

aula.

Essas dificuldades podem ser trabalhadas na terapia direcionadas

para a arte e as brincadeiras. Quando a criança brinca se depara com várias

situações e problemas que a coloca em posição de buscar soluções e

respostas. Ela percebe que terá de organizar, obter informações, buscar novos

caminhos, receber respostas, raciocinar, descobrir. Tudo isso ajuda a criança a

adquirir certa flexibilidade de conviver com situações de perder ou ganhar,

conviver com situações diferentes, adquirir hábitos necessários para seu

convívio social e para o seu crescimento intelectual.

O brincar e a arte são indispensáveis na vida da criança para a sua

saúde física, emocional e intelectual, que quando bem cultivado irá contribuir,

no futuro, para o equilíbrio do adulto.

BIBLIOGRAFIA

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_________________.A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I 10

O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE LÚDICA 10

CAPÍTULO II 14

A CRIANÇA, O BRINCAR E A ARTE 14

2.1 – O brincar e o brinquedo 15

2.2 – As brincadeiras e os jogos 18

2.3 – A arte 19

CAPÍTULO III 21

A PSICOTERAPIA E A ARTETERAPIA 21

3.1 – O terapeuta 22

CONCLUSÃO 26

BIBLIOGRAFIA 28